os reflexos das reduÇÕes jesuÍticas dos sete povos...
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OS REFLEXOS DAS REDUÇÕES JESUÍTICAS DOS SETE POVOS NO
PLANO URBANO DE SÃO LUIZ GONZAGA1
Katiúze Brill Nonemacher2
Juliana Guma3
Resumo: O presente artigo aborda o estudo urbano das reduções jesuíticas dos Sete Povos das
Missões e suas características que refletiram e/ou se mantiveram em São Luiz Gonzaga. Esta
análise parte de uma pesquisa mais aprofundada, que se encontra em fase inicial, devendo
abranger não só o município são-luizense, mas também as demais localidades dos Sete Povos.
Primeiramente denotamos as formações das reduções jesuíticas, com suas características
próprias e influências espanholas, quanto ao plano urbano. A partir disso é possível analisar
em linhas gerais cada redução dos Sete Povos e, neste estudo, mais especificamente, os reflexos
em São Luiz Gonzaga.
Palavras-chave: Missões, Reduções Jesuíticas, Colonização, Arquitetura.
INTRODUÇÃO
A história dos Sete Povos das Missões tem seu princípio de domínio e organização de
território, ligados às crenças postas pelo cristianismo, que conquistou a confiança e a
catequização de milhares de indígenas nestas terras denominadas atualmente por “Missões”,
localizadas ao noroeste do estado do Rio Grande do Sul.
Esses povoados tiveram sua organização iniciada em 1682, seguindo padrões espanhóis
de composição arquitetônica, formadas por padres jesuítas que buscavam catequizar os índios
guaranis, detendo o avanço português em direção ao litoral Sul, sob ordem do governo
espanhol.
São Nicolau, São Miguel de Arcanjo, São Francisco de Borja, São Luiz Gonzaga, São
Lourenço Mártin, São João Batista e Santo Ângelo Custódio formavam os Sete Povos das Dos
1 Artigo apresentado ao Grupo de Trabalho História, Patrimônio e Arquitetura do 3º Emicult; 2 Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo – 5º semestre, Centro Universitário Franciscano – UNIFRA.
E-mail: katiuzeb@gmail.com; 3 Arquiteta e Urbanista, mestre em Planejamento Urbano e Regional. Docente do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA. E-mail: arq.juguma@gmail.com.
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povos missioneiros restam atualmente uma rica história integrante do contexto gaúcho e
brasileiro.
Este trabalho pertence a uma fase inicial de estudo que busca a pesquisa sobre os
reflexos das reduções às cidades existentes atualmente nestes locais, em um parâmetro de plano
urbano e arquitetônico. Buscamos evidenciar a formação dos povos e de que forma a
organização atual ainda demonstra vestígios das reduções jesuíticas.
Nesta primeira fase de estudo, iniciaremos por São Luiz Gonzaga, com uma
comparação em linhas gerais da primeira organização urbana e a atual. Na próxima etapa
iremos aprofundar esta pesquisa, identificando cada fase de evolução e através delas notando
suas características ainda existentes. Assim seguiremos este estudo para as outras cidades
formadas nos locais das reduções dos Sete Povos das Missões, que foram ainda: São Nicolau,
São Miguel das Missões, São Francisco de Borja, Santo Ângelo Custodio, São João Batista e
São Lourenço Mártir.
A ORGANIZAÇÃO URBANA DAS REDUÇÕES JESUÍTICAS
De acordo com Bruxel (1978) todas as reduções eram direcionadas através de um plano
geral, onde o centro axial era a grande praça quadra, de onde convergiam as ruas principais.
Geralmente se construía a igreja na região central, ao lado sul ou norte da praça; ao lado direito
ficava o cemitério e em seguida o Cotiguaçu, que era um asilo-orfanato, onde as viúvas
cuidavam dos órfãos até a idade em que eles casariam e, passavam então, a residir com os
demais. Aos fundos era cultivada a horta, com grande pomar. Ao lado esquerdo da igreja ficava
o colégio e em seguida as oficinas. À direita da praça era localizado o hospital e ao lado oposto
da igreja, o Cabildo e a Capela. Segundo Flores (2003) Cabildo era a câmara municipal que
existia em todos os povoados espanhóis, que tinham o objetivo de administrar e fazer justiça.
Finalizando a organização urbanística dos povos das missões, as residências ficavam nas
laterais da praça.
Conforme Bruxel (1978) as reduções guaranis, ao contrário das cidades europeias, que
possuíam diversas igrejas e capelas, tinham uma só igreja, mas grandiosa, com capacidade de
abrigar 6 mil pessoas ou mais. Com dois ou três padres, e várias missas, salienta-se que apenas
uma era a “missa do povo”, à qual todos assistiam, aos domingos e dias santos. Nas construções
primitivas das igrejas das primeiras reduções jesuítas, os padres se faziam peritos, no entanto,
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logo após ocorreu a “era” dos arquitetos, sendo os irmãos Bartolomeu Cardenosa e Domingos
Torres os pioneiros:
Por volta de 1690 apareceu o Ir. José Brasanelli (o “Miguelângelo” das Reduções),
que levantou a igreja de São Borja (...) Nas primeiras décadas do século 18 veio o Ir.
João B. Prímoli, engenhoso arquiteto das monumentais igrejas de São Miguel,
Trindade e Conceição. O Ir. Antônio Forcada construiu a igreja de São Luís.
(BRUXEL, 1978, p.53-54).
Flores (2003) descreve que o colégio era formado por salas de aula, refeitório, cozinha
e residência dos padres, de modo que através da sala de aula se tinha acesso ao pátio e à horta.
Apenas meninos eram selecionados para serem alfabetizados. Eles ainda aprendiam música,
doutrina religiosa, práticas de agricultura e técnicas artesanais:
Dividia-se a ala residencial, a começar da sacristia, em quatro ou cinco quartos de 5x5 ou 6x6 metros (para os padres e hóspedes), refeitório e cozinha com o famoso
subterrâneo: uma simples adega, de uns 3x4 metros e 2 de altura, situada sempre sob
o refeitório ou cozinha. Nunca havia dois andares para moradia. (BRUXEL, 1978, p.
57)
A horta servia para alimentar os padres, os meninos, as mulheres viúvas do Cotiguaçu,
os doentes do hospital e os artesões, estes que trabalhavam nas oficinas, com tecelagem,
carpintaria e esculturas. Em referência às habitações, os relatos dos estudiosos descrevem que
possuíam semelhança às primitivas casas indígenas, onde abrigavam à muitos:
Cada bloco estava dividido em vários cômodos, conforme o número de famílias. Na
frente do bloco corria uma calcada coberta com telheiro, sustentado por pilares. Neste
local as mulheres teciam e fiavam cuidando das crianças. Cada cômodo tinha janela
e porta para a calçada e apenas uma porta para o lado oposto, coberta por telheiros e sem calçada, onde as mulheres cozinhavam. Nas peças havia redes para o homem e
para a mulher, as crianças dormiam em esteiras. No centro do quarto ardia o fogo
para espantar os insetos e aquecer os ambientes. (Flores, 2003, p.34)
Flores (2003) destaca que os animais domésticos viviam dentro da peça e cada bloco
possuía um cacique que era responsável pela distribuição das tarefas diárias e alimentos. As
mulheres do Cotiguaçu que realizavam atendimentos no hospital e cada povoado missioneiro
possuía seus ervais nativos, sendo que a coleta e a preparação da erva-mate eram feitas pelos
índios.
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Weimer (2004) observa que a origem do desenho das reduções jesuítas pouco seguem
o padrão da “leyes de Índias” – a Lei das Índias, mas é mais remota a aldeia ancestral dos
guaranis. Ele explica que há uma diferença entre os traçados das cidades e vilas hispano-
americanas dos jesuítas. Conforme:
(...) enquanto as normas felipinas (as leyes) induziam a concepções urbanas próximas aos preceitos renascentistas, nos aldeamentos jesuíticos já se empregavam os
preceitos barrocos em sua plenitude o que é perceptível no uso de avenidas
monumentais empregadas de modo a valorizar o prédio (no caso, a igreja) que
“fechava” a perspectiva. Portanto, até mesmo dentro dos parâmetros da cultura
europeia, os dois traçados pertencem a dois períodos diferentes. (WEIMER,2004,
p.31)
Weimer argumenta que não existiam razões para os jesuítas adotarem as normas
felipinas. De acordo com Lei das Índias “as ruas devem contornar a praça central de proporções
2 para 3 com a implantação dos prédios principais ao seu redor. Quanto aos demais prédios,
sua hierarquia é medida na proporção inversa a sua distância em relação à praça. ” (WEIMER,
2004, p. 31).
Desta maneira se teria uma definição da estrutura social das classes, onde, pela Lei das
Índias, os pobres ficariam na periferia e os ricos e poderosos, no centro, entre eles estariam os
remediados. O autor defende sua teoria denotando que na estrutura das aldeias dos Sete Povos
das Missões não haveria essa hierarquia de poderes, mas sim do sagrado e do profano. “Estes
dois mundos estavam plasticamente muito claramente separados entre si, através de um alto
muro que só apresentava três aberturas entre os dois universos: a central, composto de três
portas que davam para o templo, e as laterais que davam para o cemitério e para o pátio da
escola” (WEIMER, 2004, p.31)
Cita-se também a utilização das praças das Missões como um átrio que separava o
sagrado do profano e povoado de estátuas que tinham finalidade de demarcar o percurso do
deslocamento das procissões. Portanto, nos Sete Povos as praças eram cerimoniais, onde
aconteciam grandes procissões e momentos religiosos, ao contrário da Praza Mayor – da Lei
das Índias, que serviam como ponto de encontro e convivência dos cidadãos. Em resumo, para
os missioneiros a diferença era religiosa, enquanto de acordo com a Lei, a diferença era
econômica.
Bruxel (1978) descreve a Lei das Índias atuantes nas 30 reduções dos povos guaranis,
como fonte de inspiração anteriores à fundação da Companhia de Jesus. No entanto, ele destaca
o aperfeiçoamento de alguns pontos em diversas reduções. Como exemplo, o autor menciona
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as Reduções do Paraguai, onde nem as leis espanholas, assim como nem os modelos de outras
reduções tiveram papel decisivo, mas sim a experiência diária. “O plano inicial não poderia,
evidentemente, atender a todos os pormenores, mas estabeleceu as linhas-mestras, e a elas se
manteve fiel até o fim” (BRUXEL, 1978, p. 20)
CIDADES MISSIONEIRAS
Para uma compreensão melhor da história dos Sete Povos, procuramos entender a
ordem de formação dos povos e suas características próprias. A primeira redução missioneira,
dos Sete Povos, foi São Nicolau, formado por discípulos de Santo Inácio de Loyla, em 1626.
Seu fundador foi o padre Roque Gonzales de Santa Cruz, atualmente nome de uma cidade da
região.
Em 1797, São Nicolau possuía aproximadamente 5.300 habitantes. Segundo Grisólia
(1962) a redução era uma das mais constituídas, com edificações confortáveis para os padres e
também para os “selvagens”. Em seu estudo, ele descreve que em 1821, São Nicolau
encontrava-se com casas da aldeia que não passavam de divisões de compridas construções
cobertas de telhas, com telhados prolongados e sustentados por postes, formando, ao seu redor,
uma “galeria”, assim declara:
Os lados oriental e ocidental da praça possuem umas duas construções separas, como
separadas são nos ângulos das praças. Cada casa compõe-se de um só quarto.
Excetuadas algumas onde há janelas feitas ultimamente, não possuem outra abertura
além de duas portas estreitas, abrindo-se para as galerias da frente e dos fundos,
respectivamente. (GRISÓLIA, 1962, p.3)
A igreja possuía ornamentos dourados em seu altar que subiriam até a abóbada, possuía
ladrilhos regulares. A abóbada era pintada de arabescos grosseiros e em uma pequena capela
ficavam as pias de batismos. Junto a igreja ficava o cemitério, cercado de muros e com
laranjeiras, e à frente dela se tinha um edifício de um andar, com nove sacadas e telha à italiana.
Em descrição citada por Grisólia em seu artigo, feito pelo escritor e botânico Auguste de Sant-
Hilaire, em 1821, salienta-se que a rua terminada no meio do lado oriental da praça, fazia face
a uma capela quadrada cercada de galerias, “e à qual se vai por uma álea de laranjeiras copadas.
O verde escuro das laranjeiras e a sombra por elas comunicada à capela inspiram uma espécie
de respeito religioso” (SANT-HILAIRE, 1821, p.4)
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São Miguel foi a segunda redução dos Sete Povos. Fundada em 1687, pelo padre
Cristóvão de Mendonça, com auxílio dos padres Pedro Romero e Paulo Benevides. A redução
ficava localizada entre Santo Ângelo e São Luiz (que foram fundadas logo após). Para Grisólia
(1962) foi o povo que mais se desenvolveu. “Era o mais populoso e rico dos Sete Povos,
possuindo o templo mais majestoso e confortáveis habitações, com ruas benfeitas e indústria
desenvolvida” (GRISÓLIA, 1962, p.5)
Complementando uma descrição mais detalhada sobre a redução, que até hoje é
considerada a mais importante, pela sua formação em ruínas mantidas, Grisólia destaca:
A Igreja era de três naves, de trezentos e cinquenta palmos de comprimento e cento
e vinte de largura, com cinco altares de talha dourada e excelentes pinturas; ao entrar
na porta principal via-se à direita uma Capela com seu altar, e pia batismal, sendo a bacia de barro vidrado de verde, assentada sobre uma moldura de talha dourada. A
torre era também de pedra com seis sinos. Imediata ao lado direito do Capela-mor,
achava-se a sacristia, daí seguiam-se os cubículos dos padres, os quais eram muitos e
cômodos; pegava logo um lanço de quartos que olhavam para um grande pátio, com
alpendrada em roda, destinados à escola de ler, escrever, música vocal e instrumental;
dele se comunicavam para outro semelhante, formado de várias casas, numa das quais
trabalhavam vinte e quatro teares, e as outras eram oficinas de ourives, entalhadores,
pintores, uma grande ferraria, muitos armazéns, e uma casa forte, que servia de prisão,
tudo com admirável ordem. (GRISÓLIA, 1962, p.7)
Através dos relatos percebemos que São Miguel possuía as exatas características do
padrão de redução jesuítica. Notamos também sua grandiosidade em que se revela sua missão
de mil e quatrocentas famílias, que viviam em comum. Os jesuítas trabalhavam nas plantações
e colheitas de erva-mate, algodão, trigo, mandioca, cana-de-açúcar, batatas, ervilhas, favas,
feijões, aboboras, entre outros; e ainda haviam empregados nas olarias, nos curtumes, nas
estâncias de animais.
O arquiteto italiano João Batista Primoli foi o criador do Templo de São Miguel, que
mesmo em ruínas, podemos até os dias de hoje contemplar sua grandiosidade e exuberância,
levando em conta as limitações que se tinham na época, contando apenas com mão de obra,
sem máquinas ou tecnologias que usamos na atualidade. Grisólia (1962) conta que o material
utilizado para a construção da igreja foi extraído do rio Santa Bárbara, que ficava
aproximadamente 20 quilômetros da redução. Em sua fase mais populosa, a redução de São
Miguel atingiu 7 mil habitantes.
São Francisco de Borja foi a terceira redução à ser fundado, em 1682, ficando mais ao
sul de todas as sete reduções, próxima ao rio Uruguai. No entanto, a história desta redução teria
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iniciado anteriormente, quando o padre Francisco Garcia atravessava o Rio Uruguai, com quase
dois mil homens, na missão de fundar a colônia para redução de Santo Tomé, mas estes
desprenderam-se à margem em uma colônia com índios para fundação de São Borja, que mais
tarde tornou-se um dos Sete Povos devido seu crescimento. De acordo com Grisólia (1962) a
redução atingiu 2.888 habitantes em meados de 1694.
Seguindo a ordem cronológica de fundações, São Luiz Gonzaga foi a quarta formação
dos Sete Povos, este que será nosso local de maior destaque, pelo estudo que faremos mais
adiante, comparando a época da redução, a formação da cidade e seu plano urbanismo atual.
A redução de São Luiz Gonzaga, foi formada entre os arroios Piraju e Chimbocu, em
1687, pelo padre Miguel Fernandes. Segundo argumento revelado por Grisólia (1962) a igreja
da redução são-luizense possuía “trezentos palmos de comprimento por cem de largura”, com
pedras brancas e vermelhas e no interior se tinham três “naves” com pilares de grandes troncos
de árvores.
A população máxima da redução de São Luiz Gonzaga foi de 3997 habitantes. Em
descrição histórica oficial do município, revela-se que o padre Miguel Fernandes buscou um
lugar alto as margens do Arroio Chimbocu para instalação desta redução. Eram cultivados
ervas, algodão, trigo e milho. A quinta redução jesuítica dos Sete Povos das Missões foi São
Lourenço Mártin, fundada em 1690. Esta região atualmente pertence ao município de São Luiz
Gonzaga. Sua formação se constituiu da população proveniente da redução Argentina de Santa
Maria, e foi fundada pelo padre Bernardo de La Veja.
Tinha uma grande Igreja de frontispício singelo e paredes de pedras ligadas com uma
argamassa de pedra e cal. Nos umbrais da parede, do lado da epístola, se via uma
coroa ducal sobre um esferóide circundado(...) Nesse templo existia também uma
colossalpia de batismo com caprichosos lavôres. (Grisólia, 1962, p.12)
A população de São Lourenço chegou a atingir cerca de 5 mil habitantes. Nos dias atuais
ainda existem ruínas, mesmo que bem destruídas após as guerras. Já a redução de São João
Batista foi criada em 1697, sendo a sexta dos Sete Povos. De acordo com Grisólia (1962), essa
redução foi fundada por elementos vindos de São Miguel. Nela, a igreja tinha aproximadamente
trinta metros frontais e setenta de fundos. Ainda segundo o autor neste parágrafo citado, foi
nesse povo que se fundiu o primeiro ferro do Brasil. Cerca de 3,4 mil habitantes formavam esta
redução em 1707.
Por fim, mas não menos importante, chegamos a formação do último povoado dos Sete
Povos, a redução de Santo Ângelo Custódio. Fundada em 1706 pelo padre Diogo Haze. A
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redução foi destruída durante a guerra guaranítica, mas após uma igreja foi construída em cima
das ruínas da igreja anterior, com preceitos da igreja de São Miguel. Entre os detalhes que
diferencia a redução de Santo Ângelo às demais, foi a construção de seu tempo voltado ao sul,
enquanto as outras seis reduções tem sua igreja voltada ao norte.
Das reduções dos Sete Povos não muito se manteve após a guerra guaranítica que
aconteceu a partir da assinatura do Tratado de Madrid, em 1750, onde os portugueses trocavam
com os espanhóis, a Colônia do Sacramento pelos Sete Povos. Os missioneiros contraditórios
à transmigração lutaram contra a ordem.
A REDUÇÃO DE SÃO LUIZ GONZAGA
O traçado da redução são-luizense compreendia seis quarteirões de cem metros de
frente, a partir da praça, formando várias ruas largas que seguiam até os campos. As residências
ficavam em três das quatro faces da praça. Tinham salas amplas, separadas por paredes
espessas e circundadas por alpendres sustentados por colunas de pedra. Na imagem 1 temos a
foto da redução de São Luiz Gonzaga, representada por uma maquete que está presente no
museu do município.
Imagem 1: Maquete da redução de São Luiz Gonzaga, exposta no Museu Arqueológico do município
Fonte: Arquivo pessoal / Foto tirada por Luiz Oneide Nonemacher
A igreja ficava voltada ao Norte. Segundo o portal de Turismo de São Luiz Gonzaga,
esta não foi concluída pela sua enorme dimensão, mas media aproximadamente cinquenta
metros de fundo por vinte de largura. Seu teto era apoiado por colunas de madeira e à vinte
metros de altura ficava a abóbada com adornos dourados que ostentava enorme lustre.
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Os vestígios desta igreja foram demolidos para a construção do novo templo, que teve
início em 1932 e inaugurada em 1945. Com estilo gótico, foi projetada pelo vigário Augusto
Preussler. Dentro dela estão guardadas 12 imagens de santos em estilo barroco, feita pelos
índios da redução de São Luiz Gonzaga. Abaixo temos a imagem 2 da igreja feita durante a
redução, feita pelo Ir. Antonio Forcada.
Imagem 2 – Igreja da redução de São Luiz Gonzaga
Fonte: Blog São Luiz Gonzaga – História
Importante para o estudo do plano urbano, mesmo que interferido anos após as
reduções, devemos citar a criação da Gruta Nossa Senhora de Lourdes, presente em um dos
pontos mais altos de São Luiz Gonzaga. Segundo Gomes (1980) a Gruta foi erguida em 1926,
em cumprimento de uma promessa feita em 1924 por um grupo de senhoras que buscavam na
fé, forças para o conflito que se previa. Na época a cidade estava dominada pelas forças
comandadas por Luiz Carlos Prestes, e as forças adversárias aproximavam-se de São Luiz
Gonzaga. Temia-se também pela falta de alimentos para as famílias. Após a promessa, em 24
de dezembro do mesmo ano de 1924, a Coluna Prestes deixou a cidade.
Analisando o mapa atual do munícipio trabalhamos em uma análise da formação da
cidade quanto ao seu plano urbanístico, refletido pela história. Na imagem 3, apresentamos
uma parte do mapa de São Luiz, evidenciando mais os pontos que abordaremos em seguida,
como a Praça da Matriz, a Igreja e a Gruta Nossa Senhora de Lourdes.
Imagem 3: Parte do mapa de São Luiz Gonzaga
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Fonte: Google Maps
Em primeiro lugar devemos ressaltar a formação de quarteirões quadrados, com
regularidade e sequenciados. Isso já é uma consequência da colonização espanhola, em que as
ruas eram contínuas, com quarteirões regulares. Já nas reduções jesuíticas percebemos esse
equilíbrio e regularidade. Não há uma desordem pela topografia ou travessas em diagonais.
Mesmo com a expansão do município, ocorrida mais tarde, se deu sequência à esta formação,
fugindo apenas em poucos locais, nas marginais da cidade.
A Praça da Matriz, que antigamente se formava a praça da redução, é o ponto central
do município. Ela é o ponto de partida às extremidades. O acesso à cidade, com pontos
principais três trevos, à nordeste, norte e leste, possuem vias que levam todos ao centro, à Praça
da Matriz. Lembramos que São Luiz Gonzaga passou por diversas fases de expansão e
evolução, no entanto, estamos aqui analisando em linhas gerais desde seu surgimento até este
presente momento, sem o estudo, à princípio, aprofundado de cada etapa.
Seguindo a análise, ao entorno da praça principal, a Praça da Matriz, foram organizados
em primeira instância os prédios públicos e residências de nobres, que mais tarde foram
comercializados e hoje passou a constituir-se de prédios públicos e comércio, com poucas
residências, ficando mais determinadas nos pavimentos superiores quando existem.
Percebemos que no decorrer dos anos, a paisagem urbana central tem se modificado pela
mudança central das edificações. Sem o tombamento, prédios antigos estão sendo
demolidos/modificados, sem a preservação histórica. Isso acontece mais diretamente nas
edificações privadas.
Seguindo a rua lateral da igreja (São João), atravessando a Praça da Matriz, temos o que
hoje é o museu Senador Pinheiro Machado, logo em seguida a Biblioteca Municipal, um centro
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comunitário e ao fim da quadra o Instituto Histórico e Geográfico. Anteriormente, onde é o
museu, era a residência do Senador Pinheiro Machado, e nele são expostas fotos e objetos
relacionados a figuras importantes politicamente para a região. No centro cultural e
comunitário antigamente funcionava a escola dos padres e onde hoje é o Instituto Histórico,
funcionava uma instituição de Aprendizado Agrícola, construído em 1911.
O quartel – 4º Regimento Dragões do Rio Grande fica à 2km ao norte da Praça da
Matriz. Ele foi fundado em 1737, em necessidade de guarnecer as fronteiras portuguesas contra
a expansão espanhola. Fica localizado em um ponto alto, no extremo da cidade. A Gruta Nossa
Senhora de Lourdes, a qual já citamos sua história, fica à 1,3 km da Praça, em direção Leste.
Seu local de instalação foi escolhido por estar no ponto mais alto da cidade.
Outros pontos e edifícios presentes ainda em São Luiz Gonzaga valem ser citados, os
quais abordaremos no decorrer da pesquisa, assim como mais detalhes sobre os locais já
citados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando as evidências já estabelecidas em um início de estudo, notamos a
necessidade de aprofundamento da pesquisa para buscar mais detalhes de compreensão na
organização urbana. Também percebemos as características iniciais do plano urbano, tendo a
necessidade de buscar informações também sobre as demais etapas, onde ocorreram desde a
recuperação do local, após a guerra guaranítica, mas também a evolução em outras fases
históricas de grande importância.
Mesmo assim, consideramos valido essa compreensão de organização e até mesmo
curiosa e interessante, percebendo que mesmo após diversas guerras, os reflexos das reduções
ainda são muito presentes na região, tendo uma influência direta aos municípios que se
formaram onde eram os Sete Povos, mas também indiretas às cidades vizinhas.
Compreendemos a importância dos tombamentos de edificações, para que a história de
um povo se mantenha presente também fisicamente, com mais compreensão às diversas
gerações humanas. Consideramos que este estudo sugere apenas uma fase inicial de uma
pesquisa bem mais extensa e detalhada que deverá ser feita, mas já nos direcionando aos pontos
de trabalho a seguir.
REFERÊNCIAS
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BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos guaranis. Co-edição 1978. Porto Alegre: Livraria
Sulina, 1978.
GOMES, José. História de São Luiz Gonzaga. 1ª Edição. São Luiz Gonzaga: Editora: A
Notícia, 1980.
FLORES, Moacyr. História do Rio Grande do Sul. 7ª Edição. Porto Alegre: Editora
EDIPLAT, 2003.
WEIMER, Günter. Origem e evolução das cidades rio-grandeses. 1ª Edição. Porto Alegre:
Livraria do Arquiteto, 2004.
GRISÓLIA, Amado. Resumo histórico das reduções jesuíticas, Jornada de Medicina e
Cirurgia da AMRIGS, Santo Ângelo, de 24 a 27 de outubro de 1962.
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