os desafios da escola pÚblica paranaense na … · 2016-06-10 · ... os contextos sociais e...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Universidade Federal do Paraná
Secretaria de Estado da Educação
Diretorias de Políticas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE
PRÁTICA PEDAGÓGICA NUMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA: Desafio ao (a) Pedagogo (a) Comprometido (a) com uma Educação
Transformadora
Artigo desenvolvido como atividade final do Programa de Desenvolvimento Educacional –
PDE, 2014/Paraná.
Curitiba, novembro de 2014.
Dados de Identificação
Professora Pedagoga/ PDE: Maria Clarete Barbosa
Área: Pedagogia
NRE: Curitiba
Título: Prática Pedagógica numa Perspectiva Emancipatória: Desafio ao (a)
Pedagogo (a) comprometido (a) com uma Educação Transformadora.
Professor Orientador: Dr. Américo Agostinho Rodrigues Walger
Instituição de Ensino Superior: Universidade Federal do Paraná
Resumo: Promover a reflexão nos espaços de discussão na dinâmica de organização da escola, constitui-se num grande desafio ao pedagogo na organização do trabalho pedagógico e requer um envolvimento dos demais profissionais em torno do Projeto Político Pedagógico da escola. Reflete na escola, de forma contundente, os contextos sociais e educacionais antagônicos de uma sociedade que vive as contradições inerentes à construção pautada nos princípios democráticos. Considerando ainda este contexto, as características do público que frequenta a escola nos dias atuais, nascem no período histórico da conquista dos direitos sociais, a partir da Constituição Brasileira de 1988. Novos tempos acabam exigindo novas formas de educar, principalmente quando tradicionais formatos de fazer a educação escolar não mais respondem a contento. O momento parece requerer posturas apontando muito mais para o entendimento das questões do que propriamente em obter respostas rápidas às exigências que estão colocadas à escola, principalmente a pública. Na ausência de compreensão e entendimento dos conflitos, os mesmos tendem a ganhar forças podendo serem capazes de minar projetos que possam surgir como alternativas no enfrentamento de tais desafios. Da escola espera-se um projeto consistente pautado pela participação coletiva, pressupondo comprometimento dos profissionais envolvidos, dispostos a olhar para uma escola real, complexa por seus desafios, que na maioria das vezes podem ultrapassar a capacidade de respostas. Este projeto deveria ser construído a partir do pensar daqueles que integram a comunidade escolar, com o propósito de buscar um aprimoramento constante por meio das instituições formadoras e mantenedoras para o fortalecimento das práticas consideradas assertivas, possibilitando rever e retomar as ações planejadas. Mais que bonitas palavras, a escola carece de ações conjuntas para dar conta de uma tarefa social que não cabe somente a ela, ainda que esta situe-se na linha de frente desta responsabilidade. Palavras chave: - Pedagogia – Projeto Político Pedagógico– Papel Social da Escola
- Educação Emancipatória – Formação Continuada.
PRÁTICA PEDAGÓGICA NUMA PERSPECTIVA EMANCIPATÓRIA: Desafio ao (a) Pedagogo (a) Comprometido (a) com uma Educação
Transformadora
Professora Pedagoga: Maria Clarete Barbosa1 Professor Orientador – UFPR: Dr. Américo Agostinho Rodrigues Walger2
INTRODUÇÃO
A problematização apontada na elaboração do Projeto de Intervenção
Pedagógica e o “mergulho” pedagógico na implementação do mesmo, revelou de
forma mais concreta o diagnóstico inicial, de uma organização pedagógica mais
voltada à aspectos comportamentais dos estudantes nos atendimentos
emergenciais, sem disponibilidades para o planejamento de ações preventivas que
contemple as necessidades no decorrer do processo de ensino-aprendizagem.
Da realidade escolar observada à vivenciada, surgiram elementos para um
olhar mais realista sobre a dinâmica do processo educativo vivido no interior da
escola, revelando limites e possibilidades. Num primeiro contato para elaboração do
projeto de intervenção pedagógica, uma das principais questões abordadas pelas
pedagogas e equipe diretiva foi a falta de tempo em acompanhar o planejamento do
professor, em função da grande demanda de trabalho.
Nesta incursão na prática, foi possível constatar a existência de um clima de
expectativas direcionada às equipes pedagógica e diretiva para uma solução
imediata dos “problemas”, percebidos principalmente nas dificuldades encontradas
nas relações interpessoais, sendo visível o esforço permanente das equipes no
encaminhamento mais adequado às situações.
Na realização das atividades previstas no cronograma do projeto, mesmo com
organização das agendas, os encontros foram interrompidos pela pressão das
demandas consideradas emergenciais. Nos encontros realizados, foi visível uma
certa ansiedade das participantes ao afastarem-se para esses momentos de
estudos, diante dos afazeres a serem realizados. Foi percebido também o desejo e a
1 Pedagoga do Colégio Estadual Dr. Xavier da Silva (ensino fundamental e médio),
clarete@seed.pr.gov.br 2 Agradecimentos ao professor Agostinho que gentilmente acompanhou-me nesta caminhada PDE,
orientando nas reflexões sobre a atuação do (a) pedagogo (a) frente aos desafios para uma prática pedagógica numa perspectiva transformadora.
necessidade manifestada pelo grupo durante o período de estudos, mesmo os
encontros tendo ocorridos em meio às turbulências diárias. O grupo avalia como
importantes e necessários os momentos de estudos, mas há dificuldades em
viabilizá-los.
Vivenciar os limites colocados pela prática, foi desafiante para manter a
firmeza e as convicções sobre quais caminhos precisam ser trilhados na
organização do trabalho pedagógico, na perspectiva da emancipação dos sujeitos.
Neste aspecto, a função ao Pedagogo pode ser decisiva na organização e condução
dos processos pedagógicos e na busca da construção de um projeto coletivo.
A partir dos fundamentos teóricos propostos no caderno pedagógico, foi
possível a reflexão teórico-prática para compreensão não apenas destes aspectos,
como também para analise dos fatores de interferência no processo, possibilitando a
identificação de questões que poderiam estar impedindo a realização dos objetivos
propostos no Projeto Político Pedagógico da escola.
As contribuições dos pares, de várias regiões do Paraná, no debate por meio
do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), (SEED, 2014),3 foi fundamental para a
socialização do Projeto de Intervenção Pedagógica, permitindo avaliar sua
aplicabilidade sendo determinante para constatar se a proposição estava condizente
ou não com a realidade escolar. Felizmente, o Projeto encontrou receptividade e
abertura nas reflexões dos colegas no exercício de uma prática pedagógica na
perspectiva de uma educação emancipatória dos sujeitos, percebidos nos relatos
das(os) colegas, que segue:
“O momento da educação exige maior firmeza na atuação da (o) pedagoga (o) priorizando as especificidades da função, fortalecendo o papel do pedagogo como organizador e articulador do PPP, ancorando em bases de convicções teóricas; É importante a realização de pesquisa diagnóstica para conhecer a realidade sócio cultural da comunidade escolar; O ensino precisa ser significativo aos educandos, na formação de alunos críticos capazes de argumentarem o que pensam, no fortalecimento dos sujeitos; É necessário o comprometimento profissional e trabalho coletivo, no diálogo para a construção de novas práticas” (Cf, SEED, 2014).
Além de possibilidades, limites também foram encontrados na socialização
pelas pedagogas e pedagogos dos desafios vivenciados. As possibilidades de
3 SEED - Secretaria de Estado da Educação. Formação em Educação a Distância, por meio do
Grupo de Trabalho em Rede (GTR), Curitiba, 2014.
superação e os avanços já conquistados por sua atuação, destacaram-se em seus
relatos de aplicação das ações propostas no Projeto, em trabalhar na perspectiva de
uma educação emancipatória, sobretudo elegendo a busca do domínio teórico para
uma fundamentação consistente do trabalho desenvolvido pelo pedagogo.
Citarei a seguir, de forma sintetizada reflexões dos colegas cursistas em sua
prática pedagógica, como ilustração da receptividade à proposta em trabalhar por
uma educação que possibilite a transformação.
Pedagogos e a formação continuada:
“Necessidade do pedagogo em administrar o tempo; Acolhimento de
estratégias de estudos do caderno pedagógico, estendida também aos
professores; Trabalho do pedagogo fundamentado teoricamente, superando
o senso comum, um desafio constante; Enriquecimento da prática com a
participação no GTR; A gestão democrática participativa tornar-se realidade
e sair do papel; A importância do princípio da ética nas relações
interpessoais que se estabelece na prática pedagógica, ensinar o que se
pratica; Acreditar na educação, gostar da profissão, investir na atualização;
Novos tempos, exigem novas posturas, novas compreensões. A escola de
ontem insiste em não acompanhar a evolução dos tempos; Crise atual na
educação, refletir sobre qual homem queremos formar; Criar espaços de
discussão no ambiente escolar envolvendo toda a comunidade escolar em
torno de um projeto único de escola; Romper com formas tradicionais,
autoritárias e excludentes presentes no fazer pedagógico; Ser educador é
acreditar que é possível” (Cf, SEED, 2014).
Os educandos (as):
“Educação de qualidade promotora da cidadania; Considerar o estudante
em sua totalidade, como sujeito do processo ensino/aprendizagem em seu
processo formativo; Responsabilidade da escola pública em criar condições
para que os conhecimentos por ela ensinados oportunize aos educandos
uma formação de qualidade, na perspectiva emancipatória dos sujeitos,
capaz de promover a transformação da prática social, com a formação de
cidadãos e cidadãs conscientes de sua participação em seu momento
histórico” (Cf, SEED, 2014).
A proposta do Projeto:
“O Projeto de Intervenção tem desafiado aos pedagogos (as) do GTR,
possibilitando socializar experiências, enriquecendo a prática, encorajando
a um fazer diferente, com propostas inovadoras, ampliando a visão,
possibilitando a sair da rotina; Revolucionar mentes, por meio da educação
em busca da humanização dos seres humanos. Investir para que as
pessoas sejam capazes de pensar, sentir e agir de modo coerente,
comprometidos com a formação humana; Projeto de intervenção pressupõe
fundamentação teórica, planejamento e estudo da ação pedagógica;
Motivador, perceber que tem muitos profissionais da rede estadual
comprometidos com a busca de qualidade da educação pública, como neste
GTR; O projeto viabiliza estudos e a reflexão sobre a escola, seus
documentos, o processo democrático, o processo do fazer pedagógico;
Ética, tema de importante discussão, numa época que prevalece a inversão
de valores, manifestados nas relações sociais, refletindo a sociedade na
sua atualidade; Entusiasmo com o projeto com as contribuições teóricas e
metodológicas para redimensionar as discussões no ambiente escolar” (Cf,
SEED, 2014).
Também citado neste debate a necessidade e a importância da escola
envolver seus órgãos de apoio - a APMF, o Grêmio Estudantil e o Conselho Escolar
- na construção de uma gestão escolar democrática, bem como buscar, quando
necessário, o apoio de órgãos externos no enfrentamento às situações de violência
e abuso de drogas, abandono familiar, pobreza e outros que tem atingido crianças,
adolescentes e jovens, estudantes das escolas.
A discussão das temáticas propostas pelo Caderno Pedagógico sobre:
“Reflexões sobre a Prática pedagógica numa Perspectiva Emancipatória”, apontou,
de modo geral, contemplar os desafios vividos pelos participantes do grupo na
prática pedagógica em suas escolas ao trazer contribuições para o aprofundamento
teórico do pedagogo, permitindo compreender a realidade social na qual trabalha e o
papel a ser desempenhado pelo mesmo, possibilitando reflexões com vistas a uma
educação emancipatória de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo.
Diferentes formas de pensar e conceber a educação estão presentes na
escola, por vezes transformam-se em conflitos que podem parecer intransponíveis.
Neste aspecto, é essencial manter a unidade e o comprometimento dos profissionais
em torno do objetivo da escola para a garantia de aprendizagem de todos os
estudantes matriculados. Este foco, entendido como sendo comum a toda
comunidade escolar, é fundamental para o sucesso do ensino-aprendizagem de
qualidade proposto pelo coletivo da escola em seu Projeto Político Pedagógico.
Também fez parte da discussão entre os cursistas, o importante papel da
família, numa parceria necessária para o sucesso da aprendizagem dos educandos,
em que a escola possa propiciar momentos de convivência no sentido de fortalecer
o entendimento do processo educacional, possibilitando desta forma a participação
mais efetiva por parte dos pais no processo de aprendizagem dos filhos e filhas.
Sabe-se que as transformações necessárias na sociedade não ocorrerão
somente por meio da educação, mas, sem dúvida, a escola tem um papel
fundamental pela sua função social em trabalhar com o conhecimento
historicamente acumulado pela humanidade, em sua apropriação pelos educandos.
O domínio básico desses conhecimentos pode permitir aos alunos, tomada de
decisões mais consciente enquanto cidadão e cidadã atuante na sociedade.
Nesta oportunidade de reflexão entre os (as) colegas pedagogos e
pedagogas, o grande desafio profissional parece apontar no sentido do
comprometimento e da ética, percebidas nos debates que fizeram parte deste
período do Projeto. Também permeou as discussões do grupo, a necessidade de
busca constante de fundamentação teórica, podendo traduzir em maior segurança e
objetividade ao pedagogo na condução do trabalho pedagógico nas escolas, tanto
daqueles que estão atuando a algum tempo, como daqueles que estão chegando
agora dando maior legitimidade às ações a serem implementadas pelos pedagogos
na organização do seu trabalho.
Na socialização do projeto com as (os) colegas de profissão, é possível
perceber as fragilidades e os desafios que tem permeado a prática pedagógica, no
exercício diário da profissão do pedagogo, como também os avanços já
conquistados em suas trajetórias. O contexto da sociedade atual, concretizados
pelas demandas sociais, pelas situações de violência, agravadas por uma crise
ética, e quase sempre prevalecem os interesses particulares e individuais em
detrimento da coletividade. A escola reflete este contexto em seus processos
formativos, revelando de forma contundente esta realidade social, o que constitui
uma sobrecarga à instituição escolar, cabendo também uma co-responsabilidade da
sociedade como um todo, envolvendo suas inúmeras organizações sociais e
institucionais nesta tarefa educativa ainda não compreendida como sendo de todos.
Apesar do quadro retratado, incansáveis são os esforços dos pedagogos e
dos educadores comprometidos profissionalmente em realizar o melhor trabalho
possível considerando as condições dadas. Esta disposição pedagógica tem
manifestado na busca de fundamentação teórica, na preocupação com as questões
éticas, na perspectiva da gestão democrática para o trabalho coletivo etc.
Enfim, conceber a educação enquanto formação humana para a emancipação
dos sujeitos do processo educacional, parece apontar uma real necessidade por
uma busca mais consistente de fundamentos teóricos nas reflexões que permitam
ultrapassar o senso comum, não só na função do pedagogo como também no papel
do professor enquanto educador.
A organização do trabalho pedagógico requer do (a) pedagogo (a) o domínio
do que é essencial ao exercício do seu papel, exercido com profissionalismo para
que a escola possa funcionar adequadamente ao cumprir sua função social
educativa. Este papel, segundo SAVIANI (2012), exercido no contexto de uma
sociedade capitalista, nos pede um posicionamento, para qual classe social o
trabalho pedagógico é voltado? à trabalhadora ou a elite? Esta reflexão faz-se
necessária principalmente quando realizamos o diagnóstico para conhecer os
estudantes, e não apenas ter informações sobre eles, e a partir daí, poder
determinar ou não os currículos, as estratégias nos planejamentos, as decisões a
serem tomadas, etc., tendo como referência o público que se pretende atender com
projeto político- pedagógico desenvolvido pela escola.
A realidade educacional dos dias atuais, para além das questões sociais que
interferem de forma decisiva no processo educativo, tem desafiado educadores e o
coletivo escolar a reverem práticas e concepções conservadoras, que não mais
estão atendendo às demandas atuais do sistema educacional, comprometendo de
forma significativa o êxito dos estudantes no processo ensino-aprendizagem,
verificados pelos altos índices de evasão e repetências constatados em dados
estatísticos divulgados nos meios de comunicação pelos órgãos competentes.
No dia a dia escolar, foi possível constatar as dificuldades dos alunos em
assumir responsabilidades escolares como: estar presente às aulas, chegar no
horário, na realização das atividades exigidas nas disciplinas, entre outras. Isso
aumenta de forma significativa a dependência por acompanhamento de seu
processo de escolarização, demandando dos pais e da escola tutela sistemática
deste processo, o famoso “ficar no pé”, gerando conflitos pelo clima de cobrança
estabelecido nas relações interpessoais, alimentando de certa forma o grau de
dependência dos adolescentes e jovens, em seu processo formativo. Esta situação,
a princípio, demanda estudos mais aprofundados, uma vez que a mesma tem
repercutido nos resultados, principalmente no ano inicial do nível médio, como é
possível constatar na tabela que segue:
TABELA 1 – Resultados de Ensino-Aprendizagem no Nível Médio de Ensino.
Turma Total de Alunos
AP APC-Fev14
APC-Jul14
REP-Fev14
REP-Jul14
TR
1A
36 16 06 06 05 08 05
1C
36 24 01 03 01 06 03
1E
37 11 02 10 13 10 05+ 1 (excluído p/ erro)
1B
37 24 12 08 01 04 01
1D
39 13 00 05 09 12 09
1F
36 10 01 09 15 15 01+ 01(Rem)
Fonte: Dados organizados a partir dos resultados do conselho de classe do Colégio Estadual de aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica - Julho de 2014.
Legenda: AP-Aprovado; APC - Aprovado por Conselho de Classe; REP – Reprovado e TR – Transferido.
Pela análise dos dados da tabela 1, comparando a situação inicial das turmas
(fev/2014) e final (Julho/2014), o número de reprovados aumentou tanto no bloco de
humanas (turmas A, C e E), quanto no bloco de exatas (turmas B, D e F), de 44 para
58 alunos. No cômputo geral, o número de alunos aprovados por conselho de
classe - APC), aumentou de 22 inicialmente para 41 alunos no final o semestre. A
questão que se coloca é que os números aumentaram quando deveriam abaixar? ou
seja, é esperado no processo ensino-aprendizagem que os alunos apropriem-se do
conhecimento, elevando o nível do aprendizado no qual estavam no início do
processo?
Abordaremos na sequência algumas reflexões a partir da abordagem
diagnóstica, entre elas, a formação humana integral e também a necessidade de
uma formação consistente do pedagogo para uma condução qualificada da
organização do trabalho pedagógico da escola.
Estas questões consideradas pertinentes a debates posteriores, e a uma
possível formatação de um programa para aprofundamento reflexivo por meio de
estudos e pesquisas de temas considerados de relevância educacional. Reportarei
também às reflexões de Miguel Arroyo, Demerval Saviani, Paulo Freire, entre outros,
para subsidiar o debate sobre as inquietações pedagógicas vividas no contexto de
nossas escolas.
Desafios para a Prática Pedagógica numa Perspectiva
Emancipatória dos Sujeitos
A proposta de uma educação emancipatória é desafiadora e instigante para
as (os) pedagogas (os) atuantes na articulação do trabalho pedagógico, via projeto
político pedagógico com os segmentos da comunidade escolar, envolvendo os
sujeitos, o currículo, a avaliação, num trabalho pedagógico que possa resultar na
qualidade do aprendizado e, consequentemente, na promoção do educando, com
retenções cada vez menores de estudantes nas séries/etapas e níveis de ensino.
Na perspectiva de poder ir além, o trabalho pedagógico que se proponha à
emancipação daqueles que dela participam, é preciso considerar os sujeitos “reais”,
oriundos de uma sociedade excludente que ainda não respeita direitos. Como
educadores que somos, a grande meta passa pela formação das pessoas enquanto
seres humanos pensantes, exigindo dos profissionais bem mais que o domínio dos
conteúdos específicos das áreas do conhecimento.
As reflexões propostas por ADORNO (1985), trazem questões sobre a
possibilidade em pensar uma sociedade que possa posicionar-se de forma ética, na
proposição de uma educação de significados, reflexiva, mesmo na modernidade.
Seria possível criar por meio do conhecimento e da reflexão outros modos de viver,
conviver que não seja tão midiático, imediatista, individualista denunciando um
projeto exploratório do ser humano? Uma outra sociedade seria possível? Uma
sociedade que possa ser julgada como mais justa, mais igualitária, menos
excludente, menos preconceituosa, mais humana? Nesta sociedade deve prevalecer
a conduta ética. São reflexões as quais, enquanto educadores, não podemos nos
furtar, sob o risco de, enquanto espectadores estarmos caminhando rumo à
barbárie, em desfechos trágicos a exemplo da história da humanidade marcada para
sempre. Pode ser um exemplo que deve não ser repetido por nenhuma outra
sociedade.
Uma sociedade que se quer outra, que tenha possibilidades dentro das
escolas e de outros espaços de realizar debates em torno de alternativas e
perspectivas da humanização, são possibilidades que se colocam na medida que
situações desafiantes nos incomode ao ponto de buscarmos refletir sobre elas e na
sequência poder agir e alterar percursos. A educação reflexiva tomada como
alternativa para opor-se a uma sociedade massificada com seus mecanismos de
opressão imperceptíveis para quem não exercita a reflexão e o senso crítico. A
escola tem a responsabilidade social pela formação integral de seus estudantes.
Diante deste quadro podemos buscar entender os contextos para ter
elementos de reflexão no grupo educacional de atuação, vislumbrando novas
perspectivas. Em que nível de consciência encontra-se nossa civilização em seu
processo de humanização, de formação?
Deve-se pensar a partir de discussões do coletivo, alternativas para que
possamos de algum modo exercer, ainda que pareça um grão de areia no oceano,
de forma digna a condução do trabalho pedagógico pelo qual somos responsáveis
enquanto profissionais. Como podemos conduzi-lo? Pensando sobre ele?
Reproduzindo o que nos chega pronto? Ou é possível refletir coletivamente para
onde queremos ir e que formação queremos realizar? É uma escolha, que requer,
além do preparo, também o querer transformar a realidade que se tem e que se quer
outra. Estaremos sempre diante de uma escolha, sem ter como delegar a outro (a) a
responsabilidade. Pensemos nisso!
Infelizmente, a educação ainda não se constituiu pauta prioritária dos
governantes e dirigentes, pois ainda vivemos a era dos discursos de que a educação
é fundamental, mas apenas isso.
Docência e Pedagogia: processos reflexivos envolvendo prática e
teoria.
Iniciar pela abordagem do papel da reflexão do trabalho educativo escolar,
pela necessidade de olhar para os resultados, pois se não pensarmos como bem
fazer, acabamos por pensar que os resultados poderiam ser diferentes, ou seja, não
só combater a evasão e a repetência, como conferir maior qualidade no aprendizado
dos concluintes ao final dos níveis de ensino. Esta tarefa ao ser assumida poderá
revelar necessidades de mudanças estruturais, curriculares etc.
Para VASCONCELLOS (2012), quando se trata de planejamento, abrangendo
tanto o projeto ensino-aprendizagem, como o projeto político pedagógico, está
envolvida a reflexão. Com o objetivo de ajudar a transformar a prática pedagógica, o
autor fala sobre o papel da mesma nesse processo:
...“diante do quadro - muitas vezes dramático – de dificuldades da educação
escolar, qual seria o papel da reflexão?“. No entendimento do autor, “a
reflexão encontra-se no campo da subjetividade, sendo que os obstáculos
para a mudança estão tanto no campo subjetivo como no objetivo” (2012,
p.11).
Assim sendo, como avançar? Segundo VASCONCELLOS (2012), ...”a
reflexão enquanto tal não pode interferir diretamente na realidade, nas condições
objetivas; quem age sobre a realidade direta ou indiretamente (por meio de algum
instrumento) são os sujeitos”... (p.11).
Na proposição de uma reflexão fértil sobre a prática pedagógica às
contribuições do educador Miguel Arroyo, provoca-nos no sentido de avançar de
onde estamos, quando nos deparamos com os desafios refletidos nas
manifestações e expressões dos estudantes, sendo inevitável não pensarmos,
imediatamente como o trabalho que realizamos na escola, pode ser capaz de ecoar
de forma significativa na vida de adolescentes e jovens que tem passado pelo nosso
trabalho nesses anos? Porque tantos deles não permanecem nas escolas, outros
repetem e outros nem chegam a frequentar? Segundo o autor, o momento
educacional pede um novo olhar sobre os educandos a partir de suas trajetórias na
vida e na escola, na oportunidade em rever as próprias trajetórias de nossa docência
e pedagogia no olhar trazidos pelos educandos. ...“O momento é desafiante porque
as próprias crianças, adolescentes e jovens nos exigem que aceleremos o ritmo e
tomemos o passo da realidade que eles vivenciam”... (2009, p.11). Nas palavras de
ARROYO (2009),
“... Será difícil encontrar-nos a nós mesmos nas metáforas da pedagogia e da docência quando os alunos nelas não se encontram mais. O imaginário em que os representávamos está condenado a desaparecer. Já desapareceu no cinema, na mídia, na literatura e nas ciências humanas. Apenas sobrevivia no imaginário escolar. Por que resistimos tanto a perceber que essa criançada e moçada não eram mais as mesmas? Porque teríamos de rever nossas imagens profissionais” (p.11)
ARROYO (2009), também nos fala da importância em refletirmos sobre os
imaginários construídos ao longo do magistério. Será que já paramos para pensar
que,
...”redefinir imaginários dos alunos exige redefinir imaginários da docência e
da pedagogia. Uma tarefa inadiável diante da infância e da adolescência
quebradas pela barbárie da sociedade. Mas que imagens estão sendo
colocadas no lugar? Estamos em tempos de rápida substituição das
imagens inocentes a infância. Nos assusta que as indisciplinas e a violência
cheguem às ruas e aos morros, e até às escolas. Nos assustam a conduta
dos “menores”. Nos surpreende que aqueles que víamos como o ideal de
bondade e inocência tenham se tornado símbolo da maldade e da
violência”(p. 11 e 12).
Nesse momento desafiante para a educação, principalmente para as escolas
realizarem seu trabalho é que pode-se avaliar o desafio para a responsabilidade do
papel dos educadores. Segue um questionamento de ARROYO (2009), para
reflexão: ...“diante do incômodo e do mal-estar de mestres a alunos resta algo capaz
de inspirar nosso pensar e fazer profissional?” Ele segue dizendo:
...“atrevo-me a pensar que a luminosidade que precisamos para acompanhar essas infâncias, adolescências e juventudes pode não vir mais de utopias, nem de promessas de futuro. Poderá vir da tensão e do próprio mal-estar vivido nas escolas. Vir do espanto diante da barbárie a que a infância é submetida”... Ainda, ”as surpresas diante da barbárie com que é maltratada a infância e adolescência pode aguçar nosso espanto e nossa criatividade humana. Inclusive para rever nossos tratos na sociedade e na escola e inventar formas mais humanas de tratar-nos e de tratar os educandos” (p.19).
Nos desafia à reflexão colocada pelo autor, quando nos instiga a olharmos
sobre a trajetória que nos fez tornarmos educadores. Pensamos sobre as teorias
tantas vezes por nós atacadas por não responderem tão prontamente e literalmente
às nossas questões. E quando a educação encontra-se de tal forma sem respostas
às exigências do atual contexto da sociedade?
Para FREIRE (2014), “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma
exigência da relação Teoria / Prática sem a qual a teoria pode ir virando um blá, blá,
blá, e a prática ativismo”. Nesse sentido o papel da reflexão crítica quando
trabalhamos com o conhecimento historicamente acumulado pela humanidade, pode
passar ser uma exigência, no sentido de estarmos numa construção e reconstrução
permanente do que sabemos, dos conhecimentos que temos e do que podemos vir
a ser.
Educação como Formação Humana
O que vem a ser formação humana integral na educação escolar? Seria um
trabalho educacional tendo em vista o papel social da escola, levando em conta
aspectos culturais, sociais, éticos etc. que compõem a totalidade dos sujeitos em
sua formação? Para ARROYO (2009),
“Encontrar os possíveis vínculos entre tempo e formação humana teremos
de começar por assumir a formação dos educandos em nosso universo
profissional e em nosso campo de estudo, reflexão e debate, ...”educação e
formação sempre caminharam tão próximas, sabemos bastante sobre o que
e como ensinar e até sobre processos de aprendizagem, porém sobre a
formação dos educandos como sujeitos totais, como sujeitos cognitivos,
éticos, culturais, estéticos, afetivos, sabemos muito pouco. Entretanto, os
educandos se revelam nas escolas como sujeitos totais e exigem que
demos conta dessa totalidade”( p.224).
Já temos uma legislação contemplando a educação em várias de suas
demandas referentes aos aspectos sociais, a Constituição Federal 1988, a LDBEN
de 1996, o estatuto da criança e do adolescente, as leis específicas dos portadores
de necessidades especiais, do combate à violência à mulher e as sobre
discriminações e preconceitos e etc..
O teor das leis, parece não ter atingido o nível consciente das pessoas num
quando espera-se que somente com sua aplicação os problemas se solucionarão A
lei por si, não conscientiza os cidadãos. A conscientização pressupõe participação
em processos formativos de educação. Temos na escola a geração de crianças,
adolescentes e jovens que nasceram na sociedade dos direitos já conquistados
porém, ainda, não reconhecidos por todos. Assim sendo, as dificuldades parecem
não ser somente com os deveres, o que talvez possa explicar em parte a crise dos
conflitos entre as gerações manifestadas nas interações, desde as familiares às
sociais das dificuldades relacionais na educação dos filhos e de resistências geradas
muitas vezes, também, por falta de conhecimento.
A situação parece agravar-se pelas formas individuais de relacionar-se
quando estas sobrepõem às coletivas, movimentos esses que desconsideram a
existência e a inclusão do outro, movidos apenas por interesses próprios, em
consonância com o modelo capitalista da organização da sociedade. E a formação
humana integral cabe a quem? Somente a família, a escola ou a ambas em conjunto
com as instâncias organizadas da sociedade?
A necessidade de formação para educadores formadores, na compreensão
do papel social da escola, na formação ética, para um fortalecendo maior do
comprometimento com o processo educacional das pessoas, seja na escola, na
família, nas organizações sociais e na sociedade como um todo. Os desafios
quando assumidos, facilitam o equacionamento de questões facilmente delegadas
aos outros, oportunizando ações articuladas e agilizadas em respostas aos desafios.
Uma sociedade que se quer outra, que tenha possibilidades dentro das
escolas e de outros espaços realiza debates em torno de alternativas e perspectivas
da humanização. São possibilidades que se colocam na medida que situações
desafiantes nos incomode ao ponto de buscarmos refletir sobre elas e na sequência
poder agir e alterar percursos e resultados.
A educação reflexiva, tomada como alternativa para opor-se a uma sociedade
massificada com seus mecanismos de opressão imperceptíveis para quem não
exercita a reflexão e o senso crítico, propõe a formação integral dos estudantes que
chegam à escola. Esta tem um papel fundamental nesse processo formativo.
Enfrentar os problemas sociais quando olhamos para o cenário político e
constatamos a falta de ética, a corrupção e a impunidade e etc. O exercício da
cidadania, a conquista do que é de direitos como moradia, saneamento básico,
serviços públicos de qualidade, como educação saúde e segurança, parecem não
fazer muito sentido, pois ainda vivemos uma sociedade movida por interesses
individuais, onde poucos ainda percebem a importância de lutar pela democracia.
Poucos são os que percebem como as coisas funcionam, poucos demonstram
interesse em participar. Neste aspecto é que entra o papel social da escola. Será
que ela tem debatido os temas sociais ou isso está fora dos conteúdos?
Papel Social da Escola
Até que ponto o desânimo dos professores no enfrentamento dos desafios
postos hoje na pedagogia e na docência tem sido refletido no comportamento
desmotivado dos alunos para os estudos?
O trabalho com o conhecimento quando não colocado em primeiro plano pela
escola, bem como o exercício reflexivo e coletivo das ações pedagógicas podem
virar tão somente “tarefas a serem cumpridas” perdendo o sentido do existir da
escola enquanto espaço de apropriação do conhecimento para formação na
evolução emancipatória dos sujeitos, na perspectiva do poder vir a tornar cidadão de
fato, de direito, atuante na sociedade, fazendo com que a mesma possa ser cada
vez melhor, cada vez mais inclusiva e mais justa.
Aqui, talvez caiba um questionamento. Em momentos decisivos, quando a
população escolhe seus líderes governantes, a mesma tem agido com consciência
ou ainda prevalecem os interesses ditados para a manutenção de uma elite?
Não se pode deixar de fazer aqui uma outra indagação: a escola hoje,
principalmente a pública, tem as condições necessárias para realizar esta sua
função social de forma adequada? Dada as condições, no tocante a formação
continuada dos profissionais, das condições físicas e materiais da própria escola e
da valorização e reconhecimento dos profissionais da educação, sabemos que há
dificuldades. Enquanto, não se tem as condições ideais, o que fazer? A escola não
pode parar. Com grande dose de boa vontade, espirito guerreiro e muita criatividade,
há que buscar perspectivas, sobretudo pela necessidade de uma grande maioria dos
estudantes que, em sua condição social precária, tem a escola como única
possibilidade para investir em sua formação para alguma perspectiva de vida
melhor. A escola deveria agir com a ética na proposta de transformação, autonomia
do pensamento, exercício da criticidade, aceitação da convivência com o diferente,
das ideias contrárias e na postura profissional no exercício das funções. Na
organização do trabalho pedagógico voltado na forma que possa contemplar
processos que priorizem o processo ensino-aprendizagem.
O Papel do (a) Pedagogo(a) e a Organização do Trabalho
Pedagógico
A discussão proposta pelo projeto traz um desafio ainda maior ao pedagogo
que esteja vivenciando uma prática voltada ao imediatismo no foco comportamental
dos educandos. Neste sentido, a discussão nos convida a pensar sobre o próprio
fazer, principalmente, pela atuação do(a)pedagogo(a) como mobilizador de reflexões
acerca da prática pedagógica.
O trabalho com a educação escolar no atual contexto social, traz
complexidades e exigências que vão além do preparo profissional para enfrentá-los.
Indagações são feitas, tais como qualificar a prática pedagógica para uma
educação transformadora? Como organizar processos que possam enfrentar a
evasão e a repetência dando conta da aprendizagem de todos os estudantes
matriculados?
A Organização do Trabalho Pedagógico, sendo a principal função do
pedagogo na escola, pressupõe uma organização na perspectiva da gestão
democrática com possibilidades da participação dos segmentos da comunidade
escolar, na construção e implementação do Projeto Político Pedagógico – PPP,
oriundo da construção coletiva com vistas à emancipação dos sujeitos que dela
fazem parte.
No decorrer da implementação do Projeto de Intervenção, nas observações
realizadas, nos momentos de discussão com as pedagogas do caderno pedagógico,
nas interações com professor, aluno e pais, elencamos os aspectos que mais
destacaram-se na organização do trabalho pedagógico, merecedores de reflexões
envolvendo a comunidade escolar. que possam permitir num olhar mais apurado e
crítico à luz dos fundamentos teóricos, no sentido de apontar caminhos alternativos
para compreensão dos desafios vividos pela escola em sua prática pedagógica.
Esta tentativa, ainda que tímida, tem por objetivo trazer para o grupo a
necessidade de refletir coletivamente sobre as possibilidades de um fazer
pedagógico ser realizado por todos que compõe os segmentos da escola, ou seja,
alunos, professores, pais, agentes educacionais, equipe pedagógica e diretiva, por
meio do PPP, considerando que alguns aspectos devem ser melhor refletidos
coletivamente pelos pedagogos e pedagogas como necessários frente aos desafios
colocados pelo processo ensino-aprendizagem. Algumas questões em torno da
prática pedagógica evidenciam a necessidade de serem discutidas, antecedendo as
tomadas de decisões:
a) Qual o projeto de escola que a comunidade escolar quer ver, acontecendo na
prática?
b) É necessária a formação dos profissionais com estudos e reflexão da prática
pedagógica? Em que momentos e como podem acontecer esta formação?
c) Processo avaliativo? A importância do conselho de classe participativo?
d) Fortalecimento da gestão democrática.
Ouvir cada segmento da comunidade escolar contribui para o diagnóstico,
assim como pesquisas mais específicas sobre processos de ensino-aprendizagem
também constituem-se em estratégias para a construção do projeto da escola. Ter
como meta, qualificar o trabalho realizado pela escola pode ser, sim, uma das
alternativas de respostas aos desafios por ela enfrentados na ação educativa que
vem realizando.
A problematização traz o desafio para reflexão do (a) pedagogo (a) no sentido
de se perceber o que pode representar uma organização do trabalho pedagógico
centrada no comportamento do aluno, deixando de priorizar a verdadeira função da
escola ao trabalhar com o conhecimento. Neste sentido, como o pedagogo pode
planejar seu trabalho prevendo momentos de retomadas do planejamento com o
professor após ocorrer o conselho de classe, na busca de soluções para o aluno que
não consegue aprender? Como viabilizar encontros de estudos na hora atividade,
diagnosticar, analisar dados sobre as causas de evasão e repetência que
acontecem na escola?
O Projeto Político- Pedagógico na Perspectiva da Construção
Coletiva
Como instituição educacional responsável pela formação de cidadãos e
cidadãs, coloca-se a necessidade da mesma ter um projeto, que possa prever suas
ações dentro de uma concepção de que tipo de homem deseja formar para atuar na
sociedade, prevendo também alternativas para lidar com os estudantes, a forma
como chegam para vir a tornar-se o que a escola concebe em seu PPP. Um projeto
que possa retratar os anseios e desejos dos sujeitos que estão diariamente no
interior da escola, construindo e reconstruindo, fazendo e refazendo caminhos na
forma coletiva de participação. Um projeto para além de atender às exigências
burocráticas, mas de um documento em que os integrantes da comunidade escolar
possam se ver.
O processo reflexivo para a construção do PPP, pode iniciar-se num momento
de estudos, pode ser desencadeado em função de uma situação considerada
“problema” com novos procedimentos e maior comprometimento dos envolvidos.
Com o objetivo de promover a reflexão crítica acerca do papel da escola, por meio
do Projeto Político Pedagógico, deve-se mobilizar a comunidade escolar no debate
por uma educação emancipatória de todos os sujeitos do processo. A dinâmica
escolar, em diversos momentos da prática pedagógica, requer decisões consistentes
com embasamento teórico para que as ações possam resultar em avanços na
formação dos sujeitos.
Deve-se, por fim, considerar na articulação para a construção de um PPP,
algumas questões que possam retratar os anseios da comunidade escolar, tais
como: os momentos de formação (Hora Atividade); Conselho de Classe
(participativo); Planejamentos; Processos avaliativos (recuperação de conteúdos);
Gestão Democrática; Diagnóstico (conhecer os sujeitos que fazem parte da escola);
O papel social da escola; a função da normatização na organização da escola; O
Papel do Pedagogo e a dinamização das Instâncias Colegiadas como órgãos de
apoio ao trabalho da escola, especialmente as que envolvem a participação dos
alunos por meio do Grêmio Estudantil, e a mobilização dos pais por iniciativa da
APMF (Associação de Pais, Mestres e Funcionários).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Limites e Possibilidades da Prática Pedagógica para uma Educação
Emancipatória dos Sujeitos
Para além do título deste Projeto de Intervenção, uma prática pedagógica que
possa visar a emancipação dos sujeitos é um desafio para todos envolvidos no
processo educativo exigindo do (a) pedagogo (a) organização e articulação do
trabalho que possa possibilitar atuação dinâmica, crítica e propositiva por parte dos
envolvidos.
A manifestação dos segmentos da comunidade escolar por meio de uma
amostra de pesquisa trouxe um indicativo pedagógico importante e necessário
quanto a pensar sobre o trabalho que se realiza na escola. Alguns motivos
justificaram a reflexão, apontando para as constantes mudanças pelas quais
passamos: poder ficar por dentro de todos os assuntos da escola; entender o que
compete a cada um, repensar práticas da sala de aula. E, para além do pensar,
formar grupos para debates.
Porém, nem todas as maneiras de realização agradam a todos, mas na
escola, estudantes e professores passam a maior parte do tempo e um não pode
existir sem o outro. Que nesse tempo, seja possível dividir o melhor de cada um e,
que no final, todos possam ganhar novos aprendizados e a escola possa ser sempre
melhor.
Para responder de forma efetiva às demandas pedagógicas da escola,
elegeria o planejamento das ações do pedagogo, priorizando os momentos de
estudos, para o domínio do seu papel como fator determinante, para que possa
realizar de forma qualificada sua principal função, a organização do trabalho
pedagógico, voltada às ações de cunho preventivo na condução do processo
ensino-aprendizagem.
A formação do homem enquanto preparo para viver em sociedade tem sido,
desde os primórdios da humanidade, uma eterna busca. Em nome do vir a ser
humano, são cometidas as barbáries pela sociedade dita “civilizada”, independente
da classe social de pertencimento.
Este estudo sobre a prática pedagógica, proporcionado pelo Programa PDE,
foi marcado por perguntas, desde a elaboração do Projeto. Como continuidade, a
proposta é a busca de respostas no conjunto da escola, com a participação da
comunidade escolar. Acredito não haver mais espaço para decisões onde a
comunidade não seja ouvida, sob o preço de uma convivência conflituosa e
desgastante o tempo todo.
Nessas considerações finais, neste curto período de incursão na prática
escolar, aponto alguns temas considerados de relevância pedagógica no
prosseguimento de estudos e pesquisas que possam aprofundar as principais
questões que afligem a escola, no sentido da mesma parar com o processo de
culpabilização e encarar a própria formação. Enfrentar os desafios que estão
colocados para escola nos dias atuais, refletindo uma sociedade excludente,
individualista, consumista e imediatista, da qual somos parte. Assim sendo, como
educadores que somos não podemos nos deixar furtar à reflexão de tal situação
com as crianças, adolescentes, jovens e adultos que passam por nós todos os dias,
por meio da escola.
Como priorizar o planejamento de um trabalho preventivo para que possam
diminuir as situações emergenciais? Vislumbra-se aqui, um grande desafio, em que
será exigido do pedagogo, clareza de seu papel, preparo, fundamentação teórica
para propor análise etc. Uma mudança de enfoque deve pensar sobre o ensino-
aprendizagem, o conhecimento dos sujeitos e a definição de estratégias para
enfrentamento da evasão e a repetência, possibilitando a permanência de todos os
estudantes no processo de educação escolar, a fim de que possa apropriar-se com
qualidade dos conhecimentos básicos e necessários à sua atuação enquanto
cidadãos críticos, participativos e competentes, numa sociedade que elege o (ter)
capital financeiro em detrimento da dignidade do (ser) humano.
Descobertas do como bem conviver, para produzir resultados férteis a todos
os sujeitos envolvidos, parece ser não somente um desafio, mas constitui-se em
uma batalha, para a qual devemos nos preparar diariamente a fim de não perder os
jovens e os adolescentes nesta guerra instaurada no contexto social que estamos
vivendo. Na proposta de uma postura profissional realista, deve-se avaliar o grau de
envolvimento e preparo que se pede para chegar aos resultados e objetivos aos
quais a escola como um todo venha a propor.
Ainda que considerados os limites na implementação deste projeto, a
semente foi lançada com a proposta de tornar real uma necessidade já constatada
pelas (os) pedagogas (os) em criar e manter um espaço para estudos e discussões
sobre a prática pedagógica, podendo estender as reflexões aos professores em
momentos de sua hora atividade.
O trabalho pedagógico confere em sua subjetividade, inúmeros aspectos
capazes de nos distanciarmos dos objetivos aos quais a escola se propôs ao
construir seu Projeto Político-Pedagógico. Por esta razão, o mesmo constitui-se
dinâmico, o que pressupõe-se que pode-se alterá-lo conforme entendimentos
acordados pelo grupo sempre que houver avanços ou surgirem situações novas que
precisam ser contempladas. E assim, o Projeto vai sendo escrito conforme a escola
caminha em sua prática pedagógica, pressupondo comprometimento e
responsabilidade de todos a fim de efetivar a qualidade que o processo ensino-
aprendizagem exige.
Participar desta oportunidade de formação pelo programa PDE, é, sem
dúvida, um grande exercício aos próprios limites profissionais e pessoais nas
reflexões ao buscar compreensões sobre a realidade educacional da prática
pedagógica, ainda que possam trazer mais questões do que respostas. Desafiador,
também como protagonista deste Projeto, vencer os limites das relações
interpessoais, buscando a perspectiva de interações mais dialógicas menos
autoritárias, num exercício constante e consciente por posturas mais condizentes a
processos que permitam o exercício da democracia, ainda que situações pudessem
exigir o contrário. Vivendo os desafios do conviver nos limites enfrentados pelos
pares nas diferenças de caminhadas, mas, sobretudo pela oportunidade construída
com respeito e companheirismo de equipe, permitindo a superação e o
entendimento de que há caminhos a serem trilhados e descobertos, na perspectiva
de uma educação para a transformação.
Referências Bibliográficas ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. ARROYO, Miguel G. Imagens Quebradas: trajetórias e tempos de alunos e mestres. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática. 48 ed.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2014. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica - 18ª ed. Revisada. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Quem Sabe Faz a Hora de Construir o Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 2007. VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político – Pedagógico da Escola: uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995. VEIGA, Ilma Passos Alencastro e REZENDE Lúcia Maria Gonçalves de. (Orgs). Escola: Espaço do Projeto Político Pedagógico. Campinas, SP: Papirus, 1998. VASCONCELLOS, Celso dos S. Para onde vai o Professor? Resgate do Professor como Sujeito de Transformação. São Paulo, Libertad, 1996 (Coleção Subsídios Pedagógicos Libertad, v.1).
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