o fogo purificador da provação
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A474 Alves, Silvio Dutra O fogo purificador da provação./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 162p.; 14,8x21cm 1. Cristianismo. 2. Vida Cristã. 3. Tribulação. 4. Paciência. 5. Fé. I. Título. CDD 207
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Sumário
Até Que Nível de Prova se Pode Suportar? 4
Refinados no Fogo das Provações 10
Antídoto Feito do Próprio Veneno 12
Lapidar um Diamante Exige um Trabalho Paciente
15
“A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7) 19
O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas Nossas Aflições
21
Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há na Aflição
24
Encontros com Deus na Hora da Aflição 37
Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela Provação?
39
“É o suficiente para o discípulo ser como o seu mestre." (Mateus 10.25)
43
“No mundo tereis aflições" (João 16.33) 45
Este Terrível Vento Leste! 47
A Provação Bíblica da Fé 63
Fardos Inevitáveis da Vida 64
A Prova da Vossa Fé 72
Tendo Bom Ânimo num Mundo de Aflições
79
Abatidos mas não Destruídos 82
Aflições Aliviadas 84
O Bom Efeito da Tribulação 87
Quebrantamento na Aflição 94
4
Até Que Nível de Prova se Pode Suportar?
Antes de tudo, devemos ter em permanente
consideração que há sempre um controle da
parte de Deus para que não sejamos provados além daquilo que possamos suportar e que Ele
também nos dá a graça necessária para que
sejamos livrados (I Cor 10.13).
Todavia, nem sempre o cristão está consciente desta verdade, ou ainda que a conheça, pode
considerar que seja possível que Deus falhe naquilo que nos prometeu, ou então que haja
alguma situação excepcional à qual a promessa
divina não se aplique, porque poderá, a seu juízo,
pensar que ficam excluídas as provações às quais nós mesmos tenhamos dado causa, por
um mau comportamento ocasional, ou por
negligência dos nossos deveres espirituais para com Deus.
Não devemos esquecer que a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13), ou seja, ela será
sempre concedida por Deus àqueles que têm
também usado de misericórdia para com o seu
próximo, livrando-os assim de muitos juízos que lhes viriam da parte de Deus, caso não fossem
misericordiosos.
Daqui aprendemos também que a misericórdia de Deus sempre acompanha os Seus juízos
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corretivos, e assim, não permitirá que sejamos
provados além das nossas forças, e se
compadecerá de nós, dando-nos, a Seu tempo, o escape.
Para quem pensa que não é possível triunfar sobre determinados tipos de provações,
especialmente aquelas que são muito pesadas, a
vida do apóstolo Paulo nos foi dada como
exemplo, para que saibamos que não há grau de provação que seja maior do que a graça de Jesus.
Veja o seu próprio testemunho em I Cor 11.3-33/12.1-10:
11.3 São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais;
muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes.
24 Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um;
25 fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite
e um dia passei na voragem do mar;
26 em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em
perigos na cidade, em perigos no deserto, em
perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos;
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27 em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes;
em frio e nudez.
28 Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com
todas as igrejas.
29 Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não
me inflame?
30 Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que
diz respeito à minha fraqueza.
31 O Deus e Pai do Senhor Jesus, que é eternamente bendito, sabe que não minto.
32 Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos
damascenos, para me prender;
33 mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos.
12.1 Se é necessário que me glorie, ainda que não convém, passarei às visões e revelações do
Senhor.
2 Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos, foi arrebatado até ao terceiro céu
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(se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o
sabe)
3 e sei que o tal homem (se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe)
4 foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir.
5 De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim
mesmo, salvo nas minhas fraquezas.
6 Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para
que ninguém se preocupe comigo mais do que
em mim vê ou de mim ouve.
7 E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para
me esbofetear, a fim de que não me exalte.
8 Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim.
9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De
boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder
de Cristo.
10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições,
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nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.
Vemos assim, pelo testemunho de Paulo, que não há provação que possa vencer o cristão,
quando ele se consagra inteiramente à vontade
e ao serviço de Deus.
Há muitos cristãos que estão sofrendo terríveis injustiças e perseguições, todavia, nenhum
deles tem motivo para se afastar do Senhor, ou
alegar que foi abandonado por Ele.
Nenhum deles terá razão quando afirmar que foi desamparado pela justiça, e que servir a Deus não foi afinal um bom negócio, porque suas
tribulações aumentaram em vez de
diminuírem.
Ainda que nos obriguem a comer o pão da aflição, diariamente, Deus untará com seu santo óleo as nossas feridas, e abrandará as nossas
dores, e trará paz e sossego aos nossos corações.
Este é um mundo adverso, no qual os inimigos do homem podem ser até mesmo os da sua
própria casa. O reino das trevas está presente no
mundo e sempre estará até que Cristo volte para inaugurar o Seu reino de paz e justiça eterno e
perfeito.
Assim, enquanto estivermos no mundo, necessitaremos da paciência e da perseverança,
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e sobretudo da fé para buscarmos socorro e
auxílio no Senhor, para que sejamos
fortalecidos, tal como Paulo, em nossas
fraquezas.
Lembremos que se diz que: “...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de
Deus.” (At 14.22b).
Porque há necessidade das tribulações para que tanto o corpo, e especialmente a alma, sejam
quebrados por Deus, e uma vez crucificados tais desejos, o espírito possa assumir de novo o
comando que lhe fora reservado por Deus desde
o princípio, e daí se dizer o seguinte em Rom 5.3-
5:
“3 E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação
produz a perseverança,
4 e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança;
5 e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
10
Refinados no Fogo das Provações
Deus quer que sejamos tal como Ele é, ou seja,
que sejamos seus imitadores.
Deus é paciente, longânimo, perdoador, benigno, amoroso, justo, e tudo o mais que é
condizente com o Seu caráter bom e perfeito.
Então teremos que aprender a ser pacientes, longânimos, perdoadores, benignos, amorosos, justos etc.
Assim, para o propósito de aprendermos a paciência, o Senhor permitirá que passemos por
várias tribulações, para que sejamos pacientes
de modo prático e verdadeiro.
E para que possamos também louvar a glória da
sua graça, que sempre nos assistirá e nos livrará de todas essas tribulações, conforme ele nos
tem prometido fazer, se tão somente
permanecermos firmes na fé, aguardando
pacientemente pelo seu socorro.
Assim, isto não poderá ser feito sem estarmos em comunhão com Cristo, porque é a força da
Sua graça que nos capacitará ao exercício da
paciência.
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De igual modo, para sermos amorosos, justos, serenos, perdoadores e misericordiosos, o
Senhor permitirá que sejamos submetidos a várias injustiças, tanto contra nós, como contra
as pessoas que nos sejam queridas.
De maneira que, aprenderemos a receber a implantação dos atributos divinos em nossa
nova natureza, recebida na conversão, do Espírito Santo, por meio do fogo da fornalha da
provação.
Então, teremos que aprender a clamar muitas vezes, apresentando nossas petições ao Senhor,
em meio às nossas tristezas e aflições, para acharmos consolo e graça para suportarmos
tudo com paciência e bom ânimo.
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Antídoto Feito do Próprio Veneno
Quando a Bíblia fala em tribulações,
especialmente no contexto do Novo
Testamento, isto não se refere especificamente a problemas graves e sérios em relação às
nossas condições de saúde física e às demais
diversas áreas do nosso viver, como a
sentimental, emocional e financeira, ainda que isto não seja excluído.
Todavia, a referência mais comum diz respeito às lutas espirituais contra os principados e
potestades das trevas que tentam impedir a todo
custo a nossa consagração a Deus e a
continuidade do nosso empenho na oração, no culto de adoração público, e em tudo o mais que
lhe é devido.
O controle da intensidade e profundidade de todas as nossas tribulações está sob o cuidado de
Deus, de modo que não sejamos atribulados além do que possamos suportar, como se lê em
I Cor 10.13, onde não somente isto é afirmado,
como também que Deus proverá a força que
necessitamos, bem como o livramento destas tribulações no momento oportuno.
O apóstolo Paulo não pediu o espinho na carne que lhe fora enviado, e nem seria de se supor
que ele o pedisse. E assim também nós, não
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devemos pedir tribulações, mas é certo que elas
nos virão à medida da nossa necessidade, para o
nosso benefício e aperfeiçoamento em maturidade espiritual, conforme isto se
encontra controlado pelo Senhor.
Por conseguinte, nunca devemos ficar numa posição de permanente perplexidade e
desânimo enquanto debaixo de aflições, uma vez conhecendo qual é o seu grande objetivo. Ao
contrário devemos ter a firme convicção de que
produzirão afinal em nós um bom fruto, e
também devemos buscar ânimo e força em nosso Senhor Jesus Cristo, especialmente pela
oração e meditação na Sua Palavra.
O pecado original trouxe a toda a humanidade a morte espiritual e um estado ruim da alma em
desordens de todo o tipo que a tornam totalmente diferente daquela imagem e
semelhança com Deus, que havia sido
designada por Ele em seu conselho eterno.
Deus, em sua infinita sabedoria, tem usado estas desordens que nos afligem para o nosso próprio bem, por extirpar de nós pelo processo da
mortificação pelo Espírito Santo, todas as
nossas paixões carnais, para o qual cooperam
grandemente estas aflições que perturbam a alma, e que não permitem que ela fique
acomodada na condição ruim e mortal em que
entrou por causa do pecado.
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Assim, nos é ordenado por Deus que o invoquemos no dia da angústia, com a sua
promessa de nos livrar para que possamos
glorificá-lo - Salmo 50.15.
Desta forma, as aflições cooperam para o propósito de orarmos incessantemente a Deus,
porque até os nossos próprios pecados diários são para nós, um motivo de grande aflição.
O Senhor conhece perfeitamente a nossa indisposição natural para a oração, e por isso,
em sua sabedoria e amor, permite que sejamos
aproximados dele por este meio que nos leva a buscar nele auxílio e socorro, a saber, as
tribulações.
Assim, Deus prepara o antídoto para a picada mortal do pecado, com o seu próprio veneno,
uma vez que não vivemos, em razão do pecado, num mundo de perfeição de justiça, paz e amor.
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Lapidar um Diamante Exige um Trabalho
Paciente
“Estou muito aflito; vivifica-me, Senhor,
segundo a tua palavra.” (Salmo 119.107)
As aflições são um meio de cura necessário
para o pecado. "Todo ramo que dá fruto, ele o
limpa, para que produza mais fruto ainda.", João 15.2.
Especialmente aqueles que se consagram a Deus e que são usados por ele necessitam de
aflições para que não fiquem inchados pelo
orgulho e vaidade, de modo que possam ser
mantidos humildes diante dele e dos homens. Por isso Paulo aprendeu a ser grato pelos
espinhos na carne - 2 Cor 12.7.
É muito instrutivo observar que o salmista não pediu libertação imediata da sua aflição em seu
clamor dirigido a Deus, antes, lhe pediu para ser vivificado segundo a sua Palavra divina.
Os que têm sido experimentados nisto sabem muito bem que o primeiro e grande efeito das
aflições é o de tentar afastar o nosso espírito e
nossos pensamentos da alegria e comunhão que vínhamos mantendo com Deus. Não há,
portanto, outro meio para sermos firmados
nesta alegria e comunhão quando o vento da
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tempestade da aflição está sobre nós, senão, não
apenas em nos refugiarmos nas boas promessas
da Palavra de Deus para nós, como também em sermos vivificados nas convicções já aprendidas
acerca de tudo o que temos herdado em Cristo,
que inclui não somente coisas agradáveis, mas também a participação em suas aflições e
sofrimentos, em alguma medida.
Com isto nossas graças são renovadas e nos fortalecem a mente e o espírito ainda que
estejamos vagando pelos vales do sofrimento.
Foi isto que nosso Senhor quis ensinar ao apóstolo na sua experiência do espinho na
carne, a saber, que a Sua graça era suficiente
para ele, ou seja, de nada mais necessitava para
ser vitorioso sobre aquilo que o humilhava, senão somente estar fortalecido pela graça.
Além disso o fruto imediato de se suportar as aflições com paciência cristã, no poder do
Espírito Santo, é o fruto pacífico de justiça que
nos torna habilitados a participar mais efetivamente da própria santidade de Deus -
Hebreus 12.11, uma vez removido, pelo extintor
da aflição, o combustível do fogo que acenderia
o nosso orgulho e vaidade.
Somos dados naturalmente à euforia e não à sobriedade. Ao entusiasmo e não ao domínio
próprio. A alegrarmo-nos na carne fora de
medida em razão dos nossos sucessos em
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nossos empreendimentos e orações, e então, as
aflições, geralmente operadas pelas resistências e golpes desferidos pelo inferno
nos trazem ao devido quebrantamento de
espírito e humildade que nos manterão sóbrios, moderados e vigilantes.
Além disso, grandes e fortes paixões carnais só podem ser subjugadas por grandes aflições.
Por isso muitos pensam que haja contradição na verdade que quanto mais tentamos nos
aproximar de Deus por uma correta
santificação, mais somos atribulados. Todavia, isto é verdadeiro e bíblico, pois todos os que se
santificam, vivem isto em suas experiências, e
daí ter afirmado o apóstolo que todo aquele que
quiser servir a Cristo de maneira piedosa será perseguido - 2 Tim 3.12; e que assim nos importa
entrar na posse do reino de Deus através de
muitas tribulações - Atos 14.22.
Por conseguinte, quanto mais experimentarmos da vida de Deus, mais tribulações teremos, porque não somente o
reino das trevas se levantará em maior grau
contra nós, como também o próprio Deus
permitirá isto para que sejamos mantidos em toda vigilância e oração espiritual, que
contribuirão para o nosso aperfeiçoamento na
justiça, no amor e na verdade, e sobretudo para
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aumentar a nossa fé nele por observarmos o seu grande poder para nos livrar.
Não aprenderíamos paciência, longanimidade, paz e misericórdia, a não ser por este meio de
vencer com Deus nas aflições que temos aqui
embaixo. Tudo isto nos prepara portanto para vivermos a vida do céu já a partir da nossa
jornada terrena.
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“A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)
A fé inexperiente pode ser a verdadeira fé, mas
certamente é pouca fé, e é provável que se
mantenha assim enquanto estiver sem provações. A fé nunca prospera tão bem como
quando todas as coisas são contrárias a ela: as
tempestades são seus treinadores, e os
relâmpagos são seus iluminadores.
Quando reina a calmaria no mar, coloque as
velas como quiser, mas o iate não se moverá, pois num oceano adormecido a quilha dorme
também. Mas deixe os ventos soprarem e então
o barco será levado em direção a seu porto
desejado.
Nenhuma flor é de tão lindo azul como aquelas que crescem ao pé da geleira congelada, nem
estrelas brilham tão brilhantemente como
aquelas que iluminam o céu polar; a água não é
tão doce como a que brota no meio da areia do deserto; e nenhuma fé é tão preciosa como a que
vive e triunfa na adversidade.
A fé provada traz experiência. Você não poderia ter crido em sua própria fraqueza caso não
tivesse sido obrigado a passar através dos rios; e você nunca teria conhecido a força de Deus
se não tivesse sido apoiado no meio das
tempestades.
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A fé aumenta em solidez, segurança e intensidade, mais ela é exercitada com a
tribulação. A fé é preciosa, e sua provação é
preciosa também.
Não deixe isso, porém, desencorajar aqueles que são novos na fé. Você vai ter provações
suficientes, sem procurá-las: a porção completa
será medida para você na época devida.
Enquanto isso, se você ainda não pode reivindicar o resultado de uma longa
experiência, seja grato a Deus pela graça que
você tem; louve ao Senhor pelo grau de
confiança santa que tiver alcançado; ande de acordo com essa regra, e você deverá ter ainda
mais e mais a bênção de Deus, até que sua fé
remova montanhas e conquiste
impossibilidades.
Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
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O Sábio e Poderoso Controle de Deus nas
Nossas Aflições “Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador
nem sempre o está debulhando,”. (Isa 28:28a)
A debulha da aflição não tem por propósito
causar qualquer dano ao homem interior do
cristão, porque o grão será mantido íntegro na debulha, e dele nada se perderá, senão somente
a sua casca e palha.
O trabalho do lavrador não é somente o de debulhar, mas também de preparar a terra,
cultivá-la, plantar a semente e cuidar da plantação até que chegue o tempo da colheita.
Ora, assim também procede em relação aos cristãos o Grande Agricultor que é Deus.
As aflições dos homens ímpios torna-lhes mais orgulhosos, mas aquelas aflições que nos levam
a orar mais e que nos levam para mais perto de
Deus, tornando-nos mais semelhantes a Cristo, estas são aflições abençoadas.
Por isso Davi disse: “Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus
decretos." (Sl 119.71)
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Todas as aflições dos cristãos estão debaixo do controle de Deus, porque ele não permitirá que
a pressão sobre o grão não exceda a medida adequada, de modo a não prejudicá-lo. Como
dissemos antes, o seu objetivo é apenas o de
remover o que não serve, a saber, a casaca do
pecado, a palha dos maus hábitos e tudo aquilo que impede o crescimento da graça que foi
plantada por ele nos nossos corações.
“Não vos sobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel e não permitirá que
sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos
proverá livramento, de sorte que a possais
suportar.” (I Cor 10.13)
Temos um amplo testemunho nas vidas de muitos cristãos que saíram muito melhorados espiritualmente de í aflições.
É no nosso aperfeiçoamento espiritual até à plena semelhança com Cristo que Deus está
interessado, porque foi para este propósito que
ele nos criou.
Quando usamos a fé que professamos para outros fins, estaremos certamente mercadejando a Palavra de Deus para objetivos
interesseiros egoístas pecaminosos que
afastarão os nossos ouvintes para muito além
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deste alvo proposto pelo Senhor para aqueles
que desejam se aproximar dele.
Assim, a paciência é recomendada na Bíblia para todas as aflições que experimentarmos
porque é para este propósito que as provações nos são enviadas por Deus.
“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a
provação da vossa fé, uma vez confirmada,
produz perseverança. Ora, a perseverança deve
ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.” (Tiago 1.3,4)
Se não nos armarmos do pensamento que devemos ser pacientes na tribulação e depositar
toda a nossa confiança no Senhor, para sermos
fortalecidos pela sua graça, certamente interromperemos a ação da nossa perseverança
que deve ser completa, para que sejamos
aprovados em nossas tribulações.
Devemos também nos encorajar com o pensamento verdadeiro de que estas aflições são designadas para durarem uma temporada,
caso necessário, com vistas ao refinamento da
nossa fé, I Pedro 1.6. Assim, devemos nos
consolar com a certeza de que Deus proverá o escape, como ele tem sido fiel em fazê-lo com
todos os seus servos ao longo de toda a história
da Igreja.
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Salmo 119.67 - Conhecendo o Bem que Há
na Aflição
“Antes de ser afligido andava errado, mas agora
guardo a tua palavra” (Salmo 119.67)
Neste versículo, você pode observar duas
coisas:
1. O mal na prosperidade - antes de ser afligido
andava errado.
2. O bem na adversidade - mas agora guardo a tua palavra. Antes andava errante, mas agora
atento ao seu dever. Ou, se quiser, aqui está a
necessidade das aflições e a utilidade delas.
1. A necessidade, "Antes de ser afligido andava errado”. Alguns pensam que Davi, personifica a libertinagem e a obstinação de toda a
humanidade. Se assim fosse, no entanto, a
pessoa em quem o exemplo é dado é notável. Se
esta foi a disposição do profeta e homem de Deus, e se ele precisava desta disciplina, muito
mais nós: se ele pôde dizer isto, com verdade de
coração, que ele foi piorado por sua
prosperidade, precisamos ser sempre zelosos conosco; e se não fosse por este flagelo, que nos
aflige, esqueceríamos o nosso dever e a
obediência que devemos a Deus.
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2. A utilidade e benefício das aflições, "mas agora guardo a tua palavra." Guardar a lei é uma
palavra genérica. O uso da vara da disciplina de
Deus é para nos levar para casa com Deus, e a
aflição nos impeliu para fazer melhor uso da sua palavra: ela nos mudou da vaidade para a
seriedade, do erro para a verdade, do orgulho
para a modéstia. E o apóstolo nos diz que o
próprio Jesus Cristo aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu, Heb 5.8, e aqui Davi foi
feito melhor pela cruz.
Podemos observar nas palavras do texto três coisas:
1. A confissão de suas andanças, "andava errado”.
O pecado dá causa às aflições. Há aqui um reconhecimento secreto de sua culpa, que o seu
pecado foi a causa do castigo que Deus trouxe
sobre ele.
2. O método que Deus usou para conduzi-lo ao seu dever, "Eu fui afligido”.
A verdadeira noção e a natureza da aflição para o povo de Deus. A cruz muda a sua natureza, e não é uma punição destrutiva, mas uma
ministração medicinal, e um meio de nossa
cura.
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3. O sucesso ou o efeito do método divino: "Eu tenho guardado a tua palavra".
A finalidade é a obediência, ou guardar a palavra de Deus. A soma de tudo é, eu estava fora do
caminho, mas a tua vara me afligiu, e me levou
para a obediência novamente.
Eu poderia observar muitos pontos, mas a doutrina de todo o versículo é:
Doutrina: Que o fim da aflição que nos vem de Deus, é para reconduzir o seu povo desviado
para o caminho reto.
Vou explicar este ponto por estas considerações.
1. Que o homem é de uma natureza desviada, apto para abandonar o caminho que conduz a
Deus e à verdadeira felicidade. Somos todos assim por natureza: Isa 53.6 “Todos nós, como
ovelhas, nos desviamos.” As ovelhas superam
todas as demais criaturas, quanto a estarem
sujeitas a se desviar, e se não forem cuidadas e guardadas da melhor maneira possível, são
incapazes de se manterem fora do erro, e
quando erram, são incapazes de voltar ao redil
por si mesmas.
Por isso as ovelhas são o símbolo usado pelo Espírito Santo para representar a natureza da
humanidade. Mas isto se dá melhor conosco
depois de termos recebido a graça? Não; nós
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somos, em parte, ainda assim. O melhor de nós,
se for deixado por sua própria conta, quão breve
se desviará do caminho certo? em que erros tristes incorrerá? Sl 19.12: "Quem há que possa
discernir as próprias faltas? Absolve-me das que
me são ocultas.” Desde que recebemos a graça, todos nós temos os nossos desvios; embora os
nossos corações sejam ajustados para andarem
com Deus para o principal na vida cristã, mas
sempre e logo estamos nos desviando da nossa obediência, transgredindo os nossos limites, e
negligenciando o nosso dever. Bem que Davi
tinha razão em dizer, Sl 119.176, “eu ando
desgarrado como ovelha perdida: oh, procura o teu servo!"
Nós nos extraviamos, não somente por ignorância, mas por perversidade de inclinação:
Jer 14.10, “Assim eles gostavam de andar
errantes, e não detiveram os seus pés. “Temos corações que amam vagar; amamos mudanças,
ainda que seja para pior, e assim estaremos
fazendo excursões para os caminhos do pecado.
2. Este pendor para se desviar é muito aumentado e incentivado pela prosperidade,
que, embora seja boa em si mesma, no entanto, por sermos tão perversos por natureza, fazemos
o pior uso dela.
Que os maus se tornam piores por causa da prosperidade, é evidente: Isa 26.10, “Ainda que
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se mostre favor ao perverso, nem por isso aprende a justiça;". A luz do sol em cima do
monte de esterco nada produzirá, senão fedor, e
o sal do mar vai tornar salgado tudo o que cair
nele. Então, os homens ímpios convertem tudo ao seu modo e gosto. Nenhuma misericórdia ou
juízo de Deus farão qualquer gracioso e amável
trabalho sobre eles, mas, se tudo for bem com
eles, tomam mais liberdade para viverem livre e profanamente. O temor de Deus, que é o grande
freio de toda maldade, é menor e praticamente
fica perdido neles quando não veem qualquer
mudança em seu caminhar: Sl 55.19: "porque não há neles mudança nenhuma, e não temem
a Deus.” Este pequeno temor servil que eles têm,
o qual poderia guardá-los de ficarem vagando, é
então perdido, e quanto mais suavemente Deus tratar com eles, mais incrédulos e seguros eles
ficam.
Quando eles se tornam prósperos e sem problemas, ficam mais obstinados do que
nunca. Mas não é assim com o povo de Deus também? Sim, na verdade, Davi, cujo coração
bateu quando ele cortou a orla do manto de Saul
quando estava vagando no deserto, pôde
planejar a morte de Urias, seu servo fiel, enquanto ele Davi estava confortavelmente em
seu palácio.
Perdemos muita ternura de consciência, vigilância contra o pecado, muito desta
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diligência viva que devemos manifestar na realização da vida espiritual, quando estamos
em facilidades e todas as coisas vão bem
conosco. Estamos aptos a entrar na carne
quando temos tantas iscas para alimentá-la; e para aprender a estar contente em Cristo
quando há plena prosperidade é uma lição mais
difícil do que aprender a estar contente quando
se é humilhado, Fp 4.12, e, portanto, se Deus não nos corrigir, cresceremos descuidados e
negligentes.
O princípio de toda a obediência é a mortificação da carne, o que naturalmente não podemos
suportar. Depois que temos nos apresentado e submetido a Deus, a carne estará procurando
sua presa, e se rebelando contra o espírito, até
que Deus arranque suas seduções de nós. Por
isso o Senhor se vê forçado a nos quebrar por diversas aflições para nos conduzir em ordem.
Nós o forçamos a nos humilhar pela pobreza, ou
vergonha, ou doenças, ou por meio de conflitos
domésticos, ou alguma inconveniência da vida natural e animal, e tudo o que valorizamos
muito. Além disso, nossos afetos pelas coisas
celestes definham quando todas as coisas
sucedem conosco neste mundo de acordo com o desejo do nosso coração, e esta frieza e
indolência não são facilmente removidas.
Muitos são como os filhos de Rúben e Gade, Números 32, que quando encontraram
30
pastagens convenientes do outro lado do Jordão,
estavam contentes com que fosse a sua herança,
sem procurar qualquer coisa na terra
prometida. Então seus desejos são estabelecidos insensivelmente aqui, e têm menos interesse
no bem do mundo vindouro.
3. Quando sucede assim conosco, Deus julga conveniente enviar as aflições. Grande parte da
sabedoria da providência de Deus é para ser observada;
a) Em parte na época de aflição, em que o estado e a postura da alma nos surpreendem, quando
andamos errantes, quando mais precisamos
disto, quando o nosso abuso da prosperidade clama em voz alta por isto; quando as ovelhas se
desviam, o cão é solto para buscá-las. Deus
ordena a sua providência para as nossas
necessidades: 1 Pedro 1.6, “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se
necessário, sejais contristados por várias
provações,”. Ai! muitas vezes vemos que as
aflições são altamente necessárias e oportunas, tanto para evitar uma enfermidade que está
crescendo em nós, ou para nos recuperar de
algum curso mal no qual nos desviamos de
Deus. Paulo estava em perigo de se tornar orgulhoso, e então Deus mandou um espinho na
carne. Esta disciplina é muito boa e necessário
antes de a doença se espalhar longe demais.
31
b) Grande parte da sabedoria e providência divina também são observadas, em parte, no
tipo de aflição. As várias concupiscências devem ter remédios específicos. O orgulho, a inveja, a
cobiça, a libertinagem, a emulação, têm todas as
suas curas apropriadas.
Todos os pecados se referem a três fontes
impuras: 1 João 2.16, "Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida,
não é do Pai, mas do mundo." A partir dos
desejos (concupiscência) da carne surgem não apenas os atos grosseiros de lascívia, fornicação,
adultério, gula, embriaguez, que assolam boa
parte da humanidade, e surge também um amor
desordenado a prazeres, companhias vãs, e entretenimentos vãos, a complacência carnal,
ou a satisfação carnal.
A concupiscência dos olhos, a avareza e a mentalidade mundana, produzem miséria,
rapinas, contendas, conflitos, ou o desejo imoderado de adquirir casa sobre casa, campo
sobre campo, e toda sorte de bens e confortos
materiais.
Do orgulho (soberba) da vida vem a ambição, conceito elevado de nós mesmos, escárnio e desprezo dos outros, afetação por honra e
reputação no mundo, a pompa, finura de trajes
e inúmeras vaidades, para constranger a outros!
32
Agora, Deus, que pode se encontrar com os seus servos quando eles estão tropeçando em
qualquer tipo destas coisas referidas, envia as
aflições como seus mensageiros fiéis para detê-
los em sua carreira, para que a carne não possa navegar e levá-los para longe com um vendaval
completo.
Contra os desejos da carne, ele manda doenças e enfermidades; contra os desejos dos olhos, a
pobreza e decepções em nossas relações; contra o orgulho da vida, desgraças e vergonha, e às
vezes ele faz variações na forma da dispensação
destas aflições, porque sua providência guarda
um teor, e cada cura será aplicada conforme o temperamento de cada pessoa, nem tudo vai
funcionar da mesma forma para todos.
A sabedoria de Deus pode ser observada no tipo de aflição, e quão apropriado é este trabalho que
é feito; porque Deus faz todas as coisas em número, peso e medida. Em parte pela maneira
como ele vem sobre nós, por quais
instrumentos e de que tipo. Quantos se fazem
miseráveis por uma cruz imaginada! e assim, quando todas as coisas estão bem com eles, suas
próprias paixões se tornam um fardo para si
mesmos, e quando não estão feridos em sua
honra, nem sofrendo perda de imóveis, nem agredidos em sua saúde, nem suas relações
cortadas e conflitadas, mas sendo cobertos com
toda a felicidade temporal, parece não haver
33
qualquer espaço ou lugar para qualquer aflição
ou problema em suas vidas, e ainda assim, na plenitude de sua suficiência, Deus lhes traz um
terror e um peso, ou então por seus próprios
temores, ou pela falsa imaginação de alguma
perda ou desgraça, Deus os torna desconfortáveis e cheios de inquietação, e eles
se tornam mais problemáticos do que aqueles
que estão em conflitos reais, sim, com os
maiores males. Hamã é um exemplo: ele foi um dos príncipes do reino da Pérsia, que nadava em
riqueza e todos os tipos de delícias, em grau de
dignidade e honra, ao lado do próprio rei,
e, ainda, porque Mordecai, um judeu pobre, não lhe fez a reverência esperada, disse: “Tudo isso
não me satisfaz", Ester 5.19.
Assim, tão logo Deus envie um verme na cabaça mais justa, e uma insatisfação na propriedade
mais próspera do mundo, e os homens não terão descanso dia e noite, especialmente se uma
centelha da sua ira brilhar na consciência: Sl
39.11: “Quando castigas o homem com
repreensões, por causa da iniquidade, destróis nele, como traça, o que tem de precioso.”. Há
um segredo que a traça come todo o seu
contentamento, pois eles estão sob terror,
desânimo e falta de paz: Deus lhes ensina que nada pode ser apreciado de forma satisfatória
para além da sua própria bênção: "Um fogo não
soprado deve consumi-los”, Jó 20.26.
34
c) Em parte, vemos também a sabedoria e a providência de Deus, na continuidade das
aflições. Deus ordena, tirar e lançar em aflições
a seu próprio prazer, e quando ele vê que elas
agiram em nosso proveito.
Variedade de aflições podem atingir o melhor e mais querido dos filhos de Deus, havendo nos
melhores muitas corrupções, tanto para serem
descobertas e subjugadas, e muitas graças para
serem provadas: 1 Pedro 1.6 “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se
necessário, sejais contristados por várias
provações,”, e Tiago 1.2, "Meus irmãos, tende
grande gozo quando cairdes em várias tentações". Um problema opera nas mãos de
outro, e a sucessão deles é tão necessária quanto
o primeiro golpe sofrido.
4. A aflição assim enviada tem um uso notável para nos conduzir a um senso e cuidado do nosso dever. As aflições são comparadas nas
Escrituras ao fogo que purga a nossa escória: 1
Pedro 1.7. “Para que, uma vez confirmado o valor
da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde
em louvor, glória e honra na revelação de Jesus
Cristo;”. As aflições são comparadas também à
poda da tesoura que corta os ramos inúteis, e faz com que os demais sejam mais frutíferos: João
15.2. Então, Heb 12.11, “Toda disciplina, com
efeito, no momento não parece ser motivo de
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alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela
exercitados, fruto de justiça.”.
Portanto, não devemos ficar desanimados quando Deus usa as aflições para o nosso
próprio bem.
“e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não
menosprezes a correção que vem do Senhor,
nem desmaies quando por ele és
reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para
disciplina que perseverais ( Deus vos trata como
filhos ); pois que filho há que o pai não corrige?”
(Heb 12.5-7)
Não devemos portanto suportar as aflições com falta de sabedoria, com uma mente insensata,
que possa nos impedir de alcançar o propósito
de Deus que se encontra embutido nelas. Qual
pai ficaria contente com a rejeição por parte de seus filhos, de sua disciplina e correção?
Por que o homem se queixaria do castigo merecido do seu pecado? Sobretudo quando
isto é feito pelas mãos de um Pai de amor?
O fim da correção pela aflição é o nosso arrependimento e a nossa transformação, tanto
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para corrigir o pecado passado, quanto para prevenir o pecado ainda por vir.
Assim, ainda que gemamos dizendo: “Senhor, dá-me outra cruz, mas não esta!”, devemos
reconsiderar o dito irrefletido de nossos lábios,
e aceitarmos com submissão voluntária a cruz que Deus sabe de antemão, que é a única que se
ajusta para a correção da nossa condição. Trocá-
la por outra não produzirá o efeito esperado por
Deus em nós.
Deus não sente prazer em nos afligir, isto lhe dói em seu coração de Pai perfeitamente amoroso
que é. “Ele não aflige, nem entristece os filhos
dos homens, de bom grado." (Lam 3.33).
Afinal todo este enfraquecimento do pecado e do nosso ego carnal tem em vista possibilitar o nosso fortalecimento com a graça.
Daí estar escrito: Prov 24.10: "Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena."
Tradução e adaptação elaboradas pelo Pr Silvio Dutra, de citações extraídas do comentário de
autoria de Thomas Manton, sobre o Salmo
119.36.
37
Encontros com Deus na Hora da Aflição
Há uma diferença entre as aflições que são
provindas da mão de Deus, e as que são o
resultado das perseguições e da violência dos
homens.
Mas a ambas pode ser aplicado o que o apóstolo afirma em Rom 5.3,4:
“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo
que a tribulação produz perseverança; e a
perseverança, experiência; e a experiência,
esperança.”
Em ambas as fontes de provações a mão de Deus sempre estará controlando tudo, não
permitindo que sejamos provados além da
nossa capacidade de suportar, e atuando de
forma que tudo coopere para o bem daqueles que o amam. Este é o fim a ser alcançado
segundo o Seu propósito.
Se não sofremos por sermos ímpios ou malfeitores, mas na condição de filhos de Deus,
mesmo quando somos por Ele corrigidos por causa dos nossos pecados, e necessidade de
crescimento espiritual, sempre haverá este
controle e assistência que recebemos da parte
38
do nosso Pai eterno, que tem por alvo nos tornar coparticipantes da sua santidade.
Por isso a fé deve estar acima de tudo o que nos sucede.
Vivendo na fé, esperando sempre no Senhor em todas as circunstâncias, mesmo as de
enfermidades graves, sempre encontraremos
ocasião para nos alegrarmos e estarmos em paz nEle, conforme nos proporciona com a Sua doce
presença em nossos momentos difíceis,
fortalecendo o nosso espírito.
Isto tem sido testemunhado por muitos até mesmo na hora da morte de entes amados, em razão do grande suprimento de paz que
recebem da parte da graça do Senhor.
Por isso Deus ordena aos seus filhos que não temam nada que possam sofrer neste mundo,
especialmente o que lhes vier da parte dos homens, porque Ele se encontra em Seu
sublime e elevado trono de glória e poder, e
nada de real valor será perdido por nós ou em
nós.
39
Por Que Se Alegrar Por Ter Passado Pela
Provação? “Meus irmãos , tende por motivo de toda alegria
o passardes por várias provações”. (Tiago 1.2)
Passardes - (do verbo grego peripésete, 2ª
pessoa do plural (vós) do 2º aoristo ativo do modo subjuntivo de Peripitw, que significa cair
no meio de; ficar cercado de; dar em ou ir ter a
um lugar acidentalmente; encontrar-se em.
Temos então para o texto: “que vós passásseis ou que vós tivésseis passado”).
Não teríamos então no texto uma exortação à busca de novas provações, mas ter por motivo
de alegria o ter passado por várias delas que
contribuirão para o amadurecimento espiritual. Certamente isto não exclui as que ainda poderão
vir, e que certamente virão, mas tornamos a
afirmar que não temos aqui um estímulo para
que se busque provações ou tentações, até mesmo porque nosso Senhor nos ensina a orar
ao Pai, para que não nos deixe cair nelas, ou seja,
ser conduzidos a elas.
Várias – (do grego poikílois, que significa, variadas, diversas – a palavra poikílos é feminina no grego, e se encontra no caso
locativo plural, conforme indicado pela
desinência “ois” – assim temos “em variadas”.
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Provações – do grego peirasmois, que significa tentações ou provações – a palavra peirasmós é
masculina no grego, e se encontra também no caso locativo plural – assim temos “em
provações” ou “em tentações”)
Como o que está em foco no argumento do apóstolo é a provação da fé, então temos uma
melhor tradução com a própria palavra provação, conforme a achamos na versão
atualizada da SBB, porque a par de toda tentação
ser uma provação, nem toda provação da fé é
uma tentação, como, por exemplo, a que Deus submeteu a Abraão em relação a seu filho
Isaque, quando lhe pediu que o oferecesse em
sacrifício.
Deus a ninguém tenta, conforme o próprio Tiago vai afirmar mais adiante nesta sua epístola.
Então as tentações são produzidas por outros agentes, especialmente o diabo, e também por
nossas próprias cobiças.
O apóstolo diz que estas variadas provações são para motivo de alegria, não que sejam uma fonte
de alegria em si mesmas, mas no bom resultado para o qual contribuirão posteriormente, como
por exemplo o refinamento e confirmação da
nossa fé.
41
Thomas Manton disse com propriedade:
“O cristão vive acima do mundo, porque ele não julga de acordo com o mundo. O desprezo do apóstolo Paulo por todos os acidentes deste
mundo é decorrente do seu julgamento
espiritual a respeito deles: Rom 8.18 “Tenho por
certo que as aflições deste mundo presente não podem ser comparadas com a glória a ser
revelada em nós”.
E ainda:
“As aflições para o povo de Deus não somente são uma ocasião para ministrar a paciência, mas
muita alegria. O mundo não tem razão para pensar sobre a religião de Cristo de um modo
negro e sombrio: como diz o apóstolo, “A
fraqueza de Cristo é mais forte que a força dos
homens”, 1 Coríntios 1.25, o pior modo da graça é melhor do que o melhor do mundo; “toda a
alegria, quando em diversas provações”. Um
cristão é uma ave que pode cantar no inverno,
bem como na primavera, ele pode viver no fogo como na sarça de Moisés, que ardia, e não ser
consumido. O conselho do texto não é um
paradoxo, criado apenas para noção e discurso,
ou alguma fantasia, mas uma observação, construída em cima de uma experiência
comum e conhecida: este é o modo de os crentes
se alegrarem por suas provações.
42
Certamente um espírito abatido vive muito abaixo da altura dos privilégios e princípios
cristãos. Paulo, em sua pior condição sentiu
uma exuberância de alegria: “Estou me regozijando”; e também, em outro lugar ele foi
mais longe ainda ao dizer: Rom 5.3: “nos
gloriamos nas tribulações” que denota uma
maior alegria. 2 Cor 6.10 é o lema de Paulo “contristados, mas sempre alegres”, e este pode
ser o lema de todo cristão.”
43
“É o suficiente para o discípulo ser como
o seu mestre." (Mateus 10.25)
Ninguém contesta essa afirmação, pois seria
impróprio para o servo ser exaltado acima de seu Mestre.
Quando nosso Senhor estava na terra, qual foi o tratamento que ele recebeu?
Foram suas reivindicações reconhecidas? Suas instruções seguidas, suas perfeições adoradas,
por aqueles a quem ele veio para abençoar? Não. "Era desprezado, e o mais rejeitado entre os
homens."
Fora do arraial era o seu lugar: carregar a cruz era a sua ocupação.
O mundo lhe deu consolo e descanso? "As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos,
mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça."
Este mundo inóspito não lhe proporcionou qualquer abrigo: ele o expulsou e o crucificou.
Do mesmo modo - se você é um seguidor de
Jesus, e mantém uma consistente, caminhada e conversação cristã - você deve esperar ter uma
parte de sua vida espiritual que, em seu
desenvolvimento público, estará sob a
44
observação dos homens. Eles vão tratá-lo como
eles tratavam o Salvador - eles irão desprezá-lo.
Não sonhe que estes que amam o mundo vão
admirá-lo, ou que por mais santo e mais semelhante a Cristo que você seja, mais as
pessoas vão agir pacificamente em relação a
você. Eles não valorizaram a gema polida, e
como eles valorizariam a joia bruta? "Se eles chamaram o dono da casa de Belzebu, quanto
mais eles chamariam os seus domésticos?"
Se formos mais semelhantes a Cristo, seremos mais odiados por seus inimigos. Seria uma triste
desonra para um filho de Deus ser o favorito do mundo. É um presságio muito ruim ouvir um
mundo perverso batendo palmas e clamando:
"Muito bom" para o homem cristão. Ele pode
começar a olhar para o seu caráter, e maravilhar-se se não tem feito algo de errado,
quando o injusto lhe dá a sua aprovação.
Sejamos fiéis ao nosso Mestre, e não sejamos
cúmplices de um mundo cego e ímpio que lhe despreza e rejeita.
Longe de nós a buscar uma coroa de honra, onde nosso Senhor encontrou uma coroa de
espinhos.
Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
45
“No mundo tereis aflições" (João 16.33)
Queres perguntar a razão disto, cristão?
Olhe para o alto, para o teu Pai celeste, e veja-o
puro e santo. Tu sabes que serás um dia como
ele?
Queres ser facilmente conformado à Sua
imagem? Será que precisarás de muito refinamento na fornalha da aflição para ser
purificado? Será que vai ser uma coisa fácil se
livrar das tuas corrupções, para que sejas
perfeito assim como vosso Pai que está nos céus é perfeito?
Em seguida, cristão, volte os teus olhos para baixo. Tu sabes que tens inimigos debaixo dos
teus pés? Tu eras servo de Satanás, e nenhum
rei deseja perder de bom grado seus súditos. Tu achas que Satanás te deixará sozinho? Não, ele
sempre estará ao teu redor, "como leão que
ruge, buscando a quem possa tragar." Espera
então problemas, quando olhares para baixo de ti.
Então olha em volta de ti. Onde estás? Tu estás no território do inimigo, és um estrangeiro e
peregrino.
46
O mundo não é teu amigo. Se for, então não és amigo de Deus, pois quem é amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
Tenha certeza de que encontrarás inimigos em toda parte. Quando te deitares, pense que
descansarás no campo de batalha; quando
andares, suspeite de uma emboscada em cada esquina. Como se diz dos mosquitos, que picam
mais aos estranhos do que aos nativos, assim as
aflições da terra serão mais acentuadas para ti.
Por fim, procura dentro de ti , no teu próprio coração e observa o que está lá. Pecado e ego ainda estão no teu interior. Ah! se tu não tens o
diabo para te tentar, nenhum inimigo para lutar
contigo, e nenhum mundo para te seduzir, tu
ainda acharias em ti mesmo mal suficiente para ser um problema doloroso para ti, pois "o
coração é enganoso acima de todas as coisas, e
desesperadamente mau.”
Espere problemas, então, mas não fique desalentado por causa disso, porque Deus é contigo para te ajudar e te fortalecer. Ele tem
dito: "Eu serei contigo quando estiveres em
dificuldades, eu te livrarei e te honrarei."
Texto de autoria de Charles Haddon Spurgeon, traduzido e adaptado pelo Pr Silvio Dutra.
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Este Terrível Vento Leste!
"Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração,
à qual, também, fostes chamados em um só
corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses 3.15)
Eu não sei como isto acontece, mas durante os
últimos dois ou três dias, eu fui chamado a
simpatizar com um monte de tristezas, como eu
nunca havia experimentado num tão curto espaço de tempo. Um mensageiro de miséria
seguiu no calcanhar de outro, cada um com
notícias duras. E isso não é tudo, pois também
tenho ficado perplexo com uma grande quantidade de pecados, brigas e faltas. As
pessoas estão murmurando, resmungando, se
preocupando e lutando por todos os lados. Isso
tem me tentado tanto que eu me sinto pouco equipado para atuar como consolador, porque
eu mesmo preciso de conforto. Tenho
procurado animar os outros até que eu tenha
bebido do seu cálice de tristeza - eu tentei fazer a paz para outros até o ponto de temer perder a
minha própria - eu tentei responder às
queixas das pessoas até o ponto de ficar tentado
a ter um resmungo ou dois na minha própria conta.
Talvez eu possa aliviar a minha mente com o sermão que eu espero entregar. Eu disse a
alguém a quem muito estimo: "Eu não sei como
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isto acontece, mas parece que todo mundo está fora de rumo agora." Sua resposta foi sábia: "O
vento está no leste." Este fato representa um
grande assunto, porque:
Quando o vento está no leste, “isto não é bom para o homem nem para os animais." Algumas pessoas sentem o vento leste de modo terrível –
isto faz com que mordam a primeira pessoa que
encontrarem. Estou contente de achar algum
tipo de desculpa para os meus irmãos cristãos e, se eu não puder encontrá-la em nenhum outro
lugar, mas no vento leste, eu vou fazer o melhor
que puder dele. Mas eu espero sinceramente
que o vento possa soprar em breve por mais um trimestre e que não venha novamente do leste,
até que tenhamos um pouco de descanso, e
renovado o nosso estoque de paciência. Se um
vento cortante provoca desânimo, irritação, descontentamento e mau humor – possam os
ventos suaves nos visitarem com frequência e
nos trazerem a cura em suas asas!
Como o bom tempo não vai durar para sempre, será melhor estarmos preparados para a ventania. Isso fará com que nunca tenhamos
uma fé que seja morta pelo vento - devemos ser
feitos de material melhor do que este! No
entanto, este vento é culpado e eu desejo, portanto, que isto o extinguisse. Se eu pudesse
encontrar um canto aconchegante onde o vento
leste cruel nunca foi sentido, eu me sentiria
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inclinado a promover um movimento de
emigração para certas pessoas que eu não vou
citar! Problemas e ventos leste virão para os servos de Deus e eles são enviados para nos fazer
bem, porque talvez, se pudéssemos ter uma
parede de proteção e nos sentarmos para
sempre à luz do sol, sem o vento leste interferindo conosco, iríamos dormir, ou
poderíamos vir a amar tanto este mundo a ponto
de sermos relutantes em deixá-lo!
Seria uma coisa horrível para qualquer um de nós se o vento sul soprasse suavemente sobre nossas faces e sussurrasse gentilmente em
nossos ouvidos uma longa e continuada alegria
que pudesse ser achada na terra porque então
poderíamos ser tentados a nos sentarmos e dizer: "Alma, fique à vontade. Você tem, enfim,
encontrado um lugar livre das provações do
tempo. Portanto, coma, beba e seja feliz, e deixe
o mundo futuro cuidar de si mesmo."
Desconforto familiar, maridos e esposas que não podem concordar, dificuldades domésticas,
irmãos e irmãs que brigam, problemas da Igreja,
os membros que não são tratados gentilmente
por outros (que geralmente não são o mais amável tipo de pessoas, eles mesmos, eu aviso),
dificuldades nos negócios, dificuldades na
pregação - o mundo está repleto dessas coisas!
50
Quando o vento está no leste, nos deparamos com muitas pessoas que não conseguem ganhar
salários suficientes, outros que acreditam que nunca foram bem tratados desde que nasceram.
E todos estes aparecem em multidões quando o
vento está no leste. Bons homens tornam-se fanáticos por algo novo, encontram falhas nos
velhos amigos, despertam debates e discussões
sobre nada - e isso acontece com mais
frequência quando o vento está no leste. Quando esse tipo de espírito é encontrado entre o povo
cristão, é muito triste. Mas certamente deve
haver um remédio para isto!
Pretendo levá-los hoje ao grande Médico das almas, Jeová Rafá! - O Senhor que nos Cura - que
é capaz de curar todas as nossas enfermidades e dar alívio permanente a todo o mal, para que o
nosso espírito possa estar em repouso. Eu creio
que nós temos uma receita neste versículo, que, se for bem observado, irá livrá-lo de todos os
problemas, e fazê-lo cantar por longo tempo, e
ajudá-lo a viajar da Terra para o Céu e ser, ao
mesmo tempo , tão feliz como os pássaros no ar!
Aqui está: "Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso
coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos.” (Colossenses
3.15)
I. Em primeiro lugar, possuir a paz de Deus - "Que a paz de Deus reine em vossos corações."
51
Ela não pode ser o árbitro em seu coração, se
você nunca sentiu o seu poder! Portanto,
certifique-se de que você está realmente
reconciliado com Deus por Jesus Cristo. Muitas pessoas têm paz, mas, infelizmente, ela é falsa
paz. Eles têm a paz de um suave, gentil, tímido,
tempo - um tipo de paz, que, se não fere
ninguém mais, muitas vezes arruína o seu próprio possuidor. Alguns têm a paz da
ignorância, a paz da estupidez, a paz de absoluta
indiferença - falsa paz. Estes são os seguidores
daqueles falsos profetas que proclamavam: "paz, paz", onde não havia paz. Ai do homem cuja paz
de espírito é como a suavidade mortal da
correnteza quando esta se aproxima da
cachoeira!
Muitos estão à vontade em uma condição que pode fazer com que o cabelo de um homem
sábio fique branco numa noite.
A paz que precisamos ter é a paz de Deus, o que significa, eu acho que, em primeiro lugar, paz
com Deus. Oh, que coisa abençoada é sentir que a grande causa da briga entre o nosso espírito
caído e o grande Espírito é removida - que somos
reconciliados com Deus pela morte de Seu
Filho, que o pecado, o grande divisor, tem sido lançado nas profundezas do mar e que é
estabelecida entre nós e Deus, uma comunhão
feliz!
52
Espero que muitos de vocês estejam, a esta hora, desfrutando de muita paz. Se você tem isso,
alegre-se nisto! Se você, então, está em paz com Deus, não aja perpetuamente como se a paz
fosse questionável e duvidosa. Se cremos em
Jesus Cristo, "sendo justificados pela fé, temos
paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo." Oh, a alegria de saber que, "tanto quanto o
oriente está longe do ocidente, assim tem ele
afastado de nós as nossas transgressões" e que,
portanto, nunca mais podem voltar de uma distância tão imensa, sim, nunca mais voltarão,
pois o Senhor Jesus Cristo as tem lançado nas
profundezas do mar, e se elas forem procuradas,
não serão achadas! Sim, não devem ser, diz o Senhor! Bem-aventurado é o homem que tem
paz com Deus por meio do sangue expiatório!
O crescimento espiritual procede disto, em seguida, a paz com Deus, no que diz respeito a
todas as Suas providências que só pode vir através de uma completa submissão a toda a
vontade divina, porque alguns há que não estão
em paz com Deus, mesmo sobre uma
Providência específica que lhes afligiu anos atrás. Eles permanecem discutindo com Deus
sobre a morte de uma amada esposa, ou filho, ou
mãe - eles não conseguem perdoar a Deus por
ter tomado uma flor do seu próprio jardim. Se eles fossem sábios, não seriam, portanto,
rebeldes, mas encontrariam em seu Salvador
amoroso a recompensa por todas as suas perdas.
53
Esteja longe de nós levantar uma questão sobre o que a Providência de Deus já fez! Ele deve estar
certo! O ponto é continuar se submetendo a esta
Providência que está agora transpirando. Se, para o presente, a vontade do Senhor deve
enviar-me a pobreza, a obscuridade, a dor, o
cansaço, a vergonha, eu devo estar em paz com
Deus quanto a tudo isto.
Se o Senhor me diz: "Vá através do mar e deixe todos os seus amigos:" Eu não devo me atrasar.
Se Ele diz: "Pregue Verdades Divinas não
desejáveis, que irão lhe dar inimigos", não devo
hesitar. Se Ele diz: "Fique em casa com reumatismo", não devo sair. Se Ele nos nega
aquilo que pensamos que iria nos fazer mais
felizes, mais úteis, não é de nenhuma utilidade
para nós recalcitrarmos contra os aguilhões. O propósito divino certamente será cumprido e a
miséria para nós será lutarmos contra o jugo, no
esforço de tê-lo de outra forma que o amor e
sabedoria infinita de Deus determinou que deve ser!
Se você não pode mudar de lugar, mude de ideia até que a sua mente lhe traga para o seu lugar e
você o amará! Mas se Deus tem uma vontade e
nós temos outra, é claro que a paz de Deus não será ainda o árbitro dos nossos corações.
Embora perdoados e tendo terminado a grande
causa da nossa guerra com Ele, ainda estamos
54
levantando pontos menores de diferença e
incitando estes conflitos.
A submissão voluntária ao nosso Pai é a paz de Deus. Esta paz de Deus é, também, a paz, como
Deus deseja - como Deus aprova. Que, você sabe,
é em primeiro lugar, paz perfeita consigo
mesmo e depois com todos os homens, certamente, com o seu povo, mas também com
toda a humanidade. "Se possível, tanto quanto
está em vós, tende paz com todos os homens."
Sempre que tenho sofrido graves ofensas, tem sido uma satisfação para mim a sensação de que, se o meu Senhor Jesus Cristo fez expiação por
minhas ofensas e por meus erros, eu posso
olhar também para Sua Expiação como expiação
para o mal feito a mim como a Deus, pois Ele satisfez todas as partes em disputa.
Mas essa paz é chamada paz de Deus, porque é a paz que Deus opera na alma. Não posso produzir
essa paz dentro de mim. Isto é impossível para a
natureza humana não regenerada! Só Deus pode fazê-lo!
"A paz de Deus" significa a paz que nunca termina, eterna paz, a paz que vai morar com a
gente em toda a nossa jornada mortal, até que
entremos na terra da imortalidade!
55
II. Vejamos agora que, para você possuir esta paz de Deus, você deve deixar que ela seja o árbitro
do seu coração.
Ela deve governar e ocupar o trono do seu coração.
Para que haja paz no coração, como em qualquer
outro lugar, deve haver um governante. Aquelas pessoas que estão sempre interessadas em
derrubar seus governantes, podem se despedir
da paz. Qualquer pessoa que esteja inclinada à
anarquia deve ler a "Revolução Francesa", de Carlyle com cuidado e perguntar a si mesma se
o pior rei não é, afinal, muito melhor do que o
despotismo da multidão.
Você deve ter um governo dentro de sua própria alma, e se nada lhe governa, eu lhe digo abertamente, que prevalecerá o diabo! O
homem que não controla a si mesmo é
controlado pelo diabo, pois ele deve ter um
mestre em algum lugar.
Não podemos ter dois senhores, mas é bem certo que nós devemos ter um! Uma ou outra
fonte vai dominá-lo. Será o seu Criador, ou seu
Inimigo? Seu Salvador, ou o seu Destruidor? É
um dom abençoado da Graça se um homem está habilitado a dizer, pelo Espírito Santo - "A paz de
Deus deve reinar em meu coração." Paulo
aconselhou isto - "Que a paz de Deus reine em
56
vossos corações." É nos seus corações que ela
deve governar, pois tem o poder de expulsar
toda rebelião.
Você sabe que o árbitro nos jogos gregos decidiam como os corredores deveriam correr;
como os lutadores deveriam lutar, de acordo
com a lei do festival. Ele disse, talvez, que tal e tal
golpe na luta foi um golpe sujo, e se ele disse isso, não havia questionamento - estava
decidido. Nenhum homem jamais questionou
ou poderia invalidar a decisão do árbitro! Sua
voz terminava todo debate.
Agora, a paz de Deus faz o mesmo em nossos corações. Devemos estar decididos a julgar
todas as coisas pela paz de Deus. "O que devo
fazer neste caso? Devo me humilhar? Eu não
gosto, mas como eu deveria agir? Devo me submeter?" O orgulho diz: "Nunca! Não, não!
Nunca ceda!" Mas o que a paz de Deus diz? Ela
diz: "Renda-se". Cristo diz: "Eu vos digo que não
resistais ao perverso... mas quem vos ferir na face direita, oferece-lhe a outra, também. E se
alguém quiser processá-lo na Lei, e lhe tirar o
casaco, deixe que tenha a sua capa, também."
Cristo decide que será bom ser um sofredor, em vez de se vingar.
Eu oro portanto, por vocês, queridos amigos, deixem que a paz de Deus decida por vocês em
todas as provações de paciência, suportando
57
erros e questões que conduzem a debate e
separação
III. Muito resumidamente, eu quero, em terceiro lugar, dizer: Fortaleçam-se, queridos
amigos, pelo Espírito de Deus, a fim de que possam deixar a paz de Deus reinar em seus
corações e possam ser preservados de qualquer
violação desta paz celestial.
Lembre-se, você só pode ser feliz no coração e saudável no espírito, desde que mantenha a paz
de Deus. Você pode estar certo de se tornar miserável e infeliz – de tropeçar, aqui e ali, em
faltas - se esta paz de Deus se for.
Estou certo de que não pode haver bênção onde não há paz. Uma casa dividida contra si mesma
não pode subsistir.
Sempre que tenho que resolver uma disputa, eu sempre gosto de ter algo grande, uma coisa
ruim nisto, que eu possa apontar para que logo
concordemos com o ponto correto. Quando não
posso, com o microscópio em meus olhos, descobrir o que tem ocorrido, acho que os
irmãos são mais difíceis de serem conciliados. É
mais fácil atirar numa coruja do que num
mosquito! Pequenas diferenças irritam como minúsculos espinhos e você não pode tirá-los da
carne. Oh, que o Espírito de Deus venha sobre as
Igrejas e as transforme em corpos unificados de
58
fogo! Então, elas não iriam cair aos pedaços por
causa de contendas internas! Quando as almas estão sendo ganhas, quando o Evangelho está
sendo apreciado, quando Cristo está sendo
glorificado, quando a Igreja está em marcha,
vencendo e para vencer através do poder divino que está nela, então existe paz dentro de suas
fronteiras e seus cidadãos são alimentados com
o mais fino trigo! Mas uma vez deixada a vida de
Deus escassear e o Espírito de Deus partir, então a paz se afasta, também. Oh, deixe a paz de Deus
reinar em seu coração, querido irmão, querida
irmã, por causa da Igreja.
Tenho certeza de que se um cristão, sempre procurar falhas em todo mundo ele será de pouca utilidade à causa e ao reino de nosso
Senhor. Aquele que, por onde passa, atua como
um corvo que se eleva no ar com nenhum outro
objetivo senão o de descobrir onde a carniça possa estar, eu digo, que não é um homem
segundo o coração de Deus e nem fará
prosperar a obra do Senhor entre os homens!
Quando você ama seus irmãos cristãos para que suas faltas sejam cobertas por seu amor e você
prefere admirar suas virtudes, a publicar suas
enfermidades, então é que Deus é glorificado
por você! Um povo feliz e pacífico de quem os homens podem dizer: "Veja como esses cristãos
amam uns aos outros", brilham como astros no
mundo e as trevas sentem o seu poder!
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O trecho a partir do qual nosso texto é tomado nos oferece outras razões. Ele diz isso - "Para o
que você também é chamado." Você foi
chamado para a paz de Deus. Meu querido
irmão, se você não é um homem pacífico, não tem herdado sua verdadeira vocação. Quando o
Senhor lhe chamou para fora do mundo, Ele lhe
chamou para ser um pacificador. Ele chamou
você com o propósito de que o Espírito da paz pudesse ser derramado em seu coração e que
depois você pudesse levar essa paz consigo em
sua própria família e entre todos os seus
vizinhos e espalhá-la por toda parte. O Senhor Jesus nunca chamou um homem para ser um
criador de contendas! Se uma mulher cristã,
como ela se chama, vai de casa em casa com
mexericos, ela não foi chamada por Deus para fazê-lo – disso estou certo!
Vocês que são os verdadeiros herdeiros do Céu são chamados à paz - busquem a paz e sigam-na.
Onde quer que vá, trabalhe intensamente para
fazer a paz. Se você vir dois meninos lutando, faça-os parar. Se você vir duas meninas de mau
humor, tente fazê-las felizes uma com a outra.
"Bem-aventurados os pacificadores".
Observe a seguir, "chamados em um corpo." Deve haver, portanto, a paz entre os cristãos porque somos chamados em um corpo de paz.
Suponha que meu pé dissesse: "Eu não vou levar
esse corpo pesado sobre mim. Veja o que eu
60
tenho que sofrer com ele às vezes." O que será de mim se os membros do meu corpo,
começassem a brigar assim? E qual será a glória
de Cristo, se seus membros viverem em
disputas? O que faz a Cabeça se os membros que compõem seu único corpo místico nada têm
para fazer, senão se esforçarem, um contra o
outro?
Oh, não! Se você tiver qualquer diferença, acabe com elas hoje, peço-lhe, se você puder, mesmo que o vento leste seja tão penetrante! Se você
tiver feito sem querer qualquer coisa que tenha
entristecido a outros, tente remediá-lo. Ou se os
outros têm entristecido você, termine o assunto por um doce e rápido perdão. Que seja tudo
terminado com o vento leste! Somos chamados
em um corpo, por isso vamos viver em paz
saudável e que Deus, o Espírito Santo, o Senhor e Doador da paz, nos traga na paz de Deus e nos
mantenha lá, pois para isso fomos chamados em
um só corpo.
IV. O último ponto sobre o qual vou falar é este - mantenha-se correto, ocupe sua mente saudavelmente. "Como?" você pergunta. O texto
diz: "Sede agradecidos." Essa é a maneira de
manter a nossa paz com Deus! "Seja grato." Não
reclame, mas bendiga o seu nome por tudo! Não brigue com ele, mas seja grato. Diga: "Aceitamos
o bem das mãos do Senhor, e não receberíamos
o mal? O Senhor o deu e o Senhor o tomou,
61
bendito seja o nome do Senhor." Essa é a
maneira de estar em paz com Ele - ser grato a
todo momento. Bendito seja Deus por suas misericórdias e por suas misérias! Bendiga-o
por seus ganhos e por suas perdas! Bendiga-o
por suas alegrias e prazeres, e também por suas dores! Bendiga-o da manhã à noite e através de
todas as vigílias da noite. "Ele não nos trata
segundo os nossos pecados". Seja grato!
Certamente, o vento está mudando de um ponto a outro - vamos encontrá-lo soprando por um
outro trimestre! Eu não estou disposto a brigar com alguém, eu preferiria correr uma milha do
que lutar por meio minuto! Não há ninguém no
mundo que eu gostaria de enfrentar, meu
coração está cheio de boa vontade para com todos os homens!
Ninguém no mundo é digno de contendermos contra ele como os nossos interesses temporais.
Mesmo a lei necessária é incômoda e vexatória.
Seja grato, então, e com gratidão a Deus e gratidão para com aqueles ao seu redor, você
pode ganhar o dia, oh, quão feliz será o dia! Na
família e nos negócios, Deus será glorificado, a
Igreja será dócil e unida - veremos tempos melhores e não resmungaremos por longo
tempo por causa do vento leste! Que Deus lhes
abençoe!
62
Tradução, adaptação e redução do sermão de nº 1693 de Charles Haddon Spurgeon, elaboradas
pelo Pr Silvio Dutra.
63
A Provação Bíblica da Fé
Quando se fala na Bíblia de provação da fé do
cristão, como por exemplo nos primeiros
capítulos de I Pedro e Tiago, o que está em foco
não é permanecer firme na fé para que
recebamos de Deus soluções para os nossos problemas neste mundo, mas, sim, permanecer
na comunhão com Cristo e prática da Sua
Palavra, a par de todas as vicissitudes que aqui
soframos.
Jó, Abraão, o profeta Jeremias, os apóstolos Paulo e Pedro, e muitos outros foram assim
provados e foram vencedores porque
confirmaram a sua fidelidade a Deus em tudo o
que sofreram.
“Eles, pois, o venceram (o diabo) por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do
testemunho que deram e, mesmo em face da
morte, não amaram a própria vida.” (Apocalipse
12.11)
64
Fardos Inevitáveis da Vida
"Porque cada qual levará o seu próprio fardo." (Gálatas 6.6)
Em um verso o apóstolo diz: "Carregai os
fardos uns dos outros, e assim tereis cumprido a lei de Cristo", enquanto no versículo do nosso
texto, ele diz: "Todo homem levará o seu próprio
fardo." Ainda assim, ele não está se
contradizendo. Ele estaria, se estivesse falando literalmente de encargos, mas ele está falando
metaforicamente e, consequentemente, ele usa
a figura em primeiro lugar, de uma maneira e
depois de outra.
Pode ser útil para nós, irmãos, aprender a nunca tirar argumentos e doutrinas de metáforas.
A verdade é que existem cargas que podem ser compartilhadas e que devem ser
compartilhadas. O fardo da dor, da necessidade
pecuniária, o de problemas do coração às vezes podem ser suportados, mas, por outro lado,
existem fardos que nenhum homem pode e
nem deve compartilhar com seu companheiro,
mas onde cada o homem deve se empenhar sozinho diante de Deus e ninguém pode ajudá-
lo. É sobre este tipo de fardo que estaremos
falando.
65
Ao falar dos três primeiros fardos que terei de mencionar, vou me dirigir a todos vocês, sejam
santos ou pecadores, pois existem algumas verdades de Deus que são comuns a todos os
homens. E esse é o primeiro fardo, o peso do
pecado original. O peso da nossa depravação
natural, o fardo de nossa natureza decaída, o fardo da nossa constituição, que é pervertida
pelo mal - estes devemos, cada um de nós, tem
que levar por si mesmo. Pode-se dizer que este
não é nosso fardo, mas de Adão, mas o fardo do pai, se ele traz toda a família à pobreza, torna-se
o fardo da família e de cada membro dela. Se a
cabeça deve doer, não adianta a mão dizer: "Não
é da minha conta." Há, também, de modo vital e íntimo a conexão entre o corpo inteiro da
humanidade com Adão, sua cabeça, de modo
que a queda de Adão se torna nossa,
A ruina de Adão se tornou a nossa ruína e a mancha no sangue pode ser encontrada em todos nós. Vocês estão "mortos em delitos e
pecados". Mas, se alguma vez você é vivificado
pela graça divina, você vai logo descobrir que "o
corpo desta morte", como chama Paulo, o pecado que em nós habita, é um fardo muito
pesado para você lutar contra ele e terá que lutar
pessoalmente o conflito dentro de sua própria
alma. Você vai ter de chamar a ajuda do Poder Divino, ou você nunca vai conseguir a vitória -
mas, para vencer a sua própria corrupção, a
superação de seus próprios pecados que o
66
afligem e dos males que são mais poderosos em você do que em outros, porque você está
constitucionalmente inclinado a eles - nessa
batalha você terá que lutar por si mesmo! Você
pode obter alguma ajuda com a experiência de outras pessoas, mas ainda assim, a luta e o
conflito têm que ser vencidos por você.
Os jovens, nunca imaginam que todo o treinamento do mundo pode livrá-los de seu
mal sem uma luta séria de sua própria parte! Não se concebe que as orações de uma mãe vão
te dar uma boa consciência, a menos que você
também aprenda de Cristo por si mesmo. Não se
concebe que as repreensões de um pai podem vencer seu mau temperamento, a menos que
você lute contra ele. E se você habitualmente
tem uma tendência ao orgulho, não se concebe
que as pregações do pastor contra o orgulho possam vencer o orgulho em você! Não, em
nome de Deus, você deve ir para a sala de armas
e pedir a espada do Espírito, para que
pessoalmente, cingido com força divina, você possa obter através da oração fervorosa, vencer
os pecados que afligem a sua própria alma!
Nesse sentido, então, você terá que arcar com o
seu próprio fardo.
Agora, enquanto há vida, há esperança. "Todo pecado e iniquidade serão perdoados aos
homens. Se confessarmos os nossos pecados,
ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados",
67
mas a menos que o pecado seja removido, ele
deve permanecer o nosso próprio fardo para
sempre e sempre! Você não vai se livrar dele, se unindo à igreja. Você não pode se livrar dele,
passando por rituais e cerimônias. Viemos
através das portas da vida para este mundo
sozinhos, vamos voltar através dos portões de ferro da morte, cada homem sozinho. E o
julgamento, embora multidões serão reunidas,
será um julgamento individual - cada um
pesado na balança, por si só, seja para ouvir o veredicto que eles são "aceitos no Amado", ou
então ouvi-lo dizer: "Fostes pesado na balança e
achado em falta."
Mais uma vez, ao falar assim, tanto para santos quanto a pecadores, "cada qual levará o seu próprio fardo" da Lei. Pelo pecado não
escapamos da Lei. A Lei de Deus é obrigatória
para todo o homem nascido de mulher, a menos
que, por estar morto para a Lei por meio de Cristo, ele escapa do seu jugo e escravidão.
Agora, o crente não está sob a Lei. Não me
entenda mal. Quero dizer que ele não está sob a
Lei, no sentido em que o pecador está sob ela. Ele não está sob o seu poder de condenar! Ele
não está sob a Lei, mas ele está debaixo da graça!
O princípio da Lei não o prende, é o princípio do
amor que rege e governa o seu espírito. Agora, cada um que está sob a Lei é obrigado a cumpri-
la pessoalmente. Olhem, meus queridos amigos
que nunca fugiram para Cristo - olhe para onde
68
você está. A Lei de Deus é como uma lei que
Adão não conseguiu guardar, embora inocente.
Como, então, você a guardará enquanto
imperfeito? É uma Lei espiritual - uma Lei que diz respeito não somente às suas ações, mas
suas palavras e seus pensamentos - como você
pode guardá-la? Feliz é o homem que escapou
dos territórios da Lei de Deus e entrou nos domínios da Graça Divina!
E agora vamos deixar esses três pontos que são comuns a todos os homens e simplesmente
falar dos fardos que os crentes que têm de
carregar, cada um por si!
E em primeiro lugar, meus irmãos e irmãs,
quando temos sido vivificados e despertados, veremos a necessidade diária para a confissão
dos pecados e aqui, "cada qual levará o seu
próprio fardo." Arrependimento é peculiarmente a Graça privada e pessoal.
Lamentação pelo pecado é uma coisa para a
própria câmara.
Na medida em que o pecado tem sido comum podem confessar em conjunto, mas na medida
em que a culpa é, em cada caso particular, portanto, deve haver confissão individual.
Além disso, meus irmãos e irmãs, há um outro fardo que temos de carregar e que devemos
assumir com alegria, e que é o jugo de Cristo
69
Jesus: "Tomai o meu jugo sobre vós e aprendei de Mim". E então Ele acrescenta: "Porque o meu
jugo é suave e o meu fardo é leve." Somos
obrigados a obedecer a Cristo. Ele é o capitão,
nós somos seus soldados. Devemos obedecer espontaneamente os comandos do nosso
grande líder! Ele é o nosso pastor, devemos nos
manter perto dEle, andando em Suas pegadas e
deleitando em sua companhia. Ele é o médico, nós devemos seguir a Su prescrição, não
hesitando, mesmo que o remédio que ele dá seja
muito amargo. Perfeita obediência é o que Jesus
Cristo tem o direito de reclamar de nós! Oh, que Ele nos dê a graça para que Ele possa receber de
acordo com seus direitos!
Além disso, irmãos e irmãs, eu acho que devemos, cada um de nós, sentir que temos um
fardo de oração para levar para o propiciatório. "Cada um levará o seu próprio fardo" a este
respeito.
Assim, também, deve cada um de nós ter o seu próprio fardo de testemunhar de Cristo. Cada
homem é chamado a dar testemunho da Verdade que ele conhece. Há muitas coisas que
eu não sei, por que eu deveria, então, fingir
dar um testemunho sobre elas? Mas há cerca de
duas ou três coisas que eu sei. Tenho a certeza sobre elas, e se eu não falar positivamente sobre
elas, vou deixar de ter meu fardo diante do
Senhor. E há alguma uma verdade de Deus,
70
talvez, meu irmão, sobre a qual você tem um
pouco de luz de Deus, um pouco mais leve do
que seus vizinhos. Não esconda a Luz de Deus! Deus nunca acende uma candeia para colocá-la
debaixo do alqueire. Se você recebeu, seja por
experiência ou pesquisa, qualquer luz especial que é peculiar a você espalhe-a quanto possa e
como deve ser, a propriedade comum da Igreja
de Deus, para a Glória de Deus!
Devemos lembrá-lo de que Jesus Cristo é o grande Carregador de Fardos para todos os Seus
santos, pois, apesar de, por um lado, você ter que arcar com seus próprios fardos, mas por outro
lado, Cristo vai carregar todos os seus fardos
para você! Seu fardo do pecado foi colocado
sobre Ele como o bode expiatório para a sua alma.
Você deve lembrar que seu fardo é fácil de ser suportado quando Cristo está com você. Quando
Jesus Cristo o fortalecer com todo o poder em
seu homem interior e colocar em você Sua própria Onipotência para ser o seu socorro,
então a carga deixa de ser um fardo para você
por mais tempo!
E, bendito seja Deus, como nós temos o nosso próprio fardo, por isso temos a nossa própria alegria. O mais miserável e infeliz cristão no
mundo, irá dizer-lhe, ele tem uma fonte secreta
de alegria que os outros não têm. Na verdade, é
71
de notar que aqueles que têm dores profundas
geralmente têm proporcionalmente alegrias
profundas!
Mais uma vez, é verdade que nós, todos nós, temos um fardo para carregar, mas não temos que carregar esse fardo por muito tempo. Você
não tem muita pena de um homem que tem que
transportar uma carga apenas durante o piscar
de um olho. Bem, toda a vida não é mais do que isso! Basta pensar, meus queridos amigos sobre
a eternidade - e que é então esta vida? Imaginar-
nos sentados no céu em meio à bem-
aventurança eterna, e que momento breve a nossa vida aqui vai parecer!
Partes de um sermão de Charles Haddon
Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio Dutra.
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A Prova da Vossa Fé
"A prova da vossa fé." (I Pedro 1.7)
A verdadeira fé é, em todos os casos, a
operação do Espírito de Deus. Sua natureza é purificadora, edificadora, celestial. Ela é de
todas as coisas que podem ser cultivadas no
peito humano, um dos bens mais preciosos. Ela
é chamada de "fé preciosa", e também de "a fé dos eleitos de Deus." Onde quer que a fé é
encontrada, é a marca de certeza da eterna
eleição, o sinal de uma condição abençoada, a
previsão de um destino celestial. É o olho da alma renovada, a mão da mente regenerada, a
boca do espírito recém-nascido. É a evidência da
vida espiritual - é a mola mestra da santidade – é
o fundamento da alegria - é a profecia de glória - é o alvorecer de conhecimento infinito.
Se você tiver fé, você tem infinitamente mais do que aquele que tem todo o mundo e que é
carente de fé. Para aquele, que crê é dito, "Todas
as coisas são suas." A fé é a certeza da filiação, o penhor da herança, a compreensão da posse
sem limites, a percepção do invisível. Dentro de
sua fé reside a Glória. Se você tiver fé, você não
necessita pedir por muito mais, salvo que sua fé pode crescer muito e que todas as promessas
que são feitas para ela podem ser conhecidas e
compreendidas por você. Aquele que tem fé é
73
bem-aventurado porque ele agrada a Deus e está
justificado diante do trono de santidade - tem
pleno acesso ao Trono da Graça, e tem a preparação para reinar com Cristo para sempre.
Até agora, tudo é prazeroso. Mas então vem, nesta palavra, que a tantos assusta - "A prova da
vossa fé." Você vê o espinho que cresce com essa
rosa? Você não pode recolher a flor perfumada sem seu companheiro áspero. Você não pode
possuir a fé sem experimentar a provação. Essas
duas coisas estão juntas - fé e provação.
Deixe-me dizer isso - sua fé será certamente provada. Você pode ter certeza disso. Um
homem pode ter fé e estar no presente sem provação. Mas nenhum homem jamais teve fé e
esteve toda a sua vida sem provação. A própria
natureza da fé implica um grau de provação.
Eu não vejo como possa ser fé tudo o que não é
provado pelo seu próprio exercício. Não se engane, Deus nunca nos deu a fé para
brincadeira. Ela é uma espada, mas não foi feita
para apresentação em um dia de gala. É uma
espada que foi feita para cortar e ferir e matar. E quem a possui pode esperar, entre aqui e o Céu,
que ele saberá o que significa a batalha.
Você não pode viver sem fé - porque uma e outra vez nos é dito, "o justo viverá pela fé". Sabendo
74
que é a nossa vida, e que, precisaremos,
portanto, sempre dela.
E se Deus lhes tem dado uma grande fé, meus queridos irmãos, vocês devem esperar grandes provações. Pois, à medida que a sua fé crescerá,
você vai ter que fazer mais e aguentar mais. E se
Ele faz a fé crescer, é com o propósito que ela
seja usada ao máximo e exercitada ao máximo.
Esperem provações, também, porque a provação é o próprio elemento da fé. A fé é uma
salamandra que vive no fogo, uma estrela que se
move em uma esfera sublime, um diamante que
faz o seu caminho através da rocha. Fé sem provação é como um diamante bruto, cujo
brilho nunca foi visto. Fé inexperiente é tão
pouca fé que alguns têm pensado que não se
tem fé afinal. O que um peixe seria sem água, ou um pássaro sem ar, que seria a fé sem provação.
Tal é a natureza da fé que ela não prosperará, salvo em ocasiões que podem parecer ameaçar
a sua morte. Na verdade, é a honra da fé ser
provada. Algum homem pode dizer: "Eu tenho fé, mas eu nunca tive que crer sob dificuldades"?
Quem sabe se você tem alguma fé? O homem
dirá: "Eu tenho muita fé em Deus, mas eu nunca
tive que usá-la em algo mais do que os assuntos comuns da vida, onde eu provavelmente
poderia ter agido sem ela, tanto quanto com
ela"? É esta a honra e louvor de sua fé? Você acha
75
que essa fé trará qualquer grande glória a Deus,
ou trazer-lhe qualquer grande recompensa? Se
assim for, você está poderosamente enganado.
Daquele que foi provado por Deus e aprovado por Ele, é que se dirá: "Muito bem, servo bom e
fiel." Tivesse Abraão parado em Ur dos caldeus
com seus amigos e descansado e se divertido lá,
onde estaria a sua fé? Ele teve a ordem de Deus para deixar o seu país para ir para uma terra que
ele nunca tinha visto, para peregrinar ali com
Deus como um estrangeiro, que habitava em
tendas. E em sua obediência à sua chamada a sua fé começou a ser ilustre. Onde estaria a
glória da sua fé, se não tivesse sido chamado
para ações corajosas e de autonegação?
E quando Abraão veio para a prova mais severa, "Toma agora o teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas e oferece-o em holocausto sobre
um dos montes que eu vou lhe mostrar". Quando
ele se levantou de madrugada e recolheu a
madeira e tomou o seu filho e andaram caminho de três dias, colocando seu rosto como um seixo
para obedecer ao mandamento de Deus,
quando, finalmente, ele tirou a faca, em
obediência fiel ao Divino Comando – então sua fé foi confessada, elogiada e coroada.
Aqui a sua fé ganhou grande fama e tornou-se o "Pai dos fiéis", porque ele era o mais provado dos
Crentes e ainda superou todos eles na crença
76
infantil em seu Deus. Se Deus, então, deu a
qualquer um de nós uma fé que é honrosa e preciosa ela será submetida com plena certeza à
sua própria devida medida de provação.
E, além disso, queridos amigos, é necessária a prova de nossa fé para remover suas impurezas.
Há muitos acréscimos de matéria sórdida sobre as nossas mais puras graças. Confundimos
quantidade com qualidade. E uma grande parte
do que pensamos que temos da experiência
cristã e conhecimento cristão e zelo cristão e paciência cristã é apenas a suposição de que
temos essas graças, e não a verdadeira posse.
Assim, o fogo cresce mais acirrado e a massa fica menor do que era antes. Existe alguma
perda nela? Acho que não. O ouro não perde nada pela retirada de suas impurezas e nossa fé
não perde nada pela dissipação de sua força
aparente. A fé pode, aparentemente, perder,
mas na verdade ganha. Pode parecer ser diminuída, mas não é realmente. Tudo o que
vale a pena ter está lá.
Você terá provações, porque Deus, na Sua sabedoria, lhe dará a fé que você necessita. Não
fique, no entanto, ansioso para entrar em provação. Não se preocupe se a tentação não
vem agora. Você vai tê-la em breve. Entre o dia
do nosso novo nascimento e o dia da nossa
77
entrada na nossa herança, teremos provas
bastante suficientes de nossa fé.
A sua fé vai ser provada de maneiras variadas. A prova de nossa fé não chega a todas as pessoas da mesma maneira. Há alguns cuja fé é provada
a cada dia em sua comunhão com Deus.
Além de qualquer aflição externa, que o pensamento busca, esse sentimento interior
que é um pouco mais do que pensamento, aquele santo segredo tremendo que vem sobre
nosso espírito, quando Deus se aproxima, é a
provação constante de Deus de nossas graças. Se
você se afastar de Deus e viver sem comunhão com Ele, você pode manter em seu coração
muita falsidade e fantasia que você está cheio de
dons e graças espirituais. Mas se você se
aproximar de Deus e andar com Ele, você não será capaz de manter uma opinião falsa de si
mesmo. Lembre-se de que o Senhor Nosso Deus
é um fogo consumidor.
Muitas vezes me lembrei da maneira em que as pessoas tentam melhorar as Escrituras quando dizem: "Deus fora de Cristo é um fogo
consumidor." A Bíblia não fala assim. Ela diz:
"Porque o nosso Deus é um fogo consumidor."
Isto é, Deus em Cristo, que é o nosso Deus, é um fogo consumidor. E quando o seu povo viver
nEle, a própria presença de Deus consome neles
o amor ao pecado e todas as suas graças
78
pretensiosas e realizações fictícias para que o falso desapareça e somente a verdade sobreviva.
A presença de santidade perfeita está matando a
jactância vazia e os fingimentos ocos.
Sempre que Jesus permanece conosco: "Ele se assentará como um refinador". A nenhum dos
eleitos deixará sozinho em sua corrupção, "Ele purificará os filhos de Levi." É o próprio Senhor
que será como o fogo do ourives e como o sabão
dos lavandeiros. Quem suportará o dia da sua
vinda? Quem ama a santidade gostaria de fugir dela?
Partes de um sermão de Charles Haddon Spurgeon, traduzidas e adaptadas pelo Pr Silvio
Dutra.
79
Tendo Bom Ânimo num Mundo de
Aflições
Vida sem sofrimento, de perfeita e plena
saúde, felicidade, alegria, paz, pureza, amor,
harmonia, há somente no céu.
A falta desta perfeição aqui na Terra é devida às consequências do pecado que há em toda a humanidade.
É de tal ordem e tão extensa a tragédia desta condição que até mesmo os demais seres vivos
(vegetais e animais) dela compartilham pelas
coisas que sofrem juntamente com a
humanidade, e que fazem com que toda a criação esteja gemendo até agora, aguardando
por aquele dia venturoso no qual será libertada
desta condição de miséria latente.
Estas palavras não são de pessimismo, mas da
mais pura expressão da verdade e realidade quanto ao nosso estado presente, e trazem
também a esperança otimista da única forma de
se libertar deste quadro terrível, que é por meio
da fé em Jesus Cristo.
Mas, enquanto aqui estivermos, mesmo em Cristo, sempre teremos nossas alegrias
misturadas com tristezas. Nem sempre em
decorrência do que haja em nós, mas pelo que
80
compartilhamos dos sofrimentos de nossos
semelhantes e de toda a criação.
Todavia é segura e certa a concretização da promessa que Ele nos fez de alcançarmos a
perfeição em glória quando da Sua segunda
vinda para restaurar todas as coisas àquela
condição original planejada por Deus para as Suas criaturas.
Vemos assim que não é desvantajoso sofrer e chorar enquanto aqui estivermos, e sentirmos
profundamente nossas limitações e misérias,
porque isto pode ser um fator contribuinte para nos conduzir à busca de socorro em Cristo, e por
conseguinte à conversão.
Daí Ele ter dito que são bem-aventurados os que choram e os que sofrem por serem perseguidos
por seu amor à justiça.
Deus se compadece profundamente não
somente por estes que choram, como também por aqueles que são ignorantes quanto à sua real
condição e que continuam buscando achar
nesta vida motivos que lhes tornem felizes e
alegres.
Não são poucos os que, neste segundo grupo, são conduzidos por Deus, por amor e
misericórdia, através das vicissitudes que
experimentam, a entenderem por fim que não é
81
aqui o nosso lugar de paz e descanso. Que há
uma grande luta a ser travada, por meio da fé,
para vencer o pecado e todos os inimigos espirituais que operam neste mundo de trevas.
Não fosse pela infinita bondade, longanimidade e misericórdia de Deus, jamais seríamos objeto
deste Seu trabalho de restauração paciente e
progressiva do qual todos somos necessitados.
Deus está trabalhando para o nosso bem,
enquanto sofremos.
Daí a exortação que nos é dirigida em Sua Palavra:
Heb 12:12 Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;
Heb 12:13 e fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes,
seja curado.
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Abatidos mas não Destruídos
Para nosso consolo e esperança Deus mandou
registrar os seus grandes feitos do passado, na Bíblia, para que jamais duvidemos do Seu poder,
justiça e amor, que estarão sempre atuando em
favor daqueles que o amam e temem.
Tudo o que se levanta contra o Senhor haverá de cair, porque demonstrou fartamente na antiga dispensação da Lei, o que sucedeu aos inimigos
de Israel quando este andava em fidelidade na
Sua presença.
Ele quebra o arco do Inimigo e quebra a sua lança, e frustra todos os seus projetos malignos, transformando maldições em bênçãos.
Vivemos no meio das águas tumultuosas deste mundo exatamente para o propósito de
aprendermos estas verdades, de modo prático
em nossa experiência cotidiana.
A experiência do apóstolo Paulo será a mesma
que viverão todos aqueles que seguirem os seus passos quanto à fidelidade que é devida a Deus,
como podemos ver em suas palavras em II Cor
4.8,9:
83
“Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não
desanimados;
perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos;”
84
Aflições Aliviadas
Temos no Salmo 31 mais uma das orações
modelares de Davi que ele costumava fazer
quando se encontrava debaixo de aflições e de
angústias. Faríamos bem em lhe seguir os passos toda vez em que nos encontramos nas
mesmas condições que ele havia
experimentado, quando por causa do Seu amor
pelo Senhor, muitos lhe armavam laços às ocultas, e nas quais sempre fazia do Senhor a sua
fortaleza, e entregava o seu espírito nas Suas
mãos para ser livrado.
Ele sabia perfeitamente que era uma coisa vã recorrer a ídolos para receber livramento.
Ao contrário, os laços aumentariam, porque Deus abomina os que adoram ídolos.
Sua confiança estava colocada inteiramente no Deus invisível cuja vontade está revelada na
Bíblia.
Ele somente se alegrava e se regozijava quando o Senhor lhe manifestava a Sua benignidade o
livrando das mãos dos inimigos, que angustiavam e afligiam a sua alma, e firmando
os seus pés num lugar espiritual espaçoso, em
que já não podia mais estar sendo oprimido.
85
A misericórdia do Senhor para com ele era tão grande, que mesmo quando Davi chegava a
desesperar da vida, pensando que Ele lhe havia abandonado, e que seria destruído por seus
inimigos, o Senhor sempre se manifestava no
fim, lhe dando livramento.
De modo que a sua fé nEle, na Sua bondade e misericórdia, aumentava cada vez mais, pois via
como Ele envergonhava os perversos, e emudecia os lábios mentirosos que falam
insolentemente contra o justo, com arrogância
e desdém.
Davi aprendeu que Deus sempre age assim com aqueles que se refugiam nEle.
Livrava Davi. Livra você. Livra a mim.
Crer no Senhor na hora da aflição é alívio garantido.
Certamente a fraqueza do espírito é mui grande na hora da angústia, e parece não ter forças ou
sequer desejo de confiar em Deus e nem em si
mesmo, mas é preciso lhe pedir socorro ainda
que seja com um sinal de um levantar de um dedo, dizendo: “Senhor olha para mim. Sê o meu
auxílio!”
Isto é infalível, porque Ele não se nega a ajudar a qualquer que o busque.
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Por isso Davi conclamava todos a amarem ao Senhor, porque Ele preserva os fiéis para Si, para que o amem e o sirvam.
Ele havia aprendido também que a fé é sempre colocada à prova pelo Senhor, nas aflições que
sofremos, para que aprendamos a não
confiarmos em nossa própria justiça, em nossa santidade, em nossa capacidade, que são muito
importantes, mas não para nos livrar no dia da
angústia, porque nestas ocasiões temos que
colocar toda a nossa confiança no poder de Deus, esperar com fé pela sua resposta e
intervenção, clamando-Lhe por socorro.
87
O Bom Efeito da Tribulação
Antes de ter sido afligido, Jó era um bom
conselheiro, mas depois do seu sofrimento ele
seria transformado por Deus não apenas num conselheiro excelente, como também num
intercessor poderoso em favor dos que sofrem.
Ele já estava demonstrando as lições que estava aprendendo nestas palavras de grande
humildade que lemos no 16º capítulo. Via agora
quão fácil é consolar ineficazmente a outros quando não se passou pelas provas que eles
estão experimentando.
Quão difícil é o caminho da consolação por mera palavras, porque viu que no seu próprio caso,
não seriam palavras que lhe trariam alívio, nem mesmo o fato dele permanecer calado.
Quando somos atribulados em grandes angústias, pela permissão de Deus, do muito
que aprenderemos, talvez a lição mais
importante seja esta de que consolaremos a outros não com nossas palavras exortativas, mas
com o próprio testemunho de que passamos por
vales profundos tal como eles, e de que o Senhor
não nos desamparou ainda que parecesse estar distante enquanto caminhávamos
solitariamente tendo por companhia apenas a
nossa própria dor.
88
É a isto que Paulo se refere em II Cor 1.3-7:
“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de
toda a consolação,
4 que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que
estiverem em alguma tribulação, pela
consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por
meio de Cristo transborda a nossa consolação.
6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera
suportando com paciência as mesmas aflições
que nós também padecemos;
7 e a nossa esperança acerca de vós é firme, sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.”
Deus permitiu que Paulo chegasse ao extremo do desespero, conforme afirma no verso 8:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que
fomos sobremaneira oprimidos acima das
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nossas forças, de modo tal que até da vida desesperamos;”
Todavia, o permitira para que aprendesse que Ele nunca nos desampara, mesmo quando
parece que fomos desamparados por Ele, tal
como Jó estava se sentindo.
E é isto que temos para compartilhar com outros
que estão sofrendo as mesmas tribulações, tal como nós, para que sejam consolados, ao
saberem, que por mais demorado que Deus
possa parecer, Ele nos livrará de todas as nossas
tribulações, conforme nos tem prometido, ainda que seja pela morte física, em paz, se isto
estiver no conselho da Sua santa vontade.
Por isso o apóstolo afirma ainda nesta mesma epístola o seguinte:
“9 portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;
10 o qual nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem esperamos que também ainda
nos livrará,”
E também em II Cor 4.8-11:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;
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9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;
10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste
em nossos corpos;
11 pois nós, que vivemos, estamos sempre entregues à morte por amor de Jesus, para que
também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”
Aí está declarado de forma sucinta o propósito divino nos sofrimentos de Jó, e que ele não podia
entender até que a perseverança tivesse a sua
obra completa, de maneira que pudesse
aprender de Deus, como estava sendo aperfeiçoado para consolar a outros e a
interceder por eles, conforme havia feito pelos
seus próprios amigos, para que fossem livrados da ira de Deus, conforme vemos no final do seu
livro.
Jó estava chegando no ponto que Deus desejava. Até então ele estava lutando vigorosamente
contra as palavras injustas de seus amigos.
Mas agora, ele declara que Deus havia conseguido deixá-lo exausto, e que a penúria física havia avançado de tal forma que ele ficou
muito magro, e isto testemunhava contra ele,
que havia sido enfraquecido pelo Senhor, então
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não haveria nenhum proveito em querer se mostrar forte, quando o propósito de Deus era
justamente o de enfraquecê-lo.
Ele o faz porque enquanto somos fortes por nós mesmos não podemos experimentar o poder da
Sua graça, que se mostra forte somente naqueles que são enfraquecidos por Ele de tal
forma, de maneira que vejam toda a sua
insuficiência, e que confiem somente na
suficiência que Ele supre, tal como Paulo havia aprendido e o declara no décimo segundo
capítulo de II aos Coríntios.
A ruína veio violentamente sobre Jó quando ele se encontrava num ato de devoção oferecendo
sacrifícios a Deus por cada um de seus filhos. Quando ele estava com sua alma descansada e
em plena comunhão com o Senhor.
Não foi quando cometeu algum pecado que isto lhe sobreveio, mas quando estava santificado.
Deus o faz geralmente para que não associemos o motivo de nossas aflições a algum castigo por pecados que tenhamos praticado.
Ele o faz para que saibamos que é a hora da disciplina do Espírito. É a hora da provação da fé,
para que seja aumentada ainda mais.
O sentimento que temos é o mesmo de Jó, porque da paz espiritual e alegria em que nos
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encontrávamos somos sobressaltados como
que se o Senhor nos agarrasse pelo pescoço e nos quebrantasse, despedaçando-nos e
colocando-nos como um tipo de alvo no qual
ordenará que os seus flecheiros lancem sobre
nós as suas flechas (v. 12, 13).
Além disso, não nos sinaliza com nenhuma palavra consoladora ou de misericórdia. Deixa
que pensemos que o quadro se agravará ainda
mais, e que não seremos poupados.
E somos quebrantados em nosso espírito com golpe sobre golpe, como quem sofre o ataque da parte de um guerreiro.
O resultado destes ataques é o de que toda exaltação e glória pessoal são reduzidas a pó.
Deixamos de nos ter até mesmo em pouca estima. Nos sentimos como o pano com o qual se
limpa o chão. Perdemos a vergonha de chorar
publicamente. De admitirmos que somos menos do que nada a nossos próprios olhos.
Pode parecer estranho a muitos esta forma de tratamento usado por Deus. Não parece as ações
de um Pai bondoso, senão cruel. No entanto, não
há outro modo de sermos livrados de nossa vaidade e endurecimento. Portanto, trata-se da
mais elevada exibição da Sua misericórdia e
amor para com aqueles aos quais Ele ama.
93
Todo verdadeiro santo deve estar preparado em seu espírito para receber este tratamento, ao
menos num determinado período de sua vida, se aspira de fato crescer na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, e tornar-se
alguém do qual se possa dizer o mesmo que o Pai disse de nosso Senhor: “Este é meu filho amado
em quem me comprazo.”. Não há outro modo
para aprendermos humildade e mansidão, a
submissão verdadeira que deve existir em todos aqueles que têm sido tornados semelhantes a
Cristo.
É um erro portanto, dizer que as experiências de Jó foram exclusivas para ele, e que configuram
uma exceção à regra geral de Deus.
Jó estava aprendendo a chorar somente diante de Deus, porque viu que os nossos amigos na verdade, zombam de nós, em nossas misérias, e
que somente Deus pode defender o direito que
o justo tem perante Ele (v. 20, 21)
Ele prosseguiria se defendendo das acusações injustas que estava recebendo da parte dos seus amigos, como veremos adiante, mas já não
dando muita importância a elas, porque estava
aprendendo que não há verdadeiro consolo e
sabedoria nos homens, se eles não os recebem diretamente de Deus, por tê-lo aprendido numa
experiência real e prática com Ele.
94
Quebrantamento na Aflição
Ec 7.13: “Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”.
O propósito de Deus em afligir alguém para
algum propósito de juízo ou de aperfeiçoamento
espiritual haverá de ser cumprido pelo tempo que Ele determinou sem que ninguém possa
mudar isto. Este é um dos principais
significados de Ec 7.13.
I Pe 4.15-19: “Que nenhum de vós, entretanto, padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se entremete em negócios
alheios; mas, se padece como cristão, não se
envergonhe, antes glorifique a Deus neste
nome. Porque já é tempo que comece o julgamento pela casa de Deus; e se começa por
nós, qual será o fim daqueles que desobedecem
ao evangelho de Deus? E se o justo dificilmente
se salva, onde comparecerá o ímpio pecador? Portanto os que sofrem segundo a vontade de
Deus confiem as suas almas ao fiel Criador,
praticando o bem.”.
O sofrimento não tem o propósito de ser algo em vão nas nossas vidas, do ponto de vista de Deus, pois tem determinado principalmente que
através dele sejamos transformados segundo a
Sua vontade e Palavra, para que Ele seja
95
glorificado. A paciência na tribulação, no
sofrimento que ela produz, é de grande valor
para Deus, e também para nós, porque é por meio disto que aprendemos a ser pacientes e
perseverantes nas coisas do Senhor, ensinando-
nos a amar com o mesmo amor de Deus, que é sofredor, isto é, longânimo em sofrer em razão
do pecado que há no mundo.
Uma visão correta da aflição é completamente necessária para um comportamento
verdadeiramente cristão sob elas; e esta visão
somente será obtida por fé, e nunca pelos sentidos; porque somente quando os desígnios
divinos são descobertos nas aflições, pelos olhos
da fé, sendo assim propriamente considerados,
nós temos uma visão correta das tribulações, que são o meio provido para suprimir as ações
de afetos corrompidos quando estão debaixo
destas aflições.
Foi sob esta visão que Salomão afirmou as
palavras de Ec 7.13: ““Considera as obras de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele
fez torto?”.
Antes, ele havia afirmado em 7.3-5 que: “Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do
rosto torna melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos
tolos na casa da alegria. Melhor é ouvir a
repreensão do sábio do que ouvir alguém a
96
canção dos tolos.”. Ele está se referindo às tribulações como o meio precioso de nos tornar
úteis para os propósitos de Deus em
transformar-nos em sábios, e que deveriam ser
motivo de regozijo e não de abatimento o passar por várias provações, sabendo que a prova da fé
produz perseverança, conforme diz em suas
palavras: “a tristeza do rosto torna melhor o
coração.”, a saber, aquilo que nos magoa, isto é, que nos machuca, pode nos fazer pessoas
melhores, o que necessariamente não ocorrerá
com aquilo que somente nos dá alegrias.
Salomão deduz, conforme de fato é segundo a vontade de Deus, que é melhor ser humilde e paciente do que orgulhoso e impaciente nas
tribulações; porque no primeiro caso, nós nos
submetemos sabiamente ao que é realmente
melhor; e no segundo caso, nós lutamos contra isto. E ele então nos dissuade de estarmos
contrariados com nossas provações, por causa
da adversidade que se encontra nelas. Salomão
nos acautela, falando pelo Espírito, para não fazermos comparações odiosas de tempos
anteriores e presentes (v. 10), concluindo que
não é sábio proceder desta forma, porque que
insinua reflexões e julgamentos impróprios acerca da providência de Deus.
Ele prescreve um remédio geral, isto é, primeiro uma sabedoria santa, que nos permitirá tirar o
melhor de tudo, até mesmo a vida em
97
circunstâncias mortais; e então um remédio particular, consistindo numa aplicação devida
daquela sabedoria, para levar a uma visão justa
do caso: “Considera as obras de Deus; porque
quem poderá endireitar o que ele fez torto?”, como que a dizer: quem ou o quê poderá impedir
aquilo que foi determinado pela poderosa mão
de Deus para nos provar? Por isso Pedro
recomenda que nos humilhemos sob a potente mão do Senhor, para que no tempo dEle possa
nos exaltar.
Assim, o próprio remédio é uma visão sábia da mão de Deus em tudo que nós achamos que seja
duro de suportar. Isto é, "considere o trabalho de Deus" em suas desagradáveis aflições, nas
cruzes que tem de carregar e nos cálices
amargos que tem que beber. Porque há motivo
de glória nisto, porque produzirá um peso eterno de glória, e o mesmo não pode ser dito de
quem não tem experimentado os sofrimentos
de Cristo dos quais todos os que são dEle têm se
tornado participantes, e isto sim é para se lamentar, porque é indicador do fato de ser
bastardo e não filho, porque todos os filhos de
Deus são corrigidos e transformados por Ele por
meio das suas provações.
Quando se procura uma segunda causa para a aflição além da cruz, isto normalmente conduz
à lamúria. Mas sendo paciente na tribulação, é
possível ver a mão de Deus nisto, e sujeitando-se
98
à Sua vontade é a melhor forma para ser livrado
porque Ele livra o justo de todas as suas aflições.
Mas o que lamuria será geralmente ainda
achado nelas.
Carregar a cruz voluntariamente faz com que ela se torne leve, mas carregá-la com a mente
perturbada por inquietações à busca de
respostas fora de Deus para aquilo que se esteja
experimentando, quando estas provas vêm da Sua parte, somente serve para aumentar o peso
da cruz que carregamos.
Ter um espírito contrito e quebrantado na aflição é algo muito apropriado para acalmar as
agitações do coração, e nos fazer pacientes debaixo dela. Afinal, quem pode acabar com
aquilo que Deus entortou? No quebrantamento
em sua aflição Deus fez isto; e tem que continuar
até que veja cumprido o Seu propósito. Se você pudesse usar toda a sua força, procurando
consertar aquilo que somente Ele pode
endireitar, sua tentativa será vã: Nada mudará
apesar de tudo que você possa fazer. Somente Ele que produziu este entortamento que nos
inquieta, pode repará-lo, e fazer isto
diretamente. Esta consideração, esta visão do
assunto, é o meio apropriado para silenciar e satisfazer os homens, e assim trazê-los a uma
submissão obediente ao seu Criador e Senhor,
debaixo do quebrantamento das suas aflições.
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Agora, nós estudaremos o nosso texto debaixo
destes três aspectos principais: a) qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é
Deus que está fazendo ou permitindo; b) o que
Deus determinou arruinar, ninguém poderá reparar em sua aflição; c) considerar o
quebrantamento na aflição como o trabalho de
Deus, ou da ação direta dele, é o meio
apropriado para nos levar a um comportamento cristão debaixo disto.
Quanto ao fato de que qualquer quebrantamento que há em nossa aflição, é
Deus que está fazendo ou permitindo, nós temos
duas coisas a considerar, a saber, o próprio
quebrantamento, e Deus que o está produzindo.
1. Sobre o próprio quebrantamento, o quebrantamento na aflição, para melhor
entendê-lo, são postuladas estas poucas coisas
que seguem:
Primeiro. Há um certo curso de eventos, pela providência de Deus, que caem sobre cada um de nós, durante nossa vida neste mundo. E isso é
nossa aflição, como sendo repartida a nós pelo
Deus soberano, nosso Criador e Senhor, "em
quem vivemos e nos movemos”. Este conjunto de eventos é extensamente diferente para
pessoas diferentes, de acordo com a vontade do
soberano Administrador, que ordena a
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condição dos homens no mundo, numa grande variedade.
Segundo: nesse conjunto de eventos, excluindo determinadas épocas, cruzes nos são trazidas
para que as carreguemos, com o alvo de nos
quebrantarem em nossa aflição. Enquanto nós estivermos aqui, haverá eventos desagradáveis,
como também agradáveis. Às vezes as coisas
planarão suave e agradavelmente; mas, logo, há
algum incidente que altera aquele curso, como se tivéssemos dado um passo errado que nos fez
começar a mancar.
Terceiro: toda a aflição neste mundo tem algum quebrantamento nisto. Os queixosos são hábeis
para fazer comparações odiosas. Eles não conseguem olhar para muito longe e acabam
pondo a culpa do que lhes está afligindo no seu
próximo. Eles não conseguem ver a mão de Deus
nisto, e assim, não se submetem a ela. E assim fazem uma falso veredicto; porque não há
nenhuma aflição aqui que não tenha sido ligada
ou permitida no céu. Quem teria pensado que a
aflição de Haman seria muito direta, quando a família dele estava numa condição próspera, e
ele prosperando em riquezas e honras, como
primeiro-ministro do estado Persa, e de pé no
elevado favor do rei? Certamente ele não pôde ver que era a mão de Deus que estava
produzindo a sua aflição. Ainda que os homens
neguem que não é a mão de Deus que seja a
101
causa de suas aflições, não há realmente uma só gota de conforto permitida; porque enquanto
estivermos aqui, sempre será pelas
misericórdias do Senhor que não somos
consumidos.
Quarto: o quebrantamento na aflição entrou no mundo através do pecado. Ele existe por causa
da queda, porque assim que o pecado entrou no
mundo entrou com ele a enfermidade, o
sofrimento e a morte. O pecado entortou o corpo, a mente e o espírito dos homens. E como
este entortamento está inseparavelmente
ligado à aflição, conclui-se que isto nos
acompanhará até que deixemos este corpo de morte e cheguemos aos portões do céu.
Assim, enquanto estivermos aqui, o quebrantamento na aflição produz o contraste
de comportamento que há entre o dia da
adversidade e o dia da prosperidade. Como se lê em Ec 7.14: “No dia da prosperidade regozija-te,
mas no dia da adversidade considera; porque
Deus fez tanto este como aquele, para que o
homem nada descubra do que há de vir depois dele.”. E isto segue de certo modo a
recomendação de Tiago: “Está alguém alegre?
Cante louvores. Está alguém triste. Faça
oração.”. Esta oração na tristeza é sobretudo oração de dependência e de submissão à
vontade de Deus, e não necessariamente oração
para expulsar imediatamente a tristeza.
102
O quebrantamento na aflição, é portanto uma ou outra medida de adversidade. A Palavra
ensina que tanto o dia da prosperidade quanto o da adversidade procedem da parte de Deus,
“que fez assim este como aquele para que o
homem nada descubra do que há de vir depois dele.”, isto é, para que ninguém saiba o que lhe
reserva o futuro, e assim vivam dependendo
inteiramente de Deus, confiando suas almas ao
fiel Criador na prática do bem, enquanto sofrem neste mundo.
Deus misturou estes dois na condição dos homens neste mundo; que, tanto
experimentam um pouco de prosperidade,
quanto de adversidade. Esta mistura tem lugar,
não somente na aflição de santos dos quais é dito que "no mundo terão tribulação", mas até
mesmo na aflição de todos.
Estas são aplicações da vara da adversidade que passa pelas pessoas, e a aflição da pessoa pode
ser extinta de repente, assim como a nuvem que desaparece antes que o percebamos, sem que
seja produzido qualquer efeito duradouro.
Assim o quebrantamento na aflição da
adversidade, continua durante um tempo mais curto ou mais longo.
Mas um quebrantamento na aflição que produz efeitos duradouros. Como o quebrantamento
produzido pela crueldade de Herodes que fez
103
com que a aflição das mães em Belém lamentasse a morte de seus filhos produzisse
um lamento para o qual não se encontrou
conforto.
E há um quebrantamento produzido por um
conjunto de aflições que se sucedem, tal como no caso de Jó, que enquanto um mensageiro de
más notícias ainda falava, veio um outro com
outras más notícias.
José experimentou este tipo de quebrantamento quando em sucessão foi lançado na cova pelos seus irmãos, vendido como escravo, e lançado
numa prisão egípcia.
Há quebrantamentos que são de tempo prolongado, como Sara, Raquel e Rebeca que
foram impedidas de gerarem filhos por muito tempo. Outros que como aquela mulher que
tocou em Jesus sofria de uma hemorragia de
doze anos.
E assim há variedades de aflições, tanto na qualidade delas quanto em relação às pessoas.
E mais particularmente, encontramos na
natureza do quebrantamento na aflição estas quatro coisas:
(1) Desarmonia. Uma coisa que aflige é persistente. E não há naturalmente, isto é, em
sua própria natureza, em nenhuma pessoa, uma
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tal coisa como um quebrantamento em relação
à vontade e propósitos de Deus. Se a vontade de
Deus fosse aceita e feita no mundo, haveria nele uma harmonia perfeita. Mas como isto não é
feito voluntariamente em razão da natureza
terrena que não está sujeita à vontade de Deus e
nem mesmo pode estar, então Ele fará com que todas as coisas cooperem juntamente para o
cumprimento da Sua vontade, sejam agradáveis
ou não agradáveis. Ele fará aquilo que tiver que
ser feito. Assim se Paulo deve ser entregue nas mãos dos gentios, foi pela vontade de Deus que
isto ocorreu, de modo que a Paulo foi revelado
pelo Espírito as cadeias e tribulações que lhe
aguardavam. E assim não havia nenhuma desarmonia nisto. Mas, na aflição de toda pessoa
há uma desarmonia entre o que se passa em
suas mentes e a inclinação natural delas.
A situação adversa traz a cruz à pessoa e esta não responderá harmoniosamente a isto. Quando a divina providência traz a provação a vontade do
homem vai de um modo e a situação vai de
outro, e a vontade puxa para cima, e a situação
puxa para baixo, e assim vão em sentidos contrários. E é justamente nisto que consiste a
aflição. É esta desarmonia produzida pela aflição
que nos exercita no estado de provação, no qual
somos chamados a confiar em Deus, enquanto caminhamos por fé, não através de visão, e
temos que se aquietar e se ajustar à vontade e
propósito de Deus, e não insistirmos que a
105
situação devesse estar de acordo com o que estabelecemos em nossa mente.
(2) Perda de visão. Coisas entortadas são desagradáveis à vista; e nenhum
quebrantamento na aflição parece ser alegre,
mas doloroso (Hb 12.11). Então as pessoas precisam se precaver de dar curso aos seus
pensamentos enfatizando o quebrantamento na
aflição delas, e de manter isto muito à vista. Davi
mostra uma experiência dolorosa sua quando disse::. "Enquanto eu estava meditando o fogo
estava queimando" e Jacó agiu de modo mais
sábio, quando chamou o seu filho Benjamim, de
filho da mão direita do que a mãe agonizante que lhe tinha chamado de Benoni, que significa o
filho de minha tristeza. Porque com isto não
estaria provendo um meio de quebrantamento
na aflição toda vez que pronunciasse o nome do seu filho.
Realmente, um crente pode ter uma visão fixa e fraca do seu quebrantamento na aflição à luz da
Palavra santa que representa isto como a
disciplina da aliança. Assim a fé descobrirá uma visão escondida nisto, debaixo de uma pequena
aparência externa, percebendo o quão
agradável isto é à bondade infinita, amor, e
sabedoria de Deus, e para a realidade de que na maioria dos valiosos interesses para que a
pessoa possa experimentar aquele gozo mais
elevado e refinado que resulta da alegria na
106
provação e na angústia. Mas qualquer quebrantamento na aflição que é agradável ao
olho da fé, não é de todo agradável ao olho dos
sentidos.
(3.) Incapacidade para se movimentar. Salomão observa a causa do caminhar intranquilo e desajeitado do manco: "As pernas do manco não
são iguais.". Esta intranquilidade deles é
encontrada na caminhada cristã, pela aflição de
um espírito dobre que tem pernas de tamanhos diferentes, e que traz grande dificuldade para a
caminhada. Não há nada que dê um acesso mais
fácil para a tentação do que a aflição; nada é
mais hábil para colocar os passos fora do rumo. Então, diz o apóstolo, no contexto das
recomendações relativas à disciplina de Deus
em Hb 12.11-13: “Na verdade, nenhuma correção
parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico
de justiça nos que por ele têm sido exercitados.
Portanto levantai as mãos cansadas, e os joelhos
vacilantes, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que é manco não se desvie, antes
seja curado.”. Devemos ter compaixão daqueles
que estão sendo trabalhados debaixo disto e não
os censurarmos rigidamente, porque ainda que tenham dificuldade de serem corrigidos por
palavras eles aprenderão a lição que lhes será
dada na sua própria experiência.
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(4.) Inteligência para pegar e se segurar, como que usando ganchos (anzóis). O quebrantamento na aflição deixa prontamente
uma forte impressão no espírito da pessoa, e as
corrupções do pecado ou as tentações de
Satanás deixam-na como que num embaraço do qual não consegue se desembaraçar. E esta
tentação deixa à mostra alguma coisa muito feia
que estava oculta no espírito, como o lodo que
existe no fundo do mar e que é revelado pelo bater das ondas. Alguma blasfêmia ou ateísmo
pode surgir na aflição, como revelado por Asafe:
“foi inútil limpar meu coração e lavar minhas
mãos na inocência.”. Foi parte do que ele disse em sua aflição. Ah! É este o piedoso Asafe?
Como é que ele se virou tão rápido na direção
contrária! Mas o quebrantamento na aflição é
uma máquina reveladora pela qual o tentador faz descobertas surpreendentes de corrupção
oculta até mesmo nos melhores santos.
Assim o quebrantamento na aflição pode atingir qualquer pessoa, e ninguém está isento
de ser apanhado por isto, e porque o pecado é achado em toda parte, o quebrantamento pode
acontecer em qualquer parte. As próprias
enfermidades físicas e até mentais abundam
visivelmente no mundo em razão disto, por que o pecado abunda em toda a parte, e a
enfermidade é uma mera consequência da
existência do pecado.
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Uma pessoa pode ter um quebrantamento na aflição permanente de complexos de
inferioridade por causa de sua constituição
física que lhe parece inadequada; na falta de estima e reconhecimento da parte de seus
semelhantes; na insatisfação por não ser
capacitada intelectualmente tanto quanto
gostaria de ser; e por uma série de outros motivos relativos a uma inaceitação pessoal.
Muita aflição pode ser resultante do relacionamento pessoal. Este quebrantamento
pode ser produzido por perda de
relacionamento, especialmente a perda de pessoas queridas. Pode ser por rompimento de
relacionamento, como no caso de separações
conjugais, abandono do convívio dos filhos com
os pais, exclusão da igreja ou de qualquer outra sociedade de amigos.
Jó era afligido por sua esposa, Abigail por seu marido ranzinza Nabal; Eli pelos seus filhos
obstinados; Jônatas pelo temperamento de Saul;
e assim as pessoas acham uma cruz exatamente naqueles em quem esperava o seu maior
conforto. O pecado sujeitou a criação inteira à
vaidade, e tornou todo relacionamento sujeito a
produzir aflição. Na empresa são patrões duros e injustos; no bairro, homens egoístas e
violentos; na igreja pessoas carnais e indolentes,
um verdadeiro fardo para os ministros; no
109
estado, magistrados opressores e corruptos; na
família filhos contenciosos e rebeldes.
Tendo visto o próprio quebrantamento, nós vamos considerar qual é a participação de Deus em tudo isto.
Primeiro, o quebrantamento na aflição, é uma forma de penalidade que os homens pagam
como forma de juízo de Deus que começa já
neste mundo, mesmo começando primeiro pela sua própria igreja, como diz o apóstolo Pedro,
para que se saiba todo o mal que o pecado tem
produzido na terra, e que Deus pôs um juízo
sobre isto na forma de os homens serem quebrantados por suas aflições. Ninguém está
inteiramente livre dos mais variados tipos de
aflições que se pode sentir neste mundo, em
razão de estar sujeito ao pecado que trouxe desarmonia e dor à criação. Mesmo quem se
isole poderá ser achado por suas próprias
aflições interiores como solidão, temores,
enfermidades etc.
Em segundo lugar, as doutrinas da Bíblia sobre a providência divina mostram claramente que
Deus provoca a aflição de todos os homens. Não
há nada que aconteça neste mundo que não seja
permitido ou produzido por Deus. Satanás nada poderá fazer se o Senhor não o permitir. O
pecador nada poderá fazer se Deus não o quiser,
assim como impediu Abimeleque de tomar
110
Sara, mulher de Abraão como esposa; e o
poderoso Senaqueribe da Assíria levar Judá em
cativeiro, assim como tinha levado Israel. No caso de Israel Ele permitiu, mas no de Judá,
impediu. Ele permitiu que Tiago fosse morto por
Herodes logo no início da igreja, e manteve João com vida até a mais avançada idade. Nem um só
pássaro é morto sem a sua permissão, e até os
cabelos de nossas cabeças estão contados.
E o mais maravilhoso de tudo isto é que Deus age sem anular o livre arbítrio humano e sem traçar
o destino de cada um em relação a tudo o que deve lhes suceder em sua vida terrena. O bem
será recompensado e o mal será julgado. E o
justo será feito mais justo. E o que se suja se
sujará ainda mais. É com base neste princípio geral que Ele tudo governa e visita os homens
controlando as suas tribulações; de modo que
produzam quebrantamentos na aflição para conversão ou aperfeiçoamento espiritual dos
justos, ou para juízo dos injustos.
O mistério da providência, no governo do mundo, está em todas as suas partes, em
conformidade exata com o decreto de Deus que
opera todas as coisas conforme o conselho da Sua vontade.
Há quebrantamentos puros e sem pecado; que são meras aflições, cruzes limpas, dolorosas
realmente, mas não sujas. Tal era a pobreza de
111
Lázaro; a esterilidade de Raquel, os olhos baços de Lia, a cegueira do cego de nascença. Agora, os
quebrantamentos deste tipo são de Deus, que
pela eficácia do Seu poder os faz passar
diretamente por estas situações. Ele é o Criador do pobre. Ele formou os olhos do cego de
nascença de modo que as suas obras sejam
manifestadas nele. Então ele diz a Moisés:
“Quem faz a boca do homem? ou quem faz o mudo, ou o surdo, ou o que vê, ou o cego?. Não
sou eu, o Senhor?” (Êx 4.11).
Em segundo lugar há quebrantamentos pecaminosos, isto é resultantes do pecado em
sua própria natureza. Como foi o quebrantamento na aflição de Davi em razão do
seu pecado de adultério e morte de Urias,
produzido pelo incesto de Amon com Tamar; o
assassinato de Amon; a rebelião e morte de Absalão, e por todas as desordens havidas em
sua família por causa do seu pecado. E as
tribulações deste tipo não são de Deus, é a isto
que Pedro chama sofrer como um malfeitor, isto é, por causa do mal praticado. Deus não põe o
mal no coração de ninguém, nem incita
ninguém à sua prática. Nem sequer tenta a
ninguém. Mas estas tribulações são permitidas por Ele, de modo que venham como forma de
julgamento sobre o pecado é praticado.
Está na esfera de soberania de Deus impedir ou não a prática de tais pecados, assim como
112
impediu Abimeleque de pecar contra Ele, no caso de Sara, mulher de Abraão. Aquilo que
Deus fecha ninguém pode abrir, e aquilo que Ele
abre ninguém pode fechar. E quando Ele age
ninguém poderá impedir. Então, Ele sabe em Sua providência a quem, onde e quando livrar da
prática do pecado, bem como o contrário disto.
Os juízos permitidos em forma de aflições
chamam a atenção dos homens a serem responsáveis e eles próprios tomarem atitudes
legais de modo a não permitir que a prática do
mal venha a se espalhar, colocando em perigo a
sobrevivência da própria sociedade.
Deus põe limites à prática do mal até ao próprio Satanás, como nós vemos no livro de Jó. Ele não
pode ultrapassar os limites que lhe são impostos
por Deus. E até mesmo todas as tentações dos
crentes têm estes limites demarcadores de modo que não sejam tentados além de suas
forças.
O propósito de Satanás era o de fazer Jó blasfemar e o de Deus de provar a sinceridade do
amor de Jó por Ele, ao mesmo tempo que aperfeiçoaria a intimidade de Jó com Ele, e por
isso permitiu que Satanás produzisse todas
aquelas aflições que trouxe sobre Jó. E Deus
virou o cativeiro de Jó fazendo com que aquilo que Satanás lhe trouxe para o seu mal, se
transformasse na vida de Jó em duplo bem. De
modo que o Senhor demonstra o Seu poder de
113
fazer com que tudo coopere juntamente para o
bem daqueles que O amam. E Ele fez o mesmo em relação a Mordecai e aos judeus, a quem
Hamã desejava destruir, e o mal sobreveio ao
próprio Hamã, enquanto Mordecai e os judeus
foram livrados. O mal intentado para a destruição de José trouxe o livramento da fome
a todo o mundo.
Estes, e todos os verdadeiros crentes sofrem, nestas ocasiões, muitas vezes não por
praticarem o mal, mas exatamente por praticarem o bem, pelo bom nome de Cristo que
levam sobre si, e disto falou o apóstolo Pedro nas
seguintes palavras:
I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados, sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o
bem e sois afligidos, o sofreis com paciência,
isso é agradável a Deus.”.
I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que fazendo o mal.”.
Assim podemos identificar dentre outros, os seguintes propósitos nos quebrantamentos na
aflição:
Primeiro, para provar se a pessoa se encontra no estado de graça ou não. Para que saiba se é um
114
crente sincero ou um hipócrita. Pois a
verdadeira fé que habita no crente não é
destruída pelas perseguições e tribulações. Você poderá saber se pertence de fato ao Senhor
pelo fato de perseverar em meio às suas aflições.
Josué e Calebe ficaram firmes na fé nas promessas de Deus enquanto os outros espias
recuaram pelo temor aos gigantes que habitavam em Canaã.
A muitos que pretendem seguir o Senhor Ele os põe à prova antes mesmo que venham a se
converter, como foi o caso do jovem rico ao qual
mandou vender tudo que tinha e dar o dinheiro aos pobres. Isto se tornou numa grande aflição
para ele, a qual não pôde vencer no tribunal da
sua consciência, e assim não conseguiu
cumprir a Sua ordem para poder segui-lo. A outro disse que não tinha sequer onde reclinar a
cabeça para que medisse o custo de segui-lo. E
continua sendo uma grande aflição para muitos
que amam o dinheiro e o conforto converterem-se e se entregarem a Cristo, por temor de não
poderem mais se dedicarem exclusivamente
aos seus próprios interesses, e terem que dividi-
los com um outro senhorio.
Em segundo lugar, o quebrantamento na aflição tem o propósito de desmamar a pessoa deste
mundo e levá-la a aspirar pela felicidade do
outro mundo. Perdas de posição de influência,
115
financeira, de saúde e várias outras causas
podem levar alguém ao quebrantamento na aflição de modo que seja resgatado do estado de
encantamento com a vida deste mundo. Nisto se
cumpre o que Jesus disse em Jo 12.25: “Quem
ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.”.
Isto somente pode acontecer se a pessoa vir a
entender que este mundo é um lugar que produz muitos quebrantamentos na aflição, e
não é portanto, nenhum jardim do Éden,
perfeito e sumamente agradável para se viver
nele. A quantas aflições não estão sujeitos os homens no mundo, produzidas por perdas e
danos advindos de tempestades, terremotos,
vulcões, maremotos, intempéries, e de tudo o
mais que seja produzido somente pelas condições naturais do próprio planeta, sem se
levar em conta as ações dos homens, quer
morais ou não, como acidentes e danos dolosos
ou culposos, fraudes, roubos, furtos, ferimentos, assassinatos, e todo o tipo de ações
que produzam quebrantamentos na aflição. Isto
é tão próprio ao mundo e seria muito mais
extenso se Deus em Sua infinita misericórdia não impedisse diretamente a perpetração de
maiores danos, de modo que toda a raça
humana não venha a definhar. Isto é tão
verdadeiro, que no tempo do fim a iniquidade se multiplicará porque, como forma de juízo, o
Senhor estará reduzindo esta Sua ação inibidora
da prática do mal sobre a face da terra, e por
116
ocasião da volta de Jesus, a terra sofrerá uma
tribulação jamais vista, e que será também
controlada por amor aos eleitos que estiverem
vivendo no período da Grande Tribulação, porque segundo Jesus, se aqueles dias não
fossem abreviados por Deus, nenhuma carne
restaria sobre a terra.
Muito do mal que não sucede aos homens neste mundo é porque há inúmeras intervenções de Deus tanto sobre as causas naturais, quanto
sobre as espirituais, de modo que não é porque
o mundo seja um lugar perfeito para se viver,
mas porque há esta proteção do Senhor que o mundo não revela toda a sua condição de
sujeição à maldição por causa do pecado. Mas,
em Seu grande amor, Deus despacha os
quebrantamentos na aflição para que aqueles que estão apegados com seus afetos ao mundo e
a tudo o que nele há, possam abrir os seus olhos,
e assim serem desmamados do mundo, de
modo que neles se cumpre a palavra do apóstolo João: “Não ameis o mundo, nem o que há no
mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai
não está nele.” (I Jo 2.15).
Em terceiro lugar os quebrantamentos na aflição nos ajudam a verificar quando estamos caminhando de modo errado. E nos voltamos
em oração a Deus em busca de auxílio ou de
arrependimento de nossos atos errados.
117
Foi pelo quebrantamento na aflição que os irmãos de José foram convencidos do mal que
haviam praticado contra ele, e puderam se
arrepender daquele pecado.
A aflição de Jacó com o engano que sofreu de Labão em relação a Lia, certamente o conduziu
a pesar melhor o engano que ele próprio havia
feito em relação a seu irmão Esaú.
A espada que nunca mais se apartou da casa de Davi o afligia continuamente em sua
consciência lembrando que era um justo castigo pelo horrível pecado cometido contra Urias. E
quanto disto nos traz o temor de Deus, quando
experimentamos que Ele é um justo Juiz sobre
toda a terra e não deixa Seus filhos sem a devida correção.
A mentira de Geazi para obter os bens de Naamã, bens que deveriam ser rejeitados para
que a glória fosse exclusivamente de Deus,
como fizera o profeta Elizeu, fez com que experimentasse a indignação do Senhor, pela
lepra que o atingiu e a sua posteridade depois
dele. E quão grande aflição isto não deve ter sido
para ele, e quanto temor não deve lhe ter trazido a ser desestimulado a ser conduzido pela sua
cobiça.
E assim as pessoas podem confessar e sinceramente se arrependerem daqueles
118
pecados que ainda as levarão à sepultura,
entretanto não as poderão levar mais ao inferno,
por causa do arrependimento produzido pela
aflição.
Em quarto lugar, o quebrantamento na aflição serve para prevenir do pecado, assim como
Paulo foi do pecado de orgulho pelo espinho que
lhe foi colocado na carne, um mensageiro de
Satanás enviado para esbofeteá-lo.
Assim se cumpre o que o Senhor diz em Os 6.2:
“Portanto, eis que lhe cercarei o caminho com espinhos, e contra ela levantarei uma sebe, para
que ela não ache as suas veredas”. O caminho de
espinhos impede a passagem e assim somos
impedidos de ser vencidos pelo mal que viria ao nosso coração, de modo que nem nós podemos
ir a ele, e nem ele vir a nós, por causa desta
barreira que o Senhor levanta para o nosso próprio bem.
E enquanto mantém o espinho na carne a graça do Senhor permanece disponível a nós, para nos
fortalecer e animar, de modo que possamos
substituir o desgosto da aflição pelo prazer de
ver os Seus propósitos cumpridos através de nossas vidas.
Em quinto lugar, a aflição tem o propósito de revelar aquelas disposições interiores que estão
escondidas até mesmo nos melhores crentes.
119
Quem teria suspeitado da força de paixão que
havia no manso Moisés caso ela não fosse revelada pelas águas de Massá e Meribá? Ou
quanta amargura de espírito havia no paciente
Jó, que julgou que Deus estava sendo cruel para
com ele? Quem imaginaria que o bom Jeremias amaldiçoaria o próprio dia do seu nascimento?
Nada disso seria revelado senão pela aflição.
Sem ela a nossa condição de pecadores seria
muitas vezes despercebida, e poderíamos incorrer no erro de fazer uma injusta avaliação
dos nossos méritos, especialmente os relativos
à nossa salvação. Mas graças à aflição podemos
ver quem somos, e que todos os méritos pertencem a Jesus.
Por isso Deus provou o povo de Israel com as aflições do deserto, para que eles soubessem o
quão eram pecadores, de modo que viessem a
depender dEle e da Sua graça para viverem do modo que lhes havia ordenado por meio dos
Seus mandamentos. Como se lê em Dt 8.2: “E te
lembrarás de todo o caminho pelo qual o Senhor
teu Deus tem te conduzido durante estes quarenta anos no deserto, a fim de te humilhar
e te provar, para saber o que estava no teu
coração, se guardarias ou não os seus
mandamentos.”. e também em Dt 8.16: “que no deserto te alimentou com o maná, que teus pais
não conheciam; a fim de te humilhar e te provar,
para nos teus últimos dias te fazer bem;”.
120
Em sexto lugar os quebrantamentos na aflição
servem para o propósito de despertar os crentes para o exercício de suas graças e para o dever de
serem zelosos e abundantes na obra de Deus. A
aflição desperta o clamor, a oração, a intercessão, em busca de respostas e alívio. Leva
ao desprendimento da vida e encoraja ao desejo
de gastá-la por amor a Deus e ao próximo. Pois
pela aflição se aprende a paciência e a perseverança. A cruz trata com o ego e nos
ensina a fazer a vontade de Deus quando é
diferente da nossa própria vontade.
O quebrantamento na aflição dá origem a muitos atos de fé, esperança, amor, abnegação,
resignação, e outras graças; que de outro modo não seriam produzidos.
E não é a força e capacidade do próprio homem o que agrada a Deus, mas a atuação do Espírito
Santo através da sua vida. Especialmente o
exercício das graças do Espírito no Seu povo. Assim o quebrantamento na aflição substitui a
nossa própria força pela força de Deus. Quando
somos assim enfraquecidos, podemos então ser
tornados fortes pelo poder do Espírito.
A promessa de Deus se cumpriu na vida de Abraão no meio de muitas aflições que
sobrevieram ao patriarca com o propósito de
fortalecer a sua fé. Moisés teve o seu caráter
121
forjado no fogo da aflição de modo que veio a ser
o varão mais manso sobre a face da terra.
Agora, o uso desta doutrina é especialmente: (1) para reprovação; (2. para consolação, e (3) para
exortação.
1. Para reprovação.
Isto se aplica aos mundanos carnais, que não têm temor e consideração para com a aflição
deles como vindo da parte de Deus, para que se
arrependam de seus pecados. Pois em todo quebrantamento na aflição há este
chamamento de Deus ao arrependimento ou à
conversão. Toda aflição é uma chamada para
mudança de atitude e de comportamento diante de Deus. Para que pautemos a nossa
caminhada segundo a Sua vontade e Palavra.
Para que lhe demos a honra devida de Criador, Salvador, Senhor. Há assim uma assinatura da
mão de Deus nestes quebrantamentos cuja
negligência prediz destruição.
Os ninivitas ao contrário destes, se arrependeram debaixo da aflição que foi
produzida pelo prenúncio do juízo de Deus proferido através do profeta Jonas.
Mas os de Sodoma e Gomorra foram destruídos porque não atentaram para o modo de vida do
justo Ló que era uma repreensão para o
122
procedimento deles, e nem sequer se arrependeram quando os sodomitas foram
cegados pelos anjos de Deus antes da destruição
daquelas cidades.
O apóstolo Judas caracteriza alguns homens como aqueles para os quais está reservado para sempre a escuridão das trevas (v.13). que desde
há muito estavam destinados para este juízo (v.
4) porque transformam a graça de Deus em
dissolução.
Assim o Senhor considerou a murmuração dos israelitas contra Moisés como sendo
diretamente contra Ele próprio como se lê em
Nm 14.27: “Até quando sofrerei esta má
congregação, que murmura contra mim? tenho ouvido as murmurações dos filhos de Israel, que
eles fazem contra mim.”.
Qual é o direito que o homem tem de se revoltar contra Deus na aflição que tem trazido a ele? Por
que tem que se revoltar em sua mente em razão do quebrantamento que seria para o seu próprio
bem?
Quem se endureceu contra o Senhor e prosperou?
“Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para o mal, como o Senhor tinha
123
dito, e como lho tinha jurado; e estavam em grande aflição.”(Jz 2.15).
2. Para consolação.
Deus tem reservado uma consolação para cada aflição de seus filhos. Todo quebrantamento na
aflição que vem da parte de Deus é para conforto
dos crentes, e assim considerando que é o Seu Pai que o está produzindo, então a aflição pode
ser vista de modo amável. Sabendo que foi o
nosso Pai que o fez, não questionaremos o Seu
propósito favorável que há nisto para nós.
Uma criança que foi disciplinada pela vara virá a ser grata a seu pai pela correção que lhe aplicou
e que a desviou da prática do mal.
De igual modo, o quebrantamento na aflição de um crente, apesar de ser uma prova dolorosa, é
uma parte da disciplina da aliança feita com Deus pelo sangue de Cristo.
Além de tudo isso eles recorrem a Deus em sua aflição porque sabem que aquilo que ele
entortou somente Ele pode endireitar. A
provação que vem da parte do Senhor somente
pode ser retirada por Ele, e ninguém mais.
Na prova a que se referiu Jesus, em Apo 2.10, que seria experimentada pela igreja de Esmirna,
quem fixou o tempo da provação de dez anos
(dez dias proféticos) não foi o diabo, mas o
124
próprio Deus. E o Senhor cuidaria deles pois lhes
disse que não temessem o que tinham de sofrer. O controle sempre está nas mãos do Senhor, e o
diabo não pode agir fora destes limites
estabelecidos por Deus.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação
de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa
da vida.” (Apo 2.10).
3. Para exortação.
Como o quebrantamento na aflição vem de Deus, então, vendo a mão de Deus nele,
devemos nos submeter à Sua vontade, e prosseguir em nossa caminhada cristã vivendo
de modo que Lhe seja agradável.
E pelo quebrantamento na aflição nós somos exortados a entender que é um dever ter a Deus
como nosso soberano e benfeitor. A soberania dele desafia a nossa submissão.
É um estatuto inalterável, durante o tempo desta vida, que ninguém quererá ser
quebrantado por aflições. Mas aqueles que são
projetados para o céu têm de uma maneira especial sido assegurados de que terão que
enfrentar aflições neste mundo, que visarão ao
seu amadurecimento espiritual. E como estes
125
quebrantamentos variam de pessoa para
pessoa, você pode estar seguro que o seu é
necessário para você. Por isso se diz que cada
crente deve tomar a sua própria cruz para poder seguir a Jesus como seu discípulo, isto é,
aprendendo dEle a conformar a sua vida à do
próprio Cristo, numa mudança progressiva de
glória em glória, até a estatura de varão perfeito.
Por isso é sempre grande a perda de não se submeter a isto, porque o quebrantamento na
aflição é o meio usado por Deus para o
aperfeiçoamento dos seus servos, assim como
testemunha o salmista: “Antes de ser afligido, eu me extraviava; mas agora guardo a tua
palavra.” (Sl 119.67). E ainda: “Foi-me bom ter
sido afligido, para que aprendesse os teus
estatutos.” (Sl 119.71).
Uma grande lição que aprendemos em nossos quebrantamentos na aflição é que a remoção da
causa de nossas aflições é sempre feito no
tempo de Deus, e isto se aplica particularmente
às situações que lhe deram causa, mas quando estas situações permanecem (deformidade
física, determinada enfermidade congênita
incurável etc) o tempo de remoção da aflição
dependerá em muito da submissão ao Senhor e rendição interior do coração sem se rebelar
mais contra o espinho que foi posto em nossa
carne, e sujeição à ação da graça de Deus.
126
Mas de um modo geral todas as aflições estão reguladas pelo relógio de Deus e não pelo nosso.
E o tempo do Senhor nunca é tão cedo como o
nosso. Nós queremos alívio imediato, mas Ele
sabe quando este alívio deve ser provido. Por isso Jeremias disse no que aprendeu de suas
próprias aflições: “Bom é ter esperança, e
aguardar em silêncio a salvação do Senhor.”
(Lam Jer 3.26).
Em resumo, se Deus não ordenar a bênção, serão em vão todos os nossos esforços para
resolver aquilo que foi quebrado, quer em
relacionamentos, quer em alívio de
circunstâncias desagradáveis interiores ou exteriores. Por isso a Palavra diz que bom é
aguardar a salvação que vem do Senhor, e isto
em silêncio. Este silêncio significa a espera de
que Ele nos envie o Seu socorro, sem que nos apressemos em tentar resolver aquilo que veio
da parte dEle para nos humilhar e afligir. Daí se
cumprirá o que é dito pelo apóstolo Pedro:
“Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;” (I Pe 5.6).
Moisés havia aprendido nas contendas de Israel contra ele, a colocar o rosto em terra e a se
humilhar na presença do Senhor, em vez de
discutir suas próprias razões com eles. Ele reconhecia o que vinha da parte de Deus sobre
ele, por meio de Israel, exatamente com o
propósito de mantê-lo dependente dEle. E assim
127
se dá com a quase totalidade dos ministros que
sofrem situações adversas quanto ao
comportamento do rebanho que foi entregue
pelo Espírito ao seu cuidado. Eles terão que depender de Deus para terem harmonia na
igreja. Nunca conseguirão isto por seu próprio
empenho e argumentos.
Deus revelou o Seu favor aos seus filhos mais queridos, trazendo e eliminando os quebrantamentos notáveis na aflição que eles
tiveram, assim como Abraão, Jacó, José, Moisés,
Davi, Jeremias, Paulo, e todos aqueles que foram
usados poderosamente pelo Senhor tiveram esta marca comum das muitas aflições que
sofreram.
Deus olha para o humilde e contrito de coração. E este trabalho é geralmente feito pelas aflições.
É coisa muito agradável a Deus e a nós quando podemos nos achegar a Ele em oração,
chorando em nossos corações, pelo
quebrantamento produzido pelas aflições.
“A minha mão fez todas essas coisas, e assim todas elas vieram a existir, diz o Senhor; mas eis
para quem olharei: para o humilde e contrito de espírito, que treme da minha palavra.” (Is 66.2).
As demoras não são negações de atendimento de nossas petições no tribunal do céu, mas
provações da fé e paciência dos solicitantes.
128
Assim como somos ensinados por Jesus: “E não
fará Deus justiça aos seus escolhidos, que dia e
noite clamam a ele, já que é longânimo para com eles?” (Lc 18.7).
Disso tiramos as principais lições para a remoção do quebrantamento na aflição.
1. Orar para isto, e orar com em fé, enquanto permanecemos com esperança e amor em
nossos corações. E, em alguns casos
dependendo na natureza da situação, além de orar, jejuar será um expediente muito
importante.
2. Humilhar-se debaixo disto, como um jugo da poderosa mão sobre você. "Eu aguentarei a
indignação do Senhor, porque eu pequei contra Ele.".
3. Esperar pacientemente até que a mão que fez isto seja removida.
Devemos lembrar que todo quebrantamento na aflição traz embutido em si uma proposta de se
fazer uma troca daquilo que é terreno e carnal
por aquilo que é celestial e espiritual.
Jesus disse ao jovem rico para vender tudo o que tinha para que tivesse um tesouro no céu. Se
sofrermos com Ele, com Ele reinaremos. Se
tomarmos a cruz nos é prometida uma coroa. Se
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tomarmos o Seu jugo acharemos descanso para
nossas almas.
Então sempre que Deus remover a Sua poderosa mão de sobre nós trazendo-nos alívio em nossas tribulações Ele sempre deixará após si uma
bênção. Ele removerá o que é terreno e deixará
em seu lugar o que é celestial.
“Todavia ainda agora diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o
vosso coração, e não as vossas vestes; e
convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele
é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do
mal. Quem sabe se não se voltará e se
arrependerá, e deixará após si uma bênção, em
oferta de cereais e libação para o Senhor vosso Deus?” (Joel 2.12-14).
Assim, por meio do quebrantamento nós podemos obter mais fé, mais amor, mais
paciência, mais humildade, mais zelo, mais
fervor, mais diligência, enfim todas as virtudes de Cristo que são implantadas em nossa
natureza pelo Espírito, e que são desenvolvidas
pelo mesmo Espírito através do trabalho da
submissão da nossa vontade à do Senhor. Muitos falam em cooperação da nossa vontade
com a de Deus, mas na verdade a nossa própria
vontade nunca será achada conformada
130
naturalmente à do Senhor se não for por um
trabalho da graça que submeta a nossa natureza
terrena. Isto não vem naturalmente pela pronta
cooperação da carne que é fraca, ao contrário vem sempre por um trabalho realizado pelo
Espírito em nós. Sem que haja então um
trabalho anterior de Deus neste sentido não se
achará em nós nenhuma cooperação voluntária de nossa vontade em fazer aquilo que é da Sua
vontade. Daí nos ser ordenado que para
seguirmos a Cristo devemos primeiro negar-
nos a nós mesmos.
E não devemos esquecer o que nos diz o apóstolo Paulo sobre o efeito das tribulações: “Porque a
nossa leve e momentânea tribulação produz
para nós cada vez mais abundantemente um
eterno peso de glória;” (II Cor 4.17). As tribulações são momentâneas, são deste
mundo, e são comparativamente leves, se
comparadas com o peso da glória que há de se
revelar em nós, e que está sendo produzido exatamente por estas aflições.
Assim, aquilo que nós não conseguirmos remover, e que Deus não houver removido, nós
devemos suportar com paciência, assistidos
pelo poder da graça de Jesus. Quantos crentes não foram martirizados no passado e ainda o são
em nossos próprios dias? Eles são para nós o
exemplo extremo do que podem vir a ser as
131
aflições dos justos, de modo que não
desfaleçamos em nossa caminhada cristã.
Não devemos seguir o exemplo de Israel no deserto, murmurando e não sendo pacientes
em nossas dificuldades, assim como eles o
foram e provaram o desagrado de Deus. Não é
bom atear mais combustível ao fogo que já está queimando, pois ele se espalhará causando um
muito maior dano. A nossa impaciência e
murmuração na aflição é este combustível que
servirá apenas para aumentar o fogo que já está queimando.
O fruto do Espírito Santo é também domínio próprio, e o Senhor quer nos ensinar isto, de
modo que nos submetamos a Ele e aguardemos
pela Sua direção e ação, para que sejam solucionados os problemas que não podemos
resolver com nossas indignações, iras,
resoluções etc.
Quanto mais resistimos ao jugo no nosso pescoço, mais ele nos esfolará. Quanto mais batermos contra a ponta da faca, mais ela nos
ferirá. O aguilhão que é posto pelo Senhor, assim
como o que ele colocou sobre Paulo, nos ferirá
tanto mais quanto mais resistamos a ele. A solução está em se render assim como Paulo
fizera em relação ao senhorio de Cristo, cansado
de resistir duramente contra os aguilhões que
132
despachara sobre ele com vistas à sua conversão.
Mas esta luta para que a carne seja vencida pelo Espírito nunca será resolvida de uma vez por
todas neste mundo. A submissão não será
continuada e permanente sem que haja uma luta do velho homem que nunca se submeterá a
isto, e quando o novo homem criado pela graça
estiver se submetendo à aflição, o velho homem
ainda estará se rebelando. Assim esta se torna uma luta de fé, uma provação da fé, que nos
conduzirá a nos submeter a Deus ainda que os
argumentos do velho homem procurem nos
dissuadir a confiar em Deus para a remoção da nossa aflição, e para que sejamos conduzidos a
fazer a Sua vontade. Uma luta contra o próprio
coração é a causa do quebrantamento na aflição.
E a alma somente achará descanso e paz quando tomar o jugo e o fardo de Jesus, que lhe será
agora suave e leve. Assim, apesar da relutância
da carne, a resposta adequada do crente deve
ser a de se submeter a Deus. Quando ele fizer isto, até mesmo aquelas aflições que lhe são
produzidas por ação direta do diabo terão que
acabar, porque ele terá que fugir do crente que
se submeteu ao Senhor.
Por isso em toda tribulação é apresentada uma cruz que devemos tomar voluntariamente para
que o nosso ego seja submetido ao Senhor. Sem
isto, não poderemos suportar o
133
quebrantamento na aflição, e lutaremos contra
isto movidos pelo nosso ego.
Cristo tomou voluntariamente a cruz. E todos os crentes são chamados a seguirem as suas
pegadas. Aquele que diz estar nEle deve caminhar como Ele caminhou.
Enquanto não aprendermos e praticarmos isto a oração dominical não será verdadeira em
nossos lábios quando dissermos: “Seja feita a
tua vontade assim na terra como no céu.”.
Satanás mente aos homens dizendo para eles que o quebrantamento é um jugo insuportável. Que fazer a vontade de Deus será algo
demasiadamente difícil para eles. Mas Jesus diz
que o jugo e o fardo dEle são leve e suave. Cristo
é a verdade e o diabo o pai da mentira. Em quem creremos nós? O Senhor tornará fácil e suave
aquela tarefa difícil que nos é imposta pela Sua
Palavra e que desafia a nossa fé, porque a Sua
graça agirá por nós e nos guiará e fortalecerá. Mas enquanto não nos dispusermos a obedecer
a vontade de Deus isto não poderá ser
experimentado por nós.
Nós não devemos portanto ficar olhando para as coisas que nos afligem, mas elevar os olhos para o alto, para o autor e consumador da nossa fé. É
no próprio Cristo que está a vitória. Em vez de se
fixar em Simei que o amadiçoava, Davi olhou
134
para Deus e foi com isso impedido de ser tomado
por sentimentos de vingança e deixou o caso nas
mãos do Senhor para que julgasse entre ele e Simei. Quando perseguido injustamente por
Saul também entregou-se ao Senhor, para que
julgasse entre ele e Saul.
Como Davi nós deveríamos nos exercitar
frequentemente nisto de modo que aos primeiros sinais da vinda de uma tribulação nós
nos recomendássemos à providência de Deus
com um coração puro, humilde, sincero e
quebrantado. O endurecimento da cerviz só servirá para aumentar a pressão do jugo que nos
ferirá ainda mais. Dura coisa é resistir contra os
aguilhões.
Como Paulo, muitas vezes as visões da glória celestial podem nos levar ao pecado da presunção e do orgulho, pensando que
merecemos as bênçãos de Deus por causa de
nós mesmos, mas o quebrantamento na aflição
produzirá este bom resultado de nos manter humildes reconhecendo que não há nenhum
bem em nossa própria natureza terrena e que
tudo o que somos e fazemos de bom é por
exclusiva capacitação da graça de Jesus a quem pertence de fato toda honra, glória e louvor.
Trabalhos que começam a prosperar nas mãos daqueles que têm servido fielmente a Deus
poderá ser a causa do começo da própria ruína
135
deles se não se mantiverem humildes diante do Senhor, e é então para mantê-los prosperando
que o Senhor envia as provações que produzirão
este efeito benéfico de nos quebrantar. Afinal o
que está em jogo não é a nossa conveniência e vontade, mas as de Deus, porque a obra não é
nossa, mas Sua. De Deus somos cooperadores. A
lavoura, o rebanho, o edifício são dEle e não
nossos. Somos apenas seus mordomos, seus administradores, e devemos ser achados fiéis, e
para este propósito o Senhor usará os meios que
forem necessários para manter-nos assim.
Seria racional se pensar que o homem caído, com a sua natureza corrompida, trabalhasse do mesmo modo que Adão antes da queda? Seria o
mesmo que colocar os mendigos no mesmo
nível dos ricos. Assim, para trabalhar para Deus
o homem precisa primeiro ser lavado, tratado, enriquecido pela graça de Jesus. E continuará
necessitando permanentemente de atender a
recomendação feita por Ele à igreja de
Laodiceia: “aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e
vestes brancas, para que te vistas, e não seja
manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a
fim de ungires os teus olhos, para que vejas.” (Apo 3.18).
Jesus nos adverte de modo conclusivo e final que sem Ele nada podemos fazer. É preciso pois
aprender a ser apenas instrumento em Suas
136
mãos. Se a obra que fizermos não tiver sido feita
por Ele através de nós, não poderemos dizer que
foi a Sua obra que fizemos apesar de toda a sua aparência cristã. A falta da presença de Cristo
pode quando muito produzir uma religião cristã
assim como o catolicismo romano, mas não uma obra verdadeiramente cristã que tenha a
assinatura de Jesus.
Como os dez mandamentos foram dados no Monte Sinai? Não como puras ordens, mas tal
como o evangelho, com uma exortação a que se
cresse antes em Deus, pois antes de tudo é dito: “Eu sou o Senhor teu Deus...”.
Assim não podemos considerar nenhum preceito moral da Bíblia quer no Velho ou no
Novo Testamento, sem esta necessidade de se
ter antes uma união pela fé ao Senhor. Se isto não vier primeiro, não haverá nenhuma
obediência verdadeira em Deus e segundo a Sua
vontade, pois não é ordenado que se escolha
este ou aquele mandamento, mas que se ame e obedeça todos os mandamentos, porque
primeiro, amamos a Deus, e sabemos que sem
Cristo nada podemos fazer.
Tudo aponta para um compromisso com Deus. Usar então qualquer coisa para um determinado fim, sem a correspondente fé que deve
acompanhar aquela ação, é fazer da criatura um
deus; e então em vez disso, deve haver uma
137
dependência de Deus de acordo com aquela
palavra de compromisso, e tudo deve ser
ajustado para o fim para o qual Deus o tem
designado.
Os papistas, legalistas, e todas as pessoas supersticiosas inventam vários meios de
santificação, eles são bastante ineficazes,
porque, qualquer meio será ineficaz sem o
Espírito.
O discernimento da mão de um Pai no
quebrantamento tirará muito da amargura disto, e adoçará o remédio, e por isso é
absolutamente necessário deixar Deus ser Deus
em nosso quebrantamento. Como Ele prometeu
nunca nos abandonar e não permitir que sejamos tentados além de nossas forças,
devemos confiar na Sua fidelidade e bondade
enquanto estivermos atravessando o vale da aflição.
Especialmente nestas horas é recomendado ter o espírito de Pv 16.19: “Melhor é ser humilde de
espírito com os mansos, do que repartir o
despojo com os soberbos.”. E este é o espírito de
Cristo que se esvaziou e se humilhou até a morte de cruz.
O orgulhoso está subindo e está planando no alto, o humilde está contente em rastejar no
chão se for esta a vontade de Deus. Se esta
138
condição for mudada e o orgulhoso for
humilhado e o humilde exaltado, o humilde
continuará contente como já se encontrava
antes, e o orgulhoso não raro desesperará, e viverá então inquieto para nunca vir a cair das
alturas em que julga se encontrar, porque não
há verdadeira elevação que não proceda de
Deus, porque toda soberba será humilhada. Não surpreende pois que o Senhor tenha dito que
são bem-aventurados os humildes de espírito, e
não os orgulhosos e arrogantes.
Ninguém, enquanto do alto de seu orgulho e arrogância, admitirá que seja necessário quebrantar-se na aflição. É preciso primeiro
descer das alturas e humilhar-se debaixo da
potente mão do Senhor para que a cura seja
achada.
Disto se aprende que o orgulho será um mau companheiro na hora da tribulação e a
humildade é de todo recomendada.
Jesus ordenou aos crentes que aprendam dEle que é manso e humilde de coração. São os que
seguem os seus passos que vencerão a aflição
neste mundo e para sempre no céu, porque lá não haverá aflição. Mas o mundo e
especialmente o inferno são lugares de aflição.
Muitas aflições aguardam especialmente por aqueles que pretendem se dedicar ao exercício
139
do ministério, e eles precisarão aprender a
serem pacientes na tribulação para que não sejam desqualificados na obra que pretendem
fazer para o Senhor. Satanás se levantará para
tentar detê-los e o fará difamando-os, caluniando-os, através dos menos avisados que
possa usar como seus instrumentos. E se estes
candidatos ao ministério ou que já se
encontram no seu exercício não aprenderem a se humilhar sob a potente mão de Deus, terão
sérios problemas para superar todos os entraves
que se levantarão diante deles.
Por isso se ordena o que lemos em II Tim 2.24: “e ao servo do Senhor não convém contender,
mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente;”. Em vez de se debaterem em
suas aflições, eles devem aprender a se
submeterem mansamente ao Senhor para que peleje por eles e vença o inimigo, enquanto
mantêm os seus corações guardados na paz de
Cristo.
No dia da nossa angústia devemos fazer como Davi: encorajar-nos no nosso Deus, e não
procurar alívio nos homens ou em quem seja partidário a nosso favor contra aqueles que
desejam o nosso mal.
O espírito humilde extrai a doçura da amargura da sua aflição.
140
Deus corta os fardos e os obstáculos dos confortos terrestres para que o atleta de Cristo
possa correr mais livremente para o céu.
A alma que tem aprendido a paciência na aflição não busca isto como um fim em si mesmo, mas pelas mudanças celestiais que são produzidas
por isto na vida daqueles que se submetem à
vontade de Deus.
Satanás é o ser mais miserável em toda a criação, e no entanto é o mais orgulhoso de toda
ela. O desejo dele permanece sendo o de colocar o seu trono tão alto quanto o de Deus mas como
tem sido lançado ao mais profundo abismo, a
aflição dele é imensa e jamais cessará porque
nunca poderá realizar a sua vontade.
Devemos portanto nos guardar de um espírito obstinado como o que há no diabo e que não se
rende à vontade de Deus enquanto procura
estabelecer a própria. Geralmente o que nos
moverá a isto será o espírito de orgulho, que como vimos é próprio do diabo e não de Deus. A
alma que acha descanso em Cristo é a que
aprende a ser mansa e humilde como Ele, e que
toma sobre si o Seu jugo, submetendo-se aos quebrantamentos da aflição que possam nos
sobrevir para provar a nossa fé e humildade.
A humildade e a mansidão de espírito nos qualificam para o relacionamento e a
141
comunhão amigável com Deus por meio de
Cristo. O orgulho fez de Deus nosso inimigo. Nossa felicidade e futuro aqui dependem do
nosso relacionamento amigável no céu.
Assim a humildade é um dever que agrada a Deus, e o orgulho um pecado que agrada ao
diabo. Por isso Deus exige de nós que sejamos humildes, especialmente debaixo da aflição.
“Cingi-vos todos de humildade...” (I Pe 5.5).
O humilde e manso de coração terá paz e descanso em sua alma e mente, enquanto o
orgulhoso terá a aflição reinando em sua mente
e alma.
O subjugar de nossas paixões é mais valioso do que ter todo o mundo debaixo da nossa vontade.
O trabalho de carregar a cruz deve ser em cada dia em todos os dia da vida, porque se
removermos a cruz, a vontade própria
prevalecerá. Então há uma grande verdade no que Tiago diz: “Meus irmãos, tende por motivo
de grande gozo o passardes por várias
provações,”. Se a cruz está presente, isto é
indicador de que há um trabalho continuado de Deus em nós, e da nossa parte, submissão à Sua
vontade, e isto então é um motivo para grande
alegria.
142
Portanto é melhor ter um espírito humilde e quebrantado do que ter a cruz removida.
Se alguém não tomar voluntariamente a sua cruz a cada dia, não poderá fazer a obra de Deus
de modo constante e agradável a Ele, porque o
ego se levantará e se oporá àquilo que for da Sua
vontade.
Quão perigoso é para aqueles que estão envolvidos na seara do Senhor desejarem que a
cruz seja removida. Quando aspiram por total
falta de problemas, de oposições, de
perseguições, de dificuldades, e começam a se encantar de novo com a alegria puramente
mundana, eles constatarão que a infidelidade a
Deus terá invadido os seus corações, e que já não
amam tanto a Sua obra e vontade quanto dantes.
Por isso não se pode lançar a mão do arado e olhar para trás. Envolver-se na guerra do Senhor
exige que seja considerado o custo relativo à
necessidade de consagração e renúncia à
própria vontade.
Ninguém será um apóstolo como Paulo
enquanto não estiver crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ele.
O levar no corpo o morrer de Jesus é o que gera a verdadeira vida eterna. Se o grão de trigo não
morrer ele ficará só. Não há frutificação na
143
lavoura de Deus sem este morrer operado pela
cruz. É neste sentido que o estar apegado à vida
nos leva a perdê-la, e o perdê-la por amor de
Cristo, a achá-la.
E muito desta mortificação da carne, desta auto negação está exatamente em se seguir à
exortação do apóstolo Pedro em sua primeira
epístola, na qual exorta todos à submissão de
uns para com os outros e particularmente à linhas de autoridade estabelecidas por Deus: os
servos a seus senhores, as mulheres aos
esposos, os filhos aos pais, os cidadãos às
autoridades, as ovelhas aos pastores, os jovens aos anciãos.
“Semelhantemente vós, os mais moços, sede sujeitos aos mais velhos. E cingi-vos todos de
humildade uns para com os outros, porque Deus
resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Humilhai-vos, pois, debaixo da
potente mão de Deus, para que a seu tempo vos
exalte;” (I Pe 5.5,6).
E toda esta submissão de coração somente será possível caso se tenha humildade. Estas duas
atitudes estão ligadas inseparavelmente por Deus, assim como Ele ligou o arrependimento à
fé.
E o apóstolo coloca no final do texto lido que a seu tempo Deus exaltará o que se humilha. Ele
144
elevará aquele que se humilhou debaixo da sua
potente mão, no tempo que Ele tiver
determinado. Então o caminho para a elevação é
se humilhar. É neste sentido que o maior de todos é o que mais serve.
Afligir o nosso espírito especialmente nas aflições, e não somente nelas, é o nosso dever,
mas o elevá-lo é trabalho exclusivo de Deus. E
todo aquele que a si mesmo tentar se exaltar será humilhado por Deus. Mas todo o que se
humilhar será exaltado (Mt 23.12).
O recusar-se a se humilhar é portanto recusar o único caminho para a verdadeira exaltação.
E é interessante observar que a exaltação é geralmente proporcional ao nível da
humilhação. Ninguém se humilhou ou poderá se humilhar mais do que Cristo porque Ele se
rebaixou, se esvaziou se humilhou sendo Deus,
e sendo homem perfeito, sem pecado, e
portanto ninguém poderá ser mais exaltado do que Ele, e por isso recebeu um nome que é sobre
todo nome.
E este feliz evento da exaltação acontecerá no tempo próprio. No tempo próprio nós
colheremos se não desfalecermos. Mas há aquela raiz de orgulho que está no coração de
todos os homens que vivem na terra, que deve
ser mortificada antes que eles possam ser
145
considerados aptos para o céu, e por isso Deus os
levará a circunstâncias humilhantes com vistas
a atingir o referido fim. Foi por isso que Deus
conduziu o povo de Israel naqueles quarenta anos no deserto, para os humilhar, provar e
saber o que estava no coração deles.
E o coração é naturalmente hábil para se revoltar contra estas circunstâncias
humilhantes, e por conseguinte a mão poderosa do Senhor as traz e as mantém lá. O homem
redobra suas forças naturais para fugir da
dificuldade levantando a sua cabeça, e
murmura por causa das suas aflições, e poucos dizem que confiam que o seu Criador por fim os
abençoará.
Há muitas imperfeições naturais e morais em nós. Nossos corpos e nossas almas, em todas as
suas faculdades, estão em um estado de imperfeição. O orgulho de toda a glória está
manchado; e é uma vergonha para nós não nos
humilharmos em tudo o que se refere a nós, e
tentarmos nos apresentar a Deus como pessoas que não têm do que ser perdoadas e lavadas. É
certo que no caso dos crentes o Espírito fez uma
grande obra de regeneração e iniciou o processo
de santificação, mas enquanto permanecem no mundo há muitas corrupções que remanescem
na carne, e das quais devem se humilhar,
arrepender, e abandonar (II Crôn 7.14).
146
Quando Deus criou o homem, ele estabeleceu
toda uma linha se submissão à qual já nos referimos anteriormente, de modo que todos
fossem exercitados em humildade. Por isso os
filhos nascem pequenos, menos fortes e capazes
que seus pais e dependentes deles para a sua sobrevivência. Ele poderia ter feito diferente
não criando tal linha de submissão de filhos aos
pais, mas desde Adão e Eva não há quem chegue a este mundo sem ter sido filho de algum casal.
E neste aspecto todos têm então a oportunidade
de serem exercitados em submissão. De igual
modo Ele constituiu o homem como cabeça sobre a sua esposa, de modo a exercitar as
mulheres casadas em submissão e humildade
em seus matrimônios. E isto vale para os que são
governados na sociedade civil por todos aqueles que estão em posição de autoridade em relação
a eles, professores, juízes, policiais, políticos,
enfim há uma grande linha de autoridades que
procedem de Deus exatamente com este principal intuito de nos ensinar a nos
humilharmos, a obedecermos, a exercitarmos o
respeito em relação a elas, e tudo isto conduz
diretamente à submissão ao próprio Deus. Pois aquele que resiste à autoridade resiste a Deus
que a instituiu. Então a autoridade é antes de
tudo instituída para o nosso próprio bem
especialmente neste particular de sermos exercitados por Ele em submissão e humildade.
E como vimos, é somente nos humilhando que
podemos ser exaltados. E esta atitude trata com
147
a raiz do orgulho que entrou na natureza terrena
do homem em razão do pecado. O homem quis
ser igual a Deus pelo caminho da exaltação, mas Deus levará o homem a atingir o propósito de
ser igual a Ele pois o criou para ser à sua imagem
e semelhança, exatamente pelo caminho que
vai em sentido contrário, a saber, o da humilhação.
E uma das maiores provas da nossa humilhação é exatamente a de se submeter, de se render à
vontade de Deus debaixo das nossas aflições,
porque é exatamente nestas horas que o velho homem mais se levanta em seu orgulho e
procura resistir com todas as suas forças
procurando o modo de se livrar das coisas que o
afligem sem contar com o fato de que é somente se submetendo ao Senhor que é possível ser
livrado das aflições que Ele mesmo determinou
para nos provar. E o velho homem jamais se
submeterá a isto, e é por isso que foi crucificado juntamente com Cristo. Ele recebeu a sentença
de morte para que não tenha mais o pleno
domínio da nossa vontade. Ele morreu e
devemos nos despojar dele, e vivermos como novas criaturas, nascidos de novo pelo poder do
Espírito, que têm o poder da vida indissolúvel e
eterna, e não a morte do velho homem. E assim,
em Sua infinita sabedoria, Deus não removeu de modo absoluto a ação do velho homem
enquanto permanecemos neste mundo, apesar
da certeza do pleno cumprimento da sentença
148
de morte que ele recebeu na cruz, tendo sido,
aos olhos de Deus, crucificado lá juntamente com Cristo, de modo que pudéssemos conhecer
a total corrupção da sua natureza terrena e que
de fato deve ser mortificado pela cruz, de modo que em vez da carne pecaminosa, da antiga
natureza, sejamos guiados pelo Espírito, pela
nova criatura, que tem a marca da santidade de
Deus.
Assim, tentar se levantar do pó quando Deus
está nos submetendo à humilhação é provocar a Deus para nos quebrar em pedaços, porque a
mão de Deus é poderosa. Como homens
contenderão com Deus? São mais fortes do que
Ele? Como um menino não se submeterá à disciplina de seu pai?
Como Paulo diz em I Cor 10.22: “Ou provocaremos a zelos o Senhor? Somos,
porventura, mais fortes do que ele?”.
Todo pecado que há no mundo é consequência do pecado original de Adão. E assim não há quem não peque, e todos devem se humilhar
diante do Deus perfeitamente santo e justo. Não
se permitir ser humilhado debaixo desta nossa
condição de pecadores é se revoltar contra a mão poderosa de Deus, e tentar nos
justificarmos perante ele com nossa justiça
própria que é para Ele como trapo de imundície,
149
é o mesmo que perder todo o senso do nosso
dever e vergonha.
Daí entendemos o que está em Lam Jer 3.26-33: “Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a
salvação do Senhor. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Que se assente
ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o
pôs sobre ele. Ponha a sua boca no pó; talvez
ainda haja esperança. Dê a sua face ao que o fere; farte-se de afronta. Pois o Senhor não rejeitará
para sempre. Embora entristeça a alguém,
contudo terá compaixão segundo a grandeza da
sua misericórdia. Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.”.
Fartar-se de afronta. Dar a face a quem o fere. Este o caminho designado pelo Espírito pela
boca do profeta. É assim que se alcança a
salvação e a possibilidade de esperança. Colocar a boca no pó e clamar pelo livramento de Deus.
E não se engrandecer, não se exaltar.
O orgulho se alimenta da dignidade e excelência pessoal pela qual imaginamos que superamos
outros. E portanto, isto não pode prevalecer diante de Deus. O fariseu agradecia a Deus por
não ser como os demais homens, mas o Senhor
diz que não há um justo sequer diante dEle.
150
E se Jesus lavou os pés de pecadores, Ele nos deu um exemplo para ser imitado, e se ele lavou seus
pés, você deve também lavar os pés dos outros.
Então permita que as circunstâncias humilhantes tornem o seu espírito humilde, e assim você será útil nas mãos de Deus e será
poupado de muitas aflições, porque elas têm em
sua maioria exatamente este grande propósito
de nos humilhar. E se somos achados humildes, então é nesta condição que o Senhor nos
exaltará pois não haverá o risco de que sejamos
vencidos pelo orgulho.
Não podemos esquecer que todo pecado, toda transgressão da lei e da vontade de Deus é uma luta direta contra Ele. E isto consiste
basicamente na falta de submissão a Deus. A
carne não está sujeita à lei de Deus e nem
mesmo pode estar. Por isso ela é sujeitada à crucificação juntamente com Cristo, ou à
condenação eterna. O pecado ou é tratado ou é
condenado. Deus leva o velho homem à cruz,
mas ele se debate e luta para não ser crucificado juntamente com Cristo. Se deixado à vontade,
sem aflições, o velho homem prevalece e
governa absoluto, mas a aflição o abaterá e
enfraquecerá, e a mente buscará auxílio em Cristo, e finalmente se renderá e se submeterá
ao trabalho da graça, escolhendo fazer a vontade
de Deus e não a própria vontade.
151
Mas não é uma coisa fácil humilhar os espíritos dos homens. Não é uma coisa pequena, é um
trabalho que não é feito em pouco tempo. Há
necessidade de um cavar profundamente para
uma humilhação completa no trabalho de conversão. Muitos golpes devem ser dados à raiz
da árvore do orgulho natural do coração antes
que ela caia, e muitas vezes parece ter caído,
mas ainda está de pé. E até mesmo quando o golpe na raiz é produzido nos crentes, o orgulho
brota novamente, de forma que demandará a
repetição do trabalho de humilhação.
Paulo resistiu por um tempo ao espinho na carne e queria ser livrado diretamente dele sem entender que a forma de se alcançar isto não
seria lutando contra o próprio espinho, mas
submetendo-se à graça de Jesus, e tirando
proveito da fraqueza produzida pela aflição, humilhando-se diante do Senhor, porque Jesus
lhe disse que o seu poder se aperfeiçoa na nossa
fraqueza, e esta fraqueza é gerada pelas aflições
que têm a finalidade de nos humilhar.
Em sua grande aflição Jó se rendeu no fim, depois de muito argumentar. Quando
confrontado por Deus ele disse que se
arrependia no pó e na cinza. E ele fez isto quando
estava com o seu corpo enfermo e o espírito quebrado. Foi aí que o Senhor virou o seu
cativeiro e o exaltou dando-lhe o dobro de tudo
o que possuía dantes, como prova desta
152
exaltação em face da sua humilhação. A chave
da sua cura e libertação estava portanto exatamente na sua humilhação diante de Deus.
Deus não traz nenhuma provação desnecessária a nós, não nos aflige mais do que o necessário,
porque ele não aflige de boa vontade os filhos
dos homens, e ele os contrista com várias provações caso necessário, conforme diz o
apóstolo Pedro.
Quando o profeta Elias foi levado para pronunciar juízos contra o rei Acabe, este se
humilhou diante de Deus, e apesar de toda a sua malignidade e do juízo que tinha sido
estabelecido sobre ele, o Senhor suspendeu o
juízo em face daquela humilhação inesperada
pelo próprio profeta, e mandou registrar o incidente na Bíblia para nos ensinar a eficácia
que há para suspender juízos e aflições o ato de
se humilhar sob a potente mão de Deus.
“Sucedeu, pois, que Acabe, ouvindo estas palavras, rasgou as suas vestes, cobriu de saco a sua carne, e jejuou; e jazia em saco, e andava
humildemente. Então veio a palavra do Senhor a
Elias, o tesbita, dizendo: Não viste que Acabe se
humilha perante mim? Por isso, porquanto se humilha perante mim, não trarei o mal
enquanto ele viver, mas nos dias de seu filho
trarei o mal sobre a sua casa.” (I Rs 21.27-29).
153
A salvação em Cristo é em si mesma uma chamada à humilhação porque Deus rejeita
todos os nossos méritos no assunto da
redenção, justificação e regeneração e nos
ordena a confiar somente nos méritos de Cristo. Isto é, o reconhecimento de nossa incapacidade
e da Sua suficiência e soberania. O
arrependimento que é necessário à salvação,
não pode existir portanto sem a humildade. A humildade é portanto uma valiosa companheira
e útil para todo bom propósito.
E é bom lembrarmos que há sempre uma intercessão no céu por causa das circunstâncias
humilhantes do humilde. Deus se moverá em misericórdia em favor dos que se humilham,
pois receberá deles gratidão, glorificação e
louvor. Deus se compadece dos que estão aflitos
e recorrem a Ele com espírito contrito em busca de auxílio. Em toda a aflição deles Ele é afligido,
e agirá prontamente para que seja também
livrada da Sua própria aflição em face do
sofrimento deles. A aflição que Deus sente não é de desespero mas de compaixão. E Jesus revelou
abundantemente este caráter de Deus em seu
ministério terreno, quando se compadecia dos
necessitados e os socorria. E a intercessão de Cristo é sempre eficaz E é o desejo do Pai e do
Filho levantarem os humildes, mas sempre no
seu devido tempo.
154
As circunstâncias humilhantes ordinariamente são levadas ao ponto extremo de desesperança
antes do levantamento para cima do que se
humilha. A faca estava à garganta de Isaque antes que a voz do anjo fosse ouvida. Paulo se
refere à tribulação que sofreu na Ásia até o
ponto de desesperar da vida. Quando parece que
já não há mais esperança, o Senhor age com Sua misericórdia trazendo-nos livramento.
Outro fim para o qual a Providência aponta neste ato de levar as aflições até o seu ponto extremo
é o de ensinar o crente a confiar somente em
Deus, porque no caminho ele terá visto que todas as tentativas de socorro da parte dos
homens foi em vão, e que somente o Senhor
seria capaz de operar a solução, e isto trará
grande regozijo para o crente e grande gratidão ao Seu Deus, reforçando assim a Sua confiança
na fidelidade do seu Senhor.
Apresentamos a seguir alguns textos bíblicos que servem de base para as afirmações do nosso
texto:
Rom 5.3: “E não somente isso, mas também
gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança,”.
I Cor 13.4: “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se
ensoberbece,”.
155
I Cor 13.7: “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”.
II Cor 7.9: “agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque o fostes para o
arrependimento; pois segundo Deus fostes contristados, para que por nós não sofrêsseis
dano em coisa alguma.”.
I Pe 5.6: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte;”.
Fp 4.14: “Todavia fizestes bem em tomar parte na minha aflição.”.
Apo 1.9: “Eu, João, irmão vosso e companheiro
convosco na aflição, no reino, e na perseverança em Jesus, estava na ilha chamada Patmos por
causa da palavra de Deus e do testemunho de
Jesus.”.
II Cor 1.6: “Mas, se somos atribulados, é para
vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se
opera suportando com paciência as mesmas
aflições que nós também padecemos;”.
Tg 5.10, 11: “Irmãos, tomai como exemplo de sofrimento e paciência os profetas que falaram em nome do Senhor. Eis que chamamos bem-
aventurados os que suportaram aflições.
Ouvistes da paciência de Jó, e vistes o fim que o
156
Senhor lhe deu, porque o Senhor é cheio de
misericórdia e compaixão.”.
I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados,
sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o bem e sois afligidos, o sofreis com paciência,
isso é agradável a Deus.”.
Rom 12.12: “alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração;”.
Fp 3.10: “para conhecê-lo, e o poder da sua ressurreição e a e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me a ele na sua
morte,”.
Cl 1.24: “Agora me regozijo no meio dos meus sofrimentos por vós, e cumpro na minha carne
o que resta das aflições de Cristo, por amor do seu corpo, que é a igreja;”.
II Tim 1.8: “Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que
sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos
sofrimentos do evangelho segundo o poder de
Deus,”.
I Pe 5.1: “Aos anciãos, pois, que há entre vós, rogo eu, que sou ancião com eles e testemunha dos
sofrimentos de Cristo, e participante da glória
que se há de revelar:”.
157
II Tim 1.8: “Portanto não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que
sou prisioneiro seu; antes participa comigo dos
sofrimentos do evangelho segundo o poder de
Deus,”.
II Tim 2.9: “pelo qual sofro a ponto de ser preso como malfeitor; mas a palavra de Deus não está
presa.”.
Hb 2.10: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e por meio de quem
tudo existe, em trazendo muitos filhos à glória,
aperfeiçoasse pelos sofrimentos o autor da salvação deles.”.
Jesus tomou sobre si as nossas enfermidades e sofreu no nosso lugar, para que tivéssemos o
privilégio de sofrer juntamente com Ele por
causa do Seu nome, e não para que fôssemos livres de toda e qualquer aflição neste mundo.
Tanto que Ele afirma que as teremos enquanto
aqui estivermos, mas que devemos ter bom
ânimo enquanto passamos por elas porque assim como Ele foi glorificado e exaltado nos
céus, nós também o haveremos de ser.
Lc 22.28: “Mas vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas provações;”.
158
I Pe 5.9: “ao qual resisti firmes na fé, sabendo que os mesmos sofrimentos estão-se
cumprindo entre os vossos irmãos no mundo.”.
At 5.41: “Retiraram-se pois da presença do sinédrio, regozijando-se de terem sido julgados
dignos de sofrer afronta pelo nome de Jesus.”.
II Tim 3.11: “as minhas perseguições e aflições, quais as que sofri em Antioquia, em Icônio, em Listra; quantas perseguições suportei! e de
todas o Senhor me livrou.”.
II Tim 4.5: “Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista,
cumpre o teu ministério.”.
Hb 12.7: “É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como a filhos; pois qual é o filho a quem o
pai não corrija?”.
I Pe 2.20: “Pois, que glória é essa, se, quando cometeis pecado e sois por isso esbofeteados,
sofreis com paciência? Mas se, quando fazeis o
bem e sois afligidos, o sofreis com paciência, isso é agradável a Deus.”.
I Pe 3.17: “Porque melhor é sofrerdes fazendo o bem, se a vontade de Deus assim o quer, do que
fazendo o mal.”.
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I Pe 4.19: “Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel
Criador, praticando o bem.”.
I Pe 5.10: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de
haverdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, confirmar e fortalecer.”.
Apo 2.3: “e tens perseverança e por amor do meu nome sofreste, e não desfaleceste.”.
I Pe 1.6: “na qual exultais, ainda que agora por um pouco de tempo, sendo necessário, estejais
contristados por várias provações,”.
At 20.19: “servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que pelas ciladas dos judeus me sobrevieram;”.
Tg 1.2: “Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações,”.
Mc 4.17: “mas não têm raiz em si mesmos, antes são de pouca duração; depois, sobrevindo
tribulação ou perseguição por causa da palavra,
logo se escandalizam.”.
Jo 16.33: “Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis
tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o
mundo.”.
160
At 14.22: “confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que
por muitas tribulações nos é necessário entrar
no reino de Deus.”.
At 20.23: “senão o que o Espírito Santo me
testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações,”.
II Cor 1.4: “que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos
consolar os que estiverem em alguma
tribulação, pela consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.”.
II Cor 4.17: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais
abundantemente um eterno peso de glória;”.
Ef 3.13: “Portanto vos peço que não desfaleçais diante das minhas tribulações por vós, as quais são a vossa glória.”.
I Tes 1.6: “E vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, tendo recebido a palavra em muita
tribulação, com gozo do Espírito Santo.”.
I Tes 3.3,4: “para que ninguém seja abalado por estas tribulações; porque vós mesmo sabeis que
para isto fomos destinados; pois, quando estávamos ainda convosco, de antemão vos
declarávamos que havíamos de padecer
tribulações, como sucedeu, e vós o sabeis.”.
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I Tes 3.7: “por isso, irmãos, em toda a nossa necessidade e tribulação, ficamos consolados
acerca de vós, pela vossa fé,”.
Hb 10.33: “pois por um lado fostes feitos espetáculo tanto por vitupérios como por
tribulações, e por outro vos tornastes companheiros dos que assim foram tratados.”.
Apo 2.10: “Não temas o que hás de padecer. Eis que o Diabo está para lançar alguns de vós na
prisão, para que sejais provados; e tereis uma
tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.”.
Apo 2.22: “Eis que a lanço num leito de dores, e numa grande tribulação os que cometem
adultério com ela, se não se arrependerem das
obras dela;”.
Apo 7.14: “Respondi-lhe: Meu Senhor, tu sabes. Disse-me ele: Estes são os que vêm da grande
tribulação, e levaram as suas vestes e as
branquearam no sangue do Cordeiro.”.
Mt 25.44: “Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com
sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?”.
At 20.35: “Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário socorrer os
enfermos, recordando as palavras do Senhor
162
Jesus, porquanto ele mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber.”.
I Cor 11.30: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e enfermos, e muitos que dormem.”.
Gál 4.13: “e vós sabeis que por causa de uma enfermidade da carne vos anunciei o evangelho
a primeira vez,”.
I Tim 5.23: “Não bebas mais água só, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das
tuas frequentes enfermidades.”.
Fp 2.26,27: “porquanto ele tinha saudades de vós todos, e estava angustiado por terdes ouvido que
estivera doente. Pois de fato esteve doente e
quase à morte; mas Deus se compadeceu dele, e não somente dele, mas também de mim, para
que eu não tivesse tristeza sobre tristeza.”.
II Tim 4.20: “Erasto ficou em Corinto; a Trófimo deixei doente em Mileto.”.
Tg 5.14,15: “Está doente algum de vós? Chame os anciãos da igreja, e estes orem sobre ele, ungido-o com óleo em nome do Senhor; e a
oração da fé salvará o doente, e o Senhor o
levantará; e, se houver cometido pecados, ser-
lhe-ão perdoados.”. Por Thomas Bostons (Traduzido e adaptado do
original em inglês, em domínio público por
Silvio Dutra).
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