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Editora PenaluxGuaratinguetá, 2015

EDITORA PENALUX

Rua Marechal Floriano, 39 – CentroGuaratinguetá, SP | CEP: 12500-260

penalux@editorapenalux.com.brwww.editorapenalux.com.br

EDIÇÃO França & Gorj

REVISÃO Jaqueline Barcellos

CAPA E DIAGRAMAÇÃO Ricardo A. O. Paixão

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B242C BARCELLOS, ALVARO, 1961. -

UM CÉU DE TANTOS REMENDOS / ALVARO BARCELLOS. -GUARATINGUETÁ, SP: PENALUX, 2015. 106 P. : 21 CM.

ISBN 978-85-69033-13-4

1. POESIA I. TÍTULO.

CDD B869.1

Índice para catálogo sistemático:

1. Literatura Brasileira

Todos os direitos reservados.A reprodução de qualquer parte desta obra só é permitida

mediante autorização expressa do autor e da Editora Penalux.

Alvaro Barcellos

15

boa noite

Então tá combinado: um coquetel de cápsulasmeia hora antes de deitarque é pra não ficar pensandona morte que nos assombranas carnes expostas em açouguesno perfume de teus cabelosna amante secreta de Bertolt Brecht – que trabalhava até tardenuma estação de trem em Hamburgo.

Meia hora antes pra não pensar nas asas dos abutresno grito dos soldadosno eco das cordilheirasno rosado de teus seiosnos camelos do Saarana corda assassinaem torno de Herzogno compasso do baléno cheiro dessas ruas.

16

Um céu de tantos remendos

Pra não mais pensar na lira dos anjos

no poema que Ricardo Reis

perdeu para um vento

– que o apanhou de surpresa

e o levou para sempre consigo –

nos santos das igrejas

em barcos à deriva

no piano de Villa-Lobos

nos riscos das � orestas e rios.

Pra não mais � car pensando

na solidão dos astronautas

e dos condutores do metrô

na saga dos cavaleiros

no berro dos torturados

nas � autas andinas

nas cenas de Almodóvar

no porto de Gdansk

no teu ronco surpreendente…

combinado então: boa-noite.

Alvaro Barcellos

17

vento e distância

Que vento é esseque me arrastapra outras margens?De onde ele vem em sopros de mil distâncias? – percorre léguas e milhasvarre nuvens e aflições gritos roucos sortilégiosna noite dos continentesem galope sincopadonum semear de temporais…vento que vem lá de longecarregando em seu soprotoda sorte de mazelasareias e calmariaso teu cheiro anunciaçõese a flor dos capinzais…o desprezo a morte os lampejoso balanço que regeangústias rezas suspirosagonia sina – horizontes – e o mistério desse sangue das canções.

18

Um céu de tantos remendos

saudade

Resta essa rede vazia naco de sol no horizonte

e teu olhar chuvoso.Resta essa rede vazia

certo silêncio na casae o teu passo lento.

Resta essa rede vazia o quintal sombrio

e esse cheiro de ausência.Resta essa rede vazia

paredes mofandoe um latido distante.Resta essa rede vazia uma vaga lembrança

e uma página virada…

lá fora um desjardim de não mais florir.

102

Um céu de tantos remendos

outonos

Esses outonos triviais

que despem teu corpoe tiram as vestes

de tua alma reta…

são similaresàquele outono

de que falo agorae que outrora

me criou poeta.

www.alvarobarcellos.comalvarobarcellos.blogspot.com

alvaro.cruz.barcellos@gmail.com

/alvaro.barcellos.1

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