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Furtado e o Brasil

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17/11/2015 Folha de S.Paulo - Roberto Mangabeira Unger: Furtado e futuro - 23/11/2004

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2311200407.htm#_=_ 1/2

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São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2004

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ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Furtado e futuroA melhor homenagem que se pode prestar a Celso Furtado édescrever a obra que nós, os sobreviventes, temos pela frentena reconstrução do pensamento brasileiro. Cada um doselementos dessa missão reconstrutora -seus imperativos eseus paradoxos, suas luzes e suas sombras- está prefiguradonas idéias e na ação desse grande homem.A preliminar é identificação com o Brasil. Na maioria dospaíses modernos, a idéia da nação foi mais projeto dosquadros dirigentes do que iniciativa das massas. No Brasil -que, segundo advertiu-me Celso Furtado, surgiu menoscomo nação do que como acampamento- inverteu-se essatendência. As elites brasileiras pouco se identificaram com anação; preferiram imitar seletivamente e obedecer semrebuços os poderes da época. Foi a gente comum do Brasilque começou a se identificar com a idéia da nação e com ouso do poder do Estado para construí-la. A classe média -opivô do sistema- costumou balancear entre dizer sim e dizernão a uma visão do Brasil. Quem quis dizer sim sempre tevede procurar como pensar o país dentro do mundo e o mundoa partir do país. E sempre se debateu com a insuficiência dasidéias disponíveis.A tentação dos que não se querem render aos rendidos temsido apelar para um "caminho brasileiro", a ser demarcadopor ideário nativista. A verdade, porém, é que não se resisteàs idéias que irradiam das potências dominantes de umaépoca sem ter idéias pelos menos tão gerais e profundasquanto elas; só uma heresia universalizante se contrapõe comeficácia a uma ortodoxia universal. Haja ânimo em paíscomo o nosso, sem os instrumentos de uma universidadeconsolidada, para estudar e repensar o mundo e para brigarcom as concepções reinantes no pensamento político,econômico e social dos países que nos acostumamos aseguir. Não há, entretanto, alternativa. O trabalho é esse.Há três descaminhos a evitar em sua execução. O primeirodescaminho é sentimentalizar nossas especificidadesculturais, usando-as para encobrir as realidades cruas denossa sociedade. O segundo é mobilizar planilhassalvacionistas, quase sempre importadas, a serem impostasao país por suposta vanguarda. O terceiro é refugiar-nos emdeterminismos que expliquem por que as coisas têm de sercomo são: os velhos determinismos marxistas ou os novosdeterminismos das ciências sociais tal qual cultivadas nos

17/11/2015 Folha de S.Paulo - Roberto Mangabeira Unger: Furtado e futuro - 23/11/2004

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2311200407.htm#_=_ 2/2

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Estados Unidos. A história do pensamento brasileiro é ahistória desses três descaminhos e da tentativa frustrada desuperá-los. Não se escapa deles sem guerra de idéias,conduzida sem esmorecimento em todas as frentes ao mesmotempo. Não se escapa deles sem maneira de pensar queaprofunde o entendimento da realidade ampliando aimaginação do possível.Antecipo a perplexidade dos poucos leitores dessas linhas. Aeles parecerei eu como jogador de cartas que, ao perder cadarodada do jogo, supõe melhorar sua chance de ganhar arodada seguinte aumentando sua aposta com cacife feito sóde notas promissórias por ele mesmo assinadas. Minhadefesa é que as tarefas não se apresentam na medida denossas conveniências e capacidades. Somos nós que temosde nos exceder, de nos sacudir, de nos reinventar atéconseguirmos estar à altura delas.

Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nesta coluna.www.law.harvard.edu/unger

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