lopes, paulo césar colmenero. integração sul-americana
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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA
Paulo César Colmenero Lopes
INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA:
situação atual e perspectivas
Rio de Janeiro 2011
PAULO CÉSAR COLMENERO LOPES
INTEGRAÇÃO SUL-AMERICANA:
situação atual e perspectivas
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.
Orientador: Coronel R1 José Teixeira Louzada
Rio de Janeiro
2011
C2011 ESG
Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita à referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _______________________________ PAULO CÉSAR COLMENERO LOPES
Biblioteca General Cordeiro de Farias
LOPES, Paulo César Colmenero Lopes
Integração Sul-Americana: situação atual e perspectivas / CMG Paulo César Colmenero Lopes - Rio de Janeiro : ESG, 2011.
43 f.
Orientador: Coronel R1 José Teixeira Louzada Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.
1. Processo de integração. 2. Blocos Regionais. 3. UNASUL. 4. Conjuntura Sul-Americana. I. Integração Sul-Americana: situação atual e perspectivas.
EPÍGRAFE
“O que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê.”
Platão
RESUMO
O Trabalho está dividido em seis capítulos, incluindo uma conclusão (capítulo 6), e
trazendo as considerações iniciais na introdução (capítulo 1).
O segundo capítulo apresenta o conceito de integração regional, a classificação dos
principais tipos de blocos regionais e os blocos existentes na América do Sul com
seus respectivos instrumentos de integração.
O capítulo 3 aborda de forma específica a União de Nações Sul-Americanas
(UNASUL) e, ao compará-lo com os tratados de integração firmados anteriormente,
enfatiza as inovações que esse acordo incorpora e os pontos, por ele elencados,
como objetivos da integração.
O próximo capítulo analisa a atual conjuntura sul-americana, ressaltando os
aspectos positivos e negativos existentes que poderão influenciar, de forma direta ou
indireta, no sucesso da UNASUL como instrumento de integração continental.
O quinto capítulo apresenta algumas propostas de ações estratégicas, a serem
adotadas pelo Brasil, para fortalecer o processo de integração sul-americana em
curso, por intermédio da UNASUL.
Palavras-chave: América do Sul. Integração. UNASUL
RESUMEN
El trabajo se divide em seis capítulos, incluyendo una conclusión (capítulo 6), y las
consideraciones iniciales en la introducción (capítulo 1).
El segundo capítulo introduce el concepto de la integración regional, la clasificación
de los principales tipos de bloques regionales y los bloques que hay en América
del Sur y sus respectivos instrumentos de integración.
El Capítulo 3 trata especificamente de la Unión de Naciones Suramericanas
(UNASUR) y lo compara con los tratados de integración subscritos con anterioridad,
hace hincapié en las novedades que incorpora este acuerdo y los puntos que figuran
como objetivos de la integración.
El siguiente capítulo examina la situación actual en América del Sur, haciendo
hincapié en los aspectos positivos y negativos existentes que pueden influir, directa
o indirectamente, en el éxito de UNASUR como instrumento de integración
continental.
El quinto capítulo presenta algunas propuestas de acciones estratégicas a ser
tomadas por Brasil para fortalecer el processo de integración sudamericana en
marcha, a través de la UNASUR.
Palabras-clave: América del Sur. Integración. UNASUR
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8
2 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO E OS BLOCOS REGIONAIS ............... 10 2.1 O CONCEITO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL ............................................ 10 2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS “BLOCOS REGIONAIS” ................... 11 2.2.1 Zona de Livre Comércio ............................................................................ 11 2.2.2 União Aduaneira ........................................................................................ 12 2.2.3 Mercado Comum ....................................................................................... 12 2.2.4 União Econômica e Monetária .................................................................. 13 2.3 OS BLOCOS REGIONAIS DENTRO DA AMÉRICA DO SUL ...................... 13 2.3.1 O MERCOSUL ............................................................................................ 13 2.3.2 A Comunidade Andina de Nações............................................................ 15 2.3.3 A Organização do Tratado de Cooperação Amazônia ............................ 17 2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS.................................................................... 19 3 A UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS ........................................... 20 3.1 A CONSTITUIÇÃO DO BLOCO .................................................................. 20 3.2 A ESTRUTURA VIGENTE ........................................................................... 23 3.3 OBJETIVOS DA UNASUL ........................................................................... 24 3.4 OS AVANÇOS DA UNASUL ....................................................................... 26 3.4.1 Instrumento para a solução pacífica de controvérsias .......................... 26 3.4.2 Representatividade internacional ............................................................ 27 3.4.3 Ações dos Conselhos ............................................................................... 28 3.5 AS INOVAÇÕES INCORPORADAS PELA UNASUL .................................. 28 3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS.................................................................... 30 4 A ATUAL CONJUNTURA SUL-AMERICANA ............................................ 32 5 AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA O FORTALECIMENTO DA UNASUL .... 37 5.1 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER POLÍTICO .................................. 38 5.2 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER ECONÔMICO............................. 38 5.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER PSICOSSOCIAL ........................ 39 5.4 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER MILITAR ..................................... 40 5.5 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO 40 6 CONCLUSÃO ............................................................................................. 41 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 43
8
1 INTRODUÇÃO
Inicialmente, a integração sul-americana aparece como uma proposta embutida
nas tentativas de integração latino-americanas que ocorrem há mais de um século,
tendo como pioneiro Simon Bolívar, que em 1814, quando estava exilado na
Jamaica, redigiu uma carta propondo uma aliança entre os povos americanos para
se alcançar uma América independente e republicana.
A primeira vez que se contemplou, exclusivamente, a integração dos países da
América do Sul, por inteiro, ocorreu quando o Governo do Brasil lançou, em 1994, a
ideia de se criar uma Área de Livre Comércio Sul-Americana (ALCSA), que
congregasse os países do cenário americano meridional. Entretanto, podemos
classificar como o marco da iniciativa de integração da América do Sul o ano 2000,
quando, a convite do Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, realiza-se
em Brasília, nos dias 31 de agosto e 1º de setembro daquele ano, pela primeira vez
na história do continente, a Reunião de Presidentes da América do Sul.
Hoje, o continente sul-americano conforma-se em três espaços geopolíticos,
com seus respectivos blocos geoeconômicos: Cone Sul – Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL), formado por Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela
(Estado Parte em processo de adesão); Região dos Andes – Comunidade Andina de
Nações (CAN), formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru; e o Arco Amazônico
– Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), formada por Brasil,
Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela (Rego, 2003,
p.15).
Levando-se em consideração que a América do Sul possui uma área de
17.819.100 km², maior que a de qualquer outro país do mundo, que nesse espaço
vivem cerca de 3801 milhões de habitantes e existem grandes reservas de recursos
naturais como minérios, águas, terras cultiváveis e energia, pode-se afirmar que
existe uma boa probabilidade do continente se tornar uma das mais importantes
áreas econômicas desse mundo globalizado onde se consomem grandes
quantidades de alimentos, matérias-primas e energia. Dessa forma, a união dos
países sul-americanos torna-se fundamental para o fortalecimento dessa área
geoestratégica. Essa união poderá ser obtida mais facilmente por intermédio de um
1 Fonte: www.wikipedia.org
9
instrumento que consiga unir os blocos geoeconômicos já existentes, intensificando
não somente a integração econômica, mas também a social e a política.
Ao saudar a criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL), no
discurso de abertura da reunião de cúpula, realizada em Brasília, em 23 de maio de
2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o novo organismo realiza
um sonho maior que o de Simon Bolívar e que a América do Sul ganhava estatura
de ator global e um novo papel geopolítico.
Durante a Conferência de abertura do VI Curso para Diplomatas Sul-
Americanos, que ocorreu em abril de 2009, o então Ministro de Estado das Relações
Exteriores do Brasil, Celso Amorim, colocou que a UNASUL é um processo
extremamente vivo e importante, que permite à região se coordenar e se apresentar
diante do mundo.
Segundo Saraiva (2010)2, a UNASUL pode ser considerada uma iniciativa com
um perfil diferente das outras, que acomoda diferenças e que pode dar uma
contribuição importante para a consolidação de uma governança regional.
Um processo de integração entre países deve estar baseado em interesses e
objetivos comuns e deve ser realizado em um ambiente de cooperação onde devem
ser exploradas plenamente as sinergias e oportunidades potenciais. Observando
esse condicionante e os aspectos anteriormente elencados, neste trabalho será
analisado se a UNASUL poderá ser o instrumento eficaz para efetivar a integração
do continente, situação desejada pelo Brasil conforme estabelecido no artigo 4º de
sua própria Constituição que descreve os princípios que regem as relações
internacionais do país, dentre eles a cooperação entre os povos e, em seu parágrafo
único, a busca pela integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina.
2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade do Estado
do Rio de Janeiro
10
2 O PROCESSO DE INTEGRAÇÃO E OS BLOCOS REGIONAIS
2.1 O CONCEITO DE INTEGRAÇÃO REGIONAL
Segundo o Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, podemos
definir integração, sob um enfoque social, como sendo o ajustamento recíproco dos
membros de um grupo e sua identificação com os interesses e valores do grupo.
Fazendo uma adaptação dessa definição, podemos caracterizar, de forma simples, a
integração regional como sendo o ajustamento recíproco entre Estados vizinhos de
forma a se formar um grupo coeso que privilegie os interesses e valores da região.
Nas literaturas sobre o assunto existem várias abordagens para se conceituar
Integração Regional, sendo a mais comum a de viés econômico. Sob esse ponto de
vista, as relações comerciais entre economias nacionais independentes, já são um
sinal de integração (Balassa, 1973, p.2). A Integração Regional, quando percebida
como integração econômica regional, busca a diminuição progressiva das barreiras
comerciais, mantidas entre os Estados participantes, até a eliminação das mesmas,
de forma a propiciar um intercâmbio que fortaleça economicamente a região, criando
condições mais favoráveis para o relacionamento com o resto do mundo.
O processo de integração econômica pode ser visualizado como sendo um
conjunto de medidas de caráter econômico e comercial adotadas para promover um
tratamento preferencial que, em um primeiro momento, estabelece uma
aproximação entre as economias dos Estados participantes e, posteriormente,
alcança a união dessas economias.
Apesar da grande associação feita entre integração regional e aspectos
econômicos e comerciais, não podemos visualizá-la de forma restrita. Existem
abordagens de caráter mais amplo. A Integração Regional, ou simplesmente
regionalismo, pode ser definida como sendo um conjunto de políticas, estabelecidas
com a intenção de promover o surgimento de uma sólida unidade regional, a qual,
além de desempenhar um papel definidor nas relações entre os Estados dessa
região e o resto do mundo, constitui a base organizativa para políticas internas da
região em diversos temas. (Hurrell, 1993, p.100).
O Processo de integração regional acarreta a criação de novas formas de
governança de escopo regional. As questões políticas, sociais, culturais, econômicas
e comerciais, dentre outras, estão relacionadas com esse processo, sendo
11
necessário, para se compreender o tipo de bloco regional formado pelos países,
conhecer sua rede de interdependências e os objetivos comuns.
Pode-se entender por “bloco regional” o grupo de países vinculados pela
proximidade geográfica e por acordos intergovernamentais. Entretanto, surge, mais
uma vez, uma visão economicista que usa esse termo para significar um grupo de
caráter comercial resultado de um projeto de integração, passando a denominá-lo
como “bloco comercial”.
2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS “BLOCOS REGIONAIS”
As formações de blocos regionais têm sido a mais viva expressão do
processo de globalização3 atualmente em curso.
Tomando como base a visão econômica e comercial, os blocos regionais são
caracterizados pelos tipos de acordos econômicos firmados entre os países
membros e, nesse sentido, podemos classificá-los da seguinte forma:
2.2.1 Zona de Livre Comércio
Formada por um grupo de países que firmam um tratado econômico que visa
à eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias que incidem sobre a circulação
de mercadorias entre eles. Dessa forma os produtos fabricados nesses países
podem ser comprados ou vendidos pelos membros do grupo sem a aplicação de
impostos e sem limites de quantidades. Esse tratado diz respeito somente à área
comercial e não interfere nos acordos que possam ser firmados entre os países
membros e países não pertencentes ao bloco. Seu principal objetivo é incentivar o
comércio entre os países participantes de forma a aumentar a eficiência da
produção do bloco. Como um bom exemplo, podemos citar o bloco regional do North
American Free Trade Agreement (NAFTA)4.
3 O processo de Globalização está relacionado com a forma como os países interagem, aproximando
pessoas e interligando o mundo, considerando os aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos (Wikipédia). 4 É um tratado envolvendo Canadá, México e Estados Unidos da América, que entrou em vigor em 1º
de janeiro de 1994, numa atmosfera de livre comércio, com custo reduzido para troca de mercadorias entre os três países (Wikipédia).
12
2.2.2 União Aduaneira
Esse bloco é formado por um grupo de países que assumem compromissos
que vão além da eliminação das barreiras tarifárias e não tarifárias que incidem
sobre a circulação de mercadorias entre eles. No tratado firmado fica também
estabelecida uma Tarifa Externa Comum (TEC) para produtos importados de países
de fora do bloco. Nesse acordo já se percebe a interferência nas relações
comerciais dos países membros com os demais países de fora do bloco, pois não se
pode admitir que um país membro assine um tratado econômico, com um país não
integrante do bloco, que estabeleça a eliminação de restrições comerciais entre eles.
Seu principal objetivo é captar investimentos produtivos para o bloco valendo-se do
mercado consumidor proveniente da regra de livre comércio e da proteção
alfandegária existente, ampliando a eficiência econômica do bloco e gerando
relações mais estreitas entre os países componentes. Podemos citar como exemplo
o MERCOSUL com todas as suas especificidades que serão citadas mais adiante no
trabalho.
2.2.3 Mercado Comum
Esse tipo de tratado, que caracteriza outro tipo de bloco regional, transcende
a esfera comercial atuando em outras áreas como a financeira, a educacional, a
trabalhista, a ambiental dentre outras. Isso se deve ao fato de, além de ser
obedecido o livre intercâmbio de mercadorias e a adoção de uma tarifa aduaneira
comum, estar prevista a livre circulação de trabalhadores, serviços e capitais pelas
fronteiras dos países membros o que exige um alinhamento das legislações estatais.
Seu objetivo é incrementar o poder do mercado regional de forma a permitir que as
instituições comerciais e produtivas, que operam no interior do bloco instaladas nos
países membros, consigam competir no mercado globalizado. Essa é a explicação
para o aparecimento de diversos blocos regionais em virtude do fortalecimento do
processo de globalização. A União Europeia (UE)5 é um exemplo de Mercado
Comum.
5 É uma união supranacional econômica e política formada por 27 países europeus, estabelecida
após a assinatura do Tratado de Maastricht, em 7 de fevereiro de 1992.
13
2.2.4 União Econômica e Monetária
Para esse tipo de bloco regional acrescem-se aos acordos firmados em um
Mercado Comum a existência de uma moeda única e um Banco Central único para
todos os países membros. Para que realmente esse tipo de tratado seja efetivo é
necessário que os países que compõem o bloco consigam manter suas inflações,
déficits públicos e taxas de juros em níveis toleráveis de forma a ser possível uma
harmonização orçamental. A Zona Euro, da União Europeia, é o que se aproxima,
como exemplo, desse tipo de bloco e o Pacto de Estabilidade e Crescimento6 o
instrumento de harmonização orçamental.
2.3 OS BLOCOS REGIONAIS DENTRO DA AMÉRICA DO SUL
2.3.1 O MERCOSUL
Dentro do espaço geopolítico denominado como Cone Sul, temos o bloco do
MERCOSUL.
O MERCOSUL surge de uma iniciativa do Brasil e da Argentina. Ao se
desprenderem do velho sentimento de desconfiança e de competição e em pleno
processo de democratização, os países, que não viviam uma boa situação
econômica, precisavam de investimentos e possuíam grandes dívidas externas,
percebem a necessidade de cooperarem entre si para conseguirem uma solução
para problemas similares. É assim que em 30 de novembro de 1985 é assinada a
Declaração de Foz do Iguaçu que foi precedida de diversas reuniões, entre os
governos dos dois países, com a intenção de se construir um acordo, a fim de
promover o desenvolvimento econômico de ambos. Os entendimentos prosseguem
até que em 1990, Brasil e Argentina assinam o Tratado de Buenos Aires para a
efetivação de uma integração econômica entre os dois países. Logo em seguida, em
1991, complementando o Tratado de Buenos Aires, é assinado o Tratado de
Assunção, que já conta com a presença do Uruguai e do Paraguai, e constitui o
MERCOSUL.
6 O Pacto de Estabilidade e Crescimento é um acordo entre os países da UE onde aqueles que fazem
parte da área do Euro devem apresentar regularmente programas de estabilidade, respeitar os objetivos macroeconómicos contidos nesses programas e evitar défices públicos superiores a 3% do PIB, bem como valores da dívida pública superiores a 60% do PIB.
14
Entretanto é somente em dezembro de 1994 que, com a assinatura do
Protocolo de Ouro Preto, fica estabelecida a estrutura institucional do MERCOSUL
e, assim, ele ganha um personalidade jurídica e passa a ser reconhecido,
internacionalmente, como uma Organização, o que lhe permite, como bloco, interagir
com outros blocos, países e organismos internacionais.
O MERCOSUL tem como objetivo principal a integração dos Estados Partes
por meio da livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos, do
estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum, da adoção de uma política
comercial comum, da coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais, e da
harmonização de legislações nas áreas pertinentes. Logo pode se notar que a
intenção é formar um bloco regional que alcance as características de um Mercado
Comum.
Já a partir dos primeiros anos de vigência do MERCOSUL é percebido um
incremento qualitativo nas relações comerciais e econômicas entre os membros do
Grupo.
O sucesso inicial do MERCOSUL atrai o interesse de novos atores e começa
então a sua expansão. Gradativamente, outros países da América do Sul, por
intermédio de Acordos de Complementação Econômica7, vão aderindo ao Bloco
como Estados associados – Bolívia (1996), Chile (1996), Peru (2003), Colômbia
(2004) e Equador (2004) – e por intermédio de outros instrumentos como, por
exemplo, o Protocolo de Olivos8, a organização vai sendo aprimorada,
principalmente com a criação de novos foros.
Com relação ao seu status econômico, desde 1995 assume formalmente um
perfil de União Aduaneira mesmo tendo sido atendidos apenas parcialmente alguns
requisitos necessários que caracterizam esse tipo de acordo econômico. Essa
situação é uma fase intermediária na busca de se alcançar o Mercado Comum
idealizado.
Em 04 de julho de 2006 é assinado o protocolo de adesão da República
Bolivariana da Venezuela ao MERCOSUL. Atualmente, a inclusão da Venezuela no
7 Acordos bilaterais firmados entre o MERCOSUL e cada país associado. Nesses acordos se
estabelece um cronograma para a criação de uma zona de livre-comércio com os países do MERCOSUL e uma gradual redução de tarifas entre o MERCOSUL e os países firmantes (Wikipédia). 8 O Protocolo de Olivos é um protocolo assinado em 2002, pelos membros do MERCOSUL, com o
objetivo de solucionar controvérsias e de minimizar as suas diferenças. Criou-se, através desse protocolo, o Tribunal Permanente de Revisão (TPR), com o fim de controlar a legalidade das decisões arbitrais.
15
bloco depende apenas do parlamento paraguaio, já que os congressos dos outros
três países se posicionaram a favor do protocolo.
Embora o MERCOSUL possua dimensões econômicas, políticas e sociais, o
bloco vem sendo conduzido, pelos governos, como um projeto de integração quase
que exclusivamente comercial e, nesse sentido, as dificuldades para o crescimento
do bloco são inúmeras.
Importantes crises internacionais atingiram de forma variada os países da
região, pressionando os governos a buscarem soluções individuais que afetaram os
esforços de integração e aprofundaram os problemas internos. Cada país encontrou
seu caminho de forma individual, não negociada, e nem sempre compatível com os
propósitos de promover uma convergência entre as quatro economias.
O MERCOSUL considerado inicialmente como um instrumento que
possibilitaria um desenvolvimento econômico e social dos países membros e a
efetivação de uma integração da região ainda está longe de alcançar suas metas.
Podemos citar a eliminação de diversas barreiras comerciais ainda existentes entre
os países integrantes do bloco, a lenta recuperação dos dois mais importantes
membros do bloco (Brasil e Argentina) após as recentes crises econômicas, a
insatisfação de membros menores como Uruguai e Paraguai e a indefinição da
adesão da Venezuela ao bloco, como os maiores problemas a serem vencidos na
atualidade para que o MERCOSUL continue a evoluir.
2.3.2 A Comunidade Andina de Nações
Com o nome de Pacto Andino, este bloco econômico sul-americano é criado
em 1969, durante o Acordo de Cartagena, com o objetivo de aumentar a integração
comercial, política e econômica entre seus países-membros. Inicialmente o acordo é
firmado entre os seguintes países: Bolívia, Colômbia, Chile, Equador e Peru.
Posteriormente, em 1973, a Venezuela adere ao acordo.
Após sete anos de vigência, em outubro de 1976, o Chile retirou-se do bloco
alegando incompatibilidades econômicas.
Durante os primeiros dez anos de existência foram formados os principais
órgãos e instituições necessárias à condução das atividades do bloco (Corte Andina
de Justiça, Parlamento Andino e o Conselho Andino de Ministros das Relações) com
exceção do Conselho Presidencial Andino que foi criado em 1990.
16
A política adotada pelo bloco na primeira década de sua existência seguia o
modelo de substituição de importações, onde a indústria interna dos membros era
protegida por altas tarifas impostas aos produtos provenientes do exterior. A crise
dos anos 80 acaba com o modelo econômico vigente e o processo de integração do
bloco não avança.
A partir do final da década de 1980 e no início dos anos 90 o bloco troca o
modelo de desenvolvimento fechado por um modelo mais flexível que é o adotado
até os dias de hoje. A questão do comércio torna-se prioridade, os países membros
eliminam as tarifas entre si e formam uma área de livre comércio que alavanca as
negociações dentro do bloco criando milhares de empregos.
Em 1997, os presidentes dos países membros decidiram, através do
Protocolo de Trujillo, realizar reformas no Acordo de Cartagena, a fim de se adaptar
às mudanças no cenário internacional. É criada a Comunidade Andina que substitui
o Pacto Andino.
Em 2000 começam as tratativas entre os Presidentes dos países sul-
americanos para buscar implementar uma área de livre comércio entre a CAN e o
MERCOSUL, objetivo que está claro dentro das aspirações da UNASUL que será
abordada posteriormente.
Em abril de 2006, o presidente Hugo Chávez, anuncia a saída da Venezuela
da Comunidade Andina, argumentando que os Tratados de Livre Comércio,
assinados pela Colômbia e Peru com os Estados Unidos, causaram dano irreparável
às instituições andinas.
Em setembro de 2006 o Chile é reincorporado à CAN como membro
associado.
Nesses últimos dez anos o modelo de desenvolvimento adotado pela CAN
permitiu o crescimento do comércio, mas não conseguiu resolver os problemas da
pobreza, da desigualdade e da exclusão social. Percebendo esse problema, em
2007, os presidentes dos países membros firmam um acordo para continuar a
promover a integração do bloco, porém com um enfoque mais equilibrado entre os
aspectos econômicos e comerciais e os aspectos sociais.
17
Em 2010 o Conselho Andino de Ministros das Relações Exteriores9 junto com
a Comissão da Comunidade Andina10, aprovam os princípios orientadores que
devem guiar o processo de integração andino e uma agenda estratégica com 12
assuntos os quais os países membros estão dispostos a, juntos, trabalharem para
um avanço conjunto.
Atualmente, a CAN vive um dilema onde em pratos opostos da balança de
interesses estão o incentivo à integração regional e a adoção de Acordos Bilaterais
(Tratados de Livre Comércio) hoje existentes entre a maioria dos países membros
(Peru, Colômbia e Equador) e os grandes mercados (Estados Unidos e a União
Europeia).
A história da Comunidade Andina tem-se caracterizado por avanços e
retrocessos como com qualquer outro grupo de integração. Esses retrocessos
muitas vezes foram ocasionados por uma visão meramente econômica do processo
fundamentada em aspectos unicamente comerciais.
2.3.3 A Organização do Tratado de Cooperação Amazônia
A Amazônia tem sido foco de tensões devido a pressões e interesses
internacionais sobre os países da região, fundamentado nas questões dos
problemas indígenas e dos direitos humanos, na preocupação da proteção do meio
ambiente e no incremento da ocorrência de ilícitos transnacionais.
Em julho de 1978 era assinado, por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,
Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA),
instrumento jurídico que reconhece a natureza transfronteriça da Amazônia. Esse
tratado reafirma a soberania dos países amazônicos e incentiva, institucionaliza e
orienta o processo de cooperação regional entre os mesmos. Tem como objetivo
central, a promoção do desenvolvimento harmônico da Amazônia, e a incorporação
de seus territórios às respectivas economias nacionais, o que é fundamental para a
manutenção do equilíbrio entre crescimento econômico e preservação do meio
ambiente. Para alcançar esse objetivo estão previstas as seguintes ações por parte
9 Órgão de direção política, composto pelos ministros de relações exteriores dos países membros,
responsável por garantir a realização dos objetivos do processo de integração sub-regional e formular e executar a política externa da Comunidade Andina. 10
Órgão Normativo composto por um representante plenipotenciário de cada um dos países membros.
18
dos países membros: o incremento da pesquisa científica e tecnológica; o
intercâmbio de informações; a utilização racional dos recursos naturais; a liberdade
de navegação; a preservação do patrimônio cultural; os cuidados com a saúde; a
criação de centros de pesquisa; o estabelecimento de uma adequada infraestrutura
de transportes e comunicações; e o incremento do turismo e do comércio fronteiriço.
Os representantes dos Países Membros firmaram no dia 14 de dezembro de
1998, na cidade de Caracas, Venezuela, o Protocolo de Emenda ao TCA que
estabelece a criação da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)
e a implantação de sua Secretaria Permanente.
A OTCA é um instrumento do TCA com uma ampla visão do processo de
cooperação Sul-Sul11, que fortalece a vocação de seus governos em construir
sinergias com outros atores.
A OTCA além de coordenar estudos sobre as potencialidades econômicas
geradoras de renda e oportunidades para a região amazônica, proporcionando uma
efetiva cooperação e integração dos países membros do Tratado, tem como uma de
suas funções principais interagir com as demais iniciativas que existem no espaço
territorial que abarca a Amazônia, seja em matéria de infraestrutura, transporte ou
comunicações.
Desde julho de 2009, a Secretaria Permanente da OTCA, por mandato dos
Países Membros, iniciou a revisão do seu Plano Estratégico 2004 – 2012
entendendo a necessidade de atualizar as prioridades nacionais sobre o espaço
amazônico. Nesse contexto, comemorando os 30 anos de vigência do TCA, os
Ministros das Relações Exteriores do Tratado de Cooperação Amazônica realizaram
sua décima reunião no dia 30 de novembro de 2010. Na ocasião, os chanceleres
subscreveram a Declaração de Lima que reitera o renovado papel da OTCA como
um fórum de cooperação, intercâmbio, conhecimento e projeção conjunta para
enfrentar os novos desafios internacionais. Também adotaram uma nova Agenda
Estratégica de Cooperação Amazônica, com ações específicas para o curto, médio e
longo prazo, relançando à Organização no novo cenário regional dos seus Países
Membros.
11
É uma filosofia cooperativa entre Estados em situações semelhantes de grau de desenvolvimento e que compartilham percepções sobre os obstáculos para atingir níveis satisfatórios de bem-estar social
19
2.4 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
O processo de globalização ao qual o mundo está submetido, caracterizado
pela interligação dos sistemas internacionais de produção e financeiros, faz com que
os países se preocupem com o seu fortalecimento econômico de forma a estarem
capacitados para competir internacionalmente. Nesse contexto, a integração
regional é um dos melhores instrumentos de fortalecimento e se insere
perfeitamente no atual cenário econômico mundial. Entretanto muitos dos blocos
econômicos formados não conseguem superar as diferenças existentes entre os
Estados membros e não atingem as metas traçadas nos tratados constitutivos. A
origem de tal problema pode estar no fato da falta de uma verdadeira integração
regional que vá além dos acordos com viés meramente econômico e comercial.
Na América do Sul o CAN e o MERCOSUL começaram avançando
rapidamente, apresentando resultados entusiasmantes, mas, com o passar do
tempo, tiveram seu ritmo de crescimento reduzido, chegando, em determinadas
épocas, a quase paralisia total. As supostas assimetrias existentes entre os países
membros e as diversas crises econômicas vivenciadas fizeram com que diversas
medidas ditas como defensivas fossem tomadas de forma unilateral, muitas delas
descumprindo as obrigações inicialmente assumidas. Os Governos mostram-se
incapazes de adotar políticas mais incisivas na área econômica e comercial que
possam ir além dos cortes tarifários mais simples, associados aos segmentos que
não possuem demanda interna por proteção.
A OTCA por sua vez não tem um enfoque fortemente econômico e comercial,
mas está restrita a área amazônica e na área da integração continental necessita
coordenar-se com as demais iniciativas para poder vir a ser um instrumento eficaz, o
que, após mais de trinta anos de existência, ainda não alcançou.
Apesar da América do Sul, por suas características e pelas diversas
iniciativas já existentes, apresentar um grande potencial para obter uma ótima
integração entre seus Países, provavelmente a priorização dos temas da economia
nos projetos de integração, não permitiram, até o momento alcançar a união
pretendida. De qualquer forma, as experiências até agora obtidas com o CAN,
MERCOSUL E OTCA não devem ser descartadas nas futuras ações a serem
executadas em busca da união dos países sul-americanos.
20
3 A UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS
3.1 A CONSTITUIÇÃO DO BLOCO
A iniciativa de integração da América do Sul começa no ano 2000 quando, a
convite do Presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, realiza-se em Brasília,
nos dias 31 de agosto e 1º de setembro daquele ano, pela primeira vez na história
do continente, a Reunião de Presidentes da América do Sul. O objetivo dessa
reunião foi aumentar o diálogo entre os países do Continente, buscando medidas
para incentivar a integração da região. Sob esse enfoque foi criada a Iniciativa para
Integração da Infra-Estrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) cujo objetivo principal
era a elaboração de planos para as áreas de integração física e infraestrutura que
modernizem as relações e potencializem a proximidade sul-americana, rompendo os
obstáculos fronteiriços e formando um espaço ampliado através de obras e
articulações nas áreas de transporte, energia e comunicações.
Integração e desenvolvimento da infra-estrutura física são duas linhas de ação que se complementam. A formação do espaço econômico ampliado sul-americano almejado pelas sociedades da região dependerá da complementação e expansão de projetos existentes e da identificação de novos projetos de infra-estrutura de integração, orientados por princípios de sustentabilidade social e ambiental, com capacidade de atração de capitais extra-regionais e de geração de efeitos multiplicadores intra-regionais. Avanços no campo da infra-estrutura, por sua vez, reverterão em novos impulsos para a integração, criando-se assim uma dinâmica que deve ser incentivada. Esse cenário seria ainda beneficiado por uma política de investimentos com perspectiva regional e não apenas nacional (Comunicado de Brasília, item 37).
Como resultado dessa reunião ficou registrado no Comunicado de Brasília
que a consolidação e a instrumentação da identidade sul-americana deveriam ser
buscadas, pois contribuiriam para o fortalecimento de processos regionais.
Em 2002 é realizada a 2ª Reunião de Presidentes da América do Sul na
cidade de Guayaquil, no Equador. Nela, além de se reafirmar a importância
estratégica da IIRSA como instrumento de integração sul-americana, foi assinado o
Consenso de Guayaquil que renovou o compromisso dos países da região com os
princípios democráticos e com os direitos humanos. Apesar de vários temas terem
figurados em sua agenda é interessante ressaltar que ao final desse encontro fica
como um dos resultados a evidencia da existência da identidade sul-americana
respaldada na história comum e na herança cultural compartilhada entre os povos
da região.
21
No dia 8 de dezembro de 2004, durante a 3ª Reunião de Presidentes da
América do Sul, realizada em Cuzco, no Peru, foi estabelecida a Comunidade Sul-
Americana de Nações (CASA), em consonância com o desejo de integração dos
países sul-americanos, verificado nas duas primeiras reuniões. Conforme consta no
texto da Declaração de Cusco, a CASA foi formada levando-se em conta a
convergência dos interesses políticos, econômicos, sociais, culturais e de
segurança, como um fator potencial de fortalecimento e desenvolvimento das
capacidades internas dos países da região para sua melhor inserção internacional.
Além da criação da CASA, nessa mesma reunião foi ratificada a “Agenda de
Implementação Consensuada 2005-2010”12.
Em setembro de 2005 em Brasília ocorre a 1ª Reunião de Chefes de Estado
da CASA, no discurso inaugural da reunião, Lula disse: "A Comunidade Sul-
Americana de Nações é muito mais do que uma construção política e jurídica, fruto
de voluntarismo. Somos 350 milhões de homens e mulheres, determinados a
realizar todas as potencialidades de uma região dotada de imensos recursos
naturais e humanos”. Os participantes da primeira reunião de cúpula da CASA
discutiram questões econômicas, infraestrutura, integração física e energética,
cultura, meios de comunicação, meio-ambiente e problemas sociais. Durante esse
encontro foi apresentada a necessidade da associação da CAN e do MERCOSUL.
Na Declaração Final firmada após o evento ficou registrado que a associação
recíproca dos Estados componentes do MERCOSUL e da CAN, além do Chile, da
Guiana e do Suriname era essencial para se conseguir a conformação da CASA,
cuja essência se estabelece com o entendimento político e com a integração
econômica e social dos povos existentes na América do Sul.
A 2ª Reunião de Chefes de Estado da CASA ocorre em Cochabamba, na
Bolívia, no dia 9 de dezembro de 2006. Mais uma vez é reafirmada a necessidade
de se levar em consideração e incluir nesse novo programa de integração todos os
avanços obtidos pela CAN e pelo MERCOSUL. Na Declaração Final de
Cochabamba, eles apontaram a globalização do pós-guerra fria como um dos
fatores responsáveis pelo aprofundamento de problemas econômicos e sociais na
região e a integração regional como meio para se evitar e enfrentar tais problemas.
12
Programa que focava 31 projetos de integração física da América do Sul e que previa para tal um orçamento US$ 4,3 bilhões. O financiamento desses projetos além de contar com a ajuda dos governos dos países da região também contava com recursos da iniciativa privada.
22
O novo modelo proposto de integração possui identidade própria e pluralista, que
abrange o âmbito comercial, mas ao mesmo tempo busca uma articulação
econômica e produtiva mais ampla, bem como novas formas de cooperação política,
social e cultural, no âmbito público e no âmbito privado.
Em 16 de abril de 2007, por ocasião da 1ª Cúpula Energética Sul-americana,
realizada na Ilha de Margarita, na Venezuela, a CASA muda de nome e passa a se
chamar União das Nações Sul-Americanas. A formalização desse novo projeto de
integração ocorre no dia 23 de maio de 2008 quando é firmado durante a 3ª Cúpula
de Chefes de Estado, realizada em Brasília, o Tratado Constitutivo da UNASUL.
O tratado constitutivo da UNASUL entrou em vigor em 11 de março do
corrente ano, um mês depois da sanção do Uruguai, nono país a ratificá-lo. Por
ocasião da entrada em vigor do tratado ainda faltavam o Paraguai, a Colômbia e o
Brasil ratificarem o tratado.
O Senado paraguaio aprovou no dia 09 de junho deste ano o tratado
constitutivo da UNASUL e, consequentemente, o ingresso legal do país na
organização, entretanto o documento foi remetido a Câmara dos Deputados do
Paraguai que, em sessão realizada no dia 14 de junho próximo passado, adiou, sem
data prevista, a avaliação do tratado constitutivo, tendo como justificativa a
necessidade de um tempo maior para estudar o projeto. A questão que está sendo
avaliada naquela casa legislativa está relacionada ao fato da UNASUL ser
visualizada, por alguns deputados paraguaios, como um projeto do presidente
venezuelano, Hugo Chávez, para, apenas, debilitar a Organização de Estados
Americanos. Cabe ressaltar que também é o Paraguai que vem dificultando a
entrada da Venezuela no MERCOSUL.
Na Colômbia o tratado já foi aprovado pelo Parlamento e pelo Executivo e
está atualmente na Corte Constitucional, devendo ser ratificado em breve.
No Brasil, a Câmara dos Deputados aprovou a carta constitutiva em 31 de
maio deste ano, e o Senado no dia 7 de julho subsequente. No dia seguinte a
aprovação pelo Senado, em cerimônia realizada perante a presença da secretária-
geral da UNASUL, a colombiana María Emma Mejía, na Chancelaria do Equador,
país depositário do acordo, o governo brasileiro entregou a ratificação do tratado se
tornando o 10º país a aprovar a carta constitutiva da UNASUL.
23
3.2 A ESTRUTURA VIGENTE
A UNASUL13 foi institucionalizada em sua personalidade jurídica enquanto
organismo internacional, sendo dirigida por uma presidência pro tempore e tendo
como sua máxima instância o Conselho de Chefes de Estado e de Governo. Possui
ainda como outros órgãos centrais, responsáveis pela orientação política e
supervisão do processo de integração, um Conselho de Ministros de Relações
Exteriores, um Conselho de Delegados e uma Secretaria Geral. Além dos órgãos
centrais possui também os Conselhos Ministeriais Setoriais que são: Conselho
Energético, Conselho de Saúde, Conselho de Defesa, Conselho de
Desenvolvimento Social, Conselho sobre o Problema Mundial das Drogas, Conselho
de Infraestrutura e Planejamento, Conselho de Economia e Finanças e Conselho de
Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia. Conta ainda com três Grupos de Trabalho:
o afeto a integração financeira, subordinado ao Conselho de Economia e Finanças;
o relacionado à solução de controvérsias em matéria de investimentos, em cujo
âmbito estuda-se a possibilidade de criar mecanismo de arbitragem, Centro de
Assessoria Legal e código de conduta para membros de tribunais arbitrais; e o de
respostas a emergências.
A presidência temporária é exercida por um período de um ano em sistema
de rodízio seguindo a ordem alfabética dos países signatários. Já presidiram o Bloco
o Chile, de maio de 2008 a agosto de 2009 e o Equador, de agosto de 2009 a
novembro de 2010. O atual presidente da UNASUL é Bharrat Jagdeo, presidente da
Guiana.
A atual Secretária-Geral da União das Nações Sul-Americanas, a ex-
chanceler da Colômbia María Emma Mejía, iniciou seu mandato no dia 16 de junho
de 2011 com a assinatura de um acordo para que a sede permanente do órgão
comece a funcionar em Quito, capital do Equador. A atual secretária permanecerá
no cargo até maio de 2012.
Outro aspecto importante a ressaltar é que as decisões e normatizações de
quaisquer assuntos referentes à organização têm que ser tomadas e adotadas por
consenso conforme está previsto no 12º artigo do Tratado Constitutivo.
13
Composta por 12 países, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e a Venezuela.
24
3.3 OBJETIVOS DA UNASUL
O objetivo geral da UNASUL, que consta do 2º artigo do Tratado Constitutivo,
é construir, de maneira participativa e consensuada, um espaço de integração e
união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus povos, priorizando o
diálogo político, as políticas sociais, a educação, a energia, a infraestrutura, o
financiamento e o meio ambiente, entre outros, com vistas a eliminar a desigualdade
socioeconômica, alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a
democracia e reduzir as assimetrias no marco do fortalecimento da soberania e
independência dos Estados.
Os objetivos específicos da UNASUL, conforme consta no 3º artigo do
Tratado Constitutivo, são, entre outros:
- o fortalecimento do diálogo político entre os Estados Membros que assegure um
espaço de concertação para reforçar a integração sul-americana e a participação
da UNASUL no cenário internacional;
- o desenvolvimento social e humano com equidade e inclusão para erradicar a
pobreza, superar as desigualdades na região e avançar no acesso universal à
educação, à seguridade social e aos serviços de saúde;
- o desenvolvimento de uma infraestrutura para a interconexão da região;
- a integração energética, bem como a industrial e produtiva;
- o intercâmbio de informação e de experiências em matéria de defesa;
- o desenvolvimento de mecanismos concretos e efetivos para a superação das
assimetrias, alcançando assim uma integração equitativa;
- a promoção da diversidade cultural e das expressões da memória e dos
conhecimentos e saberes dos povos da região, para o fortalecimento de suas
identidades; e
- a cooperação setorial como um mecanismo de aprofundamento da integração sul-
americana mediante o intercâmbio de informação, experiências e capacitação.
Cada Conselho Ministerial Setorial possui também objetivos próprios,
extraídos dos objetivos específicos, visando contribuir para que o objetivo geral da
Organização seja alcançado.
O Conselho Energético é encarregado de traçar as diretrizes fundamentais
para o aprofundamento da cooperação regional no setor. O seu estabelecimento foi
decidido na 1ª Reunião de Energia Sul-Americana em 16 de abril de 2007 e possui
25
sua sede em Quito no Equador. Já desenvolve projetos tais como o Anel Energético
Sul-Americano que visa a construção de uma rede de gasodutos.
O Conselho de Saúde, criado no dia 16 de dezembro de 2008, reúne os
ministros da área de saúde dos estados membros e visa elaborar programas
regionais na área de saúde pública a fim de construir um espaço de integração em
matéria de saúde, incorporando esforços e conquistas de outros mecanismos de
integração regional e promovendo políticas comuns.
O Conselho de Defesa, que teve sua criação aprovada em 15 de
dezembro de 2008 durante a reunião da Cúpula Extraordinária da UNASUL, tem
como objetivos principais: elaborar políticas de defesa conjunta; realizar intercâmbio
de pessoal entre as Forças Armadas de cada país; realizar exercícios militares
conjuntos; participar em operações de paz das Nações Unidas; permitir a troca de
análises sobre os cenários mundiais de defesa e buscar a integração das industriais
de material de defesa.
O Conselho de Desenvolvimento Social tem como objetivo criar grupos
temáticos sobre diversos assuntos da área social viabilizando a cooperação técnica
entre os países membros.
O Conselho sobre o Problema Mundial das Drogas visa promover a
cooperação entre os organismos especializados dos países membros da UNASUL
na luta contra o tráfico de entorpecentes ou drogas ilícitas em todos os elos de sua
cadeia, quais sejam: cultivo, produção, fabricação, trânsito, tráfico e distribuição.
O Conselho de Infraestrutura e Planejamento, criado em agosto de 2009,
busca planejar e desenvolver atividades na área de integração da infraestrutura
conferindo o suporte político necessário a assegurar os investimentos essenciais ao
desenvolvimento dos projetos prioritários, acompanhando os importantes trabalhos
que vêm sendo desenvolvidos pela IIRSA ao longo de seus dez anos de existência.
A integração da infraestrutura física regional é uma das prioridades dentro da
agenda multilateral dos países da América do Sul.
O Conselho de Economia e Finanças tem como objetivo alcançar a integração
financeira estabelecendo uma política monetária e projetos de desenvolvimento de
finanças.
O Conselho de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia, que foi criado por
ocasião da 3ª Reunião Ordinária da UNASUL, realizada em Quito no dia 10 de
agosto de 2009, visa promover: a colaboração entre universidades, centros de
26
pesquisa, empresas públicas e privadas, a fim de transferir conhecimentos
científicos e tecnológicos para incrementar a capacidade de inovação e melhorar a
competitividade sistêmica do setor produtivo; a coordenação de intercâmbio de
experiências para a formação, pesquisa e inovação em desenvolvimento
sustentável, conservação da biodiversidade e adaptação e mitigação das mudanças
climáticas; e o intercâmbio de informações sobre os sistemas de reconhecimento,
equivalência de estudos e garantia de qualidade em todos os níveis e modalidades
educativas, para facilitar a integração, a mobilidade e o intercâmbio acadêmico,
profissional e trabalhista.
3.4 OS AVANÇOS DA UNASUL
3.4.1 Instrumento para a solução pacífica de controvérsias
Logo após sua criação a UNASUL passou a desempenhar um papel
importante de mediador nas situações de crise na América do Sul. A primeira
participação ocorre por ocasião da crise separatista do Pando14, na Bolívia, em
2008. Os chefes de Estado dos países da UNASUL, demonstrando uma grande
coesão frente à crise interna vivida pela Bolívia, organizaram uma reunião de
emergência na qual declararam total apoio ao presidente Evo Morales. Como
resultado dessa reunião, foi formada uma comissão de diplomatas dos diversos
países do continente, para auxiliar as negociações na Bolívia, visando ao
estabelecimento de um diálogo para resolver o conflito.
Um fato merecedor de destaque ocorre quando a UNASUL, ao discutir o
acordo que estava sendo firmado entre Washington e Bogotá, permitindo o controle
de várias bases militares na Colômbia pelos Estados Unidos, conseguiu despertar a
14
Ao promulgar uma lei que federalizou a receita advinda da exploração das reservas de gás o presidente da Bolívia, Evo Morales, impôs grandes prejuízos aos estados mais ricos da Bolívia. Como consequência os departamentos de Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando (que, juntos, possuem mais de 80% das reservas de gás do país) passaram a exigir maior autonomia em relação ao governo federal, defendendo mudanças na distribuição dos impostos e na escolha de seus governadores. Tal movimento ficou conhecido como a crise de Pando tendo em vista que dentro desse processo de crescente tensão política ocorreram confrontos entre governistas e opositores no departamento amazônico de Pando, onde o governador Leopoldo Fernández ordenou a seus pistoleiros uma caçaria seletiva dos principais dirigentes camponeses, mesmo que em alguns momentos a matança fosse indiscriminada. Os paramilitares a serviço do governo de Pando executaram os crimes desatando uma onda de terror que redundou em cerca de 30 mortes.
27
rejeição necessária para que o Tribunal Constitucional da Colômbia promulgasse
uma sentença negativa a realização daquele acordo na íntegra.
Outra atuação importante dos países que compõem a UNASUL ocorre por
ocasião da crise vivida entre a Colômbia e a Venezuela, quando seus governos
chegaram a um ponto de ruptura em meados de 2010. Foi necessária uma grande
articulação entre os ministros e chefes de Estado dos países do continente até que
os próprios governos envolvidos na crise resolvessem a situação.
Mais uma vez a UNASUL foi chamada a agir por ocasião da crise institucional
ocorrida no Equador, em setembro de 2010. Em conjunto, os chefes de Estado, por
meio da organização, indicaram que não seriam tolerantes a qualquer quebra da
ordem institucional, incorporando um Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo, no
qual foram estabelecidas medidas concretas a serem adotadas pelos Estados
Membros da UNASUL em situações de ruptura da ordem constitucional. No citado
Protocolo os países membros se comprometem a desconhecer qualquer governo
que não seja resultado de um processo eleitoral.
3.4.2 Representatividade internacional
Já ocorreram algumas significativas participações da UNASUL, como
organismo regional, no âmbito externo ao Continente.
Como exemplo dessas participações pode-se citar a atuação do bloco por
ocasião do terremoto de grandes proporções que ocorreu no Haiti. A UNASUL doou
cerca de 100 milhões de dólares e estabeleceu uma secretaria técnica e um plano
de ação para ajudar na reconstrução daquele país. Conforme afirmou o presidente
do Equador, Rafael Correa, por ocasião da cerimônia de entrada em vigor do
Tratado Constitutivo da União Sul-Americana de Nações, realizada em março de
2011 em Quito, a UNASUL é sem dúvida o organismo que mais cumpriu suas
promessas junto ao Haiti.
Outro exemplo de que a UNASUL já é uma realidade política e assim é
entendida por outros atores internacionais ocorre quando, por ocasião da II Cúpula
dos Países da América do Sul com Países Árabes, quem fala em nome da América
do Sul é a presidente do Chile, Michelle Bachelet, então presidente da UNASUL.
28
3.4.3 Ações dos Conselhos
Um passo importante dado pela UNASUL, para fortalecer a estabilidade, a
paz e a cooperação na América do Sul, foi o estabelecimento de um mecanismo de
Medidas de Fomento da Confiança e da Segurança pelo Conselho de Defesa Sul-
Americano. Após as reuniões que ocorreram em setembro e novembro de 2009 com
os ministros de Defesa e das Relações Exteriores dos países membros foram
estabelecidas medidas nas áreas de intercâmbio de informação e transparência
relacionadas aos sistemas de defesa e gastos de defesa e medidas na área de
segurança entre outras. Posteriormente, os procedimentos a serem observados para
aplicação dessas medidas foram aprovados pelos Ministros de Defesa e pelos
Ministros de Relações Exteriores em maio e novembro de 2010 em reuniões
realizadas em Guayaquil e Georgetown, respectivamente.
Outro ponto de destaque na área do Conselho de Defesa Sul-Americano foi a
inauguração, no último dia 26 de maio, em Buenos Aires, do primeiro órgão desse
Conselho, o Centro de Estudos Estratégicos de Defesa (CEED). O CEED terá sua
sede construída até 2012, e ficará localizado em Buenos Aires. Tem como objetivo
principal incentivar a cooperação militar entre os Estados Membros, subsidiar a
análise e a propositura de novas políticas de defesa, atendendo às necessidades
específicas e aos interesses dos países da região.
Com a meta de apoiar os Estados Membros da UNASUL no fortalecimento de
seus sistemas de saúde pública e no desenvolvimento da capacidade de seus
recursos humanos, foi criado pelo Conselho de Saúde Sul-Americano o Instituto Sul-
Americano de Governança em Saúde (ISAGS). O ISAGS, uma instituição de
natureza comunitária e de caráter público, cuja sede será no Rio de Janeiro, terá
como suas duas principais funções a gestão dos conhecimentos já existentes e a
produção daqueles que ainda são necessários de se obter.
3.5 AS INOVAÇÕES INCORPORADAS PELA UNASUL
A primeira inovação que a UNASUL incorpora, quando a comparamos com os
demais tratados15 existentes na América do Sul, é o fato de ela ser o primeiro
15
Os tratados referenciados são os já citados ao longo do trabalho: o MERCOSUL; a CAN; e a OTCA.
29
instrumento de integração que reúne todos os países do continente sul-americano.
Essa ideia é reforçada pela afirmação feita durante a Conferência de abertura do VI
Curso para Diplomatas Sul-Americanos, que ocorreu em abril de 2009, pelo então
Ministro de Estado das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim:
A Unasul é um processo extremamente vivo e importante, que permite à região se coordenar e se apresentar diante do mundo. Eu costumo dizer que algo que chama a atenção é que nunca esses países tenham assinado um tratado, um instrumento jurídico entre eles, pelo menos, de caráter amplo (Amorim 2009, p. 18).
A UNASUL assume o papel de uma organização dotada de personalidade
jurídica internacional, que tem a capacidade de representar todos os países da
América do Sul de forma completa e uníssona em instâncias bilaterais e multilaterais
diversas.
Conforme mencionado durante a cúpula de Brasília, espaços como a Unasul
são essenciais para botar a América do Sul “no mapa” e dar-lhe peso maior nas
negociações internacionais.
Uma segunda diferença, talvez a mais significativa, está associada ao fato de
que a UNASUL não está pautada em uma integração econômica orientada para a
integração comercial. Ela incorpora um perfil de cooperação dentro de um viés
político-social. Segundo Miriam Gomes Saraiva, a UNASUL pode ser considerada
uma iniciativa com um perfil diferente das outras:
...seria interessante destacar, em primeiro lugar, o papel que a Unasul vem exercendo atualmente na região. Tem tido um desempenho agregador e tem contribuído para a solução de situações de crise que, sem um marco institucional consolidado, poderiam ter resultados prejudiciais ao continente. A Unasul não representa um tipo de integração econômica (campo no qual a interdependência existente entre os países é ainda pequena) mas tem aberto caminhos para uma articulação político-estratégica importante. A Unasul como mecanismos de formação de consensos tem podido acomodar visões diferentes sobre integração... (Saraiva 2010, p. 15).
Este novo instrumento de integração, diferente do que acontece com o
MERCOSUL e com a CAN, criou um espaço para que ações de aproximação sejam
orquestradas entre os países do continente nos mais diversos aspectos. A UNASUL
incorpora novas faces à integração regional quando aborda no escopo de seu
tratado constitutivo a importância da cooperação nas áreas de energia, de
infraestrutura, de defesa, de educação, de ciência e tecnologia, de saúde, e outras.
Entretanto é importante também realçar que na UNASUL o aspecto econômico e
comercial não está em um segundo plano, ele existe, só não assume um papel de
30
destaque sendo colocada a frente das demais áreas de interesse. Conforme
comenta o Embaixador Antônio José Ferreira Simões:
...a Unasul tem outras dimensões centrais. A econômico-comercial é fundamental, porém não pode ser colocada à frente das demais. O objetivo a ser alcançado é fazer convergir os processos de integração comercial que, em separado, buscaram o Mercosul, a Comunidade Andina, o Chile, o Suriname e a Guiana. Observe-se: a Unasul não estabeleceu metas quanto ao alcance do livre comércio até uma data determinada. Sua abordagem mais pragmática e flexível visa fazer com que os avanços no sentido da abertura e integração econômica se façam à medida que possam ser aceitos pelos setores econômicos dos vários países, de forma que sejam sustentados no longo prazo (Simões 2008, p. 270).
O Tratado Constitutivo da UNASUL, ao listar diversas áreas de cooperação,
induz, de forma clara, que tal organismo está aberto a buscar a integração em outras
áreas que possam se mostrar atrativas. Além do mais, em cada área de integração
já estabelecida os representantes dos Estados membros têm por obrigação
identificar as oportunidades e propor os acordos necessários a explorá-las (Simões
2008, p. 263).
A UNASUL é inovadora, pois ela impõe aos Estados membros que a relação
vá além de uma mera troca comercial fazendo com que sejam superadas as
desconfianças e o próprio desconhecimento mútuo que existe entre nações vizinhas.
Ela requer a participação de múltiplos atores, gerando assim novos canais de
diálogo político, social e econômico.
3.6 CONSIDERAÇÕES PARCIAIS
A UNASUL, diferente do que muitos autores defendem, é um instrumento de
integração promissor como pode ser comprovado ao se verificar que, mesmo antes
do tratado entrar em vigência, no dia 11 de março de 2011, muitas ações
administrativas, políticas e estratégicas foram tomadas e, em diversos assuntos, a
participação do órgão foi fundamental para que fossem alcançadas soluções
favoráveis para o continente.
Com o estabelecimento da UNASUL o processo de integração do continente
sul-americano obteve fortes avanços. Em termos quantitativos, a UNASUL promove
uma inclusão dos Estados do continente que as experiências da CAN, do
MERCOSUL e da OTCA não possuíam, possibilitando a construção de uma maior
capacidade coletiva de influência nas negociações internacionais. Em termos
qualitativos, a UNASUL supera os objetivos econômicos e comerciais que
31
caracterizam os demais tratados existentes, objetivando a integração em temas
como energia, infraestrutura, defesa, educação, ciência e tecnologia, saúde entre
outras, buscando valorizar a identidade sul-americana, promovendo o fortalecimento
da democracia, o respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente.
A UNASUL reúne totais condições para efetivar à tão sonhada integração sul-
americana. Uma integração acompanhada de ações sociais, políticas e econômicas
que, minimizando as assimetrias dos Estados membros, proporcionará um
desenvolvimento regional sustentável, trazendo prosperidade para todos os países
do bloco.
32
4 A ATUAL CONJUNTURA SUL-AMERICANA A América do Sul está inserida em um mundo onde, na nova ordem mundial,
a multipolaridade se manifesta na medida em que os países centrais se obrigam a
um maior grau de compartilhamento do poder, em função da necessidade de
preservação de seus próprios interesses. É o que já se verifica na dimensão
econômica, por efeito da globalização, com a internacionalização dos fluxos de
capitais. Nesse sentido diversos países se unem para buscar uma maior
representatividade nas diversas estruturas econômicas e políticas multipolares, que
se baseiam em um novo equilíbrio de forças entre as nações, fortalecendo a ideia de
integração regional. Essa ideia fortalece a UNASUL, pois, diferente dos demais
tratados, ela comtempla a região como um todo dando maior peso político as suas
intervenções nos diversos fóruns internacionais.
Em que pese a recente visita realizada pelo presidente Barack Obama ao
Brasil, quando então demonstrou em seus discursos um interesse de efetivar uma
verdadeira parceria entre os dois países, atualmente o governo dos Estados Unidos
não tem uma política específica orientada para a América do Sul. Soma-se a esse
fato que os atuais governos sul-americanos têm agido de forma a se distanciar dos
Estados Unidos, enfraquecendo os laços históricos com o norte (Saraiva 2010, 1).
Tal situação favorece as ações voltadas para a integração regional sendo um ponto
forte para o sucesso da UNASUL.
Outro aspecto político importante de se analisar é o fato de que todos os
atuais governos sul-americanos são democráticos, uma vez que seus presidentes
foram eleitos pelo voto, e na sua grande maioria de esquerda, o que, a princípio,
induziria a se acreditar em um entrosamento quase que perfeito entre eles,
favorecendo assim a aceleração do processo de integração continental. Só que
dentro desses governos existem duas esquerdas, uma mais moderada e outra mais
radical, que divergem em conteúdo e estilo e que se aproximam ou se afastam de
acordo com os movimentos no tabuleiro do xadrez político (Carvalho 2008, 6). Tal
situação pode ser prejudicial para a integração e, consequentemente, para o
sucesso da UNASUL, caso ela proporcione uma disputa por uma suposta liderança
regional. Um exemplo de uma disputa regional foi a reação à candidatura brasileira a
um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que não
conta com o apoio da Argentina e da Colômbia.
33
Apesar de a integração regional ser o assunto em pauta nos discursos dos
diversos governos sul-americanos e existir um esforço por parte da maioria deles
para acelerar a sua efetivação, existem alguns conflitos entre os países do
continente que devem ser vencidos para não prejudicar o avanço dessa integração e
se constituírem em um ponto fraco para o sucesso da UNASUL. As relações entre
alguns países da América do Sul ainda estão pautadas em sentimentos de
desconfiança mutua, motivados por reivindicações que são resultado de interesses
conflitantes. A existência de áreas de fricção é um aspecto negativo para a
integração, pois é muito difícil realizar ações de cooperação ao mesmo tempo em
que se enfrentam situações conflitivas. Existem diversos casos concretos de
conflitos latentes que, se reascendidos, irão se transformar em entraves aos ideais
de integração, dos quais podemos citar como exemplo:
- a mais recente, mas não inédita, reivindicação da Bolívia junto ao Chile de obter
sua saída para o mar (em maio do corrente ano o Chile advertiu à Bolívia
divulgando que suas Forças Armadas estariam preparadas para defender a
soberania do país, depois que o governo boliviano manifestou sua intenção de
pleitear junto ao Tribunal de Haia uma negociação para conseguir uma saída para
o mar);
- na fronteira entre o Peru e o Equador persiste o antigo contencioso que já levou
esses países a diversos conflitos, onde o último deles culminou em grave
confronto militar;
- a constante interação entre os interesses da Colômbia e da Venezuela provocam
idiossincrasias e pronunciamentos de protesto dos dois governos, envolvendo
contencioso fronteiriço, além de atritos relacionados a temas diversos como o
suposto apoio da Venezuela as FARC e os acordos realizados entre a Colômbia e
os Estados Unidos;
- o não reconhecimento da Venezuela de sua fronteira oriental com a Guiana ( a
Venezuela reivindica três quartos do território vizinho de tal forma que o
presidente Hugo Chávez inseriu a região como parte do país em sua Constituição
Bolivariana).
Outro importante aspecto da conjuntura atual que deve ser mencionado e
classificado como um ponto fraco para o sucesso da UNASUL está no fato de alguns
países priorizarem seus objetivos domésticos em detrimento da cooperação
regional. Estão enquadrados nessa situação diversos casos que ocorreram
34
recentemente. Dentre eles podemos citar os embates entre o Brasil e a Bolívia com
relação à questão do gás16; o Brasil e o Paraguai envolvendo a questão da revisão
do Tratado de Itaipu17; o Equador e a Colômbia no caso da fumigação
de herbicidas18; o Brasil e o Equador com o caso do financiamento de obras pelo
BNDES19; e a Argentina e o Uruguai no caso das fábricas de celulose20. Alguns
desses embates decorreram em grande medida das mudanças políticas internas dos
países que vivenciam alguma instabilidade política.
Na América do Sul há um crescimento econômico em quase todos os países.
Os programas sociais, que a maioria dos governos sul-americanos tem adotado,
associado a esse crescimento econômico que a região tem vivenciado
recentemente, estão sendo muito valiosos para combater a pobreza e a
desigualdade, proporcionando um desenvolvimento social que terá resultados
positivos a médio e longo prazo. Entretanto, as diversidades no tamanho dos países,
na estrutura econômica e nos níveis de desenvolvimento são facilmente percebidas
e essas assimetrias podem dificultar em alguns aspectos as negociações comerciais
e até mesmo a integração regional como um todo. Acordos são mais facilmente
obtidos entre países situados em um mesmo patamar de desenvolvimento
econômico e social (Almeida 2008, 85). Sob esse enfoque podemos classificar os
programas sociais como pontos fortes e as assimetrias ainda não vencidas como
pontos fracos para que a UNASUL seja bem sucedida na obtenção da integração
regional.
16
A Bolívia decidiu nacionalizar as reservas e as atividades de exploração e refino de petróleo, a qual culminou na ocupação das instalações da Petrobrás por tropas do exército daquele país. Além disso, a Bolívia forçou uma negociação em torno da revisão do contrato internacional para o preço do gás que fornece ao Brasil, insumo este que tem sido utilizado em grande escala nas atividades industriais e no programa de ampliação das termoelétricas brasileiras. 17
Tema relacionado com o preço da energia da binacional Itaipu pago pelo Brasil ao país, considerado por este como inferior ao que é praticado no mercado internacional. 18
O programa de erradicação colombiano, que visa destruir as plantações de coca na fronteira, vem causando tensões com o Equador. O presidente Rafael Correa alega que os herbicidas representam um risco para os moradores e as plantações na fronteira entre os dois países. 19
O governo do Equador pediu a abertura de arbitragem internacional questionando a legalidade da dívida contraída junto ao BNDES, por meio do grupo Odebrecht, para a construção da usina hidrelétrica San Francisco. O Equador alega que o problema é entre o Estado do Equador e uma empresa privada já o Brasil, em resposta, convocou o seu embaixador naquele país para consultas. O Presidente do Equador afirma que a divida é ilegal, ilegítima e, portanto, não será paga. 20
Crise diplomática motivada pelo fato do Uruguai ter autorizado a instalação de duas grandes plantas industriais de celulose e papel nas margens do Rio Uruguai, na fronteira com a Argentina. Tal ação provocou manifestações veladas de desagrado por parte do governo argentino e gerou protestos e uma mobilização da sociedade argentina na rejeição ao referido projeto, tendo como alvo os potenciais danos ambientais advindos da instalação das referidas indústrias.
35
Ainda enfocando os níveis de desenvolvimento dos países sul-americanos
constata-se que a área científica e tecnológica, apesar dos últimos avanços, não foi
contemplada com recursos suficientes pela política de nenhum dos países do
continente, mantendo, ainda, a região em um patamar inferior em relação às áreas
mais desenvolvidas do planeta (Morais 2001, 8). Apesar da necessidade de
desenvolvimento dessa área ser um ponto forte para a implementação de ações
consensuais da UNASUL e seu consequente fortalecimento, a continuação da falta
de investimentos na área de ciência e tecnologia pode se tornar um ponto fraco para
o sucesso do Conselho de Educação, Cultura, Ciência e Tecnologia daquela
organização.
O continente sul-americano ainda possui uma grande deficiência em sua
integração física, não existindo uma efetiva interconexão dos países da região.
Cientes desse obstáculo, que é um ponto fraco para qualquer instrumento de
integração, inclusive a UNASUL, os países têm intensificado seus esforços para
superá-lo. Algumas obras de infraestrutura já estão sendo realizadas, no escopo da
IIRSA, para minimizar essa situação de precariedade de transportes no interior do
continente, que faz com que os países lindeiros dos Oceanos Atlântico e Pacífico,
separados pela Cordilheira dos Andes e pela Floresta Amazônica, permaneçam de
“costas” uns para os outros.
Outro aspecto importante a mencionar é que existe uma falta da participação
das sociedades dos países da América do Sul no processo de integração o que
dificulta o apoio a políticas que visam o desenvolvimento econômico e social da
região como um todo. Até pouco tempo a grande maioria da população sul-
americana, por falta de informação, desconhecia os problemas que são comuns à
região e que, portanto, exigem soluções comuns, fortalecendo a integração regional.
Faz poucos anos que as instituições de ensino passaram a abordar o tema de uma
forma mais destacada e os veículos de imprensa ainda não atribuem a importância
necessária a essa matéria. Essa falta de participação da população sul-americana é
um ponto fraco para o sucesso da UNASUL, na medida em que ela é um processo
de integração baseado na existência de uma identidade comum com ênfase na
participação da sociedade.
Um problema que também vem sendo vivenciado por muitos países sul-
americanos é a quantidade de Organizações não governamentais (ONG) atuando no
continente, principalmente na área da floresta amazônica, criando dificuldades para
36
o desenvolvimento da região. Sob o enfoque ambiental e da questão indígena as
ONG vêm travando diversos projetos de infraestrutura. Ao se tornarem um
empecilho para o desenvolvimento da infraestrutura do continente se caracterizam,
sem dúvida, como uma ameaça para o sucesso da UNASUL.
Outro problema da atual conjuntura sul-americana, que não pode deixar de
ser mencionado, são os crimes transnacionais em especial os associados ao
narcotráfico uma vez que a região possui os maiores produtores de maconha e
cocaína do mundo. Na medida em que o combate ao narcotráfico pode gerar
conflitos e instabilidades internas em países produtores, consumidores e que servem
de rota para o tráfico, caracteriza-se como um ponto fraco para o sucesso da
UNASUL.
Em que pese às limitações e os problemas supracitados, os países da região,
por possuírem programas sociais que proporcionam a expansão de seus mercados
de consumo e estarem enfrentando bem a crise mundial, tem se tornado um atrativo
para o investimento estrangeiro. Esse investimento é muito bem vindo e são
oportunidades concretas para se financiar os diversos projetos que devem ser
executados para fortalecer e facilitar a integração por intermédio da UNASUL.
Os avanços obtidos pela UNASUL, citados no capítulo anterior, e o fato dessa
organização buscar articular a relação de aproximação em diversas áreas, permite-
nos vislumbrar que as oportunidades e os pontos fortes existentes no atual cenário
sul-americano permitirão que a UNASUL seja um instrumento exitoso na tão
almejada integração, superando os pontos fracos e as ameaças existentes.
37
5 AÇÕES ESTRATÉGICAS PARA O FORTALECIMENTO DA UNASUL
Considerando que a Constituição Brasileira, conforme está exposto no artigo
4º do texto constitucional, estabelece princípios como a cooperação entre os povos e
a integração econômica, política, social e cultural entre os Estados do continente,
qualquer mecanismo que vise incrementar ações nesse sentido deve ser apoiado e
fortalecido pelo Brasil.
Pela análise efetuada até o momento, percebe-se que a CAN e o
MERCOSUL têm grandes dificuldades de obter resultados positivos, de magnitude,
em termos de integração, pois esbarram em problemas oriundos de temas
econômicos e comerciais resultantes das assimetrias existentes entre os países
membros, das diversas crises econômicas e das medidas unilaterais defensivas, que
descumprem as obrigações acordadas.
Os recentes problemas pelos quais vem passando a União Europeia,
problemas esses também relacionados a crises econômicas, reforçam a
vulnerabilidade dos blocos regionais que baseiam sua integração prioritariamente
nos aspectos comerciais e econômicos.
Surgindo como um mecanismo que, incorporando um novo viés à integração,
permite acomodar experiências como CAN, MERCOSUL e OTCA, atuando em um
ambiente mais cooperativo e voltado para todas as áreas, não só as relacionadas à
economia e ao comércio, a UNASUL pode conseguir obter, mais facilmente, a tão
desejada integração regional e, portanto, deve ser fortalecida por ações estratégicas
brasileiras.
Essas ações estratégicas devem ser planejadas de forma a minimizar os
pontos fracos, superar as ameaças, amplificar os pontos fortes e aproveitar as
oportunidades existentes na atual conjuntura sul-americana.
A seguir serão sugeridas algumas ações estratégicas que poderão ser
adotadas pelo Brasil, buscando a efetivação da integração regional por intermédio
da UNASUL. As ações serão elencadas agrupadas pelas expressões do poder
nacional, quais sejam: política; econômica; psicossocial; militar; e científica e
tecnológica21.
21
As expressões do poder mencionadas são assim classificadas pela Escola Superior de Guerra conforme consta em seu Manual Básico, Vol. 1, Elementos Fundamentais, página 36.
38
5.1 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER POLÍTICO.
- Posicionar-se de forma a se contrapor, politicamente e diplomaticamente, a
qualquer ação internacional que seja contrária aos interesses dos Estados Membros
da UNASUL.
- Apoiar os poderes constituídos dos Estados Membros da UNASUL de forma a
garantir a manutenção dos regimes democráticos, sugerindo a convocação do
Conselho de Chefes de Estado e de Governo sempre que ocorrerem ameaças à
ordem constitucional.
- Desempenhar um papel construtivo na melhoria das relações entre os
Estados Membros da UNASUL sugerindo a convocação do Conselho de Chefes de
Estado e de Governo sempre que situações de crise forem percebidas.
- Cumprir todas as regras fixadas nos diversos acordos firmados,
demonstrando a predisposição de ser um ator que se coloca no mesmo nível dos
demais independente da força política e econômica de cada um.
- Intensificar ações diplomáticas com todos os Estados Membros tratando-os
de forma igualitária, mantendo a mesma estrutura representativa em todos os
países.
- Aprimorar e intensificar o controle do Estado sobre as ONG, mantendo-as
cadastradas e vigiadas de forma a rapidamente cercear as ações que se
contraponham aos interesses do bloco regional.
- Propor o apoio do bloco para candidatos sul-americanos que estejam
disputando funções de relevância em organismos internacionais, a fim de aumentar
a atuação da UNASUL internacionalmente.
5.2 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER ECONÔMICO.
- Apoiar a criação de um mecanismo na UNASUL para solução de
controvérsias em matéria de investimentos, a fim de evitar que empresas
estrangeiras submetam questões litigiosas com o Estado a tribunais de arbitragem
fora da região.
- Continuar, por intermédio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES), a investir na região, financiando obras de infraestrutura
elencadas pela IIRSA e incorporadas no âmbito da UNASUL.
39
- Incentivar a convergência, dentro da UNASUL, entre a CAN e o MERCOSUL,
ampliando os acordos bilaterais, já existentes e criando medidas de compensação
para os Estados menores, a fim de reduzir as assimetrias.
- Exercer o papel financeiro de “paymaster”.
5.3 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER PSICOSSOCIAL.
- A fim de valorizar a integração regional divulgar na mídia escrita, falada e
virtual as ações exitosas da UNASUL.
- Realizar campanhas publicitárias que apresentem, para as populações menos
esclarecidas, os principais objetivos da UNASUL e os benefícios a eles associados,
a fim de obter o apoio popular para medidas que devem ser tomadas pelo governo
para alavancar a integração sul-americana.
- Criar uma rede de televisão pública para divulgar assuntos de interesse da
região e dos seus povos e realizar um intercâmbio cultural transmitindo os principais
programas televisivos dos países da região.
- Criar uma mentalidade sul-americana realizando simpósios, conferências e
incentivando a discussão do tema no meio acadêmico.
- Realizar ações sociais junto às populações fronteiriças, intensificando a
presença do Estado, a fim de melhorar as condições de vida e criar um clima
construtivo de forma a minimizar tensões e favorecer a integração.
- Incentivar o turismo na região, estimulando o conhecimento dos países sul-
americanos.
- Tornar obrigatório o ensino da língua espanhola nas escolas de ensino
fundamental.
- Propor a criação de uma data comemorativa da união dos povos sul-
americanos, que poderia coincidir com o dia da assinatura do tratado da UNASUL,
onde seriam realizados diversos eventos culturais e esportivos com a presença de
representantes de todos os países em um dos Estados Membros, em caráter de
rodízio.
- Realizar acordos com todos os países, dentro do escopo da UNASUL, em
termos de melhoria da segurança pública, alavancando principalmente os projetos
do Conselho sobre o Problema Mundial das Drogas.
40
- Criar um curso de pós-graduação na área de integração regional onde seriam
estudados e elaborados trabalhos acadêmicos, sobre temas diversos, que envolvam
as relações entre os países da região.
5.4 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER MILITAR.
- Proporcionar incentivos fiscais para a criação de uma base de indústrias de
defesa nos países sul-americanos.
- Contribuir para a formulação de políticas e estratégias de segurança e defesa
conjuntas na região por intermédio do Centro de Estudos Estratégicos de Defesa.
- Incrementar os intercâmbios com as Forças Armadas dos países sul-
americanos por intermédio da realização de cursos e estágios, bem como pela
ampliação dos exercícios conjuntos.
- Desenvolver equipamentos e meios militares em conjunto com outros países
sul-americanos.
5.5 AÇÕES ESTRATÉGICAS DE CARÁTER CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO.
- Promover o desenvolvimento de linhas de pesquisa científica e tecnológica
comuns, a fim de aproveitar as capacidades existentes em cada Estado Membro da
UNASUL.
- Desenvolver projetos conjuntos na pesquisa da biodiversidade com os demais
países amazônicos.
- Incrementar os intercâmbios entre as escolas técnicas, os centros de
pesquisa e instituições tecnológicas.
- Ampliar os investimentos nas áreas de ciência e tecnologia.
- Estabelecer prêmios a serem ofertados anualmente, durante as reuniões de
cúpula da UNASUL, para pesquisadores dos Estados Membros que se destacaram
com seus trabalhos científicos e tecnológicos.
41
6 CONCLUSÃO
Faz muito tempo que a integração dos países da América do Sul vem sendo
buscada, mas muitas pessoas questionam quais seriam os benefícios que tal união
traria para o Brasil, maior país da região em todos os aspectos. Entretanto, no
momento, o que está em questão não são os benefícios advindos da integração sul-
americana, mas sim o atingimento de uma meta fixada na Constituição Brasileira,
em seu artigo 4º, que estabelece princípios como a cooperação entre os povos e a
integração econômica, política, social e cultural entre os Estados do continente.
A Constituição deixa claro que a integração deve ser abrangente e não ser
realizada apenas com o foco na área comercial e econômica.
Na onda da globalização os blocos regionais começaram a surgir em todo o
mundo e a serem classificados tomando como base acordos econômicos firmados
entre os países membros. Na América do Sul não foi diferente, os tratados que
inicialmente surgiram privilegiavam os acordos comerciais. Além disso, esses
tratados foram realizados por grupos isolados de países vizinhos, pecando na
abrangência e no foco.
Os tratados de integração vigentes, tais como o MERCOSUL, a CAN e a
OTCA, não conseguiram abarcar como membros efetivos todos os países sul-
americanos e têm grandes dificuldades de obter resultados positivos, em termos de
integração, pois esbarram em problemas oriundos de temas econômicos e
comerciais, resultantes das assimetrias existentes entre os países membros, das
diversas crises econômicas e do descumprimento das obrigações acordadas,
visando à adoção de medidas unilaterais defensivas.
Nesse cenário, surge um instrumento de integração, denominado UNASUL,
que visa construir uma relação entre os países sul-americanos, com dimensão
múltipla, onde a aproximação ocorra não somente na área econômica e comercial,
mas, sim, nas mais diversas áreas, deixando claro que a união será construída em
cima de oportunidades. As cooperações, nas diversas áreas inicialmente
estabelecidas, estão avançando de acordo com o ritmo das negociações. Nem todas
as áreas de integração estão evoluindo de forma igual, mas isso não deve ser um
empecilho, pois a flexibilidade da UNASUL, sem meta e prazos auspiciosos, permite
que as vantagens e as beneficies, que são obtidas em uma das áreas, demonstrem
a validade de todo o processo e estimulem o avanço das negociações em outros
42
aspectos. Na área de defesa, na área de saúde, na área de infraestrutura e na área
política alguns avanços significativos vão sendo percebidos e esses resultados, sem
dúvida, estão irradiando motivação para as demais áreas.
O vínculo entre as nações sul-americanas que a UNASUL está criando, aos
poucos, permitirá que avanços sejam alcançados em todas as áreas, inclusive no
sentido da integração econômica, facilitando a convergência entre a CAN e o
MERCOSUL. Sua abordagem mais flexível permitirá que os setores econômicos dos
diversos países se adequem no tempo necessário e a integração nessa área ocorra
de forma sustentada no longo prazo.
Na medida em que os avanços em integração forem sendo alcançados, nas
diversas áreas, a representatividade da UNASUL, no âmbito internacional, irá se
ampliando e o poder de negociação do bloco também, trazendo benefícios para
todos os Estados membros da organização. A percepção desses benefícios
redundará em um maior comprometimento dos Estados com todos os acordos
firmados dentro do escopo da UNASUL, gerando assim um ciclo virtuoso que
consolidará a integração sul-americana.
Considerando: as inovações incorporadas ao processo de integração, que leva
em conta a convergência dos interesses políticos, sociais, culturais, e de segurança,
além dos econômicos; que em um curto prazo de vigência do tratado, o organismo
mostrou-se eficiente como um instrumento para a solução pacífica de controvérsias,
possuidor de representatividade no âmbito internacional e implementou medidas
significativas em diversos dos seus Conselhos; a atual conjuntura sul-americana
com diversos pontos favoráveis ao incremento de uma união dos Estados; e as
ações estratégicas que o Brasil poderá implementar para fortalecer o enfoque de
integração mais amplo abordado pelo tratado; podemos afirmar que são grandes as
possibilidades da UNASUL conseguir ser um instrumento eficaz no processo de
integração da América do Sul.
43
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