liturgia e franciscanismo

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LITURGIA E MÍSTICA

FRANCISCLARIANA

Liturgia e Franciscanismo

A Liturgia na experiência mística e nas intuições dos Santos de Assis.

Um resgate que ilumina nossa caminhada.

Liturgia e Franciscanismo

• Os Ministros Gerais Franciscanos, na Carta sobre a Vida Litúrgica, alertam que para se conseguir em nossas fraternidades uma vida litúrgica exemplar, se requer, antes de tudo, avaliar nosso modo de celebrar os mistérios da fé, à luz dos princípios, critérios e normas emanadas com Concílio Vaticano II.

COMO ESTAMOS CELEBRANDO ?

Liturgia e Franciscanismo

• Passados quase 50 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium (1963), percebe-se que ainda não estamos conseguindo ‘viver a divina liturgia’, ou seja, não estamos conseguindo fazer dela um momento privilegiado de encontro com Deus.

• Muitas vezes se reduz a um amontoado de ritos e dinâmicas com preocupações pedagógicas. Busca-se água em tantas fontes exteriores e se esquece a fonte primeira da nossa liturgia:

O mistério da salvação que tem como centro o mistério pascal de Jesus Cristo.

Liturgia e Franciscanismo

De modo geral, “nas celebrações litúrgicas, percebemos que a forma de participar, rezar,

cantar e de executar determinadas ações rituais são realizadas de uma forma técnica e funcional,

com pouco envolvimento afetivo, espiritual e emocional. Corremos o risco de honrar Deus com os lábios com um coração distante dele (cf. Mt 15,

8). Celebrações, como diria Francisco, “sem oração e devoção”.

Liturgia e Franciscanismo

Se uma celebração não cria espaço para a oração gratuita, que se expressa na confissão dos pecados, nas preces, na oração de confiança, no louvor, é sinal de que algo não está bem.

Liturgia e Franciscanismo.

Realidade Litúrgica:• Concilio => Sacrosanctum Concilium –

entusiasmo, muitas iniciativas.• Medellin (1968) Igreja na América Latina se preocupou mais

com a libertação do homem, o aspecto social, em detrimento do sagrado, do culto. Esse aspecto celebrativo ficou um pouco de lado, assim como o aprofundamento do que seja realmente a liturgia. Importava era celebrar a vida –Que vida!

• Nos anos 90: voltar-se mais para o mistério, para o espiritual. Para a participação total – da pessoa por inteiro – coração e expressão externa. No sentido de estar mergulhado por inteiro no mistério.

Liturgia e Franciscanismo.

• Outros aspectos:– Perpassou-se a dimensão litúrgica de todo

um discurso ideologizante (para conscientizar);

– Preocupação com o estético, o ritualista, o cerimonial;

– Nós barateamos a linguagem e o culto ficou empobrecido daquilo que é a sua própria natureza, que é a beleza (...) E está tão banalizado isso tudo nas nossas igrejas que até o modo de falar de Deus a gente mudou (Adélia Prado).

– Constata-se um certo nivelamento: realidade humana e divina. Humano e divino = “liturgia sem alma”.

Liturgia e Franciscanismo

Hoje fala-se muito em mística. Mística Franciscana, Inaciana... etc ....

O que é mística?

Liturgia e Franciscanismo

Na história da salvação, a mística está vinculada à celebração dos mistérios de Deus, como acontece na liturgia e nos sacramentos da Igreja.

Na história da salvação, a mística está vinculada à celebração dos mistérios de Deus,

como acontece na liturgia e nos sacramentos da Igreja.

Em primeiro lugar precisamos compreender o sentido das

palavras e dos conceitos de Mística e de Liturgia.

Relação entre Mística e Liturgia

Liturgia e Franciscanismo

Coisa escondida, secreta, segredo, intimidade, interioridade, coisa da alma, do ser profundo ou das profundezas do ser. Refere-se ao mistério!

Mística: de myesis, mysterion

Liturgia e Franciscanismo.

“Mística é a ação de tocar

o mistério de Deus”.

Místico é aquele que, movido pelo Espírito, experimenta em sua vida o mistério de Deus revelado em Jesus Cristo.

Liturgia e Franciscanismo

Para Jesus Castellano, a mística como experiência de comunhão com o mistério:

• é uma manifestação gratuita e benévola – é

dom.• requer iniciação à compreensão do mistério

oculto;• é experiência que se realiza através de fatos, de

realidades bem encarnadas e resulta em satisfação, gosto, alegria, encantamento, êxtase, arrebatamento ...

Liturgia e FranciscanismoFrancisco chora e

dança de alegria e dor. Alegra-se com o irmão; tem prazer no canto da cigarra; extasia-se com o inseto pequenino, sabe adivinhar o segredo das coisas. Deus é alegria, Deus é beleza.

Liturgia e Franciscanismo.

• Quando falamos de Mística - falarmos do inefável, do inaudito, do incomensurável, de um Deus que transcende nossas limitações e expressividades - por mais que a experiência de Deus seja expressada conforme nossas linguagens - essas não dão conta de abarcar o Deus Infinito experienciado. Daí a necessidade da valorização da linguagem metafórico-afetiva na relação com Deus, a partir da experiência cristã de Deus.

Liturgia e Franciscanismo.

• No cristianismo essa mística tem endereço certo: o único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. Pois para a fé cristã toda experiência de Deus é uma experiência trinitária. Mas como essas experiências não se dão no vazio, mas no chão concreto de nossas vidas, somos condicionados por todo um marco interpretativo, formado de tudo que constitui nossa história de vida, dando significado singular à experiência, ao mesmo tempo limitando, situando e condicionando-a.

Liturgia e Franciscanismo.

Toda mística se expressa numa liturgia, ou seja, numa linguagem de símbolos que une a palavra ao gesto, interior ao exterior, presente ao passado, a partir da experiência cristã do mistério de Deus.

Liturgia e Franciscanismo.

Tanto Francisco como Clara, ao tratar com Deus, têm delicadezas de um coração apaixonado, eles se internecem até às lágrimas, contemplando os seus mistérios, compadecem-se de sua simplicidade, acariciam seus vestígeos, enchem-se de doçura na recordação de sua vida, querem ser-lhe próximos, irmãos, irmãs e mães, sim, querem ser-lhe assemelhados.

Liturgia e Fraciscanismo.

• A mística é força energizadora do agir cristão, da atuação de uma comunidade.

• É fonte de sentido para a vida e ação.

• Dinamismo que irradia jovialidade, alegria e leveza no rio da vida.

Ser franciscano não é ter padrão fixo, mas buscar

afinamento com o melhor.

O QUE ENTENDEMOS POR LITURGIA ?

Conjunto de cerimônias eclesiásticas, ritos, missas, sacramentos, rezas, devoções... Coisa de padre ..... !

Liturgia e Franciscanismo.

A palavra liturgia significa:

"ação, serviço realizado em favor do povo, de uma comunidade”. É um serviço público. Um serviço fraterno – para o bem dos outros.

Liturgia e Franciscanismo.

Liturgia é bem mais do que pura e simplesmente "rito" ou "cerimônia".

É ação, serviço, ofício.

Liturgo é aquele que serve, que ama, que se doa pelo bem comum de uma comunidade .

Marcelino Ramos/RS

QUEM

REALIZA A MELHOR

LITURGIA ?

Liturgia e Franciscanismo

• A partir da compreensão religiosa de liturgia - a primeira e fundamental liturgia acontece na intercomunhão de vida e de amor no seio da Santíssima Trindade.

• Nesta perspectiva, por liturgia entende-se todo o serviço - ação da Trindade, em vista da salvação e da santificação da humanidade.

O melhor culto, é deixar-se santificar por Deus.

Liturgia de Deus

• Deus Pai - ação: a criação;a criação; a libertaçãoa libertação a salvação de seu povo.a salvação de seu povo.

• Litúrgico é o gesto de Litúrgico é o gesto de Deus Pai nos revelando o Deus Pai nos revelando o seu amor, imprimindo em seu amor, imprimindo em nossa vida a sua nossa vida a sua bondade e nos ensinando bondade e nos ensinando a servir e amar. a servir e amar.

Liturgia e Franciscanismo.

Deus Pai é fonte e fim da liturgia.

A liturgia cristã é resposta de fé e de amor à ação

de Deus Pai.

Liturgia e Franciscanismo.

A liturgia é ação (serviço) sacerdotal de Jesus Cristo para o louvor de Deus Pai e para a santificação da humanidade, realizada através de sinais sensíveis (SC 7).

Liturgia e Franciscanismo.

O momento alto do serviço (de Liturgia) de Jesus Cristo é sua doação, morte na cruz e ressurreição.

Assim, cada liturgia da Igreja católica, torna presente no hoje da comunidade, a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.

Liturgia e Franciscanismo.

Em cada ação litúrgica proclamamos:

“Anunciamos, Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus”!

A Liturgia é memorial do Mistério Pascal

O Ressuscitado vive entre nós.Amém. Aleluia!

Liturgia e Franciscanismo.Liturgia é ação, obra do Espírito Santo

Prepara a comunidade para o Encontro com o Senhor;

Recorda e manifesta o Cristo à Assembléia;

Atualiza o Mistério pascal de Cristo (realiza o memorial);

Dá eficácia aos sinais e símbolos da liturgia;

Transforma os dons em Corpo de Cristo;

Inspira a oração dos fiéis;

Age nos ministros e servidores;

Transforma a assembléia em Corpo de Cristo;

Na Liturgia, o Espírito Santo é o pedagogo (orientador) da fé do povo de Deus, o artífice das obras-primas de Deus (as ações litúrgicas ) – os sacramentos da nova aliança.

Liturgia e Franciscanismo.

• NOVA • ÚNICA• SINGULAR• RENOVADORA• CONFORTADORA• FRUTÍFERA• MISSIONÁRIA

É graças à ação do Espírito Santo que a

Celebração Litúrgica

É

Liturgia e Franciscanismo.

• A salvação – qual fonte de vida divina – Jesus Cristo a confiou à Igreja para que na força do Espírito Santo, a fizesse jorrar com intensidade para toda a humanidade.

Neste sentido, todo serviço de salvação é liturgia.

Liturgia e Franciscanismo.

A Igreja é chamada a prestar o serviço de salvação dois modos:

• 1º - Através da memória testamentária que se concretiza – é a liturgia vivida.

- o serviço da salvação pela vivência e pelo anúncio do Evangelho e toda a ação que inclui as boas ações (amor, justiça... ), a promoção do bem – o testemunho fiel.

Liturgia e Franciscanismo.

• 2º - A Igreja realiza o serviço da salvação através do memorial celebrativo ritual da obra da salvação. – é a liturgia simbólico-ritual.

Por meio da ação simbólico-ritual as pessoas de fé participam da ação

salvadora que Jesus Cristo realizou em favor da humanidade.

Liturgia e Franciscanismo.

• Assim, toda a vida pode transformar-se numa grande liturgia, participação na liturgia divina, obra da Santíssima Trindade, obra de Cristo e da Igreja.

• Portanto, a Liturgia não nos pertence. Ela é um dom de Deus, que nos abençoa, nos chama e nos envia a abençoar pela liturgia traduzida em testemunho, caridade e promoção da paz e do bem.

Liturgia e Franciscanismo.

LITURGIA É AÇÃO CONJUNTA: => do Pai, pelo Filho, no Espírito Santo a nós – povo sacerdotal (dom, graça, bênção – santificação).

=> do povo sacerdotal (batizados) ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo (acolhida, louvor, ação de graças, resposta de amor - glorificação).

A liturgia é ação conjunta entre

os parceiros da Aliança.É relação de amor.

Liturgia e Franciscanismo.

“Sentimo-nos tentados a pensar na liturgia como algo que nós fazemos, como o culto que, em primeiro lugar, nós prestamos a Deus como coisa nossa. No entanto, uma visão da história da salvação nos diz que a liturgia é, em primeiro lugar, um dom de Deus que nos dá a graça de sua Palavra, da comunhão com ele mediante os sacramentos. Somente um segundo momento, como resposta necessária a este dom, a liturgia é adoração, súplica, ação de graças” (cf Jesus Castellano).

Marcelino Ramos/RSCELEBRAR É MERGULHAR NO MISTÉRIO

A liturgia não nos pertence. Ela está infinitamente acima de nós. É um dom divino. Por isso não nos cabe nos apropriarmos dela, mas deixar-se possuir por ela. Não nos cabe conduzí-la, mas deixar-se conduzir por ela através da participação na ação simbólico-ritual (Cardeal Daneels de Bruxelas).

Liturgia e Franciscanismo.

• A liturgia é um mistério, com o qual nem tudo tem de ser entendido, pois não é essencial uma compreensão «puramente racional», tratando-se de «compreender com o coração. A liturgia cristã não pode ser conhecida apenas por experiência humana».

• (Cardeal Daneels de Bruxelas Pronunciamento feito no Congresso Internacional de Liturgia que aconteceu em Barcelona nos dias 4 e 5 de Setembro de 2008).

Liturgia e Franciscanismo.

• A partir da Liturgia ressoa o verdadeiro “eco” do mistério. Ecoa a comunicação de Deus. Deus se revela.

• Neste sentido a liturgia é mistérica, é mística: por seus conteúdos e pela gratuidade da comunicação de Deus em relação a nós. A experiência nos é dada.

• Não somos nós a fonte do mistério de Deus - tudo é uma revelação, uma manifestação da bênção de Deus em Cristo.

Liturgia e Franciscanismo.

• A liturgia é uma bênção (graça) que vem da fonte que é o Pai, doador de todo bem. É uma bênção (é oferta) que sobe ao Pai, meta de cada um de nossos louvores e adorações.

• Liturgia é bênção – atualização das maravilhas do amor do Pai em favor da humanidade.

Altíssimo,onipotente,bom Senhor,vossos são o louvor, a glória, a honra e toda bênção.

Liturgia e Franciscanismo.

As ações litúrgicas se estruturam num dinamismo dialogal:

• DESCENDENTE = o Pai revela sua Palavra por Cristo, no Espírito Santo (ação de Deus, faz maravilhas pela humanidade => a santificação.

• ASCENDENTE = o povo de Deus escolhido e abençoado (santificado) louva e agradece – responde à ação santificadora de Deus através das orações, cantos e expressões simbólicas (cf Dt 26,5s).

Liturgia e Franciscanismo.

A celebração do mistério da salvação na liturgia é ao mesmo tempo obra do amor do Pai, da graça vital de Cristo e da comunhão do Espírito Santo. Louvai e bendizei a meu

Senhor. E dai-lhes graças. E servi-o com grande humildade.

Liturgia e Franciscanismo.

A ação litúrgica é oferta, é bênção – é louvor do povo sacerdotal que tudo esperam do Pai e tudo devolvem ao Pai, em, com e por Jesus Cristo, no Espírito Santo.

Ó Deus, ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de

vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós

(cf IV Prefácio TC).

Liturgia e Franciscanismo.

• A Sacrosanctum Concilium, ao falar da liturgia na perspectiva da história da salvação, revela que nela se expressa e se integra:- O MYSTERIUM, o sacramentum, o divino, o invisível do dom, da graça de Deus; - O HUMANO, o visível (as ações do povo de Deus) – os sinais sensíveis.

Liturgia e Franciscanismo

Na liturgia a comunidade cultiva e experimenta

aquilo que Deus é

• Ternura e misericórdiaTernura e misericórdia• Justiça e pazJustiça e paz• Acolhida e perdãoAcolhida e perdão• Esperança e alegriaEsperança e alegria• Luz e caminhoLuz e caminho• Recompensa e glóriaRecompensa e glória• Eterna bem-aventurançaEterna bem-aventurança

Liturgia e Franciscanismo.

• Na escola da Liturgia aprendemos a ser agradecidos a Deus Pai pelos dons recebidos e a ser audazes nas súplicas.

• A liturgia nos recorda que somos uma família de filhos em torno da mesa da Palavra e do pão, que são dons do Pai.

• Assim, a liturgia faz nascer em nós o sentido da solidariedade no caminho da vida e da esperança na participação nos bens de Deus na pátria celeste.

LITURGIA COMO LUGAR DA EXPERIÊNCIA

DO MISTÉRIO (mística).

Liturgia e Franciscanismo.

A liturgia ocupa na ação evangelizadora

da Igreja um lugar central. Ela é ponto alto ao qual tende a ação da Igreja e, ao

mesmo tempo, a fonte de onde emana toda a sua força (SC 10).

Liturgia e Franciscanismo.

• Ora, se mística tem a ver com mistério, com quem vive o mistério, onde mais do que na liturgia se vivência o mistério?

• Na celebração litúrgica, mais do que por qualquer outro modo, vivencia-se o mistério de Deus, de Cristo, no Espírito Santo.

• Liturgia é a atualização mistério da Salvação, que tem como centro o mistério pascal de Cristo.

Liturgia e Franciscanismo.

• “A vida mística pessoal é reflexo e manifestação daquela profunda experiência eclesial que acontece na liturgia e que converge ao momento da ação celebrativo-litúrgica.

Na Liturgia o discípulo de Jesus realiza o mais íntimo encontro com o seu Senhor e da participação na ação litúrgica, recebe a motivação e a força para a sua missão na Igreja e no mundo.

Liturgia e Franciscanismo.

Quer dizer, é no momento celebrativo que a comunidade dos fiéis realiza o encontro privilegiado com Deus e com Cristo, sob a moção do Espírito Santo, e se coloca na dinâmica da comunhão com o mistério da salvação.

Liturgia e Franciscanismo.

• Celebrando o mistério da caridade, revelado por Jesus Cristo, uma fraternidade encontrará, não só o centro da própria vida, senão também a capacidade de testemunhá-lo. O Concílio Vaticano II afirma: “não se edifica no entanto nenhuma comunidade cristã, se ela não tiver por raiz e centro a celebração litúrgica (da santíssima eucaristia) (PO 6).

Liturgia e Franciscanismo.

Contudo, se quisermos que a experiência litúrgica seja um encontro fecundo, de comunhão com Deus, necessitar-se-á valorizar o sentido do sagrado na celebração, apreciando-se o silêncio, a capacidade de escuta, o jubilo interior da contemplação – a dimensão orante - renunciando ao que distrai, desvia a atenção para aspectos humanos e externos da celebração litúrgica.

Liturgia e Franciscanismo.• Quem não sabe fazer

silêncio, quem não sabe respeitar o tempo do rito, é incapaz de viver o mistério, é incapaz de rezar. O silêncio contemplativo é, no fundo, uma forma de jejum. O jejum de todos os sentidos para fazer espaço para a escuta da voz do mistério.

Liturgia e Franciscanismo.

«Parece que há um horror ao vazio. Não se pode parar um minuto». «Não há silêncio. Não havendo silêncio, não há audição. Eu não ouço a palavra, porque eu não ouço o mistério, e eu estou celebrando o mistério» (Adélia Prado). Altíssimo, onipotente

e bom Senhor!

Liturgia e Franciscanismo.

• É preciso considerar a liturgia como uma mediação de serviço. A liturgia é quem serve. Não somos nós que nos servimos. Entramos nela nos dirigindo a Deus para acolhê-lo.

• A celebração é feita essencialmente ouvindo, acolhendo, respondendo, rezando, cantando – participando ativamente. Mais do que palavra humana, ela é uma resposta humana à palavra de Deus”

(cf Godfried DANNEELS, A obra de um Outro, in: 30 dias, nº 1, jan. de 1996, p. 48).

Liturgia e Franciscanismo.

O objetivo da liturgia é o encontro vivo com o mistério de Deus manifestado em Jesus Cristo. Para que este encontro seja ‘em espírito e em verdade’ (cf. Jo 4, 23), é preciso entrar no jogo simbólico-ritual da liturgia e não fazer a liturgia entrar no nosso jogo.

Liturgia e Franciscanismo.

São Francisco e Santa Clara de Assis e muitos outros santos(as) como: Ângela de Foligno,Santo Antônio, São Bernardo ... provaram verdadeiras experiências místicas litúrgicas.

Liturgia e Franciscanismo.

É na assembléia litúrgica que nos encontramos, mística e comunitariamente, com o Cristo Ressuscitado que nos faz passar com ele da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, do apego a nós mesmos para o transbordamento do amor. Ele nos mergulha no âmago da realidade, intuir o coração da vida, o mistério insondável, inexprimível, presença viva do Deus-Amor no lusco-fusco de nossas buscas e experiências. E nos envia em missão, a serviço do Reino no mundo.

Liturgia e Franciscanismo

Uma experiência mística litúrgica não está

necessariamente ligada ao momento da celebração litúrgica. Uma experiência do kairós de Deus pode ser vivida fora da ação litúrgica – na ação ou no testemunho-. A liturgia pode ser fonte e cume, mas não necessariamente o lugar específico da experiência.

Liturgia e Franciscanismo

• Jesus Castellano observa: A experiência que os cristãos têm na liturgia é sempre, de algum modo, “MISTICA”, já que é uma “experiência dos mistérios”, um entrar em contato com as realidades sobrenaturais, abertas somente aos “iniciados”. Participando da ação litúrgica, a pessoa deve sentir-se imersa em uma “mística sacramental”, pois trata-se de um encontro com o mistério de Deus.

A espiritualidade litúrgica caracteriza-se pelas seguintes

notas:

Trinitária- encontro, mergulho na Trindade santa;

Cristológica – memorial da Páscoa de Cristo

Pneumatológica – ação do Espírito Santo

Eclesial – ação da Igreja – povo sacerdotal.

Sacramental – através de sinais sensíveis

EXPERIÊNCIA LITURGICA DE FRANCISCO E CLARA DE

ASSIS

Liturgia e Franciscanismo.

Para entendermos a relação dos Santos de Assis com a Liturgia, precisamos ter presente o contexto das celebrações litúrgica do seu tempo. A liturgia foi para eles uma verdadeira escola de vida.

Além do mais, viveram numa época de mudança de eixo.

Liturgia e Franciscanismo

COMO SE CARACTERIZAVA A ÉPOCA DE FRANCISCO E DE CLARA DE ASSIS?

(Marcas histórias, sociais e eclesiais)

CONTEXTUALIZAÇÃO LITÚRGICA

1ª PARTE

A LITURGIA NO PRIMEIRO MILÊNIO:

algumas características:

CENTRALIDADE DO MISTÉRIO PASCAL:

na celebração e vivência

de toda a Liturgia:

-Ano litúrgico- Eucaristia

-Demais sacramentos-Liturgia das horas

-Sacramentais...

Presença “real” do Senhor, vivida e sentida no todo da

celebração:- na assembléia reunida

- na pessoa de quem preside- na Palavra proclamada

- no pão e vinho eucaristizados

e na vida,- na relação com os pobres.

Liturgia e Franciscanismo.

Mistério celebrado:

principal fonte de inspiração

teológica:

Compreensão de Deuselaborada a partir da experiência celebrativa,do encontro com o mistério na celebração litúrgica

Liturgia e Franciscanismo.

A liturgia tinha um cunho eminentemente eclesial-comunitário.

• Refletia um modo de ser Igreja toda ela ministerial.

A assembléia era sentida e vivida como corpo de Cristo, povo sacerdotal.

A liturgia era "a devoção popular" e a principal fonte de espiritualidade cristã.

Não existiam outras devoções.

A centralidade do mistério pascal celebrado na liturgia é que era determinante. Inclusive os mártires eram celebrados à luz da Páscoa de Cristo.

Liturgia e Franciscanismo.

• O povo tinha um contato direto com a Palavra de Deus na liturgia. Ao se proclamarem as Escrituras, o povo sentia que era Deus mesmo que estava falando.

• A escuta da Palavra era vivenciada como um momento privilegiado de diálogo de Deus com seu povo.

• Centralidade da Palavra levada a sério - Escolas para leitores, mesa da Palavra e homilia

Liturgia e Franciscanismo.

• Adaptação às culturas

As assembléias litúrgicas sabiam participar do mistério celebrado, usando a linguagem própria de sua cultura, com sua língua e costumes próprios.

Liturgia e Franciscanismo.

Estilo da Liturgia romana:

= Simplicidade, = praticidade, = elegância, dignidade= garante o essencial, a saber, a memória do Mistério pascal de Cristo

O culto eucarístico era impressionantemente sóbrio

Liturgia e Franciscanismo.

Leva-se a sério a qualidade da celebração:

bíblico-teológica, simbólico-ritual, espiritual (mística), pascal, orante.

Façam isto em memória de mim!

Liturgia e Franciscanismo.

Entendia-se, na missa romana, que a eucaristia (ação de graças) é dada à Igreja por Deus para ser comida e bebida memoriais (refeição, banquete) para os iniciados na vida de fé e, não tanto, para ser adorada.

Liturgia e Franciscanismo.

Os Sacramentos são vistos

como Celebração /atualização

do Mistério Pascal nos diferentes momentos da vida

humana.

Pelos sacramentos somos 'tocados' pelo mistério pascal do Senhor .

2ª PARTE

A LITURGIA NO SEGUNDO

MILÊNIO:

Deslocamentos de eixo

Liturgia e Franciscanismo.

• No segundo milênio, constatam-se profundas mudanças que, por influência da mentalidade dos povos franco-germânicos (a partir do século IX) e pelo posterior centralismo romano, cada vez mais rígido, sem esquecer os graves problemas que amargaram a vida do povo (pestes, epidemias,

guerras, crises religiosas etc.), acontecem significativas mudanças de acento na compreensão e vivência da Liturgia.

Primeiro milênio Segundo milênio

Centralidade doMistério Pascal na celebração, nos sacramentos, na liturgia das Horas e na vivência de toda a ação Litúrgica

Centralidade Centralidade dos Santos, dos Santos,

Santíssimo Santíssimo Sacramento Sacramento (= presença real)(= presença real)

DevocionismoDevocionismoadoraçãoadoração

Primeiro milênio Segundo milênio

Presença “real”do Senhor,

vivida e sentida no todo

da celebração litúrgica e na vida

Presença Presença “real” “real”

vista quase vista quase que somente que somente nas espécies nas espécies de pão e de de pão e de

vinhovinho

Primeiro milênio Segundo milênio

Fonte principal de espiritualidade cristã: a Liturgia, a celebração litúrgica!

Fonte principal de Fonte principal de espiritualidade espiritualidade

cristã: cristã: As devoAs devoçções aos ões aos

Santos e ao Santos e ao SantSantííssimo ssimo Sacramento Sacramento

(presen(presençça reala real))

O devocionismo se constitui num substituto da liturgia.

O centro de espiritualidade não é mais o mistério pascal celebrado na liturgia, mas os santos e o Santíssimo Sacramento, venerados pelas práticas devocionais, tais como novenas, promessas, procissões e adorações (SILVA, Ariovaldo José).

Em lugar da participação plena na missa pela sagrada comunhão, adotou-se, o costume popular de "ver e adorar" a hóstia consagrada. Bastava "ver" a hóstia e "adorá-la", e o povo já se dava por satisfeito. O povo raramente comungava. E quando o fazia, era mais por causa da "lei da Igreja" (IV Concílio de Latrão, em 1215: "comungar ao menos uma vez por ano!") ou por devoção. Participar da missa, consistia assistir a cerimônia com a intenção geral de prestar culto a Deus e com atenção externa (Marsili, S. A Liturgia, momento histórico de salvação (Annamese) p.71).

Liturgia e Franciscanismo.

Frente a uma liturgia, que não alimentava mais a vida espiritual, as devoções, significavam uma revisão de toda situação religiosa e uma busca de novos caminhos de espiritualidade. A meditação afetiva era o meio por excelência para conseguir a revitalização da vida cristã. Essa nova orientação entendia a salvação mais como resultado de um esforço psicológico e pessoal do que como fruto dos sacramentos da Igreja. O individualismo religioso, que exerceu um papel tão decisivo nos séculos seguintes, tem aqui seu ponto de partida (MARTIN, J. Lopez. No espírito e na verdade, Vol.-Introdução à teológica à liturgia. p. 315).

A celebração passa por todo um ordenamento jurídico-eclesiástico e o mandato hierático. Valoriza-se o culto pela precisão material das fórmulas e pela exatidão na execução dos ritos

Primeiro milênio Segundo milênio

Sacramentosvistos como Celebração /atualização

do Mistério Pascal nos diferentes

momentos da vida humana

Sacramentos Sacramentos vistos vistos

de preferência de preferência como sinais da como sinais da gragraçça e rema e reméédio dio para curar ou para curar ou

prevenir males...prevenir males...

Primeiro milênio Segundo milênioCentralidade da

Palavra Proclamada

Centralidade da Palavra levada a sério - Escolas para leitores, mesa da Palavra e homilia

O povo praticamente perde o contato com a

Palavra, pois o padre lia as leituras em voz baixa, só para si, em latim,de costas para o povo, lá

no altar distante.Desaparecem os leitores.

O lecionário é engolido pelo missal. A homilia virou

sermão. O ambão virou púlpito. Difunde-se a leitura da

história da vida dos santos...

Primeiro milênio Segundo milênio

Mistério celebrado:principal fonte deinspiração teológicaCompreensão de Deuselaborada a partir daexperiência celebrativa,do encontro com o mistério na celebração litúrgica

Prevalece a Prevalece a especulaespeculaçção racional ão racional sobre os mistsobre os mistéérios de rios de

Deus, por influência da Deus, por influência da EscolEscoláásticastica

Compreensão de Deus Compreensão de Deus passa a serpassa a ser

elaborada nos escritórios elaborada nos escritórios dos teólogos. Estuda-se dos teólogos. Estuda-se

para depois rezar.para depois rezar.

Primeiro milênio Segundo milênio

Carátercomunitárioe ministerial daliturgia: Participação de todos,ministérios etc.

Vigor da assembleia.

Individualismo Individualismo religioso.religioso.

Não hNão háá mais mais participaparticipaçção do povo ão do povo

na Liturgia.na Liturgia.Alternativa: Alternativa: Enquanto o Enquanto o

padre reza sozinho a padre reza sozinho a ““suasua”” missa, o povo (do missa, o povo (do lado de clado de cáá) se entret) se entretéém m

com com ““suassuas”” rezas. rezas.Desaparece a assembleia.Desaparece a assembleia.ClericalizaClericalizaçção da liturgia.ão da liturgia.

Primeiro milênio Segundo milênio

Adaptação às culturas

Famílias litúrgicas no oriente e no ocidente Diferenciação de ritos

CentralismoCentralismouniformidade uniformidade

romanaromanaRito romano latinoRito romano latinoigual para todo o igual para todo o

Ocidente...Ocidente...

Primeiro milênio Segundo milênio

Estilo da Liturgia romana: Simplicidade, praticidade, elegância, dignidade busca garantir o essencial, a saber: o Mistério pascal

Cerimonial Cerimonial complicadíssimo - complicadíssimo - auge com a pompa auge com a pompa

barroca.barroca. Valorização dos Valorização dos

elementos exteriores elementos exteriores do culto.do culto.

O latim é a língua O latim é a língua oficial da liturgia.oficial da liturgia.

Liturgia e Franciscanismo.

• A liturgia torna-se inevitavelmente numa realidade incompreensível. A catequese mistagógica tinha desaparecido (FLORES, Juan Javier,

introdução à teologia litúrgica, p. 55). Por isso viu-se a necessidade urgente de explicar os ritos litúrgicos, o que começou a ser feito durante a celebração. Recorreu-se, muitas vezes à alegoria.

• Santo Ambrósio afirma: “alegoria é tratar com uma realidade e figurar outra”.

• O alegorismo tinha por finalidade conservar o contato entre o povo e a liturgia. .

Primeiro milênio Segundo milênio

Levava-se a sério a qualidade da celebração:

bíblico-teológica, ritual, espiritual, pascal orante

Máximapreocupação maior com o

aparato externo (ritual, vestes

luxuosas, incenso, procissões etc.):

Ritualismo, esteticismo...

A celebração se reduz à observância das normas e das rubricas.

Liturgia e Franciscanismo.

• Dá a impressão de que o 2º milênio, do ponto de vista litúrgico, foi negativo.

• Foi e não foi! Foi, porque a Liturgia foi colocada longe do alcance do povo. Uma grande perda!

• E não foi negativo, porque o povo, longe da Liturgia, soube sabiamente criar uma enorme força alternativa de resistência frente a todos os males.

• O povo apoiando-se nas práticas devocionais.

Liturgia e Franciscanismo.

ESTE CALDO LITÚRGICO E DEVOCIONAL SE TRANSFORMOU NA ESCOLA DE VIDA E DE ESPIRITUALIDAE PARA FRANCSICO E SEUS IRMÃOS E IRMÃS.

3ª PARTE CONCILIO VATICANO II:Resgate do essencial “perdido”.

Centralidade do Mistério Pascal. Revalorização

da ação do Espírito Santo à luz do Mistério Pascal

(cf. SC 5-8)

Liturgia e Franciscanismo

Liturgia: fonte principal de

espiritualidade cristã

(cf. SC 14). • A Liturgia é fonte e

culminância da vida espiritual, por ser memorial do mistério Pascal de Cristo.

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Centralidade da Palavra (cf. SC 5-8; 35)

Levar a sérioa Palavra:Leitores

LivroMesa da Palavra

Homilia Pela Palavra proclamada, é Deus quem nos fala.

Depois do Vaticano II, resgate do altar e da mesa da Palavra como centro.

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Liturgia, lugar primeiro de inspiração teológica

(cf. SC 5-8).

Introdução geral dos livros

litúrgicos pós-conciliares.

O Vaticano II resgatou que a Eucaristia é Ceia memorial da Páscoa de Cristo e nossa Páscoa: Corpo entregue e Sangue derramado...

Comendo deste Pão e bebendo deste Cálice, anunciamos a morte do Senhor e proclamamos a sua Ressurreição... E nós nos tornamos um só Corpo com

Ele!... Tornamo-nos também Corpo de Cristo!

Comam do pão, bebam do cálice...

Comam do pão, bebam do cálice!Quem a mim vem, não terá fome!Comam do pão, bebam do cálice!Quem em mim crê não terá sede!

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Sacramentos: celebração /

atualização do Mistério Pascal

(cf. SC 5-8; 61)

Encontros com o Senhor Ressuscitado.

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Caráter comunitário,

participativo e ministerial da Liturgia (cf. SC 14!) Participação ativa,

consciente, frutuosa,um direito e dever de

todos(as)!

Adaptação da liturgia às

diferentes culturas (cf. SC 37-40)

(inculturação)

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“Nobre simplicidade” (cf. SC 34) Garantir o

essencial: Palavra Mistério pascal!

Tentação atual: querer complicar tudo de novo!

Muitos comentários e toda uma ritualização.

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Preocupação com a qualidade da celebração da Liturgia: qualidade

bíblico-teológica, simbólico- ritual, espiritual, pascal e orante

Preocupação com a Formação litúrgica em todos os níveis!

(cf. SC 15-19)

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A influência da liturgia foi o elemento determinante da experiência mística de Francisco, uma vez que a imagem do divino, foi para ele como que a matriz que plasmou sua atividade orante. A liturgia foi quem emprestou as tintas (cores) para pintar a Deus que animava sua fé, tornando-o visível e ininteligível.

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• Diferentes elementos favoreceram o acesso de Francisco ao universo da oração litúrgica: o conhecimento do latim que aprendeu na escola; a participação nas celebrações de sua paróquia; o Ofício Divino cantado pelos cônegos e os monges.

• A condição de leigo lhe possibilitou o acesso às formas de oração de domínio popular. Nelas predominava o sensorial e o corpóreo, mais do que o conceitual (o abstrato).

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• A experiência mística e orante de Francisco foi influenciada pelas águas das seguintes vertentes orantes:

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• A experiência monástica;

• A experiência eremítica;

• A experiência leical (do convívio com os leigos); • A experiência

eclesial (a liturgia oficial da Igreja).

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Os grupos leigos tinham suas formas comuns de oração, diferente do universo monástico e clerical. Sua relação com Deus acontecia através da oração recitada, de gestos simples. A interiorização e a meditação eram um privilégio dos mais cultos que podiam chegar a Deus por estes meios.

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• A oração popular, mais do que por formulações conceituais e longas meditações, se expressava através de todo um dinamismo plástico: procissões, devoções, representações religiosas (alegorias), peregrinações, etc., todas estas constituíam a trama da piedade popular que lhes permitia orar e estar na presença de Deus.

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Na medida que Francisco (e companheiros) crescia na vida espiritual, crescia também a

sua estima pela liturgia e passa a desejar que ela “dê forma à vida fraterna”.

Liturgia e Franciscanismo.• A diversidade de formas através das quais se

realiza o encontro com Deus é conseqüência de uma espiritualidade vigorosa e diversa, cultivada na comunhão eclesial.

• O pluralismo orante da liturgia oficial e da oração popular, unifica-se na pessoa de Francisco, graças à sua formação e sua firme vontade de viver o Evangelho de um modo eclesial.

• Sua oração se constitui num aliança e num encontro entre a oração litúrgica e a oração popular.

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• Sob a inspiração do Espírito Santo, para Francisco era irrelevante a modalidade da oração no tocante a lugar, tempo, posição, oração vocal ou em silêncio, oração do tipo litúrgico ou espontânea (pessoal).

Em Francisco ganham novo horizonte as duas expressões:

a liturgia oficial torna-se mais acessível e a oração popular recebe novo conteúdo teológico.

Por sua vez, a oração do Santo de Assis bebe tanto na fonte da liturgia eclesial quanto na oração popular.

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O livro de rezas de Francisco foi a inspiração divina. O método foi a fiel prática da meditação da Sagrada Escritura, principalmente do Evangelho de João (LM 14,6).

A visita às igrejas fazia parte dos seus métodos de ensino.

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• A oração litúrgica e comum era possível aos frades clérigos e aos que sabiam ler ou cantar.

• Na sua índole popular, o Jogral de Deus, preferia a oração que pudesse ser partilhada também por seus irmãos simples e iletrados. A liturgia desses irmãos era extraída do Livro da Cruz, na meditação (contemplação) e no derramar lágrimas diante dos sofrimentos de Cristo crucificado.

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• O Santo de Assis atribuia maior eficácia a esta oração dos frades simples do que a prece feita com o auxílio dos livros. Isto não quer dizer que desprezasse a utilidade dos livros e a necessidade da oração comum. O que ele sabia é que alguns frades simples eram mais ouvidos por Deus do que zelosos pregadores que não sabiam rezar e, pior ainda, atribuíam a eles a eficácia de sua pregação (cf. LP 71)

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• A iniciação e o ensino sobre a oração de Francisco tem um caráter, antes de tudo, prático e a partir do testemunho. Ela é resposta de amor a Deus formulada pela vida.

• A oração é elevação a Deus, também através das realidades criadas. É colóquio amoroso com Deus, em forma de louvor, admiração e ação de graças à Santíssima Trindade; é sobretudo “escuta” da vontade de Deus e resposta de amor.

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• Atitudes de Francisco ante à oração litúrgica.

• Que atitudes são necessárias para darmos, hoje um testemunho de oração autêntica, para que todos vejam e sintam em nosso rosto e em nossa vida, a bondade e a benignidade de Deus presente no mundo ?

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• Antes de abordarmos a Oração de Francisco, será conveniente descobrirmos as suas atitudes e disposições diante da oração.

• A oração não é uma ação mecânica à qual se chegada de qualquer forma. Necessário se faz todo um ambiente que prepare o encontro pessoal com o Senhor e, uma vez, na sua presença, requer todo um clima que prolongue no tempo os vestígios do divino.

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Atitude contemplativa

Francisco era um

homem contemplativo. Contemplar define-se como a atitude do aproximar-se das pessoas e das coisas de forma respeitosa para iniciar um diálogo desde o coração.

Para Francisco contemplar a Deus é aceitar o Outro como Absoluto e a si mesmo como um ser relativo. A relação de Francisco com Deus sempre se apresentou como uma relação aberta, respeitosa, deslumbrante, gratificante. Os louvores ao Altíssimo expressam de forma gráfica o que era para ele a contemplação de Deus.

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• Para Santa Clara:

– contemplar é ver com outros olhos, é sentir de outro jeito, é perceber o que outros não dizem.

– contemplar é ver com os olhos do coração, mas do coração de Deus, que é compassivo e misericordioso.

– contemplar é abrir-se ao Espírito que renova, transforma e impulsiona ao testemunho.

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Para o Santo de Assis contemplação significa abandonar-se em Deus, através do diálogo ou de uma intensa atenção ao mistério divino que se revela.

Para ele toda oração é contemplação. Em Francisco é impossível separar oração da contemplação (cf 2Cel. 96; 95).

“... Procurava fazer seu espírito estar presente no céu” (2Cel. 94).

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• Ermo, solidão, tranqüilidade, calma e simplicidade caracterizaram seu relacionamento com Deus.

• Ele queria ficar a sós com Deus, calar, escutar e orar. “Procurava sempre um lugar escondido, onde pudesse entregar a seu Deus não só o espírito mas todo o seu corpo ...”(2Cel. 94).

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• A contemplação para ser autêntica, tem por objeto as mesmas realidades – palavras e obras – da história da salvação. Portanto deve alimentar da liturgia. Com o alimento da Palavra, da oração, dos sacramentos, na riqueza inesgotável dos textos litúrgicos.

• A contemplação tem suas fontes na liturgia e para a liturgia está ordenada.

• Assim a contemplação se traduz numa experiência do mistério, favorecendo o crescimento de Cristo em nós e a docilidade ao seu Espírito.

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• Para os Santos de Assis, a liturgia era momento forte e privilegiado para estar em uma dimensão totalmente particular de contemplação.

• Eles viviam a liturgia como mistério no qual

participavam com uma intensidade forte de vida de fé, com uma atenção notável à presença do Deus vivo, à ação santificante de Cristo e à colaboração que o Espírito lhes pedia.

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• Muitos encontram dificuldade para viver o impulso de contemplação nas celebrações litúrgicas.

• Da parte da liturgia – nem sempre ela faz brilhar o sentido do mistério e o impulso contemplativo através dos sinais.

• Da parte das pessoas, se requer harmonia, serenidade interior, iniciação ... “espírito de oração e de devoção”.

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• Francisco e Clara de Assis se deixaram moldar pela liturgia que fez germinar e crescer neles a atitude contemplativa:– Para escutar a Palavra no silêncio da mente e

do coração;– Para voltar a expressar e recriar a oração

com suas fórmulas (não apenas recitar);– Para transformar a gestualidade no modo

concreto de participar de forma plena e unificada do diálogo com Deus.

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Na realidade litúrgica, para uma pessoa, impulsionada pela fé e o amor, os gestos litúrgicos são vividos de dentro para fora e encontram na simples expressividade unificada do corpo e do espírito a capacidade de serem gestos contemplativos que unificam o ser humano.

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Francisco e Clara entenderam que para comungar do mistério, se requer manter certa tensão espiritual, unificar o olhar, a mente, o coração, a palavra e os gestos, deixar-se mover pelo Espírito, sem o qual não há atitude contemplativa.

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Hoje, abusa-se do verbalismo e do barulho em favor da compreensão e da participação ativa, deixando-se pouco espaço para: – a assimilação da Palavra, – o silêncio, o olhar, a

admiração,– A beleza dos gestos e dos

ritos,– Etc ....

Francisco e Clara nos ensinam que os simples gestos da liturgia são também contemplativos: uma posição apropriada das mãos, uma atitude adequada de escuta e participação enquanto estamos sentados,de pé como ressuscitados, de joelhos ou prostrados. Todo gesto litúrgico que nasce do coração dobra suavemente o corpo e o modela, tornando-o sacramento e sinal de um impulso total da mente e do coração; encarna e torna corporal a contemplação, o olhar límpido, a elevação das mãos na oração, o gesto processional para o altar, o abraço de paz acompanhado do olhar luminoso e a palavra de comunhão: o Senhor está no meio de nós!

Para entrar no dimensão contemplativa da celebração é preciso, antes de tudo,, favorecer o silêncio interior e exterior, certa pacificação do corpo e do espírito, uma profunda atitude de fé e de amor para o encontro com o mistério. Coisas todas que não se improvisam e precisam de certa disciplina e perseverança espiritual.

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O espaço da celebração tem que ser ao mesmo tempo sóbrio e bem cuidado, com um toque de harmonia e beleza. Os sinais têm que resplandecer pelo que são, imagens do invisível, mediações que devem fazer transparecer o mistério que revelam, sem esquecer que Deus é Beleza e sua obra de salvação traz o selo de uma autêntica estética de amor.

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• 2ª Atitude: perseverar na oração.

• O alerta evangélico “orar sempre sem desanimar”(Lc 18,1) e para não cair em tentação, que serviu de referência para os monges e eremitas na estruturação de sua vida, foi assumido também por Francisco e recomendado aos irmãos (cf Rnb 22,19-29; Rb 10,9; Adm 16; 2Carta aos fiéis 19-21). A insistência à vida de oração aparece inúmeras vezes nos escritos e recomendações aos irmãos (Rnb 23,10-11). Oração que consistia em manter numa continua atitude de acolhida da Presença do inefável. A pessoa deve manter seu coração vigilante e aberto para que Deus a habite e o transforme.

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Os biógrafos nos revelam um protótipo de Santo caracterizado por uma extensa e profunda experiência orante. Ele, de fato, ocupava grandes espaços de sua vida à oração. O estar na presença de Deus, constituiu-se, para ele, o centro de sua ocupação e de suas preocupações.

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• Francisco cantor e litúrgo de Deus.

São Boaventura

descreve Francisco como o “cantor (jogral) e litúrgo de Deus” (LM 8,10). A expressão revela como o santo se relacionava como o mistério.

Louvado sejas, meu Senhor, por todas as criaturas.

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• Sua qualidade de cantor lhe permitia encontrar-se com Deus de forma espontânea. Sua experiência popular lhe possibilitava dar maior plasticidade e criatividade às suas expressões.

• Por sua vez, como “homem eclesial” o obrigava a ser “litúrgo” (celebrante), expressando, através do ofício divino e de outras formas celebrativas, sua docilidade ao Espírito.

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• Como “jogral de Deus”, Francisco imprimia uma expressão particular à oração – rezava e celebrava de corpo inteiro. Suas orações eram acompanhadas por gestos.

• Deleitava na “oração afetiva”. Se no relacionamento com os irmãos era capaz de frear os sentidos e dominar as emoções, quando se encontrava só, dava asas às emoções do coração e às comoções do espírito (cf 2Cel 95).

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• A oração de Francisco é tão concreta tanto por sua natureza de “jogral” como pela capacidade de representar cenicamente o Evangelho. Exemplo disso é a cena do despir-se diante do bispo e a apresentação do natal em Grécio. O caráter visual e concreto em sua piedade manifesta-se principalmente na famosa representação de Grécio em 1223 (cf 1Cel 84-86).

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• Ébrio de amor e compaixão por Cristo, Francisco muitas vezes agia assim: ‘“às vezes apanhava da terra um pedaço de pau, colocando-o no braço esquerdo, apanhava com a mão direita uma vara à maneira de arco e esfregava sobre o pau, como uma viola ou outro instrumento de corda. Fazendo gestos apropriados, cantava ao Senhor Jesus Cristo. Toda essa alegria terminava, enfim em lágrimas e se convertia em compaixão pela paixão de Cristo” (EP 93).

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• Para Francisco a música sacra era a forma mais nobre do louvor do Senhor.

Como jogral do bom Deus, ele compunha ou improvisava, sobretudo de cunho popular, com finalidade de edificação ou de consolação.

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• Em Francisco tudo reza: o coração, o corpo e os sentidos. Quando enxerga uma igreja ou uma cruz, inclina-se dizendo: “nós vos adoramos ...” (Test 5) . Tudo na pessoa de Francisco reza, celebra: o coração, o espírito, o corpo e todos os sentidos.

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• Clara de Assis igualmente orava com a totalidade de seu corpo: “Muitas vezes, prostrada em oração com o rosto em terra, regava o chão com lágrimas e o acariciava com beijos: parecia ter sempre o seu Jesus entre as mãos, derramando aquelas lágrimas em seus pés, a quem beijava (Legenda de Santa Clara, 19).

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• A liturgia orante é a ‘liturgia do coração”, ou seja, aquela que brota de dentro de nós e se expressa de modo afetivo e efetivo através de gestos, palavras e ações rituais envolvendo todos os sentidos do nosso corpo, propiciando assim uma participação plena, ativa, consciente e frutuosa.

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• A liturgia orante é a ‘liturgia do coração”, ou seja, aquela que brota de dentro de nós e se expressa de modo afetivo e efetivo através de gestos, palavras e ações rituais envolvendo todos os sentidos do nosso corpo, propiciando assim uma participação plena, ativa, consciente e frutuosa.

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Para Santa Clara, o coração é o lugar da experiência dialogal com Deus, como dom gratuito. Falando de sua própria vocação, ela diz: “o Altíssimo Pai celestial, por sua misericórdia e graça, se dignou iluminar meu coração para fazer penitência, segundo o exemplo e ensino de nosso bem-aventurado Francisco” (TestC 24).

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• O fundamental é viver a liturgia e não explicá-la; é deixar-se conduzir como hóspede saboreando como o coração e com a alma o ágape que o Mestre oferece.

• A linguagem da liturgia vai além das palavras e dos ritos e por isso “entrar na liturgia é fazer uma experiência com a própria personalidade, inteligência e coração, com a própria imaginação e sentidos corpóreos: a visão, a audição, o olfato, o tato e o gosto”(Godfried DANNEELS, A obra de um Outro, in: 30 dias, nº 1, jan. de 1996, p. 49).

A oração em Francisco é:

= Escuta dos desígnios, da vontade de Deus;= Simplicidade e humildade profunda diante do Deus altíssimo;= Louvor, ação de graças , alegria;= Amor: do Filho para com o Pai; de irmão para com o Cristo crucificado; de esposo para com o Espírito Santo, guia na prática da virtude, que repousa igualmente sobre o pobre e o simples (2Cel 193) .

Embora Francisco não tenha elaborado um compêndio litúrgico, a ele se atribuem uma série de orações.

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• Francisco escreveu um razoável número de textos que pertencem ao gênero literário e à estrutura de uma oração. A maioria possui inspiração litúrgica apesar de se diferenciarem quanto à sua forma.

• São consideradas autênticas orações:

– O Oficio da Paixão;– A oração da Carta a toda a Ordem (vv. 50-52);– Oração de ação de graças (Rnb 23);– Os louvores a Deus;– Hinos e poesias;– Saudação à Virgem Maria;– Exortação ao Louvor do Senhor;– Saudação às virtudes;– Cântico das Criaturas (Irmão Sol);– Antífonas;

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• O desconhecimento quanto à literatura devocional em que se apoiava Francisco não nos permite assegurar, tão pouco negar, a originalidade de algumas de suas orações, como aquela recitada diante do Crucifixo de São Damião ou a Paráfrase do Pai Nosso.

• No obstante tudo isto, pode-se deduzir que eram, melhor dizendo, orações comuns do povo, adaptadas por Francisco para sua oração pessoal e adaptadas ao seu estilo e dinamismo.

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• Os biógrafos nos revelam um modelo de Santo caracterizado por uma extensa e profunda experiência orante – “era a própria oração” (2Cel 95).

• Francisco dedicava grandes espaços de sua vida à oração. O estar na presença de Deus, constituiu-se, para ele, o centro de sua ocupação e de suas preocupações.

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• As diferentes formas de oração de Francisco se entrelaçam até se transformarem num modo particular de encontro com Deus.

• Sem sombra de dúvida, elas revelam uma

trajetória => da preferência pelo expansivo e gestual, passando pelo meditativo, até centrar-se na liturgia oficial da Igreja e na sua serena contemplação (cf J. MICÓ, op. cit. p. 213).

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• Os Louvores e orações de Francisco evidenciam os seguintes elementos:

– Louvor ao Deus altíssimo, uno e trino;– Compaixão amorosa para com a paixão de Jesus

Cristo;– Louvor à Virgem Maria;– Participação comum e fraterna;

É evidente o caráter de louvor às pessoas da Santíssima Trindade e a atitude de adorador extasiado ante o do divino mistério.

Francisco e as celebrações litúrgicas da Igreja

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• Francisco de Assis não escreveu tratados sobre a liturgia. Igualmente, seus biógrafos pouco relataram sobre sua vida litúrgica. Esta era, de per si, um projeto próprio da vida cristã e, sobretudo, dos religiosos.

• Mais do que escrever, Francisco teve uma intensa vida litúrgica e sua piedade estava dotada de todo um caráter eclesial. Francisco viveu a liturgia da Igreja do seu tempo, como um filho intima e amorosamente unido à sua Mãe.

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• Assumir a liturgia da Igreja foi para Francisco sinal e expressão de comunhão com a Igreja. A forma como Francisco rezou e quis que o mesmo fosse da fraternidade dos menores, é expressão de sua fé e da comunhão com a Igreja, representada pelo Pontífice.

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• O santo de Assis viveu a vida litúrgica de seu tempo. Sua experiência espiritual está marcada pela prática litúrgica da Igreja da época.

• À sua maneira, fez toda uma obra litúrgica. Uma obra de particular significado para a história.

• A participação nas celebrações de sua comunidade e a aprendizagem da leitura nos livros dos salmos determinou o estilo e as relações com Deus.

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• Sua atividade orante está fundada na experiência litúrgica, sobretudo da Liturgia das Horas (Ofício Divino).

• O próprio vocabulário por ele usado, muitas vezes, advém dos meios litúrgicos.

• A oração pessoal, em São Francisco e Santa Clara de Assis, alimenta-se da oração litúrgica da Igreja.

EXPERIÊNCIA EUCARÍSTICA DE FRANCISCO E CLARA DE ASSIS.

Liturgia e Franciscanismo

Como e a partir de que horizontes poderemos compreender a experiência e a vivência eucarística de Francisco e Clara de Assis?

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• O Contexto: séc. XII e séc. XIII – contradições no plano eucarístico:– o povo não compreende e nem participa da

Eucaristia;– a comunhão torna-se cada vez mais rara; – a própria Igreja corrompida pelo poder civil e parece

mais preocupada com os aspectos disciplinares do que doutrinais e espirituais;

A Igreja e a Eucaristia são duas realidades contestadas pelos movimentos heréticos.

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• Francisco e a Igreja Francisco ao contrário de muitos movimentos heréticos, percebe que, para viver o Evangelho em fraternidade, em pobreza e como pregador itinerante, era necessário estar em comunhão com Igreja (Aizpurúa, Fidel – El camino de Francisco de Asís. Valencia: Editorial Asís, 1991, p.16).

Liturgia e Franciscanismo.• Como bem assinalou Pelvet, “Francisco

descobriu, de maneira viva e concreta, a Eucaristia como centro do ser sacramental da Igreja”. Percebe uma estreita vinculação entre a Igreja, o sacerdócio e a Eucaristia. “A Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja”.

• O sacerdote, ordenado pela Igreja, está a serviço da edificação da Igreja, sobretudo, pelo ministério da presidência das celebrações eucarísticas.

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• . A celebração da Eucaristia se transformou para Francisco na celebração de todo o seu ser, de toda a sua vida. Não era uma celebração a mais entre as demais manifestações de piedade e nem um serviço de consolo espiritual. Era sim, momento de profunda comunhão com o mistério pascal – da entrega, morte e ressurreição - de Cristo.

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• Para o Pobre de Assis, “receber o corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo significava celebrar a memória da sua Paixão: “Recebam o Corpo e o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito, recordando que o próprio Senhor disse: ‘quem come a minha carne e bebe o meu sangue possui a vida eterna` (Jo 6,55), e fazei isto em minha memória (Lc 22,19). O ato de comungar está intimamente ligado à memória do mistério pascal.

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• Francisco toma consciência de que só pela força do mistério pascal de Jesus Cristo, de sua entrega sem reservas à vontade do Pai, alguém pode imitar seus exemplos e seguir seus passos, uma vez que, na atualização memorial da Paixão do Senhor, realizam-se as palavras: “se alguém quiser me seguir, negue a si mesmo. Tome a cruz de cada dia e me siga” (Lc 9,23).

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• A celebração da Eucaristia, no entender de Francisco, é a “celebração dos divinos mistérios”.

• Ele vê uma profunda unidade entre o mistério pascal e o mistério da Encarnação. No dom da eucaristia, pelo sacramento do corpo e sangue do Senhor, fomos criados e redimidos – ‘da morte para a vida’ (Carta a todos os Clérigos, 3).

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• São Francisco experimenta grande liberdade diante do “altar” e dá asas à expressão dos seus sentimentos que brotam da contemplação dos divinos mistérios de Cristo celebrados. “Ardia com o fervor do mais profundo de todo o seu ser para com o sacramento do Corpo do Senhor, pois ficava absolutamente estupefato diante de tão amável condescendência e de tão digna caridade. Achava que era um desprezo muito grande não participar pelo menos a uma missa cada dia, se pudesse” (2Cel 201a).

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• A experiência cristã de Francisco é marcadamente cristológica, que tem como rosto o mistério da Encarnação: o Deus que se faz humano, próximo, acessível e vulnerável. Ele o contempla em Belém e no Gólgata.

• Ele experiência a Eucaristia como memorial dos mistérios da Encarnação e da Paixão do Senhor que nasce e morre.

• Por sua vez, o mistério da Eucaristia é a presença ressuscitada d´Aquele que se encarnou (nasceu) e morreu para nos redimir.

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O Cristo que Francisco contempla e segue e liturgicamente celebra, é aquele que nasceu em Belém, que escandalosamente morreu crucificado no Calvário, porém, ressuscitado permanece glorioso junto do Pai e na Eucaristia entre nós como alimento e presença solidária (cf Carta a

toda a Ordem 29).

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• O Pobre de Assis confessa sua fé no augusto mistério eucarístico, presente nas espécies sacramentais em cada igreja e em toda a criação . Desta sensibilidade brota a oração franciscana: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo aqui e em todas as vossas Igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendizemos porque por vossa santa Cruz remistes o mundo” (Test. 5).

• J. Micó observa que a ênfase kenótica (Fl 2,7-11) da experiência de Francisco, o motiva a atitude de adoração mais do que à ação de graças (cf J.Micó. Vivir el

Evangelio, p. 221).

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• A forma como vive o sacramento da Eucaristia transparece grande vigor evangélico. Francisco vivencia o mistério da presença do próprio Cristo, ainda que de forma sacramental, também nas criaturas, na Palavra de Deus, nos doentes e nos pobres.

• Dotado de “alma eucarística”, vive e descobre as verdades de uma presença sacramental de Jesus na sua vida e na fraternidade.

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• Francisco ressalta que a relação entre Eucaristia e a vida dos irmãos (a fraternidade) é uma relação dialética. A Eucaristia questiona continuamente a vida de quem a celebra, e só quem se deixa questionar e transformar por ela, pode celebrá-la e dela participar.

• A dimensão questionadora da Eucaristia impulsiona à conversão. O que interessa para Francisco é a relação fraterna.

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• A contemplação da Eucaristia como descida, humilhação e como entrega total (cf Adm 1,16-19), revela a Francisco e a seus irmãos, que nela se torna presente o caminho da Encarnação, do despojamento e descida do Filho amado do Pai, pela qual é oferecida à humanidade a história do amor do Pai, no Espírito Santo, para a nossa salvação.

• O caminho que Francisco escolhe como forma de vida. Assim, a Eucaristia se apresenta como o “sacramento” do caminho franciscano. Caminho feito de pobreza e humildade no seguimento das pegadas de nosso Senhor Jesus Cristo – Regra e vida dos Irmãos menores (1Rg 1,1).

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O que seria para Francisco a Eucaristia? “o memorial da entrega total, do serviço e do despojamento (da kenosis) de Jesus Cristo”. Francisco chama tudo isto de:

• Humildade - (CtOrdem, 27; Adm 1,16);

• Despojamento (abaixamento) (Adm 1,16-17);

• Obediência (Carta a toda Ordem, 46); • Entrega total (2Carta aos Fiéis 11-13).

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• À luz da kenosis do Filho de Deus, pode-se entender o amor e a entrega de Francisco aos pobres (leprosos). Ele foi ao encontro dos pobres e se inseriu no meio deles, não simplesmente por razões sociológicas, mas cristológicas e eucarísticas. O amor pelos leprosos transformou-se num sinal de seu seguimento a Jesus Cristo pobre e crucificado.

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• Eucaristia – Myterium Tremedum

Como filho de sua época, Francisco fala da eucarística como “altar terrível”, ou “mysterium tremendum”.

A concepção da Eucaristia como “mysterium tremendum” em que se acentua a imensa majestade divina, amplia a separação entre o divino e o humano pecador.

O sentimento de indignidade faz emergir severos exames de consciência- pessoas são acusadas por receberem o santo sacramento sem prévia confissão. A partir disso, instaura-se toda uma rígida disciplina penitencial para se receber a comunhão.

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A EUCARISTIA (missa) da FRATERNIDADE.

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• Nos primórdios, a oração litúrgica da Fraternidade, por sua índole laical e quase eremítica, centralizava-se mais no Ofício Divino e menos na celebração eucarística.

• À medida que o grupo foi se consolidando como Ordem, também foi se organizando em torno da celebração da Eucaristia.

• Observemos que as duas Regras nada dizem a respeito da celebração eucarística. É na Carta a toda a Ordem onde aparece a celebração diária da Eucaristia.

Liturgia e Franciscanismo

• Francisco sublinha com todas as letras a dimensão comunitária da Eucaristia.

• “Advirto ainda meus irmãos e exorto-os no Senhor que, nos lugares onde moram, seja celebrada uma só missa por dia, segundo a forma da santa Igreja. E se houver vários sacerdotes no lugar, contente-se um sacerdote, por amor à caridade, com ouvir a missa do outro” (Carta a toda a Ordem, 30-31).

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• E sendo a Eucaristia um ato constitutivo da vida fraterna - Francisco recomendava aos Ministros Gerais e aos outros ministros: “Devem começar logo de manhã com a missa, recomendando à proteção divina a si mesmo e o rebanho, em longa oração” (2Cel 185).

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• Francisco descobre na eucaristia um elemento essencial para reafirmar a identidade de sua Fraternidade. Se ela é elemento essencial, por quê a proibição de outras missas (cf CtOrdem 30-33).

• Diferentes razões: – Simonia, enriquecimento, apropriação;– Poder x fraternidade ....– Etc...

Liturgia e Franciscanismo. • Muitos autores acreditam que um das razões de

tal proibição seja o “ fato da acumulação de celebrações privadas” colocar em perigo a pobreza, devido a prática vigente dos estipêndios (cf artigo de O. Schmucki, La Carta a toda la Ordem, Selecciones Franciscanas, n. 29, ano 1981).

• Nesta época multiplicavam-se as missas privadas, na maioria das vezes com fins econômicos. Proliferavam “os padres altaristas” com a estrita função de rezar missas e assistir o coro todos os dias.

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• O que interessava para Francisco era a Fraternidade. O presidir as celebrações distinguia os irmãos entre si, transformando a celebração num símbolo de status que acentuava a divisão entre os simples irmãos e os sacerdotes.

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• Seja qual for a interpretação. Ambos os casos, evidencia-se o perigo da “apropriação”. Não pode haver acordo entre o Cristo pobre, despojado, da “humilde forma”, com o espírito de possessão ou de apropriação do ser humano.

• Quem pretendia submeter ou amarrar a liberalidade de Cristo às intenções materiais dos ofertantes, era para Francisco um grave ato de possessão. Era apropriar-se do Corpo e Sangue de Cristo para comercializá-lo. Agir assim era converte-se num novo Judas (v 16).

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• Quanto à participação ela devia ser ativa e expressão da “pureza de espírito” (do coração).

• É exatamente esta realidade que Francisco se empenha explicar e fazer os irmãos compreender, através de palavras e seu proceder exemplar. “Como tinha toda reverência para com aquilo que se deve reverenciar, oferecia o sacrifício de todos os seus membros e, recebendo o Cordeiro imolado, imolava o seu espírito com aquele fogo que sempre ardia no altar de seu coração” (2Cel 201).

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• No entender de Francisco, o “espírito de penitência” está intimamente ligado à participação na celebração do memorial do mistério pascal do Senhor, através do qual se renova a Aliança com Deus e com a fraternidade. E assim contritos e confessados recebam o corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, com grande humildade e respeito, recordando que o próprio Senhor disse: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue possui a vida eterna (Jô 6,55; Rnb 20,5).

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A grande estima que Francisco nutria pela Eucaristia, evidencia-se também pelo relacionamento com os sacerdotes.

O santo se submete e respeita do mesmo modo os sacerdotes cultos e iletrados, santos e pecadores. Eles são os atores principais da ação memorial dos mistérios do Senhor.

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• Ante às fraquezas (a indignidade) e às criticas dos movimentos heréticos aos sacerdotes, Francisco mostrou um amor e uma grande reverência para com eles, recomendando aos seus irmãos:

“Encobri as suas fraquezas, supri as suas muitas falhas e, fazendo isso, sede mais humildes ainda” (2 Cel 146). “E hei de respeitar, amar e honrar a eles e a todos os outros como a meus senhores. Nem quero olhar para o pecado deles porque neles reconheço o Filho de Deus e eles são os meus senhores” (Testamento 9).

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• Ao mais humilde dos sacerdotes, Francisco atribuía o mesmo respeito e honra que tributava a Jesus Cristo. “Honremos e respeitemos os clérigos, não tanto por sua pessoa – se forem pecadores – mas por causa do seu ministério em que nos administram o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo que sacrificam sobre o altar, recebem e repartem aos outros” (Carta aos Fiéis, 33).

• Na Carta a toda a Ordem, Francisco exalta a dignidade e a santidade dos sacerdotes, comparando-os à dignidade da Bem-aventurada Virgem Maria (cf. Carta a toda a Ordem, 21-22).

Liturgia e Franciscanismo.Francisco movido pelo grande amor ao Corpo e Sangue de Cristo, desejava que o Santíssimo Sacramento fosse colocado em lugares “preciosos e dignos”.

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“E quero que estes santíssimos mistérios sejam honrados e venerados acima de tudo em lugares preciosos” (Test. 11). O Santíssimo Corpo de Deus devia ser “depositado em lugares apropriados e convenientes” (EP 65e). Ainda mais, “Onde quer que o Santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo for conservado de modo inconveniente ou simplesmente deixado em alguma parte, que o tirem dali para colocá-lo e encerrá-lo num lugar ricamente adornado” (Carta

aos Clérigos, 11).

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• Diante de tais exigências quanto aos locais ornados para acolher o Santíssimo Sacramento, a amada pobreza ficava em segundo plano.

• Entendia Francisco que o pobre renuncia voluntariamente os bens para sua perfeição, mas não tinha o direito de renunciá-los em detrimento da glória de Deus e do culto, uma vez que o próprio Jesus quis celebrar a ceia pascal (última ceia) num ambiente digno (cf Mt 26, 17s; Mc 14,12s).

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• Tal era a preocupação de Francisco que chegou a enviar irmãos pelo mundo carregados de vasos sagrados, preciosos e limpos a fim de colocarem neles a Santa Eucaristia, se a encontrassem em lugares pouco honrosos (cf EP 65f).

• “Certa ocasião quis mandar os frades pelo mundo com preciosas âmbulas para guardarem o preço de nossa redenção no melhor lugar, onde quer que o encontrassem guardado de maneira menos indigna” (2Cel 201);

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• No entender do Santo de Assis o pouco zelo pelos altares e igrejas revelava um grave descuido com o sagrado e uma grave falta de fé.

• Dotado de grande sensibilidade eucarística, não temia recomendar aos Custódios: “Os cálices e corporais que usam, os ornamentos do altar, enfim tudo quanto se relaciona ao sacrifício, sejam de execução preciosa” ( Carta aos Custódios, 3).

Liturgia e Franciscanismo.

O cuidado e o zelo pelos lugares sagrados O cuidado e o zelo pelos lugares sagrados refletiam em Francisco a necessidade que o ser refletiam em Francisco a necessidade que o ser humano tem da beleza para não cair no humano tem da beleza para não cair no desespero. desespero. A beleza, como a verdade, conferem alegria ao A beleza, como a verdade, conferem alegria ao coração das pessoas; é o fruto precioso que coração das pessoas; é o fruto precioso que resiste ao tempo, que une as gerações e as faz resiste ao tempo, que une as gerações e as faz se comunicarem na admiração...se comunicarem na admiração...A beleza é a chave do mistério e apelo à A beleza é a chave do mistério e apelo à transcendência. É um convite para gostar da transcendência. É um convite para gostar da vida e sonhar o futuro.vida e sonhar o futuro.

Liturgia e Franciscanismo.

“...a beleza não é um fator decorativo da ação litúrgica, mas seu elemento constitutivo, enquanto atributo do próprio Deus e da sua revelação. Tudo isso nos há de tornar conscientes da atenção que se deve prestar à ação litúrgica para que brilhe segundo a sua própria natureza”

Liturgia e Franciscanismo.

“A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De fato, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma íntima ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade. Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a si e chama à comunhão.”

Liturgia e Franciscanismo.• “Espaço Celebrativo se

refere ao lugar material onde se desenvolve a Celebração Pascal (Igreja, Capela) e depois da celebração continua proclamando a fé através das cores, das formas, da composição do espaço.

• É o espaço adequado, apto para manifestar o Sagrado.”

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• K. Esser afirma: “Francisco foi grande adorador do mistério da Eucaristia. Todavia, tratava-se de algo mais do que uma piedosa veneração do sacramento do altar. Efetivamente, para ele a Eucaristia ocupava o centro de sua vida e de sua espiritualidade”.

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• Francisco «jamais deixava de ter presentes, em aprofundada contemplação, […] a humildade da Encarnação e o amor de sua Paixão de Cristo» (Cf. 1Cel 84); exortava os irmãos a acreditarem, pela fé, na presença real de Cristo na Eucaristia “Vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro”(Adm 1,21; Carta aos Clérigos 3), que «agora se mostra a nós no pão sacramentado»: “E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado”( Adm. 1,21). presente «como auto-dom de si mesmo (MARTINS, José Saraiva – Eucaristia. Lisboa: Universidade Católica, 2002, p. 146).

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• Francisco «ardia com o fervor do mais profundo de todo o seu ser para com o sacramento do Corpo do Senhor e […] Comungava muitas vezes, e com tamanha devoção que tornava devotos também os outros” (2 Cel 201). Queria que os seus irmãos participassem todos os dias na Eucaristia (Cf. 2 Cel 201) porque, dizia ele, «ninguém se pode salvar sem receber o santíssimo Corpo e Sangue do Senhor» (1Carta aos Custódios 6).

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• Francisco «consagrava a Cristo um amor tão vivo […] que julgava ter diante dos olhos a presença contínua do Salvador (cf LM 9,2). percebendo que é sobretudo no sacrifício eucarístico, nessa constante doação do seu próprio Filho ao homem, que Deus se manifesta como Amor, Sumo Bem (Cf. IRIARTE, Lázaro – Historia

Franciscana. Valência: Editorial Asis, 1979, p. 151). Na comunhão do Corpo do Senhor, Francisco via o «alimento por excelência de toda a santidade»

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• A Eucaristia que Clara de Assis adorava no silêncio contemplativo do claustro, era a mesma que Francisco cantava ao logo dos caminhos.

• Como afirma Clara Augusta Lainati:“o caminho Franciscano tem duas dimensões: a vida contemplativa e ativa, com singular abertura à Palavra e à Eucaristia. São duas dimensões do amor que, por sua vez, é sempre contemplativo e ativo” .

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Francisco e Clara de Assis, foram pessoas autenticamente eucarísticas, que souberam reconhecer, adorar e testemunhar a presença do Senhor. Eles, de fato, se encontraram com o Senhor e se deixaram abrasar por Ele, mediante suas diferentes presenças e mediações: a Encarnação (Belém), a paixão (Cruz e Calvário) e presença ressuscitada na Eucaristia; a Igreja; os irmãos e a fraternidade.

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Enfim, para os Santos de Assis, o coração da Igreja e do mundo, é o sacramento da Eucaristia, porque ela é a realidade suprema, o centro de máxima densidade do ser, em torno do qual tudo deve gravitar e com o qual todos devem conformar-se.

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São Francisco

e a Palavra de Deus.

A Palavra como encarnação de Deus.

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• Francisco intui nas Escrituras a presença viva de Cristo e a assume como se assumisse a pessoa mesma do Filho de Deus.

• Ao falar do Corpo e do Sangue de Cristo, refere-se também às suas santas Palavras: “Pois nada temos nem vemos corporalmente dele, do próprio Altíssimo, neste mundo, senão o corpo e o sangue, os nomes e as palavras pelas quais fomos criados e remidos da morte para a vida” (Carta a todos os Clérigos, 3).

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• A Palavra, no entender do Pobre de Assis, tinha igual dignidade que a Eucaristia. Ela era vista como um sinal corporal do Filho de Deus.

• Francisco intui a sacramentalidade da Palavra: “O corpo de Cristo não está mais realmente presente no adorável sacramento do que quanto a verdade de Cristo que está na pregação evangélica (do que na palavra) (Bossuet). “A palavra não é menor do que o Corpo de Cristo”.

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• Sua fé assemelha-se à dos Santos Padres, para quem a Palavra do Evangelho era o próprio Cristo encarnado, presente e proclamado.

• Ao Pobre de Assis, pode-se aplicar o que Paul Evdokimov escreveu dos santos Padres:

“Ao lerem a Bíblia, os Padres liam, não uns textos, senão o Cristo vivo, o Cristo que lhes falava. Consumiam a Palavra como o Pão e o Vinho Eucarístico, e a Palavra era lhe oferecida com a profundidade de Cristo”.

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• Esta íntima relação existente entre a Eucaristia e a Palavra de Deus, nos leva a pensar no significado sacramental da Palavra: “A Palavra de Deus é para Francisco também um sacramento no qual se encontra a presença viva do Filho de Deus”.

• Para Santo Agostinho, “a palavra é o sacramento que se ouve” – que, pela escuta, nos faz entrar em contato com a viva verdade e vontade de Deus, e ouvimos a própria voz de Cristo”.

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• Por isso, o mesmo amor e respeito tributados ao sacramento do altar, devem ser atribuídos à Palavra das Sagradas Escrituras. Elas são a Palavra Encarnada, presente na Eucaristia.

• Aqui se revela uma originalidade de Francisco. Uma experiência que será assumida pelo Concílio Vaticano II: “Cristo está presente em sua Palavra,quando se lê na Igreja a Sagrada Escritura, é Ele quem fala” (SC 7).

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• Os mesmos cuidados que Francisco reclama em favor da Eucaristia, ele os solicita em relação à Palavra de Deus:

“Advirto por isso a todos os meus irmãos e os confirmo em Cristo, a que, onde quer que encontrem palavras de Deus escritas, tratem-nas com todo o respeito possível e, ... se elas não estiverem bem guardadas ou jazem dispersas em lugares inconvenientes, recolham-nas e as reponham em lugar descente, honrando o Senhor nas suas palavras que pronunciou. Pois, muitas coisas são santificadas pelas palavras de Deus (1Tm 4,5), e é em virtude das palavras de Cristo que é confeccionado o Sacramento do altar” (Carta a toda a Ordem 35-37).

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Francisco e o Ano Litúrgico.

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• Celano descreve o amor que Francisco nutria pelas festas litúrgicas queridas e celebradas pelos seus contemporâneos. Na época atribuía-se particular ênfase aos “mistérios humanos” de Cristo (o nascimento e a paixão (sofrimento e morte na cruz) . Esses mistérios inspiravam mais a sensibilidade e a imaginação da piedade medieval.

• Nesta época, não se alimentava a fé a exemplo dos séculos precedentes nos grandes mistérios da vida gloriosa de Jesus Cristo, tais como: Páscoa, Ascensão e Pentecostes. Não quer dizer que tais festas não fossem celebradas como eixos centrais do Ano Litúrgico.

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No contexto espiritual da Idade Média, adquire particular relevo, a meditação piedosa da paixão do que a celebração memorial da mesma. Uma diversidade de expressões e pormenores dão o contorno histórico à paixão de Cristo.

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• Francisco se enternecia na celebração da Paixão do Senhor. O encontro com o Crucifixo de São Damião havia tocado e ferido o seu coração. Desde então, a imagem do Cristo sofredor não se afastou de seu pensamento. “Diante da Paixão de Cristo, até chorava alto. Encheu os caminhos de gemidos, e não admitia consolação alguma lembrando as chagas de Cristo” (2Cel 6, 11).

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• São Francisco - descobre Jesus crucificado e a partir do crucificado descobre o irmão pobre (ou vice-versa).

• Ele passa a identificar-se com o oprimido e a partir dele faz seu itinerário de vida. Assim, a Paixão de Jesus Cristo para Francisco não deve ser entendida pela via de quem chora o sofrimento e a morte, mas porque o Crucificado não é amado e desprezado nos pobres.

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• A piedade de Francisco em relação à Paixão de Jesus encontra algumas expressões litúrgicas, tais como:

O Ofício da Paixão do Senhor:

• São Francisco compôs o Ofício da Paixão de forma original, porque guardava de memória muitas passagens dos salmos e dos evangelhos.

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O Santo de Assis apenas deseja gloriar-se na cruz de Jesus Cristo (2Cel 203), crucificado com Ele.

Liturgia e Franciscanismo.• Com entusiasmo Francisco

celebrava a Natividade do Senhor.

• O Natal era chamado “a festa das festas”. “Celebrava com incrível alegria, mais que todas outras solenidades, o Natal do Menino Jesus, pois afirmava que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos” (2Cel 199).

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Francisco vivia com tal intensidade o mistério da Encarnação que cobria de beijos as imagens e derretia-se de compaixão pelo Menino Jesus. Balbuciava palavras que passavam de seu coração aos seus lábios a exemplo de crianças.

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• Gostava tanto de lembrar a humildade (Encarnação) e a paixão do seu Senhor, que nem queria pensar em outras coisas.

• Na noite de Natal de 1223, Francisco quis contemplar com seus olhos carnais o mistério da Encarnação do Filho de Deus ... (cf 1Cel 84-86; LM 10,7).

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Movido pela vontade de conformar-se com Cristo, meditando seus exemplos e revivendo seus mistérios revelados ao longo do Ano Litúrgico, Francisco empenha-se na conversão através:

= da Quaresma da Paixão e Morte -> Páscoa;= da Quaresma do Advento -> Natal;= da Quaresma da Epifania (bendita);= da Quaresma de São Miguel;= da Quaresma dos Santos Apóstolos Pedro e

Paulo até a Assunção.

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• = da Quaresma da Paixão e Morte => Páscoa da Ressurreição.• Francisco depois de vivê-la com

intensidade (cf i Fioretti,7), a prescreveu para todos os frades (cf RnB 3. RB 3).

• Expressão de total conformidade a Cristo sofredor e vivência intensa da disciplina penitencial da Igreja.

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= da Quaresma do Advento => Natal.• O Natal junto com a Páscoa, “era a festa das

festas”. Preparar-se para celebrar o mistério da Encarnação não era menos importante que preparar-se para celebrar o mistério da redenção.

• A quaresma de Advento: 01.11 a 24.12.

• Foi recomendada aos frades: RnB 3.RB 3. assim os frades estarão em condições de celebrar o nascimento humilde e pobre do Menino Jesus.

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= da Quaresma da Epifania (bendita).• Francisco desejava estabelecer um laço entre a

celebração do Natal e da Páscoa. Para ele, festas intimamente ligadas entre si, representando dois pólos do mistério da salvação (cf 1Cel 84; RnB 3).

• Quaresma que se traduz na atual vivência da 1ª etapa do Tempo Comum – vivência dos mistérios de Cristo.

• É chamada de “Bendita” porque foi vinculada a uma bênção aos que dela, espontaneamente participassem (cf RB 3.6).(cf LM 9.2).

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= da Quaresma de São Miguel –

• É a quaresma pessoal e devocional de Francisco.• Iniciava na festa da Assunção até a festa de São Miguel

Arcanjo.• O foco era a meditação do mistério de Cristo na sua

dimensão escatológica – a contemplação da Jerusalém celeste ornada com o fulgor da Virgem Maria, dos anjos e dos santos.

• Foi nesta Quaresma que aconteceu a estigmatização (cf LM 13.1.5).

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= da Quaresma dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo até a Assunção.

• Expressão de sua comunhão eclesial, com o Papa e os Bispos.

• São Boaventura ressalta o cunho eclesial e mariano desta Quaresma (revelava a devoção mariana de Francisco) (cf LM 9.3).

• Em Maria, depois de Cristo, depositava toda a sua confiança: por isso a constituiu advogada sua e de seus irmãos e em sua honra jejuava devotamente.

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NOTAS CARACTERÍSTICAS DA QUARESMA FRANCISCANA.

Liturgia e Franciscanismo.

• Francisco não se distancia do espírito litúrgico e penitencial da “santa Mãe Igreja” nas linhas fundamentais da vivência quaresmal.

• A quaresma é para ele, como para todos os irmãos, o tempo favorável destinado à penitência e à conversão em vista da renovação batismal.

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A MORTIFICAÇÃO

• O conceito que Francisco tem de “mortificação” é essencialmente bíblico e apóia-se nas palavras de Paulo (Rm 8,3-4).

– O Santo não mortifica o próprio corpo por ódio ou desprezo, mas por amor. Os jejuns e mortificações o fazia passar do carnal para o espiritual, no sentido de João 12,25, - “perder a vida, para ganhar a vida”.

– A mortificação em Francisco ressalta o binômio: “mortificação-amor.

Liturgia Franciscana.

DESERTO – lugar do Encontro transformador

• Outra característica da quaresma franciscana está vinculada à categoria bíblica do deserto.

• O Espírito impeliu Jesus ao deserto (Mc 1,12).

• Francisco entendia que Deus quando deseja revelar-se de modo particular à alguém, o impele ao deserto.

• Durante a quaresma Francisco se refugiava nos bosque, nas grutas, no ermo para ocupar-se somente com Deus.

Liturgia e Franciscanismo.

A POBREZA – total desapego.

• A quaresma era tempo favorável de contemplação – nada devia perturbar o impulso contemplativo.

• O exercício quaresmal requeria de Francisco tomar distância da posse e do uso das coisas – um total abandono nas mãos do Altíssimo!

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Beleza e alegria das criaturas.

O amor de São Francisco pela pobreza não o impedia de admirar e amar todas as criaturas, de degustar o bom e belo proclamado pela harmonia do universo.

Liturgia e Franciscanismo.

• Francisco, como um homem livre, estava em condições adequadas para ouvir a voz das criaturas e cercá-las de amor e elevá-las com Cristo e por Cristo a Deus Pai.

• Por este motivo, para realizar suas quasresmas, escolhia o verde das florestas, a verdade das ervas e das flores, o canto dos pássaros, a vastidão dos horizontes, que facilitavam seu impulso contemplativo e revestiam de cunho alegre seus jejuns e suas mortificações (cf LM 8,10).

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