lit. introd.pp prof mônic

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INTRODUÇÃO

À

LITERATURA

PROFESSORA MÔNICA ALMEDA NEVES

TEXTO LITERÁRIO é o texto 1, que, apesar de

tratar de aspectos do mundo real, narra poeticamente a

morte de uma prostituta.

•TEXTO NÃO-LITERÁRIO é o texto 2, um texto

jornalístico, que narra de forma objetiva a morte de

uma prostituta.

CONCEITO DE LITERATURA

Homem apontando.

Escultura de

Giacometti,1947

Galery Londres

O ser criado não

corresponde

exatamente

a um homem real, é

um ser imaginário

1- DIFERENÇAS ENTRE

LITERÁRIO

E

NÃO-LITERÁRIO:

MUNDO REAL E MUNDO FICCIONAL

Textos não-literários referem-se a fatos reais;

transmitem informações sobre seres e fatos. Quando os

textos foram escritos, esses seres já existiam e os fatos já

haviam ocorrido ou estavam ocorrendo.

Nos textos literários, os seres e fatos só passaram a

existir depois que o texto foi escrito. Empregando

artisticamente a língua, o escritor criou um mundo que

não existia antes do texto ser escrito. Esse mundo pode

assemelhar-se ao mundo real, mas não tem uma

correspondência exata com ele, é um mundo que só

existe no texto.

A prostituta do texto 1 não se refere a

nenhuma mulher especial; foi criada pelo

poeta Mário Quintana.

Já a garota do texto 2 não foi inventada pelo

jornalista; já existia antes de ter sido escrito

o texto.

NO TEXTO NÃO-LITERÁRIO A

LINGUAGEM SE REFERE A COISAS DO

MUNDO REAL, COISAS QUE EXISTEM

INDEPENDENTEMENTE DO TEXTO.

NO TEXTO LITERÁRIO A LINGUAGEM

SE REFERE A COISAS E FATOS QUE

EXISTEM EXCLUSIVAMENTE NO

TEXTO.

A Literatura tem a intenção de criar um universo

de FICÇÃO, ou seja, um universo imaginário,

que o leitor não conhece antes de ler o texto.

FICÇÃO: resultado da imaginação ou fantasia

de alguém.

Textos literários não se confundem com

documentos ou retratos realidade, pois resultam

da capacidade de INVENÇÃO do escritor.

Embora possa manter uma relação com o mundo

real, como no texto 1(prostituição, morte, crime)

e com o mundo psicológico (tristeza, pureza), o

escritor pode CRIAR a partir dessa realidade

fatos inusitados.

2. VERDADE

E

COERÊNCIA

As informações contidas num texto não-

literário podem ser verificadas, ou seja: as

palavras do escritor, do cientista, do

jornalista ou do historiador não valem por

si mesmas, pois elas estão fora do texto e

referem-se a fatos e seres reais cuja

existência pode ser comprovada ou não.

No texto literário não se pode aplicar as noções

de verdadeiro ou falso, porque as palavras do

escritor bastam para criar um mundo paralelo ao

real, um mundo de fantasia, ou seja: o autor não é

obrigado a manter-se fiel ao mundo real.

O escritor do texto literário tem plena

consciência do caráter ficcional de seu trabalho.

Veja esse trecho do conto “A hora e a vez de

Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa: ”

“( ...). E assim se passaram pelo menos seis ou seis

anos e meio, direitinho desse jeito, sem tirar nem

pôr, sem mentira nenhuma, porque esta aqui é uma

estória inventada, e não um caso acontecido, não

senhor. (...). ”

NA LITERATURA NÃO HÁ MENTIRA,

JÁ QUE TUDO É POSSÍVEL.

A única exigência no mundo ficcional é que haja

COERÊNCIA nas invenções do escritor. A

coerência é garantida pela organização global do

texto. Por exemplo, Não se pode inventar uma

personagem do olhos azuis que, sem nenhum motivo ou

explicação, de repente apareça com olhos castanhos.

Natureza morta

Pintura de

Altemir Martins

1978

Pintura de

Mário Zanine

1966

3. LINGUAGEM LITERÁRIA

X

LINGUAGEM NÃO-LITERÁRIA

O escritor utiliza a mesma língua empregada pelo

cientista, pelo jornalista, pelo falante comum. No

entanto, se a língua é a mesma, a MANEIRA de

empregá-la é bem diferente: a linguagem literária

diferencia-se da não-literária pelo fato do escritor

empregar uma série de recursos com o objetivo de

alcançar maior expressividade.

Na língua do dia-a-dia, em textos jornalístico,

históricos ou científicos as palavras servem como

veículo de informação ou idéias. Na linguagem

literária, o autor quer chamar a atenção para essa

língua.

A língua empregada no dia-a-dia tende ao habitual;

já a literária explora os vários aspectos da língua,

como a sonoridade, as diversas possibilidades de

montagem da frase (sintaxe), as diferentes

significações dos termos, etc.

Veja como a linguagem literária combina palavras

de forma especial, para transmitir idéias que às

vezes, são bem simples:

1. Anoitece.

A mão da noite embrulha os horizontes.

( Alvarenga Peixoto )

2. Os cegos tentavam dormir.

... os cegos esperavam que o sono tivesse dó de sua

tristeza.

( José Saramago )

3. Teus cabelos loiros brilham.

Os clarins de ouro dos teus cabelos cantam a luz.

( Mário Quintana )

4. Uma nuvem cobriu parte da lua.

...um sujo de nuvem emporcalhou o luar em sua nascença.

( José Cândido de Carvalho )

5. Aos cinqüenta anos, inesperadamente apaixonei-me de novo.

Na curva perigosa dos cinqüenta derrapei neste amor.

( Carlos Drummond de Andrade )

Esses exemplos mostram que, no texto

literário, a língua não serve só para

expressar idéias.

A linguagem literária, tal como um

quadro, não se interessa apenas no

assunto, mas também nas cores, no

jogo de luz e sombra, na perspectiva

escolhida pelo pintor ou autor.

Fotografia comum

Pintura de Carlos Scliar

feita a partir da imagem

da foto.

RECURSOS LINUÍSTICOS

FREQUENTES

NA

LINGUAGEM LITERÁRIA

A) EXPLORAÇÃO DO SIGNIFICANTE:

Cada palavra é composta de duas camadas:

a) SIGNIFICANTE: os fonemas ou as letras que

constituem a palavra.

b) SIGNIFICADO: o conceito, a idéia transmitida

pela palavra.

Pedido-protesto,

de Décio Pignatari,

inspirado em um

verso do poema

“Navio Negreiro,

de Castro Alves

Na linguagem NÃO-LITERÁRIA (comum ou

científica), o SIGNIFICANTE funciona

apenas como suporte para o SIGNIFICADO,

pois o que nos interessa é o sentido da

mensagem.

Na linguagem LITERÁRIA, o autor pode

explorar o aspecto visual e o aspecto sonoro

do SIGNIFICANTE, visando a alcançar

maior expressividade, a enriquecer o texto

literário.

Exploração do significante da palavra:

explora o conteúdo sonoro e visual da palavra

NOVELO

OVO

OVO

E (Augusto de Campos)

L

O

E sons soturnos, suspiradas

mágoas,

Mágoas amargas e melancólicas,

No sussurro monótono das águas,

Noturnamente entre ramagens

frias.

(Cruz e Sousa)

A exploração da sonoridade dos

significantes também é bastante

comum na literatura, especialmente na

poesia.

B- Arranjos sintáticos

incomuns

na

linguagem cotidiana.

SINTAXE, a grosso modo, é a maneira

como as palavras se

organizam na frase. Muitas vezes, criando

arranjos sintáticos

elaborados, o escritor reforça o significado

da mensagem.

Em português, a ordem direta da frase é:

sujeito + verbo + complementos.

Brutal, febril, entre canções e brados,

Entrara pela noite adiante a orgia.”

( Olavo Bilac, O sonho de Marco Antônio. )

O jogador de basquete Oscar é um homem grande.

Napoleão Bonaparte foi um grande homem

na história mundial.

Ao deslocar o sujeito da frase ( orgia ) para o final

da seqüência, o poeta enfatiza o termo, propiciando

uma certa expectativa na mente do leitor que só ao

final do segundo verso, saberá a quem os adjetivos

brutal e febril se referem.

C - REPETIÇÕES

“Danival faz o que pode. O que não pode ele faz

escondido. O que ele não faz ainda não foi feito. O

que ele não fez não se faz. Quando não pode ele

deixa para depois. Só não faria se não deixassem,

mas não deixam. E tem uma coisa: Não faz o que

mandam. Se mandam, não faz. Só faz sem hora e

sem ordem. Só faz o que faz e só fez quando quis.

Quando faz, gosta, enquanto faz; mas fazer porque

tem que, acha um saco.”

(ANGÊLO, Ivan. A casa de vidro. SP: Cultrix, 1980, p.

59.)

No trecho acima, o narrador descreve o

comportamento de uma personagem e, para

isso optou por concentrara sua descrição no

verbo FAZER.

Esse verbo aparece dezesseis vezes num

trecho de apenas seis linhas. Isso foi

proposital.

Num texto não-literáio, essa repetição

indicaria pobreza de vocabulário. Nesse

texto, trata-se de um recurso que acentua a

principal característica psicológica da

personagem: a independência.

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

MORAES, V. de. Poesia completa e prosa. RJ: Nova

Aguilar,

1981, p. 183.

D - Rima

Recurso lingüístico muito usado na poesia, pode ser

também encontrado na prosa. É usado para dar

musicalidade e ritmo ao texto.

4. SENTIDOS

SIGNIFICADOS

E

USOS

4.1. DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO:

DENOTAÇÃO: é o uso da palavra em seu sentido

original, convencional, usual.

CONOTAÇÃO: é o uso da palavra com um

significado novo, diferente do original ou do

convencional, ou seja, o sentido é criado pelo

contexto em que a palavra está.

Compare as frases e a colocação dos

adjetivos:

Qual é o número de alunos desta classe?

OH, aeromoça! Vê se me dá um sorriso

menos número! .

Na primeira frase, a palavra NÚMERO foi usada

em seu sentido real, objetivo, no sentido do

dicionário. Não é possível mais de uma

interpretação da palavra. Significa “conta certa”,

“quantidade”. Portanto, o sentido usado foi o

DENOTATIVO.

Na segunda frase, a palavra NÚMERO foi usado

no sentido figurado. Admite mais de uma

interpretação ou sentido, dependendo de quem lê o

texto. Pode significar “uniforme”, “padrão”, “sem

graça”, “falso”... Foi, portanto usado no sentido

CONOTATIVO.

:

O sentido CONOTATIVO pode aparecer em

apenas uma palavra, em uma frase ou mesmo no

texto inteiro. Veja

A busca da paixão

Sofreu muito com a adolescência.

Jovem, ainda se queixava.

Depois, todos os dias subia numa cadeira,

agarrava uma argola presa ao teto e,

pendurado, deixava-se ficar.

Até a tarde em que se desprendeu

esborrachando-se no chão: estava maduro. (Marina Colasanti)

O jogador era o maior cobra do time.

Embora seja mais frequente na linguagem literária, a

conotação aparece muito na linguagem coloquial. Veja:

Que maldade! Você foi uma cobra, minha amiga!

Desenho tirado

de enciclopédia

Pintura de Anita Mafaldi

Texto- não literário = significado único

Texto literário = plurissignificados

4.2. SIGNIFICADO ÚNICO E SIGNIFICADOS

MÚLTIPLOS

4.3. MERA COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO

No uso cotidiano, a língua não exige trabalho de

interpretação. Simplesmente compreendemos ou

não a mensagem enviada por alguém.

Já a língua do texto literário nos obriga a

interpretar, não basta entender a mensagem, é

preciso buscar o que o autor ou as palavras dele

estão querendo dizer.

Essa interpretação pode variar muito,

dependendo das experiências e conhecimentos

do leitor.

4.4. NORMA CULTA X NORMA LITERÁRIA

Se o autor de textos não-literários desobedecer às normas

cultas do idioma, corre o risco de gerar problemas de

compreensão de seu texto. Já o autor de textos literários

pode, propositalmente, infringir as normas gramaticais,

para poder obter os efeitos por ele pretendidos.

Veja como no trecho a seguir, o autor deixou de usar as

vírgulas de propósito para mostrar que seu personagem

via os frutos num único golpe de vista:

“(...) O herói vinha dando hora de tanta fome e a

barriga dele empacou espiando aqueles sapotas

sapotilhas sapotis abricós maracujás miritis

guabajus melancia ariticuns, todas essas frutas.(...).”

Mário de Andrade, Macunaíma.

“(...) e ninguém não encarou.”

Guimarães Rosa, Grande sertão .

Lavrador.

Pintura de

Cândido Portinari,

1939, MASP.

O pintor usou um

erro anatômico

como recurso para

realçar as

características de

força e resistência

do lavrador.

1- Isoladamente, nenhuma das características

comentadas é suficiente para definir o texto

literário. É necessário que as outras condições,

entre as comentadas, também ocorram.

A exploração dos recursos sonoros e visuais da

linguagem não é recurso exclusivo da literatura.

Pode ocorrer em diverso tipos de textos. Veja:

Observações:

Na propaganda: Viaje bem. Viaje Vasp.

Nos provérbios: Suspiro de vaca não arranca estaca.

Nos trava-línguas: O rato roeu a roupa do rei de Roma.

Na música popular: Esperando parada, pregada /

na pedra do porto ...

(Chico B. de Holanda)

A grande diferença entre literário e não-literário está na

intenção do autor. Na propaganda, o objetivo é

“destacar” a mercadoria para vendê-la. Na literatura, a

linguagem não apresenta um objetivo utilitário, mas tem

função estilística, ou seja, tornara a linguagem mais

expressiva. O mesmo vale para a música.

Livros de memórias, biografias,

autobiografias, crônicas ocupam uma

posição intermediária entre o documento e a

literatura.

Um texto biográfico, ainda que baseado em

fatos reais, pode apresentar fragmentos

ficcionais. Veja:

2- Quanto ao aspecto ficcional

“(...) minha ansiedade aumentava ou então era

desencadeada na noites em que eu ouvia o vento

uivar lá fora. Sim, a voz do vento era uma fator

de ansiedade. Eu tratava de chamar-me à razão.

Tudo estava bem. ”

(Érico Veríssimo, Solo de clarineta.)

5- PROSA E POESIA

São duas as formas de um texto literário:

A) PROSA:

As linhas ocupam toda a extensão horizontal da

página. O texto divide-se em parágrafos

B) POESIA:

As linhas não ocupam toda a extensão

horizontal da página. O texto divide-se me

blocos chamados estrofes. Cada linha do poema

é chamada de verso.

Para alguns só se pode falar em literatura

quando há o texto escrito. Para outros, existe a

literatura oral:

contos, adivinhações, frases-feitas, cantigas de

roda, cordel, repentes, etc.

6- LITERATURA ORAL

E

LITERATURA ESCRITA

A literatura de cordel

emprega o registro

oral e o escrito.

A figura dos

violeiros que cantam

os versos, é

indissociável dos

livretos que trazem

os textos cantados

por eles.

Textos literários apresentam uma existência

histórica bem definida: foram criados por

pessoas que realmente existem ou existiram, em

determinadas datas e lugares.

O leitor, por sua vez, também está situado no

tempo e no espaço e pode apreciar ou não o texto

literário lido.

7-LITERATURA, CULTURA,

MOMENTO HISTÓRICO

Uma obra literária sempre participa de um

processo que se relaciona com os demais fatos

culturais de uma comunidade. Por isso, ao

analisarmos um texto literário é fundamental

relacioná-lo aos fenômenos culturais de sua

época.

A literatura faz parte da história, assim como

todas as criações materiais ou espirituais do

homem. É mais um entre os diversos afazeres

humanos que, transmitidos de geração a

geração, integram a cultura.

A literatura faz parte da história, assim

como todas as criações materiais ou

espirituais do homem.

É mais um entre os diversos afazeres

humanos que, transmitidos de geração a

geração, integram a cultura.

Propriedade privada

não tenho nada comigo

só o medo

e medo não é coisa que se diga

(Luís Olavo Fontes)

Um texto literário ilustra as características de sua

época. Veja:

O paço do Rio de Janeiro, Karl von Theremin,

1918.

São Paulo, Tarsila do Amaral, 1924

8- FUNÇÕES DA LITERATURA

a) Arte pela arte

b) Literatura como mecanismo de evasão

c) Literatura como forma de conhecer o mundo

e o homem

d) Literatura como catarse

e) Literatura como instrumento político

9- LITARATURA, MÚSICA POPULAR

E TELENOVELA

Música popular e telenovela são manifestações artísticas,

que embora também trabalhem com a ficção e com a

linguagem poética, não se confundem com a literatura,

porque apresentam características estruturais próprias

O grande risco desse “mecanismo cultural” é a

massificação e a divisão e exclusão social cada vez mais

acentuadas.

10- CONCLUSÕES

1- “A obra literária é um objeto social. Para que ela exista,

é preciso que alguém a escreva, e que outro alguém a leia.

Ela só existe enquanto obra neste intercâmbio cultural.”

(Marisa Lajolo)

2- “Não são as obras de arte que decidem sobre si

mesmas: quem decide sobre elas são os homens.”

( Schüking )

REFERÊNCIAS:

Imagens e trechos de obras retirados de:

MOURA & FARACO. Literatura brasileira.

São Paulo: Ática, 1998.

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