introdução à filosofia e ao pensamento fenomenológico

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PASP- Princípios para a ação social e política

São Paulo, 5 de agosto de 2020

Maria Cecilia Isatto Parisemciparise@gmail.com

Introdução à filosofia e

ao pensamento

fenomenológico

▪ A Fenomenologia de Husserl como método

▪ Estrutura transcendental do ser humano

▪ Edith Stein e a Fenomenologia

▪ A pessoa humana para Edith Stein

▪ A visão cristã da pessoa humana

AULA 2 – Fenomenologia de Husserl e Stein

Fenomenologia como método

▪ Methodo (grego) = “odos” (estrada) = “meta” (por meio

de, através)

▪ Toda filosofia ocidental tem como característica a

busca de um “método”, um caminho para se

compreender o sentido das coisas.

▪ Husserl Identifica duas operações (reduções) que

fazemos para apreender as essências do que se

manifesta à consciência.

• A redução eidética

• A redução ao sujeito transcendental

Fenomenologia como método

▪ 1ª operação: Redução eidética

• Colocar entre parênteses ou reduzir todas as

características sensíveis e não essenciais.

• Isso só é possível porque todo conhecimento

humano parte do sensível, mas vai além, para o

inteligível.

• Pressupõe uma constatação de fato: todo ser

humano é capaz de captar o sentido, as

essências das coisas.

Redução eidética

No sentido reside a verdade/realidade da coisa, que pode

ser apreendida e transmitida de modo universal.

“Essência”

apreendida pela

consciênciaAu-au =

Fenomenologia como método

▪ 2ª operação: Redução transcendental

• Temos consciência das coisas e também de

sermos uma unidade: corpo vivenciado como

meu e alma (psique e espírito);

• Sabemos que os outros seres humanos são

semelhantes a nós e possuem essa mesma

estrutura (essência).

• Esses âmbitos estão entrelaçados no ser

humano, mas podemos distingui-los, sem

separá-los, para descrevê-los melhor.

Fenomenologia como método

Redução ao sujeito transcendental

Buddy

= Au-au

▪ Todo ser humano é

um “sujeito de

vivências”.

▪ As vivências

podem ser estudas

em sua essência

como atos de um

sujeito

transcendental,

como um “Eu puro”.

Fenomenologia como método

Percepção

Reflexão

Memória

Imaginação

Pensamento

Sentimento

Valoração

Ação etc.

CORPO

PSIQUE

ESPÍRITO

TUDO QUE SE

MANFESTA À

CONSCIÊNCIA

VERDADE/REALIDADEOBJETOSUJEITO

VIVÊNCIAS DA CONSCIÊNCIA

EU PURO

Estrutura transcendental do ser humano

Estrutura transcendental do ser humano

Corpo vivenciado Percepção através dos cinco sentidos

Ser humano ser espiritual ser cultural

Psique Atos de reação emotiva e afetiva (função perceptiva)

Espírito Atos que controlamos com a função intelectual + vontade

(fundamentam-se nos valores de cada indivíduo)

Ser humano

Corpo vivenciado [Leib]

Psique

Espírito

Aspecto vital

do ser humanoAlma

AnimaisCorpo

Psique

▪ Filósofa judia e ateia, Edith Stein foi

discípula de Edmund Husserl e

compilou seus escritos sobre a

constituição da pessoa humana.

▪ Torna-se cristã ao conviver com

vários fenomenólogos convertidos ao

cristianismo vinculados a Husserl.

▪ Aos 42 anos entra para o Carmelo.

▪ Como monja carmelita, Teresa

Benedita da Cruz morre em Auschwitz

e é canonizada.

Edith Stein e a Fenomenologia

Edith Stein

(1891-1942)

▪ Edith Stein se interessa desde jovem

pelo estudo da natureza humana.

▪ Procura na psicologia de seu tempo

uma resposta para seus profundos

questionamentos, mas não os encontra:

“(...) esta ciência [a psicologia] ainda estava

nos primeiros balbucios; faltava-lhe o

fundamento indispensável de conceitos de

base clarificados, e ela própria não estava

em condições de forjar para si tais

conceitos”.

Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos,

Parte V, §5

Edith Stein e a Fenomenologia

Edith Stein estuda, germanística, história, psicologia e filosofia na

Universidade da Breslávia(1911-1912)

▪ Lê as Investigações Lógicas de Edmund

Husserl e intui que ali poderia encontrar

os fundamentos que buscava.

▪ Decide seguir seus cursos na

Universidade de Gotinga.

▪ Ela aprende com Husserl que o ser

humano não é apenas “pensar”, mas ele

sente, quer e age, é um sujeito de

vivências e um sujeito espiritual.

▪ Aprofunda as suas pesquisas,

especialmente quando estuda autores da

metafísica cristã.

Edith Stein, estudante de

fenomenologia em Gotinga

(1913 a 1916)

Edith Stein e a Fenomenologia

O indivíduo humano e o núcleo pessoal

Os seres humanos têm estruturas semelhantes, ou seja,

estruturalmente somos iguais; porém, cada um de nós ativa as

estruturas, a cada vez, de maneira pessoal.

ALES BELLO, Pessoa e comunidade (2015), p. 23.

Corpo vivenciado [Leib]

Psique [Psyche]

Espírito [Geist]

Núcleo pessoal [Kern]

Esses âmbitos são distintos, mas estão interligados e se

afetam mutuamente. Nós os distinguimos ao analisá-los, por

meio de um “exercício de abstração”.

▪ Em 1932 Edith Stein, reconhecida como fenomenóloga,

feminista cristã e intelectual católica, conferencista em

diversos países da Europa, é convidada a dar aulas no

Instituto de Pedagogia Científica de Munique.

▪ Durante o semestre de inverno de 1932-1933, apresenta sua

antropologia, na qual aprofunda a compreensão

fenomenológica do ser humano em diálogo com a metafísica

cristã.

▪ Tais lições, redigidas para a preparação das aulas, foram

publicadas postumamente sob o título: A estrutura/constituição

da pessoa humana (Der Aufbau der menschlichen Person).

A pessoa humana para Edith Stein

▪ Nas suas lições Edith Stein apresenta três visões da

natureza humana que estão no fundamento de

diferentes teorias e práticas pedagógicas e políticas

do seu tempo:

• A visão de ser humano do idealismo alemão;

• A visão de ser humano da psicologia do profundo

(psicanálise e literatura russa);

• A visão de ser humano do existencialismo de

Martin Heidegger.

A pessoa humana para Edith Stein

A visão do idealismo alemão

▪ A visão de ser humano do idealismo

alemão compartilha com a do cristianismo a ideia

de uma natureza humana boa, fundada na força da

razão humana, na liberdade individual, na

responsabilidade e vocação de cada indivíduo a

levar à perfeição o seu papel dentro do gênero

humano.

▪ Mas elas diferem no que consideram como o

fundamento dessa bondade.

A visão da psicanálise

▪ As concepções psicanalíticas e da

literatura russa do fim do séc. XIX têm em

comum com a visão cristã o reconhecimento da

superficialidade da razão e da profundidade da

alma humana, assim como a possível ligação das

pulsões e instintos com o lado obscuro da

existência humana.

▪ Mas o cristianismo não só reconhece o lado

obscuro, ele também investiga as suas raízes.

A visão existencialista

▪ Para Edith Stein a filosofia existencial de

Martin Heidegger expressa com grande lucidez a

busca radical da consciência pelo ser verdadeiro

como um apelo à conversão, como o cristianismo

primitivo.

▪ A conversão é reconhecer que a busca pelo

“sentido do Ser” é inerente a todo ser humano.

▪ Mas o existencialismo de Heidegger difere com o

cristianismo quanto ao que é a verdade alcançável

por meio de uma autêntica conversão.

A visão cristã e o idealismo alemão

▪ Segundo a visão cristã o ser humano foi criado por

Deus para ser bom, mas por causa de sua

liberdade ele é inteiramente responsável por suas

ações boas e más.

▪ Cada indivíduo pode e deve colaborar para formar

e aperfeiçoar a sua própria natureza.

▪ No entanto, por causa de suas limitações, depende

da graça para atingir a sua completa realização,

que só se dá plenamente em Deus e na eternidade.

A visão cristã e a psicanálise

▪ O ser humano era, em sua origem, senhor de seus

instintos pela força de sua razão e tinha a sua vontade

inclinada livremente para o bem.

▪ Quando se afastou livremente de Deus o instinto se

revoltou contra o espírito, o entendimento obscureceu e

a vontade enfraqueceu.

▪ A natureza humana corrompeu-se, mas não

completamente: ainda lhe resta um pouco da luz da

razão e sua vontade, contanto com a graça, é capaz de

conduzi-lo ao amor.

A visão cristã e o existencialismo

▪ Utilizando bem a liberdade da sua razão e da sua

vontade o ser humano pode resgatar a sua natureza,

viver uma verdadeira conversão: esta começa a ser

construída na existência finita, aqui e agora, mas só

se realiza plenamente no infinito, em Deus.

▪ Se ele desconsidera a possibilidade de sua relação

com o transcendente, muito provavelmente

desembocará em uma angústia existencial, e ao

percebê-la como constitutiva de sua natureza

desembocará no niilismo.

▪ A concepção cristã do ser humano conduz a razão

natural a ampliar e aprofundar a compreensão da

natureza humana, vendo-o essencialmente como

pessoa única e irrepetível;

▪ Não privilegia a dimensão social em detrimento da

individual e vice-versa;

▪ Valoriza a pessoa humana em todos os estratos

constitutivos de sua natureza: corpo vivenciado

[Leib], psique e espírito (intelecto e vontade livres).

A visão cristã da pessoa humana

A visão cristã da pessoa humana

▪ Leva em conta a possibilidade de uma relação

autêntica entre a pessoa e um ser pessoal

transcendente, Deus.

▪ Identifica tal possibilidade como fazendo parte da

estrutura de toda pessoa humana, podendo ser

desenvolvida por ela ou não.

▪ Toda pessoa, única em sua singularidade, tem uma

missão que só ela é capaz de realizar.

▪ Tal missão é a “vocação” individual de cada ser

humano e deve ser realizada por ele aqui e agora.

A visão cristã da pessoa humana

▪ O ser humano, diferentemente do outros seres vivos, é

um ser em formação (realização de sua vocação).

▪ Ele necessita dos outros semelhantes a si para

constituir-se como indivíduo.

▪ É dotado de uma vivência, a empatia, que o permite

reconhecer outros seres humanos como semelhantes a

si e, ao mesmo tempo, como únicos e diferentes.

▪ Essa vivência sui generis só existe nos seres humanos

e por isso a intersubjetividade humana é

qualitativamente diferente de uma coletividade de

animais.

A visão cristã da pessoa humana

▪ Para Edith Stein o reconhecimento do outro como

masculino ou feminino é essencial para que o ser

humano constitua sua individualidade pessoal.

▪ É o que aparece no livro do Gênese: Adão só reconhece-

se frente a Eva (o “Humano” na “Humana”, o Ish na Isha).

▪ A compreensão da pessoa humana – do outro e de si

próprio – passa, necessariamente pela compreensão de

uma forma geral da humanidade, preenchida de um

modo específico: species masculina ou feminina,

concretizada no indivíduo singular.

Bibliografia

▪ HUSSERL, Edmund. Ideias para uma fenomenologia pura e para

uma filosofia fenomenológica. Trad. Márcio Suzuki – Aparecida,

SP. Ideias & Letras, 2006.

▪ STEIN, Edith. Der Aufbau der menschlichen Person. Vorlesung zur

philosophischen Antropologie. Edith Stein Gesamtausgabe (ESGA)

14. Freiburg–Basel–Wien: Herder, 2010.

▪ __________. La estrutura della persona umana. Trad. de Michele

D’Ambra. Roma: Città Nuova Editrice, 2000.

▪ __________. Vida de uma família judia e outros escritos

autobiográficos. Trad. Maria do Carmo V. Wollny e Renato

Kirchner. Rev. Tec. Juvenal Savian Filho. São Paulo: Paulus,

2018.

Bibliografia complementar

▪ STEIN, Edith. A Mulher: sua missão segundo a natureza e a graça. Trad.

Alfred J. Keller. Bauru, SP: EDUSC, 1999.

▪ ALES BELLO, Angela. Introdução à fenomenologia. Trad. Ir. Jacinta

Turolo Garcia e Miguel Mahfoud. Rev. Tommy A. Goto, Belo Horizonte:

Spes Editora, 2017. (Col. Phainomenon)

▪ ____________________. A fenomenologia do ser humano. Traços de

uma filosofia no feminino. Trad. Antonio Angonese. Bauru, São Paulo:

EDUSC, 2000.

▪ _______________________. Pessoa e comunidade. Comentários:

Psicologia e Ciências do espírito de Edith Stein. Trad. Ir. Jacinta Turolo

Garcia e Miguel Mahfoud. Belo Horizonte: Ed. Artesã, 2015.

▪ RUS, Éric De. A visão educativa de Edith Stein – Aproximação a um

gesto antropológico integral. Trad. Juvenal Savian Filho et al. Belo

Horizonte: Editora Artesã, 2015.

Bibliografia complementar

▪ SAVIAN FILHO, Juvenal (org.). Empatia. Edmund Husserl e Edith Stein.

Apresentações didáticas. São Paulo: edições Loyola, 2014.

▪ ___________________. Idealismo e realismo em Edith Stein. Revista de

Filosofia São Boaventura, Curitiba: Instituto de Filosofia São Boaventura, Vol.

6, n. 2, 2014.

▪ _______________. Uma perspectiva sobre Edith Stein e a fenomenologia.

Argumentos, Revista do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da

Universidade Federal do Ceará – UFC, Dossiê Edith Stein. Ano 9, n. 18.

Fortaleza, jul./dez. 2017.

▪ ________________. Edith Stein para além do debate “idealismo versus

realismo”: notas de um estudo em construção. In: MAHFOUD, Miguel; SAVIAN

FILHO, Juvenal. (org.) Diálogos com Edith Stein: Filosofia, Psicologia,

Educação. São Paulo: Paulus, 2017, p. 203-255.

▪ ALFIERI, Francesco. Pessoa humana e singularidade em Edith Stein. São

Paulo: Editora Perspectiva, 2015.

Bibliografia complementar

▪ SBERGA, Adair Aparecida. A formação da pessoa humana em Edith Stein.

São Paulo: Editora Paulus, 2014.

▪ KUSANO, Mariana Bar. A antropologia de Edith Stein – entre Deus e a

Filosofia. Ed. Ideias e Letras, 2014.

▪ GRACIOSO, Joel e PARISE, Maria Cecilia I. Eu puro e empatia segundo

Edith Stein. In. Argumentos, Revista do Programa de Pós-Graduação em

Filosofia da Universidade Federal do Ceará – UFC, Dossiê Edith Stein. Ano 9,

n. 18. Fortaleza, jul./dez. 2017.

▪ PARISE, Maria Cecilia I. Bases fenomenológicas na antropologia de Edith

Stein. Apresentado no Simpósio Amazônico de Edith Stein: Antropologia

Personalista e suas Intersecções Amazônicas, organizado pelo Seminário São

José em parceria com a Faculdade Salesiana Dom Bosco, em março de 2017.

Publicação eletrônica - Even 3, n. 138407, 2018.

Bibliografia complementar

▪ PARISE, Maria Cecilia I. Individualidade, corporeidade e percepção do outro:

ato empático em Edith Stein. In. A arte de Educar: por uma pedagogia

empática em Edith Stein. Clélia PERETTI e Vera Fátima DULLIUS (org.) - 1ª

ed. Curitiba: Editora Prisma, 2018.

▪ ___________________. Uma análise do masculino e do feminino segundo a

antropologia de Edith Stein no Seminário Internacional de Antropologia

Teológica: pessoa e comunidade em Edith Stein. (2016 setembro 8- 10 :

Porto Alegre, RS). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2016. Modo de acesso:

<http://www.pucrs.br/edipucrs/>

A Oficina Municipal agradece sua participação.

Missão

Formar cidadãos para a política local e a gestão pública com base em princípios da

democracia e solidariedade.

Visão

Cidadãos engajados e gestores administram as políticas públicas fundamentais

para o bem comum de forma competente, e por decorrência os municípios gozam

de maior autonomia política, administrativa e financeira e cooperam ativamente na

federação.

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