intervenção - assembleia municipal da póvoa de varzim
Post on 06-Apr-2016
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Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal
Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal
Srs. Vereadores
Srs. Deputados Municipais
Srs. Presidentes de Junta de Freguesia
Srs. da Comunicação Social
Caros Poveiros
Hoje, todos nós já ouvimos a expressão “Smart Cities”, as Cidades Inteligentes do século
XXI.
A este propósito, em entrevista ao jornal Expresso e em resposta à pergunta “Quando é
que é seguro dizer se uma cidade é inteligente ou não?”, Henry Van Dorenmalen,
presidente da IBM Europa resumiu “tem de ter um líder com um plano, que incentive
parcerias e que envolva os cidadãos no processo de decisão”.
A inteligência parece mesmo ser a pedra-de-toque neste tema, visto que o Sr. Presidente
da Câmara Municipal, perante a recomendação da Juventude Socialista para a adopção
do Orçamento Participativo Jovem, respondeu positivamente, inclusive citando Mário
Soares: “Só os burros não aprendem”.
Contudo, as notas introdutórias ao presente Orçamento, tratam estas “iniciativas que
visam o aprofundamento da democracia” “como um processo equívoco: (e cito) parece-
nos que a melhor forma de participar é o acto de sufrágio eleitoral”.
Aliás, referindo-se ironicamente aos “(ditos) orçamentos participativos”, estes apenas
permitiriam “que grupos organizados minoritários, consigam nesta urna o que não
obtiveram na outra”, esgrimindo uma defesa, particularmente inadmissível nos tempos
que correm, que se deve contar com os eleitores apenas no dias das eleições.
É ainda mais difícil de compreender a legitimidade deste discurso paternalista, quando
considerando a abstenção, os votos no PSD corresponderam a 22,6 % dos eleitores
inscritos nos cadernos eleitorais.
Não há como não perguntar: o executivo entende que 78% dos poveiros, que não
ratificaram com o seu voto o programa do PSD, não devem contribuir para a definição
das políticas públicas? E mesmo os que votaram neste executivo, não terão legitimidade
para apresentarem propostas diferentes e até complementares? Os números chocantes
de abstenção, não justificam a procura de métodos participativos, entre períodos
eleitorais, que visem reforçar o sentimento de cidadania?
Não serve como atenuante mais à frente referir no documento que a melhor forma de
aprofundar a democracia é ouvir os representantes dos eleitos e os próprios eleitores,
no terreno.
É preciso ser-se criativo na procura de mecanismos complementares e motivadores de
participação dos cidadãos, que valorizem efectivamente uma participação activa e
informada.
É esta postura e este modelo de governação municipal, opaco e ultrapassado (e que
encontrou reflexo no pouco honroso centésimo septuagésimo quinto lugar no Índice de
Transparência Municipal), que importa fazer evoluir, à luz das melhores práticas da
Smart Governance, de accountability e da abordagem bottom-up, que trazem respostas
às inegáveis necessidades de abertura e transparência do sistema político local.
Não são só os resultados, mas é também a forma como os atingimos que nos define.
Mas não deixemos de falar nos resultados a que nos propomos atingir.
A grande virtude da discussão sobre as Grandes Opções do Plano e Orçamento é
podermos ver mais longe, é a oportunidade de partilharmos a nossa visão para a Póvoa
de Varzim.
Este executivo adoptou o slogan “Póvoa Cidade da Cultura e do Lazer”, mas, permitam-
me que vos apresente uma outra Póvoa.
A Póvoa Cidade do Emprego.
Num período em que o desemprego se assume como a principal chaga das sociedades
modernas, o nosso concelho não é excepção.
Concordamos que não cabe à Câmara Municipal criar postos de trabalho em grande
escala, o que não significa que não possa ser um parceiro privilegiado na resolução do
problema do desemprego.
O recurso a políticas activas de emprego deve ser uma aposta, tal como os Programas
Municipais de Estágios, todavia, estas são geralmente meros paliativos que atiçam a
doença da precariedade e instabilidade que marca hoje as relações contratuais.
É necessário que o executivo saia da letargia na qual recusa assumir estar mergulhado e
desenvolva, em concertação com trabalhadores, empregadores e empreendedores uma
verdadeira e séria estratégia para o desenvolvimento económico, para a atracção de
investimento e para a promoção do empreendedorismo, cujo sucesso é a única
esperança no efectivo combate ao desemprego.
A título de exemplo, do grande chavão que hoje é o empreendedorismo, resultaram
medidas pomposas, mas que não corresponderam ao choque competitivo que o nosso
concelho necessita e à efectiva formação de um ambiente propício à atracção de
espíritos criativos e inovadores.
A somar à inexistência de espaços coworking, que poderiam impulsionar as pequenas e
médias empresas e os profissionais liberais (na área da advocacia, arquitectura ou
design), o Centro de Incubação da Póvoa de Varzim corresponde ainda uma amostra do
seu potencial.
Esta incubadora de empresas deverá ter uma visão mais alargada do que a actual, em
particular na fase da pré-incubação das startups, no reforço da sua actuação em rede
com o capital de risco, no alargamento da rede de mentores, no reforço da ligação com
outras incubadoras nacionais e estrangeiras e com as Universidades (em particular o
ESEIG) e numa séria aposta na sua divulgação, já que ainda é desconhecida por grande
parte da população.
Só com uma visão estratégica podemos fazer face a estes e a outros problemas
estruturais e castradores, entre os quais quero destacar por fim a emanciapação jovem.
No momento do corte do cordão umbilical entre jovens e pais, o emprego não é a única
dimensão essencial, a habitação própria é também um desafio primordial.
É imprescindível aliviar os orçamentos das famílias jovens, quer pela via da isenção ou
redução das taxas e impostos municipais (como o IMI, Água e Saneamento), quer pela
aposta em políticas de habitação jovem, como a Habitação a Custos Controlados,
possibilitando-se aos jovens a aquisição a um preço abaixo do mercado ou
disponibilizando-se habitações com rendas especialmente baixas.
São também através de sérias medidas de emancipação jovem que se cria um impacto
na evolução demográfica, impedindo que os jovens saiam da Póvoa, mas mais, que
permitam que outros se juntem, sendo todos vitais ao crescimento e revitalização do
concelho.
E se há aqui, nesta sala, quem acredite que a Póvoa não necessita destas medidas e
desta visão estratégica, então permitam-me apresentar a Póvoa onde vivemos.
É a Póvoa onde a remuneração mensal per capita, a coloca na cauda dos municípios do
Grande Porto.
É a Póvoa cujo índice de poder de compra per capita é o terceiro mais baixo dos
municípios do Grande Porto.
É a Póvoa cuja percentagem de população sem ensino secundário é a terceira mais alta
dos municípios do Grande Porto.
É a Póvoa que nos Censos 2011 se apresentou como o único concelho do Grande Porto
que não cresceu.
Faço parte de uma geração qualificada, que já estudou e trabalhou fora, e que perante
este quadro se questiona sobre que incentivos encontra para ponderar projectar um
regresso definitivo à sua cidade.
E todos aqueles que, embora nunca tenham saído do concelho, se veem confrontados
com um cenário de falta de expectativas, de baixas remunerações, de baixo poder de
compra, como censurar que abandonem a nossa cidade?
Não precisamos de um “município amigos das pessoas”, precisamos de encontrar na
Câmara Municipal um parceiro com visão que nos devolva a esperança de que é possível
ter um futuro na Póvoa de Varzim.
Muito obrigado pela vossa atenção
Hugo Carvalho Gonçalves
Deputado Municipal – Partido Socialista
Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim, 27 de Novembro de 2014
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