intervenção - assembleia municipal da póvoa de varzim

4
Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal Srs. Vereadores Srs. Deputados Municipais Srs. Presidentes de Junta de Freguesia Srs. da Comunicação Social Caros Poveiros Hoje, todos nós já ouvimos a expressão “Smart Cities”, as Cidades Inteligentes do século XXI. A este propósito, em entrevista ao jornal Expresso e em resposta à pergunta “Quando é que é seguro dizer se uma cidade é inteligente ou não?”, Henry Van Dorenmalen, presidente da IBM Europa resumiu “tem de ter um líder com um plano, que incentive parcerias e que envolva os cidadãos no processo de decisão”. A inteligência parece mesmo ser a pedra-de-toque neste tema, visto que o Sr. Presidente da Câmara Municipal, perante a recomendação da Juventude Socialista para a adopção do Orçamento Participativo Jovem, respondeu positivamente, inclusive citando Mário Soares: “Só os burros não aprendem”. Contudo, as notas introdutórias ao presente Orçamento, tratam estas “iniciativas que visam o aprofundamento da democracia” “como um processo equívoco: (e cito) parece- nos que a melhor forma de participar é o acto de sufrágio eleitoral”. Aliás, referindo-se ironicamente aos “(ditos) orçamentos participativos”, estes apenas permitiriam “que grupos organizados minoritários, consigam nesta urna o que não obtiveram na outra”, esgrimindo uma defesa, particularmente inadmissível nos tempos que correm, que se deve contar com os eleitores apenas no dias das eleições.

Upload: hugo-carvalho-goncalves

Post on 06-Apr-2016

216 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

27/11/2014

TRANSCRIPT

Page 1: Intervenção - Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim

Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Municipal

Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal

Srs. Vereadores

Srs. Deputados Municipais

Srs. Presidentes de Junta de Freguesia

Srs. da Comunicação Social

Caros Poveiros

Hoje, todos nós já ouvimos a expressão “Smart Cities”, as Cidades Inteligentes do século

XXI.

A este propósito, em entrevista ao jornal Expresso e em resposta à pergunta “Quando é

que é seguro dizer se uma cidade é inteligente ou não?”, Henry Van Dorenmalen,

presidente da IBM Europa resumiu “tem de ter um líder com um plano, que incentive

parcerias e que envolva os cidadãos no processo de decisão”.

A inteligência parece mesmo ser a pedra-de-toque neste tema, visto que o Sr. Presidente

da Câmara Municipal, perante a recomendação da Juventude Socialista para a adopção

do Orçamento Participativo Jovem, respondeu positivamente, inclusive citando Mário

Soares: “Só os burros não aprendem”.

Contudo, as notas introdutórias ao presente Orçamento, tratam estas “iniciativas que

visam o aprofundamento da democracia” “como um processo equívoco: (e cito) parece-

nos que a melhor forma de participar é o acto de sufrágio eleitoral”.

Aliás, referindo-se ironicamente aos “(ditos) orçamentos participativos”, estes apenas

permitiriam “que grupos organizados minoritários, consigam nesta urna o que não

obtiveram na outra”, esgrimindo uma defesa, particularmente inadmissível nos tempos

que correm, que se deve contar com os eleitores apenas no dias das eleições.

Page 2: Intervenção - Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim

É ainda mais difícil de compreender a legitimidade deste discurso paternalista, quando

considerando a abstenção, os votos no PSD corresponderam a 22,6 % dos eleitores

inscritos nos cadernos eleitorais.

Não há como não perguntar: o executivo entende que 78% dos poveiros, que não

ratificaram com o seu voto o programa do PSD, não devem contribuir para a definição

das políticas públicas? E mesmo os que votaram neste executivo, não terão legitimidade

para apresentarem propostas diferentes e até complementares? Os números chocantes

de abstenção, não justificam a procura de métodos participativos, entre períodos

eleitorais, que visem reforçar o sentimento de cidadania?

Não serve como atenuante mais à frente referir no documento que a melhor forma de

aprofundar a democracia é ouvir os representantes dos eleitos e os próprios eleitores,

no terreno.

É preciso ser-se criativo na procura de mecanismos complementares e motivadores de

participação dos cidadãos, que valorizem efectivamente uma participação activa e

informada.

É esta postura e este modelo de governação municipal, opaco e ultrapassado (e que

encontrou reflexo no pouco honroso centésimo septuagésimo quinto lugar no Índice de

Transparência Municipal), que importa fazer evoluir, à luz das melhores práticas da

Smart Governance, de accountability e da abordagem bottom-up, que trazem respostas

às inegáveis necessidades de abertura e transparência do sistema político local.

Não são só os resultados, mas é também a forma como os atingimos que nos define.

Mas não deixemos de falar nos resultados a que nos propomos atingir.

A grande virtude da discussão sobre as Grandes Opções do Plano e Orçamento é

podermos ver mais longe, é a oportunidade de partilharmos a nossa visão para a Póvoa

de Varzim.

Este executivo adoptou o slogan “Póvoa Cidade da Cultura e do Lazer”, mas, permitam-

me que vos apresente uma outra Póvoa.

A Póvoa Cidade do Emprego.

Page 3: Intervenção - Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim

Num período em que o desemprego se assume como a principal chaga das sociedades

modernas, o nosso concelho não é excepção.

Concordamos que não cabe à Câmara Municipal criar postos de trabalho em grande

escala, o que não significa que não possa ser um parceiro privilegiado na resolução do

problema do desemprego.

O recurso a políticas activas de emprego deve ser uma aposta, tal como os Programas

Municipais de Estágios, todavia, estas são geralmente meros paliativos que atiçam a

doença da precariedade e instabilidade que marca hoje as relações contratuais.

É necessário que o executivo saia da letargia na qual recusa assumir estar mergulhado e

desenvolva, em concertação com trabalhadores, empregadores e empreendedores uma

verdadeira e séria estratégia para o desenvolvimento económico, para a atracção de

investimento e para a promoção do empreendedorismo, cujo sucesso é a única

esperança no efectivo combate ao desemprego.

A título de exemplo, do grande chavão que hoje é o empreendedorismo, resultaram

medidas pomposas, mas que não corresponderam ao choque competitivo que o nosso

concelho necessita e à efectiva formação de um ambiente propício à atracção de

espíritos criativos e inovadores.

A somar à inexistência de espaços coworking, que poderiam impulsionar as pequenas e

médias empresas e os profissionais liberais (na área da advocacia, arquitectura ou

design), o Centro de Incubação da Póvoa de Varzim corresponde ainda uma amostra do

seu potencial.

Esta incubadora de empresas deverá ter uma visão mais alargada do que a actual, em

particular na fase da pré-incubação das startups, no reforço da sua actuação em rede

com o capital de risco, no alargamento da rede de mentores, no reforço da ligação com

outras incubadoras nacionais e estrangeiras e com as Universidades (em particular o

ESEIG) e numa séria aposta na sua divulgação, já que ainda é desconhecida por grande

parte da população.

Só com uma visão estratégica podemos fazer face a estes e a outros problemas

estruturais e castradores, entre os quais quero destacar por fim a emanciapação jovem.

Page 4: Intervenção - Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim

No momento do corte do cordão umbilical entre jovens e pais, o emprego não é a única

dimensão essencial, a habitação própria é também um desafio primordial.

É imprescindível aliviar os orçamentos das famílias jovens, quer pela via da isenção ou

redução das taxas e impostos municipais (como o IMI, Água e Saneamento), quer pela

aposta em políticas de habitação jovem, como a Habitação a Custos Controlados,

possibilitando-se aos jovens a aquisição a um preço abaixo do mercado ou

disponibilizando-se habitações com rendas especialmente baixas.

São também através de sérias medidas de emancipação jovem que se cria um impacto

na evolução demográfica, impedindo que os jovens saiam da Póvoa, mas mais, que

permitam que outros se juntem, sendo todos vitais ao crescimento e revitalização do

concelho.

E se há aqui, nesta sala, quem acredite que a Póvoa não necessita destas medidas e

desta visão estratégica, então permitam-me apresentar a Póvoa onde vivemos.

É a Póvoa onde a remuneração mensal per capita, a coloca na cauda dos municípios do

Grande Porto.

É a Póvoa cujo índice de poder de compra per capita é o terceiro mais baixo dos

municípios do Grande Porto.

É a Póvoa cuja percentagem de população sem ensino secundário é a terceira mais alta

dos municípios do Grande Porto.

É a Póvoa que nos Censos 2011 se apresentou como o único concelho do Grande Porto

que não cresceu.

Faço parte de uma geração qualificada, que já estudou e trabalhou fora, e que perante

este quadro se questiona sobre que incentivos encontra para ponderar projectar um

regresso definitivo à sua cidade.

E todos aqueles que, embora nunca tenham saído do concelho, se veem confrontados

com um cenário de falta de expectativas, de baixas remunerações, de baixo poder de

compra, como censurar que abandonem a nossa cidade?

Não precisamos de um “município amigos das pessoas”, precisamos de encontrar na

Câmara Municipal um parceiro com visão que nos devolva a esperança de que é possível

ter um futuro na Póvoa de Varzim.

Muito obrigado pela vossa atenção

Hugo Carvalho Gonçalves

Deputado Municipal – Partido Socialista

Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim, 27 de Novembro de 2014