inovação s/a: estudo sobre o perfil dos empreendedores
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIOLOGIA
FERNANDO ROGRIO JARDIM
Inovao S/A: estudo sobre o perfil dos empreendedores
universitrios em incubadoras de empresas e empresas juniores.
So Paulo, Maio de 2015.
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UNIVERSIDADE DE SO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SOCIOLOGIA
Inovao S/A: estudo sobre o perfil dos empreendedores
universitrios em incubadoras de empresas e empresas juniores.
Tese apresentada banca de doutorado do Programa
de Ps-Graduao em Sociologia do Departamento
de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e
Cincias Humanas, como parte dos requisitos
necessrioa obteno do ttulo de doutor em
sociologia.
Autor: Prof. Ms. Fernando Rogrio Jardim.
Orientador: Prof. Dr. Ruy Gomes Braga Neto.
So Paulo, 2015.
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RESUMO: A presente tese tem por objetivo traar um perfil dos empreendedores
universitrios atuantes em incubadoras de empresas e empresas juniores. Para tanto,
realizamos uma pesquisa qualitativa junto a estudantes de engenharia, integrantes da
POLI-Jnior, e empresrios envolvidos em inovao tecnolgica, incubados no CIETEC.
Aps uma breve apresentao, no primeiro captulo, procuramos conceituar quem so os
empreendedores. Exibiremos tambm, no primeiro captulo, alguns dados acerca da
recente expanso na criao de incubadoras de empresas e empresas juniores no Brasil.
No segundo captulo, fizemos uma reviso bibliogrfica a partir das contribuies que a
economia e a sociologia do conhecimento deram ao tema. Preferimos enquadrar o
problema de pesquisa no bojo da teoria dos campos. No terceiro captulo, o tema da tese
situado no quadro histrico das polticas pblicas para C&T e da trajetria da
comunidade de pesquisa brasileira. No quarto captulo, apresentamos a amostra e o
mbito de pesquisa, os mtodos e tcnicas empregados no trabalho de campo. Lanamos
ainda hipteses conforme as quais o empreendedorismo representaria a nova face das
recentes tentativas de reforma universitria e estreitamento das relaes entre pesquisa e
mercado. No quinto captulo, apresentamos e analisamos os resultados das observaes e
das entrevistas, por meio das quais testamos nossas hipteses. Por fim, fechamos com
uma breve concluso onde esto resumidas nossas contribuies e onde refletimos acerca
das ampliaes e limitaes desta tese.
Palavras-chave: empreendedorismo; inovao; universidade; incubadora de
empresas; empresa jnior.
ABSTRACT: This thesis aims to draw a profile of university entrepreneurs today
actives in business incubators and junior companies. Therefore, we conducted a
qualitative research with engineering students (members of the POLI-Junior), and
entrepreneurs engaged in technological innovation (incubated in CIETEC). After a brief
introduction, in the first chapter, we try to conceptualize who are the entrepreneurs. Also,
we display some data about the recent expansion in the creation of business incubators
and junior companies in Brazil. In the second chapter, we made a review of the available
literature from the contributions that the economy and the sociology of knowledge gave
the theme. We prefer to frame the research problem in the field theory. In the third
chapter, the topic of the thesis is situated in the historical framework of public policies
for S&T and the trajectory of Brazilian research community. In the fourth chapter, we
present the sample and the scope of research, the methods and techniques employed in
the empirical research. We also launched hypothesis according to which entrepreneurship
represent the new face of recent attempts to university reforms and closer relations
between research and market. In the fifth chapter, we present and analyze the results of
observations and interviews, through which we test our hypotheses. Finally, we close the
work with a brief conclusion, where our contributions are summarized and where we
reflect about the extensions and limitations of this thesis.
Keywords: entrepreneurship; innovation; university; business incubator; junior
company.
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DEDICATRIA:
Aos meus pais, claro!
Ao meu tio Jos ele sabe por qu.
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TANTVS LABOR NON SIT CASSVS
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AGRADECIMENTOS:
Cuidado: serei piegas! E como no poderia s-lo? O trabalho de pesquisa uma
atividade cuja solido ilusria. Pairando como anjos ao redor do quarto solitrio
iluminado to-somente pela luz corporativa do computador e embalado pelo rudo
magricela dos teclados , esto os inmeros parceiros que tornaram o fardo mais leve e o
trabalho possvel. A atividade de pesquisa , pois, o ponto nodal duma srie de auxlios e
apoios, de ombros e mos. H as presenas constantes e eventuais; h os parceiros de
viagem; h os competidores-cooperativos; h as providncias semidivinas; h, enfim,
desde os apoios efetivos e prticos at as remotas inspiraes e motivaes, das quais,
provavelmente, os indivduos inspiradores e motivadores sequer notem o quanto inspiram
e motivam. Seria absurdo imaginar que uma trajetria de quase de cinco anos fosse
trilhada sem o amparo de inmeras pessoas e entidades. Neste momento, no final da linha,
ao passamos em retrospecto a caminhada, vm-nos mente os rostos de todos eles e de
todas elas. Sobressai-nos, ento, um sentimento suave de cansaso com gratido. dessas
pessoas que desejo falar agora.
Primeiramente, devo agradecer muitssimo ao apoio, aconselhamento e
compreenso do meu orientador, Prof. Dr. Ruy Gomes Braga Neto, que suportou com
certo estoicismo (ou provavelmente disciplina revolucionria) meus sumios e
reaparies repentinas alm da minha no-menos repentina metamorfose ideolgica.
Obrigado por esses quase dez anos!
Devo agradecer tambm aos professores das disciplinas do doutorado: Prof. Dr.
Fernando Pinheiro, Prof. Dr. Leopoldo Waizbort e, especialmente, ao Prof. Dr. Srgio
Miceli que com suas observaes perspicazes, ajudou-me a desbastar as camadas mais
aparentes das contradies e absurdidades que existiam no projeto de pesquisa.
Meu muito obrigado aos participantes da minha banca de qualificao no
doutorado: Prof. Dr. Renato Peixoto Dagnino (DPCT-Unicamp) e Profa. Dra. Sylvia
Gemignani Garcia (FFLCH-USP), pelas inestimveis observaes e correes a um
trabalho que, poca, era ainda bastante incipiente.
Agradeo tambm aos funcionrios, professores e alunos dos cursos de Engenharia
de Produo, Engenharia Mecnica e Engenharia de Computao da Escola Politcnica
da USP; e sou igualmente grato aos ento membros da POLI-Jnior, com os quais travei
contato durante a fase preliminar do trabalho de campo.
Tenho imensa gratido aos funcionrios e empresrios incubados do CIETEC, cuja
presteza, gentileza e pacincia foram fundamentais para meu trabalho de campo, e sem
os quais a coleta de dados seria simplesmente impossvel. Agradeo a todos na figura do
seu diretor, o Sr. Srgio Risola, e do meu amigo, Prof. Antonio Tonini.
Ainda no CIETEC, sinto-me especialmente grato s entrevistas generosas e
abundantes em informaes concedidas a mim por todos, mas em especial pelo Pedro
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Kayatt, da Naked Monkey; Slvia Takey, da DEV Tecnologia; Mariane Biz e Fernanda
Abra, da Via Fauna. O respeito que tenho pelos empreendedores extensivo a vocs.
Sou muito grato ao pessoal da Brasil Jnior e da Anptotec (Associao Nacional de
Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) pela disponibilizao de dados
estatsticos, anurios, relatrios e informaes a respeito do fenmeno do
empreendedorismo, da incubao de empresas e das empresas juniores. Valeu!
Um agradecimento misturado a um pedido de desculpas vai para os funcionrios da
secretaria de ps-graduao do Departamento de Sociologia ngela e Gustavo.
Agradecimento pelas orientaes com os procedimentos burocrticos; e desculpas pela
minha inpcia, atropelos, atrasos em pedidos fora do prazo.
Por fim, tambm agradeo aos meus alunos dos cursos de Direito, Administrao e
Engenharia de Produo, por terem tido a delicadeza de no perceberem meu pssimo
humor nesses ltimos meses. Peo desculpas tambm aos meus familiares, namorada,
amigos e parentes, pelas abdues de que fui vtima nesses ltimos meses.
Por fim, como uma tese no auxiliada apenas por aqueles diretamente envolvidos
no trabalho de pesquisa, mas tambm por pessoas que ergueram ao redor do autor uma
rede de amizades, inspirao, afeto e apoio moral (sem a qual ele teria ido lona), segue
agora uma lista de agradecimentos especialssimos:
Ao Dr. Pedro Kurbhi. No: ele ainda no doutor no sentido de doutorado; ele
doutor no sentido de advogado. Kurbhi no imagina o quanto sou orgulhoso de t-lo
tido como colega e, agora, como amigo. Kurbhi um dos dois gnios que encontrei na
profisso. Ademais, s ele apostou na minha luta quando eu estava nas cordas.
Alguns alunos justificam o trabalho dum professor. Eu leciono h dez anos; e j
posso me gabar de ter encontrado algumas preciosidades. Alguns alunos meus
compartilham, inclusive, das aspiraes dos empreendedores descritos nesta tese. uma
pena que este pas seja to fajuto para sonhos to dilatados. Boa sorte, Douglas!
Annie Dymetman rene numa sntese estranha e perigosa (para ns) as
habilidades de professora, empresria, cirurgi de mentes, diplomata de relaes
explosivas, hipnloga a contragosto, amiga leal e grande alma. Eu no sei at hoje a idade
dela; s queria ter metade da paixo (quase infantil) que ela tem pelo que faz.
Por fim, devo dizer que, h cinco anos, eu prometi para mim mesmo que todas as
aes da minha vida seriam dedicadas, dali em diante, a dar uma velhice decente aos meus
pais, mas sem que eles se sentissem obrigados ou em dbito para comigo. S quero que a
vida lhes d tempo de quitar a minha dvida para com eles, retribuindo tudo o que eles
fizeram por minha formao, muitas vezes, s custas de sacrifcio prprio. (Esta tese liga
as duas pontas da questo: a concluso da minha formao acadmica e o propsito da
retribuio aos meus pais.) Sinceramente, eu no lamento nenhum fracasso intelectual,
profissional ou pessoal que eu j tenha sofrido ou possa vir a sofrer. Hoje, meu nico
medo o de fracassar como filho. O resto? no me interessa em absoluto.
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NDICE
Resumo e palavras-chave. ______________________________________ 3
Abstract and keywords. _________________________________________ 3
Dedicatria. __________________________________________________ 4
Agradecimentos. ______________________________________________ 6
ndice _______________________________________________________ 8
Lista de grficos, figuras, mapas e tabelas. ________________________ 12
APRESENTAO GERAL ____________________________________ 14
CAPTULO 1 INTRODUO E DELINEAMENTO PRELIMINAR DO
OBJETO DE ESTUDO. ____________________________________________ 27
1.1 A emergncia do fenmeno empreendedor. ____________________ 27
1.1.1 Os empreendedores e as incubadoras de empresas. ______________ 31
1.1.2 Os empreendedores e as empresas juniores. ____________________ 36
1.2 O empreendedorismo e as relaes pesquisa-mercado. ___________ 40
1.3 Discursos e valores do empreendedorismo. _____________________ 43
1.4 O empreendedorismo e seus problemas de insero e de abordagem.
_________________________________________________________________ 49
1.5 Nova elite e velha elite da comunidade de pesquisa brasileira. _____ 52
1.5.1 Pequena tipologia dos empreendedores: universitrios e corporativos.
_________________________________________________________________ 52
1.6 Delimitao do problema de pesquisa. _________________________ 58
1.7 O espao social do empreendedorismo: os campos econmico, cientfico e
tecnolgico. _______________________________________________________ 63
1.8 A bibliografia sobre o empreendedorismo. _____________________ 66
1.8.1 Universitrios empreendedores e empresrios tradicionais. ________ 68
1.8.2 Caracterizando e delimitando quem so os empreendedores. _______ 76
1.9 Possveis fatores causais da emergncia do empreendedorismo
universitrio. _____________________________________________________ 78
1.10 Concluses do primeiro captulo. ____________________________ 88
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CAPTULO 2 APRESENTAO DO REFERENCIAL TERICO
EMPREGADO NA PESQUISA. ______________________________________ 92
2.1 A necessidade um referencial bibliogrfico. _____________________ 92
2.2 A abordagem econmica das inovaes tecnolgicas. _____________ 93
2.3 O paradigma de Schumpeter. ________________________________ 96
2.4 Outras abordagens econmicas. ______________________________ 107
2.4.1 Rosenberg. _______________________________________________ 107
2.4.2 Freeman. ________________________________________________ 109
2.4.3 Nelson & Winter. __________________________________________ 113
2.5 Para uma crtica das abordagens econmicas. ___________________ 115
2.5.1 Impulso pela cincia e induo pela demanda. ___________________ 115
2.5.2 Vinculacionismo e neovinculacionismo. ________________________ 119
2.5.3 Fortuna crtica posterior. ___________________________________ 122
2.6 A abordagem sociolgica das inovaes tecnolgicas. _____________ 125
2.7 Os campos sociais. __________________________________________ 129
2.7.1 Illusio. ___________________________________________________ 134
2.7.2 Nomos. __________________________________________________ 137
2.7.3 Habitus. _________________________________________________ 140
2.8 O campo cientfico. _________________________________________ 143
2.8.1 As condies da autonomia. _________________________________ 145
2.8.2 A hiptese terica do campo tecnolgico como campo social intermedirio.
__________________________________________________________________ 152
2.9 Concluses do primeiro captulo. ______________________________ 159
CAPTULO 3 A DIMENSO HISTRICA DA EMERGNCIA DO
EMPREENDEDOR. ________________________________________________ 163
3.1 A dimenso histrica do problema de pesquisa. __________________ 163
3.2 A comunidade de pesquisa brasileira: seus vnculos com o mercado e o
Estado. ____________________________________________________________ 164
3.4 Por um histrico da comunidade de pesquisa brasileira. ___________ 168
3.4.1 Perodo formativo. __________________________________________ 168
3.4.2 Perodo militar. ____________________________________________ 169
3.4.3 Os sinais da crise. __________________________________________ 173
3.4.4 Reaes crise do sistema nacional de pesquisa. _________________ 181
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3.4.5 Os movimentos de aproximao entre pesquisa e mercado. _________ 184
3.5 A emergncia do empreendedor e da pesquisa dirigida para o mercado,
mas sem ele. _______________________________________________________ 188
3.5.1 Reestruturao das polticas pblicas em C&T. __________________ 197
3.5.2 Recuperao dos investimentos pblicos em C&T. ________________ 201
3.6 Incentivos e obstculos relao pesquisa-mercado. ______________ 208
3.7 Instituies intermedirias entre a academia e as empresas. ________ 213
3.8 Mudanas na cultura acadmica: ______________________________ 215
3.8.1 O discurso empreendedor. ____________________________________ 215
3.8.2 A condio empreendedora. __________________________________ 218
3.9 Empreendedor: um pesquisador que mimetiza um empresrio? ____ 222
3.10 Concluses do terceiro captulo. ______________________________ 228
CAPTULO 4 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS, HIPTESES E
RESULTADOS PRELIMINARES. ____________________________________ 233
4.1 Sntese dos resultados obtidos at o momento. ____________________ 233
4.2 Objeto ou tema, pergunta ou problema de pesquisa. _______________ 238
4.3 Justificativa terica e prtica da pesquisa. _______________________ 242
4.4 Hipteses empricas e seus parmetros de qualificao. ____________ 245
4.4.1 Hipteses complementares relativas carreira dos estudantes de ps-
graduao e s condies de trabalho dos professores universitrios. ___________ 248
4.4.2 Hipteses complementares relativas promoo de transferncia de
tecnologia universitria e relaes pesquisa-mercado. _______________________ 252
4.4.3 Hipteses complementares relativas s mudanas na cultura acadmica
(empreendedora) e ao aprendizado por interao. __________________________ 256
4.4.4 Hipteses complementares relativas s caractersticas das empresas e das
tecnologias em torno das quais geralmente desenvolvem-se os empreendedores. __ 259
4.5 Procedimentos metodolgicos: mtodos e tcnicas de pesquisa. ______ 263
4.5.1 Mtodos. __________________________________________________ 263
4.5.2 Tcnicas e fontes de dados. ____________________________________ 266
4.6 Amostra e mbito de pesquisa. _________________________________ 274
4.6.1 Focalizando a amostra. _______________________________________ 275
4.6.2 Focalizando o mbito de pesquisa. ______________________________ 277
4.7 Descrio dos mbitos de pesquisa. _____________________________ 286
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4.7.1 O CIETEC. _______________________________________________ 286
4.7.2 A POLI-Junior. ____________________________________________ 291
4.8 Apresentao de resultados e teste das hipteses. _________________ 293
4.8.1 Pr-teste das hipteses principais. _____________________________ 293
4.8.2 Pr-teste das hipteses complementares. ________________________ 302
4.9 Concluses do quarto captulo. ________________________________ 331
CAPTULO 5 RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO E
CONCLUSES. ____________________________________________________ 338
5.1 Contexto e objetivos das entrevistas com empresrios incubados. ____ 338
5.2 Traos tpicos da trajetria e do discurso dos empreendedores
entrevistados. _______________________________________________________ 339
5.3 Condies de trabalho: sobre a existncia dum suposto exrcito cientfico
de reserva. ________________________________________________________ 363
5.4 Relaes com a academia e com o mercado: evidncias dum campo
intermedirio. ______________________________________________________ 372
5.5 Sobre as fontes e as origens das disposies e capacidades empreendedoras.
___________________________________________________________________ 397
5.6 Os empreendedores como portadores de inovaes disruptivas. _____ 426
5.7 Concluses do quinto captulo. ________________________________ 430
CONCLUSO FINAL. __________________________________________ 439
BIBLIOGRAFIA. ______________________________________________ 451
Anexo 1: Questes das entrevistas (primeira fase e segunda fase). ______ 469
Anexo 2: Amostragem das tecnologias desenvolvidas. ________________ 273
Anexo 3: Carta de apresentao para as entrevistas. _________________ 478
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LISTA DE GRFICOS, FIGURAS, MAPAS E TABELAS
Grfico 1.1: Preferncia por ter negcio prprio (comparativo internacional).
Grfico 1.2: Evoluo das incubadoras de empresas no Brasil (1988-2011).
Grfico 1.3: Evoluo das empresas juniores no Brasil (2004-2011).
Grfico 1.4: Estudantes vinculados a empresas juniores no Brasil (2004-2011).
Grfico 1.5: Oramento total executado pelo CNPq (1980-2000).
Grfico 1.6: Dispndio nacional em P&D em milhes de reais (2000-2010).
Grfico 1.7: Empresas que inovam em produto e processo: (comparativo
internacional).
Grfico 1.8: Percentual de empresas inovadoras conforme as sries da PINTEC
(1998-2008).
Grfico 1.9: Evoluo da taxa de empreendedores iniciais (2002-2010).
Grfico 1.10: Mestrados e doutorados concedidos no Brasil (1996-2010).
Figura 2.1: Representao esquemtica das inovaes incrementais.
Figura 2.2: Representao esquemtica das inovaes descontnuas.
Figura 2.3: Representao esquemtica das inovaes disruptivas.
Grfico 2.1: Evoluo do nmero de solicitaes e concesses e de auxlio
pesquisa em pequenas empresas (1997-2013).
Figura 2.4: A onda longa de Schumpeter com as estratgias inovadoras de Freeman.
Figura 2.5: Representao esquemtica dos campos cientfico, econmico e
tecnolgico.
Grfico 3.1: Desembolsos (em milhes de reais) do FNDTC e da FINEP (1967-
1985).
Grfico 3.2: Desembolsos (em milhes de reais) do FNDTC e da FINEP (1986-
2004).
Grfico 3.3: Evoluo do oramento (em milhes de reais) do FNDCT (1998-2004).
Tabela 4.1: Distribuio das incubadoras de empresas de tecnologia por Regies e
por Estados (2006).
Mapa 4.1: Distribuio das incubadoras de empresas e parques tecnolgicos por
Estado (2012).
Tabela 4.2: Localizao e vinculao dos centros de pesquisa e laboratrios por
microrregio do Estado de So Paulo.
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Mapa 4.2: Distribuio dos ndices ocupacionais em C&T, separados por
microrregies do Estado de So Paulo.
Mapa 4.3: Nmero de patentes por 100 mil habitantes, separados por microrregies
do Estado de So Paulo.
Grfico 4.1: Evoluo dos depsitos de patentes pela USP (1992-2012).
Grfico 4.2: Distribuio dos depsitos de patente da USP (agregados por unidade).
Grfico 4.3: Distribuio das empresas juniores por cursos (Brasil, 2012).
Tabela 4.3: Nmero de empresas incubadas e faturamento (2010-2013).
Tabela 4.4: Nmero de patentes e marcas protocoladas e registradas pelas empresas
incubadas no CIETEC (recente 2010-2013 e perodo 1998-2013).
Figura 4.1: Hiptese terica sobre o destino do exrcito cientfico de reserva.
Grfico 4.4: Evoluo das matrculas em cursos de graduao no Brasil entre 2002
e 2012.
Grfico 4.5: Evoluo dos ttulos de mestre e doutor concedidos no Brasil entre
1996 e 2011.
Grfico 4.6: Evoluo geral dos ttulos de mestres e doutores pela USP (1998-
2010).
Grfico 4.7: Diferena salarial em reais entre trabalhadores com ou sem diploma
superior.
Grfico 4.8: Faixa salarial do primeiro emprego dos graduados em engenharia
(2009-2013).
Tabela 4.5: Produo legal federal voltada para C&T, dividida em subreas (2004-
2014).
Grfico 4.9: Evoluo da produo legal federal para a C&T (total por ano) 2004-
2014.
Grfico 4.10: reas de concentrao das tecnologias desenvolvidas pelas empresas
ento incubadas e j formalizadas (CIETEC - 2014).
Figura 5.1: Barreiras e tenses entre empresrios e pesquisadores: o papel das
empresas incubadas.
Figura 5.2: Representao esquemtica dos ciclos de acumulao de capitais.
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APRESENTAO GERAL
O leitor est diante dum esforo de compreenso dum fenmeno cuja
complexidade, ambigidades e dinamismo tornaram necessrios uma abordagem ao
mesmo tempo caleidoscpica e estratificada. Caleidoscpica devido possibilidade de
enfocarmos o fenmeno empreendedor a partir de diferentes perspectivas -- a espacial, a
temporal, a estrutural; mas tambm a organizacional, a econmica, a psicolgica, a
sociolgica. E estratificada devido necessidade de explorao do fenmeno por meio
dum descascamento progressivo das suas diferentes camadas de significado. Noutras
palavras, os empreendedores que acompanhamos podem ou devem ser situados, antes de
mais nada, num espao social dentro do qual eles se relacionam com atores e instituies
que funcionam conforme outras lgicas, segundo outros meios. Ao mesmo tempo, o
fenmeno empreendedor o resultado incipiente duma srie de processos histricos
recentes pelos quais passaram a univversidade, a comunidade tecnocientfica, a indstria
nacional e o empresariado. Por conta disto, os dois primeiros captulos deste trabalho
visam a no apenas definir a questo, problematizando-a e contextualizando-a (Captulo
1), mas tambm situar o fenmeno que estudaremos em seu devido lugar no espao social
(Captulo 2) e no tempo social (Captulo 3).
Quanto abordagem estratificada, poderamos aqui antecipar que aqueles que
denominamos empreendedores so inicialmente acessveis por uma "periferia de
sentidos" que nos chega facilmente por meio dum discurso ideolgico de justificao dum
novo perfil de pesquisadores e empresrios: pesquisadores mais atentos aplicao
prtica e comercial das suas inovaes; e empresrios mais interessados em entabular
parcerias com a academia. Essa camada exterior de sentidos , como dissemos acima,
facilmente acessvel -- seja por meio das publicaes miditicas e populares a respeito do
empreendedorismo, seja por meio dum vis sutilmente ideolgico presente nas polticas
pblicas, nas entrevistas dadas pelos responsveis por tais polticas ou pelos diretores das
instituies que intermedeiam os relacionamentos entre pesquisa e mercado, seja ainda
pela forma como os empreendedores que entrevistamos do um sentido coeso e
racionalizam a posteriori suas trajetrias pessoais, muitas vezes, variadas e errticas. Esta
camada externa j descascaremos e descartaremos no primeiro captulo.
Contudo, o discurso que os empreendedores e os proponentes de polticas pblicas
do de si mesmos e do fenmeno no qual esto envolvidos dirige-se, de certa forma, para
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consumo externo. Ou so a argamassa ideolgica que congregar num discurso comum
a nova coaliso recm-criada em torno das pesquisas cientficas e tecnolgicas no Brasil;
ou so caractersticas realmente presentes na relao pesquisa-mercado no exterior, mas
que, comparadas condio brasileira, ganham um tom de emulao e proposio; ou
so, por fim, uma maneira acessvel e sinttica de os empreededores se autodefinirem, a
despeito das trajetrias errticas que descrevem. Uma melhor explorao do
empreendedorismo universitrio e corporativo, ento, ser realizada em duas etapas
sucessivas. Na primeira (Captulo 4), uma incurso inicial no campo permitir que, com
base em observaes e entrevistas informais, definamos nossa metodologia,
qualifiquemos as hipteses de trabalho e tracemos um panorama preliminar do que ocorre
nesses meios onde pesquisadores e empresrios se encontram e interagem. Na segunda
(Captulo 5), um mergulho mais profundo nas camadas internas do fenmeno peritir que,
com base em mais observaes e entrevistas aprofundadas (semiestruturadas) testemos
as hipteses relativas origem, perfil, trajetria acadmica e profissional, aquisio de
capacidades e disposies empreendedoras e relaes com outros pesquisadores e
empresrios.
A presente pesquisa, portanto, deve ser lida como uma longa narrativa mas no
sobre um personagem individual, identificado e facilmente reconhecvel, e sim sobre uma
pessoa coletiva, ambguo, complexo, dinmico e que se orgulha desses adjetivos. Esta
tese tem por objetivo analisar o fenmeno do empreendedorismo universitrio e
corporativo, nominalmente, os casos de ex-estudantes e ex-professores que assumem
papis e funes comumente consideradas empresariais seja gerindo com enfoque
mais corporativo e pr-mercado seus laboratrios e departamentos; seja administrando,
paralelamente s atividades costumeiras de docncia, pesquisa e extenso um portflio
lucrativo de patentes; seja ainda levando ao mercado suas prprias inovaes em
empresas incubadas, fundadas por eles prprios; seja, finalmente, atuando como agentes
de transferncia de tecnologias e mediadores da cooperao pesquisa-mercado em
fundaes privadas, incubadoras de empresas e empresas juniores. Delimitamos nossos
interesses de pesquisa nos empreendedores universitrios atuantes na incubadora de
empresas CIETEC, hospedada dentro do IPEN, no campus da USP-Capital.
A tese principal defendida neste trabalho que o empreendedorismo universitrio
e corporativo a tentativa mais recente de estreitar as relaes entre universidades,
institutos de pesquisa e empresas pblicas e privadas. Ele tambm uma vlvula de
escape para a absoro dum certo perfil de professores, pesquisadores e estudantes cujos
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perfiis mais pragmticos e agressivos ou empresariais e mercadolgicos no
permitiram que eles se enquadrassem (e veremos o porqu) nas carreiras tradicionais e,
finalmente, ele uma ideologia ou discurso por meio do qual se legitima uma nova
coalizo criada na ltima dcada ao redor da poltica cientfica nacional. O
empreendedorismo, possuindo uma origem que se confunde com os percalos das
polticas pblicas para a pesquisa cientfica e tecnolgica no Brasil, tambm tem formas
de transmisso, aprendizado, inculcao e enraizamento que tambm trataremos nesta
tese.
Nossa ateno para a questo, despertada j durante o mestrado, veio tona ao
notarmos uma paulatina transio do perfil dos atores relevantes nos institutos pblicos
de ensino e pesquisa, aps a crise dos anos 1980 e 1990, com a subseqente reestruturao
dessas instituies. No s os discursos e posturas exibidos por eles eram diferentes do
que supnhamos encontrar conforme a imagem clssica do mundo da cincia [MERTON,
1977], como tambm notamos com uma guerra tcita entre as novas elites e as velhas
elites estas sim, mais engajadas com a autonomia acadmica e antipticas s presses
do mercado. Estas evidncias marginais nos fizeram refletir sobre o que estaria
provocando ou incentivando essa nova cultura de negcios na pesquisa e essa transio
tectnica de terrenos. Com base nisto, o presente trabalho est estruturado da seguinte
maneira.
No primeiro captulo, ao evidenciaremos que as comunidades tecnocientfica e
empresarial so hierarquizadas, diversificadas e segmentadas, levantaremos a
possibilidade de existncia, entre elas, dum agrupamento especfico de indivduos que
denominamos empreendedores. Haja vista que as reas de ponta, com mais tecnologia
agregada, so justamente aquelas que mais fortemente conjugam cientistas, tecnlogos e
empresrios, julgamos ser este o mbito de pesquisa que devemos explorar. Nossa tese,
ento, poder ser inserida na sociologia da tecnologia, com possibilidade de implicaes
para a sociologia econmica, do trabalho, da educao e das organizaes.
Veremos que uma srie de mudanas poderia ter produzido, nas ltimas dcadas,
um campo social intermedirio (bastante incipiente) interpenetrado entre o cientfico e o
econmico que denominamos campo tecnolgico e detalhamos no segundo captulo.
Nesse campo, uma pluralidade de instituies emergiria como intermedirias entre os
pesquisadores e os empresrios. Dedicadas s vrias fases de aperfeioamento, de
comercializao e de transferncia de tecnologias, esses meios hbridos so interfaces de
trocas teis entre a pesquisa e a produo, permitindo que cientistas, tecnlogos,
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engenheiros, investidores, empresrios e clientes interajam e se influenciem mutuamente.
Supondo que haja uma possibilidade de que os empreendedores sejam o resultado dum
processo de aprendizado por interao, cremos serem estes os ambientes onde os
empreendedores se desenvolvem. Por isto, nosso objeto de estudo o empreendedor tal
como se desenvolve em incubadoras de empresas e empresas juniores insituies que
situamos nesse campo social intermedirio: o tecnolgico.
Ainda no primeiro captulo, partiremos para uma avaliao da literatura disponvel
sobre o tema, com vistas a melhor defini-lo e deline-lo. Veremos que as publicaes nas
reas de cincias sociais apegam-se a uma viso desatualizada ou idealizada do que seria
a pesquisa cientfica neutra e pura e, a partir dessa viso, tratam de maneira condenatria
e desabonadora os pesquisadores que, no plano real, aquiescem aos interesses
econmicos. J a literatura econmica e corporativa apresenta um vis contrrio: so
laudatrias e prescritivas. Alm de disperso e ideolgico, esse enfoque ignora os aspectos
diacrnicos (o histrico da pesquisa cientfica no Brasil), sistemticos (os processos
macro e micro da relao entre cincia e capital) e estruturais (os agentes em sua
hierarquia e segmentao) do fenmeno. Esta literatura, muitas vezes, d-nos acesso
apenas quilo que definimos acima como sendo a periferia de significados e os
discursos para consumo externo a respeito do empreendedorismo.
No segundo captulo, nosso objetivo ser situar nosso problema de pesquisa num
espao social e num referencial terico que nos permitir abordar a questo com maior
propriedade e densidade. Como o tema que queremos analisar intere-se na questo da
inovao, achamos por bem comear nossa insero terica tratando de como,
primeiramente, a economia e a administrao abordaram o tema, para ento apresentamos
a abordagem sociolgica. Veremos neste segundo captulo que a economia oferecer-nos-
uma interessante tipologia das inovaes: as inovaes incrementais, baseadas em
pequenas melhorias contnuas dum invento j conhecido; as inovaes descontnuas, que
se baseiam em grandes avanos tcnicos que oferecem produtos ou processos que no
existiam no mercado; e por fim, as inovaes disruptivas, que geralmente oferecem
solues mais simples e baratas que as tecnologias estabelecidas, mas com o potencial de
desbanc-las no futuro. So essas inovaes disruptivas que, conforme pensamos,
constituem o foco dos empreendedores universitrios e corporativos.
A teoria econmica tambm nos oferecer um bom repertrio de conceitos e
modelos para abordarmos o empreendedorismo. Embora repleta de descries parciais e
eivadas de ideologia de justificao, foram os economistas que inicialmente teorizaram
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sobre as caractersticas, disposies, habilidades e importncia dos empreendedores na
economia capitalista. Ademais, foi com Schumpeter que, pela primeira vez, os conceitos
de empreendedorismo, inovao tecnolgica e crescimento econmico foram sintetizados
num modelo nico. A abordagem schumpeteriana do empreendedorismo tem o condo
de unir, num mesmo modelo, trs coisas que antes encontravam-se dissociadas: a
atividade do empresrio pioneiro como criador de novos mercados, o papel da inovao
tecnolgica como criadora de riqueza imaterial e os ciclos da economia capitalista como
fases paralelas introduo, difuso e saturao de inovaes tecnolgicas no mercado.
Outros autores tambm oferecero importantes contribuies, no s
compreenso do comportamento empreendedor como tambm ao papel das inovaes na
economia. A fortuna crtica posterior a Schumpeter tentou elaborar modelos mais ou
menos lineares para explicar o surgimento das inovaes tecnolgicas. Dentre estes
modelos, temos o science push (as inovaes tecnolgicas so impulsionadas pela oferta
de cincia bsica) e o demmand pull (as inovaes tecnolgicas surgem incentivadas a
atenderem demandas do mercado). Quando traduzidos e incorporados ao debate das
polticas pblicas de C&T no Brasil, esses dois modelos inspiraram polticas
vinculacionistas ou neovinculacionistas que buscavam incentivar as relaes entre
pesquisa e mercado, a partir das quais (imaginava-se) o conhecimento universitrio teria
aplicao industrial e, alternativamente, as demandas da indstria chegariam academia.
Veremos os motivos pelos quais essas tentativas fracassaram e como o
empreendedorismo, possvelmente aparece como alternativa e superao das tentativas
anteriores de relao pesquisa-mercado.
A abordagem econmica, quando somada viso sociolgica, permitir-nos-
explicar um impasse tanto das polticas pblicas brasileiras para a rea de inovao, como
das teorias mais crticas (com vis sociolgico e marxista) sobre o sistema nacional de
C&T. Por um lado, nossos empresrios so descritos como sendo os antpodas do
empreendedor schumpeteriano: inovam pouco, arriscam-se menos ainda e, quando so
instados a investir em tecnologia, preferem importar mquinas ou elaborar imitaes. Por
outro lado, nossos cientistas so descritos (s vezes, por aqueles mesmos empresrios)
como alheios ao mundo, presos numa torre de marfim terica, distantes dos problemas
cotidianos da sociedade e pouco afeitos s aplicaes prticas do conhecimento
universitrio. Por outro lado, no raro, a sociologia descreve os professores e
pesquisadores universitrios acossados por presses do mercado, quantificao do
conhecimento e deteriorao das condies de pesquisa e docncia fenmenos que
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supostamente seriam provocados por uma subsuno da pesquisa aos interesses do
mercado. Estas duas narrativas certamente no se encaixam. Como ficamos ento?
Uma das ambies deste trabalho ser matizar a viso deste cenrio, mostrando que
uma parte destas anlises, quando no so totalmente equivocadas, faze parte dos
discursos que ambos os lados pesquisadores e empresrios destinam sociedade e ao
governo, como forma de unificar as coalizes polticas das quais fazem parte e como
forma de justificarem os papis e funes do seu trabalho. Por outro lado, h uma parcela
de empresrios e uma parcela de pesquisadores que certamente no se enquadram nem
no perfil do industrial tradicional produtor de imitaes, nem no perfil do cientista isolado
em torres de marfim tericas. O que buscaremos mostrar nos prximos captulos a
existncia (ainda que incipiente e prematura) de novos perfis de atores tanto do campo
cientfico como do campo econmico aqueles, enfim, que denominamos
empreendedores universitrios e corporativos. E foi para conseguir matizar um pouco este
cenrio e comear a ver nele as diferenas, conflitos e misturas que inclumos as
contribuies da sociologia do conhecimento.
Cremos que uma resenha (mesmo que sucinta) das principais abordagens da
sociologia do conhecimento e das inovaes tecnolgicas tornaria esta tese, alm de ainda
mais longa, excessivamente bibliogrfica. Por isto, dentre os autores que poderiam nos
embasar no estudo da cincia, optamos por Bourdieu e sua teoria dos campos sociais.
Como nossos agentes os empreendedores inserem-se em atividades de inovao
tecnolgica, e como estas atividades so uma unio entre as demandas ou ofertas da
cincia com as demandas ou ofertas do mercado (pouco importando aqui o sentido da
causalidade), entender como se do as relaes entre campo cientfico e campo
econmico pareceu-nos interessante para nossa fundamentao sociolgica.
A teoria dos campos permitir que vejamos o mundo da cincia como um campo
de lutas, hierarquizado pela distribuio diferencial dum capital simblico fundado em
atos de conhecimento e de reconhecimento. A estrutura oriunda dessa distribuio
diferencial incorporada aos indivduos sob a forma de disposies chamadas de habitus.
Os campos, alm disso, incutem em seus agentes a crena de que os jogos e lutas que ali
se travam so importantes em si mesmos, criando uma illusio que adere os agentes aos
mveis daquele campo, tornando os moveis dos campos vizinhos sem interesse para eles.
A questo se torna, porm, mais interessante quando postulamos a possibilidade de que
os campos vizinhos o cientfico e o econmico entrem em confluncia, afinidade e
sintonia, misturando e confundindo os objetivos das lutas dos campos, os mveis, as
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hierarquias e estruturas, as vises, prticas e valores, criando, com isto, um hbrido de
empresrio e pesquisador que supomos serem os nossos empreendedores.
Alis, o esforo explcito das polticas pblicas nas ltimas duas dcadas foi mesmo
o de aproximar os destinos desses campos, emulando e produzindo entre as universidades,
institutos de pesquisa e empresas pblicas e privadas interfaces de comunicao tendentes
a criar instituies intermedirias entre o campo cientfico e o campo econmico:
fundaes privadas, incubadoras de empresas, parques cientficos e tecnolgicos,
empresas juniores, ncleos de inovao, escritrios de transferncia de tecnologias, etc.
So estas instituies que formariam, conforme nossa hiptese heurstica, um campo
social intermedirio que denominamos tecnolgico, sendo nele que ocorrem as mutaes
alqumicas entre cincia e capital; sendo nele que os papis e funes do pesquisador e
do empresrio confundir-se-iam num misto de ambos: os empreendedores.
No terceiro captulo, nosso objetivo ser o de situar o surgimento e a recente
emergncia desse novo perfil de pesquisador-empreendedor em sua devida dimenso
histrica. De modo a entendermos melhor a origem do problema de pesquisa, delinearmos
de maneira mais matizada as caractersticas que apresentamos no primeiro captulo e
traaremos um histrico de surgimento daquilo que chamamos de campo social
tecnolgico intermedirio ao campo cientfico e ao campo econmico, onde esperamos
encontrar nossos agentes. Noutras palavras, se no primeiro captulo apresentamos o
problema e no segundo captulo tentamos situ-lo na tradio terica (Schumpeter) e no
espao social (Bourdieu), no terceiro captulo, situaremos nosso tema em seu tempo
social.
Como veremos, a histria da pesquisa cientfica e tecnolgica brasileira, assim
como a histria das suas tentativas de se relacionar com o setor produtivo agrcola e
industrial, pode ser dividida em algumas fases bem definidas. Primeiramente, temos um
perodo formativo que vai do final dos anos 1940 at meados dos anos 1960. Neste
perodo, temos a criao das primeiras entidades de representao dos pesquisadores, a
fundao de entidades de fomento pesquisa e a expresso duma ideologia de justificao
fundada no progresso cientfico e na independncia econmica. nesse momento que a
comunidade cientfica brasileira comea a se constituir como corporao, criando uma
coalizo poltica em torno do Estado, pressionando-o por iniciativas que, na maioria das
ocasies, atendiam apenas aos interesses dessa mesma comunidade.
Posteriormente, temos um perodo de consolidao que vai de meados dos anos
1960 at o final dos anos 1970, e compreende quase todo o perodo militar. o momento
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dos grandes projetos nacionais, com o lanamento peridico de programas de fomento
pesquisa bem mais direcionados e estruturados, por meio dos quais os militares visavam
a conquistar a adeso duma parte da intelectualidade, transformando-a numa tecnocracia
servio do governo, e tambm justificarem seus projetos de modernizao conservadora
da sociedade e da economia brasileiras. desse perodo o lanamento dos vrios planos
nacionais de desenvolvimento cientfico e tecnolgico, que garantiram aos professores e
pesquisadores universitrios uma certa segurana financeira. O iderio que ungia essa
coalizo entre cincia e poder era o da segurana nacional e o do desenvolvimento
macroeconmico, baseado em programas ofertistas por meio dos quais esperava-se um
maior crescimento econmico e bem-estar social, numa ponta, como resultado dum
investimento em cincia e educao, noutra ponta.
No perodo que vai do final dos anos 1970 e se at meados dos anos 1990, o sistema
nacional de C&T sofre um duro abalo. A crise do Estado, a superinflao, a dependncia
estrangeira, a dvida externa e a redemocratizao rompem a coalizo anterior entre
cientistas e militares, criando espaos intersticiais de reivindicao que minam o poder
de barganha da comunidade cientfica brasileira. O perodo marcado por sucessivas
diminuies nas dotaes estatais para a pesquisa, ameaando at mesmo os projetos em
andamento. Essa crise, por outro lado, cria a ocasio para as primeiras tentativas de
aproximao entre as universidades, os institutos de pesquisa e as empresas pblicas e
privadas. Ainda que feitas de maneira informal e incipiente, tais aproximaes
pretendiam ora produzir resultados tangveis de tecnologias e chamar a ateno da
sociedade para a importncia da pesquisa acadmica, ora complementar os recursos
decrescentes por meio de prestao de servios e transferncia de tecnologias da academia
para as empresas.
No perodo seguinte que vai da segunda metade dos anos 1990 at o incio dos
anos 2000 , aquelas tentativas iniciais de aproximao da pesquisa com o mercado vo
sendo formalizadas por uma nova legislao de propriedade intelectual e de renncias
fiscais para as empresas que investissem em tecnologia. Um novo arcabouo institucional
e legislativo implementado, ento, para dar ossatura e segurana jurdica queles
encontros entre cincia e capital que, antes, eram feitos num vcuo legal. O iderio da
inovao a sntese desse novo papel do Estado como mero facilitador e interlocutor da
aproximao entre pesquisadores e empresrios. Nesse momento, surge uma mirade de
instituies intermedirias, criadas para fazerem a interface de traduo entre a lgica do
campo cientfico com a lgica do campo econmico, produzindo, como resultado
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esperado desta unio as seguintes conquistas: tecnologias inovadoras que permitiriam aos
empresrios brasileiros fazerem frente concorrncia internacional; pesquisas que
tornariam essas inovaes acessveis sociedade, sob a forma de melhores empregos,
produtos e servios; e transaes e cooperaes que garantiriam rendas extras academia,
sob a forma de royalties para financiar as pesquisas.
Porm, no foi bem isso o que aceonteceu. dessa poca o boom das fundaes
privadas, das incubadoras de empresas, das empresas juniores, dos parques cientficos e
tecnolgicos, dos ncleos de inovao e dos escritrios de transferncia de tecnologia
rgos que, conforme nossa hiptese, formariam um incipiente campo social
intermedirio entre o cientfico e o econmico, engendrando em seu seio um novo perfil
de empreendedores universitrios e corporativos, surgidos como resultado do
aprendizado interativo, das sinergias e da convivncia entre pesquisadores e empresrios.
Tambm so dessa poca alguns planos e prticas de reforma dos institutos pblicos de
pesquisa e das universidades estaduais e federais, que procuravam direcionar a pesquisa
acadmica s supostas demandas do mercado um mercado que ironicamente insistia em
no demandar nada das universidades.
As crises dos anos 1980 e 1990 pareceram ter impactado mais no comportamento
dos pesquisadores que o comportamento dos empresrios. Em sua grande maioria e
malgrado algumas mudanas por parte de eventuais pioneiros e inovadores, os
empresrios brasileiros continuaram pouco ou nada interessados em pesquisa acadmica,
preferindo, quando inovam, importar mquinas e produzir imitaes. Porm, uma parte
dos pesquisadores brasileiros parece ter sentido fundo o perodo crtico. Em poucas
palavras, a crise produziu uma seleo natural na comunidade de pesquisa brasileira,
fazendo prevalecer um pesquisador mais atento s presses polticas e s demandas
econmicas, mais hbil na prospeco de oportunidades financeiras, mais agressivo na
disputa por fundos de pesquisa, mais capaz, portanto, de sobreviver a uma poca de
recursos escassos.
aqui que ns chegamos ao cerne do problema. Diante da inexistncia dum
empresariado com vis schumpeteriano, capaz ento de materializar em produtos e
servios inovadores suas pesquisas, levando sociedade os resultados do trabalho
acadmico e, com isto, legitimando e justificando a existncia dos cientistas, professores
e engenheiros numa sociedade que teima em dispens-los, o pesquisador brasileiro passa
ento a mimetizar os discursos e prticas dum empresrio que ele no v, mas com o qual
ele gostaria de se relacionar. Lado a lado, portanto, das chamadas autonomia pelas
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quais uma velha elite acadmica mais tradicional tenta ainda hoje salvar suas condies
pretritas de trabalho, garantidas pela autonomia universitria e pela liberdade de ctedra,
essa outra elite, minoritria mas ascendente, oriunda das cincias exatas e sobretudo das
engenharias, profere um discurso contrrio da abertura ao arbitrrio social
econmico, da importncia e necessidade de parcerias com as empresas. esse grupo
que denominamos empreendedores universitrios.
No quarto captulo, buscaremos apresentar os procedimentos metodolgicos, as
hipteses de trabalho, a amostra e o mbito de pesquisa, seguidos dos resultados e
concluses preliminares que fizemos com base nos dados coletados na primeira etapa do
nosso trabalho de campo. Em poucas palavras, pretendemos responder s quatro
perguntas que geralmente so feitas ao incio duma investigao: o que pesquisar? (nosso
tema ou objeto, pergunta ou problema); por que pesquisar (as justificativas tericas e
prticas que motivaram nossa escolha pelo tema e sua possvel relevncia para a
sociologia do conhecimento e para as polticas pblicas em C&T); como pesquisar? (os
mtodos ou desenho de pesquisa adotado, alm das tcnicas de obteno dos dados); onde
pesquisar? (o mbito de pesquisa, caso ou local onde realizaremos nossas investigaes).
Respondendo a estas perguntas, teremos condies de elaborar o material coletado em
campo e apresentar os primeiros resultados (a segunda camada de sentidos).
Como j definido no primeiro captulo, nosso objetivo com este trabalho era
entender se a emergncia recm-percebida dum novo perfil de pesquisadores-empresrios
era o resultado duma alternativa s tradicionais carreiras na docncia, no servio pblico
e na iniciativa privada; se os empreendedores universitrios e corporativos cumpriam a
funo de substituir com vantagens (quais?) as velhas e parcialmente fracassadas
tentativas de aproximao da pesquisa com o mercado; se o fenmeno era em si o
resultado de adaptaes reativas ou proativas s mudanas histricas sofridas pelas
instituies de ensino e pesquisa durante as ltimas dcadas; se o empreendedorismo era
a conseqncia de esforos da academia por instigar (como?) uma nova cultura de
negcios entre os estudantes e professores; se era a resultante dum processo de
aprendizado por interao entre pesquisadores e empresrios convivendo em ambientes
de inovao dinmicos e variados; se a alternativa de empreender era um alvio presso
exercida sobre o mercado de trabalho qualificado por um exrcito cientfico de reserva;
ou, por fim, se a criao da prpria empresa e sua hospedagem numa incubadora eram a
nica chance para que certos tipos de inovaes imaturas, porm, promissoras
pudessem ingressar no mercado.
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Do ponto de vista terico, nossa pesquisa buscar trazer para a sociologia um tema
que geralmente caro aos economistas e administradores. Abordar o empreendedorismo
sub uma perspectiva sociolgica preocupar-se menos em emul-lo com passos,
chaves e segredos e mais em incluir na anlise o todo social, os conflitos, os
interesses, as dualidades, as hierarquias e metamorfoses que fatalmente enredam o
problema. Mas as pretenses desta tese no se resumem a preencher uma lacuna terica.
Esperamos tambm auxiliar (malgrado as evidentes limitaes e eventuais problemas de
toda tese) a proposio de melhores polticas pblicas para a rea de C&T seja
objetivando minimizar os tradicionais obstculos relao pesquisa-mercado com vistas
ao melhor aproveitamento do conhecimento universitrio, seja ainda alertando para os
possveis impactos negativos que esta relao poder trazer sobre a autonomia
universitria, o livre acesso ao conhecimento tecnocientfico e s condies de trabalho
de ensino e pesquisa.
Com base nas perguntas de pesquisa e em inmeras conjecturas espalhadas pelos
captulos, lanaremos dois conjuntos de hipteses. O primeiro deles supor ser o
empreendedorismo universitrio e corporativo uma alternativa (inicialmente improvisada
e mais tarde estruturara) para o clssico problema e como levar sociedade os resultados
da pesquisa acadmica sob a forma de produtos e processos inovados, sendo que os
agentes capazes desta tarefa os empresrios brasileiros no se mostram interessados
em investir em tecnologia nem se relacionarem com a universidade. O segundo conjunto
de hipteses versar sobre explicaes adicionais para as caractersticas, as origens e o
papel desses agentes, assim como a formao e a transmisso da cultura de negcios no
ambiente acadmico.
Lanadas as hipteses, passaremos a detalhar nossos procedimentos metodolgicos.
Um dos problemas que enfrentamos desde logo foi que a quantidade e complexidade das
questes que queramos responder no permitiam a realizao nem duma pesquisa com
carter quantitativo-probabilstico, nem duma amostragem muito grande, o que
provavelmente multiplicaria as variveis, tornando-as impossveis de serem
operacionalizadas posteriormente. Tendo isto em conta, optamos por realizar uma
pesquisa qualitativa, de carter indutivo, baseada num estudo de caso de incubadores de
empresas (um caso: o CIETEC) e de empresas juniores (um caso: a POLI-Junior), a partir
dos quais coletamos nossa amostra (os informantes e entrevistados). As tcnicas
empregadas foram o levantamento bibliogrfico e documental, as observaes e as
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entrevistas. As amostras e os mbitos de pesquisa foram selecionados por critrios de
convenincia e exemplaridade.
Aps o trabalho de levantamento documental, cotejamento da bibliografia e anlise
crtica desse material, o trabalho de campo emprico foi realizado em duas etapas. Na
primeira etapa (2011-12), foram feitas observaes e oito entrevistas informais com
empresrios incubados e empresrios juniores que compunham o crculo prximo de
contatos do autor desta tese, com o objetivo de mapear melhor o campo, qualificar as
hipteses e delinear os problemas de pesquisa, orientando melhor as etapas posteriores,
como a elaborao das entrevistas. Na segunda etapa (2014-15), foram feitas mais
observaes e mais vinte entrevistas semiestruturadas, desta feita, somente com
empresrios incubados, por meio das quais buscamos submeter as hipteses ao
falseamento (comprovao, refutao, plausibilidade). O trabalho de campo cessou
quando comeamos a perceber uma certa consistncia e repetio nos dados obtidos,
graas tcnica da saturao.
Malgrado as inportantes informaes que recolhemos na primeira etapa da pesquisa
(Captulo 4), uma srie de outras questes ainda permaneciam sem esclarecimento. Por
conta disto, a segunda etapa da pesquisa (Captulo 5) concentrou-se no trabalho de
analisar as entrevistas aprofundadas (semiestruturadas) com os empresrios incubados no
CIETEC. Portanto, no quinto e ltimo captulo, analisaremos as respostas dos informentes
no tocante a quatro aspectos centrais: 1- origem e perfil, carreira e trajetria dos
empreendedores universitrios e corporativos; 2- formas de aquisio das capacidades e
disposies para empreender; 3- empreendedorismo e relao entre pesquisa e mercado;
4- caractersticas das tecnologias incubadas. Veremos que as concluses do quinto
captulo ora aprofundaro, ora relativisaro, ora impugnaro algumas hipteses lanadas
no quarto captulo. Com base nesses resultados, teremos condies de sintetizar nossas
concluses e propor algumas melhorias nas polticas pblicas para C&T.
Por fim, fecharemos esta tese com uma concluso final onde resumiremos
brevemente o passo a passo dos argumentos, conjecturas e evidncias acumulados nos
captulos anteriores. Pretendemos tambm fazer uma reflexo a respeito das concluses,
limitaes, impactos e possveis desdobramentos futuros deste tema. Certamente, uma
tese com vis qualitativo sempre eivada de subjetivismo, pr-noes e artesanato
sociolgico principalmente quando os agentes analisados encontram-se separados do
pesquisador por um abismo ideolgico, axiolgico e epistmico; e ademais, quando o
fenmeno estudado quase autodefinido por sua irredutvel (caleidscpica e
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estratificada) complexidade. Alm disto, um estudo de casos acrescenta ao trabalho o
desafio da falseabilidade, da repetibilidade e da possibilidade de extrapolao dos
resultados. Estamos cientes desses e outros problemas. Ficaramos satisfeitos, entretanto,
caso nosso trabalho tenha contribudo em dois pontos: trazer para a anlise da sociologia
um tema at ento caro aos economistas e gestores de empresas; e abrir um leque de pistas
para futuras pesquisas. Se no respondemos tudo, ao menos estamos certos de termos
elaborado boas perguntas e termos levantado boas hipteses. Boa leitura!
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CAPTULO 1 INTRODUO E DELINEAMENTO PRELIMINAR DO
OBJETO DE ESTUDO.
1.1 A emergncia do fenmeno empreendedor.
Sobretudo na ltima dcada, como parte dum processo eclodido e acelerado pelas
reformas dos institutos de pesquisa dos anos 1990, o campo da cincia vem assistindo ao
surgimento e predomnio dum novo perfil de pesquisadores e universitrios. Trata-se no
apenas duma simples mudana de geraes (certas vezes, provocada por iniciativas
explcitas de incentivo renovao dos quadros via exoneraes e aposentadoria, como
no caso da Embrapa e do Instituto Butant) [JARDIM, 2010; MELO, 2000]; mas sim
dum cmbio tambm visvel no mbito dos valores, posturas e alianas desses agentes
com outros elementos oriundos das fronteiras do mercado e do governo. Mudanas
similares e paralelas de perfis pessoais e de posturas vm sendo detectadas, na ltima
dcada, numa pequena parcela do empresariado brasileiro, sobretudo a partir da abertura
do mercado s importaes (1991) e como reao adaptativa s exigncias do consumidor
e da sociedade [ARBIX, 2007, p. 105-142].
Sabatier [1993], dentre outros autores, mesclam uma explicao geracional com
uma explicao axiolgica para o fenmeno da transio de condutas dos grupos de
cientistas. Para ele, primeiramente, ocorre um aprendizado individual entre alguns atores-
chave influentes no mbito cientfico, o que acarreta mudanas em suas orientaes,
disposies e preferncias. Essas mudanas individuais sofrem resistncias tanto das
estruturas institucionais como dos demais agentes do mesmo campo. Posteriormente, com
o auxlio de fatores crticos externos (polticos, culturais, econmicos), ou devido s taxas
de substituio geracional do pessoal de pesquisa dentro das instituies e em seus postos-
chave, a resistncia inicial rompida e cria-se uma nova coalizo ao redor das novas
atitudes e dos novos valores. Com isto, para o autor, nas comunidades de pesquisa
combinam-se uma transio geracional e uma revoluo de paradigmas para formar uma
nova elite.
O objetivo deste primeiro captulo ser, portanto, delinear, ainda que de maneira
preliminar, alguns traos desta mudana no campo da pesquisa cientfica. As informaes
que coletamos na pesquisa de campo (quarto captulo) no nos permitem asseverar que
estamos j diante dum novo regime de produo de cincias. Isto porque o histrico de
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formao da comunidade cientfica brasileira [SCHWARTZMAN, 2001; RESENDE,
2012], marcada por perodos de avano e recuo, excelncia e decadncia, isolamento e
globalizao, demasiado complexo para, pensando em conjunto ou baseando-nos em
alguns casos, extrapolarmos nossas concluses para todo o sistema nacional de cincia,
tecnologia e inovao. Entretanto, as evidncias que mostraremos no quarto captulo
permitir-nos-o afirmar isto sim que h um tnue vetor de deslocamento dos
fenmenos ou, dizendo de maneira menos vaga: algo est mudando na pesquisa cientfica
e tecnolgica brasileira.
Embora faam meno ao empreendedorismo em bloco, como sendo a propenso
a ter um negcio prprio em preferncia a trabalhar como empregado de terceiros, sem
as distines especficas que faremos entre os inovadores e tradicionais, informaes
disponveis colocam o Brasil em segundo lugar num levantamento internacional de
propenso a empreender, com 76% dos respondentes afirmando a preferncia por ter um
negcio prprio. [Vide Grfico 1.1]. Apenas atrs da Turquia (82%), o Brasil situa-se
frente inclusive de pases tidos como o bero do empreendedorismo e da livre-iniciativa
empresarial, como os EUA (51%), a Alemanha (29%) e o Japo (23%). E no apenas
no comparativo internacional que o Brasil insere-se como uma nao de protagonismo
empreendedor; nos ltimos anos, mais e mais pessoas declaram empreender em algum
ramo de negcio. Dados da Receita Federal mostram que, entre 2009, 2010 e 2011,
respectivamente, o Brasil contava com 77 mil, 810 mil e 1,7 milho de empreendedores
autodeclarados.
Outras pesquisas, cruzando dados qualitativos e dados quantitativos [BULGACOV
& alii, 2011; PAIVA JNIOR; LEO & MELO, 2003] apontam para uma recente
emergncia e protagonismo dos empreendedores jovens no Brasil, entre os 18 anos e os
24 anos. Neste caso, porm, o fenmeno empreendedor tem a ver com caractersticas do
mercado de trabalho para esta rea, criando certas barreiras que, somadas a incentivos,
afunilam o caminho dos jovens a procurar o prprio negcio. Com efeito, o fenmeno
que abordaremos nesta tese uma subespcie do empreendedor lato sensu: trata-se do
empreendedor universitrio e corporativo, atuante em setores de inovao, especialmente
aqueles inseridos em atividades de pesquisa em universidades, institutos de tecnologia,
incubadoras de empresas, empresas juniores, start-ups tecnolgicas se spin-offs
universitrias.
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Grfico 1.1: Preferncia por ter negcio prprio (comparao internacional).
Fonte: Eurobarometer / 2012; Endeavor Brasil / 2013.
Cabe-nos aqui definir o que denominamos empreendedor. Segundo definio da
OCDE1:
Empreendedores so agentes de mudana e de crescimento numa economia de mercado, que
agem de modo a acelerarem a criao, disseminao e aplicao de inovaes. Os
empreendedores no restringem sua ao busca e identificao de oportunidades
econmicas; com seus atos, dispem-se tambm a assumir os riscos inerentes s duas
escolhas [OCDE, 1998, p. 45]
Noutras palavras, o empreendedor um indivduo ou instituio que, atuando
dentro duma estrutura j definida pela sociedade ou pelo mercado, com suas aes,
ultrapassa os eventuais constrangimentos impostos por essas estruturas, alargando o
horizonte dos possveis e dos pensveis e, muitas vezes, criando com isto novas condies
estruturais que no estavam presentes. Em termos mais subjetivos, o empreendedor
motivado pelo desejo de autonomia conquistada por via da iniciativa individual, pela
nsia de conquista e crescimento, pela satisfao com a realizao de algo novo e pela
propenso a assumir altos riscos. Quando analisado duma perspectiva econmica, o
empreendedor o criador dum novo negcio, por meio da introduo de servios ou
produtos com diferencial para aquele mercado. E embora nem todos os empreendedores
sejam necessariamente inovadores ou ligados aos ramos de tecnologia, a correlao entre
1 Fundada em 1960, a OCDE (Organizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico) uma organizao de cooperao internacional composta por 34 pases. Sua sede fica na cidade de Paris (Frana). A OCDE sucessora da OECE,
que foi criada no contexto do Plano Marshall. Portanto, tinha como objetivo buscar solues para a reconstruo dos
pases europeus afetados pela Segunda Guerra Mundial. A OECE existiu entre 1948 e 1960, ou seja, at a fundao da
OCDE. Fonte: www.oecd.org.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Turquia Brasil China Coria E.U.A. Grcia Chipre U.E. Israel Blgica Alemanha Japo
8276
5653
51 5045
3734
30 29
23
Percentual
-
30
empreendedorismo e inovao tecnolgica forte. As razes para isso, iremos mostrar
no segundo captulo.
Caso nosso objeto de pesquisa o empreendedorismo se apresentasse como
prtica de atores totalmente livres de filiaes institucionais, ser-nos-ia possvel abord-
lo sem a recorrncia aos mbitos de atuao dos mesmos. Entretanto, os indivduos que
manifestam essa postura mais proativa na gerao de inovaes, com sua posterior
transferncia para o mercado por meio da criao das prprias empresas, encontram-se
geralmente trabalhando nas instituies citadas anteriormente: as incubadoras de
empresas e as empresas juniores [BCHARD & GRGOIRE, 2005; GARTNER,
DAVIDSSOM & ZAHARA, 2006; LEMOS, GRIZENDI & LOTUFO, 2006; PEREIRA,
2007; COZZI, JUDICE, DOLABELA & FILION, 2008; LEMOS, 2008; FETTERS &
alii, 2010; GUERRERO & URBANO, 2010; RENAULT, 2010]. Justamente, a
correlao entre a emergncia do empreendedor como forma dominante dentre os
produtores de tecnologia e inovaes, com o paralelo aumento verificado na criao de
incubadoras de empresas e empresas juniores pelo Brasil na ltima dcada [Vide Grficos
1.1, 1.2, 1.3], o que nos permite supor estarmos tratando dum binmio indivduo-
instituio para este caso. No se trata apenas de coincidncia de fenmenos, mas a
correlao entre uma nova categoria de pesquisador e novos arranjos para a relao entre
pesquisa e mercado. Uma das ambies desta tese , alis, apresentar evidncias de que
as incubadoras de empresas so, no caso do Brasil, as interfaces privilegiadas de
transferncia de tecnologias da universidade para a indstria e para o comrcio; que as
empresas juniores so, por sua vez, um dos meios pelos quais a cultura empreendedora
se imiscui do ambiente acadmico e que, ainda, o fenmeno do empreendedor insere-se
tanto num mbito como no outro ambos fazendo parte dum contexto maior de insero
das universidades e institutos de pesquisa nas redes de produo capitalistas.
Ademais, algumas caractersticas que a produo de conhecimento tecnocientfico
vem adquirindo nos ltimos anos reforam a tendncia criao desses espaos ambguos
entre a academia e o mercado. Em primeiro lugar, os altos custos e riscos envolvidos nas
inovaes exigem o trabalho cooperativo, multidisciplinar e transdisciplinar, com amplas
redes de atores de diversos talentos e origens, aproveitando a infraestrutura j instalada
nas universidades e institutos pblicos de pesquisa erigidos na poca dos grandes projetos
geridos pelo Estado (anos 1960 a 1980): o projeto nuclear, de informtica e computao,
do setor blico militar, de tecnologias para o agronegcio, o aeroespacial, o siderrgico,
de comunicaes, de petrleo e minerao, de lcool e etanol, etc. [MOREL, 1979;
-
31
MOTOYAMA, 2004; DIAS, 2012]. Em segundo lugar, sendo as prprias inovaes um
conhecimento cientfico aplicado produo industrial com vistas ao aumento da
produtividade e do desenvolvimento, esperamos encontrar os empreendedores atuando
justamente nas franjas de contato entre a academia e o mercado, possuindo, portanto, a
mesma dupla filiao das instituies supracitadas. Em terceiro lugar, um emaranhado de
transformaes econmicas, institucionais e legais vem calando o caminho para estes
novos agentes. Por isto, embora nosso tema no seja nem as empresas juniores nem as
incubadoras de empresas, inevitvel recorrermos a elas como loci do empreendedorismo
universitrio e corporativo.
1.1.1 Os empreendedores e as incubadoras de empresas.
Uma incubadora de empresas uma instituio criada para abrigar pequenas
empresas em seus estgios iniciais de crescimento, antes da insero delas no mercado.
um ambiente planejado para incentivar e promover o empreendedorismo e o
desenvolvimento de novos negcios (no necessariamente tecnolgicos) para que estes,
posteriormente, possam se inserir de maneira mais segura e robusta no mercado
[DORNELLAS, 2002; MARTINS & alii, 2005]. O processo de incubao de
fundamental importncia, tendo em vista as dificuldades que uma pequena empresa
enfrenta assim que nasce. Alm da carga tributria que poderia sufocar o pequeno
empresrio justamente no momento em que ele tenta alavancar seu capital inicial, temos
ainda o excesso de burocracia e de procedimentos que no so de domnio comum para a
maioria dos entrantes (neste caso, ex-professores, estudantes recm-egressos,
pesquisadores, engenheiros, etc.). Somam-se a esses desafios outras questes triviais da
gesto duma empresa: a contratao e o treinamento dos recursos humanos; o
relacionamento com os fornecedores de insumos, mquinas e matrias-primas; a gesto
da marca; a propriedade intelectual; a propaganda e marketing; a gesto dos processos e
da qualidade; a logstica de compras, vendas e transporte e a gesto das finanas do
negcio.
No caso duma empresa cujas atividades so intensivas em tecnologia, somam-se s
dificuldades supracitadas, os custos e riscos prprios duma inovao. A literatura
consagrada ao assunto refere-se com freqncia queles casos em que boas idias (dum
ponto de vista tcnico) podem fracassar por falta duma gesto do negcio criado ao redor
da mesma [DAVID, 1986; NOSENGO, 2008]. Primeiro, porque nada garante que uma
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32
boa formulao matemtica e estatstica do problema tcnico seja seguida dum
funcionamento satisfatrio dela na produo industrial, por exemplo. Da cincia bsica
inovao aplicada, peculiaridades no antecipveis dos fenmenos envolvidos podem
ameaar o negcio [CHRISTENSEN, 2012]. Segundo, porque quando mais complexa
a tecnologia, maior e mais diversa ser a rede de apoiadores, fornecedores e parceiros
envolvidos no seu sucesso. A literatura chama isso de redes sociotcnicas [LATOUR,
2000; 2001; 2004; CALLON, 1989; 1994; 1999]. Trata-se de redes dinmicas,
heterogneas, complexas e que incluem no apenas indivduos e instituies, mas tambm
idias, coisas, valores, etc. Por fim, o desafio envolvido em transformar um problema
tcnico em problema de pesquisa, e deste para um prottipo de bancada que funcione, e
deste para uma patente ou modelo de utilidade com chances de aprovao, e desta para
uma estratgia de negcios e enfim desta para um produto ou processo acabado que
ter aceitao do consumidor, tamanho desafio, no pode ser negligenciado.
Segundo Barea [2003], os motivos do fracasso duma pequena empresa com base
tecnolgica podem ser resumidos em trs: 1) a dificuldade em transformar uma tecnologia
numa empresa de sucesso (como citado acima); 2) a dificuldade de os pesquisadores
geralmente egressos de instituies acadmicas tradicionais com pouqussima ou
nenhuma cultura empreendedora adquirirem as capacidades gerenciais necessrias
conduo da empresa; e 3) a dificuldade no acesso aos recursos financeiros de
alavancagem, que geralmente so vultosos e mais arriscados nos estgios iniciais dum
empreendimento tecnocientfico. Vale ressaltar que, no caso do Brasil, o ingresso do
capital de risco e do capital-anjo no financiamento das empresas com base tecnolgica
ainda algo incipiente. E tratando-se dum pequeno empresrio sem experincia anterior na
gesto de negcios, podemos supor que as barreiras de entrada tanto financeiras como
culturais so-lhes maiores que no caso das empresas estabelecidas ou atuantes em
ramos mais tradicionais. Por fim, no se pode negligenciar a importncia de se conhecer
os clientes em potencial e tambm os concorrentes do setor em que se pretende ingressar.
Amadurecer a tecnologia antes de oferec-la ao pblico, colocando-a em contato com as
redes de atores (conhecimentos, parcerias, investimentos) e em contato com os desejos
do pblico-alvo, fundamental para o sucesso do negcio.
Uma pequena empresa incubada receber justamente isso: expertise gerencial
(seminrios de capacitao para gestores de negcios, treinamentos, consultorias), apoio
logstico e gerencial (insero em redes de atores relevantes, proximidade com a
universidade, aprendizado por interao com empresas maduras) e infraestrutura
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33
(telefonia, informtica, correios, secretaria, espao fsico, etc.). Tudo isto geralmente
oferecido a baixo custo, como veremos no quarto captulo. Alm disso, dentro dessas
incubadoras, as empresas nascentes dispem dum ambiente adequado que no apenas as
proteger das agresses do ambiente externo (a concorrncia) como as capacitar para
sobreviverem quando maduras (o processo de graduao) [GUEDES & alii, 1999;
HANSEN & alii, 2000]. Por isto, forte a incidncia de incubadoras nas imediaes de
universidades e institutos de pesquisa, aproveitando-se dos recursos humanos,
laboratrios e conhecimentos produzidos ali e formando com eles um aglomerado
tecnocientfico que os autores chamam de cluster. [GARTNER DAVIDSSON &
ZAHARA, 2006; FETTERS & alii, 2010; HYCLAK & BARAKAT, 2010].
Quanto forma geral, h trs diferentes modalidades de incubadoras: 1) a
incubadora tradicional, que se dedica a apoiar empresas (geralmente cooperativas de
agricultores, extrativistas e pequenos artesos) e que pretendem oferecer produtos e
servios dos setores tradicionais da economia: couro, fibras, reciclagem, tecelagem,
artesanato, gneros agrcolas, extrativismo, etc.; 2) a incubadora com base tecnolgica,
que apoia empresas que pretendem oferecer produtos e servios inovadores, com
tecnologia incorporada e nas quais a pesquisa cientfica foi fundamental: informtica,
eletrnica, biotecnologia, nanotecnologia, robtica, medicina, materiais sintticos, etc.; e
por fim temos 3) a incubadora de tipo misto, que apoia negcios tanto tradicionais como
inovadores [BARBOSA, 2000].
Carmo e Nassif [2005] expandem essa tipologia incluindo, alm dos trs tipos
acima, outros sete. So eles: 4) as incubadoras setoriais, que abrigam negcios de apenas
um setor da economia; 5) as incubadoras culturais, que abrigam empreendimentos da rea
de entretenimento, turismo e cultura; 6) as incubadoras agroindustriais, que oferecem
apoio s inovaes voltadas ao agronegcio; 7) as incubadoras de cooperativas; 8) as
incubadoras que abrigam negcios oriundos de projetos sociais; 9) as incubadoras rurais,
que apoiam negcios ligados ao campo, por meio da prestao de servios, capacitao,
formao, financiamento e divulgao e, por fim, 10) a incubadora virtual, que assessora
e d suporte aos empreendedores, mas geralmente no lhes oferece espao fsico e
infraestrutura compartilhada [CARMO & NASSIF, 2005]. Segundo dados da
ANPROTEC2, as incubadoras tecnolgicas (tipo dois) representam a maioria das
2 Criada em 1987, a ANPROTEC Associao Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
rene cerca de 280 associados entre incubadoras de empresas, parques tecnolgicos, instituies de ensino e pesquisa,
rgos pblicos e outras entidades ligadas ao empreendedorismo e inovao. Lder do movimento no Brasil, a
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34
incubadoras de empresas existentes no Brasil, compondo 40% do total delas. Tal
percentual no nos surpreende, tendo em vista as dificuldades ao pequeno empresrio
inovador elencadas anteriormente.
Outros dois tipos de incubadoras de empresas so as abertas e as fechadas. O
primeiro tipo costuma ser instalado em espaos fechados e divididos em mdulos de
tamanhos diferentes, dependendo das necessidades de cada empresa incubada. As reas
comuns so ocupadas geralmente por recepo, secretaria, espaos de reunio, instalaes
sanitrias e cozinha. As empresas incubadas rateiam entre si as despesas com energia
eltrica, gua, telefone, fotocpia, informtica, segurana e funcionrios administrativos.
Elas recebem apoio complementar constitudo de financiamento (CNPq3), linhas de
crdito (BNDES4 e FINEP5), treinamento tcnico e gerencial (SEBRAE6), assistncia
jurdica e auxlio para a comercializao e desenvolvimento do plano de negcios
oferecidos pela prpria incubadora de empresas ou por seus parceiros. J no segundo tipo
(abertas), as empresas incubadas no compartilham dum espao fsico definido,
espalhando-se geograficamente numa rea estabelecida, mas recebendo os mesmos
servios, auxlios e facilidades recebidas pelo primeiro tipo. No geral, por motivos de
privacidade, comodidade e sigilo industrial, as incubadoras de empreendimentos
tecnolgicos enquadram-se no tipo fechado.
Concernente s incubadoras de empresas, dados de 2012 da ANPROTEC indicam
que h no Brasil atualmente 384 incubadoras de empresas, com 2.640 empresas
incubadas, 2.509 empresas graduadas (que j passaram pelo processo de incubao) e
1.124 empresas associadas (que prestam servios s incubadoras ou cujo relacionamento
com tais instituies d-se de maneira indireta. Alm disso, conforme dos mesmos
indicadores, as empresas associas e incubadas so responsveis pela manuteno de
16.934 postos de trabalho, ao passo que as empresas graduadas respondem por outros
29.905 postos. As cifras falam por si. O faturamento estimado das empresas incubadas
de US$ 266 milhes, ao passo que o faturamento das empresas graduadas atinge a marca
Associao atua por meio da promoo de atividades de capacitao, articulao de polticas pblicas, gerao e
disseminao de conhecimentos. Fonte: anprotec.org.br. 3 O Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq), agncia do Ministrio da Cincia,
Tecnologia e Inovao (MCTI), tem como principais atribuies fomentar a pesquisa cientfica e tecnolgica e incentivar
a formao de pesquisadores brasileiros. Criado em 1951, desempenha papel primordial na formulao e conduo das
polticas de cincia, tecnologia e inovao. Sua atuao contribui para o desenvolvimento nacional e o reconhecimento
das instituies de pesquisa e pesquisadores brasileiros pela comunidade cientfica internacional. Fonte: www.cnpq.br 4 BNDES: Banco Nacional do Desenvolvimento Econmico e Social. 5 FINEP: Financiadora de Estudos e Projetos. 6 SEBRAE: Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas.
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35
dos US$ 2 bilhes. O que j podemos apontar desses dados brutos o fator multiplicador
tanto na criao de postos de trabalho como na gerao de riqueza das empresas que
passam pelo processo de incubao: grosso modo, ao passo que a absoro de empregos
duplica (de 16.934 para 29.905), o faturamento quadruplica (de US$ 266 milhes para
US$ 2 bilhes).
Das incubadoras atualmente em operao no Brasil, destacam-se aquelas dedicadas
a apoiar as fases iniciais de pequenas empresas intensivas em tecnologia, auxiliando-as a
amadurecerem seus produtos e processos em contato com os clientes em potencial, antes
da entrada no mercado (processo de graduao). Essas incubadoras, especialmente, esto
instaladas em regies metropolitanas, aproveitando das externalidades positivas duma
universidade, de institutos de pesquisa e de parques industriais que porventura demandem
suas inovaes. Uma oferta de servios de cultura, uma elevada densidade demogrfica
de mestres e doutores, alm de outras entidades que facilitem a converso de inovaes
em modelos de negcios (escritrios de patentes, empresas juniores, escolas tcnicas,
agncias de propaganda e marketing, centros comerciais e empresariais, sindicatos
patronais e escritrios de advocacia) tambm apontada como pontos atrativos para a
instalao de incubadoras. A criao de sinergias entre os poderes pblicos, as empresas
privadas e o ambiente acadmico sempre apontado pela literatura [DRUCKER, 2002;
FLORIDA, 2011] como sendo o grande diferencial das incubadoras. A possibilidade de
compartilhar conhecimentos com outros empresrios e pesquisadores, alm da insero
dos agentes numa rede de valor, produz uma cultura de empreendedorismo, de
inventividade que as torna um locus privilegiado para a investigao dos fenmenos aos
quais nos dedicaremos nesta tese. O grfico abaixo mostra a evoluo das incubadoras de
empresas de 1988 a 2011.
Grfico 1.2: evoluo das incubadoras de empresas no Brasil (1988-2011).
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Incubadoras
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36
Fonte: ANPROTEC / 2012.
Quando distribuio estadual e regional, as incubadoras de empresas com base
tecnolgica encontram-se concentradas na regio sudeste (62), com destaque especial ao
Estado de So Paulo (36). Com maior concentrao em institutos de pesquisa e
universidades tradicionais atuantes em reas de ponta, o Estado rene as condies
adequadas criao duma massa-crtica de conhecimentos e mo-de-obra especializada
cuja disponibilidade que so precondies para o brotamento de empreendimentos
tecnocientficos. Os dados apontam que as empresas com base tecnolgica beneficiam-se
da localizao em grandes cidades, devido diversidade dos recursos intelectuais
disponveis desde os talentos tcnicos at a vida cultural e noturna. E dentre as
instituies universitrias, a USP destaca-se com quatro incubadoras de empresas
tecnolgicas j instaladas (CIETEC, ParqTec, Supera e EsalTec) e outras trs em fase de
implantao [BRITO, 2001; ALBUQUERQUE & alii, 2002; SUZIGAN & alii, 2003;
SUZIGAN, 2004; SUZIGAN & alii, 2006].
1.1.2 Os empreendedores e as empresas juniores.
J com relao s empresas juniores, constata-se que o Brasil o campeo mundial
nessa modalidade de instituio acadmica, com cerca de 359 empresas juniores
espalhadas pelas universidades brasileiras. O movimento das empresas juniores comeou
na Frana em 1967 e chegou ao Brasil em 1988. Constataremos no terceiro captulo que,
nos casos de ambos os pases, fatores estruturais anlogos contriburam para o surgimento
dessas instituies. D-se o nome de jnior empresa criada por iniciativa de estudantes
de graduao que, orientados por seus professores, prestam servios para micro e
pequenos empresrios situados fora do ambiente acadmico, mas na regio em que
geralmente se encontra a universidade. Ao firmar um contrato de prestao de servios
com uma empresa jnior, o empresrio contratante tem como garantia dum bom servio
tanto o respaldo do conhecimento tecnocientfico de procedncia acadmica como o
nome da instituio universitria qual esto vinculados a empresa jnior e os estudantes
que prestaram o servio. Alm do mais, os preos abaixo do mercado estimulam a
contratao de servios das empresas juniores. A dedicao do estudante empresa jnior
facultativa e ocorre nos perodos opostos s aulas, com predominncia duma mdia de
oito horas por semana. O ingresso do estudante numa empresa jnior geralmente acontece
-
37
por meio de concorridos processos seletivos, nos quais habilidades tcnicas, atitudinais e
gerenciais so avaliadas [DAL PIVA & alii, 2006; FERREIRA, FRANCO & FEITOSA,
2006; FONSECA & SANTOS, 2009; BATISTA & alii, 2010; LEMOS, COSTA &
VIANA, 2012; VALADO & MARQUES, 2012; VAZQUEZ & alii, 2012].
Conforme o Censo da Brasil Jnior7 confederao que representa quatorze
federaes estaduais datado de 2004 (o primeiro censo disponvel), havia no Brasil 119
empresas juniores, com 1.417 empresrios-estudantes. Nos ltimos dados disponveis de
2012, o mesmo Censo da Brasil Jnior aponta que o nmero dessas empresas passou para
359, com 4.444 empresrios-estudantes. Com 2.185 projetos realizados para pequenas
empresas fora dos campi, essas empresas juniores tiveram um faturamento estipulado em
R$ 8,5 milhes (dados de 2012). Dentro do Brasil, a federao paulista a mais antiga e
a mais forte: criada em 1990, a FEJESP8 rene atualmente 28 empresas juniores,
vinculadas a 13 universidades (cinco pblicas e oito privadas) que englobam 93 cursos
de graduao com nfase para as engenharias (30,08%) e para as cincias humanas
aplicadas (23,12%). Porm, se somadas s demais cincias exatas e aplicadas,
verificamos um predomnio, embora pequeno (52,08%), das disciplinas com maior
incidncia de inovaes industriais sobre as reas de humanas e sociais.
Assim como no caso das incubadoras de empresas, nas empresas juniores, as
vantagem que so com freqncia mencionadas tanto na literatura como nas entrevistas
(quarto captulo) referem-se: 1) comodidade de se trabalhar no prprio ambiente em que
se estuda; 2) oportunidade de se vivenciar, ainda no curso, uma atmosfera de empresa
privada que os programas de estgio tradicionais no conseguem mimetizar; 3) os
contatos profissionais fecundos com empresas de fora do meio acadmico, servindo de
gancho para futuros contatos e parcerias; 4) a possibilidade dum contato mais prximo
com professores de graduao que podero se tornar os futuros orientadores de ps-
7 A Brasil Jnior a Confederao Brasileira de Empresas Juniores e compartilha com todos os empresrios juniores o
objetivo de tornar o MEJ um movimento reconhecido pelos diversos atores da sociedade por contribuir para o
desenvolvimento do pas por meio da formao de profissionais diferenciados. Ela formada atualmente por 16
federaes, representando 15 estados e o Distrito Federal. A Brasil Jnior o rgo nacional do Movimento Empresa
Jnior, trabalhando para fomentar e dar suporte s empresas juniores de todo o Brasil e represent-las para potencializar
os resultados em rede. Fonte: www.brasiljunior.org.br.
8 A FEJESP Federao das Empresas Juniores do Estado de So Paulo foi fundada em 1990 com o objetivo de integrar, desenvolver e representar as empresas juniores paulistas. Atravs d
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