ii qui a peur de camille claudel ? quem tem medo de camille claudel ? compilação, interpretação...
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II
“Qui a peur de Camille Claudel ?”
Quem tem medo de Camille Claudel ?
Compilação, interpretação e formatação por
Delza
Fundo musical Debussy – La plus que lente - valse
Josef Suk - violin, Josef Hala - piano delzadfer@hotmail.com
27-09-2006
Camille Claudel nasceu em França, na cidade deFère-en-Radenois, aos 8 de dezembro de 1864.
Passou sua infância na cidade de Villeneuve-sur-Fère, na casa onde nasceu seu irmão, o famoso escritor Paul Claudel.
Desejosa de se
tornar escultora, em 1881,
contando 17 anos de
idade, mudou-se para Paris
onde começou a
aperfeiçoar seus
estudos com Alfred Boucher e,
em 1883, conheceu
Rodin. No ano
seguinte, então com
20 anos, começou a
trabalhar no atelier de Rodin.
No atelier
Camille Rodin
Ao tempo em que já escultora e trabalhando com Rodin, ela era de grande beleza, descrita anos mais tarde por seu irmão como de "uma fronte soberba, pendendo dois olhos magníficos, de um raro azul tão raro até mesmo de se encontrar alhures entre os romanos".
Rapidamente a aluna
bem dotada passou a
revesar como
colaboradora de Rodin,
agora em plena
maturação da Porta do
Inferno e dos
Burgueses de Calais.
Depois, como
amantes, os dois
artistas passaram
a trabalhar com
influência mútua em
suas obras.
“Bourgeois de Calais” – Rodin, com
colaboração de Camille Claudel
Monumento que evoca um episódio da Guerra dos Cem Anos, em que 6 cidadãos de Calais voluntariamente se ofereceram como reféns ao rei Eduardo III. Cada um destes homens tem uma identidade física e
características psicológicas próprias, que explicam as suas diferentes atitudes face ao martírio.
Camille, entregue a uma paixão avassaladora, tornou-se não só colaboradora como modelo e inspiração de
algumas das obras de Rodin, entre outras,“La Danaïde”. No ano de 1885, escreveu ele à Camille:
"Ma très bonne à deux genoux devant ton beau corps que j'étreins".
“Minha melhor súplica diante de teu belo corpo que eu enlaço... “
Rodin – “La Danaïde”
Mas a relação entre eles era de extrema submissão e dependência. - a autoridade que Camille lhe atribuía revela-se no destaque que , ao estilo do mestre, imprimiu nas linhas de expressão e também na sugestão do volume de barba em sua concepção escultural do busto de Rodin.
O trecho de carta mais diz ainda :
“.........Se você for bonzinho, e cumprir sua
promessa, vamos
conhecer o paraíso.
....................................
............ Com sua
permissão, ..................
Você seria muito gentil
se me comprasse um pequeno traje
de banho..........
Eu durmo nua para imaginar que você está
aqui... nuazinha...
mas, quando acordo, não é
mais a mesma coisa.
Um beijo,Camille
PS - Sobretudo não me
engane mais “
Camille Claudel – busto de Rodin
A partir de meados da década de 1890, com “Les Causeuses” e “La vague” — onda em ônix e figuras em bronze — Camille se inicia num novo estilo então em voga e já muito bem estabelecido - a Art Nouveau. Utilizando ônix – material raro – ela insere em suas obras a inovação do jogo de curvas.
Também nessa
década , no auge de
sua relação com Rodin,
Camille esculpiu sua obra
mais erótica :
dois dançarinos
nus que sugeriam
terminar a dança
fazendo amor. Mas
para ter permissão de expô-la ao público,
foi obrigada a abandonar
a versão desnuda
que não correspondia aos bons costumes
da época.
À sua vez, nessa época Rodin também já projetava toda a força de seu erotismo em grande parte de suas obras.
E foi em seu Minotauro que revelou a expressão mais forte da lascívia que o próprio mito encerra.
Rodin amou tão somente
sua arte e sua vaidade –
Camille, ele subjugava pelo sexo , exigindo
que continuasse sua amante
enquanto mantinha sua
ligação com Rose Beuret.
Pelos originais, croquis e
fragmentos de cartas de
Camille, constatou-se
que, no fim, a relação se
transformou numa atração
de amor e ódio por ele - uma
espécie do que hoje veio a se conhecer por Síndrome de Estocolmo.
Rodin – “Le Minotaure”
Da parceria de trabalho e de vida resultou que suas obras por um tempo apresentaram similitude, guardados os estilos diferentes -
a austeridade dele se opondo à sensibilidade dela ; ousadia em oposição à finesse e sensualidade ; destaque para o detalhe
anatômico contra o realce do detalhe de expressão..
Rodin - “Galatée “- 1889
Camille - « Jeune fille à la Gerbe « - 1889
Ciúme e competição também se mesclaram naquela relação tão particular, onde 24 anos de diferença de idade não impediram o
fascínio recíproco, e cada um se serviu do outro para atender seus próprios interesses. Foi nesse período que ele realizou “O Beijo”, e
ela iniciou Sakountala, também denominada “O abandono”.
Rodin – “Le Baiser”
Camille Claudel – “L’abandon”
Todavia, basta atentar para a
emocionante escultura para
se perceber que ela
representa o calvário da
infelicidade de Camille: as
asas amassadas,
pisadas sob os pés de Perseus
- o guerreiro triunfante,
orgulhoso de ter abatido
uma criatura supostamente monstruosa -
exibindo a cabeça cortada
da mulher mítica de
cabeleira de serpentes. E serpentes
não são mais que símbolos
fálicos...
“Perseus e Górgona” foi uma das obras de Camille Claudel simbolizando sua história pessoal.Sim, foi durante a turbulência do fim da relação angustiada com Rodin que Camille, deprimida, bebendo pesado e isolada, criou sua Medusa. Diz-se que a escultura mostra Rodin como Perseus segurando a cabeça de Rose, mas que os olhos e certas características são da própria Camille.
Camille Claudel – “Persée et la Gorgone “- 1899
Em 1898 Camille realiza que não conseguirá afastar Rose da vida de Rodin, e eles se separam definitivamente. Com Rodin, foi que ela conheceu a febre interior que devora os corpos, e aprendeu a inserir em suas obras a representação de fortes emoções através de ressaltadas contrações musculares.
Mas foi seu antigo e não consumado
amor pelo compositor
Claude Debussy que inspirou sua
obra-prima “A Valsa”.
Nela, Camille revela que o
desejo evolui
sutilmente ao sabor do
compasso da envolvente melodia, e
sugere que é a suavidade
do toque dos corpos que
alimenta as vertigens da promessa da
entrega...
Camille Claudel – “La Valse “ – 1905 Um original desta obra permaneceu sobre o console da
lareira de Debussy até sua morte
Ao conhecer « L’abandon », admirado, Paulo Claudel comentou: O homem de joelhos... é o desejo... ela cede, cega, surda, pesada...
a este peso que é o amor. Um dos braços pende... o outro cobre seus seios e protege seu coração. Impossível de se ver algo mais
ardente e mais casto”.Mas em sua “L’age mûr”, desta vez é ela quem está de joelhos - “A
Implorante” - confiando em seu pedido de socorro pelo ato de abandono de Rodin, tentando em vão reter o homem que se retira...
Camille Claudel – “L’age mûr”
Sua última escultura de inspiração ainda autobiográfica foi “Niobide blessée”, em que Níobe está morrendo de uma flecha cravada em
seu corpo. Na Mitologia, todos os filhos de Níobe foram mortos pelos filhos de Leto; Zeus, compadecido, transformou-a numa rocha que vertia água
constantemente como se chorasse a perda dos filhos.
Camille perdeu um filho (uma gravidez ?) pouco antes de sua separação de Rodin ...
Camille sofria surtos de depressão com perturbações aparentemente paranóicas, o que , em 1906, propiciou que sua mãe providenciasse sua internação como louca, de sorte a livrá-la, enfim, do escândalo de sua filha ser uma mulher só e artista, o que não se encaixava nas normas sociais vigentes.
Lúcida, Camille escreveu em 1917 : “On me reproche , ô crime épouvantable, d’avoir vécu toute seule.”“Acusam-me – ó crime pavoroso – de ter vencido tudo sozinha”. Camille permaneceu internada por 30 anos no asilo de Montdevergues onde, prostrada, sofrendo frio, solidão, cuidados medíocres, morreu em 19 de outubro de 1943, aos 79 anos de idade.
Durante esse tempo, Paulo Claudel, seu irmão querido, desenvolveu uma carreira brilhante pelos quatro cantos do mundo.
De causar dor e perplexidade é o fato de que a correspondência que Camille lhe endereçava não revela doença mental, mas sim uma infelicidade profunda e incompreendida desde sua infância...
Seu gênio fez parceria com o dela, que a ele se igualou como mito...
Seu egoísmo contribuiu para destruir o equilíbrio dela...
A mesma intensidade de força que os uniu, repeliu-os para o resto de suas vidas...
Mas, aqui, neste patrimônio da História da Humanidade,
Jamais existirá Camille sem Rodin... nem Rodin sem Camille...
Musée National Auguste Rodin - Paris - FR
FIM
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