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ICESP/Promove Instituto Científico de Ensino Superior e Pesquisa

XVI JORNADA DE ADMINISTRAÇÃO

Administração estratégica para uma sociedade sustentável

Comportamento Ambiental da Empresa: da reatividade à proatividade? Algumas evidências brasileiras.

Jorge Madeira Nogueira Professor Titular Departamento de Economia Universidade de Brasília

Preâmbulo

• Estou interessado em discutir com vocês as motivações econômicas do comportamento ambiental de empresas, corporações ou organizações.

• Esse interesse, inclusive, motivou a criação de uma linha de pesquisa sobre comportamento ambiental de empresas, corporações e instituições no Mestrado em Gestão Econômica do Meio Ambiente do ECO/UnB. • Nela, nós (professores e alunos) procuramos entender as razões para algumas empresas, corporações e instituições terem mudado (pelo menos no discurso) seu comportamento ambiental de maneira significativa nos últimos quinze anos (p.e. empresas privadas).

• Procuramos, também, entender as razões para outras estarem mudando seu comportamento ambiental de maneira muito lenta, resistindo bravamente a incorporar a variável ambiental em seu processo de tomada de decisões, em seu planejamento (estratégico) ou em sua agenda política.

• Na palestra de hoje, darei ênfase às motivações econômicas dessa (maior ou menor) mudança de comportamento de empresas. • Limitei a abrangência da análise para ajustá-la a um tempo aceitável (para mim e para vocês) de exposição. • Durante os debates poderemos discutir as motivações de outras instituições.

• Preâmbulo • Comportamento Empresarial e Objetivos Ambientais. • Da reatividade à proatividade. • Comentários Conclusivos.

Comportamento Empresarial e Objetivos Ambientais.

• O discurso do ambiente conservado foi absorvido pelo setor empresarial há pouco mais de quinze anos. • Atualmente nos deparamos com declarações apaixonadas em defesa de um desenvolvimento ambientalmente responsável do tipo:

• “... é preciso multiplicar a percepção da sustentabilidade como um caminho seguro e sem volta. Isso se faz com lideranças bem preparadas e em organizações que possuem a questão ambiental no seu DNA.”

• Essa seria, os anos 1970s, uma declaração exclusiva de um representante de uma ONG ambientalista. • Ou de um ecólogo apaixonado pela causa ambientalista.

• No entanto, ela foi feita por Odilon Ern em artigo publicado na Gazeta Mercantil de 18 de junho de 2007 (p. A3). • Odilon Ern é Diretor da BASF na América do Sul. • Mais especificamente, Diretor de Meio Ambiente.

• Empresas privadas verdes? • Empresas privadas em “pele de cordeiro esverdeada”?. • Algo mudou na essência? • Ou apenas na aparência?

• grandes vilãs parceiras líderes do desenvolvimento sustentável. • Estudos acadêmicos:

• eficácia ambiental • motivações:

•motivações internas, p.e. redução de custo, eliminação

de desperdícios

•motivações externas, p.e. imagem junto ao mercado

consumidor, exigência de clientes

• As empresas, em princípio, somente adotariam as medidas necessárias de redução do impacto ambiental que estivessem previstas na legislação em vigor. • Busca de alternativas custo - eficazes tem feito com que o crescimento do número de empresas que adotam, em maior ou menor extensão, princípios de gestão do meio ambiente em seus negócios além do que é previsto pela legislação em vigor, configurando uma conduta efetivamente pró-ativa ou voluntária.

• Sistema de Gestão Ambiental (SGA) se populariza. • Motivos:

• demanda dos consumidores por produtos verdes; • evitar barreiras de comércio não tarifárias; • vantagem competitiva em determinados mercados; • menos inspeções das instituições de monitoramento ambiental; • melhoria na captação de recursos, inclusive com encargos financeiros menores; • redução de custo de seguros; • melhoria de imagem da empresas, entre outros.

• As motivações externas para a melhoria do desempenho ambiental da empresa têm merecido atenção na literatura especializada. • Estudos realizados por Hamilton (1995), Konar e Choen (1997) e Khanna e Damon (1999) demonstraram que empresas norte-americanas têm suas ações desvalorizadas imediatamente após a divulgação do Toxics Release Inventory (TRI).

• Em decorrência da co-responsabilidade, instituições financeiras podem restringir seus empréstimos a empresas com baixo desempenho ambiental (SEGERSON E LI, 1999). • Equivalência na reparação do dano para os poluidores, considerados esses os responsáveis diretos ou indiretos pela atividade causadora da degradação ambiental.

•Valor de mercado das empresas • Konar e Cohen (1997) identificaram que o desempenho ambiental inadequado tem significativo efeito negativo sobre o valor dos bens intangíveis das empresas que negociam suas ações em bolsa de valores e que compõem o S&P500. • Os efeitos do desempenho ambiental de uma empresa sobre o valor de mercado de suas ações dependem fortemente do disclosure (divulgação) porventura existente do SGA ambiental utilizado.

• Gupta e Goldar (2003) argumentam que a divulgação de informações associadas ao desempenho ambiental de uma empresa pode influenciar consideravelmente o preço das ações, pois influencia as expectativas dos investidores. • Informações parciais ou não acuradas podem causar efeitos consideravelmente mais devastadores do que a total ausência de informação.

• Diversos países utilizam o “disclosure” com instrumento de política ambiental: Canadá, Estados Unidos, Coréia, China, entre outros. • O Brasil, por sua vez, não dispõe de instrumentos de divulgação do nível de desempenho ambiental similar aos citados anteriormente. • Aqui, o disclosure ambiental da empresa está fundamentalmente restrito ao Balanço Social.

• Outra ação, embora indireta, de incentivo à divulgação do Balanço Social com informações sobre desempenho ambiental foi adotada pela BOVESPA ao criar o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE).

• O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial e também atuar como promotor das boas práticas ambientais no meio empresarial brasileiro. • Será que a existência de uma SGA tem refletido no valor das ações dessas empresas, negociadas na BOVESPA?

• O estudo de Castro (2006) utilizou as cotações das ações de empresas que obtiveram certificação de seu SGA com base nos padrões da ISO 14001. • Comparou essas cotações com as de empresas nos mesmos setores produtivos mas sem SGA.

• Detalhes em “Gestão ambiental da empresa: valor de ações negociadas na BOVESPA e responsabilidade ambiental de empresas brasileiras.” de Joaquim Camilo de Castro, Jorge Madeira Nogueira e Pedro Henrique Zuchi da Conceição, a ser apresentado em X Encontro Nacional de Gestão Empresarial e Meio Ambiente (X ENGEMA, novembro de 2008).

Setor µSGA = µSSGA µSGA > µSSGA µSGA < µSSGA

Siderurgia X

Petroquímico X

Papel e Celulose X

Material Rodoviário X

Motores e Compressores X

Máquinas e Equipamentos industriais

Carnes e Derivados X X

Fios e Tecidos X

Eletrodomésticos X

Telefonia Fixa X

Telefonia Móvel X

Energia Elétrica X

Quadro 2 – Resumo dos resultados dos testes estatísticos Fonte: Elaborado pelo autor Legenda: µSGA = µSSGA – variação do valor médio das ações de empresas com e sem SGA iguais µSGA > µSSGA – variação do valor médio das ações de empresas com SGA superior ao das empresas sem SGA µSGA < µSSGA – variação do valor médio das ações de empresas com SGA inferior ao das empresas sem SGA

• Os resultados encontrados, portanto, não ratificam a hipótese inicial que as ações de empresas detentoras de SGA certificados por organismos de credibilidade apresentam valorização maior que empresas sem SGA reconhecido. • Entretanto, os testes estatísticos na visão setor podem ter sido prejudicados pelo pequeno número de empresas.

• Comportamento ambiental pró-ativo de instituições financeiras • A preocupação com as potenciais exigibilidades decorrentes de impactos ambientais. • Diversas modalidades de riscos inerentes ao negócio bancário, como o de crédito, o legal e o reputacional, por exemplo, alavancaram a preocupação sócio-ambiental do setor bancário.

• Decisões da Suprema Corte norte-americana

sentenciaram que muitas corporações bancárias seriam, de fato, proprietárias ou operadoras de projetos com substanciais impactos ambientais, estando, portanto, sujeitas aos custos de regeneração dos danos ambientais previstos no estatuto da mencionada legislação (FED, 1991).

• Do lado brasileiro, a legislação ambiental em vigor

permite, a priori, a responsabilização civil objetiva e solidária das instituições financeiras pelos danos ambientais causados por empreendimentos financiados. Aspecto relevante, enfatizado pela Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 1998).

• Em 6 de julho de 2006, após longo processo de debates entre as instituições signatárias, foi lançada a revisão dos Princípios do Equador. • Os princípios se aplicam a financiamentos de projetos com custos de capital acima de US$ 10 milhões. • Será que os bancos estão, efetivamente, considerando o risco ambiental de seus clientes na concessão de crédito?

• Porto (2006) utiliza o conceito de risco da Resolução 2.682 de 1999 que exige das instituições financeiras o provisionamento de capital nas operações de crédito em função do risco do respectivo tomador, considerando critérios como situação econômico-financeira da empresa, capacidade de geração de resultados, entre outros.

• Detalhes podem ser obtidos em “A redução do risco de crédito como incentivo econômico ao comportamento ambiental pró-ativo: uma análise empírica com firmas certificadas.” de Rodrigo Pereira Porto e Jorge Madeira Nogueira a ser apresentado em X Encontro Nacional de Gestão Empresarial e Meio Ambiente (X ENGEMA, novembro de 2008) e em “Risco de crédito e comportamento ambiental pró-ativo: uma análise de firmas certificadas.” de Rodrigo Pereira Porto, Jorge Madeira Nogueira e Pedro Henrique Zuchi da Conceição a ser apresentado em XXXVI Encontro Nacional de Economia (Encontro da ANPEC, dezembro de 2008).

Classificação Provisão devida (%)

AA 0,0

A Até 0,05%

B Até 3%

C Até 10%

D Até 30%

E Até 50%

F Até 50%70%

GH Até 70100%

H Até 100%

Quadro 1

Níveis de classificação de risco de crédito

Fonte: Banco Central do Brasil

• O estudo mostra classificações de riscos diferentes para empresas com SGA das empresas sem SGA para o mesmo setor de atividades. • “Observa-se que, em sintonia com os estudos desenvolvidos por

Curkovic et. al. (2005), e Hillary (2003), quanto maior a firma, maior a tendência a buscar e conseguir a certificação ISO 14001, tendo em conta que aquelas empresas possuiriam pessoal necessário e investimentos em especialização em gestão ambiental para implementar sistemas da espécie. Poucas vantagens, conforme os referidos trabalhos, podem ser observadas quando da implementação da certificação ISO 14001 para pequenas empresas.”

• O resultado reforça o entendimento do que Gentry et al. (1995) e Segerson e Li (1999) consideram uma motivação para que empresas adotem sistemas de gestão ambiental, uma vez que as mesmas estariam associadas àquelas empresas com melhor desempenho econômico, o que aumentaria, por conseguinte, sua capacidade de obter empréstimos a custos mais baixos.

Da reatividade à proatividade.

• Políticas públicas de meio ambiente têm historicamente se expressado via mecanismos de “comando e controle” (C&C) (Nash e Ehrenfeld, 1997, p.488).

• Políticas ambientais desta natureza têm predominado nos EUA e Europa desde os anos 1970.

• Nestes e nos anos 1980, a política ambiental caracterizava-se por preocupações em aumentar a regulação de atividades poluidoras (Segerson e Li, 1999, p.273).

• A percepção atual desta abordagem e de seus principais mecanismos é de que eles compõem uma “estratégia de primeira geração” na proteção ambiental (Nash e Ehrenfeld, 1997, p.489).

• O Brasil ainda experimenta essa “estratégia de primeira geração” na proteção de sua base natural.

• Não obstante a melhoria na qualidade ambiental proporcionada por estas regulamentações, há (no Brasil e nos demais países) fortes críticas à inflexibilidade e aos excessivos custos administrativos e de transação (Segerson e Li, 1999, p.273). • O reconhecimento destas deficiências estimulou a procura por novos instrumentos nos EUA e Europa (Nash e Ehrenfeld, 1997, p.490).

• Surgem, em primeiro lugar, as regulamentações baseadas em informação, como foi o caso nos EUA da lei sobre Plano de Emergência e Direito ao Conhecimento de 1986, do qual o Toxics Release Inventory (TRI) é componente.

• Os mecanismos de mercado formam uma segunda geração de instrumentos.

• Por exemplo, as permissões negociáveis de poluição, com aceitação crescente nos EUA.

• Assim, a evolução no uso dos instrumentos de política ambiental, sob a abordagem de C&C apresentou dois movimentos principais, que mudaram o modo de fazer política ambiental (Segerson e Li, 1999, p.273-4). • Primeiro, o interesse pelos instrumentos de política ambiental baseados em incentivos de mercado (market-based), objetivando induzir reduções na poluição via sinalização dos preços de mercado.

• E segundo, o uso de mecanismos voluntários de proteção ambiental, objetivando estimular medidas pró-ativas das firmas para controlar a poluição antecipando-se a cobranças do agente regulador, ou seja, desestimular um comportamento reativo das empresas. • Como já destacado, as instituições públicas ambientais brasileiras continuam predominantemente tentando impor os ICC, com algumas incursões nos IE e nos IV.

• A literatura teórica e a empírica disponível sobre o uso das abordagens voluntárias e os fatores que influenciam a participação das empresas sugerem sua possível eficácia, mas não o seu sucesso. • Na verdade, o êxito dos programas parece relacionar-se fortemente com mecanismos de indução à participação das empresas individualmente.

• Entre as opções, existem as induções positivas e as negativas. • As negativas se concentram nas ameaças de imposição de controle regulatório ou tributos ou outras formas de regulação tradicional.

• Já as induções positivas apresentam-se na forma de pressões do consumidor por uma padronização ambiental, benefícios de uma política ambiental pró-ativa, economia de custos com um aumento da flexibilidade ou incentivos financeiros (do mercado ou do governo).

Comentários Conclusivos.

• Instituições privadas parecem ter motivações econômicas mais evidentes para a busca de um novo comportamento ambiental.

• O equacionamento da problemática ambiental passa, necessariamente, por um mais efetivo envolvimento dessas instituições com esse equacionamento. • É fundamental, então, que possamos entender as motivações do comportamento ambiental das empresas. • Esta é uma estimulante linha de pesquisa.

• As análises aqui desenvolvidas evidenciam algumas das questões acadêmicas mais desafiantes em economia do meio ambiente. • Elas podem compor uma desafiante agenda de pesquisa por muitos anos.

Muito obrigado!

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