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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROF. MILTON SANTOS
PROGRAMA MULTIDISCIPLINAR DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CULTURA E SOCIEDADE
KÁTIA MARIA DE SOUZA COSTA
A DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO DE APOIO E
ASSISTÊNCIA TÉCNICA À ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS
DE CULTURA
Salvador
2017
KÁTIA MARIA DE SOUZA COSTA
A DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO DE APOIO E
ASSISTÊNCIA TÉCNICA À ELABORAÇÃO DE PLANOS MUNICIPAIS
DE CULTURA
Dissertação apresentada ao Programa
Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e
Sociedade do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Prof. Milton Santos, como parte dos
requisitos para obtenção do grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Márcio Pinto de Moura
Barros
Salvador
2017
C837a Costa, Kátia Maria de Souza
A Diversidade Cultural no Projeto de Apoio e Assistência
Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura / Kátia
Maria de Souza Costa. – Salvador, 2017.
255f. : il.
Orientador: José Márcio Pinto de Moura Barros.
Dissertação (Mestrado – Programa Multidisciplinar de Pós-
Graduação em Cultura e Sociedade) – Universidade Federal da
Bahia, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor
Milton Santos (IHAC/UFBA), 2017.
1. Cultura. 2. Diversidade Cultural. 3. Formação. 4. Projeto
MinC-UFBA. 5. Planos Municipais de Cultura. I. Barros, José
Márcio Pinto de Moura. II. Título.
A Murilo, por compartilhar uma vida inteira de amor, parceria, cuidados e ter sido um grande
companheiro nas longas e exaustivas noites de estudo, sem jamais perder a doçura e a
paciência com o meu processo de reflexão crítica e analítica.
Aos amados filhos Fidel e Vítor, pelo eterno carinho, afeto
e por terem me escolhido como mãe.
Amo vocês.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Quitéria e Manoel, pela liberdade concedida para que eu pudesse correr o
mundo, percorrer territórios e descortinar o universo complexo, diverso e controverso da
cultura.
Aos meus queridos irmãos Márcio e Karina, sempre comigo.
Ao professor Vicente Federico (in memoriam), pelo seu entusiasmo pela arte, cultura, apreço
imensurável pela vida e dedicação extremada ao Projeto MinC-UFBA em sua primeira
edição. Onde quer que você se encontre neste momento, agradeço-lhe pelos ensinamentos e
por nos fazer acreditar que flores também brotam em terra seca.
Ao professor José Márcio Barros, muito obrigada por ter me aceitado como orientanda e ter
estado sempre disponível para escutar com atenção os meus questionamentos, dúvidas e
incertezas, incentivando-me com palavras recheadas com doses generosas de amizade,
respeito e muito humor. Sou-lhe grata pelas horas incansáveis de orientação, dedicação e por
ter estendido a mão e me ajudado a fazer a grande travessia em busca do conhecimento.
A Neuza Brito, pelo grande esforço de síntese e brilhantismo em construir a metodologia para
elaboração de Planos Municipais de Cultura.
A Ângela Andrade, pela determinação e extraordinária capacidade de articular pessoas e
instituições, agregar ideias e buscar a convergência de interesses, expectativas e resultados em
torno do desenvolvimento de políticas públicas no campo da cultura.
Aos coordenadores do Projeto MinC-UFBA Professores Ernani Coelho e Horácio Nelson
Hastenreiter Filho, pela distintiva competência para escutar, dialogar, mediar, valorizar
pessoas e ideias e decidir, de forma compartilhada, propostas e soluções.
Aos queridos amigos e amigas do Projeto, Luana Vilutis, Marcelo Cruvinel, Lisandra
Alcântara, Gleice Menezes, Justina Tellechea, Edivânia Landim, Daniele Canedo, Sérgio de
Azevedo e Plínio Rattes, bem como todos os analistas, consultores, tutores e conteudistas,
pela agradável convivência, aprendizado e construção coletiva de laços de solidariedade,
cooperação, amizade e respeito mútuo.
Às amigas Rafaela Magalhães e Fernanda Oliveira, a primeira pelo apoio na formulação do
projeto de mestrado e a segunda pelo trabalho de revisão da dissertação. A ambas, pelo apoio
e estímulo a esse desafio.
Ao meu querido amigo Juan Brizuela, com quem tenho compartilhado alguns anos de
trabalho, experiências e existência. Agradeço-lhe pela generosidade, parceria sincera,
confiança, simplicidade e abertura para compartilhar ideias, pensamentos e demonstrar
sempre o interesse em aprender com o outro.
Aos queridos amigos Virgínia Da Rin, Kátia Najara, Luiz Marfuz, Elisa Mendes, Nehle
Frank, Cláudia Boettcher, Lêda Ornelas e Augusto Omolu (in memoriam), presenças
constantes em minha vida, pelo que são e representam para mim, agradeço-lhes por terem
contribuído para o meu crescimento pessoal e profissional.
Aos queridos amigos do Espaço Xisto Bahia, onde tive a oportunidade de aprender sobre a
gestão da cultura e descobrir o quanto este é um universo instigante, desafiador e rodeado de
complexidades.
Aos professores Daniele Canedo e Beto Severino pelas pertinentes considerações feitas
durante a banca de qualificação e por terem aceitado o convite para participarem da banca de
defesa desta dissertação.
Às queridas amigas Adriene Oliveira e Vada Menezes, pelos longos anos de amizade, carinho
e cuidado com a nossa família, o que possibilitou ganho adicional de tempo para me dedicar
com afinco às atividades profissionais e de pesquisadora.
Aos amigos do Observatório da Diversidade Cultural pelo trabalho integrado, que tem me
propiciado um movimento em espiral de aprendizagem e crescimento.
Ao Pós-Cultura e seus professores, pelo empenho e dedicação no desafio de contribuir para
um pensamento cada vez mais multi, inter e transdisciplinar dentro da universidade.
A todas as pessoas que acreditam que a universidade pública deve ser um lugar para a
sociedade e todos os gêneros, independente da cor, raça, etnia, religião, espiritualidade e faixa
etária. Que a universidade pública seja livre, plural e diversa!
Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade
Raul Seixas, Prelúdio
COSTA, Kátia Maria de Souza. A diversidade cultural no Projeto de Apoio e Assistência
Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura. 255f.:il. 2017. Dissertação (Mestrado)
- Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos, Universidade Federal da
Bahia, Salvador, 2017.
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa analisa como o tema da diversidade cultural foi tratado no
âmbito do Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos Municipais de
Cultura (Projeto MinC-UFBA), realizado entre 2011 e 2016 através da iniciativa do
Ministério da Cultura, com coordenação técnica e pedagógica da Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia. Pautamo-nos na análise da metodologia aplicada no Projeto,
no seu processo de desenvolvimento e nos conteúdos compartilhados com os participantes.
Inicialmente, discorremos sobre conceitos centrais para a nossa reflexão, tais como cultura e
diversidade cultural. Em seguida, realizamos uma descrição detalhada do Projeto, delineando
as suas etapas, os conteúdos, a metodologia aplicada em cada uma das edições e os seus
aspectos processuais. Por fim, analisamos se e como o Projeto MinC-UFBA dialogou com a
diversidade cultural. Sustentamos que esse diálogo não ocorreu de forma explícita, havendo a
necessidade de mediação técnico-pedagógica para que a diversidade fosse aplicada no
Projeto. É importante ressaltar que essa iniciativa inaugurou uma ação singular na área de
formação em políticas públicas de cultura, ao prover assessoramento técnico para os
municípios brasileiros desenvolverem os seus planejamentos na área cultural.
Palavras-chave: Cultura. Diversidade Cultural. Formação. Projeto MinC-UFBA. Planos
Municipais de Cultura.
COSTA, Kátia Maria de Souza. La diversidad cultural en el Proyecto de Apoyo y Asistencia
Técnica a la Elaboración de Planes Municipales de Cultura. 255 f.:il. 2017. Disertación
(Maestría) - Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Prof. Milton Santos, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2017.
RESUMEN
Este trabajo de investigación analiza como el tema de la diversidad cultural fue tratado en el
ámbito del Proyecto de Apoyo y Asistencia Técnica a la Elaboración de Planes Municipales
de Cultura (Proyecto MinC-UFBA), realizado entre 2011 y 2016 a través de la iniciativa del
Ministerio de Cultura de Brasil, con la coordinación técnica y pedagógica de la Escuela de
Administración de la Universidad Federal de Bahia. Nos basamos en el análisis de la
metodología aplicada en el Proyecto, en su proceso de desarrollo y en los contenidos
compartidos con los participantes. Inicialmente, indagamos en conceptos centrales para
nuestra reflexión, como cultura y diversidad cultural. En seguida, realizamos una descripción
detallada del Proyecto, delineando sus etapas, los contenidos, la metodología aplicada en cada
una de las ediciones y sus aspectos procesuales. Por fin, analizamos si y cómo el Proyecto
MinC-UFBA dialogó con la diversidad cultural. Sostenemos que ese diálogo no ocurrió de
forma explícita, siendo necesaria una mediación técnico-pedagógica para que la diversidad
fuera aplicada en el Proyecto. Es importante resaltar que esa iniciativa inauguró una acción
singular en el área de formación en políticas públicas de cultura, al promover asesoramiento
técnico para que los municipios brasileños desarrollen sus planificaciones en el área cultural.
Palabras-clave: Cultura. Diversidad Cultural. Formación. Proyecto MinC-UFBA. Planes
Municipales de Cultura.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 A Tridimensionalidade da Cultura 36
Figura 2 Elementos Constitutivos do SNC 41
Figura 3 Distribuição dos municípios por região - 1ª Edição 52
Figura 4 Estrutura da Governança do Projeto 54
Figura 5 Diagrama de relacionamento entre objetivos, metas e ações 60
Figura 6 Etapas de elaboração dos Planos Municipais de Cultura 65
Figura 7 Painel de Controle do Template 82
Figura 8 Comentários do Orientador 83
Figura 9 Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Municipais de
Cultura
86
Figura 10 Percurso Gratificado da Aprendizagem 105
Figura 11 Módulo Análise da Situação Atual 106
Figura 12 Módulo Projeção do Futuro Desejado 107
Figura 13 Módulo Operacionalização do Futuro Desejado 109
Figura 14 Módulo Projeção de Prazos e Recursos 111
Figura 15 Monitoramento do Plano Municipal de Cultura 112
Figura 16 Municípios Participantes da Formação 116
Figura 17 Resultados dos Municípios - 2ª Edição 119
Figura 18 Distribuição dos municípios por região - 2ª Edição 126
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Institucionalidade da Cultura nos Municípios 47
Quadro 2 Municípios atendidos na 1ª Edição 51
Quadro 3 Prazo de elaboração dos PMCs - 1ª Edição 53
Quadro 4 Fases de Execução do Projeto - 1ª Edição 54
Quadro 5 Estrutura de Gestão para o Plano Municipal de Cultura 61
Quadro 6 Fases de Execução - 2ª Edição 74
Quadro 7 Encontros Regionais 76
Quadro 8 Modelo de Gestão da 2ª Edição 77
Quadro 9 Agrupamento dos Municípios 80
Quadro 10 Composição do Grupo Dorival Caymmi 81
Quadro 11 Módulos da Formação 85
Quadro 12 Diferenças entre sociedades ancoradas no lembrar e no esquecer 88
Quadro 13 Resultados da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA 114
Quadro 14 Quantidade de Municípios Participantes - Fase de Monitoramento 118
Quadro 15 Metodologia de PMCs: pontos positivos e a melhorar 121
Quadro 16 Premissas e Princípios 142
Quadro 17 Exemplos adotados no Guia 2 150
Quadro 18 Relação entre Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas 153
Quadro 19 Relação entre Metas e Ações 156
Quadro 20 Relação entre Metas, Indicadores, Resultados e Impactos 159
Quadro 21 Aspectos que contribuem para a diversidade cultural 161
Quadro 22 Estratégias 161
Quadro 23 Exemplo de descrição sobre aspecto da caracterização do município 180
Quadro 24 Exemplos de objetivos relacionados à diversidade cultural 192
Quadro 25 Relação entre Resultados e Impactos 196
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 1ª Edição 52
Gráfico 2 Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento - Municípios Respondentes 119
Gráfico 3 Desenvolvimento dos PMCs - Situação dos Municípios - Fev/2016 120
Gráfico 4 Grupos do Projeto e da Amostra 125
Gráfico 5 Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 2ª Edição 127
Gráfico 6 Distribuição dos participantes por área de representação 128
Gráfico 7 Participação na plataforma Moodle e nos fóruns 129
Gráfico 8 Participação dos municípios - acesso na plataforma e participação em
fórum
129
Gráfico 9 Representantes e Tutores - participação e intervenção em Fóruns 130
Gráfico 10 Participação e intervenção nos fóruns, por módulo 130
Gráfico 11 Participação e intervenção nos fóruns, por módulo da amostra 131
Gráfico 12 Participação de municípios no template 133
Gráfico 13 Distribuição regional e participação de municípios 133
Gráfico 14 Completude no preenchimento do template 134
Gráfico 15 Evolução de minutas de Planos no template 134
Gráfico 16 Preenchimento do template: caracterização 135
Gráfico 17 Preenchimento do template: panorama 136
Gráfico 18 Preenchimento do template: diagnóstico 136
Gráfico 19 Preenchimento do template: projeção 137
Gráfico 20 Preenchimento do template: operacionalização 137
Gráfico 21 Preenchimento do template: monitoramento 138
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ARPP Análise Racional de Políticas Públicas
CGLU Cidades e Governos Locais Unidos
EaD Educação a Distância
EAUFBA Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia
FAPEX Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH-M Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
IHAC Instituto de Humanidades, Arte e Ciências Professor Milton Santos
MinC Ministério da Cultura
Mondiacult Conferência Mundial sobre Políticas Culturais
ODC Observatório da Diversidade Cultural
OEA Organização dos Estados Americanos
OMC Organização Mundial do Comércio
ONU Organização das Nações Unidas
PMC Plano Municipal de Cultura
PNC Plano Nacional de Cultura
Procultura Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura
Projeto
MinC/UFBA
Projeto de Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos
Municipais de Cultura
SAI/MinC Secretaria de Articulação Institucional do MinC
Secult/BA Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Sesc/SP Serviço Social do Comércio, Regional São Paulo
SNC Sistema Nacional de Cultura
SNIIC Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais
SPC/MinC Secretaria de Políticas Culturais do MinC
STI/UFBA Superintendência de Tecnologia da Informação da UFBA
UEMG Universidade Estadual de Minas Gerais
UFBA Universidade Federal da Bahia
UFRB Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1 - DIVERSIDADE CULTURAL E POLÍTICAS CULTURAIS:
HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO ..................................................................................... 20
1.1. CULTURA E POLÍTICAS CULTURAIS ................................................................................. 20
1.2 PARA UM CONCEITO DE DIVERSIDADE CULTURAL ............................................................ 26
1.3 A CONVENÇÃO DA UNESCO E O PROTAGONISMO INTERNACIONAL DO BRASIL ................ 32
1.4 A INSTITUCIONALIDADE DA CULTURA NO BRASIL: MUDANÇA DE PARADIGMA, PROCESSOS
EM ANDAMENTO .................................................................................................................... 34
1.5. A GESTÃO DA CULTURA NOS MUNICÍPIOS ........................................................................ 43
CAPÍTULO 2 - CONTEÚDOS, METODOLOGIAS E PROCESSOS ............................. 48
2.1 PROJETO MINC-UFBA: 1ª EDIÇÃO .................................................................................. 50
2.1.1 Estrutura do Projeto ................................................................................................. 54
2.1.2 Desenvolvimento da Metodologia de Planos .......................................................... 56
2.1.3 Núcleos Locais: primeiras orientações para a construção dos PMCs ..................... 58
2.1.4 Conteúdos de apoio e assistência técnica em PMCs ............................................... 59
2.1.5 Premissas e Princípios: balizadores de condutas ..................................................... 61
2.1.6 Descrição dos conteúdos: etapas de elaboração dos Planos .................................... 62
2.1.6.1 Etapa I: como estamos? ........................................................................................ 62
2.1.6.2 Etapa II: onde queremos chegar?.......................................................................... 63
2.1.6.3 Etapa III: como fazer e como chegaremos lá? ...................................................... 63
2.1.6.4 Etapa IV: como gerir avanços? ............................................................................. 64
2.2 METODOLOGIA APLICADA: ROTEIRO METODOLÓGICO E OUTROS PROCEDIMENTOS .......... 65
2.3 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PROJETO ............................................................... 67
2.4 PROJETO MINC-UFBA: 2ª EDIÇÃO .................................................................................. 70
2.4.1 Contextualização ..................................................................................................... 72
2.4.2 Estrutura da 2ª Edição.............................................................................................. 73
2.4.3 Modelo de Gestão .................................................................................................... 76
2.4.4 Equipe pedagógica ................................................................................................... 77
2.5 PLATAFORMA MOODLE: AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM E TEMPLATE – PROCESSO
FORMATIVO ........................................................................................................................... 79
2.6 DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE PREENCHIMENTO DE MINUTAS DE PMC ............................... 81
2.7 CONTEÚDOS DA FORMAÇÃO EAD EM PLANOS MUNICIPAIS DE CULTURA ....................... 84
2.7.1 Módulo Cultura e Produção Simbólica ................................................................... 86
2.7.2 Módulo Políticas Públicas de Cultura ..................................................................... 92
2.7.3 Módulo Planejamento Público................................................................................. 95
2.7.4 Módulo Sistema Nacional de Cultura ...................................................................... 96
2.7.5 Módulo Cultura e Desenvolvimento...................................................................... 100
2.7.6 Módulo I: Visão Geral ........................................................................................... 104
2.7.7 Módulo II: Análise da Situação Atual ................................................................... 105
2.7.8 Módulo III: Projeção do futuro desejado ............................................................... 107
2.7.9 Módulo IV: Operacionalização do futuro desejado ............................................... 109
2.7.10 Módulo V: Projeção de prazos e recursos ........................................................... 111
2.7.11 Módulo VI: Monitoramento do Plano ................................................................. 112
2.8 RESULTADOS OBTIDOS PELO PROJETO ........................................................................... 113
2.8.1 Primeira edição ...................................................................................................... 113
2.8.2 Segunda edição ...................................................................................................... 116
2.8.3 Resultados quantitativos do processo: participação e interação na plataforma
moodle ............................................................................................................................ 123
2.8.4 Participação e preenchimento do template ............................................................ 132
CAPÍTULO 3 - A ANÁLISE DA DIVERSIDADE CULTURAL NO PROJETO
MINC/UFBA ......................................................................................................................... 139
3.1 PREMISSAS E PRINCÍPIOS ............................................................................................... 140
3.2 ANÁLISE DA 1 ª EDIÇÃO ................................................................................................. 145
3.2.1 Conteúdo do Guia 1 ............................................................................................... 146
3.2.2 Conteúdo do Guia 2 ............................................................................................... 149
3.2.3 Conteúdo do Guia 3 ............................................................................................... 164
3.2.4 Metodologia ........................................................................................................... 164
3.2.5 Processo ................................................................................................................. 169
3.3 ANÁLISE DA 2ª EDIÇÃO .................................................................................................. 173
3.3.1 Conteúdo dos módulos básicos ............................................................................. 174
3.3.2 Conteúdo do módulo Análise da Situação Atual ................................................... 178
3.3.3 Conteúdo do módulo Projeção do Futuro Desejado .............................................. 189
3.3.4 Conteúdo do módulo Operacionalização do Futuro Desejado .............................. 192
3.3.5 Conteúdo dos módulos Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano
Municipal ........................................................................................................................ 196
3.3.6 Metodologia ........................................................................................................... 197
3.3.7 Processo formativo: fóruns de discussão teórica ................................................... 201
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 220
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 227
ANEXO 1 - CONTEÚDO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO – 2ª EDIÇÃO ............... 237
ANEXO 2 - EXPRESSÕES E CONCEITOS ADOTADOS NO GUIA 2 ........................ 241
APÊNDICE 1 - EQUIPE DO NÚCLEO CENTRAL DA UFBA: 1ª EDIÇÃO ............... 242
APÊNDICE 2 - EQUIPES LOCAIS – COORDENADORES E ANALISTAS
TÉCNICOS ........................................................................................................................... 243
APÊNDICE 3 - EQUIPE DA 2ª EDIÇÃO DO PROJETO ............................................... 246
APÊNDICE 4 - TEMAS RELACIONADOS NO QUESTIONÁRIO DE
INFRAESTRUTURA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA ............................. 247
15
INTRODUÇÃO
A formulação e implementação de políticas públicas de cultura, tendo como elemento
fundamental a adoção de princípios que promovam o desenvolvimento cultural através do
reconhecimento e fortalecimento da diversidade, da garantia de direitos culturais e da plena
cidadania, é o principal fator que motivou a presente pesquisa.
Este trabalho está fundamentado na análise do tratamento conceitual e metodológico
dispensado ao tema da diversidade cultural no âmbito do Projeto de Apoio e Assistência
Técnica à Elaboração de Planos Municipais de Cultura (Projeto MinC-UFBA), uma iniciativa
fruto do acordo de cooperação entre o Ministério da Cultura (MinC) e a Universidade Federal
da Bahia (UFBA), realizada entre os anos de 2011 e 2016, sob a condução da Escola de
Administração (EAUFBA).
Esse assunto despertou o nosso interesse devido à atuação pessoal desta pesquisadora
nas mais diversas esferas da cultura, inicialmente como dançarina, tendo experimentado desde
o ballet clássico até a dança afro e danças populares contemporâneas, e posteriormente
quando realizamos um dos primeiros eventos de dança da cidade de Salvador, para se discutir
incentivos para a área. Esse evento foi fruto da parceria com instituições como o SEBRAE,
Caixa Econômica Federal, Escola de Dança da UFBA, dentre outras, e se configurou como a
nossa primeira vivência no campo das políticas culturais.
Após passarmos por várias outras experiências nesse âmbito, inclusive na
administração pública, fomos convidados a trabalhar, em 2012, no Projeto MinC-UFBA,
atuando em diferentes setores, como assistência técnica, orientação, supervisão e conteudista.
Percebemos, então, o aspecto transformador desse Projeto, ao contribuir para a formulação
participativa de políticas culturais locais. Eis a motivação para nos debruçarmos sobre essa
iniciativa no mestrado, dessa vez como pesquisadora, afinal, “só investigamos de verdade o
que nos afeta” (Gramsci apud Martín-Barbero, 2004, p. 25). O acesso facilitado às equipes
gestora, técnica e pedagógica, as representantes municipais e aos documentos produzidos nos
possibilitou a produção das informações, análises e reflexões aqui expostas.
Dito isto, esta dissertação gravita em torno do seguinte questionamento: como a
diversidade cultural se apresentou na proposição do Projeto, nos conteúdos aportados e na
metodologia aplicada? Para respondermos a esta indagação, estruturamos o trabalho da
seguinte forma: no primeiro capítulo, realizamos uma revisão bibliográfica sobre os conceitos
que subsidiaram o avanço das reflexões necessárias a este estudo, como o fenômeno da
16
globalização e mundialização, participação social, diversidade cultural, políticas públicas,
políticas culturais e cultura. Nessa abordagem, procuramos contextualizar tais temas a partir
do processo histórico e da perspectiva contemporânea, especialmente no âmbito da realidade
brasileira.
Ainda nesse capítulo, tratamos mais especificamente sobre o Sistema Nacional de
Cultura (SNC) e os desafios para a implementação de políticas para a diversidade,
compreendendo a estruturação do Sistema, a legislação correlata e a relação federativa, o que
nos levou a estabelecer o vínculo com o nosso objeto de pesquisa. Buscamos identificar
eventuais fragilidades e apresentar possibilidades para a consolidação de um processo efetivo
de institucionalidade, no qual a diversidade cultural se faz presente como elemento necessário
para o entendimento de uma política cultural contemporânea.
No segundo capítulo, a partir de documentos administrativos e da análise do material
didático utilizado pelos participantes do Projeto, descrevemos minuciosamente o Projeto
MinC-UFBA, que em sua primeira edição realizou o assessoramento técnico de 20
municípios brasileiros, enquanto na segunda, através do uso de ferramentas de aprendizagem
à distância, desenvolveu um processo formativo para representantes de 439 cidades. Em
ambas as edições, o Projeto abarcou todas as regiões do país. Para cada uma das etapas,
apresentamos: a) o projeto executivo, os objetivos e as fases que o compuseram; b) os
conteúdos trabalhados; c) a metodologia formulada pela equipe da EAUFBA e fases de
execução; d) o processo de realização; e, e) os resultados alcançados, considerando as
limitações decorrentes da (in)disponibilidade de informações.
No terceiro capítulo, apresentamos uma análise detalhada dos conteúdos, da
metodologia e do processo de execução, avaliando como o tema da diversidade cultural foi
tratado. Nesse sentido, analisamos os três Guias de Orientação para a Elaboração de Planos
Municipais de Cultura, utilizados na primeira edição e que apresentaram a metodologia
direcionada ao assessoramento técnico necessário à formulação dos Planos. Analisamos,
ainda, doze módulos teóricos da segunda edição, sendo seis módulos (que apresentaram
conceitos e expressões associadas ao campo da cultura e as principais discussões sobre
políticas culturais na contemporaneidade), e seis módulos que trataram especificamente sobre
a metodologia de elaboração de PMC. Não faz parte do escopo desta pesquisa a análise de
conteúdo das minutas e dos Planos elaborados pelos municípios.
Por fim, apresentamos as nossas conclusões sobre a pesquisa desenvolvida, visando
entender como a diversidade cultural foi tratada no âmbito desse Projeto e estimular um olhar
mais atento para as políticas públicas municipais de cultura.
17
É importante mencionarmos que, para a análise dos Guias, adotamos o seguinte
procedimento metodológico:
a) leitura apurada desses documentos, com o objetivo de verificar o nível de presença
do tema diversidade cultural, bem como de que modo o conteúdo relacionou a metodologia de
Planos com esse assunto. Para isso, grifamos as partes do conteúdo que se relacionavam com
o nosso objeto do estudo;
b) em seguida, elaboramos uma matriz analítica para o registro de textos que
possuíam, a nosso ver, alguma relação com o tema diversidade cultural. Esse instrumento teve
o seguinte formato: um cabeçalho identificando o Projeto, a etapa considerada para a análise e
o período de execução; logo abaixo, dispomos em colunas os tópicos e perguntas que
investigamos, a saber: itens analisados; etapas de itens analisados; texto original; o texto
tem relação com o tema da diversidade cultural? Sim ou Não. Se tem, é de forma direta
ou indireta?; considerações (incluídas ao final do preenchimento de cada linha); e
considerações gerais, que formaram um panorama sobre o conteúdo avaliado.
c) por fim, interpretamos esses conteúdos, considerando que cada edição do Projeto
apresentou assuntos específicos. Para isso, delimitamos em que momento do processo de
elaboração se encontrava o Plano de Cultura. O fato de termos integrado a equipe nos
possibilitou trazermos algumas impressões sobre o processo.
Já a análise dos documentos da 2ª edição do Projeto MinC-UFBA foi realizada a partir
das seguintes etapas:
a) estudo dos módulos básicos; identificação de trechos que, a partir da nossa
observação, poderiam ter relação com a diversidade cultural, e elaboração de
resumos/fichamentos dos mesmos.
b) leitura dos módulos de Planos, destacando trechos que também poderiam conter
relação com a diversidade cultural, e outras passagens que, no nosso entendimento,
mereceram destaque. Para fins de registro, adotamos uma planilha idêntica à utilizada para a
análise dos Guias de Orientação.
c) levantamento de informações sobre o acesso à plataforma moodle e a participação
dos integrantes dos fóruns. Essa investigação consistiu em diferentes fases:
- primeiramente, buscamos a área de atuação dos representantes municipais a partir
dos dados da planilha Participantes Inscritos.xlsx (EAUFBA, 2014c), elaborada pela equipe
do Projeto. Os representantes municipais foram considerados individualmente. Assim, no
caso da substituição de um por outro, foram considerados como dois registros de
18
participantes. Já no caso de um tutor ter atuado em mais de um grupo ou módulo, foi
considerado como um registro de tutor.
- para apuração dessas informações, descartamos o grupo Dorival Caymmi, visto que
entre os 21 grupos constituídos para o Projeto, ele não foi composto por representantes
municipais, mas por membros de entidades diversas, tais como MinC, Territórios de
Identidade, associações etc.;
- entre os 20 grupos restantes, selecionamos dez para a nossa amostra: Adriana
Calcanhotto, Almir Sater, Caetano Veloso, Cazuza, Chico Science, Gonzaguinha, Luiz
Gonzaga, Marisa Monte, Rita Lee e Tom Jobim;
- entre os 11 módulos utilizados na formação, consideramos três para a nossa análise,
sendo dois módulos básicos (Cultura e Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento),
que abordaram claramente a diversidade cultural, e um módulo sobre o processo de
elaboração de Planos (Análise da Situação Atual), que apresentou orientações sobre o
diagnóstico cultural.
Realizamos esse levantamento a partir da estruturação de planilhas eletrônicas e do
uso de tabelas dinâmicas, o que possibilitou o cruzamento de dados relacionados ao escopo
desta pesquisa.
d) analisamos também os 30 fóruns de discussão teórica, disponíveis na plataforma
moodle, e, depois, escolhemos, entre os 10 grupos selecionados para a amostra, os fóruns
correspondentes aos três módulos selecionados. Para essa avaliação, a planilha analítica não
seguiu o mesmo padrão utilizado para a análise dos conteúdos dispostos nos Guias de
Orientação e nos módulos de Planos, devido às características que compuseram esses fóruns
enquanto espaço de discussão e trocas de informações e experiências entre os participantes e
tutores. Vale ressaltar que esses fóruns foram norteados pelos conteúdos dos módulos
correspondentes, contudo, como o debate era aberto, foi comum a abordagem de temas e
assuntos, por vezes, distantes do conteúdo aplicado.
À medida que íamos preenchendo a planilha, realizamos anotações sobre as discussões
de cada um dos fóruns analisados, resultando em resumos que variaram de uma a sete laudas,
dependendo do nível de contribuições postadas nos fóruns pelos participantes e tutores. No
decorrer desse trabalho, destacamos determinadas falas que julgamos importantes.
Mantivemos aqui o sigilo das pessoas, de modo a evitar a exposição de qualquer um dos
integrantes. Porém, é possível identificarmos qualquer uma dessas citações, já que, para cada
fórum, elaboramos uma planilha específica e detalhada. As sínteses serviram como base para
a etapa analítica desta dissertação.
19
Ao passo em que íamos finalizando as tabelas, construímos gráficos. Esse
detalhamento de informações forneceu indicativos sobre o nível de participação dos
municípios e dos participantes e o percentual de intervenções, o que contribuiu para a análise
qualitativa no que se refere à relação do Projeto com a diversidade cultural.
e) apuramos, ainda, as informações registradas no Sistema PMC Modelo de
Referência, conhecido como template. O levantamento quantitativo referente ao
preenchimento dessa ferramenta teve como base os documentos de texto gerados a partir da
ferramenta usada no projeto, com posição de 05 de agosto de 2015. Tais documentos, sendo
um por município, continham as informações lançadas no template pelos participantes para
cada etapa e cada item da metodologia de elaboração do Plano Municipal de Cultura (PMC).
Coletados os documentos, consultamos cada um deles para identificar os itens preenchidos,
sem análise do conteúdo ali inserido, para fins de tabulação, classificando-os da seguinte
forma:
- completo: quando todos os itens da etapa foram preenchidos;
- parcial: quando pelo menos um dos itens foi preenchido;
- não: quando nenhum dos itens foi preenchido.
Além de permitir identificar os municípios que acessaram o template, esse trabalho
teve como objetivo verificar como se deu o preenchimento das informações, considerando as
etapas de elaboração da metodologia, possibilitando observar a dinâmica de preenchimento
adotada pelos participantes e o número final de documentos completos.
Nesse sentido, esperamos que o resultado apresentado nesse trabalho possa contribuir
para o aperfeiçoamento de metodologias e de iniciativas de apoio aos municípios para a
formulação de políticas culturais em âmbito local, com um olhar especial para o tema da
diversidade das expressões culturais.
20
CAPÍTULO 1
DIVERSIDADE CULTURAL E POLÍTICAS CULTURAIS:
HISTÓRICO E CONCEITUAÇÃO
1.1. Cultura e Políticas Culturais
Segundo Canclini (2007), o século XXI registra a intensificação dos fenômenos e
dinâmicas associadas à globalização, caracterizada pela articulação dos mercados em escala
mundial, a partir da associação de inovações tecnológicas e comunicacionais, e que Santos
(2009, p. 23) define como “o ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista”.
Para Ortiz (2000), é relevante fazer uma distinção entre os termos “global” e
“mundial”, onde o primeiro se relaciona com processos econômicos e tecnológicos e o
segundo se refere ao domínio da cultura. Segundo o autor, mundialização é "[...] um
fenômeno social total que permeia o conjunto das manifestações culturais. Para existir, ele
deve se localizar, enraizar-se nas práticas cotidianas dos homens, sem o que seria uma
expressão abstrata das relações sociais" (ORTIZ, 2000, p. 31).
São dois fenômenos inter-relacionados, que revelam a transnacionalização e a
vulnerabilidade da cultura frente aos processos globalizantes, que forçam a existência de uma
padronização dos produtos. No entanto, Berger (2004, p.12), entende que a “globalização
ganhou um peso emocional no discurso político”, afirmando que, para alguns, ela dá origem a
uma sociedade civil internacional e, para outros, se configura como um processo de
hegemonia econômica e política americana, atingindo significativamente a cultura.
Seja qual for a abordagem, observamos que a cultura assume um papel estratégico na
contemporaneidade, rompendo com suas fronteiras e se relacionado com outros campos da
vida social, com destaque para o econômico e político. Como ressalta Miguez (2011), a
relação da cultura com a sociedade se amplia e seu papel tem sido redefinido frente a um
conjunto complexo de possibilidades que integram o mundo na atualidade, cuja forma é dada
por elementos e fenômenos que são "[...] novas sócio-tecnologias da comunicação e da
informação, interculturalidades, multiculturalidades, transculturalidades, hibridismo,
espetacularização, turistização, localismos, globalismos, glocalismos" (MIGUEZ, 2011, p. 2).
21
Para Beltrame (2005), a globalização tem o poder de unir coisas e pessoas,
independente das distâncias que lhes conferem, através de elementos materiais e simbólicos,
possibilidade essa que exige de sociedades e governos a adoção de posicionamentos, por meio
das políticas, com o objetivo de enfrentar os efeitos e consequências causados por esse
fenômeno. Para ela, algo que tenha um nível de impacto sobre as pessoas e suas condições
sociais e culturais merece uma atenção especial. O mundo contemporâneo, constituído por
dinâmicas culturais distintas, conflituosas e contraditórias, com características diversas e
adversas, faz surgir uma nova ordem mundial, que exige romper paradigmas e faz emergir
fenômenos baseados na valorização das culturas locais, em outra perspectiva de
desenvolvimento ou mesmo de “uma outra globalização”, como sugere Santos (2009).
Dupin (2009) reitera que o fenômeno da globalização não se constitui necessariamente
como um problema em si, pois a facilitação da circulação de bens e serviços culturais
favorece o encontro entre as culturas. Segundo a autora, o que afeta negativamente esse
processo é o fato de essa interação estar se dando de forma desigual, visto que países
desenvolvidos impõem de forma significativa os seus produtos e serviços aos países em
desenvolvimento, a exemplo da oferta de filmes no mundo, com grande predomínio da
indústria cinematográfica americana.
Na mesma linha, Sader (2010) faz um balanço pessimista dos processos que ocorreram
no século XX, afirmando que ele terminou “com a consolidação da hegemonia do
capitalismo, em sua forma mais selvagem – ideologia norte-americana, neoliberalismo
econômico, dominação do capital especulativo, do consumismo, do egoísmo, da predação
ambiental” (SADER, 2010, p. 14). Ao mesmo tempo, destaca que, apesar dessa visão
negativa, o século XX promoveu importantes acontecimentos democratizantes, como a
eliminação formal da escravidão, o processo de alfabetização e o término formal do
colonialismo.
Nessa direção, os fenômenos da globalização e mundialização são caracterizados pelas
relações de poder, que se dão de fora para dentro, de dentro para fora e no interior das
sociedades, estimulando, assim, novas configurações políticas que incidem sobre os aspectos
sociais e culturais de cada lugar. A partir dessa perspectiva, surgiram no âmbito internacional
movimentos liderados por organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização dos Estados Americanos
(OEA) e a rede Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), com o objetivo de, dentre outras
coisas, promover acordos globais sobre determinados temas.
22
Inúmeras discussões internacionais nos levam a compreender a cultura como elemento
relevante nos campos político e econômico, bem como para a construção de sistemas
democráticos, ao passo que também realçam questões dicotômicas que a cultura pode
apresentar em contextos de conflito e de solidariedade. Um exemplo paradigmático é o
impasse que se apresenta quanto à liberalização do produto cultural como mercadoria em
contraposição a interesses de preservação de mercados internos, o que vem gerar, mais à
frente, debates sobre a diversidade cultural.
Trata-se de um início de século marcado pela emergência de sistemas que buscam
outra compreensão sobre a cultura e o seu papel no mundo contemporâneo e promovem o
entendimento sobre as diferenças, enquanto portadoras de identidades culturais e de inovação,
até então invisibilizadas. Esses novos sistemas culturais assumem um papel importante, com
contribuições relevantes para outra configuração de mundo e, portanto, demandando maior
diálogo e reconhecimento das diferenças para a construção de novas perspectivas de
desenvolvimento econômico e humano.
As discussões internacionais sobre o campo da cultura travam batalhas que giram em
torno do fator econômico e ganham dimensões nacionais/locais, pois conduzem para o
desenvolvimento de uma compreensão sobre os impactos desses fenômenos no cenário
interno, mesmo porque os interesses nem sempre são convergentes e trazem o debate sobre
medidas e políticas de proteção às culturas locais e suas identidades.
Laraia (2009), baseando-se em um esquema formulado por Kessing, busca sintetizar o
conceito moderno de cultura, iniciando pelo entendimento difundido por teóricos
neoevolucionistas, segundo os quais a cultura é um sistema adaptativo, estando ancorada em
pressupostos acumulativos e isentos de descontinuidades, onde o processo de reprodução das
culturas se equivale à seleção natural. Neste sentido, as comunidades humanas, suas
tecnologias e seus modos de organização que se apresentarem mais resistentes ao julgo da
história, dominarão comunidades com características menos resistentes e, assim, executarão a
reprodução da sua própria cultura, promovendo um processo de eliminação.
Em seguida, ele indica três abordagens classificadas como teorias idealistas de cultura.
Uma delas considera a cultura como sistema cognitivo, baseado na linguagem e que
compreende a cultura como um evento observável, ou seja, o sujeito é alheio aos processos
culturais e estes acontecem independentemente do sujeito. Entende-se, aqui, a cultura como
sendo aquisições feitas a partir da observação de meio e do convívio social, atribuindo-se ao
indivíduo o não exercício do compartilhamento da construção cultural.
23
Outra abordagem trazida por Laraia apresenta a cultura como sistemas estruturais –
que o autor indica ser uma perspectiva desenvolvida por Lévi-Strauss – , segundo a qual as
culturas estão sedimentadas em quatro domínios culturais – mito, arte, parentesco e
linguagem – que vão construir uma percepção individual do sujeito a partir das suas
experiências e assimilações nos espaços coletivos. Essa teoria permite uma linha de
interpretação de como se constituem as identidades, que são reveladas quando postas em
contato com sociedades que tenham seus paradigmas diferentes e, por vezes, divergentes.
Essa diferença é o que constitui as distintas sociedades, culturas e, portanto, a diversidade
cultural.
Por fim, o autor relaciona a abordagem que considera a cultura como sistemas
simbólicos, conjunto de mecanismos de controle aptos a moldar comportamentos, reforçando
a ideia de que o homem é geneticamente capaz de receber tais programas, o que define esses
programas como cultura. Por aí, tem-se a cultura como um sistema de símbolos que
compreendem categorias ou regras sobre relações e modos de comportamento.
Essas teorias não são, necessariamente, divergentes, mas mostram pontos que podem
se contrapor ou se alinhar, produzindo o conceito de cultura. Laraia (2009, p. 63), após tratar
das principais teorias modernas da cultura, ressalta que “Uma compreensão exata do conceito
de cultura significa a compreensão da própria natureza humana, tema perene da incansável
reflexão humana”.
Trazendo o debate para o cenário brasileiro contemporâneo, alguns autores se
propõem a demonstrar suas compreensões sobre o conceito de cultura. Para Souza (2013, p.
161), “[...] não há um padrão de explicação sobre: o que é cultura? Ou seja, não há uma
concepção definitiva por ser uma área que carrega em si um caráter orgânico e como tal
multidimensional”. Assim sendo, atribui que a cultura é uma particularidade intrínseca à vida
do homem desde que ele existe, e que se constitui/integra a partir dos seus modos de fazer e
viver.
Na perspectiva de Chauí (2006, p. 68-69), após sua participação na prefeitura de São
Paulo e considerando aqueles que se encontravam à margem da política cultural, a cultura
deve ser entendida como “direito dos cidadãos, sem confundi-los com as figuras do
consumidor e do contribuinte”. Para ela, a cultura se constitui a partir da garantia de direitos, a
saber:
- o direito de produzir cultura, seja pela apropriação dos meios culturais
existentes, seja pela invenção de novos significados culturais;
- o direito de participar das decisões quanto ao fazer cultural;
24
- o direito de usufruir dos bens da cultura, criando locais e condições de
acesso aos bens culturais para a população;
- o direito de estar informado sobre os serviços culturais e sobre a
possibilidade de deles participar ou usufruir;
- o direito à formação cultural e artística pública e gratuita nas Escolas e
Oficinas de Cultura do município;
- o direito à experimentação e à invenção do novo nas artes e nas
humanidades;
- o direito a espaços para reflexão, debates e críticas;
- o direito à informação e à comunicação. (idem, ibidem, p. 70-71)
Em seu Dicionário Crítico, Coelho apresenta um conceito ampliado de cultura que está
imbricado em uma compreensão contemporânea e se insere em um contexto das políticas
culturais, tanto no âmbito nacional como no internacional. Para ele:
[...] o termo “cultura” continua apontando para as atividades determinadas
do ser humano, que, no entanto, não se restringem às tradicionais (literatura,
pintura, cinema – em suma, as que se apresentam sob uma forma estética),
mas se abrem para uma rede de significações ou linguagens incluindo tanto a
cultura popular (carnaval) como a publicidade, a moda, o comportamento
(ou atitude), a festa, o consumo, o estar-junto, etc. (COELHO, 2014, p. 115)
Tomando essa perspectiva, o autor propõe a integração da cultura a outras dimensões
da vida social, assumindo um lugar central, especialmente no rol das políticas culturais. Para
ele, uma ideia de cultura considerada por algumas políticas culturais é a de “Uma longa
conversa entre tudo que é cultura, entre todos os que movem a cultura. Uma longa e franca
conversa. A melhor ideia de liberdade e cultura é essa ideia de cultura” (idem, ibidem, p. 118).
Como uma ideia estimulante para os estudos de cultura e política cultural, Coelho
propõe compreendê-la como arado, uma vez que a palavra e o próprio conceito vêm da
agricultura e a sua raiz estaria na palavra anglo-saxã “coulter, nesse universo considerada uma
cognata de cultura e que significa a lâmina do arado” (COELHO, 2008, p. 18). Defende,
ainda, em lugar de uma visão imobilizadora, a ideia de considerar a cultura como um motor a
contribuir para uma transformação positiva da realidade e para o desenvolvimento humano,
função que, segundo Brant (2009, p. 17), ainda é pouco reconhecida e estimulada como “algo
que identifica o indivíduo em seu espaço, lugar, época, tornando-o capaz de sociabilizar e
formar espírito crítico”.
Para avançarmos na discussão, faz-se necessário estabelecer os conceitos adotados, no
âmbito desta pesquisa, para política pública e política cultural. Sobre política pública,
adotamos o conceito formulado por Saravia (2006, p. 20), que a define como:
[...] um sistema de decisões públicas que visa a ações ou omissões,
preventivas ou corretivas, destinadas a manter ou modificar a realidade de
um ou vários setores da vida cultural, por meio da definição de objetivos e
25
estratégias de atuação e da alocação dos recursos para atingir os objetivos
estabelecidos.
Relativamente à política cultural, trazemos o conceito formulado por Canclini (1987,
p. 26):
Entenderemos por políticas culturales al conjunto de intervenciones
realizadas por el Estado, las instituciones civiles y los grupos comunitarios
organizados a fin de orientar el desarrollo simbólico, satisfacer las
necesidades culturales de la población y obtener consenso para un tipo de
orden o de transformación social.
A escolha dos conceitos acima decorre do fato de que os autores apresentam uma
perspectiva democrática, reforçando a figura do Estado como um dos principais atores, mas
não o único, responsável pela realização de ações articuladas para o atendimento a
determinados objetivos e às demandas da sociedade.
A partir de um olhar atento das dinâmicas que envolvem a cultura, em um contexto
internacional onde as relações econômicas ganham relevância sobre o mundo cultural,
considera-se como ponto diferencial a atitude do governo do Brasil, a partir de 2003. Este,
buscando fazer valer os artigos 215, 216 e 216-A da Constituição Federal, que expressam a
garantia ao direito à cultura em toda sua diversidade de expressões culturais, e visando
especialmente o reconhecimento da grande diversidade cultural existente, assume um conceito
ampliado de cultura, que congrega as distintas formas de produção cultural, levando em conta
os modos, o pensar e o fazer cultural de todos os indivíduos formadores da cultura brasileira,
conforme o então ministro Gilberto Gil abordou em seu discurso de posse:
Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para
além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que
produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de
símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade
e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos
gestos, o senso de nossos jeitos. (GIL, 2013, p. 230)
A adoção desse conceito ampliado revela uma compreensão sobre a importância do
reconhecimento das expressões culturais brasileiras, complementada pela associação a um
programa de desenvolvimento para o país, com foco na implantação de políticas que visem
igualdades de direitos e diminuição da pobreza, afetando singularmente as comunidades
negligenciadas pelo poder público em todas as dimensões do Estado. Essa posição coloca o
MinC como protagonista de um processo interno de transformação da realidade cultural
brasileira, repensando assim o papel o Estado frente aos desafios contemporâneos que
envolvem a cultura e suas interfaces.
26
Temos aqui uma abordagem que se aplica no âmbito desta pesquisa, pois a elaboração
de políticas públicas de cultura requer, dentre outros mecanismos e instrumentos de gestão,
uma longa conversa sobre cultura e seus determinados contextos (históricos, geográficos,
políticos, institucionais, sociais e econômicos).
1.2 Para um conceito de diversidade cultural
A passagem do século XX para o século XXI trouxe novos desafios ao mundo
contemporâneo, frutos da globalização, embalados pela ampliação dos mecanismos de
comunicação e pelas novas tecnologias, que redefinem o conceito de distância e trazem para o
centro do debate a relação entre cultura e desenvolvimento, a ampliação do mercado cultural e
os interesses econômicos e de expansão de divisas.
Entre o período pós-guerra e a década de 1970, o conceito de cultura estava associado
à promoção da paz entre os povos, com vistas à cooperação e diálogo interculturais, visando à
reconstrução de sociedades afetadas pelos conflitos, ao tempo em que também se formulava
uma nova ordem econômica mundial, resultando na criação de diversos organismos
multilaterais, dentre eles a Unesco. A partir daquele momento, “[...] deflagra-se uma espécie
de vida epistemológica, quando a organização dilata um conceito de cultura, conferindo-lhe
uma acepção antropológica que privilegia os modos de vida, tradições e valores dos diferentes
povos ao tempo que lhe articula com a noção de desenvolvimento”. (VIEIRA, 2009, p. 67).
Para Obuljen (2005), há uma dificuldade em reconhecer os diversos instrumentos ou
fóruns que vêm tratando a diversidade cultural, considerando a existência de diferentes termos
utilizados para descrever os aspectos relacionados à sua compreensão, como
multiculturalismo, pluralismo cultural, interculturalismo, fusão cultural etc. Nesse sentido,
Obuljen identifica duas abordagens distintas, porém convergentes, sobre o tema. A primeira
se relaciona ao multiculturalismo, que surge inicialmente no Canadá, reconhece o sujeito
como portador de identidades individuais e coletivas, considera a importância dos direitos
humanos e a promoção da democracia, além da participação das minorias de forma igualitária
e as suas distintas categorias (raça, gênero, sexo etc.). A segunda abordagem vem sendo
discutida sobre a ótica da relação entre os Estados-nações, sociedade e/ou culturas e se baseia
nas trocas culturais a partir da estruturação de um mercado de bens e serviços culturais em
função da sustentabilidade da produção interna e de um intercâmbio equilibrado entre
culturas.
27
Sob a perspectiva histórica, a autora afirma que nos debates compreendidos ente 1946
e 2000, quatro momentos refletiram o desenvolvimento das discussões sobre o conceito de
diversidade cultural:
a) quando a cultura era entendida sob o domínio das artes, os Estados-nações eram
vistos como “entidades unitárias” e a ideia de pluralismo estava ligada às diferenças
intranacionais;
b) no contexto da Guerra Fria, nos tempos do imperialismo ideológico, quando o
conceito de cultura foi alargado e ela passou a ser entendida como identidade;
c) quando o conceito de cultura é associado ao de desenvolvimento, trazendo
alterações no contexto do planejamento de políticas e no campo da pesquisa;
iv) quando foi desenvolvida uma relação entre cultura e democracia e também a
necessidade de expandir o conceito de diversidade, com o objetivo de abarcar os desafios e
significados diferentes que ela carrega.
A década de 80 se apresentou como um período de grandes discussões quanto ao
tratamento a ser dado aos bens e serviços culturais, tendo como palco principal as rodadas de
debates da Organização Mundial do Comércio (OMC), com destaque para duas posições
antagônicas. De um lado, Estados Unidos e Japão, que dominavam o mercado internacional
de audiovisual, editorial, fonográfico e de jogos eletrônicos, defendiam a livre
comercialização dos produtos culturais, devendo esses receber o mesmo tratamento que
outros bens e serviços comerciais. De outro, Europa – notadamente a França – e Canadá,
preocupados em desenvolver políticas de proteção aos seus produtos culturais, defendiam o
estabelecimento de cláusula da “exceção cultural” para as regras comerciais (BRANT, 2005),
que posteriormente evoluiu para o discurso da proteção da diversidade cultural, de modo a
evitar preconceitos que a chamada política de exceção suscitava (KAUARK, 2008).
Em 1991, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Comissão Mundial sobre
Cultura e Desenvolvimento, reunindo especialistas das mais distintas áreas – economia,
cultura, antropologia etc. – para a realização de um estudo mais apurado sobre a relação entre
cultura e desenvolvimento e a apresentação de propostas que pudessem assessorar a
comunidade internacional a lidar melhor com essa relação. Dentre seus membros, vale
registrar a presença do brasileiro Celso Furtado, economista e ex-ministro da Cultura.
Essa Comissão produziu o Relatório Nossa Diversidade Criadora, que apresenta a tese
de que o “desenvolvimento compreende não apenas o acesso a bens e serviços, mas também a
possibilidade de escolher um estilo de coexistência satisfatório, pleno e agradável”
(CUÉLLAR, 1997, p. 21), ressaltando, de maneira coerente, a importância da diversidade
28
cultural. Esse Relatório aborda ainda a cultura como um eixo fundamental para o
desenvolvimento, no qual o seu fator simbólico passa a ser visto como um diferencial para um
projeto de desenvolvimento que tenha, entre outros interesses, o desenvolvimento humano.
O Relatório coloca para o debate internacional uma compreensão da relação entre
cultura e desenvolvimento pautada por diversos temas que, ora podem ser consensualizados,
ora apresentam-se complexos e distintos, emergindo tensões próprias dos debates que
envolvem o assunto. O documento valoriza a dinamicidade da cultura, sua capacidade de
evoluir e afirma que o pluralismo depende das possibilidades de os atores sociais terem a
liberdade de tomarem iniciativas democráticas e manifestarem livremente sua criatividade.
Reitera também que as tecnologias de comunicação não devem ser utilizadas por
poucos para cercear a liberdade do povo e oprimi-lo, mas sim com o propósito de lutar contra
as desigualdades. Dessa forma, o Relatório ressalta que “são necessários um mercado
competitivo e um equilíbrio entre eficiência e equidade, entre as preocupações locais e
globais” (idem, ibidem, p. 25).
No bojo dessas discussões, a partir da defesa de um novo paradigma que articule os
esforços de governos e seus departamentos, sociedade civil e setor privado, a Comissão
propõe a reformulação das políticas culturais, atrelada à modificação do conceito de
desenvolvimento cultural:
Quando a cultura é entendida como base do desenvolvimento, a própria
noção de política cultural deve ser consideravelmente ampliada. Toda
política de desenvolvimento deve ser profundamente sensível à cultura e
inspirada por ela. […] definir e aplicar esse tipo de política significa
encontrar fatores de coesão que unam sociedades multiétnicas por meio de
um melhor uso das realidades e oportunidades de pluralismos. (idem, ibidem,
p. 305-306)
Na Conferência Intergovernamental em Políticas Culturais, em Estocolmo (1988),
com a ampliação e aprofundamentos sobre a relação entre cultura e desenvolvimento, o tema
da diversidade cultural assumiu lugar de destaque na pauta. Lima (2014) indica que isto se dá
por dois aspectos: pela discussão do vínculo entre cultura e identidade, no contexto de uma
globalização mais acelerada, e pela crescente preocupação com as assimetrias do comércio
internacional a ameaçar as produções e os mercados nacionais de bens e serviços culturais.
Ali, reconhece-se que a cultura se torna imperativa no rol das políticas públicas e que
as políticas culturais são fatores estratégicos para o desenvolvimento, por estimular a
criatividade e a preservação da identidade cultural, fomentar a participação social na vida
29
cultural, estabelecer incentivos para o desenvolvimento da indústria cultural e contribuir para
a diversidade linguística e cultural, além de incentivar financeiramente atividades culturais.
Nesse contexto, nasceram instituições e documentos voltados para o tema, como a
Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002) e a Convenção sobre a,
Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais (idem, 2005), sendo que o
segundo se constitui com um “instrumento jurídico internacional, que cria compromisso, cria
vínculos, […] representa a consolidação de um conjunto de instrumentos jurídicos que a
Unesco já possui na área da Cultura” (MACHADO, 2008, p. 28-29). A Convenção, ratificada
pelo Brasil no final de 2006, é mecanismo fundamental, na medida em que, resguardando o
direito à soberania nacional e a autonomia política, cria para os Estados-Membros que a
ratificaram direitos e obrigações a serem incorporados através de políticas públicas de cultura
de cada um deles, visto que, como destaca Dupin (2014), “a diversidade deve ser tratada
como ‘patrimônio comum da humanidade’ e sua defesa ‘um imperativo ético inseparável do
respeito à dignidade do ser humano”.
Já a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural propõe como entendimento de
cultura um “conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que
caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os
modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”
(UNESCO, 2002, p. 1). Esse documento sugere ainda que a cultura deve ocupar um lugar
central nos debates contemporâneos e criar condições para um diálogo entre as civilizações,
em um ambiente de tolerância e cooperação, buscando entendimentos mútuos, o que se
considera como garantias de paz e segurança internacionais.
Observamos que, na construção do conceito de diversidade cultural, a Unesco
procurou congregar os interesses dos países-membros, ao tempo em que ressaltou dois
importantes sentidos: a valorização do fator simbólico da cultura e suas múltiplas formas de
expressão como portadora de identidades; e o seu valor econômico, que deve ser visto a partir
da lógica adotada em cada país, com possibilidades de garantias para a proteção e promoção
das culturas e suas identidades, mas com vias de abertura de mercado, valorizando assim o
fortalecimento do mercado de bens e serviços culturais. Nesse sentido, a Unesco define
diversidade cultural como:
[...] multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades
encontram sua expressão. Tais expressões são transmitidas entre e dentro dos
grupos e sociedades. A diversidade cultural se manifesta não apenas nas
variadas formas pelas quais se expressa, se enriquece e se transmite o
patrimônio cultural da humanidade mediante a variedade das expressões
culturais, mas também através dos diversos modos de criação, produção,
30
difusão, distribuição e fruição das expressões culturais, quaisquer que sejam
os meios e tecnologias empregados. (UNESCO, 2005, p. 5)
Destaca-se, assim, a importância de se reconhecer a diversidade cultural a partir das
diferenças culturais que a constitui, com as singularidades e especificidades contidas em cada
nação, em cada localidade, e a importância que as trocas culturais ganham nesse contexto,
valorizando as diferenças existentes e fortalecendo as capacidades de diálogos entre as
culturas.
Goldsmith, ao explorar como o discurso político internacional reflete as relações entre
globalização e diversidade cultural, destaca que esta pode ser apresentada a partir de três
visões distintas, que “[...] possuem implicações diferentes, apoiam diferentes pontos de vistas
de diversidade cultural e demandam abordagens políticas diferentes” (GOLDSMITH, 2005, p.
93). A primeira visão, entendendo o mundo como uma pluralidade de Estados-nações, traz a
diversidade cultural como mecanismo de distinção das culturas nacionais frente às tendências
gerais de homogeneização; a segunda, ainda tendo o Estado-nação como importante
referencial, relaciona-a ao fortalecimento da democracia cultural e a novas formas de
cidadania, a partir da construção de constituições baseadas no princípio da heterogeneidade; e,
a terceira, a partir do processo cada vez mais acelerado de circulação de pessoas e ideias,
como fomento ao intercâmbio de características culturais heterogêneas, que ocorrem dentro
ou para além das estruturas do Estado-nação, podendo enfraquecê-las.
Ainda tratando da relação entre globalização, cultura e diversidade, Appadurai (2004)
afirma que, localmente, os processos são constituídos de elementos que tornam a cultura
diversa e contraditória, a partir de uma perspectiva de diversidade pautada pelas diferenças
que constituem as culturas e identidades locais, afinal “sociedades diferentes têm modos
diferentes de apropriar os materiais da modernidade” (APPADURAI, 2004, p.
32). Tal característica, segundo o autor, sempre esteve presente no ambiente nacional/local,
contudo a sua importância se amplia num contexto em que a cultura se revela
economicamente rentável e propagadora de possibilidades de expansão de mercados, cujos
interesses estão voltados para um contexto globalizado.
Matterlat (2005), por sua vez, destaca duas posições contraditórias em relação à
diversidade cultural. Uma delas entende a cultura como bem público comum, a partir da qual
estados e instituições defendem a instauração de políticas públicas nacionais e regionais com
vistas ao fortalecimento da diversidade cultural, e a outra, a partir das dinâmicas da
globalização, traz uma posição política em prol do fim do Estado-nação e o surgimento de
31
uma sociedade civil híbrida de dimensão mundial. Esse antagonismo se apresenta como um
desafio, seja para a reconfiguração do conceito de hegemonia, seja para a construção de
estratégias para a esfera pública, reconhecendo a diversidade cultural como fundamento da
democracia.
[...] os debates e as proposições de estratégias que emanam do conjunto
díspar dos debates internacionais fazem surgir projetos constratados de
integração mundial que põem em xeque valores estéticos, éticos e políticos
antagônicos. Eles evidenciam os conflitos em torno do sentido e da
utilização do conceito de diversidade. Eles mostram como o “mercado das
palavras” tende a se alinhar com as “palavras do mercado”. (MATTERLAT,
2005, p.11)
Nesse debate, Bernard (2003) propõe a necessidade de um novo conceito de
diversidade cultural a partir da compreensão de cinco características. Ele defende que a
diversidade cultural tem base no diverso, sendo resultado de um movimento de lutas e
conflitos. Afirma que a diversidade cultural é cultural e não natural, pois as culturas surgem a
partir de conflitos com as condições naturais e também dos encontros com outras culturas. A
partir desses dois conceitos, Bernard defende que a diversidade cultural pretende ser dinâmica
e não estática ou rígida – como ele considera ter sido tratada na Declaração da Unesco –,
destacando que “é preciso valorizar as ambiguidades e as condições inerentes à dinâmica
intercultural: reivindicar que a diversidade cultural seja dinâmica pressupõe renunciar à
ingenuidade da diversidade ‘necessariamente boa’” (BERNARD, 2003). Ou como ressalta
Barros, a diversidade:
não se constitui como um mosaico harmonioso, mas um conjunto de opostos,
divergentes e contraditórios. A diversidade cultural é cultural e não natural,
ou seja, resulta das trocas entre os sujeitos, grupos sociais e instituições a
partir das diferenças, mas também das desigualdades, tensões e conflitos.
(BARROS, 2008, p.18)
A partir da característica de dinamismo atribuída à diversidade cultural, Bernard
classifica-a simultaneamente como questão e reposta, em um processo dialético que leva “o
movimento de cultura mais adiante” (BERNARD, 2003). Dessas cinco características, o autor
conclui que, longe de ser um inventário, a diversidade se torna um projeto, inicialmente
teórico; em seguida, jurídico; e, enfim, um projeto de natureza especialmente política, pois se
dá a partir do reconhecimento das diferenças e do campo permanente de lutas.
Em sintonia com o conceito atribuído por Bernard, Barros desenvolve algumas
contribuições relacionadas aos temas desenvolvimento (2008), gestão pública (2009; 2011) e
formação na área da cultura (BARROS; OLIVEIRA JÚNIOR, 2011). São abordagens que
32
reiteram o poder dinâmico da cultura e permitem o entendimento de que a diversidade cultural
se apresenta como um projeto político, “um campo complexo, indispensável à vida coletiva,
referente simbólico e político obrigatório quando se tem em mente a transformação social”
(BARROS, 2009, p. 61), no qual se congregam visões e percepções de mundo diferenciadas,
onde a sociedade civil é entendida como “um lugar político obrigatório de tensões e
convergências” (idem, ibidem, p. 61).
Nessa perspectiva, o envolvimento cada vez maior da sociedade é fundamental, pois o
movimento de interação entre governos e sociedades tende a seguir em uma direção
multifacetada, promovendo políticas mais coerentes com o conjunto das dinâmicas
desenvolvidas em contextos díspares, em prol do desenvolvimento, proteção e promoção da
diversidade cultural.
1.3 A Convenção da Unesco e o protagonismo internacional do Brasil
Para o âmbito desta pesquisa, consideramos a Convenção sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais como componente relevante para a
discussão sobre a importância das políticas culturais para a definição de condutas e ações a
serem adotadas pelos países. São elementos que reforçam a necessidade de estabelecer, a
partir de uma participação ampla da sociedade, dispositivos nacionais/locais públicos de
fortalecimento cultural, tendo a diversidade cultural como motor de desenvolvimento e como
elemento político para o enfrentamento das questões inerentes às dinâmicas culturais locais,
observando o respeito aos direitos humanos e aos direitos fundamentais.
Para além do reconhecimento das indústrias culturais como disparadoras de
desenvolvimento, a Convenção, no contexto do comércio internacional, estabelece que as
atividades, bens e serviços culturais devem ter um tratamento diferenciado e ressalta os
conhecimentos tradicionais e de grupos minoritários como fontes de riqueza e essenciais para
o desenvolvimento sustentável. Reconhece a importância da proteção e promoção das culturas
e comunidades em situação de vulnerabilidade cultural e a necessidade de se manter um
sistema diversificado de comunicação para a fruição das informações culturais e o
florescimento dessas expressões.
A Convenção também enfatiza a necessidade de se criar instrumentos e meios que
promovam as trocas culturais e mitiguem os desequilíbrios nas relações entre países,
considerando que as diferenças estruturais entre os países ricos e os países em
33
desenvolvimento são alarmantes. Tal cuidado é essencial ao considerarmos que a influência
dos primeiros sobre as dinâmicas locais dos segundos apresenta-se como mais uma estratégia
de conquista dos campos simbólicos, com interesses em garantir suas posições hegemônicas.
O Brasil assumiu uma posição destacada nas discussões promovidas no âmbito da
Unesco que resultaram na Convenção. Isto se deu a partir da posse de Luiz Inácio Lula da
Silva como presidente da República e de Gilberto Gil como ministro da cultura, em 2003.
Nesse momento, foi proposta uma mudança de conduta do estado brasileiro, que passou a
adotar como linhas estratégicas a diminuição das desigualdades sociais e um desenvolvimento
inclusivo, com a participação social sendo considerada fator decisivo na construção das
políticas públicas.
Com essa decisão de cunho político, o governo brasileiro vai, assim, ao encontro do
que Gruman (2008) chama de cidadania cultural, postura que se baseia numa concepção
democrática, onde indivíduos são entendidos como sujeitos políticos e não como meros
consumidores e colaboradores, sendo a cultura vista como direito dos cidadãos, que ademais:
[...] têm o direito à informação, ao debate e à reflexão; o direito de produzir
cultura; o direito de usufruir os bens da cultura; o direito à invenção de
novos significados culturais; o direito à formação cultural e artística; o
direito à experimentação e ao trabalho cultural crítico e transformador. Ao
valorizar as múltiplas práticas e demandas culturais, o Estado permite a
expressão da diversidade cultural. (GRUMAN, 2008, p. 180-181)
Kauark (2010), ao discorrer sobre a participação do Brasil nos trabalhos que
resultaram na Convenção, aponta alguns elementos que deram ao país uma posição de
protagonismo nesse processo. Primeiro, a ação articulada dos Ministérios das Relações
Exteriores e da Cultura permitiu a exposição clara para os demais participantes sobre os
interesses do Brasil, em uma estratégia de construir a convergência de aspectos considerados
essenciais:
a) a consagração do direito dos Estados de proteger e promover a
diversidade de seus conteúdos e suas expressões culturais; b) a afirmação da
especificidade dos bens e serviços culturais; e, c) o princípio de que as
políticas culturais na esfera internacional devem favorecer o fortalecimento
da economia da cultura dos países em desenvolvimento por meio de maior
isenção no mercado internacional. (ALVAREZ apud KAUARK, 2010, p. 5)
Depois, a articulação para diálogo e negociações com bloco de países da África e da
América Latina, assim como a União Europeia, China e Canadá em busca de apoio às
propostas brasileiras, auxiliando inclusive na formatação de propostas intermediárias, como
34
no caso dos debates que confrontavam livre comércio e exceção cultural, conforme exposto
pelo Secretário-Executivo do MinC, Alfredo Manevy:
De um lado, vinham os franceses com uma posição muito radical em torno
da exceção cultural, isso desde a época do GATT, com um discurso de
protecionismo, de fechamento da economia cultural a partir de uma presença
muito forte do Estado. De outro, os EUA, com uma posição aberta e liberal,
no sentido de não ter a presença do Estado e de não reconhecer como
legítima uma regulação internacional neste sentido. […] Neste panorama,
Brasil e Canadá despontaram, reconhecendo a importância da regulação do
Estado, mas, por outro lado, reconhecendo a importância da globalização e
das trocas entre os países. […] Essa complexificação da posição do Brasil e
do Canadá foi permitindo construir uma maioria política junto com os
franceses no sentido de criar um marco mais geral, pois se cada país adotasse
exclusivamente uma política doméstica de protecionismo, isso teria um
impacto limitado, não resultaria numa posição consistente que promoveria a
diversidade cultural. (MANEVY apud KAUARK, 2010, p. 5-6)
A destacada participação do Brasil nos trabalhos de formulação e aprovação da
Convenção marcou a nova postura do país em relação ao campo cultural, especialmente
quanto a políticas nacionais de proteção e promoção da diversidade das expressões culturais.
Porém, antes de entrarmos mais detalhadamente nesse tema, cabe apresentar um resumo
histórico sobre as políticas culturais no Brasil.
1.4 A institucionalidade da cultura no Brasil: mudança de paradigma, processos em
andamento
Calabre (2005, p. 10), ao elaborar um inventário histórico de ações governamentais no
campo da cultura, considera que “A elaboração do que se pode chamar de políticas culturais
governamentais no Brasil teve início durante o primeiro governo Vargas” (1930-1945),
ganhou novo fôlego durantes os governos Médici (1969-1974) e Geisel (1974-1978) e chegou
ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) com foco predominante nos incentivos
decorrentes de renúncia fiscal, registrando-se, ao longo do tempo, diversos momentos de
descontinuidades, abandonos e retomadas de ações públicas da área cultural.
Rubim (2008) traça uma retrospectiva idêntica para o período até 2002, apontando
momentos de maior e menor avanço quanto à formulação de políticas públicas nacionais de
cultura. Assim como Calabre, Rubim registra que uma maior ênfase na questão ocorreu em
períodos ditatoriais, quando o principal objetivo era instrumentalizar e domesticar a cultura,
visando legitimar o regime vigente.
35
Barbalho (2007) faz o mesmo percurso, dando ênfase na perspectiva da diversidade
cultural e registrando que, em alguns momentos da história política do país, as identidades
culturais que marcaram a heterogeneidade cultural brasileira eram entendidas sob o princípio
da unidade e não das diferenças. Na Era Vargas, buscou-se valorizar a mestiçagem em um
processo de reconfiguração do homem brasileiro; assim, “a valorização da nacionalidade
como política de Estado orienta a ação do governo na área cultural ao glorificar a cultura
popular mestiça, elevando-a a símbolo nacional” (BARBALHO, 2007, p. 41).
Já na ditadura civil-militar, houve uma preocupação em garantir a integração nacional
e a cultura passou a ser percebida como elemento central desse processo, tendo sido
construída uma visão do nacional-popular, onde “o nacional reforça a identidade diante do
que vem do exterior e o popular atua no reforço no interior do país” (ibidem, p. 41). No
entendimento do autor, trata-se de uma abordagem em que a unidade não descarta a
diversidade, porém esta é entendida sob a perspectiva do idêntico.
Nesse período, foi instituída a Política Nacional de Cultura, primeiro plano de ação
governamental com princípios norteadores de uma política cultural. Nele, encontros nacionais
com a participação de representantes regionais de cultura foram uma estratégia adotada para a
unificação da política cultural, onde a dimensão regional estava submetida à dimensão
nacional, fortalecendo a integração.
Durante o período que durou do Governo Sarney (1985-1990) ao Governo Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002), a visão de Estado neoliberal ganhou força, reduzindo a
política cultural a incentivos baseados em renúncia fiscal, onde a cultura ficou submetida à
lógica do mercado, comprometendo, assim, a inclusão de manifestações e expressões culturais
sem apelo mercadológico. Da mesma forma, regiões com menor dinamismo econômico foram
preteridas e os principais centros do país (São Paulo e Rio de Janeiro) foram os principais
beneficiados com o patrocínio de ações culturais.
Podemos observar que, conforme analisado pelos três autores, o histórico das políticas
culturais demonstra que os governos modelavam as políticas públicas de acordo com as suas
ideologias, baseadas especialmente em uma visão elitista e discriminatória. Nesse contexto, as
decisões para o campo da cultura foram predominantemente centralizadas, onde a
participação social se deu de modo secundário.
A partir de 2003, com o advento do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, a
institucionalização das políticas culturais no Brasil ganhou espaço importante nas discussões
públicas, baseada na tridimensionalidade da cultura – simbólica, cidadã e econômica (Figura
1). Para tanto, dois princípios são centrais: a participação ampliada da sociedade na
36
formulação e implantação dessas políticas e o devido reconhecimento e fortalecimento das
expressões culturais. Como consequência da relação entre essas três dimensões, a política
cultural se constitui como um conjunto de ações que garantam os direitos culturais, a proteção
e promoção da diversidade cultural e o pleno exercício da cidadania (BARROS, 2016).
Figura 1 – A Tridimensionalidade da Cultura
Fonte: MINC, 2011, p. 33.
O projeto de institucionalidade empreendido pelo governo brasileiro se manifesta
como uma mudança de paradigma nas políticas culturais, pelo desafio de promover um
conceito de gestão cultural que abarque, como elemento fundamental, a diversidade cultural,
que se constitui a partir das diferenças inerentes às identidades culturais. Também exige do
poder público transformações estruturais, normativas e humanas para atender a esse novo
referencial de atuação, uma vez que:
[...] a experiência com a diversidade exige um olhar que capta o outro na sua
opacidade, ou seja, que não tenta impor a ordem do conhecimento completo
sobre o outro. É preciso a “neblina” para que, respeitando os mistérios do
diferente, a diversidade possa surgir em toda a sua potência. (MELO, 2011,
p. 6).
Adotar a diversidade cultural em toda a sua complexidade, como pressuposto para a
política nacional de cultura, revela uma disposição em romper com uma visão nacionalista,
conservadora e autoritária, a fim de promover uma mudança no comportamento institucional e
social, preparatória para os enfrentamentos necessários, sob os pontos de vista político e
histórico, como os padrões culturais elitizados e os subalternizados. Como a gestão cultural é
37
um campo que abriga uma série de atividades distintas, implica desenvolver e implementar
planos e projetos, reformular estruturas, levantar e aplicar recursos (financeiros, humanos,
físicos e tecnológicos, dentre outros), fazer uso da criatividade e da capacidade de inovação
para que os objetivos propostos sejam alcançados (SARAVIA, 2011).
Além da adoção do conceito ampliado de cultura, o MinC realizou algumas alterações
na sua estrutura, compreendendo a criação de novas secretarias, com destaque para as
Secretarias de Identidade e Diversidade Cultural, de Política Cultural e de Articulação
Institucional, esta última responsável pelo trabalho dedicado ao SNC, e as Regionais do
Ministério, cujo objetivo é proporcionar maior aproximação com os demais entes. Essas
modificações objetivaram imprimir esforços para a construção de uma política de cunho
federativo e um planejamento sistemático, envolvendo a criação do Sistema e Plano Nacional
de Cultura e a aproximação do MinC da realidade cultural brasileira, onde os fazedores,
artistas, instituições e organizações culturais pudessem ter um diálogo permanente.
O Seminário Cultura para Todos, realizado em diversos estados do país, cumpriu o
papel de aprofundar o debate sobre as políticas culturais, tomando como propósito inicial a
discussão sobre o financiamento público da cultura, com ênfase na Lei Rouanet, além de
promover um grande debate sobre uma política pública de cultura para o Brasil (UFBA,
2003). Esse seminário se configurou como a primeira iniciativa de participação social num
contexto das políticas públicas de cultura, dando início à integração e parceria permanente
entre os governos federal, estaduais e municipais nos debates públicos sobre as políticas
culturais, tendo em vista que:
[...] a participação social é condição basilar para a democratização do Estado
e a instauração de uma nova governança. […] Hoje a ideia da participação
social no planejamento, desenho, monitoramento, avaliação e, mesmo, na
própria implementação das ações governamentais é condição fundamental
para o alcance da sustentabilidade. […] Reconhecer que as comunidades têm
muito a aperfeiçoar, enriquecer, contribuir, que podem agregar valor aos
projetos, pois os beneficiários, em geral, conhecem melhor seus próprios
problemas dos que os burocratas. (MACHADO, 2005, p.1)
Em coerência com o projeto político adotado entre 2003 e 2016, entendemos que a
participação social “permite que os sujeitos façam parte das decisões que lhes dizem respeito,
sejam nos aspectos políticos, sociais, culturais ou econômicos” (ALVES apud SIMÕES, G;
SIMÕES J, 2015, p. 1), da mesma forma que pode ser definida como “estratégia de
redistribuição de poder, que permite aos cidadãos excluídos dos processos políticos e
econômicos serem ativamente incluídos como participantes do planejamento do seu futuro”
(ARNSTEIN apud SIMÕES G.; SIMÕES, J., 2015, p. 1). Simões G. e Simões J. (2015)
38
destacam, ainda, a importância de que a participação social ocorra de modo deliberativo em
relação às políticas públicas, caso contrário os participantes se enquadrarão simplesmente
como meros beneficiários das ações ou usuários dos serviços.
Os processos participativos para o campo cultural, realizados no período em questão,
produziram demandas de toda natureza – formação, gestão, capacitação técnica –, envolvendo
o patrimônio cultural, as artes e manifestações, segmentos culturais, gestão e políticas
culturais. Inicialmente, as demandas ainda se mantinham individualizadas. Contudo, a partir
da ampliação do diálogo e da organização setorial, dos órgãos colegiados e da implantação
dos Conselhos de Política Cultural, foi-se criando uma compreensão de que a política
nacional de cultura deve contemplar a sociedade como um todo e não apenas alguns dos
segmentos ou agentes privilegiados pelo sistema político-administrativo do Estado.
Talvez o desafio maior seja efetivamente promover uma democracia participativa e
estabelecer políticas públicas enquanto políticas de Estado, com ampla participação e controle
social, além de viabilizar estruturas organizacionais e recursos humanos e financeiros nas três
esferas de governo, pois:
A Democracia supõe também criar condições para uma ação transformadora
que tenha repercussão nos diferentes âmbitos sociais. Educar para a
Democracia exige educar para a ação político-social e esta, para ser eficaz,
não pode ser reduzida ao plano individual. Educar para a Democracia é
educar para um regime político que dê provas de sua preocupação ética com
todas as dimensões da vida pessoal e social e de sua legitimidade
(governabilidade) entre os governados. (ROCHA, 2009, p. 17)
Coelho (1986) defende que a política cultural deve propiciar às pessoas o máximo de
meios para que elas possam, em ação conjunta, desenvolver seus próprios fins, além de
afirmar que uma política de mercado se baseia na divisão de papéis, onde uns poucos
produzem e a maioria consome. Nessa perspectiva, o autor questiona: “por que não criar
condições para que todos e cada um, particularmente em conjunto, agrupados num coletivo,
possam exprimir-se como bem entenderem?” (COELHO, 1986, p. 13).
Esse autor chama a atenção para o que denomina de uma política de ação cultural, que
busca exatamente contemplar criadores e públicos através de ações de inclusão. Obviamente
que essa reflexão refere-se mais fortemente ao campo das artes, contudo parece-nos relevante
para o nosso debate relacioná-la ao sentido dado à diversidade cultural.
Observamos, então, que o MinC, dentro desse novo paradigma, buscou enfrentar os
desafios da sociedade brasileira no campo da cultura a partir da formulação de uma política
pública nacional de cultura. Para tanto, propôs-se o desenvolvimento de estratégias que
39
garantissem uma gestão articulada e compartilhada entre Estado (contemplando todos os entes
federados) e sociedade; uma atuação pactuada, planejada e complementar, com
compartilhamento de atribuições e responsabilidades; a democratização dos processos
decisórios e a participação social de forma permanente e institucional, merecendo destaque as
Conferências de Cultura e os Conselhos de Política Cultural.
As Conferências, ocorridas na sua maioria no Governo Lula, possibilitaram ampliar o
raio de atuação do Estado para um diálogo cultural, no qual a sociedade civil pôde se
manifestar livremente e as demandas e problemas que atingem as culturas puderam ser
esclarecidos em suas especificidades, viabilizando uma atuação para o avanço das políticas
culturais. Nesse sentido, as Conferências são:
[...] espaços de participação social onde ocorre a articulação entre Estado e
sociedade civil para analisar a conjuntura da área cultural e propor diretrizes
para a formulação de políticas públicas de Cultura, que conformarão os
planos de cultura, nos seus respectivos âmbitos. A representação da
sociedade civil será, no mínimo, paritária em relação ao poder público e seus
delegados serão eleitos. (MINC, 2011, p. 47)
A adoção de uma política cultural de cunho democrático e compartilhada
federativamente pode contribuir para um cenário de colaboração entre instituições e
organizações e, ainda, fomentar o desenvolvimento de possibilidades até então não
consideradas. Um importante problema para que isso se realize é a constatação de que as
ações do Estado estão, de modo geral, postas sob a dependência das ideologias de cada
governo e seus mandatos e da vontade política do governante de plantão. É importante
ressaltar que “A Constituição Brasileira prevê a cultura como dever do Estado, mas não
dispõe de pacto federativo, que constitui responsabilidades diferentes para cada ente (União,
Estados e municípios) na garantia do exercício do direito cultural” (VILUTIS, 2012, p. 4).
Vilutis também aponta outros desafios a serem trilhados para a institucionalidade da
cultura, como a produção de dados e informações; a oferta de ações de formação; a
diversificação de mecanismos de fomento; o desenvolvimento da infraestrutura; o
fortalecimento da institucionalidade; e, a formulação de marcos regulatórios. Isto requer a
formatação de um amplo e complexo arranjo para um planejamento sistêmico e integrado das
políticas culturais no Brasil, sendo seu principal mecanismo o SNC, que
[...] objetiva formular e implantar, democraticamente, políticas públicas de
cultura, como resultado de pactos federativos estabelecidos com a sociedade
civil e os entes federados. Dispõe de princípios, objetivos, estratégias e ações
que orientam a conduta dos atores institucionais responsáveis pelas políticas
públicas de cultura. (BARROS; COSTA, 2016, p. 1)
40
Obviamente que a construção de tais pactos federativos deve ter os entes municipais
como peça fundamental, visto que cada município se constitui como parte importante de um
sistema, cada um deles com distintas características históricas, sociais, culturais, econômicas e
políticas e, portanto, capaz de oferecer subsídios para uma política cultural efetiva, diversa e
plural. Afinal, como afirma Rebón (2014, p. 75):
En el mundo actual, la política cultural de los municipios es esencial para la
creación de elementos que promuevan la integración de la sociedad en torno
a los conceptos de equidad y democracia dado que la misma tiene impacto
directo en el sistema de valores, las tradiciones y creencias de la sociedad
así como también sobre los espacios de expresión y el patrimonio de la
comunidad.
Entendemos, portanto, que o sucesso da política cultural atual depende fortemente de
uma participação mais efetiva dos municípios, o que pode ser um ponto de preocupação,
considerando levantamentos que indicam a adesão de apenas 40% deles ao SNC (MINC,
2017) e baixos índices de avanço em relação à formulação de seus Planos Municipais de
Cultura, a saber: somente 5,9% de PMCs regulamentados por lei; 2,5% não regulamentados e
apenas 23,6% Planos em elaboração (IBGE, 2015). Nesse contexto, as iniciativas do MinC
em prol do fortalecimento da institucionalidade da cultura são de vital importância, entre as
quais se destaca o Projeto MinC-UFBA.
O SNC, cujo marco legal é a Emenda Constitucional nº 71/2012 (BRASIL, 2012), se
constitui como um conjunto articulado de elementos interdependentes e complementares que
dão sustentação à política nacional de cultura, estando nele representados a sociedade civil e
os entes federativos. O Sistema é ancorado em 11 princípios, elencados abaixo:
[...] diversidade das expressões culturais; universalização do acesso aos bens
e serviços culturais; fomento à produção, difusão e circulação de
conhecimento e bens culturais; cooperação entre os entes federados, os
agentes públicos e privados atuantes na área cultural; integração e interação
na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas;
complementaridade nos papéis dos agentes culturais; transversalidade das
políticas culturais; autonomia dos entes federados e das instituições da
sociedade civil; transparência e compartilhamento das informações;
democratização dos processos decisórios com participação e controle social;
descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações.
(MINC, 2011, p. 41)
Os elementos do SNC agrupam-se em um sistema misto, com um núcleo – a
legislação que o regulamenta – e outro dinâmico, composto de elementos nos quais se
estabelecem os processos de negociação e pactuação realizados em instâncias específicas,
41
servindo para a gestão e implementação das políticas culturais (Figura 2). A dinamicidade do
Sistema possibilita, portanto, considerar as especificidades da administração pública e as
características do campo cultural em cada ente, permitindo, com isso, maior flexibilidade na
implantação do SNC (idem, ibidem).
Figura 2 – Elementos Constitutivos do SNC
Fonte: idem, ibidem, p. 45.
O Plano Nacional de Cultura (PNC), apesar de ter sido instituído antes do SNC, é um
dos seus elementos formadores, sendo orientado pelos mesmos princípios do Sistema e
composto de 53 metas, 36 estratégias e 275 ações. Tem como objetivo nortear as políticas
públicas de cultura que visem à criação e à implementação de políticas de valorização e
fortalecimento da diversidade cultural brasileira em direção a um desenvolvimento mais
inclusivo (MINC, 2012c).
Apesar de ter se inspirado em outros sistemas federativos, o SNC não foi desenvolvido
com a finalidade de reproduzir tais modelos. Segundo Cunha Filho (2010), a sua concepção
visou considerar as idiossincrasias próprias da área cultural, com a devida observância aos
princípios constitucionais definidos para o setor, a saber: universalidade; pluralismo cultural;
participação popular; preponderância das iniciativas da sociedade e subsequente atuação
estatal como suporte logístico; respeito e resguardo à memória coletiva, além de outros
congêneres (CUNHA FILHO, 2010, p.71).
Os Sistemas de Cultura apoiam-se em nove elementos – ou oito, no caso dos
42
municípios, já que as Comissões Intergestores ocorrem apenas no âmbito da União e dos
Estados. Também foi estabelecido que, no período de dois anos a partir da adesão, Estados e
municípios são obrigados a instituírem o que se chama de CPF da Cultura: Conselho de
Política Cultural, Plano de Cultura e Fundo de Cultura, considerados elementos que
fortalecem o envolvimento da sociedade no processo da institucionalidade e contribuem para
o reconhecimento da diversidade cultural.
A não obrigatoriedade imediata dos demais elementos demonstra o reconhecimento da
complexidade desses Sistemas, já que a implantação de cada um demanda esforços que, por
vezes, envolvem mais que procedimentos administrativos, requerendo recursos financeiros,
tecnológicos, humanos e de gestão. Isto é mais acentuado na esfera municipal, especialmente
nos pequenos municípios, onde é crítica a cultura de planejamento público.
Os elementos constituintes dos Sistemas se inter-relacionam através das instâncias de
coordenação, articulação, pactuação, deliberação e de gestão, da seguinte forma: coordenação
do Sistema e das políticas culturais, que está a cargo do órgão de cultura, no respectivo ente;
instrumentos de articulação, pactuação e deliberação em que se inserem as Conferências de
Cultura (Nacional, Estaduais e Municipais), Comissões Intergestores (Nacional e Estaduais);
e os instrumentos de gestão, que estão ancorados nos Planos de Cultura, no Fundo de Cultura,
nos instrumentos de fomento (quando houver) e nos sistemas de indicadores culturais (quando
houver), sempre pensando nas três esferas de governo e respeitando as especificidades,
limitações e capacidades de gestão e de recursos de cada ente.
Frutos de diálogos entre o governo e a sociedade civil, o SNC e o PNC são
instrumentos que podem, de fato, promover um avanço nas políticas culturais. O primeiro,
pelo caráter sistêmico, exige das diversas instâncias de governo mudanças institucionais na
administração pública, condizentes com os desafios apresentados no campo cultural. O
segundo, por ser uma peça de planejamento, sistematiza um conjunto de programas, projetos e
ações de curto, médio e longo prazos que darão sustentação às políticas públicas de cultura,
estabelecendo ainda diretrizes e prioridades a serem adotadas num plano de governo, para
incorporação nas peças do orçamento público.
Barros (2016) alerta que há uma descontinuidade no processo de implantação e
implementação das políticas culturais no Brasil, experiência já vivida em outro momento da
história política do nosso país, ao afirmar que a lei que criou o SNC se mantém inexistente e
que há outros instrumentos que se encontram parados no Legislativo – tais como a PEC
150/2003, que estabelece para a cultura um piso mínimo de 2% do orçamento federal, 1,5%
do orçamento estadual e 1% do orçamento municipal; e o Procultura, projeto de atualização
43
da Lei Rouanet que pretende corrigir as distorções na lei atual.
Nesse sentido, vale destacar duas ações, frutos do Programa de Fortalecimento pela
Implementação do Sistema Nacional da Cultura (HORA; BRANDÃO, 2012), consideradas
valiosas para a estruturação dos referidos Sistemas e para as políticas culturais, envolvendo as
cinco regiões do país: o programa de formação na área da cultura, que abarca articulações e
incentivos para o desenvolvimento de cursos para gestores, conselheiros, organizações e para
aqueles que ou estão envolvidos com as dinâmicas políticas do campo da cultura ou se
dedicam a pensar e refletir sobre a cultura e seus desdobramentos; e o Projeto de Apoio à
Elaboração de Planos de Cultura, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de Planos
estaduais e municipais de cultura.
Essa segunda ação vem se desenvolvendo no âmbito dos municípios e provocando
desdobramentos consideráveis, a partir das avaliações realizadas durante o desenvolvimento
desse Projeto, fornecendo subsídios para o seu aprimoramento. Esse aprimoramento foi
perceptível através dos resultados verificados nas duas edições do Projeto, em que na primeira
20 municípios receberam apoio metodológico e assessoramento técnico direto, enquanto na
segunda 439 municípios receberam formação para a elaboração de seus Planos de Cultura.
Essa evolução nos resultados promoveu o envolvimento de um número significativo
de participantes, ampliando o diálogo entre diferentes atores e agentes culturais sobre as
políticas culturais e promovendo uma importante escuta sobre os processos da gestão cultural
municipal. Assim, o processo de planejamento da cultura se constitui por um amplo e perene
debate sobre as implicações ideológicas, políticas, gerenciais e administrativas que envolvem
o setor.
Essa mobilização, entretanto, contrasta com os números apresentados anteriormente
sobre a adesão de municípios ao SNC e da efetiva formulação e implantação de PMCs, com
resultados desanimadores. Nesse sentido, para ajudar a entender esse paradoxo, faz-se
necessário conhecer o importante esforço empregado durante a execução do Projeto MinC-
UFBA, como abordaremos no próximo capítulo.
1.5. A gestão da cultura nos municípios
Para enriquecer a presente análise, é importante refletir sobre a realidade dos
municípios brasileiros quanto à institucionalidade da cultura, entendendo o município como o
local onde a cultura se revela. Um país com extenso território, distintas matrizes culturais e
44
diferentes contextos – históricos, geográficos, políticos, econômicos e sociais – registra uma
diversidade enorme de panoramas, que, por sua vez, demandam outro olhar para as realidades
locais e suas dinâmicas, razão pela qual a consolidação de uma política pública de cultura
requer que a articulação entre os entes federados que ressalte a importância da
municipalidade.
É com essa compreensão que se buscou, a partir de 2003 e com base na Constituição
de 1988, construir uma política pública integrada onde a cultura passa a ser reconhecida a
partir de um conceito alargado, no qual os modos de ser e pensar do povo integram o
entendimento acerca das novas formas de construção social, cultural e econômica. Isso coloca
a cultura como parte de um projeto político que visa, sobretudo, a diminuição da pobreza a
partir de um processo de inclusão cultural, surgindo daí a necessidade de se instituir uma
política nacional pública de cultura estruturada num sistema, com vista à integração federativa
entre os três níveis de governo – União Estados e Municípios –, numa relação de colaboração
e complementaridade.
Sob tal abordagem, Botelho alerta que um dos problemas para a efetividade das ações
da União e dos Estados é o distanciamento da vida dos cidadãos e, daí, destaca, como um
aspecto que considera de ordem estrutural, que
se é possível afirmar que a cultura, do ponto de vista antropológico, é a
expressão das relações que cada indivíduo estabelece com seu universo mais
próximo, em termos de uma política pública, ela solicita, por sua própria
natureza, uma ação privilegiadamente municipal. (BOTELHO, 2011: s/p)
Nessa perspectiva, os municípios brasileiros apresentam-se como entes fundamentais
desse novo projeto político, que recusa a exclusão e assume o desafio de garantir direitos civis
e culturais, os quais podem vir a contribuir para uma cidadania democrática e o
reconhecimento da cultura local como disparadora de desenvolvimento humano.
Além disso, há a necessidade de novas reflexões e atitudes para a consolidação da
democracia em nosso país, constatando-se ser preciso repensar a relação entre Estado e
sociedade a partir de uma maior articulação entre essas duas instâncias. Primar pelo
reconhecimento da diversidade cultural é, antes de tudo, entender o papel da sociedade civil
como ator constituinte de um projeto que promova o desenvolvimento inclusivo, a diminuição
dos níveis de pobreza e o estímulo à capacidade criativa dos cidadãos, a partir da participação.
Obviamente que, como ressaltam Dagnino, Olvera e Panfichi (2006), será preciso
romper paradigmas históricos e estruturais que afetam a relação federativa, além da
construção de novos, que incidam sobre a compreensão da cultura e da diversidade cultural
45
como vetores de transformação e sobre os processos de dominação política que ainda estão
presentes no contexto dos municípios brasileiros, processos esses que podem ser oriundos da
sociedade civil quanto da sociedade política.
Segundo esses autores, a discussão sobre disputa pela construção democrática na
América Latina estava ancorada, por mais de uma década, nos temas da transição e
consolidação democrática, tendo sido substituídos por “novas preocupações teóricas e
políticas” (idem, ibidem: 13). Para uma análise diante de tais preocupações, os autores
trabalharam com a combinação de três instrumentos analíticos, que são a heterogeneidade da
sociedade civil e do Estado, projetos políticos e trajetórias sociedade civil-sociedade política,
configurando-se como “uma crítica do modelo teórico que separa radicalmente a sociedade
civil da sociedade política, construindo uma dicotomia simbólica entre uma sociedade civil
homogênea e virtuosa e um Estado igualmente homogêneo” (idem, ibidem: 15).
A sociedade civil se constitui de um espaço complexo em todos os sentidos da vida
coletiva, que abriga diferentes atores, formas variadas de relações – sociais, políticas e
culturais – e de tensões, no qual se entende que
no interior da sociedade civil coexistem os mais diversos atores, tipos de
práticas e projetos, além de formas variadas de relação com o Estado. (…)
uma sociedade civil composta por uma heterogeneidade de atores sociais
(inclusive com visões conservadoras), que desenvolvem formatos
institucionais diversos (sindicatos, associações, redes, coalizões, mesas,
fóruns) e uma grande pluralidade de projetos políticos, alguns dos quais
podem ser, inclusive, não-civis ou pouco democráticos. (idem, ibidem: 27)
Diante do exposto, reiteramos a ênfase para o desafio da quebra de paradigmas,
considerando tanto um rompimento com práticas políticas conservadoras quanto à reflexão
sobre o próprio modo de pensar da sociedade brasileira, ainda constituído de visões pouco
alargadas sobre o campo da cultura e de carente de um olhar comprometido com o
reconhecimento da diversidade cultural.
Neste sentido, a formação em gestão e políticas culturais não só deve estar alicerçada
em processos técnicos de planejamento para o setor, mas cabe buscar aprofundar conceitos
teóricos e temas próprios do campo da cultura, de modo que os conhecimentos se inter-
relacionem em função da efetividade da gestão e das políticas culturais. Assim, cabe destacar
o Programa de Formação na Área da Gestão Pública da Cultura, realizado entre 2009 e 2010,
através de parceria entre a Secretaria de Articulação Institucional do Ministério da Cultura
(SAI/MINC), a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult/BA) e a Regional São Paulo
do Serviço Social do Comércio (Sesc/SP), cujos temas tratados, baseados no tripé vivência-
46
aprendizado-crítica, buscaram fazer com que os participantes se capacitassem para
compreender:
a cultura em sua dimensão simbólica e identitária e sua centralidade para a
cidadania e para o desenvolvimento social e econômico; as políticas públicas
de cultura como respostas a realidades objetivas de bases locais e regionais;
a economia da cultura e os modelos de financiamento público (compreender
e operar);
a importância do aprendizado e da apropriação de ferramentas de gestão
pública;
e, o planejamento estratégico como um momento de reflexão política e de
correção de rumo. (BOTELHO apud CALABRE, 2012: 166)
Merece destaque ainda a questão da territorialização, pois, como registra Calabre
(2014), não é possível impor a todo o País modelos padronizados de construção das políticas
públicas, em especial as políticas públicas de cultura. Tomando como base essa reflexão, cabe
a formulação de processos de formação que considerem, dentre outros fatores, a diferenças de
contextos e realidades locais, pois suas especificidades demandam estratégias distintas para
capacitação de atores e agentes culturais.
Esses são alguns aspectos que nos levam a refletir sobre a gestão e as políticas
culturais municipais tendo em vista o desafio da diversidade cultural, que passa não só pelo
reconhecimento das expressões culturais locais como também pelo reconhecimento da
diversidade cultural enquanto pilar de uma política pública de cultura no âmbito dos
municípios.
Para Barros, a Diversidade Cultural vai além de um conjunto de diferentes expressões,
mas sim “um campo de diferentes e, por vezes, divergentes [...] modos de instituir, de
modelos de gestão” (Barros, 2011: 21). Ele defende que não se pode reconhecer a diversidade
nas suas diferenças estéticas, mas é necessário e fundamental o reconhecimento dos modos de
gestão que estão implicados nos diferentes padrões culturais, portanto investir na formação de
gestores requer, sobretudo, ir “além do acesso a informações, diz respeito à produção de
conhecimento e experiência e isso requer tempo de maturação de conceitos e inauguração de
novas práticas” (idem, ibidem: 30).
Considerando tais abordagens, cabe reconhecer que a gestão e as políticas culturais
municipais requerem gestores que não só compreendam a necessidade de um olhar atento às
questões locais como também traquejo para lidar e liderar processos de demandem articulação
entre aquilo que é tradição e o que se apresenta como novo, entre o local e o global e sobre o
que é específico e o que é transversal na cultura.
Uma gestão cultural pautada na diversidade cultural, dentro de um projeto de
47
transformação da realidade, exigirá dos gestores municipais competências que se alinhem
com práticas criativas e inovadoras para a consolidação de políticas que possam, de fato,
traduzir em ações projetos e programas de valorização e sustentabilidade cultural. Essa
perspectiva nos conduz a compreender sobre a importância da formação de líderes políticos
institucionais capazes de implementar políticas e empreender uma gestão para a cultura
coerentes com os tempos atuais.
Para entendermos melhor sobre os desafios da política cultural nos municípios, vale
trazer para esta pesquisa, no Quadro 1, registros dos levantamentos feitos pelo IBGE sobre a
institucionalidade da cultura, o que nos permite avaliar a evolução da questão nos municípios
brasileiros:
Quadro 1 – Institucionalidade da Cultura nos Municípios
COMPONENTE 2006 2014
Secretaria Exclusiva 4,2% 20,4%
Conselho Municipal 17,0% 38,6%
Conferência N/D 50,1%
Plano Municipal
(regulamentado em lei) 3,8% 5,9%
Fundo Municipal 5,1% 19,9%
Oferta de capacitação 30,4% 36,4%
Fonte: 2006 (IBGE, 2007); 2014 (IBGE, 2015).
Registra-se, aí, uma importante evolução quanto à institucionalidade da cultura, porém
também se observa que há um longo caminho a ser percorrido, especialmente se tivermos em
mente que os números apresentados são superestimados quanto aos municípios de menor
porte.
48
CAPÍTULO 2
CONTEÚDOS, METODOLOGIAS E PROCESSOS
Podemos afirmar que as bases para uma maior e melhor atuação do MinC frente aos
desafios para a construção de políticas públicas consistiram, primeiro, numa compreensão da
historicidade das políticas culturais, conforme abordado por Calabre (2010), Rubim (2008) e
Barbalho (2007), e no entendimento da nova configuração adotada pelo Governo Federal,
quando decidiu assumir que a cultura é um elemento indispensável para a construção de outro
modelo de desenvolvimento e que, associada à participação social, visa o reconhecimento e
fortalecimento da diversidade cultural.
Essa configuração se apresentou a partir de 2003, com a reestruturação do MinC e
com uma maior atuação do órgão na construção dessas políticas, alicerçada nas seguintes
bases: a) nova estruturação física e funcional do próprio Ministério; b) conceito adotado pelo
MinC que amplia a compreensão da cultura; c) diálogo aberto com a sociedade civil; d)
relação institucional e política com os entes federativos, via representações do poder público e
da sociedade, reunidas no Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura e no
Conselho Nacional de Cultura; e, e) iniciativas de indução e intervenção para a construção e
consolidação da política pública nacional, através de projetos e programas de formação na
área da cultura e de apoio técnico aos estados e municípios.
Assim, para incentivar e apoiar a construção dos Planos e atender à demanda
apresentada em 2011, pelo Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Cultura, a
SAI/MinC convidou a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a UFBA para
coordenarem essa empreitada em âmbito nacional. A incumbência de apoiar os Estados ficou
a cargo da UFSC, enquanto a UFBA ficou responsável por apoiar os municípios, cuja
formalização se deu através de Acordos de Cooperação Técnica, como explica Rocha (2014,
p. 86):
De acordo com a UFSC (2011), esse projeto foi fruto de um longo processo
de discussão, iniciado no ano de aprovação do Plano Nacional de Cultura
(PNC), em 2010, quando secretários e dirigentes de cultura alegavam a
necessidade de ações de capacitação e assistência técnica para o
desenvolvimento de seus respectivos planos, mediante apoio metodológico e
técnico de universidades. O embasamento legal da solicitação estava na
própria Lei do PNC (Lei nº 12.343/2010), que, no seu art. 3º, § 4º, afirma
que o MinC poderá oferecer assistência técnica e financeira aos entes da
federação que aderirem ao Plano.
49
A parceria entre a UFBA e o MinC deu origem ao Projeto MinC-UFBA, realizado em
duas edições. A primeira edição, desenvolvida entre novembro de 2011 e setembro de 2013,
promoveu assistência técnica direta e presencial a 20 municípios, entre capitais e cidades de
regiões metropolitanas. A segunda edição, executada entre setembro de 2014 e abril de 2016,
promoveu um processo formativo através do uso do ambiente virtual, para o qual se
inscreveram 439 cidades de todas as regiões do Brasil.
A escolha da UFBA para essa iniciativa pode ser atribuída ao seu histórico de atuação
e competência no campo das artes e da cultura, visto que é pioneira na oferta de cursos de
arte, além de ter se tornado referência também em estudos culturais, com especial ênfase em
políticas culturais, através do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e
Sociedade, vinculado ao Instituto de Humanidades, Arte e Ciências Professor Milton Santos
(IHAC).
Como a missão de assessorar os municípios exigia conhecimentos sobre planejamento
estratégico, políticas públicas e princípios da administração pública, identificou-se na
EAUFBA o ambiente ideal para o desenvolvimento dessa tarefa, o que possibilitou integrar
estrategicamente especialistas tanto da área de cultura como de administração. A UFBA
contou, ainda, com a contribuição da Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão (FAPEX)
para a administração financeira do Projeto.
É importante mencionar que o Projeto MinC-UFBA teve como coordenador técnico o
professor Vicente Federico (falecido em 2013), que já havia coordenado, em 2009, também
através da UFBA, uma consultoria técnica para a Secult/BA, visando à implantação de
Sistema Municipais de Cultura junto a 100 municípios baianos. Foi Professor Vicente, como
era mais conhecido, quem sugeriu como epígrafe a frase “A gente precisa sonhar, senão as
coisas não acontecem”, de Oscar Niemeyer (UFBA, 2011: 1), por acreditar que o campo da
cultura passara a concretizar um sonho, qual seja o de se construir uma política nacional de
cultura.
Nessa perspectiva, entre o final de 2011 e fevereiro de 2012, as equipes da UFBA e do
MinC mantiveram diálogo para o desenvolvimento da metodologia de elaboração de Planos
de Cultura no âmbito municipal, quando ocorreu também a indicação e seleção das equipes de
consultores e analistas técnicos que apoiaram localmente o trabalho. Nesse período, foi feito
ainda um levantamento da realidade cultural dos municípios selecionados, através da
aplicação de dois questionários, sendo que o primeiro foi o de Levantamento Institucional
(UFBA, 2012f), sobre a situação do município quanto ao processo de implantação do Sistema
50
de Cultura, e o segundo foi o de Diagnóstico de Infraestrutura (UFBA, 2012d), sobre o
panorama cultural e as políticas para a área, à luz das metas do PNC (Apêndice 4).
O primeiro questionário, de levantamento institucional, foi criado pelo MinC com o
objetivo de atualizar a situação da integração do município ao SNC a partir da obtenção de
informações detalhadas sobre cada elemento constituinte do Sistema Municipal de Cultura
(Apêndice 5). As questões iniciais estavam relacionadas à identificação do município e se
referiram aos seguintes aspectos: localização geográfica, dirigentes municipais, natureza do
órgão municipal de cultura e contatos. O questionário buscou também coletar dados acerca
dos elementos do Sistema de Cultura, os aspectos de implantação e implementação e o
aspecto legal de cada componente.
O segundo instrumento, de diagnóstico de infraestrutura de cultura, possibilitou
conhecer a atuação do município no campo da gestão cultural, com enfoque no
desenvolvimento e execução da política pública de cultura, além de dar ênfase ao tema da
diversidade cultural, tendo servido, ainda, de componente prévio para a elaboração, na etapa
correspondente, do diagnóstico de cada cidade.
Consideramos que o questionário inicial submetido às equipes locais possibilitou
esboçar um primeiro entendimento sobre o campo da cultura, tratando os aspectos
institucionais e de gestão. O segundo questionário contribuiu para que as equipes realizassem
um levantamento inicial sobre a realidade da cultura no município, especificamente sobre a
gestão, considerando o desenvolvimento das suas cadeias produtivas, dando enfoque a temas
relacionados ao fomento, e proteção e promoção do patrimônio cultural. Essa abordagem
destacou a diversidade cultural a partir do reconhecimento da heterogeneidade de expressões
culturais existentes, assunto contemplado por meio de questões específicas.
Também ficou a cargo da UFBA a produção do seminário que serviu como ponto
inicial do trabalho. Como resultado, entre 29 de fevereiro e 02 de março de 2012 ocorreu em
Brasília o I Seminário de Planos de Cultura (SALDANHA; VERDI, 2012), no qual foi
lançado o Programa de Fortalecimento Institucional para Implementação do Sistema Nacional
de Cultura, formatado com o objetivo principal de apoiar estados e municípios na elaboração
de Planos de Cultura. Por fim, a EAUFBA propôs consolidar essa experiência em um material
didático, a ser entregue ao MinC e posteriormente disponibilizado para os municípios.
2.1 Projeto MinC-UFBA: 1ª Edição
51
A primeira edição da parceria entre a UFBA e o MinC foi denominada Projeto de
Apoio e Assistência Técnica à Elaboração de Planos de Cultura de Capitais e Cidades de
Regiões Metropolitanas, e teve os seguintes objetivos:
a) prover assistência técnica aos municípios participantes;
b) elaborar pesquisas e diagnósticos culturais dos municípios, à luz das diretrizes
estabelecidas no PNC;
c) aplicar metodologias participativas para a construção dos Planos de Cultura; e,
d) disponibilizar guias de orientação e suporte de conteúdos especializados através de
plataforma digital.
Vinte municípios foram selecionados pelo MinC e pelo Fórum Nacional de Secretários
de Cultura de Capitais e Municípios de Regiões Metropolitanas para integrarem essa edição
do Projeto. Segundo Ângela Andrade1, então Coordenadora Geral dos Instrumentos de Gestão
do SNC, três critérios foram considerados nessa escolha, a saber: o estágio de
desenvolvimento do Sistema Municipal de Cultura; a vontade política dos dirigentes de
priorizar a construção do PMC; e o atendimento a capitais e algumas cidades de regiões
metropolitanas que participaram ativamente do Fórum. O Quadro 2 mostra as cidades
participantes:
Quadro 2 - Municípios atendidos na 1ª Edição
Capitais UF Cidades de Região Metropolitana UF
REGIÃO NORTE
1. Manaus AM – –
REGIÃO NORDESTE
2. Aracaju SE 13. Laranjeiras SE
3. Recife PE 14. Olinda PE
4. João Pessoa PB
5. São Luís MA
6. Fortaleza CE
REGIÃO CENTRO-OESTE
7. Campo Grande MS – –
REGIÃO SUDESTE
8. Belo Horizonte MG 15. Betim MG
9. Rio de Janeiro RG 16. Sabará MG
10. Vitória ES 17. Santa Luzia MG
18. São Caetano do Sul SP
REGIÃO SUL
11. Porto Alegre RS 19. São Leopoldo RS
1 Informação obtida em entrevista realizada em 15 de julho de 2015.
52
12. Florianópolis SC 20. Joinville SC
Fonte: a autora, a partir de dados disponibilizados pela UFBA (2011).
Como o foco dessa edição foram capitais e municípios de regiões metropolitanas,
registrou-se a maior presença de municípios de grande e médio porte populacional e com alto
ou muito alto nível de desenvolvimento humano2, conforme dispersão demonstrada no
Gráfico 1.
Gráfico 1 - Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 1ª Edição
Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2011).
Sob o aspecto da distribuição regional, verificou-se a participação predominante de
municípios das regiões Nordeste e Sudeste, as mais populosas e com maior número de
municípios, conforme detalhado na Figura 3.
Figura 3 – Distribuição dos municípios por região - 1ª Edição
2 Para fins desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificação dos municípios: a) Porte
populacional: pequeno: menos de 50 mil habitantes; médio: igual ou mais que 50 mil habitantes e menos que
500 mil habitantes; grande: igual ou mais que 500 mil habitantes; b) Nível de desenvolvimento humano: muito
baixo: menor que 0,500; baixo: igual ou maior que 0,500 e menor que 0,600; médio: igual ou maior que 0,600 e
menor que 0,700; alto: igual ou maior que 0,700 e menor que 0,800; muito alto: igual ou maior que 0,800.
53
Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2011).
Os municípios selecionados tiveram prazos distintos para a elaboração dos seus
Planos, sendo que para a maioria das capitais foi destinado o período de 12 meses e para a
grande parte das cidades de regiões metropolitanas, oito meses, conforme mostra o Quadro 3:
Quadro 3 - Prazo de elaboração dos PMCs - 1ª Edição
PRAZO MUNICÍPIOS
12 meses Aracaju, Belo Horizonte, Florianópolis, Fortaleza, João Pessoa, Manaus,
Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Luís e Vitória.
8 meses Betim, Laranjeiras, Olinda, Sabará, Santa Luzia, São Caetano do Sul e São
Leopoldo.
4 meses Campo Grande, Joinville e Recife.
Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).
O tempo de consultoria foi definido de acordo com a especificidade de cada local,
sendo que Campo Grande, Recife e Joinville tiveram o prazo de quatro meses, pois já tinham
o documento elaborado, faltando apenas a formulação de suas metas. No entanto, nem todas
as cidades conseguiram desenvolver os seus Planos no prazo inicialmente determinado, visto
que cinco capitais (Florianópolis, João Pessoa, Recife, São Luís e Vitória), bem como todas as
54
cidades de região metropolitana, solicitaram prorrogação.
2.1.1 Estrutura do Projeto
Nessa primeira edição, o trabalho desenvolvido pela EAUFBA foi formatado como
um Projeto estruturado em quatro fases e oito etapas, incluindo ações preparatórias, de
execução, de avaliação do processo e dos resultados alcançados, conforme detalhamos no
Quadro 4:
Quadro 4 - Fases de execução do Projeto - 1ª Edição
FASES ETAPAS
Fase preparatória
1. Estruturação física e de comunicação do projeto;
2. Aplicação de questionários para levantamento institucional e do campo da
cultura existente em cada município;
3. Realização do I Seminário de Lançamento Nacional do projeto, em
Brasília/DF;
Fase de execução
4. Montagem e Execução do Plano de Ação de cada Núcleo Executivo
Municipal;
5. Análise dos Planos de Ação e contribuição com as estratégias para que cada
Plano pudesse cumprir os prazos para sua elaboração;
6. Apoio técnico presencial para o desenvolvimento dos Planos de Cultura.
Fase de avaliação
do processo
7. Realização do II Seminário de Integração e Alinhamento Técnico, em
Salvador/BA.
Fase dos resultados
alcançados
8. Realização do III Seminário Final, com apresentação dos resultados obtidos
em dezembro de 2012, em Salvador/BA. Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).
O modelo de gestão adotado foi composto de três instâncias de governança, cada uma
atuando em esferas específicas e complementares de articulação, a saber (Figura 4):
Figura 4 - Estrutura da Governança do Projeto
55
Fonte: a autora, a partir de dados da UFBA (2011).
O Núcleo Gestor Nacional estava composto pelo Fórum Nacional de Secretários e
Dirigentes de Cultura, pela Representação do MinC e pela UFBA; o Núcleo Executivo
Central estava constituído pela equipe da EAUFBA, sendo dois coordenadores, uma
consultora convidada, três analistas técnicos e três estagiários; e os Núcleos Executivos
Municipais, por sua vez, estavam formados por 20 Coordenadores de Plano, 12
Coordenadores Técnicos e 20 Analistas Técnicos contratados pelo Projeto para atuarem
localmente, oferecendo assistência presencial aos municípios3.
A equipe central foi selecionada através de entrevistas realizadas pelos coordenadores
do Projeto, enquanto as equipes locais foram indicadas pelos gestores municipais das cidades
participantes, ficando a cargo da UFBA a avaliação dos currículos. Os critérios adotados na
seleção foram a formação acadêmica e a experiência no campo da cultura.
A fim de conhecer melhor o perfil dos interlocutores municipais e obter elementos que
pudessem somar às estratégias para uma atuação mais eficaz em cada uma das localidades
envolvidas, o Núcleo Central investiu em uma dinâmica de integração com todos os
participantes, realizada em fevereiro de 2012, no I Seminário de Planos de Cultura, em
Brasília. Esse seminário promoveu duas ações: a primeira foi a capacitação dos agentes
selecionados para atuarem nos estados e municípios, assessorando a elaboração dos PMCs; a
segunda foi a realização de um encontro entre secretários e dirigentes de cultura. Nesse
evento, houve ainda a realização de dinâmicas de interação, visando criar laços de confiança e
alinhamento sobre a importância do compromisso assumido frente ao desafio de assessorar os
municípios na construção dos PMCs.
3 Os nomes dos integrantes das equipes central e local estão detalhados nos apêndices 1 e 2 desse trabalho,
respectivamente.
56
2.1.2 Desenvolvimento da Metodologia de Planos
O processo de construção metodológica para a elaboração de Planos Municipais de
Cultura se iniciou em janeiro de 2012, por meio das reuniões internas da equipe da EAUFBA,
em diálogo permanente com o MinC. A metodologia foi desenvolvida a partir do roteiro de
Planos de Cultura elaborado pelo próprio Ministério, disposto no Guia de Orientações para
Municípios: Perguntas e Respostas (MINC, 2012b), pautando-se em um trabalho intenso de
coadunar os princípios da participação social e de fortalecimento da diversidade cultural ao
processo de formulação de políticas públicas de cultura, com estrita observância aos
princípios da Administração Pública.
Os pontos levantados pelas equipes das universidades envolvidas e do MinC, em
reunião realizada em 11 de janeiro de 2012, em Brasília, estabeleceram diretrizes e critérios
para a formulação da metodologia, discriminadas a seguir:
a) uniformização da metodologia de construção de Planos de Cultura, de modo a
atender estados e municípios, com enfoque participativo e contemplando a diversidade
cultural;
b) valorização dos Conselhos Estaduais e Municipais de Cultura como protagonistas
no processo de formulação e validação dos Planos de Cultura;
c) envolvimento de representante do Poder Legislativo no grupo de trabalho para
construção do Plano;
d) incentivo à constituição de GT interno nas Secretarias dos Municípios;
e) diagnóstico do estágio atual dos Sistemas de Informações / Base de dados /
Indicadores Culturais;
f) documentos básicos para consulta: Plano Diretor Municipal, Leis de Cultura etc.;
g) respeito aos princípios de Territorialidade, Participação e Setorialidade;
h) utilização da síntese das demandas levantadas nas Conferências em torno dos cinco
eixos do Plano Nacional de Cultura.
Destacam-se os itens a, b, g e h devido à ênfase dada à importância de se considerar,
na metodologia, aspectos relacionados à participação, à diversidade cultural local e à
territorialização e setorialidade.
Em reunião de consolidação metodológica, realizada em fevereiro de 2012, o então
Secretário de Articulação Institucional do MinC, Roberto Peixe, teceu considerações acerca
57
do caráter inovador e do passo importante para as políticas públicas de cultura no país, tais
como: o ineditismo do trabalho de elaboração de Planos de Cultura, que contribuiu para a
integração na gestão pública, reunindo entes federativos, universidades e o protagonismo da
sociedade; os esforços na direção de transformar a Lei do PNC em realidade, sendo o SNC a
estrutura de articulação global dos Planos e demais mecanismos da política pública nacional;
o fortalecimento dos órgãos de gestão pública, com destaque para o órgão de cultura dos
estados e municípios e os Conselhos de Política Cultural, sendo este a principal instância de
representação social junto à esfera pública; e, por fim, o respeito à autonomia dos entes
federados no processo de elaboração dos PMC4.
Nessa reunião, também estava presente o então assessor da Secretaria de Articulação
Institucional, Bernardo da Mata Machado, que destacou a preocupação com a efetividade dos
direitos culturais, apresentados na Constituição Federal de 1988.
Somado às discussões acerca desse processo, a equipe da EAUFBA apresentou um
roteiro preliminar de elaboração de PMC, e após discussões e alinhamentos realizados,
chegou-se à versão final do Guia de Orientação para a Construção de Plano Municipal de
Cultural (UFBA, 2012c), conhecido como Guia 1, que apresentou as premissas e princípios
que balizaram a conduta dos agentes envolvidos e o roteiro metodológico para o trabalho:
- Diagnóstico do desenvolvimento da cultura;
- Desafios e oportunidades;
- Diretrizes e prioridades;
- Objetivos gerais e específicos;
- Estratégias, metas e ações;
- Prazos de execução;
- Resultados e impactos esperados;
- Recursos materiais, humanos e financeiros disponíveis e necessários;
- Mecanismos e fontes de financiamento; e,
- Indicadores de monitoramento e avaliação. (idem, ibidem, p. 7)
Esse documento foi o primeiro de três Guias de Orientação Técnica, conforme será
explicado melhor adiante, e integrou o material didático entregue aos consultores e analistas
técnicos participantes do I Seminário de Planos de Cultura, material esse composto por
publicações do MinC sobre o SNC e PNC e por um CD contendo documentos nacionais e
internacionais de referência sobre o tema.
De acordo com os representantes do Ministério, consolidar instrumentos institucionais
com a participação social não seria tarefa fácil, muito menos em curto espaço de tempo, pois
4 Registros pessoais da autora, referentes aos pontos abordados pelo então Secretário de Articulação
Institucional do Ministério da Cultura durante reunião de definição da metodologia de Planos de Cultura,
realizada nos dias 8 e 9 de fevereiro de 2012, em Brasília.
58
dependeriam da efetividade das instâncias de participação e representação, como as
Conferências de Cultura e os Conselhos de Política Cultural. Segundo eles, para que os Planos
de Cultura não se tornem um instrumento burocrático, deveriam ser elaborados a partir de
uma metodologia que considerasse instrumentos e estratégias que mitiguem tal risco. Por isso,
deveriam ser desenvolvidos e implementados por meio de abertura à participação e controle
social.
Nesse sentido, foram considerados aspectos que promovessem o acompanhamento
sistemático do Plano de Cultura, prevendo tomadas de decisão ao longo da sua execução e
atentando para que não houvesse desvio daquilo que fora planejado. Para tanto, disciplinas
típicas de gestão de projetos foram sugeridas como dimensões para uma gestão mais eficaz, a
saber:
- Escopo: mudanças necessárias à atualização do Plano;
- Integração: articulação interna do Plano e do Plano com outros Planos
definidos;
- Tempo: prazos internos e prazo total de execução;
- Orçamento e Custos: recursos projetados e aplicados;
- Comunicação: formas, meios e públicos;
- Fatores de Riscos: obstáculos previsíveis e imprevistos. (idem, ibidem, p.
15-16)
Por fim, a metodologia explicou que o Plano deveria ser validado pelo Conselho de
Política Cultural, encaminhado para o Executivo e, deste, submetido à apreciação e votação
no Legislativo, retornando ao prefeito para sanção e conversão em lei específica.
2.1.3 Núcleos Locais: primeiras orientações para a construção dos PMCs
O contato inicial com os Núcleos Locais consistiu em orientá-los sobre a realização de
atividades ligadas ao processo que pudessem dar visibilidade política ao trabalho; atentá-los
para a importância da consistência técnica necessária para a qualidade do documento; e,
principalmente, sensibilizar e mobilizar os diversos atores e agentes públicos e culturais, bem
como a sociedade em geral para a construção coletiva dessa peça de planejamento público.
A primeira atividade consistiu na realização de uma reunião com os gestores
municipais, com o objetivo de explicar a importância do protagonismo do órgão gestor de
cultura na construção do PMC e como seria o andamento do trabalho. Depois, foi formado o
núcleo de gestão de concepção do Plano, intitulado Núcleo Executivo Local, com a sugestão
de que fosse constituído por agentes públicos e sociais, preferencialmente com capacidades e
59
competências correspondentes ao trabalho a ser desenvolvido.
Outra orientação dada foi sobre a necessidade de ampliar o diálogo entre o órgão de
cultura e outros organismos municipais, como as Secretarias de Planejamento e da Fazenda,
de modo que o Núcleo Local tivesse, em sua composição, profissionais especializados para o
momento de discussão e formulação das metas e do orçamento do Plano.
Para a consolidação dessas etapas, sequencialmente foram instituídos, através de
Portaria Municipal, os núcleos executivos, a mobilização do Conselho de Política Cultural do
Município, lideranças culturais e, por fim, a realização do evento público de lançamento do
Projeto. A partir dessa conformação, o Núcleo Local, com apoio do Núcleo Central, iniciou o
estudo da metodologia para aprimorar a capacitação dos seus integrantes.
A seguir, explicaremos cada uma dessas etapas e de como elas orientaram o processo
de elaboração dos PMCs.
2.1.4 Conteúdos de apoio e assistência técnica em PMCs
Os três Guias de Orientação Técnica serviram como aporte metodológico do Projeto
para apoiar o trabalho dos consultores e analistas técnicos envolvidos e garantir a qualidade
requerida na elaboração do PMC. O Guia 1 (UFBA, 2012c) trouxe uma visão geral, com
detalhamento completo da metodologia e a descrição das premissas e princípios que
nortearam o processo, servindo de instrumento para capacitar os consultores lotados nos
Núcleos Executivos Municipais.
O Guia de Orientação 2 (UFBA, 2012a), ou simplesmente Guia 2, instrumentalizou as
equipes quanto à organização do documento e possibilitou uma aplicação mais assertiva da
metodologia, sugerindo algumas ferramentas para a organização e sistematização de dados e
informações nas distintas etapas do processo de elaboração do Plano de Cultura, bem como
elucidando importantes questões aos consultores e analistas, tais como:
a) a coordenação e execução do processo de elaboração e implantação do documento
devem ficar a cargo do órgão gestor de cultura;
b) trata-se de um Plano de Estado – lato sensu – e não de governos, com prazo de
execução de dez anos;
c) é um instrumento concreto da política pública para o desenvolvimento local;
d) os principais insumos para o PMC são as demandas vindas das Conferências de
Cultura, podendo haver outras fontes;
60
e) projeto e programas são entendidos como meios para o alcance dos resultados;
f) a importância da sistematização das demandas das Conferências, com o objetivo de
fazer com que a sociedade enxergasse no Plano aquilo que demandara, possibilitando um
reconhecimento das suas necessidades, quando aplicadas, em formato de política pública.
Ademais, o segundo guia apresentou um diagrama demonstrativo do vínculo entre
objetivos, metas e ações, o que contribuiu para uma maior compreensão dos atores envolvidos
sobre o relacionamento entre esses elementos, conforme mostra a Figura 5:
Figura 5 - Diagrama de relacionamento entre objetivos, metas e ações
Fonte: idem, ibidem, p. 8.
Outra contribuição do Guia 2 foi apresentar um glossário denominado Conceitos de
Referência para os Elos da Cadeia de Cultura (Anexo 2), destacando os seguintes termos: elos
da cadeia de cultura, criação, pesquisa, difusão, fruição, formação e memória.
Por fim, o Guia de Orientação 3 (UFBA, 2012b), ou simplesmente Guia 3, apresentou
orientações sobre o Modelo de Gestão do PMC, exibindo uma estrutura que consistiu
basicamente em duas instâncias: gestão político-institucional e gestão executiva
interinstitucional, conforme ilustrado no Quadro 5:
61
Quadro 5 - Estrutura de Gestão para o Plano Municipal de Cultura
Instância de gestão Envolvidos Papeis
Político-Institucional
Conselho Municipal de
Políticas Culturais; Fóruns
de Cultura; Câmaras
Setoriais, etc. e Órgão
Gestor da Cultura
Apoio político e institucional à consecução.
Apreciação de cronogramas e orçamentos globais.
Acompanhamento e avaliação dos objetivos
alcançados, através de metas e indicadores.
Tratamento de novas demandas. Recomendação de
ajustes.
Executiva
Interinstitucional
Órgãos e entidades com
responsabilidades de
execução de ações e Órgão
Gestor da Cultura
Pactuação de cronogramas e orçamentos
específicos.
Monitoramento de metas e ações.
Avaliação de resultados e processos. Articulação
federativa. Fonte: idem, ibidem, p. 5.
2.1.5 Premissas e Princípios: balizadores de condutas
As premissas e princípios estabelecidos para o processo de elaboração dos PMCs
serviram para orientar os atores e agentes envolvidos acerca da melhor conduta a ser adotada
neste processo, pois destacaram aspectos como o protagonismo local, a autonomia federativa,
aspectos legais e, sobretudo, a importância da participação, da transparência e objetividade
necessárias e fundamentais para a construção de uma peça de planejamento público que
pudesse considerar os princípios democráticos e republicanos.
De acordo com Costa (2014, p.71), as “premissas correspondem às ideias, suposições
ou fatos que balizarão o trabalho a ser desenvolvido e os princípios são as regras que
orientarão a conduta de todos os participantes”. Como premissas, a metodologia destacou que:
a) o processo de elaboração do Plano deve ser participativo, ou seja, propor um
intenso diálogo entre o poder público e a sociedade;
b) o processo de planejamento deve ser político e técnico, exigindo poder de
articulação e negociação política, bem como um trabalho técnico que proporcione um
documento final com a consistência desejada e necessária;
c) o Plano é integrado e compõe o planejamento do desenvolvimento municipal,
isto é, trata-se de mais um plano de desenvolvimento para o município e, portanto, deve ser
integrado às políticas públicas locais. É preciso ter visão ampla das dinâmicas culturais que
constituem o município e suas relações com outras áreas da administração pública;
d) o Plano Municipal é alinhado aos Planos Nacional e Estadual, devendo haver
uma sinergia entre eles, no sentido de proporcionar políticas públicas alinhadas e integradas
62
com foco no desenvolvimento local.
Como princípios, a metodologia destacou:
a) protagonismo municipal – deve ser assumido pelo órgão gestor de cultura, que
terá a função de coordenar a elaboração do PMC e será o responsável pela sua concretização;
b) diálogo interinstitucional e social – deve ocorrer de forma intra e
extrainstitucional, valorizando a participação de outros setores da Administração Pública e
representantes da sociedade civil;
c) legitimidade – reafirma a importância de adotar procedimentos legais e seguir a
legislação correspondente;
d) visão sistêmica e territorial – necessidade de se ter clareza sobre um planejamento
integrado, conhecer amplamente a política pública de cultura aplicada no município e sua
relação com a cultura local. Trata-se também de conhecer a sua integração com as outras
políticas, reconhecendo o território e a relação da cultura para além dele. Esse princípio é de
suma importância para o desenvolvimento das políticas púbicas de cultura, especialmente
pelo fato de que o todo é resultado das partes que o compõem, por isso coloca a relação das
políticas culturais locais em uma dimensão central dentro do planejamento público;
e) transparência e objetividade – consiste em promover ampla comunicação e
divulgação de todas as etapas e o fácil acesso da população aos diversos registros e
documentos produzidos no processo de elaboração do PMC.
2.1.6 Descrição dos conteúdos: etapas de elaboração dos Planos
2.1.6.1 Etapa I: como estamos?
O conteúdo abordou a caracterização do município, a partir do apontamento de
questões relevantes para essa etapa, com temas como o histórico sobre a sua formação, as
condições de vida dos cidadãos e a sua dinâmica social, econômica e cultural. Nessa direção,
têm-se os seguintes pontos a serem trabalhados:
- Aspectos físicos: localização, clima, recursos ambientais;
- Demografia: origem, perfil e dinâmica populacional – etnia, faixa etária,
gênero, ocupação e classe social; distribuição urbana e rural;
- Economia: tradição e vocação econômicas; perfil de produção, distribuição
e consumo; renda da população; contribuição para o produto interno bruto
estadual e nacional;
- Aspectos sociais: especialmente educacionais;
63
- Aspectos culturais: expressões e manifestações relevantes;
- Aspectos político-institucionais: fatos históricos relevantes estruturadores
do poder local, situação de movimentos e organizações sociais, aparato legal.
(UFBA, 2012c, p. 9)
Além disso, inclui a orientação para a elaboração do diagnóstico cultural, de modo a
mapear vocações e potencialidades e fragilidades e obstáculos que se apresentam à realidade
cultural do município, bem como identificar desafios e oportunidades que possam ser tratados
no PMC.
2.1.6.2 Etapa II: onde queremos chegar?
Nesta etapa, diretrizes, prioridades, objetivos, estratégias, metas e ações foram
traçados, ou seja, o que seria necessário atingir, conquistar e superar no prazo de dez anos. Foi
possível obter também uma visão de futuro e projetar uma “situação desejada para o
município, desafiadora e viável no prazo do horizonte temporal do Plano” (idem, ibidem, p.
11).
As diretrizes são linhas de orientação que servem para balizar o alcance de objetivos,
metas e execução das ações. As prioridades, em sintonia com as diretrizes, dão foco ao
planejamento, estabelecendo abordagens que mereçam atenção especial para a visão de
futuro.
Os objetivos, por sua vez, são resultados desejados para o alcance do futuro esperado.
Os objetivos gerais são elaborados numa perspectiva mais abrangente, e os específicos,
focados em alvos mais minuciosos. Estratégias são posicionamentos políticos e técnicos que
servem para promover meios de concretização dos objetivos pretendidos, visando tornar o
plano factível.
As metas são alvos tangíveis, quantificados, projetados e alinhados ao tempo de
execução do PMC, sendo a descrição concreta para que os objetivos possam ser alcançados.
As ações são os projetos e atividades propostos no documento para que as metas sejam
efetivamente concretizadas e, quando realizadas, dão efetividade e eficácia ao Plano de
Cultura.
2.1.6.3 Etapa III: como fazer e como chegaremos lá?
Essa etapa se relacionou com os prazos de execução dos objetivos, resultados e
64
impactos esperados, bem como os recursos disponíveis e necessários e mecanismos de fontes
de financiamento. O objetivo aqui foi estruturar o PMC como uma peça efetiva de
planejamento, integrando-o às peças orçamentárias do município. Para tal, foram consideradas
as fases de execução das ações propostas em função da meta ou metas estabelecidas para o
atendimento do objetivo traçado, que pode ser alcançado em curto, médio e longo prazo, em
um intervalo temporal de dez anos.
De acordo com a descrição no Guia 1, os resultados são as consequências esperadas
pelo cumprimento das metas, enquanto os impactos são o registro dos efeitos que se espera
que ocorra na realidade local, produzindo transformações pela ação pública. Juntos, estão
associados ao monitoramento e à avaliação da execução do PMC, sendo importante que sejam
suficientemente claros e concretos. Cada meta estabelecida no PMC deve possuir resultados e
impactos diretamente ligados à sua execução, que podem ser ampliados a partir do
relacionamento direto entre diferentes metas. Estão associados ao monitoramento e avaliação
da execução do Plano.
Os recursos necessários relacionam-se ao cumprimento das metas e ações, podendo ser
humanos, materiais, tecnológicos, financeiros, dentre outros. Devem ser considerados a partir
da capacidade orçamentária do município, pois se espera a exequibilidade do Plano, para que
ele possa atender de forma plena às demandas da sociedade. Já os mecanismos e fontes de
financiamento para o cumprimento do PMC estão relacionados aos instrumentos de aplicação
das fontes de financiamento.
2.1.6.4 Etapa IV: como gerir avanços?
A quarta e última etapa da metodologia se relacionou aos Indicadores de
Monitoramento e Avaliação e ao Modelo de Gestão do PMC. Os indicadores servem de
parâmetro para medir a situação futura em relação à atual, contribuindo, portanto, para o
monitoramento e avaliação das metas estabelecidas no Plano. Isto acontece a partir da
apuração dos resultados das ações associadas às metas. A metodologia explicou que os
indicadores de monitoramento e avaliação deveriam ter relação direta com os objetivos e
metas do PMC.
Na fase final dessa etapa, o Guia 1 propôs um modelo de gestão baseado em duas
instâncias, uma de acompanhamento e outra de caráter executivo. Sugeriu que o papel de
acompanhamento ficasse a cargo do Conselho de Políticas Culturais, enquanto a instância de
caráter executivo fosse assumida pela Administração Pública.
65
Finalmente, esse Guia apresentou, através do tópico Metodologia Participativa o tema
da participação social como um caráter diferencial e descreveu o que é denominado como “O
Espaço privilegiado dos Conselhos de Política Cultural”, reforçando o caráter participativo do
plano e a importância das instâncias de representação cultural, estimulando a compreensão
sobre “o sujeito político, individual ou coletivo a partir de uma concepção de participação,
que estimule a cidadania e aprofunde a democracia”. (UFBA, 2102a, p. 16)
2.2 Metodologia aplicada: roteiro metodológico e outros procedimentos
A metodologia aplicada nessa edição foi composta do roteiro definido para a
elaboração do PMC (Figura 6). Ela foi dividida em quatro etapas, já descritas anteriormente,
sendo cada uma delas objeto de validação no Conselho de Política Cultural de acordo com o
plano de trabalho definido pela equipe local.
Figura 6 - Etapas de elaboração dos Planos Municipais de Cultura
Fonte: UFBA, 2012c, p. 8.
O trabalho de aplicação da metodologia de Planos foi realizado a partir de visitas
técnicas, realizadas in loco pela equipe central, com vistas a prestar esclarecimentos e
orientações aos gestores municipais sobre o Projeto e procedimentos a serem adotados pelo
município. Essas visitas adotaram os seguintes procedimentos definidos antecipadamente pela
66
equipe central:
a) reunião com o gestor de cultura, com o objetivo de escutar sobre a realidade local,
oferecer explicações sobre o projeto e a dinâmica do trabalho a ser realizado localmente e
assessorá-lo quanto aos procedimentos a serem adotados pelo município para o processo de
realização do Plano;
b) reunião de alinhamento e fortalecimento metodológico com as equipes de execução
do trabalho, evento que durava aproximadamente dois dias;
c) participação em reuniões com o Conselho de Política Cultural, quando necessário,
para oferecer esclarecimentos sobre o Projeto e sobre o seu papel no trabalho de
desenvolvimento dos Planos; e,
d) participação em eventos públicos, sempre com o objetivo de promover
esclarecimentos sobre o projeto, a metodologia e, por conseguinte, como observadores,
visando contribuir com o processo participativo, orientando gestores e equipes locais sobre
procedimentos ou estratégias que pudessem contribuir para a sensibilização e mobilização dos
processos locais. Em alguns casos, o MinC se fazia presente nesses encontros, com o objetivo
de fortalecer o aspecto político que complementaria o trabalho dos Planos.
A equipe central se dividiu para atender os municípios, ficando cada um dos
integrantes responsável por quatro cidades, porém as visitas técnicas eram realizadas sempre
em dupla. Após a realização dessas visitas, a equipe se reunia para compartilhar impressões,
promover um aprendizado coletivo e tomar decisões em relação a cada um dos Planos em
desenvolvimento.
Além das visitas técnicas, foram adotados procedimentos que tinham como objeto a
leitura e avaliação dos documentos dos Planos de Cultura que estavam em processo de
elaboração. Ficou estabelecido que os documentos receberiam três revisões, duas processuais
e uma final, nas quais todas as orientações e avaliações seriam feitas em formato de pareceres
técnicos e, às vezes, complementadas com contato telefônico.
Para que isso fosse eficaz, foi mantida uma prática de comunicação sistemática entre a
equipe central e os núcleos executivos. As equipes de consultores locais receberam
equipamentos telefônicos a fim de facilitar a comunicação, além de fazerem uso dos
instrumentos de comunicação digital, que consistiam basicamente em e-mail e skype (este
último para diálogos mais extensos ou para conversas mais demoradas).
Os núcleos locais foram orientados a elaborarem um plano de ação indicando todas as
atividades a serem desenvolvidas, com prazos definidos e responsáveis pela atividade. Por
fim, ocorreram os três seminários, também já descritos, cuja importância se deu
67
especificamente para reforçar o aspecto técnico e político do Plano, já que eram realizados em
parceria com a equipe da SAI/MinC.
Diferentemente do primeiro e terceiro seminários, o segundo se deu no meio do
processo, em agosto de 2012, e nele foi dedicado maior tempo ao trabalho de aprimoramento
da metodologia, através do Guia 2. Esse encontro resultou na reunião de todos os núcleos
executivos dos Planos, alguns gestores e servidores dos órgãos de cultura, promovendo a
realização de um trabalho integrado e estimulando os diálogos e trocas de experiências, além
da aproximação maior entre as equipes de consultores e analistas da UFBA. Em cada um dos
seminários, foram aplicados questionários avaliativos sobre esses eventos e realizadas
avaliações de processo do Projeto, que incluíam panorama local, condutas das equipes e
desenvolvimento das atividades.
2.3 Processo de desenvolvimento do Projeto
A premissa de se promover um processo participativo exigiu do MinC, da UFBA, dos
municípios e de seus gestores e núcleos executivos empenho para enfrentar os desafios
pertencentes às dinâmicas culturais municipais. Alguns fatores ocorreram de acordo com o
planejado, mas no decorrer da empreitada, foram feitos ajustes no direcionamento e condução
das atividades a serem desempenhadas.
Apesar do trabalho intenso de preparação por parte do MinC e da UFBA, o caminho
trilhado durante o período de preparação e aplicação da metodologia dos Planos foi
permanentemente rodeado de desafios. O primeiro deles teve relação com a estratégia para
contratação das equipes de consultores e analistas locais, sendo atribuição da gestão municipal
indicar tais profissionais, ficando a UFBA com a única responsabilidade de fazer a análise
curricular, o que deixava o coordenador do Projeto extremamente preocupado, por considerar
que isso não era suficiente e que seria necessária a realização de entrevistas ou algo similar,
que pudesse atestar a competência técnica e o comprometimento dos candidatos para as
equipes.
De fato, houve muitos registros de problemas com os representantes selecionados,
resultando, nos casos mais críticos, em desligamento e substituições, prejudicando o ritmo dos
trabalhos em curso. Esses empecilhos também ocorreram em virtude da interferência de
fatores políticos, especialmente pelo Projeto ter se desenrolado durante o período de eleições
municipais.
68
Outro aspecto preocupante ocorreu na etapa preparatória de realização do I Seminário
de Planos de Cultura, quando a equipe da EAUFBA percebeu que possuía informações
superficiais sobre os contextos das políticas e gestão cultural nos municípios indicados. Em
face dessa dificuldade, foram desenvolvidos dois questionários já citados anteriormente – um
relacionado ao aspecto institucional e o outro, à infraestrutura da cultura – para a obtenção de
informações sobre cada município participante.
Apesar de o projeto ter conseguido coletar informações de todos os municípios, alguns
questionários foram parcialmente preenchidos, reflexo da falta de acesso a documentos e
registros que seriam fonte primária das informações requeridas, ou mesmo da falta desses
documentos e registros. Em que pese essa dificuldade, foi possível, a partir dos dados
coletados, subsidiar adequações em pontos da metodologia e definir a conduta a ser adotada
pela equipe de consultores, a exemplo de como atuar junto aos Conselhos de Política Cultural.
A não conclusão, por alguns municípios, dos planos de trabalho orientados para a
organização das atividades a serem realizadas demonstrou a primeira fragilidade quanto às
competências em planejamento. Uma das saídas encontradas foi sugerir que tais documentos
fossem sendo construídos de acordo com cada etapa que iria se iniciar. Essa estratégia
promoveu melhor entendimento de como elaborar um planejamento de atividades e um
melhor acompanhamento por parte da equipe central.
As visitas técnicas inicialmente cumpriram o esperado, mas, conforme o andamento
dos trabalhos e a ocorrência de problemas específicos em algumas cidades, passaram a
demandar mais tempo dos consultores da UFBA, o que exigia uma constante readequação no
cronograma de viagens, prejudicando o planejamento elaborado.
As primeiras visitas técnicas possibilitaram o levantamento do perfil do município
quanto ao Plano de Cultura, levando em conta a postura dos gestores (prefeito e gestor
cultural), sobre a composição e atuação dos Conselhos de Política Cultural e sobre o
envolvimento da sociedade civil. Para cada um desses municípios, foram adotadas estratégias
consideradas adequadas para o caso, muitas delas com a contribuição das equipes de
consultores e servidores comprometidos com a importância do PMC.
Duas situações demandaram maior cautela da equipe central: primeiro, o nível
inadequado de atenção do gestor municipal, tanto quando ele não apresentava disposição e
compreensão necessárias sobre o Plano de Cultura, como quando ele se mostrava interessado,
mas tinha pouca informação; segundo, o interesse precário de diversos segmentos e do
próprio Conselho de Política Cultural em conhecer a metodologia e identificar quais papéis
deveriam desempenhar.
69
Um ponto observado no contexto dos órgãos de cultura foi o pouco envolvimento dos
servidores públicos, sem motivo explícito. Não se apurou a razão, se era pelos parcos recursos
humanos desses órgãos ou pela pouca sensibilização das equipes de servidores, mas parece-
nos que houve uma conjugação de fatores que poderiam explicar essas situações. De qualquer
forma, era evidente que havia um desconhecimento sobre o Plano de Cultura, sua importância
e necessidade.
Um questionamento comum dos representantes municipais e das equipes locais foi o
porquê de o trabalho ter sido conduzido pela UFBA e não por universidades da região. Um
dos principais argumentos utilizado para essa indagação foi que as instituições locais teriam
mais conhecimento sobre a realidade do município do que a universidade baiana. Os
esclarecimentos e as estratégias de abordagem da equipe central permitiram dirimir as dúvidas
e dissipar desconfianças, porém houve casos em que esses receios resultaram em prejuízo
para o andamento dos trabalhos, especialmente nos municípios da região sul do país.
Já em relação à aplicação da metodologia propriamente dita, o trabalho de
fortalecimento metodológico era sempre aberto, podendo agregar quaisquer interessados,
porém o direcionamento era para a equipe de execução. Como dito antes, tinha-se um
panorama diverso e, por mais que se planejasse o encontro, por vezes aconteciam situações
que demandavam a revisão do cronograma de trabalho.
Na etapa de realização do diagnóstico, em que pese a metodologia proposta pela
UFBA, novas metodologias de desenvolvimento dos trabalhos foram surgindo, tendo sido
compartilhadas no II Seminário e algumas delas incorporadas ao Projeto. Destacaram-se,
nesse ponto, a de Fortaleza, voltada para a elaboração de instrumentos de coleta de
informações e organização de seminários, e a de São Caetano do Sul, referente à organização
e sistematização dos documentos municipais sobre o campo cultural.
A cada etapa finalizada, a orientação era de que fosse feita uma reunião com o
Conselho de Políticas Culturais para validação do Plano. Porém, alguns municípios não
possuíam essa instância colegiada ou, quando tinham, ela era inoperante. Nesses casos, essas
cidades foram orientadas a instalar um fórum representativo com atribuições de Conselho e a
equipe da EAUFBA era, em algumas situações, deslocada para o município para contribuir
com a mobilização e capacitação dos integrantes.
De modo geral, o processo participativo dependeu fortemente do entendimento e da
motivação do gestor. Alguns municípios investiram significativamente em ações de
sensibilização, organizando encontros e definindo projetos de articulação social e
administrativa; outros decidiram que seria suficiente centralizar o trabalho no órgão de
70
cultura, com pontuais encontros de escuta; outros municípios, ainda, investiram na realização
de Conferências de Cultura como espaço de escuta (processual) ou de apresentação final do
documento.
As demais etapas de elaboração do Plano se realizaram com menos visitas técnicas,
considerando que a fase preparatória e de capacitação foi cumprida, mas também por
demandarem mais capacidade analítica dos profissionais locais envolvidos para o
cumprimento das etapas subsequentes, ficando a cargo da UFBA revisar tais documentos e
emitir pareceres técnicos com novas orientações de ajustes. Buscou-se respeitar sempre a
autonomia do município em acolher ou não tais recomendações, pois, como ficou claro nas
premissas, a responsabilidade do Plano era do município e não da consultoria.
Por fim, é relevante registrar que os seminários foram considerados componentes
essenciais, por terem sido espaços de integração e de trocas. Com exceção do I Seminário,
que privilegiou o aspecto político, os outros cumpriram com a determinação de estarem
voltados principalmente para orientações técnicas. Apesar disso, poucas foram as equipes que
realmente conseguiram apreender a metodologia de Planos. A questão que fica é: como não
privilegiar os aspectos políticos, se a própria definição de política cultural adotada pelo MinC
envolve, sobretudo, uma mudança de comportamento? A transformação que se deseja não
ocorre apenas pela implantação das políticas, mas também a partir do trabalho de
sensibilização política, a fim de que os diferentes atores e agentes compreendam a sua real
importância, ainda mais considerando que o PMC é um documento que vem alicerçado em
princípios democráticos e que, em um país diverso e plural, estará sempre sujeito a diferentes
interpretações.
Todos os aspectos acima destacados têm relação direta com o processo metodológico.
Apesar de a equipe central ter tido um nível limitado de intervenção nessas questões locais,
um conjunto de deliberações foram tomadas em prol de um bom desenvolvimento dos
trabalhos, a exemplo da decisão de ampliar o cronograma de trabalho para seis meses, de
modo a possibilitar aos municípios concluírem as etapas pendentes, o que melhorou o
resultado geral da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA.
2.4 Projeto MinC-UFBA: 2ª Edição
Para a segunda edição da parceria entre o MinC e a UFBA, consolidada através do
projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância, foi
71
considerada a experiência inicial realizada com os vinte municípios, notadamente no que se
refere à importância do aporte formativo sobre conteúdos relacionados ao campo da cultura.
A segunda edição também foi fruto da necessidade de ampliar o número de municípios
participantes.
Dessa vez, o foco foi a formação em planejamento público de gestores e
representantes da sociedade civil, visando expandir o conhecimento técnico sobre elaboração
de PMC. Para aumentar o conjunto de municípios simultaneamente atendidos, foi utilizada a
plataforma moodle, específica para educação à distância (EaD) e já empregada em outras
ações formativas realizadas tanto pela EAUFBA como pelo MinC.
A partir dos objetivos postos nas duas edições, foi priorizada a criação de condições
para que os PMCs pudessem ser elaborados em consonância com o SNC e com as metas do
Plano Nacional de Cultura. Além da primeira meta, que demanda que 60% dos municípios
devem estar com seus Sistemas de Cultura institucionalizados, também foi levada em
consideração a meta 36, que demanda a capacitação de gestores e conselheiros de cultura em,
ao menos, 30% dos municípios brasileiros.
A escolha do MinC por um processo de formação EaD decorreu dos resultados obtidos
na primeira edição, principalmente os verificados na fase de avaliação, como explicaremos
melhor posteriormente. Além disso, vale registrar os ganhos obtidos nos Planos Municipais
que foram construídos a partir de processos participativos, entre os quais frisamos o
aprofundamento na discussão sobre a importância do reconhecimento da diversidade cultural
e de como ela se expressa localmente.
O novo escopo do Projeto demandou novas decisões, como a ampliação da equipe
executiva e a contratação de profissionais para a elaboração de conteúdos e orientações
pedagógicas. Além disso, fez-se uso de tecnologias da informação como meio de difusão do
conhecimento e foram construídas ferramentas digitais para dar suporte à etapa de elaboração
de minutas de Planos de Cultura e registros de experiências locais.
O processo formativo foi dividido em três momentos distintos:
a) fase de aplicação dos módulos básicos, com aporte de conteúdos voltados para o
campo da cultura, distribuídos em seis módulos, sendo que o primeiro se dedicou a promover
orientações sobre o ambiente virtual;
72
b) fase de aplicação dos módulos com aporte de conteúdos específicos para a
elaboração de Planos, distribuídos também em seis módulos, simultaneamente com o
preenchimento do template5; e,
c) realização de Encontros Regionais com os municípios que chegaram até o final do
preenchimento do roteiro de plano, tendo sido convidados todos aqueles que, em algum
momento, interagiram na formação através do moodle. Esses encontros serviram também para
oferecer suporte metodológico presencial e realizar, em parceria com os participantes, uma
avaliação da fase formativa.
Desta forma, consideramos que essa edição contribuiu para o aporte de assistência
técnica aos entes municipais e para a maior apropriação, por parte dos representantes locais
envolvidos, de conhecimentos específicos sobre instrumentos de gestão, visando o
cumprimento das metas 01 e 36 do PNC.
2.4.1 Contextualização
A indicação dos municípios para participarem da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA
foi realizada pelo MinC, através de carta-convite, tendo como principal critério de
participação a adesão do município ao SNC. Enquanto isso, a equipe da EAUFBA manteve
reuniões periódicas para o trabalho de planejamento. Novamente, o processo se deu em
consonância com os interesses relacionados à instituição de políticas públicas de cultura de
forma participativa e que considerassem a diversidade cultural.
O início dessa edição ocorreu em setembro de 2014, em consonância com o período da
eleição presidencial, o que dificultou uma maior atuação do MinC na mobilização dos
municípios. Nesse contexto, a equipe teve que realizar um exaustivo trabalho de articulação
municipal, subsidiado pelo envio de correspondências, telefonemas e formulários de
inscrição, elaborados no SurveyMonkey6. Como resultado, 439 municípios se inscreveram e
1.003 pessoas foram cadastradas, o que representou um aumento de mais de vinte vezes do
número de municípios participantes na primeira edição.
Com o escopo quantitativo ampliado, foi necessário aumentar a equipe, incorporando
profissionais da área de tecnologia para atuarem no ambiente virtual, o que deu início a um
5 “Um template é um modelo a ser seguido, com uma estrutura predefinida que facilita o desenvolvimento e
criação do conteúdo a partir de algo construído a priori”. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2013) 6 Ferramenta digital gratuita que serve para apoiar o desenvolvimento de pesquisas.
73
novo processo de descobertas, sinergias e compreensão sobre o objeto de trabalho. Uma
equipe complementar se formou em torno do desafio de realizar, pela primeira vez, uma
formação baseada em metodologia EaD para a formulação de políticas públicas de cultura, em
parceria com governos locais.
A metodologia também passou por uma revisão e reestruturação7. Ganhou volume e
considerou os aspectos já descritos como importantes e fundamentais para ampliar a
compreensão sobre cultura, políticas culturais, planejamento público, Sistema Nacional e
Municipal de Cultura, além da própria capacitação em Planos de Cultura. Uma equipe de
conteudistas foi contratada especialmente para promover um alinhamento teórico-conceitual,
elaborando módulos específicos sobre esses temas.
Os módulos de elaboração de planos municipais de cultura, preparados por Neuza
Britto8, foram originados a partir dos Guias de Orientação da 1ª Edição, ganhando robustez ao
apresentarem conhecimentos sobre Administração Pública, além de um maior detalhamento
dos conteúdos relacionados às etapas de elaboração de Planos. Foram incorporados, ainda,
outros temas e conceitos necessários à formação em planejamento e gestão cultural, de modo
que ampliasse a capacitação na construção dessa peça de planejamento.
Diferentemente da primeira edição, o tema da diversidade cultural apareceu mais
claramente nos módulos básicos, que passaram a abarcar também material complementar,
como a Convenção da Unesco (2005), a Agenda 21 da Cultura (CGLU, 2004) e os
documentos do SNC.
2.4.2 Estrutura da 2ª Edição
Para viabilizar o Projeto, foram considerados os seguintes objetivos específicos na
proposta apresentada ao MinC:
i. Pesquisar sobre o papel, sobre as práticas e sobre as peculiaridades do
processo de planejamento da cultura e de institucionalização do Sistema
Nacional de Cultura no âmbito dos municípios brasileiros.
ii. Conceber e estruturar um ambiente virtual de aprendizagem, com recursos
e ferramentas que permitam prover a capacitação e a assistência técnica para
400 municípios ou 800 participantes e acesso a mais 1.200 pessoas
7 O conteúdo pedagógico da formação está detalhado no Anexo 1. 8 Neuza Hafner Britto, especialista em planejamento público, foi consultora convidada do Projeto Minc-UFBA e
principal responsável pela metodologia de Planos Municipais de Cultura. Ela idealizou a metodologia, junto com
o Prof. Vicente Federico, e treinou os consultores e analistas técnicos que atuaram nas duas edições do Projeto.
74
integrantes de grupos de trabalho de elaboração de planos municipais de
cultura.
iii. Criar e realizar uma capacitação em elaboração de planos municipais de
cultura, no formato de ensino à distância (EAD), com carga horária de 120
horas entre conteúdos, atividades dirigidas e elaboração do produto final.
iv. Organizar encontros semipresenciais para reforço e compartilhamento de
conteúdos e relações interpessoais, bem como acompanhamento de tarefas.
v. Organizar uma estrutura flexível de suporte técnico para elaboração de
planos envolvendo assessoramento presencial e à distância. (EAUFBA,
2013, p. 6)
O Projeto, que teve duração de 18 meses, foi estruturado em duas fases, sendo a
primeira de adequação do ambiente moodle e de seleção de municípios e a segunda de
desenvolvimento de ferramentas e estruturas para a formação, como mostra o Quadro 6:
Quadro 6 - Fases de Execução - 2ª Edição
Fase I – Adequação do ambiente moodle e seleção de municípios
Etapa I – Montagem do ambiente virtual de aprendizagem
- Criação da estrutura tecnológica de apoio ao formato EaD;
- Pré-teste do curso;
- Preparação das instalações e seleção das equipes;
- Implantação da estrutura de gestão do Projeto;
- Definição do calendário do curso;
- Registro do curso na Pró-Reitoria de Extensão;
- Criação do modelo de avaliação e monitoramento do Projeto;
Etapa II – Mobilização e seleção dos municípios e capacitação dos formadores
- Processo de articulação com os entes municipais e instâncias representativas;
- Estruturação de meios de comunicação, como páginas web, redes sociais e videoconferências;
- Inscrição dos municípios e seus respectivos representantes;
- Formação da equipe de conteudista e tutores;
Fase II – Desenvolvimento de ferramentas e estruturas tecnológicas e presenciais para a formação
Etapa III – Desenvolvimento do curso EaD
- Estruturação e realização do evento de abertura, de motivação e mobilização;
- Operação das atividades do ensino a distância;
- Gerenciamento das atividades de monitoria, análise e avaliação da participação;
- Desempenho de cada município e de seus representantes;
Etapa IV – Realização de eventos semipresenciais
- Estruturação das condições físicas e tecnológicas; mobilização dos participantes, realização de
videoconferências;
- Articulação com possíveis parceiros;
- Preparação das equipes;
- Avaliação de resultados;
Etapa V – Assistência técnica para a elaboração de Planos Municipais de Cultura
- Encontros de Formação Presencial;
- Atendimento Especializado para Municípios Específicos Fonte: idem, ibidem.
75
A estrutura de suporte pedagógico foi ancorada em uma equipe de conteudistas e em
um grupo inicial de 40 tutores – quantidade reduzida após a primeira avaliação –, que
cumpriram carga horária semanal de 10 horas de trabalho, atuando em duplas. O critério
inicial para a formação das duplas foi que um profissional fosse da área da cultura, políticas e
gestão cultural e o outro fosse da área de planejamento e gestão pública. No entanto, não foi
possível atender rigorosamente a esse critério devido ao número muito reduzido de inscritos e
selecionados da área de planejamento.
Cada dupla atendeu a um grupo de aproximadamente 20 municípios. Os tutores
atuaram como facilitadores, auxiliando os participantes a assimilarem os conteúdos
apresentados na formação. Após a fase de aplicação de conteúdos, alguns tutores trabalharam
como orientadores de template, apoiando os participantes na elaboração de minutas dos
Planos de Cultura. Dessa forma, os participantes tiveram à disposição uma equipe de
profissionais devidamente capacitados para dar suporte técnico através de videoconferências e
orientação personalizada à distância.
Como critério de participação, os municípios selecionados tiveram que indicar dois
representantes municipais, sendo um deles da Administração Pública ou do Conselho de
Política Cultural, que deveriam atuar como coordenadores do processo, e um representante da
sociedade civil, que poderia ser do mesmo Conselho ou uma liderança da comunidade
artística e cultural local.
A estrutura para prover suporte e condições para a realização do trabalho, de acordo
com as orientações do Projeto e do MinC, foram de responsabilidade do órgão gestor de
cultura. Dessa forma, o município deveria assegurar ao representante do poder público que as
atividades fossem realizadas dentro da sua carga horária de trabalho, além de prover
infraestrutura tecnológica adequada que possibilitasse ao participante utilizar o ambiente
virtual de aprendizagem.
Após o término da etapa formativa, foram realizados Encontros Regionais, cuja
finalidade foi avaliar o processo e oferecer reforço metodológico aos municípios que não
tinham finalizado a minuta o PMC. Além disso, esses Encontros se configuraram como um
espaço político e técnico, que permitiu trocas de conhecimento entre os participantes e
imprimiu projeção político-institucional para o MinC, para os municípios e para as instâncias
colegiadas. Esses eventos foram realizados nas oito regionais vinculadas ao MinC, sendo o
Nordeste contemplado com dois encontros, devido à grande distância entre os municípios. O
Quadro 7 mostra como cada regional foi dividida:
76
Quadro 7 - Encontros Regionais
Regional Municípios Local de Realização do
Encontro
Bahia /
Sergipe
Bahia: Andaraí, Antonio Cardoso, Araci, Brejões, Conceição
do Almeida, Ibitiara, Jacobina, Nazaré, Pojuca, Salvador,
Santa Brígida, Simões Filho e Tanquinho; Sergipe:
Japaratuba.
Salvador - BA
Centro-
Oeste Goiás: Luziânia. Brasília - DF
Minas
Gerais
Além Paraíba, Arinos, Baependi, Barra Longa, Belo
Horizonte, Betim, Bom Sucesso, Candeias, Conselheiro
Lafaiete, Esmeraldas, Igarapé, Ipatinga, Itabirito, Iturama,
Jaboticatubas, Jequitinhonha, Manhuaçu, Muriaé, Ouro
Branco, Pouso Alegre, Pará de Minas, Paracatu, Paraopeba,
Passos, Ponte Nova, Santana do Paraíso, São Gonçalo do Rio
Abaixo, São João Nepomuceno e Três Pontas.
Belo Horizonte - MG
Nordeste
Maranhão: Barra do Corda, Guimarães, Joselândia, Lago do
Junco e Passagem Franca; Piauí: Água Branca. São Luís - MA
Paraíba: Baraúna; Pernambuco: Escada; Rio Grande do
Norte: São Miguel. Recife - PE
Norte
Acre: Porto Acre; Pará: Cachoeira do Arari, Curralinho,
Portel e Salvaterra; Rondônia: Guajará Mirim; Roraima:
Amajari, Boa Vista e Mucajaí; Tocantins: Miranorte.
Belém - PA
Rio de
Janeiro /
Espírito
Santo
Espírito Santo: Castelo; Rio de Janeiro: Comendador Levy
Gasparian e Saquarema.
Rio de Janeiro - RJ
São Paulo
Bertioga, Birigui, Buritama, Cubatão, Hortolândia, Itatinga,
Jacareí, Nazaré Paulista, Salto, Santos, São José dos Campos,
São Roque, São Vicente, Ubatuba e Várzea Paulista.
São Paulo - SP
Sul
Paraná: Assaí, Nova Esperança e Piraquara; Rio Grande do
Sul: Cachoeira do Sul, Carazinho, Igrejinha, Imbé, Rolante e
Taquari; Santa Catarina: Balneário Camboriú e Xaxim.
Porto Alegre - RS
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015d).
Como último item relevante, houve o cuidado permanente de garantir a geração de
informações para subsidiar a ação político-institucional do MinC, estimular o controle social e
promover espaços para reflexões acadêmicas.
2.4.3 Modelo de Gestão
77
A estrutura de gestão do Projeto requereu, nessa edição, duas coordenações, sendo
uma estratégica e outra técnico-operacional, compostas por representantes da UFBA e do
MinC, como mostra o Quadro 8:
Quadro 8 - Modelo de Gestão da 2ª Edição
Coordenações Atores Atribuições Objetivo
Estratégica
Secretaria de
Articulação do MinC
Responsabilidade
institucional
Tomar decisões estratégicas,
promover a convergência
institucional, a integração e o
acompanhamento dos parceiros
envolvidos.
Escola de
Administração da
UFBA
Responsabilidade
Técnica do Projeto
Técnico-
operacional
Equipe técnica de
profissionais
Responsabilidade pelas
atividades de gestão
geral, pedagógica,
administrativa,
tecnológica e execução
operacional.
Executar o Projeto Pedagógico e
promover apoio técnico
especializado para a elaboração das
minutas dos PMCs.
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015d).
A coordenação estratégica ficou responsável pela tomada de decisões político-
institucionais e à coordenação técnico-operacional coube a responsabilidade pelas atividades
no âmbito da execução do projeto pedagógico. Essa estrutura contou com uma equipe de 15
profissionais (Apêndice 3), que se manteve até o final do processo, destacando que seis
integrantes da primeira edição permaneceram: Ângela Andrade, Ernani Coelho, Kátia Costa,
Lisandra Alcântara, Luana Vilutis, Marcelo Cruvinel e Neuza Britto.
Como produtos finais, foram previstos: a) plataforma de aprendizagem à distância
(moodle); b) material didático composto por doze módulos teórico-conceituais sobre a
elaboração de Planos Municipais de Cultura; c) avaliação de participação e desempenho; d)
realização de dez eventos semipresenciais; e) elaboração de relatórios trimestrais de
acompanhamento do Projeto; e f) formatação e funcionamento do sistema de preenchimento
de minutas de Planos (template) e do sistema de boas práticas.
2.4.4 Equipe pedagógica
O Projeto contou com uma equipe de profissionais especializados em temas adotados
para a formação, incluindo integrantes da equipe gestora que possuíam competências
complementares, sendo eles: um coordenador técnico, um consultor pedagógico, 13
78
conteudistas e 40 tutores, além das equipes de supervisão de tutoria (dois) e de assistência
técnica (quatro). Em virtude da evasão registrada no decorrer da formação, e após a primeira
avaliação de desempenho de tutores, a equipe foi reduzida para 32 tutores.
É importante mencionar que os tutores foram selecionados através de edital público e
a seleção se deu em duas etapas, sendo uma eliminatória e outra classificatória. Profissionais
da primeira edição também participaram desse processo seletivo. Dos 65 inscritos, 44
candidatos eram originários da cidade de Salvador, sete da Região Metropolitana e 14 de
outros estados e regiões brasileiras. Essa equipe possuía, em sua maioria, perfil acadêmico
com experiência na área cultural, alguns deles já atuando, inclusive, na gestão pública da
cultura.
Todos os profissionais envolvidos receberam capacitação específica para o
desenvolvimento do trabalho. Primeiro ocorreu um alinhamento entre os membros da equipe
gestora para promover o reconhecimento das competências. Em fevereiro de 2014, foi
realizada a reunião de conteudistas para apresentação do Projeto, “com ênfase em sua
proposta pedagógica e nos recursos existentes e disponíveis na plataforma Moodle para
operacionalização da formação” (EAUFBA, 2014a, p. 26), que serviu para alinhar a equipe
quanto à definição conjunta das competências a serem estimuladas a partir de cada módulo e
para padronizar a linguagem a ser utilizada, resultando em algumas recomendações acordadas
entre as partes:
. Instrumentalizar os gestores públicos e agentes culturais na
conceitualização de cultura adotada pelo MINC para que os planos de
cultura concebam a tridimensionalidade da cultura em sua formação;
. Proporcionar conhecimentos acerca do Sistema Nacional de Cultura e dos
seus componentes, para que o plano municipal de cultura contemple os
demais elementos do Sistema;
. Prever e criar dispositivos de pertença da formação que podem ser vídeos
ou áudios de 1 minuto, sempre com o mesmo personagem acompanhando
toda a formação;
. O foco da formação e do material didático a ser produzido não é o
participante e sim o município. É preciso que isso apareça no material
didático, especialmente na sugestão de exercícios e questões para o fórum de
discussões, onde os participantes relacionarão os conteúdos apreendidos com
sua realidade local. (idem, ibidem, p. 27)
Entre 04 e 08 de agosto de 2014, foi realizada a Oficina de Capacitação para os tutores
aprovados no edital. O objetivo desse evento foi habilitá-los para o trabalho de orientação
pedagógica dos agentes públicos e representantes da sociedade civil envolvidos na formação
de elaboração dos PMCs e promover maior integração com os conceitos e método utilizados
na formação. Os responsáveis por ministrar essa oficina foram os conteudistas e
79
representantes do MinC, a exemplo de Bernardo da Mata Machado, à época Secretário
Interino da SAI/MinC, que abriu o evento com uma aula magna, além de representantes da
Regional MinC Bahia e Sergipe.
Ainda com o objetivo de fortalecer a equipe, o Projeto contou com dois grupos de
trabalho responsáveis pela condução pedagógica e técnica. Um deles foi a equipe de
supervisão de tutoria, responsável pelo acompanhamento e monitoramento do ambiente
virtual de aprendizagem, controle e avaliação do processo desempenhado pelos tutores. O
segundo foi a equipe de assistência técnica, responsável por assessorar os tutores e
participantes no processo de aplicação e apreensão dos conteúdos relacionados à elaboração
de Plano, sendo que, depois, seus componentes atuaram como orientadores no preenchimento
do template. Essas equipes desenvolveram avaliações conjuntas sobre o processo pedagógico,
sugerindo alterações e intervenções para o aprimoramento do trabalho.
2.5 Plataforma moodle: ambiente virtual de aprendizagem e template – processo
formativo
A plataforma moodle foi estruturada em três espaços distintos. O primeiro, com acesso
exclusivo pela equipe gestora, destinou-se a guardar registros do processo de construção da
formação, incluindo fóruns de discussão da equipe, revisão dos módulos e bibliografia de
organismos internacionais e do MinC. Também foram criadas pastas contendo documentos
administrativos do Projeto, como atas de reuniões. O segundo espaço, disponível para o
acesso dos participantes municipais, foi intitulado Formação para Elaboração de Planos
Municipais de Cultura e composto por quatro áreas, discriminadas a seguir:
a) Introdução ao Ambiente da Formação: espaço inicial com atividades de
ambientação ao moodle, vídeo de boas vindas dos participantes, orientações sobre o ambiente
virtual e sua apropriação, além de fórum de apresentação, onde todos os participantes e equipe
puderam se conhecer. Esse espaço também continha orientações sobre o envio de tarefas
relacionadas aos módulos;
b) Interagindo e Conhecendo o Moodle: composto por um fórum geral, no qual os
participantes puderam postar quaisquer assuntos relacionados à formação, iniciando assim um
diálogo com a equipe; um espaço destinado a tirar dúvidas sobre o moodle e a ferramenta para
chat que, apesar de disponível, foi muito pouco utilizada pelos participantes. Esse item contou
80
também com um espaço intitulado Saiba Mais, destinado a informações adicionais sobre o
ambiente virtual de aprendizagem e outras questões relativas aos conteúdos;
c) Apresentação da Formação: espaço que agrupou o manual do participante, a
apresentação dos módulos e seus objetivos, links para o sítio institucional do Projeto e para a
sua página no facebook, e vídeos elaborados pelos conteudistas;
d) Módulos de Elaboração de Planos: continha os módulos básicos e de elaboração
de Planos. Além disso, incluía também um espaço de interação da equipe com os
participantes, por meio de um fórum geral de discussão; o cronograma da formação; um
quadro de avisos, e links para o template e para o sistema de boas práticas.
Essa estrutura do moodle possibilitou interações entre participantes-conteúdos-tutores;
participantes-equipe; participantes-conteúdos complementares e participantes-participantes.
Para finalizar o preparo da página dessa plataforma, foi feita a customização do
ambiente virtual, com vídeos animados inseridos nas páginas de introdução de cada módulo.
É relevante mencionar que as animações tomaram como base o tema diversidade de
expressões que identificavam a região à qual estava relacionado cada grupo de municípios.
Depois foi realizado o pré-teste da formação, que consistiu na interação dos tutores com a
plataforma moodle, sob a coordenação da supervisão de tutoria. Nessa fase, foi possível
realizar alguns ajustes e correções no ambiente. Por fim, a Superintendência de Tecnologia da
Informação da Universidade Federal da Bahia (STI/UFBA) cadastrou os participantes.
Os municípios foram divididos por Regional MinC e reunidos em 21 grupos de
trabalho, batizados com nomes de compositores brasileiros, como apresenta o Quadro 9.
Quadro 9 - Agrupamento dos Municípios
Regional Organização dos
Municípios
Nome dos
grupos
Número de
Municípios por
grupo
Número de pessoas
cadastradas
Bahia/Sergipe 3 GTs, segundo o número
de habitantes
Caetano Veloso 22 37
Gilberto Gil 22 41
Raul Seixas 23 44
Centro-Oeste
Municípios dos Estados de
Goiás, Mato Grosso e Mato
Grosso do Sul foram
agrupados junto aos do
Amazonas
Almir Sater 21 33
Minas Gerais 3 GTs, segundo o número
de habitantes
Cazuza 20 34
Chico Science 21 40
Milton
Nascimento 20 37
Nordeste Organizados em 4 GTs Djavan 23 41
81
(AL, CE, MA, PB, PE, PI e
RN)
Lenine 20 40
Luiz Gonzaga 19 34
Zeca Baleiro 34 62
Norte
Municípios do Pará foram
reunidos em um grupo e
municípios de Rondônia,
Roraima e Tocantins, em
outro grupo.
Gonzaguinha 20 30
Zé Ramalho 20 37
Rio de janeiro e
Espírito Santo
Municípios do Espírito
Santo e Rio de Janeiro
reunidos com os do Acre
Tom Jobim 22 45
São Paulo 3 GTs, segundo o número
de habitantes
Cartola 20 40
Chico Buarque 21 39
Rita Lee 21 42
Sul
3 GTs, sendo um grupo
para cada Estado (RS, PR e
SC)
Adriana
Calcanhotto 30 55
Marisa Monte 20 39
Roberto Carlos 20 38
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014c).
Com o objetivo de alinhar os conhecimentos com as equipes do MinC e da Secult/BA,
foi criado o Grupo Dorival Caymmi, constituído por representantes regionais do MinC,
representantes territoriais daquela secretaria e de cooperativas culturais e organizações da
sociedade civil voltadas para as políticas e a gestão cultural, totalizando 53 participantes
(Quadro 10).
Quadro 10 - Composição do Grupo Dorival Caymmi
Nome da Instituição / Organização Quantidade de participantes
Representações Regionais do MinC 16
Representações territoriais e funcionários da Secult/BA 31
Associação dos Municípios do Norte 3
Associação dos Municípios de Santa Catarina 1
Consórcio Culturando (São Paulo) 2
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014c).
Finalizada a fase de preparação do ambiente e de toda a equipe, no dia 22 de setembro
de 2014 foi iniciada a formação EaD, com a tarefa de ambientar os participantes quanto ao
formato pedagógico estabelecido e o ambiente virtual de aprendizagem.
2.6 Descrição do sistema de preenchimento de minutas de PMC
82
Visando apoiar os representantes municipais no processo de elaboração dos seus
Planos de Cultura, a EAUFBA desenvolveu o sistema virtual PMC Modelo de Referência,
que ficou conhecido como template. O menu dessa ferramenta obedeceu à mesma concepção
do ambiente de formação (moodle), de modo a manter correlação com os módulos e as
unidades ali apresentados, facilitando o entendimento dos participantes sobre o conteúdo a ser
produzido. À medida que os participantes iam finalizando o aprendizado sobre cada etapa do
Plano, eles tinham um prazo para alimentar o template, de acordo com o estabelecido no
calendário da formação. Visando orientá-los melhor sobre a utilização dessa ferramenta, a
equipe produziu um manual didático e seis videoaulas.
A seção Painel de Controle (dashboard), mostrada na Figura 7, indicou o andamento
de elaboração do PMC, exibindo o total de informações cadastradas no template, o que
possibilitou o monitoramento do processo por qualquer pessoa que teve acesso a esse
ambiente virtual. A ferramenta permitiu incluir, alterar e excluir conteúdo, como dados,
informações digitadas ou arquivos anexados.
Figura 7 – Painel de Controle do Template
Fonte: EAUFBA, 2015g, p. 5.
83
A seção Documentos de Referência permitiu ao participante a anexação de arquivos
considerados relevantes para o processo de elaboração do PMC, como relatórios de
Conferências Municipais e atas do Conselho de Política Cultural. Também constaram nessa
seção documentos inseridos pela equipe do Projeto que foram úteis no trabalho, como as
metas do Plano Nacional de Cultura.
As seções seguintes se relacionaram às etapas de elaboração do PMC. Situação Atual
foi o espaço destinado ao lançamento das informações sobre Caracterização, Panorama
Cultural e Diagnóstico Cultural; na seção Projeção do Futuro, constaram informações sobre
Diretrizes, Prioridades e Objetivos; em Operacionalização do Futuro, dados sobre Estratégias,
Metas, Resultados e Impactos; a seção Prazos e Recursos incluiu Cronograma por Ação e
Cronograma por Meta e informações sobre Recursos; por fim, a seção Monitoramento
contemplou os Indicadores.
O template permitiu ao usuário o livre acesso a qualquer parte do ambiente, conforme
sua preferência, porém foi estruturado para manter a coerência entre as etapas e os itens, por
isso era importante que os participantes seguissem a sequência lógica da metodologia. Assim,
ao inserir uma estratégia (etapa Operacionalização do Futuro), o participante pôde associá-la a
algum objetivo preenchido na etapa anterior (Projeção do Futuro); e a formulação de
indicadores (etapa Monitoramento) dependeu da relação disponível de resultados (etapa
Operacionalização do Futuro).
O conteúdo produzido ficou à disposição dos orientadores para análise da coerência
entre as partes do PMC e aderência aos conceitos e à metodologia apresentados. Cada item
pôde figurar em uma das seguintes situações: não avaliado; inadequado (precisando ser
refeito); requer ajustes e adequado. A Figura 8 ilustra melhor esse cenário.
Figura 8 – Comentários do Orientador
84
Fonte: idem, ibidem, p. 13.
Por fim, a seção Relatório (parcial e final) permitiu ao usuário gerar um documento
com todas as informações inseridas em cada seção do ambiente, respeitando a sequência
lógica da metodologia.
2.7 Conteúdos da Formação EaD em Planos Municipais de Cultura
Os Guias de Orientação utilizados na primeira edição do Projeto MinC-UFBA,
somados às recomendações sobre a necessidade de aprofundamento em conteúdos teórico-
conceituais, contribuíram para a elaboração dos módulos básicos e de Planos utilizados nessa
segunda edição, conforme apresentamos no tópico anterior. Tal tarefa ficou a cargo de um
grupo de professores e profissionais com referência nacional em formação em cultura, gestão
cultural, políticas públicas e planejamento público.
Como resultado desse somatório de informações, um dos pontos a ser considerado foi
a importância de aportar conteúdos teóricos sobre temas específicos do campo cultural. Sendo
assim, a etapa de aplicação metodológica foi dividida em dois momentos, sendo que o
primeiro ocorreu entre setembro e dezembro de 2014, quando os participantes puderam
interagir na plataforma moodle para o estudo dos módulos básicos, enquanto o segundo
ocorreu entre dezembro de 2014 e abril de 2015, quando foram aplicados os seis módulos de
elaboração de Planos.
85
A proposta pedagógica aprovada pelo MinC consistiu em estabelecer prioridade nas
abordagens sobre estrutura e funcionamento do curso, detalhamento do conteúdo da
capacitação por módulo a ser estudado e política de uso desses conteúdos (Quadro 11).
Quadro 11 - Módulos da Formação
Módulos Básicos Conteudistas
Introdução ao Ambiente da Formação Justina Tellechea
Cultura e Produção Simbólica Doia Freire e José Márcio Barros
Políticas Públicas de Cultura Lia Calabre e Rosana Boullosa
Planejamento Público Horácio Nelson Hastenreiter Filho
Sistema Nacional de Cultura Cleide Vilela
Cultura e Desenvolvimento Paulo Miguez
Módulos de Elaboração de Planos Conteudista
Visão Geral
Neuza Britto
Análise da Situação Atual
Projeção do Futuro Desejado
Operacionalização do Futuro Desejado
Projeção de Prazos e Recursos
Monitoramento do Plano Municipal Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2014b, p. 3).
Como observado no Quadro 11, houve dois grandes grupos de módulos. O primeiro
teve carga horária de 67 horas e abordou temas e conceitos relativos ao campo da cultura, à
gestão e às políticas culturais, enquanto o outro grupo modular teve carga horária de 74 horas
e trouxe conteúdos específicos para a elaboração de Planos Municipais de Cultura.
Em ambas as etapas da formação, após a leitura dos conteúdos, os participantes
tiveram atividades práticas de exercícios que objetivaram promover maior aprofundamento
dos assuntos aportados. Estes exercícios foram avaliados pelas duplas de tutores e validados
pelos supervisores de tutoria, que também faziam a gestão do ambiente moodle.
Para a discussão e aplicação didática dos conteúdos, a interação entre o corpo
pedagógico do Projeto e os representantes municipais ocorreu através dos fóruns temáticos,
nos quais foram debatidos os assuntos abordados nos módulos e foram dadas orientações
sobre os exercícios exigidos na formação. As atividades realizadas pelos participantes eram
discutidas nos fóruns, porém a sua entrega se dava através de e-mails, mediados pela equipe
de supervisão de tutoria, ou enviadas diretamente ao tutor.
Na etapa destinada aos módulos de elaboração de Planos de Cultura, além da
apreensão dos conteúdos e aplicação dos exercícios, paralelamente foram adotados dois
instrumentos digitais: um, denominado template, possibilitou aos participantes elaborarem
uma minuta do PMC; e o outro, denominado Registro de boas práticas, era onde deveriam ser
86
registradas informações positivas a respeito da gestão cultural do município, o que não
avançou nem no preenchimento, nem na avaliação das informações coletadas. Ambos foram
construídos ao longo do processo e requereram atenção permanente da equipe do Núcleo
Gestor. O template, por sua vez, recebeu monitoramento permanente da equipe, exigindo
alterações e correções de acordo com a demanda dos participantes, tutores e orientadores.
O roteiro metodológico adotado na primeira edição foi alterado na segunda (Figura 9),
sendo acrescentado o tópico Prazos e Recursos, visto que houve uma demanda de
proporcionar aos participantes conhecimentos de como estimar prazos e recursos para o
cumprimento das metas e ações do PMC.
Figura 9 - Roteiro Metodológico para Elaboração de Planos Municipais de Cultura
Fonte: BRITTO, 2014f, p. 30.
Os módulos didáticos foram dispostos na página do moodle e apresentados aos
participantes através de uma animação, em que personagens fictícios explicaram os conteúdos
dispostos em cada um deles. Esses módulos foram disponibilizados integralmente na
plataforma, em formato PDF, permitindo o download do material, seja completo ou por
unidade.
Em seguida, descreveremos os conteúdos desses módulos, que expressaram a
metodologia de Planos Municipais de Cultural.
2.7.1 Módulo Cultura e Produção Simbólica
O módulo Cultura e Produção Simbólica (FREIRE; BARROS, 2014), escrito pelos
professores conteudistas Doia Freire e José Márcio Barros, visou ampliar o raio de
compreensão dos participantes do Projeto sobre o universo cultural existente nos territórios
87
em que estão inseridos. Foi um dos módulos que selecionamos para análise dos fóruns de
discussão teórica.
Para além dos conceitos de cultura e diversidade cultural, esse material também
buscou oferecer um aprofundamento conceitual sobre sociedades ancoradas em permanências
e em mudanças; cultura de massa, cultura popular e erudita; o reconhecimento das artes como
parte integrante da diversidade cultural; patrimônio, memórias e identidades. De acordo com
os conteudistas e a equipe do Projeto, esses temas foram considerados essenciais para a
compreensão do complexo campo que constitui o cenário cultural, além de serem pilares para
a construção de um Plano de Cultura.
Dividido em duas unidades, na Unidade I, os conteudistas aprofundaram o conceito
ampliado de cultura, registrando como ele foi sendo tratado historicamente a partir do século
XIX, sua evolução e a sua compreensão no mundo contemporâneo, utilizando como
referências Marilena Chauí e Rigoberta Menchú.
Tendo como base a perspectiva de Chauí e seu conceito de cultura baseado em três
dimensões, foi destacado o grande desafio no que se refere à proteção e promoção das
capacidades humanas em continuar produzindo diferenças e os processos de mediação que
possibilitem as relações entre os diferentes. Sendo assim, o conceito de cultura deve ser
entendido a partir de três perspectivas:
[...] como um sistema de representação, de classificação e de comunicação
de sentidos que se materializam em produtos e práticas, mas que não se
esgotam. Entender e trabalhar a cultura com uma perspectiva de proteção e
promoção da diversidade cultural significa tanto atuar na proteção daquilo
que nos é conhecido e tradicional, quanto na proposição daquilo que é
desconhecido e contemporâneo. Significa o reforço tanto do que nos é
identitário, quanto à proposição de circuitos de trocas e diálogos
interculturais, capazes de oferecer as experiências de pertencimento e de
troca. (idem, ibidem, p. 11)
Segundo a líder indígena guatemalteca e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz (1992)
Rigoberta Menchú, citada no módulo, a interculturalidade considera níveis de verticalidades e
horizontalidades que integram as relações entre os povos e suas culturas na construção de
sociedades plurais, onde sejam reconhecidos os direitos de cada um em defender os seus
princípios e valores. A partir dessa discussão teórica, Freire e Barros ainda destacaram outros
temas que também se associam ao conceito de cultura e diversidade cultural, sendo
importantes para ampliar as percepções no processo de construção de um Plano de Cultura,
tais como civilização, heterogeneidade e alteridade.
88
Nesse módulo, percebemos a introdução ao tema da diversidade cultural, uma vez que
apresentou reflexões sobre diferenças, reconhecimento das identidades e respeito aos distintos
modos de existência, como é possível verificar no seguinte trecho:
Nossas diferenças nos fazem únicos e transformam os outros em desafios à
nossa compreensão. Daí a necessidade de que a experiência cultural nos
prepare ao mesmo tempo para viver entre os iguais, onde experimentamos a
construção de referências de reconhecimento e identidade, mas também o
aprendizado da compreensão e respeito aos modos de ser e existir distintos.
(idem, ibidem, p.10)
Esse módulo também abordou o tema das permanências e mudanças, apresentando um
comparativo entre as sociedades que escolhem lembrar e outras que optam por esquecer;
como essas escolhas definem a forma como cada sociedade entende e respira a cultura, e os
perigos que cada uma dessas concepções pode gerar para si e para a compreensão de um
mundo plural e heterogêneo.
Nessa questão, o texto despertou para uma reflexão de singular importância para o
processo de construção dos PMC, quando reacendeu nos participantes do Projeto o olhar para
o modo como as sociedades percebem e vivem a cultura, e de como esses olhares e
percepções podem impactá-la de forma positiva ou negativa. Considerando que a cultura é
vista como mola propulsora para o desenvolvimento, produzindo sentidos e valores que
podem promover a sustentabilidade, é preciso compreender que o campo cultural é dinâmico,
pois mesmo existindo sociedades que “vivem do lembrar” (tradicionais) e outras que “vivem
do esquecer”, lembrar e esquecer são dois movimentos de toda cultura. O Quadro 12 ressalta
essas diferenças:
Quadro 12 - Diferenças entre sociedades ancoradas no lembrar e no esquecer
Sociedades ancoradas em permanências
(tradicionais)
Sociedades ancoradas em mudanças
Recusam-se a mudar. Recusam-se a se manter.
O lembrar domina a organização social, a
memória, a identidade e as instituições. Não valorizam o passado.
Entende a diferença como ameaça. Fazem do presente e da imagem do futuro seu
centro configurador de identidades e sentidos.
Fazem da sua história a única história (são
sociedades tribais, ortodoxas e totalitárias).
Fazem da mudança “sem filtros” seu modo de
existir.
Organizam sua vida de forma a preservar sentidos
originais e manter as raízes que lhes dão
sustentação. Oferecem a seus integrantes o
sentido necessário de pertencimento.
Vivem do culto à mudança e são aprisionadas à
incompetência de lidar com a memória
Sociedades do mercado, onde o consumo define a
produção e o mercado configura-se como a
principal instituição. Fonte: a autora, a partir das informações de Freire e Barros (2014).
89
De acordo com os conteudistas, ambos os modelos são exclusivistas e, portanto,
podem vir a tornar as diferenças verdadeiras desigualdades, pois enquanto uma apresenta
incapacidade em reconhecer as diferenças, a outra tem dificuldades em reconhecer a memória
como parte da sua realidade. Atualmente, surgiu um novo modelo cultural baseado no que os
pesquisadores chamam de globalização ou mundialização, que tem motivado profunda
transformação na experiência com o tempo e espaço.
Esse modelo resultou em sociedades marcadas pela fragmentação, simultaneidade e
pluralidade, inaugurando o mundo das identidades múltiplas e não mais ancoradas em
certezas cristalizadas. São sociedades marcadas pelo mercado, modeladas pelo consumo e não
pelas instituições, e incumbidas tradicionalmente pela formação dos sujeitos nas sociedades.
Nesse sentido,
Tal predominância da instituição mercado vem instituindo o que Nestor
Garcia Canclini chama da experiência da CULTURA DO EFÊMERO: o
consumo incessante, a “ditadura” da renovação, a transformação da
experiência cultural em experiência do lazer e entretenimento. Sociedades
contemporâneas são sociedades onde grande parte de nossa experiência
identitária e de cidadania foi deslocada para as relações de consumo (idem,
ibidem, p. 3-14).
Para os conteudistas, essas instituições não geram transformações e são motivadas por
circunstâncias e não por conceitos. No entanto, se enxergamos as mudanças culturais, é
preciso compreender os sentidos, tanto aqueles relacionados à sociedade enquanto um
conjunto de práticas, saberes e conhecimentos, como aqueles relacionados aos sujeitos e às
instituições.
Em seguida, o tema central são as diferentes formas de denominar ou classificar a
cultura – popular, de massa ou erudita. Segundo os autores, essa divisão representa uma
postura bastante perigosa, pois cria uma hierarquia desnecessária, estabelecendo um juízo de
valor que não condiz com a compreensão contemporânea atribuída ao conceito de cultura,
havendo implicações que podem vir a surgir caso não tenhamos um entendimento sobre a
importância de olharmos a cultura de forma abrangente e sem hierarquias que venham a criar
modelos culturais superiores e outros subalternizados.
Nesse sentido, a cultura popular é entendida por diferentes autores como dinâmica e
capaz de produzir inovações com possibilidade de manutenção das tradições e identidades
reveladas por ela. Para reiterar essa compreensão, os professores conteudistas destacaram, a
90
partir das Recomendações sobre a Salvaguarda da Cultura Tradicional e Popular (UNESCO,
1989), algumas compreensões sobre a cultura popular:
[...] a cultura tradicional e popular é o conjunto de criações que emanam de
uma comunidade cultural, fundadas na tradição, expressas por um grupo ou
por indivíduos e que reconhecidamente respondem às expectativas da
comunidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social; as
normas e os valores se transmitem oralmente, por imitação ou de outras
maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a
música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato,
a arquitetura e outras artes. (UNESCO, 1989, p. 2)
O módulo também apresentou as ideias de Teixeira Coelho, segundo o qual há
diferentes olhares sobre a definição das culturas populares, pois alguns pesquisadores
defendem que elas têm um caráter preservacionista e outros acreditam que elas podem vir a se
adequar às novas dinâmicas, imprimindo um caráter inovador. De qualquer forma, Coelho
destaca que as culturas populares se apresentam de ambas as formas, podendo oferecer
resistência frente à cultura globalizada, como também se integrar a um contexto mais amplo,
inclusive definindo o seu papel e atuação. Nesse sentido, Freire e Barros apresentam, ainda, a
compreensão do MinC sobre o tema:
As manifestações das culturas populares não são algo estático; constituem
um processo contínuo de transformação, sendo retraduzidas e reapropriadas
pelos seus próprios criadores, segundo rupturas ou incorporações entre a
tradição e a modernização. Isto possibilita a construção e afirmação de novas
identidades, que evidenciam o novo lugar social que esses criadores buscam
afirmar frente à sociedade. A interação entre culturas também é dinâmica e
acontece segundo processos de influências mútuas, em diferentes níveis.
(BRASIL apud FREIRE; BARROS, 2014, p. 17)
No módulo, também foi destacada a importância de, durante o processo de elaboração
de cada PMC, serem considerados os diversos modos culturais existentes, devendo ser
atribuída a eles a mesma importância e compreensão das suas diferenças, riquezas e
potencialidades para o desenvolvimento local, descartando procedimentos discriminatórios.
Por fim, o módulo apresenta a arte como um campo de dissensos e que produz
estéticas variadas, originadas a partir de algo já existente, mas que também reflete os sujeitos
criativos. Ela dialoga com vários aspectos da cultura e da sociedade, imprimindo
características temporais distintas, a partir do que os conteudistas destacam a importância de
considerá-la no PMC:
Tal e qual a cultura, a arte responde a uma necessidade humana, mas não o
faz da mesma maneira em tempos e contextos distintos. Como revela
Frederico Morais, pesquisador e crítico, a arte, melhor entendida também no
plural, além de suas diversas linguagens e técnicas, dialoga de forma
91
dinâmica e processual com vários aspectos da cultura e da sociedade. Ora se
mostra estreitamente ligada ao campo das religiões, ora se desenvolve com
estreita ligação com a tecnologia. Ora exprime modos reflexivos e
acadêmicos, ora reflete a ludicidade e a liberdade individual. […] Pensando
desta forma, um Plano Municipal de Cultura deve trabalhar com a abertura
necessária para identificar, diagnosticar e apresentar propostas para os
diferentes segmentos socioculturais, em suas distintas formas de organização
e expressão por meio de circuitos, grupos, linguagens e sujeitos distintos.
Neste sentido, tanto o cordel e outras formas de poesia popular quanto o
RAP, tanto a quadrilha e os folguedos de boi, quanto o samba e o balé
clássico, devem ser objeto da atenção e da proposição em um Plano
Municipal de Cultura. (FREIRE; BARROS, 2014, p. 21-22)
Na Unidade II, é traçado um breve histórico sobre os processos de mudança de
paradigma no campo da cultura e como esse movimento se coaduna com a redemocratização
brasileira, a partir da década de 70. No período pós-guerra, quando a Unesco voltou o olhar
para a imensa diversidade cultural existente no mundo, surgiram no Brasil diversos estudos
sobre a cultura, novos e revisitados, propondo uma análise das desigualdades
socioeconômicas e do elitismo da política de patrimônio cultural, na qual era mínimo o papel
do Estado para a salvaguarda desse patrimônio.
Sendo assim, destaca-se a importância de uma nova atuação do Estado junto ao
patrimônio cultural brasileiro, para uma reformulação das políticas públicas para a área,
dando ênfase ao protagonismo da sociedade, baseando-se em:
• Continuidade - que vincula a construção da identidade à memória e
defende que, mesmo com rupturas, o processo cultural se caracteriza pela
continuidade;
• Bem cultural - tudo aquilo que é reconhecido, destacado e valorizado pela
sociedade e/ou grupos como referência de seu modo de ser, ao longo da
história. O bem cultural, reconhecido pelas comunidades e uma vez
patrimonializado pelo Estado (união, estados, municípios), sem dúvida,
agrega valor a coisas, manifestações e lugares, mas não se confunde com
produto ou mercadoria;
• Cultura jovem - frágil perante a hegemonia de velhas culturas
sedimentadas, mas dotada de grande energia e porosidade para absorver
influências e se reinventar na dinâmica do contexto em que se mesclam
tradição e inovação. (idem, ibidem, p. 25)
A partir disso, o módulo enfatizou a reiterada busca e esforços para que a Constituição
Federal fosse implementada no contexto das políticas culturais, imprimindo o reconhecimento
da diversidade cultural e integrando a dita cultura elitista a tantas outras que permeiam o país
e que são portadoras de identidades culturais, com formas e modos diferenciados de
manifestação e de comportamentos, costumes e crenças.
92
Para finalizar esse debate, o módulo promoveu explicações sobre a política de
salvaguarda do patrimônio cultural, cujo objetivo é “aumentar a adesão social à causa da
preservação do patrimônio cultural na sua dimensão material e imaterial, e estendê-la como
direito a todos os grupos sociais” (idem, ibidem, p. 28).
2.7.2 Módulo Políticas Públicas de Cultura
O módulo Políticas Públicas de Cultura (CALABRE; BOULLOSA, 2014), de 31
páginas e dividido em quatro unidades, teve como objetivo central oferecer aos participantes
do Projeto informações que pudessem contribuir para a construção democrática e participativa
das políticas públicas de cultura nos seus municípios. Elaborado pelas pesquisadoras Lia
Calabre e Rosana Boullosa, esse material apresentou conceitos sobre o campo das políticas
culturais e os processos e atores envolvidos, de maneira que os PMCs fossem compreendidos
como elementos fundamentais para a institucionalidade e garantia dos direitos culturais locais.
A proposta desse material foi proporcionar aos leitores a compreensão de diferenças
teóricas e considerações sobre os modos de analisar e participar do desenvolvimento das
políticas públicas, bem como compreender a atuação da sociedade e do Estado na construção
e consolidação dessas políticas e os desafios enfrentados pelo Brasil nesse campo. Para tanto,
as autoras iniciam por apresentar uma distinção entre os conceitos de política e política
pública:
Política se refere ao universo das relações de poder, dos partidos políticos e
dos processos decisórios nas esferas parlamentares de deliberação pública,
enquanto políticas públicas se referem aos processos do governo em ação
após a tomada de decisões no parlamento. (idem, ibidem, p.10)
O módulo traz ainda uma apresentação sobre as principais escolas de políticas
públicas: a Análise Racional de Políticas Públicas (ARPP), cuja compreensão se dá a partir da
perspectiva gerencialista, em que são os atores governamentais os protagonistas do processo;
e a Escola de Indagação Política (Policy Inquiry), que busca uma compreensão de políticas
públicas “como processos de construção pública dos governos voltados para problemas
públicos” (idem, ibidem, p.12). Esse modelo de entendimento dialoga com os processos de
elaboração de políticas públicas de cultura a partir de 2003 no Brasil, quando o MinC
entendeu que é dever do Estado e da sociedade buscarem soluções de forma compartilhada.
93
Nesse sentido, segundo as conteudistas, o Plano de Cultura se constitui como um instrumento
de política pública, e não como uma política pública, como defende a ARPP.
Tais modelos também afetam a atuação do gestor municipal, que podem adotar um
comportamento gerencialista ou de maior participação dos atores e agentes envolvidos. Esse
entendimento promove, sobretudo, o aprofundamento sobre a gestão participativa na
elaboração dos Planos de Cultura no âmbito local e ajuda a fortalecer o princípio estabelecido
pelo MinC e contido na Constituição de 1988 sobre a construção de políticas públicas com o
envolvimento e participação social em todos os seus níveis de formulação e implantação. Para
um país de grande dimensão territorial e com características conservadoras como o nosso,
esse processo se apresenta como um diferencial para a construção de novos paradigmas no
contexto das políticas públicas, o que demonstra que essa explicação foi essencial para a
construção dos Planos.
Assim, o módulo conduziu os participantes a refletirem se o PMC podia se apresentar
como um instrumento de política pública e se ele seria capaz de contribuir para a garantia de
direitos cidadãos. Provocou, ainda, a reflexão sobre a importância desse documento para os
municípios, quais ganhos os participantes poderiam ter a partir do contato com os conteúdos
necessários para a elaboração do PMC e como poderiam se preparar para esse trabalho.
Essa didática permitiu aos envolvidos no Projeto correlacionarem os conceitos
apresentados com a realidade local dos seus municípios, possibilitando-os refletirem de forma
prática e construir uma bagagem de conhecimento específico que pudesse dar suporte ao
desenvolvimento dos Planos de Cultura. Nesse sentido, o módulo apresentou uma estrutura
didática que contemplou a diversidade de participantes envolvidos na formação, considerando
seus níveis prévios de conhecimentos teóricos sobre o campo da cultura.
Outro ponto tratado no módulo foi aos atores que deveriam ser contemplados durante
a construção dos PMCs. Considerando que na atualidade somos todos beneficiários de
políticas púbicas, o que reforça a importância da participação social, o módulo destacou que
essa participação é o momento de maior complexidade e mais desafiador, pois é quando é
preciso definir quem entra e quem não entra no processo. De qualquer forma, tanto os atores
governamentais quanto os sociais assumem dupla condição na produção do PMC, como
formuladores e beneficiários e, portanto, como corresponsáveis em níveis e graus distintos.
Temos que imaginar que cada instrumento de políticas públicas define um
quadro de atores sobre e com o qual irá trabalhar. Quase nunca consegue
contemplar todos os atores que poderiam estar envolvidos. A este conjunto
de atores que serão mobilizados pelos instrumentos, damos o nome de
subsistema de atores ou arena de instrumento. Este é provavelmente um dos
pontos mais desafiadores da construção de um instrumento de políticas
94
públicas: quem faz e quem não faz. Um modo bem conhecido é separarmos
os operadores (policy makers ou steakholders) dos beneficiários. Todavia,
esta divisão não reflete mais a complexidade dos nossos atuais instrumentos.
Afinal também somos beneficiários de todos os instrumentos, inclusive
quem os opera. (idem, ibidem, p. 16)
A segunda parte do módulo buscou conduzir o participante a se ater um pouco mais
sobre as políticas culturais a partir do reforço conceitual. A introdução ao tema trouxe um
conceito de política cultural baseado em um consenso de diversos autores, conforme
destacaram as conteudistas: “As políticas culturais são frutos das ações do Estado, instituições
civis e grupos comunitários, ou seja, são decisões partilhadas que devem possuir um grau
significativo de corresponsabilidades entre os agentes envolvidos”. (idem, ibidem, p.19)
Considera-se, portanto, que para que haja uma relação horizontal entre Estado e
sociedade no processo de políticas públicas de cultura, é preciso construir esses instrumentos
com bases democráticas e participativas, o que para as conteudistas deve se dar a partir do
Plano de Cultura, dos Conselhos, de modelos de orçamento participativo e através do
estímulo ao diálogo permanente e de movimentos organizados para a promoção de discussões
sobre as políticas de cultura.
Dessa forma, acreditamos que a diversidade cultural ganhou espaço na discussão
levantada no módulo, considerando o tema da participação. O texto chamou a atenção para o
marco que foi sendo delineado a partir da década de 80, quando foi proposta uma mudança de
modelo de gestão pública, fortalecendo e imprimindo um caráter participativo. Este modelo
reforça o conceito de diversidade ao ressaltar que “a problemática de desenvolvimento
extrapola o campo do econômico, enfatizando um conceito alargado de qualidade de vida e de
ampliação das capacidades humanas”. (idem, ibidem, p. 20)
Portanto, ao trabalhar os conceitos relativos ao campo das políticas públicas e políticas
de cultura, esse módulo reforçou o entendimento sobre a gestão pública na atualidade, na qual
a diversidade de atores é fundamental para a instalação de instrumentos de políticas que
reflitam a realidade local, levando-se em consideração os diferentes sujeitos e suas formas de
visão e de atuação sociocultural. O módulo também foi coerente com o discurso da
diversidade, à medida que ressaltou a importância da arena de negociação que deve existir
durante a formulação de um PMC, visando, sobretudo, o interesse público desse instrumento.
95
2.7.3 Módulo Planejamento Público
O modulo Planejamento Público (HASTENREITER FILHO, 2014), produzido pelo
professor Horácio Nelson Hastenreiter Filho, trabalhou os conceitos associados à gestão
pública e aos instrumentos de planejamento público, permitindo aos participantes entenderem
como o Plano de Cultura se insere dentro do contexto de um planejamento orçamentário.
Também, buscou estabelecer a diferença entre planejamento público e privado, e quais os
critérios, diretrizes e a complexidade da gestão pública ao lidar com diferentes interesses da
sociedade e com a própria falta de clareza do seu planejamento. Apresentou, ainda, dois
avanços obtidos nessa área: a inovação em estabelecer um processo participativo e um modelo
de gestão pautado em resultados.
Houve a abordagem dos conceitos de governança e governabilidade, destacando-se
que, no momento atual, o conceito de planejamento público vem incorporando cada vez mais
a participação de novos atores na formulação e implantação das políticas públicas, o que
indica uma abertura para a inclusão da diversidade cultural, visto que:
As novas tendências da administração pública e da gestão de políticas
públicas valorizam o conhecimento disponível na sociedade em benefício da
melhoria da performance administrativa e da democratização dos processos
decisórios locais. Quando se reconhece a necessidade da ampliação do
número de atores que deve ser envolvido na gestão pública, há o
impulsionamento de novas formas de articulação político administrativa,
frequentemente se aproximando da estrutura de rede como princípio básico
de organização, fenômeno que está cada vez mais presente no atual debate
sobre governança. (FREY apud HASTENREITER FILHO, 2014, p. 10)
De acordo com o conteudista, governança é a capacidade de ação do Estado, enquanto
governabilidade é a capacidade de identificar as necessidades e anseios sociais,
transformando-os em políticas públicas que respondam a esses problemas. Tais definições
foram incorporadas na metodologia de construção dos PMCs, de forma que os Planos
pudessem refletir uma preocupação com os problemas culturais e estabelecer meios ou
mecanismos para a solução dessas questões, através de metas e ações. Nesse sentido, no
módulo foi enfatizado que essa metodologia congregou os princípios democráticos de
valorização da participação social para a formulação dessas políticas.
Hastenreiter Filho tratou ainda dos modelos de planejamento público e destacou a
capacidade de governar, estruturada em três sistemas: propositivo de ações, materializado em
um plano de governo; sistema social, baseado na articulação entre os atores relevantes (e
assim entendemos a importância dos Conselhos de Política Cultural) e o sistema de direção e
96
planejamento, montado a partir de uma rede de governança. Todos os três integram um
arranjo de governança pautado na pluralidade das capacidades de seus diferentes
interlocutores, a partir de uma agenda permanente de negociação, na qual os atores são peças
fundamentais desse quebra-cabeça (o planejamento), mas também serão impactados pelo
mesmo.
O conteudista também discorreu sobre orçamento público, reiterando que atualmente a
participação é fator determinante para a construção de um Estado democrático, tanto na
formulação quanto no monitoramento, e estabeleceu a importância da relação entre o
planejamento e os instrumentos orçamentários.
Por fim, nos exercícios propostos no módulo, as questões exigiram significativo grau
de reflexão dos participantes sobre a gestão municipal de cultura e o planejamento público
associado ao orçamento. Inclusive, o primeiro exercício abordou a temática da diversidade
cultural, levando os participantes a refletirem sobre o tema.
A partir do exposto, observamos a relevância que esse material didático deu à
participação social nos processos de planejamento, considerando as suas etapas de
implantação e monitoramento. Nesse sentido, entendemos que a diversidade cultural, mesmo
sem ter tido uma abordagem explícita no texto, aparecendo apenas nos exercícios, pôde ter
feito parte da interpretação do leitor, a depender do seu nível de compreensão sobre o assunto.
2.7.4 Módulo Sistema Nacional de Cultura
Escrito pela professora Cleide Vilela, o módulo Sistema Nacional de Cultura
(VILELA, 2014) teve como objetivo fazer com que os participantes se apropriassem das
informações sobre o SNC e sua estrutura de funcionamento. Destacou, sobretudo, os
elementos que estão relacionados aos Sistemas Municipais e as possibilidades de interlocução
que podem ocorrer, à medida que os Sistemas vão se tornando instrumentos efetivos da
política pública para a área da cultura, assim como acontece nos Sistemas de outros setores da
administração pública.
Na primeira unidade do módulo, Vilela apresentou as dimensões simbólica, cidadã e
econômica da cultura, estimulando os participantes a compreenderem o novo conceito de
cultura adotado pelo MinC a partir de 2003, bem como o protagonismo assumido pelo órgão
frente aos desafios da política cultural no Brasil. O módulo destacou como principal desafio
para a política de cultura o respeito à diversidade, o que mostra que o SNC, enquanto política
pública, deve primar pela participação social na sua implementação.
97
A criação e implementação do Sistema marca um importante momento da política
cultural do país, especialmente porque rompe com as tristes tradições relatadas por Rubim
(2008), indicando um processo democrático e descentralizado, construído em parceria com a
sociedade civil.
O princípio da diversidade cultural passa, então, a ser entendido a partir dessa
participação ampliada dos agentes e atores culturais, ganhando notoriedade através da
integração de ações que passam a constituir os elementos dos Sistemas, especialmente o
PMC. Este, assim como o PNC, tem o potencial de nortear as políticas culturais, revelar as
riquezas das dinâmicas culturais municipais e também as inconsistências da gestão local.
Ao apresentar um breve histórico das políticas culturais entre 2003 e 2014, Vilela
demonstrou os avanços obtidos no campo cultural, deixando claro que, no período do
primeiro mandato de Lula e com Gil à frente do MinC, essas transformações foram
significativas, especialmente pelas alterações funcionais e administrativas que ocorreram no
âmbito do Ministério, com destaque para a criação da SAI/MinC, responsável pelo SNC.
Outro marco determinante dessa gestão foi o fortalecimento dos encontros de participação
social, através das Conferências, e a criação do Conselho Nacional de Política Cultural,
fundamental para a legitimidade da representação da sociedade civil no processo das políticas
públicas de cultura.
Além disso, o módulo apresentou os marcos legais, entre os quais destaca a Emenda
Constitucional nº 71/2012, que instituiu o SNC, pela inclusão do Artigo 216-A na
Constituição Federal; a Lei n° 12.343/2010, que institui o PNC e cria o Sistema Nacional de
Informações e Indicadores Culturais (SNIIC); a Portaria n° 123/2011, do MinC, que
estabelece as 53 Metas do PNC; e, o Documento Básico do SNC, aprovado pelo Conselho
Nacional de Política Cultural.
Em seguida, descreveu os princípios do SNC, cujo primeiro é a “diversidade das
expressões culturais”, e os elementos constitutivos dos Sistemas de Cultura, apresentando as
diferenças e similaridades entre eles e suas funcionalidades. Destacamos aqui a importância
dos órgãos de cultura, devido à liderança e mediação que realizaram no âmbito da
institucionalidade do campo; dos Conselhos de Política Cultural, que no processo de
construção dos PMCs se constituem como elemento-chave para o diálogo e aproximação
entre os principais atores políticos e culturais; e, das Conferências de Cultura, que se
configuram como espaço de encontro, mas, sobretudo, de discussão e deliberação sobre as
políticas. Vale destacar que, no Brasil, foram realizadas tanto conferências convocadas pelo
98
poder público quanto as chamadas Conferências Livres, que partiram da iniciativa da
sociedade e de grupos organizados.
Para consolidar o entendimento sobre os Sistemas de Cultura, o módulo apresentou, de
forma detalhada, os elementos essenciais para uma gestão qualificada e eficaz, que são o
planejamento, financiamento, informações e formação. Nesse sentido, o PNC é considerado
como a principal peça de planejamento, seja no âmbito nacional, como nos estados e
municípios, pois, assim como apregoa a Constituição Federal, trata-se de um documento que
propõe uma política integrada, com instrumentos que contribuem para o desenvolvimento e
fortalecimento do pacto federativo, algo ainda adormecido.
A diversidade cultural ocupou lugar de destaque neste módulo, visto que Vilela
ressaltou a importância do PNC para a garantia dos direitos culturais por meio “do
fortalecimento da gestão cultural pública baseada no SNC e na participação social, do
reconhecimento e promoção da diversidade das expressões artísticas e culturais, do acesso às
artes e cultura e da perspectiva do desenvolvimento sustentável” (VILELA, 2014, p. 23). A
conteudista destacou, dentre outras informações, os capítulos que constituem o PNC, a saber:
. Do Estado: fortalecer a função do Estado na institucionalização das
políticas culturais, intensificar o planejamento de programas e ações voltadas
ao campo cultural e consolidar a execução de políticas públicas para cultura;
. Da diversidade: reconhecer e valorizar a diversidade, proteger e promover
as artes e expressões culturais;
. Do acesso: universalizar o acesso dos brasileiros à arte e à cultura,
qualificar ambientes e equipamentos culturais para a formação e fruição do
público e permitir aos criadores o acesso às condições e meios de produção
cultural;
. Do desenvolvimento sustentável: ampliar a participação da cultura no
desenvolvimento socioeconômico, promover as condições necessárias para a
consolidação da economia da cultura e induzir estratégias de sustentabilidade
nos processos culturais;
. Da participação social: estimular a organização de instâncias consultivas,
construir mecanismos de participação da sociedade civil e ampliar o diálogo
com os agentes culturais e criadores. (MINC apud VILELA, 2014, p. 23)
Nesse sentido, o PNC funciona como um espelho para a criação dos Planos
Municipais, o que respalda o fato de a metodologia ter destacado, tanto nos Guias de
Orientação quanto no módulo Visão Geral (BRITTO, 2014f), a importância da relação entre
esses documentos, já que algumas das metas no âmbito nacional se refletem no município e só
podem ser efetivadas através de uma colaboração federativa.
Sobre o Sistema de Financiamento à Cultura, o módulo explicou como o Estado se
estrutura em relação a essa questão, e no que se refere ao MinC, apontou que as fontes de
financiamento têm a finalidade de garantir o direito ao acesso e aos meios de produção da
99
cultura9
. Vale destacar que foram realizados encontros, seminários e reuniões com
participação da sociedade para uma discussão ampliada sobre esse tema. Como apontou
Vilela, essas discussões resultaram no Projeto de Lei n°6.722/2010, que instituiu o Programa
Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura), ainda em tramitação no Congresso
Nacional e cujo objetivo é orientar a distribuição de recursos destinados a estados e
municípios.
Dentre os instrumentos de financiamento, o módulo também discorreu sobre o Fundo
Nacional de Cultura, criado em 1986 e principal mecanismo de financiamento no âmbito dos
municípios. No que se refere ao Fundo Municipal de Cultura, cada cidade tem autonomia para
instituir outros mecanismos que melhor lhe convenham para a estruturação e desenvolvimento
econômico da cultura local.
Ademais, abordou o Sistema de Indicadores Culturais, o Programa de Formação na
Área da Cultura e os Sistemas Setoriais. Apesar de o Programa de Formação não ser
obrigatório no âmbito municipal, o MinC orienta que os municípios de médio e grande porte
se articulem para participarem de programas e projetos voltados para a formação na área. Essa
orientação vem sendo seguida, pois é possível verificar que alguns municípios têm se
articulado para desenvolverem sistemas de indicadores culturais e de formação na área, o que
contribui significativamente para a compreensão da cultura como vetor de desenvolvimento.
Por fim, o módulo reservou uma unidade para descrever e orientar como deve ser a
implantação dos Sistemas Municipais de Cultura, suas características e seus marcos legais,
ressaltando a similaridade com o processo de implementação do Plano Nacional. Destacou o
caráter estratégico do PMC, suas finalidades e reiterou o seu caráter participativo, com
observância ao envolvimento do Conselho de Política Cultural e de outras instâncias de
participação. A responsabilidade da elaboração de um PMC é do órgão de cultura local,
cabendo ao Conselho estabelecer diretrizes de uso dos recursos nas políticas definidas no
Plano.
Assim sendo, o módulo Sistema Nacional de Cultura, constituído de quatro unidades,
discorreu sobre os instrumentos de gestão da política cultural, possibilitando aos participantes
do curso uma visão geral da proposta de instrumentalização dessa política e dos elementos
que oportunizam o reconhecimento da cultura como parte de um plano estratégico para o país,
evidenciando a importância da integração federativa para a garantia dos direitos culturais e
fortalecimento da diversidade cultural.
9 Produção entendida como todas as etapas do processo de desenvolvimento da cultura: criação, produção,
circulação, difusão e pesquisa, dentre outras.
100
2.7.5 Módulo Cultura e Desenvolvimento
O módulo Cultura e Desenvolvimento (MIGUEZ, 2014), escrito pelo professor e
pesquisador Paulo Miguez, apresentou uma abordagem histórica sobre a compreensão da
cultura no campo de desenvolvimento, a sua relação com a economia, com o mercado, com as
indústrias culturais, enfocando, sobretudo, a importância da diversidade cultural como eixo
que conecta essas relações. Esse foi outro módulo que selecionamos para análise dos fóruns
de discussão teórica.
Em diálogo com outros autores, Miguez discorreu sobre a centralidade da cultura
como dimensão fundamental do desenvolvimento e procurou estimular um debate crítico
sobre as políticas culturais para o desenvolvimento, especialmente no que se refere à questão
econômica, o mercado e suas implicações, apresentando os principais desafios da relação
entre desenvolvimento e diversidade cultural.
Para essa reflexão, a primeira unidade do módulo abordou o papel assumido pela
cultura na atualidade, demonstrando que ela ultrapassa os limites do seu campo específico,
sendo transversal aos demais campos sociais. Nas palavras de Miguez:
[...] na cena contemporânea, a cultura transbordou os limites do seu campo
específico. […] Já o contexto atual apresenta como uma de suas
características mais importantes o fato da cultura movimentar-se para além
das fronteiras do campo cultural propriamente dito, alcançando, em força,
outros campos da vida social, como, por exemplo, a política e a economia.
[…] Na contemporaneidade, a cultura comparece como um campo social
singular e, de modo simultâneo, perpassa transversalmente todas as outras
esferas societárias, como figura quase onipresente. (idem, ibidem, p. 8-9)
Segundo o professor, no contexto internacional a cultura ultrapassa a relação com as
políticas de educação, saúde e emprego, sendo indispensável em uma agenda considerada
vital para o Estado. Diante disso, entendemos que a cultura adquire centralidade na
atualidade, transcendendo limites que lhe são impostos e agregando valores em campos antes
considerados autônomos e distantes, como o econômico.
A segunda unidade abordou a dimensão que a cultura passou a ter no campo da
produção do conhecimento, ocupando um lugar mais amplo no contexto contemporâneo:
Ao transbordar seu campo específico e impor-se como “fator transversal”, a
cultura experimenta contemporaneamente, também, e por consequência, um
outro movimento, digamos, de enlargamento, este, no campo da produção de
conhecimento. Ora, para dar conta dos enlaces que constitui, a cultura abre
101
um novo campo de reflexão, os chamados “estudos culturais”. Ou seja, deixa
de ser objeto do exclusivo interesse da antropologia e da sociologia,
disciplinas classicamente dedicadas às questões culturais, passando a ocupar
espaço na agenda de pesquisas de diversas novas áreas tais como os estudos
comunicacionais, a ciência política, a história, a geografia, a crítica literária e
até, imagine, invadindo territórios acadêmicos até então não só distantes
como até mesmo hostis à temática cultural, a exemplo da economia, da
gestão e dos saberes tecnológicos. (idem, ibidem, p. 11-12)
Aqui, o conteudista trouxe os conceitos da “politização da cultura e da culturalização
da cultura”, sendo que o primeiro se relaciona com o reconhecimento do tema cultura como
parte indispensável da política. Já o segundo propõe a inclusão desse tema na agenda política,
incorporando assuntos que integram a pauta mundial, mesmo que isso implique em lidar com
tensões e contradições próprias desse campo.
A terceira unidade do módulo, discorrendo sobre a relação cultura e economia,
destacou dois momentos históricos para a cultura: o primeiro, entre os séculos XVIII e XIX,
quando o capitalismo avançou sobre a circulação de bens culturais, transformando-os em
mercadorias; e o segundo, na metade do século XIX, quando o capitalismo ingressou na era
monopolista-oligopolista e os bens culturais passaram a ser tratados a partir da lógica
mercantil, levando à instalação das indústrias culturais. Diante disso, Miguez fez o seguinte
alerta:
Se a “mercantilização da cultura” já no século XIX pôs em movimento uma
“economia das artes”, à entrada deste novo século, os bens e serviços
simbólico-culturais dão corpo a uma “economia da cultura” que, constituída
ao longo do século passado, exibe um gigantesco mercado que é dominado
por grandes conglomerados de produção e distribuição de conteúdos
culturais, funciona em escala global e contabiliza cifras astronômicas (idem,
ibidem, p. 14).
Nesse contexto, o autor afirma que, ao passo em que a cultura ganhou importância
econômica, ela também passou a agregar valor a serviços e produtos inseridos no mercado.
Em outras palavras, a mercantilização da cultura somou-se à culturalização da mercadoria e,
assim, elementos simbólicos como design, marca e origem acabaram determinando o valor
dos produtos.
Ao transpor o seu campo específico, a cultura tem garantido espaço nos diversos
campos e esferas sociais, estabelecendo laços e experimentando transformações na sua forma
de apresentação. Nessa perspectiva, segundo Miguez, emerge o conceito de George Yúdice de
que “cultura pode ser um recurso para promover a inclusão social, requalificar centros
102
urbanos, estimular a geração de emprego e renda” (idem, ibidem, p. 18), enfim, para ativar
políticas que visam promover o desenvolvimento.
O quarto capítulo apresentou uma reflexão sobre a relação entre cultura e
desenvolvimento, assinalando que essa junção pode ser creditada ao processo de
transbordamento da cultura do seu campo específico e pelas “transformações experimentadas
pela própria noção de desenvolvimento a partir da metade dos anos 1970”. (idem, ibidem,
p.19).
Considerando que o pós-guerra iniciou uma ordem mundial marcada pela conquista
econômica, foi preciso ampliar a compreensão internacional acerca da sustentabilidade do
planeta, provocando a necessidade da busca por uma nova ordem econômica global. O
conteudista registra que esse tema foi discutido durante a 7ª Sessão Extraordinária da
Assembleia Geral das Nações Unidas, onde:
[...] o conceito de desenvolvimento tem buscado sua reinvenção numa
perspectiva pluridimensional que se quer, também, histórica, processual e
transdisciplinar, e submetida, simultaneamente, à geração presente e às
gerações futuras, um desenvolvimento que seja, portanto, conforme anota
Ignacy Sachs, (socialmente) includente, (ambientalmente) sustentável e
(economicamente) sustentado. (idem, ibidem, p. 20).
No módulo, também foi destacado alguns marcos importantes no âmbito internacional
que contribuíram para a conjunção cultura e desenvolvimento, a exemplo do Relatório Nossa
Diversidade Criadora, publicado em 1995 pela Comissão Mundial de Cultura e
Desenvolvimento; a Convenção da Proteção e Promoção da Diversidade de Expressões
Culturais, publicada em 2005, e a Conferência Mundial sobre Políticas Culturais
(Mondiacult), realizada no México em 1982. O Mondiacult possibilitou uma compreensão de
que a cultura se constitui como uma dimensão fundamental para o desenvolvimento.
Os documentos resultantes desse encontro registram uma sintonia com os debates
contemporâneos, que reiteram que o objetivo do desenvolvimento deve ser assegurar a
realização individual e coletiva em conjunto com a preservação da natureza. Essa mudança só
será possível se os fatores culturais forem integrados às estratégias de desenvolvimento e em
respeito às dimensões históricas, sociais e culturais de cada sociedade.
Miguez também abordou o processo que antecedeu a discussão sobre a diversidade das
expressões culturais, a exemplo da tese da “exceção cultural”, de caráter protecionista, que
preconizava que os produtos culturais deveriam ter tratamento diferenciado na OMC, devido
às suas características especiais.
103
A quinta unidade desse material didático ressaltou que para avançar em direção a um
desenvolvimento sustentável, é necessária a construção de condições para o florescimento da
diversidade das manifestações e a promoção da inclusão, seja cultural, como social e
econômica. Remetendo a Celso Furtado, Miguez afirmou que:
[...] “uma política de desenvolvimento ser posta a serviço do processo de
enriquecimento cultural” das sociedades, da firme recusa da adoção de uma
visão meramente instrumental da relação entre cultura e desenvolvimento,
cuja tendência é reforçar e proteger os interesses dos agentes culturais já
estabelecidos (os grandes conglomerados das indústrias culturais), em favor
do acionamento das oportunidades que se abrem quanto à expansão do
espaço de criação e de circulação de manifestações culturais, com evidentes
ganhos econômicos mas, também, com ganhos propriamente culturais, com
a produção e a circulação ampliadas de repertórios simbólicos capazes de
oferecer alternativas às produções simbólicas dominantes, incluindo-se aí
diferentes modelos de desenvolvimento. (idem, ibidem, p. 26)
Por fim, a sexta unidade apontou os desafios decorrentes da imbricação entre cultura
(pertencente ao domínio simbólico, constitutivo da sociedade) e desenvolvimento (noção
localizada no domínio da racionalidade e, portanto, datada historicamente). Algumas
dificuldades centradas nessa relação são: a) as posturas românticas que permeiam o campo da
cultura; b) a ideia de desenvolvimento pautada apenas no viés econômico; c) a falta de
indicadores e estatísticas culturais que deem conta de traçar políticas e medidas
verdadeiramente eficazes; e, d) as barreiras que promovem o atraso no avanço do
conhecimento quanto aos enlaces contemporâneos da cultura. Nesse sentido, Miguez destacou
a importância da Convenção da Unesco para a construção de uma relação mais positiva entre
cultura, diversidade cultural e desenvolvimento, pois:
[...] é preciso reconhecer que não cabem dúvidas quanto ao fato de que a
Convenção da Unesco, assumindo como sua premissa básica a diversidade
cultural como patrimônio comum da humanidade, sugere possibilidades para
a relação cultura, diversidade cultural e desenvolvimento que,
simultaneamente, tanto atendem ao imperativo de proteção demandado pela
memória coletiva construída ao longo da história com a contribuição de
todos os povos do mundo, quanto avançam na compreensão de que tal
riqueza exige políticas de promoção capazes de garantir-lhe um lugar
estratégico no desenvolvimento das sociedades, uma vez que sinaliza a dupla
determinação, simbólica e econômica, dos bens culturais. (idem, ibidem, p.
27)
Para contribuir com esse debate, o conteudista registrou alguns argumentos traçados
pelo pesquisador José Márcio Barros, que destaca que o marco inicial para a relação entre
cultura, diversidade e desenvolvimento deve ser: “o reconhecimento de que a cultura expressa
três dimensões básicas e complementares que são, necessariamente, indissociáveis: sua
104
dimensão humanizadora e educativa, sua dimensão coletiva e política, sua dimensão produtiva
e econômica” (BARROS, apud MIGUEZ, 2014, p. 27).
Para esses autores, a diversidade cultural deixa de ser uma certificação da antropologia
e torna-se um projeto político a ser alavancado pelos países, ancorado pelas possibilidades
propostas pela Convenção de 2005 e tornando-se um projeto efetivo que vem fortalecer a
relação entre cultura e desenvolvimento. Além disso, ainda trazendo Barros como referencial
para a discussão, Miguez destacou que o desenvolvimento sustentável passa pela articulação
equilibrada de quatro tipos de capital presentes em uma sociedade:
[...] o capital natural, formado pelos recursos naturais disponíveis; o capital
construído, gerado pela intervenção humana; o capital humano, determinado
pelas condições de vida da população em termos de alimentação, saúde e
educação; e o capital social, formado pelos valores e atitudes compartilhados
que dão sustentação às relações de confiança e de cooperação entre os atores
sociais (MIGUEZ, 2014, p. 28)
Finalizando o módulo, Miguez evidenciou os esforços realizados pelo Governo
Federal para a construção e implementação das políticas públicas para a área cultural e os
desafios a serem trilhados para a obtenção de um desenvolvimento sustentável, deixando claro
que, para tanto, esse trabalho deve passar necessariamente pela identificação de um foco de
ação política.
2.7.6 Módulo I: Visão Geral
O módulo Visão Geral (BRITTO, 2014f) abordou vários aspectos dos conteúdos da
formação e o roteiro de elaboração de um PMC, contextualizando o Plano de Cultura a partir
do SNC, além de ter introduzido os módulos específicos, todos eles elaborados por Neuza
Hafner Britto, consultora convidada do Projeto MinC-UFBA.
Esse módulo abordou as premissas e princípios já destacados na primeira edição e fez
uma breve descrição dos aspectos relacionados à sensibilização e mobilização dos atores e
agentes, fortalecendo o sentido da participação social na elaboração do Plano.
Além disso, o módulo destacou orientações e exemplos sobre as bases de dados e
informações necessárias e legítimas para subsidiar o PMC, como os insumos colhidos nas
Conferências de Cultura; dados e informações obtidas através de fontes reconhecidas, como o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o próprio MinC, o PNC e outros meios
que pudessem fornecer informações sobre o campo da cultura e sua relação com o município.
105
Esse módulo também chamou a atenção para a coerência interna que deve haver entre as
partes que devem compor o PMC, como descrito na Figura 10:
Figura 10 - Percurso Gratificado da Aprendizagem
Fonte: idem, ibidem, p.7.
2.7.7 Módulo II: Análise da Situação Atual
O módulo Análise da Situação Atual (BRITTO, 2014a), o terceiro que selecionamos
para a análise dos fóruns de discussão teórica, apresentou, assim como na primeira edição, a
etapa “Quem somos e como estamos?”, propondo a investigação sobre a realidade local no
que tange à caracterização de três aspectos municipais. O primeiro deles foi o panorama
cultural, que visou o registro de informações sobre manifestações, segmentos e bens de
cultura; o segundo abordou dados sobre a infraestrutura física, como equipamentos culturais,
acessibilidade, serviços de suporte à cultura, situação de serviços e rede de comunicação; e, o
terceiro registrou informações sobre o aspecto institucional/gestão, isto é, a estrutura
administrativa e do SMC, orçamento, instrumentos de financiamento à cultura, organizações
sociais, atuação política da sociedade civil e o relacionamento do poder público com os
demais setores da Administração Pública e os segmentos sociais.
106
De acordo com a metodologia, essa abordagem levaria à análise sobre as vocações,
potencialidades, fragilidades e obstáculos para o desenvolvimento cultural do município
(Figura 11).
Figura 11 - Módulo Análise da Situação Atual
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
O segundo módulo apresentou duas unidades didáticas. Na primeira, foi proposto aos
participantes responderem à pergunta “quem somos?”, de forma a traçar a caracterização do
seu município. A ideia era que, ao final da composição desse quesito, fosse possível tornar
conhecido o perfil da cidade. Para isso, a metodologia recomendou que os participantes
buscassem dados e informações em fontes seguras e confiáveis, como organismos de
planejamento dos Estados e da União, instituições de pesquisa, além de documentos
municipais que pudessem subsidiar esse trabalho, como os planos de desenvolvimento de
outros setores da Administração Pública. Os aspectos abordados foram: históricos, físicos,
geográficos, ambientais, demográficos, econômicos, sociais, políticos e institucionais.
A segunda unidade do módulo propôs a realização do diagnóstico cultural, a partir do
levantamento da realidade cultural da cidade. Para isso, as informações coletadas a partir dos
aspectos de caracterização foram importantes. Essa fase também visou promover maior
aproximação com a sociedade civil, pois uma participação mais efetiva dos segmentos e
setores neste processo teriam duas significativas funções: legitimar as informações já
levantadas sobre cada um dos segmentos e setores e complementá-las.
107
Nesse sentido, destacamos algumas recomendações metodológicas, a saber: a) a
indissociabilidade entre a confiabilidade das informações e o reconhecimento da realidade; b)
o entendimento de que o Plano de Cultura deveria ser um plano de desenvolvimento do
município e não setorial, visando traçar um panorama abrangente e integrado com a realidade
cultural municipal; e, c) a consideração do aspecto transversal da cultura, compreendendo
que, a partir desse planejamento, uma nova realidade para esse campo estaria sendo projetada
para um período de dez anos.
2.7.8 Módulo III: Projeção do futuro desejado
O módulo Projeção do Futuro Desejado (BRITTO, 2014e) abordou as estratégias a
serem assumidas no documento para o alcance do futuro desejado para a cultura local. Assim
como o módulo anterior, este também foi dividido em duas unidades: Unidade I – Diretrizes e
Prioridades; Unidade 2 – Objetivos. A Figura 12 demonstra os caminhos percorridos para a
compreensão dessa etapa.
Figura 12 - Módulo Projeção do Futuro Desejado
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
108
A primeira unidade orientou os participantes sobre a técnica para elaboração de
diretrizes e prioridades. A metodologia definiu o papel das diretrizes como “Linhas de
orientação que servem como elementos balizadores para o alcance dos objetivos, metas e
execução de ações” e ofereceu cinco recomendações a serem cumpridas quando da sua
formulação: a) deveriam ser voltadas para o futuro, norteando a formulação dos objetivos,
assim como o caminho a percorrer para que fossem alcançados; b) balizariam decisões e
comportamentos dos gestores e técnicos em relação ao PMC; c) não seriam hierarquizáveis,
mas aplicadas para todo o Plano; d) deveriam ser poucas, mas claras e elementares; e, e) seria
preciso estar atento para a sua elaboração, utilizando verbos que não denotassem execução,
colocando sempre no infinitivo.
Já as prioridades visaram dar foco e orientar as escolhas a serem feitas no Plano de
Cultura, tanto na sua elaboração, quanto na execução. Vale destacar que as prioridades
deveriam ser definidas com relação à visão de futuro, o que não quer dizer que elas seriam
executadas primeiro, mas que implicariam em um compromisso assumido pela gestão
municipal frente a demandas prescritas como prioritárias.
A segunda unidade desse módulo tratou dos objetivos, ou seja, como responder à
questão “onde queremos chegar?”, objetivos esses que foram divididos em três categorias:
. Objetivos estratégicos: são amplos, definidos para o longo prazo (em geral
acima de cinco anos) e envolvem um todo. No caso, serão os objetivos
globais do Poder Público Municipal para a cultura. […]
. Objetivos táticos: são de médio prazo, associados a determinados órgãos e
contribuem para a consecução de objetivos estratégicos. No caso, serão os
objetivos para um determinado período de tempo a ser alcançado por um
organismo da Prefeitura que esteja responsável por um resultado específico
ou parcial do objetivo global. […]
. Objetivos operacionais: são de prazo mais curto, a serem alcançados por
unidades das estruturas organizacionais dos órgãos da Prefeitura e também
contribuem para os objetivos táticos e estratégicos. Alguns objetivos
operacionais praticamente se confundem com o enunciado de metas, sem
explicitar quantidades. […] (idem, ibidem, p.18)
A partir da elaboração de diretrizes, prioridades e objetivos, a metodologia ressaltou a
importância da coerência interna do documento, de modo que os tópicos elaborados pudessem
ser correspondentes com tudo o que fora construído, sempre em atenção à situação atual do
município, onde estavam as bases de dados e informações que dariam e dão sentido ao
planejamento cultural.
109
2.7.9 Módulo IV: Operacionalização do futuro desejado
Dividido em três unidades, o módulo Operacionalização do Futuro Desejado (BRITO,
2014c) tratou das estratégias, metas, ações, impactos e resultados. A Figura 13 demonstra
como os participantes da formação continuaram aprendendo as bases estratégias para a
elaboração do PMC.
Figura 13 - Módulo Operacionalização do Futuro Desejado
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
As unidades didáticas, assim como nos demais módulos, ensinaram como formular
estratégias, metas, ações, impactos e resultados, enfatizando a importância da coerência
interna entre eles. As estratégias ajudaram a responder a pergunta “onde queremos chegar?”.
Para a sua elaboração, as recomendações foram precisas: a) devem ser focadas no alcance dos
objetivos; b) são posicionamentos racionais; c) são válidas, se possível, executá-las; d) são
claras, manifestas e gerais; e, e) devem ser coerentes com as diretrizes.
A segunda unidade tratou da elaboração de metas e ações, onde metas “representam o
resultado quantitativo a ser atingido no alcance de cada objetivo. São alvos físicos tangíveis,
quantificados, projetados e alinhados em horizontes de tempos definidos” (idem, ibidem, p.
15). Enquanto ação é “uma operação da qual resulta um produto (bem ou serviço), podendo
110
converter-se em projeto ou atividade. […] a ação funciona como instrumento executivo para o
alcance da meta.” (idem, ibidem, p. 15)
A técnica utilizada pela metodologia para definição de metas foi baseada no método
SMART, oriundo da administração por objetivos, constituído por cinco recomendações que
explicam como a meta deve ser formulada:
Recomendação 1: Metas são específicas. Devem demonstrar o que
exatamente se quer alcançar de forma clara, sem necessidade de
interpretações adicionais.
Recomendação 2: Metas são mensuráveis. Metas envolvem quantidades e
essas devem ser passíveis de medição. Neste método de elaboração de plano
municipal de cultura é indicado que o enunciado da meta já se inicie com um
quantitativo, de modo que é imediata a avaliação de como será medida ao
longo do tempo. Recomendação 3: Metas são alcançáveis. Por essa razão realizam objetivos.
São desafiadoras, tanto quanto os objetivos, mas atingíveis. Por isso as metas
levam em conta as condições tratadas na Análise da Situação Atual, em
especial as fragilidades e os obstáculos, bem como se ancoram nas
estratégias para superação dos empecilhos que podem vir a afetá-las.
Recomendação 4: Metas são relevantes em relação aos objetivos. É preciso
haver uma conexão e uma fina sintonia entre objetivos e metas, de modo que
uma vez alcançando estas se tenha a capacidade de avaliar se os primeiros
foram concretizados.
Recomendação 5: Metas possuem prazos de realização. Elas devem ter como
limite o prazo final do plano, mas podem ser fixados prazos menores para
seu alcance. Não há metas sem tempo definido. (idem, ibidem, p.17)
As ações deveriam gerar produtos ou serviços que pudessem ser claramente
identificados, quantificados e avaliados em relação às metas estabelecidas, ou seja, as ações
realizadas contribuiriam para que as metas pudessem ser atingidas com sucesso. Para tanto,
caberia responder às seguintes perguntas prévias: O que fazer? Por que fazer? Quando fazer?
Onde fazer? Quem vai fazer? A metodologia ressaltou que ações eram o resultado a ser
entregue à sociedade e deveriam ser publicizadas, a fim de que todos tomassem conhecimento
do cumprimento das metas propostas.
Entre as recomendações sugeridas para a elaboração de ações, a que mereceu maior
atenção foi a de evitar relacioná-las ao processo, e quando houvesse essa necessidade, a
metodologia orientou associá-las a alguma das etapas de consecução de determinado resultado
final. Em relação às ações que se relacionaram com as peças orçamentárias do município, elas
deveriam ser elaboradas de forma mais próxima do modo como a prefeitura estruturava o seu
orçamento, pois assim seriam mais facilmente incorporadas nas peças orçamentárias. Como as
metas seriam projetadas para atingir objetivos e ações, para cumpri-las seria necessário
realizar primeiramente a análise sobre o que deveria ser feito para se atingir o objetivo.
111
A terceira e última unidade tratou de resultados e impactos. Metodologicamente, os
resultados são consequências esperadas das metas, já os impactos registram os efeitos da
concretização delas, estando relacionados aos três "E" – eficiência, eficácia e efetividade. A
eficiência relaciona-se com o bom uso dos meios para que se atinjam os fins (ação); a eficácia
refere-se aos resultados esperados através do nível de alcance dos fins; e, a efetividade aponta
para os efeitos positivos ou negativos causados, que também podem ser de curto, médio e
longo prazo. Assim, na elaboração do Plano, a combinação desses três conceitos na
identificação dos impactos poderia vir a promover, em maior ou menor escala, transformações
na realidade local por meio da ação pública.
2.7.10 Módulo V: Projeção de prazos e recursos
O módulo Projeção de Prazos e Recursos (BRITTO, 2014d), dividido em duas
unidades didáticas, ofereceu a possibilidade de concretização das metas e ações propostas no
Plano de Cultura. A esta altura, já era esperado pelo Projeto a existência de um documento de
planejamento, cujo escopo estaria embasado nas demandas sociais e da gestão pública, tendo
o formato adequado ao requerido pela Administração Pública municipal. Assim, o momento
seria o de estabelecer prazos, origens e fontes de recursos para a execução do Plano.
O participante da formação teve contato com as técnicas de elaboração de
cronogramas (prazos para a execução) e de projeção de recursos (origem e quantidade
necessária para a execução no prazo determinado). Essa análise pôde promover a
exequibilidade do PMC, a não ser em caso de algum contingenciamento relacionado ao
orçamento municipal. Chegando a esta fase, esperava-se que a equipe de elaboração tivesse
clareza da capacidade orçamentária do município, imprimindo no Plano o aspecto
exequibilidade (Figura 14).
Figura 14 - Módulo Projeção de Prazos e Recursos
112
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
2.7.11 Módulo VI: Monitoramento do Plano
Por fim, a metodologia explorou o módulo Monitoramento do Plano Municipal
(BRITTO, 2014b), conteúdo estabelecido no roteiro metodológico de elaboração do PMC que
abordou os temas dos indicadores de monitoramento das metas e o modelo de gestão do
Plano.
Como já destacado, o monitoramento consistiu em trabalhar “parâmetros para
mediação da situação desejada em relação à situação atual encontrada.” (idem, ibidem, p. 8),
com a finalidade principal de acompanhar como as metas estariam sendo executadas (Figura
15). Para isso, a metodologia também descreveu uma série de recomendações que visaram
objetividade e clareza, para que fosse possível apurar se a meta estaria sendo ou não
executada de acordo com os parâmetros acordados no Plano e nas peças orçamentárias.
Figura 15 - Monitoramento do Plano Municipal de Cultura
113
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
A segunda unidade desse módulo, assim como explicitado no III Guia de Orientação
para elaboração dos PMC, da primeira edição do Projeto MinC-UFBA, apresentou
orientações sobre o modelo de gestão a ser adotado para o gerenciamento e execução do
Plano.
2.8 Resultados obtidos pelo Projeto
2.8.1 Primeira edição
Como resultado quantitativo, ao final da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA, cinco
municípios haviam concluído a elaboração dos seus Planos, com aprovação na Câmara
Municipal e conversão em lei.
A equipe da EAUFBA realizou uma avaliação que permitiu não somente demonstrar
percepções sobre o trabalho realizado, como também produzir pareceres técnicos que
subsidiassem o MinC em outras ações de apoio à implantação dos Sistemas Municipais de
Cultura. Dentre os pontos relevantes, destacaram-se:
. Aprendizado em processo de planejamento e em conceitos da área cultural;
. Consciência da institucionalização e da importância da estruturação
sistêmica;
. Formato da Assistência Técnica deve ser aprimorado […];
114
. Baixo nível de envolvimento da estrutura das prefeituras;
. Baixo nível de envolvimento de outras esferas e poderes do estado;
. Apropriação da experiência pelo ambiente acadêmico;
. Apropriação dos resultados do planejamento pelas estruturas de poder e
gestão dos municípios. (UFBA, 2013a, p. 22)
Com o objetivo de apurar o comprometimento dos municípios participantes com a
efetiva instituição do respectivo PMC, a UFBA realizou, em 2014, novo levantamento e
identificou um panorama mais favorável, em face da significativa evolução nos resultados,
como abordado no Quadro 13:
Quadro 13 - Resultados da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA
Planos aprovados e sancionados no legislativo
Belo Horizonte (MG)
Campo Grande (MS)
Florianópolis (SC)
Fortaleza (CE)
Joinville (SC)
Laranjeiras (SE)
Porto Alegre (RS)
Recife (PE)
Santa Luzia (MG)
São Caetano do Sul (SP)
São Leopoldo (RS)
São Luís (MA)
Vitória (ES)
Planos aprovados e não sancionados Olinda (PE)
Planos sendo encaminhados ao Legislativo Aracaju (SE)
João Pessoa (PB)
Planos sem encaminhamento a Legislativo
Betim (MG)
Manaus (AM)
Rio de Janeiro (RJ)
Sabará (MG)
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2014).
Como aspecto positivo dessa experiência, observou-se que o processo, alinhado às
diretrizes traçadas pelo MinC para a formatação do Projeto, favoreceu o aspecto participativo.
Além da metodologia e das ações propostas pela UFBA, cada município com Plano finalizado
desenvolveu, no decorrer da elaboração dos PMC, estratégias que, em certa medida, buscaram
proporcionar maior aproximação entre o poder público local e a sociedade civil, fortalecendo,
assim, a participação social na construção do documento.
Isto favoreceu a pluralidade participativa e trouxe para os debates locais profundas
115
discussões sobre identidades e dinâmicas culturais, bem como reforçou a importância do
reconhecimento da diversidade cultural e de seus modos de expressão como elemento
fundamental para a formulação das políticas públicas de cultura.
A equipe da EAUFBA assinalou também outros pontos positivos observados, a saber:
a) ampliação do entendimento sobre a relevância de se promover maior participação social na
elaboração do Plano; b) importância do reconhecimento da diversidade cultural local, suas
formas de expressão e modos de vida dos grupos sociais e culturais que compunham o
município; c) criação de meios de comunicação, virtuais e presenciais, para dar visibilidade ao
processo e promover o diálogo entre o poder público e a sociedade; d) protagonismo
assumido por alguns órgãos de cultura e pelos Conselhos de Políticas Culturais ativos; e)
mapeamentos e cadastros culturais realizados durante o processo; e, f) surgimento de algumas
propostas de articulação interinstitucional realizadas por alguns dos municípios em favor da
transversalidade da cultura.
A respeito dos pontos negativos, foram observados: a) fragilidade de alguns
municípios com relação a conceitos teóricos do campo da cultura; b) despreparo dos
Conselhos de Políticas Culturais para atuarem no processo de elaboração dos Planos; e, c)
órgãos de cultura desprovidos de estrutura física e humana para a gestão.
Serviram de parâmetros para avaliação do MinC os relatórios bimestrais apresentados
pela EAUFBA, pareceres técnicos sobre cada um dos municípios contemplados nesta edição,
relatórios das 64 visitas técnicas presenciais realizadas pela equipe central aos municípios,
além das observações feitas pelo próprio Ministério, através das equipes da SAI/MinC e
Secretaria de Políticas Culturais (SPC/MinC), que acompanharam o trabalho da consultoria.
No entanto, apesar da constatação de que, no geral, essa foi uma experiência rica,
tornou-se inviável para o MinC manter o formato presencial de assessoramento técnico,
devido à dimensão territorial brasileira e à emergência do cumprimento da meta relacionada à
implantação dos Sistemas Municipais de Cultura. Além disso, a equipe da EAUFBA apontou,
como uma das principais questões, a necessidade de associar consultoria técnica a um
processo formativo, no qual gestores, técnicos e representantes da sociedade civil pudessem
ser capacitados para a implantação dos Sistemas de Cultura, com foco nos Planos. Essa
proposta de capacitação objetivaria fazer um alinhamento de conceitos e termos utilizados no
campo da cultura, com a apreensão da metodologia de elaboração de PMC.
Diante dessa análise, o MinC assinou um novo Termo de Cooperação com a UFBA
para a realização de uma nova edição do projeto, dessa vez baseada em ferramentas de
atuação à distância, de modo a promover ganho de escala através da incorporação de um
116
maior número de entes municipais.
A possibilidade de outro Termo de Cooperação já havia sido aventada pelas equipes
da UFBA e do MinC, em virtude das fragilidades detectadas durante o Projeto. Ainda com a
presença do professor Vicente Federico como coordenador técnico, já se cogitava a
continuidade do Projeto em outro formato, atendendo ao desejo e necessidade de ampliar o
raio de atuação. De fato, a segunda edição abarcou um número significativamente maior de
municípios.
Apesar do falecimento de Federico, a equipe da EAUFBA concluiu essa edição em
julho de 2013, apresentando os resultados ao MinC. Neste momento, o MinC passava por
uma mudança na gestão, assumindo a pasta a senadora Marta Suplicy, que, em uma
reorganização do seu corpo de assessores, substituiu o então Secretário de Articulação
Institucional, Roberto Peixe, por Marcelo Pedroso, a quem a equipe da EAUFBA apresentou
os resultados do Projeto.
Nesse momento, foram adotados novos procedimentos para a assinatura de um novo
Acordo de Cooperação, resultando na segunda edição do Projeto MinC-UFBA, denominada
Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância. O novo Termo foi
assinado em julho de 2013, no entanto, devido às dificuldades na tramitação do processo que
culminou com a contratação da FAPEX para a gestão dos recursos, o trabalho somente foi
iniciado em dezembro do mesmo ano.
2.8.2 Segunda edição
O ambiente virtual de aprendizagem deu suporte ao trabalho e garantiu a escala de
atuação pretendida pelo MinC, atendendo a um número muito maior de municípios em
relação à primeira edição. Tal ferramenta buscou favorecer a interação entre os participantes,
o desenvolvimento da análise crítica, a apropriação e o compartilhamento de conhecimento.
Em números, 439 municípios foram cadastrados na plataforma moodle, sendo que
deste total, 333 atentaram para a metodologia, participando dos fóruns e desenvolvendo as
atividades correlatas. Entre esses municípios, 177 receberam assistência técnica via sistema de
preenchimento de minutas de Planos (template) e 95 finalizaram o documento (Figura 16).
Figura 16 - Municípios Participantes da Formação
117
Fonte: EAUFBA, 2016b, p. 8.
Entre os que participaram dos Encontros Regionais, destacaram-se os integrantes das
Regionais Minas (42 pessoas, de 27 municípios), São Paulo (33 pessoas, de 18 municípios),
Bahia (29 pessoas, de 15 municípios) e Sul (23 pessoas, de 13 municípios). As Regionais
Norte (16 pessoas, de 11 municípios), Rio de Janeiro (sete pessoas, de três municípios) e
Centro-Oeste (três pessoas, de um município) apresentaram menor participação (EAUFBA,
2016e, p. 50).
A partir da decisão compartilhada entre a equipe da EAUFBA e os representantes
presentes nos encontros regionais, ficou estabelecido que haveria prorrogação quanto ao apoio
técnico aos municípios que, embora ainda não houvessem finalizado o documento,
encontravam-se em estado avançado. Dois técnicos foram designados para darem esse apoio
entre os meses de setembro e dezembro de 2015.
A seleção dos municípios que participariam da segunda edição se pautou naqueles que
atuaram ativamente na etapa formativa e que estavam elaborando o PMC com ampla
participação social, tendo sido, para isso, realizada uma pesquisa através do SurveyMonkey,
intitulada Pesquisa de Sensibilização e Mobilização (EAUFBA, 2015e), que objetivou
identificar os municípios que estavam elaborando o PMC por meio de participação social ou
que haviam realizado alguma ação de sensibilização e mobilização, contemplando 333
118
municípios, dos quais 175 responderam resultando na seleção de 65 deles, como detalhado no
Quadro 14.
Quadro 14 - Quantidade de Municípios Participantes - Fase de Monitoramento
Unidades Federativas Total Regiões Total
São Paulo 15 Sudeste 29
Minas Gerais 10 Nordeste 16
Bahia 5 Sul 10
Maranhão 5 Norte 6
Paraná 4 Centro-Oeste 4
Rio Grande do Sul 4 TOTAL 65
Espírito Santo 3
Pará 3
Tocantins 3
Ceará 2
Rio Grande do Norte 2 Regional MinC Total
Santa Catarina 2 São Paulo 15
Acre 1 Minas Gerais 10
Alagoas 1 Nordeste 11
Amazonas 1 Sul 10
Goiás 1 Norte 6
Piauí 1 Bahia e Sergipe 5
Rio de Janeiro 1 Centro-Oeste 4
Roraima 1 Rio de Janeiro e Espírito
Santo 4
TOTAL 65 TOTAL 65
Fonte: idem, ibidem, p. 55-56.
O atendimento oferecido pelos técnicos nessa fase compreendeu comunicações através
da plataforma moodle (fóruns de discussão teórica); ligações telefônicas; reuniões por skype;
visitas presenciais, quando demandadas pelos municípios; e revisão sistemática dos
documentos de Planos das cidades envolvidas.
As regiões brasileiras que se destacaram nesta fase foram o Nordeste, Sudeste e Sul. Já
de acordo com a divisão regional utilizada pelo MinC, as regionais com maior participação
119
foram Nordeste, Sul, São Paulo e Minas Gerais. Entre os 65 municípios atendidos nessa fase,
o resultado alcançado se expressa na Figura 17:
Figura 17 - Resultados dos Municípios - 2ª Edição
Fonte: idem, ibidem, p. 59.
Após a finalização da fase de monitoramento, o Projeto realizou outra pesquisa com o
objetivo de quantificar o número de municípios que desenvolveram os Planos de Cultura.
Intitulada Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento dos Planos Municipais de Cultura
Assessorados pela UFBA, esse instrumental foi aplicado entre 27 de janeiro e 29 de fevereiro
de 2016, através de e-mail. Foram obtidas 193 respostas, representando 167 municípios de 22
estados brasileiros (idem, ibidem, p. 63). Dentre os respondentes, aproximadamente 80% 10
se
identificaram como representantes do poder público e 20% da sociedade civil. Como já
observado em outras pesquisas, os Estados com maior participação foram Bahia (19,17%),
seguido de São Paulo (18,65%) e, logo em seguida, Minas Gerais (12,44%), conforme mostra
o Gráfico 2:
Gráfico 2 - Pesquisa de Estágio de Desenvolvimento - Municípios Respondentes
10 Nesta fase do projeto, os dados disponíveis sobre a evolução dos PMCs e participantes estão contidos em
relatórios das pesquisas desenvolvidas pela equipe e ainda não foram divulgados para o público externo.
120
Fonte: EAUFBA, 2016b, p. 20.
A partir das respostas recebidas, foi possível verificar a situação de cada município em
relação ao desenvolvimento do seu PMC. O Gráfico 3 demonstra uma grande dispersão, com
municípios nas mais diversas situações, sendo que 15% já possuíam lei sancionada para o
PMC, enquanto parcela semelhante sequer havia começado o trabalho.
Gráfico 3 - Desenvolvimento dos PMCs - Situação dos Municípios - Fev/2016
Fonte: EAUFBA, 2016d, p.6.
121
Nesta pesquisa, também foi verificado que: entre os municípios participantes, 83,85%
elaboraram seus Planos de forma participativa; para 63,64% dos municípios, a metodologia
aplicada pela UFBA foi o único apoio externo para a construção dessa peça de planejamento;
13,64% mantiveram a metodologia, mas contrataram consultores para assessoramento local; e
22,73%, além de contratarem uma consultoria externa, seguiram uma metodologia distinta da
utilizada pela UFBA.
A partir dos dados obtidos, das informações colhidas ao longo do processo e das
comunicações realizadas com as equipes pedagógicas, orientadores e participantes sobre a
importância e efetividade da metodologia, a equipe da EAUFBA propôs ao MinC a promoção
de um aditivo para uma requalificação metodológica, visando aprimorar os conteúdos
conceituais, revisar o roteiro de elaboração do PMC, sistematizar as informações
metodológicas que foram transformadas em manuais e produzir videoaulas sobre os
conteúdos aportados.
Para essa tarefa, foi proposto um grupo de trabalho reunindo a equipe gestora do
Projeto e convidados, que foram envolvidos na elaboração dos Planos de Cultura e na
formação em gestão e políticas culturais. Alguns desses convidados foram os pesquisadores e
docentes Eloise Dellagnelo, da UFSC; José Márcio Barros, docente da Universidade Estadual
de Minas Gerais (UEMG) e diretor do Observatório da Diversidade Cultural (ODC); Rosimeri
Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); e, Daniele Canedo, da
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
De acordo com as avaliações sobre a formação, realizadas ao longo do processo,
foram listados pontos positivos e a melhorar, dos quais alguns foram considerados
significativos para o trabalho de requalificação da metodologia adotada. Os pontos avaliados
foram: módulos básicos; módulos de elaboração dos Planos; prática de tutoria e orientação;
moodle e sua gestão; e template, conforme mostra o Quadro 15:
Quadro 15 - Metodologia de PMCs: pontos positivos e a melhorar
Elementos Pontos Positivos Pontos a Melhorar
Requalificação
Módulos Básicos
a) Ampliação da visão de mundo
da cultura;
b) Fundamentação para a
elaboração do PMC.
c) Linguagem e abordagem muitas
vezes difíceis e “acadêmicas”;
d) Necessidade de melhorar e
complementar material pedagógico;
e) Aprofundamento do tema
Mobilização e Participação Social.
122
Módulos para
elaboração do
PMC
f) Linguagem acessível,
objetividade do conteúdo,
abordagem popular e científica,
questões reflexivas;
g) Ajudou a esboçar o PMC.
h) Roteiro não se adapta a todos os
municípios – verificar possibilidade de
versão simplificada;
i) Articular o conteúdo dos módulos
conceituais com os módulos de
elaboração dos planos;
j) Programação visual dos módulos
precisa melhorar.
Prática de
tutoria e
orientação
k) Promoção de redes de
relacionamento e confiança;
l) Diversidade geográfica dos
tutores;
m) Humanização da relação,
aspecto que foi replicado pelos
tutores nos fóruns.
n) Maior interação dos participantes
com os tutores;
o) Maior interação e troca de
experiência entre os tutores;
p) Evitar quebra de relação com tutor
na fase de orientação.
Moodle e sua
gestão
q) Período prévio dado aos tutores
para apropriação e familiarização da
plataforma;
r) Funcional, explicativo.
s) Maior interação dos participantes
com os tutores;
t) Maior interação e troca de
experiência entre os tutores;
u) Evitar quebra de relação com tutor
na fase de orientação.
Template
v) Inovador;
w) Interação entre o conteúdo dos
módulos e os campos do template; x) Qualidade dos Orientadores.
y) Instabilidade da plataforma
template; z) Incluir vídeo com explicações
adicionais sobre informações
demandadas no template.
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2015f).
Após as reuniões de trabalho, o GT propôs várias recomendações acerca da
metodologia, incluindo reformulação de conteúdos, método e instrumentos de suporte à
formação (EAUFBA, 2016a). Foram elas:
- que a formação de gestores e o assessoramento aos municípios para elaboração de
Planos de Cultura fossem organizados de forma semipresencial;
- que fosse promovida uma revisão do material pedagógico, visando tornar a
abordagem dos conteúdos e a linguagem mais acessíveis;
- que fosse oferecida uma versão simplificada do roteiro do Plano Municipal de
Cultura, diminuindo a complexidade e a carga de conteúdos, visando, sobretudo, alcançar os
municípios de pequeno e médio porte;
- que os tutores fossem capacitados para a apreensão da metodologia e dos
conteúdos, bem como para atuar como assistentes técnicos na fase de elaboração do PMC; e,
- que o template fosse reformulado para ser utilizado ao longo de todo o processo de
formação, de modo a reforçar a centralidade do PMC na formação.
123
Sendo assim, em uma futura edição do Projeto, ficou estabelecido que o módulo Visão
Geral apresentaria todo o percurso da formação e faria a ligação entre os módulos conceituais
e os de Planos, ressaltando que os módulos conceituais seriam agrupados em três blocos, além
de ganharem novos temas relacionados à participação social e economia criativa e solidária,
tais como:
- Políticas Públicas + SNC, incluindo mobilização e participação social;
- Cultura e Produção Simbólica + Cultura e Desenvolvimento, incluindo economia
criativa e solidária;
- Planejamento Público, incluindo financiamento e fontes de financiamento público.
Além disso, os Módulos de Elaboração de Planos foram revistos, adotando um roteiro
mais simplificado, mas mantendo o material completo para consultas e, por fim, foi realizado
ajustes no template, de forma a desdobrar a função Diagnóstico da Cultura, que passaria a
suportar as diversas atividades envolvidas.
Associado a isso, foram produzidas as videoaulas e o formulário de preenchimento de
experiências, sendo este último um instrumento que pretendeu possibilitar aos participantes o
registro de práticas da gestão pública municipal, visando à construção de dados, divulgação de
informações e promoção de novas estratégias para a gestão e políticas de cultura.
Com essa atividade, o Projeto de Elaboração de Planos Municipais de Cultura chegou
à etapa final, tendo como produtos entregues ao MinC os módulos básicos e de Planos, as
videoaulas, o template e o banco de experiência.
2.8.3 Resultados quantitativos do processo: participação e interação na plataforma moodle
A fim de embasar as reflexões apresentadas nesse trabalho, foi realizada uma análise
quantitativa do acesso à plataforma moodle e a participação dos representantes e tutores nos
fóruns de discussão teórica dos diferentes temas tratados na formação. Também foi realizado
um mapeamento dos municípios participantes, a partir da sua localização nas regiões, porte
populacional e nível de desenvolvimento humano. Esses levantamentos objetivaram avaliar o
nível do acesso e participação, bem como traçar um perfil dos municípios contemplados no
Projeto.
Evidenciamos que não foi realizada essa análise sobre a primeira edição do projeto,
pois a gestão dos processos locais era de responsabilidade do órgão gestor de cultura, tendo
ocorrido falhas no registro sistemático dos atores e agentes culturais envolvidos, o que
124
comprometeu o adequado registro das participações municipais. Além disso, muitas cidades
deixaram de seguir a orientação de formalizar, através de decreto municipal, as equipes de
elaboração do Plano, o que prejudicou o compromisso legal dos participantes e resultou em
uma rotatividade das equipes locais.
Lembramos ainda que, nessa edição, a participação se deu de forma difusa, sem uma
sistematização fidedigna das atividades de diálogo e participação social que envolveram o
Plano, que além do núcleo de elaboração, contemplou estratégias de sensibilização e
mobilização social, as quais resultaram em diversos encontros para apresentação da
metodologia e para a construção do documento, tornando inviável medir o nível de
participação e o acesso ao material.
Na segunda edição, por meio do registro de acesso dos participantes à plataforma
moodle, foi possível coletar informações e dados sobre a participação dos representantes
municipais, bem como dos tutores, através das suas intervenções nos fóruns de discussão
teórica. Além disso, levantamos uma amostra representativa dos municípios participantes e
sua evolução durante o processo. Esse levantamento foi possível devido à organização e
sistematização do material pela supervisão de tutoria e pela secretaria executiva do Projeto,
que realizaram o controle do ambiente virtual de aprendizagem e foram responsáveis pela
elaboração dos relatórios trimestrais. Esse material, associado a outras fontes, forneceu
importantes subsídios para esta dissertação.
A formação foi composta por 12 módulos, sendo que 11 deles dispuseram sobre o
conteúdo da formação de Planos e um tratou das orientações sobre o uso e manejo na
ferramenta digital11
. 439 municípios e 840 representantes participaram do processo formativo,
e para agrupá-los, foram constituídos 21 grupos temáticos, distribuídos em 11 fóruns de
discussão.
Entre os 21 grupos12
, dez grupos com representantes municipais foram selecionados
para a amostra, enquanto um não foi considerado, pois reuniu agentes públicos e
representantes de organizações sociais, com o objetivo de proporcionar acesso à metodologia
de Planos. Cada um dos municípios dispôs de uma dupla de tutores para tirar dúvidas e
promover orientações.
11 Este módulo não foi utilizado como material de análise para essa pesquisa, já que foi dedicado a orientações
de cunho operacionais da plataforma da formação. 12 Grupos selecionados para a amostra: Adriana Calcanhotto, Almir Sater, Caetano Veloso, Cazuza, Chico
Science, Gonzaguinha, Luiz Gonzaga, Marisa Monte, Rita Lee e Tom Jobim. Grupos com representantes
municipais fora da amostra: Cartola, Chico Buarque, Djavan, Gilberto Gil, Lenine, Milton Nascimento, Raul
Seixas, Roberto Carlos, Zé Ramalho e Zeca Baleiro; Grupo não considerado: Dorival Caymmi.
125
Entre os 11 módulos da formação, três deles foram selecionados para a análise:
Cultura e Produção Simbólica; Cultura e Desenvolvimento e Análise da Situação Atual. O
principal critério para a escolha desses módulos foi o fato de os dois primeiros terem
abordado, de forma transversal, o tema da diversidade cultural, enquanto o último abordou
aspectos técnicos para formulação do diagnóstico cultural do município.
Os dez grupos selecionados para a amostra foram compostos por 216 municípios
participantes da formação (49,2% do total) e por 401 representantes municipais (48,6% do
total), como mostra o Gráfico 4. De cada um dos dez grupos selecionados, trabalhamos três
fóruns de discussão teórica, totalizando 30 fóruns analisados. Esse levantamento foi feito a
partir da comparação entre as informações disponíveis na plataforma moodle e as constantes
da planilha Participantes Inscritos.xls (EAUFBA, 2014c). A partir dessa análise qualitativa,
cruzamos dados e informações para discutir e promover a compreensão sobre a relação do
Projeto com a diversidade cultural.
Gráfico 4 - Grupos do Projeto e da Amostra
Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).
Para qualificação do conjunto de municípios participantes, consideramos informações
relativas à localização geográfica, população e desenvolvimento humano disponíveis no portal
Cidades@, do IBGE (2016)13
. Tais informações serviram para delimitar o grupo de
13 Para fins desta pesquisa, foram estabelecidos os seguintes critérios para classificação dos municípios: a)
Porte populacional (baseado no Censo Demográfico de 2010): pequeno: menos de 50 mil habitantes; médio:
igual ou mais que 50 mil habitantes e menos que 500 mil habitantes; grande: igual ou mais que 500 mil
habitantes; b) Nível de desenvolvimento humano (baseado no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal –
IDH-M de 2010): muito baixo: menor que 0,500; baixo: igual ou maior que 0,500 e menor que 0,600; médio:
126
municípios contemplados no Projeto, suas similaridades e heterogeneidades, já que o único
critério definido pelo MinC para esse agrupamento foi o nível de adesão dos municípios ao
SNC. A Figura 18 traz a distribuição pelas regiões brasileiras.
Figura 18 - Distribuição dos municípios por região - 2ª Edição
Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).
Entre os 439 municípios participantes do Projeto, 310 (70,6%) eram de pequeno porte;
121 (27,6%) de médio porte; e oito (1,8%) de grande porte, enquanto na composição da nossa
amostra eram, respectivamente, 155 (71,7%), 55 (25,5%) e seis (2,8%). Verificamos, assim,
que cerca de 70% da amostra que selecionamos correspondeu a pequenos municípios,
semelhante ao observado no Projeto como um todo.
Dos 439 municípios participantes do Projeto, seis (1,4%) apresentaram nível de
desenvolvimento humano muito baixo; 95 (21,6%) baixo; 146 (33,3%) médio; 180 (41,0%)
alto; e 12 (2,7%) nível muito alto. Para o âmbito da nossa amostra, composta por 216
municípios, dois deles (0,9%) apresentaram nível de desenvolvimento muito baixo; 26
(12,0%) baixo; 76 (35,2%), médio; 100 (46,3%) alto; e 12 (5,6%), nível muito alto. Dessa
forma, tanto no grupo do Projeto quanto na amostra, cerca de 80% dos municípios
encontravam-se em um patamar de desenvolvimento humano classificado entre médio e alto.
O Gráfico 5 mostra a distribuição dos municípios a partir da combinação entre porte
populacional e nível de desenvolvimento humano. Além de a amostra manter similaridade
igual ou maior que 0,600 e menor que 0,700; alto: igual ou maior que 0,700 e menor que 0,800; muito alto: igual
ou maior que 0,800.
127
com o panorama do Projeto, verificamos que os municípios de menor porte apresentaram
ampla variação em relação ao IDH-M.
Gráfico 5 - Distribuição dos Municípios por população e IDH-M - 2ª Edição
Fonte: a autora, a partir de dados de IBGE (2016) e UFBA (2016).
Houve, assim, uma predominância de municípios de pequeno porte e com nível de
IDH médio ou alto, seja quando tomamos o Projeto como um todo, seja quando consideramos
apenas a amostra. É importante destacar que, embora não houvesse uma relação entre porte
populacional e nível de desenvolvimento, verificamos que, mesmo de modo não intencional, o
Projeto contemplou pequenos e médios municípios, o que caracteriza um ponto positivo pelo
fato desses serem os entes mais desprovidos de elementos voltados para a institucionalidade,
gestão e implementação de políticas públicas na área cultural.
Em relação à atuação dos representantes municipais, verificamos uma significativa
presença do poder público (aproximadamente 60%), enquanto cerca de 40% dos participantes
representaram a sociedade civil. Em relação ao Projeto, dos 840 participantes, o poder público
participou com 478 representantes (56,9%) e a sociedade civil com 343 (40,9%), sendo que
quatro (0,5%) se intitularam representantes simultâneos do poder público e da sociedade civil
e 15 (1,7%) não tiveram a sua área de representação identificada.
Na amostra, a relação é similar, visto que 234 (57,7%) participaram como
representantes institucionais e 163 (40,1%), da sociedade civil, tendo ainda quatro (1%) que
se identificaram como representantes das duas instâncias de poder e cinco (1,2%) não foram
identificados.
Observamos que houve uma convergência em termos de percentuais de participação,
contudo a representação do poder público esteve em maior proporção (Gráfico 6). Vale
128
ressaltar que a indicação do representante da sociedade civil foi feita pelo gestor municipal ou
pelo Conselho de Política Cultural, sendo que, devido ao respeito à autonomia federativa, não
houve ingerência nem do MinC, nem do Projeto, cabendo a este adotar as informações
contidas no formulário de inscrição.
Gráfico 6 - Distribuição dos participantes por área de representação
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
Para levantar dados sobre o nível de participação, consideramos tanto o acesso e
participação das pessoas quanto dos municípios na formação para a elaboração dos Planos.
Como critério para análise, fizemos as seguintes perguntas: “Acesso à plataforma?” e
“Participação em fórum?”. Para respondê-las, foram adotadas as seguintes combinações: a)
sim/sim: para acesso à plataforma e participação no fórum; b) sim/não: para acesso à
plataforma, mas sem participação em fórum; e c) não/não: para negativa tanto quanto ao
acesso como, por consequência, à participação.
No que se refere ao acesso e participação dos representantes municipais, temos o
seguinte panorama: dos 840 participantes do Projeto, 415 acessaram a plataforma e
participaram do fórum; 193 acessaram a plataforma e não participaram do fórum e 232 nunca
acessaram a plataforma e nem participaram do fórum. Na amostra, verificamos que do total de
406 participantes, 207 acessaram a plataforma e acessaram o fórum; 97 acessaram a
plataforma e não participaram do fórum e 102 nunca acessaram ou participaram da formação.
Desta forma, constatamos que também há uma distribuição similar tanto no Projeto
quanto na amostra (Gráfico 7). Algo em torno de 50% dos representantes acessaram a
plataforma e participaram dos fóruns, cerca de 23% acessaram e não participaram do fórum e,
por fim, aproximadamente 26% nunca acessaram e nunca participaram dos fóruns.
129
Gráfico 7 - Participação na plataforma moodle e nos fóruns
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
Para o levantamento sobre o acesso e participação nos fóruns (Gráfico 8), os
representantes municipais foram considerados individualmente. Ao longo da formação, foram
realizadas algumas substituições; sendo assim, no caso da troca de um representante por
outro, foram considerados como dois registros de representantes.
Sob o ponto de vista dos municípios, constatamos que pouco menos de dois terços
deles tiveram, ao menos, um representante que acessou a plataforma e participou de fórum,
enquanto cerca de 20% deles tiveram, ao menos, um representante que acessou a plataforma,
mas não participou de fórum. Para quase 20% dos municípios, nenhum representante acessou
a plataforma e, por consequência, nem participou de fórum.
Gráfico 8 - Participação dos municípios - acesso na plataforma e participação em fóruns
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
130
Para verificar se houve participações ativas nos fóruns de discussão teórica (Gráfico
9), consideramos, além das intervenções dos participantes, aquelas feitas também pelos
tutores. Constatamos que os representantes dos municípios da amostra corresponderam a
cerca de 90% dos participantes dos fóruns, contribuindo com 60% das intervenções
realizadas.
Os tutores dos fóruns, apesar de serem menos de 10% dos participantes, realizaram os
quase 40% restantes das intervenções. É importante mencionar que alguns tutores
participaram de vários grupos, assim a soma de tutores do Projeto é menor que a soma dos
tutores por grupo.
Gráfico 9 - Representantes e Tutores - participação e intervenção em fóruns
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
Ao analisarmos, no Projeto, a participação e intervenção na formação, é possível
observar que, à medida que a abordagem dos conteúdos avançou, houve uma queda
sistemática do nível de participação e intervenção no fórum de discussão, como mostra o
Gráfico 10.
Gráfico 10 - Participação e intervenção nos fóruns, por módulo
131
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
Comportamento similar de declínio da participação e intervenção na formação é
verificado quando se analisam mais detidamente os módulos selecionados para a amostra,
conforme demonstra o Gráfico 11:
Gráfico 11 - Participação e intervenção nos fóruns, por módulo da amostra
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2016).
Nesta etapa da análise, alguns pontos de atenção surgiram no processo de construção
dessas informações, especialmente no que se refere à participação dos municípios no Projeto,
bem como à participação e intervenção dos tutores.
132
Para composição da amostra, adotamos o critério de selecionar dois grupos temáticos
por região. Como a quantidade de municípios por grupo foi similar, ocorreu uma alteração da
participação relativa de cada região na amostra em comparação ao conjunto do Projeto.
Apesar disso, observamos que a amostra demonstra um comportamento similar ao conjunto
dos municípios contemplados, com diferenças percentuais não significativas.
Embora os representantes municipais tivessem em maior quantidade, ocupando mais
de 90% da participação nos fóruns, os tutores também refletiram um percentual significativo
das intervenções, chegando a quase 40% do total, o que se justifica pela função
desempenhada por eles, como: abertura do fórum e apresentação do conteúdo que norteou a
discussão; sensibilização para a participação dos representantes nos fóruns; promoção de
reflexões e aprofundamentos sobre os temas e fornecimento de informações complementares
ao processo da formação.
Por fim, verificamos que houve uma trajetória decrescente tanto de participação
quanto de intervenção nos fóruns, à medida que se avançou nos módulos previstos no Projeto.
Trajetória similar observamos na tabulação da participação e da intervenção dos grupos da
amostra nos módulos selecionados. A involução no nível de participação reflete a evasão
detectada.
Sendo assim, ao compararmos os indicadores acima descritos, observamos que a
amostra se configura como uma representação adequada e equivalente ao Projeto MinC-
UFBA. Do ponto de vista da diversidade cultural, podemos afirmar que o Projeto contemplou
um conjunto de municípios com diferentes características e perfis, abrangendo, assim, uma
ampla diversidade de contextos, o que, a partir da participação dos seus representantes, criou
um espaço para apresentação de diferentes formas de entender a cultura e de enxergar o
mundo.
2.8.4 Participação e preenchimento do template
Aqui apresentaremos os números relativos à participação dos municípios no uso de
template, a distribuição regional dessas cidades, o nível de preenchimento e a evolução ao
longo das etapas. Dos 439 municípios que participaram da formação realizada na 2ª fase do
Projeto MinC-UFBA, verificamos que 178 municípios (40,5%) acessaram o template para
elaboração do PMC e 261 municípios (59,5%) não registraram qualquer participação nessa
fase, como exposto no Gráfico 12.
133
Gráfico 12 - Participação de municípios no template
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
No que se refere à distribuição regional, observamos distintos níveis de participação
por região brasileira. Enquanto o Centro-Oeste registrou o menor percentual, com apenas 15%
dos municípios participantes acessando o template, a região com maior nível de participação
foi a Sudeste, conforme podemos observar no Gráfico 13:
Gráfico 13 - Distribuição regional e participação de municípios
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c) e IBGE (2016).
Na evolução, ao longo das etapas, foi observada uma contínua queda no grau de
completude do preenchimento do template14
. Sem entrar na análise qualitativa do conteúdo
posto, registrou-se que, enquanto 70% de municípios preencheram todos os itens de
14 Para fins desta pesquisa, estabeleceu-se o seguinte critério: a) Completo: quando todos os itens da etapa
foram preenchidos; b) Parcial: quando, sem ser de forma completa, algum item da etapa foi preenchido; c) Não:
quando nenhum item da etapa foi preenchido.
134
Caracterização, as duas últimas etapas, Operacionalização do Futuro Desejado e
Monitoramento do PMC, registraram menos de 20% dos municípios com todos os itens
preenchidos, como representado no Gráfico 14.
Gráfico 14 - Completude no preenchimento do template
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
A metodologia aplicada no Projeto MinC-UFBA pressupunha o preenchimento das
informações num processo sequenciado e incremental, onde o preenchimento do material em
uma etapa era diretamente dependente do preenchimento – e, por óbvio, da qualidade – do
que foi conteúdo em cada etapa anterior. Desse modo, o preenchimento incompleto numa
etapa comprometia o desenvolvimento de todas as etapas subsequentes e, por consequência,
do próprio processo de elaboração da minuta do PMC.
Nesse sentido, foi verificada uma queda sistemática e relevante do nível de
completude no preenchimento do template (Gráfico 15). Enquanto quase 70% dos municípios
(121)15
preencheram completamente a etapa Caracterização do Município, pouco mais de
10% (21) chegaram à última etapa, Monitoramento, com todas as etapas anteriores
preenchidas por completo.
Gráfico 15 - Evolução de minutas de Planos no template
15 Para a análise realizada sobre o preenchimento do template, consideramos como universo amostral o total de
178 municípios, ou seja, aqueles que acessaram a ferramenta.
135
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
Na etapa Caracterização Municipal, preenchida completamente por 121 municípios
(68%), observou-se a queda contínua do nível de preenchimento entre os itens (Gráfico 16).
Enquanto a quase a totalidade (175 ou 98,3%) dos municípios preencheu o primeiro item,
Histórico do Município, cerca de 70% (129) preencheram o último item considerado
obrigatório, Aspectos Políticos e Institucionais. O item Outros Aspectos, devido ao seu
caráter opcional, foi preenchido por apenas 27,5% (49) dos municípios participantes.
Gráfico 16 - Preenchimento do template: caracterização
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
Na etapa Panorama Cultural também observamos uma queda no nível de
preenchimento, apesar de em um ritmo menor do que na etapa anterior (Gráfico 17).
136
Enquanto 75% (134) dos municípios que acessaram o template preencheram o item
Manifestações, o último item, Institucional e Gestão foi preenchido por somente 64% (114).
Gráfico 17 - Preenchimento do template: panorama
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
Na etapa Diagnóstico Cultural, a queda continuou a ocorrer, saindo de 60% dos
municípios (107) no preenchimento do primeiro item para 54% (96), no terceiro e último item
da etapa (Gráfico 18).
Gráfico 18 - Preenchimento do template: diagnóstico
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
137
Na etapa Projeção do Futuro Desejado, em que pese a continuação do processo de
queda observado nas etapas anteriores, registra-se uma estabilização, com percentuais
relativamente próximos, variando entre 58% e 55% de municípios (104, 101 e 98) que
preencheram os itens Diretrizes, Prioridades e Objetivos (Gráfico 19).
Gráfico 19 - Preenchimento do template: projeção
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
Já em Operacionalização do Futuro Desejado, tem-se que todos os itens dessa etapa
foram preenchidos por menos da metade dos municípios, agravando o ritmo de queda
observado ao longo do preenchimento do template (Gráfico 20). Registra-se o preenchimento
do primeiro item por 49% dos municípios (88), enquanto apenas 20% (36) preencheram o
último item dessa etapa.
Gráfico 20 - Preenchimento do template: operacionalização
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
138
A última etapa do template, Monitoramento do PMC, possuía apenas o item
Indicadores, que foi preenchido por menos de 20% (35) dos municípios (Gráfico 21),
deixando patente, quando da comparação entre todos os itens, o processo de queda contínua
da participação dos representantes municipais.
Gráfico 21 - Preenchimento do template: monitoramento
Fonte: a autora, a partir de dados de EAUFBA (2016c).
139
CAPÍTULO 3
A ANÁLISE DA DIVERSIDADE CULTURAL
NO PROJETO MINC/UFBA
A análise apresentada neste capítulo leva em consideração o conteúdo do Projeto
MinC-UFBA, sua metodologia e processo de execução, descritos no capítulo anterior. A ideia
central é analisar como a diversidade cultural foi tratada ao longo do Projeto, já que ela se
constitui como princípio do SNC e do PNC e também foi posta como preceito estabelecido
pelo MinC para o apoio técnico designado à EAUFBA.
Nesse Projeto, o material produzido teve como objetivo oferecer suporte técnico e
formativo, visando capacitar as equipes e os participantes locais em planejamento público,
considerando a participação social como requisito essencial para a construção de políticas
públicas de Cultura, o fortalecimento da democracia e a proteção e promoção da diversidade
cultural brasileira.
Tomada como tema central nos debates sobre desenvolvimento no âmbito
internacional, a cultura se constitui como uma base estruturante para o progresso da
humanidade. Pressupõe políticas coerentes com a sua dinâmica, requerendo uma definição do
conceito de política cultural que possa direcionar os projetos, atividades e ações do governo
em suas diferentes esferas de poder. Nessa perspectiva, o Plano de Cultura “traduz uma visão
contemporânea para o setor e é o resultado corporificado e materializado de um processo de
planejamento participativo em todo território nacional.” (UFBA, 2012c, p. 4)
Políticas públicas formuladas através de processos participativos realçam a
importância do olhar público sobre a diversidade de expressões culturais, podendo contribuir
efetivamente para o reconhecimento das diferenças. Abre também um caminho para o
desenvolvimento inclusivo, reforçando a autonomia do conjunto dos agentes culturais e seus
núcleos, além de possibilitar a criação dos meios necessários para a transformação pretendida,
por isso:
Sendo a cultura uma função de responsabilidade de todos os entes da
Federação, é fundamental que estes também empreendam processos de
planejamento específicos para que, à luz de uma visão sistêmica
compartilhada, assegure que essa transformação seja alcançada com
aderência às especificidades regionais e locais, com respeito à diversidade e
com superação das desigualdades que marcam e maculam historicamente o
desenvolvimento humano no Brasil. (UFBA, 2012c, p.4)
140
Apesar de as questões referentes ao conteúdo, metodologia e processo de realização do
Projeto terem sido apresentadas de forma entrelaçada, a separação didática que adotamos
nesta pesquisa visa permitir uma melhor compreensão de cada uma deles nos resultados do
Projeto.
Para a análise dos conteúdos, faremos uso de reflexões e das anotações realizadas a
partir de leituras e sistematizações contidas nos guias e apostilas, que expressam
enquadramentos conceituais, históricos e informações institucionais consideradas centrais
para o processo da formação. Na análise da metodologia, avaliaremos em que medida o
método desenvolvido esteve atento às diferenças de contexto, perspectivas e realidades de
seus participantes e respectivos territórios, permitindo o respeito a tais diferenças, como
também a emergência de diálogos interculturais que caracterizam a proteção e promoção da
diversidade cultural. Finalmente, analisaremos o processo, buscando delinear o caminho
percorrido, decisões e situações que interferiram no decorrer do Projeto, de forma a identificar
também de que maneira o respeito às diferenças e a promoção dos diálogos interculturais
puderam se fazer presentes.
3.1 Premissas e Princípios
As premissas ditaram as bases para o trabalho e trataram do processo participativo, do
aspecto político e técnico de um planejamento para o desenvolvimento municipal e, por fim,
da associação que deve existir entre o PMC e as outras esferas do governo. Já os princípios
deram orientações sobre a conduta e as práticas adotadas pelos responsáveis pela elaboração
dos Planos.
Premissas e princípios são complementares e suas interpretações nos conduzem a
enxergar a importância da diversidade cultural, por reforçar o caráter participativo que deve
nortear a elaboração de um PMC. Trata-se de um aspecto que levou em consideração a
compreensão da realidade territorial, deu atenção às interfaces da cultura com outros campos
de conhecimento e setores e, especialmente, reforçou a aproximação e debate entre os
diferentes agentes e atores culturais, políticos e sociais envolvidos.
Além disso, esses referenciais ofereceram orientações para um processo democrático,
no qual era preciso constituir um ambiente horizontal, onde a escuta às diferentes visões era
141
pressuposto básico para a construção de um espaço de políticas direcionadas à proteção e
promoção da diversidade das expressões culturais, observando os princípios do SNC. Fica
claro que o Plano de Cultura é fruto de tensões e contradições, compreendidas sob o olhar do
diverso, mas que também deve ser coerente com os aspectos mais relevantes para o
desenvolvimento municipal almejado, por isso um processo permanente de negociação e
pactuação de vários interesses.
Quando o Plano de Cultura é construído em um ambiente diverso, pode promover
desdobramentos que impactam a estruturação do campo cultural, mesmo no curso de sua
elaboração. Seguir as premissas e princípios orientadores do Plano permitiu e permite ao
conjunto dos atores e agentes atuarem com liberdade, autonomia e criatividade, em um
processo que é rico e dinâmico. Quando interpretados sob o ponto de vista de uma gestão
gerencialista da cultura, encurtam-se os caminhos e desencadeia-se um processo
centralizador, com o risco de não atender aos requisitos propostos pelo MinC e nem às
demandas locais, restringindo o raio de atuação das políticas públicas.
As premissas e princípios reforçaram a necessidade de expandir o olhar e a
compreensão sobre as políticas culturais na contemporaneidade, buscando entender as
relações interculturais, a conexão entre cultura e economia em diversos contextos – local,
territorial e regional –, levando em consideração a dinamicidade da cultura e atentando para a
relação federativa. Assim, a sustentabilidade das políticas públicas de cultura deveria se dar,
em princípio e prioritariamente, na relação federativa, quando os Planos de Cultura se tornam
peças complementares e interdependentes no planejamento público nacional.
Apesar de as premissas e princípios terem sido apresentados como orientações a serem
seguidas, o seu aprofundamento indicou relevância e complexidade e, quando não entendidos
plenamente, não passaram de linhas gerais que poderiam se perder no processo, a depender do
interesse do gestor municipal. Peguemos, por exemplo, o fato de que o Plano deveria ser
elaborado a partir de um olhar de reconhecimento das dinâmicas territoriais. Esse tema requer
uma visão ampla da política cultural local, em interface com outros aspectos da cultura no
território, levando a entender que seria preciso analisar as relações institucionais, geográficas
e políticas com outros municípios, verificar a importância da interculturalidade e promover
uma análise crítica sobre cada aspecto que se relacionasse com a premissa e o princípio
correspondentes.
O aprofundamento sobre cada premissa e princípio que orientaram o trabalho de
construção dos PMCs poderia contribuir para uma apropriação mais adequada das linhas
condutoras deste processo, através de suas potenciais inter-relações. Como elas foram e ainda
142
são estruturantes para o Plano de Cultura, caberia dar atenção singular ao seu tratamento,
tanto no aspecto presencial, quanto em um processo de formação à distância. Vemos, então,
que a participação social se torna ponto chave para um Plano construído democraticamente.
Contudo, percebemos que algumas expressões ou temas necessitariam de aprofundamento
para que a diversidade cultural fosse, de fato, contemplada, a exemplo dos temas
transversalidade, interculturalidade e alteridade.
Outros fatores complementam essa preocupação, como o reconhecimento legítimo das
representações sociais e culturais e a formatação de um amplo processo de escuta, não restrito
apenas aos espaços institucionalizados de representação, mas que abarcassem os espaços mais
amplos, a fim de promover sensibilização e mobilização coerentes com a proposta dos Planos.
Nesse sentido, as premissas e princípios, ao reforçarem o sentido da participação,
induziriam a uma valorização de outras formas de representação da sociedade civil, além do
Conselho de Política Cultural, que deve ser coautor do PMC e responsável pela sua validação
parcial e final. Esse reconhecimento reforçaria o caráter democrático do Plano de Cultura e
realçaria a figura do Conselho como elo de articulação, aproximação e diálogo entre o poder
público e os diversos segmentos culturais.
Nos pareceres técnicos emitidos pela equipe da EAUFBA, foi possível verificar como
os municípios da 1ª edição do Projeto deram tratamento a essas linhas balizadoras, mas na
segunda edição essa verificação não foi possível, devido às características próprias dessa fase,
cujo foco principal foi o processo formativo. Para explicarmos melhor essa questão, o Quadro
16 apresenta alguns pareceres realizados pela equipe da EAUFBA:
Quadro 16 - Premissas e Princípios
Município Premissa Princípio
Campo Grande
(MS)
O processo é participativo:
O Conselho Municipal de Políticas Culturais
foi atuante, auxiliou na elaboração das metas
e ações e validou o documento final. As
informações foram disponibilizadas para
consulta pública. Os resultados das
conferências foram inteiramente considerados.
Protagonismo municipal: A prefeitura, através da Fundação de
Cultura, efetivamente atuou como
promotora e coordenadora do
processo de planejamento.
Olinda (PE)
O Processo é político e técnico
O Plano foi produzido com observância à
dimensão política, valorizando as
contribuições e expectativas dos segmentos
culturais que compõem o conjunto da
comunidade artístico-cultural. Os aspectos
Diálogo interinstitucional e social
O intenso diálogo com a sociedade e
com o Conselho qualificou o processo
de elaboração do Plano, no entanto as
articulações interinstitucionais
mostraram-se tímidas ou foram
143
técnicos, notadamente no que concerne à
caracterização e ao diagnóstico cultural
setorial, tiveram pouca evidência, em função
da falta de informações e, em alguns
momentos, pela ausência de interpretação
analítica da realidade encontrada.
inexistentes.
São Leopoldo
(RS)
O Plano é integrado e compõe o
planejamento municipal
A preocupação com as ações transversais da
Cultura estiveram presentes com maior
intensidade no momento da Oficina para
Elaboração do Plano, quando alguns
representantes de outras Secretarias
estiveram presentes e fizeram valer suas
contribuições, especialmente no que tange às
ações transversais com a educação. Por outro
lado, nota-se a ausência de ações transversais
da cultura com o turismo, meio ambiente e
outras áreas da administração pública
municipal.
Transparência e objetividade: A
elaboração pautou-se na transparência
do processo e o produto final é dotado
de clareza e objetividade.
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2013b).
Além do quadro acima, escolhemos fazer uma breve interpretação da presença das
premissas e princípios a partir de tópicos expressos em Planos de Cultura municipais
finalizados e aprovados no legislativo.
O Plano de Cultura de São Caetano do Sul apresentou o desafio de “ampliar a
participação social na gestão pública” (SÃO CAETANO DO SUL, 2013, p. 3), a partir do
qual observamos que esse tema ocupou um espaço especial dentro do processo de construção
desse documento. Já entre as diretrizes do Plano de Cultura de Fortaleza, constam os itens
“VII – descentralização territorial da gestão e das ações culturais do Município” e “VIII –
fortalecimento da intersetorialidade e da transversalidade da cultura” (FORTALEZA, 2013, p.
4), que indicam a preocupação com uma maior descentralização da gestão municipal e com a
interface que a cultura possui com outras áreas.
Esses aspectos requerem, por sua vez, uma reflexão mais ampla sobre a cultura, em
que o fortalecimento da diversidade não se dá considerando-a apenas como beneficiária do
processo, mas como elemento-chave para a integração de diversos programas, projetos e
ações, bem como na interação e integração político-administrativa, observando critérios de
intersetorialidade, transversalidade e territorialidade. Isto significa promover a aproximação
da gestão pública com as práticas culturais e reconhecer como indispensável a relação
transversal entre os órgãos públicos e a iniciativa privada para garantir o desenvolvimento
cultural.
144
Esses tópicos, por si só, não explicitam ou legitimam o comprometimento municipal
com a efetividade do Plano, contudo sinalizam que houve uma discussão sobre o assunto, a
partir do qual esses temas se tornaram itens ou tópicos a serem considerados dentro do Plano
de Cultura. Notamos, assim, a aderência às premissas “O processo de elaboração do Plano é
participativo” e “O Plano é integrado e compõe o planejamento municipal” e aos princípios
“Diálogo interinstitucional e social” e “Visão sistêmica e territorial” (UFBA, 2012c, p. 5-7).
Observamos, entretanto, que a diversidade cultural não aparece como tema central,
mas como algo que se revela a partir do reconhecimento da diversidade de atores e da efetiva
participação deles na elaboração desse documento. Aqui há um problema central: esses temas,
inclusive o da participação social e da diversidade cultural, ficam sujeitos a interpretações
diversas, em especial dos atores políticos, aparecendo, por vezes, como meras discursividades
a partir de uma visão romântica da diversidade cultural. Isto não contribui para o
fortalecimento da democracia e inclusão dos grupos e artistas locais, nem para a proteção e
promoção das expressões culturais, além de não revelar também o compromisso com a
garantia dos direitos humanos.
Na primeira edição do Projeto MinC-UFBA, a condução do processo esteve a cargo do
órgão gestor de cultura local, sendo que as orientações metodológicas foram reforçadas pela
equipe de consultores da EAUFBA durante as visitas técnicas. Foram momentos valiosos de
discussão profunda, em que foi possível ampliar o debate sobre as premissas e princípios.
É fundamental citar, ainda, como fatores relevantes as habilidades e competências de
algumas duplas de consultores em repassar as informações, como também o nível de
mobilização da sociedade para participar do Projeto. Como resultado, em alguns municípios
novas ideias foram geradas, como o desenvolvimento de instrumentos e canais de mídia para
fortalecer a ampliação do debate, apesar de algumas dessas ações terem sido descontinuadas,
resultando em restrição à participação e negligência ao princípio da transparência.
Na segunda edição, essa orientação foi realizada diretamente pelos tutores na
plataforma EaD e observamos, mais uma vez, que os aspectos concernentes a esses temas
foram submetidos à compreensão dos interlocutores locais. Não houve, porém, qualquer
forma de verificação sobre a aplicação efetiva desse conjunto de orientações, a não ser através
dos depoimentos realizados nos fóruns de discussão teórica. Vale destacar que, devido ao
formato dessa edição, não foi possível verificar in loco a aplicação da metodologia, pois o
tempo destinado à elaboração dos Planos pelos municípios que ainda não tinham esse
documento não foi compatível com o tempo atribuído à formação. Ressaltamos, porém, que
durante o processo formativo, foram identificados municípios que já possuíam Planos e outros
145
que se encontravam em processo de construção. Apesar de, nessa edição, o Projeto não ter
tido o escopo de realizar o acompanhamento local, coube, na medida do possível, oferecer
orientações, caso o desenvolvimento do PMC estivesse em curso.
O modo como o tema da diversidade cultural foi tratado em determinados municípios
apareceu diluído nos debates dos fóruns, onde o assunto mais explorado foi o da participação
social, envolvendo reflexões sobre o Conselho de Política Cultural, o Legislativo e a
sociedade civil. Em uma frase retirada do módulo Visão Geral, utilizada por um dos tutores, é
possível verificar a premissa O processo de elaboração do Plano é participativo alinhada a
dois princípios, Diálogo Interinstitucional e social e Legitimidade: “Quanto melhor for a
participação social no planejamento, maior será a legitimidade do plano, ou seja, mais
amplamente reconhecido e valorizado será o documento final, o que contribui para o êxito de
sua execução” (BRITTO, 2014f, p. 12; grifo nosso).
Dessa forma, entendemos que a compreensão sobre as premissas e princípios pelos
participantes não determinou o processo de construção dos Planos, contudo ofereceu
contribuições significativas para a adoção de novas condutas no planejamento público da
cultura, além de reforçar aspectos que conduzem a um processo inclusivo, dialógico e
transversal, que efetivamente possam promover interações horizontais, visando sinergia entre
os atores e agentes envolvidos. Dessa forma, são linhas gerais que induzem uma nova prática
comportamental, que pode impactar as atividades e condutas realizadas, contribuindo para
uma mudança de paradigma na elaboração das políticas culturais.
Cultura é um campo com características muito particulares, por vezes não
compreendidas pela administração pública como importante eixo de desenvolvimento, o que
tende a acarretar um distanciamento entre o que se realiza e o que poderia ser construído,
considerando as abordagens conceituais contemporâneas, especialmente sobre a relação entre
cultura, diversidade cultural e desenvolvimento. É algo que permeia a nossa reflexão,
fazendo-nos crer que a abordagem sobre a diversidade cultural deve ser direta e não de forma
tangencial, considerando uma metodologia que se proponha a tratar as subjetividades do
campo da cultura dentro de uma lógica racionalizada de planejamento público.
3.2 Análise da 1 ª Edição
146
A 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA foi estruturada a partir de três Guias de
Orientação, que subsidiaram a assistência técnica e o apoio metodológico ao processo de
elaboração de PMCs.
O Guia 1 (UFBA, 2012c) aborda a metodologia de elaboração de planos,
contextualizada a partir da iniciativa do Governo Federal em prol da institucionalização das
políticas públicas para a área da Cultura. Nele, são apresentados as premissas e os princípios
norteadores, com ênfase para o processo participativo, e o roteiro metodológico para
concepção dos PMCs.
O Guia 2 (UFBA, 2012a) foi construído com a apresentação de um hipotético trabalho
de elaboração de plano municipal de cultura. Com os exemplos trazidos, teve o propósito de
sedimentar conceitos, dirimir dúvidas e ilustrar a interconexão entre os diversos componentes
do documento a construir.
Por fim, o Guia 3 (UFBA, 2012b) trata da questão do modelo de gestão do PMC e da
estruturação do documento na necessária formatação para que lhe seja dado um caráter legal,
compondo o ordenamento jurídico do Município. Houve sempre a preocupação de destacar a
importância de contextualizar esse processo com a realidade do Ente.
3.2.1 Conteúdo do Guia 1
De modo geral, os Guias de Orientação, nos textos relacionados às etapas de
elaboração dos Planos, não abordaram explicitamente o tema da diversidade, que não foi
tratado com a mesma ênfase dada ao tema da participação social, condição preestabelecida
pelo MinC para a construção de uma metodologia de desenvolvimento de políticas públicas
para a área. Essa característica deixou subentendido que o seu reconhecimento é consequência
de um processo democrático, constituído com ampla participação social.
Em sintonia com esse entendimento, o texto Metodologia Participativa, contido no
Guia 1 (UFBA, 2012c), destacou que “o diferencial dos planos municipais de cultura está em
seu processo participativo de elaboração e gestão” (idem, ibidem, p.16), reforçando o
propósito da metodologia em adotar princípios democráticos, envolvendo a sociedade na
elaboração dos Planos e entendendo o sujeito como participante ativo.
A participação social é uma contribuição imprescindível para a democracia e para o
acesso às informações. Também é um mecanismo de controle, na medida em que se instalam
meios e mecanismos de acompanhamento e monitoramento, tornando a gestão mais
147
transparente, o que pode torná-la mais atenta à heterogeneidade das questões culturais, de
gestão e participação.
O Guia 1 ressaltou a importância de se criar espaços de participação que envolvam
agentes sociais e culturais para a elaboração dos Planos, distinguindo o Conselho de Política
Cultural como espaço institucionalizado e privilegiado para decisões acerca de políticas
públicas de cultura e, também, sobre o PMC, visto que o conteúdo orienta para um modelo de
gestão compartilhado, no qual o Conselho é parte integrante.
Nessa construção, observamos que a participação social apareceu com distinção no
conteúdo produzido para o Projeto MinC-UFBA, sendo considerada condição elementar para
se contemplar a diversidade cultural. Esta, por sua vez, foi abordada de modo indireto ou
implícito, como no caso dos exemplos apresentados, e foi entendida como beneficiária desse
processo, a partir da participação dos diferentes atores e agentes como portadores de ideias e
valores distintos e sujeitos convocados para a estruturação do planejamento público de
cultura.
Para refletirmos, ficam os seguintes questionamentos: além da participação social, a
diversidade cultural não deveria ser realçada como aspecto essencial para a formulação da
política, em vez de entendida apenas como beneficiária dessa construção? Não são as
subjetividades desse campo que expressam toda a complexidade e desafio para essa peça de
planejamento?
A diversidade cultural, porém, não deve ser concebida apenas como uma
multiplicidade de expressões que apresentam diferentes formas de representação. A
participação social só refletirá a diversidade quando entendida como espaço de disputa, de
contradição, o que caracteriza a diversidade como um projeto político, no qual ela apresenta
diferentes modos de instituição ou “diferentes modos de gestão” (BARROS, 2011, p. 21). É
fundamental, como destaca a Unesco (2009), que as políticas incidam positivamente sobre o
aspecto das diferenças, a fim de que pessoas e grupos possam reconhecê-las como um
potencial gerador de transformações e de crescimento e não motivos para se “entrincheirarem
em identidades fechadas” (UNESCO, 2009, p. 4).
Nesse ponto, lidamos com um conjunto de aspectos, normatizações e identidades dos
sujeitos e dos grupos sociais, que ressaltam o caráter transversal, transdisciplinar e sua carga
simbólica, portadora de significados diversos e, por vezes, contraditórios. É com essa
complexidade que se dá o campo da cultura e, portanto, apesar de ser legítima a importância
da participação social, este conceito está sujeito a interpretações políticas de governos e
148
governantes, que nem sempre possuem uma compreensão clara e ampla da questão, além de,
por vezes, não adotarem princípios democráticos e horizontais.
Os textos do Guia 1 relativos aos aspectos técnicos de elaboração do Plano foram
claros e diretos e ofereceram uma visão geral do PMC, bem como as principais informações
para sua elaboração. Observamos, porém, que a sua compreensão pelos participantes não se
deu de forma plena. Levantamos a hipótese que isso pode ter ocorrido em função da falta de
domínio do referencial teórico, combinada com uma margem de subjetividade que existe no
processo de planejamento, algo compensado, em parte, durante as diversas reuniões e eventos
para alinhamento técnico.
O Guia 1 propôs o reconhecimento da realidade cultural e as expectativas de mudança
diante do que se quer transformar. A partir disso, entendemos que a diversidade foi
considerada, embora não mencionada explicitamente. Apesar desse Guia explicar os aspectos
que deveriam ser tratados no diagnóstico, ele não deixou claro que o diagnóstico seria o
primeiro passo para o reconhecimento da diversidade cultural local, já que é a partir dele que
informações e dados específicos sobre as dinâmicas culturais locais são tratados.
Esse processo de coleta ultrapassa a dimensão dos dados estatísticos, pois, apesar de
serem fundamentais para o processo, dados oficiais não são suficientes para relatar as formas
com que a cultura se manifesta na sua diversidade, requerendo também um tratamento que
contemple as subjetividades que abarcam o campo da cultura.
As categorias de análise foram provenientes dessa realidade e deveriam dar
significado ao diagnóstico, registrando o que precisaria ser potencializado, impulsionado ou
superado para, assim, mostrar a realidade cultural do município e destacar as ações públicas
necessárias ao desenvolvimento cultural, com base no reconhecimento da diversidade. O texto
desse Guia foi objetivo e deu preferência às explicações sobre o aspecto técnico para a
elaboração do diagnóstico.
Ainda no Guia 1, observamos que as explicações quanto ao diagnóstico não foram
suficientes, do ponto de vista operacional, para produzir um estudo claro, devido à falta de
explicações mais específicas sobre fragilidades e obstáculos, vocações e potencialidades,
como ocorreu em relação aos desafios e oportunidades. Cabe registrar, porém, que na versão
para o processo formativo na 2ª Edição do Projeto, esse conteúdo ganhou maior robustez, com
explicações e orientações bem mais detalhadas, o que será abordado mais adiante nesta
dissertação.
149
3.2.2 Conteúdo do Guia 2
O Guia 2 (UFBA, 2012a), elaborado para o II Seminário de Planos de Cultura, teve o
objetivo de aprimorar a capacitação dos consultores e analistas, oferecendo um trabalho de
reforço a partir da aplicação prática do conteúdo pelos participantes, sob orientação dos
consultores da UFBA. Esse documento restringiu-se à aplicação do método, ficando a cargo
dos orientadores, ou mesmo dos elaboradores, promover abordagens conceituais e teóricas
para tratar da relação entre o conteúdo e a diversidade cultural, tendo como base os conceitos
trabalhados no Guia 1.
Para avaliar a presença da diversidade cultural no Guia 2, reunimos alguns critérios
que consideramos elementares:
a) aspectos que demandaram ações pontuais, tratando de questões específicas ou
abrangentes, com foco mais geral e que, no levantamento das fragilidades e obstáculos,
evidenciaram as demandas de segmentos e setores culturais, os mais diversos possíveis;
b) pontos fundamentais que mereceram atenção cuidadosa da gestão pública, a partir
de uma compreensão das necessidades culturais no âmbito do município, a exemplo da
necessidade da descentralização de ações culturais; de reconhecimento e valorização das
expressões, com atenção às culturas tradicionais; de recursos públicos para projetos e ações
culturais para diferentes modos de produção e desenvolvimento, dentre outras;
c) identificação de aspectos potenciais, capazes de suscitar ações públicas e
potencializar o conjunto de segmentos e setores culturais, levando em consideração artistas,
grupos e a sociedade enquanto beneficiários dessas ações. São eles: mapeamentos,
levantamento e sistematização de dados e informações sobre o campo da cultura; existência
de uma comunidade cultural pulsante e diversificada, infraestrutura física, localização
geográfica do município etc.
Esses são alguns pontos identificados, elencados no Quadro 17, que, a nosso ver,
deveriam e devem ser considerados em um processo de construção de um Plano
comprometido com a diversidade cultural. Todos esses e outros aspectos, retirados do
diagnóstico da cultura municipal, quando bem sistematizados, podem apresentar níveis de
compreensão dos elaboradores do documento sobre a diversidade cultural local, o que não
quer dizer que serão implementados. A importância dessa reflexão se dá pela relevância do
diagnóstico como um momento singular do Plano, em que são colocadas em prática as
estratégias de mobilização e quando se instala a arena de negociações.
150
Neste momento, apareceram as divergências e convergências, promovidas por um
processo de enfrentamento aos desafios do campo cultural, quando a recomendação é
reconhecer a cultura local e suas dinâmicas próprias, distintas e necessárias à garantia das
identidades, respeitando assim os diferentes modos de entender a realidade local.
Provavelmente o maior desafio do Plano seja refletir tais contradições em um conjunto de
metas e ações que promovam relações de inclusão, de proteção e promoção das expressões
culturais, com o reconhecimento das diferenças como engrenagens de um sistema complexo
de representações.
O Guia 2 não trouxe, no seu conteúdo, nenhuma explicação descritiva sobre um
método que pudesse subsidiar a organização e sistematização das informações coletadas.
Apenas apresentou quadros ou tabelas que serviram de modelo para a formatação final dos
Planos, tendo sido a orientação de uso realizada presencialmente.
Verificamos, contudo, que os exemplos selecionados permitiram a realização de
agrupamento de categorias, tais como: fomento, produção, formação, trocas, participação,
proteção do patrimônio cultural e descentralizações das ações públicas, que podem nos
conduzir a reflexões sobre a presença da diversidade cultural nesse material. Vamos, então, à
observação e análise desses exemplos, listados no Quadro 17, a partir das categorias que
sugerimos anteriormente:
Quadro 17 - Exemplos adotados no Guia 2
Tema Descrição Identificação de acordo com
método de Planos
Acessibilidade
cultural
70% dos alunos da rede municipal de
ensino não frequentam teatro, museu,
biblioteca e cinema
Fragilidade e Obstáculo
Acesso a bens,
produtos e serviços
Democratizar o acesso aos bens, produtos,
serviços e financiamento da cultura Desafio
Acesso amplo à cultura e aos seus meios
de produção e de fomento Prioridade
Formação em arte
cultura
Presença marcante de novos talentos
despontando nos segmentos de artes
visuais e audiovisual
Fragilidade e Obstáculo
Formação cultural Prioridade
Tornar o município centro de referência
em formação cultural Desafio
Gestão cultural
Maioria absoluta de ações e eventos está
concentrada em dois bairros da cidade Fragilidade e Obstáculo
Assegurar a centralidade da cultura no
desenvolvimento municipal, com inclusão
social
Diretrizes
151
Financiamento
público para a
cultura
Há baixo investimento na cultura pelo
Poder Municipal – aplicação média de
0,4% do orçamento nos últimos cinco anos
Fragilidade e Obstáculo
Elevar os investimentos públicos na
cultura Desafios
Participação social
Comunidade artístico-cultural proativa e
interessada no desenvolvimento cultural Vocação e Potencialidade
Desenvolvimento da economia da cultura Prioridade
Proporcionar a participação social na vida
e na gestão cultural nas zonas urbanas e
rurais do município
Diretriz
Economia da
cultura
Oportunizar o uso econômico sustentável
do patrimônio artístico-cultural Desafio
Estimular o crescimento da economia da
cultura Diretriz
Mobilidade social Infraestrutura urbana e de transportes
favorece a circulação dos cidadãos Vocação e Potencialidade
Intercâmbios
culturais
Localização física do município e meios de
acesso aéreo e viário favorecem a
circulação cultural
Vocação e Potencialidade
Diversidade
cultural
Valorizar e promover a diversidade
cultural Diretriz
Valorizar a diversidade cultural Desafio
Diversidade e pluralidade cultural Prioridade
Públicos e
consumo cultural
Ampliar o público nos espaços culturais Desafio
Equipamentos
culturais e/ou de
uso cultural
Espaços físicos da maioria das escolas
municipais são dotados de quadras e/ou
auditórios, propiciando o uso para ações
culturais
Vocação e Potencialidade
Transversalidade e
intersetorialidade
As ações culturais da prefeitura não são
articuladas entre os órgãos municipais Fragilidade e Obstáculo
Promover a integração entre as esferas de
governo e o setor privado para o
desenvolvimento cultural
Diretriz
Estabelecer uma gestão cultural integrada
entre órgãos do município e outras esferas
de governo
Integrar o setor privado nas políticas
culturais
Desafio
Há disponibilidade de recursos nas esferas
estadual e federal para investimentos na
cultura
Vocação e Potencialidade
Reconhecimento
das expressões e
dos bens culturais
Ausência de dados e informações para
planejamento e gestão de políticas
culturais
Fragilidade e Obstáculo
Valorização das tradições culturais Prioridade
Produzir e organizar informações para
planejamento e gestão cultural Desafio
Ausência de dados e informações para
planejamento e gestão de políticas
culturais
Vocação e potencialidade
152
Presença marcante de conjuntos
arquitetônicos e bens móveis de grande
valor histórico e/ou artístico
Vocação e potencialidade
Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2012a).
Os exemplos mostrados apresentam questões que abordam a cultura a partir de
diversos aspectos que a compõem. Nesse sentido, arriscamos dizer que diversidade cultural
foi considerada, não por ter sido explicitada no conteúdo, mas porque os temas abordados
abarcam sentidos que interferem no seu desenvolvimento. Registram-se uma série de
demandas que focalizam ações diversificadas, compreendendo um conjunto de expectativas
oriundas de distintos contextos e realidades.
Podemos verificar também que os temas foram tratados a partir do levantamento de
fragilidades e obstáculos, vocações e potencialidades, desafios, diretrizes e prioridades,
oferecendo a oportunidade de avaliarmos a diversificação de problemas, interesses, soluções e
evidências relativas à cultura. Supõe-se, portanto, que, a partir desses temas, foram ou serão
elaborados distintos meios e instrumentos para dar conta das expectativas culturais que
surgem em um cenário diverso. A análise dessas proposições permite percepções que antes
não eram visíveis aos olhos da gestão e possibilita identificar convergências de interesses que
também não se constituíam nos debates sobre o desenvolvimento cultural.
No que se refere ao tema das diretrizes, vamos tecer alguns comentários que nos
levam a atribuir uma relação com a diversidade cultural. Para tanto, selecionamos três
diretrizes, a saber (UFBA, 2012a, p.6):
a) proporcionar a participação social na vida e na gestão cultural nas zonas urbanas e
rurais do município;
b) assegurar a centralidade da cultura no desenvolvimento municipal, com inclusão
social;
c) valorizar e promover a diversidade cultural.
A primeira trata da participação social e descentralização da gestão, destacando tanto
zonas urbanas quanto rurais; a segunda propõe que a cultura esteja no centro do
desenvolvimento e que este promova a inclusão social; e, a terceira trata especificamente
sobre o tema da diversidade cultural. Inicialmente, vale afirmar que a existência de um tópico
específico para falar sobre esse assunto não implica que a diversidade tenha sido entendida
como relevante na obra, mas sim como mais um aspecto a ser tratado, quando na verdade ela
é constituinte das dinâmicas culturais.
153
Dando prosseguimento à análise do Guia 2, um dos enunciados sobre “desafios”
versou sobre Valorizar a diversidade cultural, enquanto no item “diretrizes” o enunciado
apresentou-se de forma mais ampla: Valorizar e promover a diversidade cultural. O primeiro
diz respeito ao reconhecimento do valor que é dado à cultura e o segundo compreende uma
série de tomadas de decisão que incidem sobre a construção de mecanismos, instrumentos e
procedimentos públicos que possam fortalecer a cultura dentro do contexto do
desenvolvimento.
No nosso entendimento, os exemplos apresentaram uma relação com a diversidade
cultural, pois expuseram um conceito amplo de acesso à cultura e contemplaram as formas e
multiplicidades com que a diversidade se apresenta. Adicionalmente, apesar de sugerirem
uma prioridade para a diversidade cultural, os exemplos também puderam englobar a
valorização das tradições, o que certamente se configura como uma característica específica
da cultura no município em questão, supondo que tenha sido trabalhada no diagnóstico, dando
atenção à questão identitária como elemento importante na construção desse planejamento.
O Guia 2 não deixou claro como as prioridades poderiam ser identificadas, dando a
entender que poderiam ser formuladas a partir das diretrizes estabelecidas. Podemos afirmar
que o diagnóstico cultural apontou o caminho para essas escolhas, mas, para isso, foi preciso
ser claro e objetivo no apontamento das vocações e potencialidade, das fragilidades e
obstáculos e dos desafios a serem superados. O Quadro 18 serve para ilustrar os objetivos
gerais, específicos e metas:
Quadro 18 - Relação entre Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas
Objetivos Gerais, Objetivos Específicos e Metas
A – Objetivos Gerais
(qual o resultado esperado, ao
longo do horizonte temporal,
para mudança do status quo?)
B – Objetivos Específicos
(que resultados específicos
devem ser perseguidos?)
C – Metas
(o que atingir, quanto e quando?
Objetivo mensurável, exequível,
relevante, temporal)
1. Ampliar o acesso dos
públicos aos produtos e
serviços culturais.
1.1. Descentralizar as promoções
culturais do município.
1.2. Estimular circulação cultural
diversificada.
C1 – objetivos A1 e A3 – 100%
das regiões urbanas / bairros e
áreas rurais com, pelo menos, 04
(quatro) ações multiculturais por
ano, até 2022.
C2 – objetivos A1, A2 e A3 –
100% das escolas públicas
municipais usadas como espaços
culturais até 2022.
C3 – objetivos A1 e A3 - 100%
dos espaços municipais
adequados a ações multiculturais
e para públicos diversificados até
2. Formar públicos, gestores,
produtores, artistas e agentes
para a fruição cultural.
2.1. Estimular ações culturais
para crianças, jovens e adultos.
2.2. Fortalecer conteúdos de
cultura e arte nas escolas.
2.3. Promover a formação e o
aperfeiçoamento de gestores,
produtores, artistas e agentes
culturais.
3. Oportunizar a fruição da 3.1. Incentivar eventos
154
diversidade cultural. multiculturais.
3.2. Proporcionar a circulação de
ações multiculturais.
3.3. Dar visibilidade às culturas
populares e identitárias.
2022.
C4 – objetivos A1, A2 e A3 –
5.000 pessoas da área cultural
capacitadas até 2022.
Fonte: idem, ibidem, p. 7.
O objetivo 1 – Ampliar o acesso dos públicos aos produtos e serviços culturais destaca
que os beneficiários são os públicos culturais, expressão que, ao ser usada no plural, indica
uma compreensão e preocupação que convergem para o sentido da diversidade cultural. Já os
objetivos específicos desmembram a ideia de acesso aos públicos, considerando dois
aspectos:
a) descentralização de promoções culturais – a interpretação para esse termo é livre,
já que não é feita nenhuma conceituação para ele. Entendemos, para fins desta pesquisa, que
se trata de realizar, de forma descentralizada no município, diversos tipos de ações culturais,
envolvendo os mais variados modos de produção cultural e artística;
b) circulação diversificada – da mesma forma que no tópico anterior, não é
apresentado o conceito e sentido dessa expressão, o que também nos leva a fazer uma
interpretação própria, assim como acontece no processo de elaboração dos Planos. O termo
propõe uma compreensão ampla, dando a entender a importância de promover uma circulação
de produtos e bens culturais que podem contemplar manifestações, linguagens, produtos e
todas as formas de expressão cultural existentes no local.
É bom destacar que as expressões “públicos”, no plural, “promoção cultural” e
“circulação diversificada” necessitariam ser mais bem explicadas, pois, apesar de estarem
coerentes com a proposta metodológica, podem estar suscetíveis a diferentes interpretações,
até mesmo distorcidas, seja pelos elaboradores do Plano, pelos gestores e até mesmo pelos
legisladores municipais. O glossário existente no Guia 2 foi bastante restrito, limitado a
termos associados a elos da cadeia da cultura, sem tratar de diversos outros utilizados no
conteúdo, o que teria sido importante para uma melhor compreensão pelos elaboradores do
PMC.
O objetivo 2 – Formar públicos, gestores, produtores, artistas e agentes para a fruição
cultural tratou da formação para um leque extenso e bastante inclusivo de beneficiários, se
considerarmos que apresenta uma diversidade de modalidades para a formação em cultura. Os
seus objetivos específicos apresentam duas proposições para a formação de crianças e jovens,
sendo que a primeira está diretamente vinculada à experimentação artística e cultural, através
do estímulo à participação desse público em atividades culturais, enquanto a segunda diz
155
respeito à inclusão da cultura no ambiente escolar, através da inserção de conteúdos culturais
no material pedagógico. Os demais públicos entram no rol da formação acadêmica e
profissional.
Essa proposição de objetivos nos dá uma dimensão da atenção que se deve ter com a
inclusão cultural, já que traz como ponto de destaque a formação a partir da experimentação
artística e cultural de crianças e jovens. Essa possibilidade pode proporcionar, dentre outros
fatores, a valorização, assimilação e apropriação pela cultura a partir das heranças culturais,
enfatizando a diversidade, além de estimular o interesse pela atuação artística, construindo
uma consciência cidadã. Vemos claramente uma proposta em longo prazo.
Além da inclusão, esses objetivos também valorizam a questão profissional, ao
conjugar aquisição de conhecimentos culturais com qualificação profissional, o que nos leva a
crer que essas ações, caso implementadas pelo Plano de Cultura, podem estimular, em médio
e longo prazos, um maior desenvolvimento intelectual e cultural da comunidade envolvida,
podendo vir a promover maior valorização da diversidade cultural local.
No objetivo 3 – Oportunizar a fruição da diversidade cultural, a associação dos termos
fruição e diversidade cultural dá a entender que é importante promover o contato do público
com as diversas expressões culturais existentes localmente. Para termos a certeza de que os
participantes do Projeto compreenderam claramente o conceito de diversidade, essa definição
deveria ter sido incluída no glossário, pois essa ausência conceitual pode ter reduzido a
abrangência das discussões sobre o assunto. Já os objetivos específicos focam na promoção,
incentivo e circulação de ações multiculturais. Entendemos por ações e eventos multiculturais
aqueles que privilegiam diferentes atividades e grupos culturais e artísticos. De qualquer
forma, essas expressões também foram utilizadas sem a devida explicação sobre o seu
conceito e significado.
Vale observar que o terceiro exemplo de objetivo específico está diretamente
relacionado às culturas populares e identitárias e tem relação com o exemplo da prioridade
Valorização das tradições culturais. Observamos que a especificidade cultural aparece
novamente como algo que deve ser tomado como fundamental na execução do PMC, ou seja,
há uma questão pela qual, dentro da diversidade cultural existente, as culturas populares e
identitárias ocupam um lugar de destaque no município, assim como na concepção e no
tratamento dado pelas políticas culturais nacionais (tradições culturais). O exemplo das metas
correspondentes aos objetivos propostos tentou demonstrar que não é necessário que a relação
seja de um para um. O Guia 2 buscou esclarecer que elas, a fim de concretizar o que se deseja
alcançar, podem favorecer um ou mais objetivos propostos.
156
A meta C1, "100% das regiões urbanas/bairros e áreas rurais com, pelo menos, 04
(quatro) ações multiculturais por ano, até 2022", contempla o acesso e fruição cultural,
enfatizando que devem acontecer em todos os bairros/zonas, sejam urbanos ou rurais.
Podemos dizer que a diversidade cultural somente é contemplada quando os gestores
entendem o conceito de “multiculturais” como diferentes formas de expressão realizadas por
distintos grupos ou artistas.
Quando o exemplo aborda as regiões urbanas e rurais, vale lembrar do princípio da
visão sistêmica e territorial. Assim, será possível consolidar uma compreensão acerca da
importância, pela gestão municipal, da descentralização de ações culturais, da inclusão
cultural e do fomento aos diversos grupos e artistas envolvidos e localizados em diferentes
lugares.
A meta C2 – 100% das escolas públicas municipais usadas como espaços culturais até
2022 compreende o acesso e a fruição cultural como resultados de condições para que a
cultura aconteça, deduzindo-se assim a importância de adequação dos espaços educacionais
do município. Observamos também que essa meta propõe uma questão estratégica para o
alcance de públicos infantojuvenis, além de fortalecer a ideia de que cultura e educação são
indissociáveis em um processo de formação cidadã. É importante mencionar que de acordo
com o objetivo 3 (que enfatiza as culturas populares e identitárias), quando da execução dessa
meta, supõe-se que deverá haver uma ação específica envolvendo atividades e manifestações
das culturas tradicionais e populares dentro do cronograma de ações multiculturais.
Já a meta C3 – 5.000 pessoas da área cultural capacitadas até 2022 contempla o
quesito formação cultural e estabelece o quantitativo de pessoas capacitadas até o prazo de
vigência do Plano. Notamos que essa meta atende aos três objetivos, sendo que o objetivo 2
esclarece quem são esses públicos e, portanto, as ações propostas para sua concretização
devem privilegiar diferentes públicos em distintos níveis de atuação.
O Quadro 19 traz a relação entre metas e ações, cuja análise vem em seguida.
Quadro 19 - Relação entre metas e ações
Metas e Ações
C1 – 100% das regiões urbanas /
bairros e áreas rurais com, pelo
menos, 04 (quatro) ações
multiculturais por ano, até 2022.
Promover, direta ou indiretamente, ações multiculturais
em todo o Município.
Incentivar, mediante editais, a circulação de eventos
culturais em todo o Município.
Adaptar linhas de transporte coletivo para circulação em
áreas e datas de eventos culturais.
Promover circuitos e eventos de culturas populares e
identitárias.
157
C2 – 100% das escolas públicas
municipais usadas como espaços
culturais até 2022.
Executar adaptações físicas de escolas para funcionarem
como espaços culturais.
Ampliar e capacitar o quadro de professores na área da
cultura.
Realizar eventos e campanhas de sensibilização e
mobilização de crianças e jovens para a área cultural.
Realizar intercâmbio interescolar entre alunos e
professores.
C3 – 100% dos espaços municipais
adequados a ações multiculturais e para
públicos diversificados até 2022.
Criar, ampliar e adaptar equipamentos culturais e espaços
públicos para ações de cultura.
Instituir medidas voltadas para a garantia de acessibilidade
em espaços culturais privados.
C4 – 5.000 pessoas da área cultural
capacitadas até 2022.
Criar uma escola de artes.
Implantar programas de intercâmbio e residência artística e
técnica.
Criar cursos técnicos na área cultural.
Fonte: idem, ibidem, p 7-8.
As ações propostas para a meta C1 – 100% das regiões urbanas / bairros e áreas rurais
com, pelo menos, 04 (quatro) ações multiculturais por ano, até 2022 objetivam desenvolver
atividades ou projetos que a concretizem. No exemplo relacionado à ação 1 – Promover,
direta ou indiretamente, ações multiculturais em todo o município, é possível interpretar que
as ações multiculturais podem ser realizadas diretamente pelo poder público, como também
através de estímulos a grupos, organizações, artistas e instituições culturais, ou mesmo a partir
da interação entre o poder público e possíveis parceiros.
A ação 2 – Incentivar, mediante editais, a circulação de eventos culturais em todo o
município e a ação 4 – Promover circuitos e eventos de culturas populares e identitárias visam
à democratização da cultura, através do acesso público a atividades culturais. Também
podemos considerar que, para além do público, o incentivo à circulação de eventos atinge e
inclui grupos, expressões e manifestações culturais que eventualmente estejam à margem das
políticas públicas, como os provenientes de culturas populares e identitárias.
Vemos, portanto, que o cumprimento da meta se dará a partir da inclusão de diversos
agentes culturais e sociais nas dinâmicas culturais, envolvendo fruição, fomento, circulação.
Além disso, vale destacar a importância de estabelecer a mobilidade dos indivíduos como
fator determinante para o cumprimento da meta, como demonstrado na última ação proposta,
Adaptar linhas de transporte coletivo para circulação em áreas e datas de eventos culturais.
Aqui certamente ocorrerá uma ação transversal ou setorial.
Em relação à meta C2 – 100% das escolas públicas municipais usadas como espaços
culturais até 2022, estabelecem-se ações para adaptação estrutural dos ambientes escolares,
reconhecendo-os como espaços de cultura e arte, profissionalização de educadores, criação de
158
meios de sensibilização e mobilização de crianças e jovens em relação à cultura e criação de
possibilidades de realização de intercâmbios entre escolas, envolvendo alunos e professores.
Esse conjunto de ações procura estabelecer formas de sensibilizar públicos diferentes,
dentro do espaço formal de educação para o exercício cultural pedagógico, levando-nos a crer
que, neste ambiente, é possível iniciar a alfabetização cultural, a construção de uma cidadania
cultural e, por fim, o despertar de novos talentos para as artes e a cultura. Não podemos deixar
passar a ideia de que o ambiente escolar pode ser um forte componente para o
desenvolvimento do espírito de preservação e valorização cultural.
As ações relacionadas à meta C3 – 100% dos espaços municipais adequados a ações
multiculturais e para públicos diversificados até 2022 dispõem sobre a reforma e qualificação
de equipamentos para a cultura, ressaltando a importância de se promover acessibilidade, o
que demanda a inclusão de pessoas com deficiência. Sendo assim, o exemplo apresenta uma
preocupação com a diversidade de público e suas condições individuais.
Para o cumprimento da meta C4 – 5.000 pessoas da área cultural capacitadas até 2022,
as ações decorrem da criação de escolas de arte, promoção de intercâmbios e residências
artísticas e capacitação de profissionais da cultura. Observamos, portanto, uma diversificação
de atividades, com focos distintos, para se capacitar pessoas para a cultura, como espaços para
realização de cursos e eventos de apoio à criação, difusão e circulação de grupos,
programações e intercâmbio cultural.
Para esse conjunto de metas e ações, verificamos uma preocupação do formulador da
metodologia em demonstrar como é possível atingir os mais diversos aspectos para o
desenvolvimento cultural, tomando como base os distintos públicos e suas necessidades, a
estrutura adequada para a difusão cultural e a importância singular na formação diferenciada
para uma ação de proximidade com a cultura e sua diversidade, além de possibilitar a
formação específica para uma atuação técnica e pedagógica junto às dinâmicas culturais
locais.
Dessa forma, consideramos que a diversidade cultural foi tratada adequadamente nesse
tópico, a partir de proposições inclusivas de diferentes públicos (culturais e sociais), como
também foi dado tratamento aos aspectos específicos (acessibilidade e inclusão de grupos
populares e identitários). Também podemos crer que houve atenção ao tema pelo fato de que
as proposições são diversas, levando em conta os vários aspectos e características necessários
à promoção do desenvolvimento, considerando o sujeito social como o principal beneficiário.
O Quadro 20, por sua vez, traz a relação entre metas, indicadores, resultados e
impactos.
159
Quadro 20 - Relação entre Metas, Indicadores, Resultados e Impactos
Metas Indicadores Resultados e Impactos
C1 – 100% das regiões
urbanas / bairros e áreas
rurais com, pelo menos,
04 (quatro) ações
multiculturais por ano, até
2022.
Quantidade de regiões
urbanas/bairros e áreas rurais
atendidas com pelo menos quatro
ações culturais em relação ao total
de regiões /áreas do município em
2022.
Fontes:
- Regiões e áreas oficiais:
Secretaria Municipal de
Planejamento.
- Ações multiculturais: Relatório
de ações por região/área da
Secretaria de Cultura.
Conceito de ações multiculturais: ação com, pelo menos, três
segmentos artístico-culturais
envolvidos sendo pelo menos uma
relacionada com as culturas
populares e identitárias. Situação atual: 10 regiões/áreas
existentes com dois bairros
atendidos, totalizando 20%
(Diagnóstico Cultural). Periodicidade: medição anual,
com alcance total da meta em
2022.
Todas as regiões urbanas / bairros
e áreas rurais contempladas com
o mínimo de quatro ações
multiculturais.
Fruição cultural dinamizada,
descentralizada e democratizada.
Elevação das oportunidades de
acesso dos públicos a ações
culturais.
Economia da cultura estimulada.
Maior reconhecimento e
visibilidade das culturas
populares e identitárias.
C2 – 100% das escolas
públicas municipais
usadas como espaços
culturais até 2022.
Quantidade de escolas usadas
como espaços culturais em relação
ao total da rede municipal de
educação em 2022.
Fontes:
- Número de escolas: Secretaria de
Educação.
- Escolas utilizadas como espaço
cultural: relatórios trimestrais
conjuntos das Secretarias de
Educação e de Cultural.
Conceitos:
Escola como espaço cultural: escola dotada de ambiente físico
adequado e com ações culturais
frequentes. Ambiente adequado: palco ou
outro espaço cênico fechado ou
quadra coberta multiuso. Situação atual: 10% do total de
escolas têm ambiente físico e 5%
promovem ações culturais com
frequência. Periodicidade: semestral, com
Todas as escolas contempladas
com ações culturais continuadas
em seus espaços físicos.
Estímulo ao usufruto cultural por
parte de crianças, jovens e
adultos.
Fruição cultural dinamizada,
descentralizada e democratizada.
Elevação das oportunidades de
acesso dos públicos a ações
culturais.
Formação de públicos para
fruição de ações culturais extra
estabelecimentos de ensino.
160
atingimento total da meta em 2022. C3 – 100% dos espaços
municipais adequados a
ações multiculturais e para
públicos diversificados até
2020.
Quantidade de espaços culturais
adequados em relação ao total de
espaços geridos pela Prefeitura.
Fonte: Secretaria de Cultura Conceitos:
Ações multiculturais: ação com,
pelo menos, três segmentos
artístico-culturais envolvidos sendo
pelo menos uma relacionada com
as culturas populares e identitárias. Espaços adequados:
- dotado de meios de acessibilidade
a deficientes, idosos e pessoas com
dificuldade de locomoção;
- com estrutura física
multifuncional permitindo o uso
por pelo menos duas linguagens.
Situação atual: 20% dos espaços
tem acessibilidade total e 40%
dispõe de estrutura multifuncional. Periodicidade: anual, com
atingimento total da meta em 2022.
Todos os espaços culturais
geridos pela Prefeitura com
acessibilidade plena e dotados de
condições multifuncionais.
Fruição cultural dinamizada.
Elevação de público estimulada.
Maior reconhecimento e
visibilidade das culturas
populares e identitárias.
C4 – 5.000 pessoas da
área cultural capacitadas
até 2022.
Quantidade de pessoas capacitadas
em pelo menos um evento de
formação cultural até 2022.
Fonte: Número de certificados
expedidos pelas unidades
operadoras do programa de
formação cultural até 2022. Conceitos:
- pessoa capacitada: pessoa
submetida a um processo de
capacitação com carga horária
mínima de 40 horas;
- unidades operadoras: qualquer
órgão público ou privado
responsável pela execução de curso
de capacitação cultural em parceria
com a Prefeitura.
Situação atual: 150 pessoas
capacitadas por ano na área
cultural. Periodicidade: semestral, com
atingimento da meta em 2022.
Gestores, produtores, artistas,
técnicos, agentes culturais melhor
qualificados.
Município reconhecido pela
excelência na formação cultural.
Produtos e serviços culturais com
melhor qualidade.
Fonte: idem, ibidem, p. 9-10.
Relembramos que é a partir da verificação dos indicadores, associados aos resultados e
impactos, que será possível medir a efetividade e eficácia do PMC, pois essa análise conjunta
permite apurar em que medida foram realizadas as metas e promovidas as transformações
necessárias à realidade local. Os indicadores, porém, não são suficientes para mediar a relação
161
com a diversidade, pois apenas registram de que forma são mensurados o cumprimento das
metas e a sua evolução ao longo do tempo.
Podemos afirmar que os resultados pretendidos através da concretização das metas
envolvem uma pluralidade de benefícios culturais, que podem convergir com o propósito de
valorizar e fortalecer a diversidade cultural. Vale destacar que os resultados e impactos
esperados com o cumprimento das metas descritas nos exemplos do Guia 2 buscam atingir
diversos aspectos da cultura, como mostra o Quadro 21:
Quadro 21 - Aspectos que contribuem para a diversidade cultural
Aspectos observados que podem
contribuir com a DC Resultados e impactos desejados
Gestão cultural Descentralização de ações culturais por todo o município
Fruição Cultural Oportunizar a diferentes públicos essa possibilidade, considerando
aspectos formativos e de apreciação
Acesso Oportunizar o contato dos diferentes públicos a atividades culturais
e artística, envolvendo ações formativas e de apreciação e contato
com a arte e a cultura
Acessibilidade Tratada do ponto de vista do aprimoramento dos equipamentos
públicos, destinados a eventos e ações culturais, adaptados para o
atendimento a públicos com deficiência, promovendo assim a
inclusão cultural
Inclusão cultura Atenção especial para o público infanto juvenil, como também
para segmentos culturais antes deixados à margem das políticas
públicas de cultura
Formação Atendimento a diferentes públicos, envolvendo formação técnica e
profissional, além de formação cognitiva para a lida com a cultura
Economia da Cultura Apoio a comunidade cultural e aprimoramento dos produtos e
serviços culturais Fonte: a autora, a partir de dados de UFBA (2012a).
Passemos, agora, ao conteúdo das estratégias (Quadro 22), que o Guia 2 define como:
[...] posicionamentos políticos e/ou técnicos, convergentes e articulados, de
caráter genérico, para otimizar os recursos existentes, viabilizar objetivos e
metas, potencializar oportunidades e tornar o Plano factível na perspectiva
da visão de futuro projetada para a cultura. (UFBA, 2012a, p. 11)
Quadro 22 - Estratégias
1. Firmar e fortalecer parcerias intra e interinstitucionais;
2. Adotar uma gestão sistêmica da cultura como forma de articulação de esforços entre poderes
públicos, setor privado e sociedade;
3. Diversificar fontes e mecanismos de financiamento à cultura;
4. Apoiar iniciativas parlamentares e da sociedade em torno de temas culturais;
5. Potencializar o uso dos espaços públicos da cidade para realizar ações culturais;
162
6. Consolidar setores nos quais o município já apresenta desenvolvimento autossustentado em matéria
de economia criativa;
7. Incentivar novos talentos em todos os segmentos da cultura, em especial na faixa etária de 10 a 21
anos.
Fonte: idem, ibidem, p. 11.
Observamos que os exemplos de estratégias apresentados nessa simulação de Plano
pretendem agregar os meios necessários para que objetivos e metas sejam cumpridos,
contemplando assim:
a) a construção de parcerias, tanto entre os setores do poder público, quanto destes
com outros atores sociais, políticos e empresariais;
b) a diversificação de mecanismos de financiamento à cultura, que deverá levar em
conta as formas de produção cultural e generalidades, bem como especificidades da cultura;
c) o destaque para a articulação política para a promoção da cultura, ou seja, o
envolvimento direto do legislativo e outras instâncias de interesse cultural;
d) a indução ao reconhecimento das potencialidades que precisam ser alavancadas no
município, como a melhoria, qualificação e criação de infraestrutura física dos espaços
públicos, o incentivo a novos talentos e, por fim, o fortalecimento e a sustentabilidade de
iniciativas em processo de desenvolvimento econômico e criativo existentes no município.
Diante de tais descrições e análises, verificamos que os exemplos dispostos no Guia 2
atendem ao requisito da diversidade cultural. Consideramos que as dicas e exemplos de
conteúdos e formatos para a construção do PMC, apresentados nesse material, estão alinhados
com a ideia de fortalecimento da diversidade, na medida em que contemplam uma variedade
de aspectos e características que se relacionam diretamente com o reconhecimento e
fortalecimento cultural.
Vale ressaltar que o conceito de diversidade está implícito e é apresentado a partir do
entendimento de que a política pública de cultura deve, sobretudo, enxergar a sociedade como
portadora de cultura e, assim, como partícipe dos processos culturais, seja fomentando-a para
o convívio cultural, como mera expectadora ou, ainda, como produtora e promotora de
cultura, exercendo sua cidadania cultural e apresentando-se a partir dos referenciais culturais
de cada um dos sujeitos e grupos que compõem a sociedade. A diversidade cultural deve ser
reconhecida no Plano de Cultura a partir dos modos com que se expressa, bem como a partir
das suas contribuições para uma vida social dinâmica, onde a diferença possa ser
compreendida como ativo para o desenvolvimento.
163
Para encerrar o Guia 2, são apresentadas as Dicas Finais e os Conceitos de Referência
para Elos da Cadeia de Cultura. O primeiro está disposto em seis tópicos que abordam
esclarecimentos sobre o Plano de Cultura, a saber:
a) trata-se de um documento de planejamento público, cuja gestão deve ficar a cargo
do órgão de cultura local. Isso reitera a importância da cultura como eixo estratégico para o
desenvolvimento do município e enfatiza que a sua apropriação deve ser dada pela
administração pública em geral;
b) a importância da legitimidade do Plano, enfatizando que esse documento configura-
se como um Plano de Estado e não de Governo, portanto como uma política pública a ser
implantada ao longo de diferentes gestões;
c) destaca a compreensão do PMC como expressão plena da política pública de
cultura;
d) enfatiza a importância das conferências e seus insumos para o PMC. Portanto,
ressalta que há outros espaços de representação que merecem ser levados em consideração no
processo de elaboração do Plano. Uma forma não exclui a outra;
e) recomenda que, quando necessário, a elaboração das ações de processo deve
preceder a de resultados;
f) atenta para a importância do tratamento a ser dado às demandas oriundas das
Conferências, bem como recorda a necessidade de a memória dessas informações ser mantida,
visando à prestação de contas à sociedade.
Essas dicas agrupam uma série de pontos que contribuem para uma efetiva formulação
e implantação do PMC e recordam a relevância da atenção a ser dada às demandas das
Conferências como principais insumos para a elaboração dos Planos. Além disso, trazem
questões técnicas que orientam para procedimentos e comportamentos em relação ao
documento, reforçando a sua importância para o planejamento municipal, adotando a cultura
como um dos eixos para o alcance do futuro desejado.
Como parte final do conteúdo desse módulo, são apresentados conceitos considerados
relevantes para a compreensão dos participantes, porém limitando-se àqueles relacionados
com os elos da cadeia da cultura.
Concluímos, então, que o Guia 2 demonstra uma relação do Plano de Cultura com a
diversidade cultural, visto que os exemplos apresentados trazem situações que dialogam com
aspectos distintos da realidade cultural e que podem afetar diferentes sujeitos, contribuindo
para a superação de desafios enfrentados pelas políticas culturais. Esses exemplos citam
diferentes mecanismos que se destinam a atender distintas necessidades e contribuir para
164
fortalecer diversas potencialidades da cultura, assim como enfrentar os desafios propostos
para o desenvolvimento cultural.
Ressaltamos que esta análise é fruto da nossa interpretação dos enunciados dos
exemplos contidos no referido material, considerando a ausência de esclarecimentos quanto
aos termos e conceitos usados no documento.
3.2.3 Conteúdo do Guia 3
Os conteúdos do Guia 3 (UFBA, 2012b) resumem-se ao aporte de informações sobre a
estrutura e dimensões básicas de gestão do Plano. Quanto à estrutura de gestão, o texto
apontou para a formatação de duas instâncias: político-institucional e executiva-
interinstitucional. Para ambas, o documento trouxe a indicação das instituições a elas
relacionadas, bem como os papéis a desempenhar. Expressou com clareza um modelo que
contempla representações governamentais, sociais e culturais, com apoio técnico do órgão de
cultura, destacando o processo participativo e o diálogo interinstitucional.
Ao apresentar um modelo de gestão e apontar para uma de suas dimensões, reiterou o
caráter do compartilhamento da gestão do Planos entre órgãos do governos e instâncias de
representações culturais, como o Conselho de Política Cultural, agregando, inclusive, outras
formas de organização da sociedade civil, como os fóruns e câmaras setoriais. Isso revela o
compromisso com a participação social, com a integração de diferentes representações da
sociedade, reforçando o caráter participativo e de controle social, permitindo supor que o
conjunto das expressões culturais do município estará presente.
Em relação às dimensões da gestão, apontamos dois itens vitais para um bom
gerenciamento do Plano: a dimensão orçamentária e a dimensão da comunicação. Ambas
agem de forma específica e fundamental para a garantia das ações e projetos e para uma
transparência dos processos realizados intra e extrainstâncias da gestão do Plano.
3.2.4 Metodologia
A escolha metodológica adotada para o Projeto nessa etapa pautou-se em
procedimentos claros, primeiro quanto à definição dos papéis a serem desempenhados pelos
seus integrantes (modelo de gestão) e, depois, pela dinâmica de atendimento aos municípios
(atividades, procedimentos, condutas e cronograma). Constatamos que a metodologia foi
permanentemente realçada pelo princípio da participação, do diálogo interinstitucional e da
165
atenção aos contextos locais, fatores que permaneceram desde a concepção até o desenrolar
do Projeto MinC-UFBA.
O planejamento das atividades propostas para o desenvolvimento do Projeto ocorreu
sem maiores problemas, visto que todas as etapas previstas para a sua realização foram
realizadas, apesar de algumas terem sofrido ajustes, na sua maioria em função dos processos
locais. Alguns cronogramas de evolução do Plano tiveram o prazo ampliado em virtude de
determinados municípios não terem conseguido finalizar o documento no prazo estipulado.
Orientações pautadas pelas premissas e princípios também nortearam a atuação da
equipe central, possibilitando uma definição de conduta para apoiar o desenvolvimento de
Planos, com vistas a lidar com realidades que apresentavam contextos culturais diversos,
diferentes sujeitos, com formas particulares de percepções sobre o mundo e sobre a cultura
local e que, por vezes, apresentavam uma visão conservadora e preservacionista da cultura,
carregada de contradições.
Tal contexto exigiu a adoção de bases consistentes e bem alinhadas para a condução
das atividades e da metodologia de PMC. Fizeram parte dessa conjuntura ações de mediação
de conflitos e um permanente diálogo para uma melhor convergência em torno do documento.
Essas orientações se mantiveram no processo que analisaremos a seguir.
A metodologia do Projeto não teve, na sua formulação, um conceito fechado, que
inviabilizasse alterações ou complementações no documento produzido pelos municípios,
contudo a orientação se deu para que os procedimentos adotados não desviassem o trabalho
dos princípios, que coadunavam com aqueles aplicados ao conceito de política cultural
adotado pelo Brasil.
O método reproduziu as etapas sugeridas pelo MinC para o PMC e expressas no Guia
de Orientações para os Municípios: Perguntas e Respostas (MINC, 2012b), mas poderia ser
complementado com outros tópicos ou temas que fossem considerados relevantes pelos
participantes. Caso o município não seguisse a metodologia proposta, a UFBA não atestaria
outras metodologias adotadas. Essa atitude resguardou os princípios seguidos pela
universidade federal baiana diante do compromisso assumido e afirmou a responsabilidade do
órgão gestor sobre o Plano de Cultura.
Acreditamos que tais divergências tiveram uma relação com o fato de ser a UFBA a
protagonista dessa iniciativa. Em alguns municípios, houve casos em que foi necessária uma
mediação do MinC para minimizar os fatos e fortalecer o papel da UFBA, chegando a
situações em que foi preciso tomar decisões mais enérgicas, como o afastamento do
166
coordenador local dos Planos, cabendo ao município a substituição dele por outro
profissional.
Sendo assim, consideramos que os problemas que foram surgindo foram sendo
contornados, uma vez que o Projeto foi estruturado para atuar frente a situações de tensão.
Estava muito claro para a equipe o universo diverso que ela deveria lidar, tanto considerando
as equipes de consultores, como os contextos locais e as dinâmicas políticas e culturais que se
davam em torno desse trabalho. A sinergia e coesão da equipe central foi fator determinante
para lidar com as contradições que permearam o trabalho metodológico.
A incorporação dos analistas e consultores locais definidos pelos municípios gerou
uma inquietação por parte da equipe e uma preocupação do gestor do Projeto, que entendia
que era preciso conhecer a diversidade de agentes antes do início do trabalho. Essa
preocupação se tornou evidente quando ocorreram alguns desligamentos de analistas e
consultores locais pouco depois do I Seminário. Alguns consideraram a metodologia
complexa e o tempo destinado à sua aplicação insuficiente, além dos desafios a serem
enfrentados.
Os impactos causados por esse fato se refletiram nas instâncias locais, já que, a cada
substituição de consultores ou analistas, a dinâmica do trabalho mudava, sendo necessário
realizar nova capacitação. Além disso, muitos demonstraram interesse em se apropriar da
metodologia para se tornarem consultores particulares. Dessa forma, via-se um processo
descompromissado, o que se refletiu no fato de alguns Planos não terem sido concluídos.
As definições de pautas, previamente realizadas com os municípios para as visitas
presenciais, facilitaram o trabalho da consultoria, preparada para atender as demandas locais.
Esses encontros visaram atender necessidades específicas dos gestores, reforçar a metodologia
e a participação em eventos e reuniões com Conselhos de Política Cultural. A definição da
agenda foi fundamental para a organização do trabalho in loco.
Os seminários foram realizados com o compromisso maior de atender as demandas
das equipes locais em relação ao aspecto metodológico do Plano, ocasionando pequenas
reuniões, que puderam ser individuais ou em grupo. Individual, quando o assunto era
específico sobre algum fato ocorrido em um município, e em grupo quando havia demandas
similares ou de igual importância.
A atenção e o cuidado com essas questões revelaram a responsabilidade em promover
o devido tratamento ao que foi demandado pelos núcleos, considerando suas diferenças. O
mais importante foi que os espaços dos seminários oportunizaram diálogos, trocas e
interações, revelando uma sinergia com a questão intercultural e, mesmo que compostos por
167
visões tão distintas, esses espaços tiveram o PMC como elemento aglutinador. Portanto, além
de apresentarem um caráter técnico, esses seminários também tiveram um viés político e se
desenvolveram em um ambiente de confluência de interesses, entendendo que as diferentes
práticas poderiam se somar em função do desenvolvimento cultural nos municípios.
A equipe da EAUFBA não só assumiu o desenvolvimento da metodologia, como a
realização de todos os eventos relativos a ele, o que gerou uma sobrecarga de trabalho,
desviando, por vezes, a atenção da equipe do assessoramento técnico para o trabalho de
produção desses eventos.
Procedimentos e estratégias tratados no âmbito da metodologia de Planos
oportunizaram o diálogo e, consequentemente, contribuíram para o compartilhamento de
informações, sendo as decisões, na maioria das vezes, fruto dessas discussões. Isso favoreceu
um processo rico e dinâmico, onde as contribuições abaixo ressaltadas foram fruto da
interação da equipe gestora:
a) o trabalho de desenvolvimento das metodologias foi pautado pelo princípio da
participação, desde a sua concepção (projeto e metodologia de Planos) até a sua aplicação;
b) as decisões foram tomadas com base em reuniões de equipe, promovendo uma
gestão compartilhada entre os gestores e o corpo técnico. Aqui ressaltamos as longas
conversas sobre cada um dos processos, guiadas pelo então coordenador do Projeto, prof.
Vicente Federico;
c) houve uma atenção à diversidade de contextos, na medida em que existiu uma
escuta qualificada às questões locais que impactaram diretamente no Plano;
d) houve o reconhecimento das diferentes visões, fruto da heterogeneidade dos grupos
e núcleos executivos locais;
e) as visitas técnicas foram realizadas, na sua maioria, em duplas de consultores, a fim
de privilegiar olhares diferentes sobre o mesmo contexto;
f) os seminários foram realizados tendo o devido compromisso com a capacitação
técnica, que se fundamentou em um trabalho em grupo, respeitando as especificidades que
surgiram, especialmente em relação à compreensão e/ou aplicação da metodologia.
Em que pese a formulação de um Plano de Cultura ter como objetivo a convergência
de interesses, um dos aspectos mais discutidos disse respeito ao destaque dado pela
metodologia à necessidade de atenção das políticas públicas para determinadas
especificidades de cada lugar. Para que uma dessas particularidades ganhasse lugar de
destaque dentro do Plano de Cultura, foi proposto o reconhecimento público da mesma, ainda
168
que representasse um único segmento cultural, partindo-se, por exemplo, das prioridades dos
itens que integraram o PMC.
Também é importante compreender que esse reconhecimento poderia acontecer a
partir de um diagnóstico apurado que evidenciasse vocações e potencialidades culturais.
Sendo assim, poderia estar relacionada a um setor, a um segmento, a uma atividade ou a
algum comportamento que revelasse a identidade ou as identidades culturais daquele lugar.
Essa discussão mostrou, portanto, que a metodologia provocou reflexões sobre um
entendimento mais amplo relacionado com as prioridades culturais a serem destacadas no
Plano, e sobre o cuidado de não excluir manifestações não encaradas como prioridades, pois a
ideia foi promover tratamentos diferenciados no Plano de Cultura. Do ponto de vista da
diversidade cultural, essa explicação se revelou coerente, pois orientou os participantes a
terem uma compreensão daquilo que ultrapassava as referências identitárias de cada um e a
reconhecerem o outro e suas diferentes perspectivas culturais.
Mesmo destacando a importância desses pontos, cabe registrar que não foi dada a
atenção necessária ao aspecto da diversidade cultural, já que o modo e aplicação da
metodologia de Planos se submeteu aos princípios utilizados pela gestão municipal que, por
vezes, pode não ter compreendido o que significa uma gestão para a diversidade. O Plano de
Cultura, enquanto instrumento de política pública, deve refletir, sobretudo, a realidade local.
Considerando que a pluralidade cultural se apresenta através de diferentes formas de
expressão, a descrição dos exemplos que constam no Guia 2 nos permite identificar temas ou
assuntos tratados nos PMCs que, além de poderem definir a amplitude da política a ser
proposta, oferecem subsídios para avaliarmos se houve, ou não, uma relação entre essa
metodologia e a diversidade cultural.
Ressaltamos que, durante o Projeto, foi detectada uma fragilidade em relação ao
entendimento de temas e expressões próprias do campo cultural e que não foram plenamente
compreendidas pela maioria dos participantes. A publicação de um glossário de termos
tratados nos Guias poderia ter atenuado esse problema. Os debates e encontros para o repasse
da metodologia foram muito ricos, especialmente quando tinham a presença de representantes
de universidades e agitadores culturais.
Notamos que o desenvolvimento de Planos de forma participativa foi reforçado,
primeiro pelas orientações iniciais que elegeram a participação social e a diversidade
169
cultural16
como elementos fundamentais para uma política que atenda aos anseios da
população; segundo, pelo trabalho intenso de reforçar essas características durante o repasse
metodológico, na medida em que foram abertos debates sobre cultura, desenvolvimento,
diversidade e sustentabilidade.
Assim, foi possível uma discussão rica e coerente com as políticas culturais
contemporâneas, fato que influenciou positivamente para uma compreensão alargada do
conceito de cultura e da importância do planejamento. Queremos dizer que a metodologia,
quando ancorada em tais princípios e desenvolvida com expertise, visa criar laços entre
planejamento e realidade cultural e adquire valores coerentes com a diversidade. Uma
metodologia pautada apenas em técnicas de planejamento, sem uma abordagem e relações
consistentes entre as etapas de elaboração do documento, sem aplicação rigorosa dos
princípios considerados estratégicos para um desenvolvimento inclusivo – em especial, a
diversidade – e sem o aparato conceitual necessário, pode fragilizar o processo,
principalmente quando não for mediada por profissionais do campo da cultura com
competências e habilidades necessárias para tal.
3.2.5 Processo
Vamos avaliar essa etapa a partir de questões processuais relativas à compreensão dos
conteúdos, o desenvolvimento e aplicação da metodologia, seja quanto ao que foi proposto
pelo Projeto MinC-UFBA, seja enquanto dinâmica de realização.
Na descrição de desenvolvimento do Projeto, a partir do estímulo do Fórum Nacional
de Secretários e Dirigentes de Cultura, foi possível verificar a relação dialógica que se deu
entre a UFBA e o MinC em relação à construção dessa iniciativa, permitindo agir com
criatividade e levando em conta as experiências dos atores e agentes envolvidos. Durante o
processo, foram realizadas reuniões nas quais a UFBA, a convite do MinC, teve a função de
dirimir possíveis questionamentos ou informações sobre o andamento do trabalho.
O desenvolvimento da metodologia, como já destacamos, se deu em consonância com
o planejamento, porém a sua aplicação mereceu uma significativa atenção. Em termos
estruturais, as atividades de atendimento dos municípios aconteceram de acordo com o
desenho, contudo as distintas realidades e contextos diversos requereram um trabalho de
acompanhamento e monitoramento dos processos locais. Isso levou a um maior número de
16 A diversidade cultural foi destacada a partir das visitas técnicas, onde foi possível aprofundar a relação entre
participação e diversidade, ampliando, assim, o raio de compreensão sobre o Plano de Cultura.
170
visitas e de revisões dos documentos, bem como a alterações nos cronogramas de elaboração
de Planos de alguns municípios.
Apesar de a equipe ter sido preparada para lidar com situações adversas, a resistência
de algumas cidades causou desconforto na equipe. Essa questão foi trabalhada pelos
integrantes, fazendo com que não se desviassem do foco do Projeto, mas em alguns casos foi
necessário que essa escolha fosse reforçada pelo MinC. Em outros municípios, essa questão
não se configurou como um problema e sim como algo positivo, fazendo com que o trabalho
fluísse de forma favorável. Vale como exemplo um trecho de um relatório do município de
São Luís:
A presença dos consultores UFBA/Núcleo Central em São Luís foi muito
salutar, pois fortaleceu e motivou a sociedade civil, assim como, alguns
setores estratégicos da governança municipal como a Secretaria de Educação
do Município. (ARAÚJO; MOREIRA, 2012, p. 2)
Fica evidente a complexidade das atribuições assumidas pela equipe de consultores,
pois o processo de apoio à elaboração do PMC foi além do trabalho de transferência da
metodologia, visto que envolveu também ações de sensibilização e mobilização de atores e
agentes locais, especialmente quando esses fatos apresentaram-se como um dificultador.
Quando isso não era um problema, se configurou como uma atividade a ser cumprida para
confirmar a importância do Plano, de modo a prover maiores informações sobre o
planejamento e reforçar a participação social e a importância do diagnóstico cultural como
fator imprescindível para o reconhecimento das expressões culturais e, portanto, da
diversidade cultural.
Em São Luís, foram realizadas reuniões com a participação de agentes culturais e
públicos, por dois dias, com a presença de aproximadamente 120 artistas, produtores e
fazedores culturais. Verificou-se, assim, uma atenção especial daquele núcleo, ao reforçar a
participação e garantir que o Plano fosse fruto de uma ampla discussão.
Todos os esforços foram feitos no sentido de minimizar eventuais problemas. Em uma
capital, apesar da resistência, a equipe da EAUFBA teve significativo apoio do Conselho de
Política Cultural e, com o afastamento do coordenador do Plano, os trabalhos ganharam
celeridade. Para Marcelo Cruvinel17
, nesse caso, ao final do trabalho de execução do PMC,
surgiram alguns problemas, o que poderia estar associado à vontade da equipe local de mudar
a metodologia para “dar a cara deles”. Em outro caso, foi marcante a resistência encontrada
17 Marcelo Cruvinel é administrador de empresas e atuou como consultor técnico e gestor do Projeto na primeira
edição. Esse depoimento nos foi dado em conversa por e-mail em 12.01.2017.
171
no município, quando o coordenador do Plano chegou a ignorar a presença dos consultores da
Bahia. Contudo, inconveniente esse que foi sanado com o seu afastamento direto e
substituição pela secretária de Cultura. Apesar do contratempo, esse foi um dos primeiros
Planos elaborado e aprovado no Legislativo.
Observamos, assim, que o protagonismo do gestor de cultura foi um fator
determinante e, nesse caso em especial, o trabalho do Plano foi feito por uma equipe de
pessoas com formação em cultura e com atuação profissional e política. De modo geral,
houve um engajamento muito grande de algumas equipes locais, o que não necessariamente
esteve relacionado com o protagonismo do gestor, que, em alguns momentos, deixou evidente
o despreparo para estar à frente da pasta da cultura, além de ter demonstrado falta de
compromisso político com o fato.
Alguns municípios apresentaram um contexto desprovido de condições de
infraestrutura técnica e de pessoal. Mesmo com as visitas técnicas, foi visível uma
desarticulação institucional, que, em algumas situações, foi minimizada com um trabalho de
mobilização política e cultural dos coordenadores – que, às vezes, não era o gestor – e dos
consultores locais, que tinham forte articulação local e promoveram o envolvimento
significativo da sociedade.
Por outro lado, houve situações mais graves que combinaram fragilidade institucional,
quadro de pessoal reduzido e falta de envolvimento e dedicação dos servidores que estavam
participando do Projeto, somando-se a isso o fator político e a falta de articulação do
Conselho de Política Cultural. Circunstâncias complexas como essa muitas vezes
inviabilizaram o trabalho da consultoria.
Situações dessa natureza causaram desarticulação dos núcleos executivos e tensões
entre os integrantes, o que se refletiu no processo metodológico. Na sua maioria, quando
ocorreram problemas assim, foi necessário uma ação conjunta entre a UFBA e o MinC para
revertê-los, a fim de dar continuidade ao Projeto. Essa relação de alinhamento entre as
instituições foi fundamental para manter o fluxo do trabalho e um ambiente favorável ao
desenvolvimento dos Planos.
Nos primeiros seis meses do Projeto, foram feitos ajustes mais frequentes nos
cronogramas de viagem, pois alguns núcleos apresentaram fragilidade em relação à apreensão
dos conceitos e expressões contidas nos Guias ou mesmo sobre termos ou conceitos próprios
do campo da cultura. Durante a realização dos debates, nas reuniões sobre o desenvolvimento
do Plano, os conflitos foram frequentes e, por isso, as agendas se ampliaram, fazendo com que
os consultores da UFBA permanecessem por mais dois dias. O fato é que alguns problemas de
172
ordem conceitual, envolvendo a metodologia, foram equacionados durante a realização do 2º
Seminário de alinhamento técnico, quando ocorreram novas orientações sobre os conceitos
metodológicos e, em especial, sobre a formulação das metas. A possibilidade de colocar as
equipes juntas no meio do processo possibilitou as trocas entre eles, propiciando uma maior
compreensão dos processos e um aprendizado conjunto.
Apesar dos avanços no documento, alguns municípios ainda apresentaram algum tipo
de fragilidade conceitual e domínio metodológico, por isso alguns prazos foram estendidos.
Essa possibilidade impactou positivamente, ocasionando trocas de informações entre as
equipes para além do seminário e promovendo contribuições entre os municípios em relação
ao PMC, com intercâmbio de ideias criativas para solução de possíveis problemas.
Entendemos que isso foi importante para fortalecer um processo que foi e é
fundamentalmente coletivo, além de ter possibilitado o compartilhamento de práticas que se
somaram aos esforços realizados em algumas cidades.
Outro fator que também requereu atenção especial da UFBA e dos consultores locais
foi quanto ao nível de representatividade dos Conselhos de Política Cultural, fator
considerado relevante para o seu protagonismo no processo de elaboração do PMC.
Verificou-se uma diversidade de situações, desde a inexistência dessa instância até o caso de
Conselhos com atuação destacada e proativa, passando pelos que, com forte alinhamento
político com as gestões municipais, exerceram um papel aquém do que lhe caberia e aqueles
que ignoraram as orientações do MinC.
Uma das reclamações foi a inexistência de um processo de formação adequado e
específico para os conselheiros de cultura, visto que os Conselhos muitas vezes eram
formados por pessoas com representatividade, mas sem competências para atuar nessa função.
Além disso, algumas questões rodearam o processo de elaboração dos PMC a ponto de
evidenciar problemas de ordem política e pessoal com quem liderava o processo. Alguns
municípios conseguiram associar um caráter técnico e profissional ao trabalho, mas, mesmo
assim, a UFBA, em alguns desses municípios, atuou junto aos Conselhos, oferecendo
palestras ou realizando longas reuniões para explicar a metodologia, a escolha da UFBA e o
papel a ser desempenhado pelos Conselhos.
Esses fatos mostraram, de forma clara, o terreno arenoso da cultura, a complexidade
do arranjo político em torno das políticas públicas e, acima de tudo, a falta de formação e
capacitação dos atores e agentes culturais em promover condições propícias para uma
compreensão sobre os temas essenciais ao desenvolvimento cultural. A cultura ainda é
entendida, muitas vezes, como moeda de troca no ambiente político ou a partir de uma visão
173
estreita. Um ambiente notadamente pautado por contradições e conflitos, às vezes causados
pela falta de compromisso político, mas também pelo desconhecimento do propósito
estabelecido pelo MinC para um processo de transformação ou, ainda, marcado por fatores
históricos conservadores e de caráter colonizador.
Foram observadas queixas recorrentes sobre a atuação do MinC em relação aos
municípios e o Plano, pois apesar de esta ter sido uma ação indutora, foi recebida como algo a
ser apenas aceito. Nesse aspecto, foi necessária a presença de alguns representantes regionais
do MinC para afinar o discurso sobre o Plano e as ações direcionadas aos municípios, que
vinham sendo propostas pelo próprio Ministério no Programa de Fortalecimento do SNC.
Essa contribuição favoreceu o processo por demonstrar que houve um alinhamento
técnico entre os atores envolvidos; permitir que os municípios tivessem respostas a possíveis
dúvidas sobre o processo e por aproximar o diálogo com o MinC em relação aos Sistemas
Municipais de Cultura. A presença do MinC nos encontros facilitou muito o trabalho dos
consultores, eximindo-os do papel de representante daquele órgão, o que não caberia à UFBA,
apesar do entendimento errôneo por parte dos atores municipais. Além disso, contribuiu para
dirimir possíveis contradições que surgiram.
Essa experiência demonstrou a heterogeneidade dos contextos e a forte presença de
um entendimento de cultura distorcido do conceito contemporâneo: cultura entendida ou
como evento ou como aquilo que reflete as culturas tradicionais, utilizada como instrumento
político e com ausência de estruturas adequadas para o seu desenvolvimento. Por outro lado,
apresenta-se como um campo em formação, com uma grande ansiedade para o aprendizado e
para o alcance do desenvolvimento, que envolve não somente a preservação da cultura, mas a
exploração do aspecto econômico.
Essa experiência também demonstrou grande diversidade cultural, os jeitos e as
formas de pensar o mundo e o seu local, que nem sempre convergem e, por isso, exigem
tratamentos diferenciados, com abordagens distintas. Problemas similares demonstraram que
merecem soluções diferenciadas. Isso nos leva a refletir sobre como aplicar metodologias e
desenvolver políticas para a diversidade cultural, quando esta é a própria expressão da cultura
e, notadamente, requer modos distintos para lidar com questões não necessariamente
diferentes ou iguais.
3.3 Análise da 2ª Edição
174
Comparativamente ao material da edição anterior, o conteúdo da 2ª Edição ganhou
vitalidade, pela incorporação dos conceitos relevantes em cinco módulos denominados
básicos: Cultura e Produção Simbólica, Políticas Públicas de Cultura, Planejamento Público,
Sistema Nacional de Cultura e Cultura e Desenvolvimento. De modo a reforçar o processo
formativo, para cada módulo básico, foi estruturado um fórum de discussão teórica, onde seria
possível debater os conceitos, dirimir dúvidas e apresentar experiências da realidade local
relacionadas a cada tema.
Já o processo de elaboração de planos foi enriquecido e desdobrado em seis módulos:
Visão Geral18
, Análise da Situação Atual, Projeção do Futuro Desejado, Operacionalização do
Futuro Desejado, Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano Municipal. Como
ferramenta auxiliar, foi disponibilizada aos participantes uma ferramenta de apoio à
elaboração de plano, estruturada de modo a buscar preservar a coerência entre as partes do
documento.
3.3.1 Conteúdo dos módulos básicos
Conforme o novo formato, adotado na 2ª Edição do Projeto, os módulos conceituais,
denominados de módulos básicos, foram integrados ao material didático, fato que já
abordamos no capítulo anterior. Aqui, traremos algumas observações sobre o conteúdo desses
módulos, visando demonstrar como a diversidade cultural foi tratada. Os módulos Cultura e
Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento abordaram de forma mais direta o tema em
análise.
Ao discutir os conceitos de cultura e diversidade, o módulo Cultura e Produção
Simbólica (FREIRE; BARROS, 2014) colocou os participantes para refletirem sobre essa
relação e buscarem promover um alinhamento conceitual com as práticas realizadas
localmente, proposta que incluiu as discussões dos fóruns. Como provocação dos
conteudistas, os participantes também foram estimulados a pensar sobre a importância do
reconhecimento da diversidade cultural, da dinamicidade intrínseca à cultura e como essas
questões se relacionam à identidade e às diferenças culturais que compõem o local onde
vivem.
18 Esta dissertação contém um tópico específico de análise detalhada da metodologia adotada na 2ª Edição do
Projeto, por isso não será objeto desta pesquisa o conteúdo do módulo Visão Geral, que traz apenas um
panorama sobre as etapas que compõem o método adotado para a formulação de planos municipais de cultura.
175
Entendemos, portanto, que esse material ofereceu subsídios para que os conceitos
relacionados ao campo da cultura, e em especial à diversidade cultural, fossem
compreendidos para além do senso comum. Esse módulo qualificou o processo, na medida
em que contribuiu para ampliar a compreensão dos participantes sobre o que envolve o
patrimônio cultural, suas formas de reconhecimento e de proteção e promoção,
desconstruindo uma visão romântica da cultura. O seu aprofundamento ficou prejudicado pela
carência de alguns tutores em conhecimentos específicos sobre o tema e habilidades inerentes
à orientação pedagógica.
Já o módulo Cultura e Desenvolvimento (MIGUEZ, 2014) colocou o desafio de
coadunar cultura, diversidade e desenvolvimento, descrevendo um processo no qual a cultura
passa a ter outra conotação na contemporaneidade, articulada através de eventos e
documentos internacionais que ajudaram a amadurecer os entendimentos sobre o campo,
como a Convenção da Unesco (UNESCO, 2005), importante documento para orientar os
países-membros sobre as políticas para a diversidade.
Apesar de considerar que todos os módulos foram relevantes para a compreensão
conceitual dos participantes, esses documentos colocaram também o tema da diversidade na
discussão central do Plano, pois não só apresentaram os conceitos, como também orientaram
sobre a condição estratégica da diversidade cultural para o planejamento da área. Trata-se de
reconhecer a diversidade, assumindo que as diferenças que existem entre indivíduos e grupos
no âmbito da cultura é condição essencial para ampliar o entendimento da cultura no contexto
contemporâneo.
Podemos afirmar, ainda, que esses dois módulos, quando bem estudados, puderam
oferecer subsídios para um debate consistente sobre o campo da cultura, sua relação com o
desenvolvimento e, sobretudo, trazer clareza sobre os conceitos adotados, de modo a poder
embasar novas e ricas discussões nos municípios.
Todos os módulos, por sua vez, trouxeram o tema da participação social, mas a
discussão trazida pelo módulo Políticas Públicas de Cultura (CALABRE: BOULLOSA,
2014), ao abordar os conceitos de escolas de políticas públicas, ofereceu aos participantes a
possibilidade de refletirem sobre o formato proposto para a construção dessas políticas,
situando-os na perspectiva adotada pelo MinC a partir de 2003.
Discutir e apresentar os avanços realizados para a implantação de políticas públicas de
cultura, que considerem a cultura e sua diversidade cultural, impôs aos participantes a
reflexão sobre suas práticas locais e instigou-os a pensar sobre quais caminhos as políticas
locais deveriam seguir para o alcance de uma integração nacional.
176
Relacionar as políticas públicas com o Plano de Cultura e estimular o leitor a entender
a sua importância para a garantia dos direitos culturais e a cidadania, coloca-o na direção da
diversidade cultural, pois, para que esses direitos sejam garantidos, é preciso ter clareza sobre
o quê o Plano trata. A cidadania, por sua vez, integra todas as condições oferecidas para a
convivência cultural e a liberdade de expressão e participação na vida política e cultural local.
Consideramos que a estrutura do módulo foi bem didática e propôs um diálogo
orientado para a discussão e compreensão da relação entre as políticas públicas e as políticas
públicas de cultura, em consonância com o planejamento estratégico da área. No entanto, duas
ressalvas podem ser feitas a esse conteúdo: primeiro, em sua parte inicial, um complicador
decorreu do fato de ter sido utilizada uma linguagem acadêmica; segundo, esse material só
abordou o histórico das políticas culturais entre 2003 e 2005, deixando de registrar
importantes iniciativas realizadas nos dez anos seguintes.
O módulo do SNC (VILELA, 2014), ao tratar dessa política pública de cultura para o
país, destacou a relação com o tema da diversidade cultural, ao explicitar, em seu início, que a
política de cultura deve levar em conta o caráter participativo e o desenvolvimento da
diversidade. É possível verificar que o próprio Sistema se caracteriza como uma política para
a diversidade, à medida que se estrutura a partir da tridimensionalidade da cultura e se
constitui de elementos que visam criar condições para que a cultura floresça e os indivíduos e
coletividades produzam cultura em seus mais variados níveis. Assim, são oferecidas
possibilidades para promoção da inclusão cultural em um cenário contemporâneo,
reconhecendo suas especificidades e capacidades geradoras. Nessa perspectiva, esse módulo
foi bastante didático e técnico, oferecendo aos participantes uma adequada capacitação para a
institucionalidade da cultura, conhecimento sobre a integração dos Sistemas e sua relação com
a diversidade, considerando-a como diretriz para as políticas desenvolvidas pelo MinC desde
2003.
Tanto esse módulo como o de Políticas Públicas de Cultura afirmaram que a
participação social é fator central para a construção de uma política democrática para a área.
O envolvimento de diferentes agentes e atores públicos, sociais e culturais em todo o processo
de construção de um PMC pode promover, dentre outras questões, um amadurecimento de
todas as partes sobre os campos público e cultural. Inclusive, conforme já afirmamos, o tema
da participação social foi o mais explorado nesses conteúdos e é princípio básico para a
contemplação da diversidade cultural.
Sabemos, contudo, que a participação não é suficiente para a construção de uma
política que tenha uma relação direta com a diversidade, devido às diferentes interpretações às
177
quais pode estar submetida durante o processo de elaboração de Planos de Cultura. Por isso, é
fundamental que o gestor municipal desenvolva uma compreensão clara sobre a cultura
enquanto vetor de desenvolvimento e tenha uma visão ampliada das dinâmicas culturais locais
e dos movimentos sociais atuantes, seja através de representações institucionalizadas ou não.
Além disso, ao abordar o SNC e suas bases legais, esse módulo instruiu os representantes
municipais sobre como se dá a institucionalidade da cultura no âmbito municipal. O tópico
sobre os Sistemas Municipais esclareceu a importância desses Sistemas e a conduta a ser
adotada para fortalecê-lo.
Já o módulo Planejamento Público (HASTENREITER FILHO, 2014), além de ter
apresentado questões iniciais que versaram sobre o tema da diversidade cultural, trouxe
também informações gerais sobre o financiamento da cultura, porém não foi além da
apresentação dos instrumentos já mencionados no módulo sobre o SNC e as peças
orçamentárias. O texto desse material associou a participação social ao orçamento
participativo, mas não abordou, de forma clara e aprofundada, a diversidade cultural. Reiterou
somente questões conceituais necessárias para uma compreensão básica sobre os aspectos
relativos ao campo da cultura e do planejamento.
O que observamos, vale mais uma vez registrar, é que a metodologia do Projeto MinC-
UFBA dialogou pouco com o tema diversidade cultural e não permitiu que os participantes
reconhecessem esse assunto de forma mais direta e central. Por isso, a mediação dos analistas
e dos tutores foi fundamental.
Enquanto os módulos de planos promoveram uma orientação adequada aos
participantes para o trabalho específico de elaboração dos Planos de Cultura, os módulos
básicos, com o apoio de instrutores, privilegiaram o aspecto formativo para conceitos do
campo, sendo essencial para promover maior apropriação e segurança dos formuladores dos
PMCs, à medida que eles conheciam profundamente o objeto do planejamento.
Desta forma, os conteúdos qualificaram a formação para a elaboração dos Planos
Municipais de Cultura, mas ressaltamos que seria preciso trabalhá-los também sob o ponto de
vista regional e territorial. Isso poderia vir a possibilitar interações mais ricas e compreensões
mais coerentes com a ideia de se planejar políticas públicas condizentes com as realidades
locais.
Também acreditamos que, com base na análise dos fóruns de discussão teórica que
abordaremos adiante, a dinâmica de aplicação desses conteúdos merece uma avaliação mais
aprofundada, que permita estabelecer um processo didático mais adequado com os diferentes
grupos envolvidos na formação.
178
Os conteúdos aportados nesses módulos reiteraram a importância da formação em
gestão e políticas culturais, campo que possui uma rotatividade permanente nos quadros
funcionais de secretarias e órgãos de cultura. Essa situação foi observada nas duas
possibilidades de intervenção desse Projeto, especialmente quando foram oferecidas
formações para os municípios baianos em agosto de 2012, março de 2013 e em 2014.
3.3.2 Conteúdo do módulo Análise da Situação Atual
O módulo que trata da etapa de Análise da Situação Atual (BRITTO, 2014a) foi
estruturado com unidades que abordaram a caracterização do município e o diagnóstico
cultural. O texto sobre a caracterização do município integrou o roteiro do Plano, tendo sido
uma consideração proposta pela equipe da EAUFBA e aceita pelo MinC. Teve como objetivo
desenhar o perfil do município, trazendo importantes informações sobre a realidade local.
Através dos aspectos relacionados à caracterização, foi possível conhecer o processo
histórico, a geografia, o ambiente e as condições de vida das pessoas, suas atividades e
economia, as referências étnicas e práticas sociais e culturais.
A equipe da EAUFBA entendeu que não bastava conhecer o contexto das dinâmicas
culturais, os grupos, artistas e suas demandas específicas. Defendeu que a compreensão se dá
a partir de um conjunto de informações que perpassam também sobre o município, quem o
habita e como o habita, quais as características históricas, geográficas, ambientais e tantas
outras que compõem esses municípios e qual relação dessas peculiaridades com os aspectos
culturais. A ideia de unir conhecimentos sobre a cidade e a realidade cultural e como ambos
os fatores se fundem em um grande guarda-chuva de informações ressaltou o aspecto
transversal da cultura e suas imbricações sobre o modo de vida de cada lugar.
A análise da situação atual foi a etapa na qual se deu o reconhecimento do espaço
habitado e propôs uma análise crítica sobre os processos locais, a partir das informações e
dados levantados. Essa análise pôde oferecer subsídios para entender as relações e ligações
que elucidam a importância da cultura e as grandes contribuições que ela oferece para o
sentimento de pertença da sociedade e para o desenvolvimento, fazendo surgir ideias e
estratégias que se cruzam em função das demandas realizadas e das possibilidades de
estruturação de políticas que vão favorecer esse desenvolvimento.
Nesse sentido, a análise da situação atual buscou promover o reconhecimento sobre a
realidade concreta onde as pessoas vivem e se relacionam. Isso se torna contraditório caso o
179
Plano de Cultura não se constitua como um documento que reflita essas realidades, o que
certamente impacta na sua efetividade. As relações transversais ainda são questões a serem
trabalhadas no âmbito governamental e não se restringem aos municípios, envolvendo ainda a
União e os Estados, porém a mudança de paradigma proposta pelo Plano de Cultura incide
necessariamente sobre a forma como ele é elaborado. Essa compreensão está diretamente
relacionada ao desejo de transformação que se quer e como pode contribuir com outro modo
de pertencimento cultural, no qual a autoestima dos cidadãos é um fator essencial. O
reconhecimento a partir da cultura pode revelar novos comportamentos, como valorização das
origens culturais e sentimento de pertença renovado.
Para exemplificar, citamos algumas informações sobre o Plano de Cultura de
Laranjeiras, cuja caracterização e diagnóstico municipais revelam aspectos históricos sobre o
patrimônio cultural e sua relação com o sentimento de pertencimento e a diversidade cultural,
a partir do reconhecimento da cultura para o desenvolvimento. Ressaltamos que a cidade de
Laranjeiras ganhou o título de Patrimônio Cultural do Estado e é referência em manifestações
da cultura popular. Segundo o Plano, esse título promoveu, dentre outras coisas, o sentimento
de pertencimento cultural da comunidade, valorizando e fortalecendo as identidades locais,
como demonstra um pequeno trecho do documento:
Dessa forma, a cidade está repleta de exemplos de patrimônios culturais,
tanto levando em consideração as igrejas da área urbana e rural, como os
casarões que lembram os tempos áureos da economia laranjeirense, ou as
festas, seus ritos e manifestações culturais, a vivacidade do povo, a cultura
dos grupos e a importância de fatos passados. Além disso, é necessário
valorizar os patrimônios nem tão exaltados, mas que fazem parte da
identidade e memória, como as brincadeiras de criança, as cantigas, as
lendas e estórias, as pescarias, os bordados, as rodas de conversa da
vizinhança, as comidas tradicionais, os modos de fazer, os lugares, etc. O
patrimônio cultural é, dessa forma, o primeiro a ser valorizado, para se
conseguir uma identificação com os outros patrimônios, os que não fazem
parte da vivência diária, mas que pela sua presença na cidade e pela sua
história criam o sentimento de pertencimento, de identidade e memória com
o espaço em que se inserem. (LARANJEIRAS, 2013, p. 11)
Além de o Plano tratar a diversidade cultural a partir da importância da valorização e
promoção das culturais populares, observamos coerência entre o que foi registrado na
caracterização e o que foi elaborado enquanto objetivos, metas e ações. Por isso a
caracterização do município foi e é tão importante quanto o diagnóstico dos segmentos e
setores da cultura, pois ambos oferecem subsídios para a construção de uma análise crítica
entre o lugar e as dinâmicas culturais.
180
Nesse exemplo, o objetivo Promover a diversidade cultural local nas singularidades de
cada expressão, relacionado à diversidade cultural, também está associado às metas ligadas à
cartografia cultural, fomento às diversas expressões culturais e infraestrutura de equipamentos
culturais (idem, ibidem, 2013, p. 35-37).
Voltando ao módulo correspondente, a descrição dos tópicos da caracterização ganhou
explicações mais detalhadas no material didático da segunda edição, possibilitando uma
melhor compreensão sobre como elaborá-los, como demonstrado no Quadro 23:
Quadro 23 - Exemplo de descrição sobre aspecto da caracterização do município
2 ª Edição – Projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de Aprendizagem à Distância
Aspectos físicos
Área, subdivisão urbana e rural, localização regional, fronteiras, paisagens e
outros aspectos naturais importantes – subdivisão regional
A relação das pessoas com o ambiente é uma referência essencial para a cultura.
Situar geograficamente o município já indica algumas influências importantes
relacionadas ao clima, paisagens e outros aspectos naturais.
A partir de uma localização regional no país, pode ser avaliado como o município
compartilha e se relaciona culturalmente com outros, que imagem constrói e
projeta a partir de suas manifestações e intercâmbios, que construções ele agrega
à região. Para algumas localidades, as fronteiras possuem significado especial
para os diálogos culturais.
Por sua vez, conhecer como o próprio município organiza seu território, suas
áreas urbanas e rurais, seu zoneamento distrital, suas características ambientais e
de ocupação, permite um olhar diferenciado entre o conjunto, uma melhor
compreensão de como os aspectos culturais se manifestam e se entrelaçam. Em
decorrência, esse crescimento situa objetivamente ofertas e demandas culturais e
favorece planejar as ações em função do perfil de cada local. Fonte: BRITTO, 2014a, p. 10.
Observamos que informações mais detalhadas ofereceram aos participantes e
integrantes das equipes de elaboração condições para ampliar a compreensão sobre a cultura e
sua relação com o local que habita e suas dinâmicas. O módulo referente a essa etapa do
Plano aproximou os conteúdos a um discurso mais coerente com as imbricações que há entre
os tópicos da caracterização e a diversidade cultural, mas não explicitou claramente essa
relação. Assim, sentimos falta de uma associação entre esse conteúdo e o conceito de
diversidade, já que o Plano de Cultura se configura como um instrumento de política pública
que deve refletir a realidade local em todas as contradições que lhes são pertencentes.
O conjunto das informações coletadas no âmbito da caracterização do município
ofereceu dados sobre as condições em que vivem as pessoas, suas histórias e suas situações
181
sociopolítica, econômica e social, além de abordarem outros aspectos que se relacionam com
o meio ambiente e a geografia do local, ou seja, o ambiente onde a cultura se manifesta. São
fatores que contribuem para uma compreensão sobre a identidade e diversidade cultural e suas
formas de existência e interação com o conjunto dos traços que compõem as comunidades,
além de induzir um tratamento mais qualificado em relação à transversalidade, que deve
ocorrer no âmbito das políticas públicas, mas que efetivamente não se constitui na sua
concretização, sendo um ponto a ser mais bem trabalhado no rol das políticas públicas.
Reiteraremos a seguir a importância desses aspectos, explicando como cada um
promove um olhar crítico sobre o campo cultural. A certeza é de que mesmo para os analistas,
consultores e tutores, fazer essa relação também foi fruto de aprendizado, e não seria diferente
para os representantes municipais.
Nos aspectos históricos, foram abordadas questões como pertencimento e identidade e
informações e registros sobre a diversidade cultural do município, porém acreditamos que
teria sido necessário aprofundar essa compreensão sob o ponto de vista do entendimento sobre
esse projeto político, considerando que as orientações deveriam ter sido feitas a partir de uma
análise crítica dessas informações, o que certamente apontaria para a renovação das dinâmicas
culturais. São questões tratadas no módulo, mas que precisariam de maior aprofundamento.
Essas relações podem contribuir para uma apropriação adequada sobre um projeto de
política cultural que leva em conta as inquietudes da cultura. A junção entre fatos formais e
observações críticas sobre o local e suas dinâmicas culturais e sociais oferecem uma
arcabouço de informações relevantes para o Plano de Cultura, sobretudo para o entendimento
sobre a participação da diversidade em um projeto de transformação.
A forma como o município se originou é relevante para sua formação
cultural. Para inúmeros municípios, é determinante até hoje, especialmente
quando se associam reflexos de composição demográfica e as contribuições
de povos de diferentes origens. Há fatos que marcaram a trajetória municipal
e que a população reconhece neles relevância para o sentimento de
pertencimento, de identidade e de distinção local. Em geral, esses fatos
possuem conexões com outros de caráter regional, nacional ou internacional.
Aqui não se trata de relato formal de fatos oficiais, mas de um olhar sobre a
história e seus reflexos na diversidade cultural do município - nas suas
manifestações, nas suas paisagens urbanas e rurais, na sua gastronomia,
enfim, nos seus bens de cultura. Vale lembrar que a história de um lugar tem
diferentes versões, dependendo do ponto de vista que se adota. (idem,
ibidem, p. 9)
Apesar de estarmos falando sobre aspectos diretamente ligados aos modos de vida e às
formas de sobrevivência e sustentabilidade de uma comunidade, o termo diversidade cultural
não apareceu nos textos sobre a caracterização do município, com exceção do item
182
relacionado aos aspectos históricos, o que nos parece ter sido tratado em momentos
específicos da metodologia e não como um princípio geral.
Neste material, destacamos a seguinte frase: “Embora nesse tópico do plano não sejam
tratadas especificamente as informações culturais, assunto da unidade seguinte, as
informações devem ser abordadas à luz da cultura e do desenvolvimento cultural.”
(idem, ibidem, p. 9; grifo nosso). Consideramos essa observação de extrema importância para
que os participantes do Projeto pudessem compreender que eles deveriam pensar, refletir,
discutir e analisar o contexto cultural em todos os momentos desse processo, ligando-os às
outras etapas que considerassem pertinentes para o planejamento da cultura. A expressão “à
luz da cultura e do desenvolvimento cultural” nos leva a afirmar que é inevitável considerar as
expressões culturais e suas dinâmicas como elementos constituintes de um conceito de
diversidade que vise, sobretudo, a diminuição das desigualdades tão presentes na realidade
brasileira.
O texto sobre os aspectos físicos, geográficos e ambientais estimulou a compreensão
sobre quais relações de trocas culturais podem acontecer, como compreender os aspectos
identitários de um município, e torná-lo referência local e como ele se posiciona
culturalmente a partir das relações para além das suas fronteiras. A análise desses aspectos
nos reportam a entender como podem se dar as relações interculturais, bem como a
compreender melhor as dinâmicas locais e as relações transversais que podem vir a existir,
possibilitando pensar um desenvolvimento de dentro para fora.
A relação das pessoas com o ambiente é uma referência essencial para a
cultura. Situar geograficamente o município já indica algumas influências
importantes relacionadas ao clima, paisagens e outros aspectos naturais.
A partir de uma localização regional no país, pode ser avaliado como o
município compartilha e se relaciona culturalmente com outros, que imagem
constrói e projeta a partir de suas manifestações e intercâmbios, que
contribuições ele agrega à região. Para algumas localidades as fronteiras
possuem significado especial para os diálogos culturais.
Por sua vez, conhecer como o próprio município organiza seu território, suas
áreas urbanas e rurais, seu zoneamento distrital, suas características
ambientais e de ocupação, permite um olhar diferenciado sobre o conjunto,
uma melhor compreensão de como os aspectos culturais se manifestam e se
entrelaçam. Em decorrência, esse conhecimento situa objetivamente ofertas
e demandas culturais e favorece planejar as ações em função do perfil de
cada local. (idem, ibidem, p. 10)
Os aspectos demográficos apresentaram preocupação com as pessoas e como elas
vivem, se relacionam, se comunicam e produzem suas vidas cotidianas. Esses fatores se
entrelaçam e reforçam a importância de se promover o planejamento para um
183
desenvolvimento em função do humano. Assim, mais uma vez vemos a diversidade cultural
beneficiária de um conjunto de estratégias que visam construir um planejamento pautado na
realidade local.
Tratar a perspectiva econômica da cultura conduz a pensar e analisar as cadeias
produtivas e suas contribuições para a economia local, pois “As bases econômicas […] dizem
respeito ao que predomina como riqueza econômica e os fluxos, às formas de produção de
bens e serviços, de circulação – dos bens e serviços, da força de trabalho e do dinheiro e de
distribuição da riqueza”. (idem, ibidem, p. 11).
Observamos que a relação entre cultura e desenvolvimento, mesmo considerando a
discussão feita a partir do módulo específico sobre tal questão, ainda se deu de forma
incipiente, especialmente na abordagem de políticas de valorização de bens e serviços
culturais e de proteção e promoção das expressões culturais. Trata-se de um referencial
teórico que mereceria aprofundamento, visto que o que se observa, como regra, é uma forte
pressão do mercado, de modo a descaracterizar o produto cultural em função da necessidade
de sua reprodução, comprometendo a diversidade.
Os aspectos sociais demonstram importância sobre as condições de vida, os serviços
públicos e o atendimento à população, assim como provoca o olhar para comunidades e
grupos desprovidos de políticas públicas e em situação de vulnerabilidade social. É evidente
que o Plano de Cultura, nesse sentido, poderia contribuir para a diminuição das desigualdades.
O texto é claro, como podemos ver adiante:
Sob essa abordagem estão análises relacionadas às condições de vida das
pessoas, ao nível e ao acesso a serviços considerados básicos como
educação, saúde, saneamento e segurança, bem como hábitos de lazer e
entretenimento. Há índices importantes a serem observados, e se possível,
considerados espacialmente, como o de Desenvolvimento Humano (IDH).
Para a concepção do plano de cultura, importa salientar as desigualdades
sociais, também as considerando espacialmente, como forma de identificar
áreas e grupos sociais mais carentes de intervenções diferenciadas.
Também pode ser relevante incorporar informações sobre instituições e
programas de desenvolvimento social, de combate à violência e à
discriminação. (idem, ibidem, p. 12)
Fica evidente que um diagnóstico sobre os aspectos sociais do município vai em
direção ao reconhecimento de grupos e comunidades em situações adversas. Esse é um traço
fundamental das políticas públicas para a diversidade cultural adotadas em nível nacional, que
propõem o desenvolvimento de parcerias e interações entre os diversos setores públicos para o
fornecimento de bens e serviços, de modo que venham a coadunar projetos e ações para o
desenvolvimento local, fortalecendo o caráter transversal da cultura.
184
O aspecto político-institucional pode proporcionar o reconhecimento, pela
comunidade, da estrutura organizacional da prefeitura, o grau de mobilização e atuação da
sociedade civil e a relação entre os poderes públicos com a sociedade. A partir daí, é possível
entender a estrutura de gestão, o nível de participação social nas decisões públicas e o nível de
atuação de cada ator ou agente cultural. Esse tópico propôs o fortalecimento das relações e
diálogos entre os atores e agentes sociais, culturais e políticos, ampliando a participação e o
diálogo em direção a uma compreensão mais ampla sobre o papel de cada um na construção
cidadã das políticas.
O texto defendeu que o exercício da cidadania se dá a partir do envolvimento diário
dos munícipes nos processos de construção política. Além do aspecto técnico, é possível
verificar, nas entrelinhas dos textos, uma forte ligação com os fatores que visam promover o
reconhecimento da diversidade social e cultural do município:
A primeira abordagem pode se desdobrar em conhecer melhor a estruturação
da Prefeitura e da Câmara Municipal, como se dá a atuação desses poderes
junto à população e entre si. Isso também pode ser válido para as outras
esferas de governo e outros poderes.
Do ponto de vista da população do município interessa saber quais as
questões que a mobilizam e se assuntos relacionados à cultura estão aí
inseridos. É preciso atentar para os movimentos sociais contemporâneos,
entidades sociais e grupos atuantes, bem como a relação destes com partidos
políticos e os poderes públicos.
Na terceira abordagem mencionada está a compreensão de como essa
relação ocorre na prática, que espaços formais e informais de diálogo e
participação estão estabelecidos e como influenciam as políticas públicas.
Obter uma percepção clara desse ambiente político-institucional é um ganho
considerável para a concepção do plano de cultura, especialmente no que se
refere às estratégias de implementação. (idem, ibidem, p. 12-13)
Concluímos, portanto, que a expressão diversidade cultural foi pouco explorada no
texto da caracterização, contudo é perceptível a preocupação em determinar parâmetros que se
relacionariam com essa questão, especialmente porque o texto, a partir dos aspectos
destacados, abordaram dimensões da vida humana e reforçaram a relação da cultura com a
história local e seu povo, suas práticas sociais e econômicas e seus modos de vida.
Observamos, ainda no módulo Análise da Situação Atual, que os participantes
contaram com uma descrição mais detalhada do conteúdo, mas a abordagem dada ao tema da
diversidade cultural a revelou como uma simples beneficiária e não como componente
diferencial no processo de elaboração do PMC. Apesar de havermos esmiuçado o conteúdo,
consideramos que, para explicarmos melhor a nossa percepção sobre a presença ou relação
185
com a diversidade, faz-se necessário trazermos parte desses conteúdos e também tecer alguns
comentários sobre os propósitos deles no contexto dos Planos.
Especificamente sobre o diagnóstico, reiteramos o que já dissemos anteriormente
sobre os conteúdos e suas abordagens nos diferentes materiais. Enquanto, no Guia 1, a
abordagem quanto ao diagnóstico foi enxuta, a abordagem dada no módulo Análise da
Situação Atual indicou que seria preciso responder à pergunta “como estamos no campo
cultural?” e afirmou que tal etapa deveria ser fruto da análise dos aspectos levantados na
caracterização, sendo possível ocorrer uma revelação sobre a situação das dinâmicas culturais,
envolvendo toda a sua diversidade de expressões e devendo gerar explicações sobre a
realidade na qual se quer atuar.
Além disso, considerou que o diagnóstico deveria ser resultado de um processo
participativo, uma vez que isso constituiria um enriquecimento para a construção do Plano de
Cultura. Por fim, o módulo reiterou a importância de dados e informações que balizassem
percepções e oferecessem qualidade e legitimidade ao diagnóstico, pois segundo a autora:
Como no planejamento é preciso muito mais do que percepções, a qualidade
do diagnóstico é, também e especialmente, resultante dos dados disponíveis
para as pessoas que participam de sua elaboração e do método utilizado para
proporcionar uma validação sistêmica suficientemente abrangente.
(BRITTO, 2014a, p.15)
As recomendações já descritas no capítulo anterior deram consistência ao material e
reforçaram as explicações que foram dadas oralmente pelos analistas e consultores da 1ª
Edição do Projeto ou descritas em revisões de documentos dos Planos.
O tema da participação social foi destacado no módulo Análise da Situação Atual, com
maior aprofundamento e tendo como base a afirmação de que o objetivo de construir um
diagnóstico sólido perpassa pela participação ampla da sociedade, em especial dos diferentes
atores e agentes culturais, com suas formas particulares de enxergar a cultura municipal.
Entendemos, porém, que os textos referentes ao aspecto participativo, nas duas edições
do Projeto, foram complementares e demonstraram a importância dos diferentes atores e
agentes no processo de elaboração de um PMC, considerando que as distintas visões e
experiências são contribuições valiosas para o planejamento do setor.
As recomendações, por sua vez, detalharam os procedimentos a serem adotados e que
seriam fundamentais para a qualidade técnica do documento final. Nesse ponto, consideramos
que houve ricas informações que puderam proporcionar referências sobre a diversidade
cultural. Para ilustrar, destacamos as seguintes recomendações (idem, ibidem, p. 16):
186
a) a recomendação 1 reforçou, dentre outras questões, as demandas das Conferências,
ou seja, aquilo que a comunidade defendeu como sendo prioritário para o desenvolvimento
cultural;
b) a recomendação 2 enfatizou que as diversas percepções e realidades culturais do
município deveriam ser analisadas sob a ótica do conjunto das dinâmicas culturais do
município e não sob as especificidades setoriais. Dessa forma, podemos prever que a
diversidade cultural seria integrada ao planejamento; e,
c) a recomendação 4 enfatizou que o diagnóstico seria fruto da análise das causas e
efeitos dos problemas que atingem o campo cultural, portanto cabe lembrar que abarcaria
questões específicas, mas também gerais do conjunto das dinâmicas culturais que envolvem a
sua diversidade.
O quesito Elaborando o diagnóstico cultural definiu a estrutura do texto do diagnóstico
e, diferentemente da primeira versão do roteiro, considerou que essa investigação deveria
estar baseada na descrição de três aspectos – segmentos culturais, manifestações e bens
culturais; infraestrutura física e tecnológica; e institucional e gestão – e três categorias de
análise – fragilidades e obstáculos; vocações e potencialidades e desafios e oportunidades.
No que se refere a esses aspectos, as explicações do módulo estimularam uma visão
ampla do conjunto de informações que deveria ser levantado, tais como agentes e expressões
culturais, sejam tradicionais ou contemporâneas, cadeias produtivas, os artistas, públicos,
consumo cultural e patrimônio material e imaterial. A essas informações somaram-se aquelas
relacionadas à infraestrutura, como os equipamentos e espaços culturais e suas capacidades de
atendimento, a institucionalidade da área, na qual se destacam os espaços culturais, o mercado
de produtos e serviços culturais, o acesso e acessibilidade e as redes de comunicação. Por fim,
o nível de implantação do SMC, as dinâmicas de articulação entre poder público e sociedade
civil, orçamento e financiamento.
Nesse conteúdo, um ponto a ser destacado em relação ao primeiro foi a importância da
relação entre cultura e comunicação, especialmente por conta dos avanços tecnológicos e pela
relevância que essa relação vem assumindo no campo da cultura. Esse conjunto de dados,
quando bem sistematizados, poderiam oferecer uma base adequada para a elaboração de um
bom diagnóstico, através do qual seja possível reconhecer a existência da diversidade cultural.
O módulo apresentou textos explicativos que direcionaram a atenção do leitor para
uma definição das categorias de análise do ponto de vista técnico, mas não mencionaram
explicitamente a expressão “diversidade cultural”. Ao analisarmos atentamente o material,
187
percebemos, porém, que o tema é abordado de forma indireta, visto que se apresenta nos
exemplos dos tópicos de conteúdo, como exposto a abaixo:
- em Vocações e Potencialidades:
1. Forte presença de grupos tradicionais nas festas carnavalescas e agrícolas;
2. Presença de grandes e médias empresas agroindustriais;
3. Localização física do município e meios de acesso aéreo, fluvial e viário
favorecem a mobilidade regional e nacional;
4. Infraestrutura de transportes favorece a circulação dos cidadãos;
5. Espaços físicos da maioria das escolas municipais são dotados de quadras
e/ou auditórios, propiciando o uso para ações culturais. (idem, ibidem, p. 19)
- em Fragilidades e Obstáculos:
1. Há baixo investimento na cultura pelo Poder Municipal – aplicação média
de 0,4% do orçamento nos últimos cinco anos;
2. Há registros de privilégio e há concentração no acesso a recursos públicos
de fomento à cultura;
3. As ações culturais da Prefeitura não são articuladas entre os órgãos
municipais;
4. Não há percepção pelos cidadãos do valor de suas tradições culturais;
5. Maioria absoluta de ações e eventos está concentrada em dois bairros da
cidade;
6. A rede escolar municipal não possui professores suficientes e qualificados
para ações culturais nas escolas. (idem, ibidem, p. 20-21)
- em Desafios e Oportunidades:
DESAFIOS DA CULTURA
1. Elevar os investimentos públicos na cultura;
2. Oportunizar o uso econômico sustentável do patrimônio artísticocultural;
3. Estabelecer uma gestão cultural integrada entre órgãos do município e
outras esferas de governo.
OPORTUNIDADES DA CULTURA
1. Oportunizar o uso econômico sustentável do patrimônio artísticocultural;
2. Integrar o setor privado nas políticas culturais;
3. Ampliar o público nos equipamentos culturais. (idem, ibidem, p. 20-22)
Através dos exemplos, percebemos que a diversidade cultural apareceu no material
didático do Projeto como beneficiária das ações ou políticas que possam vir a constar no
documento dos Planos. O que para nós ficou ausente foi a falta de tratamento direto sobre o
tema, item fundamental para a formulação do Plano de Cultura, considerando os conceitos
contemporâneos de cultura, políticas públicas culturais e desenvolvimento. Nesse sentido,
verificamos temas que trataram do fomento, da formação, dos equipamentos, da valorização
das identidades culturais, mas não foram relacionados efetivamente à diversidade, o que
demonstra uma abordagem insuficiente sobre esse conceito.
188
O princípio de tratar os diferentes de forma diferente também deveria integrar o
processo de trabalho, no qual seria preciso adotar critérios que pudessem dar conta de uma
análise mais ampla da cultura, sem perder de vista as diferenças e singularidades que ela
carrega. Sendo a diversidade cultural relevante para a cultura do século XXI, eventuais futuras
edições do Projeto Minc-UFBA deveriam abordá-la de modo mais aprofundado, pois:
Como se vê, não basta apenas conhecer o que se tem de positivo e negativo,
as facilidades e as dificuldades objetivas e subjetivas para o
desenvolvimento. É preciso “marcar” as ocorrências que exigirão foco
especial, para não se tratar todas as coisas da mesma forma quando exigem
abordagens diferentes. (idem, ibidem, p. 21)
O roteiro sugerido para o desenvolvimento do diagnóstico cultural, nas duas edições
do Projeto MinC-UFBA, contemplou informações que puderam ser utilizadas para pautar uma
análise crítica sobre a realidade local e seu relacionamento com a diversidade cultural.
Contudo, essa conexão ficou dependente do nível do comprometimento e de entendimento das
equipes locais.
Apesar de discorrer sobre o planejamento para a área da cultura, o módulo Análise da
Situação Atual não logrou, em nossa opinião, tecer uma associação satisfatória com o módulo
Cultura e Produção Simbólica, de modo a estimular o participante a refletir, de forma
integrada e transversal, sobre os conteúdos necessários à compreensão do campo da cultura e
do método de planejamento adotado para esta formação.
Parece-nos que a etapa de construção do diagnóstico foi o momento propício para que
essa relação pudesse ocorrer, uma vez que foi uma etapa que demandou uma participação
coletiva, não somente da comunidade cultural, mas de vários segmentos da sociedade,
propiciando debates e reflexões sobre a cultura local e, assim, buscando o reconhecimento da
diversidade cultural em toda a sua complexidade. Também faltou maior integração com os
temas do módulo Cultura e Desenvolvimento, que apresentou uma discussão sobre a conexão
entre cultura, diversidade e desenvolvimento. Acreditamos que essa relação é de extrema
importância para a elaboração de um diagnóstico cultural mais completo, devido ao
entrelaçamento dos conteúdos já estudados.
Ao trazermos diversas passagens desse módulo, queremos mostrar que foram feitas
observações e orientações no Projeto que reforçaram a importância de os Planos serem
construídos a partir de diferentes visões, ou seja, a partir do reconhecimento da diversidade
cultural. Não há dúvidas de que a cultura exerce um papel fundamental para um
desenvolvimento inclusivo, economicamente viável e capaz de promover a valorização do
189
indivíduo como portador de identidades culturais e com capacidades geradoras de sentido e
inovação. Mas, para que isso se traduza em um documento de planejamento público, é
necessário que a diversidade cultural seja o amálgama das políticas públicas de cultura,
reconhecida como componente indispensável de quaisquer ações de fortalecimento dessas
políticas. O aprofundamento desse tema, portanto, foi fundamental para uma compreensão
mais qualificada dos participantes.
Se a cultura é um campo novo, mas identificada como uma área diferenciada no
âmbito do planejamento público, qual é o aspecto inovador dessa metodologia? O que a difere
das demais? Os textos do módulo Planejamento Público não dialogaram com a expressão
diversidade cultural, apenas com o conceito de cultura. Será que podemos considerá-los
sinônimos? Como, então, isso afeta o processo de elaboração do PMC e, dentro dele, o
reconhecimento da diversidade cultural? São questionamentos que permeiam esta pesquisa e
que continuaremos aprofundando no decorrer desta dissertação.
3.3.3 Conteúdo do módulo Projeção do Futuro Desejado
A etapa de Projeção do Futuro Desejado teve seu módulo (BRITTO, 2014e)
estruturado com unidades que trataram da formulação de diretrizes e prioridades e da
formulação de objetivos. As considerações sobre formulação de diretrizes ofereceram
orientações técnicas para a formulação dos demais itens que compõem o Plano de Cultura. A
partir delas, os guias e os módulos deram orientações sobre os procedimentos a serem
utilizados para a elaboração dos Planos, tomando como base as informações organizadas na
caracterização e no diagnóstico.
As diretrizes priorizaram aspectos técnicos para a formulação do PMC e foram frutos
da compreensão dos elaboradores sobre todos os conteúdos já disponibilizados, estudados e
debatidos, associados às experiências de agentes locais que atuam no campo da cultura. As
diretrizes e prioridades tiveram como papel apontar a escolha a ser tomada para nortear as
políticas para o setor, mas cabe ressaltar que a relação com a diversidade cultural só seria
possível caso esse tema tenha sido devidamente tratado na etapa Análise da Situação Atual,
base para o restante do trabalho de elaboração do PMC.
As informações foram diretas, sendo possível relacionar os exemplos com a
diversidade cultural. Os textos explicativos, por vezes, trouxeram elementos que reforçaram a
importância da arena de reflexões e discussões para a busca de consensos em relação às
190
diretrizes e prioridades adotadas para o Plano de Cultura, levando-nos a crer que, mesmo
superficialmente, houve uma relação com a diversidade cultural.
O texto explicativo sobre formulação de diretrizes, presente nesse módulo, enfatizou a
importância das diversas possibilidades de consultas para a elaboração das diretrizes,
inclusive de documentos da UNESCO, contudo não citou dois documentos fundamentais que
discutem o tema da diversidade cultural em um contexto internacional e orientam os Estados-
membros sobre suas políticas para a diversidade. São eles: a Declaração Universal sobre a
Diversidade Cultural (UNESCO, 2002) e a Convenção sobre a Proteção e Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais (UNESCO, 2005). Ambos foram disponibilizados aos
participantes como material complementar, nas duas edições do Projeto, e só foram
mencionados nos módulos Cultura e Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento.
Acreditamos que, no âmbito dos Planos de Cultura, sendo a diversidade cultural um princípio
adotado nas políticas culturais, caberia não somente a indicação de leitura desse material, mas
também uma discussão mais atenta sobre eles, de forma que a diversidade pudesse ser tratada
como base central no Projeto MinC-UFBA.
O módulo Projeção do Futuro Desejado abordou, ainda, a importância da valorização
da cultura local, da integração federativa para a implantação das políticas públicas e da
democratização do acesso à cultura, pontos que entendemos serem fundamentais para o
fortalecimento da diversidade. Porém, nesse material, tais questões não foram relacionadas
explicitamente ao tema.
O conteúdo também afirmou que, para a elaboração de prioridades na área cultural, é
preciso deixar de lado questões pontuais ou relacionadas a um único segmento. Nessa
perspectiva, indicou que um Plano deve ser formulado com base no que é relevante para o
conjunto das atividades culturais locais.
Aqui não se trata apenas de se estabelecer prioridades para um segmento
específico, para ações ou para resolução imediata de problemas, mas para as
principais questões estratégicas do ponto de vista dos participantes, a partir
da análise da situação atual e das diretrizes estabelecidas. Isso deve ser
confrontado com indicações de prioridades oriundas de conferências de
cultura realizadas e que incluíram essa consulta. O que não está posto como
prioridade não significa que não vai ser viabilizado. […] as prioridades serão
referências essenciais para se formular objetivos e estimar os prazos de cada
meta e respectivas ações. Por sua vez, ao ter como parâmetro uma lista de
prioridades, gestores e técnicos podem, como no caso das diretrizes, balizar
decisões e encaminhamentos no cotidiano da administração. (BRITTO,
2014e, p. 14)
191
Sendo assim, mais uma vez acreditamos que é possível enxergar uma relação com o
tema da diversidade, que nesse caso se traduziu a partir da atenção e uso do material extraído
das Conferências de Cultura. Para ilustrar melhor as nossas percepções, destacamos dois
exemplos do Plano Municipal de Cultura de Campo Grande, apresentados no Guia 1:
- Promover o intercâmbio cultural com outras cidades do Brasil e do mundo,
valorizando a cultura local;
- Promover a atuação transversal da política de cultura com outras políticas
públicas, como educação, turismo, meio ambiente e desenvolvimento
socioeconômico. (UFBA, 2012c, p. 11)
Nesse sentido, o intercâmbio cultural deve ultrapassar os limites territoriais,
promovendo o reconhecimento da interculturalidade. Ao abordar esse tema, o PMC de Campo
Grande (CAMPO GRANDE, 2009) abriu a possibilidade de que sejam traçadas metas e ações
que contemplem as fragilidades e potencialidades relacionadas ao intercâmbio cultural,
oferecendo aos artistas e fazedores culturais um amplo leque de possibilidades de trocas. Já a
atuação transversal da política de cultura com outras políticas públicas pode, de alguma
forma, influenciar na promoção da diversidade cultural, mas não garante o seu
reconhecimento enquanto princípio básico para as políticas públicas.
Como já dissemos, algumas práticas realizadas na primeira edição para a aplicação da
metodologia de elaboração de Planos foram registradas e transformadas em orientação
técnica. O tratamento dado para a elaboração das prioridades revelou a importância das
discussões e reiterou o caráter político que possui, pois, como bem descreve o módulo, as
prioridades são escolhas políticas.
A partir da análise que realizamos sobre as prioridades, observamos questões que
expuseram uma visão ampla da cultura, porém reforçamos que a diversidade cultural foi
apresentada como mais um assunto dentre todos os que foram trabalhados nos conteúdos. É o
que se observa nos exemplos para construção da matriz analítica de prioridade: cultura
tradicional e popular; acesso à cultura; formação cultural; equipamentos culturais; diversidade
cultural; economia da cultura etc.
No módulo Projeção do Futuro Desejado, os objetivos foram divididos em
estratégicos, táticos e operacionais, estes com explicações técnicas coerentes com a função de
cada um dos objetivos. Quando elaborados a partir de uma compreensão ampla das
finalidades a serem alcançadas para o desenvolvimento cultural, espera-se que esses objetivos
atendam às necessidades locais, pois a partir deles começa-se a ter clareza sobre quais
aspectos da cultura são relevantes e potencialmente importantes para o desenvolvimento.
192
Notamos, claramente, que o texto do módulo ganhou um teor técnico muito acentuado,
pois visou orientar os participantes na formulação de objetivos adequados para um documento
de planejamento como o PMC. Nesse material, o tema da diversidade cultural foi apresentado
de forma mais direta. Destacamos, ainda, a preocupação com a coerência interna do Plano,
pois os participantes foram orientados a sempre se remeterem aos itens das etapas anteriores,
reforçando, assim, a importância do diagnóstico cultural para a elaboração dos itens
subsequentes.
O Quadro 24 traz alguns exemplos que relacionam os objetivos e a diversidade
cultural:
Quadro 24 - Exemplos de objetivos relacionados à diversidade cultural
Objetivos do módulo Projeção do Futuro Desejado (2ª Edição)
Objetivo estratégico: Ampliar o acesso dos públicos a ações e eventos culturais
Objetivo tático: Descentralizar ações culturais
Objetivo operacional: Adaptar espaços públicos para eventos multiculturais descentralizados
Fonte: a autora, a partir de dados de BRITTO (2014e, p. 18).
Percebemos que esses objetivos reforçaram a importância da diversidade cultural a
partir de uma compreensão sobre o acesso à cultura, em um processo de fruição e construção
da cidadania cultural. Porém não foi feita uma relação direta com a diversidade, que pudesse
tratá-la como um princípio basilar para o Plano de Cultura.
3.3.4 Conteúdo do módulo Operacionalização do Futuro Desejado
No módulo Operacionalização do Futuro Desejado (BRITTO, 2014c), a abordagem
sobre estratégias veio carregada de informações, como um pequeno histórico sobre a
utilização das estratégias e o caminho percorrido até o conceito atual, de que “são
posicionamentos políticos e/ou técnicos, convergentes e articulados, de caráter genérico, para
tornar o Plano factível na perspectiva da visão de futuro projetada para a cultura.” (idem,
ibidem, p. 9). O Guia 1, da 1ª Edição, trouxe um exemplo, oriundo do PNC, que apresentou
uma estratégia voltada para a institucionalidade da cultura:
Consolidar a implantação do Sistema Nacional de Cultura – SNC como
instrumento de articulação, gestão, informação, formação, fomento e
promoção de políticas públicas de cultura, com participação e controle da
193
sociedade civil e envolvendo as três esferas de governo (federal, estadual e
municipal). (UFBA, 2012c, p. 12)
Trata-se de uma estratégia que ratifica a importância de consolidação do SNC como
instrumento que congrega diversos aspectos para o fortalecimento da cultura, em suas
diversas frentes de promoção, ressaltando a participação e o controle social. Aqui verificamos
a presença da diversidade através da abordagem feita à participação e controle social, que
pressupõem a presença de representações de diferentes formas de expressão na
implementação da política de cultura, reiterando, assim, o que dispõe a Constituição Federal,
nos artigos concernentes ao campo da cultura: art. 215, 216 e 216 A (BRASIL, 2016).
Dessa forma, entendemos que essa estratégia pode contemplar a diversidade cultural a
partir da compreensão de que o SNC é um sistema articulado que visa dar conta da
instrumentalização do poder público em parceria com a sociedade, tendo como um dos seus
princípios a atenção com a diversidade.
Em um segundo exemplo extraído desse módulo, tem-se a estratégia de
“desconcentração territorial” (BRITTO, 2014c, p. 13), onde vemos a preocupação com a
realização de ações culturais nas diversas regiões do município, que pode ter o objetivo de
estimular, na formulação do PMC, a abrangência de manifestações culturais de diversas
localidades, bem como os públicos localizados nos vários pontos do território, tanto em áreas
urbanas como rurais. Isso reforça as premissas e princípios tratados na introdução desses
conteúdos e que se relacionam com o desenvolvimento e com a visão sistêmica e integrada,
promovendo um olhar amplo sobre a cultura e seus lugares de realização. Pressupõe, portanto,
que uma gestão para a diversidade se dá principalmente pela capacidade de enxergar o
conjunto das expressões culturais, seus territórios e a relação entre eles.
Nesse módulo, as informações foram tratadas com mais detalhes e ofereceram bases
para a formulação, redação e interpretação de metas e ações, incluindo um quadro que
apresentou uma relação entre elas e os objetivos. As recomendações para elaboração de metas
foram eminentemente técnicas, sendo uma etapa mais objetiva do Plano. Nessa fase, os
desejos foram transformados em propostas concretas e aplicáveis à realidade, visando à
superação dos desafios e das fragilidades detectados no diagnóstico. Aqui, a subjetividade
exposta em ideias e propostas para a política cultural foi traduzida em tópicos mais objetivos,
em sintonia com a estruturação mais esquemática do planejamento para a área pública.
Nessa fase, profissionais de planejamento e finanças públicas seriam fundamentais,
porém, considerando as realidades locais, nem sempre foi possível garantir a presença desses
194
especialistas nos municípios participantes do Projeto. É importante ressaltar que não
encontramos, em nenhum dos documentos da metodologia, relação desses temas com a
diversidade cultural para além das interpretações que realizamos.
Pelos motivos já expostos ao longo deste trabalho, estamos nos apropriando dos
exemplos para analisar o tratamento dado pelo Projeto à diversidade cultural, por isso, a título
de comparação entres as edições do Projeto, selecionamos o seguinte exemplo da 1ª edição:
Meta 12 do PNC: “100% das escolas públicas de educação básica com a
disciplina de Arte no currículo escolar regular com ênfase em cultura
brasileira, linguagens artísticas e patrimônio cultural”. […]
Ação – Adequar espaços para o ensino e a prática de arte em escolas de
educação básica. (UFBA, 2012c, p. 13)
Os exemplos contidos no Guia 1 trataram do tema de formação em arte e cultura e a
qualificação de equipamentos culturais. A meta considerou o uso do espaço da rede pública de
ensino como adequado à formação nesses campos. Entendemos que a diversidade cultural
ganhou reconhecimento, à medida que foram incorporados elementos que podem favorecer o
entendimento sobre a cultura e a ocupação desse tema em espaços formais e não formais de
educação. A partir disso, consideramos que o tema “diversidade cultural” foi contemplado,
porém, mais uma vez, não diretamente ou como elemento principal.
Já no módulo da 2ª edição, foram postos exemplos mais completos, relacionando
objetivo, meta e ação, entre os quais selecionamos o seguinte:
Meta: Número de pessoas beneficiadas com ações de incentivo ao
empreendedorismo baseado em culturas tradicionais.
Ações: Incentivo ao empreendedorismo baseado em culturas tradicionais etc.
(BRITTO, 2014c, p. 23)
Observamos que nesse exemplo ocorreu um fato novo, que foi a associação do
empreendedorismo às culturais tradicionais, uma dica interessante que pode ter alertado os
participantes da formação a trabalhar as culturas tradicionais a partir de um caráter inovador.
Sendo o planejamento feito de acordo com as premissas e princípios estabelecidos na
metodologia desenvolvida, forneceu uma série de compreensões sobre a cultura e sua
diversidade. O tópico Como redigir e interpretar as metas e ações (idem, ibidem, p 25-27)
apresentou modelos sobre a circulação de eventos culturais em bairros e regiões do município
e sobre a institucionalidade e pontos de cultura.
Um destaque nesse módulo foi a atenção dada à relação entre metas nacionais e locais,
que tanto pode se dar no âmbito das metas quanto das ações. Essa vinculação ressaltou a
relevância da integração federativa, reforçou a consolidação do PNC e do SNC e também
195
incentivou os municípios a relacionarem as metas do PNC com as questões locais,
especialmente em relação à diversidade cultural. Desta forma, verificamos mais uma vez que
o tema da diversidade cultural foi tratado a partir dos exemplos, mas pouco trabalhado nos
conteúdos explicativos.
Para a análise do trecho que trata da identificação de resultados e impacto, cabe,
inicialmente, esclarecer que, como trabalharemos aqui com exemplos de metas já
apresentados e analisados na etapa anterior, não voltaremos a descrevê-los. Procuraremos
abordar outros pontos do conteúdo onde o tema da diversidade cultural apareceu, reforçando
que o nosso objetivo é entender como a diversidade cultural foi tratada no âmbito do Projeto
MinC-UFBA, levando em consideração os conteúdos, a metodologia e o processo adotados.
No que se refere aos resultados e impactos, o Guia 1 resumiu-os a uma nota
explicativa que demonstrou a relação entre eles e as metas, enquanto o módulo
Operacionalização do Futuro Desejado foi mais explicativo e detalhado tecnicamente,
apresentando a relação entre resultados e impactos e os 3Es da administração (eficácia,
efetividade e eficiência). Os resultados estão relacionados à eficácia e os impactos, à
efetividade, ou seja, o que se espera como consequência da implementação de uma política
pública e o que efetivamente constitui uma transformação da realidade.
Nesse sentido, a eficácia é o ponto mais visível para a sociedade, pois é o que se revela
mais facilmente, cujos resultados podem ser observados como “nível de alcance dos fins
projetados; efeitos mensuráveis e demonstráveis” (UFBA, 2014c, p. 29). Dessa forma,
podemos interpretar que é a sociedade que deve validar as políticas, a fim de ser contemplada
em sua diversidade de interesses.
Nas bases de formulação de resultados e impactos, destacamos que é preciso averiguar
a ação realizada e estabelecer critérios de análise para medir os resultados e impactos
ocorridos a partir da efetivação das metas e ações propostas. No âmbito do Projeto MinC-
UFBA, esse tipo de orientação, mesmo com uma abordagem técnica, teve o potencial de
estimular os planejadores e participantes do Plano a se atentarem para o grau de
responsabilidade quanto às ações públicas no campo cultural.
Isso se constituiu como um aprendizado para todos, tanto para aqueles que já possuíam
experiência na gestão pública, como para aqueles que nunca haviam tido contato com a
cultura, bem como para os agentes culturais que nunca haviam desenvolvido capacidades
gerenciais.
196
Mais uma vez, analisaremos os exemplos oferecidos pelo conteúdo, para identificar se
houve ou não uma relação desse assunto, eminentemente técnico, com o tema da diversidade
cultural, conforme Quadro 25:
Quadro 25 - Relação entre resultados e impactos
Resultados previsto Impacto esperado
Eventos e ações culturais em
realização em 70% das regiões
Fruição cultural dinamizada e descentralizada, com maior
número de pessoas usufruindo dos eventos e ações.
Formas de entretenimento de crianças e jovens alterados
positivamente com a introdução de hábitos culturais.
Espaços de sustentabilidade ampliados para
empreendedores, artistas e trabalhadores da cultura.
Postura de cidadania cultural estimulada.
Ações de culturas tradicionais em
realização em 10 regiões
Fruição cultural dinamizada e descentralizada, com maior
número de pessoas usufruindo dos eventos e ações.
Cultura tradicional mais valorizada e preservada. Espaços
de sustentabilidade ampliados para mestres, artistas e
outros integrantes da cultura tradicional.
Postura de cidadania cultural estimulada.
Ações de empreendedorismo
baseadas nas culturas tradicionais
realizadas com 1.000 pessoas
beneficiadas
Espaços de sustentabilidade ampliados para mestres,
artistas e outros integrantes da cultura tradicional.
Economia da cultura dinamizada.
Fonte: BRITTO, 2014c, p. 34.
Podemos observar que tanto os resultados esperados quanto os impactos registraram
aspectos que podem interferir nas dinâmicas culturais, abrangendo diferentes dimensões da
vida cultural de uma localidade. Os resultados focaram na realização ou execução das metas e
ações de um PMC, enquanto os impactos centraram no nível de transformação que se pode ter
ao longo do processo de investimento nas políticas públicas para a cultura.
É importante mencionar, mais uma vez, que a nossa análise se baseia nos enunciados
de exemplos contidos nos conteúdos, portanto não é possível afirmar que realmente houve
transformações na realidade local, fato que só poderia ser avaliado em futuras pesquisas sobre
a efetividades dos PMCs.
3.3.5 Conteúdo dos módulos Projeção de Prazos e Recursos e Monitoramento do Plano
Municipal
O módulo Projeção de Prazos e Recursos (BRITTO, 2014d) trouxe uma abordagem
eminentemente técnica, sem qualquer trecho com menção aos temas participação social e
197
diversidade cultural. Usando como exemplos as mesmas ações fictícias de outros módulos –
Realização de eventos e ações culturais descentralizadas e Construção e reforma de espaços
para uso cultural –, tanto a unidade que tratou de prazos, incluindo a composição de
cronograma, quanto aquela voltada para recursos e fontes de financiamento, deram ênfase ao
aspecto conceitual, tendo o cuidado de apresentar recomendações técnicas para o processo de
elaboração dessa parte do PMC.
De forma análoga, no módulo Monitoramento do Plano Municipal (BRITTO, 2014b),
a unidade de formulação de indicadores abarcou dados conceituais e recomendações a serem
observadas na construção desses elementos, estruturados a partir das metas definidas
anteriormente. Já a unidade sobre monitoramento retomou a questão da participação social,
destacando o protagonismo das instâncias de representação social no plano de gestão do
PMC. Dessa forma, reiteramos mais uma vez que a relação entre método e diversidade
cultural se deu através da afirmação sobre os processos participativos que envolveram e
envolvem um Plano de Cultura, abordando, portanto, a diversidade como beneficiária e não
como elemento balizador.
3.3.6 Metodologia
A metodologia adotada pelo Projeto na sua 2ª Edição, como descrita no capítulo 2, foi
estruturada para oferecer uma formação em Planos Municipais de Cultura em formato EaD,
de modo a abrigar um maior número de municípios e seus representantes. Inicialmente, as
atividades propostas foram realizadas com alterações no cronograma de realização, devido a
acontecimentos próprios de um processo que se encontrava em amadurecimento.
A proposta de realizar uma nova edição do Projeto, com o objetivo de promover maior
celeridade na implantação de PMCs, impulsionou a equipe a definir um novo escopo de
atuação, bem como construir outras estratégias de realização, com um corpo profissional
compatível, com competências específicas para atuarem em diferentes instâncias. Em outras
palavras, foi mantida a preocupação em oferecer um atendimento cuidadoso para os
beneficiários do Projeto.
Com a ampliação da equipe e a maior presença de profissionais vinculados à
EAUFBA, foi necessário construir uma sintonia entre os grupos através de reuniões de
alinhamento e durante o andamento das atividades. Além disso, deu-se uma mudança radical
198
na condução da gestão do Projeto, que passou a ser mais descentralizada e a dar maior
autonomia às equipes, se configurando como proposta de gestão democratizada.
Avaliando tais mudanças em face do resultado, podemos identificar alguns pontos
positivos. O principal deles é que oportunizou maior acesso de pessoas à metodologia de
Planos Municipais de Cultura, ampliando significativamente o número de municípios
envolvidos. Em segundo lugar, possibilitou a formação de uma rede de interlocutores,
envolvendo gestores, conselheiros de cultura, lideranças culturais, profissionais da gestão e
políticas culturais, instituições e organizações da sociedade civil. Em terceiro lugar, ampliou
os conteúdos de elaboração de Planos, considerando que, na edição anterior, foi identificada a
necessidade de aprofundamento de conteúdos teóricos associados ao campo das políticas e
gestão culturais. Nesse sentido, o objetivo foi ampliar o nível de compreensão dos
participantes sobre o conceito de cultura e outros assuntos que incidem sobre o planejamento
e desenvolvimento local, como a diversidade cultural, o SNC e seus correlatos subnacionais.
Além disso, ampliou as informações técnicas sobre o método de elaboração dos Planos, a fim
de melhorar a qualificação dos agentes envolvidos na formação.
Nessa nova edição, a metodologia sofreu alterações no cronograma previsto, como
consequência das dificuldades que os participantes tiveram em assimilar o conteúdo e o
método de elaboração de Planos, associado ao tempo que eles tiveram para se dedicar ao
estudo do material. Em alguns casos, registrou-se ainda que o representante do poder público
era o próprio gestor, que frequentemente utilizava como justificativa a falta de tempo para
conciliar as atividades da função com a dedicação necessária à formação.
Quando esse representante era um funcionário indicado, muitas vezes ele justificava a
ausência com a falta de tempo, dificuldade na assimilação do material e a não inclusão do
tempo de estudo dentro da carga horária de trabalho, apesar de essa inclusão ter sido prescrita
como um dos critérios para a participação do município no Projeto. Na edição anterior, o
tempo de dedicação ao estudo do material também não foi respeitado pelos participantes.
A entrega dos exercícios foi flexibilizada com a extensão de prazos, mas somente isso
não resolveu o problema. Contudo, é importante mencionar que o calendário do Projeto não
considerou o período de festas, tanto em âmbito nacional, como no regional ou local, como
observou um dos tutores: “Um dos graves problemas do Projeto para mim sempre foi o
cronograma. A formação foi muito extensa, iniciou em um período ruim (meados do segundo
semestre) e pegamos todos os feriados de fim e início de ano” (EAUFBA. 2015a, p. 3).
Constatou-se que, para os participantes, o tempo para conclusão das atividades foi
pequeno, contudo, diante do contexto observado, questionamos se apenas a dilatação do prazo
199
resolveria o problema. Já para os representantes da sociedade civil, além do tempo, verificou-
se, em alguns casos, a falta de sinergia entre a dupla de profissionais que representavam o
município. Como exemplo, alguns exercícios que exigiam resolução em dupla foram
respondidos individualmente, decisão aceita pela coordenação do Projeto ao perceber
problemas de relacionamento e falta de diálogo entre os integrantes.
Outra questão recorrente foi a dificuldade de apropriação dos conteúdos apresentados,
alegada em face da densidade e complexidade dos textos acadêmicos e material didático,
gerando a sugestão de aperfeiçoamento do conteúdo a ser trabalhado em futuras edições do
Projeto. Em contraposição a esse problema, houve a falta de dedicação ao estudo dos
módulos, como mencionamos anteriormente, e esse fato foi uma das principais causas da
dificuldade de compreensão dos assuntos. Tal situação poderia ter sido mitigada se o Projeto
contasse com uma coordenação pedagógica que pudesse atuar junto aos assistentes técnicos e
tutores, com o objetivo de identificar essas fragilidades e apontar condutas e decisões.
Esse fato, inclusive, merece atenção, já que, apesar de a equipe de assistentes técnicos
ter sido composta por profissionais formados, com experiência no campo da gestão e das
políticas culturais e estarem prontos para se articularem com os gestores, a orientação
pedagógica ficou à margem do processo. Esse papel, com base nas informações sobre os fatos
que se desenrolaram, teria a importante função de entender os descompassos e articular
possíveis correções. A atuação da equipe de assistência técnica foi marcante nas reuniões da
equipe gestora, contribuindo significativamente para a melhoria do processo nos Encontros
Regionais, mas frágil do ponto de vista da coesão em torno do aspecto pedagógico.
Após a conclusão da etapa dos módulos conceituais, foi realizada a avaliação do grupo
de tutores, resultando no desligamento de alguns deles. Esses desligamentos ocorreram de
forma bastante criteriosa, em conjunto com a equipe de supervisão de tutoria e alguns
integrantes da equipe de assistência técnica, considerando tanto o desempenho na etapa
concluída quanto a familiaridade com formação EaD, que seria a base da etapa seguinte, de
elaboração de Planos.
Essa alteração da equipe de apoio causou insegurança em alguns participantes, pois,
com o início da fase de preenchimento do template, eles passaram a receber orientações de
outros tutores e dos assistentes técnicos, tendo sido essa uma transição delicada, considerando
que a ferramenta não estava pronta. Em poucos casos, o tutor pôde atuar simultaneamente,
orientando as atividades no moodle e no preenchimento do template.
Além do cronograma, foram avaliados os módulos, a equipe e o processo da formação.
As observações realizadas sobre os conteúdos demonstraram que, apesar de a formação ter
200
sido bem avaliada e valorizada pelos participantes, alguns pontos foram considerados de
singular importância para o aprimoramento do trabalho, como:
a) os módulos deveriam ser acompanhados por um material audiovisual, atendendo à
diversidade de pessoas envolvidas e os diferentes graus de instrução das mesmas;
b) os conteúdos deveriam dialogar melhor com as realidades locais, facilitando a
compreensão dos textos, que pareceriam densos e complexos;
c) os conteúdos dos módulos básicos e de Planos poderiam dialogar melhor,
considerando a linguagem, os exemplos e os exercícios; e,
d) a apresentação de textos que tratassem de orçamento (financiamento, prazos e
recursos), relacionados aos instrumentos utilizados, além de promover interação com a
política de financiamento nacional.
A experiência da segunda edição do Projeto, com a participação de representantes da
sociedade civil, demonstrou que, para o êxito de um projeto dessa natureza, é preciso um
conhecimento mínimo da sociedade sobre o PMC, seus propósitos e objetivos, para que ela se
instrumentalize e possa desempenhar bem o controle social. Acompanhar e monitorar aquilo
que não se conhece é um tanto complicado.
As avaliações realizadas ao longo do processo possibilitaram o reconhecimento do
Projeto como ação fundamental para o desenvolvimento dos Planos de Cultura e para a
formação técnica dos envolvidos. Ademais, as percepções obtidas durante o desenvolvimento
do trabalho e as contribuições oferecidas pela equipe e pelos participantes possibilitaram tanto
o ajustamento da metodologia no transcorrer do trabalho, como a apresentação de sugestões
para aplicação em uma eventual nova versão do Projeto.
A realização de um evento desse porte, à distância, ao passo que possibilitou a
participação de um número significativamente maior e mais disperso de representantes
municipais, apresentou-se também como um desafio e exigiu cuidados específicos para
questões inerentes a esse tipo de metodologia. Entre essas questões, podemos destacar a
evasão, tanto pelo simples abandono do participante, como pela priorização de outros
assuntos mais próximos a ele, ou ainda devido ao baixo nível de interação dos representantes
municipais nos espaços de discussão, pela insegurança ou timidez em expor ou defender seus
pontos de vista.
Houve fatores externos não previstos que atuaram como importantes dificultadores e,
por decorrência, comprometeram o nível de participação e de interesse dos representantes
municipais. A carência de infraestrutura adequada foi uma dessas causas, especialmente para
pequenos municípios afastados dos grandes centros urbanos, a exemplo daqueles localizados
201
na Região Norte, onde alguns participantes expressaram dois aspectos significativos: a
dificuldade de conexão com a internet e a dificuldade para o deslocamento a lugares que
pudessem possibilitar acesso diário ao template e ao ambiente moodle.
Os Encontros Regionais, por sua vez, demonstraram que, além de terem sido
encontros para avaliação, foram também momentos de escuta aos problemas enfrentados
pelos participantes e um reforço na capacitação. A exposição da metodologia pela equipe da
EAUFBA corrigiu alguns equívocos de compreensão e estimulou alguns municípios a não
desistirem do processo, mantendo-se na etapa de monitoramento do Plano, que perdurou por
mais três meses e contribuiu significativamente para que municípios mais atrasados pudessem
retomar o trabalho com mais ânimo e esperança de acerto.
Essa edição, sem dúvida, possibilitou a ampliação do Projeto quanto ao número de
municípios e participantes, com a disseminação dos conteúdos em grande escala. Mas, apesar
disso, seu alcance ficou muito limitado, quando observado o número de pessoas que
terminaram a formação e o total de minutas de Planos elaboradas.
A ausência de um mapeamento prévio de informações sobre as realidades locais
resultou no desenvolvimento de uma metodologia padronizada, o que comprometeu um
aporte mais amplo de pontos de vista e a formulação de arranjos diversificados de soluções às
demandas municipais. Isso se mostrou como um obstáculo à participação efetiva e ao
aprendizado e também contribuiu negativamente para o envolvimento superficial ou mesmo
para a evasão dos participantes, talvez por terem se sentido pouco representados no
desenvolvimento do trabalho.
Tais acontecimentos revelam que a aplicação de formação EaD, especialmente no
campo das políticas culturais, deve, antes de qualquer coisa, buscar entender minimamente em
que contexto irá se desenvolver, tendo a preocupação de manter um diálogo prévio ao início
dos trabalhos para se familiarizar com as dinâmicas locais.
3.3.7 Processo formativo: fóruns de discussão teórica
Os fóruns de discussão teórica, realizados na plataforma moodle, integraram a etapa do
processo formativo. A partir das interações dos participantes e do desenrolar dos debates, foi
possível construir um panorama do que ocorreu durante o processo de trabalho, como as
discussões sobre os temas e a própria metodologia e questões que nortearam o período da
formação.
202
Na análise dessa etapa, como detalhado anteriormente, selecionamos os fóruns
associados aos módulos Cultura e Produção Simbólica, Cultura e Desenvolvimento e Análise
da Situação Atual, com recorte na amostra composta por dez grupos formados por
representantes municipais. A seguir, apresentamos um resumo e algumas observações
realizadas a partir das interações dos integrantes da formação – tutores e representantes
municipais – e uma análise sobre alguns aspectos que nortearam a gestão do Projeto nessa
fase.
O fórum Cultura e Produção Simbólica (EAUFBA, 2015d) foi norteado por questões
que levaram os participantes a refletirem sobre o conceito de cultura, sua relação com a
diversidade cultural, com a arte e o Plano de Cultura; se e como ocorre o desenvolvimento em
sociedades ancoradas em permanências e naquelas abertas à mudança; e, por fim, qual a
relação entre memória, patrimônio e identidade existente nos programas e ações no
município. De alguma forma, os temas âncoras para o debate foram discutidos pelos
participantes. O conceito de cultura também foi bastante debatido, o que impulsionou a
abordagem sobre vários aspectos das realidades locais e permitiu um entrelaçamento com
outros assuntos propostos no módulo.
Em geral, as intervenções dos tutores foram sempre no sentido de motivar e estimular
a discussão, porém enquanto em alguns grupos essa mobilização apresentou bons resultados,
como um debate rico e participativo, em outros, a discussão ficou limitada a poucos
representantes municipais. Ademais, não observamos um maior aprofundamento sobre
questões relacionadas à diversidade cultural, apesar de ter sido enfatizada a importância das
liberdades culturais e da participação social para a efetividade do Plano enquanto política de
valorização e fortalecimento cultural.
Para alguns, a compreensão do conceito de cultura pressupôs o reconhecimento de
múltiplas vivências, ambientes e tempos que tornam possíveis o encontro entre a arte e a
cultura, a partir dos saberes e fazeres tradicionais e “transitórios”. Cultura como algo que
favorece a compreensão e o respeito aos modos de ser e existir, peculiares de um povo e do
seu patrimônio, e que assegura uma identidade, ligada aos antepassados e transmitida de
geração a geração.
Nos debates, surgiu uma compreensão mais coerente com o conteúdo apresentado no
módulo, afirmando que cultura possui um conceito abrangente e que contempla as três
dimensões que devem ser integradas em um projeto de desenvolvimento. Isto é, cultura como
sendo:
a) essencial no processo democrático de construção de cidadania;
203
b) tudo que é inerente ao homem; e,
c) vinculada às práticas sociais, culturais, de memória, religiosas, artísticas e
intelectuais que dão conformidade à vida em sociedade.
Daí, evoluiu-se para a afirmação de que, nessa relação, o PMC deve assumir o papel
de promover a participação social nas decisões, na implantação e implementação das políticas
públicas, bem como garantir o acesso dos indivíduos aos bens culturais e ao consumo de bens
materiais e imateriais. Nesse sentido, apesar de as intervenções, por vezes, se mostrarem
inconsistentes em relação aos conceitos, observamos que a maioria dos participantes
demonstrou uma compreensão sobre a cultura como inerente ao ser humano, reforçando o que
foi apresentado no módulo. Alguns enfatizaram, ainda, o caráter transversal da cultura,
especialmente em relação à educação, cujo relacionamento conjunto e fortalecido pode
contribuir para uma cidadania cultural de crianças e jovens e promover, de forma mais ampla,
o desenvolvimento integral da sociedade.
Nas discussões do fórum, tradição foi entendida como pilar para a manutenção das
identidades culturais e para as dinâmicas culturais, e por mais que essas se renovem e inovem,
são referendadas por essa tradição. Ou seja, os participantes consideraram que, mesmo a
tradição tendo sido secularmente abandonada pelas políticas públicas, a preservação cultural é
a base para uma compreensão da diversidade, na medida em que ela imprime uma
personalidade cultural.
As relações estabelecidas entre cultura, diversidade e PMC expressaram um
entendimento sobre a importância da promoção e proteção das expressões culturais,
reiterando que são fruto de modos de ser e pensar e que também incluem divergências e
contradições. O Plano também foi visto como um instrumento capaz de promover um convite
à participação da sociedade no processo cultural:
Conceber as relações entre diversidade, cultura e arte, no âmbito de um
Plano Municipal de Cultura (PMC) desde a sua tematização pressupõe o
entendimento de que há vivências multidimensionais, de que há
multisseções, ambientes e tempos nos quais a cultura e arte contemporânea
se encontram com fazeres e saberes tradicionais e transitórios, sendo um
conjunto de experiências que um PMC não pode deixar de abordar de uma
forma producente. (idem, ibidem)
Assim, o PMC foi visto como instrumento de reconhecimento, preservação e
promoção da cultura e da arte, capaz de contribuir para a organização dos setores e atividades
culturais, ampliação de públicos e descentralização da atuação cultural em todo o município,
revelando um compromisso com a diversidade cultural e uma interseção entre elementos
204
pertencentes a vários conjuntos, dentro de uma dinâmica de mobilidade, pluralidade e
continuidade. Trata-se, então, de um instrumento de articulação de projetos e ações, levando
em conta o caráter da transversalidade e devendo refletir as expressões culturais locais.
Entretanto, percebemos que, no que concerne ao entendimento de cultura, os
participantes demonstraram conceber as manifestações tradicionais como a dimensão mais
visível e legítima da cultura em seus territórios, mesmo quando se reconhecia a diversidade
cultural como um valor positivo. As expressões mais dinâmicas e contemporâneas foram
secundarizadas na construção do conceito de cultura. As discussões revelaram, a todo
instante, a importância de se instituir uma política que desse conta do reconhecimento e
valorização das identidades culturais regionais, consideradas esquecidas pelas políticas
públicas, vinculadas às tradições ou comunidades étnicas.
Durante todo o processo, houve a preocupação em destacar a importância de deixar
claro qual o conceito de cultura sempre esteve presente, em função de sua influência na
própria perspectiva de construção do Plano:
Primeiro é preciso explicitar qual conceito de cultura norteia o plano. Porque
se esse conceito não considera cultura como a expressão das manifestações
humanas, como toda a produção realizada para garantir a existência e
subsistência de um grupo social, dando sentido ao seu mundo, então não há
como conceber a diversidade. Dessa forma é imprescindível que um plano
municipal de cultura expresse a diversidade como um dos seus princípios e
que a arte seja tomada como uma das formas de expressão das manifestações
culturais dos diversos grupos que constituem a população de um município.
Não há como abordar o conceito de cultura dentro de uma concepção de
homogeneidade e muito menos de hierarquia. As culturas são diversas e
apresentam singularidades que as colocam no mesmo patamar de igualdade.
(idem, ibidem)
O debate sobre o assunto também levou os participantes a perceberem a importância
do envolvimento dos diferentes atores e agentes culturais e sociais do município nas
discussões sobre cultura e o PMC. Destacou-se, ainda, que o conhecimento sobre a história
local se constituiu como um fator a influenciar, positiva ou negativamente, o reconhecimento
da cultura como expressão de singularidades e identidades locais que deveriam merecer
proteção e valorização.
Vejo a cultura como algo amplo e vasto, repleto de possibilidades e
identidades. A arte seria parte integrante de nossa cultura e quando penso
especificamente na construção do plano, vivendo na região em que vivo,
acredito que algumas especificidades precisem ser vistas com determinada
atenção, as questões amazônicas, indígenas, caboclas, mas sem deixar de
lado a importância das influências da colonização de outras regiões do nosso
país que migraram cá para o norte e assim contribuíram e se integraram
205
dando então, origem ao cenário que apresentamos atualmente. (idem,
ibidem)
Apesar de menos recorrente, a visão da cultura como algo mais amplo e para além das
tradições também apareceu no fórum, alimentando um discurso afirmativo de que a política
pública de cultura deveria beneficiar todas as expressões culturais, fossem elas tradicionais ou
não. Outra postura recorrente foi a reprodução de uma perspectiva que associou a política
cultural à realização de eventos.
De forma interessante, é possível afirmar que os debates e a leitura do material de
estudo do módulo foram essenciais para ampliar a compreensão sobre essa visão e aprofundar
melhor a discussão, saindo de um entendimento mais voltado para o senso comum e
entendendo-o a partir da lógica da gestão contemporânea da cultura.
Outra preocupação que sempre surgiu no fórum foi sobre o entendimento do conceito
de cultura pelos gestores públicos, que demonstravam, segundo os participantes, pouco saber
sobre a complexidade do campo cultural e sobre o reconhecimento de valores e práticas
culturais, especialmente aquelas que envolviam as culturas juvenis urbanas. Essa negação se
relacionaria à concepção de que essas manifestações expressam um processo de assimilação
de padrões culturais externos, percebido como negativo para a preservação das identidades e
tradições culturais. Outro ponto comum nos debates associou a falta de reconhecimento da
importância da cultura pelos gestores municipais com a sua pouca influência nos pleitos
eleitorais. Segundo os participantes, como a “cultura não dá votos”, ela era colocada fora do
escopo das prioridades de atuação política local.
Já o conceito de diversidade cultural foi pouco explorado no fórum, com intervenções
muito pontuais. O debate mais recorrente explicitou essencialmente a compreensão de que a
diversidade seria uma herança étnica dos diversos povos formadores das culturas nesses
municípios, sendo aquilo que enriquece as culturas, compostas pelas manifestações,
linguagens artísticas, religião e tradição, como exposto na seguinte afirmação:
[...] o brasileiro, e como tal temos uma grande diversidade cultural herdada
dos Africanos, Europeus, Orientais e Índios nesta mistura toda creio que
temos o melhor “caldo” cultural do mundo, onde não é focalizado apenas no
que foi passado de geração em geração mas sim uma mistura de tudo o que
há de melhor e pior destes povos. A cultura sem a diversidade se torna meio
que pobre, a diferença que a diversidade traz é o que enriquece, dança,
linguagem, vestuário, religião, e outras tradições são o que formam tudo o
que acabei de dizer. (idem, ibidem, grifo nosso)
206
Poucas foram as intervenções que apresentaram uma compreensão mais ampla e
complexa do conceito de diversidade cultural, ao reconhecer a relação entre a definição de
cultura e o conjunto de manifestações culturais, tanto tradicionais como contemporâneas.
Entretanto, houve o entendimento de que o PMC, na medida em que, para a sua elaboração,
requer a inclusão de diversas representações culturais locais, exigiria, assim, uma ampliação
da concepção de diversidade. É importante mencionar que alguns participantes expressaram
certo pessimismo sobre o desenvolvimento de um PMC que pudesse refletir a diversidade
cultural, por entenderem que esse tema ainda é desconhecido pela maioria dos gestores e, por
isso, não ganharia um sentido mais apropriado dentro das políticas públicas municipais,
tampouco seria entendido como vetor de desenvolvimento.
Nesse sentido, a falta de apropriação do tema da diversidade cultural pelos gestores
municipais se apresentou como importante dificultador para o processo de planejamento,
reforçando a necessidade de formação em gestão e políticas culturais. Outro dado que
pudemos levantar nesta pesquisa foi a falta de conhecimento ou de informações sobre os
debates em torno da diversidade, o que, tomando como referência as discussões no âmbito da
Convenção da Unesco, compromete uma compreensão adequada sobre a importância das
administrações locais da cultura para um projeto de desenvolvimento inclusivo.
Uma incompreensão por parte dos principais atores locais sobre a relação entre
cultura, diversidade cultural e Planos de Cultura poderia vir a repercutir nos documentos de
Planos, comprometendo uma abordagem mais adequada da proteção e promoção da
diversidade cultural, bem como a formulação de uma política pública de cultura que promova
a inclusão de todas as formas de cultura e arte. Nesse sentido, a diversidade foi reconhecida
como parte de um projeto de transformação social necessário para a quebra de paradigmas.
Ao tratar dos temas do patrimônio e memória, vale destacar o reconhecimento da
relação com o presente e futuro, a partir do entendimento de que a cultura e a diversidade se
apresentam como algo que foi aportado em outros momentos. São temas pautados pelas
influências étnicas e pelo processo de formação do povo e do lugar, mas que se renovam a
cada instante, como um recurso que mantém o registro do passado, do presente e que será
base para um futuro. Neste contexto, considerou-se que o PMC se apresentou e se apresenta
como instrumento de proteção e promoção da diversidade cultural, pelo entendimento de que
o patrimônio e a memória expressam a “identidade histórica”, o registro da formação do
município e ainda podem contribuir economicamente com o local.
Por fim, foram registrados relatos sobre segmentos ou manifestações culturais que
existem de forma isolada e sem condições de sustentabilidade, indo de encontro à valorização
207
da diversidade cultural. Segundo alguns participantes, o isolamento dessas expressões decorre
principalmente do descuido do poder público e, por isso, seria fundamental a implementação
de políticas públicas de cultura específicas, de modo a alterar tal realidade.
Para a discussão no fórum Cultura e Desenvolvimento (EAUFBA, 2015c), as
perguntas disparadoras buscaram debater ações de políticas públicas de cultura realizadas no
município que dariam conta da relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento, e sobre
como essa relação poderia ser expressa em um PMC. Esse foi o último assunto abordado nos
módulos básicos, sendo possível verificar, em comparação com os anteriores, uma
significante queda na participação ao longo dos fóruns, tanto de representantes do poder
público, como de representantes da sociedade civil. Essa queda, que ocorreu em todos os
fóruns conceituais, foi em torno de 25% e, quando avaliamos o volume de intervenções, se
aproximou de 30%, considerando o grupo de representantes municipais.
Mesmo entendendo que o percentual apresentado não retrata necessariamente um
problema inerente ao Projeto, considerando que essa é uma característica dos processos de
formação EaD, os participantes mais ativos perceberam essa situação e demonstraram
preocupação com o enfraquecimento do debate, por reconheceram a importância do processo
formativo frente aos desafios contemporâneos que afetam a gestão municipal. Ressaltamos
que houve um esforço significativo da equipe em criar estratégias para reverter o processo de
evasão.
Apesar desse cenário, a participação ofereceu contribuições significativas, levando-se
em conta as distintas realidades culturais dos municípios. Observamos que a compreensão
sobre a diversidade também foi diversa, assim como o entendimento sobre o conceito
ampliado de cultura e a sua relação com a diversidade e o desenvolvimento. Foi importante,
ainda, o alerta dos tutores para que a discussão se mantivesse focada na questão do
desenvolvimento aplicado à cultura, relacionando-os para além do aspecto econômico.
Inicialmente, verificamos nas postagens do fórum a presença de uma visão
preservacionista, especialmente dos municípios da região Sul, que colocaram como prioritária
a preservação das suas tradições, dando ênfase às culturas de origem europeia. A discussão,
porém, ajudou na compreensão das diversas matrizes culturais que compõem a diversidade
cultural brasileira e da importância de se construir políticas que as reconheçam e as
potencializem, além de estimular um olhar no qual tanto a tradição como a
contemporaneidade sejam entendidos como fonte de riqueza e de identidades, sendo a cultura
elemento central.
208
Ao estímulo feito para a discussão sobre o tema da diversidade, apareceram
depoimentos sobre as dificuldades em travar um diálogo com as comunidades tradicionais
existentes no município, bem como relatos sobre o processo de resistência e de
autorreconhecimento dessas comunidades como tradicionais. Foi destacado, ainda, que essas
comunidades, ao se vincularem a práticas religiosas, desenvolveram um sentimento de
resistência à sua própria cultura, tema tratado no fórum Cultura e Produção Simbólica.
Em alguns grupos, não houve uma participação ampla e a discussão sobre os temas foi
superficial, mas, ainda assim, os participantes demonstraram preocupação com a importância
do reconhecimento da diversidade cultural a partir de um olhar amplo da cultura e da
formulação de um desenvolvimento capaz de promover a economia da cultura e o
desenvolvimento humano. Os conteúdos dos módulos fomentaram o debate e contribuíram
para a troca de experiências realizadas nas cidades, trazendo reflexões sobre a diversidade
cultural, como: “Romper com (pré) conceitos idealistas, ter espírito livre e um pensamento
inquieto é, sem dúvida, um direcionamento para compreendermos a diversidade cultural na
qual estamos imersos” (idem, ibidem).
Os participantes discutiram, ainda, a relação entre cultura e desenvolvimento,
abordando as identidades e diferenças no reconhecimento do outro, em uma perspectiva
humanista. As contribuições revelaram que a identidade de um povo deve ser pautada por
fatores que estão imbricados na esfera social, cultural e religiosa e que a relação do gestor
com diversidade deve se dá a partir do reconhecimento das diferenças e semelhanças e dos
aspectos simbólicos que estão contidos nas dinâmicas territoriais. Dessa forma, a diversidade
foi entendida como um componente da identidade cultural do povo. Além disso, consideraram
que pensar a diversidade cultural é, sobretudo, pensar a cultura de forma ampliada,
considerando o processo de humanização do ser humano, que estabelece conexões de
alteridade no reconhecimento de si e do outro para a democratização da cultura, buscando
atingir a democracia cultural.
O tema da gestão cultural foi abordado com depoimentos sobre as ações aplicadas nos
municípios, considerando-as relevantes na contribuição ao desenvolvimento cultural: ações de
fomento e de cidadania, articuladas com outras áreas da administração pública e que
mobilizam a comunidade, especialmente escolas. Com base nisso, considerou-se que estão
sendo dados os primeiros passos para a consolidação de uma compreensão acerca dessa
interconexão ente cultura e desenvolvimento, como exposto no módulo correspondente:
[...] se formos imaginar uma relação entre cultura e desenvolvimento que
pretenda avançar na direção de um modelo sustentável de desenvolvimento
209
torna-se imperativa a necessidade da criação de condições propícias ao
aumento da diversidade das manifestações culturais e a promoção da
inclusão, simultaneamente cultural, social e econômica, de novos e múltiplos
agentes criadores. (MIGUEZ, 2014, p. 26)
Para alguns participantes, os municípios brasileiros estão vivendo um momento novo
no que se refere às experiências com políticas culturais que possam promover a
sustentabilidade entre cultura, diversidade cultural e desenvolvimento. Destacaram, ainda,
iniciativas de projetos que fomentam a geração de renda e emprego para a população através
de atividades culturais; do empreendedorismo e da divulgação e comercialização de bens
culturais, especialmente em atendimento aos jovens e idosos.
Nos debates, os participantes trataram as políticas públicas como elementos que
desencadeiam aspectos favoráveis ao desenvolvimento e ressaltaram a importância da
necessidade de se ter incentivos públicos para a promoção da cultura, para a fruição e
produção das atividades culturais e artísticas do município, promovendo o acesso à cultura e
criando possibilidades de formação na área, considerando especialmente crianças e jovens.
Apareceu, ainda, a consciência de que esse é um investimento de médio e longo prazo, mas
que é essencial para promover as transformações culturais necessárias e condizentes com a
ideia de um desenvolvimento inclusivo e de valorização das expressões culturais locais.
Foi perceptível o entusiasmo dos participantes no fórum, ao apresentarem propostas
que já acontecem e que seriam tratadas no PMC, como ações, atividades e iniciativas que
consideram relevantes para o desenvolvimento cultural e fortalecimento da diversidade.
Algumas vezes, os participantes confundiam políticas com atividades, como no exemplo dos
eventos que contemplam parte dos artistas locais. Em outros depoimentos, apareceu o registro
das parcerias com outros setores da administração pública, com a iniciativa privada e com
projetos do Governo Federal.
Um entendimento comum foi de que, como a diversidade cultural é um conjunto de
expressões com diferentes formas de fazer cultura, a formulação de políticas também se dá de
diferentes maneiras, requerendo um processo de negociação e busca pela convergência de
interesses comuns. Muitos foram os relatos sobre a importância de uma gestão pública
coerente com as demandas culturais na contemporaneidade, mas foram perceptíveis as
dificuldades ocorridas em seus municípios, como a evasão de artistas locais devido à falta de
apoio e investimento.
A relação do Estado e dos municípios com o desenvolvimento cultural foi
caracterizada ainda como muito frágil, faltando uma compreensão mais coerente sobre a
210
importância da cultura para o desenvolvimento local, o que resulta no direcionamento de
investimentos em cultura para outros fins e para eventos que não traduzem a diversidade
cultural. Consideraram haver uma visão distorcida dos gestores, que limitam a cultura às
expressões artísticas e ao entretenimento, mantendo uma “política de balcão”, sem conseguir
enxergá-la sob um olhar mais ampliado e baseado na transversalidade e no diálogo, o que
favoreceria o empoderamento social e tornaria o Conselho de Cultura menos dependente dos
interesses do gestor e mais comprometido com os anseios da sociedade:
Alguns destes desafios relacionados ao poder público como: necessidade
deste ter um papel mais fomentador; necessidade de planejamento de longo
prazo, de infraestrutura, de investimentos, etc. Outros relativos à sociedade
como: falta de participação; de capacitação; de planejamento também por
parte dos agentes criadores, etc. (EAUFBA, 2015c)
Por outro lado, houve relatos extremamente positivos em relação ao PMC,
considerando-o como um passo fundamental para o desenvolvimento cultural e em prol da
institucionalidade da cultura. Compreenderam que a adesão municipal ao SNC se configura
como um importante passo para que o município possa avançar na direção certa, o que inclui
a existência dos Conselhos de Política Cultural com composição compatível com a
diversidade cultural existente localmente, e os ambientes dos fóruns como espaços de diálogo
importantes, atuando de forma positiva para o desenvolvimento cultural e para a diversidade.
Alguns destacaram a relevância das ações transversais, que atingem diversos
interesses e podem vir a contribuir para o fortalecimento da diversidade, por reunir públicos
diversos e motivações distintas para o desenvolvimento, em um processo democrático de
envolvimento de todos os sujeitos sociais, fundamental para a valorização cultural e humana.
Às discussões nesse fórum, somaram-se as preocupações já relatadas no fórum
anterior, sobre os conceitos de cultura e diversidade cultural. De forma pontual, observamos
forte referência negativa quanto à figura do gestor, atribuindo como fragilidade o seu
desconhecimento sobre a importância da relação entre cultura e desenvolvimento.
Surgiram também relatos sobre como o oposto é fundamental para que se implante
uma política com o comprometimento necessário com a diversidade cultural, entendida como
pilar para o desenvolvimento. Os participantes também demonstraram preocupações quanto
ao fato de que, muitas vezes, o trabalho dos gestores conscientes desse tema se torna
exaustivo, pois exige esforços adicionais para a sensibilização de outros gestores e de outras
esferas da administração pública.
211
Observamos, com muita frequência, a percepção dos municípios da ideia de cultura
como evento, onde a relação entre cultura e desenvolvimento está atrelada ao entretenimento,
sem uma devida valorização das expressões culturais locais. Em alguns depoimentos,
registrou-se a integração entre manifestações religiosas e tradicionais, sem considerar a
existência de uma relação econômica envolvida. Alguns participantes revelaram que não era
simples e fácil compreender a relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento,
especialmente do ponto de vista prático, dentro das dinâmicas culturais realizadas localmente.
Essa dificuldade estimulou a busca pelo aprofundamento do tema, abrindo espaço para a
ampliação do debate.
Ainda no que se refere à associação da cultura a eventos, houve aqueles que
defenderam o ponto de vista de que as festas fomentam o mercado de produção, geram
recursos que podem promover a sustentabilidade e estimulam e fomentam as atividades
culturais da cidade e da região, enquanto outros consideraram que a prática de eventos, no
geral, não tem conexão com outras manifestações, como, por exemplo, a falta de um
calendário integrado. Conforme os defensores do segundo ponto de vista, essa conexão
poderia potencializar ações regionais, porém o que acontece é que esse panorama não
beneficia a comunidade artística como um todo, mas somente poucas iniciativas da sociedade
e de setores privados.
Depoimentos de alguns gestores registraram uma visão otimista, pela qual, mesmo
tendo que lidar com um cenário difícil, acreditavam poder instituir ações que promoveriam o
desenvolvimento cultural e favoreceriam a diversidade, tais como:
a) promoção de feiras para exposição e comercialização de produtos culturais
artesanais, de artistas plásticos e gastronomia;
b) prêmios para a área de literatura;
c) realização de festivais de música e dança; e,
e) busca de parcerias institucionais para a formação em arte e cultura.
A figura do gestor foi considerada fundamental no processo de construção das
políticas públicas e, em especial, para o PMC, reiterando a necessidade de integração entre o
poder público e os atores responsáveis pela gestão cultural. As intervenções dos tutores se
deram no sentido de reforçar a importância do PMC para a ressignificação de valores e
condutas, por expressar o planejamento para a área, induzir uma continuidade das ações
públicas e estimular o diálogo interinstitucional, fortalecendo a relação transversal com os
setores públicos. Nesse sentido, alguns participantes reiteraram que o processo de elaboração
do Plano de Cultura deveria contemplar maior discussão sobre cultura, diversidade e
212
desenvolvimento, pela necessidade de se incluir outras expressões culturais. Vimos que seria
necessário o aprofundamento sobre o tema da diversidade cultural, devido à sua fragilidade
conceitual e prática.
O PMC foi visto como um meio para se promover maiores recursos e o
desenvolvimento que possa contribuir para o reconhecimento da diversidade cultural local,
com a promoção da garantia de direitos culturais. Além disso, a participação social foi tida
como fundamental para o planejamento e reconhecimento da realidade cultural do município.
Isto reitera a importância do processo de elaboração dos Planos e o intenso diálogo com a
sociedade civil, a partir do que podem surgir demandas concretamente vinculadas a ações e
projetos de desenvolvimento, como a criação de incubadoras de projetos culturais, a criação
de associações de artesãos e implantação do fundo de cultura, além de editais de fomento que
contemplem os diversos segmentos culturais.
Houve momentos em que tutores e representantes falaram sobre experiências exitosas
que levaram em consideração a participação social, a intersetorialidade e a transversalidade,
bem como a solidariedade. Além disso, os tutores buscaram estabelecer relação entre as
contribuições dos participantes e o PNC, bem como reconhecer programas desenvolvidos em
nível federal que contribuem para a minimização dos problemas locais.
Os debates puderam reforçar o conteúdo apresentado no módulo sobre a importância
do PMC enquanto um instrumento que ajuda a enfrentar os desafios relativos à
implementação das políticas públicas de cultura, tornando-as fundamentais para a superação
de impasses que não têm contribuído para o desenvolvimento territorial. Também
demonstraram uma compreensão do SNC como um conjunto de instrumentos que visa
potencializar a cultura local frente aos desafios da globalização e das indústrias culturais,
observando as realidades municipais de reconhecimento e fortalecimento da diversidade.
Foi destacada, ainda, a importância de disseminar as dimensões da cultura na
sociedade, imprimindo caráter coletivo e político, econômico e produtivo para que o PMC e o
SMC possam contribuir para o reconhecimento, a manutenção e cuidados necessários à
preservação das identidades culturais locais. Algumas citações demonstraram o compromisso
com a relação entre cultura, diversidade e desenvolvimento, tais como:
a) promoção de eventos representativos de cada segmento ou setor cultural,
estimulando as relações e as trocas culturais;
b) aumento de editais de fomento, ampliação da comunicação, divulgação e circulação
cultural, de forma descentralizada no município, promovendo espaços de visibilidade cultural
e artística e formação de novos grupos;
213
c) implantação e readequação de espaços culturais para a fruição cultural local e
fortalecimento da economia da cultura e das relações intersetoriais;
d) realização de programas de formação cultural;
e) estímulo à organização setorial, como de artesãos;
f) inclusão de artistas locais nas festividades do município, de forma descentralizada e
responsável, do ponto de vista orçamentário; e,
g) incentivo à produção cultural local.
Para o debate no Fórum Análise da Situação Atual (EAUFBA, 2015b), as perguntas
orientadoras se referiram à gestão pública da cultura, às políticas de inclusão social e a
formação de públicos, essa última considerada como uma das questões mais críticas na
política cultural contemporânea. Verificamos que, nas perguntas propostas para o fórum, o
tema da diversidade apareceu como aquilo que caracteriza a cultura brasileira sem, contudo,
estabelecer uma relação direta com a gestão pública de cultura.
A respeito da importância dada à diversidade cultural como constituidora da cultura
brasileira, pouco se avançou na relação desse assunto com a prática da gestão cultural. Como
alerta Barros (2011, p. 21), o assunto se mostra mais complexo, visto que “Reconhecer na
diversidade cultural apenas a presença de diferenças estéticas é simplificar a questão. […]
Diversidade cultural é a diversidade de modos de se instituir e gerir a relação com a
realidade.”
De qualquer forma, verificamos que o debate sobre a diversidade cultural se fez
presente nesse módulo, tanto por indução dos tutores como por iniciativa dos participantes, na
medida em que a construção de um diagnóstico da realidade cultural exigiu a coleta e
interpretação de informações sobre todas as manifestações culturais do município.
Alguns participantes revelaram uma preocupação com a valorização da cultura pela
sociedade, implicando uma mudança de hábitos e mentalidade, fato que se apresenta como
desafio para a gestão municipal. Além disso, alguns trouxeram ideias sobre instrumentos que
poderiam auxiliar a coleta, além de sinalizarem que poderiam ser contratadas pesquisas, desde
que os municípios tivessem condições financeiras para isso.
Em comparação com o fórum do primeiro módulo da formação, verificamos que o
total de participantes apresentou um importante nível de evasão, superior a 50% (de 179 para
81). Da mesma forma, registrou-se a queda de mais de 30% (de 420 para 282) do total de
intervenções, em comparação com os mesmos fóruns. Além da participação e intervenções,
observamos que não houve uma boa articulação entre os conteúdos e o debate sobre a
caracterização e diagnóstico, o que também afetou uma melhor apreensão do conteúdo. Em
214
determinados momentos, alguns participantes atribuíram como motivo da evasão o fato de o
fórum ter ocorrido no primeiro mês do ano, período normalmente destinado às férias dos
gestores.
Inferindo-se que um maior número de participantes e maior número de intervenções
significaria a apresentação de um conjunto maior de percepções sobre as realidades culturais e
de contribuições diversas sobre as políticas culturais, evidencia-se que o panorama observado
apresentou fragilidade quanto ao princípio da participação e empobrecimento em relação à
diversidade cultural. Em outras palavras, quanto maior a evasão, maior a limitação para
promover a inclusão no debate sobre cultura e, quanto menor a participação, menor a
disseminação das informações gerais e técnicas sobre as políticas culturais e sua construção,
bem como a limitação do acesso de um maior número de participantes interagindo com suas
diferentes percepções sobre as realidades culturais locais.
Um tema presente nesse debate, assim como em outros fóruns, foi a preocupação com
a relação entre a juventude e as novas tecnologias, que podem servir tanto como instrumentos
de divulgação da cultura quanto para limitar o interesse dos jovens a uma cultura de massa,
fazendo com que o aspecto da preservação/manutenção das culturas locais possa ser
esquecido. Os participantes reiteraram, ainda, a importância dos usos dessas ferramentas para
o levantamento de informações sobre o campo da cultura, entendido como um dificultador
para o reconhecimento das expressões culturais.
Em uma participação ativa, os integrantes promoveram trocas de informações sobre as
práticas locais e sugeriram a realização de oficinas de sensibilização com as comunidades do
município, com o objetivo de extrair informações sobre os hábitos culturais ou mesmo
promover o reconhecimento da diversidade cultural local, em atenção às culturas que se
encontram sob a ameaça de desaparecimento. A partir desse debate, os participantes
refletiram sobre a importância do PMC como um instrumento capaz de alavancar projetos e
ações de resgate e de fomento às expressões culturais do território. Mais uma vez, verificamos
a atenção às comunidades e culturas tradicionais, o que reforça o caráter preservacionista da
cultura, já explicado em outras partes desta dissertação, como a restrição do conceito de
diversidade cultural.
Ao tratarem da gestão pública, o tema da descontinuidade na gestão apareceu, mesmo
superficialmente, apontando para o cuidado com os processos transitórios dos governos.
Nesse sentido, uma participante do fórum indicou algumas preocupações, como por exemplo:
a) transição democrática criteriosa entre as administrações, evitando a
descontinuidade, que gera projetos inacabados e desconsidera o interesse da população;
215
b) organização do Sistema Municipal de Cultura baseado no pacto federativo de
colaboração, de forma dinâmica, não burocrática, integrando concretamente os seus
componentes, de forma participativa e articulada com a sociedade;
c) elaboração e implementação do Plano Municipal de Cultura decenal, conforme o
enfoque do Projeto, conduzido de forma a conquistar status de prioridade à cultura junto às
políticas municipais;
d) organização efetiva do órgão gestor da cultura, preferencialmente a Secretaria
Municipal da Cultura, dotando-o criteriosamente de um quadro próprio, enxuto, ágil e
qualificado;
e) desenvolvimento de programa de formação continuada, em parceria com o MinC
com a Secretaria Estadual da Cultura e outras instituições para atualização permanente do
pessoal da área, bem como encaminhá-lo para cursos, seminários, reuniões e outras atividades
presenciais e à distância;
f) prioridade ao orçamento municipal da cultura, garantindo que haja percentuais
compatíveis e investimento no setor, com implantação/implementação do Fundo Municipal de
cultura e da Lei de Incentivo à Cultura, e pleito quanto à participação da União; e,
g) ênfase nas políticas de economia da cultura.
Ainda em relação à gestão cultural, o tema do diagnóstico foi fortemente defendido,
sendo indicados pontos considerados relevantes para uma boa gestão pública da cultura,
especialmente quanto à diversidade. Segundo o debate, um diagnóstico bem elaborado da
realidade cultural no município ofereceria condições para perceber as fraquezas e
potencialidades e promover ações e estratégias mais pontuais e eficazes. Poderia, ainda,
contribuir para uma gestão democrática que envolvesse a comunidade, através de um
Conselho Municipal de Políticas Culturais representativo e atuante; viabilizar o diálogo entre
a administração municipal e a comunidade, por meio da realização de fóruns, conferências e
outros espaços de discussão; e, por fim, alcançar os grupos sociais mais vulneráveis através
do desenvolvimento de estratégias de comunicação direcionadas, com o objetivo de incluí-los
na vida cultural do município.
Os participantes ressaltaram que a gestão deve fazer uso de novas estratégias e
instrumentos de aproximação para o diálogo com a sociedade, promovendo uma
horizontalidade no processo de escuta. Apesar dessa preocupação, alguns relatos
apresentaram práticas exitosas quanto ao aspecto da participação e das contribuições para as
políticas culturais, bem como o desenvolvimento de projetos para atender a demandas
específicas e com impacto municipal. Percebe-se, então, que a participação social foi vista
216
como um problema, na medida em que não é reconhecida como fundamental na perspectiva
da democracia e do desenvolvimento, somado à falta de subsídios para instrumentalizar a
gestão pública municipal, de modo a desenvolver estratégias de aproximação social e cultural.
Com a evolução do debate, os tutores reiteraram a importância da participação ativa da
sociedade civil através das instâncias de poder, como os conselhos, os fóruns, conferências ou
outros espaços que permitam a sociedade civil organizada “participar/propor/intervir” mais
efetivamente no rumo das políticas públicas. Dessa forma, é possível coadunar as relações
entre gestão pública, cultura e diversidade cultural.
Ao tratar da estruturação do setor cultural, a discussão caminhou para a importância da
promoção de concursos públicos, considerando o fortalecimento do órgão gestor de cultura, a
criação de base de dados e indicadores que possam nortear o desenvolvimento de políticas
adequadas à realidade local, a garantia de instâncias de participação social e a organização do
financiamento da cultura. Essas ações, integradas ao devido reconhecimento das expressões
culturais, poderiam proporcionar um desenvolvimento inclusivo, com respeito à diversidade
territorial.
Nesse sentido, as reflexões sobre a diversidade cultural surgiram no fórum, mesmo
sem a explícita ênfase do termo, uma vez que o processo de diagnóstico da realidade se
baseou na perspectiva das trocas de visões entre os diferentes envolvidos:
A troca e o ouvir os outros amplia nossos horizontes, por que cada pessoa
conhece (seu município) a partir de uma ótica, de uma experiência, das
informações que possui, do compartilhamento de opiniões. Que tal unir as
forças!!! Ampliar a rede colaborativa pode ajudar no processo de construção
do PMC. (EAUFBA, 2015b)
Ao abordarem o tema da participação social, tutores e participantes reiteraram as
diversas possibilidades de se promover diálogos necessários para o PMC e a importância da
sensibilização e mobilização social, tanto do poder público quanto da sociedade civil. Nessa
perspectiva, os integrantes do fórum reconheceram que não somente o mapeamento das
expressões culturais seria relevante para a construção do diagnóstico, como também o registro
de instrumentos legais e de demandas da sociedade civil.
Mesmo de forma tímida, o tema da diversidade cultural foi ressaltado na relação com
o diagnóstico. Afirmou-se a importância do entendimento claro sobre a diversidade para o
planejamento do setor cultural, mas foi destacado que um dos obstáculos foi falta de
conhecimento sobre o tema, além da carência do aparato institucional para o desenvolvimento
do trabalho, que requer profissionais especializados e, acima de tudo, um gestor com uma
217
visão clara sobre a cultura e seu papel para o desenvolvimento local. Foi exposto o seguinte
trecho sobre o diagnóstico:
O diagnóstico cultural vai necessariamente ter que revelar os modos, o éthos,
os afãs e elãs da comunidade cultural em questão, passando pelas pessoas em
sua individualidade e coletividade, sendo um caminho possível uma primeira
conversa de partilha sobre atividades mensais e anuais socioculturais que
desenvolvem de forma continuada, reunindo-se de forma descentralizada nos
bairros e comunidades, representantes de movimentos e entidades afins,
registrando esses momentos em meio escrito e audiovisual, com a
autorização dos participantes. (EAUFBA, 2015b)
Mesmo com o estímulo dos tutores para o assunto, buscando trazer o tema da
diversidade cultural para o centro da discussão, as intervenções foram mínimas. Alguns
participantes afirmaram que promover uma boa gestão municipal no campo da cultura seria
proporcionar o reconhecimento da diversidade cultural existente em seu município. Sem esse
reconhecimento, a gestão estaria fragilizada, visto que, “de fato, a gestão pública deve
conhecer e reconhecer as expressões culturais do seu município para, a partir daí, desenhar e
desenvolver políticas públicas, contando com a participação da sociedade civil.” (idem,
ibidem).
Além dos aspectos tratados ao longo desses fóruns, vale destacar outros que
contribuíram para a dinâmica da formação durante a fase de interação com a plataforma
moodle e uso do template. Algumas ocorrências influenciaram no seu desdobramento e foram,
inclusive, apontadas nos encontros de avaliação, valendo destacar:
a) alterações no calendário de realização da formação em função das realidades locais,
com o intuito de atender as demandas dos participantes em relação ao tempo destinado ao
estudo dos conteúdos;
b) não observância aos calendários oficiais de festividades nacionais, regionais e
locais, o que levou a uma maior ausência dos participantes nos fóruns e, em alguns casos, à
evasão;
c) a falta de encontros presenciais, com o objetivo de fortalecer a aplicação
metodológica pelos participantes, o que foi verificado nos depoimentos realizados durante os
Encontros Regionais e que trouxeram alguns elementos importantes do ponto de vista da
diversidade cultural, a saber: o aspecto territorial, que envolveu não somente o conhecimento
dos tutores sobre as realidades onde atuaram; diferentes contextos culturais e regionais, sendo
alguns deles especificidades que exigiam procedimentos diferenciados para a formação; e,
diferentes contextos estruturais (equipes, tecnologia e deslocamento), que influenciaram na
permanência e desempenho dos participantes;
218
d) o desenvolvimento da ferramenta template no processo, causando estranhamento
tanto por parte da equipe pedagógica quanto dos participantes, que tiveram grande dificuldade
no seu manuseio, além de problemas técnicos ocorridos durante a sua utilização, o que levou a
uma desmotivação por parte de alguns participantes, em especial aqueles que tinham
problemas de acesso à internet;
e) falha no acompanhamento pedagógico dos tutores em relação à aplicação da
metodologia, o que pode ter influenciado nos problemas verificados, como a evasão, o
desestímulo de alguns participantes e a fragilidade nas discussões pertinentes aos temas
tratados em cada fórum.
f) falta de critérios objetivos sobre as indicações dos representantes municipais, já que
durante a formação foi observada a ausência de alinhamento entre o representante do poder
público e da sociedade civil, que, por vezes, exigiu uma mediação do tutor e alteração em
procedimentos relativos à realização das tarefas, que demandaram, em alguns exercícios, um
trabalho em dupla. Ficando a cargo dos municípios a indicação dos seus representantes, sem a
imposição de critérios claros, tal situação eximiu a UFBA de quaisquer intervenções que
pudessem mediar os conflitos que surgiram entre os integrantes. Esse problema gerou trocas
de alguns participantes ou mesmo a sua eliminação sem substituição por outro profissional,
mantendo apenas um dos representantes, que na sua maioria era do poder público; e,
g) conteúdos considerados densos, com linguagens técnicas e/ou acadêmicas, o que
dificultou o entendimento dos assuntos por parte dos participantes, que avaliaram que os
textos poderiam ter sido mais pedagógicos, visando atender aos diferentes contextos e perfis
de participantes, independente da sua formação intelectual.
Devemos considerar também os aspectos positivos do Projeto e do processo formativo,
que oportunizaram desdobramentos durante a sua operacionalização:
a) reuniões regulares, que promoveram constantes reflexões sobre procedimentos
administrativos e gerenciais para qualificar as atividades;
b) reuniões semanais para sobre as atividades em desenvolvimento, o que acarretou
em possíveis correções e novas adaptações operacionais;
c) as avaliações realizadas no âmbito da equipe gestora, com o objetivo de ajustar o
curso das atividades, quando necessário, especialmente na formação;
e) os encontros de avaliação com as equipes, buscando qualificar a sua atuação,
promover uma escuta dos possíveis problemas e, ao mesmo tempo, favorecer uma gestão
descentralizada em relação aos aspectos que interferiram na efetividade das atividades e nas
ações direcionadas à formação;
219
f) os nove Encontros Regionais, que possibilitaram a reunião dos representantes da
equipe gestora do Projeto com as Regionais do MinC e os beneficiários da ação; e,
A equipe de representantes municipais foi muito bem avaliada pelos tutores,
considerando que a maioria dos integrantes tinha formação na área cultural e experiência na
gestão de pública da cultura.
Em que pese os problemas verificados, o uso do ambiente virtual para os fóruns de
discussão teórica possibilitou uma rica discussão sobre os temas da formação, quando se
considera a quantidade e a dispersão, pelo território brasileiro, dos municípios participantes. É
possível supor que, caso ocorresse de modo presencial, as limitações seriam muito maiores
ou, até, inviabilizariam o processo, por isso a formação a distância deve ser considerada em
edições futuras e em projeto similares, sempre trabalhando para o seu aperfeiçoamento e
mitigação das questões problemáticas.
220
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O fenômeno da globalização se intensificou no século XXI e colocou em evidência as
contradições iniciadas no século anterior, que também se tornaram cada vez mais acentuadas,
atingindo os diversos campos da vida humana: cultural, econômico, social e político.
Nesse contexto, o debate sobre desenvolvimento passou a se desenrolar numa arena de
disputa e negociação que envolveu os temas cultura e economia, tendo de um lado países que
advogavam em favor da livre circulação dos bens e serviços culturais, a partir do entendimento
de que são itens econômicos como outro qualquer; e, de outro, aqueles que defendiam uma
perspectiva soberana e protetora dos bens e serviços culturais, reconhecendo-os como ativos
simbólicos que integram a diversidade constituinte de identidades nacionais.
Desse processo, ganhou corpo a perspectiva de um modelo de desenvolvimento que não
se limita ao viés econômico e onde a cultura e a diversidade cultural são peças fundamentais,
geradoras de sentidos e riquezas. A partir desse ponto de vista, surgiram diversos documentos
produzidos por organismos multilaterais, com destaque para a Convenção sobre a Proteção e
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, da Unesco, que orienta os países-membros a
desenvolverem políticas e medidas que garantam a proteção de um bem mundial, a diversidade,
evitando ou limitando um movimento de homogeneização.
Alinhado com essa diretriz, o governo brasileiro, a partir de 2003, ancorado nos princípios
de democracia, autonomia e alteridade, propôs uma mudança paradigmática para pensar a cultura,
tendo como fator determinante o envolvimento da sociedade e o fortalecimento da diversidade
cultural. Para tanto, iniciou um trabalho baseado no entendimento da cultura brasileira como algo
diverso e plural, que expressa não somente diferentes formas de se manifestar, mas também
diferentes modelos de gestão, que podem e devem ser considerados em uma agenda de
desenvolvimento. Ancorado nessa visão e tomando como base os conceitos de políticas culturais
e de cultura descritos no primeiro capítulo desta dissertação, o governo brasileiro assumiu um
papel fundamental na construção de políticas públicas de cultura contemporâneas.
Essa mudança revelou uma ruptura no modelo arcaico do Estado na sua forma de pensar a
cultura e representou um novo posicionamento ao enfrentamento dos desafios da diversidade
221
cultural em longo prazo, realizando esforços para que fosse instalada uma política de Estado e
não de governo.
Nessa perspectiva, a gestão pública de cultura, através de ações e projetos de apoio ao
desenvolvimento cultural, abarcaria o reconhecimento de todas as formas de cultura que se
manifestam na sociedade e buscaria revelar o poder criativo que lhe é intrínseco, seja nas suas
especificidades, seja em questões mais gerais. Assim, a política nacional para a área tomou a
diversidade cultural como elemento central, materializada no SNC e no PNC, ambos construídos
em amplo diálogo com a sociedade civil e considerando a articulação federativa.
O SNC congrega elementos que visam fomentar, promover e proteger as diversas
expressões culturais, estimulando suas capacidades geradoras de sentidos e de riquezas, enquanto
o PNC orienta as políticas para a área cultural, com base no reconhecimento da diversidade e na
garantia dos direitos culturais, conforme descrito na Constituição Brasileira.
A política nacional de cultura estabelece uma relação federativa, que converge com a
relação local-global, na qual União, Estados e municípios devem, de forma conjunta e articulada
com a sociedade civil, promover ações individuais e/ou integradas, com vistas ao
desenvolvimento, respeitando as especificidades regionais e locais e permitindo que a cultura
floresça e se amplie, baseada em um conceito de sustentabilidade.
Com base nisso, o PMC se caracteriza como importante instrumento de política pública
para a área, por reforçar a importância dos governos locais para a superação dos desafios que se
apresentam e contribuir para a diminuição das desigualdades e valorização da diversidade. Nesse
ponto, há um fator preponderante para a quebra dos paradigmas que falamos anteriormente, pois
é na busca por uma inclusão e pela sustentabilidade cultural que os municípios se colocam como
elemento-chave desse processo. É nos municípios onde a cultura acontece nas suas formas mais
genuínas e, logo, uma inclusão cultural efetiva se dá à medida que seja possível construir meios
para que isto ocorra no ambiente local.
Uma premissa adotada pelo governo brasileiro foi que a cultura como ativo econômico
deve considerar, antes de qualquer coisa, o desenvolvimento humano, através da associação de
políticas que reconheçam e garantam as liberdades individuais e coletivas, dentre as quais se
destaca o direito à participação na vida cultural. Complementando essa nova postura do governo
brasileiro, observamos a preocupação com o desenvolvimento de ações que visaram
instrumentalizar a gestão cultural, com destaque para o Programa de Fortalecimento do SNC, que
222
objetivou apoiar Estados e municípios na estruturação dos Sistemas de Cultura através de duas
ações basilares: formação em políticas e gestão cultural e assessoramento técnico para o
desenvolvimento de políticas públicas para a área. Foi dentro desse programa que se inseriu o
Projeto MinC-UFBA, objeto de estudo desta pesquisa. A partir da análise dessa ação, que se
desenvolveu em duas edições, buscamos identificar aspectos diferenciados, especialmente no que
se refere ao tratamento dado à diversidade cultural.
Ao se constituir como princípio básico da política pública de cultura, a diversidade
cultural expressa sentidos que mereceram ser destacados para o propósito de elaboração dos
Planos de Cultura, tanto nos conteúdos teórico-conceituais, como na etapa de aplicação do
método desenvolvido. Isso pode contribuir para uma percepção menos romântica da diversidade
cultural, tratando-a como um elemento importante para o desenvolvimento.
Como explicitamos no terceiro capítulo, a nossa análise se deu em três perspectivas:
conteúdo, metodologia e processo. Com a finalidade de promover uma melhor compreensão das
etapas que constituíram o Projeto MinC UFBA, procuramos tratar esses elementos distintamente,
sendo possível, porém, verificar, ao longo do trabalho, que houve um entrelaçamento e
interdependência entre eles, onde cada um interferia nos demais.
Em relação aos conteúdos, observamos que eles deveriam ter dado maior atenção ao tema
da diversidade cultural, como ocorreu com a participação social, abordagem que poderia ser
construída a partir a relação inequívoca que há entre esses dois assuntos. A sua inclusão nos
conteúdos de maneira mais direta e explícita permitiria uma maior aproximação dos
representantes municipais com o tema e suscitaria um debate mais aprofundado, oportunizando a
construção de um novo pensamento sobre o assunto e seu entrelaçamento com a cultura e o
desenvolvimento.
Outra questão que percebemos foi a necessidade de se trabalhar os conteúdos em diálogo
com os contextos locais e o cotidiano da gestão e políticas culturais dos municípios, visando
reforçar a relação entre teoria e prática. Trata-se de uma abordagem que buscaria construir um
aprendizado baseado nas realidades vividas, o que seria um facilitador para compreensão e um
estímulo ao envolvimento dos participantes do Projeto. Para que isso ocorresse de modo mais
efetivo, seria essencial uma maior aproximação da equipe técnica com os representantes
municipais, através de um maior número de encontros presenciais que poderiam acontecer ao
223
longo da execução dos trabalhos. Esse ponto foi mais crítico na 2ª Edição, estruturada para ser
realizada através de acompanhamento a distância.
Reforçamos a importância de premissas e princípios orientadores e sugerimos ampliar o
espaço de debates sobre os temas relacionados, com o objetivo de promover maior apropriação
pelos representantes municipais, exigindo, desse modo, mudança de comportamento para que as
responsabilidades sobre o que é público pudessem se dar de forma articulada entre os diferentes
atores sociais e políticos. Isto tornaria o processo de construção das políticas municipais mais
sólido e com legitimidade, do ponto de vista dos princípios democráticos e como resultado de
parceria entre Estado e sociedade.
Ao longo das duas edições, a metodologia ganhou vitalidade, devido à incorporação de
inovações decorrentes do amadurecimento técnico e pedagógico. Isso incluiu o enriquecimento
do conteúdo e material didático, a realização dos Encontros Regionais, a disponibilização do
template e os espaços de registro de boas práticas e de avaliação sistemática das atividades.
Os conteúdos se complementaram na medida em que, de uma edição para a outra,
ganharam explicações mais abrangentes sobre cada etapa, além da inclusão dos exercícios, que
buscaram promover maior reflexão sobre o objeto estudado, e do material e meios que
complementaram o conhecimento e o desenvolvimento do participante na formação.
O template, modelo de referência incorporado na 2ª edição como suporte ao processo
formativo, permitiu maior apropriação da proposta metodológica pelos representantes municipais.
Os critérios para composição do grupo de representantes, ao prever a indicação de participantes
ligados ao setor público em conjunto com aqueles pertencentes à sociedade civil, ampliaram o
raio de alcance dos conhecimentos associados à metodologia de elaboração de Planos. Faltou, no
entanto, um instrumento de comunicação mais adequado ao formato do Projeto, o que limitou o
acesso da sociedade a um produto de interesse social e político.
Se na 1ª Edição, o Projeto MinC-UFBA atuou junto a municípios maiores e mais bem
estruturados, a 2ª Edição ganhou uma capilaridade excepcional, atingindo grande número de
pequenas cidades, o que deu espaço à diversidade de contextos locais, com suas características
singulares. Isto requereu um olhar diferenciado, abrindo espaço para o questionamento sobre a
homogeneização de um processo formativo. Os aspectos locais mereceram atenção, razão pela
qual modelos ou práticas padronizadas não se constituem mais aceitáveis, exigindo, em seu lugar,
224
estratégias diferenciadas para o desenvolvimento territorial, diante das realidades expostas pelas
novas dinâmicas.
A diversidade como princípio requer um tratamento mais direto, que considere que a
cultura se dá a partir de um conjunto de saberes e práticas que abarcam diferentes jeitos de se
posicionar no mundo. É através do reconhecimento e atenção às diferenças culturais que a
diversidade é percebida e, portanto, é com base nessas diferenças que a política cultural deve ser
formulada.
Com base neste estudo, concluímos que o tema da diversidade cultural se fez presente no
Projeto MinC-UFBA, porém isto não ocorreu de forma mais explícita e direta nos Guias de
Orientação e não houve um devido tratamento conceitual. A diversidade apareceu como
beneficiária e não como base para a política pública de cultura, conforme foi feito em relação à
participação social. Os exemplos expostos nos Guias nos ofereceram subsídios importantes para o
reconhecimento da diversidade cultural, a partir das interpretações que realizamos, considerando
a multiplicidade de fatores abarcados nos conteúdos. Quando analisamos os módulos,
percebemos que esse tema ganhou maior relevância nos conteúdos dos módulos Cultura e
Produção Simbólica e Cultura e Desenvolvimento, sendo claramente explicitado e referenciado
no decorrer dos seus textos.
Em Cultura e Produção Simbólica, além da exploração dos conceitos de cultura e
diversidade cultural, o módulo discutiu o aspecto da diferença e da identidade e dos diversos
modos de existência, dialogando com as diferenças e reforçando a necessidade de processos de
mediação. Nesse material, foi demonstrado que a diversidade cultural se constitui a partir de uma
compreensão alargada do conceito de cultura, entendida a partir das dimensões simbólica,
econômica e cidadã.
O tema também foi reforçado quando o módulo relacionou o Plano de Cultura com o
reconhecimento dos diversos modos culturais, suas diferenças, riquezas e potencialidades,
questões fundamentais para o desenvolvimento local. Olhar essas diferenças sem preconceito e
percebê-las como ativos geradores de significados distintos é, sem dúvida, um passo largo em
direção à transformação almejada.
No módulo Cultura e Desenvolvimento, ficou clara a relação entre esses dois
componentes quando a diversidade cultural foi posta no centro dessa discussão, em aderência ao
225
apontado pelos documentos internacionais. Registramos que essa abordagem despertou a atenção
dos participantes da formação.
O módulo sobre o Sistema Nacional de Cultura deixou evidente a importância da
diversidade cultural para a estruturação de uma política democrática e de inclusão. Destacando a
relação federativa, considerou essa iniciativa de política pública como uma quebra de paradigma.
Já nos módulos de planos, foi possível verificar a presença da diversidade cultural a partir
do princípio da participação social, reforçando-a como mera beneficiária do processo e não
questão basilar. Reiteramos que não é o fato de o termo diversidade cultural estar ou não
explícito, mas seria necessário que conceitos e explicações mais claras compusessem o conteúdo
desse material. Isso é fator determinante para o reconhecimento das políticas públicas de cultura,
que para atingirem o propósito de contribuir com a transformação da realidade, devem
contemplar as diferenças culturais.
A participação social pode ser entendida como causa e consequência. Causa quando
realmente consegue agregar uma multiplicidade de agentes culturais de diferentes linguagens e
práticas, e consequência quando, a partir da compreensão sobre a diferença, ocorre o
agrupamento desses diferentes agentes e suas distintas manifestações culturais. Essa compreensão
pode ter facilitado o nivelamento do conceito de participação social junto aos representantes
municipais.
Nas duas edições, a metodologia se somou a esse esforço, quando foi guiada por
princípios e premissas que consideraram o diálogo, a comunicação, a participação e a
legitimidade para a formulação do Plano de Cultura. Isto ocorreu também quando aprofundou a
importância do território e da transversalidade e quando realçou uma política pautada no
reconhecimento das expressões culturais e na garantia dos direitos culturais.
No processo, podemos afirmar que a aplicação da metodologia na primeira etapa reforçou
o caráter da diversidade cultural, na medida em que o discurso dos consultores e analistas
destacou esse tema e atrelaram-no ao da participação. A ampliação do debate e as diversas
reuniões realizadas com diferentes públicos possibilitaram um diálogo mais aberto sobre a
relação entre o Plano Municipal de Cultura e a diversidade.
Na segunda edição, as interações nos fóruns de discussão teórica promoveram um
aprofundamento sobre os temas tratados nos módulos e criaram um ambiente propício para o
diálogo entre os diferentes participantes, agregando ao debate experiências de gestão em cada um
226
dos municípios. Nessas discussões, tanto na primeira quanto na segunda edição, foi possível
realçar o discurso do MinC para a construção das políticas públicas de cultura de forma
participativa e com olhos na diversidade cultural.
Este contexto possibilitou ampliar os conhecimentos sobre um conceito ampliado de
cultura, no qual a diversidade se apresenta como peça central, dando subsídio para o
desenvolvimento de uma política pública verdadeiramente inclusiva e favorecendo uma quebra
de paradigma. Também contribuíram para um melhor entendimento sobre a relação entre cultura,
diversidade e desenvolvimento, quando os participantes reconheceram que a relação entre cultura
e economia se tornaria um diferencial, por agregar o poder simbólico da cultura.
Cabe destacar que, em que pese todo o material produzido para e durante o Projeto MinC-
UFBA, não percebemos a preocupação em preservar o ambiente na internet como um local para o
armazenamento, divulgação e publicização dos conteúdos. O fato é que atualmente, grande parte
desse material está indisponível para a sociedade brasileira, impossibilitando a disseminação em
larga escala dos conceitos, metodologias e processos construídos, sua replicação e a pesquisas
que podem gerar.
Foi considerando essa realidade que esta pesquisa pretende contribuir para o campo das
políticas culturais, observando que a diversidade cultural é condição essencial para uma política
que pretenda promover a inclusão e a diminuição da pobreza. É no reconhecimento das
diferenças que surge a possibilidade de enxergarmos os modos de vida, bem como as formas de
produção próprias de cada lugar e de cada cultura, tornando evidente um mundo plural, com
características distintas de desenvolvimento e que merecem, portanto, tratamentos distintos,
mesmo dentro de um mesmo país. As contradições do campo da cultura, quando internalizadas
nos processos de construção do desenvolvimento, certamente produzirão novas condutas e novas
perspectivas.
Foi com o sentimento e na esperança de um mundo mais igual que esta pesquisa se deu.
227
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_______. I Relatório Trimestral (janeiro, fevereiro, março 2014). Documento da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2014a.
_______. Manual do Participante. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador,
2014b.
_______. Participantes Inscritos.xlsx. Planilha eletrônica com informação sobre grupos,
municípios e participantes da 2ª Edição do Projeto MinC UFBA. Salvador, 2014c.
_______. Avaliação da Formação – Tutores. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-UFBA.
Salvador. 2015a.
_______. Fórum Análise da Situação Atual. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015b.
_______. Fórum Cultura e Desenvolvimento. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015c.
231
_______. Fórum Cultura e Produção Simbólica. Fórum de discussão teórica da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015d.
_______. Relatório da Pesquisa de Sensibilização e Mobilização. Documento da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2015e.
_______. Relatório das Avaliações dos Encontros Regionais. Documento da 2ª Edição do
Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2015f.
_______. Sistema PMC Modelo de Referência. Manual do sistema aplicativo para apoio à
elaboração de Planos Municipais de Cultura. Salvador, 2015g.
_______. VII Relatório Trimestral (julho, agosto, setembro 2015). Documento da 2ª Edição
do Projeto MinC-UFBA. Salvador. 2015h.
_______. Descrição das Principais Alterações no Processo e Formação para Elaboração de
Planos Municipais de Cultura em Ambiente EAD. Documento da 2ª Edição do Projeto MinC-
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Construção de Plano Municipal de Cultura. Projeto de Assistência Técnica à Elaboração de
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à Elaboração de Planos Culturais de Capitais e Cidades de Regiões Metropolitanas. Salvador,
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Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2012f.
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Documento da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2013a.
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da 1ª Edição do Projeto MinC-UFBA. Salvador, 2013b.
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MinC-UFBA. Salvador, 2014.
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VIEIRA, Mariella Pitombo. Reinventando Sentidos para a Cultura: uma leitura do papel
normativo da Unesco através da análise da Convenção para a Promoção e a Proteção para a
Diversidade das Expressões Culturais. 303 fl. Tese (Doutorado). Universidade Federal da Bahia.
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em 05.01.2017.
237
ANEXO 1
CONTEÚDO PEDAGÓGICO DA FORMAÇÃO - 2ª Edição
MÓDULOS BÁSICOS
MÓDULO:
Introdução ao Ambiente da Formação
HORAS CONTEÚDO:
9 horas
HORAS FIXAÇÃO:
8 horas
OBJETIVO: Familiarizar os participantes com o ambiente computacional e o ambiente Moodle, proporcionado
maior eficácia no uso das ferramentas e recursos requeridos no ensino a distância. Oferecer uma visão
geral da metodologia da formação e do Projeto Planos Municipais de Cultura em Ambiente de
Aprendizagem à Distância; apresentar os conteúdos da formação e sua relação com o processo de
elaboração de planos municipais de cultura.
CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Recursos e comandos básicos de um ambiente computacional e do ambiente Moodle de
aprendizagem. Princípios e práticas do trabalho colaborativo em rede. Conteudistas: Horácio Nelson Hastenreiter Filho e Justina Tellechea.
Parte 2: Apresentação do Projeto e da metodologia da Formação. Aula Magna sobre o papel dos
planos de cultura no processo de institucionalização de políticas públicas. Conteudista: Equipe EA-UFBA e Bernardo Novais da Mata Machado (aula magna).
MÓDULO:
Cultura e Produção Simbólica
HORAS CONTEÚDO:
5 horas
HORAS FIXAÇÃO:
4 horas
OBJETIVO: Possibilitar aos participantes uma reflexão crítica sobre o conceito de cultura e suas várias dimensões,
de forma a permitir uma abordagem mais ampla e consistente nos planos municipais de cultura.
CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Abordagens conceituais da cultura e suas dimensões objetivas e subjetivas. Cultura como
processo e suas várias configurações. Diversidade cultural, interculturalidade e pluralismo cultural. O
popular, o tradicional e o contemporâneo e os planos de cultura. Conteudista: José Márcio Pinto de Moura Barros.
Parte 2: A dimensão simbólica da cultura. As artes como expressões da diversidade cultural; o
popular, o massivo, o erudito e as novas configurações contemporâneas. Conteudista: Maria das Dores Freire
Parte 3: Cultura, memória e identidade. Patrimônio cultural material e imaterial. Concepções e
mecanismos de promoção e salvaguarda. Conteudista: Maria das Dores Freire
MÓDULO:
Políticas Públicas de Cultura
HORAS CONTEÚDO:
3 horas
HORAS FIXAÇÃO:
3 horas
OBJETIVO: Apresentar conhecimentos básicos sobre conceitos, processos e atores relacionados às políticas
públicas de cultura, de forma a permitir que os participantes compreendam os planos municipais de
cultura como ferramentas para a institucionalização das ações e para a concretização dos direitos
238
culturais.
CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Estado, sociedade e política pública. Cidadania, representação e participação social.
Dimensões de formulação e análise de políticas públicas. Atores e processos decisórios. Instrumentos
de política pública. Conteudista: Rosana de Freitas Boullosa.
Parte 2: Políticas Públicas de Cultura no Brasil. As principais referências da política nacional de
cultura na atualidade. Os planos municipais de cultura como instrumentos de participação e
pactuação. Conteudista: Lia Calabre de Azevedo.
MÓDULO:
Planejamento Público
HORAS CONTEÚDO:
3 horas
HORAS FIXAÇÃO:
3 horas
OBJETIVO: Proporcionar uma visão geral do planejamento no setor público no Brasil, permitindo aos
participantes associarem os planos municipais de cultura aos processos, ciclos e instrumentos de
gestão pública, com ênfase em planejamento e orçamento nos municípios.
CONTEÚDOS GERADORES: Parte 1: Governabilidade, governança e participação social. Modelos de planejamento aplicados ao
setor público. Planejamento nas políticas públicas. O plano municipal de cultura como instrumento de
planejamento. Conteudista: Daniel Ivo Neri Grave
Parte 2: Instrumentos constitucionais do planejamento governamental. O Plano Nacional de Cultura e
a necessária integração com o Plano Plurianual-PPA, a Lei de Diretrizes Orçamentárias–LDO e a Lei
Orçamentária Anual-LOA.
Conteudista: Mário Sebastião Nogueira de Freitas.
MÓDULO:
Sistema Nacional de Cultura
HORAS CONTEÚDO:
8 horas
HORAS FIXAÇÃO:
8 horas
OBJETIVO: Possibilitar o conhecimento do Sistema Nacional de Cultura e de seus componentes a partir de sua
concepção e dos marcos legais que o instituíram, subsidiando construir inter-relações entre políticas e
planos locais e nacionais.
CONTEÚDOS GERADORES: Concepção, componentes e marcos legais do Sistema Nacional de Cultura – SNC; processo de
institucionalização do Sistema Municipal de Cultura; mecanismos do Sistema de Financiamento da
Cultura; instrumentos de gestão do SNC com destaque para o Plano de Cultura e mecanismos de
participação. Os planos municipais de cultura e suas relações com o plano estadual e com o Plano
Nacional de Cultura. Conteudista: Cleide Vilela
MÓDULO:
Cultura e Desenvolvimento
HORAS CONTEÚDO:
4 horas
HORAS FIXAÇÃO:
4 horas
OBJETIVO: Proporcionar aos participantes contextualizar a cultura no desenvolvimento humano, econômico e
social, possibilitando reflexão crítica sobre a relação entre essas dimensões no âmbito do
239
desenvolvimento local e dos planos municipais de cultura.
CONTEÚDOS GERADORES: Conceituação de desenvolvimento humano e sustentável. Desenvolvimento territorial e
desenvolvimento local. Economia Solidária. As relações entre cultura e desenvolvimento. Economia
da Cultura, Economia Criativa, Indústria Criativa e Indústria Cultural. Cadeias de valor na área
cultural. Conteudista: Paulo Cesar Miguez de Oliveira.
MÓDULOS DE ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE CULTURA
Horas serão acrescidas de assistência técnica e prazo de elaboração do plano municipal
MÓDULO:
Planos Municipais de Cultura – Visão Geral
HORAS CONTEÚDO:
3 horas
HORAS FIXAÇÃO:
2 horas
OBJETIVO: Oferecer uma visão geral da metodologia objeto da capacitação, relacionando vários aspectos dos
conteúdos da formação e o roteiro de elaboração de um plano municipal de cultura.
CONTEÚDOS GERADORES: O plano municipal no contexto do SNC. Premissas e Princípios Metodológicos. Sensibilização e
participação democrática. Bases de Informação. Visão de cada tópico do roteiro do plano. Análise da
coerência interna.
MÓDULO:
Elaboração do Plano – Análise da Situação
Atual
HORAS CONTEÚDO:
8 horas
HORAS FIXAÇÃO:
8 horas
OBJETIVO: Capacitar os participares a elaborar uma caracterização do município e uma análise da cultura local.
CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de diagnóstico a ser aplicada. Formato do documento de análise da situação atual.
MÓDULO:
Elaboração do Plano – Projeção do Futuro
Desejado
HORAS CONTEÚDO:
8 horas
HORAS FIXAÇÃO:
8 horas
OBJETIVO: Capacitar os participantes a formular as bases estratégicas para o desenvolvimento cultural que
constarão no Plano Municipal.
CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de diretrizes, prioridades e objetivos. Análise de coerência interna. Formato do
documento de visão do futuro.
MÓDULO:
Elaboração do Plano – Operacionalizando o
alcance do futuro desejado
HORAS CONTEÚDO:
10 horas
HORAS FIXAÇÃO:
12 horas
OBJETIVO: Capacitar os participantes a formular a operacionalização das bases estratégicas para o
240
desenvolvimento cultural que constarão no Plano Municipal, identificando impactos e resultados.
CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de estratégias, metas, ações, resultados e impactos. Análise de coerência
interna. Formato do documento final.
MÓDULO:
Elaboração do Plano – Projeção de prazos e
recursos
HORAS CONTEÚDO:
4 horas
HORAS FIXAÇÃO:
6 horas
OBJETIVO: Capacitar os participantes a projetar prazos e recursos necessários para ações que constarão no Plano
Municipal e a analisar associações aos demais instrumentos formais de planejamento, identificando
mecanismos e fontes de financiamento.
CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de cronograma e projeção de custos. Identificação de mecanismos e fontes de
financiamento. Análise de coerência interna. Formato do documento final.
MÓDULO:
Elaboração do Plano – Monitoramento do
Plano Municipal
HORAS CONTEÚDO:
4 horas
HORAS FIXAÇÃO:
6 horas
OBJETIVO: Capacitar os participantes a elaborar indicadores de metas planejadas.
CONTEÚDOS GERADORES: Técnica de elaboração de indicadores. Identificação de meios de aferição e fontes de informação.
Análise de coerência interna. Formato do documento final.
Fonte: EAUFBA, 2014a, p. 13-16.
241
ANEXO 2
EXPRESSÕES E CONCEITOS ADOTADOS NO GUIA 2
Termo Conceito sugerido
Elos da cadeia da cultura
“Ligações” identificadas como parte do processo de cultura. Podem
variar conforme o setor cultural e ter interpenetrações, já que
normalmente não existem em “estado puro”. Em geral, são
considerados processos que se iniciam na criação, passam pela
distribuição/interação e se concluem na memória, embora se
reconheça que a memória, por exemplo, está presente em todas as
“ligações” dos processos. A expressão “elos da cadeia” se origina da economia, relacionada à
cadeia produtiva de produtos e serviços, muito aplicada na agricultura
e na indústria, mas acabou por se adaptar, também, a processos
culturais.
São exemplos de elos: criação, pesquisa, produção, difusão, fruição,
formação, memória. Num enfoque mais econômico é agregado ainda
consumo / formação de público.
Criação
Conjunto de atividades e esforços voltados para concepção,
envolvendo bem, produto, serviço ou o processo cultural em si. A
criação não necessariamente resulta em algo tangível e pode estar
relacionada a qualquer aspecto da cultura.
Registros de criações estão relacionados a direito de autor, importante
ramo do direito cultural.
Pesquisa
Ações relacionadas a estudos e pesquisas em áreas de interesse
cultural. A pesquisa em si pode não resultar em produto específico,
mas compor processos de qualquer elo da cadeia.
Difusão
Originária da antropologia que conceitua difusão como a propagação
de elementos de uma cultura para outra, pressupondo algum tipo de
contato. Na política cultural tem o sentido de propagar e disseminar
bens, produtos e serviços. Está relacionada a circulação, a
intercâmbio.
Fruição É o desfrute do bem, produto, serviço ou mesmo de um processo
cultural. Está relacionada ao acesso.
Formação
Numa acepção ampla, envolve conhecimentos, capacidades e atitudes,
sendo um ato (formar) e um efeito (formar-se). Em muitos casos
inclui outros termos como capacitação, treinamento, aperfeiçoamento
e envolve tanto agentes culturais como público.
Memória
Elemento básico constitutivo de identidades e identificações, de
conhecimento e de formação. Envolve um conjunto de ações
relacionadas ao registro, recuperação, preservação, acesso,
transmissão e a salvaguarda (proteção). Fonte: UFBA, 2012a.
242
APÊNDICE 1
EQUIPE DO NÚCLEO CENTRAL DA UFBA - 1ª EDIÇÃO
Coordenador Geral Prof. Dr. Ernani Coelho Neto
Coordenador Técnico Prof. Ms. Vicente Federico
Consultora Sênior Neuza Hafner Britto
Analista Técnico Kátia Costa
Analista Técnico Luana Vilutis
Analista Técnico Marcelo Cruvinel
Estagiário Anderson Marques
Estagiária Lisandra Alcântara
Estagiária Ivone Roque
Fonte: a autora, a partir de UFBA, 2012e, p. 6.
243
APÊNDICE 2
EQUIPES LOCAIS – COORDENADORES E ANALISTAS
TÉCNICOS
UF Município Consultores Formação Período de
Atuação
AM Manaus
Luciana Monteiro da Silva –
coord.
Pós-Graduação em Psicologia
Organizacional e Hospitalar
2005/2007
Fev a Ago
2012
Olavo Cesar Castro Mendes –
analista
Graduado em Direito Fev a Jul
2012
David Rychlewski Lungareze
– analista
Mestrado profissionalizante em
Engenharia de Produção.
Universidade Federal do
Amazonas
Jul a Out
2012
Rila Arruda da Costa –
analista
Mestrando em Sociologia.
Universidade Federal de
Amazonas
Out a Dez
2012
Ewerton Souza de Almeida –
coord.
Pós-Graduação em Gestão
Cultural Faculdades do Serviço
Nacional do Comércio –
SENAC/RIO
Set a Dez
2012
CE Fortaleza
João Paulo Vieira Neto –
coord.
Mestre em Patrimônio Cultural
pelo Programa de Especialização
em Patrimônio
Fev a Dez
2012
David Barbosa de Oliveira –
analista
Mestre em Direito pela
Universidade Federal do Ceará
Fev a Mar
2012
Vanessa Paula da Ponte –
analista
Mestrado em Sociologia
Universidade Federal do Ceará,
UFC, Fortaleza, Brasil
Abr a Dez
2012
ES Vitória
Vitor Graize Magalhães
Batista – coord.
Graduado em Comunicação
Social – Jornalismo pela
Universidade Federal do Espírito
Santo
Fev a Dez
2012
Vitor de Azevedo Lopes –
analista
Graduado em Comunicação
Social – Jornalismo pela
Universidade Federal do Espírito
Santo
Fev a Dez
2012
MA São Luís
Elizandra Rocha Araújo –
coord.
Graduada em Relações Públicas
pela Universidade Federal do
Maranhão
Fev a Dez
2012
Gislenaldo Machado Moreira
– analista
Graduado em Educação Física
pelo Centro Universitário do
Maranhão
Fev a Dez
2012
244
MG
Belo Horizonte
Paula Ziviani – coord. Doutoranda em Comunicação
Social pela Universidade Federal
de Minas Gerais
Fev a Out
2012
Mariana Ramos de Morais –
analista
Doutoranda em Ciências Sociais
pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais
Fev a Out
2012
Betim
Joanir Martins de Oliveira –
analista
Pós-Graduado em Gestão
Cultural – Pós-Graduação/MBA
UNA/BH
Fev a Set
2012
Denis Pereira Tavares –
analista
Doutorando em andamento em
História – Universidade Federal
de Minas Gerais, UFMG
Abr a Nov
2012
Sabará
Leonardo Alexandre Santiago
– analista
Pós-graduação em Gestão
Cultural (incompleta) pela UNA
(2010)
Fev a Set
2012
Santa Luzia
Tatiana da Silva Gomes –
analista
Mestre em Arquitetura pela
Universidade Federal de Minas
Gerais
Fev a Nov
2012
MS Campo Grande
Márcia Regina Ledesma –
coord.
Pós-Graduanda em Gestão
Cultural – Campo Grande/MS
Fev a Mai
2012
Lilian Verón Garcia – coord. Pós-Graduanda em Produção
Cultural – RJ
Fev a Jul
2012
Marlei Sigrist – analista Mestrado Fundação
Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul – Centro de
Ciências HU
Jun a Jul
2012
PB João Pessoa
Nara Limeira Ferreira dos
Santos – coord.
Mestre em Literatura pela UFPB Fev a Set
2012
Maria Luiza Duarte Melo –
analista
Especializada em Gestão e
Qualidade em Turismo –
UEPB/PB
Fev a Set
2012
Cristiane Guedes Fragoso –
coord.
Graduação em Cinema
Universidade Estácio de Sá/ Rio
de Janeiro – RJ
Out a Dez
2012
Heleno Bernardo Campelo
Neto – analista
Bacharel em Ciências Contábeis
é Produtor Executivo com
formação técnica
cinematográfica em Produção,
Direção, Roteiro, Trilha Sonora
Out a Dez
2012
PE
Olinda José Lopes da Cunha Junior –
analista
Especializado em Antropologia
Social no Museu Nacional RJ
Fev a Nov
2012
Recife
Tarciana Portella – coord. Especialização em Gestão
Cultural – Universidade de
Girona (Espanha) / Itaú Cultural
– cursando
Fev a Nov
2012
Fernando Bitencourt de
Souza Pires – analista
Bacharelado em Ciências Sociais
(direcionado para sociologia da
arte) – UFPE
Fev a Nov
2012
245
RJ Rio de Janeiro
Bruna Gomes Leite de
Carvalho – coord.
Mestre em Bens Culturais e
Projetos Sociais – CPDOC –
FGV
Fev a Dez
2012
Ana Lucia Ribeiro Pardo –
analista
Mestre em Políticas Públicas e
Formação Humana – UERJ
Fev a Dez
2012
RS
Porto Alegre
Laura Cristina Lautert –
coord.
Pós-Graduada em Economia
pela UFRGS – especialização
em Economia da Cultura
Fev a Dez
2012
Izabel Beatriz Gules Franco –
analista
Graduada em Direito –
especializada em Direito do
Autor da área musical
Fev a Jun
2012
Luciana Estácio Vaiçap de
Marchi – analista
Graduanda do curso de Direito –
Ulbra
Jul a Nov
2012
São Leopoldo
Nelson Peres Garcia Junior –
analista
Especializado em Gestão
Educacional pelo Serviço
Nacional de Aprendizagem
Comercial (SENAC)
Fev a Jul
2012
Alcido Anildo Arnhold –
analista
Pós-Graduação – Mestrado em
História – Área de concentração:
Estudos Ibero Americanos
Jul a Nov
2012
SC
Florianópolis
Marcelo Pereira Seixas –
coord.
Mestrando em Artes Visuais pela
Universidade do Estado de Santa
Catarina
Fev a Dez
2012
Francisco do Vale Pereira –
analista
Graduado em História Mar a Dez
2012
Joinville
Gabriel Medeiros Chati –
analista
Mestrando em Patrimônio
Cultural pela Universidade da
Região de Joinville
Fev a Jul
2012
SE
Aracaju
Janaína Couvo Teixeira Maia
de Aguiar – coord.
Mestranda do Programa
Multidisciplinar em Cultura e
Sociedade – UFBA
Fev a Dez
2012
Laíze Gabriela Benevides
Pinheiro – analista
Graduada em Direito pela
Universidade Federal de Sergipe
Fev a Dez
2012
Laranjeiras Hildênia Santos de Oliveira –
analista
Graduada em Museologia pela
Universidade Federal de Sergipe
Fev a Nov
2012
SP São Caetano do
Sul
Sérgio de Azevedo – analista Mestre em Artes Ciências pela
Universidade de São Paulo
Fev a Nov
2012
Fonte: a autora, a partir de UFBA, 2013b, p. 4-7.
246
APÊNDICE 3
EQUIPE DA 2ª EDIÇÃO DO PROJETO
Coordenação Geral Prof. Dr. Ernani Coelho Neto
Coordenador Técnico Prof. Dr. Horácio Nelson Hastenreiter Filho
Consultor Pedagógico Prof. Dr. José Márcio Barros
Conteudista e instrutora de equipes Neuza Hafner Britto
Consultora Ângela Andrade
Consultor Marcelo Cruvinel
Instrutora EAD Daniele Canedo
Analista Técnica Kátia Costa
Analista Técnica Luana Vilutis
Pesquisadora Justina Tellechea
Assessora de Comunicação Denise Gomes
Designer Instrucional Ana Paula Moreira
Designer gráfico Anderson Machado
Secretária Executiva Lisandra Alcântara
Estagiária Gleice Meneses
Fonte: a autora, a partir de EAUFBA (2014a, p. 21; 2015h, p. 3).
247
APÊNDICE 4
TEMAS RELACIONADOS NO QUESTIONÁRIO DE
INFRAESTRUTURA DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE CULTURA
Reconhecimento e Promoção da Diversidade Cultural
Informações solicitadas Metas relacionadas
Se havia realizado algum mapeamento da
diversidade cultural e quais segmentos tinham
sido contemplados.
Meta 3. Cartografia da diversidade das expressões
culturais em todo o território brasileiro realizado.
Se o Município conta com instrumentos legais de
proteção e valorização das culturas populares e
tradicionais e quais são. Meta 4. Política nacional de proteção e
valorização dos conhecimentos e expressões das
culturas populares e tradicionais implantada. Se tem Programa de auxílio financeiro para
mestres dos saberes e fazeres das culturas
populares e tradicionais.
Se o Município possuía política pública de cultura
voltada para a infância e juventude. Em caso
afirmativo, informe as ações e programas
desenvolvidos.
Meta 47. 100% dos planos setoriais com
representação no Conselho Nacional de Política
Cultural (CNPC) com diretrizes, ações e metas
voltadas para infância e juventude.
O Município tinha Política de Preservação do
Patrimônio Histórico, Artístico, Cultural e
Natural. Se sim, especificar.
Meta 5. Sistema Nacional de Patrimônio Cultural
implantado, com 100% das Unidades da
Federação (UFs) e 60% dos municípios com
legislação e política de patrimônio, aprovadas.
Desenvolvimento Sustentável da Cultura
Informações solicitadas Metas relacionadas
Se o Município possuía estudo sobre a cadeia
produtiva da economia da cultura e indicar qual o
segmento cultural o estudo foi realizado.
Meta 7. 100% dos segmentos culturais com
cadeias produtivas da economia criativa
mapeadas.
Se o Município reconhecia a existência de algum
território criativo em seus limites geográficos. Meta 8. 110 territórios criativos reconhecidos.
Se existia algum Projeto de apoio a
sustentabilidade econômica da produção cultural
local e especificar, caso exista.
Meta 9. 300 projetos de apoio à sustentabilidade
econômica da produção cultural local.
Se existia alguma ação cultural voltada para o
incremento do turismo no Município, informar
caso exista.
Meta 10. Aumento em 15% do impacto dos
aspectos culturais na média nacional de
competitividade dos destinos turísticos brasileiros.
O Município possuía informação sobre a
quantidade de postos de trabalho existentes no
setor cultural. Se afirmativo, especificar:
Quantidade de empregos formais.? Estimativa de
trabalhadores informais?
Meta 11. Aumento em 95% no emprego formal do
setor cultural.
Existia alguma ação de estímulo a formalização
no mercado de trabalho da cultura?
Se havia informações sobre a participação do
setor cultural no total das receitas próprias do
Meta 53. 4,5% de participação do setor cultural
brasileiro no Produto Interno Bruto (PIB).
248
Município Em caso afirmativo, informe o dado.
Educação e Produção de Conhecimento
Informações solicitadas Metas relacionadas
A disciplina de Arte está contemplada no
currículo escolar regular da Rede Municipal de
Ensino?
Meta 12. 100% das escolas públicas de Educação
básica com a disciplina de Arte no currículo
escolar regular com ênfase em cultura brasileira,
linguagens artísticas e patrimônio cultural.
Havia Programas de Educação continuada para os
professores de Arte. Meta 13. 20 mil professores de Arte de escolas
públicas com formação continuada. Considerando a totalidade dos Professores de
Arte, qual o percentual daqueles que possuem
Licenciatura na área.
Existia alguma iniciativa do Município para
Certificação pelo MEC dos seus Mestres de
Saberes e Fazeres (Rede Certific).
Meta 17. 20 mil trabalhadores da cultura com
saberes reconhecidos e certificados pelo
Ministério da Educação (MEC).
Indicação do número de escolas da educação
básica municipal que estão contempladas no
Programa Mais Educação.
Meta 14. 100 mil escolas públicas de Educação
Básica desenvolvendo permanentemente
atividades de arte e cultura.
Qual a média de livros lidos fora da escola, por
ano, por habitante com idade superior a cinco
anos no âmbito do Município. Meta 20. Média de quatro livros lidos fora do
aprendizado formal por ano, por brasileiro. Existia algum programa do Município, inclusive
em parceria com organizações do terceiro setor,
para incentivar a leitura fora da escola.
Quantas pessoas foram qualificadas por órgãos da
prefeitura em cursos, oficinas, treinamento,
fóruns, seminários com conteúdo de gestão
cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural
e demais áreas da cultura nos anos de 2009, 2010
e 2011.
Meta 18. Aumento em 100% no total de pessoas
qualificadas anualmente em cursos, oficinas,
fóruns e seminários com conteúdo de gestão
cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural
e demais áreas da cultura.
Qual o número de pessoas beneficiadas por ações
de fomento à pesquisa, formação, produção e
difusão do conhecimento, promovidas pela
Prefeitura nos anos de 2009, 2010 e 2011? Entre
as ações de fomento estão: o apoio a participação
em eventos científicos, há publicações e
distribuição de bolsas e prêmios para pesquisa,
formação, desenvolvimento de conhecimento no
campo da cultura, das linguagens artísticas e do
patrimônio cultural.
Meta 19. Aumento em 100% no total de pessoas
beneficiadas anualmente por ações de fomento à
pesquisa, formação, produção e difusão do
conhecimento.
O Município realiza ações de capacitação
destinadas a gestores das instituições e
equipamentos culturais municipais. Em caso
afirmativo, informe o número de gestores
capacitados.
Meta 35. Gestores capacitados em 100% das
instituições e equipamentos culturais apoiados
pelo Ministério da Cultura.
Fomento e Financiamento
Informações solicitadas Metas relacionadas
O Município fomenta a produção ou coprodução Meta 21. 150 filmes brasileiros de longa-
249
de filmes brasileiros de longa-metragem. Em caso
afirmativo indique o número de produções
fomentadas pelo Município nos anos de 2009,
2010 e 2011.
metragem lançados ao ano em salas de cinema.
Há pontos de cultura em funcionamento no
Município. Em caso afirmativo, informe a
modalidade de conveniamento (com a União; o
Estado ou o Município) e o número de pontos de
cultura existentes em cada modalidade.
Meta 23. 15 mil Pontos de Cultura em
funcionamento, compartilhados entre o Governo
Federal, as Unidades da Federação (UFs) e os
municípios integrantes do Sistema Nacional de
Cultura (SNC).
O Município possui política de fomento a núcleos
de produção digital voltada ao desenvolvimento,
formação, pesquisa, produção audiovisual e
experimentação na interface entre cultura,
comunicação, arte e tecnologia. Em caso
afirmativo, informe as ações e programas
desenvolvidos.
Meta 43. 100% das Unidades da Federação (UFs)
com um núcleo de produção digital audiovisual e
um núcleo de arte tecnológica e inovação.
Criação e Fruição
Informações solicitadas Meta relacionada
Há Política Municipal para a valorização e
expansão de grupos de criadores locais e estímulo
a experimentação artística de caráter profissional
ou amador, nas áreas de teatro, dança, circo,
conjuntos musicais, orquestras, corais, bandas,
artes visuais, desenho e pintura, associações
literárias e artesanato. Em caso afirmativo,
informar as ações e programas desenvolvidos.
Meta 22. Aumento em 30% no número de
municípios brasileiros com grupos em atividade
nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes
visuais, literatura e artesanato.
O Município possui núcleos de produção digital
audiovisual independente e núcleos de arte
tecnológica e inovação mapeados. Em caso
afirmativo, informar a quantidade.
O Município dispõe de acervo público de obras
audiovisuais, iconográficas, sonoras, do
patrimônio cultural e artístico que estejam em
domínio público ou licenciadas. Em caso
afirmativo, o acervo está disponível na internet.
Meta 40. Disponibilização na internet de
conteúdos que estejam em domínio público ou
licenciados.
O Município catalogou e inventariou o acervo de
suas bibliotecas públicas municipais, museus e
arquivos. Em caso afirmativo, o acervo está
disponível na internet?
Meta 41. 100% de bibliotecas públicas e 70% de
museus e arquivos disponibilizando informações
sobre seu acervo no SNIIC; Meta 40.
Disponibilização na internet de conteúdos que
estejam em domínio público ou licenciados.
Circulação, Difusão e Consumo
Informações solicitadas Meta relacionada
O Município promove ações de produção e
circulação de espetáculos e atividades artísticas e
culturais fomentadas com recursos públicos
federais? Em caso afirmativo, informe quanto foi
captado para este fim por área beneficiária nos
anos de 2009; 2010 e 2011.
Meta 24. 60% dos municípios de cada
macrorregião do país com produção e circulação
de espetáculos e atividades artísticas e culturais
fomentados com recursos públicos federais.
O Município desenvolve algum Programa de Meta 25. Aumento em 70% nas atividades de
250
incremento a difusão cultural em intercâmbio
nacional e internacional. Se esta atividade for
realizada em parcerias com os Governos Estadual
e Federal, indique o aporte de recursos específicos
por cada esfera, nos anos de 2009, 2010 e 2011.
difusão cultural em intercâmbio nacional e
internacional.
Qual a frequência anual de público nas práticas
artísticas e culturais desenvolvidas em museus,
centros culturais, cinemas, teatros, circo, dança e
música.
Meta 28. Aumento em 60% no número de pessoas
que frequentam museu, centro cultural, cinema,
espetáculos de teatro, circo, dança e música.
Ampliação e Qualificação de Espaços Culturais
Informações solicitadas Meta relacionada
Qual a porcentagem de equipamentos culturais
públicos e privados que atendem aos requisitos
legais de acessibilidade às pessoas com
deficiência.
Meta 29. 100% de bibliotecas públicas, museus,
cinemas, teatros, arquivos públicos e centros
culturais atendendo aos requisitos legais de
acessibilidade e desenvolvendo ações de
promoção da fruição cultural por parte das
pessoas com deficiência.
Existem cineclubes em funcionamento no
Município.
Meta 30. 37% dos municípios brasileiros com
cineclube.
Quantifique o número de equipamentos culturais
existentes no Município, sejam eles públicos ou
privados. Especifique a resposta por equipamento:
bibliotecas; museus; cinemas; teatros ou salas de
espetáculo; arquivos ou centros de documentação;
centros culturais. No caso dos equipamentos
públicos, indique a esfera de governo responsável.
Meta 31. Municípios brasileiros com algum tipo
de instituição ou equipamento cultural, entre
museu, teatro ou sala de espetáculo, arquivo
público ou centro de documentação, cinema e
centro cultural; Meta 32. 100% dos municípios
brasileiros com ao menos uma biblioteca pública
em funcionamento.
As bibliotecas públicas e museus municipais
foram modernizados nos últimos 5 anos? A
modernização dessas instituições refere-se às
ações de aprimoramento de suas instalações ou
aquisição de equipamentos, material permanente
ou acervos, visando atender às suas atividades-
fim.
Meta 34. 50% de bibliotecas públicas e museus
modernizados.
A Prefeitura dispõe de algum espaço cultural
integrando esporte e lazer em funcionamento?
Meta 33. 1.000 espaços culturais integrados a
esporte e lazer em funcionamento.
Participação Social
Informações solicitadas Meta relacionada
O Município indicou delegados para o Colegiado
Setorial do Conselho Nacional de Política
Cultural (CNPC)? Em caso afirmativo, informe se
o Município possui representantes setoriais no
CNPC e quais são eles:
Sem correlação com metas do PNC.
O Município utiliza alguma plataforma de
governança colaborativa como instrumento de
participação social? Em caso afirmativo, informe
o número de usuários:
Meta 48. Plataforma de governança colaborativa
implementada como instrumento de participação
social com 100 mil usuários cadastrados,
observada a distribuição da população nas
macrorregiões do país.
Identifique as lideranças capazes de fazer Sem correlação com metas do PNC.
251
intermediação entre diferentes setores da cultura e
da sociedade. Informe o nome da liderança;
instituição; grupo ou movimento que representa e
o setor de atuação.
Fortalecimento Institucional e Articulação Federativa
Informações solicitadas Meta relacionada
Liste os documentos oficiais que têm repercussão
no campo cultural. Exemplo: Plano Municipal de
Educação; Plano de Desenvolvimento Urbano;
planos e projetos estratégicos; resultados de
conferências municipais – educação, juventude,
mulheres, dentre outras; memória das
conferências municipais de Cultura e conferências
setoriais etc.
Sem correlação com metas do PNC.
Fonte: a autora, a partir de MINC (2012a) e UFBA (2012d).
252
APÊNDICE 5
APRESENTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO DA INSTITUCIONALIDADE
DA CULTURA
Tema Informações solicitadas
Integração ao
Sistema Nacional de
Cultura
- Sobre assinatura do protocolo de intenções do SNC;
- Sobre participação do Município na Oficina do SNC;
- Se houve alguma articulação municipal para discussão sobre a sua adesão
ao SNC;
- Quais deliberações e resultados alcançados;
- Sobre a existência e legalidade do SMC;
- Se o Município participou do Seminário Nacional de Cultura.
Órgão Gestor de
Cultura
- Se o Município possui um Órgão de Cultura e qual o seu formato
institucional;
- Informar sobre documentos que legalizam o referido Órgão
(estatutos/leis/organograma/regimento interno).
Conselho Municipal
de Política Cultural
- Se existe Conselho de Política Cultural, sua composição e forma de
escolha;
- Quais os setores e segmentos representados no Conselho, tanto do poder
público quanto da Soc. Civil.
Fóruns de Cultura
- Se existem fóruns organizados, quem são eles e se são vinculados ao
Conselho de Política Cultural;
- Se o Município participa de fóruns de gestores de cultura e quais são eles.
Conferências de
Cultura
- Se o Município já realizou conferências e a data de realização destas, qual o
número de participantes e suas principais deliberações;
- Se o Município participou de conferências estaduais de cultura e se houve
indicação de algum delegado para a conferência nacional de cultura em
2005.
Sistema Municipal de
Financiamento à
Cultura
- Sobre orçamento municipal e orçamento para a cultura e seu percentual em
relação ao orçamento municipal;
- Se o município possui fundo de fomento cultura e qual o volume de
recursos executado anualmente e quais os projetos contemplados;
253
- Se o Município possui lei de incentivo à cultura, qual o volume de recurso
executado anualmente e quais projetos foram contemplados.
Plano Municipal de
Cultura
- Se existe plano de cultura e ano de elaboração;
- Se foi elaborado para ser executado num mandato de quatro anos (plano de
governo) ou ultrapassa a vigência de vários mandatos (plano de estado);
- Se foi transformado em lei pelo legislativo municipal;
- Resumo do andamento do processo de elaboração mais as principais
diretrizes do plano.
Sistemas Setoriais
Municipais de
Cultura
- Se existe sistema setorial de cultura e se estão integrados aos sistemas
setoriais estaduais e nacionais de cultura;
- Se existem conselhos dos sistemas setoriais e informar a sua composição e
forma de escolha dos membros;
- Solicita encaminhamento da legislação existente acerca desses conselhos.
Sistema Municipal de
Informações de
Indicadores Culturais
- Se existe algum tipo de sistema de informações e indicadores culturais e
quais os principais dados cadastrados no sistema;
- Se o sistema já possui formulação de indicadores;
- Quais os principais usos das informações e indicadores;
- Se esse sistema está integrado a outros sistemas, indicando-os.
Programa Municipal
de Formação na Área
da Cultura
- Se existe Programa de Formação na área da cultura, em que áreas, quais os
formatos e quais públicos são beneficiados;
- Se o Município participa de algum programa estadual de cultura e qual;
- Se os gestores municipais já participaram de alguma formação em cultura,
promovida pelo Governo Estadual ou Federal.
Programas
Federativos na Área
da Cultura
- Se o Município desenvolve algum projeto ou ação em parceria com o
MinC, se possuir, indicar os documentos legais relacionados ao projeto ou
ação, como informar sobre objetivos, valor e prazo de vigência.
Fonte: a autora, a partir de UFBA (2012f).
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