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GT. Nº08 - NOME DO GT: A Cidade: Políticas Públicas e os
Territórios da Política
O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE O
SERVIÇO SOCIAL1
Leni Maria Pereira Silva2
leni_25@outlook.com
Luciene Rodrigues3
rluciene@unb.br
RESUMO
Pode-se considerar que a entrada do Serviço Social no processo de urbanização foi um catalisador de
novas reflexões acerca da identidade e da responsabilidade ético-políticas da profissão – neste momento
– se define as novas diretrizes da profissão junto à defesa dos direitos sociais. O entendimento que se
tem é que o movimento de modernização pelo qual passou o país no período de 1950 a 1980 (auge do desenvolvimentismo, mudança na base econômica e chegada da industria ) forjou um frenético
processo de asseveramento da questão social e contribuiu sobremaneira com a ampliação dos espaços
sócios ocupacionais dos profissionais de Serviço Social. Isso posto, indaga-se em que medida a profissão é requisitada e quais os caminhos trilhados pelos profissionais a partir da sua inserção na
realidade social brasileira pós processo de urbanização?. Ainda, o processo de urbanização das cidades
corroborou para a institucionalização e ampliação das demandas postas ao Serviço Social e, que este no
mesmo período passava por mudanças internas (questionamento do legado teoria positivista e sua abordagem metodológica funcionalista ) e externas (sua relação com o Estado, Empresa e Movimentos
Sociais) e acelera o processo de oferta de serviços públicos e a demanda por construção de uma
mediação profissional. Este texto tem como objetivo traçar reflexões acerca do objeto de pesquisa desenvolvido na tese de doutoramento,bem como trazer uma reflexão crítica acerca das implicações do
processo de urbanização a despeito da requisição do Assistente Social em tempos de redefinição de
acumulação do capital. Esta relação se torna importante a partir das reflexões acerca das transformações orquestradas pela lógica capitalista junto ao conjunto da sociedade e a constituição identitária do/para o
Serviço Social. Sob este aspecto entende-se que a questão urbana e os processos erigidos na sociedade a
partir da reestruturação produtiva são fundamentais para o entendimento dessa demanda e
institucionalização de práticas do profissional de Serviço Social.
Palavras-chave: Urbanização, profissão, Serviço Social.
1 Texto faz parte das discussões em andamento da tese intitulada “ O trabalho dos assistentes sociais em tempos de
reestruturação produtiva.Uma análise das condições de trabalho dos assistentes sociais em Montes Claros-MG”
2 Doutoranda em Ciências Sociais DINTER/UNIMONTES/UERJ. Mestre em Desenvolvimento
Social/UNIMONTES. Professora do Curso de Serviço Social Unimontes.
3 Doutora em Economia/USP. Professora do PPGDS/Unimontes. Professora do Departamento de Economia da
Unimontes.
2
Palavras-chave: Resumo. Artigo. Texto. Congresso. Desenvolvimento.
ABSTRACT
One can consider that the entry of Social Work in the urbanization process was a catalyst for new ideas
about the identity and the ethical and political responsibility of the profession - this time - defines the new guidelines of the profession with the protection of social rights. The understanding we have is that
the modernization drive has gone through the country in the period 1950-1980 (the peak of
developmentalism, change in economic base and arrival Industries) has forged a frantic process asseveramento of social issues and contributed greatly to the expansion of occupational partners spaces
of Professional Social Work. That said, inquires into the extent to which the profession is required and
what the paths taken by professionals from its insertion in the Brazilian social reality after urbanization?.
Still, the process of urbanization of cities corroborated for the institutionalization and expansion of demands posed by Social Services and, in this same period was undergoing internal changes
(questioning the positivist legacy and his functionalist theory methodological approach) and external (its
relation to the State, Business and Social Movements) and accelerates the delivery of public services and the demand for building a professional mediation. This paper aims to trace reflections on the subject of
research developed in the doctoral thesis as well as bring a critical reflection on the implications of the
urbanization process in spite of the request of the social worker in times of redefinition of capital
accumulation. This relationship becomes important from the reflections on the transformations orchestrated by the capitalist logic along the whole of society and identity constitution to / from the
Social Service. In this respect it is understood that urban issues and processes in society erected from the
productive restructuring are key to understanding this demand and institutionalization of practices and professions.
Keywords -: Urbanization, profession, social work.
Serviço Social e os espaços ocupacionais
As discussões acerca das crises do sistema capitalista e seus impactos sobre a
centralidade do trabalho têm ocupado os estudos de renomados cientistas sociais e demais áreas
ligadas à problemática da sociedade e, dentre estes, pode-se citar são Marx, 2013, Mészáros,
2011; Antunes, 2006-2013, entre outros. Dentre outros temas, elucida-se que a partir do fim do
século XX tais discussões são vetor de significativas transformações nas relações sociais no
tocante a questões de ordem econômica, social, política e cultural.
Acerca das crises, todos são unânimes sobre elas se constituírem de caráter cíclico, de
impacto forte sobre a sociabilidade e de efeitos deletérios sobre as conquistas que os
trabalhadores acumularam nas duas últimas décadas do século passado. Aponta-se também que
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convive-se com efeitos “de longa duração”, da crise de 1970, que alterou todo o modus
operandi, em que a centralidade do trabalho passa a ganhar novas reflexões em virtude dos
efeitos nocivos que este – o trabalho – recebeu com o fim do modelo fordista/keyneisiano e
com a entrada da tecnologia.
O Serviço Social, a partir da década de 1980, passa a ser considerado uma
especialização do trabalho coletivo, dentro da divisão sócio-técnica do trabalho e, dessa forma,
o Serviço Social é inserido no processo de produção e reprodução das relações sociais.
(IAMAMOTO e CARVALHO, 2005). Essa identidade foi construída dentro de um coletivo de
esforço intelectual que perseverou até a década de 1990, auge da legitimação da identidade
social e institucional junto a outros setores da sociedade.
Nesta perspectiva, as discussões acerca dos espaços ocupacionais fazem parte da
totalidade histórica em que o Serviço Social se conduziu considerando as formas assumidas
pelo capital no processo de revitalização da acumulação no contexto da crise econômica. Sob o
comando de uma lógica financeira mundializada em busca dos “super lucros”, transmutada nas
ações empreendidas pela acumulação flexível foram provocadoras de severas alterações, como
já sinalizado no item anterior, no campo dos direitos sociais do trabalho. Sob este aspecto, cabe
frisar que a intensificação da exploração do trabalho e expansão do controle da propriedade
territorial se constituíram enquanto estratégias de expansão da acumulação, como bem
pontuado por Iamamoto (2009).
Por meio do que foi descrito, a relação entre Estado e sociedade, que nunca foi muito
amistosa, começa a declinar na década de 1990, dada a retração do Estado e a destinação dos
recursos públicos; a tecnologia e as formas de organização da produção de bens e serviços; o
consumo e controle da força de trabalho e as expressões associativas da sociedade civil,
entendida enquanto sociedade de classe. Tal situação é ainda gravada pelo incessante “modo de
regulação” impulsionado pelo mercado por meio do incremento da competição e
individualismo e a desarticulação das lutas coletivas. É, sob este contexto, que se “assiste” um
frenético processo de privatização da coisa pública, que Iamamoto (2009) denominará de
“mercantilização da satisfação das necessidades”. Segundo a autora:
O bem-estar social tende a ser transferido ao foro privado dos indivíduos e
famílias, dependente do trabalho voluntário ou dos rendimentos familiares dos diferentes segmentos sociais na aquisição de bens e serviços mercantis,
restando ao Estado, preferencialmente, a responsabilidade no alívio da
pobreza extrema. (IAMAMOTO, 2009, p.342).
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Essa ausência do Estado, na regulação da vida social corrobora se constata, sobretudo
no agravamento das condições de vida da população. Um fator que merece destaque é o
crescimento do desemprego, mesmo período de “alívio econômico”. O fato de a inflação está
sob controle não tem representado ampliação em massa de e/ou novos postos de trabalho, na
verdade, o que se vê é uma diversificação da desregulamentação e informatização das relações
de trabalho e do aprofundamento de formas precárias de inserção no mundo do trabalho.
Isso tem agudizado a questão social e descaracterizado seus efeitos ao longo dos
tempos. O alargamento das desigualdades ligadas à luta de classes vai intensificando e
desenvolvendo nos elementos, ou seja, as múltiplas expressões dizem sobre uma realidade
erguida sob as tensões sociais, situações as quais corroboram, nas últimas décadas, para a
ampliação do mercado de trabalho dos assistentes sociais. É, num terreno de “contradições”,
que carece de uma capacidade de “resistência” que, nos últimos tempos, têm-se o trabalho dos
assistentes sociais, haja vista o novo formato de “retração dos recursos públicos destinados às
políticas sociais” e o custo que isso representa para a economia política do trabalho.
Desta forma, considera-se que muitos dos espaços que os assistentes sociais atuam
carregam consigo uma história particular. Espaços que podem ser concebidos como refrações
das condições do trabalho, em detrimento das condições que não são transitórias, que apensar
de demonstrar um caráter de prevalência em sua história, entretanto não se mostram “aquém”
da capacidade acelerada do contexto atual dada à base técnica e às inovações advindas do
mundo tecnológico cujas quais estão, como palavra de ordem, para ampliação da produtividade
e intensificação do trabalho.
O mercado profissional do assistente social está inserido neste contexto e em meio à
diversificação dos espaços ocupacionais e, ao mesmo tempo, trazendo novas demandas e novas
proposta de intervenção e, ainda, exigindo novas capacidades e competências para o
profissional.
Segundo Iamamoto (2009), o espaço profissional no mundo do trabalho deve ser
compreendido sob o significado de sua construção e requisição. Demarca o caráter histórico da
formação e construção da profissão enquanto um produto socialmente determinado. A despeito
destas considerações, a autora ainda assinala sobre o condicionamento que:
Pelo nível de luta pela hegemonia que se estabelece entre as classes
fundamentais e suas respectivas alianças; b) pelo tipo de respostas
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teórico-práticas densas de conteúdo político dadas pela categoria profissional. (IAMAMOTO, 2009, p.344)
Sob este argumento, considera-se que essas duas situações que colocam o Assistente
Social no campo das disputas e defesa de outra ordem, diz muito dos compromissos que a
categoria assumiu, nos anos 1980. No entanto, os espaços em que estão inseridos são forjados
em meio a processos contraditórios, dada a absorção que cada um, ao seu modo e construção,
absorve os efeitos das lutas sociais e tensões entre as classes.
A condição de trabalhador assalariado colocada ao Assistente Social traz novas
situações para a profissão. De um lado, uma notável autonomia no bojo de suas atribuições e
competências, a qual é socialmente legitimada pela formação acadêmica e pelo aparato legal e
organizativo da categoria. De outro lado, a capacidade de mediação do trabalho assalariado
dentro dos serviços sociais desenvolvidos pelo Estado e no setor privado e que tem como carro
chefe, o Serviço Social. Essa condição, como bem sinalizou Castel (1998), a industrialização
que deu origem à condição assalariado e, nos tempos modernos, a grande empresa estabeleceu a
relação salarial em novos padrões.
Pensar numa remuneração que se aproxima do que hoje chamamos de renda mínima
tanto agora como nos tempos de outrora, era o suficiente apenas para assegurar a reprodução do
trabalhador e de sua família, no entanto não permitisse investir no consumo. Segundo Castel,
uma relação salarial estaria organizada sob a base o salário, instrumento com capacidade de
regular o modo de consumo e o modo de vida dos operários e de sua família, uma forma de
disciplina do trabalho que regulamenta o ritmo da produção e o quadro legal que estrutura a
relação de trabalho, isto é, o contrato de trabalho e as disposições que o cercam. (CASTEL,
1998, p.419).
Todavia, acerca da condição de vendedor da força de trabalho, o que resta ao
trabalhador para consumir são os elementos necessários para sua reprodução e da sua família,
haja vista, os valores que são destinados aos trabalhadores ao concluírem a jornada de trabalho.
O mesmo autor acrescenta ainda que:
A salarização da sociedade cerca o operariado e subordina-o novamente, desta vez sem a esperança de que possa, um dia, impor sua liderança. Se todo
mundo, ou quase, é assalariado (mais de 82% da população ativa em 1975), é
a partir da posição ocupada na condição de assalariados que se define a
identidade social. Cada um se compara a todos, mas também se distingue de
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todos; a escala social comporta uma graduação crescente em que os assalariados dependuram sua identidade, sublinhando a diferença em relação
ao escalão inferior e aspirando ao estrato superior. (CASTEL, 1998, 417).
Se, por um lado, o salário provocou a redução do homem a um objeto de produto da
sociedade capitalista, ao ser formado sob uma perspectiva de “força de trabalho”, por outro
lado, nos tempos modernos, a redução dos postos de trabalho faz com que o desemprego e a
crescente exclusão de um considerável número de trabalhadores do mercado de trabalho seja
compreendida sob uma nova lógica de regulação e controle sob o trabalhador. A expulsão não
tem sido temporária dada às reduzidas oportunidades de reintegração no mercado de trabalho
em virtude da restrição de vagas existentes. Segundo Iamamoto (2005), Aliando este fenômeno
com o distanciamento do Estado frente ao acirramento da questão social e a desindustrialização,
corroboram com o crescimento da pobreza e da miséria, desmantelamento dos direitos sociais,
fenômenos que nos últimos tempos são catalizadores de outros fenômenos. A autora recorda
também que:
Ainda que o trabalho assalariado formal na industria se reduza com as alterações na divisão social do trabalho, o trabalhador passa a viver um duplo
e radical tormento: ser um trabalhador livre que depende do trabalho para se
reproduzir e não encontrar oportunidade de trocar sua força de trabalho por
meios de vida, seja via relação típica salarial ou outras formas de venda de seus serviços, que fogem aos critérios da lucratividade. (IAMAMOTO, 2005,
p.87).
A entrada do Serviço Social no mercado de trabalho (seja no seu início ligado ao poder
da Igreja, a partir da década de 1940, incremento de serviços pelo Estado ou, na sequência, da
ampliação dos postos de trabalho em virtude da institucionalização e legitimação junto aos
outros setores) deve-se ao uso da sua “prática profissional” transmutada em “prática social” sob
o comando de uma racionalidade formal abstrata. Segundo Tavares (2012), isso representará a
penetração das idéias positivistas durkheimianas e de seu desdobramento funcionalista que
fortalece, no Serviço Social, uma ênfase nas atividades técnicas de viés instrumental, pautadas
na racionalidade formal abstrata.
Esse período marca o “tecnicismo” do Serviço Social de neutralidade, atribuindo um
caráter técnico científico a esse campo, absorvido pelo perfil tecnocrático das ciências sociais
americanas. A técnica é utilizada tendo um fim em si mesma. A formação convive, ainda com
princípios doutrinários, mas com um forte aporte técnico-científico, sistematizado e fortalecido,
na década de 1960. Além disso, uma vinculação em virtude das determinações econômicas que
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estavam submetidos os profissionais. As determinações seguem para todos as profissões, no
caso especifico do Serviço Social, elas se dão num processo mais intensificado dada a relação
que o seu trabalho tem com o enquadramento e controle dos demais trabalhadores.
Outro aspecto que deve ser considerado é a relação entre Serviço Social e pobreza, cuja
restrição é construída acerca da atuação e competência no trato da questão social, o que fez com
que a profissão fosse relegada a uma função de receptáculo da pobreza. Um entendimento
predominante/predomina é que o Serviço Social, dada a sua gênese e metamorfoses não
conseguiu superar a sua condição de interventor em situações ligadas a pobreza. Segundo
Iamamoto (2005), as dificuldades que incidem sobre o Serviço Social no tocante a sua alocação
no mercado de trabalho estão, em tempos históricos, vinculadas ao agravamento da pobreza,
uma definição “gueto” exclusivo de atuação profissional, extensivo a agudização da questão
social e suas expressões.
O trabalho do assistente social estaria relegado ao “privilegiamento” aos segmentos
mais pauperizados da população, excluídos dos direitos sociais ou com precário acesso efetivo
aos serviços. Neste sentido, o mais importante aqui, é priorizar a prestação dos serviços
públicos não mercantilizados para o atendimento independente da profissão, o Serviço social
dispõe de algumas características típicas de uma profissão liberal: a existência de uma relativa
autonomia, por parte do assistente social, quanto à forma de condução de seu atendimento junto
aos indivíduos e/ou grupos sociais com os quais trabalha.
Aqui se define socialmente a profissão, que tem um valor junto ao seu empregador (seja
qual o setor) e junto ao público que o demanda ou que deverá atender. Essa inserção é mediada
por uma relação de compra e venda da força de trabalho. Nesta perspectiva, ressalta-se o
interesse de compreender essa relação da prática profissional, em meio às determinações que o
trabalho exige e apreender a sua condição de assalariado. Essa nova condição diz muito das
novas inserções profissionais, bem como dos processos que foram instaurados que
comprometeram as condições de trabalho dos assistentes sociais, isto é, a condição de
trabalhador livre que dispõe da sua força, de relativa autonomia, mas que é trabalhador
assalariado.
Uma profissão que afirma seu projeto de sociedade dotado de uma capacidade
prático-social desencadeada especificamente em virtude da liberdade e de construções
teleológicas que “saltam” de habilidades projetivas e buscam materializá-las na vida social. No
entanto confronta-se e é confrontado com uma condição posta de ser assalariado. Situação que
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expõe sua subordinação aos interesses dos empregadores e determinações externas aos
indivíduos singulares que, como o Serviço Social, consta de defesa da liberdade e se constitui
do quão deve resistir e lutar. Um dilema entre causalidade e teleologia, entre momentos de
articular estrutura e ação do sujeito (IAMAMATO, 2009).
Isso posto, o trabalho do assistente social é impregnado de significações. Mas estando
esse situado no jogo de interesses, é um trabalho impregnado de sociabilidade da sociedade
capitalista, com potencial mediante as contradições que convivem no exercício profissional. Ao
passo que é carregado de determinações é o lugar da execução e defesa de outra ordem
diferente, alavancada pelo posicionamento teórico-prático dos profissionais ante aos projetos
societários em vigor. Quanto a isso, Iamamoto esclarece que:
O exercício profissional tem sido abordado em sua dimensão de trabalho concreto, útil: em seu valor de uso social, como uma atividade programática e
de realização que persegue finalidades e orienta-se por conhecimentos e
princípios éticos, requisitando suportes materiais e conhecimentos para sua efetivação. (IAMAMOTO, 2009, p.351)
Nesta perspectiva, acerca do reconhecimento do trabalho do assistente social é
importante localizá-lo no seu devido valor, como componente do conjunto dos trabalhadores,
todavia a sua inserção na produção e distribuição de valor e da mais valia lhe concede sua maior
contradição.Um trabalho abstrato que está contido no trabalho socialmente produzido, mas que
vende sua força de trabalho e que produz valores junto aos empregadores e trabalhadores, haja
vista que a produção realizada, dos seus valores, adentram a realidade tanto de quem recebe
quanto de quem paga pela ação, propriamente, realizada. Desta forma, o Serviço Social é uma
profissão que também tem o seu produto destinado à satisfação de necessidades de outrem e, ao
produzir via intervenções reflexivas e práticas, ele corrobora sobremaneira com o
estabelecimento de novas relações que, em tempo, irão criar novas necessidades. Sua
capacidade teleológica, no âmbito do trabalho, assenta-se na habilidade projetiva e idealizada
de uma sociedade distinta da qual/pela qual se vive.
Sobre esses aspectos, já discutidos nos itens anteriores e por compreender a constituição
histórica e dialética desses para as reflexões deste item, considera-se a identidade atribuída e
ampliação do mercado de trabalho nos momentos de crise do capitalismo.
No Brasil, o Serviço Social também foi marcado pelo vínculo com a classe burguesa, já
que teve seu surgimento direcionado pela ação da Igreja Católica. Essa estreita relação da Igreja
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com o Estado marcou profundamente o Serviço Social, este teve sua identidade atribuída
apenas pela prática conservadora desenvolvida e não pelo entendimento dessa prática inserida e
institucionalizada no interior de um sistema de classes, que expressa seu caráter contraditório
atendendo as demandas da classe trabalhadora. Segundo Martinelli (1997, p. 124): “[...] a
identidade atribuída ao Serviço Social pela classe dominante era uma síntese de funções
econômicas e ideológicas, o que levava a uma produção de uma prática [...]”, sendo que a qual
se expressava fundamentalmente como um mecanismo de reprodução das relações sociais de
produção capitalista, e esta como estratégia para afiançar a expansão do capital.
Do período de seu surgimento no Brasil, datado da década de 1930, e as décadas que
sucederam marcaram proficuamente o Serviço Social, mesmo estando ligado às bases de Igreja
Católica e se desenvolver sob as perspectivas tomistas, a profissão galgou um processo de
legitimação. No entanto seu maior reconhecimento institucional veio na década seguinte
quando do processo assumido pelo Estado (era Vargas) para consolidação do capitalismo tardio
de base industrial. É, neste período, que os Assistentes Sociais estarão compondo novas frentes
de trabalho, especialmente nas ações desenvolvidas pelo Estado doravante vinculadas ao
processo de transição entre uma economia tipicamente agroexportadora para uma que se
espraiava pelo mundo, de base industrial e tecnológica.
Expostas essas questões, delineia-se alguns pontos: O primeiro, sobre uso da
intervenção profissional para atender aos propósitos dos fatos conjunturais do período pós
1945. Foi neste período que o Serviço Social esteve mais presente. Numa atuação “de costas
para o povo” e de intervenção sob os comandos estatais/mercado, o Serviço Social
desenvolve-se sob uma perspectiva modernizadora de cunho reformista e funcionalista. Sob a
lógica de uma racionalidade formal abstrata desenvolve estratégias de controle da população
por meio de instrumentais criados sob o modelo norte-americano e europeu de herança
conservadora. É, neste período, que retoma-se a base tomista, inserindo uma novo perspectiva –
a neotomista – aliada à ideia da personificação, ainda carregada de significados humanitários e
de personificação dos “problemas sociais”. Uma ritualização da fenomenologia que Netto
(1999) denuncia como uma proposta interventiva em casos, grupos e comunidade sob o signo
do diálogo psicologizante.
A restrição a uma profissão meramente interventiva trouxe para o Serviço Social
prejuízos no âmbito da defesa de sua necessidade social e política. Aspectos relacionados a uma
intervenção que desconsiderava a realidade e os efeitos mais nocivos da macroestrutura sobre
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as relações sociais. O posicionamento acrítico e apaziguador e uma teoria repleta de um
moralismo institucional conservador, procurou esse reducionismo da profissão. Como muito já
se ouve: “para trabalhar com pobre não precisa estudar”, a benevolência e a caridade ainda
definiam o perfil de profissional exigido pelo Estado e, especialmente pelo mercado, uma vez
que esses deveriam, propriamente, retratar sua relação com o plano ideológico burguês que
estava em curso.
O segundo ponto trata da década de 1970 e a efervescência dos movimentos sociais na
década de 1980 são canalizadores de rupturas no interior do Serviço Social. Sobre tal período, o
movimento cultural que emergiu na década de 1960 e a agudização das precárias condições de
vida da população, somando a isso, a efeverscência dos movimentos sociais provocaram novos
contornos na profissão. É, neste período, que os ares da reflexão críticas acerca dos elementos
constitutivos da realidade social em que o Brasil já ensaiava seus passos para entrar numa crise
econômica e que passou a definir os rumos para a profissão. O Movimento de Reconceituação
surge enquanto um movimento interno do Serviço Social, mas de repercussões em todos os
poros da sociedade, haja vista que a partir deste a sociedade deixou de ter um agente
controlador para ter um integrante ativo em defesa dos direitos sociais. Entende-se que o
Movimento de Reconceituação não atingiu toda a categoria, mas uma expressiva “massa
crítica” passou a conceber a necessidade de revisar as teorias e metodologias que conduziram
sua trajetória até este momento. E o fruto foi um posicionamento em defesa dos direitos e
instaura um processo fecundo e necessário de rompimento com o conservadorismo. Movimento
este que perdura até os tempos atuais.
O terceiro ponto denota os novos espaços sócio-ocupacionais no período de chegada da
reestruturação produtiva no Brasil emplacando novos espaços de trabalho. E sobre isso, pode-se
elencar:
a) A elevação da Política de Assistência Social como política pública;
b) Implantação das legislações sociais voltadas aos segmentos vulneráveis, que
destaca-se Estatuto da Criança e do Adolescente;
c) Novos espaços sócio-ocupacionais com a entrada da reestruturação produtiva e a
implantação das diretrizes de uma economia flexível implantada por via da
flexibilização e terceirização;
d) A Chegada do século XXI e a implantação de Sistema Único de Assistência Social
ampliam a inserção no mercado de trabalho e mantém o serviço público como o
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maior empregador de mão-de-obra dos profissionais de Serviço Social, seguido pelo
mercado e, no terceiro lugar, pelas organizações não governamentais.
Os assistentes estão sujeitos, como todos os demais trabalhadores, às mesmas
tendências do mercado de trabalho, sendo inócua qualquer iniciativa isolada de cunho
corporativista para a defesa do “seu trabalho específico”. Sobre essa assertiva assenta-se a
defesa da pesquisa, embora se considere necessário entender que os problemas do mundo do
trabalho não incidem de forma privilegiada numa única profissão, mas a profissão pode
absorver esses efeitos de modo peculiar, assim como reconhecer-se enquanto trabalhador.
Nota-se que foi o grande “salto” do Serviço Social para projetar-se para outros espaços, para
além da filantropia ou caridade/enquadramento institucional e avançar no contexto em que
emergem as contradições. Esse movimento do Serviço Social requer um profissional que
entenda das conjecturas, eminentemente políticas e éticas acerca da complexidade que se
instalou no campo da defesa de direitos sociais ao trabalho.
Segundo Iamamoto (2005), para situações que incidem diretamente sobre o cotidiano
daqueles que são trabalhadores, no caso do Serviço Social, que também convivem com
insegurança do trabalhado ou com a redução dos postos de trabalho não é peculiar o caso do
Assistente Social. Define a autora, que para um contexto desta natureza, é preciso ações
comuns que fortaleçam a capacidade de articulação e organização mais ampla e coletiva de
trabalhadores. Manter e estreitar as articulações do movimento dos trabalhadores e usuários é
um caminho fortuito para a defesa da profissão.
Mas essa heterogeneidade de situações que incidem sobre a vida dos trabalhadores não
deve ser entendida como perspectivas comuns para todas as profissões. Neste sentido,
compreender as incidências específicas para o Serviço Social que afetam diretamente o
mercado de trabalho e o espaço ocupacional dos assistentes sociais, alterando-o no bojo das
mudanças macro-societárias é o caminho para estabelecer as estratégias que ecoaram na defesa
da profissão bem como nos direitos sociais ligados ao trabalho para todo tipo de trabalhador.
No mercado de trabalho dos assistentes sociais, na década de 1940, era definido um
perfil “funcionário público” para os Assistentes Sociais, já nos tempos atuais, convive-se com
uma diversidade de áreas de atuação. Em se tratando das novas expressões da questão social o
que se tem é um alargamento dos espaços de atuação surgindo novas vagas e campos totalmente
novos.
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o fenômeno da reestruturação produtiva intensifica a questão social, e esta e suas novas
formas de manifestação. Alia-se aqui a questão ambiental4 e a violação de direitos que
apresenta para o Serviço Social enquanto seu maior desafio e objeto de intervenção. A
compreensão que se tem de sua historicidade e desenvolvimento assenta-se em dois pontos: No
primeiro ponto, a sua relação histórica com a entrada da sociedade de classes, fator
determinante para o seu surgimento. Diz respeito ao conjunto das expressões das desigualdades
sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do
Estado (IAMAMOTO, 2001, p.16).
O segundo ponto está “emaranhado” pelo primeiro, mas que se avoluma em detrimento
dos fatores que acontecem no tempo presente. A questão social tem uma raiz histórica, mas que
se metamorfoseia à medida que as relações sociais constroem novos processos, como ou uso
dos recursos naturais, a violação de direitos (em um contexto em que o direito – social, político
e civil – já é algo averbado). Ela evidencia a imensa fratura entre o desenvolvimento das forças
produtivas do trabalho social e as relações sociais que o sustentam.
No bojo destas mudanças, o maior incremento da força de trabalho do Serviço Social foi
nos aspectos urbanos que começaram a delinear as “novas expressões da questão social
brasileira”, tendo em vista o movimento de modernização econômica (industrialização)
vinculada a uma ampla base tecnológica. E, neste momento, as mudanças estruturais foram
4 Sobre este aspecto considera Harvey em sua obra “O Enigma do capital – e as crises do capitalismo (2012)... a
taxa composta de crescimento da acumulação do capital inevitavelmente sugere que as modificações ambientais se
tornem mais profundas e mais extensas sem suas consequências ao longo do tempo...(68) .. a natureza tem sido
modificada pela ação humana ao longo dos tempos. O meio ambiente é uma categoria que tem de incluir os
campos que foram limpos, os pântanos e as zonas úmidas que foram drenados, os rios que foram alvo de
reengenharia e os estuários que têm passado por dragagens, as florestas que foram cortadas e replantadas, as
estradas, canais, sistemas de irrigação, ferrovias, portos, pistas de pouso e terminais que foram construídos, as
barragens, geradores de alimentação e sistemas de rede elétrica que foram desenvolvidos, sistemas de água e
esgotos, cabos de redes de comunicações, grandes cidades, subúrbios, fábricas, escolas, casas, hospitais, shoppings
e destinos turísticos em abundância. Além disso, esses ambientes são habitados por espécies inteiramente novas
(pense em cães, gatos, raças bovinas e galinhas sem penas) que ou foram alvo de engenharia através de práticas de
reprodução seletiva (complementada agora com práticas de engenharia genética direta que modificam os cultivos
do milho e tomate) , ou se transformaram, ou encontram novos nichos ambientais (basta pensar nos padrões de doenças, como a gripe aviária, que se transformam e surgem nos ambientes recém-construídos da fábrica de
produção de frangos sem pena) . Há pouco na superfície do planeta Terra que possa ser imaginado como uma
natureza pura e intocada, ausente de qualquer alteração humana. Por outro lado, não há nada de não natural no
fato de as espécies, incluindo a nossa, modificarem o ambiente de modo que lhe seja propício à sua própria
reprodução. As formigas o fazem, assim como as abelhas e os castores, estes de modo ainda mais espetacular. Da
mesma forma que não há nada de não natural sobre um formigueiro, então não há, certamente, nada de
particularmente não natural sobre Nova York. .. A urbanização é uma forma de absorver o excedente de capital...
Mas projetos desse tipo não podem ser mobilizados sem reunir um enorme poder financeiro. E o capital investido
nesses projetos deve estar preparado para esperar por retornos a longo prazo. (p.75)
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ocorrendo nas cidades de toda ordem. Uma junção de fenômenos conjunturais que desnudaram
em mudanças que afetaram a vida e as formas de trabalho.
Novos conflitos vão gerando novas expressões. Situações ligadas a um frequente
processo de renovação da questão social vão delineando violações quanto a situações ligadas a
fenômenos de ordem étnica, de gênero, do meio ambiente e dos recursos naturais, religião, etnia
entre outros. (PEREIRA, 2001). E junto a estes, a questão do desemprego estrutural que se
apresenta enquanto um desafio e ao mesmo tempo tem um poder de coordenar a vida e as
escolhas daqueles que estão empregados e fazer com que aqueles que estão fora do mercado de
trabalho se debrucem na constituição de alternativas e estratégias que possam dar respostas as
suas necessidades.
Para o Serviço Social, duas categorias – questão urbana e questão social – se
manifestam em um mesmo cotidiano de luta e resistência. Demandando habilidades
teórico-metodológicas que possam dar respostas as situações presentes, uma vez que na
implantação da urbanização das cidades o Serviço Social intervinha junto ao Estado num
processo estrutural e adaptativo dos indivíduos a nova lógica que vigorava. Mais tarde, por
volta da década de 1970, rompe com essa ideologia conservadora e passa a atuar junto aos
movimentos sociais em defesa do direito de participar politicamente, e de ter acesso a bens e
serviços que vinham sendo implantados no espaço urbano. E, nestes movimentos, tinha como
pano de fundo o enfrentamento da questão social que se manifestava no meio urbano via a
“desproteção social” das políticas sociais, uma ação do Estado de forma a controlar e
condicionar os indivíduos. A atuação se dá numa perspectiva de construção do acesso digno a
alimentação, moradia, trabalho, renda e, no tocante as questões macroestruturais, e na defesa de
se ter participação na riqueza socialmente produzida.
A inserção do Serviço Social na realidade social, segundo Iamamoto e Carvalho (2005),
se dá por meio de uma demanda criada, haja vista sua inserção na divisão social e técnica do
trabalho. Os autores salientam que:
Considerar a profissão sob dois ângulos, não dissociáveis ente si, como duas
expressões do mesmo fenômeno: como realidade vivida e representada na e
pela consciência de seus agentes profissionais expressa pelo discurso teórico-metodológico sobe o exercício profissional; a atuação profissional
como atividade socialmente determinada pelas circunstâncias sociais
objetivas que conferem uma direção social à prática profissional, o que
condiciona e mesmo ultrapassa à vontade e/ou consciência de seus agentes individuais. (IAMAMOTO e CARVALHO, 2005, p.73).
14
Sob esses dois ângulos discutidos por estes autores, considera-se necessário observar
que o ponto culminante dos estudos empreendidos, nesta artigo, é a respeito das análises
(teórico-metodológica) das condições de trabalho dos assistentes sociais no contexto atual e,
neste sentido, o segundo ângulo será inserido nesta com o objetivo de traçar as reflexões a fim
de elucidar de forma teórica e crítica que o Serviço Social não segue ileso nessa realidade. As
condições que peculiarizam o exercício profissional estão imbricadas pelas determinações
externas, ademais a atuação está em meio ao jogo dos interesses inerentes à sociedade de
classes. Haja vista, que ambas existem em virtude da possibilidade de mediação que, neste caso
específico, em se tratando do Serviço Social, acaba por reproduzir, dentro de suas atribuições,
os interesses contrapostos que convivem em tensão. Salienta-se igualmente que em meio esta
conjuntura, reacende sua maior contradição identitária, isto é, participar tanto dos mecanismos
de dominação e exploração como, e ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta às
necessidades de sobrevivência da classe trabalhadora e da reprodução do antagonismo nesses
interesses sociais, reforçando as contradições que constituem o móvel básico da história [grifo
dos autores] (IAMAMOTO e CARVALHO, 2005, p.75)
Pensar sobre a atuação profissional remete a considerar as condições objetivas para essa
atuação, bem como nos efeitos das transformações no mundo do trabalho sob a realidade em
que estão inseridos os trabalhadores, tanto aqueles que estão em atividade quanto àqueles que,
por algum motivo, estão fora. E, no que concerne ao Serviço Social, é importante considerar
que essas condições objetivas advêm de um amplo processo de redefinição das demandas, que
historicamente, em se tratando do Serviço Social, esteve vinculada ao âmbito da intervenção.
Dentro desta mesma perspectiva, de localizar o Serviço Social e sua gênese, Mota
(1998) salienta que as profissões se criam a partir de necessidades sociais e se desenvolvem na
medida da sua utilidade social, vindo a institucionalizam por meio de práticas profissionais
reconhecidas socialmente. No caso, propriamente do Serviço Social, ele depende da sua
utilidade social, uma vez que apresenta condições de dar respostas às necessidades sociais que
são a fonte de sua demanda.
Dois pontos apresentados por Mota (1998), que complementam as discussões
anteriores, trazem à tona a relação das mudanças no contexto econômico e suas inflexões no
cotidiano da atuação profissional. O primeiro diz do exercício profissional, dadas as mudanças
no mercado de trabalho, uma expansão ligada aos serviços sociais desenvolvidos pelo Estado e
15
demais setores. O Segundo trata do surgimento de novas problemáticas que podem ser
mobilizadoras de competências profissionais estratégicas para o enfrentamento das questões
que lhe são postas. Destarte do avanço social culminado, na década de 1980, a sua implantação
ocorreu a passos lentos nas décadas seguintes. E a eclosão de uma sociedade providência fez
com que a questão social fosse naturalizada e desconsiderada como objeto de enfrentamento e
concentrasse os esforços no enfrentamento de seus efeitos. Iamamoto e Carvalho acentuam
que:
Dentro da referência analítica adotada, cabe reafirmar que a reprodução das relações sociais não se restringe à reprodução da força viva do trabalho e dos
meios objetivos de produção (instrumentos de produção e matérias-primas). A
noção de reprodução engloba-os, enquanto elementos substanciais do
processo de trabalho, mas também, nos ultrapassa. Não se trata apenas de reprodução material no seu sentido amplo, englobando produção, consumo,
distribuição de troca de mercadorias. Refere-se à reprodução das forças
produtivas e das relações de produção espiritual, isto é, das formas de consciência social: jurídica, religiosas, artísticas ou filosóficas, através das
quais se toma consciência das mudanças ocorridas nas condições materiais de
produção. Nesse processo são gestadas e recriadas as lutas sociais entre agentes sociais envolvidos na produção, que expressam a luta pelo poder, pela
hegemonia das diferentes classes sociais sobre o conjunto da sociedade
(IAMAMOTO e CARVALHO, 2005, p.72)
Diante destes apontamentos analíticos, o item a ser discutido trata-se do primeiro ponto,
uma vez que o mesmo traz relevância nas discussões desta pesquisa e, ainda, contribui para
aprofundamento das questões problemas tendo como marco analítico a década de 1990, no
período controverso do ponto de vista político, econômico e social. um período em que o
Serviço Social se consolida como profissão no âmbito da produção intelectual e da intervenção
institucional e política bem como, enquanto agente propulsor de transformações no campo da
defesa dos direitos sociais.
Entretanto, cabe destacar que as transformações na sociedade (econômica, social,
política, urbana, ambiental, cultura, entre outras) contemporânea estão consubstanciadas pelas
relações de produção e reprodução. Elas atingem de alguma forma a vida social e determinam
as mudanças no conjunto das práticas sociais, estas estão para o Serviço Social como uma
situação de ordem, haja vista que é nesse contexto que se insere a experiência profissional do
Serviço Social. Isso posto, é por meio da relação de reprodução e produção da vida material e
espiritual que o Serviço Social é requisitado.
16
O processo de urbanização e o Serviço Social
A entrada do Serviço Social no processo de urbanização foi um catalizador de novas
reflexões acerca da identidade e da responsabilidade ético-políticas da profissão e, neste
momento, definem-se as novas diretrizes da profissão junto aos direitos sociais. Um momento
da história que emerge processo de rupturas importantes no Serviço Social, uma vez que, ao se
refletir sobre sua condição de trabalhador, o profissional se vê na condição de refletir o seu
papel social e de que lado atua quando o assunto é violação de direitos e desestabilização do
trabalho. Faz-se necessário trazer a problemática sobre qual foi o papel do Serviço Social neste
período. Em que medida essas mudanças corroboraram para a implantação do Serviço Social?
Quais os desafios postos ao Serviço Social em uma cidade do porte de Montes Claros? Estas
questões fazem parte das discussões da Tese, todavia, neste momento não serão aprofundadas.
A ideia aqui é estabelecer uma conexão entre três grandes temáticas – Reestruturação
produtiva, questão urbana e Serviço Social. A conexão assenta-se no entendimento de que o
movimento de modernização pelo qual passou o país, no período de 1950 a 1980, decorre do
auge do desenvolvimentismo, mudança na base econômica e chegada da indústria,
asseveramento da questão social e suas refrações, num franco processo de urbanização das
cidades. E o Serviço Social, neste mesmo período, passava por mudanças internas
(questionamento do legado teoria positivista e sua abordagem metodológica funcionalista) e
externas (sua relação com o Estado, Empresa e Movimentos Sociais). Neste momento, a
modificação das cidades pela urbanização e pela mobilidade que esse fenômeno causa em
várias populações acelera o processo de oferta de serviços públicos e a demanda por construção
de uma mediação profissional. É justamente sobre esses efeitos que pretende-se propor
investigações e reflexões.
Cidades industriais, como Chicago, surgiam, neste caso específico, no período citado e
se transformam em cidade modelo desse momento. Nota-se, sobretudo que desponta enquanto
uma cidade problema em virtude do aumento populacional, imenso contingente imigratório, a
segregação urbana (atrelada a origem das pessoas, as formas de moradia, os hábitos e costumes
e os modos de se relacionarem, além das características étnicas e nacionais), concentração de
população e as condições de vida e infra-estrutura precárias (SANT‟ANNA, 2003).
17
Sobre os estudos das cidades, R. Park tem notoriedade ao difundir a ideia desta ser um
“laboratório” e, por meio desta afirmativa, concentra-se os estudos sob essa perspectiva onde a
cidade tem de tudo um pouco e é no seu cotidiano que fatos e fenômenos se multiplicam. A
noção de laboratório5
nasce das mudanças que sofreu a cidade Chicago na era da
industrialização e essa condição atraiu várias pessoas de diferentes localidades, uma “cidade de
estrangeiros” diria Park. Sobre sua experiência em Salvador-Ba/Brasil denomina-a enquanto
“miscigenada” e, por isso, fora transformada em “laboratório social”. Nas cidades, é possível
encontrar as mais variadas experiências que, no caso do nosso estudo, as mutações do trabalho
no espaço urbano têm maior destaque, haja vista ser a cidade (Montes Claros, cidade média) o
lugar que milhares de pessoas buscam para realizar sonhos e ter acesso a bens e serviços.
Nas cidades médias, aqui entendidas enquanto lugar com significativo volume
populacional, oferta de serviços e cotidiano composto das mais variadas expressões da questão
social, lugar de contradições de desigualdades. Para complementar esse raciocínio, Valladares
salienta que:
As cidades ofereciam para que se analisassem os problemas de pobreza, da integração e das formas de organização social das cidades. Não interessava
simplesmente o estudo da cidade, mas a compreensão científica de seus
problemas que, em conseqüência do rápido crescimento demográfico, da forte presença de imigrantes, da intensificação do conflito entre capital e trabalho,
eram inúmeros. (VALLADARES, 2010,p.42).
É desta perspectiva que parto para analisar a cidade de Montes Claros no que se refere
ao conjunto de fatores relacionados a mundo do trabalho e a intervenção do Estado sobre a
relação capital e trabalho. Com o intuito de buscar compreender o lugar que Montes Claros
ocupa, no contexto regional, far-se-á um recorte, dentro dessa análise, a inserção dos
Assistentes Sociais no processo de urbanização da cidade, para atender as demandas do Estado
quanto da questão de aumento dos “problemas sociais” em virtude do aumento populacional.
No entanto, compreender o acelerado processo de crescimento e aumento de postos de trabalho
para os assistentes sociais, em uma cidade com as características de Montes Claros, fez-se
necessário entender como as condições de trabalho dos assistentes sociais sofreram as
alterações significativas.
5 A ideia de cidade como laboratório primeiro partiu de Albion Small, então chefe de departamento de sociologia.
A imagem da cidade como laboratório foi disseminada por R. Park dado ao material rico que as cidades americanas
ofereciam para que se analisassem.
18
Outro ponto é norteado pelos estudos sobre a “sociologia urbana ou ciência das cidades”
ao compreender os problemas relacionados a mutações do mundo do trabalho que incidem
sobre o cotidiano de um profissional que tem uma trajetória histórica interventiva nos conflitos
tipicamente relacionados ao espaço urbano, seja pela luta por direitos sociais (Casa, creche,
gênero, alimentação, renda, dignidade entre outros tantos) ou em defesa do trabalho (novos
postos, qualificações, benefícios, defesa dos direitos conquistados em 1988, entre outros) que
emergem no cotidiano da vida nas cidades.
De acordo com Telles (2006), a relação entre trabalho e cidades tem sido alvo de vários
estudos. As cidades vão se perfilando com todas as ambivalências e as complicações que
recobrem os tempos atuais, haja vista as modificações ocorridas no mercado transmutado por
uma flexibilidade e uma economia globalizada. Novas mutações ocorrem como modo de
trabalho temporário agenciado e por via de terceirizações e prestação de serviços. Um mundo
onde o mercado de trabalho descontínuo e instável.
A relação entre trabalho e cidades pode-se ser analisada sob dois âmbitos, no primeiro, o
processo de “modernização conservadora” implantada no Brasil, por volta dos anos 1960, que
coopera com a entrada do capital estrangeiro e implantação das industrias e, no segundo âmbito,
o processo de reestruturação produtiva que tem maior adensamento a partir da década de 1990.
Constituem-se dois momentos do contexto do capital que merecem destaque nesta tese, sendo o
primeiro relacionado ao período de 1960 em que o Serviço Social passa por um processo de
revisão teórico-metodológico, denominado de “movimento de Reconceituação6. O segundo
momento acontece com o andamento da retração do Estado pós conquista da Constituição
Federal, quando defende uma ampliação da intervenção do Estado na questão social, haja vista
que esta pode ser entendida como uma fratura sem repostas e que seus efeitos/refrações ainda
não receberam atenção significativa de enfrentamento e erradicação enraizando-se na história
como expressões sem intervenção.
Neste período do advento do neoliberalismo, no final do século XX, a questão social
passa a ser considerada e atenção do Estado volta-se para o controle de seus efeitos. É neste
6 O movimento de Reconceituação do Serviço Social foi um marco na história da profissão. Um momento de
revisão das bases teórico-metodológicas que fundamentavam a atuação profissional desde a década de 1930 –
a”intenção de ruptura” como é denominado por muitos estudiosos da história do Serviço Social – acreditam que a
o movimento ainda não se finalizou dada a perspectiva conservadora que ronda a profissão- que ocorre na América
Latina a partir do Chile por meio da entrada da teoria social de K. Marx e da reflexão ontológica a cerca de sua
identidade de trabalhador. (discussão faz parte do capítulo 3 da tese)
19
momento que amplia-se os postos de trabalho; basta recordar as legislações de viés social e de
intervenção direta junto aos segmentos majoritários, para os assistentes sociais tanto no
serviços públicos, privados, quanto uma nova modalidade no terceiro setor7.
Em meio ao processo de modernização das forças produtivas, como assinala Harvey
(2005), a cidade passa a ser considerada como o espaço das contradições, onde as desigualdades
são notadas ora pelas edificações ora pelo acesso a bens e serviços. E sob esse prisma,
considerá-la enquanto o lugar da produção e reprodução do capital corresponde a demarcar que
alguns dos problemas sociais começaram por meio da implantação das „cidades industriais.
Para Simel (1979), nas cidades existe a mais alta divisão econômica do trabalho.
O surgimento de um modelo de produção moderno, por via da implantação de indústrias
dos mais variados ramos (no Brasil em meados do século XX as têxteis e nos anos 1970 de
automobilismo), provocou uma revolução nas cidades, isto é, um elevado número de
trabalhadores passa a se instalar nas grandes cidades e mudar o próprio modo de vida, e as
cidades passam a criar novos serviços diante o aumento da população. Essas “mudanças
silenciosas” se desenvolvem em meio aos atos de convencimentos do progresso e do
desenvolvimento econômico e, ainda, numa ampla plataforma de política de pleno emprego e,
que seja vitalício.
A vida do trabalhador nas cidades foi sendo modificado pelas distâncias e pelas ofertas e
oportunidades dada sua capacidade para se constituir em trabalhador, como bem elucidou
Chico Buarque de Holanda, em sua música8: “Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal. Dizem as más línguas que ele até
trabalha; Mora lá longe chacoalha, no trem da central”. E morar na favela é um sinônimo de
marginalidade como foi pensando num período acerca da dualização da relação mercado de
trabalho (MACHADO da SILVA, 2009).
Machado da Silva (2009), ao contextualizar a década de 1960 e a entrada da questão da
favela em sua vida de pesquisador, apresenta reflexões acerca do peso que teve a relação do
trabalho com a favela. Num sentido de se buscar entender o lugar das camadas subalternas no
processo social, diz o autor que favela sofreu mutações com os processos modernos e os
7 Organizações não estatais que passam a intervir onde o Estado na atua por meio de verbas da sociedade e/ou
contrapartida do Estado. Foi na década de 1990, com a implantação da “comunidade solidária” que várias
instituições de caráter filantrópico passaram a atuar de forma incisiva nos efeitos de uma velha questão social
8 Música – homenagem ao malandro.
20
deslocamentos das discussões acadêmicas, ou seja, se a favela já foi vista como um problema
do mercado de trabalho, ou seja, do inchaço urbano advindo das grandes levas de migrantes, das
mais distantes regiões do país para as grandes cidades, isso se deu em virtude da concentração
das indústrias em determinadas regiões e dos desequilíbrios urbanos. A ampliação de serviços e
constituição de novas formas de moradias e atendimentos às necessidades dos indivíduos passa
em todo esse processo e, por ele, a ser analisada sob o ponto de vista da “natureza do
desenvolvimento”. (MACHADO da SILVA, 2009, p.29)
Estes pontos apresentados pelo autor têm assento na perspectiva dos organismos
econômicos (CEPAL) que atribuíam essa “natureza” aos processos desencadeados pela
modernização dos modos de produção e futuramente pelos impactos que o consumo provocaria
e seriam superados à medida que fossem sendo consolidados.
Esse inchaço populacional e todos os seus desdobramentos cuja consequência se
percebe na super-exploração do trabalho, favelização, aumento da pobreza nos grandes centros,
intensificação da população de rua, necessidade de ampliação de oferta de serviços públicos
essenciais como escolas, postos de saúde, entre tantos outros estariam aliados a entrada de uma
população de migrantes em trabalhos urbanos marginais, como assevera Machado da Silva
(2009, p.30). Isso, por sua vez representaria mais tarde numa economia terciária e numa baixa
produtividade, o qual equivaleria dizer que constitui uma externalização do aumento da
exploração do trabalho e incipientes acessos a outros bens e serviços.
No entanto, nos tempos modernos, o que se nota é uma porosidade assentada num
frenético processo de fragmentação do trabalho e, concomitantemente daquilo que se tornaram
as cidades. O contexto social das cidades revela um emaranhado de velhas práticas de trabalho
ligado ao mundo doméstico, em que homens e mulheres passam a disputar o mesmo posto
(especialmente nas camadas populares) e formas rudimentares, denotando a intensificação da
precarização transmutada, em algumas vezes, por falta de proteção social via intervenção das
políticas sociais chefiadas pelo Estado. Neste ponto, é possível considerar que programas de
incentivo à inserção no mundo do trabalho além de representarem um aumento de absorção da
mão-de-obra dos Assistentes Sociais, são também respostas precárias a incipientes políticas de
emprego e renda para parcelas da população que não possuem os atributos necessários que
atendam as demandas de “um novo” mercado. E, dado ao baixo investimento público, no
21
quesito financiamento e pela oferta de “cursos profissionalizantes9” nada mais são que um
fomento a informalidade.
Segundo Rizek (2012), situações financiadas pelo Estado ou outros setores da sociedade
denominadas de “economias solidárias” tem contribuído para dissimular uma das
características mais notáveis desse processo produtivo , ou seja, a informalidade vai ganhando
força em meio as ações formais financiadas, as vezes, pelo próprio Estado, sob o signo de uma
política de emprego e renda. Quanto a isso, cabe uma contribuição de Simel, ao afirmar que:
A cidade oferece mais e mais as condições decisivas de trabalho. Oferece um círculo que, através de seu tamanho, pode absorver uma variedade altamente
diversificada de serviços. Ao mesmo tempo, a concentração de indivíduos e
sua luta por consumidores compelem o indivíduo a especializar-se em uma
função na qual não possa ser prontamente substituído por outro. É um fato decisivo que a vida da cidade transformou a luta com a natureza pela vida em
uma luta entre homens pelo lucro. (SIMEL, 1979, p.22).
Além disso, por meio destas experiências, vai sendo gestada cidades tensionadas entre a
brutalidade das desigualdades e a sedução encantadora do mercado de consumo. Neste
contexto, vai se conjugar bloqueios e acessos a uma vida urbana ampliada (TELLES, 2006,
p.173-195).
Em torno dessas questões, caberia perguntar: Quais têm sido as condições de
enfrentamento criadas pelo Serviço Social para a defesa do direito a dignidade do trabalho? Em
que medida as mutações do mundo do trabalho, aliadas a um frenético processo de
modernização da vida nas cidades, afeta o cotidiano dos assistentes sociais? E ainda, quais as
condições de trabalho que estes trabalhadores dispõem para criar alternativas de defesa do
trabalho digno para si e para aqueles que recorrem aos teus serviços?
À luz destes questionamentos ressaltados, pondera-se que:
- A questão do trabalho, num mundo onde o trabalho está num processo de ressignificação tanto
de suas formas originais quanto das suas novas mutações, demanda novas investigações no
espaço urbano.
9 As políticas sociais, especialmente de assistência social, têm investido nos últimos anos, em ofertar aos seus
usuários cursos de manicure, pedicure, bordados, panificação, entre outros afazeres ligados ao mundo doméstico,
que não exigem grandes investimentos financeiros e tecnológicos para os seus usuários, no entanto, isso não vem
representando um enfrentamento da questão social, mas um paliativo referente aos problemas sociais vinculados a
situações de analfabetismo e pobreza. Nesta perspectiva a Política não tem contribuído de forma digna com a
superação/enfrentamento da questão social, mas inserido no cotidiano de milhares de famílias e seus sujeitos a
informalidade por via de cursos que não doa retorno ao cotidiano dos indivíduos enquanto um direito social, mas
como uma mera ação de sobrevivência em meio a instalação da precariedade
22
- É possível considerar um significativo enxugamento dos postos de trabalho e isso tem
provocado um “estranhamento” nos trabalhadores10
.
- A modernização que modificou a vida (Tecnologia e novas formas de consumo) gravita no
cotidiano dos indivíduos emaranhados em pobreza (relativa e absoluta) e miséria.
- Verifica-se a ampliação das formas de precarização em uma cidade moderna.
Redefinição da formas de trabalho e reconfiguração das cidades são situações que estão
assentadas num amplo processo de redefinição do acumulo de capital que, para Rizek (2012),
estes são sinais das mudanças dos tempos sociais, uma vez que em tempos não muito remotos a
cidade industrial construída sob as necessidades dos ideários fordistas tinham o poder
descritivo de sintetizar uma situação sócio-espacial de trabalho e de vida. No entanto a
desestabilização do trabalho em virtude de um constante processo de desmantelamento das
indústrias contribui para uma explosão da cidade em um conjunto de territórios fragmentados,
tal como assinala Rizek (2012). Este mesmo autor alude que:
É verdade que a partir do mapeamento dos novos ordenamentos produtivos a
questão das cidades, crescentemente vistas como “cidades globais” e, assim como territórios fragmentados, descentrados, modulados – cidades dominadas
por atividades vinculadas ao terciário avançado e mundializado -, comparece
como uma espécie de testemunho do processo de perda da centralidade do trabalho assalariado ou ainda de perda da capacidade de estruturação e
determinação dos processos produtivos sobre os territórios urbanos. (RIZEK,
2012, p.43).
De fato, com a redução do trabalho nos moldes fordistas até ao incremento da
acumulação flexível, dos anos de 1970, considera-se que ao trabalho e as formas de trabalho em
novos contextos vão sendo tecidos. Em meio a isso, há um “embaralhado” misto de
informalidade e formalidade, cujas duas situações se entrecruzam dentre as novas mutações.
Sim, é possível considerar um grau de “formalidade” nos trabalhos informais: regras, encargos,
compromissos, talvez o que os coloca na condição de informais seria a ausência as
contribuições sociais (INSS, FGTS, CTPS, entre outros). Um estado de desproteção social e a
remuneração que não tem um teto fixo são, deste modo, oscilante. Mas pode se considerar essa
presença de uma “certa formalidade” no mundo informal. Talvez sua maior contradição,
quando o assunto está vinculado à oferta de serviços sociais advindos da intervenção do Estado
10 Como assinala Castel, 1998, tanto aqueles que estão inseridos no mundo do trabalho “in” quanto àqueles que
estão fora “out” (Seja pela pouca capacidade de atender às exigências do mercado ou pelo fato de já se ter um idade
que não atende ao mesmo mercado – processo de exclusão e inserção na informalidade) dividem o mesmo
“pedaço”.
23
e como vetor as ações do Serviço Social, está ligada ao caráter institucionalizado que a
informalidade ganha nos projetos, programas e serviços ofertados. O que há por detrás disso?
Uma resposta encontra-se em Netto (2012) cujo autor enfatiza uma cultura minimalista das
políticas sociais de recorte protetivo e de inclusão. Até porque as estratégias criadas e recriadas
têm como objetivo a busca da sobrevivência e o que as mobilizam é a necessidade de consumo,
o que redundaria em proteção social vinculada no rol de direitos sociais ligados,
exclusivamente, ao mundo do trabalho e comprometendo o exercício da cidadania uma vez que
a vida urbana acaba por definir o “tipo ideal” de sujeito a transitar em seu espaço, ou seja, o
cidadão de carteira assinada, com garantias contratuais e direito afiançado pela sua condição de
trabalhador remunerado pelo emprego formal. E, isso não tem representado, na primeira década
do século XXI um inserção descente no mundo do trabalho, mas como afirma Rizek (2012),
tem-se um trabalho social, associado (ou auto-definido como tal) e assalariado nas suas formas
menos reguladas e mais precárias.
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24
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