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1
Gilberto Ângelo Begiato
Gratia Plena
Comunidade Acolhimento
Bom Pastor
2
Comunidade Acolhimento Bom Pastor
Estrada Municipal do Varjão, 1641.
Bairro novo Horizonte.
CEP; 13.212-590
Jundiaí – SP
Fone / Fax: (11) 4582-4163
Site:
www.comunidadebompastor.com.br
E-mail:
gilberto@comunidadebompastor.com.br
Jundiaí, 23 de março de 2008 - Brasil
Ressurreição Nosso Senhor Jesus Cristo
3
PORTUGUÊS LATIM
Rainha do Céu (Tempo Pascal) Regina Cæli (tempus paschale)
Rainha dos céus, alegrai-vos.
Aleluia!
Porque Aquele que merecestes
trazer em vosso seio. Aleluia!
Ressuscitou como disse.
Aleluia!
Rogai por nós a Deus. Aleluia!
D./ Alegrai-vos e exultai, ó
Virgem Maria. Aleluia!
C./ Porque o Senhor ressuscitou,
verdadeiramente. Aleluia!
Oremos.
Ó Deus, que enchestes o mundo
de alegria
com a ressurreição do Vosso
Filho, nosso
Senhor Jesus Cristo,
concedei, nós vo-lo pedimos,
que pela intercessão da Virgem
Maria,
Sua Mãe,
alcancemos as alegrias da vida
eterna.
Por Cristo, Senhor nosso.
Amém
Regína cæli lætáre, allelúia.
Quia quelli merúisti portáre,
allelúia.
Resurréxit, sicut dixit,allelúia.
Ora pro nobis Deum, allelúia.
D. Gaude et lætáre, Virgo María,
allelúia.
C. Quia surréxit Dominus vere,
allelúia.
Orémus.
Deus, qui per resurrectiónem
Filii tui Dómini nostri Iesu
Christi mundum lætificáre
dignátus es, præsta, quǽsumus,
ut per eius Genetrícem Virginem
Maríam perpétuæ capiámus
gáudia vitæ.
Per Christum Dóminum nostrum.
Amen
4
PREFÁCIO
De onde me vem a honra de receber a Mãe do meu
Senhor?
Como Isabel, inicio esta pequena reflexão, na
alegria de receber a incumbência de falar um pouco
sobre esta obra de partilha escrita pelo irmão de fé,
Gilberto Ângelo Begiato, da Comunidade
Acolhimento Bom Pastor.
Quem como Deus? Criador e Senhor do Céu e da
Terra, e de tudo que ela contém. A quem aprouve
escolher uma de suas criaturas para conceber o Filho
Unigênito, verdadeiro Deus e verdadeiro homem:
Maria Santíssima, a Imaculada, menina, virgem,
mulher de fé e de amor.
Experimentar o amor da Mãe de Jesus e seu
modelo de coragem e perseverança no dia-a-dia de
sua família e de outras pessoas com quem partilha a
sua vida.
Ao ler este livro, encontrei lições de humildade,
de vida muito simples, de esperança familiar. Eis
porque quero recomendar sua leitura a todos os que
amam Maria, e também àqueles que ainda
descobrirão este amor em sua vida.
Sem dúvida, em Nossa Senhora encontramos
sempre o melhor exemplo a seguir, e isto devemos
transmitir a todos. Fé, esperança e amor, as virtudes
5
teologais a serem plantadas, como boas sementes, no
coração dos nossos entes queridos, devem ser
cultivadas diariamente em nossa vida, por meio de
palavras, ações, oração e testemunho.
Hoje se fala muito de Deus, mas pouco se vive
nele. Gilberto nos mostra situações cotidianas e
familiares que revelam esta vivência na simplicidade
de cada dia. Bendito seja Deus que permitiu esta
revelação na vida de nosso irmão, de sua família, pois
reconhecer a presença da Mãe do Senhor, e do
Senhor de todas as coisas, nos acontecimentos mais
singelos da vida é uma grande graça, que poucos
alcançam.
Que Maria Santíssima, Mãe da Misericórdia
Infinita, cubra a todos nós com seu Manto de Amor, e
interceda por todas as necessidades, temporais e
espirituais, de todos os seus filhos e filhas, de forma
especial aqueles que hoje mais necessitam desta
intercessão. Amém
Lúcia Maria Barão Neves
Diocese São Miguel Paulista SP
6
DEDICAÇÃO
Ofereço este pequeno livro em nome de todas
as mães que trazem os traços de Maria. A
todas as mulheres que carregam os traços de
Maria. A todas as Marias que sofrem como
Maria sofreu. A todas as Marias que se
alegraram como Maria se alegrou.
A todas as mulheres marginalizadas pela
sociedade. A todas que sofrem no lar e fora do
lar às injustiças causadas pela discriminação,
pela violência e pelo preconceito.
A todas as mulheres que deram e dão sua vida
em defesa da vida.
Em especial às mulheres da minha vida:
Regina, Mariana e Juliana.
Às minhas irmãs de sangue: Sônia, Cecília,
Ângela e Regina.
Às minhas irmãs de fé: Co-Fundadoras e
mulheres da Comunidade Bom Pastor.
Às fundadoras da Comunidade: Rita, Branca,
Isabel e Regina.
7
A febre passou...
Era uma madrugada como tantas outras, não
fosse o fato de que meu irmão estava com muita
febre. Meus pais, muito simples, não tinham como
levá-lo a um hospital por não terem condução.
“Era um tempo muito difícil”, diziam meus
pais enquanto me contavam este testemunho.
A Vila ainda não possuía tantas casas e
poucos possuíam carros naquela época. O hospital
não vinha buscar o enfermo e telefone, nem pensar.
Meu pai lembrou-se de que na frente de casa
havia um taxista e não pensou duas vezes, já que meu
irmão, como diziam os antigos “ardia de febre”.
Chamou pelo taxista que recusou levar meu irmão
para o hospital. Meu pai insistiu e disse que pagaria a
viagem, mas o taxista nem quis saber.
Meu pai voltou pra casa arrasado e
preocupado com seu filho que estava jogado e
inconsciente pela febre.
Meus pais não pensaram duas vezes, eram
pessoas de muita fé. Foram até a imagem de Nossa
Senhora e pediram que a mãe do céu tomasse conta
do filho e não deixasse que acontecesse nada a ele.
No mesmo instante a febre parou e meus pais
puderam, naquela madrugada, agradecer a Deus por
esta graça maravilhosa.
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Assim se repetiu na vida de meus pais tantas
graças derramadas por Deus através da intercessão de
Maria.
Histórias como estas existem várias na vida
do povo. A presença de Maria na vida cristã é
profundamente libertadora. A mãe do céu não
costuma deixar seus filhos à mercê do abandono, pelo
contrário, é sempre presente, com carinho de mãe
vem ao nosso encontro e ama os filhos, assim como
amou Jesus.
Acostumei a presenciar Maria na vida da
minha família.
Meus pais, sempre devotos de Nossa
Senhora, me ensinaram a amar e admirar esta figura
tão singela e doce que é Maria.
É partir desta devoção e experiência de fé e
devoção dos meus pais que quero narrar um pouco o
amor da Mãe do Céu pelas coisas de Deus.
Como de costume, estou aproveitando o
tempo de quaresma para escrever mais este livreto
para que seja sinal e testemunho de Deus na sua vida.
Não meu testemunho propriamente, mas
principalmente o testemunho de uma mulher que em
vida demonstrou tanto amor à humanidade e a Deus.
Não é uma literatura preocupada em ensinar
teologia mariana. É um testemunho vivo da escola
9
cristã que tive em casa através dos ensinamentos de
meus pais.
Tenho plena consciência de que os que se
aproximam de Maria encontrar-se-ão com Jesus, por
isso desejo do fundo do coração que esta pequena
obra leve você ao Coração Sagrado de Jesus por
intermédio do Imaculado Coração de Maria.
Procurarei utilizar de muitos testemunhos
relatando tantas graças que Maria por sua intercessão
nos fez experimentar.
Ao mesmo tempo intenciono mostrar este ser
feminino tão sagrado que é exemplo de coragem e
testemunho da força da mulher.
A propósito ia me esquecendo de dizer: o
meu irmão a que me referi neste testemunho, hoje é
diácono na Igreja.
Regina Caeli ( Rainha do Céu )
Para entender Maria é preciso sempre um
olhar audacioso que extrapole a compreensão
humana, mas principalmente lembrar que Maria foi
humana e que passou sua história como mulher de fé
e que por isso mesmo é rainha do céu. Para
compreender o valor de Maria na Comunidade Cristã
é preciso muito mais do que sentimentalismo. É
necessário um olhar de fé para encontrar o meio pelo
10
qual Deus se utilizou desta mulher simples para trazer
a maior graça que poderíamos receber: Jesus de
Nazaré.
No dia 15 de agosto a Igreja celebra solene-
mente o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao
Céu; no Brasil a festa litúrgica foi transferida para o
domingo seguinte.
Sete dias depois de 15 de agosto, a Igreja
celebra a festa de Nossa Senhora Rainha, coroada no
Céu pela Santíssima Trindade como Rainha do Céu e
da Terra, dos anjos e dos santos, dos homens e de
toda a criação de Deus.
Esta festividade, paralela à de Cristo Rei, foi
instituída pelo grande Papa Pio XII em 1955. Antes
era celebrada no dia 31 de maio, como coroação da
devoção mariana do mês a ela dedicado. Para o dia 22
de agosto estava reservada a comemoração do
Imaculado Coração de Maria, em cujo lugar entrou a
festa de Maria Rainha para aproximar a realeza da
Virgem à sua gloriosa Assunção ao céu. O Papa Pio
XII deu vários títulos à Virgem Maria na carta
encíclica “A Rainha do Céu” (11 de outubro de
1954): “Mãe da Cabeça e dos membros do Corpo
místico, augusta soberana e Rainha da Igreja, que a
torna participante não só da dignidade real de Jesus,
mas também do seu influxo vital e santificador sobre
os membros do Corpo místico”.
11
Elevada ao céu de corpo e alma, Nossa
Senhora recebeu ali sua justa e merecida glorificação.
A coroação de Nossa Senhora no céu não é um ato
apenas simbólico ou mero cerimonial. Não. É um
acontecimento de grande profundidade, por meio do
qual Deus fez de Maria a Rainha de todas Suas
criaturas. Ela é elevada à glória de Rainha do
Universo.
Quando S. João viu surgir no céu “um grande
sinal” (Ap 12,1) era Deus lhe revelando toda a
glorificação que os próprios elementos prestavam a
Maria. Ela apareceu “revestida” de Sol; isto é, o Sol
serviu-lhe de vestimenta gloriosa, a Lua veio pôr-se
sob seus pés, como um rico pedestal, e as estrelas se
ajuntaram em torno de sua cabeça, formando uma
coroa, em número de 12, que é símbolo da plenitude,
da perfeição e da graça. Os astros do universo
glorificam sua Rainha!
Maria é Rainha desde o momento em que foi
escolhida e aceitou ser a Mãe do Rei do Universo.
Filho e Mãe participam da mesma realeza. A Mãe do
Rei é Rainha, dizem os santos.
Diz S. Bernardino de Sena:
“Desde o momento em que Maria aceitou ser Mãe do
Verbo Eterno, mereceu tornar-se Rainha do mundo e
de todas as criaturas. Quantas são as criaturas que
servem a Deus, tantas também devem servir a Maria.
12
Por conseguinte estão sujeitas ao domínio de Maria
os anjos, os homens e todas as coisas do céu e da
terra, porque tudo está sujeito ao império de Deus”
(Glórias de Maria, p. 26).
É por isso que S. Agostinho ensinava que “a
Mãe de Deus tem mais poder junto da Majestade
divina que as preces e intercessões de todos os anjos
e santos do céu e da terra” (Tratado da Verdadeira
Devoção à Virgem Santíssima, n. 27).
S. Luiz de Montfort, baseado em S.
Boaventura, garante: “No céu, Maria dá ordem
aos anjos e aos bem-aventurados. Para compensar sua
profunda humildade, Deus lhe deu o poder e a missão
de povoar de santos os tronos vazios, que os anjos
apóstatas abandonaram e perderam por orgulho. E a
vontade do Altíssimo, que exalta os humildes (Lc
1,52), é que o céu, a terra e o inferno se curvem, de
bom ou mal grado, às ordens da humilde Maria, pois
Ele a fez soberana do céu e da terra, general de Seus
exércitos, tesoureira de Suas riquezas, dispensadora
de Suas graças, artífice de Suas grandes
maravilhas, reparadora do gênero, mediadora para os
homens, exterminadora dos inimigos de Deus e a fiel
companheira de suas grandezas e de seus triunfos”
(Tratado…, n. 28).
Assim como o “reino de Deus está no meio
de nós” (Lc 17,21), em nossa alma, também o reino
13
de Maria está em nosso interior, e aí ela é mais
glorificada com Jesus do que nas outras criaturas
visíveis. Por isso, Maria é a Rainha dos corações.
Na última parte do documento o Papa declara
“que tendo adquirido, após longas e maduras
reflexões, a convicção de que decorrerão para a Igreja
grandes vantagens dessa verdade solidamente
demonstrada”, decreta e institui a festa de Maria
Rainha, e ordena que nesse dia se renove a
consagração do gênero humano do Coração
Imaculado na Bem-Aventurada Virgem Maria
“porque nessa consagração repousa uma viva
esperança de ver surgir uma era de felicidade que a
paz cristã e o triunfo da religião alegrarão”.
A escolha
Maria era uma menina de aproximadamente
14 a 15 anos quando o anjo de Deus se aproximou
dela e a convidou para ser a mãe do salvador (Lucas
1, 26 a 38 e Mateus 1, 18 -25).
Uma jovem adolescente que possuía muita
vida pela frente e estava vivendo quem sabe o sonho
de um dia poder casar-se com seu amado. Por isso as
escrituras dizem que ela já estava prometida a José.
Dentro do coração desta jovem menina havia
com certeza muitos sonhos pessoais.
14
Tenho plena certeza de que na cabecinha
desta jovem passavam muitos pensamentos, até
porque nesta idade há tantas coisas com que
sonhamos. Mas a idéia de ser a mãe do salvador do
mundo, ah! Isso com certeza não passava. Não era do
feitio de Maria vislumbrar qualquer coisa que fosse
pra ela um motivo enorme de orgulho. Maria era
simples. Deseja sim ser de Deus e era de Deus
quando o anjo lhe apareceu: “Ave, cheia de graça, o
Senhor é contigo” disse o anjo. Portanto o anjo de
Deus não encontrou alguém despreparada. Porém
pelas atitudes de Maria, dificilmente desejava ela ou
ambicionava ser a mãe do salvador. Qualquer mulher
poderia ter esta ambição, não Maria pela sua
simplicidade e desapego de tudo.
Por isso é compreensível que ela tenha se
perturbado e teve medo diante do convite do anjo.
Um medo saudável, reflexo da responsabilidade e
maturidade de quem levava a sério a importância de
ser a mãe do salvador.
Maria é uma mulher tão humana quanto você.
Permitiu o medo e o questionamento interior e por
isso “pôs-se a pensar no que significaria semelhante
saudação”.
Naquela época foi muito difícil compreender
como Deus escolheria alguém aparentemente tão
frágil para acolher e carregar dentro de si a salvação
15
de todos. Hoje não seria diferente, vivemos em uma
sociedade onde o ter, o ser e o poder representam
tanto para as pessoas. Quem era Maria? Que bens ela
possuía? Qual era seu poder?
Por isso José homem justo e bom pensou até
secretamente em rejeitá-la para não difamá-la. Ao
sumir da vida de Maria ele sairia como culpado
abandonando a prometida e com isso ela não seria
apedrejada em praça pública (costume da época).
Mas no sonho o anjo falou com José que
Maria estava sendo concebida em virgindade pelo
Espírito Santo e que não era para ele temer. Se Maria
renunciou aos seus sonhos pessoais, tanto José o fez
também.
Maria e José são símbolos de uma sociedade
ideal tão distante de todos nós. Onde estão os homens
e as mulheres de Deus hoje? São poucos. Não me
refiro apenas à religiosidade, mas à criação e
educação de homens e mulheres que sejam honestos,
portadores da justiça e amor aos pobres e sofridos.
Onde estão os jovens que querem construir uma
sociedade mais justa e solidária? Onde estão os
profissionais e intelectuais que desejam construir uma
Civilização do Amor entre nós oferecendo suas
profissões e conhecimento para libertar os irmãos e
irmãs que necessitam de justiça?
16
Guardo na lembrança muitas coisas dos meus
pais. Mas o que faz mais me orgulhar deles é a
honestidade com que tratavam as coisas da vida.
Eram honestos com os outros e nos ensinaram isso.
Eram honestos e justos com Deus.
Pais de onze filhos. Educaram-nos para a
vida e para Deus. Há muitos pais que dizem que não
precisam falar de Deus para os filhos, que esta
decisão deve ser espontânea, mas os educam a irem
para escola, trabalharem e adquirirem bens para
serem felizes. Se não fossem educados assim seriam
trabalhadores? Estariam formados? Aprenderiam
adquirir coisas na vida? Então como um filho será de
Deus se não encontram este testemunho dos pais em
suas vidas também?
Meus pais nos educaram como amar e
respeitar o ser humano. Assim como nos educaram a
amar e respeitar a Deus. Orgulho de todos os meus
dez irmãos. São exemplos de amor e respeito pelo
próximo. Isso eles não adquiriram por iniciativa
própria, é lógico que aprenderam com as palavras e
principalmente com o testemunho dos meus pais.
Lembro-me que após um dia tão trabalhado e
tão corrido (Você pode imaginar a correria de um pai
e uma mãe de onze filhos?) eles nos ajuntavam diante
da imagem do Sagrado Coração de Jesus e do
Imaculado Coração de Maria e rezávamos o terço
17
todo dia em família. Depois pacientemente meu pai
pegava um caderno e com um lápis e a bíblia na mão,
enquanto explicava as escrituras ia desenhando a
passagem que leu e assim cativava a cada um de nós
na compreensão da bíblia. Seu desenho era horrível,
ovelhas tortas, gente em forma de palito. Mas como
gostava de estar perto dele e ouvir o quanto Deus me
amava.
Assim foi José e Maria com Jesus. Dizem as
escrituras que ele crescia em sabedoria, graça e
estatura (Lucas 2, 40).
Jesus foi educado plenamente pelos pais.
Não se educa uma criança apenas para que
seja um bom religioso. Mas também não se educa
uma criança apenas para ser um bom cidadão. O ser
humano é dotado de corpo e alma. A referência maior
do amor desprendido e puro assim como da justiça é
Deus.
Todos passaram por momentos de crise na
vida e é neste momento que as pessoas desesperadas
procuram uma resposta. Se ela não estiver
fundamentada em Deus esta busca pode ser
extremamente desastrosa.
Quando Maria recebeu o chamado de Deus
estava já educada pelos seus pais para entender o que
Deus queria dela. Será que seu filho entenderia o que
Deus quer dele?
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Maria teve uma vida voltada para o outro,
para os que mais precisavam de ajuda. Trouxe-nos a
solução maior da vida. Foi fonte do perdão e da
misericórdia além de ser uma boa mulher.
Nossos filhos serão fonte de amor e doação
para os que mais precisam ou serão bons homens e
boas mulheres apenas? Filhos estudiosos e bons
profissionais? Mas do que o mundo precisa?
Renunciarão o tempo e o dinheiro para repartir com
quem mais precisa?
Dê-me um sinal
Maria é sem dúvida um modelo de vida cristã
para qualquer pessoa que seja, no mínimo, sensata.
Sua vida e sua doação persistente e perseverante nos
deixam um exemplo a seguir que não podemos
ignorar.
Entregar a vida para Deus não é fácil. É
enfrentar um paradigma. Confesso que a tentação de
ser alguém dentro dos parâmetros desta sociedade
que vivemos é bem mais fácil e cômoda (será?). Mas
andar ao contrário do que hoje se tem colocado como
normal precisa de muita força de Deus.
Maria foi e é ainda hoje uma contradição
para a sociedade. Expôs sua vida publicamente,
poderia ser morta e apedrejada em praça pública.
19
Abdicou de seus sonhos de menina para viver o
sonho de Deus e a sua vontade.
Que sinal maior poderia esperar de Deus?
Maria é o sinal claro e visível de que Deus abençoa
os que praticam a sua vontade.
Mas porque não enxergamos a virgem como
sinal visível? O mais importante, Deus nos ofereceu:
seu filho único para nos salvar.
Lembro-me de que em certa ocasião da
minha vida veio o chamado de Deus para fundar a
Comunidade Acolhimento Bom Pastor.
Primeiramente senti a indignidade de tal
ação. Depois a incapacidade. Enfim a reação da
negação.
“Senhor não pra mim! Não sou digno! Sou
incapaz! O peso da decisão é muito grande!”
Um dia estava em casa e já não agüentava
dentro de mim o incômodo (desculpe a sinceridade)
que trazia este chamado em minha vida. Na cozinha
de casa com uma vela apagada e com a bíblia aberta
diante de meus olhos disse a Deus:
“Deus se quer que eu faça então mande um
sinal visível e eu acreditarei”
Imaginei infantilmente que aquela vela
poderia acender à minha frente e pronto estava
confirmado que Deus me escolheu.
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Mas fiquei ali rezando e nada. Então
impacientemente acendi as luzes da cozinha e quando
fui pegar a bíblia aberta diante de mim li a seguinte
passagem:
Isaías respondeu: “Ouvi, casa de Davi: Não
vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis
cansar também o meu Deus? Por isso, o próprio
Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e
dará a luz um filho, e o chamará „Deus Conosco‟.
(Isaías 7, 10 a 14)
A resposta estava dada. Como poderia eu
perguntar a Deus se era vontade dEle que eu
abraçasse um projeto de amor aos que mais
precisam? Que sinal maior eu precisava do que o
nascimento do menino Deus através da virgem. Este é
o sinal maior. Nenhum sinal, nenhum milagre ou cura
jamais vai ultrapassar e ter um significado tão grande
quanto o sim de Maria.
Incrédulo como sou não entendi que o fato de
Deus se fazer homem, sofrer, ser humilhado e morrer
numa cruz por mim não bastaria para que eu
compreendesse que acolher seu chamado na minha
vida era uma questão tão lógica quanto viver para o
outro?
Entendo que quando pedimos sinais é porque
na verdade o que nos falta é a coragem de assumir o
chamado que Deus nos faz. Não é tanto a dúvida que
21
nos segura, mas a falta de coragem de abandonar
sonhos pessoais para viver o sonho de Deus em nossa
vida.
É mais cômodo dizer: “eu não tenho
vocação”.
Maria não hesitou em dizer sim! E graças ao
seu testemunho de fé e confiança Emanuel está entre
nós. Não que Deus não realizaria sua vontade se
Maria não aceitasse. Mas o fato é que Deus escolheu
alguém que estava cheia da graça e por isso viveu
intensamente o amor de Deus e ao amor a Deus.
Esta é uma das grandes diferenças entre
Maria e nós. Ela não só viveu o amor de Deus como
também viveu o amor a Deus.
Justamente isso que significa conversão:
mudar radicalmente o curso da vida para agradar a
Deus.
Não que Maria tenha se convertido, até
porque sua vida já estava voltada para Deus. Mas é o
que espera Deus de cada um de nós. Teria a coragem
de perguntar a Deus como fazer isso? Provavelmente
não queira perder privilégios.
Maria não disse sim a Deus no chamado que
recebeu, pois já vivia a decisão de Deus em sua vida.
Maria disse sim ao início da revelação plena de Deus
à humanidade e a redenção de todos nós.
22
Portanto estar em Deus é tão importante
quanto aceitar sua decisão em nossa vida.
E o anjo afastou-se dela
Vivemos um tempo onde as imagens nos
falam mais do que as palavras. Por isso nunca foi tão
desafiador falar de Deus. A aprendizagem de uma
pessoa exige muita dinâmica e técnicas.
Assim não tem sido diferente em relação à
evangelização. As pessoas procuram o tempo todo
sinais visíveis para acreditar. Eventos religiosos se
transformam em distribuição de curas e milagres.
Igrejas que vendem a fé pelas curas e milagres.
Pregadores que são aceitos pelas quantidades de curas
e milagres que anunciam. Não se busca a Jesus e sim
suas curas. Não se busca Jesus e sim os pregadores
que curam. Não se busca uma religião e sim um
mercado de ofertas, onde quem ganha mais é quem
vende mais e com mais ofertas possíveis.
Acredito que mais do que nunca a
comunidade precisa redescobrir a espiritualidade
mariana que é crer sem esperar nada em troca.
Acreditar e viver a palavra de Deus mesmo no
sofrimento e na dor.
Em um cerco de Jericó o pregador fez a
seguinte oração diante da cruz de Cristo: “Senhor, tira
23
todo nosso sofrimento!”. Pensei que estava em outra
igreja. Com este tipo de frase e ofertas é que muitas
igrejas lotam de pessoas que acreditam na proporção
que recebem. Quando vem o sofrimento ficam
decepcionados e por não aprenderem a lição de como
viver Deus em meios a dores, abandonam tudo e se
afundam em profunda depressão.
Minha mãe, dona Regina, viveu uma vida de
muita dor e sofrimento. Renunciou todas as coisas da
vida para educar seus onzes filhos. Não conhecia nem
o mercado que ficava perto de casa. Às vezes ia até o
portão de casa, isto quando varria o quintal. Uma
mulher que por obediência aceitou todos os filhos que
Deus lhe deu. Na sua simplicidade ela não sabia
como evitar naturalmente os filhos sem ofender a
Deus e respeitando o que a Igreja propõe que é o
método natural de evitar filhos. Poderia ter sofrido
menos. É bem verdade que meu pai foi pedir
conselho a um sacerdote que o orientou a aceitar
todos os filhos que Deus mandasse. Meus pais
sempre obedientes acabaram acolhendo seus doze
filhos (um faleceu com uma semana de vida).
Cuidaram também da minha avó e quando
meu avô era vivo meu pai entregava todo ordenado
dele nas mãos do seu pai.
Mas um dia me surpreendi com uma resposta
de minha mãe quando lhe questionaram porque não
24
evitou ter filhos. Ela com um sorriso, respondeu:
Qual dos meus filhos evitaria? E acrescentou: amo
todos os meus filhos.
Minha mãe teve uma vida extremamente
sofrida. Adoeceu e sofreu muito mais. Via seus lábios
sempre rezando e agradecendo Deus por tudo.
Um dia ao vê-la sofrer tanto, perguntei a ela
se ela desejava a morte. Ela me respondeu que queria
viver e que oferecia tudo pela conversão dos
pecadores.
Interessante! Ela viveu enquanto desejou e
pode rezar pelos outros. Um dia já muita cansada e
sofrida, não podendo mais andar, o médico lhe tinha
tirado as esperanças, ela tinha diabete e teve que
amputar a perna e um pé. Numa manhã um irmão
meu pode ouvir sua oração: “Senhor me leve
embora”. Naquele dia à tardinha faleceu levada nos
braços de minha irmã Cecília que cuidou com muito
carinho da mãe nos seus últimos dias de vida.
Tantas vezes levei minha mãe para o hospital
e via seu semblante tranqüilo e seus lábios
balbuciando ave-marias. Não murmura e nem
amaldiçoava.
Todos nós seus filhos aprendemos a rezar
com ela. Quando pequeno lembro-me de que a
primeira vez que rezei a Ave-Maria e o Pai-Nosso foi
ouvindo e rezando junto com minha mãe. Ela nos
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segurava perto do tanque de lavar roupas e fazia o
sinal da cruz em todos nós pela manhã e rezava junto
a Ave-Maria e Pai-Nosso. Assim fomos educados por
ela, sempre entre as tantas tarefas do dia a dia.
Foi assim que aprendi que devemos amar a
Deus no sofrimento e na alegria com a mesma
intensidade e fidelidade.
Diz a palavra de Deus que o anjo se afastou
de Maria logo após o anúncio. Em que outra ocasião
da vida de Maria você vê relatar na bíblia que um
anjo lhe apareceu novamente para consolá-la ou dizer
que não era para se preocupar que tudo o que estava
acontecendo em sua vida era vontade de Deus e tudo
estava sob o controle do Altíssimo?
Não! Na bíblia não houve mais nenhum
momento de sinal visível na vida de Maria. O sinal
que ela carregou no seu útero, nos seus braços e no
seu coração foi Jesus e bastou pra ela. Ela teve a
consciência de que Jesus é o sinal maior que um
cristão pode carregar. Que a Deus não se serve com
interesses e sim com a fé e com o amor. Maria amou
como ninguém o Amor.
Apresentação de Jesus
Imagine esta situação. Uma pessoa vai pra
igreja para receber bênçãos e ouvir notícias de alegria
26
e libertação. Quando chega àquele evento ou oração
ela ouve do pregador que sua vida será uma vida de
sacrifício e sofrimento. Será que esta pessoa sairia da
igreja com o coração em Deus e perseverante? Com
certeza não! Até porque as pessoas que se aproximam
de Deus muitas vezes vem pelo sofrimento e não por
amor. Imagine então se você fosse apresentar seu
filho na igreja e o sacerdote dissesse coisas tristes a
você e sobre seu filho, você continuaria e aceitaria
tudo?
Quando Maria se aproximou do templo um
homem justo e piedoso chamado Simeão lhe disse:
“Eis que este menino está destinado a ser uma causa
de queda e de soerguimento para muitos homens em
Israel, e a ser um sinal que provocará contradições, a
fim de serem revelados os pensamentos de muitos
corações. E uma espada transpassará a tua alma”.
(Lucas 2, 22 – 39)
Maria guardava tudo no silêncio do coração.
A espiritualidade do silêncio de Maria anda meio
distante de nossas vidas. Onde o som e os barulhos
falam mais do que a voz de Deus em nossas vidas.
Nossos eventos às vezes são aglomerados de sons e
gestos que quando passam, perguntamos: o que
aprendemos hoje? O que ficou?
27
Vida sofrida
Assim foi a vida de Maria, uma vida de
sacrifícios e doação. Teve que fugir de Herodes para
que seu filho não morresse. Pensou tê-lo perdido aos
doze anos quando ele sumiu e estava no templo
discutindo com os doutores da Lei. Teve que ouvir
das pessoas de seu tempo que seu filho era maluco e
contrário à lei.
José parte para sempre da sua vida, vindo a
falecer.
Aceitou o início da vida pública de Jesus e
por isso sua única companhia já não ficava ao seu
lado o tempo todo.
Em nenhum desses momentos Maria deixou
de acreditar em Deus e na sua promessa. Não foram
sinais e milagres que aconteceram diante dos olhos de
Maria que a fizeram perseverante e confiante em
Deus. Não! Pelo menos não este tipo de sinais que
gostamos de ver e experimentar para acreditar.
Não houve na vida de Maria nenhum
privilégio por ser a mãe do salvador. Até pelo
contrário sofreu muito pelo sim que deu. Em nenhum
momento deixou de ser mulher, mas o foi na
intensidade e na força que a mulher tem.
Foi tão povo e tão humana que quase passou
despercebida na história. Não fosse a compreensão
28
espiritual e olhar atento dos que enxergaram nesta
mulher a figura da mulher autêntica e da cristã plena
de graça que foi. A nova Eva!
Quando falamos de Maria devemos nos
preocupar em não deixa-la tomar o lugar de Deus.
Apesar de que, para mim, é claro que quem se achega
a Maria mesmo não tendo uma consciência clara e
exagerando na sua devoção, acaba se encontrando
com Cristo. Maria não permitiria ser adorada como
deusa. Não é possível aproximar da mãe e não ter um
encontro com o filho.
Maria intercessora
A passagem da festa de Caná da Galileia
(João 2) demonstra em alguns aspectos da leitura o
respeito do apóstolo João por Maria e sua influência
intercessora por aqueles que estão em apuros.
No início da leitura desta passagem diz João:
houve uma festa em Caná da Galileia, e já no início
da passagem enfatiza em primeiro lugar a presença da
mãe de Jesus. Por quê? Só depois ele cita também
que entre os convidados estavam também Jesus e os
discípulos.
João adorou Maria? Colocou-a na frente de
Jesus? Não! Qualquer outro poderia cometer um erro
de interpretação da figura de Maria, mas não João.
29
João era o discípulo amado de Jesus. Também o que
demonstrava amor verdadeiro a Jesus. Estava ele ao
pé da cruz e foi a ele que Jesus confiou Maria como
mãe: Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o
discípulo que amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aí
teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis aí tua
mãe”. Diz ainda a escritura: E dessa hora em diante o
discípulo a levou para casa. (João 19, 26 – 27)
Veja, quando o evangelho de João foi escrito
já se passara muitos anos da morte de Jesus. Portanto
isto significa que João conviveu e morou com Maria.
Foi com Maria que João viveu. Primeiro
Jesus pediu a Maria que acolhesse João. Maria
possuía os dons por excelência, era cheia da graça.
Foi ela que, mesmo com a notícia da sua gravidez,
levantou-se e foi até Isabel para acolhê-la e ajudá-la
na gravidez.
Esta atitude prestativa de Maria em ir ao
encontro de quem precisa é experimentado por
aqueles que, como João, acolhem-na em sua casa.
Um lar que reza o terço é um lar abençoado.
Senti sempre em casa uma benção e harmonia
grande de Deus. Lembro-me de que meu pai dizia
que um lar que reza unido, permanece unido. Que
Deus jamais abandona seus filhos. Sempre tivemos o
necessário em casa. Meu pai dizia que Deus não nos
deixaria viver sem o necessário.
30
João acolhe Maria como filho. Vive com
Maria. Experimenta a força daquela mulher e sua fé
em Deus. Só reconhece o papel de Maria na vida
cristã quem ama como João. Foi João que entendeu a
ressurreição (João 20,8). Foi João que reconheceu
Jesus depois de ressuscitado naquela pesca milagrosa
(João 21, 7). O discípulo que ama e é amado é quem
reconhece o amado. Não é apenas uma questão
racional e sim uma experiência profunda do amor que
faz João reconhecer Jesus. Portanto foi João quem
acolheu na vida Maria. Só o discípulo amado é que
reconhece a importância da mãe de Jesus em sua
vida. Ao destacar a presença importante da mãe
naquela festa, João acolhe indiretamente a presença
do amado Jesus como filho de Maria.
Corremos o risco de recusar a importância de
Maria pelo machismo e pela ignorância da fé. Quem
ama reconhece e acolhe a mãe em sua casa.
Por isso, por viver com Maria, João citou em
seu evangelho o primeiro milagre de Jesus. Quem
influenciou este milagre? Maria.
Maria não pediu um sinal para acreditar mais
em Deus. Em nenhum momento da bíblia nos mostra
Maria intercedendo para si própria. Ela ao ver que o
vinho estava acabando na festa e preocupada com o
vexame dos noivos, intercedeu junto a Jesus para que
Ele transformasse a água em vinho.
31
Diria que nesta passagem bíblica em uma
única frase Maria definiu tudo o que espera de nós
como cristãos: ela se aproximou dos convidados e
disse “Fazei tudo o que Jesus vos disser”. Quer
agradar Nossa Senhora, faça tudo o que Jesus ordenar
para sua vida.
Fazer tudo o que Jesus nos pede, significa ser
feliz. O vinho representava justamente isso na festa.
O vinho representava a felicidade naquele casamento.
Um casal que se aproxima de Maria,
encontra-se com o vinho da felicidade que é Jesus.
Eram seis talhas de água que os empregados
encheram de água. Seis é um número significativo na
bíblia, significa imperfeição. O sétimo jarro é Jesus
que traz a perfeição da felicidade plena, que só DEUS
pode oferecer. Entende porque educar bem os filhos,
para que sejam bons homens e boas mulheres é
importante, mas não é completo se não tiverem um
encontro com Jesus, a sétima jarra.
Dizem as escrituras que o chefe do servente
admirou que o vinho melhor fosse oferecido no fim
da festa, quando era costume oferecer o vinho melhor
no começo da festa. Só Jesus pode oferecer o vinho (a
felicidade) melhor em nossas vidas. Não se engane e
não se deixe enganar por vã filosofia e
intelectualismo ateísta. Nem deixe que seus traumas e
32
remorsos o impeçam de enxergar a importância da
sétima jarra na sua vida.
Maria não faz milagres, nem cura. Não é uma
deusa. Não está acima de Deus. Maria simplesmente
nos leva a Jesus para que possamos experimentar o
melhor vinho da nossa vida que é a felicidade eterna.
Por isso a bíblia nos adverte que não
devemos nos embriagar do vinho que é uma fonte de
devassidão, mas embriagar-nos do Espírito Santo que
é fonte da salvação (Efésios 5, 18). Maria era
embriagada do Espírito Santo, por isso disse o anjo
“O Espírito Santo descerá sobre ti e sua sombra a
envolverá”. Maria, repito, era cheia da graça.
Embriagada do amor pelo seu filho Jesus. Maria
amava profundamente Deus. Ninguém fora Jesus
amou tanto Deus como Maria amou. Nenhum
personagem bíblico amou a Deus como Maria.
Ninguém viveu Deus na extremidade das suas forças
e fraquezas como Maria viveu.
O anjo se afastou dela. Nenhum benefício,
nem mesmo nenhum reconhecimento, nenhum
privilégio, nenhum status, ela teve na comunidade
cristã. Simples, discreta, orante e no silêncio do
coração expressou sua fé e seu testemunho. Ninguém
como Maria testemunhou tanto Deus em vida.
Não conheço e nem conhecerei um crente que
amou e viveu Deus como Maria.
33
Amar sem ser percebida e sem ser
unanimidade. Amar sem exigir privilégios e posição.
Amar em silêncio. Não houve ninguém como Maria.
Imagino o evangelista Lucas sentado aos pés
de Maria e pedindo a ela para contar as histórias de
sua experiência como mãe de Jesus. Este como João
também deu ênfase à figura da mãe de Jesus, porque
conviveu e experimentou a espiritualidade de Maria
com o Deus que tanto amara. Porque não percebo a
importância de Maria? Provavelmente porque sua
simplicidade e seu amor desprendido nada têm a ver
comigo. Porque não permiti respeitar e experimentar
o importante papel de Maria na vida cristã.
Alguns fanáticos religiosos se se
encontrassem com Maria aprenderiam a acolher os
irmãos sem julgar, e entenderiam que, como o
coração de mãe, Deus ama a todos e
preferencialmente os filhos mais sofridos, não pela
diferença, mas pela urgência. Veja as prisões, quem
geralmente está lá de pé esperando para visitar o filho
que está preso? São as mães que quando surgem
rebeliões, gritam desesperadas e choram pela vida
dos filhos. Isto se chama amor de mãe. Para
compreender o amor de Deus é preciso entender o
amor de mãe. Humanamente falando é o amor de mãe
que mais se aproxima do amor de Deus.
34
Só Deus para confiar em seus filhos e ter
paciência e misericórdia para com os que erram. Quer
entender melhor o que isso significa? Entenda a
espiritualidade de Maria e compreenderá que Deus é
Amor.
A alegria que vem de Maria
Um pouco antes de minha mãe falecer ela
desejou visitar o Santuário de Nossa Senhora
Aparecida. Estava muito bem, e andando com um
pouco de dificuldade. No seu interior sentia que não
poderia mais visitar Maria. Neste tempo meu irmão
Nilson que hoje trabalha no acolhimento de
moradores de rua, estava trabalhando em Taubaté e
veio para Jundiaí buscar meus pais para levá-los à
Aparecida do Norte. Minha mãe e meu pai festejaram
esta viagem. Ela alegre dizia que foi o melhor
presente da vida dela naquele momento. Voltou feliz
e dizendo que agora estava em paz. No retorno à casa
de meu irmão, ela escorregou no banheiro e se
machucou. Ficou na cadeira de roda. Quando ainda se
recuperava, o médico lhe disse que poderia começar a
andar novamente, mas no dia que tentou se levantar
caiu novamente ferindo o fêmur e nunca mais poderia
andar e sair.
35
Mulher combatente, mesmo muito enferma
lutava para viver e queria de todas as formas não
depender de ninguém. Mas desta vez foi irreparável e
sua recuperação não foi possível. Toda vez que me
aproximava de minha mãe sentia uma força enorme
de reagir contra as dificuldades. Quando lhe
confidenciava minhas dificuldades e desânimos, ela
dizia pra eu confiar em Deus que tudo iria se acertar.
E tudo se acertava.
Várias vezes em minha vida eu me aproximei
de Maria e lhe pedi que me ajudasse no serviço a
Deus e sempre ela me atendeu.
Ouvia sempre minha mãe me dizer que era
feliz. Que tinha amor a Deus e a quem mais devotava
sua esperança.
Quando Maria foi à casa de Isabel ( Lc 1, 39
– 56), ela ao entrar na casa da sua prima e saudar
dizem as escrituras que no ventre de Isabel João
Batista com seis meses se estremeceu e Isabel ficou
cheia do Espírito Santo. Maria transmitia a alegria e a
força de Deus a quem se aproximava dela. Isabel
ficou cheia do Espírito Santo ao falar com Maria por
alguns segundos apenas. Quando rezamos com
Maria, sentimos a força do Espírito Santo de Deus em
nós. Não há como não estremecer o interior depois de
um encontro mariano.
36
Isabel se diz honrada ao receber a mãe do
salvador. Diz que Maria é bem aventurada entre as
mulheres. Dá para entender isso? Isabel falou estas
palavras em extrema unção do Espírito Santo. Quem
reconhece a importância e a honra de receber Maria?
Quem em seu interior estremece a presença do
Espírito de Deus.
Isabel disse a Maria: “bendito é fruto do teu
ventre”. Maria carregou dentro de si Jesus. Carregou
a salvação do mundo em seu útero. O sangue que
corria na veia de Jesus e que foi derramado na cruz é
o mesmo sangue que correu na veia de Maria. Você
já carregou Jesus em seu interior com maior
intensidade que Maria? Fez algum feto estremecer no
seio de alguma mulher com a presença de Jesus em
você? Maria fez.
Bendita é Maria, como disse Isabel, que com
seu sim e com sua fé fez com que se cumprissem as
coisas da parte do Senhor que foram ditas a ela e
somente a ela. Aceite ou não, Maria foi a escolhida
entre tantas mulheres.
Um dia estava trabalhando de madrugada na
Padaria, fazendo pães e estava muito abatido.
Cansado sentia que não poderia mais suportar aquela
vida corrida que era dentro de uma padaria.
Trabalhava de segunda a segunda, entrando de
37
madrugada e ficando até a noite para fechar o
comércio.
Neste dia, estressado, pus-me a chorar e não
conseguia rezar como de costume. Liguei o rádio e
coloquei um CD religioso. Num determinado
momento, senti a presença de Maria como que se ela
olhasse pra mim sorrindo. Passou um vento
refrescante naquele calor que fazia com o forno
ligado, senti como se Maria passasse a mão sobre o
meu cabelo. Neste exato momento começa a tocar
uma música de Maria. Uma enorme força me
apoderou e senti-me leve e feliz. Todo o cansaço se
dissipou e fui revitalizado, muito feliz glorifiquei
aquela madrugada inteira a Deus e ao seu amor por
mim.
Quem encontra com Maria encontra com a
alegria. Maria transparecia entusiasmo e alegria por
Deus e pela vida.
Mãe dos pobres e dos aflitos
Por isso Maria ao ouvir a saudação de Isabel
cantou ou declarou o magnificat. Maria era cheia
vida, uma jovem que não deixou de viver e ser feliz
porque decidiu por Deus radicalmente. Aliás,
misteriosamente, os que se entregam de corpo e alma
38
a Deus são pessoas felizes. Assim como é triste quem
não conheceu Deus ou não decidiu plenamente por
Ele.
Maria pronunciou o Magnificat, esta bela
oração, com o entusiasmo de quem encontrou com
seu amado, e apaixonada declarou seu amor a Deus
onde Ele se encontrava.
Declarou o amor a Deus presente em sua
alma e exultou de alegria em Deus como salvador.
Esta era uma diferença de Maria. Ela disse que Deus
era seu salvador. Antes de declará-lo como salvador
ela o tinha como senhor da sua vida.
Disse que Deus a olhou e que era pobre
serva. Foi assim que Maria se colocou diante de Deus
a vida toda e especialmente na visita do anjo: “Faça-
se em mim pobre serva o que a Deus aprouver”.
Muitos pastores e cristãos precisam descobrir esta
servidão de Maria para suas vidas e não se sentir
melhor que ninguém porque carrega a palavra de
Deus como vocação.
Servo naquela época não tinha horário para
atender ao patrão. Não possuía posse alguma, servia o
tempo todo em disponibilidade ao patrão. Vivia em
função do patrão. Mas esta servidão de Maria é
diferente apesar de carregar as mesmas características
de uma serva. A aceitação de servir a Deus de forma
39
livre e com satisfação. Maria não agia por obrigação
e sim por amor. Por isso era livre!
Diz na minha bíblia e na sua, provavelmente,
que Maria declarou: “proclamar-me-ão bem
aventurada entre todas as gerações, porque realizou
em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo
nome é Santo”. Então você tem feito com que esta
palavra aconteça em sua comunidade? Você tem
proclamado e ensinado sua geração a proclamar
Maria como bem aventurada? Ou tem pisado na
bíblia, recusando reconhecer a importância desta bem
aventurada na sua vida e na vida de seus filhos?
Maria fala da misericórdia de Deus, e
ninguém como Maria transmitiu tanto a misericórdia
de Deus em vida. Não se revoltou com os que
mataram seu filho. Em silêncio aceitou tudo na
confiança de Deus.
Diz S. Afonso que “não há pecador, nem o
maior de todos, que se perca se Maria o protege”.
A propósito disso, dizia o Papa S. Gregório:
“Quanto mais ela é excelsa e mais santa, tanto mais
doce e mais piedosa é para com os pecadores que se
querem emendar e a ela recorrem” (GM, p. 29).
S. Bernardo dizia a Maria: “Mas como
podereis vós, ó Maria, deixar de socorrer os infelizes,
se vós sois a Rainha da misericórdia?” (GM,p.30).
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Nossa confiança em Maria deve ser ilimitada,
ainda que carreguemos uma multidão de pecados.
A Santa Brígida, Nossa Senhora disse certa
vez: “Eu sou Rainha do Céu e Mãe da Misericórdia;
para os justos sou a alegria e, para os pecadores, a
porta por onde entram para Deus. Não há no mundo
pecador tão perdido que não participe de minha
misericórdia; pois por minha intercessão todos são
menos tentados do que, aliás, haviam de ser. Nenhum
deles, a não ser o que de tudo esteja repudiado por
Deus, nenhum deles é tão abandonado por Deus que
não consiga reconciliar-se com Ele e conseguir
misericórdia, se implora minha intercessão. Infeliz,
portanto, conclui a Virgem, infeliz será eternamente
na outra vida aquele que podendo nesta vida recorrer
a mim, tão compassiva com todos, não me invoca e
se perde!” (GM, p. 31).
Maria também disse no magnificat que Deus
“Manifestou a força de seu braço: desconcertou os
corações dos soberbos. Derrubou do trono os
poderosos e exaltou os humildes. saciou de bens os
indigentes e despediu de mãos vazias os ricos”.
Maria mostra sua espiritualidade. Era
obediente em tudo o que Deus ordenara. Via Deus na
oração assim como via e acolhia Deus no Pobre. Sua
vida era plena em Deus, agia e orava.
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Isto pode explicar porque nas aparições de
Nossa Senhora, ela sempre acolhe os pobres. Aqui no
Brasil se apresentou como negra na imagem de Nossa
Senhora Aparecida na época em que a escravidão só
existia no Brasil, já que outros países tinham já dado
a abolição. Negra acolhe os negros e traz a mensagem
da libertação.
Aparece no México a um índio. Os índios
estavam sofrendo pela injustiça social, eram
desprezados e sofriam o preconceito. Ela aparece em
Guadalupe para trazer a mensagem da libertação aos
índios que eram tratados como selvagem. Assim
como diziam que os negros não tinham alma, os
índios também foram visitados pela mãe que ama
seus filhos para trazer a certeza de que Deus está
presente no índio e no negro. Assim apareceu para os
pastorzinhos em Portugal, uma classe menosprezada
na época pelo governo. Assim apareceu em
Medjugorje para um grupo excluído de minoria
católica que sofria as injustiças em um país
comunista.
Maria é mãe dos aflitos e desconsolados. É
mãe de todos. Dos que a acolhem na fé e dos que não
a compreendem.
Nos momentos de maior aflição Maria se faz
presente com sua intercessão e acolhe os filhos
aflitos.
42
Minha sogra estava grávida de seu segundo
filho e no dia de seu parto houve complicações
sérias. O médico disse a meu sogro que tanto a mãe
como o filho corriam perigo de vida.
Meu sogro foi até a igreja de Nossa Senhora
do Carmo e pediu que olhasse pelos dois.
Voltando ao hospital seu filho havia nascido,
apesar de toda dificuldade e a esposa estava bem.
Teve mais uma filha, a caçula, minha esposa
Regina Célia.
Na hora da morte
Maria é uma presença marcante na hora da
morte. Ela mesma em suas manifestações diz que
aqueles que rezarem e obedecerem a Deus terão uma
morte abençoada. Na Ave-Maria pedimos que Maria
rogue por nós agora e na hora da nossa morte.
Conheço diversas histórias em que Maria, na
hora da morte ou perto da morte, pela sua intercessão
fez acontecer o consolo ou graça da vida.
Meu avô um homem temente a Deus rezava o
terço diariamente. Desejou morrer às dezoito horas,
hora do Ângelus, hora de Maria. Sua morte aconteceu
às seis horas da tarde conforme ele desejou.
Certa vez visitei uma mulher que agonizava
em seu barraco. Gritava de dor e expulsava todo
43
mundo que entrava em seu quarto. Chamaram-me
para visitá-la, lá encontrei alguns irmãos do grupo de
Oração que estavam fora e me disseram que ela
estava amaldiçoando todo mundo que entrava ali.
Essa mulher abusou da bebida e estava com
câncer. Mas vinha participando do grupo de Oração e
conheceu Deus em sua vida. Mas por um destes
mistérios de Deus, não alcançou a cura e por isso
entrou em agonia de dor violenta por causa da
doença.
O hospital a despejou ali em seu barraco e
deixou-a agonizando.
Entrei em sua casa e uma parenta me avisou
que ela estava blasfemando. Pensei comigo: se fosse
eu estaria fazendo pior. Olhei pra ela com amor,
percebi que Deus a amava muito e que com seu amor
não se importava com os palavrões que proferia.
Disseram que eu estava ali e ela parou de blasfemar.
Pedi a ela se podia rezar por ela e ela com a cabeça
consentiu. Rezei e ela acalmou-se. Disse-me que a
dor era insuportável e que não agüentava mais viver.
Quando sai dali com algumas mulheres de oração na
comunidade, disse que chegaria a casa e rezaria o
terço a Nossa Senhora para que ela fosse levada por
Deus. As mulheres acharam um absurdo pedir a
morte dela. Então disse que pediria para Maria fazer
algo. Cheguei em casa rezei o terço, ofereci a ela e
44
poucos minutos depois uma das mulheres me ligou e
disse que a mulher havia partido.
Certa vez meu pai entrou em coma. Eu e meu
irmão fomos visitá-lo no hospital. Lá encontramos
uma enfermeira do Grupo de Oração que nos
conhecia muito bem e aos prantos nos disse que meu
pai não passaria daquele dia. Ficamos tranquilos e
conversamos com o médico que nos informou que o
coração do meu pai que era forte estava
enfraquecendo, pois os pulmões não reagiam, meu
pai fumou muito em vida. Disse o médico que
dificilmente meu pai passaria daquele dia.
Lembro-me sempre do que meus pais me
disserem que Maria ajudava na hora da morte.
Fomos até o leito do meu pai e coloquei a
minha mão na sua mão e rezei. Senti uma força
medonha passando pelos meus braços e indo para os
braços do meu pai. Como se fosse algo vindo e indo.
Senti uma tremenda paz.
Voltei para casa de meus pais e levei a notícia
aos meus irmãos. Minha irmã Cecília ao ouvir a
notícia, surpreendentemente afirmou que o pai não
morreria. Ela disse que sentiu Deus falando em sua
oração e uniu toda família para rezar o terço à noite.
Eu iniciei a oração falando que devíamos nos
preparar para o pior. Minha irmã Cecília me corrigiu,
dizendo que o pai se recuperaria. Confesso que me
45
irritei com sua persistência e ela leu uma passagem da
bíblia que mostrava que Deus tiraria meu pai da
morte.
Cecília é uma pessoa de oração, fundadora
junto com seu esposo Luizinho da Neftai, uma
comunidade que trabalha na recuperação de
dependentes químicos.
Devota de Maria e fiel ao terço. Certa ocasião
ela passava por uma dificuldade muito grande em sua
casa. Uma mulher lhe disse: “Não sei como você
aguenta este sofrimento todo?” O que ela respondeu:
“Não sei quanto a você, mas meu joelho é cheio de
calos”. Deus libertou sua casa e o sofrimento tornou-
se motivo e caminho da salvação de muitos
dependentes químicos.
Voltando a agonia do meu pai; achei
engraçado que ouvira por parte de um dos irmãos que
estava no mercado e encontrou com uma pessoa que
falou da situação do meu pai. Um homem muito
amigo do meu pai que estava por perto da conversa
afirmou: Você não conhece esta família, este homem
não vai morrer. A oração deles é poderosa.
Naquela noite rezamos o terço e naquela
noite recebemos a notícia de que o pulmão que não
reagia resolveu funcionar. Meu pai saiu do coma e
viveu bem ainda por alguns anos.
46
Veio a falecer alguns anos depois, estava
praticamente vegetativo em uma cama. No dia
anterior à sua morte enquanto agonizava, minha
cunhada falou pra ele se queria que rezasse o terço.
Ele que não falava mais e não reagia às nossas
conversas, abanou a cabeça como que dizendo sim e
balbuciou o terço, minha cunhada disse que via seus
lábios se mexendo e acompanhando a ave-maria.
Nesta noite partiu, com algumas pessoas rezando ao
lado dele o tempo todo.
Mas de toda história que vi de pessoas
próximas à morte ou que saíram milagrosamente
dela, a da minha mãe foi a mais espantosa.
Minha mãe também entrou certa vez em
coma. Passou alguns dias na UTI do hospital e
também mesmo desenganada pelos médicos, retornou
do coma e viveu por alguns anos como aconteceu
com o meu pai.
Neste dia quando saiu da UTI fui eu o
primeiro a dormir com ela no hospital.
Minha mãe devido ao sofrimento em vida,
dificilmente a ouvia falar do passado sem amargura.
Gostava de dizer o quanto sofreu, não resmungava e
nem murmurava com afirmei acima, mas também não
falava com alegria sobre sua vida.
Também por ser muito religiosa, não aceitava
pessoas que eram segundo ela devassas e que se
47
prostituíam na vida. Diversas vezes dizia a ela que
Deus ama a todos e que morreu para salvar a todos.
Mas ela era irredutível e não aceitava esta
idéia.
Pois bem, naquele dia ela voltou do coma e
foi para o quarto. Cheguei junto com ela. Minha mãe
não era de muita conversa e sempre foi muita amarga
para falar da vida. Sofria depressão e estresse pela
doença e pela sofrida vida que teve. Mas era uma
mulher formidável, de um amor e doação que é difícil
encontrar hoje em alguém. Só fui compreendê-la
totalmente quando me casei e tive minha primeira
filha. Perdoei-me a mim mesmo por não amá-la mais
do que deveria; por causa do seu cansaço não
podíamos nem encostar-nos nela que nos arrancava e
dizia que queria sossego. Não me lembro na infância
e adolescência o que significasse um colo de mãe. Ela
não fazia carinho em nós. Quando ficou idosa e todos
os seus filhos estavam criados, Ela se transformou em
uma mulher doce e amável. Pois nesta época já não
carregava mais a difícil tarefa de cuidar dos filhos.
Brincava muito com ela, abraçava e a beijava e ela
ria. Assim faziam meus irmãos também. Era o stress
que a deixava tão distante. Às vezes gostaria de voltar
no tempo e ter protegido mais minha mãe.
Mas continuando o fato que contava.
Naquela noite, cansada pelo tempo que ficou em
48
coma ela olhou pra mim e disse: Filho que lugar lindo
e quanta Paz eu senti na UTI.
Lá me trataram muito bem e eu queria ter
ficado mais ali. Fizeram um teatro e neste teatro
apareceu um palhaço que começou a contar toda
minha história. Foi falando de cada filho que tive e
seus nomes e dizia: Ta vendo Dona Regina esta
menina representa sua filha caçula. Que menina linda
e que educação teve e depois relata toda história da
minha irmã caçula apontando tudo que era positivo
da vida dela. Repetiu o mesmo ritual com todos os
onze filhos e no fim sempre dizia: Ta vendo Dona
Regina, que mulher fantástica foi a senhora e que
linda educação você deu para seus filhos.
No fim deste primeiro ato o palhaço disse:
hoje quem educa onze filhos e aceitou-os a todos com
amor? Você Dona Regina foi uma mãe espetacular e
ofereceu aos seus filhos o mais importante. Eles são
honestos e todos vencedores na vida. Eles são
respeitados porque aprenderam com você a serem
honestos e de respeito.
Enquanto ela me contava cada parte do que
passou ali, com um sorriso e alegria dizia pra mim: É
verdade como sou feliz pelos filhos que tenho. Nunca
ouvira minha mãe dizer aquilo com tanta satisfação.
Depois me disse que o palhaço falou sobre
uma mulher, vizinha dela, minha mãe guardava muita
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mágoa desta mulher. Ela era ruim com minha mãe,
seus filhos jogavam barro no monte de roupas que
minha mãe lavava e ela tinha que lavar tudo de novo.
Imagina ter que lavar a roupa de onze filhos e da
casa, tudo duas vezes. Minha mãe foi falar com a
vizinha que a amaldiçoou e deu razão para seus
filhos. O palhaço disse: Dona Regina vê o que
aconteceu com esta mulher e seus filhos e seu
marido? Então seus filhos se perderam, o marido
bebia e morreu e seus filhos também.
Minha mãe se vira pra mim e diz, é verdade
isto aconteceu com esta mulher. Pobre mulher.
Eu particularmente nunca havia ouvido esta
história da boca da minha mãe.
Então ela me contou que também quem
cuidava dela na UTI era um médico. Ele a visitava e
dizia a ela: Dona Regina sou filho de homem muito
rico, mas nunca valorizei meus pais e minha vida.
Sou menino mimado e tive tudo na minha vida, mas
não aprendi a valorizar e por isso morri em um
acidente de carro. Meus pais me amaram e me deram
tudo e eu não valorizei nem meus pais e nem as
condições que tive de ser feliz na vida. Portanto não
acuse você mesma por não ter oferecido luxo pro seus
filhos, você ofereceu o que é mais importante. Seu
exemplo e sua doação foram muito mais do que
qualquer dinheiro ou luxo na vida deles. Seus filhos
50
estão vivos e são todos respeitosos. Não é o dinheiro
e nem os bens materiais o mais fundamental na vida
de uma pessoa. Você ofereceu a maior riqueza que
eles poderiam ter na vida: o caráter e a educação. O
médico disse: meus pais me mimaram e eu não soube
administrar minha vida.
Neste momento minha mãe me olha e diz:
Filho como sou feliz por ter educado vocês.
Não termina aqui esta experiência que tive no
Hospital naquela noite, ainda havia mais uma
surpresa:
Minha mãe disse que quem mais a tratou bem
na UTI foi um enfermeiro homossexual. Disse que
ele era extremamente atencioso e que ficou perto dela
o tempo todo acariciando seu cabelo e prometendo
cuidar dela enquanto estivesse ali internada.
Dizia a minha mãe este enfermeiro: Está me
vendo, dona Regina, não escolhi e nem pedi a Deus
para ser assim. Mas sei que Deus me ama.
Neste momento minha mãe olhou pra mim e
disse: Filho você tem razão quando me falava que
devemos amar as pessoas e aceitá-las em nossa vida.
Este menino enfermeiro me tratou tão bem e aprendi
a respeitá-lo como pessoa. Aquela mulher tão
moralista agora dizia que devia amar a todos.
Neste momento tentei questionar minha mãe
de toda história que relatou, quis dizer a ela que isso
51
não aconteceu na UTI, mas ela não aceitou e disse
que viu tudo isso e que era verdade. Apesar de ser
estranho este momento que passou, ela afirmava que
viu e experimentou isto na UTI.
Disse-me novamente que foram os melhores
dias da sua vida. Que era uma pessoa feliz e que seu
passado era um exemplo e que se sentia feliz por tudo
o que fez.
Perguntou-me sobre o pai e que estava
ansiosa por vê-lo novamente e que era feliz com este
homem. Lembro-me diversas vezes vendo meu pai
com carinho fazendo curativo nas feridas da minha
mãe e ele pedindo a ela que dissesse que o amava, ela
ficava brava e ele ria. Meu pai sempre foi muito
brincalhão. Sempre carinhoso com ela. No dia
posterior ela o abraçou com força e o beijou. Disse
que o amava! Que cena bonita!
A única coisa que tenho certeza de tudo isso é
que minha mãe se reconciliou com ela mesma antes
de partir. Que sua experiência de perdão a si própria
foi um sinal de que Deus a estava preparando para
partir.
Ah! Lembro-me também que ela dizia que
não partiu naquele momento, pois tinha ainda uma
missão a cumprir com um dos seus filhos.
Realmente! Aconteceu algo na família com
um dos seus filhos e ela acolheu este filho com amor
52
e orientou-o a não desanimar. Meu pai na época não
aceitou a notícia e minha mãe acabou sendo
estandarte e sustento na vida deste irmão. Justamente
minha mãe que era tão moralista antes desta
experiência.
Não sei o que aconteceu naquela UTI, só sei
que minha mãe saiu diferente de quando ali entrou.
Portanto acredito também que Maria está
presente na hora da morte.
Meu pai quando esteve em coma também nos
relatou que o lugar onde estava era maravilhoso e que
teve um encontro com Jesus e com Maria. Disse que
gostaria de viver o resto da sua vida naquele lugar.
Ao pé da cruz
Hoje é sexta-feira da paixão!
A quaresma passou e a luz da ressurreição do
senhor está chegando liturgicamente em nossas vidas
como igreja que somos. Por estas providências de
Deus na vida estou escrevendo este capítulo no dia
pelo qual Deus escolheu para demonstrar de forma
concreta o seu amor por todos nós que é a cruz.
Disse em alguns capítulos acima que o amor
de mãe é o amor que mais se aproxima do amor de
Deus. Poderia dizer seguindo este raciocínio que a
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dor da mãe é a dor que se aproxima mais da dor do
filho e às vezes até ultrapassa. Explico melhor. Quem
é pai ou mãe saberá do que eu estou falando. Quando
um filho nosso está doente, ou precisa passar por uma
cirurgia e está sofrendo quem sofre junto são os pais.
Quantas vezes eu me peguei pensando: se eu pudesse
trocar de lugar com ele e sofrer por ele o que está
passando. Portanto Maria como ninguém sofreu tanto
quanto Jesus neste dia da sua morte e que antecedeu
sua morte.
Dizem as escrituras que humilharam Jesus,
caçoaram dEle, cuspiram em seu rosto, colocaram
uma coroa de espinhos e bateram com um pau em sua
cabeça para que os espinhos afundasse mais ainda em
seu crânio. Ele foi espancado e humilhado pelo
caminho do calvário.
Tudo isso a mãe de Jesus acompanhou em
profunda dor. Como pai que sou imagino que não
aguentaria tal dor diante de mim. A pior dor é aquela
em que você vê quem mais ama sofrer e não pode
sofrer no lugar dele.
Se alguém em vida sofreu mais do que Maria,
eu estou para conhecer. Como posso não falar da mãe
de meu senhor se ela é um exemplo tão grande de
amor e de perseverança até as últimas consequências
por causa do Amor.
54
Aos pés da cruz nenhuma pessoa quis estar
em seu lugar. As pessoas provavelmente tiveram
pena daquela mulher pelo sofrimento que carregava.
Porque seu filho único, o último e único tão precioso
valor da sua vida estava naquela cruz como um
verme, conforme dizia o salmista.
O que passava em sua cabecinha, Maria? O
tempo que embalou o menino em seus braços? O
tempo que brincou e educou seu menino? A visita do
anjo naquele dia? E por falar de anjo, ele apareceu
neste momento? Não!
Maria não precisava de sinais, era uma
mulher plena de graça, humilde e mulher de fé.
Quem estava naquela cruz em pé? A bíblia
diz que era Maria e algumas mulheres. Interessante
são as mulheres que hoje estão em grande número na
igreja.
Maria estava de pé o tempo todo como se
quisesse dizer ao filho: aguenta firme, pois Deus te
salvará. Maria não abandonou Jesus no momento de
maior dor de seu filho. Qualquer um de nós nos
revoltaria. Qualquer um de nós desmaiaria neste
momento. Mas ela não, ela estava de pé.
Carregava Jesus em seu coração e por ser
mãe, sofria junto com ele. Não gritou! Não
desesperou! Mas sentiu muita dor, pois Maria é como
todos nós, com a diferença que ela era cheia da graça.
55
Ao iniciar a Comunidade de Acolhimento
Bom Pastor eu tive uma experiência marcante da
presença de Jesus em minha vida conforme relato
abaixo.
Cheguei ao Grupo de Oração e me coloquei
em oração, fechei os olhos e comecei a orar, foi
quando de repente fui conduzido por Deus a um
momento forte de oração onde não ouvia mais o ruído
da música e estava em um lugar escuro, onde
apareceram diante de mim dois olhos verdes e
delicados, pareciam femininos, que me olhavam
fixamente. Em meio aos dois olhos surgiu uma cruz
que veio em minha direção e entrou em minha vida e
os olhos sumiram diante de mim, e eu voltei a mim,
ouvi as músicas novamente tocarem, foi questão de
minutos.
Fiquei muito incomodado com esta
experiência, não bastasse a palavra de Ezequiel 47
que não saia da minha mente e do meu coração, agora
era esta experiência que me fazia refletir o que Deus
estava me pedindo. Fiquei profundamente chateado
comigo mesmo por não perguntar à dona daqueles
olhos: quem era ela?
Passado um mês mais ou menos estava eu
novamente na igreja no início do Grupo de Oração e
novamente fui levado a uma profunda experiência
parecida com a anterior, só que desta vez o que me
56
apareceram foram dois olhos que transmitiam um
profundo sofrimento, uma dor como nunca sentira em
minha vida eu vi nos olhos de alguém, aqueles olhos
transmitiam um sofrimento tão grande que eu tive
medo de olhar para eles, porém uma força não
permitiu que eu desviasse meu olhar dos seus olhos,
desta vez tive a coragem de perguntar “Quem és tu?”.
Quando fiz esta pergunta os dois olhos foram
se afastando de mim e mostrando a parte de cima da
cabeça e certifiquei então que havia uma coroa de
espinhos e o sangue derramou pelo rosto até que
sumiu diante de mim.
Voltei a mim e no final deste Grupo de
Oração uma senhora se aproximou de mim com um
presente em suas mãos e me presenteou, quando abri
o pacote, certifiquei que era uma camiseta com dois
olhos desenhados e escrito “Olhos firmes em Deus”.
Compreendi que o chamado de Deus em
minha vida iria trazer muito sofrimento e muita dor,
por isso a cruz que saiu entre os olhos de Maria e os
olhos sofridos de Jesus apareceram pra mim. Vi a dor
da marginalização dos que sofrem no olhar de Cristo.
O médico legista americano Frederick
Zugibe, um dos mais conceituados peritos criminais
em todo o mundo e professor da Universidade de
Columbia afirmou ao estudar o sofrimento do Cristo:
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“Ele foi vítima de extrema angústia mental e
isso drenou e debilitou a sua força física até a
exaustão total.”
Portanto Maria acompanhou tudo isso como
mãe, dá para você compreender o que significa um
filho ser tão castigado diante de seus olhos?
Ofereceram a Maria, agora em seus braços,
seu filho Morto. Ela o abraçou e o amou como
ninguém o amou na face da terra. Não brigou com
Deus. O que Deus outrora não permitiu que Abraão
fizesse com seu filho único, o permitiu que Maria o
fizesse. Por que diante dos olhos de Deus estava a
criatura mais bela e mais forte que Deus conheceu e
amou.
Conclusão
Hoje é a ressurreição do Senhor!
Ontem na celebração da Vigília da Páscoa
celebrei com toda a Comunidade a alegria da
ressurreição do meu Senhor. Que celebração
maravilhosa. Celebramos em Comunidade na Igreja
do São Camilo junto com nosso orientador espiritual
Padre Flávio.
Escrevi este livro em profunda emoção e
amor a Deus. Externei de forma simples e por
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diversas vezes me contive em querer escrever mais
sobre a importância de Maria.
Ao passar pela cruz e pelo calvário da agonia
e morte de Cristo seu filho, Maria presenciou o que é
mais belo e mais importante na vida de um ser
humano: a ressurreição do Senhor.
Maria após a ressurreição de Jesus esteve
junto com a comunidade, sempre presente e
silenciosa, discreta e profundamente tranquila como
sempre foi.
Aquela manhã de domingo era como uma luz
refrescante que veio suavizar toda a dor e sofrimento
que Maria passou. Até então ela era a Mãe do Cristo
que morreu numa cruz devido aos nossos pecados.
Agora ela é a Mãe do salvador.
A manhã da ressurreição é o dia que todos
nós aguardamos chegar em nossas vidas.
Maria é o santuário mais sagrado da vida!
Pois carregou em seu ventre Jesus, o Filho de Deus!
A vitória de Deus foi a vitória de Maria e é a
vitória de todos os que creem e não creem. Nem os
demônios imaginavam como a sabedoria (cruz) de
Deus decretaria a salvação de toda a humanidade.
Deus é por demais desconcertante e no seu poder nos
tem amado plenamente. Maria pisou na cabeça da
serpente (demônio) que seduziu Eva e a fez pecar.
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Também não compreendemos em nossa vida
os caminhos da sabedoria divina. O porquê de certas
situações e sofrimentos. Por isso é tão importante
redescobrirmos a espiritualidade mariana em nossa
caminhada. Em um tempo onde crer está associado
tanto a sinais e prosperidade falar de Maria ainda é
um grande desafio.
Quando estiver passando por dificuldade ou
desânimo faça como Maria. Guarde tudo no silêncio
do coração e espere em Deus. Amanhã
provavelmente você verá a luz da ressurreição.
Sempre imaginei Maria como aquela que teve
sua história até a ressurreição de Jesus. Não percebia
isso, mas nunca em minha vida cristã tinha pensado
sobre Maria após a morte de Jesus e sua ressurreição.
Até pensei nela no Pentecostes, mas não com a
profundidade que a vida dela merecia após a
ressurreição do Senhor.
Um dia estava desanimado com as coisas de
Deus, murmurei muito neste dia, falando do meu
cansaço a Deus e neste dia resolvi não ir a uma
oração que estava acontecendo na igreja por puro
desânimo. Fiquei em casa e em certo momento
levantei-me para beber água na geladeira. Quando vi
na porta da geladeira seguro por ímãs a imagem de
Nossa Senhora do Desterro que havíamos recebido do
padre no final de ano. Algo me segurou diante
60
daquele cartão preso à geladeira. No meu pensamento
e em meu coração começou a passar como que um
filme da história e das dores de Maria. Quando me
surpreendi dizendo a mim mesmo que aquela mulher
foi fiel a Deus por toda a vida dela. Isso significava
que ela viveu Jesus uma vida toda de forma normal.
Após a ressurreição do Senhor ela viveu ainda sua
fidelidade e seu amor por muitos anos. Que mulher
fantástica e que exemplo para todos nós. Pensei
comigo após todos seus sofrimentos, ela não deixou
de amar a Deus. Quem sou eu para então desanimar.
Então disse a ela: Mãe me ensine amar Jesus como
você amou. Minha alegria voltou e perseverei no
caminho de Deus.
Na ocasião de Pentecostes, Maria Santíssima
tinha mais ou menos 47 anos de idade. Depois desse
fato, permaneceu Ela ainda 25 anos na terra, para
educar e formar, por assim dizer, a Igreja nascente,
como outrora ela educara, protegera, e dirigira a
infância do Filho de Deus.
Ela terminou sua "carreira mortal" na idade
de 72 anos, conforme a opinião mais comum.
A morte de Nossa Senhora foi suave,
chamada de "dormição".
Quis Nosso Senhor dar esta suprema
consolação à sua Mãe Santíssima e aos seus apóstolos
e discípulos que assistiram a "dormição" de Nossa
61
Senhora, entre os quais se sobressai S. Dionísio
Aeropagita, discípulo de S. Paulo e primeiro Bispo de
Paris, o qual nos conservou a narração desse fato.
Diversos Santos Padres da Igreja contam que
os Apóstolos foram milagrosamente levados para
Jerusalém na noite que precedera o desenlace da
Bem-aventurada Virgem Maria.
S. João Damasceno, um dos mais ilustres
doutores da Igreja Oriental, refere que os fiéis de
Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua
Mãe querida, como a chamavam, vieram em multidão
prestar-lhe as últimas homenagens e que logo se
multiplicaram os milagres em redor da relíquia
sagrada de seu corpo.
Três dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé,
que a Providência divina parecia ter afastado, para
melhor manifestar a glória de Nossa Senhora, como
dele já se servira para manifestar o fato da
ressurreição de Nosso Senhor.
S. Tomé pediu para ver o corpo de Nossa
Senhora.
Quando retiraram a pedra, o corpo já não
mais se encontrava.
Do túmulo se exalava um perfume de
suavidade celestial!
Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho,
a Virgem Santa ressuscitara ao terceiro dia. Os anjos
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retiraram o seu corpo imaculado e o transportaram ao
céu, onde ele goza de uma glória inefável.
Nada é mais autêntico do que estas antigas
tradições da Igreja sobre o mistério da Assunção da
Mãe de Deus, encontradas nos escritos dos Santos
Padres e Doutores da Igreja, dos primeiros séculos, e
relatadas no Concílio geral de Calcedônia, em 451.
Como Nossa Senhora era isenta do 'pecado
original', ela estava imune à sentença de morte
(conseqüência da expulsão do paraíso terrestre).
Todavia, por não ter acesso à "árvore da vida" (que
ficava no paraíso terrestre), Maria Santíssima teria
que passar por uma "morte suave" ou uma
"dormição".
Por um privilégio especial de Deus, acredita-
se que Nossa Senhora não precisaria morrer se assim
o desejasse, ainda que não tivesse acesso à "árvore da
vida".
Tudo isso, é claro, ainda poderá ser melhor
explicado com o tempo, quando a Igreja for
explicitando certos mistérios relativos à Santíssima
Virgem Maria que até hoje permanecem sigilosos.
Muito pouco ainda descobrimos sobre a
grandeza de Nossa Senhora, como bem disse S. Luiz
Maria G. de Montfort em seu livro "Tratado da
Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem".
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É certo que Nossa Senhora escolheu passar
pela morte, mesmo não tendo necessidade.
Quais foram, então, as razões da escolha da
morte por Nossa Senhora?
Pode-se levantar várias hipóteses. O Pe. Júlio
Maria (da década de 40) assinala quatro:
1) Para refutar, de antemão, a heresia dos que mais
tarde pretenderiam que Maria Santíssima não tivesse
sido uma simples criatura como nós, mas pertencesse
à natureza angélica.
2) Para em tudo se assemelhar ao seu divino Filho.
3) Para não perder os merecimentos de aceitação
resignada da morte.
4) Para nos servir de modelo e ensinar a bem morrer.
Podemos, pois, resumir esta doutrina dizendo
que Deus criou o homem mortal. Deus deu a Maria
Santíssima não o direito (por não ter acesso à "Árvore
da vida"), mas o privilégio, de ser imortal. Ela
preferiu ser semelhante ao seu Filho, escolhendo
voluntariamente a morte, e não a padecendo como
castigo do pecado original que nunca tivera.
Que Maria interceda por todos nós filhos
amados de Deus. Que Maria nos leve sempre a adorar
a Jesus como senhor e rei de nossas vidas.
Que Maria nos ensine principalmente a ser
perseverantes na fé. Que sejamos acolhedores do
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sinal por excelência: Jesus nascido de uma virgem!
Amém!
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BIOGRAFIA
Gilberto é um dos fundadores da Comunidade
Acolhimento Bom Pastor.
Autor dos livros:
1 - Deus enviou um profeta! Você o acolheu?
2 – Lançai as redes!
3 – Vinde, Bendito!
Filho de pais católicos é um dos onze filhos que
Miltom e Regina tiveram.
Esposo de Regina e pai de Mariana (nove anos) e
Juliana (cinco anos).
Participou de diversos segmentos na Igreja:
Vicentino, Legionário de Maria, Congregado Mariano,
Comunidade de Jovens, Pastorais e Catequista.
Em 1982 conheceu a Renovação Carismática
Católica e através da experiência do Pentecostes teve a
certeza do amor de Deus.
Aos 35 anos de vida juntamente com os irmãos:
Branca, Mauro, Carlos, Isabel, Celso, Rita e Regina
fundaram a Comunidade Acolhimento Bom Pastor.
A Comunidade tem como carisma o Acolhimento
baseado na tríplice dimensão: acolher é amar, é
evangelizar, é formar.
A Comunidade Acolhimento Bom Pastor através
de seu carisma prega a Palavra de Deus onde é convidada e
realiza um trabalho social de promoção humana e
cidadania através do Projeto Madre Teresa de Calcutá.
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