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INTRODUÇÃO

O nascimento da vida humana só é possível através da relação entre um homem e

uma mulher e o desejo que os envolve. O encontro de ambos é a oportunidade para que haja

a consciência da existência do outro, para que se chegue a uma maior afinidade. Daí por

diante, as etapas vão se desenvolvendo: a aproximação, a afinidade, o toque a entrega de si

ao outro, a fecundação. É a relação que garante a novidade, a vida nova, o fruto bom, a

afirmação da união entre os cônjuges.

Por analogia, podemos afirmar que o mesmo acontece com a relação da tríade

Musicoterapeuta-Música-Paciente. A música é o lugar do desejo, capaz de re-equilibrar o

Homem através da ajuda profissional, promovendo assim a qualidade de vida. Isso confere

à Musicoterapia autoridade no nível das outras disciplinas médicas.

Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre as essenciais relações entre

Musicoterapeuta, Música e o Paciente. Elas garantem a eficiência do processo

musicoterapêutico. Como se dá essa afinidade? Como preparar o terreno para que essa

relação seja profícua? Tentaremos conjecturar sobre essas e outras questões levando em

conta as limitações que temos quanto a bibliografia.

1

I – A MÚSICA

Podemos encontrar os mais diversos conceitos de Música. É uma prática humana

por excelência, de idade tão antiga quanto o próprio Homem; está presente em todos os

momentos da vida humana, desde a sua forma mais embrionária, seu nascimento, passando

pelos eventos importantes dos ritos de passagem, até a morte. Citamos aqui algumas

definições: “É a arte de combinar os sons”,1 composta de melodia, harmonia e ritmo; “... é

vocábulo de origem grega que significa a arte das musas. É a arte de escolher, dispor e

combinar sons. É ciência e arte”2; “constitui-se basicamente de uma sucessão de sons e

silêncio organizada ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma

prática cultural e humana”3.

No contexto da Musicoterapia, é cabível a definição de Música como uma

“Metáfora”4 da vida, aonde podemos criar e articular idéias sobre nós mesmos e sobre o

mundo “em formas sonoras”.5Clarice Moura Costa6 discute a Música como linguagem pois

ela é constituída de códigos a serem interpretados através de uma relação. “Toda música

tem um ´certo significado´ escondido por trás das notas, não se resumindo, portanto apenas

ao material sonoro, musical”.7 Diferentemente da linguagem verbal, ela tem as funções

“expressivas, apelativa e estética”8. A música “pode ser usada como linguagem

terapêutica(...)”.9 Bruscia (2000) oferece a sua definição: “é uma instituição humana na qual

os indivíduos criam significação e beleza através do som, utilizando as artes da composição,

da improvisação, da apresentação e da audição. A significação e a beleza derivam-se das

relações intrínsecas criadas entre os próprios sons e das relações extrínsecas criadas entre os

sons e outras formas de experiência humana”. 10

Podemos também definir a Música como um “meio de comunicação”,11 e como

“experiência não verbal” 12(através dela podemos difundir mensagens e idéias que podem

causar transformação no meio em que vivemos.

1 CARDOSO, Belmira e MASCARENHA, Mário. Curso Completo de Teoria Musical e Solfejo. Vol I, São Paulo: Irmãos Vitale, 1973. 2 BRESCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: Bases Psicológicas e Ação Preventiva. São Paulo: Editora Átomo, Edições PNA, 2003. p. 253 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/ Acesso em 09 jan. 2009.4 SWANWICK, Keith: Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Editora Moderna, 2007, p. 17-36.5 Idem, p. 18.6 COSTA, Moura, Clarice. O Despertar para o Outro: Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1989, p. 59 – 71.7 Idem, p. 658 Idem, p. 719 Ibidem10 BRUSCIA, Kenneth E. Definindo Musicoterapia.Rio de Janeiro: Enelivros, 2000, p 11111 RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990. P 88.12 Idem, p. 89

2

Enfim, Música é uma ciência capaz de tocar a profundidade do ser de cada

indivíduo, mobilizar núcleos dos mais diversos sentimentos e emoções, possibilitando a sua

expressão. É a arte que possui a capacidade de chegar mais perto das verdades mais

escondidas do Homem e motivá-lo a transformar a sua vida.

II - O MUSICOTERAPEUTA

Como disciplina em elaboração, a Musicoterapia possui o seu lugar específico, com

profissionais capacitados para agir em campo próprio. O musicoterapeuta é o profissional

habilitado, “que tem sua formação especificamente determinada, e, portanto, dentro de si

mesmo, a integração teórica e prática”.13 Ele deve ter bons conhecimentos médicos,

psicológicos e musicais, não necessitando necessariamente ser um médico, nem um

psicólogo, nem músico. Ele é um terapeuta, “com grande conhecimento teórico e prático da

utilização do complexo mundo sonoro, musical e do movimento”.14 Além disso, é

fundamental que este profissional faça uma terapia pessoal para o aprofundamento do auto-

conhecimento e conseqüente melhoramento da qualidade do seu trabalho15.

Para que o musicoterapeuta tenha êxito em deu trabalho é necessário que ele tenha

capacidade de trabalhar em equipe16. O diálogo e a troca de experiências, a relação entre os

diversos modos de agir numa mesma situação, levam o musicoterapeuta a crescer

profissionalmente e sentir o suporte necessário para enfrentar os limites próprios e superar

os momentos difíceis. A avaliação e programação de trabalho em equipe, é essencial para o

bom êxito de quaisquer objetivos.

O musicoterapeuta tem o seu lugar específico, a Musicoterapia. No decorrer da sua

vida profissional, ele “consagra”17 um lugar , um campo de sua existência voltado para a

Musicoterapia. Ele adquire um lugar, ou campo de trabalho e um modo de agir, de

trabalhar. Isso lhe dá legitimidade em seu trabalho profissional. Podemos dizer: o lugar que

o musicoterapeuta ocupa e o seu trabalho engendrado a partir do mesmo, justifica a

autoridade incontestável deste profissional legítimo, verdadeiro.

O musicoterapeuta é o elemento que intervém na “sonosfera” em que vive e dela faz

parte18 para modificá-la. E para isto, ele usa a música como seu principal instrumento de

13 BENENZON, Rolando O. Manual de Musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros, 1985, p. 61.14 Idem p. 62.15 Ibidem.16 Idem p. 64.17 SAVAZZINI, Maria Isabel. El Lugar Del Musicoterapeuta. In: A Voces: Intertextos em Musicoterapia. Universidad Abierta Interamericana, 2008, p. 200. 18 RUIZ, Maria Merceedes e FREGTMAN, Mirta Graciela: Em el ser musicoterapeuta: algunas reflexiones al ritmo de la realidade. In: XII Congresso Mundial de Musicoterapia. CD-ROM, Buenos Aires, Argentina. 2008, Título 424.

3

trabalho, visando não apenas o seu uso puro e simples, mas principalmente para fazer

acontecer “experiências musicais”.19 Sua formação deve ser sólida; deve ter abertura para

conhecer os mais diversos pontos de vista, os mais diferentes coloridos musicais. Deve

exercitar a capacidade e desejo de entender profundamente o contexto em que vive o seu

paciente. Além disso deve continuamente ser um estudioso da Musicoterapia. “A vida

acadêmica do musicoterapeuta pode ser comparada ao processo de metamorfose. As trocas

são inevitáveis e necessárias”.20

O trabalho de um musicoterapeuta “não é apenas um trabalho técnico, pois ele

estará lidando com o coração do ser humano, com suas emoções e sua história”.21 Ele deve,

sobretudo, ter uma atitude de escuta para poder encontrar novas possibilidades, novos

caminhos aos seus pacientes. Sartre diz que escutar é perceber e perceber é atitude passiva.

Escutar é ser tomado pelo outro, é perceber a ação pela qual o outro se faz presente. Assim

também, para o fenomenólogo Merleau Ponty, para escutar o outro, é preciso sair de si em

direção ao outro e fazer-se cheio de silêncio, estando disponível para o outro.

O Musicoterapeuta é, portanto aquele que sai de si, silencia-se para ouvir, e acolhe o

outro que traz as desordens de seus endereços internos para serem harmonizados através dos

sons, da música. Ele o faz sob critérios definidos pela instituição que o rege social e

profissionalmente.

III - O PACIENTE

O Dicionário Aurélio define o termo paciente como “pessoa que padece; doente;

pessoa que está sob cuidados médicos”22. No campo da medicina é aquele que se apresenta

necessitado de apoio profissional - especializado - para recuperar ou prevenir a saúde física

ou mental, harmonizando o seu bem-estar.

Em se tratando de Musicoterapia, o paciente necessita de um espaço para o processo

terapêutico, evolvendo a música e o profissional da musicoterapia. Este, através de seu

trabalho, facilita a relação com o paciente, criando canais de comunicação entre eles 23. Para

acontecer o processo terapêutico, é necessário que se abram vias de comunicação entre paciente

e musicoterapeuta. Isso acontece quando o paciente experimenta a música, fazendo-a ou

ouvindo-a, mesmo que de forma inconsciente. A música torna-se mediação e o paciente, de

forma inconsciente, comunica os conteúdos internos, através da interação.

19 Idem BRUSCIA, p. 11320 RANGEL, Luzamir de O. L.: “La formación del musicoterapeuta desde el punto de vista del estudiante”. In: XII Congresso Mundial de Musicoterapia. Buenos Aires, Argentina.CD-ROM, Buenos Aires: 2008, Título 224.21 Idem RUIZ.22 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.23 Idem COSTA, p. 79-88.

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Outro termo que poderemos usar no processo musicoterapeutico é a palavra cliente,

“doente, em relação ao médico habitual”.24 Não necessariamente, cliente ou paciente trarão

patologias corporais ou mentais, podem apresentar apenas a necessidade de clarificação de

realidades subjetivas, o que a Musicoterapia poderá também tratar.

Estamos falando do “complexo som/ser humano”25 que deseja completar ou

recuperar seu equilíbrio corporal ou psicológico. Dado que sua necessidade depende de uma

intervenção profissional, ele coloca-se em atitude de dependência para o processo de

recuperação de sua saúde.

IV - A RELAÇÃO TRIÁDICA: O GRANDE ENCONTRO

Para que exista uma relação musicoterapêutica, fazem-se necessárias as relações

essenciais entre os sujeitos em questão: a música, o musicoterapeuta e o paciente. Esses

encontros “a dois”,26 acontecem antes do processo terapêutico.

A princípio, a primeira relação se dá entre a os sons musicais e o

musicoterapeuta. O ser humano27 e as música terão uma aproximação cada vez mais

íntima; ele terá sede de conhecê-la e reproduzi-la, de ouvir e experimentá-la. É uma

afinidade que não se destrói, mas produz nele desejos, fantasias, sonhos, motivações e

esperanças, transformando-o em um exímio artista. A proximidade com a música o leva a

mudanças28 significativas; a música fará parte de sua história enquanto ele existir.

A segunda relação é o encontro entre o cliente e os sons musicais. Trata-se das

experiências musicais ou sonoras vividas no passado, desde o período uterino até o passado

mais próximo. Esses encontros formaram o que na Musicoterapia é entendido como

“identidade sonora”29. Trata-se do princípio de ISO,30 que é “um conceito totalmente

dinâmico que resume a noção de existência de um som, ou um conjunto de sons, ou o de

fenômenos acústicos e de movimentos internos, que caracterizam ou individualizam cada

24 Idem FERREIRA.25 Idem BENENZON, p. 11.26 Trata-se das três relações entre o musicoterapeuta e a música, o paciente e o musicoterapeuta e a música e o paciente.27 Even Ruud reflete sobre o conceito de ser humano na Musicoterapia, discutindo algumas relações entre diferentes perspectivas do ser humano, música e terapia, conforme aparecem em diferentes modelos de musicoterapia”. Ele explicita o ser humano “como um organismo”, como “uma pessoa”, como “ser societário”, como “sujeito sob experiência, improvisação e ação e como “improvisador”. (RUUD, 1990, p. 93-101).28 Bruscia aponta para a questão: “Uma vez tendo sido determinado que a mudança do cliente melhora sua condição de saúde, a próxima questão é se ela pode ser atribuída ao processo terapeutico. Isso é sempre difícil de ser determinado porque a terapia ocorre ao mesmo tempo em que toda experiência de vida do cliente também está ocorrendo, o que pode incluir outras formas de terapia, assim como outros eventos ou mudanças de vida importantes”. (BRUSCIA, 2000, p. 164).29 BENENZÓN, Rolado O. Teoria da Musicoterapia, São Paulo: Summus, 1988, p..33-61.30 Idem, p..43-67.

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Pacientemtser humano”31. Ao iniciar o processo terapêutico, o paciente entrará em contato com essas

realidades sonoras que fazem parte de sua identidade.

A terceira relação acontecerá sempre após as outras: o musicoterapeuta e o

paciente se aproximam numa relação de ajuda. Este, conhece da capacidade e objetivos da

Musicoterapia e, aquele, oferece a sua ajuda profissional. Mas o processo musicoterapêutico

não acontecerá nas relações “a dois”.

V - O SETTING MUSICOTERÁPICO

O espaço onde acontece a relação entre a música, o paciente e o musicoterapeuta é o

setting musicoterápico.

“O setting musicoterapêutico, na visão de Craveiro de Sá (2003), é

um espaço inter-relacional dinâmico onde inexiste a predominância

de uma linguagem específica, mas que se caracteriza pela produção

de um regime híbrido de signos musicais e não-musicais: silêncios,

sons, músicas, tempos, gestos, corpos, movimentos e palavras que

expressam /comunicam, gerando afetos, desejos, idéias, sentimentos,

intenções. Sendo assim, a escuta e a análise musicoterápicas são

marcadas pela complexidade, pelo imbricamento de signos verbais e

não-verbais.”32

Na figura 01, queremos apresentar de forma ilustrativa o grande encontro que faz

acontecer na história humana a Musicoterapia. É uma versão ampliada a partir daquela

apresentada por Barcelos (2005).

FIGURA 01

Ilustração da relação triádica Música-Musicoterapeuta-Paciente

31 Idem, pg. 3432 Disponível em: <http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/45anos/W-musicoterapia.html>. Acesso em 09 jan. 2009.

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Setting

MT

Faremos abaixo uma breve explicação sobre as partes que compõem esta

representação interpretando os detalhes da imagem, relacionando-a com o processo

terapêutico de que falamos. Destacamos:

1- O musicoterapeuta na sua relação com a música. Sendo a música a raiz primeira,

ou a base da Musicoterapia, deve haver um contato constante, encontros constantes

desta raiz com o musicoterapeuta. Nenhum profissional será bem qualificado se não

tiver comunicação durável e qualitativa com a fonte de seus conhecimentos.

2- O paciente e a música. A importância do encontro da Música e o paciente no

setting, está no fato de que a música facilita a aproximação entre as pessoas,

fomenta as relações, abre caminhos para a empatia. No encontro dos sons com o

paciente, também acontece o confronto com os seus conteúdos subjetivos. A música

incide sobre ele, penetrando no corpo e na psique. Importante sublinhar que a

música também tem contra-indicações,33 sua aplicação inadequada poderá provocar

efeitos iatrogênicos no paciente.34 Por isso é importante conhecer bem a sua

identidade sonora.

3- Os benefícios do musicoterapeuta na relação de ajuda ao seu paciente. O

musicoterapeuta conduz o paciente pelos caminhos da linguagem musical e o

33 BENENZON chama a atenção para a questão trazendo o exemplo de pais que aplicavam música clássica para seus filhos autistas: eles ficavam tranqüilos escutando a música, isolados, no mundo da fantasia. Nesse sentido, faz suas observações sobre a música funcional e a eletrônica (1985, p.101-118). Isto é o que caracteriza a iatrogenia.34 “Sons e músicas são ouvidos cotidianamente e se atualizam das mais diferentes maneiras, em variáveis graus nos indivíduos, podendo inclusive patologias serem instaladas através da escuta”. (MARANHÃO, Ana Leia Vieira. Acontecimentos Sonoros em Musicoterapia. São Paulo: Apontamentos, 2007, p. 37).

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mergulha no mundo harmônico, ou na “sonosfera”, para clarificar e harmonizar

seu espaço debilitado, resgatando o seu equilíbrio. São sólidos e inúmeros os

processos terapêuticos, todos com o objetivo de transformar, de alguma maneira, os

as realidades desarmônicas trazidas pelo paciente, levando-o a um

“empoderamento” e conseqüente melhora de seus núcleos de saúde. A literatura

musicoterápica está recheada de grandes feitos, de superação de limites e até de

curas35. Advertimos: não é o musicoterapeuta quem realiza a transformação na vida

do paciente, é a relação musicoterapêutica que, na sua dinâmica, ajuda a encontrar

as chaves dos portais interiores e o motiva a abrir e ordenar os espaços

transtornados.

4- O espaço de identidade de cada sujeito que não se mistura e nem se perde nessa

relação. Embora os três elementos da relação terapêutica se encontrem, há espaços

em que eles não se misturam, preservando as realidades que são distintas de cada

um. A Musicoterapia acontece num processo global, que envolve o ser por inteiro

sem o engolir, sem interferir de maneira invasiva. É menos invasivo acessar o

interior do indivíduo através da música, do que com as artes visuais. O espaço de

cada sujeito é respeitado, o processo terapêutico contribui para a afirmação da

identidade de cada um.

5- A grandiosidade da música: presente na história humana, desde os tempos mais

remotos, a música é tão importante para o Homem quanto a presença da água em

sua vida. Aonde há água, há vida; aonde há música, há movimento, sensibilização,

motivação, arte, qualidade de vida, esperança. Como a água, penetra nos solos mais

endurecidos e fecunda-o para fazê-lo fértil. Nesse universo sonoro-musical,

completo de vibrações e energias,36 que acontece a dinâmica das relações música

versus som/ser humano. A música engrandece o músico(terapeuta), e especialmente

ao paciente que dela se beneficia. Ela é grande e ilumina os caminhos para o acesso

aos conteúdos mais escondidos;

6- O Setting Musicoterápico como lugar primordial do encontro entre os três

sujeitos. Cada elemento dessa relação coloca-se por inteiro no processo, formando

assim um núcleo de relações. Nisso, surge a legítima experiência da Musicoterapia.

Esse é o palco das crises e transformações, das transferências, contra-transferências,

e das resistências.

35 “A área de cura inclui todas as utilizações das propriedades universais da vibração, do som e da música com o propósito de restaurar a harmonia entre o indivíduo e entre o indivíduo e o universo. Uma noção central é que a música é uma manifestação vibratória da ordem, do equilíbrio e da harmonia inerentes ao universo, e em função disso, a música pode ser utilizada para restaurar tais qualidades de qualquer parte do universo que esteja desordenada, desequilibrada ou desarmoniosa por causa de distúrbios ou doenças”. (BRUSCIA, 2000, p. 168).36 BRUSCIA fala da” música como uma forma de energia universal” (BRUSCIA, 2000 p. 145-148).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é possível acontecer um processo musicoterapeutico sem a presença de um

profissional habilitado, que encaminhe e conduza o paciente para uma relação fecunda

com a música, com a sua identidade sonora. A relação entre paciente e a música não

constitui procedimento musicoterapêutico porque não terá objetivos traçados e guiados

de forma metodológica para alcançar os resultados. O olhar musicoterápico, suas

interferências, suas técnicas e ações, estão todos exclusivamente radicados nas teorias e

práticas da Musicoterapia, ou seja, no musicoterapeuta que as utiliza.

O encontro dos três elementos essenciais na prática da Musicoterapia deve ser

anteriormente preparado. O musicoterapeuta deve formar-se e adquirir um cabedal

suficiente para responder às necessidades e demandas de seus clientes; o paciente

precisa colocar-se inteiro no processo; a música, por si só, possui as propriedades

necessárias para a transformação e equilíbrio do ser do paciente, desde que seja utilizada

por uma pessoa qualificada que potencialize esse poder.

Musicoterapia: processo análogo das dinâmicas da vida humana, das suas

relações. Degustar este processo, é experimentar os saberes e sabores da vida, viver,

sobretudo com a cabeça erguida e os pés no chão; é “afinar o instrumento” da vida.

“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranqüilo. A

toda hora, a todo momento, de dentro prá fora, de fora prá dentro”.37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENENZON, Rolado O. Teoria da Musicoterapia, São Paulo: Summus, 1988.

BRESCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: Bases Psicológicas e Ação Preventiva. São Paulo: Editora Átomo, Edições PNA, 2003.

BRUSCIA, Kenneth E. Definindo Musicoterapia.Rio de Janeiro: Enelivros, 2000.37 Música “Serra do Luar”, composição de Walter Franco, cantada por Leila Pinheiro. CD “20 Músicas do Século”, faixa 04.

9

CARDOSO, Belmira e MASCARENHA, Mário. Curso Completo de Teoria Musical e Solfejo. Vol I, São Paulo: Irmãos Vitale, 1973.

COSTA,, Clarice Moura. O Despertar para o Outro - Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1989.

RUIZ, Maria Merceedes e FREGTMAN, Mirta Graciela: Em el ser musicoterapeuta: algunas reflexiones al ritmo de la realidade. In: XII Congresso Mundial de Musicoterapia. CD-ROM, Buenos Aires, Argentina. 2008, Título 424.

RUUD, Even. Caminhos da Musicoterapia. São Paulo: Summus, 1990. P 88.

SAVAZZINI, Maria Isabel. El Lugar Del Musicoterapeuta. In: A Voces: Intertextos em Musicoterapia. Universidad Abierta Interamericana, 2008, p. 200.

SWANWICK, Keith: Ensinando Música Musicalmente. São Paulo: Editora Moderna, 2007.

CD-ROM:RANGEL, Luzamir de O. L.: “La formación del musicoterapeuta desde el punto de vista del estudiante”. In: XII Congresso Mundial de Musicoterapia. Buenos Aires, Argentina.CD-ROM, Buenos Aires: 2008, Título 224.

COMPACT DISKPINHEIRO, Leila. Vinte Músicas do Século XX. PolyGram. 3145381912, São Paulo, S.D.

DICIONÁRIO:FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª Ed. Rio de Janeiro:

WEB:ENCLICLOPÉDIA LIVRE WIKIPEDIA. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/> Acesso em 09 jan. 2009.

ESPERIDIÃO, E.; SÁ , L. C. - O processo grupal na formação do musicoterapeuta: uma experiência interdisciplinar. Revista da UFG, Vol. 7, No. 2, dezembro, 2005, Disponível em <http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/45anos/W-musicoterapia.html> Acesso em 11 jan. 2009.

Diante do colar

– belo como um sonho –

admirei, sobretudo,

o fio que unia as pedras

10

e se imolava anônimo para que todos fossem um.

(Dom Helder Câmara).

11

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