estresse no trabalho
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
UFSC
ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA
ACM
XVII CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO
ESTRESSE NO TRABALHO
DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO
DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT
DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL
Florianpolis 2000/2001
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
UFSC
ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA
ACM
ESTRESSE NO TRABALHO
DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL
PROFESSOR OCTACLIO SCHLLER SOBRINHO ORIENTADOR
PROFESSOR SEBASTIO IVONE VIEIRA
COORDENADOR
Florianpolis
2000/2001
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC
ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA ACM
XVII CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO
ESTRESSE NO TRABALHO
Especializandos:
DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT
DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL
ORIENTADOR: PROFESSOR OCTACLIO SCHLLER SOBRINHO COORDENADOR: PROFESSOR SEBASTIO IVONE VIEIRA Parecer: ____________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________
Conceito:
Banca:
________________________ _________________________
Sebastio Ivone Vieira Octaclio Schller Sobrinho Presidente Orientador
___________ _______________ ______________
Membro Membro Membro
Florianpolis 2000/2001
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medo, vergonha, prazer, paixo... para cada destes uma parte do corpo responde s suas aes. So exemplos os suores, palpitaes do corao...
Hipcrates
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SUMRIO
1. INTRODUO ......................................................................................... 01
1.1. O CONCEITO DE ESTRESSE ............................................................................... 01
1.2. DOENA DE ADAPTAO ................................................................................... 02
2. O TRABALHO E O ESTRESSE ............................................................ 09
2.1 A INFLUNCIA DA CULTURA ................................................................................ 09
3. A LOUCURA DO TRABALHO .............................................................. 16
3.1 O BOM ESTRESSE ................................................................................................ 25
3.2 COMO DIAGNOSTICAR O ESTRESSE ................................................................. 27
3.3 CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE ............................................ 28
3.4 SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA ...................................................................................................... 29
3.5 AUXILIOS DE CONCENTRAO ............................................................................................................ 29
3.6 REAES DEFENSIVAS ....................................................................................... 30
3.7 CONSEQNCIAS PSICOLGICAS DO EXCESSO DE ESTRESSE ................................................ 30
3.7.1 Efeitos cognitivos ................................................................................................ 30
3.8 EFEITOS EMOCIONAIS ......................................................................................... 31
3.9 EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS ............................................................................................ 32
CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 33
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................... 42
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1: CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE ................................ 28
TABELA 2: SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA ........................................................ 29
TABELA 3: AUXILIOS DE CONCENTRAO .............................................................. 29
TABELA 4: REAES DEFENSIVAS .......................................................................... 30
TABELA 5: EFEITOS COGNITIVOS ............................................................................ 30
TABELA 6: EFEITOS EMOCIONAIS .............................................................................................................. 31 TABELA 7: EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS ................................................ 32
TABELA 8: CARACTERSTICAS ESTRESSANTES DO TRABALHO ....................................... 38
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APRESENTAO
A presente monografia que tem como ttulo Estresse no trabalho ser apresentada
Universidade Federal de Santa Catarina, visando a obteno dos crditos a que faz direito,
para a concluso do XVII Curso de Especializao em Medicina do Trabalho 2000/2001,
tendo como orientador o Professor Octaclio Schler Sobrinho. O estudo foi elaborado a partir
de pesquisa bibliogrfica, que segundo Rauen (1999) tem duas finalidades prticas num
trabalho de pesquisa. A primeira trata da reviso da literatura, ou seja, toda a leitura que vise a
fundamentar a pesquisa como um todo. A segunda ocorre quando os dados de observao so
bibliogrficos ou documentais em sentido estrito e equivale aos trabalhos de campo e
laboratrio nas demais pesquisas (Rauen, 1999:39).
O termo estresse vem da fsica e neste campo de conhecimento tem o sentido do grau
de deformidade que uma estrutura sofre quando submetida a esforo. Hans Seyle (1965)
utilizou este termo para denominar aquele conjunto de reaes que um organismo
desenvolve ao ser submetido a uma situao que exige um esforo para adaptao. A partir
da definio do que estresse, e os diferentes conceitos existentes, procurar-se- delimitar o
tema para suas implicaes no trabalho, pois como afirma Dejours (1992:11-12), a
psicopatologia do trabalho, para usar um trusmo, ficou no estado embrionrio, apesar de
alguns trabalhos importantes dos anos 50. Quando conhecido o desenvolvimento de que se
beneficiaram as cincias humanas, de um sculo para c, podemos nos espantar com a
lentido da psicopatologia do trabalho, em conquistar seu lugar de distino.
ABSTRAT
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The present monograph, which is entitled Stress at work will be presented at Santa
Catarina Federal University, in order to obtain the credits by rights, for ending the XVII
Specialization Course of Work Medicine 2000/2001, with Professor Octaclio Schler
Sobrinho as orienting professor. Study was elaborated from bibliographic research, which,
according to Rauen (1999), has two practical finalities in a research work. First is literature
revision, it is, all lecture that aims basing research as a whole. The second takes place when
observation data are bibliographic or documentary in strict meaning, and it equals field and
laboratory works in the rest of the researches (Rauen, 1999:39).
The term stress comes from physics and, in this knowledge field, it means the degree
of deformity that a structure suffers when submitted to effort. Hans Seyle (1965) utilized this
term to denominate that group of reactions developed by an organism when submitted to a
situation demanding an effort for adaptation. Beginning with definition of stress, and
different existing concepts, we will try to restrict this theme to its implications at work, for as
Dejours states (1992:11-12), work psychopathology, using a truism, remained in embryonal
state, in spite of some relevant works in 50s. When we think of development of human
sciences, the last century, we are scared with slowness of work psychopathology to get its
distinction place.
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1. INTRODUO
1.1. O CONCEITO DE ESTRESSE
A palavra estresse quer dizer presso, tenso ou insistncia, portanto estar
estressado quer dizer estar sob presso ou estar sob a ao de estmulo insistente.
importante no confundir estado fsico de estresse com estado de alarme de
Cannon, pois h alguns critrios estabelecidos para que se possa assumir que um
indivduo est eetressado e no simplesmente com alerta temporria. Chama-se de
estressor qualquer estmulo capaz de provocar o aparecimento de um conjunto de
respostas orgnicas, mentais, psicolgicas e/ou comportamentais relacionadas com
mudanas fisiolgicas padres e estereotipadas, que acabam resultando em
hiperfuno da glndula supra-renal e do sistema nervoso autnomo simptico.
Essas respostas, em princpio, tm como objetivo adaptar o indivduo nova
situao, gerada pelo estmulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo
considervel, chamado de estresse. O estado de estresse est ento relacionado
com a resposta de adaptao.
O estresse essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que
pode atingir nveis degenerativos. Impresses de estar nervoso, agitado,
neurastnico ou debilitado podem ser percepes de aspectos subjetivos de
estresse. Contudo, estresse no implica necessariamente uma alterao mrbida: a
vida normal tambm acarreta desgaste na mquina do corpo. O estresse pode ter
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at valor teraputico, como o caso no esporte e no trabalho, exercidos
moderadamente.
O estresse produz certas modificaes na estrutura e na composio qumica
do corpo, que podem ser avaliadas. Algumas dessas modificaes so
manifestaes das reaes de adaptao do corpo, seu mecanismo de defesa
contra o estressor; outras j so sintomas de leso. No conjunto dessas
modificaes o estresse denominado sndrome de adaptao geral (SAG), termo
cunhado por Hans Selye, o criador e pesquisador que levantou pioneira e
profundamente a questo.
1.2. DOENA DE ADAPTAO
A todo instante faz-se atividades de adaptao, ou seja, tentativas de ajustar-
se s mais variadas exigncias, seja do ambiente externo, seja do mundo interno,
atingindo este vasto mundo de idias, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos,
imagens, que cada um tem dentro de si. Selye demonstrou, em trabalhos publicados
a partir de 1936, que o organismo quando exposto a um esforo desencadeado por
um estmulo percebido como ameaador homeostase, seja ele fsico, qumico,
biolgico ou mesmo psicossocial, apresenta a tendncia de responder de forma
uniforme e inespecfica, anatmica e fisiologicamente A esse conjunto de reaes
inespecficas na qual o organismo participa como um todo, ele chamou de Sndrome
Geral de Adaptao. Esta sndrome consiste em trs fases:
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Reao de Alarme: Durante esta fase so mobilizadas foras
defensivas. Assim que o sistema nervoso central percebe a situao
de tenso, o hipotlamo estimula a hipfise levando-a a aumentar a
secreo do hormnio adrenocorticotrpico. Este, por sua vez,
estimula as supra-renais a aumentarem a produo de adrenalina
corticides. Jogados na circulao sistmica, rapidamente estes
produtos qumicos chegam a todas as clulas do organismo. Estes
hormnios so essenciais e juntamente com as reaes do sistema
nervoso central e outros compostos qumicos, constituem a defesa
do organismo contra o estresse;
Fase de Resistncia: Nesta fase aumentada a capacidade de
resistncia do organismo. H plena adaptao ao estressor.
Enquanto que no primeiro estgio h maior atividade do sistema
nervoso simptico, aqui a atividade mais intensa fica com o sistema
parassimptico. Possuindo o efeito de desmobilizar o corpo, o
sistema nervoso parassimptico abaixa novamente o nvel de alerta.
A respirao, os batimentos cardacos, a circulao e a presso
arterial voltam, gradativamente, a seus nveis anteriores. Porm, se
h persistncia do estresse, gradativamente o nvel de resistncia
vai diminuindo e inicia-se o estgio de exausto; e
Fase de Exausto. Nesta fase esgota-se a energia para adaptao,
podendo, como conseqncia, ocorrer at a morte do organismo.
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No necessrio que a fase se desenvolva at o final para que haja o
estresse e evidentemente s nas situaes mais graves que se atinge a ltima
fase, a de exausto.
A Reao de Alarme subdivide-se em dois tempos: choque e contra-choque.
Parte dessa reao assemelha-se Reao de Emergncia de Cannon. Ele
percebeu que quando um animal era submetido a estmulos agudos ameaadores
da homeostase, inclusive medo, raiva, fome e dor, o animal apresentava uma reao
em que se preparava para a luta ou fuga. Esta reao caracteriza-se por:
a) aumento da freqncia cardaca e da presso arterial, para permitir que o
sangue circule mais rapidamente e portanto, para chegar aos msculos
esquelticos e crebro mais oxignio e nutrientes e facilite a mobilidade e o
movimento;
b) contrao do bao, levando mais glbulos vermelhos corrente sangunea,
acarretando mais oxignio para o organismo particularmente nas reas
estrategicamente favorecidas;
c) o fgado libera glicose armazenado na corrente sangunea para que seja
utilizado como alimento e, conseqentemente, mais energia para os
msculos e crebro;
d) redistribuio sangunea, diminuindo o fluxo para a pele e vsceras,
aumentando para msculos e crebro;
e) aumento da freqncia respiratria e dilatao dos brnquios, para que o
organismo possa captar e receber mais oxignio;
f) dilatao pupilar e exoftalmia,isto , a protuberncia do olho para fora do
globo ocular, para aumentar a eficincia visual;
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g) aumento do nmero de linfcitos na corrente sangunea, para reparar
possveis danos aos tecidos por agentes externos agressores.
Tais reaes so desencadeadas por descargas adrenrgicas da medula da
glndula supra-renal e de noradrenalina em fibras ps-ganglionares do sistema
nervoso autnomo simptico Em estudos realizados com seres humanos,
Funkestein descobriu que a raiva dirigida para fora estava associada secreo de
noradrenalina, enquanto a depresso e a ansiedade associavam-se a uma secreo
de adrenalina. Paralelamente, acionado o eixo hipotlamo-hipfise-supra-renal que
desencadeia respostas mais lentas e prolongadas e que desempenha um papel
crucial na adaptao do organismo ao estresse a que est sendo submetido. O
estmulo agudo provoca a secreo no hipotlamo do hormnio corticotrophin
releasing hormone, que por sua vez determina a liberao de ACTH da adeno-
hipfise, alm de outros neuro-hormnios e peptdeos cerebrais, como as beta-
endorfinas, STH, prolactina etc. O ACTH desencadeia a sntese e a secreo de
glicocorticides pelo crtex da supra-renal. Estabelece-se ento um mecanismo de
feedback negativo com os glicocorticides atuando sobre o eixo hipotlamo-
hipofisrio. Estas reaes so mediadas pelo sistema diencfalo-hipofisrio, visto
que no surgem em animais de experimentao que tiveram a hipfise ou parte do
diencfalo destrudos. Se os agentes estressantes desaparecerem, tais reaes
tendem a regredir; no entanto, se o organismo obrigado a manter seu esforo de
adaptao, entra em uma nova fase, que chamada Fase de Resistncia, que se
caracteriza basicamente pela reao de hiperatividade crtico-supra-renal, sob
mediao diencfalo-hipofisria, com aumento volumtrico do crtex da supra-renal,
atrofia do bao e de estruturas linfticas, leucocitose, diminuio de eosinfilos e
ulceraes.
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Se os estmulos estressores continuarem a agir, ou se tornarem crnicos e
repetitivos, a resposta basicamente se mantm, mas com duas caractersticas:
diminuio da amplitude e antecipao das respostas. Poder ainda haver falha nos
mecanismos de defesa, com desenvolvimento da terceira fase, que a de Exausto,
com retorno Fase de Alarme de Cannon, dificuldade na manuteno de
mecanismos adaptativos, perda de reserva energtica e morte.
As reaes de estresse resultam, pois, de esforos de adaptao. No entanto,
se a reao ao agressor for muito intensa ou se o agente do estresse for muito
potente e/ou prolongado, poder haver, como conseqncia, doena ou maior
predisposio ao desenvolvimento de doenas. Pois a reao protetora sistmica
desencadeada pelo estresse pode ir alm da sua finalidade e dar lugar a efeitos
indesejveis, devido perda de equilbrio geral dos tecidos e rgos e defesa
imunolgica do organismo. oportuno lembrarmos mais uma vez Levi (1971): "o ser
humano capaz de adaptar-se ao meio ambiente desfavorvel, mas esta adaptao
no ocorre impunemente". O perigo parece ser maior nas situaes em que a
energia mobilizada pelo estresse psicoemocional no pode ser consumida. Alis,
Seyle nos lembra que as doenas de adaptao so predominantemente
conseqncias do excesso de reaes de submisso.
As colocaes acima podem ser mais facilmente comprovadas nas doenas
em que notoriamente h um componente de esforo de adaptao, como, por
exemplo, nas lceras digestivas, nas alteraes da presso arterial, crises
hemorroidicas, alteraes inflamatrias do aparelho gastrintestinal, alteraes
metablicas vrias etc.
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O estresse pode ser fsico, emocional ou misto. O estresse misto o mais
comum, pois o estresse fsico (associado a eventos como cirurgias, traumatismos,
hemorragias e leses em geral) compromete tambm o emocional j que a dor induz
a estados emocionais bastante intensos. O estresse emocional resulta de
acontecimentos que afetam o indivduo psiquicamente ou emocionalmente, sem que
haja relao primria com leses orgnicas. O estresse misto se estabelece quando
uma leso fsica acompanhada de comprometimento psquico (emocional) ou vice-
versa.
hman, Esteves e Parra (1995) apontam trs categorias de acontecimentos
estressantes. Na primeira categoria encontram-se aqueles que impem grandes
exigncias capacidade de enfrentamento de uma pessoa e ocorrem com pouca
freqncia, como por exemplo, a morte de um ente querido, a perda de um emprego,
ser aprisionado etc. Os pequenos acontecimentos estressantes, chamados de
problemas do cotidiano constituem a segunda categoria e acontecem com maior
freqncia na vida das pessoas. Na terceira categoria encontram-se os conflitos
contnuos da vida: problemas de casais, desemprego prolongado,dificuldade de
educar os filhos, etc.
Entretanto, as pessoas diferem quanto sua forma de reagir aos desafios
impostos pela vida. Enquanto algumas so capazes de superar uma perda
altamente significativa, outros podem dar incio a um transtorno psiquitrico diante
de um acontecimento estressante de menor gravidade. Assim, as variveis
individuais desempenham um papel decisivo na formao de um problema
psicopatolgico.
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Alm dos acontecimentos estressantes da vida, Barlow (1993) sugere a
existncia de uma vulnerabilidade biolgica e uma vulnerabilidade psicolgica
necessria para a formao de um transtorno de ansiedade.
A vulnerabilidade biolgica refere-se a uma tendncia herdada a manifestar
ansiedade. Algumas pessoas reagem com uma ativao fisiolgica maior aos
acontecimentos estressantes. Mas essa resposta fisiolgica pouco especfica, no
determina por si s, se uma pessoa desenvolver transtorno de ansiedade ou que
tipo de transtorno de ansiedade ou que tipo de transtorno poder ocorrer.
A vulnerabilidade psicolgica corresponde a uma percepo de imprevisibilidade em relao
ao mundo, que aprendida, a partir da relao familiar e das experincias de vida. Assim, se
uma pessoa possui o componente biolgico e desenvolve o componente psicolgico, ela estar
predisposta a sofrer de um transtorno de ansiedade, a partir do momento em que surgirem os
acontecimentos estressantes da vida, os quais funcionam com o estmulo disparador que
conduz a um transtorno de ansiedade.
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2. O TRABALHO E O ESTRESSE
Vrias das patologias hoje estudadas pela Medicina do Trabalho tm ntima
correlao com o estresse. O desgaste a que pessoas so submetidas nos
ambientes e nas relaes com o trabalho fator dos mais significativos na
determinao de doenas. Este trabalho no escapa ao conhecimento mdico, mas
tambm fato que o espao dedicado na anamnese investigao destes aspectos
pequeno em relao sua importncia.
2.1 A INFLUNCIA DA CULTURA
O conjunto de prticas e as redes de significados compartilhados em
grupamentos sociais formam o processo cultural. Tem permanncia de tempo, tem
carter de coletividade e tem continuidade, alm da vida de quem a cria (Laraia).
Este processo realiza a construo social da realidade. Uma cultura adquire
"conformao e carter especficos graas coerncia e unidade de suas
instituies sociais. Tais instituies possibilitam a continuidade social e constituem
os instrumentos efetivos do seu equilbrio" (Laraia).
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Para Mello Filho (1992), a cultura o resultado das atitudes, idias e
condutas compartilhadas e transmitida pelas pessoas de uma sociedade, juntamente
com as respectivas transformaes, isto , invenes, mtodos de investigaes do
ambiente e objetos manufaturados. Por isto importante a filosofia de vida e viso
do mundo que presidem a cultura, na construo do dinamismo dia a dia.
As caractersticas da cultura representam potencialidades adaptativas e
estressoras, dentro da numerosa gama de possibilidades de transformaes,
reprodues e expresses prprias da complexidade e das riquezas humanas. Mas,
existem processos culturais que limitam e moldam a expresso desta natureza sobre
o que Geertz (in Laraia) afirma: "... um dos mais significativos fatos sobre as
pessoas a constatao de que todos nascem com um equipamento para viver mil
vidas, mas terminam tendo vivido uma s... o homem no apenas o produtor da
cultura, mas tambm num sentido especificamente biolgico, o produto da cultura".
Existem estudos em que a atuao da cultura sobre o biolgico se torna
evidente, no processo do adoecer ou do curar. Por exemplo, o surgimento ou no de
sintomas de mal-estar provocados pela ingesto combinada de determinados
alimentos: leite com manga. Relata-se, tambm, o caso de africanos removidos
violentamente de seu continente, ou seja, de seu ecossistema e de seu contexto
cultural, que, transportados para uma terra estranha, perdiam a motivao para
continuar vivos. Os casos de curas decorrentes da "f" no remdio ou na religio.
Os processos psicossociais so constitudos, em parte, por percepes e
atitudes dos indivduos e, em parte, por elementos culturais que direcionam os
vnculos, reproduzem e recriam valores sobre vrios fatos da realidade. Os critrios
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especficos sobre sade, doena, indivduo, trabalho, produtividade, fora,
vulnerabilidade so construdos pela cultura e transformada pelos indivduos.
A cultura edificada a partir do meio ambiente. O meio ambiente o mundo
externo e a realidade imediata. Realidade esta, que segundo Berger e Luckmann
(1987) decorrente da vida quotidiana, que se apresente interpretada pelos homens
e subjetivamente dotada de sentido para eles, na medida em que forma um mundo
coerente.
Existem estudos realizados por Wiittkower sobre estresse cultural, conforme
relata Mello Filho (1992) a partir dos quais possvel relacionar respostas
psicossomticas e cultura. Neles, foram identificados aspectos culturais
estressantes, como o uso acentuado de tabus, saturao de valores, instabilidade
de modelos culturais, privao de vida social, rigidez de normas e condies
minoritrios. Assim, conclumos que as respostas psicossomticas sofrem
influncias diferentes em cada cultura.
2.2 A CULTURA EMPRESARIAL
Toda empresa um conjunto scio-cultural complexo, organizado para
realizao de servios, fabricao de coisas, transformao ou extrao de produtos
da natureza. Segundo Lapassade (1983), constitui-se de um sistema de redes, de
status e papis.
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Este complexo de pessoas, com seus modos prprios, transforma e provoca
transformaes no trabalho que se realiza no espao empresarial. Suas atitudes
visam satisfao de necessidades organizacionais e individuais, a partir de limites
estruturais e tecnolgicos, sobre as quais se processam acomodaes dentro e fora
do espao empresa.
Na cultura empresarial sobressaem valores objetivos e impessoais, isto , no
contando com a emoo, v-se o indivduo de forma incompleta, com habilidades
especficas para a realizao de tarefas, isolado das suas caractersticas de ser, das
suas experincias de vida. Desta forma, durante a relao indivduo-empresa, h
uma ciso do comportamento: de um lado a fora de trabalho com subordinao s
regras da empresa, de outro o vivenciar emoes nem sempre expressas
adequadamente.
O processo de firmar contrato de trabalho, na verdade, caracteriza-se por
acatar as normas, os valores e os procedimentos utilizados e cobrados de forma
coletiva. Nas empresas brasileiras, a ao empresarial passou a ser contida a partir
da Consolidao das Leis do Trabalho, que regulamenta o registro, a remunerao,
o repouso, o afastamento, a validade de atestados mdicos etc, no sentido de dar o
mnimo de garantia ao cidado que trabalha. No entanto, diante das novas
imposies do capitalismo selvagem em voga, estas regras esto se afrouxando
para dar lugar maximizao do lucro e competitividade.
Ao celebrar o contrato de trabalho, a pessoa com todos os fenmenos
intrapessoais e interacionais que caracterizam sua identidade, acata as normas
organizacionais. A pessoa quando admitida na empresa, traz consigo sua histria,
sua personalidade e uma forma de funcionar tanto orgnica como psquica e social.
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E tende a produzir nas suas relaes no s as expectativas, mas tambm sua
histria, que vai interagir com o sistema de organizao, manuteno e de
adaptao do indivduo, do grupo e da empresa.
O "homem organizacional" leva toda sua potencialidade fsica, as
caractersticas mentais, as anatmicas, as fisiolgicas e as sensitivas para a
empresa. Leva tambm sua potencialidade social: a histria de vida, experincias
adquiridas, os valores introjetados e a capacidade de compartilhar.
A entrada da pessoa para o sistema empresa celebrada atravs da
Consolidao das Leis do Trabalho, de prticas administrativas e de procedimentos
seletivos especficos. Implcito a este momento instala-se o contrato psicolgico de
trabalho. Este trato no explicitado de forma direta, mas fator determinante no
processo adaptativo do indivduo na empresa. Mas agora com a flexibilizao das
regras, recomendadas inclusive pelo Ministrio do Trabalho, a ansiedade do
trabalhador aumenta pelas incertezas e ameaas de desemprego, procurando
sujeit-lo mais ainda ao esprito empresarial.
Para atuao deste "homem organizacional" apenas alguns aspectos so
utilizados, estimulados e aceitos. No se pretende o trabalho para o homem, mas o
homem para o trabalho, acionando o gerenciamento da moda chamado de
"reengenharia ou qualidade total", para extrair o mximo em favor da empresa.
Arendt faz a seguinte reflexo sobre a autonomia da pessoa no seu trabalho:
"o anormal laborans pode escapar sua difcil situao como prisioneiro do ciclo
interminvel do processo vital, eterna sujeio, necessidade do labor e do
consumo, unicamente atravs da mobilizao de outra capacidade humana: a
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capacidade de fazer fabricar e produzir o que atributo do homem faber, o qual,
como fazedor de instrumentos, no s atenua as dores e fadigas do labor como
erige um mundo de durabilidade".
Codo destaca que "a sobrevivncia de um organismo depende em ltima
instncia da capacidade fsica, biolgica e psicolgica de transformar o meio a sua
imagem e semelhana, portanto, de autotransformar-se imagem e semelhana do
meio".
O grupo de trabalho legitima as articulaes entre interesses individuais,
coletivos e empresariais. Formam-se redes de influncias com processos relativos
cooperao, competio, conflitos, nvel de motivao e presses externas.
Formam-se tambm, redes de afetos, emoes e sentimentos entre as pessoas com
as quais se mantm variada freqncia e intensidade de convivncia.
O equilbrio um dos processos determinantes da dinmica do grupo. Est
associado ao contexto amplo em que est inserido. Sobre os grupos, Lewin, citado
por Amado, afirma que "grupos so totalidades dinmicas que resultam das
interaes entre seus membros. Estes grupos realizam formas de equilbrio no seio
de um campo de foras. em funo da organizao perceptiva do espao social
que as energias postas em jogo se completam e se combatem".
A reciprocidade no grupo elemento definitivo na estrutura de grupos e na
empresa. Se dentro do grupo de trabalho na empresa a regra no quebrar ou no
parar a produo, se ocorre esta quebra em funo de doena, estabelece-se uma
condio de suspenso da reciprocidade, atingindo-se vnculos de produtividade que
existem entre os indivduos desse grupo. Desencadeiam-se novos tipos de vnculos
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em funo dos sintomas e a alterao de comportamento do queixoso, novos fatores
da dinmica do grupo. Para Rodrigues, esta inter-relao pessoa-empresa ser mais
ou menos conflituosa quanto maiores forem as diferenas de expectativas dos dois
plos ou quanto mais rgidos eles forem, com relao capacidade de adaptao.
Evitando com isso a chamada Loucura do trabalho enunciada por Dejours (1992).
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3. A LOUCURA DO TRABALHO
Um livro fez com que a disciplina de psicopatologia do trabalho avanasse.
Em vrias regies foram formados grupos de estudo informais para ler e discutir
esse livro. O livro A loucura do trabalho (Dejours, 1992), passou a ser uma
referncia bsica, recomendada por professores das mais diversas reas
acadmicas, como sociologia, psicologia, medicina social, administrao e at
engenharia de produo. Vrias teses de mestrado e doutorado brasileiras
apoiaram-se na abordagem de psicopatologia do trabalho de Dejours.
Destarte, julga-se importante e necessria a abordagem deste autor como um
captulo especfico do presente trabalho.
O autor inicia com o conceito de que o perodo de desenvolvimento do
capitalismo industrial caracteriza-se pelo crescimento da produo, pelo xodo rural
e pela concentrao de novas populaes urbanas. Os salrios so to baixos que
no garantem o estritamente necessrio para as famlias, a moradia se reduz a um
pardieiro, falta higiene, sobra promiscuidade, esgotamento fsico. Acidentes de
trabalho e subalimentao potencializam seus respectivos efeitos e criam condies
de uma alta morbidade, de uma alta mortalidade e de uma longevidade
formidavelmente reduzida. Assim surgiu a classe que hoje chamada de
subproletariado, que habita as zonas periurbanas. Esta populao se caracteriza
pelo no trabalho e pelo subemprego.
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Para essa populao, doena motivo de vergonha. Considera-se que o
homem que adoece e fica impossibilitado de trabalhar, o faz de propsito por motivo
de preguia. As mulheres quando engravidam, escondem ao mximo a barriga,
porque vo dizer que ela s sabe encher a casa de filhos. As pessoas ocultam os
sintomas de suas doenas dos vizinhos e at da famlia o mximo que podem.
Suporta-se a dor adiando em muito a ida ao mdico, que s acontece se a doena
vir a impossibilitar as atividades normais do indivduo. Por ter um nmero de filhos
compreendido em mdia de 8 a 10, a mulher no se permite adoecer e suporta em
silncio os sintomas de ocasionais doenas, porque tem muitos afazeres
domsticos. Quando uma das crianas que adoece, geralmente usado o
medicamento que foi receitado a um dos outros filhos e que sobrou no vidro, e a
dosagem geralmente decidida em alguma conversa com a vizinha. A ida ao
mdico evitada porque sempre acaba em uma receita mdica que nem sempre
poder ser adquirida. A ansiedade dessas pessoas se d pelo fato de que a doena
pode afast-los de seus afazeres dirios, que so a garantia de sua sobrevivncia e
de sua numerosa famlia.
Em uma situao totalmente diferente de ansiedade, se encontram os
funcionrios de linha de produo. Seu trabalho repetitivo em busca de produo
cada vez maior os transformam em operrios-macacos, treinados para aplicar de
uma maneira contnua e habitual uma tcnica cientfica de trabalho. Os especialistas
do homem no trabalho divergem a respeito de um assunto: o que se passa na
cabea de um operrio que trabalha mecanicamente exercendo uma atividade
repetitiva? Pode ele entrar em devaneios? Isso prejudica sua produo?...
Numerosos casos mostram que certos trabalhadores desgastados com problemas
pessoais ou familiares entregam-se brutalmente a uma cadncia desenfreada para
-
esquecer as dificuldades durante o tempo de trabalho. Outros, ao contrrio, s
sobrevivem ao trabalho repetitivo graas autonomia mental que conseguem
conservar.
Quanto mais rgida a organizao do trabalho, mais a diviso do trabalho
acentuada, menor o contedo significativo do trabalho e menores so as
possibilidades de muda-lo. Com isso, o sofrimento do trabalhador aumenta.
Mesmo o tempo fora do trabalho no traz para todos as vantagens que
poderamos esperar. Se levarmos em conta o custo financeiro das atividades de
lazer e do tempo absorvido pelas atividades domsticas e deslocamento, poucos
so os trabalhadores que podem organizar o lazer de acordo com seus desejos e
suas necessidades fisiolgicas.
Na vivncia dos trabalhadores, a inadaptao entre as necessidades
provenientes da estrutura mental e o contedo ergonmico da tarefa traduz-se por
uma insatisfao ou por um sofrimento, ou at mesmo por um estado de ansiedade
raramente traduzido em palavras.
O medo tambm constitui uma das dimenses da vivncia de alguns
trabalhadores, como o caso da construo civil, pesca em alto-mar, trabalhos em
profundidade, indstrias de preparao de produtos txicos, petroqumicas, etc. Ao
lado do risco real precisamos mencionar ainda o risco suposto, confirmado pelos
acidentes cuja impreviso fonte de ansiedade por parte dos trabalhadores.
Um dos sinais indiretos do medo a negao de que exista o risco ou
considerar-se imune a ele, como um empregado da construo civil que, mesmo
tendo presenciado acidentes ocorridos com seus colegas acha que preveno de
-
acidentes coisa de medrosos e descuidados, e que acidentes s acontecem com
quem procura ou exagera, pois com esse pensamento eles acreditam tomarem-
se relativo cuidado no sofrero nenhum mal.
Em uma indstria petroqumica, os trabalhadores no disfaram o medo e,
como eles mesmos dizem no estarem sobrecarregados em seus afazeres, mas
vivem em constante ansiedade porque sabem estar trabalhando sobre um barril de
plvora.
A ansiedade responde tambm aos ritmos de trabalho, de produo,
velocidade e, atravs destes aspectos, ao salrio, aos prmios, s bonificaes
fazendo com que a situao de trabalho completamente impregnada pelo risco de
no acompanhar o ritmo imposto e de perder o trem. H tambm o medo de que ,
assim que tiverem adquirido um certo hbito e rendimentos de controle seu posto de
trabalho, a agarrarem-se a este, de modo a no perder tais vantagens atravs de
uma troca de posto.
Nos escritrios, servios de contabilidade e administrao, podemos observar
uma tcnica especfica de comando, mais particularmente de tcnicas de
discriminao, principalmente quando a avaliao do chefe influencia os pontos que
so dados para o clculo do salrio, de avaliao de tarefas, do atraso autorizado ou
punido etc. Falsas esperanas sobre promoes so habilmente mantidas e no
raro, os chefes recorrem a uma convocao individual e, uma vez no escritrio,
adotam uma atitude paternalista e, desviando-se dos assuntos profissionais,
incentivam os funcionrios a falar de suas dificuldades familiares e materiais. Essas
informaes sero usadas para uma manipulao psicolgica e, s vezes, so
tornadas pblicas, ativando os conflitos entre empregados. O chefe tenta tambm
-
que os empregados falem de seus colegas e, o que no consegue obter diretamente
do interessado, acaba extorquindo dos colegas mal-intencionados, o que acaba
gerando uma ansiedade relativa degradao do funcionamento mental e do
equilbrio psico-afetivo, que a desestruturao das relaes psico-afetivas
espontneas com os colegas de trabalho, de seu envenenamento pela
discriminao e suspeita, ou de sua implicao forada nas relaes de violncia e
de agressividade com a hierarquia.
Uma segunda ansiedade relativa degradao do organismo, onde as ms
condies de trabalho colocam o corpo em perigo de duas maneiras: risco de
acidente sbito de grave amplitude e doenas profissionais que aumentam o ndice
de morbidade e diminuem o perodo de vida.
Uma terceira ansiedade a gerada pela disciplina da fome, onde apesar do
sofrimento mental que no pode mais passar ignorado, os trabalhadores continuam
em seus postos de trabalho para enfrentar uma exigncia ainda mais imperiosa:
sobreviver. Como os trabalhadores que inalam o hexaclorociclohexano no podem
se livrar do cheiro nauseabundo de seu hlito e de seu suor nos quais o produto
elimina-se. At no leito conjugal, o cheiro permanece ligado ao corpo como uma
sombra impossvel de ser mascarada, fonte de vergonha e obstculo para a vida
afetiva e sexual. Resta enfim, o salrio, que contm numerosas significaes:
primeiramente concretas (sustentar a famlia, ganhar as frias, pagar as melhorias
de sua casa, pagar as dvidas), mas tambm mais abstratas na medida em que o
salrio contm os sonhos, fantasias e projetos de realizaes possveis.
Um contra-exemplo da loucura no trabalho a aviao de caa.
Diferentemente do que se observa na produo industrial ou na construo civil,
-
constata-se que, na aviao de caa, pilotos e comandos concordam geralmente em
melhorar a relao sade-trabalho. Cada avio representa uma verdadeira fortuna e
para assegurar o retorno base preciso que o piloto esteja em boa sade. Alm
do mais, um piloto custa caro pela sua formao (muito diferente das indstrias,
onde qualquer um pode aprender a executar as tarefas de um operrio) de maneira
que sua prpria vida objeto de toda as atenes. A seleo dos pilotos se d pela
parte fsica , uma vez que, na parte psicolgica, a profisso auto-seletiva. S
resiste tenso e ansiedade aquele que tem loucura pelo perigo, pelo risco e pela
ousadia. A angstia fundamental do piloto de caa seria, de algum modo, a de ser
limitado, de ser comparado ao comum dos mortais, de ser obrigado modstia, de
reconhecer a existncia do outro e de no ser auto-suficiente. Os pilotos se
consideram o grupo de elite das, foras armadas, j que so os cavaleiros do cu.
Na aviao de caa, a explorao de uma loucura bem especfica permite
encontrar homens capazes de se lanarem num desafio mortal com os elementos
naturais. Mas as coisas no param por a. Com as telefonistas, por exemplo, o
sofrimento proveniente da insatisfao pode ser usado para aumentar a
produtividade. A telefonista se enerva com o ritmo alucinado de seu trabalho e,
como o nico meio de se livrar de seu interlocutor faze-lo desligar, ela acaba
atendendo com mais velocidade para forar o final da ligao. Mas quando uma
ligao termina j h outra em espera e, desta maneira, ela acaba trabalhando mais
depressa e atendendo a um maior nmero de ligaes durante seu expediente.
Nas indstrias petroqumicas o trabalho gera o medo e destri certas defesas
contra a angstia, submetendo assim, a vida psquica dos trabalhadores a duras
provas. Ignorando o funcionamento exato do processo industrial, e dos diferentes
-
equipamentos, etc., tm apenas dicas de como devem fazer funcionar as mquinas
que operam e, com o passar do tempo e a observao do comportamento das
mquinas, desenvolvem macetes para evitar acidentes graves. Tm conscincia de
que todo mundo sabe que no sabe, num ambiente onde os engenheiros admitem
que estudaram toda a teoria mas, na prtica, as coisas so muito diferentes. Talvez
para negar o risco que correm os empregados acabam assumindo condutas
perigosas. Criam verdadeiros jogos olmpicos no interior da usina, h jogos de bola
que duram a noite inteira, s vezes um trabalhador atrs de uma pilastra usa o
extintor de incndio dirigindo o jato contra seus companheiros, chegam a liberar
vapor a 800 C para assar costeletas em um segundo, ou abrem as vlvulas noite
liberando o vapor sob presso nos telhados da usina que, com seu carter
estrondoso, provoca pnico entre os engenheiros que em suas casas so acordados
pelos alarmes no meio da noite.
Fica difcil avaliar com exatido os efeitos dessas defesas coletivas sobre a
populao operria como um todo. Porm, aquele que fica de lado nessas prticas,
um dia ou outro ser vtima de trote; ele dever enfrentar, alm do medo criado
pelos riscos do trabalho, o medo criado pelo clima psicolgico do qual no participa.
De maneira que essas condutas perigosas funcionam, provavelmente, como um
sistema de seleo pela excluso dos vacilantes. Em contrapartida, para todos os
outros que participam, cria uma intensa coeso, um clima de cumplicidade protetora,
funcionando ento, efetivamente, como defesa contra o medo.
As greves clssicas so raras e mesmo impossveis em certas usinas
petroqumicas, pois a paralisao da produo acarretaria no somente prejuzos
para o instrumento de trabalho mas, sobretudo, arriscaria provocar acidentes. Para
-
funcionar, este tipo de processo no deve nem ultrapassar o volume mximo, fixado
previamente pelo construtor, nem cair aqum de uma produo mnima, sob a pena
de provocar, em alguns pontos, a elevao perigosa de certas temperaturas,
bloquear o fluxo de reagentes em certas canalizaes, etc. De modo que o mais
freqente que a greve seja feita sob a forma de uma reduo da produo. Nesse
sentido, a greve s pode comear em uma data fixada, quando certa instalao est
em fase de manuteno. A paralisao repentina, por isso, impossvel. As greves
selvagens so muito raras e a sabotagem fica definitivamente excluda. Em resumo,
a explorao do medo aumenta a produtividade, exerce uma presso no sentido da
ordem social e estimula o processo de produo de macetes, indispensveis ao
funcionamento da empresa.
Contrariamente ao que se pode imaginar, a explorao do sofrimento pela
organizao do trabalho no cria doenas mentais especficas. No existem
psicoses nem neuroses do trabalho. Nem os maiores crticos da nosologia
psiquitrica conseguiram provar a existncia de uma patologia mental decorrente do
trabalho. Isso significa que a organizao do trabalho no tem nenhuma importncia
nas doenas mentais?
Em geral, se a organizao do trabalho no pode ser considerada como fonte
de doena mental, uma entidade psicopatolgica, entretanto, poderia talvez
encontrar assim uma explicao original. Trata-se da sndrome subjetiva ps-
traumtica. Essa sndrome aparece, em geral, aps a cicatrizao de uma ferida, a
consolidao de uma fratura ou a cura de uma intoxicao aguda. Caracteriza-se por
uma grande variedade de problemas funcionais, ou seja, sem substrato orgnico,
ou pela persistncia anormal de um sintoma que apareceu depois do acidente.
-
como uma ferida no couro cabeludo provocada pela queda de uma pedra, depois da
cura continua, durante meses, a produzir pruridos na superfcie do crnio, cefalias,
impresses estranhas na cabea, vertigens, etc. s vezes esta sndrome
interpretada como descompensao hipocondraca de uma estrutura neurtica
subjacente e preexistente ao acidente. O papel do acidente o de elemento
desencadeador e a evoluo da sndrome de uma cronicidade terrvel.
Quando se ocupa de uma tarefa, o trabalhador procura arruma-la numa
ordem, numa seqncia de gestos, escolhendo os instrumentos adequados, enfim,
executando de certa maneira uma organizao de trabalho de compromisso. Deste
modo, a mesma tarefa realizada por diferentes trabalhadores, nem sempre
realizada segundo um mesmo e nico protocolo. Assim, a livre organizao do
trabalho torna-se uma pea essencial do equilbrio psicossomtico e da satisfao.
Mas quanto mais rgida for a organizao do trabalho, menos ela facilitar
estruturaes favorveis ao equilbrio psicossomtico individual. As aptides ligadas
mentalizao e produo de fantasmas constituem a melhor vlvula de escape
tenso imposta economia psicossomtica.
Parece que o sofrimento mental que foi mostrado no pode ser considerado
apenas como uma conseqncia deplorvel ou um epifenmeno lamentvel. Em
certos casos, ele se revela propcio produtividade. No tanto o sofrimento em si,
mas os mecanismos de defesa empregados contra ele.
Contra o sofrimento, a ansiedade e a satisfao, se constroem sistemas
defensivos a ponto de o sofrimento, na maior parte desviar-se da verdade. Apesar
de vivenciado, o sofrimento no reconhecido. Se a funo primeira dos sintomas
-
de defesa aliviar o sofrimento, seu poder de ocultao volta-se contra seus
criadores.
provvel que no exista soluo ideal e que, aqui como em tudo mais, seja
sobretudo a evoluo a portadora de esperana. Considerando o lugar dedicado ao
trabalho na existncia, a questo saber que tipo de homens a sociedade fabrica
atravs de organizaes do trabalho. Entretanto, o problema no , absolutamente,
criar novos homens, mas encontrar solues que permitam pr fim
desestruturao de um certo nmero deles pelo trabalho.
3.1 O BOM ESTRESSE1
Para Vasconcelos (2001) o estresse, ao contrrio do que se imagina, um
fenmeno saudvel, pois mobiliza dentro do corpo energias e condies necessrias
para a reao aos problemas vividos.
Sem ele, as primeiras ameaas que a vida apresenta abalariam
consideravelmente qualquer pessoa. Mas quando o estresse intenso, o organismo
altera todo seu funcionamento e a se torna uma doena, chamada diestresse.
1 Esdras Guerreiro Vasconcellos professor doutor de ps-graduao em psicologia social e do
trabalho da USP; em psicologia clnica, ncleo de psicossomtica e psicologia hospitalar da PUC-SP; e diretor cientfico do IPSPP-SP (Instituto Paulista de Estresse, Psicossomtica e Psiconeuroimunologia) in
-
Qualquer tipo de estresse -o natural, positivo ou negativo - produz alteraes
orgnicas nos diversos sistemas (nervoso, endcrino, psicolgico, emocional,
cognitivo, vascular, dermatolgico, gastrintestinal, sexual e reprodutor).
Os danos podem ser tambm de pequeno porte e at trazerem
conseqncias fatais, causando, por exemplo, o cncer. O trnsito denso, difcil,
congestionado e violento pode ser uma causa para o aparecimento de doenas
cardiovasculares em motoristas de txi e entregadores, disse o cientista Esdras
Guerreiro Vasconcellos, do IPSPP-SP, Instituto Paulista de Estresse,
Psicossomtica e Psiconeuroimunologia.
Segundo o mdico, existem profisses que so mais estressantes que outras.
Tudo depende, no entanto, da freqncia e da intensidade com que os fatores
ocorrem na vida de uma pessoa.
Profisses como as que trabalham com atendimento a catstrofes (policiais,
mdicos de pronto-socorro, bombeiros), as que atuam sob forte presso de tempo
(executivos, jornalistas, vestibulandos, motoristas de ambulncia), outras sob forte
presso de competitividade (agentes da bolsa e atletas de alto nvel) tm uma
probabilidade maior de desenvolver mais rapidamente sintomas de estresse.
Os sintomas mais freqentes e que logo se manifestam quando a pessoa est
muito estressada so insnia, alteraes nos batimentos cardacos, dor de
estmago, diarrias, bloqueio mental, alergias persistentes, infeces resistentes,
gripes prolongadas e duradouras, perda de cabelo, problemas sexuais (nos homens
perda da ereo, nas mulheres alteraes no ciclo menstrual), irritabilidade, recluso
social, intolerncia, agressividade e impacincia.
-
3.2 COMO DIAGNOSTICAR O ESTRESSE
Segundo Vasconcellos, primeiramente o estresse deve ser evitado. Para isso,
necessrio desenvolver um ritmo de trabalho e de lazer que permita ao corpo
refazer-se adequadamente das sobrecargas profissionais e pessoais.
Uma atividade de lazer pouco competitiva imprescindvel para evitar o
aparecimento dos sintomas do estresse. Uma atividade religiosa moderada pode
tambm ajudar de maneira muito eficiente nesse combate aos efeitos prejudiciais do
estresse, afirma Vasconcelos.
Quando os sintomas j esto avanados, necessrio um tratamento mdico
sempre acompanhado por uma psicoterapia especifica para controle de estresse.
-
3.3 CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE
Os mobilizadores de energia so, aqueles que provem a energia instantnea.
Eles provocam os seguintes efeitos:
TABELA 1: CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE
Efeitos imediatos Efeito a longo prazo
Liberao de adrenalina e
noradrenalina das supra-renais
na corrente sangnea
acelera os reflexos aumentando o ritmo de
batimentos cardacos, e a presso
sangnea elevando os nveis de acar no
sangue e o metabolismo corporal
distrbios cardiovasculares
como molstias do corao e
derrames; problemas renais
devido a hipertenso arterial;
oscilaes nos nveis de
acar no sangue, agravando
assim o diabetes e a
hipoglicemia
Liberao de hormnios
tireoidianos da glndula tireide
na corrente sangnea
acelera ainda mais o metabolismo corporal exausto, a perda de peso e,
por fim, ao esgotamento
fsico.
Liberao de colesterol do fgado
na corrente sangnea
Aumenta ainda mais os nveis de energia elevao do risco de
arteriosclerose
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
3.4 SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA
Alm da mobilizao da energia em si, existe uma srie de funes corporais reunidas
em resposta ao estresse que apiam essa mobilizao.
TABELA 2: SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA
Efeito imediato Efeito a longo prazo
-
Obstruo do sistema digestivo. o sangue desviado do estmago
para os pulmes e msculos; a boca
fica seca para que o estmago no
tenha nem mesmo que digerir a
saliva.
problemas estomacais e perturbaes
digestivas
Reao cutnea O sangue e desviado da superfcie da
pele para outras partes: palidez, suor
perturba a temperatura natural do
corpo
Dilatao das passagens de ar nos
pulmes
Promove um ritmo mais rpido de
respirao.
cegueiras temporrias e alterar os
batimentos cardacos.
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
3.5 AUXILIOS DE CONCENTRAO
TABELA 3: AUXILIOS DE CONCENTRAO
Efeito imediato Efeito a longo prazo
Liberam endorfinas do
hipotalamo na corrente sangnea
anestsicos naturais; reduzem
sensibilidade a ferimentos e
contuses
mais sensveis a dores rotineiras
Liberam cortisona das supra-
renais na corrente sangnea
Interrompe as reaes alrgicas
que poderiam interferir com a
respirao
reduz as reaes imunolgicas;
aumentar o risco de ulceras
ppticas
Os sentidos ficam mais aguados
e melhora o desempenho mental
melhor funcionamento diminuindo ativamente as respostas
sensoriais e mentais
reduzida a produo de
hormnios sexuais
Evita o desvio de energia ou da
ateno para o estimulo sexual
impotncia, frigidez, esterilidade e
outros problemas sexuais.
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
-
3.6 REAES DEFENSIVAS
TABELA 4: REAES DEFENSIVAS
Efeito imediato Efeito a longo prazo
Os vasos sangneos contraem-se
e o sangue fica mais espesso
flui mais devagar e se coagula mais
depressa em caso de ferimentos
formao de cogulos, elevando
assim o risco de molstias
cardacas e derrames.
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
3.7 CONSEQNCIAS PSICOLGICAS DO EXCESSO DE ESTRESSE
3.7.1 Efeitos cognitivos
TABELA 5: EFEITOS COGNITIVOS
DECRSCIMO DA CONCENTRAO E
DA EXTENSO DA ATENO
A mente encontra dificuldades para permanecer concentrada.
Diminuem os poderes de observao
AUMENTA A DESATENO A linha do que esta sendo ensinado ou dito e perdida com
freqncia, mesmo no meio de frases.
DETERIORA-SE A MEMRIA
DE CURTO E LONGO PRAZOS
Reduz-se a amplitude da memria. A lembrana e o
reconhecimento diminuem, mesmo a respeito de materiais
familiares.
A VELOCIDADE DE RESPOSTA
TORNA-SE IMPREVISVEL
A velocidade real de resposta reduz-se; as tentativas de
compensao podem levar a decises apressadas.
AUMENTA O NDICE DE ERROS Como conseqncia de todos os itens anteriores, os erros
aumentam em tarefas manipulativas e cognitivas. As decises
tornam-se suspeitas.
DETERIORAM-SE OS PODERES DE
ORGANIZAO E PLANEJAMENTO A
LONGO PRAZO
A mente no pode avaliar com exatido as condies
existentes nem prever as conseqncias futuras.
AUMENTAM AS ILUSES E OS
DISTRBIOS DE PENSAMENTO
O teste da realidade torna-se menos eficiente, a objetividade e
os poderes de critica so reduzidos, os padres de
pensamento tornam-se confusos e irracionais
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
-
3.8 EFEITOS EMOCIONAIS
TABELA 6: EFEITOS EMOCIONAIS
AUMENTAM AS TENSES FISICAS E
PSICOLOGICAS
Reduz-se a capacidade de relaxamento do tnus muscular, de
se sentir bem, de se desligar das preocupaes e ansiedades
AUMENTA A HIPOCONDRIA Queixas imaginarias acrescentam-se aos males reais do
estresse. Desaparecem as sensaes de sade e de bem-estar.
OCORREM MUDANAS NOS
TRAOS DE PERSONALIDADE
Pessoas asseadas e cuidadosas podem se tornar desleixadas e
relaxadas; pessoas carinhosas podem ficar indiferentes; as
democrticas, autoritrias.
CRESCEM OS PROBLEMAS DE
PERSONALIDADE EXISTENTES
Pioram a ansiedade, a super sensibilidade, a defensiva e a
hospitalidade j existentes
ENFRAQUECEM-SE AS RESTRIOES DE
ORDEM MORAL E EMOCIONAL
Os cdigos de comportamento e de impulso sexual
enfraquecem-se (ou, par outro lado, tornam-se
irrealisticamente rgidos). Aumentam as exploses
emocionais
APARECEM A DEPRESSO E A
SENSAO DE DESAMPARO
O entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento de
impotncia para influenciar os fatos ou os prprios
sentimentos a respeito deles
A AUTO-ESTIMA DIMINUI DE FORMA AGUDA
Desenvolvem-se sentimentos de incompetncia e de
inutilidade
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
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3.9 EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS
TABELA 7: EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS
AUMENTAM OS PROBLEMAS DE
ARTICULAO VERBAL
Aumentam os problemas j existentes de gagueira e hesitao,
podendo surgir em pessoas at ento no afetadas.
DIMINUEM OS INTERESSES E O
ENTUSIASMO
Os objetivos de vida podem ser abandonados. Passatempos
parecem ser esquecidos. Objetos de estimao, vendidos
AUMENTA O ABSENTEISMO Atrasos ou falta no trabalho por doenas reais ou imaginarias ou
por desculpas inventadas tornam-se um problema
CRESCE O USO DE DROGAS Torna-se mais evidente o abuso de lcool, cafena, nicotina e
medicamentos ou drogas
ABAIXAM OS NIVEIS DE ENERGIA Os nveis de energia caem ou podem variar de forma marcante de
um dia para outro, sem razo aparente.
ROMPEM-SE OS PADROES
DE SONO
Ocorre dificuldade para dormir ou para permanecer adormecido
par mais de quatro horas.
AUMENTA O CINISMO A RESPEITO
DOS CLIENTES E COLEGAS Desenvolve-se a tendncia de jogar a culpa sobre os outros. O que se pode fazer com pessoas como essas? Eles s tero de novo a mesma disposio daqui a seis meses. Ningum se importa, exceto eu.
IGNORAM-SE NOVAS
INFORMAES
So rejeitadas ate mesmo novas regulamentaes ou novos
acontecimentos potencialmente teis. Estou ocupado demais para me importar com coisas como essas.
RESPONSABILIDADES
TRANSFERIDAS PARA OUTROS
Aumenta a tendncia a redefinir limites e excluir tarefas
desagradveis de seu campo
RESOLVEM-SE OS PROBLEMAS DE FORMA CADA VEZ MAIS
SUPERFICIAL
So adotadas solues paliativas e de curto prazo, e abandonadas
as tentativas de aprofundamento e de acompanhamento. Em
algumas reas, ocorrem desistncias
SURGEM PADRES BIZARROS DE
COMPORTAMENTO
Surgem maneirismos estranhos, imprevisibilidade e comporta
mentos no caractersticos.
PODEM OCORRER TENTATIVAS DE SUICDIO
Surgem frases como acabar com tudo e e intil continuar.
Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm
-
CONSIDERAES FINAIS
O trabalho, as responsabilidades e as preocupaes do dia a dia tm inserido
o homem numa rotina desgastante, ocasionando um dos grandes males das ltimas
dcadas: o estresse.
Submetido ao estresse, o corpo humano libera adrenalina, que aumenta os batimentos
cardacos, acelera a respirao e provoca tenso muscular. Descontrolado e acumulado, esse
fenmeno cria ou agrava problemas de sade, mas dentro de certos limites funciona como
estmulo realizao.
Estresse o estado que se caracteriza por um conjunto de reaes psicofisiolgicas do
organismo a situaes que desencadeiam tenso. So fatores estressantes os acontecimentos
que provocam ansiedade, agitao ou tristeza. A vida nas grandes cidades propicia inmeras
situaes favorveis ao estresse, fenmeno especialmente freqente nas modernas sociedades
industriais, principalmente no trabalho.
Em 1936, o cientista e mdico austraco Hans Seyle apresentou pela primeira vez em
biologia o conceito de estresse. Definiu-o como uma "sndrome geral de adaptao", ou seja,
um conjunto de reaes sistmicas e no-especficas que surgem quando ocorre exposio do
organismo a agentes agressores. Observou trs fases de resposta adaptativa:
1. reao de alarme, que corresponde ao estresse agudo, quando se d a
liberao de adrenalina;
-
2. perodo de resistncia, correspondente ao estresse crnico, quando
secretado o hormnio glicocorticide; e
3. fase de exausto, que corresponde ao perodo pr-agnico, em que h
falncia orgnica mltipla.
Acredita-se que a capacidade de um indivduo para controlar situaes potencialmente
estressantes pode ter profundos efeitos sobre suas funes vitais. Pesquisadores encontraram
uma relao estatstica entre doenas coronarianas e indivduos que apresentam padres de
comportamento muito estressante, com estilo de vida caracterizado por impacincia e
sentimento de urgncia, e no trabalho o excesso de competitividade e preocupao em
cumprir prazos.
Segundo a OMS (1985), atravs de vrios estudos tem se verificado que o
desgaste do trabalhador provocado por certas condies de trabalho um fator mais
significativos na determinao do estresse e conseqentemente, no aparecimento
de doenas.
Em qualquer situao no trabalho pode ocorrer estresse quando os recursos
necessrios para o trabalho, ou a capacidade do indivduo, no condizem com as
demandas do servio ou as condies ambientais. Alm disso, chama a ateno
para o fato de que o trabalhador que chega ao seu local de trabalho j
sobrecarregado com fatores estressantes pessoais mais suscetvel a problemas
adicionais.
A carga de trabalho que a pessoa encontra em seu servio um dos fatores
relacionados ao estresse ocupacional. Tanto a sobrecarga quanto a carga muito
pequena de trabalho provocam ansiedade e frustraes, causando o estresse.
-
Vrias estratgias se aplicam com sucesso no tratamento do estresse. O
alvio do estresse moderado pode ser obtido por meio de exerccio fsico ou de
qualquer tipo de relaxamento. O estresse grave pode demandar tratamento
psicoteraputico para trazer tona as causas subliminares e atac-las. Algumas
vezes, a mudana de ambiente ou de modo de vida produz boa resposta
teraputica.
A luta pela melhoria econmica numa sociedade cada vez mais consumista,
onde cada um vale o que tem, tornou-se a razo de viver de muitos. Ter o carro do
ano, diversidades de eletrodomsticos oferecido pelo comrcio, computador de
ltima gerao a meta principal. A televiso, o rdio e os jornais bombardeiam com
propagandas de todos tipos e dos mais esdrxulos objetos e servios, incentivando
a comprar.
Para adquirir tudo que oferecido no se mede esforos, e inmeras vezes
no se consegue visualizar no que se tornou a vida. Uma rotina estressante,
prejudicial a vida familiar, profissional, social e pessoal, com conseqncias at
mesmo fsicas. O grande nmero de doenas psicossomtico existente comprova
este fato. o corpo dando o alerta que algo no vai bem.
O estresse uma doena do sculo e tem efeitos negativos sobre a sade
dos trabalhadores, afetando a produtividade.
Sabe-se que o estresse o desgaste sofrido pelos rgos e provocado pelas
dificuldades em enfrentar os problemas emocionais. No h dvida de que o estresse no
depende apenas das tenses externas geradas pelas dificuldades socioeconmicas, mas
tambm dos recursos mentais utilizados para enfrentar todos estes problemas.
-
Afigura-se que o estresse relacionado com o trabalho afeta milhes de
trabalhadores em todos os ramos de atividade. Esta situao constitui um importante
motivo de preocupao e um desafio devido no s aos seus efeitos sobre os
trabalhadores individuais, mas tambm aos custos ou impacto econmico sobre as
empresas e aos custos sociais para o pas.
-
Definio de estresse relacionado com o trabalho
Cada vez mais existe um consenso para definir estresse relacionado com o
trabalho em termos das "interaes" entre o trabalhador e o ambiente de trabalho
(exposio a fatores de risco). Segundo este modelo, pode-se dizer que o estresse
ressentido quando as exigncias do ambiente de trabalho ultrapassam a capacidade
do trabalhador de fazer face a essas exigncias (ou de as controlar). Ao definir o
estresse desta forma, coloca-se a tnica nas causas relacionadas com o trabalho e
nas medidas de controle necessrias.
Causas do estresse relacionado com o trabalho
De um modo geral, o problema do estresse relacionado com o trabalho reside
na concepo e na gesto da organizao do trabalho. Acima foi apresentado um
modelo de definio do estresse em relao com o ambiente de trabalho; o estresse
verifica-se quando as exigncias dos fatores de trabalho ultrapassam a capacidade
de fazer face situao (ou de a controlar). Na literatura de investigao atual existe
um consenso razovel sobre os perigos psicossociais do trabalho que so
ressentidos como estressantes e/ou potencialmente nocivos. Isto resumido na
abaixo onde se apresenta dez categorias de caractersticas de trabalho, ambientes
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de trabalho e fatores organizacionais susceptveis de constituir um risco. Referem-
se, tambm, as condies nas quais cada uma dessas categorias se mostrou
prejudicial para a sade.
Caractersticas estressantes do trabalho
TABELA 8: CARACTERSTICAS ESTRESSANTES DO TRABALHO
Categoria Condies que determinam os perigos
Contexto do trabalho
Cultura organizacional e funo Falta de comunicao, baixos nveis de apoio na resoluo de problemas e no desenvolvimento pessoal, falta de definio dos objetivos organizacionais.
Papel na organizao Ambigidade e conflito de papis, impreciso da definio das responsabilidades dos trabalhadores.
Progresso na carreira Estagnao na carreira e incerteza, promoo insuficiente ou excessiva, salrios baixos, insegurana do emprego, baixo valor social do trabalho.
Liberdade da deciso / controle Falta de participao no processo de deciso, falta de controle no trabalho
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Relaes interpessoais no trabalho
Isolamento social ou fsico, relaes deficientes com os superiores, conflitos interpessoais, falta de apoio social.
Relaes vida privada - trabalho Incompatibilidade das exigncias trabalho / vida privada, falta de apoio em casa, duplos problemas de carreira.
Contedo do trabalho
Ambiente laboral e equipamento Problemas com a disponibilidade, adequao e manuteno ou reparao do equipamento e das instalaes.
Concepo da tarefa Falta de variedade ou ciclos de trabalho curtos, trabalho fragmentado ou menor, subutilizao das competncias, alto nvel de incerteza.
Volume /ritmo de trabalho Sobrecarga de trabalho ou quantidade de trabalho insuficiente, falta de controle sobre ao ritmo, altos nveis de presso relativamente aos prazos acordados para as tarefas.
Horrios de trabalho Trabalho por turnos, horrios rgidos, horas imprevisveis, perodos longos ou fora do normal.
Alm disso, as rpidas e excepcionais mudanas de hoje no mundo do
trabalho e sua organizao aumentam os problemas de estresse. As mudanas em
si, em especial quando o trabalhador se confronta com problemas como falta de
controle ou participao e incerteza, podem causar estresse.
mbito da preveno e da gesto
H de salientar a necessidade de traduzir os conhecimentos cientficos
existentes em solues prticas para os problemas do estresse relacionado com o
trabalho. Para tal, prope-se a utilizao da gesto do risco / controle do ciclo como
enquadramento para a resoluo dos problemas. O controle do ciclo o processo
sistemtico pelo qual os riscos so identificados, analisados e geridos, e os
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trabalhadores protegidos. Esta abordagem de resoluo dos problemas encontra-se
bem estabelecida como estratgia para combater os riscos fsicos, constituindo, para
alm disso, uma estratgia til para a avaliao de todos os riscos psicossociais no
trabalho.
Prioridades de investigao
A principal rea para investigao futura a gesto do estresse, sua
avaliao e a natureza fundamental do estresse. Os esforos devem ser
concentrados em aes de gesto do estresse a nvel organizacional, em especial
tendo em conta que muitas vezes foram adotadas vises demasiado limitadas
quanto ao que deve ser a gesto do estresse e, muitas vezes, as aes foram
demasiado concentradas em tratar ou curar a pessoa. Alm disso, so necessrias
avaliaes mais adequadas e sistemticas das intervenes.
Existe uma clara necessidade de avaliar e monitorizar vrios aspectos da
concepo e gesto do trabalho muitas vezes designadas coletivamente como
"mundo do trabalho em mudana" (ver tabela abaixo). Estes novos padres de
trabalho podem ser portadores de riscos complementares e imprevistos para os
trabalhadores e as empresas.
O Mundo do Trabalho em Mudana
nmero crescente de trabalhadores idosos
teletrabalho e uso crescente das tecnologias da informao e da
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comunicao
reduo dos efetivos, descentralizao da produo, sub-contratao e globalizao e mudanas nos padres de trabalho da decorrentes
exigncia de flexibilidade aos trabalhadores, tanto em termos do seu nmero, como das suas funes e competncias
uma maior percentagem de trabalhadores no setor dos servios
trabalho auto-regulamentado ou trabalho de equipe
Uma segunda rea de investigao a necessidade de colocar o estresse no
trabalho no contexto mais vasto de problemas interligados, tais com as
desigualdades sociais, a diversidade social, a idade, o sexo, as deficincias e uma
etnia. Esta abordagem essencial para se obter uma perspectiva completa da
gesto do estresse no trabalho.
Resultados-chave
O estresse relacionado com o trabalho pode ser tratado da mesma forma que
outras questes de sade e segurana, atravs da adaptao do controle do ciclo, j
bem estabelecido para a avaliao e a gesto dos riscos fsicos, gesto do
estresse no trabalho.
A investigao futura deve centrar-se em intervenes de gesto do estresse a nvel da
organizao.
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