estratégias de desenvolvimento tecnológico
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................10 1.1 TEMA............................................................................................................10 1.2 PROBLEMA..................................................................................................10 1.3 ALCANCES E LIMITES................................................................................11 1.4 JUSTIFICATIVA............................................................................................11 1.5 CONTRIBUIÇÕES........................................................................................12 1.6 REFERENCIAL TEÓRICO ...........................................................................12 1.7 OBJETIVO GERAL.......................................................................................13 1.8 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................13 1.9 HIPÓTESES .................................................................................................14 1.10 METODOLOGIA EMPREGADA ...................................................................14 1.11 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS ..................................................................15
2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA..................... .......................................16 2.1 O TÉRMINO DA GUERRA FRIA E A INDÚSTRIA DE MATERIAL DE
DEFESA .......................................................................................................17 2.1.1 Introdução .................................. .................................................................17 2.1.2 Fusão de empresas de defesa Pós-Guerra Fria. ......................................19 2.2 A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA NA REVOLUÇÃO EM ASSUNTOS
MILITARES...................................................................................................22 2.3 TECNOLOGIAS SENSÍVEIS E FORMAS DE OBTENÇÃO .........................25 2.3.1 Transferência de tecnologia ................. .....................................................25 2.3.2 Obtenção de tecnologia própria.............. ..................................................26 2.4 CONCLUSÃO PARCIAL...............................................................................27
3 DESENVOLVIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NA CHINA..28 3.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................28 3.2 CAUSAS DO FRACO DESEMPENHO ATÉ 1990........................................29 3.3 REFORMAS DO GOVERNO CENTRAL......................................................30 3.4 REFORMAS NAS EMPRESAS ....................................................................31 3.5 A INDÚSTRIA DE MÍSSEIS .........................................................................32 3.5.1 Recursos Humanos e Financeiros .............. ..............................................32 3.5.2 Acesso à tecnologia estrangeira............. ..................................................33 3.5.3 Incentivos.................................. ..................................................................34 3.6 CONCLUSÃO PARCIAL...............................................................................35
4 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL ........... ............................37 4.1 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA BID.............................................37 4.2 BASE LEGAL RELACIONADA À INDUSTRIA DE MATERIAL DE DEFESA .......................................................................................................38 4.3 ASPECTOS DA CONTRATAÇÃO E DO FINANCIAMENTO DA PESQUISA
E DESENVOLVIMENTO NO PAÍS...............................................................42 4.4 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE MATERIAL DEFESA.................................44 4.5 CONCLUSÃO PARCIAL...............................................................................46
5 CONCLUSÃO....................................... ........................................................48
REFERÊNCIAS............................................................................................50
10
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é possuidor de riquezas efetivas ou de potenciais naturais que o
coloca entre os cinco maiores países do planeta, fato este que o torna alvo de
interesses de grandes potências militares. A inexistência ou insuficiência de
produção doméstica de material de defesa e de pesquisa tecnológica nessa área
nos torna vulneráveis na expressão militar do Poder Nacional.
1.1 TEMA
O tema deste trabalho é afeto à Base Industrial de Defesa buscando
identificar as estratégias de desenvolvimento tecnológico que se aplicam a nossa
BID para fazer face aos desafios do século XXI.
1.2 PROBLEMA
Este estudo abordará a Base Industrial de Defesa, analisando a evolução ao
longo da história no Brasil e em outros países, procurando responder o seguinte
problema:
• Que aspectos devem ser considerados para o estabelecimento de
uma estratégia de desenvolvimento tecnológico para a Base Industrial
de Defesa do Brasil?
Como subproblemas serão buscadas as respostas para as seguintes
questões:
• Quais são os óbices para o desenvolvimento tecnológico e a evolução
da BID nacional?
• Que estratégias e políticas de outros países podem ser empregadas
no Brasil no desenvolvimento da BID? Quais os elementos
preponderantes e por quê?
• Quais as tecnologias sensíveis para a Defesa? Elas coincidem com
as prioridades do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação?
Como superar o “gap” tecnológico entre o material existente no país e
o estado da arte, em curto espaço de tempo?
11
1.3 ALCANCES E LIMITES
Como a definição de BID envolve os aspectos de uma ou mais das etapas
de pesquisa, desenvolvimento, produção, distribuição e manutenção de produtos
estratégicos de defesa (bens e serviços), este trabalho, que busca estudar as
estratégias para desenvolvimento tecnológico da BID, conter-se-á aos aspectos
relativos às etapas de pesquisa e desenvolvimento.
Quanto à temporalidade, serão válidas as fontes de pesquisa com qualquer
idade de publicação ou informação.
Quanto ao espaço, serão válidos os dados obtidos das pesquisas de
Políticas de Defesa Nacional e Políticas de Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil
e de outros países, e outros documentos relacionados à Base Industrial de Defesa e
produtos de tecnologia sensível.
1.4 JUSTIFICATIVA
As nossas Forças Armadas, para manter a soberania de um país continental
de 8.500.000 Km2 , com mais de 23.000 Km de fronteiras (em torno dos quais
15.000 Km são fronteiras terrestres e o restante marítimas), necessitam estar
capacitadas e bem equipadas com material de defesa adequado para cumprimento
de suas missões.
Daí a necessidade de estarem sempre bem aparelhadas, com armamento e
meios bélicos no estado da arte, de modo a garantir a supremacia do poder de
combate, caso seja necessário serem empregadas na defesa de nosso território.
A BID é a garantia da continuidade logística do suprimento de itens
necessários para as FFAA do Brasil, a qualquer tempo, e desde o tempo de paz.
A C,T&I na BID tornou-se fator relevante para mudar o poder de combate de
uma Força. Não basta hoje só recompletar o material de defesa, sem dominar a
tecnologia para obter o produto no estado da arte. Daí a importância de levantar os
óbices ao desenvolvimento tecnológico da BID e propor estratégias para a
superação destes.
12
1.5 CONTRIBUIÇÕES
Ao final deste trabalho, pretende-se contribuir com proposta de estratégias
para o desenvolvimento tecnológico da nossa Base Industrial de Defesa,
identificando os pontos prioritários para superar os seus óbices.
1.6 REFERENCIAL TEÓRICO
A manutenção de uma Base Industrial de Defesa (BID) foi uma questão
fundamental para a maioria dos países até o fim da Guerra Fria. Até o final de 1990,
os planejadores e as empresas do setor de defesa podiam estabelecer prioridades
claras, horizontes de longo prazo e programas relativamente estáveis.
Entre 1989 e 1996, os gastos com defesa caíram aproximadamente um
terço em termos reais. A nova face do combate tinha provocado uma verdadeira
revolução, a chamada Revolução em Assuntos Militares (RAM), mudando o foco da
Indústria de Defesa dos grandes arsenais de armas tradicionais para os sistemas de
armas novos e inovadores, caracterizados por rápido desdobramento e alta
precisão.
A indústria de defesa evoluiu dramaticamente como resultado disso. Vinte e
quatro das cem maiores companhias de defesa em 1990 haviam deixado a indústria
em 1998. Aquelas que permaneceram cresceram mais, através de uma série de
fusões consolidadas. Uma comunidade internacional de segurança mais colaborativa
parecia estar emergindo entre os países desenvolvidos do mundo ocidental, para
responder às grandes deflagrações regionais de guerras.
CRUZ(2006) abordou a Terceira Revolução Industrial e esta Revolução em
Assuntos Militares (RAM) dos anos 90 e seus impactos sobre a Estratégia da
Indústria de Defesa:
“A aplicação do processo amplo e acelerado de informatização ao âmbito
militar alterou de modo significativo vários conceitos consagrados da Estratégia. Um
desses conceitos clássicos foi sintetizado por Clausewitz na sua famosa expressão:
"névoa da guerra". Atualmente, a informatização de todo o espectro C3I (Comando,
Controle, Comunicações e Informação) dissipa praticamente por completo essa
"névoa", fazendo com que se obtenha em tempo real e com exatidão quase absoluta
as informações sobre as próprias Forças Armadas e as do inimigo, permite o
processamento instantâneo das mesmas, assegura a pronta e clara transmissão de
13
ordens e comunicações de coordenação e possibilita a rápida e continuada
atualização de todos esses ciclos. Aliás, já se começa a utilizar, nesse patamar de
altíssima tecnologia informacional para fins militares, a abreviatura C4IVR:
Comando, Controle, Comunicações, Computadores, Inteligência, Vigilância e
Reconhecimento.
A combinação de C4IVR com sistemas de armas e munições "inteligentes"
minimizou radicalmente as baixas de combate e reduziu o tempo de duração dos
conflitos armados. Consequentemente, foram diminuídos na mesma proporção os
óbices representados pelo envolvimento imediato da opinião pública, tanto interna
(no país atacante) como internacional. O resultado desses dois fenômenos é um
aumento exponencial da "tentação" política de recorrer à guerra como forma útil e
eficaz de conduta internacional, sobretudo para a consecução de objetivos limitados.
O desenvolvimento de novos sistemas de armas de elevada tecnologia e de alta
precisão e a incerteza de que o mercado iria adquirir a produção, representavam
elevados riscos para as empresas do setor. ”
Atualmente, somados aos riscos dos altos investimentos para buscar a
tecnologia, vivenciamos pressões incessantes da opinião pública sobre a eficiência
dos gastos públicos, obrigando que a BID utilize novos métodos para desenvolver,
adquirir, financiar e fornecer suporte a equipamentos de defesa, incluindo um
esforço determinado para fazer uso mais amplo de tecnologias mais baratas e
disponíveis no mercado, sempre que possível.
Neste contexto, este trabalho irá buscar as possíveis alternativas para que o
Brasil possa desenvolver tecnologicamente a sua BID, buscando sobretudo o ajuste
da equação entre os altos investimentos e a busca da tecnologia de ponta.
1.7 OBJETIVO GERAL
- Identificar pontos estratégicos para o desenvolvimento da tecnologia
aplicada aos produtos da BID
1.8 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Identificar os óbices ao desenvolvimento tecnológico da BID;
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- Analisar a PDN e a Política de Ciência, Tecnologia e Inovação,
identificando as prioridades dos dois Ministérios em relação às tecnologias
sensíveis;
- Analisar as Políticas de Defesa de outros países, identificando prioridades
em relação às tecnologias sensíveis, estratégias de desenvolvimento, estrutura de
Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) para a Defesa.
1.9 HIPÓTESES
H1 – O desenvolvimento tecnológico da BID é essencial para a soberania
do país.
H2 – É imprescindível a vontade e o envolvimento de todos os segmentos
políticos do País, além de outros atores (indústrias, universidades, centros de
pesquisas, etc) para que a Base Industrial de Defesa possa se desenvolver
tecnologicamente.
1.10 METODOLOGIA EMPREGADA
Quanto à abordagem, o trabalho desenvolverá uma pesquisa qualitativa,
pois o esforço será para definir a aplicação prática dos dados e informações não
quantificáveis, especialmente pela observação fenomenológica.
Quanto à natureza (modalidade) de pesquisa, escolheu-se a forma análise
exploratória de dados, pois o escopo do trabalho é o de verificar, de forma isenta e
sem conceitos formados, as fontes teóricas e os dados, gerando a base suficiente
para propor generalizações, montar relacionamentos, reforçar e enfeixar hipóteses.
Quanto aos procedimentos técnicos, este trabalho consistirá das seguintes
etapas:
• levantamento teórico sobre a Base Industrial de Defesa;
• busca, na internet, sobre os dados orçamentários e estratégias de
desenvolvimento inerentes às Políticas de Defesa Nacional em outros países;
• levantamento dos principais óbices para a BID e possíveis soluções,
analisando as alternativas adotadas em outros países;
• análise da PDN em comparação à Política de Ciência, Tecnologia e Inovação,
verificando os pontos de convergência e aqueles que podem ser melhorados;
15
• proposta de estratégias para o desenvolvimento tecnológico para a nossa
BID.
1.11 DESCRIÇÃO DOS CAPÍTULOS
A monografia será organizada em três capítulos principais, com exceção da
Introdução e das Considerações Finais.
No capítulo 2 será apresentada uma visão geral da Base Industrial de
Defesa e de seus elementos constituintes, sendo levantadas as características do
mercado e da fabricação de produtos de defesa e os seus principais óbices,
apresentados alguns conceitos sobre formas de transferência de tecnologia,
concluindo com os principais fatores para o desenvolvimento da nossa BID.
No Capítulo 3, será discutido os aspectos do desenvolvimento da BID na
China e buscados aqueles que poderiam ser empregados no desenvolvimento
tecnológico da nossa BID.
No Capítulo 4, será analisado a nossa Base Industrial de Defesa e a relação
entre a Defesa e a Ciência, Tecnologia e Inovação, verificando as políticas e a
legislação em vigor nestes setores.
16
2 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA
O Ministério da Defesa define a Base Industrial de Defesa (BID) como o
conjunto das empresas estatais e privadas, bem como organizações civis e militares,
que participam de uma ou mais das etapas de pesquisa, desenvolvimento,
produção, distribuição e manutenção de produtos estratégicos de defesa (bens e
serviços).
Para iniciar o estudo da BID e levantar os óbices para o seu
desenvolvimento, é necessário estudar a situação do mercado atual das indústrias
de material de defesa no mundo, levantando as suas características cujos atributos
são peculiares dos produtos de elevado nível tecnológico:
• quase sempre, quando não se domina o estado-da-arte do material, só
haverá um único comprador, o governo através das suas Forças Armadas. A
exportação é difícil por se tratar de um segmento de mercado que oferece
produtos concorrentes de alto nível tecnológico;
• uma indústria em que o desenvolvimento de novos produtos constituem a
regra, mas que as vendas nem sempre se consolidam;
• um setor onde a tecnologia de ponta não é transferida pelos países que a
dominam e que o desenvolvimento da mesma exige grandes investimentos e
constituem alto risco para a iniciativa privada;
• multidisciplinariedade ou exigência de combinação de competências
específicas que nem sempre poderão ser aproveitadas em novos projetos;
• exige mão-de-obra altamente qualificada que é difícil de manter na indústria
de defesa sem encomendas significativas, uma vez que pode ser facilmente
absorvida pelo mercado civil que pode oferecer melhores salários e
oportunidades;
• os produtos de defesa exigem requisitos técnicos e operacionais bem mais
restritivos que um produto destinado ao mercado civil, de modo que as firmas
do setor necessitam ser acompanhadas e controladas antes do
desenvolvimento do produto e após a produção, para a garantia da qualidade
do produto final.
Este capítulo irá abordar as características da Base Industrial de Defesa
(BID) no contexto Pós-Guerra Fria e a importância da tecnologia na chamada
17
Revolução em Assuntos Militares (Revolution in Military Affairs – RMA),
apresentando as formas de transferência de tecnologia.
2.1 O TÉRMINO DA GUERRA FRIA E A INDÚSTRIA DE MATERIAL DE DEFESA
2.1.1 Introdução
O fim da Guerra Fria causou mudanças significativas na Indústria de Material
de Defesa, fazendo com que os países reduzissem seus orçamentos em defesa e
modificassem o seu foco de produção, dos grandes arsenais de armas tradicionais
para os sistemas de armas inovadores caracterizados por rápido desdobramento e
alta precisão. Entre 1989 e 1996, os gastos com defesa caíram aproximadamente
um terço em termos reais.
A fim de reduzir o risco associado aos grandes programas de obtenção de
sistemas de defesa e a incerteza da encomenda pelas Forças Armadas, acordos de
compensação e alianças estratégicas, variando de consórcios a joint ventures
(empreendimentos conjuntos), foram se tornando cada vez mais comuns.
A indústria de defesa evoluiu dramaticamente como resultado disso. Vinte e
quatro das cem maiores companhias de defesa em 1990 haviam deixado a indústria
em 1998. Aquelas que permaneceram cresceram mais, através de uma série de
fusões consolidadas.
Após o 11 de setembro de 2001, o mundo mudou novamente, com os
conflitos regionais, unidos ao terrorismo internacional, como fatores dominantes no
planejamento da segurança. Os dispêndios com defesa passaram a ser ajustados
para priorizarem estruturas de força mais móveis, receptivas e flexíveis, com ênfase
crescente em logística e suporte ao ciclo de vida do material.
Pressões incessantes da opinião pública sobre a eficiência dos gastos
públicos, obrigam que novos métodos sejam utilizados para desenvolver, adquirir,
financiar e fornecer suporte a equipamentos de defesa, incluindo um esforço
determinado para fazer uso mais amplo de tecnologias mais baratas e disponíveis
no mercado, sempre que possível.
A Empresa de Consultoria PricewaterhouseCoopers(2005) analisou a
indústria de defesa, determinando os cinco elementos principais na estratégia de
negócios de qualquer fabricante de produtos de defesa. Tomados isoladamente, são
18
bastante simples. Enfocados conjuntamente, eles constituem uma mudança, radical,
sofisticada e complexa:
I – Maximizar o valor do mercado nacional;
II – Investir nos parceiros e nas capacidades corretas;
III – Desenvolver mercados internacionais – sobretudo competindo com os Estados
Unidos;
IV – Obter economias de escala e abrangentes em uma indústria que desencoraja a
integração; e
V – Alavancar a participação da indústria e de tecnologias disponíveis no mercado
(COTS – Commercial available off the shelf) dentro da cadeia de suprimento.
O sucesso no desenvolvimento de mercados de exportação para
equipamentos de defesa produzidos internamente garante economia de escala e,
desta forma, reduz os custos unitários.
A importação de produtos disponíveis no mercado é mais barata do que um
programa local de desenvolvimento, podendo ainda o custo de aquisição ser
compensado pela obtenção de pacotes de trabalho relacionados do exportador, ou
mesmo não relacionados, para a indústria doméstica. Acordos de compensação
(Offset), ou comércio recíproco, são atualmente um elemento significativo do
comércio internacional em equipamentos de defesa.
Não deve causar surpresa, portanto, o fato de a maioria dos governos apoiar
ativamente o comércio de equipamentos de defesa. Este é o papel do Programa de
Vendas Militares ao Estrangeiro (FMS – Foreign Military Sales) – e de várias
iniciativas similares – levado a cabo pelo Departamento de Defesa dos Estados
Unidos, assim como o propósito da Organização de Serviços de Exportação de
Defesa, do Ministério da Defesa do Reino Unido.
Outras nações, inclusive o Brasil, precisam priorizar as capacidades locais
que elas desejam manter, analisando o custo-benefício entre despesas e exigências
de segurança. Essas escolhas afetarão a BID. Se elas forem feitas explicitamente, a
indústria pode ajustar os planos de investimento apropriadamente.
19
2.1.2 Fusão de empresas de defesa Pós-Guerra Fria
No início dos anos 1990, três anos após a queda do muro de Berlim, o
mundo começava a parecer muito diferente. Entre 1989 e 1996, os gastos com
defesa caíram aproximadamente um terço em termos reais. A nova face do combate
tinha provocado uma mudança dos grandes arsenais de armas tradicionais para
sistemas de armas novos e inovadores, caracterizados por rápido desdobramento e
alta precisão.
A fim de adaptar-se a um novo ambiente pós-Guerra Fria, vinte e quatro das
cem maiores companhias de defesa em 1990 haviam deixado a indústria em 1998.
Aquelas que permaneceram ficaram ainda maiores através de uma série de fusões
consolidadas, provocadas por três fatores principais:
• gastos globais com defesa reduziram significativamente;
• deslocou-se a ênfase para a tecnologia;
• as obtenções em defesa na Europa tornaram-se cada vez mais colaborativos.
Muitos países perceberam que não possuíam mais individualmente a massa
crítica ou a escala requeridas para manter uma indústria de defesa doméstica
viável.
Desta forma, confrontado com uma década de gastos globais declinantes
em defesa, mudando os padrões de obtenção e os avanços tecnológicos, o número
de produtores de defesa contraiu-se dramaticamente.
Em vista da escala de seus cortes de gastos com defesa, os EUA
conduziram o processo. Uma onda de megafusões se seguiu, parcialmente
facilitadas pelo apoio financeiro da administração Clinton, que permitiu à indústria
compensar custos de consolidação e racionalização com os ganhos gerados pelos
programas de governo.
A Lockheed adquiriu a Martin Marietta, em 1995, e a Loral (que já havia
comprado gigantes como a Fairchild Weston e a Unisys Defense), em 1996. A
Raytheon adquiriu a Texas Instruments e a Hughes Aircraft, em 1997; e a Boeing
adquiriu a Rockwell Defense, em 1996, e a McDonnell Douglas, em 1998.
No total, mais de US$ 55 bilhões em fusões foram transacionados e de 40
diferentes companhias americanas aeroespaciais, engajadas na indústria
aeroespacial total ou parcialmente, foram reduzidas a cinco.
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As companhias européias tiveram que tomar algumas ações e, como nos
EUA, embora fusões e aquisições caracterizassem esforços para consolidações,
elas estavam focadas predominantemente no nível nacional. A Aerospatiale adquiriu
a Matra Hautes Technologies em 1998, a British Aerospace fundiu-se com a GEC
Marconi em 1999, a formação das Indústrias de Defesa Finlandesas (que se tornou
mais tarde a Patria Industries) combinou os mais importantes recursos aeroespaciais
e de defesa da Finlândia em 1995, e a Saab adquiriu a Celsius em 2000, criando a
maior companhia de defesa da Suécia.
A consolidação em ambos os lados do Atlântico fez o setor parecer cada vez
mais concentrado. Em 1990, as dez maiores companhias de defesa eram
responsáveis por 37% de todas as vendas de armas realizadas pelas cem maiores
firmas da indústria. Em 2003, elas foram responsáveis por 61,3%.
Como resultado, relativamente poucas transações internacionais importantes
ocorreram. A formação da Companhia Européia de Aeronáutica, Defesa e Espaço
(EADS – European Aeronautic, Defence and Space Company) a partir da francesa
Aerospatiale Matra, da alemã DaimlerChrysler Aerospace (DASA) e da espanhola
CASA, em julho de 2000, e a compra da britânica Racal Electronics pela francesa
Thomson-CSF (atualmente Thales), cinco meses mais tarde, foram os dois grandes
negócios europeus, até que a Finmeccanica se tornasse ativa no Reino Unido, em
2004.
Enquanto isso, a BAE Systems assumiu o controle de um importante
negócio aeroespacial e de defesa norte-americano, quando se fundiu à Marconi
Electronic Systems da GEC, em 1999.
Claramente, é vital que companhias selecionem a forma correta da estrutura
da aliança, a fim de atender às circunstâncias, e esta aliança por si mesma pode ser
foco de intensa negociação, dado que pode indicar um comprometimento de curto
ou longo prazo com o parceiro e seu país de origem.
As escolhas feitas levando em conta outros fatores, igualmente importantes,
influenciarão o sucesso ou o fracasso das iniciativas de desenvolvimento de
negócios com o exterior. Três questões aparecem como de particular relevância:
• transferir e explorar tecnologia;
• desenvolver e manter um modelo de governança corporativa aceitável;
• identificar, monitorar e gerenciar obrigações contingenciais.
21
Essas disposições ou acordos usualmente incluem um acordo de comércio
recíproco, ou offset (compensação), pelo qual o dispêndio comprometido com a
compra de armas é compensado por uma obrigação aceita pelo exportador de
investir na economia do comprador.
Offsets têm sido proibidos pela União Européia e EUA em todos os setores
industriais, exceto no setor de defesa. Da mesma forma que se tornam cada vez
mais um lugar comum em negócios militares, acordos de offset estão se tornando
cada vez maiores. O negócio assinado pelo governo da África do Sul em 1999 é
provavelmente o maior de todos até agora. Ele cobre uma faixa de equipamentos
militares, incluindo os jatos de treinamento Hawk, helicópteros navais Super Lynx e o
caça de combate Gripen. Incluindo um sistema de defesa aérea, submarinos, navios,
tanques e veículos blindados, fornecidos pela Alemanha e também pela Itália, o
pacote total foi avaliado pelo Financial Times e pela Jane’s Defence Weekly em
aproximadamente US$ 5,2 bilhões. Ele incluiu uma obrigação de offset, ou
Participação Industrial, que se diz ter valido SAR$ 70 bilhões (SAR – South Africa
Rand).
Se a indústria local possuir as habilidades ou capacidades certas, os offsets
podem de fato criar valor – empregos (o programa sul-africano vislumbrou a criação
de 65.000), habilidades, transferência de tecnologia, comércio e investimento
interno. Alguns comentaristas acreditam que foi o uso habilidoso de offsets junto aos
EUA, relacionados à defesa, que conduziu o desenvolvimento tecnológico do Japão
após a Segunda Guerra Mundial. Esse uso foi dirigido por uma abordagem política
conhecida como kokusanka, compreendendo três princípios:
• Suprimento doméstico deve ser a prioridade;
• Se o suprimento doméstico não é possível, as licenças devem ser obtidas
usando manufatura e equipamentos domésticos;
• Equipamentos devem ter uma aplicação mais ampla do que apenas
específica para o projeto para o qual foram comprados.
No mundo globalizado, em que a interdependência tende a se ampliar, será
cada vez mais difícil manter o controle estrito sobre tecnologias, que estarão cada
vez mais distribuídas pelos países. A título de exemplo, o tanque Abrams, usado
pelo Exército dos EUA, utiliza um canhão alemão e uma blindagem britânica. Aviões
produzidos pela Embraer possuem um percentual de nacionalização relativamente
baixo, demandando a importações de componentes que têm produção distribuída
22
por diversos países. Trata-se, pois, de uma tendência na qual ganha força o apelo
econômico-comercial dos projetos estratégicos, afinal, a base industrial de defesa de
um país é responsável por uma massa substancial de bons empregos. (LONGO e
MOREIRA, 2009)
Isso explica, em boa medida, a acirrada disputa em mercados de venda de
armas. Nesse contexto, um exemplo emblemático e o acordo França-Brasil,
assinado por ocasião das visitas do Presidente Nicolas Sarkozy ao Brasil em
dezembro de 2008 e setembro de 2009. O acordo de cooperação com o Brasil na
área militar envolve contratos da ordem de bilhões de euros abrindo a perspectiva de
transferência de tecnologia de ponta para o país se capacitar a projetar e construir
submarinos convencionais e, numa segunda fase, com propulsão nuclear. A
contenda entre fabricantes da França, EUA e Suécia para a venda de aviões de
caça à Força Aérea Brasileira também poderia servir de exemplo.
2.2 A IMPORTÂNCIA DA TECNOLOGIA NA REVOLUÇÃO EM ASSUNTOS
MILITARES
Um assunto de grande interesse relacionado com o desenvolvimento e
emprego de tecnologias militares é o que tem sido denominado de Revolução nos
Assuntos Militares – RAM (do inglês Revolution in Military Affairs – RMA).
Em 1994, um professor do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade
John Hopkins, Andrew Krepinevitch, enunciou um critério que considera as
inovações tecnológicas como imprescindíveis para a ocorrência das RAM, definindo-
as da seguinte maneira:
Uma RAM ocorre quando a aplicação de novas tecnologias num número significativo de sistemas é combinada com conceitos operacionais inovadores e adaptações organizacionais, de modo a alterar o caráter e a condução do conflito, produzindo um grande aumento do potencial de combate e da eficiência militar.(KREPINEVITCH, 1994)
Exemplo de RAM foi o desenvolvimento pela Alemanha da “blitzkrieg” antes
da Segunda Grande Guerra.
Com o fim da Guerra Fria, as verbas militares começaram a escassear e a
“transformação da força” teve também finalidade econômica - obter uma nova e
23
sustentável estrutura de forças que pudesse ser mantida no futuro (“mais
capacidade por menos dinheiro”), tirando vantagem da RAM.
As modificações organizacionais não tardaram, e algumas delas, mais
baratas e geradoras de economia, foram bastante copiadas por outros países, como
a ênfase às operações combinadas, a preferência aos pequenos efetivos de tropas
profissionais sobre a conscrição, a constituição de “Forças de Ação Rápida” e de
grupamentos de forças especiais dotadas de equipamentos (principalmente de
comunicações) de alta tecnologia.
Com o Presidente G.W.Bush e, principalmente, após os atentados de
11/09/2001, a situação mudou. Os recursos financeiros deixaram de ser problema
para as forças armadas americanas, e a RAM, apesar dos protestos dos céticos, foi
empregada nas invasões do Afeganistão em 2001 e do Iraque, em 2003. Nesses
conflitos, apesar do êxito inicial esperado – tinha-se a superpotência, pós-moderna,
contra um país pré-moderno e um outro moderno e debilitado - confirmou-se
posteriormente a previsão de Lawrence Freedman, segundo a qual a RAM seria
muito pouco útil para enfrentar as guerras assimétricas, entre Estados fortes e
Estados quebrados, em que a violência é descentralizada privatizada e selvagem.
Os Estados Unidos sozinhos ainda mantêm uma presença preponderante
em todos os segmentos terrestres, marítimos e aéreos da indústria de defesa, junto
com um investimento significativo no estado da arte das capacidades dos sistemas
(isso é freqüentemente referenciado como a Revolução em Assuntos Militares, ou
simplesmente RMA – Revolution in Military Affairs), que vincula entre si todas as
capacidades nestes domínios.
A RMA define novas dimensões em que a guerra é conduzida. A primeira
delas foi a superfície da terra (guerra terrestre) e a segunda foi a superfície das
águas (guerra naval). No século XX, várias novas dimensões foram acrescentadas:
as águas abaixo da superfície (guerra submarina), o ar (guerra aérea), os territórios
e a infraestrutura dos beligerantes (guerra estratégica e intercontinental), o espaço
extraterrestre (guerra espacial), os espectros eletromagnético e acústico (Guerra
Eletrônica e Guerra Acústica), o ciberespaço (guerra de Hackers), as mentes dos
combatentes (Guerra Psicológica), as mentes das populações (Guerra de
Propaganda), e outras mais, segundo alguns teóricos.
24
Segundo STEPHENSON (2010), a Revolução em Assuntos Militares serviu
para justificar o dispêndio de grandes quantias de recursos em novos sistemas de
armas, a partir de meados dos anos 90:
Como brado de convocação para transformar as forças militares, o conceito de Revolução em Assuntos Militares (RAM) cumpriu seu papel.
De meados dos anos 90 ao início do século XXI, o Pentágono utilizou-o para justificar a reformulação da doutrina, a reforma das estruturas organizacionais e o dispêndio de grandes quantias em novos sistemas de armas. Embora o conceito de RAM deva sua origem, em grande parte, aos historiadores (a revolução militar do século XVII) e aos teóricos soviéticos (a revolução tecnológico-militar), a liderança civil e militar das forças militares dos EUA constatou que a idéia encontrava grande receptividade entre os políticos, especialistas e acadêmicos. Por algum tempo, não se podia abrir uma publicação militar como a Joint Force Quarterly, a Parameters, ou a Proceedings sem encontrar um artigo analítico sobre o papel que a então atual RAM exercia na modelagem da guerra futura. (STEPHESON, 2010)
A RAM foi impulsionada pelas tecnologias da informação e comunicação
(TIC), cujos benefícios não são originadas por tecnologias especificamente militares,
mas pela combinação de capacidade de “surveillance”, comando, controle,
computação e informação (inteligência) (C3I), somada a forças dotadas de armas
precisas, integradas num verdadeiro “sistema de sistemas”. Redes de sensores
sofisticados, sistemas de radares, imageamento por satélites, veículos aéreos não
tripulados e aviões “invisíveis” tornaram possível construir uma completa e precisa
“fotografia virtual” do campo de batalha (terra, mar e ar) e atacar e destruir uma força
inimiga com pouca exposição dos seus meios a riscos.
A RAM para funcionar pressupõe que Marinha, Exército e Força Aérea rompam as fronteiras operacionais entre as mesmas e atuem absolutamente integradas uma vez que o “sistema de sistemas” exige que todos os seus componentes interajam, permanente e instantaneamente, entre si.
Assim, internamente às forças armadas, as conseqüências da atual revolução vão desde a necessidade de alteração das suas estruturas e funcionamento, passando pela maior capacitação intelectual exigida de todos os combatentes e atingindo até os seus orçamentos para pesquisa, desenvolvimento experimental e engenharia. (LONGO, 2007, p. 7)
STEPHENSON(2010) considera que a RAM é hoje uma idéia fora de moda,
pela dolorosa experiência vivida pelos americanos no Iraque. O brado de
convocação, que foi usado para justificar os altos gastos em material de defesa de
alta tecnologia empregado pelas Forças Armadas americanas no Iraque, hoje está
morto.
25
Seria difícil determinar com precisão o exato momento e local da morte da
RAM. A sinergia empolgante das Forças Especiais e bombardeiros B-52 ao
atacarem o Talibã em 2001 pareceu fazê-la voltar à moda. Contudo, com o início de
uma insurgência plenamente desenvolvida no Iraque, no final de 2003, o uso da
“RAM” como um mantra do Pentágono teve um fim súbito.
2.3 TECNOLOGIAS SENSÍVEIS E FORMAS DE OBTENÇÃO
A tecnologia sensível é definida como aquela que um determinado país (ou
grupo de países) considera que não deva dar acesso, durante certo tempo,
hipoteticamente por razões de segurança. Essas tecnologias dão origem a produtos
de uso dual e/ou sensíveis. (LONGO e MOREIRA, 2009)
As tecnologias centrais no atual paradigma de produção, o complexo que René Dreifuss (1997) denominou de “teleinfocomputrônico”, compreendem: microeletrônica, eletrônica digital, informática, telecomunicações, automação e robótica, às quais se devem acrescentar a biotecnologia e, mais recentemente, a nanotecnologia. Todos esses conhecimentos não têm sido difundidos ou dominados pelos países em desenvolvimento na amplitude e profundidade desejáveis. Na realidade, em matéria de tecnologias que consideram sensíveis, os países detentores não estão dispostos a transferir nem as instruções e técnicas de produção (“know how”) e muito menos os conhecimentos que permitiram gerá-las (“know why”). (LONGO e MOREIRA, 2009, p. 8)
2.3.1 Transferência de tecnologia
A tecnologia é um fator de produção, ao lado do capital, trabalho e matérias-
primas, e comporta-se, também, como mercadoria, pois tem valor próprio no
mercado. Consequentemente, está sujeita a transações legais e ilegais, como
compra, venda, sonegação, cópia, falsificação, roubo e contrabando (LONGO,
1987).
A compra da tecnologia, quando isto é possível, apresenta algumas
vantagens no curto prazo como a reduzida espera para a sua utilização, além de
diminuir o risco tecnológico (tecnologia já testada e em uso). No entanto, apresenta
inúmeras desvantagens como o que, normalmente se recebe, não é a tecnologia de
ponta, continua o país comprador a ser dependente de seu fornecedor aumentando
mais o seu gap tecnológico.
A compra de tecnologia de forma direta ou associada à compra de produto
com cláusula de contrapartida (offset) , nem sempre traz resultados satisfatórios
para aquele que compra. Contudo na maioria dos contratos, esta transferência de
tecnologia não passa de simples “venda ou aluguel de instruções”. Segundo
26
LONGO (2009), em matéria de tecnologias que consideram sensíveis, os países
detentores não estão dispostos a transferir nem as instruções e técnicas (“know
how”) e muito menos os conhecimentos que permitiram gerá-las (“know why”).
2.3.2 Obtenção de tecnologia própria
A criação de “programas nacionais mobilizadores” pode ser uma alternativa
viável para fazer frente ao cerceamento tecnológico em áreas estratégicas. Nesses
casos, eles podem ser projetados e executados para gerar capacitações próprias e
eliminar vulnerabilidades existentes. (LONGO, 2009)
Na ótica governamental, mobilizar significa ”arregimentar para uma ação política”, visando “mover” todos os meios necessários para atingir os objetivos dessa ação. Tratando-se de programas governamentais, são “mobilizadores” aqueles que têm a capacidade de arregimentar, aglutinar, organizar e pôr em movimento o potencial disponível numa ação política, visando o desenvolvimento social, econômico e/ou militar do país. (LONGO & MOREIRA, 2009, p. 85)
Como exemplos de programas mobilizadores de sucesso no Brasil,
podemos citar a consolidação da indústria aeronáutica, a exploração de petróleo em
águas profundas e o programa nuclear brasileiro.
Outra forma de aquisição de tecnologia é por meio da engenharia reversa e
cópia. A engenharia reversa parte do final (produto, sistema de produção ou serviço
pronto) buscando compreender as etapas intermediárias, inferir as especificações e
parâmetros que originaram o resultado final, com o intuito de poder reproduzi-lo.
A cópia visa simplesmente reproduzir o produto, processo ou serviço, sem
necessariamente preocupar-se em tentar deduzir os parâmetros dos projetos e as
especificações originais dos mesmos.
A importação de cérebros tem sido utilizada para acelerar a obtenção de
conhecimentos, diminuindo o gap tecnológico. Um exemplo bem representativo foi o
programa espacial norte-americano cuja figura central foi o engenheiro alemão
Werner Von Braun, que desenvolveu na Alemanha a bomba V.
Outra forma de aquisição de tecnologia são a espionagem tecnológica e
industrial.
27
2.4 CONCLUSÃO PARCIAL
Neste capítulo, caracterizou-se a Indústria de Material de Defesa após o fim
da Guerra Fria. Entre 1989 e 1996, com a queda dos gastos com a defesa e a
incerteza da encomenda pelas Forças Armadas, e ainda visando reduzir o risco
associado aos grandes programas de obtenção de sistemas de defesa, o mundo
vivenciou a fusão das empresas de Defesa.
Na fusão de empresas de defesa, três questões aparecem como de
particular relevância:
• transferir e explorar a tecnologia;
• desenvolver e manter um modelo de governança corporativa aceitável;
• identificar, monitorar e gerenciar obrigações contingenciais.
Essas disposições ou acordos usualmente incluem um acordo de comércio
recíproco, ou offset (compensação), pelo qual o dispêndio comprometido com a
compra de armas é compensado por uma obrigação aceita pelo exportador de
investir na economia do comprador.
Finalmente são apresentados o conceito de tecnologia sensível e as formas
de sua obtenção. Das formas de aquisição da tecnologia cabe ressaltar a criação de
programas mobilizadores, a engenharia reversa e a importação de cérebros.
28
3 DESENVOLVIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NA C HINA
3.1 INTRODUÇÃO
Este capítulo irá abordar o desenvolvimento tecnológico da base industrial
chinesa, sobretudo no que concerne à indústria de mísseis.
O programa de reforma e modernização das forças armadas chinesas
começou no início dos anos 1980 e acelerou na segunda metade dos anos 1990. O
desenvolvimento da Base Industrial de Defesa, em termos de orientação estratégica
e doutrina militar chinesa, assenta-se nas seguintes premissas (TOMÉ, 2009):
• dissuasão nuclear - priorizou-se o aumento da quantidade e melhoria da
qualidade dos seus mísseis estratégicos e das armas nucleares, visando a
dissuasão e a capacidade de retaliação. Daí o desenvolvimento de mísseis
com maior alcance e mais precisos, além de sistemas de mobilidade e de
camuflagem.
• maior interação entre as indústrias militares e as civis.
• postura estratégica militar de defesa ativa – esta sugere que a China não
iniciará uma agressão e não se envolverá em guerras a não ser para defender
a soberania nacional e a integridade do seu território e população, se for
agredida. Assumindo a importância dos fatores tecnológicos na guerra
moderna, a China vem enfatizando e desenvolvendo programas e sistemas
militares assimétricos para tirar partido das suas vantagens e explorar
vulnerabilidades de opositores potenciais.
• Outra vertente essencial da defesa ativa subdivide-se em estratégias de anti-
acesso ou negação e em estratégias de prevenção da intervenção militar
estrangeira visando impedir o acesso externo ao eventual teatro de
operações, em particular ao longo da costa chinesa e a proteção de linhas de
comunicação vitais, sobretudo no Estreito de Málaca (por onde passa 80% do
petróleo importado pela China) e nos Mares da China.
• guerras locais em condições de informatização - a orientação estratégica
militar chinesa constante do seu Livro Branco sobre a Defesa, de Dezembro
de 2004, caracteriza as guerras locais em condições de informatização,
devendo as suas Forças Armadas estarem preparadas para combater e
vencer. A China afirma que o hiato tecnológico resultante da Revolução nos
Assuntos Militares tem um grande impacto na sua segurança.
29
O acesso a equipamento militar estrangeiro, acompanhado das evoluções
geradas pela própria indústria militar chinesa e o desenvolvimento das capacidades
provenientes da indústria civil tem permitido melhorar significativamente as
capacidades militares das Forças Armadas, notadamente em matéria de poder
aéreo, poder naval, mísseis balísticos e sistemas de vigilância, comando e controle.
3.2 CAUSAS DO FRACO DESEMPENHO ATÉ 1990
As razões para a lentidão dos progressos tecnológicos da Indústria de
Defesa da China nos anos 1980 e 1990 são semelhantes aos do resto das indústrias
do seu setor estatal.
Talvez a razão mais fundamental fosse a falta de incentivos à eficiência e à
inovação. Por exemplo, na China os fabricantes de defesa eram pagos pelo custo do
equipamento por eles produzidos mais cinco por cento. Esta forma de reembolso
pouco incentivava os fabricantes para cortar custos.
As decisões sobre qual empresa produziria um item em particular era feita
por decreto administrativo e negociação ministerial, ao invés de licitações entre os
fabricantes. Como resultado, os fabricantes de equipamentos militares tinham pouco
interesse na melhoria da qualidade do sistema de armas que eles produziriam ou
com a eficiência com que o produto fosse projetado, fabricado, ou entregue, uma
vez que, na escolha do fabricante, não se focou na qualificação da empresa.
A organização industrial da China, de inspiração soviética, caracterizava-se
pela falta de incentivos financeiros para a inovação. As atividades de pesquisa e
desenvolvimento eram realizadas por institutos que, organizacionalmente, ficavam
separados dos fabricantes.
Os institutos eram financiados pelo orçamento anual do governo central e
recebiam informações mínimas das empresas de produção. Como resultado da
separação, o desenvolvimento de projetos tecnológicos eram dissociados das
condicionantes de produção, pois não havia a comunicação entre o projetista e a
empresa responsável pela produção.
Outra desvantagem do modelo soviético é a sua organização verticalizada.
Como prioridades para o desenvolvimento de tecnologia eram determinados pelas
30
autoridades centrais, as oportunidades que surgiriam na P&D do processo e que não
se enquadrassem nas direções predeterminadas, eram negligenciadas.
A estrutura hierárquica organizacional desencorajava os fluxos horizontais
de conhecimento que são fundamentais para o progresso tecnológico. Este
problema de fluxo de conhecimento, sem dúvida, foi exacerbado pelo extremo
secretismo associado à produção da defesa.
Outros problemas da indústria de defesa incluem a capacidade de produção
excessiva e ociosa, pessoal redundante, rigidez na contratação e demissão,
perda de pessoal qualificado para o setor não-estatal, levantamento incorrecto de
preços de insumos, práticas de má gestão, e a distribuição geográfica ineficiente da
indústria, resultado de uma política de deslocalização das empresas de defesa para
áreas remotas do interior, nos anos de 1960 a 1970, onde as empresas de defesa
estariam à retaguarda, numa "terceira linha" de defesa, protegidas de uma invasão
externa.
3.3 REFORMAS DO GOVERNO CENTRAL
Ao nível das operações do governo central, os líderes chineses aprovaram
duas grandes reformas, mudando significantemente o processo de aquisição de
armas, tornando-o mais responsável perante as necessidades das Forças Armadas.
A primeira reforma foi extinguir a Comissão Militar de Ciência, Tecnologia e
Indústria para a Defesa Nacional (Military-Controlled Commission on Science
Technology and Industry for National Defense - COSTIND) que foi substituído por
um órgão estritamente civil sob o controle do Conselho de Estado, mas com o
mesmo nome.
Em segundo lugar, o governo criou uma nova agência militar de gerência
conhecida como Departamento Geral de Armamento (General Armaments
Department - GAD), que assumiu as responsabilidades de contratos militares e da
gestão do ciclo de vida dos sistemas de armas.
Além de civis no COSTIND e da criação do GAD, que centralizou o sistema
de compras militares, as reformas de 1998 separaram os construtores (fabricantes)
dos compradores (militares). Esta separação mais racional, permitiu que o sistema
de compras ficasse mais isento dos conflitos de interesses e da corrupção.
31
O GAD representava os interesses das Forças Armadas, enquanto o
COSTIND, como agência civil, é quem deveria lidar com o planejamento industrial
e com os assuntos administrativos das empresas de defesa.
Para alterar o processo de aquisição de armas, o governo central adotou
políticas que incluem a emissão de contratos formais e procedimentos
regulamentares para padronizar e unificar os contratos. As novas normas também
aceleraram o estabelecimento de um sistema de licitação para os contratos
militares.
3.4 REFORMAS NAS EMPRESAS
As autoridades econômicas chinesas adotaram várias políticas para tornar
as operações das empresas de defesa mais eficientes, aumentando a P&D e a
capacidade de produção.
Seus objetivos principais foram: separar a administração do governo das
unidades operacionais das empresas; tornar as empresas de defesa mais sensíveis
às forças do mercado, expondo-as às pressões da concorrência; impor maiores
restrições orçamentárias, introduzir novos mecanismos de garantia e de controle de
qualidade; tornar as empresas menos dependente de subsídios do Estado.
Foram implementadas uma série de iniciativas específicas para revitalizar as
empresas de defesa. Estas incluíram o downsizing (técnica da Administração
contemporânea, que tem por objetivo a eliminação da burocracia corporativa
desnecessária, pois é focada no centro da pirâmide hierárquica, isto é, na área de
recursos humanos) e a racionalização em certos setores; uma ênfase muito maior no
controle de qualidade; modernização de alguns complexos de produção e
instalações afins; a ampliação de parcerias com universidades civis e institutos de
pesquisa para melhorar a formação educacional relevante para militares P&D; a
promoção de P&D e de cooperação entre as empresas de defesa localizadas em
várias províncias; bem como a reforma do sistema de escritórios de representação
militar nas fábricas de defesa.
32
3.5 A INDÚSTRIA DE MÍSSEIS
O desenvolvimento da indústria de mísseis é um exemplo de como a China
superou o gap tecnológico para que sua indústria de defesa se capacitasse a
produzir sistemas de armas de alta tecnologia.
Quatro variáveis têm uma relação direta com o desenvolvimento dessa
indústria e da sua capacidade de produção (MEDEIROS et al., 2005):
• recursos humanos e financeiros;
• acesso à tecnologia avançada;
• incentivos à inovação e eficiência;
• o ambiente institucional.
O programa espacial, a cooperação em expansão com empresas
estrangeiras aeroespaciais e as transferências diretas de tecnologia de mísseis de
países estrangeiros foram fontes potenciais de acesso à tecnologia avançada.
Ao contrário de outros setores da indústria de defesa da China, a
concorrência significativa dentro deste setor gera pressões positivas para uma
produção mais eficiente e P&D mais inovadoras.
Ao examinar estas quatro variáveis, esta seção avalia o potencial
tecnológico da indústria chinesa de mísseis, apresentando as possibilidades futuras
da P&D e da sua capacidade de produção.
3.5.1 Recursos Humanos e Financeiros
Em termos de números absolutos, o setor de mísseis da China é
relativamente bem dotado de recursos humanos. As Agências do governo, China
Aerospace Science and Technology Corporation (CASC) e China Aerospace
Science and Industry Corporation (CASIC), têm juntas mais de 200.000 funcionários,
sendo que desses cerca de 80.000 são técnicos.
Além disso, um número significativo de funcionários dentro da China
Aviation Industries Corporation I e II (AVIC I, AVIC II) e China North Industries
Group Corporation(CNGC) também estão envolvidos no desenvolvimento e
produção de mísseis. Esse efetivo é comparado à soma dos dois maiores
produtores de mísseis dos Estados Unidos, a Lockheed Martin e a Raytheon, que
33
empregam juntos cerca de 200.000 pessoas, sendo cerca de 60 mil cientistas e
engenheiros.
Não se pode afirmar, no entanto, se a qualidade técnica dos chineses são
comparáveis aos cientistas e engenheiros empregados pela empresas americanas.
Além disso, a qualidade do ensino de formação educacional na China, embora tenha
melhorado, ainda está aquém do que ocorre no Ocidente, e muitos cientistas e
engenheiros chineses que viajam ao exterior para cursos de pós-graduação tendem
a permanecer no exterior ou serem empregados em indústrias chinesas voltadas
para a exportação.
Segundo MEDEIROS et al.(2005), os recursos financeiros disponíveis para o
setor são de difícil mensuração. Estatísticas chinesas indicam que estão
aumentando rapidamente.
A receita total da CASIC, em 1999, era de US$ 1,0 bilhão. Em 2002, CASIC
foi contemplada com um orçamento de 2,74 bilhões dólares, um aumento de 170 por
cento em apenas três anos. Estes valores estão bem aquém comparados aos
valores do faturamento dos fabricantes de mísseis dos EUA em 2002, que foi de
16,8 bilhões dólares.
3.5.2 Acesso à tecnologia estrangeira
A Indústria chinesa de mísseis se aproveitou muito bem durante muito tempo
da assistência técnica estrangeira dentro do seu programa de aquisição de mísseis
tendo acesso aos sistemas de mísseis e equipamentos relacionados e aos materiais
e tecnologias de outros países.
Durante os anos 1950 e 1960, os mísseis chineses eram projetos da União
Soviética. Na década de 1980, a China começou a projetar seus próprios sistemas,
que incorporavam quantidades substanciais de tecnologia de mísseis franceses e
israelenses.
A transferência de tecnologia de mísseis francesa terminou após a
imposição da União Européia de uma proibição da venda de sistemas militares
letais, após o incidente de Tiananmen em 1989 (também conhecido como o
Massacre da Praça da Paz Celestial).
A partir de 1990, a Rússia ressurgiu como um dos principais fornecedores de
mísseis, bens e tecnologias relacionadas, e assistência técnica. Forneceu sistemas
34
de mísseis completos e auxiliou no desenvolvimento e na produção doméstica de
mísseis ar-ar, superfície-ar, sistemas de mísseis de cruzeiro e antiradar.
Alguns limitantes da transferência de tecnologia estrangeira estão listadas
abaixo:
• Em primeiro lugar, a absorção de tecnologia estrangeira não é um processo trivial
ocorrendo inevitavelmente uma defasagem entre o momento em que se adquire uma
tecnologia e o estado da arte, ficando o produto desatualizado quando se consegue
produzi-lo.
• Segundo, os países e as empresas não transferem suas tecnologias mais
avançadas .
• Em terceiro lugar, os Estados Unidos pressionam os outros países ocidentais para
limitar o seu comércio militar com a China.
3.5.3 Incentivos
Há um número crescente de incentivos para a inovação na
indústria de mísseis chinesa. Eles emanam da rápida expansão da
demanda do governo chinês por mísseis, da competição doméstica com os outros
fabricantes de bens civis e de produtos de defesa, e da exposição e interação com
outros mercados de produtos e serviços do comércio aeroespacial e dos fabricantes
de mísseis.
O mercado dos mísseis chineses é interno (compras do governo) e expandiu
rapidamente nos últimos anos. As importações estão concentradas, principalmente,
nas áreas em que a tecnologia do produto importado é, claramente, uma geração à
frente da concorrência chinesa, representando novos desafios para as empresas
chinesas que terão suas encomendas reduzidas em favor dos sistemas importados
até que tenham atingido o padrão do produto importado. As importações de
sistemas russos foram fonte crítica de tecnologia para os projetos de engenharia
reversa para o futuro de sistemas de mísseis chineses).
A grande prioridade e visibilidade conferida ao programa espacial tripulado
forneceu fortes incentivos para a inovação e melhoria de qualidade no
desenvolvimento de veículos lançadores espaciais e tecnologias relacionadas.
Muitos dos avanços tecnológicos resultantes deste programa tiveram aplicabilidade
para os programas de mísseis.
35
Além da concorrência na produção de grandes sistemas,
existe o incentivo à concorrência no fornecimento de componentes militares e
serviços. Essa participação para estas empresas civis (não ligadas diretamente à
Base Industrial de Defesa) sugere a possibilidade
da concorrência entre elas e as empresas que se dedicam exclusivamente
à produção militar no fornecimento de componentes e serviços para
os militares. Assim, além de competição no contrato do sistema principal, parece
haver concorrência a nível de subcontratante.
A infraestrutura do setor de mísseis é um ponto forte dessa indústria. As
instituições ligadas à P&D de mísseis e da área aeroespacial ( China Aerospace
Science and Technology corporation – CASC e China Aerospace Science and
Industry - CASIC), possuem grande integração entre os institutos de pesquisa e as
empresas de produção.
O quadro institucional facilita a comunicação e fornece um mecanismo para
assegurar que os projetos sejam consistentes com as capacidades reais de
produção e a agilidade de converter o desejo de incremento nas ordens de produção
em projetos oportunos e eficazes.
A infraestrutura das instituições da área aeroespacial, CASC e CASIC,
possibilitam o desenvolvimento da tecnologia cujas empresas de serviços são
financeiramente auto-sustentáveis e, portanto, têm um incentivo para comercializar
os seus serviços de forma agressiva para outras setores.
A existência destas organizações especializadas aumenta o nível de
conhecimento técnico e facilita o fluxo de conhecimento dentro da indústria. Esta
prática contrasta com as tradicionais empresas estatais de defesa da China, na qual
cada uma simplesmente desenvolvia seus serviços e capacidades para suas
necessidades, contribuindo para ocasionar capacidades redundantes e inibir o fluxo
de conhecimento entre empresas.
3.6 CONCLUSÃO PARCIAL
O recente progresso da indústria de defesa na China pode ser explicado por
considerações abaixo que se reforçam mutuamente:
• investimentos maciços do governo que de 1990 a 2003, o orçamento oficial
da defesa cresceu de US$ 595 milhões/ano para US$ 7.700 milhões/ano.
36
• a reforma na economia chinesa, a partir de 1998, o desenvolvimento gradual
e comercial de algumas empresas de defesa selecionadas, que através de
suas operações comerciais, robustas e racionais, permitiram que a indústria
de defesa melhorasse a sua qualidade, fomentadas tanto através de parcerias
como pela concorrência com empresas estrangeiras.
• a indústria de defesa nos últimos dez anos teve consistente acesso a uma
quantidade de equipamentos militares e assistência técnica estrangeiros,
especialmente da Rússia e Israel.
• a execução de reformas fundamentais, como a racionalização e a
consolidação da indústria de defesa. os líderes chineses injetaram na Base
Industrial de Defesa os princípios conhecidos como os “quatro mecanismos”:
competição, avaliação, fiscalização e incentivo.
• Capacitação maciça de mão-de-obra. A indústria de mísseis conta com cerca
de 280.000 pessoas.
• Existência de programas mobilizadores: produção de mísseis, poder aéreo,
poder naval, sistemas de vigilância.
37
4 A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL
Este capítulo irá analisar a situação da nossa indústria de material de
defesa, abordando a legislação em vigor e a visão da Associação Brasileira das
Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (ABIMDE).
Logo após, serão verificados alguns aspectos legais para a contratação e
financiamento da Pesquisa e Desenvolvimento no País.
4.1 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DA BID
O desenvolvimento da Indústria de Material de Defesa no Brasil esteve
sempre ligada a episódios marcantes que colocavam em risco a soberania nacional,
exigindo do país mais capacidade de meios para prover a sua segurança.
A primeira dessas necessidades ocorreu no período colonial, quando
Portugal buscando combater a pirataria e a cobiça de algumas nações pelas
riquezas minerais e vegetais do país, iniciou no Brasil a indústria de construção
naval voltada para alcançar um Poder Naval capaz de defesa da Colônia.
Em 1808, a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil incentivou a
criação de fábricas e arsenais e a ampliação da capacidade de reparo e construção
naval do país, fortalecendo o poder militar de Portugal que há época havia sido
seriamente afetado com a invasão francesa ao seu território.
A Guerra do Paraguai proporcionou o desenvolvimento da base industrial,
logística, científica e tecnológica, possibilitando que toda a munição e os artefatos
bélicos usados pelas Forças Brasileiras fossem produzidos no Brasil. Após a guerra,
não foi possível dar continuidade à evolução da indústria de defesa, por falta de
investimentos e de uma base industrial mais ampla.
A indústria de defesa sobreviveu com o ciclo de construção de fábricas
militares, a partir de 1889 (Realengo, Piquete, Andaraí, Curitiba, Itajubá, Juiz de
Fora, Bonsucesso, Caju).
Com o passar dos anos, as dificuldades econômicas não diminuiram, sendo
que somente após 1930, a industrialização do País foi retomada. A 2ª Guerra
Mundial incentivou a indústria de material de defesa durante o período em que o
conflito perdurou.
38
Após a 2ª Guerra, a indústria de material de defesa, sofreu uma longa
estagnação até o início dos anos 80 quando, beneficiada pela base tecnológica e
industrial implantada nos anos 70 e fomentada pelos governos militares, a nossa
indústria de material de defesa alcançou expressivos resultados produzindo
equipamentos de defesa de elevada tecnologia como viaturas blindadas, sistemas
de armas lançadores de foguetes, navios de guerra, entre outros.
O término da Guerra Fria no início dos anos 90, que representava a maior
justificava para o comércio de armamento das nações, levou ao declínio da indústria
de defesa em todo o mundo.
No Brasil, além do fim da Guerra Fria, o término dos governos militares
somados à falta de sensibilidade e de conhecimento por parte dos novos
governantes que passaram a comandar o país, levou ao declínio da nossa então
próspera indústria de material de defesa.
Vivenciamos hoje uma nova perspectiva de retomada da nossa indústria de
defesa, incentivada pela nova Estratégia Nacional de Defesa e pela Política de
Defesa Nacional. Estes instrumentos de governo foram motivados pelo crescimento
da importância mundial do Brasil sobretudo nas expressões econômica, militar e
política do poder nacional, e destacam para a sociedade brasileira a necessidade de
Forças Armadas preparadas e bem equipadas para prover a defesa dos interesses
nacionais e a segurança nacional.
4.2 BASE LEGAL RELACIONADA À INDUSTRIA DE MATERIAL DE DEFESA
Para a abordagem inicial deste trabalho, será apresentada a base legal,
composta de: Política e as Diretrizes de Compensação Comercial, Industrial e
Tecnológica do MD; Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e de
Fomento Industrial das Forças Armadas (CCEMEFA); Comissão Militar da Indústria
de Defesa (CMID), a Política de Defesa Nacional (PDN), a Política Nacional para a
Indústria de Defesa (PNID), a Estratégia Nacional de Defesa (END).
A primeira iniciativa de integração das organizações civis e militares da Base
Industrial de Defesa ocorreu com a aprovação da Portaria Normativa No 764/MD, de
27 de dezembro de 2002, a qual estabeleceu a Política e as Diretrizes de
Compensação Comercial, Industrial e Tecnológica do MD, com os seguintes
objetivos:
39
I – promoção do crescimento dos níveis tecnológico e qualitativo das
indústrias de defesa, com a modernização dos métodos e processos de
produção e aquisição de novas tecnologias, visando ao estado da arte;
II – fomento e fortalecimento dos setores do Ministério da Defesa, criando
condições para o aperfeiçoamento das indústrias de defesa e de sua base
tecnológica, visando a aumentar suas cargas de trabalho e também a
permitir a competitividade no mercado internacional;
III – ampliação do mercado de trabalho, mediante a criação de novas
oportunidades de emprego de alto nível tecnológico, através da
especialização e do aperfeiçoamento dos recursos humanos dos setores de
interesse;
IV – obtenção de recursos externos, de toda ordem, diretos e indiretos, para
elevar a capacitação industrial e tecnológica dos setores de interesse da
área de defesa; e
V – incremento da nacionalização e a progressiva independência do
mercado externo, no que diz respeito a produtos de defesa.
Para o cumprimento dos objetivos acima adotou-se as estratégias abaixo:
I – utilizar o poder de compra e o poder concedente das Forças Armadas
para a negociação de práticas compensatórias, baseadas nas significativas
importações do setor de produtos de defesa;
II – interagir com outras organizações governamentais, buscando apoio para
o fomento à Indústria de Defesa Brasileira;
III – estabelecer os setores prioritários para o recebimento dos benefícios
decorrentes das práticas compensatórias;
IV – utilizar os mecanismos de coordenação e articulação que viabilizem o
planejamento consensual das compensações entre as Organizações
Militares, as empresas e as entidades representativas do parque industrial
de produtos de defesa, com especial atenção para as questões de natureza
tecnológica;
V – atuar, em consonância com a Comissão Militar da Indústria de Defesa –
CMID, visando a manter o estímulo continuado à Indústria de Defesa
Brasileira, conscientizando, assessorando, fomentando o seu
desenvolvimento e abrindo a possibilidade de sua participação competitiva
40
nas oportunidades comerciais, industriais e tecnológicas decorrentes da
implementação desta Política; e
VI – caracterizar o instrumento básico de ação desta Política na forma de
acordos de compensação específicos entre as Forças Armadas e o
fornecedor estrangeiro, com acompanhamento da Secretaria de Logística,
Mobilização, Ciência e Tecnologia - SELOM, do MD. A SELOM é a
responsável pelo tratamento dos assuntos relacionados a esta Política.
Para o sucesso desta política, há a necessidade de pessoal altamente
capacitado e uma infraestrutura instalada para receber e para exercer as atividades
inerentes aos acordos de compensação, seja no meio militar, seja no meio industrial
a ser beneficiado, desde os administradores dos contratos, até o pessoal técnico.
Este deve ser o primeiro objetivo para o fortalecimento e fomento da BID através de
acordos de compensação.
Dando continuidade ao processo de preparação da Base Industrial de
defesa foi criado o Centro de Certificação, de Metrologia, de Normalização e de
Fomento Industrial das Forças Armadas (CCEMEFA), ativado pela Portaria
Normativa No 75/MD, de 10 de fevereiro de 2005, com sede estabelecida na área do
Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, SP,
e sua implantação tem por objetivos:
I – contribuição para assegurar o atendimento dos requisitos estabelecidos
para produtos e para sistemas de gestão da qualidade e, quando aplicável,
das exigências impostas por agências reguladoras nacionais e
internacionais;
II – otimização dos meios empregados pelas Forças Armadas nas atividades
de certificação, de metrologia, de normalização e de fomento industrial;
III – melhoria contínua da qualidade dos sistemas instituídos e da indústria
de defesa;
IV – progressiva diminuição da dependência das Forças Armadas de
fornecimentos do exterior;
V – maior eficiência nas aquisições de produtos importados;
VI – contribuição para a aceitação dos produtos nacionais no mercado
internacional;
41
VII – harmonização dos processos de comprovação de requisitos e de
seleção de produtos de fornecedores, promovendo a cooperação entre as
Forças Armadas; e
VIII – viabilização do gerenciamento das informações referentes aos
produtos, órgãos, organizações e empresas da BID, por meio de certificados
que auxiliem as atividades de catalogação, de padronização e de
mobilização, dentre outras.
A Comissão Militar da Indústria de Defesa (CMID) foi instituída pela Portaria
Normativa No 611/MD, de 12 de maio de 2005; é uma comissão de alto nível, que
estuda e discute assuntos e desenvolve atividades num âmbito político-ministerial,
possui as atribuições de propor e coordenar os estudos relativos ao fomento às
atividades de pesquisa, de desenvolvimento, de produção e de exportação de
produtos de defesa; promover a integração dessas atividades; estabelecer um fluxo
adequado de informações entre o Ministério da Defesa (MD) e as entidades civis e
governamentais envolvidas; e propor medidas.
Para o atendimento desta necessidade, houve o estabelecimento da Política
de Defesa Nacional, aprovada pelo Decreto Nº 5.484, de 30 de junho de 2005, é o
documento condicionante de mais alto nível do planejamento de defesa e tem por
finalidade estabelecer objetivos e diretrizes para o preparo e o emprego da
capacitação nacional, com o envolvimento dos setores militar e civil, em todas as
esferas do Poder Nacional.
Estabelece as diretrizes, com a finalidade de que sejam garantidos recursos
para preparo eficaz das Forças Armadas brasileiras e Órgãos afins, para a
capacitação da produção estratégica de interesse da Defesa, refletindo os anseios
da sociedade e servindo como marco referencial para as estratégias seguintes.
Também se verifica a preocupação em se produzir materiais e equipamentos
com alto valor agregado em tecnologia para reduzir a dependência externa do País
em área estratégica.
Como decorrência das orientações da Política de Defesa Nacional (PDN), foi
aprovada pela Portaria Normativa No 899/MD, de 19 de julho de 2005 a Política
Nacional da Indústria de Defesa (PNID), complementada pela as Ações Estratégicas
aprovadas pela Portaria Normativa No 586/MD, de 24 de abril de 2006 a PNID, as
quais foram bastante idealista em seus objetivos específicos, prevendo a
42
conscientização da sociedade sobre a necessidade de uma Base Industrial de
Defesa forte, com diminuição da dependência externa, incentivos tributários,
incentivos à utilização de produtos nacionais pelas Forças Armadas,
desenvolvimento tecnológico e expectativa quanto à exportação de produtos de
defesa.
Mas, o estabelecimento dessas Políticas pouco contribuiu para que ações
práticas fossem implementadas; porém, hoje, vivencia-se um clima de euforia e
expectativa com a Estratégia Nacional de Defesa.
Aprovada pelo Decreto Nº 6703, de 18 de dezembro de 2008, a Estratégia
Nacional de Defesa (END), em um novo cenário onde o Brasil, a partir de sua
estabilidade política e econômica, ocupa uma posição de destaque no contexto
internacional, exigindo nova postura no campo da Defesa, a ser consolidado através
do envolvimento de todo o povo brasileiro.
A END é focada em ações estratégicas de médio e longo prazo e
objetivando modernizar a estrutura nacional de defesa, atua em três eixos
estruturantes: reorganização das Forças Armadas, reestruturação da indústria
brasileira de material de defesa e política de composição dos efetivos das Forças
Armadas.
Ao lado dessas diretrizes aborda-se o papel de três setores decisivos para a
defesa nacional: o cibernético, o espacial e o nuclear. Quanto à indústria brasileira
de material de defesa, a sua reestruturação tem como propósito assegurar que o
atendimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas seja apoiado
em tecnologias sob domínio nacional.
4.3 ASPECTOS DA CONTRATAÇÃO E DO FINANCIAMENTO DA PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO NO PAÍS
O apoio financeiro para a pesquisa e o desenvolvimento de novas
tecnologias no Brasil, teve início com Fundo de Desenvolvimento Tecnológico
(FUNTEC), criado em 1964, no Banco de Desenvolvimento Econômico (BNDE), o
qual foi de grande importância, mais foi extinto em 1975.
Paralelamente, em 1965, também, no BNDE Fundo de Financiamento de
Estudos e Projetos e Programas, cuja finalidade, era destinar recursos financeiros
para a elaboração de programas e propostas de investimento. Contudo, em 1967,
43
essa atividade migrou para a, recém criada, Empresa Financiadora de Estudos e
Projetos (FINEP).
O primeiro estabelecimento de uma política governamental de incentivo
tecnológico e científico foi a promulgação, em 1968, do Plano Estratégico de
Desenvolvimento. Contudo, as atividades continuavam a ser orientadas a nível
individual do pesquisador.
Com o objetivo de orientar essa atividade de desenvolvimento, para
assegurar a expansão desejada, foi criado, pelo Decreto Nº 719, de 31 de julho de
1969, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o
qual derivou do Plano Nacional de Desenvolvimento (PND).
Esse decreto previa, ainda, que os recursos para as atividades de pesquisa
e desenvolvimento tecnológico, deveriam ser aprovados por um conselho. Contudo,
esse conselho só foi criado, cerca de quarenta anos depois, em 12 de novembro de
2007, por meio da Lei Nº 11.540 e regulamentado pelo Decreto Nº 6.938, de 13 de
agosto de 2009. Destaca-se que nesse conselho, tem assento, um membro do
Ministério da Defesa
Em 15 de julho de 1971, por determinação do Decreto Nº 68.748, as
atividades da Secretaria-Executiva do FNDCT foram atribuídas ao FINEP, que
passou a ser detentor de todo o processo, ou seja: pesquisa básica, pesquisa
aplicada, desenvolvimento experimental, estudo de viabilidade econômica, e
engenharia final, figurando com este formato até os dias de hoje.
No final da década de 90, por meio da Lei Nº 9.478, de 16 de agosto de
1997, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) passou a ter a atribuição de
estabelecer o percentual de royalties, dependendo dos riscos geológicos e outros
fatores, para atender programas de desenvolvimento científico em prol da indústria
do petróleo. Sendo que, os recursos passaram a ser destinados ao FINEP, a pós
1998, conforme determinou o Decreto Nº 2.851.
A partir de então, diversos fundos setoriais foram criados para aplicação em
áreas específicas, hoje são dezesseis fundos em operação. Tais fundos objetivam
obter recursos regulares, e não orçamentários, para a pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, cujas receitas teriam origem na exploração de recursos naturais,
pertencentes à União, parcela da arrecadação do Imposto de Produtos
Industrializados (IPI), etc.
44
Em julho de 2004, foi estabelecido pelo Comitê que coordena a aplicação
dos fundos setoriais, que 50% dos recursos arrecadados serão destinados a
programas estratégicos do Ministério de Ciência e Tecnologia, para atendimento da
Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) do Governo Federal,
a qual contempla a área da defesa.
Por último, ocorreram as regulamentações da Lei Nº 11.196/2005, conhecida
como Lei do Bem, e da Lei Nº 10.173/2004, chamada de Lei da Inovação. A primeira
estabeleceu incentivos fiscais para as empresas que investissem em pesquisa,
desenvolvimento e engenharia (PD&E), a segunda teve o objetivo de proporcionar
parcerias estratégicas entre universidades; institutos tecnológicos e empresas;
estímulo à participação de institutos de ciência ao processo de inovação; e o
estímulo a inovação na empresa, por meio da subvenção, de aporte de recursos
públicos, não-reembolsáveis, nas empresas; bem como o compartilhamento de
infraestrutura e recursos humanos de empresas e instituições públicas.
4.4 SITUAÇÃO DA INDÚSTRIA DE MATERIAL DEFESA
A Indústria de Material de Defesa tem respondido positivamente às amplas
ações e orientações da Política de Defesa Nacional e tem focado a sua atuação
aprimorando sua estrutura e elevando o nível de representação de seus
componentes. A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e
Segurança (ABIMDE), a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (AIAB), o
Sindicato Nacional da Indústria de Material de Defesa (SIMDE), o Departamento da
Indústria de Defesa e Segurança (COMDEFESA) da federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP), o Fórum Empresarial de Defesa e Segurança da
Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) e o Fórum de
Fabricantes de Material de Defesa da Federação das Indústrias do Estado do Rio
Grande do Sul (FIERGS) foram recentemente criados ou revigorados e, em suas
áreas de competência, têm atuado com realismo e efetividade.
A ABIMDE congrega todas as empresas e instituições brasileiras
interessadas no fortalecimento da base industrial, logística, científica e tecnológica
de defesa do Brasil, patrocinando e promovendo seus interesses e objetivos
comuns, e visando ainda, ao engrandecimento social e econômico do País.
45
Atualmente, a ABIMDE conta com 130 empresas e instituições associadas,
algumas com reconhecimento internacional pela qualidade e complexidade
tecnológica de seus produtos, podendo ser reunidas em quatro grupos principais:
Grupo 1 - empresas e instituições públicas federais, estaduais e municipais.
Destacamos, entre elas, as duas empresas públicas federais que, por lei,
receberam responsabilidades de promoção da Indústria Brasileira de
Material de Defesa (IBMD): EMGEPRON e IMBEL.
Grupo 2 - empresas brasileiras privadas, de capital majoritariamente
nacional, associadas à ABIMDE e à AIAB. Essas empresas são essenciais
porque, com suas atividades, geram novos produtos e serviços, atraem
negócios, criam e mantêm empregos e tecnologia brasileiras, recolhem
impostos e, normalmente, aplicam seus lucro no próprio País. Dentre elas,
destacam-se as seguintes: Agrale (caminhões militares), Atech (P&D de
tecnologias críticas para a defesa e para o ramo aeronáutico), Avibrás
(desenvolvimento e produção de sistemas de defesa, sistema de foguetes
Astros), CBC ( fabrica munições para as mais variadas aplicações, além de
seus principais insumos críticos, como propelentes e misturas iniciadoras),
Condor (área de artefatos pirotécnicos de sinalização, produção de armas e
munições não-letais), Embraer ( fabricante de aeronaves do País e uma das
maiores do mundo), Inbrafiltro (blindagem para veículos, embarcações e
aeronaves, capacetes, coletes e escudos anti-tumulto e de combate, com
proteção balística), Inace (navios e embarcações militares), Mectron (radar
SCP-01 que equipa a aeronave AM-X, o míssil ar-ar MAA-1, míssil
superfície-superfície MSS-1.2), Taurus (revólveres, pistolas, carabinas,
armas de pressão e armas policiais), Odebrecht Infraestrutura e Odebrecht
Engenharia Industrial (contrato de fabricação de submarinos convencionais e
de propulsão nuclear para a Marinha).
Grupo 3 - empresas brasileiras privadas, de capital majoritariamente
estrangeiro, associadas à Abimde e à Aiab: Daimler Chrysler do Brasil
(caminhões pesados e viaturas especiais para emprego militar), Siem
Consub (bóias oceanográficas e meteorológicas, correntômetros,
transdutores acústicos, cabos hidrofônicos, alvos sonares, robôs submarinos
e minas navais de casco, de contato e de influência, sistemas de comando,
controle e combate para navios de guerra), GE Celma (serviços de revisão,
46
reparo e teste de turbinas aeronáuticas e itens acessórios), Helibrás (única
fabricante de helicópteros na América do Sul), Iveco (construção no Brasil,
em vinte anos, de 2.044 unidades da nova família de Veículos Blindados
para o Transporte de Pessoal Médio Sobre Rodas (VBTP-MR), batizada de
Guarani), Turbomeca (desenvolvimento e a produção de turbinas de
pequena e média potências para helicópteros e aeronaves civis, militares e
policiais).
Grupo 4 - o último conjunto de empresas brasileiras que trabalha com
produtos de interesse para a área de defesa é que ainda não se associaram
à Abimde ou à Aiab. É um conjunto grande que inclui empresas de alta
tecnologia, como estaleiros de construção e reparo naval, fabricantes de
equipamentos peças para navios, aeronaves e carros de combate,
produtoras de ferramentas e insumos diversos, prestadoras de serviços de
manutenção e transporte de produtos de defesa, empresas e instituições de
pesquisa e desenvolvimento, e outras.
4.5 CONCLUSÃO PARCIAL
Desde 2002, a base legal da defesa está sendo atualizada e
complementada, de forma a promover a integração entre as Expressão Econômica e
Militar do Poder Nacional, com o objetivo de criar sinergia em prol da Defesa
Nacional. Processo que tem demonstrado ser viável, principalmente quando se
verifica as metas já alcançadas, contudo é necessário permanecer focado nas ações
que ainda são necessárias.
Neste contexto é importante a obtenção do amparo legal, para que haja a
regularidade e adequação dos recursos orçamentários para que seja possível obter
uma indústria de defesa viável no País. Além disso, é importante que a lei de
licitações seja alterada de forma a propiciar melhores condições às empresas
nativas, as quais precisam ser preservadas com o capital sob o controle de
nacionais.
No tocante à pesquisa e desenvolvimento no País, verifica-se que existem
vários mecanismos implementados e que necessitam, apenas, ampliar sua
capacidade. Para a área de defesa, seria importante a criação de um fundo setorial,
47
administrado pelo FINEP e com políticas estabelecidas em coordenação do MD e o
MCT.
A Indústria de Defesa exerce uma atividade complexa que requer
capacidade e alta tecnologia dos seus agentes de produção no desenvolvimento dos
seus produtos e serviços.
Dentro das áreas tecnológicas nos três setores decisivos para a defesa
nacional (o cibernético, o espacial e o nuclear), observamos que a nossa Indústria
de Material de Defesa possui empresas altamente capacitadas para absorver e
produzir tecnologias necessárias aos materiais de defesa.
A Estratégia Nacional de Defesa determina que empresas envolvidas com a
indústria militar no Brasil deverão possuir maioria acionária nacional. O modelo
desejado é o da transferência de tecnologias identificadas como vitais para o avanço
da capacidade industrial nacional.
Contrapondo-se à corrida desenfreada de empresas internacionais
buscando adquirir empresas menores capazes de garantir-lhes a brasilidade
necessária, empresas de porte considerável do setor de defesa estão sendo
absorvidas por gigantes de capital nacional num grande movimento de consolidação
do mercado. Recentemente tivemos notícia da aquisição da fabricante de radares e
eletrônica avançada Orbisat pela Embraer.
O maior cliente da indústria de defesa é o Estado Brasileiro, por intermédio
das Forças Armadas, Forças Auxiliares, Polícia Federal, a Força Nacional de
Segurança Pública. Para o sucesso da nova Base Industrial de Defesa é necessário
sobretudo a opinião pública favorável de toda a nação e a vontade política
garantindo os recursos necessários para a aquisição continuada de produtos de
defesa em escala e volume (orçamento plurianual).
Mas, o estabelecimento dessas Políticas pouco contribuiu para que ações
práticas fossem implementadas; porém, hoje, vivencia-se um clima de euforia e
expectativa com a Estratégia Nacional de Defesa.
48
5 CONCLUSÃO
A BID nacional é a garantia da continuidade logística do suprimento de itens
necessários para as nossas Forças Armadas, a qualquer tempo, e desde o tempo de
paz.
A C,T&I nos produtos de defesa tornou-se fator relevante para mudar o
poder de combate de uma força. Não basta hoje só recompletar o material de
defesa, sem dominar a tecnologia para obter o produto no estado da arte.
A proposta deste trabalho foi identificar estratégias para o desenvolvimento
da tecnologia aplicada aos produtos da nossa BID. Algumas delas estão
relacionadas a seguir:
• criação de programas mobilizadores para os produtos da defesa que deve ser
política do Estado Brasileiro e envolver todos os escalões do governo federal,
garantindo em orçamentos plurianuais recursos financeiros, humanos e
materiais;
• transferência de tecnologia por meio de contrato independente ou associado
à compra de produto com cláusula de offset, embora esta forma nem sempre
traga resultados satisfatórios para aquele que compra. É necessário que o
Brasil possua pessoal, infraestrutura e empresas capacitadas para assimilar
as tecnologias envolvidas. Segundo LONGO (2009), em matéria de
tecnologias que consideram sensíveis, os países detentores não estão
dispostos a transferir nem as instruções e técnicas (“know how”) e muito
menos os conhecimentos que permitiram gera-las (“know why”);
• a integração dos meios empregados pelas Forças nas atividades de
certificação, metrologia, normalização e fomento industrial. Talvez a criação
dentro do Ministério da Defesa de um órgão como o DGA (Délégation
Générale pour l’Armement) da França, com status de uma quarta Força
Armada, e responsável pelo direcionamento em pesquisas e aquisições que
deve ser seguido pelos sistemas de combate que serão empregados pelas
Forças Armadas;
• maior integração entre o Ministério da Defesa e os institutos de pesquisas
civis, universidades, órgãos de fomento de C&T&I, com a criação de
escritórios de fomento nas principais instituições;
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• formar mão-de-obra qualificada nas áreas de tecnologias sensíveis de defesa
(sistemas de armas, através de cursos no exterior e/ou projetos de
desenvolvimento de sistemas de armas em parcerias com outros países);
• reaparelhar Arsenais Militares, à semelhança dos Arsenais americanos (como
exemplo o Anninston Army Depot), capazes de confeccionar protótipos
possuindo infraestrutura e equipamentos de controle numérico capazes de
serem adaptados para a produção de peças diversificadas, laboratórios
necessários para as pesquisas de desenvolvimento de C&T de material de
defesa, etc;
• além das estratégias previstas na END, seria importante o Brasil montar a
estratégia de sua defesa antiaérea e de negação da aproximação de uma
Esquadra inimiga. Além dos meios que a Marinha do Brasil necessita para
compor uma segunda Esquadra, a aquisição de mísseis de longo alcance e
de sistemas de defesa antiaérea são importantes como dissuasão, negando a
aproximação de qualquer Força estrangeira que represente ameaça aos
interesses do Brasil.
Por fim, conclui-se que o desenvolvimento tecnológico da BID é essencial
para a soberania do país.
É imprescindível a vontade e o envolvimento de todos os segmentos
políticos do país, pois sem o qual estaremos fadados a fracassar. É importante que
haja compromentimento de toda a nação, alocando recursos necessários para o
recompletamento e modernização dos equipamentos das Forças Armadas.
Citando Maquiavel: “Sem possuir armas próprias, nenhum principado estará
seguro; estará, antes, à mercê da sorte, não existindo virtude que o defenda nas
adversidades”, concluo que a maior garantia para a paz no Brasil é que as nossas
Forças Armadas estejam bem adestradas e disponham de uma BID capaz de
fornecer os equipamentos de defesa no estado-da-arte e no momento necessário.
50
REFERÊNCIAS
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