era vargas

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Getúlio chegou ao poder em novembro de 1930 por meio de um movimento armado. Exerceu a Presidência à frente de um Governo Provisório até 1934, quando uma Assembléia Constituinte o elegeu presidente constitucional do Brasil. Em 1937, fechou o Congresso Nacional e, por meio de um golpe de Estado, criou o Estado Novo, que se prolongou até 1945. No texto a seguir ele procura explicar as razões que o levaram a isso.

“ Quando as competições políticas ameaçam degenerar em guerra civil, é sinal de que o regime constitucional perdeu seu valor prático, subsistindo, apenas, como abstração. A tanto havia chegado o país. A complicada máquina de que dispunha para governar-se não funcionava. Não existiam órgãos apropriados através dos quais pudesse exprimir os pronunciamentos da sua inteligência e os decretos de sua vontade.

Restauremos a Nação na sua autoridade e liberdade de ação: na sua autoridade, dando-lhe instrumentos de poder real e efetivo com que possa sobrepor-se às influências desagregadoras, internas ou externas; na sua liberdade, abrindo o plenário do julgamento nacional sobre os meios e os fins do governo e deixando-a constituir livremente a sua história e o seu destino.”

VARGAS, Getúlio, 10.11.1937. In: Silva, Raul Mendes; CACHAPUZ, Paulo Brandi; LAMARÃO, Sérgio. Getúlio

Vargas e seu tempo. Rio de Janeiro: BNDES, 2003. p. 187

As medidas do Governo Provisório apontavam, já nos primeiros anos, para mudanças significativas em relação aos procedimentos da Primeira República.

O Congresso Nacional foi dissolvido e os governadores depostos. Para governar os estados foram nomeados interventores, muitos dos quais eram “tenentes”. Ao mesmo tempo, foram criados dois novos ministérios: o do Trabalho e o da Educação.

Foi talvez na relação com os trabalhadores que mais claramente se revelaram as diferenças entre a Primeira e a Segunda República. Com a criação do Ministério do Trabalho, Getúlio procurava dar um primeiro passo na aproximação com a classe trabalhadora. A isso se seguiu uma legislação trabalhista que incluía antigas reivindicações das lideranças operárias, como jornada de oito horas de trabalho, o repouso semanal remunerado, a regulamentação do trabalho feminino e infantil, a garantia do direito de férias e a aposentadoria.

Com exceção do direito de férias, estabelecido em 1923, mas nunca cumprido, nada disso existia sob a República Velha; os líderes da República Velha respondiam às reivindicações dos trabalhadores com a repressão. As reivindicações e lutas eram tratadas como “caso de polícia”.

Por outro lado, Getúlio passou a exercer um controle muito forte sobre os movimentos sociais. Os sindicatos, por exemplo, deveriam obedecer às regras determinadas pelo Ministério do Trabalho. Com isso Vargas conseguiu um resultado duplo: o apoio e o controle da classe trabalhadora.

No âmbito da cultura popular, a mudança também foi significativa. Sob a República Velha, as escolas de samba eram perseguidas pela polícia do Rio de Janeiro. Com a Revolução de 1930, essa relação mudou. Em 1932, por exemplo, o prefeito interventor do Rio de Janeiro, o tenentista Pedro Ernesto, concedeu apoio financeiro a diversas escolas de samba e blocos carnavalescos.

(Durante o Governo Vargas, com o apoio do rádio, o samba carioca foi transformado em símbolo da cultura popular brasileira).

Apoiada pelos “tenentes” e por amplos setores da classe trabalhadora, a República Nova não tinha unanimidade. Em São Paulo, o empresariado e os fazendeiros do café, estes últimos inconformados com a sua derrocada após a Revolução de 1930, queriam reconquistar o controle do governo. Não aceitavam o interventor nomeado para São Paulo, o tenente pernambucano João Alberto, exigindo um nome civil e paulista.

Como forma de ampliar o movimento e conquistar o apoio das classes médias, as elites paulistas reivindicavam a convocação imediata de uma Assembléia Constituinte para elaborar uma nova Constituição. Essa reivindicação era defendida pela imprensa e rádio e acabou ganhando as ruas em grandes manifestações, das quais participavam não só as pessoas das elites, mas também estudantes universitários, comerciários e profissionais liberais.

Vargas cedeu às pressões e, em fevereiro de 1932, nomeou o embaixador Pedro de Toledo, civil e paulista, como interventor em São Paulo. Também em fevereiro, promulgou a Lei Eleitoral que convocava eleições para uma Assembléia Constituinte. Uma das novidades da lei era a extensão do direito de voto às mulheres, pela primeira vez em pleitos nacionais. A data das eleições à Constituinte foi marcada para 3 de Maio de 1933.]

Entretanto, as manifestações em São Paulo não cessaram. Em maio ocorreram choques armados entre manifestantes e tenentistas da Legião Revolucionária, que apoiavam Vargas.

Em um desses choques, quatro manifestantes foram mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo – MMDC – símbolo do movimento. Marcada inicialmente para 14 de Julho (data da Revolução Francesa de 1789), a insurreição paulista acabou explodindo em 9 de Julho de 1932.

Os revoltosos paulistas esperavam apoio de outros estados com o Minas Gerais, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Mas não ocorreu. Somente na região sul do Mato Grosso, sob o comando do gal. Bertoldo Kingler (1884- 1969), acompanhou São Paulo.

Os combatentes entre as forças paulistas e as tropas federais duraram pouco mais de dois meses. Isolados, os paulistas não conseguiram resistir à superioridade das forças federais. Renderam-se em 28 de setembro de 1932.

Em Maio de 1933, como havia sido previsto, realizaram-se eleições para a Assembléia Constituinte. Foram as primeiras eleições realizadas após a Revolução de 1930 e apresentavam algumas diferenças em relação a Primeira República, como o voto secreto e obrigatório e a ampliação dos eleitores aptos (todos os brasileiros alfabetizados com mais de 18 anos, inclusive mulheres). Foi instituída a Justiça Eleitoral, com a incumbência de fiscalizar o processo eleitoral.

A Assembléia Nacional Constituinte foi instalada no dia 15 de Novembro de 1933; segunda do período republicano, foi promulgada no dia 16 de Julho de 1934. Foi mantida a eleição direta para presidente da República, com exceção da primeira, em que Getúlio Vargas foi eleito pela Assembléia Constituinte para exercer um mandato de 4 anos, até 3 de Maio de 1938.

A Constituição instituiu o ensino primário gratuito e obrigatório prevendo que, com o tempo, o ensino secundário e o superior também deveriam ser gratuitos para todos. Além disso, manteve as leis trabalhistas estabelecidas pelo Governo Provisório.

Art. 121- A lei promoverá o apoio da produção e estabelecerá as condições de trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do país.

§1º: A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que visem melhorar as condições do trabalhador.

a) Proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil;

b) salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador;

c) trabalho diário não excedente de oito horas [...];

d) proibição do trabalho a menores de 14 anos; de trabalho noturno a menores de 16 anos; e em indústrias insalubres a menores de 18 anos e a mulheres;

f) férias anuais remuneradas;g) indenização ao trabalhador

dispensado sem justa causa;h) assistência médica e sanitária ao

trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso, antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego [...].

A Revolução de 1930 ocorreu em um contexto mundial marcado pela Grande Depressão de 1929, e pela ascensão do fascismo na Itália, acompanhada pelo crescimento numérico das forças nazistas na Alemanha.

A crise econômica e o desemprego em massa, aliados aos êxitos eleitorais do nazi-fascismo provocaram o surgimento de grupos fascistas em diversos países. No Brasil, formou-se em 1932 a Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada pelo escritor Plínio Salgado (1875 – 1975), um movimento de extrema direita, nacionalista e anticomunista. Os integralistas eram chamados de camisas verdes, por causa da cor do uniforme que usavam.

Entre as correntes políticas existentes nessa época, algumas defendiam mudanças mais profundas e imediatas no Brasil. Entre elas, estava o Partido Comunista do Brasil (PCB), fundado em 1922. Proibido de funcionar livremente em junho, esse partido agiria por muito tempo na ilegalidade.

Em 1935, os comunistas juntaram-se a outras correntes de esquerda e formaram e formaram a ALIANÇA NACIONAL LIBERTADORA (ANL). Seu líder era Luís Carlos Prestes, que havia comandado a Coluna Prestes e, após viagem à União Soviética, ingressara no PCB. Essa frente popular pregava a derrubada do governo e uma transformação profunda e rápida do país.

O governo Vargas via no comunismo um grande perigo e a ANL como um inimigo que deveria ser combatido. Por outro lado nutria certa simpatia por valores fascistas. Em julho de 1935, a Aliança Nacional Libertadora lançou manifesto pregando a derrubada do governo. Era o pretexto que Vargas esperava para proibir suas atividades.

A ANL passou a agir na clandestinidade. Em novembro de 1935, agindo em nome da ANL, os comunistas sublevaram quartéis em Natal, no Rio Grande do Norte (22.11), no Recife, Pernambuco (24.11), e no Rio de Janeiro (27.11).

O governo reagiu rapidamente, prendendo a maioria dos revoltosos. Luís Carlos Prestes, principal líder do movimento, e sua mulher, Olga Benário Prestes (1908 – 1942), foram presos em Março de 1936. Prestes ficou confinado numa solitária até o fim do governo de GV, em 1945, e Olga, por ser judia e alemã, foi enviada à Alemanha nazista, onde foi morta numa câmara de gás, em 1942.

A Nação brasileira deve ser organizada, uma, indivisível, forte, poderosa, rica, próspera e feliz. Para isso precisamos que todos os brasileiros estejam unidos.Uma Nação, para progredir em paz, para ver frutificar seus esforços, para lograr prestígio no Interior e no Exterior, precisa ter uma perfeita consciência do Princípio de Autoridade.

Cosmopolitismo, isto é, a influência estrangeira é um mal de morte para o nosso Nacionalismo. Combatê-lo é nosso dever. [...]

Declaramo-nos inimigos de todas as conspirações [...]. A nossa Pátria está miseravelmente lacerada de conspiratas. Políticos e governantes tratam de interesses imediatos, por isso é que conspiram. Nós pregamos a lealdade, a franqueza, a opinião a descoberto, a luta no campo das ideias. As confabulações dos políticos estão desfibrando o caráter do povo brasileiro.

Civis e militares giram em torno de pessoas, por falta de nitidez de programas. Todos os seus programas são os mesmos e esses homens estão separados por motivos de interesses pessoais e de grupos. Por isso, uns tramam contra os outros. E, enquanto isso, o comunismo trama contra todos.

Nós pregamos a franqueza e coragem mental. Somos pelo Brasil Unido, pela Família, pela Prosperidade, pela organização e representação legítima das classes; pela moral religiosa; pela participação direta dos intelectuais no Governo da República; pela abolição dos Estados dentro do Estado; por uma política benéfica do Brasil na América do Sul; por uma campanha nacionalista contra a influência dos países Imperialistas, e, sem tréguas, contra o comunismo russo.

Plínio Salgado. Disponível em www.integralismo.org

As eleições presidenciais estavam marcadas para 3 de janeiro de 1938. No segundo semestre de 1937, três candidatos já estavam em campanha. Do lado do governo, o paraibano José Américo de Almeida (1887 – 1980), que havia sido ministro no governo provisório. Pela oposição, Armando de Salles Oliveira (1887 – 1945), governador de São Paulo. Correndo em faixa própria estava o integralista Plínio Salgado.

Enquanto isso, Vargas planejava um golpe de Estado para se perpetuar no poder. Como justificativa, apontava para o quadro de instabilidade internacional e para a “ameaça comunista”. A liderança do PCB, entretanto havia sido destroçada pela repressão em 1935; seus dirigentes mais importantes ou estavam presos, ou viviam na mais estrita clandestinidade.

Getúlio precisava de um novo pretexto para o golpe que preparava. Este surgiu quando chegou às suas mãos um plano

mirabolante de implantação de comunismo no Brasil. Era o PLANO COHEN, um documento forjado pelo integralista Olímpio Mourão Filho (1900 – 1972) no Ministério da Guerra. O texto previa a realização de greves, o assassinato de líderes políticos, incêndios em igrejas, etc. A pretexto de combater essa falsa ameaça, Getúlio conseguiu convencer as Forças Armadas a apoiá-lo em seus planos golpistas.Assim, com o apoio dos chefes militares, Getúlio anunciou pelo rádio o fechamento do Congresso Nacional e a criação do Estado Novo. Era 10 de Novembro de 1937.

A ditadura instalada por Getúlio Vargas garantia a ele amplos poderes, permitindo-lhe controlar os setores da vida política, social e econômica do país. Uma nova Constituição previamente elaborada pelo ministro da Justiça, Francisco Campos (1891 – 1968), foi outorgada no mesmo dia do golpe, concedendo ao presidente, entre outros, o poder de fechar o Congresso Nacional; extinguir os partidos políticos; acabar com a liberdade de imprensa, por meio da censura prévia (só podia ser publicado aquilo que fosse aprovado pelos censores do governo); e nomear interventores nos Estados.

Os integralistas apoiaram o golpe de Getúlio Vargas, na esperança de que o Ministério da Educação fosse dado a Plínio Salgado. Não foi o que ocorreu. Frustrando as expectativas dos camisas-verdes, ao extinguir os partidos, Getúlio também dissolveu a Ação Integralista.

A reação veio em maio de 1938, quando um grupo de integralistas tentou depor Getúlio Vargas, assaltando o Palácio Guanabara. A ação foi derrotada, muitos integralistas foram presos e Plínio Salgado teve de sair do país.

As caricaturas mostram as mudanças pelas quais passou Vargas em diferentes conjunturas: a favor dos nazistas (1937); dos Estados Unidos (1941) e dos comunistas (1945). O tema é complexo, Vargas jogava com diferentes fatores parase manter no poder. Nunca se declarou fascistas, tampouco governou democraticamente nesse período.Apesar de Vargas perseguir os comunistas, estes o apoiaram em 1945 por medo de perderem as conquistas trabalhistas com Vargas fora do poder.

Para fazer propaganda de Getúlio e do Estado Novo, foi organizado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Grandes festas cívicas eram realizadas em homenagem a Vargas, de modo especial no Dia do Trabalho (1º de Maio), no aniversário do Estado Novo (10 de Novembro) e no aniversário do próprio Getúlio (19 de Abril). O rádio passou a ser utilizado em grande escala para exaltar o Estado Novo e a figura idealizada do ditador.

Página da cartilha A juventude no Estado Novo, elaborada pelo DIP, criado em 1939 para fazer propaganda do governo Vargas,inclusive em materiais didáticos como este.

Com a implantação do Estado Novo, consolidou-se uma tendência que vinha se afirmando desde a Revolução de 1930: a da intervenção do Estado como agente econômico. Assim, no curso de alguns anos foram organizados, entre outros, o Conselho Nacional de Economia, o Conselho Nacional de Comércio Exterior, o Conselho Nacional do Petróleo.

Nacionalista, Vargas tomou medidas que favoreciam a industrialização do país: planejou a hidrelétrica de Paulo Afonso, no rio São Francisco; criou a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) para extrair e exportar ferro, a Fábrica Nacional de Motores e a Companhia Nacional de Álcalis; e fundou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, destinada a produzir aço.

Essas medidas contribuíram para o desenvolvimento de toda a indústria.

Sem recursos próprios para construir a Companhia Siderúrgica Nacional, o governo de Getúlio utilizou as disputas entre os nazistas e as democracias ocidentais. Por razões ideológicas, no começo dos anos 1940 suas simpatias iam para o fascismo e nazismo. Por razões geopolíticas, entretanto, ele não podia romper com os Estados Unidos. Afinal, o mundo já havia ingressado na Segunda Guerra Mundial (1939 -1945).

Assim, enquanto se aproximava dos alemães, tentava obter dos estadunidenses financiamento para a construção da siderúrgica de Volta Redonda.

Esse financiamento foi finalmente obtido em 1941, por intermédio da Missão Cook. Em 1943, a CSN entrava em funcionamento.

Em 1942, submarinos alemães puseram a pique navios brasileiros. Milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Os estudantes, liderados pela UNE (União Nacional dos Estudantes), além de outros setores, exigiam que o governo declarasse guerra à Alemanha (até então o Brasil permanecia neutro). Cedendo às pressões, o governo Vargas declarou guerra à Itália e à Alemanha. Assim, muitos brasileiros foram lutar na Europa em 1944.

A guerra terminou em 1945, com a derrota dos regimes totalitários da Alemanha e da Itália. Restava agora acabar com a ditadura brasileira do Estado Novo.

A construção da imagem de Getúlio como protetor dos trabalhadores ganhou forma pelo recurso a várias cerimônias e ao emprego intensivo dos meios de comunicação. Dentre as cerimônias, destacam-se as comemorações de 1º de maio, realizadas a partir de 1939 no estádio do Vasco da Gama, em São Januário (RJ) – o maior estádio do Rio de Janeiro na época.

Somente em 1944 as comemorações se deslocaram para o Pacaembu, em São Paulo. Nesses encontros, que reuniam grande massa de operários e o povo em geral, Getúlio iniciava seu discurso com o famoso “Trabalhadores do Brasil” e anunciava alguma medida muito aguardada de alcance social.

A partir de janeiro de 1942, o novo ministro do Trabalho, Alexandre Marcondes Filho, começou a utilizar sistematicamente o rádio como instrumento de aproximação entre o governo e os trabalhadores.

Ele fazia palestras semanais na Hora do Brasil. Nelas contava a história das leis sociais, apresentava casos concretos e se dirigia às vezes a audiências determinadas: os aposentados, as mulheres, os pais de menores operários, os imigrantes, etc. Com estes e outros elementos se construiu a figura simbólica de Getúlio Vargas como dirigente e guia dos brasileiros, em especial dos trabalhadores, como amigo e pai, semelhante na escala social ao chefe de família.

O guia e pai doava benefícios a sua gente e dela tinha o direito de esperar fidelidade e apoio. Os benefícios não eram fantasia. Mas sua grande rentabilidade política se deve a fatores sociais e à eficácia da construção simbólica da figura de Vargas, que ganhou forma e conteúdo no curso do Estado Novo.

FAUSTO, Boris. História do Brasil.São Paulo, Edusp, 1996. p. 375

“Embora as promessas feitas por Vargas, por ocasião da chamada Revolução de 1930, tivessem despertado grandes esperanças em amplos setores da sociedade brasileira, em pouco tempo o desencanto com seu governo seria generalizado. Por outro lado, segmentos ponderáveis da opinião pública brasileira voltavam-se cada vez mais para a liderança de Luís Carlos Prestes,

para o programa que ele havia proposto em seu Manifesto de Maio de 1930 e não tinha encontrado eco junto àqueles setores, então iludidos com Vargas e a plataforma da Aliança Liberal.A criação da ANL representou a culminância desse processo de aglutinação de grupos, setores, organizações e personalidades decepcionadas com o rumo tomado pela Revolução de 1930, desiludidos de Vargas e de seu governo.

Ao mesmo tempo, para que essa unidade fosse alcançada, o nome, o prestígio, a liderança de Luís Carlos Prestes mostraram-se essenciais. Sem o Cavaleiro da Esperança e tudo o que ele representava no Brasil, naquele momento a ANL dificilmente teria existido.Naquele ano de 1935, a figura de Prestes viria a desempenhar um papel histórico determinado e necessário – congregar em torno da ANL grande parte dos setores da nação insatisfeitos de uma maneira geral com o Governo Vargas e o processo como haviam sido conduzidos os trabalhos da

Constituinte e a eleição do presidente da República, mas também com a dominação imperialista do país e a força do latifundismo, com o avanço do integralismo e as medidas antidemocráticas adotadas pelo Governo, como Lei de Segurança Nacional. O Cavaleiro da Esperança, embora inicialmente distante do país e posteriormente vivendo na clandestinidade, sintetizava em sua figura os anseios de todos esses setores, quem em maio de 1930 – quando foi

lançado seu famoso Manifesto de rompimento com o tenentismo - , lhe haviam dado as costas.

PRESTES, Anita Leocádia. 70 anos da Aliança Nacional Libertadora (ANL).

Estudos Íbero-Americanos, PUC – RS, v. XXX, nº 1, p. 101 – 20, jun. 2005.

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