entrevista
Post on 03-Jul-2015
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Entrevista:
Sophia de Mello Breyner Andresen. Escritora consagrada,
nasceu no Porto, a 6 de Novembro de 1919. Frequentou o
Colégio Sagrado Coração de Maria e a Faculdade de Letras
na Universidade de Lisboa. Ao longo da sua vida, escreveu
inúmeros poemas e contos e publicou um grande conjunto
de obras. Esta entrevista terá como principais temas a
obra e alguns aspectos da vida da escritora.
Boa tarde, dona Sophia, encontramo-nos hoje aqui para
falar um pouco de si, da sua História e do que a levou a
começar a escrever
O que a levou a escrever contos?
Eu comecei a escrever histórias para crianças numa fase em que os meus filhos estavam
doentes, com sarampo. Em casa, comecei a ler-lhes histórias para os entreter. Mas os livros
que lhes lia, achei que estavam piegas demais, por isso resolvi contar-lhes as minhas próprias
histórias, nas quais recordo momentos da minha infância e juventude.
Qual foi o primeiro livro que escreveu? Em que ano?
Escrevi o meu primeiro livro em 1944, com o nome de “Poesia”.
Nos seus contos e poemas, é nítida a sua forte relação com o mar. Como surgiu essa relação?
Tenho uma forte relação com o mar, ele está muito ligado à minha infância. Recordo-me dos
imensos verões que passei na praia e é através destas recordações que escrevo poemas e
contos; é nelas que me baseio.
Qual é a sua memória mais antiga?
A minha memória mais antiga é de um quarto em frente ao mar dentro do qual estava,
poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do
vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de
fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria.
Que momentos da sua infância recorda mais?
Lembro-me muito bem da casa do Campo Alegre, do jardim, da praia da Granja (sobre a qual
escrevi, em 1944, em carta a Miguel Torga: “A Granja é o sítio do mundo de que eu mais gosto.
Há aqui qualquer alimento secreto”), dos Natais celebrados segundo a tradição nórdica... Estes
vivências que marcaram de forma determinante o imaginário e dos quais me lembro como se
tivessem acontecido ontem.
O que é para si a poesia?
Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo
traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso.
Considera que a sua vida e o modo como a viveu tenham sido, de
alguma forma, gratificantes?
A vida ensinou-me o bom e o mau. Nela, experimentei sensações e
acontecimentos, uns melhores que outros. Sintetizando, considero
que foi extremamente gratificante, tanto na escrita como na
política, porque fui recompensada e congratulada e isso é uma
grande satisfação pessoal.
Obrigada, Sophia de Mello Breyner espero que daqui para a frente continue com muito
sucesso.
Soneto à maneira de Camões
Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.
Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.
Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.
Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.
Informação adicional:
Sofia de Melo Breyner faleceu, aos 84 anos, no dia 2 de Julho de 2004
Trabalho Realizado por:
Lorredana Oliveira Pereira 4C
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