educação, mudança e inovação: o papel do professor e da tecnologia
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Educação, Mudança, e Inovação :
O Papel do Professor e da Tecnologia
Eduardo ChavesUNISAL e FATIPI
UNICAMP (Aposentado)
✽ IFSP – Capivari – 4 de Maio 2016 ✽
Para que ninguém se decepcione . . .• Falarei menos de Educação e Tecnologia e mais de Mudança e Inovação • Falarei ainda de coisas que não aparecem no título, mas são muito relevantes no contexto: "Mindsets" e "Paradigmas" • Nosso mindset é o que define quem somos, como
nossa mente está constituída e organizada, o que faz sejamos otimistas / pessimistas, alegres / macambúzios, confiáveis / inconfiáveis, tímidos / ousados, abertos a mudança / resistentes a elas, conservadores / progressistas / revolucionários, liberais / socialistas, etc.• Nosso mindset possivelmente seja constituído mediante
uma mixagem única de elementos inatos (DNA) e fatores ambientais • Paradigma é a forma pela qual enxergamos o mundo, os óculos que usamos para ver o mundo, para filtrar a realidade• Adotamos um paradigma através das experiências que
temos, da educação que recebemos, das leituras que fazemos, da mídia, etc.
• E vou começar enunciando Sete Teses sobre o tema. . .
Educação, Mudança e Tecnologia (a)
1. A tecnologia, por si só, nada pode fazer para trazer mudança e inovação para a educação, ou seja, para melhorar a sua qualidade
2. Mudança e inovação intencionais só acontecem se oser humano vier a ficar insatisfeito com uma situação que o confronta
3. Mesmo quando insatisfeito com uma situação, o ser humano, geralmente, só se dispõe a agir para muda-la se for capaz de imaginar e visualizar uma situação alternativa melhor e, não só melhor, factível
4. Se estamos satisfeitos com a educação que temos, usamos a tecnologia apenas para apoia-la, reforça-la, e, quem sabe, estendê-la um pouco
Educação, Mudança e Tecnologia (b)
5. A tecnologia só contribuirá para a mudança e inovação da educação se estivermos insatisfeitos com a educação que temos e se conseguirmos imaginar uma educação diferente e melhor, na qual a tecnologia possa ser agente de mudança e inovação (i.e., de transformação)
6. A tecnologia é meio: somos nós que devemos escolher os fins que ela é levada a servir
7. Uma nova educação já está em curso fora da escola, e há muita gente trabalhando por ela: se ela vai também alcançar a escola, depende do professor, de seu mindset e de seu paradigma, e de como ele vai usar a tecnologia para mudar e inovar, e transformar, o que e como os seus alunos aprendem na escola e fora dela
Estudo de Caso: Jeff Bezos & Amazon
Estudo de Caso: Jeff Bezos & Amazon• Jeff Bezos nasceu em 1964•De 1982 a 1986 estudou na Universidade de Princeton, onde concluiu, em 1986, no espaço de quatro anos, dois cursos de Graduação: um em Ciência da Computação, o outro em Engenharia Elétrica•De 1986 a 1994 trabalhou em Wall Street, mas na área de Computação e Sistemas de Informação• Em 1994 largou o emprego e criou Amazon Books (*)• Em 2002 criou empresa de viagens espaciais: Blue Origin• Em 2013 comprou o jornal Washington Post • É hoje o quarto homem mais rico do mundo: 60 bi USD
(*) Dica: Decisão da Suprema Corte sobre impostos em vendas online
Rank Nome Fortuna + 2016 - Idade Empresa País
#1 B. Gates $77.2 B +0.2% 60 Microsoft EUA
#2 A. Ortega $69.9 B -0.5% 80 Zara Espanh
a#3 W. Buffett $68.9
B +0.6% 85 Berkshire EUA
#4 J. Bezos $59.8 B +3.5% 52 Amazon EUA
#5 C. Slim $56.3 B -1.4% 76 Telecom México
#6 M. Zuckerberg
$51.6 B +0.8% 31 Facebook EUA
Mais Ricos do Mundo – Forbes 2016
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (a) 1. 1994: livrarias não usavam quase
nenhuma tecnologia
Nesse ano Bezos fundou a Amazon. Por quê?Não foi primariamente porque ele estivesse procurando um jeito de usar tecnologia . . . (embora fosse da área)Foi porque ele estava a fim de fazer uma outra coisa: ficar rico, ganhar mais dinheiro do que ele estava ganhando como um empregado (muito bem pago) em Wall StreetA oportunidade: a decisão da Suprema Corte americana de que empresas virtuais que vendessem produtos em estados em que elas não tivessem presença física não teriam de pagar impostos estaduais sobre as vendas (state sales tax), geralmente de 6 a 10% sobre o preço
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (b) 2. Livrarias vieram a usar tecnologia para
automatizar alguns atividades-meio: contabilidade, controle de estoque, etc.
Nesse segundo estágio, as livrarias passaram a usar a tecnologia mas não mudaram,
basicamente, nada do que faziam em sua atividade-fim, vender livros
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (c) 3. Livrarias criaram sites para anunciar seus
produtos
Aqui as livrarias começaram a usar a tecnologia de forma a melhorar o exercício de sua
atividade-fim, vender livros, alcançando clientes que não moravam perto e/ou não passavam em
frente dela
Até aqui as livrarias estão na fase Pré-Jeff Bezos
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (d)4. Livrarias passaram a usar seu site para
vender seus produtos a distância
Aqui as livrarias começaram a usar a tecnologia de forma a melhorar ainda mais o exercício de sua atividade-fim, vender livros, vendendo
diretamente para clientes remotos – a livraria começou a se tornar parcialmente
virtual – e, assim, começaram a estender seu negócio,
com um uso inovador da tecnologia (comércio
virtual)
Aqui as livrarias começam a entrar na fase Jeff Bezos
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (e) 5. Jeff Bezos cria a Amazon, a primeira
livraria totalmente virtual, sem lojas físicas, sem presença física na maioria dos estados americanos (mas que ainda vendia apenas livros físicos)
Aqui temos uma mudança e uma inovação de grande importância: a livraria começa a se
transformar, e essa transformação não seria possível sem a tecnologia (que, na época, já existia, mas ninguém pensou em criar uma
livraria totalmente virtual)
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (f)6. Jeff Bezos cria um software para sua
livraria virtual que monitora e registra tudo que o cliente faz desde o instante em que entra no site da Amazon até o momento em que decide sair do site
Aqui temos a mudança e a inovação são aprofundadas – Bezos não conseguiria fazer isso
sem a tecnologia, numa livraria física com clientes presenciais)
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (g)7. Jeff Bezos compra direitos às versões
digitais de seus livros junto às editoras, cria um equipamento para leitura de livros eletrônicos (o Kindle), faz parceria com a maior companhia de wireless para entregar esses livros instantaneamente em qualquer lugar do mundo, e dá início à comercialização de e-books – antes até mesmo de a Apple pensar em fazer isso ...
Aqui temos uma mudança inovadora e revolucionário do negócio livreiro, que tinha tido
muito pouca inovação desde que Gutenberg inventou o livro impresso em 1455 –
Bezos não conseguiria fazer isso sem a tecnologia
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (h)8. Jeff Bezos entra no mercado editorial e
começa a publicar livros eletrônicos, desburocratizando e, ao mesmo tempo, democratizando o processo
Aqui temos outra mudança inovadora e revolucionária do negócio livreiro, agora afetando
o mercado editorial – Bezos não conseguiria fazer isso sem a tecnologia
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (i)9. Jeff Bezos faz parceria com empresas de
entrega rápida para entregar livros físicos em qualquer lugar do mundo em cerca de 10 dias, a empresa de entrega se ocupando também de liberar os livros na alfândega nos países em que livros não pagam imposto de importação
Aqui temos outra mudança inovadora e revolucionária do negócio livreiro, agora afetando
rapidez na entrega – Bezos não conseguiria fazer isso sem a tecnologia
Livrarias, Jeff Bezos e Tecnologia (j)10.Jeff Bezos torna a Amazon um shopping
center virtual onde, além de livros, é possível comprar música, filme, equipamentos eletrônicos, joias, roupas, qualquer coisa que possa ser entregue pelo sistema de entrega rápida
A Amazon se torna a maior empresa de varejo do mundo e Jeff Bezos salta para a quarta posição entre os mais ricos do mundo – e resolve entrar no mundo dos jornais, comprando o Washington
PostJeff Bezos é um inovador revolucionário que
transformou mercado livreiro, o mercado editorial, o mercado do varejo virtual, e, agora, se volta a
mudar o mercado jornalístico, entrando na área da mídia, usando a tecnologia para tornar realidade a
sua visão criativa e inovadora do mundo
A Visão de um Inovador Revolucionário
“A única maneira de transformar o mundo, isto é, de mudar o mundo de forma realmente
inovadora, é imaginando-o radicalmente diferente do que ele é hoje.
Se, no processo de mudança, fizermos uso demasiado do conhecimento, da sabedoria e da visão de mundo que nos trouxeram até aqui, isto
é, do paradigma vigente, terminaremos bem próximos de onde começamos e nunca criaremos
um mundo novo e diferente. Se você quer obter resultados diferentes, comece olhando as coisas de novo, só que agora de um
jeito diferente, de uma perspectiva totalmente nova.”
(Jay Allard, ex-Vice-Presidente da Microsoft, criador do Xbox e do Kinect, em entrevista para a revista Business Week, 4 Dez 2006, p.64)
E a Educação? (a)• Por que a gente não aplica esse tipo de visão criativa e inovadora, até mesmo revolucionária, na educação? • Em 1970, antes do surgimento da microinformática e da Internet, Ivan Illich já havia proposto que tentássemos educar sem escolas, através de nossas interações informais• Por que é, então, que, quando pensamos em usar tecnologia na educação o foco está na tecnologia, e como ela pode ajudar o professor a ensinar, a fazer aquilo que ele já faz? • Paulo Freire, nessa época, já criticava a "educação bancária" e dizia que "ninguém educa ninguém", mas todos nós nos educamos uns aos outros, "em comunhão", isto é, através de nossas interações, tendo, como cenário mediador, não a escola, mas o mundo (no qual a tecnologia é ubíqua e é usada de forma criativa, inovadora, revolucionária!)
E a Educação? (b)• Por que não focamos, na área da educação, nas mudanças e inovações que podemos introduzir nas diversas formas de aprender que, fora da escola, já usamos, de modo que possamos aprender o tempo todo (anytime), a partir de qualquer lugar (anywhere), à medida que temos necessidade (just in time), fazendo coisas (hands on), adaptando a forma de aprender ao nosso estilo cognitivo e personalizando o que a educação pode fazer por nós? • Por que, em vez de trazer tecnologia para dentro da escola, não transformamos o mundo em ambiente de aprendizagem privilegiado, de modo que possamos aprender o tempo todo, enquanto estamos em casa, enquanto brincamos, enquanto nos divertimos, enquanto trabalhamos . . .
Dois Tipos de Mudança •Mudança reformadora (muda dentro do paradigma)•Mudança transformadora (muda o paradigma)
Mudança e Inovação•Qual o papel da inovação na mudança na educação – em especial na passagem de uma mudança que é meramente reformadora, cosmética, para uma mudança que é de fato inovadora, transformadora, revolucionária?
Mudança pequena, aos pedaços, incremental,
gradual
Mudança dentro do paradigma:
próxima do pensamento e/ou da prática atual
REFORMA
TRANSFORMAÇÃO
A Natureza da Mudança e a Linha da Inovação
Adaptado de David Hargreaves, Education Epidemic
––
++
INOVAÇÃOMudança que subverte um paradigma: distante do
pensamento e/ou da prática atual
Mudança ampla, profunda, sistêmica, holística, radical
O Paradigma Educacional Vigente (a)
LDB-EN (Lei 9394/96)TÍTULO IDa EducaçãoArt. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias.§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
O Paradigma Educacional Vigente (b)• Escolacêntrico• Ensinocêntrico •Magistrocêntrico
O Paradigma Educacional Vigente (c)• Foco 1 está em currículos e programas, concebidos como os conteúdos disciplinares a serem ensinados pelos professores • Foco 2 está na aprendizagem, concebida como absorção e assimilação pelos alunos daquilo que foi ensinado pelos professores• Foco 3 está na avaliação, concebida como testes, provas e exames que aferem se o que foi ensinado pelos professores foi absorvido e assimilado pelos alunos
O Paradigma Educacional Vigente (d)• Resumo – ingredientes básicos e essenciais do paradigma:• Escola• Ensino• Professor • Currículo: Conteúdos Disciplinares• Aprendizagem: Assimilação de Conteúdos• Avaliação: Exames que Verificam a Assimilação
O Paradigma Educacional Vigente (e)•Mudar (ou mexer) só em um desses componentes produz, na melhor das hipóteses, reforma, mudança "pra Inglês ver" • Para que haja inovação, transformação real, quebra de paradigma, é necessário mudar (ou mexer) no todo, em cada um dos componentes, mas de forma coerente e harmonizada• Só aí haverá verdadeira verdadeira inovação
Estratégia•Não é preciso (e, talvez, nem possível) mudar tudo de uma vez só• A estratégia de mudança pode ser gradualista – mas com pleno conhecimento do destino a que se pretende chegar: uma educação verdadeiramente nova, não uma educação velha e remendada
Exemplo: Jeff Bezos e a Amazon• Livrarias não usavam tecnologia• Passaram a usar tecnologia para gestão interna • Passaram a usar a tecnologia para anunciar • Passaram a usar a tecnologia para distribuir (vender)
. . . . . . . . PASSOU DE REFORMA PARA TRANSFORMAÇÃO• As livrarias passaram a usar a tecnologia para se tornarem virtuais • Passaram a usar a tecnologia para serem proativas na venda • Passaram a vender (e alugar) virtualmente livros virtuais • Passaram a atuar como editoras (fazer do consumidor um produtor)• Passaram a vender (e alugar) quase qualquer coisa (não mais livraria!)
E na Educação? • Vamos mudar o ambiente de aprendizagem da escola para o mundo (vide LDB-EN), através das redes sociais (Ivan Illich)? • Vamos mudar o agente educacional do professor atual para diversos outros profissionais (ou mesmo não profissionais) – horizontal learning? • Vamos mudar o foco do ensino para a aprendizagem? • Vamos mudar o que entendemos por currículo de aquilo que deve ser ensinado pelo professor para aquilo que deve ser aprendido pelo aluno, em função de seu projeto de vida?• Vamos mudar o foco de informações disciplinares para competências, valores, criatividade, sensibilidade?• Vamos mudar a forma de avaliar para a observação, a interação e o diálogo, em vez de testes, provas e exames?
É preciso decidir• Se a gente quer realmente mudar, inovar, transformar, quebrar o paradigma, buscar uma educação nova, de verdade, ou• Se a gente quer meramente dar uma “guaribada” na velha escola, "colocar remendos em odres velhos"…
O principal obstáculo •O principal obstáculo somos nós, os professores• Apesar de um discurso mudancista e reformador, às vezes até revolucionário, nosso mindset é, no fundo, conservador•O que esperar de quem, em sua maioria, enxerga seu ofício como sendo preservar e transmitir de uma geração para a outra aquilo a que dá o nome de "conhecimento social e historicamente construído", o legado cultural do passado? • Se nós, professores, não estivermos na ponta de lança da mudança, a escola não mudará – mas a educação passará a ser realizada sem a escola e sem nós • A questão é se queremos ser partícipes da construção do futuro ou se vamos defender a tese de que "ninguém mexe no que fazemos"…
Eduardo Chaves
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