durkheim, emilie - educação e sociologia
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8/10/2019 Durkheim, Emilie - Educação e Sociologia
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Esta e em grandes linhas , a obra pedag6gica de Durkheim. Para os
educadores , ela oferece uma doutrina original e vigorosa , envolven-do os principais problemas pedag6gicos. Para os soci610gos , ela es-
clarece as o n e p ~ o e sque Durkheim expos em outras obras so-bre alguns pontos essenciais: rela90es entre 0 indivfduo e a socie-dade entre a ciencia e a pratica a natureza da moralidade e a do
entendimento. Sejam educadores ou soci610gos , muitos eram os
que aguardavam a publica9ao desta importante obra.
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vendos@vozes.com.br
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Qual a relalfao entre Sociologia eEducalfao? A oportuna e d i ~ odesteIivro esclarece a importantecontrlbullfao desta obra de EmileDurkheim para 0 esclarecimento daverdadelra natureza da e d u c ~ o
como fato eminentemente social.Para estabeiecer fronteiras com a
Biologia e com a Psicologia ,Durkheim pretende estudar as fatosda vida moral median te urna cil nciapositlva , a Ciencia da Moral Pordiscordar dos auto res socialistas epor dlscordar da dialetica , a suaproposta e a de o n c i l i a ~ a oentreciencia e moral; para ele, soaparenternente contraditorias. Osfatos morais sao fatos socia spassiveis de o b s e r v ~ o descrilfao eclasslficalfao , para se chegar as leisgerais que os exp/iquem. Se aliberdade implica n e g ~ ode uma leideterminada pela sociedade , ela eum obstaculo para a r e a l i z a ~ a odaciencia positiva, devendo ser negada.Nesse contexto, a EducaC;aodesempenha papel preponderantepor constltuir-se, tai como a moral,um fato social. Sendo sua naturezaeminentemente social e repousandosobre a base comum de fatos morais ,a Educalfao varia de sociedade parasociedade , uma vez que cada umaconstitui a especificidade na qual seforma , para seu uso, urn certo tipoideal de homem. Esse ideal e 0 e/xoe d u c t i v ~mediante qual asociedade prepara a c r i a n ~ a
instaurando , pela educac;ao , ascondic;oes ideals de sua existencia. Aeducactao e vista, entao, como formade civllizar 0 ser egoista e antlssocial
que exlste nac r i a n ~ a
Atraves daeducac;ao da crianc;a , a sociedadecria e reproduz as c o n d i ~ o e sde suapropria existencia .
Franc/se a Eleodora Santos S e ve rino
Unis a ntos
E OUCA<;:AO E SO C IOLOGI
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COLE<;AO ' rEXTOS F UN DANTES DE E O UCAG AO
C o o r d e J n d 0 1 ~Anttmio Joaqu im Severino
- A mUlICo turbulenta - Es/udo s sobre os retardame1JlO Se OJ olloma/ins do desenvo/vimentomotor emelita/H e nri WallonA reprodufrio - Elemelllos para ullIa teoria do sistema de CflsitJo
Pi erre Buurcli e u e Je an- C laude P asseron- 0 /wme , com um mundo estilha((J(/()
A R LuriaDo a/o no pe1J.sametJlO - Ell saio de psic%gia comparaH en r i WallonDe 1lIogistroSamo Agost inho
- E p eriilld a e r:duco{lloJohn Dewey
- Psicogcllese e hist6ria das dindusJea n Pi agcc c Rolando GarciaEduca{iio e Soci gja
Emilc D urkheim
Edu(,'{t(.'(70 pam uma .waedod e em trrtmjonna{iioW II. Kilpatric k
Dudos Interna c ionai s de a t a o g u ~ a ona Publjcac;ao e II J)
Ca mara Hr as il e ira do Livro . SP . Br a sil)
Du r kheim, Emile, 1858-1917.Educa9uo c Socio logia / Em ile Durkheim;
rradu930 de Stephania Matou sek. - Pet r6polis , RJ:Vozes , 2011 - (Co\e9ao Texto s F'undantes de Educ a930).
Titu lo orig ina l: Educarion et soc iulogieIS BN 978-85-326-2 46 3-5
1 Sociologia educacion3 r T itu lo
10- 119 68
in dIce s para cata logo Sls tematl cu:1 Soc iulogia ambiental 306 .4 3
CDD-3 06.43
EM ILE DURI<HEI M
EOUCAC:AO E SOC10LOG1A
Traduo;ao de Stephani a Matousek
b EDITORAY VOlES
Petro p o lis
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Direiw s de p u b li c ~ oem lingua porrugllesa:© 2011, Editora Voz es L tda.
R ua F re i L UIs, 10025689-900 Perr6po lis, RJ
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Bra s il
Titulo o riginal frances: EducatiON et soci%J ,ie
Todo s os direit os re serva dos. Nenhuma parte desta ubr<l poderaser rcpro<.iu zida Oll transmitida por q ual q uer forma c/ou
quaisqller meios (eletronico o u mccanico, in clu indu for.oc6piac g r a v a ~ a oo u arq uivada ern q ualquer siscema ou banco de dados
sc m pcrmissao esc rita da Ed ito ra.
Dirctor editorialFrei Am6nio Moser
EditoresAJ in e dos Sa ntos Carne iro
Jos6 Maria da Si lvaI .fd io P eret ti
Marilac Loraine Ol eniki
Scc retano executivo10ao Batista Kreuch
Editortlp'io: Frci Andre Lu i z da Rocha H enriq uesPl vjeto gnffico: AG.SR Desen v. Gdfic o
Capo: Maria e rnanda d e Novaes
ISBN 978 -85-326-2463-5 edi,ao br asileira)IS BN 2- 13-055329-X cdi,ao francesa)
Edicado con forme 0 novo acordo ortografi co .
Esre liv ro foi composto e imp resso pe la Editora Vozes L[ d a.Ru a Frci Lu i s, 100 - P etr6po lis, RJ - llra s il - CE P 25689 -900
Caixa P oStal 90023 - TeL (24) 2233-9000Fax: (24) 22.11-46 76
S U RlO
AjJrescl1tO(iio ria co/celio, 7
Antonio Joaqu im Severino
[f/trodup]o: A obra peda g6gica de DurNteim 9
Prof. P aul Fallc onnet
A e d u c a ~ i l o ,sua nature za e seu papel, 43
1.1 As defini.;;oes da educa9ao: exa mc crlrico, 43
1.2 O e f i n i~ l oda e d u c ~ o 49
1.3 Consequencia da de fi niyao ante rior:
can ttee so c ial da educa9ao, 54
1,4 0 p ape l do Estado em m ater ia d e E d l l e a ~ a o ,61
1.5 Pod e r d a e du e J91io: meio s de a ~ a o ,65
2 N ature za e metodo d. Pe d agog ia, 75
3 Pedago g ia e Sociologia, 97
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APRESENTAC;AO DA COLEC;AO
A hist6ria da cultura ocidental revela-nos que d u c ~ oe filo
sofia sempre estiveram juntas e pr6ximas numa r e l ~ ode vfn
culo intrfnseco. A filosofia sempre se constituiu vinculada a uma
imen9ao pedagogica formativa do humano. E a educa9ao embo-
fa se expressando como uma praxis social nunca deixou de refc
fi r-se a fundamentos filos6ficos mesmo quando fazia dcles uma
ut iliz avao puramente ideologica . Por isso mesmo a grande maio
ria dos pensadores que construfram a culrura ocidcntal scmpre
registrou essa produ9ao tc6rica em tcxtos dircta ou indircramen
te relacionados a rcmatica cducacional discurindo seja aspectos
epistcmologi cos. axiol6gicos ou antropol6gicos da educav3.o.
Estc testcmunho da hist6ria ja e suficiente para demonstrar
o quanto e necessaria ainda hoje manter vivo e atuante esse
vinculo entre a ViS3 filos6fica e a intenC;30 pedag6gica. Vale di
zer que e extremamente rele vante e imprescindivel a formaC;30filos6fica do educador. N o enmnro a experiencia cotidiana reve-
la ainda que em nossa cultura no que concerne a ormaC;30 e aaruaC;3o desses profissionais ocorre separaC;3o muito acentuada
entre a filosofia enquanto fundamento te6rico do saber e do
agir e a educaC;3o enquanto saber ou pratica concretos. E evi
dente que essa pratica traz implicitos seus fundamentos filos6fi
cos sem que deles tenha clara consciencia 0 educador.
Nao hi duvida de qu e al6m das deficiencias pedag6gicas e
curriculares do pr6prio processo de formac;ao desses profissio
nais tambem a falta de mediac;oes e recursos culrurais dificulta
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8 Cole r ao Textos Fundantes de Educar;ao
muito a apropria9ao, por parte deles, desses elemeoms que daD
conta da intima e relevante vincuia9ao da educa y30 com a filo
sofia. Oaf a razao de ser desta cole9ao destinada a reeditar textos
do pensamento filos6fico-educacional qu e , por variadas raz6es,
acabam se esgotando e tornando-se inacessiveis as novas gera-9ues de estudantes e profissionais da area. 0 objetivo desra co
icr;3 o sera, pois, 0 de coiocar ao alcance dos estudiosos os textos
fundamentais da rcftcx o filos6fico-educacional desenvolvida
por pensadores significativos que contribufram espccificamente
para a compreensao filos6fica do processo educacional, ao lon
go de nossa hist6ria cultural. Busca-se assim toTnaf permanente
urn precioso acervo de estudos de diversos campos cientfficos,
de alcance abrangente para a discussao da problematica educa
cional, dada a intima vinculavao entre a educayao e as cicncias
humanas em geral.AtJtotJio J Severino
Coordenador da cole ao
INTRODUC;:AO
A OBRA PEDAGOG1CA
DE DURKHE1M
Ao longo de sua vida, Uurkheim ensinou a Pedagogia e a
Sociologia ao mesmo tempo. Na Faculdade de Letras de Bor
deaux, de 1887 a 1902, ele ministrou uma hora de aula de Peda
gogia par semana. Os ouvintes eram, em sua maioria, rnembros
do Ensino Primario. Na Sorbonne foi na cadeira de Ciencia daEducor io que em 1902, ele supriu a vaga de Ferdinand Buis
son, a qual e passou a ocupar definitivamente a partir de 1906.
Ate a sua morte, e reservou aPedagogia pclo menos urn terc;o,
e muitas vezes dois terc;os, dessas aulas: sess5es pllblicas, con
ferencias para os membros do Ensino Primario, curso para os
alunos da Escola Normal Superior. Esta obra pedag6gica pcr
maneee quase toda inedita. Scm duvida, nenhum dos seus ou
vintes conseguiu abranger toda a sua extensao. Gostarfamos de
apresenta-Ia aqui brevemente.
Durkheim nao dividiu 0 seu tempo e nem 0 seu pensamen
to entre duas atividades distintas, ligadas uma a outra de modo
acid ental. E pelo seu aspecro de faro social que ele aborda a
educa930: sua doutrina da educavao e urn elemenro esseneial de
sua Sociologia. Soci6Jogo, [diz eIe,] e sobretudo enquanro soci6-
logo que falarei a voces sobre educac;ao. Alias , nao acredito me
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10 Coler;ao Textos Fundantes de E d u c a ~ a o
expo r aver e most rar as cai sas por lima pe r specriva deform ado ra
ao pr ocede r assirn, pai s tenho ce rt ez a de qu e, ao cOI1mirio, nao
ex iste metod o mai s apto a ressaltar a ve rdad eira natureza das
ca isas (p. 98), A ed uca c;ao e alga eminentemente soc ial.
A observac;ao pode prov a-lo. Antes de tu d a, e m toda soc ie
dade, ha tanta s ed uca90e s especfficas quanto meios sociai s di
fe rentes. E, me smo em soc iedades igualinirias Co mo as no ssas,
q ue re ndem a e liminar as di f e renc;as inj ustas. a cducac;ao v a
ria , e deve n e c ~ s s a r a e n [e va r ia r, de ac ordo com as profi ssocs .
Scm duvida, wd as cs tas cduc alYocs cspccificas repOlIsam sab re
uma hase comum. Porcm, csta c ducac;ao comu m vari a de lima
socieda de para ourra. Cada soci cdade a lim e nca urn ceno id ea l
hu m an o. E esre id ea l qu e e 0 polo da eduea,ao (p. 53). Para
ca ua soc icuad e, a ed ucar;ao e a rn e ia pelo qual e la prepar a nac o r a ~ a odas criant;a s as condiGo es essenciais de su a pr6pri a ex is
tcn c ia . Assim , cada tipo d e povo po ss ui um a educas;ao qu e Ihe
6 propria e qu e pade detini-Io ao me smo tI[U lo que a sua orga ni-
7.a,ao moral, p o litica e rel igiosa (p. 104). A obse rva,a o dos bt o s
cond u z, portan w, a seg uinr e definis;ao: A educas;ao e a a ~ a a
ex e rcida pela s geras;:oes ad ul tas so br e aquela s que ainda nao estao ITIa[Uras para a v ida social. Ela re m coma abje ti vo suscitar
e desenvolver na c r i a n ~ aurn certa numera d e est ados ffsico s,
intelectuais e mor ais exig id as tanto pelo conjunro da sociedade
polft ica qu anto pelo m e io especifico ao qual e la esta d es tin ada
e m particular (p. 53). E m sum a, a e d u c a ~ a oe uma s o c l z a ~ a o
da gera, ao jovem (cf. p . 53, 10 9).
Mas por que h a d e ser assim necessariamente? Porque em
cada urn d e nos, pode -se di ze r, ex ist e m doi s se re s qu e, em
bora se mo strem in se p arave is - a HaO ser por a b s t r a ~ a o- , nao
dcixam de ser distintos. Um e co mpo sto de todas os estados
Educar;ao e Sociologia
mentai s que dizem re speito a pena s a nos me s mo s e aos acon
tecirnenro s ua nossa vida pessoal: eo que sc poderia chamar de
se r indi vidua l. 0 {)utrO e urn siste m a de id e ias, sentime ntos e
habitos que ex prim e m em n6s nao a nos sa personalidade , mas
sim 0 gr up o ou os gru po s diferentes do s quais fazemos parte,
tais co m o as c re nr;as rcli giosas, as c r e n ~ a se pratica s morais, ast r a d i ~ o e snac ionais au profissionais e as o pini6e s co let ivas de
todD tipo. Es re conjulltO for ma 0 se r soc ia l. Const itui r es te se r
em cada urn de n6s e 0 objetivo da educa,ao (p. 53·54; 109).
Scm a c i v i l iz a ~a o 0 ho m e m se ria apenas urn anim a l. Foi a[(a
ves da c o op e r a ~ a oe da tradis:ao sociais q ue 0 homem se tar
nou h o m cm . Moralidade s, lin guag e ns. reli gi6es e cienc ias sa o
obras colc t ivas, coisas soc ia is. Ora, e atraves da moralidad e que
o homcm cs tabel ece a f a r~ a d e vontad c dcntro de si, dominan
do 0 d es c jo; c a lingua ge m que 0 eleva ac im a da s e n s a ~ a opura;
e primeiro nas reli gioes e d e poi s na s c ic ncia s qu e se e labo ra m
as n o ~ e scarucais das qu a is e feita a in t el ige ncia propria men
te hu m ana. Estc ser soc ial [ .. J n ao se cnco n[(a ja pronto na
co nstituiyao primitiva do homem [ . .J Foi a pr 6pria soc ie dade
qu e , a m e dida q ue ia se fo rm ando e se co nsolida ndo, rirau doseu seio estas gra nd es furc;as marais [ .. J Ao entrar na vida. a
crians;a rraz ap e na s a sua natureza d e in d ivfduo. Portanto, a
cada nova ge rayao , a soc iedade se enco ntra e m p re s en ~ ade
uma tabula quase rasa so bre a qu al e la deve eo ns tr uir nova
mente. f: preciso que, pclos meios mais capidos. ci a s u bstitua
o se r egaisra e associal que aca ba de na sce r par urn Hlt ro ca pa z
de levar lima vi d a mor a l e social. Esta e a ohra da c d u c a ~ a o
[ J (p . 54, 110 ). A hcredi ta riedade t ransmite os mecanismos
instintivo s que ga rantcm a vida orga nica , e, no s a nimais que
vive m ern soc iedadc, uma vida socia l e bastantc simp les. Mas
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2 Cote\ao Textos Fundantes de Educ3\ao
ela nao ba sta para transmitir as habilidad es que a vida social do
homcm supoe , habilidade s co mplexa s demais para poderem
mate ri a liza r-se so b a forma de predisposic;oes organicas" (p.
56, 111). Por serem sociais, as caracrerisricas csp ecf ficas que
disdnguem 0 hom cm sao uansmitidas por um a v ia soc ial: ae d u c ~a o
Para a mente aco s tumada a enxergar as ca isas por esra pers
pectiva, esta c o n c e p ~ a osoc iol6 gica da natur eza e do pape d a
ed ucac;ao sc imp6e co mo uma COn5[3[a<;ao 6bv ia. Durkheim a
considera como urn "axioma fundamental " p. 99). Mais CX
tamenre. digamos qu e e uma vc rdade comprovada pcl a cx pe
riencia. Quando no s po sicionamo s como hi sror iad orcs, vcmos
c1aramem e que a educar;ao em Espana era a civilizacr ao lacedemtmia crianclo espartanos para a p6li s lacedemtmia; que ae d u c a ~ a oateniense, nos temp os d e P e ricles, e ra a civilizar;ao
arc niens e c riando homens con formes ao ripo ideal d e ho mem ,
ral como Arenas 0 conccbia naqu e la e poca , para a p61is arenien
se e, ao m es ma tempo , para a humanidade, tal como Arenas a
rc presentava a partir d e s uas r e l ~ 6 e scom cIa. Basta antecipar
o futuro para comprcender como os historiad ores int e rpr etaeao
a e d u c a~ a ofrance sa no sec ulo XX; mesmo nas sua s tentat ivas
mais audaciosamcm e idea lista s e humanit< l rias, ela e produto
cia i v z a ~ a ofranc esa; e la con siste em tran smit i-Ia; enfim, ela
busca ceiar homens con forme s ao tipu ideal de hom em ao qual
esta civilizar;ao aspira , cr iar homen s para a Franr;a, e tHmbem
para a hum an idade , tal co mo a Franr;a a represenra a partir desuas rela r;oes Com ela.
No enranto, csta verclade evidente foi , e m geraJ, ignurada,so br eru do durante os ultimos s6c ulos. Fil6sofos e pedagugos
se co nc e rt am par a considerar a Ed ucar;au como uma coisa emi-
EduC3\ao e Sociologia 13
ne ntemente individual. Para Kant, escr eve Dllrkhcim , tanto
para Kant quanta para Mill, tanto para Herbarr q uanta p araSpencer, 0 o bjeti vo da educac,;:ao sc ria antes de rudo rea liza rem cada individuo os atributos cunstitutivos cia es pcc ie humana em gera J e levando-os, pore m , ao seu mais a lto grau de
perfeic,;:ao (p . 995.). Co mu d o, este concerto d e opinioes naoe quival e a lima presu ny30 de ver da de. l sto porqu c sa bem osque a Filosofia ciassica quas e sem pre esq u eceu de:; consideraro hom em real de lima epoca e de urn p ais, 0 uni co co ncr c
tamente obse rvave l, para especul ar sobre a natur eza humanauniversal , produto arb itrario de uma abstrar;ao fcita, sem m etodD , a p art ir d e urn numero bern re s trito d e amostras hum ana s. Atualmcnte, admire-se em ge ral que 0 sell caratc r abstratOdiswrccu , em larga medida, a es pecula c ;:ao politica do seculoXVIII, por exe mp lo: individualista e m cxcess o, desatada d emais da hi s«)r ia , ela frequentemcnte legife ra par a urn homem
de cOTIven9ao, ind ep e ndence de qualqu e r meio social definido. 0 pro gresso q ue, no seculo X IX , as cie ncia s poHticas realiza ra m , so b a inflllencia da hisr6ria e d as filosofias in spirad asna hist6ria , progr esso e m cuja direyao se orientam, no final d osec ulo , wcias as ciencias mor ais, cleve, pur sua vez, ser rcaliza
do pel a Filosofia da E d u c a ~ i i o
A ed ucatyao c coisa so cial: isw qucr tiizer qu e e la co loca a
crianr;a em co nta ta com urna determinada socie dad e, e nao com
a soc ieda d e in genere Se esta f i r ma ~ a ofor ve rdade ira, e la nao
so ment e cleve comandar a reflexao especlilariva sobre a edu
cat;;ao, como tambem exe rcer influ e ncia so bre a pr6pria ativi
clade educa riva . Em real idad e, esta influ cncia 6 in contestivel;
em dire:;iw, e la e com freqllencia contestaua. Vamos examinaralgumas das resi st c ilc ias que a f i rm ~ ode Durkhei 111 provoca
quandu exp ressa.
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14 C o l e ~ a oTextos undantes de E d u c a ~ a o
Primciro se re p e rcute a p o s i ~ a oque sc po d e chamar de unl
vcrsitaria ou humanista. E la acusa a Sociologia de incentivar um
nacionali smo esrreiw) e rnesmo de favorecer as interesses do
Estado, e, mais ainda, dos de urn reg im e poifticQ , em detrimen-
to do s da humanid ade. Durant e a guerra, com frequencia upu
seram a Educa9ao germanica e a latina: a primeira, puramcntc
nacional e visando somcme 0 be n eficia do E smd u; e, Csta ulti-
ma, liberal e humana. Scm duvida, disserarn, a e d l l c a ~ a ocduca a
crian9a para a parria , ma s tOlllbim para a humanidadc. Em SlI m a,
de diversas formas, estabe lec e-se urn antagonismo entre as se
guintes refmos: educas:ao soc ial , educat;:ao hum a na , sociedade e
humanidadc. Ora, 0 pensamento de Durkheim plana bem aci
ma de obje<r 0es deste ge nero . Enquanto educador, e le nunCatev e a i n t e n~ a ode fazer os fins nacionais preval ecere m sab re os
fins humanos. Oizer que a e d u c a ~ a oe coisa social nao sig nific a
formular urn progr am a de E d u c a ~ a oma s s im constatar LIm faro.
Durkheim su ste nt a este faro como vc rdad e iro , e m qualquer lu
gar, seja qual for a tendencia predominant e, aqui au la. cos
mop olitismo nao e menos soc ial do qu e 0 nacionalismo. Exis
rem civ ilizar;6es qu e incitam 0 cdw.:ador a e levar a patria acima
de tudo, olltras que 0 incitam a subor din ar os fins nacionais aos
humanos, au melhor, a harmoniza - Ios. 0 ideal universalista csta
ligado a u m a v z a ~ a osinrcr ica que tende a combinar todas as
outras. Alias, no mundo conremporaneo, cada n a ~ a oaprcsenf 0 seu cosmopo liti smo, 0 se u humanismo proprio, no qual se
pode reconhecer 0 seu rem pe ram enro. De raw, qual e para n6 s,
france ses do sec ulo XX, 0 va lor r e lat ivo dos dev e res pcrante a
humanidade e 0 do s perantc a parria ? Como ele s pod em entrarem conflito? Como se pode eoncilia-Ios? Nobres e dificeis ques
toes, as quais 0 soc iulo go nao resolv e em proveiro do nacionalis -
E d u c a ~ a oe Sociologia 15
m ~ definindo , como e le 0 faz, a educar;ao. Quando elc abordar
estes problemas, suas maos estarao livres. Reconhec e r 0 carater
soc ial qu e rcalmenre pertencc a educar;ao nao diz nada sobre a
maneira como scrao ana lisadas as f o r ~ a smorais que orientam 0
cducador em direr;6es diver sas ou opostas.
A mes ma res posta vale contra as o b j e ~ 6 e sindividualisras.
Durkheirn define a educa.:;ao co mo uma socializa9ao da crianr;a.
Mas, entaO, podc-se pensar, 0 que e feiro do valor da pe ssoa
humana , da iniciativa , da responsabilidade , do a p e r f e i ~ o a m e n t
proprios do indivfduo? Arraigou-sc taO profundamente 0 habito
de opor a soc iedade c () individuo que toda doutrina que use fre
quentcmente a palavra sociedade parece sacrificar 0 individuo.
Aqui, mais uma vez, ha urn equivac<.>. Se ja exist iu urn homem
que foi um individua, uma pe sso a, com tudo 0 qu e < > rermo im
pl ica de originalidade cr iadora e resi srencia aos arrebaramentos
colet ivos, este homem foi Durkheim. E a sua doutrina moral
corresponde tanto ao sell proprio cad,[Cr que nao se ri a paradoxal
dar a esta dourrina 0 nome de individualismo. Seu primciro livro,
A divisiio do trobalho social propoe [Oda uma filosofia da hi st6 ria
na qual a genese, a d i fe r e n c i a ~ a oe a l i b e r r a ~ a odo individuo sur
ge m como 0 t r a ~ omais mar ca me do progresso da c v i l i z a ~ a o ;ae x a l t a ~ a oda pe sso a humana, como 0 se u resultado atua ' E esta
filosofia da historia culmin a na seguinte rcgra moral: dcstaque-
se, seja uma pessoa. Como, entao, tal dautrina pod e ria enxcrgar
na educa.:;ao urn proc esso qualquer de d c sp e r s o n a l i z a ~ a o ?Se
criar uma pessoa constitui 3tualmente a objctivo da e d u c a ~ a oe
se educar consiste em socializar, vamos, porranro , concluir que
segundo Durkheim 6 possfvcl individu alizar soc iali za ndo. Este
e no rundo , } se u p ensa mcnto. Po d e -sc discurir sa bre a ma
neira como cle concebe a c d u c a ~ a oda individualid ad e . Poc em
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16 Coll: \30Textos Fundantes de d u c a ~ a o
sua definic;ao de educa9aO provem de urn pe nsador qu e, em
ncn hum mom ento , ignora ou sube stima 0 papc l l l 0 valor do
indi vfduo . E e preciso dizer aos soc i61ogos qu e e na analise da
e du caca o d e Uurkh e im qu e ele s pc rceb e rao me lhor a essencia
do se u pen sa menco so bre as rcJa90es da sociedade e do in divi
du o e 0 papel do s indivfduos d c e lite no pro gresso social.
Por fim, em nom e do idea l, pode -se tambem emergir uma
res istencia ao rea lismo d e Durkh eim . El e ja [oi acusado de hu
milhar a ra zao c des ale ntar 0 es foryo, como se ele fizesse a apolo
g ia sistemat ica de como e a realidade present e e permane cessc
indiferente a co mo e la deve ser Para en tender co mo, pelo con
(rario , estc rcali smo sociol6gico lhe parec e a pto a diri gir a a98oO
veja mo s qu e ide ia ele nutria a respeito da P edagogia.
Todo 0 ensi no de Durkh ei m sa ti sfa z uma n ecess idad e pro
funda do se ll int electo, uma exige ncia esscncia l impo sta pelo
proprio espirito cientifico. Durkheim sente uma verdadeira
rcpu lsa com relayao as con stru 9oes arbitrarias e aos pro gram as
de 39ao qu e tradu ze m somente as tcnd e ncias de sells autores.Rle precisa refletir sa bre urn dado uma rea lidade observavel, 0
que ele chama de coisa. Considcrar as fato s soc iais como coisasconst itui a primei ra regra do se u metodo. Quando tomava a pa
lav ra s obre assumos relativos a mora l, e le primeiro apresentava
fatos, coisas; e as se us proprio s gestos indi cavam qu e , e mb ora
se tcatasse de coisas espirituais, nao materiai s, ele nao se limita
va a a nal isar conce itos , mas aprcendia, mO trava e manipulava
rca lidades. A educa 9ao c uma co isa, ou, em outras palavras, urn
faro. Em rea lidad e. em toda s as socie dad es, e le observa umaedueavao. o nf o rm ement e a rradivoes, h1biro s, regr as exp Hci-
EdUC<I\30e Sociologia 17
as au impllcita s. em urn d ct c rminado cont exto de insritui 90cS,
com uma aparelhagem propri a, sob a influ en c ia de idei as c se n
timento s co lcri vos, na Fran9a, no seculo XX, educadorcs edll , ~ . ; l m ,e c r i n ~ ssao cdu ca da s. Tuda isto pode se c dc scr ito, anali
sado e expli cado. A 110910 de C iencia da Educavao e porta nw ,
uma idcia completamente clara. Ela de se mp cnha 0 importante
p pd de conhecer e compreender a rea lidadc. Nao se con funde
nem com a at ivid ade e fe ti va do ed ucador, nem m esmo co m a
Pedagogia , qu e v isa a dirigir es ra ati vidad c. A Educa9ao e se u
objero: por es[a afirmayao, dev emos cntende r nao que ela tenda
aDs mesm os fins que a Educat;:ao, mas, pelo cOI1u.lrio , qu e e la a
su poe , v isco que a ob se rva .
Durkh eim nao contest a de form a algllma que esta cit nciaseja, em larga medida, de ordem psicol6g ica. Somente a Psi
coiogia, baseada na Biolo gia, ampliada p ela Patolo g ia , permi te
compreender por qu e a cri anc;a hllmana pr ec isa de ed ucac;ao,
em que ela se distingue do adu lro, como se formam e cvo Juem
os sells sent i dos, memori a, faculdades d e associar;;ao e de atcn
C;ao, ima gina9ao, pensam e nto abstrato, linguage m , sent im ento s,
carater, for9a de von t ade. A psicolog ia da criang3, liga da a do
homem adlliw c co mpJ etada pela psico log ia propria do educa
dor, constitui uma das vias pe las quais a ciencia pode abo rdar 0
estudo da edllca9ao. Esta ideia e aceita universal ment e.
Contudo, a Psieolo g ia e apen as uma d as duas vias de acesso
poss lvei s. Quem a seg uir exclusiva mente se ex poni a abordar
SOrnente um a das duas faces do fato educa 9ao. Isto porqu e, obv iamente , a PsicoJogia e in com petent e quando se deve dize r
nao mai s 0 que ea crianca qlle rece be eduCa9ao, slla man e ira especifica de ass imila-Ia e reagir a ela, mas sim a pr6pria n atU reza
da civilizar; ao quc a educacao rransmit e e a aparelhagem aqual
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18 Coler;ao xtos Fundantes de E d u c a ~ a o
ela reeoere para tran s mitj-Ia. A Fran<;a do secu lo XX dispensa
quarro E nsin os : 0 P rima rio, 0 Secu ndariu , 0 S up erio r e 0 T ec n i-
co , cujas reJa<;oes nao sao as mes mas que na Alemanha , In glater
fa a u E stados Un idos. Seu E nsino Secundario se apo ia no fra n
ces, ln g uas chlss icas, IIng uas vivas, hisr6ria c c ie nc ias; p o r vo lta
d e 1600, c lc sc apoiava exclusiva m e nt e no latim c no grego; na
Id ade Media , na dia i6rica. 0 nosso en sino ab rc cspa<;o para 0
metoda inwirivo c exper imental , 0 do s Escados Un ioo s mais
ainda, e nquanto que a Ed uca<;ao medie val e hum an ista era ex
clusivamente livresca. Ora, e claro que as in st itui <;6es esco lares,
as di scip lin as e as meto dos sao faws sociais. 0 pr 6p rio li vro 6 urn
fata socia l; 0 cu lta do li vro e 0 declfnio de ste c ul ta dep e ndcm de
causas soc ia is. E d iffcil ver como a P sicolo g ia poderia concebclas. A educat;ao fisica, moral e inteiectual qu e Ufna socie dad e
ofe rece e m um mom e n tO de sua hist6ria e manife s tament e d a
cu mp etencia da Soc io log ia. P ara eswdar a e d u c a ~ a ode forma
cie nt i fica, co mo urn fato dado a obse rva93.0 a Soe iolog ia deve
colaborar com a Psieologia. So b u rn do s se us doi s aspectos, a C i
encia da E du e a ~ a oe uma cienc ia sociol6g ica. Era a partir desta
perspectiva que Durkheim a abordava.
Levado pela 16gica interna de seu pr6prio pensamemo , ele
estava ahrindo um novo ca minho, sendo 0 pre c ursor, e n ao 0
imitador, de dourrinas atua lm e nte bastante em yoga, as qua is a
d e le ultr apassa em clareza e fecundidade. Alemanha er iou 0
te rm o Sozialpdtlagogik, as Es tados U nido s 0 te r mo Educatiol101
Sociology, que maream indubitavelmente a mesma tendeneia 1•
1. NATORp, Paul. SozialfJiida gogi Th eoric der Will enserzieh un g auf derGrundlage d e r Gemeinschaf(. 3. ed. S ru ttg:m: Fromm a nn. 1909 [ 1. cd. ,1899]. Cf. as d e f in ~ o c sda F.r1umliona/ Soci gJ ' em MONROE , Pa ul. Acyclopedia o F.dlJC Jliolt. ' l olno \ ~ Nova York: Macmillan, 19 11 , p. 361.
Educat;'ao e ociologia 19
Por m , sob estas palavra s com freq ue ncia ainda sc misturam
coisas bern di srim as. Ha, por exem plo , de urn lado , uma orient a~ a omais ou men os incerta no sent ido do es tu d o soc iol6g ico da
educafYao, tal como Ourkh e im a eonce be, e, do Olltro lad o um
siste ma d e E d u c a ~ a oque se preocupa mais espec ific a me nt e em
pr e p ara r 0 hom em para a vi da soc ial, formar 0 cidadao: t ol -
blirgerliche E1Ziehullg, como Kcrschenste in er2 0 chama. A ideia
americana d e EdufX.Jti )/laiSociology se ap lica de maneira conf usa
ao estudo socio l6g ico da c d u c a ~ a oe, ao mesmo tempo , a ntro
duc;:ao da Sociologia nas salas de au la co mo materia de ensino.
A Ciencia tia E du c a ~ a odefinida por Durkheim, e soc iol6 g ica,
em uma accp<;ao bem mai s clara do tenTIo.
Quanro ao qu e ele enrende por Pedagogia, nao e nem a at i-vidadc educativa propriarn eme dira, nem a ciencia especulativa
da c du c a ~ a o .Trara-se da r e a ~ a osis rem ,h ica desta iiltima so br e
a prim e ira efe jto de uma reflexao que bu sca, nos res ul tados da
Psico logia e da Soc io iogia, principio s para a conduta u reform a
da cducafYao. Assim concebida, a Pedagogia poue se r idealista,sem cair na utopia.
Que urn grande nurnero de pedagogos ilustres tcnha cedido
ao esplrito de sistema , atribufdo a ducac;:ao urn objctivo inaces
sfvcl ou arbitrariamenre eseolhido, proposw processos arrificiais,
Durkh eim n a ~ somenre naa 0 ne ga , como tambem no s previn e
melhor do que qualquer um sohrc 0 perigo desta c o n c e p ~ a o
Sociologia cambate aqui 0 inimigo que cia esta acoswmada a
encontrar: em tad os os domfnio s na moral, na politica e me s
mo na economia politica, 0 cstudo cient ifico das n s t i t u i ~ 6 e sfoi
2. KER SC HENSTEINER, Geor e;. Der BegTif/ der sloatsbiirgerlicitm E nt.ie-
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20 C o l e ~ a oTextos undantes de E d u c a ~ a o
prccedido por uma filosofia essencia lmem e mti/icialista que pre
tendia formular receitas para garantir aos indivfduos e aos povos
o maximo de felicidade, scm antes conhecer 0 bastante suas COI1
dit;:6es de ex isc8 ncia . Nada pode se c mais conwhio aos habitu s do
soci6 1ogo do que dizcr de entrada: ve jam como se cleve eclucar
as c r i a n ~ a s ,fazcndo tabula rasa cia educaifao que Ihcs 6 realmen-
ce oferecida. Estrmuras escolares, programas de c n si no, mewdos,
tradic;.ues, habiw s. rendencias, ideias e id ca is do s professores sao
faws, cujas origens e evolUl;oes a Pedagogia busca descobrir, lon
ge de pret e nd er mudar estes faws. A Educ3c;ao francesa e ex
trcmamente tradicional, pOlleo disposca a se encaixar nas formas
t6cnicas de merodos combinados; cia da im e nso credit o as facul
dades de intuic;:ao, taro, iniciativa dos professores; respeita a evo-1lJ;:ao livre da c r i a n ~ a ;e ate rcsulta, em grande parte, nao da as;ao
sistem:it ica dos professorcs, mas sim da a ~ a odifusa e involum aria
do meio. Tudo ism e urn fato, que apresenta causas e respo nd e.
grosse modo, as condis;ocs de exis tencia da socie dade franccsa.
Ponamo, a Pedagogia, in spirada na Sociologia, nao corre ) risco
de fazer a apologia de urn sistema duvidoso o u de recomendar
uma mecaltiz.tJ {iJo oa erian9a , que comprometeria ) se ll desenvol
vi memo espontanco. Assim se anulam as obje<;ocs de pensadores
eminentes, qu e se obstinam a opor d u c a ~ a oe Pedagogia, como
se refletir sobre a a ~ a oexerc ida s ignificas sc necessariamente se
condenar a dcfo rmar esra ac;:ao.
Entretanto nao se deve concluir que a rcflcxao ciendfica se ja
praticamcntc esteril e que 0 realismo prov cnha de urn espirito
conservador, que aceita pregui90samente tudo 0 que a realidade
aprese nta. Saber para prever e prover, ja dizia Augusto Comte
da ciencia positiva. De fatD, quanto mals bern eonhecemos a
natureza das eoisas, mais chances temos de utiliza-la com eficac ia.
E d u c a ~ a oe Sociologia 21
a educador e obriga do , por exem plo, a govcrnar a atCn9ao da
criarwa. Nin g uem pode ne gar que ele a govcrnara rnelhor se eo
nhecer a natureza dela mais exatamentc. A Psicologia aca rre ta,
porcanto, a pl j a ~ o e sprati cas, cujas regras para a Educa9aO sao
formuladas peJa Pedagogia. Da mesma forrna, a ciencia soc io
l6gica da educa y3.o rode aearretar a p l i c a~ 6 e spraticas. Em que
consiste a laic izayao da moralidade? Quais sao suas causas? De
o nde vern as resistcncias que ela pro voca? Que dificuldades a
edueavao moral deve veneer quando se dissocia da rciigiosa?
Problema manifestamente social e atual para as sociedaues con
temponin eas: como conte scar que urn estudo desinteressado so
bre ° me smo possa conduzir a formular regr as pedag6gica s, nas
quais 0 professor frances do secu lo XX ganha ria em sc inspirarpara a sua pdtica educativa? As crises e conflitos sociais tern
causas, 0 que nao quer dizer que seja proibido bu sca r sardas e
remedios. As i ns t i t u i ~ 6 es nao sao nem abso lutam e nte ftexiveis
e nem absolutamente refratarias a toda m o d i f i c a ~ a odeliberada.
Adapta-las com prudencia aos seus pap6i s respectivos, ad apta
las umas as outras e cada uma dclas a c i v i l i z a ~ a ona qual se in
corporam constitui urn bclo campo de a ~ a opara uma politic
racional e, quando sc trata de i n s c i t u i ~ 6 e seduca tivas, para uma
pedagogia racional, ou seja, uma pedagogia que nao se ja nern
conservadora c ncm rcvolucionaria, eficaz dentro dos limite s em
que a a9ao dcl ibcrada do hOl'nem pod e ser eficaz .
Assim, 0 rcalismo e 0 idealismo pod em se conciliar. Os ideais
Sao realidadcs. Par exemplo , a F r a n ~ acontemporanea tern urn
ideal intclcetual; ela concebe um tipo ideal de inteligencia e
o propoc as c r i a n~ a s .Por e m, es te ide a l e com plexo e confuso.Os publiciscas, que pretendem exprimi-Io, em geral mOstram,
cada urn por sua vcz, apenas uma das faces, lim dos e lementos:
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22 o l e ~ oTextos Fundantes de Educar ao
elementos de origens , idade s e, por assim di ze r, o rient ac; oe s di
versas, elementos so lid arios, un s para com certas tendencias s o-
ciais, outros para com tend e ncia s diferent es au opo stas. passi
ve l [ratar es te ideal comp lexo como um a caisa, au sc ja, analisar
as se us componenrcs, det erminar sua genese, suas causas e as
necessi dad cs as quai s d e s co rre spond e m. Porem , este cswdo.
in ic ial me nt e des intcr cssado, e a melhor pre parac; ao para a esco-
ha que uma conscicncia scnsata pode desejar faze r en t re o s di
ve rsos programas d e ens ino co ncehfveis e as regras a segu ir p ara
aplicae 0 programa esco lhido. P odemo s dizer 0 m es ma, mutati s
mlllmldis sa bre a e du ca.yao mo ra l cas qu estues de detaIhe, assi m
co mo sobre problemas d e o rd e m mai s gera l. E nfim , a opiniao,
o leg is lado r, a admini stra9ao , a s pa is e os pro fesso res de ve m , arem po todo , fazer escolhas, sej a para re form a r profundamente
as in srirui\oes au faze-las funcionarem no co tidi ano. Ora , el e s
tr a balham numa mat eria res iste nte que nao sc uc ixa manipular
arbitrariamente: meio soci al , institlliyoes, habitos, tradiyoes e
tcndencias eoletivas. E nqu anto d ep e nd e r d a Soc iolo gia, a Pe-
dago g ia sera um a prep ara\ ao racio nal para es ras csco lha s.
Durkheim da va a maior imp ordi ncia, nao so mcntc enq uanto
in tc lcctua l, mas tamb em como ci dadao, a esra concc pc;ao racio
nalista da a9ao. Embora [ osse hosril it agira9ao re formi sta, que
pcrrurba sc m melhor ar nada , sobre rud o nas reformas negativas,
que dcsrroem se m propor algo novo , e le carregava a ac;ao nas
ve ias . No cnranto , par a que a a\ a o [o sse fert il, e le s us te nrava
q ue e la de ve ria envo lve r aqu ilo qu e e pa ss ivel , limitado, defi
nido, dcrer minado nas co ndi 9oes s ociai s em qu e e la se exercer.
D irigido a ed ucador es, 0 se u ensino peda g6g ico se mpre ap re-
se ntou urn cara,rer imediaramenre pr:1rieo. Absorvido em seus
outros trabalho s ele nao teve tempo de se invcs tir em pesqu isas
E d u c a ~ a oe Sociologia 23
pur am cnrc es pecular ivas so bre a eduea9ao. Em suas au las, os as-
s unto s sao abord ados de aeordo com 0 metodo cienrifico defi nid o
ha poueo. Por cm, a csc olha do s me smo s e dirada pelas difi euld a-
de s pd.tie as qu e 0 cducador publico encontra na F r a n ~ aconrem
poranea , e e a co nclu soes pcdag6gi cas Clue0
professorch e
ga.
Durkh eim deixou, eomp letamenre rcdi g ido, 0 ma nu SCfl to
de urn cu r so dividido em de zoito au las sa br e 0 ensino do moral
no Escola Pl im aria. Vamos perco rre r esta obra rapidam eorc. A
primeira au la e lim a introdUl,;ao so br e a mo ral laiea. Durkh ci m
define a rarefa m oral q u e in eumbe ao prof essor na Fran ya con
tcmpodinc a: para ele, trata- se de d ar um a e d u ca ~ a omor a l laica
e racion a lista. Esra laicizCl<;ao da mora lidade e determin ada por
todo 0 dcsenvolvimento hist6rico. M as e la e diffei . Na hi st6r ia
da civilizac;ao , a rcli g iao e a moralid ade se mpre estiver a m taO
inrimam e nrc li gad as que sua ne c essa ria di ssoe ia<;ao n ao poderia
Scr uma operac;ao s imples. Se nos contentar mo s em tirar to do
conteudo re lig ioso d a mor al idad e, aca baremo s murjland o-a. Isto
porqu e a rel ig iao cx pr;me , do seu modo, arraves d e lima ling uage m simb 6 lica , co isas ve rdad eiras. Nao se deve perd e r csras
verdades jun to co m os sfmbolo s qu e sao rejeirados; e prec iso
reeneonrr:1-l as, pro jeta ndo-as no plano do pensamento laico . Os
Sist emas raci o na listas, so bre tudo os nao m er afi sieos, e m geral
apr es e ntam um a im agem da moralid ade s implificad a d e ma is.
Ao se to rnar soc io l6gica, a analise moral pode fornecer uma base
raeional , n em re ligiosa e ne m mcrafl sica, para uma moralid ade
rao compl exa quanta a moralidad c rcli giosa rradicional, e inclu
sive mai s rica so b ce rtos aspecto s al6 m de chegar are as font es
da s fon a s mo ra is mai s c ncrget icas .
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24 Coler ao Textos Fundantes de Educar ao
As aulas seguintcs se divid em em du as partes b e rn distinta s
plano que ilu stra 0 qu e di sse mos s ab r e a co ntribui t;ao qu e, de
urn lado, a Sociologia e de outr O a P sicol ogia trazem a Peda-
gogia. primeira parte estuda a moralidad e propri am e nte dita ,
ou sc ja, a c i v z a ~ a omoral qu e a cducac;ao uansmirea
r i a n ~ a
trata- se de uma a na lise sociol 6g ica. A seg unda estuda a natur e
za da c r i a n ~ aque assimi lara csta moralidade: aqui a Psicologia
ocupa 0 primeiro pl ano.
As a im aulas que Durkh e im dedicou a nalise da moralidade
constituem 0 que d c legol d e mais completo sobre cste assun
to visto qu e s ua mOTte 0 in t e rro mpeu no mom e ntO e m que es
tav a redigindo, pa ra publicacrao ulterior , os prolc go m e no s de sua
Mora . Elas pod em se r comp aradas com as pagina s publicad asno ull etin de la Societe F rall{aise de P hilosophie sab re "A deter
minaryao do faw moral ", nas quais e1e nao d iseorre sabre de veres
diversos , mais sim so bre aspectos gerais da moralidad e. Em sua
obra, isw 6 equiva lente ao que os £1l6sofos chamam de Moral
Te6rica. E ntretan do, ° metod a que e1e apliea e inavador.
E fiei cmender como a Sociologia pode estudar 0 que de
faw
sao a famni a0
Estado, a propri edad e, 0co m
rata. Mas,quando se tram do bem e do dever, par ece que no s enconrramos
f<j ce a puro s cone eitos, e nau in sr irui y6es, e que se impue, en -
taD urn metOdo d e ana lise abstrata, ja que a ob se rvaryao e in a
plicavel. Ve ja m os a pe rspe c tiva pe la qual Durkh e im .borda a
assuntO. Scm duvid a a educa<;ao moral desempenha 0 papel d e
iniciar a erian ya aos diversos d cv e res e de suscitar , uma a uma,
virtudes es pecificas. Mas ela tambem desenvolve a aptidao ge
ral a moralidade e as d i s p o s i~ c sfundam e ntais encontradas na
raiz da vida mora l, a l6m d e const ituir n o esp irito da eriany a 0
agente moral, di sposco a tom ar inicia tivas, das qu ais d e pcnd e 0
Educac ao e Sociologia 25
progres so. Quais sao, de faw, na soc iedad c francesa con tempo-
ranea, os el e mento s do t c mp e ra mento mo ra l, cuja rea liza<;ao eo
objetivo ao qual dev e asp irar a educac; ao moral ge ral ? Podemos
des crever es tes elementos e compreender a sua natur eza e pa
pe l. Em su ma, e esta desc ric;ao qu e forma 0 conte udo das marai s
ditas reoricas. Ca da fi16sofo defi n e a sua maneira, estes elemen-
tOS fundam e ntais, m as mais con str uindo do que des crev e ndo .
Podemo s refaze r ° mes mo tr abalh o tom a nd o co mo ob je w nao
mais 0 no sso id ea l pessoal, ma s s im a ideal que perten ce de faro
a nossa civilizaC;iio. Desta form a ° estudo da e d u c a ~ a omoral
no s permi te apreend e r, e m mei o aos faw s as rca lidad cs as quais
correspondem os conceitos ba stant e absrraros qu e os fi16sofos
manipulam. Ele habilita a cienci a do s modo s c costum es a obse rvar 0 qu e e a maralidade , em seus aspectos mai s ge rais, poi s
na educac;ao, perce bemos a morali dade no m omenta e m que ela
se transmite e por consequencia, distingue-se com ma is clareza
da s con sc ien c ias indi viduai s em cu ja complexidade e la esc} ha
bitualmente e nvol vid a.
Durkh c im da enfase a tres e le mento s fundamentai s da n05-
sa moralidad e
:0
cs piriro de di scip lin a0
de ab negas;:ao e0
de au[Onamia. A titulo de cxem pl o, cabe mencionar 0 pl ano se g uid o
par Durkh c im para anali sa r a prim ei ro elemento. 0 espfri to d e
disc iplina Cao mesm o tempo a c iencia da e a s impati a pela regu
laridadc e limitas;:ao dos des e jo s. Ele impli ca 0 res peito da regra ,
que obrig a 0 indivfdu o a inibir impulsos e se es fors;:ar. Por que a
vida social exige regu laridad e, limi tas;:ao e esforc;o? Alem disso,
como 0 indi vfduo consegue, afinal, acei tar estas penosas exigen
cias, condi c;5es para a s ua pr6pri a felicidad e ? Responder a estas
pe r g un t as e qui vale a dizer qual e a funs;:ao da di sci plin a. Co mo
a socied ade pode estar apea a imp or a disciplin a e principalmente,
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26 Cole< ao Tex tos Fundantes de Educar ao
desp e rt ar no individuo 0 sc ntimenro do re sp e ito devido a au
wridad c d e urn imp era ti vo caregoricQ, que surg e como trans
cendente? Res pond e r a es ta pergum a equiva le a reftetir sab re
a na [Ureza da di sc iplina e s ell fundamento [acional. Enfim, por
qu e a reg ra pod e e d eve se r concebida como independente d e
qualqu e r si mboli smo reli gio so e mesma metafi s ico ? 0 que es ta
lai ciza ao da di sci plina modi fica no pr6prio conteudo da id e ia
de di sciplina , naquilo que ela exige e permite? Aqui, associ a
mos a nature za e fun9 ao da di sc iplina , nao mais as condi9oes da
civiliza 9ao em geral, mas aquelas especfficas da cx isrencia oa
civiii za9ao em que vivemos. E buscamos saber sc 0 es p frito d e
di sciplina qu e pr ete nc e a nels franccscs, 6 rcalmcnt c rudo aq ui-
10 que d e cleve c sc nao csta ratologicamcnte enfraquecido,c COffiO a c du cac;ao respcitando os se llScarater es p r6prios, pod e
mclhor a r a no ssa moralidade nacional.
U ma ana lise si me trica pod e se r aplicada a todD es pfri to d e
ab ncgac;ao. 0 qu e e e para qu e se rve es te ultim o, ta nto d o ponto
de v is ta d a soc ieda d e como do do indi vfduo ? A qu e fins n6s,
franceses do sec ul o XX, dev e mos nos d e dicar? Qu al e a hi e
rarquia d estes fins, d e o nde vern, como podem co nc iliar se u santagoni smo s parciai s? Mesmas questoes com 0 espir ito d e
·autonomia. A analise deste ultimo elemento e parricul armente
ferril , poi s se tr ata aqui de urn dos aspectos mai s rece nres d a
moralid ade, 0 mai s caracteristico da moralidade laica e raci o na
lista d e no ssas soc iedade s democraticas.
Ha stam es tas observac;:oes s umarias para notar uma das prin
cipais s up e rioridad es do metodo seguido por Durkheim. E le
conseguc ma s trar toda a camp lexidade, roda a rique za da vida
moral , riqu eza fe ita d e oposic;:oes que nao podem se r ama lga ma
da s apenas parcialmenre em uma sfnrese harmonio sa, riqu eza
E d u c a ~ a oe ociologia 27
taO abundante que ne nhum individuo, por maior que se ja a sua
grandeza , pode algum dia aspirar a ca rreg ar dentro de si rodo s
estes elementos, no mai s alto g rau de de senvolvimenro que
adngirem , e reali za r ass im , inr eg ralmenre, somenre para si, rod a
a moralidade. Pe ssoa lmente , assim como Kant , Durkheim foi
antes de tudo urn homem de vontade e disciplina. E o aspecro
kantiano da moralidade que ele ve primeiro e com mais c1are za.
E ja quiseram afirmar que segundo ete, a cocn;ao era a unica
ar;ao que a sociedadc cxcrc ia sobre 0 individuo. Sua verdadcira
doutrina e infinitamcnte mai s comprccnsfvel, c talvez nao haj a
nenhuma filosofia mor a l que se asseme lhe a ela neste ponto.
Ele demonstrou muito bern , por exemplo, que as forr;a s morais,
que cornpeiem e me smo agridem a nature za anima l do hom em
tam bern exercem neste iltimo uma atrar;ao , uma s e d u ~ a oE a
estes dais aspecto s do fato moral qu e amba s as nor;oes de dever
e de bem re spondem. Pa ra es te s doi s polo s se orientam du a s ati
vidade s marai s di stint as, da s quai s nem uma n e m outra e indife
rente ao agente moral bem constiruido, mas qu e , dependendo
de qual delas prevalecer , di st inguem os agenres morais em dois
tipos diferentes: 0 homem do se ntimenro e do enrusiasmo, noqual domina a aptidao a generosidade, e 0 homem da vonta
de, mais frio e austero, no qual domina 0 espfriro de regra. Os
pr6prios eudemonismo e he d onismo ocupam urn lugar na vida
moral: e preciso , dizia urn dia Durkh e im , que haja epicuriano s.
Assim, disparates e me smo contrarios se misturam na riqueza
da civiliza<;ao moral , rique za que a anali se abstrata dos fil6 sofo s
es a geralmcnre fadada a empobrecer, porque tende , por exem-
plo, a dedu zir a id eia do bern da do dever , conciliar os conceit os
de obriga<;ao e autonomia e redu zir assim uma realidade ba stan
te complexa ao conjunto 16gico de alg uma s ideia s simp les.
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28 Coler;ao Textos Fundantes de Educar;ao
As nove aulas qu e forma m a se g unda par te do curso a bor
dam 0 problema propriameme pedagogico. Foram e num e rados
e definido s os elementos da mora lidad c qu e deve mos const ituir
na c ri a n<;a. Como a na ruf eza desta ultim a se presta a r e c e b ~ a
Que reCU fSOS e ngre nage ns e tam hem obstaculos sao e ncontra
dos pclo ed ucador? Os drulos da s au la s ja apomam a dire9ao
do p c nsa mento: a disciplillu f a psic gia do erial/fa, primeif(); adi.rciplt llo esco/ar, a pellolitladee as recompeflsas escolares; em scgu i
da, 0 altruismo l a cl ianya c a it?fiuencia do meio escolar nu jOrtJlO-
{tio do espirito Jadc/I; e , por fim, a influencia ge ml do e ns in o das
ciencias , letras, hi stdr ia. o a propria moral e tambem da culwr a
este tica na j01 lJ1af(iO clo espiri to de autotJOmia.
A autonomia 6 a atitude d e uma consciencia que ace ita as
regras porque rcconhece que elas se jam ra cion a lm eme fun
da m e m adas. Ela s up 6e a ap lica :;3.o li vre, porem me t6dica , da
im e li ge ncia no exame das reg ras ja prontas qu e a c r i a n ~ arece
be pri m e iro da soe iedade na qual eia esta c resce nd o. Longe de
ace ini- Ias pas siva rn e nte, a c r i an ~ a de ve pouco a pOlleo apre nd e r
a anima-las , coneil ia-Ias, eliminar ou reformar sellS e lementos
obsoletos para adapta- Ios asc o n d i ~ o e s
de cxistencia cambiantesda soc ied adc da qu al e la aca ba se tornando um membro ativo.
Durkheim diz que e a ciencia que confere allconomia. Sornentc
ela en s in a a reeo nh ecer 0 qu e e fundam e nt ado na n at u re za das
coisas - natureza ffsica , mas tamb6m mora l. Someme ela ens in a
a reconheeer 0 que e inelutavcl, modific :lve l normal , quais
sao afinal as lim ites da a9ao eficaz para melhorar a natureza,
tanto fl s iea q uanta moral. O es t e ponto de vis ra, todo en s in o
te rn urn dest in o moral , desde 0 c ns ino d as c ie ncia s cosmo l6g i-
cas a te (c so bretudo) 0 e nsin o do pr6prio hom em, pela Hi st6ria
e So c iol ogia. E e assim que hoje a cduCOfiio moral comple ta
Educa r;ao e Sociologia 9
de manda um eflsillo da moral: duas co isas qu e D urk h e im d is
tin gue clarameme, embora a segu nda si rva para completa r a
primeir a. Parece-Ihe indi spe n savei, mesmo na Esco la Primaria ,
qu e 0 professor ensine a ria n :;a 0 q ue sao as sociedades onde ela
esd de st inada a v ive r: [amflia , co rpora9ao, na 9ao, comunhao de
c iv i z ~ oque tcnde a incorporar a hu man idad e imei ra; cornu
elas se form aram e se transformaram; q ue ~ oela s exereem so
bre 0 individuo e que papcl estc ultimo desempcnha nelas. Do
curso que cl e mini stro u va ri as vczes sob re este Fnsi no o moral
na Escola Prim al'ia, poss u fmos ap e nas rascunhos d e r e d ~ oou
pianos de aulas. Ne les, D urkh ei m mostra aos professores como
e posslvel tr ad uzi r adapta nd o-os as inteIigcncias in f antis, os re
sultado s do qu e e le c hamava de F isiologia do direito e dos cos
tume s , ou seja, a v l l g r iz ~ oda ciencia do s cos tu m es, a qual ,
a lia s, ele de di cou a ma ior part e de se us livros e au la s.
IV
A E ducOfiio ifltelectualna Escola Primdria e 0 tema de u ma
aula eompletamente redig ida em para lelo a que diz respeito ae d u c ~ omoral e construida mai s o u menos a partir do mesffiO plano . Durkheim nao a considerava sa tisfat6ria: e le semi a
a dificuldad e de afinar 0 se u traba lb o. que 0 ideal intelectual
da nossa democracia esta menos definido que a seu id ea l m o
ra l - seu estudo cientffico roi menos bern pre parada, e a assumo
e mais no vo.
Aqui, mais um a vez, ha duas partes com orie nta 90es d ife
re m es : um a esta vi rada par a 0 ob jet ivo visado, e, a o utr a para os
meio s empregados ; a primeira exige que a Soc iolo gia defi na 0
tipo intel ectua l que a no ssa soc iedade se esfor9a par a rea liza r; e
a Outra interro ga a L6gica e a Psicologia para sabe r qu e beneficio
) d d 31
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30 Co)ec;ao Tt xtos Fundante s de Educar;ao
cada di sc iplina forneee qu e recursos e ngrenagcn s c rcs istcn
cias 0 in te lecto da c rian c;a apresenta ao educado r que uabalh a
para rea liza r es te tip o. De nu e as au las pur amente psico l6g icas
vamos re ssa ltar so me me as qu e refl e tem sabre a ate n930: e las
demonstram 0 que Durkh e im era eapaz de faze r quando se d e
diea va i\ Psieolo gia.
Para des ignar a d u c a~ o intel ec tu al prim aria urn objetivo
determinado Durkhe im estu da as origens e a maneir a como de
faw 0 Ensino Primar io romou consciencia de sua nature za e pa
pel propriu s. E le se desenvolveu depoi s do Ensino Secundar io
c se definiu em ce rra medida em uposic;ao a dc . E oa ohra d e
doi s de se us principai s iniciadores C om eni us e P cs ta iozz i que
Durkhcim busca desvendar 0 sell ideal e m ge sta e a o. Ambos se
pe rguntaram como urn e nsino podia se r ao m es mo tempo cnci
clopedieo e ba s ico - d ar lima id eia do todo fo rmar um a m e nte
ju sta e e quilibr ada o u se ja uma mente eapaz d e ap rec nd e r a
rea lid ade in teira se m es qu ecer ne n hum e le m e n to esse nc ial -
ma s tambem se diri g ir a todas as c r i n ~ s sem excC\ao das qua is
a maioria devera se co nt e nt ar com nor;oe s s um ar ias faceis d e
assimi lar com rapidez. Ao in te rpr etar criticament e as tentativasde Co me niu s e Pesta lozzi Durkheim e labor a a sua deti ni r;ao
do id ea l a se r rea lizado . Assim como a moralidad e a in te lec
tualidade r e querida aos franceses contemporaneo s ex ige de les
um ceno numero de aptidoes mentais essenciais . Durkheim as
chama de calegonas noc;6es -chave centros d e inteli g ib ilid ade
que sao as estr utur as e in s trumento s do pensamento 16gico.
Emenda -se por catego ria nao so meme as foe mas m ais a b st ea
ras do pe n sa m e m o a nOt;ao de causa ou su bstancia ma s tam
be m as id eias mai s r ica s em conteudo qu e pees ide m a nossai n te r p r e t ~ odo rea l a nossa imerpretatyao atual: tlossa ideia do
d u c a ~ a oe Socioiogia 31
mund o fisico lJOJ.I a idcia d a v ida IJOJsa ideia do hom cm por
exemplo. Esra s catcgoria s nao sao inara s ao intelecto human o.
El as po ssue m lima h ist6 ria e foram co nsr[uid as poueo a poueo
ao lo ngo da evolutyao da civi lizac;ao. Na nossa civ il izac;ao isto se
deu atraVes do desenvolvimento das c ie ncia s fisicas e morai s.
Um b orn inte lecto e um in re lecto c uja s ideias m estras qu e re
gulam 0 exercic io do pensamenro este jam em h ar moni a co m as
ciencias fundamentai s tais como elas estao atualmeme consti
tuida s: munido d esta m an e ira es te imelecto pode trabalhar em
meio a verdade tal como n6s a concebemos. Portamo e preci so
e nsinar a r i n ~ os elementos das ciencias fundamemai s O U
melhor da s disc ip linas fundamema is uma vez que a Gramatica
e a Hi s turia por ex e mpl o tamb6m coo pera m exrre mam ente af o r m a~ a odo e n tc ndimcnw.
J unw com ta nto s g rand cs pcdagogos Durk hei m r cco mcnd a
portan w 0 qu e c ha mamos a tr av6s de urn tcrmo barbaro de c ul
t ura onllal: formar 0 cs piri co e nao pr ee nc he- lo. Nao 6 pOT sua
utilida de que os co nh cc imencos valem em prime iro lu ga r; nan
ha nada m enos utilin l rio do que esta concepr;ao da instruC;ao.
Porem se u forma lismo e or igina l e se op6e claram e ntc ao deurn p e n sa dor como Montaigne e ao dos humanistas. Dc fa w a
tran smi ssao de urn sabe r posit ivo do m es tr e ao aluno e a ass imil ~ opel a c r i n ~de uma materia th e parece ser a condityao para
uma verda deira formac;ao in te lectua l. E aeil ve r a razao di sto: a
an a lise socio l6gica do entend irn ento provoca consequendas pe
dagugica s. A rn e m6ria a at e ntyao e a faculdade de ass oci ar;ao sao
d ispo sity6es co nge ni tas na c ria n tya que se d es e nvo lve m quando
exercirada s e so me nt e no comexto d a ex pe rie nci a indiv idua l
se ja qual for obj eto ao qua l estas facu ld ades se ap lica re m.
As id e ias dir etrizes e laboradas pe la nossa c iv ilizac;ao sao pe lo
32 l T d d E d d ( S i l i 33
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32 o l e ~ a oTextos undantes de E d u c a ~ a o
conmir io , ideias coierivas que devem rran sm it idas a c rian~ a pais e1a nao sa he ria eJabora-las sozi nha. N ing ue m r ei nventa
a cie ncia com a sua cxpc ric ncia pr6pri a ja qu e e la e social, e
nao individua l, c j qu e e la se ap re nd e. Sem du vida , e la n ao etran svasa da de um a m en te para DUtra: o pr 6 pri o vasa, o u se ja
a intcligcncia, qu e se cleve mod el ar pela e a partir cia ciencia.
Assim, e m bora a s ideias di r etrizes sejam farmas, n o e p assivel
transm it i-Ias vazias . Augusto Cornte ja dizia que n ao se po d e
estudar a J6g ica se m a ciencia, 0 metoda elas ciencias sem s ua
dOlltrina , ini c iar- se ao sell s istema sem assimilar alguns de se llS
res ultad os. Durkheim tambem pensa que e preci so aprcndcr
caisas, adquirir sabecloria, abstrat;:ao feita ate do va lor cspccf fico
dos co nh ec im e nco s pais estes ul timas estao neccs sa riamcnrc
envolvido s nas [o rmas cons tituti vas do en tendim cmo.
Par a o b se rvar [Uda 0 que Durkh e im tira d cs tcs pri nd p ios,
se ria preciso e ot r ar n os d c talh es da sc g un d a part e do curso, no
qu al e le estuda succss iva m c nt c a d idatica d e a lg un s e ns inos
fund ameot ais: a Matcmatica e as catego rias de numero e forma;
a Ffsica e a not;:ao de rea lid ad e; a Geografia e a not;:ao de m eio
planetar io; a I-list6ria e as n090es de tempo e desenvo lvimentohist6ri cos .. li s ta cnumcrayao ainda esta incompl eta. Em seus
outros escritos, Durkhe im abor doll a educayao J6g ica atraves
da s Ifngua s dando a pe na s ex e mplos. Alias, se ria n ecessa ria a
colahora9ao de cspcc ial is tas para segu ir, e m detalhe , toclas as
consequencias d ida t icas dos principio s es t ab e lec id os .
Vcjamo s por ex e mpl o, a n o~ a ode te mpo hi st6 rico . A his t6 -
ria c o d cs c nvolv irn e nt o te mpor al de soc ie dad es hu m anas. Ma s
es rc tempo ultr apassa infi n ira m e m e os tem pos que 0 indi vidu o
conhece , os tem pos que e le vive ncia dir e tam e nr e. A hi st6ria nao
pode fazer se ntid o para um a mente que nao pos s ua um a certa
E d u c a ~ a o( Sociologia 33
repre sc nt a9ao dcste tempo hi st6 rico ; lim born intclecto 6 nota
velmente, um int e iecto que a poss lla. Ora, sozinha, a crianya nao
e ca paz de constru ir esta re p reseota'¥ao, cujos elementos nao Ihe
sao forneddo s nem pe la se nsa ¥ao e ne m pela m em6r ia ind ivi
dua l. P ortanto ,e
pr eciso aju da -Ia a cons trll f- Ia. Na verdade, esta
e uIll a da s func;oes que 0 e nsino d a Hist6ria d esem pe nh a. Mas
cle a de sempe nh a pode -se dizcr, involllntariamente. E digno
de nota que 0 mesue raramente sin ta a inanid ade da s daras e a
necessidad e de trabalhar sistcmatica m e nt e para Ihes dar urn sig
nificado . E nsina- se ii crian ,a: batal ha de To lbi ac, ano 496 . Como
a criant;:a poderi a ver urn sent ido prec iso nesta data, tend o e m
vista qu e a repre sentacyao de urn passado, me smo pr6xirno, ja
lhe e tao d ificil? E nece ssa ria tOdo um trabaIho, cujas eta paspod e riam ser as se g uint cs: dar a ide ia de urn sec ulo , acreSCen
ta ndo, uma aou t ra , 0 perlodo de (re S ou qu auo ge ra '¥oes; come~ an do poc exemp lo, pela da era c rista e explican do p or que 0
nasc im e n to de C risto foi esco lh ido cor n o or ige m. Entr e 0 ponto
de pa rtida e a cpoea awal, d e marcar 0 tempo com pomos de rc
ferencia concretos , como a biografia de persona gens ou ev c nto s
simb 6licos . C on stitu ir ass im lim primeiroesquema,
cllja Uamase ra POLI O a pouco conso l dada. Em seguida, mostrar que pon
to inicial de no ssa c ra e co nve nc iona l, que existem olltras eras,
Outras hist6ria s difcrentes da nos sa que estas eras pert e nccm
a urn perfotlo ao qual a crono logia humana nao se aplica mais,
que os primciro s tempo s pe rm anecem obseuros para n6 s etc.
Quao pOlleos, dcntre n6s, lembram erem reeebido de seus pro
fcssores de Hi s ror ia a ulas insp iradas em tai s principius E claro
que com 0 passa r d o te m po ad qui rimo s as no'¥oes mencionada s;
nao se po d e dizer que, sa lvo exce'¥ao, e las (e nh am si do m etod -
camcnte constitufdas. Urn do s res ultado s essenciais do c ns ino
34 C o l e ~ a oTextos Fundantes de Educar;ao Educat;ao e oclologia 35
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34 C o l e ~ a oTextos Fundantes de Educar;ao
da Hist6ria e, portanto, mais ou meno s obtido. de fata, se m se T
c1aramcntc pcrcebido nem intencionado . Ora, a bre vidade da
Educat;;ao Primaria cx ige que se busque a l c a n ~ a ras objetivos
se m rodeios, sc esta E d u c a ~ a oquiser ser p lena mente eficaz.
Pade-se dizcr que atc os dias atuais, 0 ensino da Gramatica
e da Literatura e 0 unico qu [cnha tido plena consciencia de
seu papell6gico: e le ens inapora/onltor us co n heci mento s que
ele rransmite sao voluntariame nt e utilizados para a const irui 9ao
do entendimento. Em certa medida, 0 cn s ino da Matematica
se atribui 0 mesmo papel: no enranto, aqui a f u n ~ a oeducativa
e criativa dos conhecimentos com frequcncia jd e perdida de
vista, e as conhecimentos passam a se r aprcciados por si mes
mos. Ve-se que a did ar ica de Durkheim se asscmclha a de H erbarr, mas com inovaC;6es. Bern siruada n a historia das domrinas
pedag6gicas, ela parece resolver 0 conftito do /ormoliJmo e de
seu conrrario, a oposic;ao do sa ber e da cultura. Ela fornecc 0
princfpio que sozinho permire superar as dificuldades cm meio
as quais se debar em os nossos Ensinos Prirnario e Seeundario,
presos entre as a s p i c a ~ 6 e sen c iclop e dica s e 0 legft imo se nti men
todos perigos que elas e ngendram. Cada uma das disciplinas
fundamentais implica uma filosofia latente, au seja, urn siste
ma de noyoes cardeai s, que resumem 0 aspectos mais gerais
das coisas, tais como n6s as concebemo , e que coman dam a
intcrpretayao delas. eS[3 filosofia, fcmo do trabalhado acu
muladu por gerayoes , que se deve transmitir a r i a n ~ a pais
e1a constiru i a pc6prio esqueleto da i n t e l i g ~ n c i aFilos6jieo c
bdsieo nao sao tecmos que se excluem muito pelo contr:irio: 0
ensino mais basi co deve sec 0 mais filos6fi co . Mas e 6bvio que
o que chamamos aqui de filosofia nao deve ser expos to em
uma forma abstrata. Ela deve emanar do ensino mais familiar,
Educat;ao e oclologia 35
sem nunca ser formulada. Pacem, para em a nar assim , e preciso
primeiro qu e ela 0 in spire.
v
A d l 1 ca ~ a oinre1ectual basica sc divide em dois tipos: ° En
si no Prim ario para a massa, e () Scclindario para a elite. Ea Edu
c a ~ a oda elite que susc ita, na Fran\=a co nt e mpor anea, as prohle
mas mais e m b a r a ~ o s o sHi mais de urn secuIo, 0 nosso Ensino
Secundario vem atravessando uma crise, cuja soluyao ainda sc
mostra incerra. Pode-se falar, sem exagero, so bre a questao so
cia l do Ensino Secundario. QuaJ e exaramente a sua natur ezao seu papel? Que ca usas determinaram a crise, em que csta
ultima consiste de faro, como se pode prever a s ua so luc;ao? F aestas qu est5es que Durkheim dedicou uma de suas mais belas
aulas, sabre A f 'l)o/upio e 0 popel do Ells llo SeclInddrio tlfJ Frrw o:
d e a ministrou varias vezes e deixou duas reda9ues cornplctas
dela. Ele as havia come ado a pedid o do Reitor Liard , que quis
organi zar, pela primeira vez, urn ensino pedag6gico para futuro s
professore s do Ensino Secundario. Oestinado aus candidatOs de
wdas as modalidades da agregayao \ ranto cientfficas quantO literarias, e1e tinha como objetivo, na concepyao de Durkhcim
despertar em rod os e ao mesmo tempo 0 sentimenro de tarefa
comum: sentimento indispensavel, se quisessemos que discipli
nas diver sas contribu issern para urn ensino qu e , assim como a
mente qu e cle forma, deve apresemar uma unidade. E provclvel
que as fmuros professores do Ensino Secundario sintam l l l l l dia,
por si mesmo s, a necessidade de refletir metodicamente sob ad i r e ~ a ode urn mestre, sa bre a nature za e a funyao especfficas da
3. lhna-se de urn do s concursos para profe ssor da F r a n ~ aIN:C].
36 COle ;i iO Textos Fundantes de E d u c a ~ a o d u c a ~ a oe Sociologia 37
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institui s:ao que ele s devem manter viva . E , n es te dia, a ~ a ode
Durkheim su rgini como guia mai s se g uro para esra reAexao.
Sell autor considerava que as pe squ i sas que havia e fe wado e ad o c u mc ~ a oqu e havia consult ado e ram insarisfar6rias e m va
rio s pontO s. Ant es d e jul gar a ohra , nao se pode esquece r que ele
d ed icou somc nt c urn ou dois anu s de trabalho a es te vasto as
sunto. Desra forma, cs t a aula e urn modelo incomp anlv e l do que
a aplic 3<;ao do metoda soc io16gico as co isas da Educ39ao pode
engendrar. Eo lll1ico ex e mpl0 complcto que Durkheim deixou
da anal ise hist 6 rica d e urn s is te ma de institui <;ocs escolares.
Para sa be r 0 que e 0 Ensi no Sccu nd ario awal da I ran9a,
Uurkh e im observa como ele se formou. As cstruturas datam da
Idad e M ed ia p eriodo no qual foram instauradas as univcrsidades. E no se io da univer sidade , atraves do confinamento pro
gre ss ivo no s co leg ios do ensino dado na Faculdad c de Arres,
que 0 Ensino Secu nd a rio na sce u, difer e nciando- sc do Ensino
Superior. Ass im , s uas afin ida des pod e m se r ex plic ada s: urn prc
para para ° Outro. 0 ensino dialetico e, na l dade M c di a, a pro
pe deutica gera l, poi s a dialetica e, en aO , 0 m eto do univer sa l;
ensino formal , cultura geral rransmitida atrav es de uma di sc ipli
na ba sta nte especffica, ele ja possui as aspecto s qu e, ao longo d e
toda a sua hi st6 ria, ° Ensino Secundario mant e ra. PorCI11 cm
bora a s estruturas estejam constituidas de sd e a Idad e M edia, a
disciplina educativa muda no seculo XVI: a L 6g ica e sub st itufda
pclas humanidade s g reco -latinas. Originario do Renascimento,
na f r a n ~a 0 humani smo foi posto em pratica prin ci paliYle nre pe
los jc sufta s. E les impr egnaram-no com sua marca pr 6 pria ; e, e m
bor a SellS rivai s como 0 Or at6 rio , Porr-Roya l e a universidade,wnham remp e rado a s iste ma deles , foi 0 mod o como os jes uicas
im er pr e rar a m 0 humani smo que foi pOT excc lc ncia 0 cdu cador
g 3
da mente cia ssi ca frances a. Em ne nhuma sociedade europ e ia a
inftuenci a do hllm anismo foi excillsiva: a traves de al gum as de
suas caracterfscicas dominances, 0 no sso espirito nacional se ex
prime no e ao me smo tempo resu lta do hu m anismo , co m s uas
qualidad es e defeitos. No e n t a ntO so bretudo a partir do se c uio
XVIII , Olltra S endenci as sc mani f esta m: a pedago gia dim real ista
ataca 0 hllmani smo. Ela prirn e iro pr odu z dUlltrinas , sem exe rce r
a<;3.o im ediata nas in st itui <;oes esca lares. Dcpois, ela cria , jun
to com as Escolas Cc ntrai s da C a n v e n ~ 3 . oum sistema escolar
completamentc novo, cuja dura<;ao e efeme ra. E 0 seclllo XIX
faz 0 antigo e 0 novo sis te ma se enfrenta rem, sem conse g uir
eliminar nenhum dos doi s e ne m conci lia-Ios definitivament e .
E e este conAito qu e ainda bu sca mos s up e rar. Ao permitir-noscompreende-Io, a hi st6 ria no s da armas para re solve-Io.
VI
Em gera l, 0 e ns ino peda g6g ico a nre lim am plo e spa<;o a hi s
tdria crftica da s dou trina s d a e d u c a ~ a o .Durkheim reconh ece a
importaneia dcste esrudo , ao qual sc aplicou durante um born
tempo. Nas dua s a ula s so bre a Educas;ao intelectual , Primaria e
Secllndaria, ele intr odu z a hi st6ria da s dolltrinas: a de Comenius
entre olltras, chamau sua < : l t en ~a o E lc deixou pIanos e notas de
aulas que formam uma hi st6ria das principais dourrinas pedag6 -
gicas na Fran<;a d es de 0 Renas c im e nto. a evue de fet physi -
qlle et de lorale publi co u 0 plano dc talhado de suas aula s sobre
jean-J acques Rou sseau . Por fim, cle re di giu inre gralmente urn
curso , dc urn ana inr eiro, so bre P esta lozzi e Herb art. Vej a mo s
aqui somcnte qu e m etodo e le scg u iu.Prim eiro, d e di scingue claram encc a hist6 ria das teoria s da edu
cacyao e a da pr6pria e du c3<;ao. Co m frequ c ncia se faz confusao
8 Colecao Textos Fundantes de Educal) ao Educal) ao Soc iologia 9
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)
entre as duas . Trara-se entretanto, de duas coisas fao distintas
quanto a hist6ria da Filosofia Polftica e a das institui96es poli
tieas . Seria preferivel que nossos educadores conhecessem me
lhor a hist6ria de nossas instituir;;oes escolares e nao pensassem,
como acontece de fato que a conhecem atraves de Rousseau ou
Montaigne.
Em scguida Durkheim aborda as doutrinas como faws e e a
educat;:ao do espirito hist6rico que e tern a inten9ao de alcan-
9ar aD estuda-las. Normalmente, e de forma bastante difcrente
que elas sao cxaminadas. Iomemos como exemplo os livros de
Gabriel Compayre, manuais chissicos de hist6ria da Pedagogia
familiares a todos os nossos professores. Apesar de seu nome
nao sao hisrorias propria mente ditas. Eles sem duvida prestam
servivos mas lembram de modo lamenravei uma cerra concep
vao da historia da Fiiosofia felizmentc obsoleta. Parece que os
grandes pedagogos como Rabelais Montaigne, Rollin e Rous
seau surgem ai como colaboradores do tc6rico que atualmen
te busca definir a doutrina pedagogica. Tcm-se a impressao de
que h< uma verdadc pedag6gica eterna va lida de forma uni
versal da qual eles haviam propos to concep9oes aproximativas.
Na doutrina deJes busca-se separar 0 joio do trigo sustentar
os preceitos utilizaveis atualmente pelos mcstres rejeitar seus
paradoxos e erros. A critica dogmatica suplanta a hist6ria e 0
elogio au a condena9ao a explicayao das ideias. 0 residuo e 0
proveito intelecrual sao bastante escassos. Nao 6 atraves do eon
fronto dialetieo das teorias do passado teorias mais imbuidas
dc intuiyoes confusas do que construidas de forma cientifiea
que se tern chance de claborar uma doutrina salida e feeundana pr;itiea. Acantece habitual mente de os pedagogos de segun
da categoria ec1eticos moderados e cujo raciocfnio e bastante
) g
fraco resistirem bern melhor a esta critica do que as mentes de
primeira categoria. 0 born-sen so de um Rollin se mostra mais
vantajoso quando comparado as extravaganeias de urn Rous
seau. Se a Pcdagogia Fosse uma ciencia sua hist6ria apresenta
ria urn estranho aspecto: a genialidade a teria conduzido em erro
na maior parte das vezes ao passo que a mediocridade a reria
manti do no caminho cerro.
Decididamente, Durkheim reconhece que se possa buscar
identificar atraves de uma discussao crftica os elementos de
verdade contidos em uma doutrina. No prefaeio que escreveu
para 0 livro p6stumo de Hamelin, 0 sistema de Descmtes ele ex
pos urn metoda de imerpretayao tanto hist6rico quanto crftico
o qual ele pr6prio aplicou ao estudo de PestaJozzi e Herbart. Ele
admirava 0 pensamento consistente e profundo destes grandes
iniciadores e longe de ignorar a sua fecundidade, pergumava-se
se as vezes nao Ihes atribula algumas das ideias cujos primei
fOS cantoroos ele acreditava encontrar ern suas obras. Porem,
seja qual for 0 seu valor dogmjxico Durkheim procura identi
ficar nas doutrinas sobretudo as for9as sociais que inspiram urn
sistema de Educa9ao ou trabalham para modifica-lo. A hist6ria
da Pedagogia nao e a hist6ria da educayao pois as re6ricos nao
expressam exatamente 0 que de faw ocorre e nem 0 que de
fato ocorrera. Contudo, as ideias tambem sao fatos e quando
tern grande repercussao, faws sociais. 0 prodigioso suces
so de mflio deriva de causas diferentes da genialidade de
Rousseau: ele manifcsta tendencias confusas, porem ener
gicas da sociedadc curopeia do seculo XVIII. Hi pedagogos
Conservadores tais como Jouvency e Rollin que refletem 0
ideal pedag6gico dos jesuftas au da universidade do seculo
XVII. E, principal mente, visto que as grandes doutrinas se
40 C o l e ~ a oTextos Fundantes de Educat ao E d u c : a ~ a oe Soc:io iogia 41
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prolifcram em epocas de crise, h pedagogos rcvolucionarios
que traduzem coisas coletivas essenciais para 0 observador e qua
se impossfvcis de observar diretamente: aspira90es, idcais em
gesta930, rebeliocs contra institui90es que se tornaram obso[cras.
Durkheim estudou dcste ponto de vista, por exernplo, as ideias
pedag6gicas do Renascimc nto e distinguiu, melhor do que qual
quer urn antes dele, as duas grandes correntes predominantes:
a que atfavessa a obra de Rabclais e a autra, bastante diferente
apesar de sua misrura parcial, que atravessa a ohra de Erasmo.
Es[a 6, em grandes lin has, a obra pedag6gica de Durkheim.
Este resumo basta para mostrar a sua cxtensao e as estreitas re
la90es que ela mantem com 0 conjunto de sua ohra sociol6gica.
Para os educadores, ela oferece uma dourrina original e vigorosa, envolvendo os principais problemas pedag6gicos. Para as
soci610gos, ela esclarece as concep<;oes que Durkheim exp6s
em outras obras sabre alguns pontos csscnciais: r e l a ~ 5 e sentre 0
individuo e a sociedade, entre a cicncia c a pratica, a natureza da
moralidade e a do entendime nto. Scjam educadores ou soci6-
logos, muitos sao os que desejam que csta obra pedag6gica nao
permane9a inedita. Vamos rentar publi car as principais aulas.
o pequeno volume que estamos lanc;;ando hoje Ihes servi
ra de introdu9ao. Reirnprimimos aqui apenas os estudos peda-
gogicos que Durkheim ja havia publicado 4• Os dois primeiros
reproduzem os artigos Education e Pedagogie do Nouveau
4 Cabe, no emamo , mcncionar: 1 °) 0 artigo Enfance , no DictiolJltaire
de Ptdflf ,of ,i e que Durkheim assinoll em colaborayao com Buisson; 2 ) ApaJestra sobre EducalioTl sexlIe le, feita na Societe Fran9aise de Philosophie
(But/elirt), que se assemelha sobr etudo aos rrabalhos de Dllrkheim sabre afamilia e a casamenw. 0 estudo p6stuTlla sabre Emflio publicado na Revuede Mftaphysique el de A4amle t. XXVI, 1919, p. 153), nao pode ser separadode urn outro suhre 0 cOlltrata social nesta mesma revista t. xxv 1918).
Dictionnaire de Pedagogie et d ftlstruction Primaire, publicado sob
a direc;ao de E Buisson Paris: Hachette, 1911); e 0 terceiro e a
aula dc aberrura que foi dada quando Ourkheim tomou posse
de sua cadeira na Sorbo nne em 1902 e que foi puhlica da no nu-
mero de janeiro de 1903 da Revue de MitajJhysique et de Morale.
Algumas paginas sao redundantes. Nos dois primeiros eStli
dos, ha inclusive decalques textuais do tercciro. Mas pensamos
que remanejar 0 original ocasionaria mais inconvenientes do que
algumas r e p e t i ~ 6 e s
Paul/laucollllet
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1A EOUCAC::AO, SUA
NATUREZA E SEU PAPEL
1.1 A s definiyoes da educa iio: exarne critico
A palavra ectucaC¥:lo ja [oi empregada com urn sentido bas-
rante vasto para designar 0 conjunto das influencias que a
natureza au os UU S homens padem exercer sabre a nossainte ligencia au vOl1tade. Stuart Mill diz que ela compreende
tuda que fazemos por conta pr6pria e tuda que os U[[OS
fazem para n6s com 0 objetivo de nos aproximar da p e r f e i ~ o
da nos sa natureza. Em sua acepyao mais larga, ela compreende
inclusive os efeitos indiretos produzidos no carater e nas fa -
culdades do homem por coisas cujo objetivo e compieramente
diferente: leis, farmas de governo, artes industriais e mesma
faws fisicos, independentes da vontade do homem, (ais como
o clima, 0 solo e a p o s i ~ olocal . Porem, esta definic;;ao en-
globa fatos bastante dispares que nao podem ser reunidos sob
urn mesmo VOC<l bulo sem dar lugar a confus6es. Em f u n ~ o
de seus procedimentos e resultados, a ~ odas coisas sobre os
homens difere muito da que provem dos pr6prios homens; e
a ac;;ao entre hom ens pertencentes a mesma faixa eniria difere
da que os adultos exercem sobre os mais jovens. 0 que nosinteressa aqui e somente esta ultima , a qual, por conseguinte ,
Convem reservar a palavra educac;;ao.
44 Coler;ao Textos Fundant es de Educar;ao E d u c a ~ a oe Sociologia 45
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M as e m que consisre es ta a ~ a osui gtlleris? A esta pergunta ja
foram d ada s re spo sta s ba sta m c difcr c nr cs, que podem se dividir
em dois ripos princip a is.
Segundo Kant, 0 objetivo da educ3 yao c des c nvolvcr em
cad a jndivfduo [Qda a p e r f ei9ao da qual e le 6 capaz" . Mas 0 qu e
se deve e nrender por p erfe i yao? a foi fr e qu e nt e m e nt e i to qu e
se tr a ta do de se nvol vim e nro harmonica de todas as faculdades
humana s. Elevar ao ponto mai s al to pa ssive I [Ddas as pmenci a-
lid ades que se encontram d e ntro de 116 s, realiza-Ias de form a
tao complera quanta pa ss ivel, mas sem deixa-Ias prejudicarem
umas as outras - naa e Lim ideal acima de qu a lquer autro?
Mas embora, em cena medida , ele seja d e faro necessaria e
desejavei, este de se nvo lvimento harmonica n ao e totalmenterealiz:ivel, poi s ele contradiz uma outra r eg ea da conduta huma
na que nao e menos imperio sa: e a que fa z com que nos dedique
mos a uma taeefa especifica e restrita. Nao podemos nem deve
mos wdos nos devatur au mesmo genero de vida ; dependendo
da s no ssas aptidoes, temus fun <,;oes di f e rente s a de se mpenh a r,
c 6 precisu estar em harmonia cum aquela que no s incumbe.
Ne m rodo s nus fomo s feiros para reHet ie; sao preci sus humen s
de sensa<,;au e a9ao. Ao con mirio , ~ o preciso s outros cujo traha
lho seja pensar. Ora, 0 pcnsamenro s() pod e se desenvolver ao
se desprender do movimcnro, recolhendo-s c em si mcsmo e
desviando 0 s ujeito cia a\ ao exterior para que e lc m erg ulh e por
co mpl e ro em sua pr6pri a mente. O af uma prim e ira di s tin \ ao
qu e nao se da scm um a ruptura de e quilfbr io. E, assim como
o p e nsa mento , a as;ao, por s ua vez, pode a dotar uma multipli
c ic l ade de formas di f er e nt e s e especffica s. Scm duvicia, csta
espec iaiiza9ao nao excl ui uma ccrta hase com um e, por eonse
g uint e, uma cerra oscila<,;ao tanto clas fun 90es orgfinieas quanto
das psiqui cas; oscila9a.o se m a qll a l a sau de do indi vidu o, bern
como a coesao socia l, estar iam comp rometid as. Nao e menos
verdade , porem , que a harmonia p erfe ita nao pode ser apresen
tada como 0 objet ivo final da conduta e d l l C a ~ a o .
Ainda menos sat isEn6 ria 6 a d e f i n i ~ a olltilitari sta, seglmdo
a qual a ed ucayuo teria como o bj eto "tra nsfo rmar 0 individllo
em urn instrumento de felicidad e para s i me smo e se llS scme
Ihantes " (James Mill), pai s a felicid ade 6 lima coisa essencia l
mente subjetiva que cada urn estirn a da sua maneira. Com tal
formula y8.o, 0 objcti vo da educ<1c;ao pe rmanece , portanw , ind e
terminado , bern como a propria educayao, qu e fica sub m eti d a aarbitraried ade indi v idu al. E verdade que Spencer tenmu dennir
a felicidade objetivamente. Para ele, HS condic;6es da f el ic idad esao as m esmas da v ida. A feli cidade plena e a v ida pl ena. Mas
o que se d eve enr .c ndcr por vida? Quando se trata so rne n te da
vida fisica , pode -se mencionar aquila cuja ausencia a irnpo s
sibili[aria; e la impli ea, de faro, 11m ce rm equilibrio entre 0 or
ganismo e seu n1 e io, e, ja que os doi s termos relacionad os sao
dado s definiveis, 0 m es mo de v e va ler pa ra a reia9ao entre eles.
Po rem , s6 se po de ex primir assi m as nece ss idade s v itais ma is
irnediatas. Ora, para 0 hamem , e sobretudo para 0 homem de
hoje, esra vida nao e a vida. Esperamo s da vida outra coi sa a16 m
do funcionam ento mais ou meno s norma l de nosso s 6rgaos. Urn
individuo c ul to p re fe re laO v ive r do que renuneiar aos pr az e res
da inreli gencia. Ate do ponto d e v isea a rena s material , tudo 0
que e xcede ° s tr ita men[ e necessario foge de qu alque r t e nt ati
va de deter minac;ao. standard o life co mo dizem os inglescs,
au seja, 0 padrao de vida, 0 minimo ao qual podemos conscnrir,varia infinitam ente d e aeordo com as o n ~ 6 e s os m eios c os
tempo s. q ue ontem ae ha vamos q ue era suficiente nos parece
46 C o f e ~ a oTextos Fundantes de Educacao Educar;ao e ociologia 47
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hoj e oao csta r a a lw r a cia dignidade humana , tal como a se n
timos no momenta presence, e welo lev a a crer que as nos sas
cx igc ncia s oeste POntO 56 faraD aumentar.
Es barramos aqu i na c o n d e n ~ ogera l a que todas estas def i n i ~ o e sse expoem. Elas partem do postulado de que ha umae d c a ~ a oideal, perfeita , va lida sem dist in 9ao para toelos os ho
mens; e e esta e d u c ~ ouni ve rsa l e unica que u tc6rico tenra
detinir. Mas primeiro , se a hist6ria e le vada em consiucrar;ao,
nada que confirme tal hip6tese pade se encontrauo. A cuuca
r;:ao variou muito de acordo com os tempos cos palses. Nas poli s
gregas e latinas, a ecluc 9ao ensinava 0 indiv fduo a sc subordinar
cegamente a coletividade, torna f se a coisa oa soc icdacie . Hoj e,
ela tenta uansforma· lo em uma per so nalidad e au tonoma. EmArenas buscava-se formar intelecws finos, pcrspicazes, sutis,
amames de p r o p o r ~ ue harmonia, capazes de g07.ar da beleza e
clos prazeres da pura i n v e s t i g a ~ J oem Roma , dcscjava·se antes
de [Udo que as c r i a n ~ a sse tornassem homcns de a<;:3.o, apaixo
nados pela gl6r ia militar, indiferenres a tudo 0 que envo lve as
letra s e artes. Na Idade Media, a c d u c ~ oera ac ima de mdo
crista; no Renascimento, cia adquirc urn can itcr mais laico eli ·
renlrio; hoje, a ciencia tcnde a wmar 0 lugar que a arte oeupava
antigamente . Pode-se redarg uir que ) faro nao corres ponde ao
ideal; que se a eduCa9Jo mudou 6 rorquc os homens se enga
naram sobre 0 que ela dcvcria ser. No entanro , se a eduea<;:ao -
mana tivesse sido marcada por lim individua lis mo parecido com
o nosso, a polis romana nao tc ria p od ido se manter; a civilizas;:ao
latina , e consequemcmcme a moderna, que ern parte deriva da
quela, nao teriam podido sc co nstituir . As sociedades cristas daJdade Media nao teriam podido sobrevivcr sc tivessem concedi
do a reAexao livre a impurtaneia que Ihc damos hoje. Existem
portanro , neeessidades inelunivei s q ue e mposs ivcl abstrair. lJe
q ue adianta imaginar uma eduea e;ao qu e ser ia fatal para a soc ie
dade que a coloeasse em pd.tica?
Este pr6prio postulado, aparentemente incom es tavcl, re
pOllsa sobre urn erro de ordem mai s geral. Se come<;:armos a nos
pergumar assim qual deve ser a educae;ao ideal , abstrac;ao fcita
de toda cond iC;ao de te mpo c l ugar, isto s ignifica qu e admit imos
de modo impli cito que urn sistema educativo nao e, por si mcs
mo , nem urn poueo real. Aca bamos nao venda urn conjunto de
praticas e instituic;6es qu e se organi za ram lemame nt e ao lo ngo
do tempo que saO solidarias com wdas as ourras institui c;oes
soc iai s, exprimindo-as , e qu e , por eonscgui nt e, bern como a pr6-
pria es truru ra da soeie dade , n ao podem ser modifieada s avo n tade. Pa r ece que estamos d iant e de urn p l I f O sis tema de eonceitos
concretizado s que a este titulo, impliea apenas a lagiea. Pod e-se
imaginar que homens de todas as cpoeas 0 organizam vo lu n ta
riamente para alcanc;ar determinado fim; que se esta organiza
c;ao nao e a me sma em todo lugar, 6 porque houve urn engano
com rei a930 a natureza ou do objetivo que con vern bu sca r ou
do s meios que permitem atin gi-Io. Oestc ponto de vista, as ed u
eac;5es do passad o surgem como erros totais ou par eiais. Nao se
deve, part an to, le va- las em c on s i d e a ~ a o nao somas obr igados
a assumir os erros de observac:;ao ou de 16g iea dos nosso s prede
cessores; mas podemos e devemos abordar 0 problema sem lidar
com as so lu<;:oes e ncontradas anter iormcnre. au seja, deixando
de lado tudo 0 que foi feito , de v e mo s nos perguntar so m e n te 0
que deve se r fe ito. a ensino de hi st6r ia pode no maximo seNi r
para no s poupar a r e p e t i ~ a ode eeros ja co m et ido s.Parem na verdade cada soc ie dadc , eonsiderada em deter
min ado momento de seu desenvo lvimc mo , tern um sistema de
48 C ol e ~ a oTextos undantes de E d u c a ~ a o E d u c a ~ a oe Sociologia 49
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educat;ao que se impoe aos individuos com uma for < a gcral mc n
te irresistlvel. Naa adia nta crer que podcmo s CdUC af os no ssos
tilho s como quisennos. Hi costumes aos quai s so mo s ob rigados a
no s conformar; se os transgrcd irm os dem a is, eles aca barr l se vin
gando nos nos sos filho s. Uma vcz adu lws, es tes t iltimos acredi
rarao nao poder viver e m m e io aos se llS contemporaneos, co m osquais nao cstarao em harmonia. Pouco importa se fo ram cTiadas
com idcias arcaicas ou avanr;adas demais; tanto em um easo como
no outro, cles nao t erao condic;6es de viver uma vida normal. Por
tanto, em qualqu e r epoca, existe urn ripe regulador de educac;ao
do qual nao pademos nos distanciar sem nos chocarmos com vi·
gorosas resistcncias que escondem dissidencias frustrada s.
Ora, nao fomos n6s, individualmente, que invemamos os
COStumes e ide ias que dererminam esre ripo de educar;ao. E les
sao 0 produto da vida em comum e reflerem suas necessida
des. Em sua maior parte , ele s sao incl usive fruto das gerac;;oes
anteriores. Todo 0 passado da humanidade contribuiu para e la
borar es te conjunro de maximas que dirige a educa{:ao de hoje ;
nela esta gravada teda a nos sa hist6ria e mesmo a hist6ria dos
povo s que nos precederam. Este mecanismo e similar ao dos
argani smo s superiores) que carregam como que 0 ceo de teela
a evolu9ao biol6gica da qual eles sao 0 resultado. Quando se
estuda historicamente a maneira como os sistemas de e d u c a ~ a o
se formaram e se desenvolveram, percebe -sc que eles sempre
depend eram da relig iao, da urganizac;;ao polftica, do gra u de
desenvolvimento das ciencias) du estado oa indllstria, e tc. Se
forern desconecrados de codas as causas hist(jrica s, cles se corna
rao incompr eens ivei s. Co mo , entao, 0 individuo pod e pretender
reconstfuir, so mente a partir de sua reflexao pc ssoa l, 0 que nao efruto do p e n sa menro individual ? E le nao se encontra diantc de
uma tabula rasa sabre a qu al poded ed ifiear a que quiser, mas
sim de realidades existenres, as quais ele nao pode nem criar,
nem de st ruir , nem tran sfo rm a r a vontade. Ele s6 pode influ en
cia- las na medida e m que aprender a c o n h e d ~ l a se sou ber qual
e a sua natur eza e as c o n d i ~ 6 e sdas quai s elas depend em; e s6
conseguira saber cudo isto se seg uir 0 seu exemplo, se come9ara observa-Ias, como 0 ffsico 0 faz com a materia bruta, e 0 biolo
gista, com as seres vivos.
Alias, como proceder de ourra forma? Quando se quer deter
minar 0 que deve ser a educa9ao unicamente atraves da dialeti
ca, e pr eciso c o m e ~ a restabelecendo que fins ela deve ter. Mas ()
que nos permit e di ze r que a educac;ao tern tais fins, e nao outros?
Nao sabemos pti n quale
a f u n ~ a oda respira9ao ou da circula
crao no ser vivo. Que privilegio faria com que soubessemos me
lhor 0 que di z re speiro a UI1c;ao educariva? Pude- se respond e r
qu e, obviamente, ela rem como objetivo criar as c r i a n ~ a sMas
isto equiva le a colocar 0 problema em termos qua se iguai s, e
nao resolve-lo. Seria preciso dizer em que eonsistc csta criac;ao,
aquilo a que ela tendc) que necessidades humanas cia satisfaz.
Ora, s6 se pode responder a tais qu esroes c o m e ~ a n d opar ob
servar em que ela consistiu e que necessidades cia satisfez nopassado. Desra forma, nt:m que seja apenas para constituir a no~ a opreliminar de educa9ao e determinar a coisa que se chama
assim, a observa9ao histurica surge como indispensavel.
1.2 Defini\,ao da educa\ ao
Para definir a educ3c;ao, e preciso, portanto , levar em consid e r a ~ a o
os sistemas educativos que existcm ou que ja ex isr iram,campara-los e identificar as aspectos em comum. A reuniao d es
tes aspectos consrituinl a defini9ao que buscamos.
50 o l e ~ a oTe x tos Fundantes de E d u c a ~ a o Educar a o e Socioiogia 5
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Ao lon go do no sso ca minho ja de t erm in amos dai s e le me nt o s.
P ara qu e ha ja e c a ~ ao 6 preci so que uma g er a ~ a ode adulto s e
um a de jov e ns se e ncomr c m face a face e que um a a ~ a oseja
exerc ida pe los prim e iros sa bre os se g un dos. Res ra-no s de fin ir a
nat ureza des ta ~ o
Nao ex iste, por assim dizer , ne nhuma sociedade e m. qu e 0
sistema de e d u c ~ onao apresente urn duplo carate r: e le e ao
m esmo tempo singu lar e multiplo.
E le 6 multiplo. Ue faro, em certo senti do, pod c-se dizer q ue
em ta l soc iedade h t tantos tipos quanto m e ios d e cd ucac;ao di
fc rentes. Tal soc iedade por exemplo, e form ada por eastas? A
ed ucat;;ao varian de uma casta para Dutra; ados a ri swcrata s nao
e ra igua\ a do s pJe heus; adosbra
ma n es nao e ra igua l a uo s s u-dras . Oa mcs ma form a na [dade Media , qu e d es propor 9ao en t re
a eliitu ra rccc bida p e los jov e ns pa je n s in sullido s e m wd as as
a rtes da cava la ria e ados ca mpone ses livre s qu e ia m aprender
na esco la de sua par6q u ia alg un s escassos e le me nto s de co mp u
to , ca n to e gra m i ci ca A ind a hoje , nao ve rnos a ed ucac;ao var iar
com as cla sses s ociai s ou rnesmo com os h it t s A da c id ad e
nao e gua\ a do campo, a do bu r g ue s nao e gual a do openir io.
Dirao por al que csta organizar;ao nao e rnoralm e nt e ju st ificiv e l
e pod e ser co nsid erada como urn anacronisrno d es t inado a de sa
parecer. A tese e icil de defender. E 6bvio que a educa9ao dos
nossos tilho s nao d ev e ria depender do aca so que as faz na sce r
aqui au la de ta is pai s em vez de outros. Porem , mes mo qu e a
co nsc iencia moral d e nosso tempo tivesse sid e sa tisfe ita nes te
pomo, n em por isso a c d u c ~ ose r ia mais uniform e. M es rno
qu e a car rei ra de ca da c a n ~ a nao fosse, e m gran de par te, pred e terminada por uma cega he reditari edade a div e rsidade m o ra l
da s profissocs nao deixaria de ex ig ir uma g ra nd e di ve rs idad e
pe d ag6g ic a. D e fa to , cada pr ofissao const itui um melO Ut ge-
neris qu e de mand a ap t idoes e conhecime nt o s es pecificos, urnll e io no qual pr e dominam cerra s ideia s, usos e maneira s de ve r
as eoi sas; e, ja qu e a cr ia nc;a deve estar prep arada co m vistas a
func;ao qu e sera levada a cumpr ir, a ed ucac;ao , a part ir d e de
terminada idad e na o pode mai s co ntinuar a m es m a pa ra to
dos a s sujeitos aos quai s ela se aplicar. E por i sto qu e, em todo s
os pai ses civili zados, e la (Cnde cada vcz mais a se divcr sific a r e
se especiali za r, e esta espec ia li zayao, a sc tornar cada vez m ais
precoce. A he t eroge n eidaue produzida assim n ~fe pou sa sobre
inegavel injusti 9a como a qu e observamos agora ha pouco; m as
ela nao e menor. P ara e ncon tra r lima ed ucar;ao a bso lutamente
homogenea e ig ualit a ria , 6 preci so vo l a r no tempo ate as sociedades pr c- h is t6ri cas, no sc io das qu a is nao existia nenhuma
diferen c ia9ao; c ai nd a ass im estes tipo s de soc iedades represen
tam a pen a s 11m mOffiCnto 16g ico na h ist6r ia da hu manidade.
Contudo sc ja qual for a importa nc ia d estas e duc atXoes e spe
cificas , elas n ~sao a e d uc ~ oroda. Pode-se ate d izer que elas
nao sao auto ssufic.:icntcs; em tOdos as lugares em que se pode
ob servi- Ias elas s6 di vcrgem uma s das outras a pa rt ir de cecto
ponto aqucm do qual e las se co nfund em . Todas elas re pou sam
sobre uma ba sc C0111um. Nao ha povo e m que nao exista cerro
numero de ideia s SC ntinl c n toS e praricas que a educac;ao deve
inculc ar em todas as crianyas se rn distinyao, seja qu al for a cate
gor ia socia l a qllal e las pert e ncem. Me sma quando a soc ieda dc
e dividida em ca stas fec hada s umas as olltras , se mpr e h i um a
rel ig iao comum a todas, e, por conseglli m e. os prin cfpios da c ultu ra
reli g iosa que c e nt aO fundam enta l, sao as mesmos na fa ixa in tc irada pop ulas;ao. Embora cada casr.a e cada familia tenha se us de u ses
cspecfficos, hi d ivind adcs gerais reconhecidas pOT todo 0 mu n do,
52 Co lec; ao Textos Fundantes de Educac; ao d u c a ~ a oe Sociologia 53
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as quais todas as c r i a n ~ a saprendem a adoral'. E vista que estas
divindades encarnam e personificarn certos sentimentos c ma
neiras de conccber 0 mundo e a vida, naa se pode ser iniciado ao
culto dclas scm adquirir, ao mesmo tempo, todo tipo de h<ibitos
menta s que excedem a esfcra da vida puramenre religiosa. Oa
mesma forma, na ldade Media servos, camponeses, burgueses
e nobres recebiam igualmente a mcsma educ39ao crista. Se eassim em sociedades em que a divcrsidade intelectual e moral
atinge esre nfvel de contraste, entaa fica mail do que claro que
o mcsmo vale para povos mais avan<;ados, nos quais as classes,
cmbora permanc9am disrinras, sao separadas por urn abismo
mcnos profunda Estes elementos comuns de toda eduea9ao
nao deixam de existir mesmo quando nao se manifestam emforma de simbolos religiosos. Ao longo da nossa hist6ria, eons
tiwiu-se todo urn conjunto de ideias sobre a natureza humana,
a importancia respectiva de nossas diferentes faculdades, 0 di
reiw e 0 dever, a sociedade, 0 individua, 0 progresso, a ciencia,
a arte, etc., ideias que se encontram na pr6pria base do nosso
espfrito nacional; toda educa9ao, tanto a do rico quanto a do
pobTe, tanto a que conduz as profiss6es liberals quanta a qlle
prepara para as fun90es industriais, tern como objetivo n.xa- Ias
nas consciencJas.
o resultado destes fatos e: que cad a sociedade elabora urn
cerro ideal do hornem, 011 seja, daquilo que ele deve ser tanto
do ponto de vista intelectual q uanto ffsico e moral; que este
ideal e em eerra rnedida, 0 mesmo para todos os eidadaos;
que a partir de certo ponto ele se diferencia de acordo com os
meios singulares que toda sociedade compreende em seu seio.E este ideal, unico e diverso ao mesmo tempo que e 0 polo da
educa9ao. Portanto a fun9ao desta ultima e suscitar na criam;a:
to) urn ceno numero de estados fisicos e mentais que a soeieda
de a qual ela pertence exige de todos as seus membros; 2° cer
tQ S estados ffsicos e mentais que a grupo social espedfico (casta,
classe, familia, profissao) tambem considera como obrigat6rios
em todos aqucles que 0 formam. Assim, e 0 conjunto da socie
dade e eacia meio social especifico que determinam este ideal
que a educayllo realiza. A socicdade so po de viver se existir uma
homogeneidade sufieientc entre seus membros; a educa<;ao
perpetua e fortalece esta homogcneidade gravando previamen
te na alma da cdant;a as semelhan<;as essenciais exigidas pela
vida coletiva. No entanto, por outro lado, qualqucr cooperat;ao
seria impossIvel sem uma certa diversidade; a eduCa93.o assegll
fa a persistencia desta necessaria diversidadc divcrsificando-se eespecializando-se a si mesma. Se a sociedade tivcr a\can9ado 0
nivel de desenvolvimento em que as andgas divisocs em castas
e classes nao podem mais se manter, ela prescrevera uma educa
gao mais una em sua base. Se, no mesmo momento, 0 trabalho
estiver mais dividido, ela provocara nas crianc;as, a pardr de urn
primeiro depos ito de ideias e sentimentos comuns, uma diversi
dade de aptid6es profissionais mais rica. Se ela viver em cstado
de guerra com as sociedades ambientes, ela se esforyara para for
mar os intelectos a partir de urn modelo alta mente nacional; se a
Concorrencia internacional adotar uma forma mais pacffica, 0 dpo
que eIa buscara realizar e mais geral e humano. Portanto, para
a sociedade, a e d l l c ~ oe apenas 0 modo pelo qual ela prepa
ra no cora9ao das c r i a n ~ a sas condit;6es esseneiais de sua propria
existencia. Veremos rna is para a frente como 0 pr6prio indivfduo
encontra vantagens em se sub meter a estas exigencias.Chegamos, ponamo ao seguinte enunciado: A eduul[iio t a
ap a exercida pelas gerafoes adultas sabre aqueloJ que aillda l iia f Jtiio
54 Colecao Textos Fundantes de Educacao d u c a ~ oe 50clologia 55
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flo/urns para a vi da social. lila (em como objetivo slIscitar e descll-
valver I O a iOfJ{O 11m cerlo tlumero de es/ados jisicos, illteleell/ais emarais exigidos tml to pelo cOlljZWIO do sociedade po/{tica quofllo pelomeio especifieo qual do eSl d des if ada tm particular
1.3 Conse qu mcia da definiyao anterior: carater social daeduc a yao
A pa rtir da d c fini ao pr ec e dence , podc- sc co nciu ir que ac d l l ca ~ ao consistc e m lima s o c i a l i z a ~ ) mc[odic a das nova s gc
ra ile s. Em cada lim de n6 s podc-s c di zc r, cxistcm dois se res
q ue, c mbora scja m inscparav c is - a n ao se r por ab s tra s ao - nao
dcix am de ser distintos. U rn 6 comp osto de wdos a s estados
mentai s que di zc m resp e ito apenas a n6 s mesmo s e aos aconteci mc nto s da no ssa vida pess oal: e o qu e se pod er ia chamar d e
se r individual. 0 Out ro e urn sistema de ideias, se ntimento s e
habiw s que exprimem em n6s nao a noss a p e rso nalidad e, mas
si m a grupo ou as g rupo s dif e re nt es dos quais fazem os parte ;
tai s como as crenyas reli giosas, as c r e n ~ a se prati cas mor ais, as
tradi <;oes nacion a is au profi ss ionais e as opinio es coletivas de
todo tipo. E s te conjunto forma 0 se r soc ia l. Consti lJir esre se r
em cada urn d e n6s e 0 objerivo da educayao.
Alias, e af qu e se manif esta melhor a import ancia do seu pa
pel c a fec undidad e da sua a93o. D e faro , esre ser socia l nao
someme nao se enco nua ja promo na co nstirui yao primiriva do
hom e m como tamb e m nao res ulta d e lim desenvolvimenro es
po m a neo. Esponraneamenre 0 hom em nao tinha tendencia a
se submeter a uma a utorid ade polfti ca, respe irar lima di scipl i
na mor al, dedicar -se e sacrificar-se. A nossa natur eza con ge ni ranao aprescntava nada qu e no s predispusesse necessa riam enre a
no s tornar mo s sc rvid o res de divindades, e mbl e ma s si mb 6 licos
da sociedade , a Ihe s prestarmos culto au a no s privarmo s para
honni-l as. Foi a pr6pria t ociedade qu e , a m e dida qu e ia se for
mando e se consolidando, tirou do seu seio es tas grande s f o r ~ as
morais, diante das quais 0 homem sentiu a sua in f e rioridade.
Ora , com exce9ao de tendencias vag as e incerras qu e podem
se r auibufdas a hereditariedad e, ao entrar na vida , a c rian 9a tra z
apenas a sua nature za de indivfduo. Portanto , a cada nova gera~ a o a soci e dade se enco n tra e rn presenc;a d e uma tabu la qua se
rasa sabre a qual eta deve con struir novamente. f pr ec iso qu e ,
petos m e ios mais [{ipidos, ela subst itua 0 ser egoista e associa l
que aeaba d e nascer por urn outro c a paz de levar uma vida moral
e soc ial. E s ra e a obra da e d u c a ~ a o cuja grande za pod emos reco
nhecer. E la 11:3.0 sc limita a r e f o r ~ a ras rendencias naturaimentcmarcanre s do organi smo indi vidu al, au seja, desenvol ve r poten
cial idade s ocultas que so estao esperando para serem revel ad as.
Ela cria urn novo ser no homem.
Esta v irtude criadora e, alias, um privilcgio especifico da
educac;ao hUlnana. A que os anima is recebem c completament e
diferente, se e que podemos chamar de eduCa9ao 0 treinamenco
progressi vQ ao qual e lcs sao submetidos par se us pais. Este trei
namento bem pod e acc lerar 0 de se nvolv im ento de certos in s
tintos que estao lat entes no animal, mas nao 0 inicia a uma nova
vida. Ele facilita 0 movimento da s funtyoes naturai s mas nao
cria nada. In s{Iuido p e la mae, a filhote sab e ra voar au fa ze r 0 ni
nho de forma mais dpida ma s nao aprendera quase nada a nao
se r atrave s de sua expe rien c ia individual. E que as animais ou
vivem fora de todo es tado social ou formam sociedade s bastan
te simples, que fun ciona m a partir de mecanismos instintivosque cada individuo carrega con sigo perf e itamcnte con s{iruidos
desde 0 nasc imento. Porranto , a e du c a~ a onao pode acrescenta r
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nada de essencial nawrcza v isro que esta ultima e meiramen
te suficieme tanto par a a vida do grupo quanto para a do indi
vfduo. No homem ao conwh io as aptidoe s de todD tipo que a
v ida soc ial sup6c sao complexas demais para pocterem de eeno
modo encarnar-se nos recidos e materializar-se so b a forma de
predisposic.;6cs organicas. Poc conseguinrc e las nao podem se
uansmitidas de lima gerae;ao para a uutra auaves da hereditarie
dade. E a educ3eyao que ga ranrc a tran smissao.
No cnranto pod e -se objetar se de faro e possfvel conceber
que as qualidade s propria mente morais 56 podem se suscitadas
em n6s por uma 39ao vinda do exterior lima vez que clas im
po em priv390es ao individuo c rcprirn em os seus movimentos
nacurais nao haveria ounas qualidades que todo homem terninteresse e m adquirir e bu sca espontaneamente? Pensemos por
cxernp lo nas diversas qualidades da inteligencia que Ihe penni-
tern adaprar melhar a sua eo nduta a nature za das coirms Pen se
mos tamb6m nas qualidadcs ffsicas e em tudo 0 que contribui
para 0 vigor e a saude do organismo. Com reiat;:ao a es tas ulti
mas pelo menos parece que a d u c a ~ a oao desenvolve-Ias nao
fat;:a ITlais do que tomar a dianteira do pr6prio desenvolvimenro
natUral a l ~ a n d oa individuo a urn estado de perfei9ao relativa
qual e le teode por si mesmo embora possa alcan9a-lo de forma
mais nipida com a ajuda da sociedade .
Por6m apesar das aparcncias 0 que mostra bern que taow
aqui como alhures a e d u c a ~ a osa t is faz acirna de tudo necessi
dades sociais 6 que cxistem soc iedade s em que cstas qualida
des nao foram absulutamente cuitivadas e que em todo caso
foram compreendidas de modo muito diferente dcpendendodas soc ieda des. Nem todos as povos recooh ecerarn as vantagens
de uma s6Iida cultura intcleetual. A ciencia o espfrito crltico
os quais va lorizamos ta nto atualmente durante muito tempo
foram vistos com d c s c o n f i a n ~ a .Nao con hecemos uma g rande
doutrina segundo a qual sao bem-aventurados os pobres de es
pfriro? Nao se deve pensar qu e esta i n d i fe e n ~ acom re ia9ao ao
saber tenha side artificia lmente imposta aos homens contra a
natureza deles. Eles nao tem por si mesmos 0 apetir e instintivo
de ciencia que Ihes 6 frequeme e arbitrariameme anibufdo e s6
desejam a ciencia na medida em que a experienc ia Ihes mosna
o quao impre scind lvel eIa 6 para eles. Ora no que diz respeito
a r g a n i z a ~ a ode sua vida individual e les nao se interessavam
nem urn pouco peia ciencia. Como ja dizia Rousseau para sat is
fazer as necessidades vi tai s a seosac;ao a exper ienci a e 0 insci n-
to podiam bastar para 0 homem assim como par a 0 an im a l Se 0
hom em nao t ivesse senti do outras necessidades a16m daq uelas
bastante simp les cu ja s rafzes prov6m de s ua c o n s t i t u i ~ a oindi
vidual ele nao teria corrido atras da ciencia; ainda mais que e la
nao foi obtida sem laboriosos e dolorosos e s f o r ~ o s .Ele s6 sentiu
a se de do sa ber quando a soc iedad e a provocou neie e a socie
dade s6 a provocou quando ela mesma se ntiu esta necessidade.
Isto a c o n t e C ~ uquando a vida socia l soh todas as sua s fonnas t o r n o u s ~complcxa demai s para poder funcionar de ouna forma
a nao ser com base na reflexao ou seja no pensamento ilumi
nado pela cieneia. A cu ltura eientffiea se [Ornou entao indispe n
savel e e por isto que a sociedade a cxige de seus membros e a
impoe como urn dever. Entretamo em suas origens enquanto
a organizat;ao soc ial for ba5tante simples muito pouco variada
e semprc fiel a 5i mesma a cega tradi<;ao oastara assim como
o instinru para ) anima l Ne s te contexto 0 raciocfnio e 0 li vrepensamento sao inuteis e ate perigosos ja que necessariameme
ameas:ariam a tradis:ao. E por isto que des sao proscritos.
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o mcsmo vale ate para as qualidades ffsicas. Se 0 escado do
meio social inclinar a consciencia publica para 0 ascetismo, a
educa<;ao ffsica sera rejeitada para 0 segundo plano. f lim pOlleo
o qu e acontecia nas esco las da Idadc Me d ia; e es te ascetismo era
nece ssar ia , poi s a mica maneira de se adaptar it rudeza daqueles
te mpos diffcei s era amando-a. Oa mesma forma , dependendo
da s linh as de opinifro, esta mcsma e d u c a ~ a osera emendida nos
mai s difereme s se ntidos. Em Espana ela tinha como objctivo
sobrewdo endurecer os mcmbros contra 0 cansa90; em Arenas,
ela era um meiu de modclar bel as car pos para serem adm irados;
na epoca da cavalaria, csperava-se que ela formassc gucrrciros
ageis e flexiveis; hojc em dia, ela s6 visa a higicnc c sc preo
cllpa sobretudo em conter os perigosos efeitos de uma clilturaintelectual demas iado intensa. Assim, 0 indivfduo s6 bu sca as
qualidades que a prime ira vista parecem tao espontaneamente
desejaveis quando a soc iedade 0 incit a ne sta dircc;ao. E e le as
bu sca da mane ira que e la Ih e pre screve.
Escamos agora aptos a res ponder a uma qu c stao leva nt a
da por tudo 0 que acabamos de ver. Enquanto moscravamos a
sociedade modclando os individuos de acordo com as sua s ne
cessidades, podia parecer que e}es sofriam assim lima in sllpor
dvel tirania. Porcm na realidade, eles proprio s tem interesse
nesta subm issao, pois 0 novo ser que a a9ao coletiva ed ifica
em cada urn d e n6 s atraves da educa9ao reprc senca 0 que hft
de melhor em n6 s, ou seja, 0 que ha de propriarnenr e huma-
no em n6 s. Dc faro, 0 homem s6 e homem porqu e vive e m
soc iedad c. diffcil demonstrar com rigor, em urn arri go, uma
afirma9ao tao geral e importante e que resume os trabalhos daSociologia contcmporanea. Mas ja podemo s, pelo menos, dizer
que e1a esta sendo cada vez menos contestada. Alcm di sso, e
posslvellembrar su mariamcnte as fatos mai s essenciais que:; a
justificam.
A nt es de tudo se ex iste hoje urn fato historicam e nte es
tabe lecido o fato de qu e a moral cultiva estreitas relac;oes
com a natureza das soc iedad es, visto que como ja mo stra mo s
ames , ela muda quando as socie dades mudam. Isro significa,
portanro, que a moral resulta da vida em comum. De faro, 6
a sociedade que nos fa z sa il de n6 s mesmos que nos obriga a
considerar interesses diferenre s dos nossos, que nos ensinou
a dominar as nossos fmpetos e instintos a suje ita-lo s a leis, a
nos reprimir, privar, sacrificar, s ubordinar os nossos fins pes
soais a fins mais clevados. Foi a socie dadc que:; instituiu na s
nossas consciencia s todo 0 sistema de repre se nta9ao que alimenta em n6s a idcia c 0 sentimento da reg ra e da disci pI ina,
canto interna s qu a nto cxternas. Foi assim que adqu ir imos 0
poder de re sist ir a no s mesmos au se ja , 0 domfnio sa bre as
nossas vantades lim do s tra 90s marcantes da fisionomia hu
mana, desenvolvido a mcdida que no s tornamos mai s plena-
mente humano s.
Do ponto de vista in t clccttJal, nao devemos menos a soc ie
dad e. E a ciencia que e labora as n090es cardeais que dirigem 0
nosso pensamento: n090e s de causa, leis, espac;o, numera cor
pas, vida, consciencia, soc iedade , etc. Todas estas ideias funda
mentais estao em constante cvolu9ao: e que elas sao 0 resumoo resultado de todo 0 trabalho cientifico, e nao 0 seu ponto
de partida, como acreditava Pestalozzi. Nao consideramos hoje
o hom em, a nature za, as causas e inclu sive 0 espac;o como eles
cram considerados na ldadc Media; e que os no ssos conhecimenw s e metodo s ciendficos nao SaO mais os me smo s. Ora, a
ciencia e um a cbra coletiva, vista que su poe uma vas ta coope-
60 C o l e ~ a oTextos Fundantes de Educar ao d u c a ~ a oe Sociologia 61
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[w;ao cntre rodos os sa bios nao somenrc_de urn mesma perfodo,
como tambem de todas as epucas sllcessivas da hist6ria. - Antes
de as ciencias estarem constitufdas, a religiao desempenhava 0
mesma papel, pais toda mitologia consiste em uma represcn-
t a ~ a oja bastanre elaborada , do homem e do universo . Alias, a
ciencia e herdeira da rcl igilio, que por sua vez, e ima instirui930
social. - Ao aprendcr lima lingua, aprendemos todo urn sistema
de ideias, disrinras c classificadas, e herdamos todo 0 trabalho
do qual sao oriundas estas classifica90es, que resumcm seculos
de experienc ia. E tern mais: sem a linguagem, nao tcriamos, por
assim dizer, ncnhuma ideia geral, pais ea palavra que ao fixar as
conceitos, Ihcs da consistencia suficiente para que eJes possam
ser manipuladoscomodamente
pelo intelccto.Pmtanto
foi alinguagem que nos permitiu elevar-nos acima da pura sensavao;
e e desncccssario demonsrrar que a linguagem e pm excelen
cia, uma coisa social.
Estes exemplos mosrram que se w o 0 que a sociedade
deu ao hom em Ihe fosse retirado, elc scria redllz ido a cate
goria do animal. Se ele pode ultrapassar 0 esdgio no qual os
animais se estagnaram, foi primeiro porque ele nao se contenta
somenre com 0 fruto dos seus esfon;;os pessoais, mas coopera
regularmente com as seus semelhanres; 0 que refon;a 0 rendi
mcnw da atividade de cada urn. Foi tambem - e sobretudo -
porque os produtos do trabalho de uma gerac;ao deixam assirn
de screm perdidos pela gerayJo scguinte. De Udo 0 que urn
animal aprende ao longo de sua cxisrcneia individual, quasc
nada fica para a sua posteridadc. s resultados da experiencia
humana ao conrrario, conservarn-se quase que integralmenrce arc em seus detalhes gra<;3S aos livros, monumentos figll
rativos, ferrarnentas, instrumenros de todo tipo transmitidos
de geraryJo em gera<;ao, tradivao oral, etc. 0 solo da natureza
e assim recoberro por urn rico aluviao que vai crescendo scm
parar. Ao inves de se dissipar rodas as vezes em que uma gera
<;ao se extingue e e substituida por outra , a sabedoria humana
se acumula sem cessar, e e esta infinita acumula<;ao que eleva
o homem acima da besta e de si mesmo. Todavia, assim como
a coopera<;ao que mencionamos aeima, esta acumulavao s6 e
possivel na e pela sociedade. Isro porque para que 0 Jegado de
cada g e r a ~ a opossa ser conservado e cransmirido para as outras,
e pr eci50 que haja uma personalidade moral que atravesse as
geraryocs que passam e que as ligue umas as outras: e a socie
dade. Assim, 0 antagonismo que muiras vczcs se sup6s existir
entrea
sociedadee
0 individuonao
corresponderealidade.
Estes dois rcrmos estao longe de se oporem c 56 poderem se
desenvo lvcr de modo divergente. Na verdade urn implica 0
outro. Ao qucrer a sociedade, 0 individuo quer a si mesmo. 0
objetivo e 0 efeiw da a<;ao que ela exerce sobre cle, principal
menre arraves da educa<;ao, nao sao nem urn poueo reprimi-lo,
di mi nui-Io, desnarura-lo, mas sim amplifica-Io c transforma-Io
em lim ser verdadciramente humano. Sem dllvida, cle s6 pode
crescer desra forma fazendo esfor<;o. Mas, jusramente 0 poder
de fazer esforyo de modo volunrario e uma das caracteristicas
mais esse nciais do hom ern.
1.4 0 pape l do Estado em materia de d u c a ~ i i o
Esta definiryao da educa<;ao permite resolver facilmente a
questao tao comroversa dos deveres e direitos do Estado em
materia de Edueayao.A estes op6em-se as direiros da familia. Aercdita-se que a
crianc;a pertencc primeiro aos seus pais; porranro, e a eles que
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cabc dirigir, como bem ente nd e re m , 0 sell desenvolvimento
in tclecmal e moral. A e du cac;ao e entao concebida como uma
co isa esse nc ialrn ente privada e domestica. Quando adotamos
este ponto de vista, tendemos de fo rma narurai a reduzir a inter
venc;ao do Estado ao minima posslvel. Ele deveria, dizemos, li
mitar-se a serv ir como auxiliar e su bstituto das familias. Quando
elas se encontram inaptas a cumprir os seus de veres, e natural
que ele se encarregue dos mesmos. E natural ate que de Ihcs
facilire aD maximo a tarefa, colocando a slla d i s p o ~ a ocsco las
aande possam enviar seus filhos se quiserem. Mas etc d eve sc
manter estritamente denero destes limites e se impcdir de rcali
za c qualquer 3c;ao destinad a a gravar determinada o r i c n t a ~ a ona
alma da juventude.Porem 0 seu pape nao cleve permanceer tao negativo. Se .
como tentamos motitrar aqui, a e d l l e a ~ a odescmpenha acima
de tuclo uma fun9ao co letiva c tern co mo objetivo adaptar a
crians;:a ao mcio socia l no qual cia csta destinada a v ive r, e im
possivel que a socicdadc se dcsinteresse de tal opera<;ao. Se
a sociedadc constitui 0 ponto de referencia para a educa<;3.o
dirigir a sua a ~ a ocomo cia poderia ficar ausente desta ultima?
Portanto 6 a c ia que cabc constantemence lembrar ao profes
sor que id c ias c sentime nto s ele deve arraigar na crianc;:a para
que a mcsma e ntr e em harmonia com 0 seu meio social. Se ela
nao estivessc scm pre presence e vigilante para obrigar a a<;ao
peJag6gica a se exercer em urn se ntido soc ial, esta ultima se
colocar ia nccessariamente a se rvi<;o de cren<;as pardculares, e
a g rand e a lm a da patria se dividiria e se dissolveria em uma
pl u ra lid adc incoe rente de pequenas almas fragmentarias emconfl ito umas com as outras . Nada e mais contrario ao objetivo
fundamental de toda educa<;3.o do que ism. E preciso escolhe r:
se quisermos valorizar a cxist6ncia da sociedade - acabamos
de ve r 0 que eia s ign ifica para nds - e preciso que a educaC;3o
esrabcle9a uma comun hao de id eias e sent im entos suficiente
entre os cidadaos, comu n hao sem a qual qualquer sociedade eimpo ss ivel ; e, para que possa produzir cste re sultado, a educa
vao nao po d e ficar totalmenre am e rce das arbitrarias vontades
individuai s.
Uma vez que a e d u c a ~ a oe ima fun<;ao essencialmente so
cial, 0 Estauo nau pode se desinteressar dela. PeIo cumrario,
tudo 0 que 6 cuuCa9aO deve se1 , em certa medicla, submetido asua avao. Tsto nao significa, no entanto que elc deva necessa
ria mente monopolizar ensino. A questao e demasiado COITI-
plexa para que possamos trata-Ia assim sem entrar em detalhes:va mo s reserva-Ia para mais tarde . Pode-se pensar que os pro
gressos escolares sao mais simp les e rapidos quando uma cer
ta marg em de manobr a e concedida as ini ciativas inclividuais,
poi s 0 individuo e mais facilmenre inovado r do que 0 Estado.
Porem , 0 fam de 0 Estado dever, em prot do interesse publico,
autorizar 0 funcionamento de outras escolas al6m daquelas sob
sua re sponsabilidade direta nao implica que ele permanes;:a in
diferente ao que acontece dentro destas instituic;ocs. A Edu
cac;ao que elas forneccm cleve, pelo coorf(hio, ficar submetida
ao seu controle. Nao 6 nem mesmo admissivel que a fum;ao de
educador seja desempenhada por algucm que nao apresente
garantias especfficas que somente 0 Estado pode julgar. Sem
du vida , os limites dcntro dos quais a sua intervenyao cleve se
manter sao diffceis de se determinar de modo definitivu, mas
o principio de intervenc;ao nao pode ser contestado. Nau h1 esco la qu e possa reivindicar 0 direito de dar, com toda lib erdade
lima Educac;ao an t issocial.
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66 Colet;ao Textos Fundantes de Ed UC3t;3 Educar;ao e Sociologia 67
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De fato , 0 ripe de predisposi\=8.o fixa, rfg id a, in var ia ve l e que
impede a a9ao de cau sas exter iores e 0 in s tinto. Ora , p odem o s
nos pergumar fie ex iste no ho m em um (ini co in stinco propria
m e nt e d ito. Fa la-se as vezes do in s ri m o de o n s er v a ~ a o .Ma s a
ex pr e ssao < inadcquada, pais 0 instinro e urn sis te m a de movi
mentos detcrminados qu e sao se mpre id enticos e que, um a vez
esti mulad os p e la se nsa9ao , cnca deiam- se automa ti camente un s
aos DUUOS ate chega rem ao se termino natural, se m qu e a re fte-
xao pa ssa im erv ir e m algum momento. Ora, as movimentO s que
exe cutam os q u ando no ssa v ida csta em perigo naa apresentam
Hbsolutamente esta d er e n ninas;ao c invariabilidade automatica.
liles mu d am de aco rdo com as s itu as;6es, c nus us ad a pt amos as
ci rc un sranc ia s. Isto s ign ifica, porcanro , qu e cles sao acompanhauos pur um a ce na escolha co n sc ienc e, em bora ripid a. Aquilo
que cha m amos de instinto de co n se rvatyao nau pa ssa, no fim das
cu nta s, de urn irnpul so gera l q u e nos leva a fu g ir ua m urte. E o s
me io s p dos qua is tentamo s evita-Ia nao sao pr cd c tcrminados
llma vc z por rodas. 0 m esmo vale para aqu ilo que as vc zes e ha
mamos , d e forma igua lm ente in ad equada, de instinto m a terno,
in st in to paterno e me s rno in st imo se x ual. Sao fo rs;as que inci
ta m em determinada dire9ao , mas os m eios pelos qu ais cstas
fon;as se concrctizam muda m d e urn indi vfd uo para 0 Olltro e de
llma ocasiao para a outra. E x iste, port a n to, llrna gra nd e rnargem
d e manobr a para as tcmar ivas, adapta.;oes pessoa is e, por consc
gu in t e, para a as;au dc fatore s que 56 podem exe rcer influ c ncia
depois do nasc imento. Ora, a ed uca9ao e urn des res faro res.
ja se anrmou, 6 vcrdadc, que a crian .;a as vezes herdav a Uma
tcndcncia basta nr c for w a co meter determin ado s at o s, como 0
su iddio, U fOu no, ass ass inato , a [raude , e tc. Mas estas afi rrna-
90CS nao corre s pond em n em um POllCO a realidade. Pouem rer
dito 0 que for, mas nin g uc m nasce crim in oso e muiro me no s
predestinad o a tal au tal tipo de crime; 0 paradoxa do s c rirr lino-
logisra s iraiian os hoje em dia n ao conca mai s com muito s d ef e n
sores. 0 qu e e her da d o e um a certa fal ta de e quillb rio mental ,
que leva 0 in divi du o a ser mais refratar io a uma cond m a re g ular
e di sciplin ada . Mas tal temperarnento nao predestina um ho
me m a ser mai s urn erimin oso do que u rn apaixona do aventurei
ro, um pro feta, urn precur so r polftico , urn in ve ntor , etc. 0 me s
rna va le para codas as aptid oes profissionai s. Co mo nota Bain,
0 filho de urn gra nde fii6iogo nao hcrd a urn unico voeabulo;
o filho de urn grande v iaj ame pode, na csco la, scr dcixauo para
mi s e m G eogra fia p elo filho de urn mi n e iro . 0 qu e a c ri a n
c;arccebe dos se
llS pai s sao fac uld ades basta ntc gera is, co m o,
por exemplo, dcterminada capac idad e de r en ~ o ce rt a dose
de p e rseveran9a, born di sce rnim e nro , i ma g n a ~ a oetc. Ma s ca da
uma d es ras fac uld ad es po d e serv ir a diferent es t ip os de prop6 s i-
tos. A c r i a n~ a dowda de Uln a i m a g i n a ~ ao vivaz pod e, conforme
as circun srancias e influ encias que p esarao so bre si, ro rn a r-se
pinwr ou po eta, enge nh eiro cr iativo ou e mpre sa rio o u sa do. E
partanw , co n s id erave l a di sta ne ia que ex is te entre as qualidades
naturai s e a forma es pecifica que e la s d ev e m adotar para se rem
uti lizada s na vid a. lsto s ign ifica que 0 futuro nao se e n cont ra
estreitamente predeterminado pela nossa const ituic;a o conge ni
tao E aeil ente nd e r a razao di s(Q. As u ni cas formas d e at ivid ad e
transmitidas he r e ditari a m e nte sao as q ue se repetem se m pr e ,
de maneir a bastante identi ca, p ara poder em se fixar em um a for
ma rfgida nos tecidos organico s. Ora, a v id a humana d epende de
condi\oes rnultipla s, complexa s e, co n sequenre m e nt e, ca mb i anre s; e pr ec iso, p a rta nw , que e la pr6pria mu d e e se modifiqu e
sem ces sa r Assim, e im p osslve l que ela se c ris talize ern uma
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I 70 Co er;ao Textos Fundantes de Educar;ao E d u c a ~ a oe ociologia 71
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sem chamar a nossa arem ;ao e m f u n ~ ode sua aparente insigni
ficancia, como clcs romariam mais cuidado com a sua linguag e m
e condura Ccrtameme a eduCa93.0 naa se mostra encaz quando
age cum bru squi dao e imermitencia. Como diz Herb art, nao eadmoestando a crian\a com veemencia de vez em quando que
sc pode provocar grande impactu em sua mente. Parern, quando
a c ducayao se masua pacience e continua e nao busca sucessos
imcdiato s e aparentes, ma s se da calma mente em um senti do
bern determinado sem se dcixar desviar por incidentes exte-
riores e circun sra ncias fortuita s, cIa dispo e de w os os m los
necessarios para marcar as almas profundamente.
Vemos, ao mesmo tempo , qual e 0 rnecani smo essencial da
~ oeducativa. que cria a influencia do magnetizador 6 a au
wridade que ele ohtcm da s circunstancias. Por anaiogia , pode
se dizer desde ja que a cducayao deve ser, em sua essencia, uma
questao de autoridade. Esta imporrame afirma<;ao rode a lias,
sel' diretamente estabelec ida. De fiHo, ja vimos que a e d u c ~ o
tem como ohjetivo substiruir 0 sel' individualista c assacial que
somas ao nascermos por um seT inteirament e novo. Ela deve
nos conduzir a deixarmos para wis a noss a nature za inic ial: esta
e a c o n d i ~ upara que a c r i a n ~ ase torne humem. Ora, s6 pode
mos nos superar atraves de l i m esfor90 mais ou menos cuswso.
Nada e rao errado e enganador quanto a c o n c e p ~ oepicurista da
educa9ao; a concepyao de Momaigne por ex e mplo , segundo a
qual 0 hom em pode se f onnar utilizando como t'lnico estimulo a
atra9ao do prazer. Embora a vida nao seja sombria e embora afir
mar artificial m ente 0 comrario as crian9as seja urn crime, ela nao
deixa de ser s6ria e grave, e a educar;ao, que pr e para para a vida,deve participar desta gravidade. Para aprender a domar 0 seu
egofsmo natural, subordinar-se a fins mais elevados, submeter
os seus desejos ao imperio da sua fon ;a de vonrade e conte-los
dentro de limites scnsatos, 6 preciso que a crianc,;a excrc,;a uma
forte reprcssao sa bre si m csma . Ora, as duas t'micas razoes que
fazem com qu e no s no s coibamos sao a necessidade fl s ica au 0
clever moral. Po rem, a c r i a n ~ anao sente a necess idade que nos
impoe fisicamente estes e s f or ~ o s pois nao esra imediat am e nte
em contato com as duras realidades da vida, que [Droarn esta
atitude indispensavel. Ela ainda nao c o m e ~ o ua Iurar - embo-
ra Spencer 0 tenha aconselhado, nao podemos deixa-Ia exposta
as severa s e a ~ o e sdas caisas. E preci sa que ela ja esteja, em
grande pane , formada quando real mente tiver de enfrenta-las.
Portanto , nao se pode comar com a pr essao exercida pela reali
dadepara
dererminara
c r i a n ~ a
ater f o r ~ ade vomade
e ad q uiriro autoconrrole necessario.
Resta 0 dever. Para a c r i a n ~ ae inclusive para 0 adulto, e 0
se nti memo do dever que e por exceiencia, 0 estimulante do
e s f o r ~ o .Por si s6, a amor-pr 6pr io ja supoe isto, pais, para ser se n
sfvel as puni90es e recompensas, como se convem e preciso ter
consciencia da sua dignidade e, por conseguinte do seu dever.
Toda via , a c ri a n ~ aso aprende 0 dever com os sells professores
ou pais, s6 podendo saber em que ele consiste pe10 modo como
estes liltimos 0 revelam atraves da sua linguagem e comporra
mento. Portanto, e preciso que d es encarnem e personifiquem 0
dever para c ia. l sto sign ifica que a auwridade moral e a principal
qualidadc do educ ador , pois 6 atraves desta autoridade cont ida
nde que 0 dever c dever. que e possui de compl etamen te
ui generis 6 0 tom imperativo com 0 qual se dirige as conscie n
eias,0
respcito que in spiraaDs
desejos alheios e com0
qual assubjuga taO logo se pronuncia. Assim, e ndi spensavel que uma
impressao do meSffiO genero emane cia pessoa do prof essor.
72 o l e ~ a oTextos Fundantes de Educ3\:ao
Ed d d d
Educar;ao e Sociologia 73
d C S l f d id i i
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Ed es necessa rio d e mon stra r que a auwr id adc cnren di d a des
a forma laO tern nada a ver Com a violencia OU a repressao ela
cons iste, por inteiro , em uma certa prima zia moral. Ela sup5e
que 0 professor respcitc duas principais condi90es. Ele deve
primeiro ter dcrcrmina rao, pois a autorid ade implica a confian-
9a, e a crian9a nao ca nti a e m nin guem qu e hesite, tergiverse evo lte atras a rc s pcito de suas decisoes. Mas esta primeira condi-
9ao nao c a mais essencial. 0 mais import ance e que 0 professor
realmcntc sima dentra de s i a auwridade cujo semimento et
deve transmirir. Ela cOl1stirui uma fOf9a que ele 56 pode man i-
festar sc cfctivamente a possuir. Mas, afinal, de onde cia vern?
Sera que 6 do pod er material do qual esta munido? Sera que edo d irc ito que eJe tern de punir e recompen sar? Mas 0 medo do
cast igo 6 algo muito diferente do respeito da autor idade. Elc
s6 possui va lor moral se 0 castigo for reconhecido como justo
pclo individuo que 0 recebe, 0 que implica que a autoridadc
quc pune ja tenha sido reconhec ida como legitima. A questao 6
justamcnte esta. Nao e de fora que 0 professor pode adquirir a
sua autorida de , ma s s im de si mesmo; ela s6 pode ter o rigem em
uma f6 interior. Ele deve cre r, sem duvida, nao em si mesmo Oll
nas qualidades superiores de sua intelig en c ia ou cora9iio, mas
sim na sua tarefa e na gra nd eza da mesma. 0 que constr6i a au
tori dade que impre g na rao facilmente a palavra do ecles iistico 6
a e levada ideia que eJe nuue a respeito de sua missao, poi s cle
fala em nome de um Ueus do qual ele se senre mais pr6ximo
do que a multidao dos profanos. 0 professor laico pode e deve
alimcntar urn pouco deste sent imento. Ele tambcm const itui 0
6rgao de uma grande entidade moral que pertence a urn nfvclsuperior: a soe iedade . Assim como 0 padre e imerprete do sell
Deus cle c por sua vez, 0 interprete da s grandes ideias morais
da sua epoca e naC;ao. Sc cle for apegado a estas id e ias e sent ir
toda a grandeza das mesmas, a auwridade que elas revestern e
da qual ele esta ciente nao pode deixar de se manifestar em sua
pessoa e em tudo 0 que emana dela. Em uma autoridade or iun
da de uma fome rao imp essoa l q U l l t o esea nao pode entrar nem
orgulho, nem va id ade e n em p edantismo. Ela e inteirameme
consriwfda pelo re speito qu e ele n utre com relagao as suas fun~ e se, se pod emos falar assim, ao sell minist6rio. E este respei
to que, atrav6s oa palavra e da lingua gern. gestua l c transmitido
da sua consci6nci a para a da crian9a.
]a se opuseram a liberdade e a autoridade, como se estes dois
fatores da educa9ao se contradissessem e se restringisscm. Mas
esra oposi.yaoe
uma falacia. Na verda de, la ng e de se x c J u i r ~ m
estes dai s term os sao complememares. A liberd ade 6 filha dOl
autoridade bem aplicada, pois ser livre nao sig nifica fazer { que
bem entend e r, n1as s im ter autocontrole e sabe r agir guiado pcb
razao e cumprir 0 seu dever. Ora, a autoridade do profe ssor, que
eapenas um aspecto da auto ridad e do clever e da razao, deve ser
empregada ju sramenre para dmar a crianc;a deste autocontrole.
A cr iam;a de ve, portanto, estar acostumada a reco nh ec e r a a uto
ridade na palavra do educador e a respeitar a sua superioridaoc.Esta e a condic;a o para que mais tarde ela a reencontre e m sua
Consciencia e acare 0 que ela pre scrcver.
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2NATUREZA E METODO
DA PEDAGOG lA
M ui tas vezes se confunde educagao e pedagogia, rerrnas que
no e n tanto pedem para ser cuidadosamente diferenciados.
A educayao e a a930 exercida nas criaor;as pelos pais e pro
fess ores. Esta yaO e constante e geral. Naa ha nenhum perfodo
na vida socia l e oem mesmo, por assim dizer, nenhum momento
do dia em que as novas gerayoes nao estejam em contato com os
mais velhos e, por conseguinre , nao receham a influencia cd u
c3dor a destes ultimos. I sto por q ue esta influencia oao 6 scntida
som ente nos instantes bastante curtos em que os pais ou profcs
sores compartilham, de modo conscienre c atravcs de urn c n si
no p ropriamentc diw, os resultados de suas cxpericncias com
aqueles que nasce ram Gepois dc les . Existc L ma educayao in
cons ciente c inccssante. Atravcs do nosso exemplo, das palavras
q ue d izemos c dos aws que executamos, fabricamos a alma dos
nossos ihos de modo constante.
A Pedagogia e algo completamente diferente. Ela consisre
nao em a ~ a o mas sim em reorias. ES as reorias expiic iram astn anc iras de conceber a educa9ao, e nao de prarica-Ia. Elas se
d isr in gucm as vezes das praricas vi genres a ponro de se oporem
a e las. As pedagogias de Rabeiais, de Rousseau ou de Pes a-lozz i se enconrram en oposi9ao com a educa9ao de suas epocas.
POrta nro, a cducayao consrirui apenas a modalidadc pratica da
76 Coler;ao Textos Fundantes de Educa\ilo
Pedagogia que par sua vez consistc em uma ce rra man eira de
Educar;ao e Socioiog ia 77
1°) Elas devem aborda r faws conclu fdos realizados e pron
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Pedagogia , que par sua vez, consistc em uma ce rra man eira de
refletir so bre as qucstocs rclativas a edllCat;ao
E 0 qu e faz Com qu e a P edagog ia, pelo meno s no passado,
se ja intcrmircmc, ao pa sso qu e a educa :3o e continua . Existem
povo s que nao t iveram uma P e da gogia prop riameme dita; al ias,
csta iltima surge a penas em uma epoca relat ivamentc adia ntad ada hist6ria. E la e encontrada na Grecia somemc dcpoi s ua cpoea
de Pe ricles , com PlacITo Xenofonte e Arisr )rclcs. E la quase na o
exist iu em Roma. Nas soc ieda des crisras, c ia 56 produ ziu obras
imporrantes no secu lu XVI, e 0 progrcsso qu e e la enta seg uiu se
desacelerou no secu lo segu inre , s6 rctomando 0 sell vigo r ao lon
go do XV III. Isto ocorrcu porquc 0 homem nao reflete a tempo
inteiro , ma s sumentc quando 6 necessaria, e parque asc o n d i ~ e s
da reflexao nao cstao dadas em [OdD lugar e mom e nta.
Se ndo assirn, c prcci so qu e busquemos saber quai s sao as carac
terfsticas da reflexao ped ag6g ica e os seus efeiros. Sera que se deve
considera- Ia como urn co njllnto d e douuin as propr ia mente cientffi
C dS e dizcrque a Pcdago g ia e uma cienc ia, a ciencia da d u c a ~ a o ?Ou
sera qu e conv6m dar-Ihe urn outro norne? Neste casa, que nome? A
natureza do mc[Odo pedag6gico sera compreendida de modo bas
tante diferente can forme a resposta dada a esta pergLlnta.
T
Primeiro, e acil demonstrar que as coisas da educac;ao, eon
sid eradas de lim certo POnto de vista, possam ser 0 objcto de
uma di sei plina que apresema todas as ca racterfsticas das outras
di sci plina s e ie nt/fiea s.
D e faw, para q ue possamos chamar de cienc ia um co njun tode estudos, e p rec iso e ba s ta que e1as pos s uam as seg ui m cs ca
raetcri sticas:
1°) Elas devem aborda r faws conclu fdos, realizados e pron
toS para a o b s e r v a ~ a oAfinal, uma e iencia sc define pdo seu
objcto de escudo e, co n seq uenremenre su p6e q ue cstc ob jew
ex ista, po ssa ser apomado com preci sao e loca liza do denno do
conju n to da real idade.
ZO Estes faws uevem apresemar uma harnogeneidade Sll-
ficicnte entre si para ro d c rcm ser c1assificados em uma 111esma
caregoria. Se eles fo sse m irrcdutfvcis uns aos outros, haveria nao
uma ciencia , mas sim tantas c icncias quanto especies distinras
de objeto s de esrudo. Muitas vczcs aco nt ece de as ciencias nas
centes envolverem d e modo ba sta ntc confuso uma pluralidade
de objetos diferente s. Foi a caso, pa r ex e mplo , da Geografia, da
Amropologia , etc. Mas esta se mp r e e a pe nas uma fase rransiro
ria do desen vo lvimemo das ciencias.
3°) P ur fim , a ciencia estucla esres fatos para conhcce- los, c so
mente para isto, de maneira absol utamente desinrercs sa da. Em -
pregamos de prop6siw aqui a palavra c 1 J h e C e l ~que e meio geral
e vaga, scm deixar claro em que pode consistir 0 conhecimento
dito cientifico. Dc faro, pouco importa se a sa bia prefer e con5ti
tuir tipos em vez de descobrir leis, contentar -se em descrev e r ou
emar explicar. A ci€:ncia c o m e ~ aa partir do momenta em q ue 0
saber, seja elc qual for, 6 bus cadu por si s6 Scm duvida , a sabia
eSta pcrfeitamentc cicnte cia probabilidade de as suas descob e r-
tas se rem lJtilizadas mais tarde. Pode ate acamecer de ele privi
legiar tal au tal ponto de :mas pcsquisas ao pressentir que assin1
elas serao mai s prov c ito sas c pcrmitirao satis fazer necessidades
llrge nt cs. Parem , enquanto cstiver mergulhado na investiga9ao
cienrffic a, e le ficad in diferemc comr e l a~ a o
as consequenciaspratica s. Ele diz 0 qu e 6, cons tat a 0 que as caisas sao e se con
tenta com isto. Ele nao se prcocupa em sa ber se as verdades qu e
78 Cole t ao Textos Fundantes de d u c a ~ a o
desc obre agradarao O U de sconce rtarao os outros se se ria m e lh or
Educac;ao e Sociologia 79
da s peri orid ad d elas dificilrn t sa irem os ncedor es Logo
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desc obre agradarao O U de sconce rtarao os outros, se se ria m e lh or
que a s c Ja ~ c squ e e le estabe lece pe rma nccesscm 0 que sao ou
fossem di fc rent es. 0 se u papel con sis[c e m ex primir 0 real , e n ao
em jul ga -Io.
Senda ass im , n ao h<i moti vo para qu e a ed uc a9ao nau se rorn e
o objeto d e lim es cud o qu e sa sfaya todas estas condis:ocs c, por
con seg uime , apresente rod as as caracteristicas de uma cicnci a.
D e liuo, a ed uC d9ao vige nt e e m d ct e rminada soci c uade e COI1
siderada em de t e rmin ado m ome nto de sua ev o]u<;ao 6 urn conjun
[ d e pnhicas, man c iras de agir e costume s que con s t iwcm faws
perfeiramcmc ucfinidos e ta O cea is quanto os outrO S faws soc ia is.
E sta s pnhicas nao sao, como se acreditou duran te muiw tempo ,
combinagoes mai s ou meno s arbitrarias e artificia is cuja e xistenci aclecorre ap e na s cia te m peram e nt al inftuenci a d e d ese jos gera lm en
te fort uitos . E las sao, ao contnlrio , ve rdad c iras instiwi 90es sociai s.
Nao ex istc hom em que possa fazer com qlle lima socie d ade enh 'l,
em detcrminado morn e nro , urn siste ma d e c d u c a ~ a odiferenre da
qu e lc qu e cs ta contido em su a cstr utur a, be m como e mpo sslve
que urn organislno vivo tenha 6rgaos e fun c;oes dif e rentes claq ue
les que es tao ence rrados em sua const itlli c;ao. Se torem necessa
rias outras razo es a lem da s que ji foram d ada s para fun d am entar
esta conc e pyao , basta tamar conscie nci a d a fon;a imp era tiva com
a qual esras pra.ticas se impoem a n6 s. Nao adia m a ac redita r qu e
pod e mo s e ducar os nossos fi lho s co m o quiser m os. Somos for c;a
dos a seg uir as regras reinantc s no mei o soc ia l em que vivcmo s. A
opi ni ao nos imp oe este comporra m e nro, e a opi ni ao 6 Llma forc;a
moral cujo poder opress ivo nao 6 m e nor do que 0 da forc;a nsica.
Sua autor id ade impregna usns que, par isto mesmo, sao em la rgamedida excl uido s cia a93.0 clos indivfduos. Podemos at6 infrin g ir as
for<; as mo rais, mas e1a5 ac-abarao rcag ind o co nua n65. E, pur causa
da superi orid ade d elas, dificilrn ente sa irem os ve ncedor es . Logo,
podemo s ate nos revo lrar con tra as fo r\=as m ater ia is da s qu ais d e
pendemo s e te nta r viver de mod o difere nt e daquele dererminado
pe la natu reza do no sso meio fisico , mas entaO a morte au a do
c n ~acab am se ndo a sa n9ao da nossa re vo lra. Oa m es m a form a,
cstamos mer g ulhado s em uma atmosfe ra de ideias e sent imen-
toS coletivo s que no s nao podemo s modificar a vontauc. E 6 em
ideias e se ntimentos dcste ge nc ro que as pratica s edu ca t ivas se
base iam. Portanto, cla s sa o co isas di stintas de n6 s, ja qu e rcsis tcm
anossa vOl1tade, realidad cs que tc m uma natur ez a pr6pri a, d efini
da e compl c ta qu e sc imp6e a n6 s. Pa r con segui nte, pode se r born
ob se rva-l a, buscar conh ec c -Ia somente para conhece- la. Alem di s
so, as priti cas edu c at ivas, sejam e las quais forem e tendo as difercm;as qu e tiv e re m, te m e m corn um um as pecto esse nc ial: tOd as
e las resu ltam da a\=ao exe rcida por uma gera \=aa sabre a g er a ~ a o
seg uinte n o imuito d e ada prar a m es ma ao m eio soc ial no qua l esta
de sti nada a viver. Po rra nco, tOdas elas sao mod alidade s diversas
de sra rela 9ao fu nd amenta l. Conseque nt e rnente, elas consr iru e m
faw s de um a mesma es pec ie, pert e ncendo a LIma m esma catego
ria l6gica. Elas po d e m e mao servir d e objeto a um a unica e mesma
ciencia: a ciencia cia educa\=ao.
Vam os ap a ma r de sde ja, apena s para tafI1ar as icle ias mais
clam s, al gu ns do s principais probl e ma s dos q ua is esra c ie nci a
cleve trarar .
As p raticas educarivas nao SaO ratoS iso lados un s do s o utro s.
PunSm, para uma me sma soc ieclad e, e las esrao ligada s em urn mes
mo sis rema do qual to da s as parte s conrribuem pa ra UTml mesma
finalidade: 6 a s istema de ed ucagao proprio daque le pais e daquela e poca. Caela po vo rem 0 se u, assi m como tern 0 se ll siste m a
moral , relig ioso, economica, erc . Mas, por ourro lad o, povos d a
80 C o l e ~ a oTextos Fundantes de d u c a ~ a o
mesma espeCle Oll seja povos que se parecem em [U 9ao de
d u c a ~ a oe Socio logia 81
w da a vida meditativa q ue entao existe estimule e desenvolva esta
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mesma espeCle, Oll seja, povos que se parecem em [U 9ao de
aspectos essenciais de sua constitui<;ao, devem praticar sistemas
de educa<;ao comparaveis entre si. As se m e lhan<;;as que a sua orga
n izar;ao geml apresenta devem necessariamen te acarretar outras,
igualmente imponantes em sua organizar;ao educativa. Por COll-
seguime, comparando, identificando os paralelismos e elim inando
as diferenr;as, decerto se pode constituir as t ipos genericos de edu-
C3r;ao q lie correspondem as diferentes especies de socicdade. Por
exemplo, no regime de trioo, a caracterfst ica principal cia cuucac;ao
e ser difusa, dada scm distinc;ao p f todos os mcmbros do cia. Nao
h3 profcssores design ados c nem supcrvisorcs cspeciais e ncar
regados de formar os jovcns. Sao wdos os anciaos, e 0 co njunto
das geras;ocs antcr iores que desempenha esce papel. No maximoaeonteee de ccrtos anciaos sercm desig nados em especial para mi
nistrar cerms ensinos fundamentais. Em outras sociedades, mais
avans;adas, esta difusao acaba ou, pelo menos, atenua-se. A edu-
caS;ao sc conccnt .ra nas maos de funcionarios especiais. Na India e
no Egiro, sao os sacerdotes que sao responsaveis por esta funyao.
A educac;ao 6 urn atributo do poder sacerdotal. Ora, esta primeira
caracterfstica diferencial provoca outras. Quando, em vez de per
manecer completarnente difusa assim como em suas origens, a
vida religiosa cria para si mesma urn orgao especial encarregado de
dirigi-la e administra-la, ou seja, quando se forma uma classe ou
casta sacerdotal, 0 que a religiao tem de propria mente reflexivo e
intelecrual alcanya um desenvolvimenro ate entao desconhecido.
Foi nos meios sacerdotais que apareceram os primeiros prodro
mos, as form as primarias e rudimenrares da ciencia: Astronomia,
Matematica, Cosmologia. um faro que Comte observara haviamuito tempo e que e facilmente explicavel. bastante natural
que uma organizac;ao cujo efeiro e concentrar em um grupo restriro
w da a vida meditativa q ue entao existe estimule e desenvolva esta
ultim a. Logo, a ed ucayao nao mais se limita, como no prindpio a
inc ulcar prat icas na crianya e condiciona- la a cenas mane iras de
agir Cria -se entao conteudo suficiente para uma certa instruyao.
o sacerdote cnsi na os elementos desras ciencias que se estaO for-
m ando. S6 que esta instruyao e estes conhecimemos es peculati
vos nao sao ensinados por ensinar, mas sim por causa das relayoes
que des entretem com as crenyas religiosas. Eles of re cern urn
carater sagrad o c sao plenos d e elementos propriarnentc religiosos
porque se forma ram no pr )prio seio da rciigiao, sendo assim inse
paniveis da mesma. ~ Em outros lugarcs, como, pot exemplo, nas
pol is gregas e latinas, a educac;;ao fica dividida numa propon;;ao,
var iave l conformeas
polis, entre0
Estado e a familia. Nada decasta sacerdocal. 0 Esrado que substirui a vida rcligiosa. Logo,
visto que ele aO priviJegia a medicac;ao, mas sim a a<;;ao e a pratica,
e fora dele e, consequentemente fora da religiao quc a cicncia
nasce quando surge a necessidade. Os filosofos e sibios da Grecia
sao sujeitos laicos. A propr ia ciencia adquire entao rapidamentc
uma tendencia antirreligiosa. Do pomo de vista que nos imercssa,
o resultado e que a insrruyao tambem adquire urn cararer laico e
privado assim que surge . 0 gr mm teus de Arenas era UlTI simples
cidadao, sem ligayoes oficiais ou cararer religioso.
iUlltil continuar com os exemplos cujo interesse e apenas
ilusrrativo. Bastam os citados acima para mostrar como, ao corn
parar sociedades da mesma especie poderfamos consriwir ripos
de e d u c a ~ a oassim como constirufmos ripos de famflia, Estado
ou rcligiao. Alias, esta classificayao nao resolveria todos os pro
b lemas cienrfficos que podem se impor a respeiro da educayao;cIa so fornece os elementos necessarios para resolver lIrn Olltro
p roblema rnais importante. Uma vez os tipos estabelecidos
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84 Colec;ao Textos Funda ntes de d u c a ~ a o
co n te mpor anc os. E l t s s6 m e nc ion am os s is tem as an t igos o u vi
rd u c a ~ a oe Sociolo g ia 85
qu e o s cscrito s de P l a t~i < Arist6tcle s c Rous seau sao tratadn s e m
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p g
ge nt es pa ra conu c na - N e d ecl a rar que s ao infund ado s. faze ndo
ma is a u m e nos tab ula rasa de s te s s istem a s e c on strui ndo al go
inre iram e n te no vo no luga r GO S me smo s.
Pa rtama, para e nt e nd e r be rn c e nco nuar urn eq uilib ria, eprec iso
di stin g uir c uidado sa me nt e dai s t ipo s de rdlex oes bastant e di f eren
tes. A Pedagogia ealga discinto cia C iencia ua Educa 9ao . M as entaD
o qu e ela 6? Para faz er um a es colha be rn fu ndada n ao bas ta sa be r
aqui lo que c ia nao e mas e preciso aponta r em q ue cia cO1siste.Pod cmo s di zer que e uma acte? Pareee que s im , pai s no1
ma lm e nte nau se ve int er mediar io entre e s te s doi s ex trem os,
e a tribui sc () tc rmo <.trte a todo prod u w d e um a re ftcxao qu e
naoe
ei6 ncia . Por e m , isto signific
a es tender 0 se nt ido da pala vra
arre a ponto d c incl uir nel e co isas muiro di f e re n res.
D e faro, tamb c m ch amarno s de arre a ex pe rie ncia pratica a d
qu irida pe lo profess or e m co ntato com c ri n ~ s e no exerd cio o a
sua p rofissao. O ra, cs ca ex pc rieneia e mani fesra rr e m e alga mu ito
di fe re m e das teorias do pedagog o. U m r aw de ob se lva.yao co rre nte
faz co m q ue esra d i fe r cn ~ a se ja b e m percepti ve l. Pode-se, ao mes
rno t e mp o, se r um prof ess or p e rfe ito , mas c ompl e tame nt e inca pa7.
de proe e de r as re ftexoes da P ed agogia . 0 rneStl e ha b il sa be taz e r
o qu e e prec iso fazc r, m as nem sempr e conse gue di ze r as raZQes
q ue ju sti fica m as p rocc dim e ntos que empr eg a. 0 pedagogo , p or
sua vez, pode c ar ece r de q ualq llc r habilidade prati ca; n6s naa da
rfamos u ma t urm a nas maos de Rou sseau e n em de M onta ign e .
E m eSlllo de Pes ta lazz i. qu e e ra urn h om em d o meliel; mas que
d ev ia poss uir de modo a pen as incom p le to a a rre do e d uca do r,
cornu pro va m os se lls repetidos f racassos. A Illes ma co nf US30 e[c ita e rn ou t ras cs fc ras. C hama -sc de aete 0 savoir failT do ho mem
de E staclo, ex pe rt na i n js t ra ~ ao pu b lica. Pore m, camb er ll se diz
q
arte polftica ; c 6 6b vio qu e naa se pode co nside ra- Ios como o bras
rea lmc m e c ie nd ficas, v istO qu e e las nao te rn por o bje tivo es tuda r 0
rea l, mas sim co nstrui r um i deal. E co nwd o, hi lim abismo e nt re
o pensam e mo q ue de u or ige m a um l ivro co mo o contra/o social e
aquel e que edifica a admini stra .yao d o Esrado: Rous se au pro vave lme nt e ter ia sido p ess imo ranto com o mini stfo quanta como edll ca
dor . TIlmbem e par i sro qu e os me lhore s te6ricos da Medic ina n ao
sao o s m e lhor es m e dico s, lan ge d isto.
Port a nw , e me lhor naa des ignar co m a m es ma p alav ra dua s
form as d e at ividad e tao di f e rentes. Acred itamos qu e e p reciso
rese rva r 0 termo art e pa ra tudo aq uilo que e prat ica pura se m
tcoria. To do mundo e nt c nd c Cst e te rm o qua nd o d e se r e fe re
a art e do sol d ado , a do advo gado e a do pro fe ssor. lIma art e eurn s is te ma d e m ane iras d e ag ir ad eq uada s a fi ns es pc c iai s e
rcsu it an tes Ol l d e u rna e xpe ric nci a trad ieiona l tr a nsm itida pcJ a
edu eat;ao o u cia ex per ic nc ia pess oa J do indivfduo . S6 sc pod e
ad qu iri -Ias mexe nd o co m as c oi sas sob r e as q ua is a a9::10 d eve se c
exe rc ida e a g ind o po r s i mes mo. S e m dll v ida , pode acontee e r d e
a art e sel guiada p e ia r e fiexa a , ma s a r e ft exao nao e urn e le me n
to essenc ial d a art e, v is o qu e e la pod e exist i r sem es ta u lt im a. E
mai s: n ao ex ist e ne nhuma arte e m qu e tuda se ja reftet id o.
P orem, en t re a art e ass im d e finida e a ciencia p ropr ia ment e
di t a, hi Iugar para um a 3 tiru de me n ta l int erm e d i i ria. Em ve z de
ag ir sabre a s co isas au os seres seg uindo d e te rm inado s mod as,
pode -se r e fletir sob r e a s process os d e a930 ass im e mpre gad os,
nao n o int u ito d e c on hec e -Ios e ex plici -Ios, ma s s im d e es t i
mar 0 valor del es. desco brir se e le s sao 0 qu e d ev e m se r, se naose ria ut il mod ifica-Ios e d e q ue man ei ra, incl usive s ubst itu f-Ios
totaim enr e por n ov a s pr ocessos . E stas re ftex oes tomam forma d e
86 CoJe<; ao Textos undantes de d u c a ~ a o
tcorias; sao combina9oes de ideia s, e nao de atos, aproxirnando-se
r
d u c a ~ a oe Socioiogia 87
esrado embrionario. Restam de urn lado, os outros ramos da
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assi m cia ciencia. Co m ucio, as ideias combinadas de ste modo na D
tern por objetivo cx pr c ssar a nature za da s caisas ja dada s, ma s
si m dirigir a ac;ao. Elas nao consistcm em movimemos, mas estaobem pr6ximas do rnovim e nto qu e devcm orientar. Emhora nau
se jam ac;oes, e las sao pelo menos programas de ac;ao c , por isto,aproximam-se cia arte. Alguns exemplos sao as [Corias m6dicas,
politicas, est rateg icas, etc. Para ex primir 0 c r ter mi sto dcstGs ri
pas de refiex ao, vamos chama-las de teorias pdticas. A Pcd agog ia
e uma [eoria pratica deste genero. Ela nao estuda cientificameme
os siswmas de educas:ao, ma s reflete sabre eles no intuito de for
necer a atividade do educador ideias que 0 dirigem.
Po r cm a Pcdagogia vis ta de sta forma esta s UJe lt a uma
objq:ao cuja g ravidad c nau pode ser omitida. Sem duvida, vao
dizcr. uma (Co ria pratica e pu ss lvel e legltima quando e la pod e
se apoi ar em uma cie ncia constitufda e inconte stavel da qual
ela consdtui apenas a aplicac;ao. Neste caso, de fatD, as n090es
te6ricas das quais sc deduzcm as consequeneias p[(: .tieas pos
suem um valor cicntffico que impregna as conclusOes oriundas
delas. E assim que a Quimica Aplicada e uma teoria pn.hica que
nao pa ssa da implel1 '1enta9ao das tcorias da Qufmiea pura. Mas
o valor de llma teoria pradea dependc do das ciencias eujus no-
90es fundamentais ela toma cmprestado. Ora, em que c i&nc ia s
a P eda gog ia pode se apoiar? Prim e iro na Ciencia da Educac;au,
poi s, para sa be r 0 que a ed uca yao deve ser, a nt e s de tudo se r ia
preci so sabe r qual e a natureza dela as di ve rsas condi9ucs dasquai s e la dc p cnde e as le is qu e g uiaram a sua evoluC;lio atravcs
da hist6ria. Co ntudo , a Ci e ncia da Educac;lio existe sumeme em
Socioiogia , que poderiam ajudar a Pedagogia a fixar 0 objetivo
da educav3.o com a orientac;ao ge ral dos metodos e, d e DUtro, a
Psicolo g ia , cujas li90es poderiam se r bastante (ltei s para a deter
mina9ao detalhada do s procedimentos peda g6gicos . Mas a 50 -
ciologia e uma cic nc ia ai nd a emergente dispondo so mente de
poucas p r o p o s i ~ c sestabelecidas, se c que dispoe realmente.
A propria Psicologia, embora se tenha constiwido mais cedo du
que as cieneias soc iai s, provoca todo tipo de conuoversias: n ao
hi questocs psicol6gica s em torno da s quais ainda nao se defen
dam as teses mai s opostas possivcis. Sendo assim, qual 0 valor
de conclusoes praticas com ba se em dados cientfficos ao mc smo
tempo tao incerro s e incompl ctos? Qual 0 valor de uma rcftexao
pedag6gica que careee de qllalquer base au cujas ba ses, qu ando
nao cstao wtalmente ausentcs carecem tanto de so lide z?
o faw que invocamos assim para nega r qualquer autoridadea
Pedagogia e, em si mesmo incontestave l. E6bvio que a Cicncia
da Educ3 9ao re sta a ser feita por inteiro e que a Socio[ogia, bern
Como a Psic ologia, ainda cstao bem POllCO adiamadas. Portanto ,
se nos fosse p ermitido cspcrar, seria prudente e mct6dico tel'
paciencia ate que as ciencias tivessem feito progrcssos e pude ssem ser utilizadas com mais seguran9a. 0 problema 6 que justa
mente a paciencia nae) nos e permitida. Nao temos a liberdad e
de nos colocar OtI de aeliar a quesrao: e la nos e colocada, au me
Ihor, imposta pela s proprias caisas, pelos faws, pela necessidade
de viver. E tern mais: so mo s levados pel a corrcnteza, e e preciso
seguir em [reme. Em muito s aspec{Qs, 0 nosso s iste ma tradicional
de educa9ao nlio sc cncontra em ha rmo nia Com as no ssas ideia s e
nece ss idade s. Portanto, as unicas esco lha s que no s restam sao as
seguintes: temar manter as pracicas legadas pelo pa ssado, embora
88 o l e ~ a oTextos Fundantes de Educa):ao
elas nao satisfagam mais as exigencias da situa9:10, ou entao (eo
Educac ao e Sociologia 89
a nossa eiencia, por mais imperfeita que ela seja, e toda a nossa
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tar destemidamcnte restabelecer a harmonia perdida rcalizando
as modificayoes nccessarias . Destas duas escolhas, a primeira eirrealizavel. Nada 6 mais ilus6rio do que estas tentativas de dar
uma vida artificia l e uma aparente autoridade a institui y6es cn
vclhecidas e desacrediradas. 0 fracasso e neviravel: nao se pode
abafar as ideias que estas institui90es contradizem e nem calar
as ncccssidades que elas dcixam insaasfeiras. As forgas contra as
quais sc (enta assim lurar nunca sa em perdendo.
S6 nos resta, portanto, ref coragem para comc9ar a trabalhar,
buscar as mudangas que se impoem e realiza-Jas. Mas como des
cobri-las a naD ser atraves da rcflexao? Somenre a consciencia re
ftexiva pode preencher as lacu nas de uma tradit;ao obsoleta. Ora,
o que e a Pedagogia senao a reflexao aplicada da maneira mais
met6dica possfvel as coisa s relativas educat;ao no intui to de re
gular 0 seu desenvolvimento? Sem duvida, nao remos em maos
todos os elementos que desejamos para resolver 0 problema, mas
isto nao e morivo para nao buscar resolve-Io , ja que elc deve serresolvido [>orranto, nao temos mais nada a fazer senao agir da
melhor forma possfvei , ju n tando 0 maximo de faws instrurivos e
interpretando-os com 0 maximo de metodo para reduzir ao minimo as chances de erra. Este e 0 pape do pedagogo. Nada emais vao e esreril do que aquele puritanismo cienttfico qu e , sob
o pretexto de que a ciencia ainda nao esta prama, recomcnda a
absten<;:ao e aconsclha os homens a assistirem indiferentes, ou
pelo menos resign ados, amarcha dos acontecimentos. Ao lado do
sofisma de ignorancia esta 0 sofisma de ciencia, nao men os pcri
goso. Sem duvida, agindo nestas eondi<;:oes, corre- se riscos. Mas a
at;ao nunea se da sem riscos; pOl mais avan9ada que seja, a ciencia
nao pode elimina-Ios. udo a que podemos fazer e empregar toda
consciencia para prevenir estes riscos na medida das nossas capa
cidades . E e ustameme este 0 papd da Pedagogia.
Comudo , a Pedagogia nao e util someme em perfodos educos
nos quais e preciso , com urgencia, restabel ecer a harmonia entre um
sistema escolar e as necessidades da epoc 3; hoje em dia, pelo menos,ela se tornou uma auxiliar con stante e indispensavel da educa<;:ao.
Isto porque, em bora a arre do educador seja ki ta sobretu
do de instinro s e hibitos que se tornaram quase instintivos,
a inteligencia continua sendo necessaria. A reflexao nao po
deria substituf-Ia, mas 0 professor nao conseguiria dispensar
a reflex ao , pelo menDs a partir do momento em que os povos
tenham atingido urn cerro grau de civiliza9ao. Oe fato, tendo
em vista que a personalidade individual se tomou urn elemen
to essencial da eulrura intelectual e moral da humanidade, 0
educador deve levar em conta 0 germe de individualidade que
existe em roda crian<;:a. Ele deve , por todos os meios possfveis,
buscar favorecer 0 desenvolvimento dele . Em vez de aplicar
a todos, invariavelmente, 0 mesmo regula memo impessoal e
uniforme, ele deveria, ao contrario , variar e diversificar os mcto
dos de acordo com os tempera memos e a disposi9aO de cada inteligeneia. Todavia, para poder acomodar com discernimento as
praticas educativas a variedade de casos particulares, e preciso
saber quais sao as suas tendencias, as raz6es dos diferentes pro
cessos que as comp6em e os efeitos que elas produzem em dife
rentes circunsrancias; em suma, e preciso submete-Ias a eflexao
pedag6gica . Uma e d u c ~ oempiriea e mecanica nao pode nao ser
Opressiva e niveladora. Alem disso , a medida que avan9amos na
hiSt6ria, a evoIu9ao social se acelera: uma epoca nao se assemelha
mais anterior, cada uma tendo a sua propria fisionomia. Novas
90 C o l e ~ a oTextos Fundantes de Educa tao
necessidades e ideias surgem sem parar; para poder acompanhar
Educa<;ao e Sociologia 91
reflexao pedag6gica i rrompe e, embora nem sempre brilhe com a
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as ffiudanr;as incessantes que atingem as opini6es e costumes, a
propria educar;ao deve mudar e, consequentemente apresentar
lima cons tame maleabilidade , permitindo assim a mudan<;a. Ora,
o unico meio de impedi-Ia de sucumbir ao jugo do habito e dege
ncrar em automatismo mccanico e imuravel e mantendo-a eternamente vivaz atravcs da rcflcxao. Quando ele analisa oobjetivo
e a razao de seT dos m6todos que emprega, educador esra apm
a julga -los c , logo, disposto a l11odifica- los se aehar que oobjetivo
nao 6 mais 0 mesmo au que os meios devem seI diferentes. A
rcflcx o e por exceicncia, a fon:;a anmgonica da roeina, e a rotina
6 0 obstaculo aos progressos necessarios.
it por isra que como dissemos no comecyo, embora seja verda
de que a Pedagogia so surge na historia de modo intermitente ela
tende cada vez mais a se rarnar uma funcyao continua da vida so
ciaL A Idade Media nao tinha necessidade dela, era uma epoca de
conformismo, na qual todos pensavam e sentiam da mesma for
ma, todas as mentes eram como que tiradas do mesmo molde, as
dissidencias individuais eram raras e inclusive proibidas. Por isto,
a Educac;ao era impessoal: nas escolas medievais, 0 professor se
dirigia coletivamente a rados os alunos, sem imaginar que pudes
se adaptar a sua acyao anatureza de cada um. Ao mesmo tempo a
imutabilidade das c r e n ~ a sfundamentais impedia 0 sistema edu
cativo de evoluir rapidamente . Por estas duas razoes, 0 professor
tinha menos necessidade de se guiar pelo pensamento pedag6gi
co. Tudo muda porem no Renascimento: as personalidades in
dividuais se destacam da massa social em que se mantinham ate
entao absorvidas e misturadas, as mentes se diversificam, 0 de
senvolvimento historico se acelera sirnultaneamente , e uma nova
civilizac;ao se constimi. Para acompanhar todas estas m u d a n ~ a sa
mesma intensidade nunca mais se apaga complctamcnte.
IV
Porcm para que cia possa produzir os efeitos uteis que [e
mos 0 direiw de esperar dela, a reflexao pedagogica deve se
submeter a uma culrura apropriada.
1° 1a vimos que a Pedagogia nao e e nao poderia substituir a
e d u c a ~ a oSeu papeJ nao consiste em fazer as vezes da pracica, mas
sim guia-la, esclarece-Ia, ajuda -Ia, quando necessario, a preencher
as lacunas que sobrevierem e remediar as deficiencias constatadas.
Porramo, 0 pedagogo nao rem de construir de alto a baixo urn sis
tema de ensino, como se ja nao exiscisse urn antes dele, devendoao contrario, empenhar-se sobretudo em conhecer e compreender
o sistema de sua epoca - esra e a condicyao para que ele esteja apto a
usa- Io com discernimento e julgar 0 que pode estar errado nele.
No entanto para compreende-Io nao basta considera-lo tal
Como ele se apresenta hoje em dia, pois este sistema de edu
ca<;ao e urn produto historico que somente a historia pode ex
p licar. Trata-se de uma verdadeira i n s t i t u i ~ a osocial. Alias, nao
existem muitos sistemas de e d u c a ~ a oem que toda a hist6ria
do pais repercuta de modo tao completo. As escolas francesas
traduzem e exprimem 0 espirito frances. Porranto, nao enten
deremos nada sobre a essencia delas e 0 objetivo que buscam
se n a ~soubermos 0 que compoe 0 nos so espirito nacional, quais
sao os seus diversos elementos tanto os que dependem de cau
Sas permanentes e profundas quanto os que ao contrario sao
devidos a ~ a ode fatores mais ou menos acidentais e passageiros: todas as questoes que somente a analise historica pode
esclarecer . Frequentememe se discute sobre 0 lugar que cabe
92 o l e ~ a oTextos Fundantes de E d u c a ~ a o
a Escola Primaria no co njullw da nossa organizavao esco lar e
Educar;ao e Sociologia 93
rcmenre nao pod em ser compreendidas. Assim, para descobrir as
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na vida da soc iedade em gera . Mas 0 probl e ma sera insolUve l
se ignorarmos como a nossa o r g n i z ~ oescolar se ormoll de
onde vern as suas caracterfstic< lS marcantes, 0 que d etermino ll ,
no pa ssado. 0 lugar que 0 Ensino Ba sico ocupa hoje, as causas
que favoreceram ou entravaram 0 desenvolvimemo etc.
Assim, a his[dria do ensino, pelo menus do ens ino nacional, ea primcira <las propcdeuricas de uma culrura J1cdag6gi ca . Natural
mente, SC sc tratar de Pcdagogia Primaria, 6 0 cstudo oa his t )ria do
Ensino Primario que devcr emos privilcgiar. Por6m, pcla razao que
acabamos de apontar, ele nao pode seT complcramcntc scparado do
sistema escolar corna um rodo, do qual ele nao passa de uma parte.
l )No enranw, esre s isrema escoJar nao e composto unicamen
te de pra tiC3s estabe lec idas e mewdos consagrados pelo usc, her n ~do passado. Ne le se e nco mram , a16m disso, te nd c ncias para
o fmuro e aspi rac;:6es de um novo ideal , emrevistO de forma rnais
ou me no s clara. E mportante conhecer be rn estas aspirac;:6es para
poder esrimar qu e lugar convem Ihes arribuir dentro da realidade
escolar. Ora, elas vern manifesrar-se nas douuinas pedag 6g icas - a
hisr6ria destas doutrinas deve, portanto, completar a do ensi no.
Pode-se pensar, e claro, que para cumprir a sua util missao,
esta hi st6ria nao precise ir muito longe no passado, podendo
sem inconveniente , se c basranre curta. Nao basta ria saber as
teorias em torno das quais as mentes conremporaneas esrao di
vididas ? Todas as ourras, dos seculos anreriores, estao hoje ob so
leca s e parecem rer proveito apenas para os eruditos.
Porem, acredimmos que este modernismo enfraquec;:a uma das
principais fomes nas quai s a reflexao pedag6gica se alimema.De fato, as domrinas mais recenres nao nascera m ontem; e las
sao a continuac;:ao das ante rior es, se m as quais elas conseque n-
causas dererminanr es de uma corre nte pedag6gica com alguma
impocrancia , em gem l e preciso, urna a uma , volrar basrame no
tempo. Alias, isto e indispensavel para rer certeza de que as nov as
vis6es que fasc inam as memes hoje nao sao brilhames improvisa
c;:6es, fadadas a cair ~ brev e no esq uecimemo. Poc exemplo, para
compreender a anral tcndcncia a ensinar atraves das coisas, 0 que
se pode chamar de rca lismo pcdag6gico, nao d ~ v e m o snos comen
rar em ver como tal au tal profe ssor contemporanco a segue, mas
sim vol tar are 0 mom entO em que cia surgc, ou scja, no mcio do
seeulo XVIII na Fran a e por volta do tim do XVIT em eerros pai ses
protestantes. 86 0 faro de e la ticar ass im associ ada as suas primci
ras origens fad com que a pedagogia realista se aprescnte sob urnourro aspecro: perceberemos melhor a quanw e la se deve a causas
profunda s, imp essoa is e influ e nces e m todos os palses europcus
c, ao mes mo tempo, reremos melhores chances de observar quais
sao esras causas e, logo, de medir a verdadeira reperCllSSaO deste
mavimenro. Mas, alem disso, esra corrente pedag6gica se consti
miu em oposic;:ao a uma corrente com riria: a do ensino humani sta
e livresco. Portamo, s6 poderemos analisar a primeira com sa be
doria se tambem conhecermos a segu nda. Somos cntao obrigados
a vahar bern mais no tempo. Para que e la de [Odos os scm; fruws ,
csta hist6ria da Pedagogia nao deve, alias, ser separada da historia
do ensino. Embora as tenhamos distinguido aqui, na vcrdadc elas
sao compleme ntare s, pais, em cada epoca, as doutrinas dependem
do estado do en sino , ° ual e las refletem ao rnesmo tempo em que
rcagem contra cle. AJem disso, na medida em que exercem uma~ o
eficaz, e1as contribuem para determina-lo.Portamo a cultura pedag6gica d eve ter lima base extre
mameme hi st6rica . S6 assim a Pedagogia pod era evirar uma
94 e ~ a oTextos Fundantes de E d uc : a ~ a o
aCUS3yao qu e c om frcqu e nc ia e le vanrada contra ela e qu e ja pre
E d u c a ~ a oe Sociologia 95
preciso me nos tre inam ento fan atic o e unil ate ral e ao contrari o
d d l d d d
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judicou bas tam c a slIa am or idade. Muiro s peda gogos e d e mr c
eles os mai s ilu srres, qu ise ram edificar o s s eu s s iste ma s fazc nd o
ab stra9ao d o qu e hav ia exis tido am e s dele s. N este ponto , (} traca
m e nro aD qu al Ponocr ate s s ubmete Gar gJ.ntua 6 n tes de ini cia-Io
aos nova s me wd os, e signifi cati vo: d e faz um a lavage m ce re bralcom he le boro de Anti cira de modo a faze-Io es qu ec e r tud a
o que ele havia aprendido Com os sellS anti gos pr ece p tores .
15[0 significa va di zer, de forma aleg6rica, qu e a nova peda gogia
nao deveria tef nada em C 1l1um com a anterior. Mas , ao me s m o
tempo , isto equiv a lia a se distanciar das condi oe s da r ealidade.
o futuro nao pod e se r imaginado a partir do nada: s6 podemos
con struf-Io com as ma t e riais qu e 0 passada nos legau. U rn ide a l
con strufdo na dir e -;ao op ost a d o es tado da s coisas exi s rente s nao C
n. <Ilizavcl , ja qu e nao poss ui ralzes na realid ade. Alia s, 6 claro qu e
{} passado tinha suas razoes d e ser do jeiw que foi: el e nao pod c ria
ter durad a se nao ti vesse s ati sfe iw nece ss idad es leg ftim as que
nao pad e ria rn desa parec e r da noiw para 0 dia. Portanto , nao se
pod e se r t aO radica l e fin er cibula rasa , a nao se r qu e ignore mos
nece ss idad es v ita is. Foi a ss im que muitas vezc s a P edag og ia nao
passou de um a forma de iirerarura ut6pica. Terf amo s pe na dec r i a n ~ a na s quai s a m e wdo de Rousseau ou de P es tal ozz i Fosse
aplicado com rigor. Sem duvida, estas utopias d ese mp e nh aram
um papel util na hisr6 ria. 0 pr6prio simpli smo d e las Ihes pe rrni
riu arin gir as men r es com mai s intcn sidad e e es timula -Ias a ag ir.
Por em , prim e iro, e sta s vama gen s nao d e ixam de re r inco nve nie n
[es . E seg und o, para aquda pcd agogia do dia a dia, d a qu al [Odo
professo r pre cisa par a e ntend c r c gu iar a s ua p nh ica co tidi a na e
6. Tr d t3-se de urn romance de Fra n-;ois Ra be lais es cri to em I S~ 4 1 N T
mais m e toda , urn se ntim e nt o mai s pre se nte da r ea lidad e e da s
multipla s difi culdad es qu e sc deve enfremar. E este sentim e mo
que levant a uma c ulrura his t6 rica be rn compreendid a.
3°) S6 a hi st6 ria do e ns ino e d a Peda gog ia perm re der e rmi
nar as meta s qu e a e du calYao deve bu sca r a todo momento . N oemanto , e na P sicol og ia q ue cabe procur ar os mcio s nec ess arios
a ealizac; ao d es ras m e tas.
De faro, 0 ideal ped ag6g ico de um a e poca expressa ant es de
rudo () estado da soci edacle na epoca con siderada. Contudo, para
q ue cste ideal se tOme re alid ad e, e pr eciso ainda fazer com qu e
a con s cien cia da crian a se co nf orm e a e le. Ora , a consci c nc ia
te rn as s ua s propria s leis as quai s e preciso conhecer ant es de
modificar , se qui se rmo s ev irar , t an t O quanta po ssivel , as ce nrat i
vas empfri cas qu e a Peda gog ia bu sca j usram en re redu zir ao mf
nimo. Para pod e r es timul ar 0 de se n volvim e nto da a rividad e e m
uma cena dirq :ao 6 prec iso sab e r q uai s sao os mecani smo s q ue a
mavem e a natur eza ddes S6 ass im se ra possivel apli car ai, co m
conhecim e nto d e ca usa, a a9ao adequ ada. Ser a que se trara , por
exemplo, e des pe rtar 0 amor d a parri a OU 0 sentimento de hu
manidade ? Saber e mo s oric m ar mdhor a sensibilidade moral do salunos neste ou naqll c le se nrido quand o tivermos noc;oes mai s
completa s e preci sas so br e 0 conjunto do s fen6meno s que ch a
mama s de cend e ncias , habi w s d cse jos e moc;oe s erc. , sobr e as
diver sas condi c;oes qu e os regem e tiobr e a forma sob a qual e les
se manife stam na crian -;a. C on form e v irmo s as rend e ncia s co mo
produto s das expe ric nc ias agra da vc is ou n ao que a e sp ecie v ive u
ou , ao conu 3rio, co mo urn f aeo pr imitivo anterior aos esta do s af e
rivo s qu e acomp a nh am a se u m eca ni smo , deveremo s ag ir de mo
du s ba sta m e di f e re m es para reg ular 0 seu funcion am emo. O ra e
96 Coler;ao Textos Fundantes de Educar ao
aPsicologia e, em especial, aPsicologia Infantil que cabc reso lver
t6 P b l j i 6
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cscas quest6es. Ponamo , embora ela se ja incomp et e nce para 6-
xar 0 objetivo - ja que 0 mesmo varia dcpcndcndo dos estados
sociais -, ela certameme tern urn papcl Iti1 a d es e mpenhar nac o n s [ j t l l i ~ : a odos metodo s. E ma is: como nenhum m ew do pode
se r aplicado da me sma maneir a nas diferente s crianc;as, e maisuma vez a Psicologia que deve nos ajudar a nos s itu ar em meio ad iversidade da s intelj ge ncia s c carareres. ln fel izmente , sabemos
que ainda esramos longc do momento em que ela rea lmente es
tara apta a sat isfazcr cs tc desideratum
Urn ramo espccffico da Psicologia rem uma importancia ca
pital para u pedagogo: a Psico logia Coletiva. Ue faw, uma tur
rna e uma pequcna soc iedad e. Por i sto, nao se deve conduz i-Ia
como sc ela fossc apena s uma s impl es agiomera9ao de sujeitos
independenrcs tIn s do s OlltroS . Cr ianlYas reunida s em uma tu r
rna pensam, sentem e agem de modo diferente de quando estao
isolada s. Em uma turma, produzem-se fen6rnenos de contagio,d e s m o t i v ~ ocoletiva, agita9ao mutua e efervescencia sa udavcl
que 6 p rcciso sa ber di scernir no intuito de prevenir Oi l combatcr
uns c uti liza r os OUtros. Sem duvida, esta ciencia ainda 6 uma
c r i a n ~ aNo en anto, existe desde ja urn cereo numero oe tesesque nao se deve ignorar.
Estas sao as principai s discipl ina s que podem oc sperrar e
alimentar a reflexao pedag 6 g ica. Em vez de hu sca r decretar lim
c6uigo abstrato de regras rne todo l6gicas para a Pedagogia - ini
c iat iva que, a partir de uma invest iga9ao tao compost a e eomple
xa, nao e ple namente realizavel - , achamos mclhor indicar de
que maneira, em nos sa opin iao, a pedagogo dcvc ser farmada.
Uma certa at itud e mental face aos problemas que cabe a eJe
resolver sc masua , por i sto mesmo, determinada.
3PED GOGI SOCIOLOGI
Se nh orcs,
Para mim e lima grande honra cujo valor eu simo intensa
mente ter de substituir nesta cadeira ) homem de gra nd e bom
sc nso e firme vontade ao qual a f r n ~ deve, em larguissima
parte, a e n o v ~ odo seu Ensino P rimar io. Tendo estado em
contato Intima com as professorc s da s no ssas escolas d esde que
eo m ece i a ensinar a Pedagog ia na U niver sida de de Borde aux,
ha quinze anos, pude ver de perro a obra a qual 0 nome do Sr.
Buisson ticara definitivamentc associ ada. Por conseguime, re
conhe90 coda a sua grandeza, sobrctudo quando me lembro do
estado no qual se encontrava estc Ensi no no momenta em que
a refor rn a toi empreendida - < impo ssive l nao admirar a impor
ta ncia do s re su ltados oh t idos e a rapidez dos progressos realiza
dos. M u l t i p l i c a ~ a oe transformac;ao rnateria l de escolas, substituilYaO das velhas rot in as de antigamente por metodos racionais,
Urn verdadeiro impulso na rcf1exao pedag6g ica e um estimulo
gera l de todas as iniciativas: tudo isto ce rtameme con s ritui uma
da s maior es e mai s bem- sucedidas revolu90es que ocorreram na
hist6ria da no ssa Educac;ao nacional. Portan to , para a ciencia foi
lim a ve rda deira sone quanoo, ao considerar a sua rarefa como
eoncluida, 0 Sr. Buisso n rcnunciou as suas exaustivas fun90es
para compartilhar , atraves do ensino, os resu ltados de sua io
Comparavel experiencia. Uma cxtcnsa pnitica, gu iada por uma
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100 o l e ~ a oTextos Fundantes de Educar;ao
ha v ia lima unica e d u c ~ oqu e, excluindo qualqu e r D ut ra COI1
vinha indistintamente a rodos as homen s fossem quais fossem
E d u c a ~ a oe ociologia 101
Tnf e liz m cnrc e ~t a concepc;3.o cia ed ucaC;30 esni em conua-
diC;ao formal com tuelo 0 Clue a hist 6r ia nos ensina: de faro, nao
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vinha indistintamente a rodos as homen s, fossem quais fossem
as condi90es hist6ricas e soc iai s em meio as quais eles viviam: eeste ideal abstrato e unico que os te6ricos da e d L l c a ~ a ose propunham determinar. Admiria-se que havia um natureza humana,
cujas form as e propri ed a des eram determinivei s uma vez porrodas, C 0 prohlema pedag6gicu consistia em buscar sa ber de
que mancira a as;ao cd ucadora deveria se exeTerr na natureza
hum ana assim dcfinida. Scm dlivida, ningucm nunca pensou
que 0 homcm Fosse imcdiacamcntc, assim que cntrassc na vida,
[lido 0 que ele pode e d eve se T E bastantc 6bvio que ) seT hu
ITlano 56 se constitui de modo progr ess iva , ao longo dc urn lemu
processo que c o m e ~no na sc im e nto e so ter mina na maturida
de. Por em, imaginava-se qu e este processo nao fazia TIais do que
atualizar virtualidacles, revelar e nergias lment es que existiam, ja
pr e-fo rmadas, no organi smo ffsico e mental cia crian93. PorwntD,
o ed ucador naG teria nad a de essencial a acrescemar a obra cia
natureza, nao criando nada no vo . 0 seu papel se limi tar ia a impe
dir que estas virrualidades ex jste nt es se atrofiassem par causa da
inatividade au se de sv iassem de sua d i r e ~ a onormal au ainda se
desenvolvessem com dema siada lenticlao. Assim, as condiyoes cletempo e lugar e 0 estado em que se encontra a meio social per
dem tada a utilidade para a Pedagogia. a que 0 hom em carrega
dentro de si tDdos os germes do se u clesenvolvimento, e ele, e
someme ele, que e preci so observar quando se quer determinar
em que semido e de que maneira este desen volv im ento de ve ser
orientado . 0 imponame e saber quais sao as faculdades inatas e
a natureza das mesmas. Ora, a ciencia cujo objetivo e descrever
e expl icar 0 homem individual e a Psicologia. Panama ela deve
bastar para todas as necessidadcs do pedagogo.
diC;ao formal com tuelo 0 Clue a hist 6r ia nos ensina: de faro, nao
existe nenhum povo em que cia [Cnha sido colocada em prarica.
Em primeiro lugar , nao hi uma e d u c ~ ouniversal mente valida
para 0 genero humane inteiro - em todas as sociedades, por as
sim dizer, sist e m as pedag6gicos di f erentcs coexistem c funcionam em paralelo. Tal sacie dade e fannada par eastas? A e du C'J-
c;ao varian de uma casta para a outra - ados aristDcratas nao era
igual ados plebeus, ados bramane s nao e ra iguaJ ados su d ra s.
Oa mcsma forma, na Idade Media que desproPor9ao entre a
cultura rcc ebida pelos jovens pajens, instruiclos em wdas as ar
tes da cavalaria, e ados camponeses livres, que iam aprender na
escola de sua par6qllia alguns escassos elementos de complIto,
canto e gramatica Ainda hoje , nao vemos a educac;ao variar com
as classes soc iai s ou mesmo com os habitats A da cidade nao eigual a do campo, a do burgues nao e gual a do opera rio. Dirao
par af que esta organizaya o nao e moral mente justifid.vel e pade
se r considerada como urn anacroni smo destinada a desaparecer?
A lese e icil de defender. E 6bvio qu e a educayao dos nossos fi-
Iho s nao deveria depender do acaso que oS faz na sce r aqu i au hi,
de (ais pais ern vez de outros. Porcm, mesma que a conscienciamoral de no sso tempo tivesse sido satisfeita neste po m o, nem
por isso a educac;ao ser ia mais uniforme. Mesmo que a carreira
de cada crianc;a nao fosse, em grande parte, predeterminada por
uma cega he redirar iedade a div crsidade moral das profiss6es
nao deixaria de ex igi r uma grande diversidade pectag6gica. De
fatD, cada profi ssao constitui urn meio sui generis que demanda
aptid6es e conhecimentos especfficos, urn meio no qual pre do
minam certas ideias, usos e rnanciras de vcr as coisas; e, ja que a
crianc;a deve estar preparada com vistas a u n ~ oque sed levacla
102 C o l e ~ a oTextos Fundantes de E d u c a ~ a o
a cumprir a cdUC31:;aO a partir de determinada idade na pode
mais continuar a mesma para todos os sujeitos aos quais ela se
E d u c a ~ a oe Sociologia 103
E tern mais. Longe de nos aproximar necessariamcnte dap e r f e i ~ a ohurnana esta cultura espedfica engendra uma deca
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p j q
aplicar. E por i sm que em todos os paise s civilizados ela [ende
cada vez mai s a se diversificar c sc especiaiizar e esta especial i z a ~ a oa se tornar cada vez mais precoce. A hererogeneidad c
produzida assim nao repousa sobre inegavel injustic;a como aque observamos agora hi poueo; rnas ela nao e menor. Para e n-
contrar uma eduC<.t<;ao absolutamente homo genea e igualicar ia
e preciso voltar no tempo ate as soc iedade s pre-hist6ricas. no
seio das quai s nau existia nenhuma diferencia9 ao; c ainda assim
estes tipos de sociedadcs repr esenta m apenas urn momento 16-
g ico na hist6ria da hum anidad e.
Ora e 6bvio que estas e dl c ~ 6 e sespecifieas nao sao nem urn
pall co organizada s com fins individuais. Sem ddvida as vezes
acomece de e1as provocarem no s indivfduus 0 descnvolvimemo
de apt idoe s singu larcs que ja se encontravam imanentes e s6 es
ravam esperando para enrrarem em a ~ a o ;neste senti do pode-se
dizer que elas us aju davam a reali za rem a natureza deles. Porem
sabemos 0 quanto estas v o c a ~ e sestreitameme dennidas sao ex
cepc ionai s. Dc modo mais gera l 0 no sso tcmp e ramenw inrel ec
cual ou moral nao nos prede st ina a umaf u n ~ a o
bern dererminada.o homem medio 6 e minentemente plistico podendo ser urili
zado da mesma forma em empregos basta nrc variados. Ponamo
se ele se especial iza e se 0 faz de cal mudD em vez de ourro n a ~
e por razoe s intcriores e nem pel as necessidades da nature za. Ea soc iedade qu e para se manter exige que 0 trabalho se divida
entre os seus mcm bros e de tal maneira em vez de outra. E por
isto que ela prepara COfn as s uas pr6prias mao s, atraves da educa~ a o os trabalh ado res especializados dos quais precisa. Portamo
foi para e poc ela que a e d u c a ~ a ose diversificuu assim.
hurnana esta cultura espedfica engendra uma deca
den cia parcial - e ism acontece embora ela se encontre em har
monia corn as predisposi90es naturai s do individuo. Isto porque
nao podemos desenvolver com a intensidade necessaria as fa-
culdadcs privilegiadas pe1a nossaf u n ~ a o
sem deixar as outras seentorpeccrem com a in at ividade e scm a hdic ar, par conseguin
re de toda uma parte da no ssa natureza. Pur exe mplo enquanto
indivfduo 0 hom em nao e men os feiro para agir do que para
pensar. Alias tendo em vista que ele 6 antes de tudo um ser
vivo e que a vida e a93.0, as faculdades ativas talvez the sejam
mais essenciais do que as ouuas. E no en tanto a partir do mo
mento em que a vida intelecrual das soc icdades atinge um cer
ro grau de dcsenvolvirnento hi e deve nccessariamente haver
homen s que se dediquem a ela de modo exclusivo ou seja que
nao f a ~ a momra coisa se nao p e nsar. Ora ) pensamento s6 pode
se desen vo lver desligando- se do movimcnto recolhendo-se em
si mesma desviando u sujeito da a9:10. Assim focmam-s e aqlle
las natureza s incompieta s em que wdas as energias da atividade
se convertem poc assim dizer em reAe xao naturezas que p T
mais mutiladas que estejam em certos aspectos constitu ememretamo os agentes indispensaveis do progresso cientitico. A
analise abstrata da c o n s t i t u i ~ a ohumana jamais teria permitido
preyer que 0 homem fos se capaz de alterar assim 0 qu e e consi
derado a sua essen cia e nem que Fosse necessaria uma educavao
que preparasse estas dteis a l t e r a ~ 6 e s .
Contudo se ja qual for a importancia dcstas e d u c a ~ o e scs
pecific as e las nao sao a e d u e a ~ a otoda. Pode-se are dizer que
elas nao sao autossuficiemes; em todos os lugares em qu e sc
pode observa-las elas 56 divergem umas das outras a partir de
104 Colet ao Textos Fundantes de E d u c a ~ a o
cerro POnto aquem do qual elas se confundcm. Todas elas re
pousam sa b re uma base comulTI Nao hi ncnhull1 povo em que
EducaC <lo e Sociologia 105
Renascimento, lireraria no seculo XVll e cientffica hoje em dia.
Isto nao significa qu e , por cau sa de aberra9oes, os homens se
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p p q
nao ex isra ce rto num ero de ide ias, se nti memos e pnhicas que
a ed ucacriio d cvc inculcar em codas as c r i a n ~ a ssem disrincrao,se ja qual for a cmegoria social a qual e las pertencem. E inclu
s ive estac d l l c a ~ a o
comum que e considerada em geral como averdadcira educavao . So mente cia parece plenamente mcrcccr
se dcsignada desta forma. A cia e concedida uma espccic de
prcdominancia com reia<;iio as outfas. Panama e suo rctudo esrac d u c ~ oque e importante invesrigar para saber, como se su
poe, se e la esnl conrida pDf inteiro na nOl¥ao de hom cm e pade
sec deduzida da mesma.
Para dizer a verdadc, a qllestao nem se coloca a respeito de
wdo 0 que envolvc os siste ma s de educa-;ao que a hist6ria nos
apresenta. Eles estao tao obviamente ligadus a s ist e ma s soc ia is
determinados que acabarn sendo in se paravci s deles. £mbora
houvesse em Ruma lima e d u c ~ ocomum a todos os r omanos,
apesar da s difercnc;as que se paravam a aristocracia da plebe
esra e du c a9ao sc caracterizava por ser essencialmente romana.
Ela reftetia tuda a organiza9ao da p6lis ao mesmo tempo em que
era a sua base. 0 mcsrno vale para todas as sociedades hi st6ricas. Cada tipo de povo possui uma educac;ao que Ihe e pr6pria e
que pode defini-Io ao mesmo tfudo que a sua o r g a n i z a ~ a omoral,
politica e religiosa. Trara-se de urn dus elementos da sua fisio
nomia. Esta c a razao pela qual a educac;ao variou de forma tao
prodigiosa de acordo com as epoC as e pal ses; pe la qual, aqui na
Fran9a , e la far. 0 indivfduo en t re gar a sua pe r sonal idade com
pleram ente nas maos do Estado , ao passo qu e em o utro s lu ga re s
e la forma, ao contnirio , seres auronomos e donas de sua pr6pria
condura; e pel a qual e la era ascetica na Idad e Media , liberal no
g q , p ,
ten ham e ngan ado a respe ito de sua natureza human a e de suas
necessidadcs, ma s sim que estas necessidades var iaram , e va ria
ram porqu c as condic;ocs sociais das q uai s e1as depend em nao
pennaneceram inalteradas.Porem , por lIma contrad ic;ao inconsciente , recusamos com
rela9ao ao presenre, e mais ainda com rclas;ao au futuro , aquilo
que admirimos facilmenre corn r e l ~ a oao passado. Todo 0 mun-
do reconhece sem discllrir qu e , em Roma c na Grecia , 0 unico
objetivo da e d u c ~ oera formar gregos e romanos e que, par
conseguinte, a educa9ao estava associ ada a todo urn conjunto
de n s t i r u i ~ es poifticas, morais , eco nornic as e rcligiosas. No en
tanto , ima ginamos a le gremenre que a nossa educa-;ao moderna
foge a ei comum e qu e , awalment e, e la dcpcnde cada vez me
nu s da s contingencias soc ia is, pois te nd e a se libcrtar wtalmente
del as nu futuro. Nao reperimos se m parar qu e queremus tran s
formar os nossos filhos em homens antes mesmo de transforma
los em cidadaos? E nao parece que a nossa qualidadc humana
seja naruralment e imune as inAuencias colerivas ja que pela
logiea, e anterior as mesmas?E, todavia , nao ser ia uma especie de milagrc se a natureza
da educac;ao tivesse mudado tao comp letamente depois de ter
tido todas as caracterfsticas de uma institui93.0 social durante
s6culos c em todas as sociedades conhec idas? Tal transforma
-;ao parece ainda mais surp reendeme se levarmos em conside
ra-;ao qu e 0 momentO em que ela ceria aconrecido 6 ju s ramente
aquele em que a educacrao come90u a se tornar urn verdadei
co serv ic;o publico: desde 0 final do secu lo pa ssa do , cia rende,
lao somente na Fran.;a , mas em toda a Europa, a fiear cada vez
1 6 o l e ~a o Textos Fundan tes de E d u c a ~ a o
mais diretamente sob 0 control e e a direc;ao do Estado. Sem
duvida, os obj etivos que cia bu sca se afasram cada vez mai s da s
E d u c a ~ a oe Sociologia 1 7
como a d os greg os e roman os s6 pode se r com pr ecndiclo a partir
da organizac;:ao da s p 61 is. Se a no ssa educa9ao mod erna nao e
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cond i.;:oes locais ou 6 tnica s qu e antigamente as sing ulari zavam ,
tornan du -se ma is ge rais e abscra[Qs. Mas eles nao deixam d e se r
esse ncialmcnte co ler ivos. De fata, nao e a coletiv idad c q ue os
imp oc? Nao e e la que no s ord e na a de senvo lvcr nos no ssos nIho s antes de wcl as qualidad es que ele s co mp artilham co m
codas as hom ens? E [em ma is: e la nau so mc ow cx e rce sab r e n6s
uma pr essao moral , a tra ves da o piniao, para qu e eor nd mo s
ass im os nos sos cleveres de educad orcs , com o ta mbem va loriza
mow a e duc ac;ao q lie , cornu e u aca bci de di ze r, e la pr6pria se
e ncarr eg a cia tare fa. E facil adiv inh ar qu e, se e la preza a e du-
cac;:ao a es te pomo, e porqu c cia vc as vamag e ns que a m esma
pode Ihe ofer ec e r. E, d e faw , somente uma culw ra amplamente
humana pode dar as socicdad es modernas os cidadi i.os do s quai s
e1as pr ec isam. Ism por que cada urn do s grand es povos e urop e us
co bre urn im enso h bit t e e ng lob a as rac;:as mais diversas. Alem
elissa, 0 trabalho 6 cx tremal11e n te dividido - os indivfduos que
o comp em sao tao diferente s un s dos OUtfOS que nao ha mai s
qu ase na da em comum e mr e eles, sa lvo a sua qu alidade hu m ana
e m ge ra\. Por tanto, eles s6 pod e m m ante r a hom oge neidad e indispensavei a qu alqu cr otlsetlso socia l se for em tao se melhan ws
qu anto possivcl no (Jnico asp ecto e m que toelo s se parecem, ou
se ja en quanw wd o s for e m se res hu m ano s. Em outfas paiavras ,
e m soc icdad cs tao cl ifer e nciad as, a (Jnico tip o colet ivo qu e pode
haver 6 0 tipo ge ne rico de hom e m. Se ele percle sse urn pouco cia
sua gc ncralidad e ou deixasse 0 antigo particulari smo reapar cce r,
os g ra nd cs Estado s e uropeu s se dividiriam e m uma plu ra lid ade
de pequenos grupos fragme m a rios e se decomporiam. Lo go, 0
nosso ideal peda g6gico refl ete a no ssa estrutura social, a ss im
mai s c srreitameme nacion al, e em fun c;:ao cia maneira como as
na 90cs mod e rn as se con stituiram.
E isto nao c tudo: a sociedacle nao so m e n te eleva 0 t ipo hu
mana adi gnida d e de
modelo para
0 educador reprodu z ir como
tambem 0 co nstr6i . e 0 constr6i de acordo COm as suas neccss i
dad es. E u rn e quivoco p e nsa r que ele ja esteja dado por intciro
na co ns riw ic;:ao nawral do homem, qu e basta uma o b s e r v ~ o
m et 6 dica d esta ultima para descobri-Io, se m se abst e r, no c n
tanto , de e rnb e leza -lo m en talmente em seg uicla , imaginando
a mais alto g ra u de de se nvolvimemo daquilo q ue ainda se e n
contra e m esta do rudim c ntar. homem que a e du cac;:ao d eve
reali za r em n6s nao e a homcm tal como a natureza c rio ll , mas
sim tal como a soc iedadc qu e r que e se ja; e e la qu e r qu e cle
se ja da form a ex.ig ida pel a s ua ec onomi a in t er ior. A p rova d is to
e a manei ra co mo a concep<s:ao t i ~ homem va riou con form e as
soc iedad es. Assi m como n6s, os homen s dOl Ant iguid ade ta m
bern acredit ava m esrare m for mando os seus lhos para sere n1
hom e ns. Se eles se recu sava m a eo ns id e ra r um estrange iro co mo
se u semelhant e e us ram e ncc por qu e na op ini ao cleles so m e nt ea ed uea s:ao cia p61is e ra capaz de formar seres ver dad eira e pro
priamente h llmanos. S6 qu e e lcs eoncebiam a humanicl acle da
m an e ira dele s qu e nao e a m es ma qu e a nossa . Toda m uda n<;a
urn poueo import ante na o rgan izas:ao d e um a socie dad e provoca
uma mudans: a de iguaJ imp orta nc ia na id eia que 0 hom c m nu
tre a re speito de si m esmo . Se 0 rrabalho soc ial se di vidir ainda
m ais sob a pressao da cresce nce conco rre ncia e a es pec ia liz3\=ao
de cada trab al hador for ao m esmo tempo mai s inten sa e pr eeo
ce, 0 conjullto de co isas qu e a cduc a<;ao co m um e ngl oba devera
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110 o [ e ~ a oTextos Fundantes de Educar;ao
diante das quais 0 hom e m scntiu a s ua inferioridadc. Ora, com
eXCe\ 30 d e tendencias vagas c incenas qu e podcm ser au ibufda s
Educac ao e Sociologia 111
ao co ntdri o, as a ptid oes de tod o t ipo que a vida soc ial sup5e sao
complexas d e ma is para po d ere m, d e certo modo , encarnar -se
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a hcrcdirariedade ao cn t rar na vida, a crianlYa tcaz apena s a sua
naUlreza de indivfduu. Pa rtam a, a cada no va g er a ~ a oa soc ieda
de se e n CQm ra em p rc s en ~ a d e uma tcibula quase rasa sa bre a
qua l e la deve co nstru ir novamenre. E prcci so que pelos meiosmais rap id os, ela subsriwa se c egols ra c assoc ial qu e Hea oa de
nascer por urn Dutro capaz de leva r um a vida moral e soc ial. Esta
e a abea da cd uca 9ao, cuja grandeza podemo s reconhecc r. Ela
nao se limit a a r e f o r ~ a ras tend en c ias naturalmente marcantes
do organ ismo individual , au seja, desenvolver potencialidade s
oc ulta s q ue s6 estao espe rando para serem reveladas. E la cria
um novo se r no ho m em e este homem e feiro de tud o 0 qu e
h de melhor e m n6s e de tudo 0 q ue d valor e dignidade avida. Esta v irtude cr iadora e alias, um priv ilegio cspecif1co da
ed uCa9ao humana. A que os animais recebem e complemmenre
diferente se e q ue podemos c harn ar de eduea9ao 0 trei nam e n
to pro g ressivo ao q ual eles sao submerido s por se llS pai s. Este
treinamcnto bern pode acc lerar 0 desenvolvimcnto de eertos
inst inro s que estao lat e n tcs no an im al, mas nao 0 inieia a uma
nova v id a. E le faeilita 0 mov im e nt o das fUI190es natura is, masnao eria na da. lnsrru fdo pcla m ae, 0 lhor e sa be d voar ou fazer
o ninho de forma mai s dpida mas nao aprendera qU3se nada
a oao se r arr3ves de sua cxpe rienc ia indiv idu al. E qu e os an imai s
ou vivcm fora de todo esta do social ou formam socie dad es bastan
te simpl es, que funcionam a partir de mecanismos inscimivos que
C'dda ind ivfdu o carrega consigo perfe itameme constiwfdos desde 0
nasc im e nto. Ponamo, a e ducac;ao nao pod e acrescc ntar n aela de es
sencia l a naw reza, vista que esta ultima e inteiramenre suficiente,
tanto para a v ida do gr upo quanto para a do inelividuo. No homem ,
nos recidos e marerializar-se sob a fo rm a de r e d i s p o s i ~ oe sorga
nicas. Poc conseg ui m e, elas na o poclem se r transmiridas de uma
gerac;ao para a ouna at ravcs da he red ira riedade. E a e ducac;ao
que garanrc a rransmi ssao .Este aspecto marcame cia cducac;ao humana e 0 fato d e 0 ho
m em re-Io se nrido bem cedo podem ser co mpro vados at raves de
uma cerimonia realizaela em muitas sociedades: a ini cia9ao. Ela
ocorre quando a e d u c a ~ a ote rm in a - em gem l, c Ia ate fee ha 0 ul
timo pe r fodo e m que as anciaos estao concluindo a s r r u ~ a odo s
rapazes, revelando-Ihes as crenc;as mais fundamentais e os rims
mais sag raclos da trib o. Depois que cia acaba , 0 sujeito que a river
receb ido passa a oClip ar urn luga r na soc iedade. Elc se de staca do
grupo das tnulheres, no meio da s quais viveu durante toela a sua
in fan cia , e se junta aD dos guerr e iros, dentro do qual tern a partir
de e nta o umCl posic;ao b e rn d efin id a. Ao me smo tempo, ele toma
eo nsc icn c ia do seu sexo, cujos dire itos e deveres passa a re r, ja
qlle se tornou lim hom em e um eidada o. Ora, lim a crcn 93 univer
sa lm e nrc difundida em wdos estes povos e que este su jeito, pelo
pr 6prio faw de ter sido iniciado, torna-se urn homem inteirame nte novo: cle muda de personalidade c at e de nome, 0 q ual nao ee nt aO co nsidera do co mo urn simp les sig no verba l, ma s sim como
um e le m ento esse nc ial da sua pess oa. A iniciaC;ao e v ista como
um segundo nascim e n to . A m ente primitiva simboli za esta rran s-
formac;ao im agi nand o qll urn principia espi ritu al, lima especic
de alm a nova, e ncarnou-se no ind iv fdu o. Po r e m , se e1iminarmos
as form as miticas que c nvolv e m es ta erem ;:a, nao veremos, sob 0
simbolo d es ta ideia e de form a obscura, que a educat;:ao cria urn
ser novo no homem? Trata-se do ser soc ial.
112 o l e ~a o Textos undantes de E d u c a ~ a o
No entanto pode-se ob jcra r se de fato e po ss fve l co nc eber
qu e as qu a lidades propriamenre marais s6 podcm se c susc irad as
d u c a~ a oe ociologia 113
P ara poder viver des prccisavam ames de rudo de t r a d i ~ o e s
fortes e respeitadas. O ra a tradi tyao nao desperta 0 pe nsa m cnto
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e m no s poc um a actao vinda do ex terior um a vez que e las im
po e m pri va<;6es ao i nd i v iduo e rep rim em os se us m ov imentos
natur a is nao haveria outras qua lidades qu e todo hom em tern
interesse e m adqu irir c busca espo ntaneam e nt e? Pe n semos, porexempl0, nas diversas qu a lidade s da intclig e ncia q u e th e p crmi
tern adaptar m e lh or a s ua conduta a natur eza da s coisas. Pc n se
ruos tamb e m nas quaJidades ffsicas c em tudo 0 que contribui
para 0 vigor e a sa ud e do organis mo. Com rela93.0 a cstas lilti
ma s pe lo menus par ece qu e a ed uca 9ao ao desenvo lve -Ia s na o
fac;a mai s do que wmar a dianteira do pr6prio d es e nvo lv im e m o
natural ai<;ando 0 individuo a urn cscado de perfei9aO r e lariva aqu a l ele tende por si mes mo embora possa alcan9a-lo de forma
mais rap ida com a a juda da soc iedade .
Por e m apcsar das aparencias. 0 que rnostra be rn que, ta m o
aqui co mo alh ur cs. a d u ca ~ a osat isfaz acima d e rudo necess id a
des e x e r na ~ ou se ja . soc iai s e qu e existem socie dad es em que
es ta s qualid adcs nao fora m absolutame nt e cultivadas e qu e em
todo caso foram co mpr ee ndida s de modo muito di f e re nt e de
pend e ndo das soc ieda des. Nem todos as po vos rcc a nh ecera mas vantagens de uma s6 lida cu ltura intelectual. A c ie ncia e 0
espfrito critico as qu ais valor iza mos tanto atua lm e nte durant e
muito t empo f o ra m vistas co m dc sconfiantya. N ao co nh ecemos
uma gra nde dou t ri na segu nd o a qual sao bem-avcntur ados as
pobre s de cspf ri to? Nao se d eve pe nsar qu e esta indif e ren9a
com re la9ao ao sabe r teoha s ido artificialmc nt e imp osta aos ho
me ns contra a natur eza deles. E les nao ti n ha m por s i m es mos
ne nh um desc jo d e c icn c ia simpl es men t e porqu e as soc ied ades
da s qu ais eles faz iam parte nao se nti a m a men or necess idade.
e a reftexao. ma s tende, ao contrtt rio a excl ui-los. 0 me smo va le
para as qu alidades ffsieas. Se 0 es tado do meio soc ial incl ina r
a conseiencia pllbli ca para 0 asce tismo a e d u c a~ ao ffsica sed
automaticam e n te reje itada pa ra 0 segun do plano. E urn pou coo que acontecia n as esco las da ld ade Media. Oa mcsma forma
dcpendendo da s linh as de op ini ilo esta me sma c d u c a~ a ose ra
em e ndida no s mai s di f e re nt es sem idos. Em Es parta cia tinh a
como objetivo sob ret ud o endurecer os mcmhros contr a a ca n
satyo; em Arena s e la era u rn meio de modclar bel os corpa s par a
serem admir ados; na e poca da cava laria espcrava-se qu e e la
forma sse guerreiros age is e fle xive is; hoje em dia cia s6 v isa ahigiene e se pr eocu pa sobretudo ern comer os pc rigosos c fc ito s
d e lima c ultura im electual demasiado int e nsa. Assi m 0 ind i
viduo s6 bu sca as qua dades que a prim c ira vista p arcce m tao
es pomaneam e nte de se jave is q uan do a soc ico a de 0 ineita nesta
dire 930. E e le as busca da maneira que cia I hc presc reve.
Voces estao ve nd a a que ponto a Psico logia p ura e simp les e
in sufieiente para 0 p edagogo . Como eu mo stTci agora h1. poueo
nao so m ente e a sociedade que tta9a 0 ideal que 0 indi vfduo deverealizar atraves da eduC<l9aO como tambem nao ha tenoencia s
de t ermin adas na natur eza indi vidual ou se ja nao existem esta
dos definidos qu e se jam co mo uma primeira aspiratyao a este
ide al e que possam se r vistos como a forma interior e antecipa
da do mesmo. Sem duvida isw laO sig ni fica que nao existam
e m n6s ap ti d6es ba stant e ge rais. scm as q uais cstc id ea l se ria
obv iame nt e irrea lizave l. Se 0 hom em pode aprendc r a se sac ri fi
ca r e porque ele e capaz de sacriflc io; se cle pade se s ubmet er
a di sc ip lina da cie ncia e porque e le sa be se adaptar a m esm3. S6
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116 C o l e ~ a oTextos undantes de E d u c a ~ a o
Portanw nao se deve ignorar as vantagens que a ciencia do
indivfduo pode oferecer it Peda gog ia , cujo valor n6s vamos reco
d u c a ~ a oe Sociologia 117
cial , assim corno esra ulrima n ao pa ssa cia cont in uac;ao e mawci
dade daquel a, os principai s processos pel os quai s um a fundona
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nhec c r aq ui. No e n ta mQ , mesmo nos amhitos em que e la e uti lpara 0 pedagogo esclarecer ce rto s problema s, ci a esta lange de
poder di s pe n sa r a Sociologia .
Primeiro , ja qu e as fins da educac;ao sao sociai s, os mciospelo s quai s estes fins pod e m sec alcam,;ados dcvcm ncccssa
riameme ree 0 mesmo carater. E de faro, dc ntr e todas as ins
titui<;6es pedagdgicas, talvez oao haja ncnhum a que nao seja
analoga a uma institui<;ao socia l, cujos aspectos principai s e la
reproduz de form a rcduzida c como que abreviada. Tanto na
escola quanto na cid adc impoc-sc uma disci pi ina. As regra s qu e
fixam os devcrc s dos alunos sao compara ,veis as que pr esc re
ve rn a condura clos homcns feito s. As puni90e s e recompensas
ass uciada s as prim c iras sc pare ce m com as que as segu nd as sa n
cion am. Ensinamos as criam;as a eienc ia ja fei[a, ma s a ciencia
que cs[a se ndo fc ita camb e m se e nsina. Ela nao fica f ec hada
no ccrcbro daqu clcs qu e a co ncebem , 56 se mrnando realmente
ativa sc for compartilhada com as DU[fOS homen s. Ora, a nature
za dcsta con lunicac;ao, que co loca em pdrica wda uma cede de
mccani smos soc iais, co n stiwi um ensino que, embora se dirijaa adultos, nao sc diferencia daquele que 0 aluno recebe do seu
mcstrc. Nao se di z, a lias, qu e as sa bios sao os mes[res c10s seus
contcmporan eos? Nao se chama de escolas as grupos que se
formam e m wr o c1e les?8 Pode ctamos dar varios exemplos . Equ e , d e fa w , como a v ida esco lar nao passa do germe da vida so -
8. Cf. \ :VILLMANN , Octo. Didoktik ols ildllllgsl eh .e - Nach h r~ n Bez iehungen zur Sozialforschung und zur Geschich rc der Bildu n e;. Vol. 1.L eipzig: Gr bner, 1882. p. 40.
se encontram ob viamente na outra. Por ta nm , pode- se esperar
que a Soc iologia, ci2nc ia das i n t i t u ~ e ssocia is, aj ud e-nos a
compreender 0 que sao (ou a conjeturar 0 que de ve m sec) as
institui9ues pedag()g:ic as. Quanto me lhor conhecermos a soc iedade, melhor pcrc c bc r e mo s wdo 0 que se passa no microcosmu
sucial que a escola 6. Voc es estao venda como, ao contrario, con
vern uriiizar com prudencia e rnodera «;3 o os dados da Psicologia,
rncsmo quando se [fata de de te rrninar os metodos. Pm si 56, ela
nao podcria nos forn ec e r os elementos necessarios para cons
rruir uma tecnica qu e, por defini«;ao, rira 0 sell pror6ripo nao do
indivlduo, mas sim da cole[ividade.
Alias , as esrados socia is do s qu a is os fins pedag6gico s depen
dem nao limitam a stla a«;ao af. E les tamb6m afetam a concep
~ a odos metodo s: a natur eza do obje[ivo impliC'd em parte ados
meio s. Se a soc iedade se or ientar, por exemp o , em um se nti do
individualisra , todos os pro cessos educacionais que pos sa m re
primir 0 indivfduo e ignorar a sua espontane idade interna serao
considerados como inrolen lv e is e reprovados. Se, ao contrario ,
sob a pressao de circun sta ncia s dun'iveis ou passageiras, ela sen
tir novamente neces sidade de impor l im conformismo mais ri
goroso a rodas , se ra proibido [udo 0 qu e possa provocar al6m da
conta a iniciativa da inteli genc ia. Na rea lidade , rodas as vezcs
e m que 0 sistema de metodos educativos foi profundamentc
ua n s formado , foi so b a influencia de uma daquelas grandes Of-
rentes socia is cuja a«;1\o se repercm iu em todas as areas da v ida
coleri va. Nao foi em f u n ~a o de descobertas psicologica s que 0
Renascimento opos tOdo um con jullw de no vas mctodo s aos
que a ldad e Media u[ili z3va. 0 que aconteceu foi qu e , como
8 Co lecao Textos Fundantes de Educac;ao
consequencia de mudan<;as ocorridas oa estrutura das socieda
des europcias, lima nova c o n c e p ~ odo hornem c do seu lugar
Educar;ao e Socio logia 9
equilibrio temporario , como, par exemplo, a sociedade francesa
do seculo XVII; quando, por conseguinte, estabelece-se urn sis
d C
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no mundo acabou surgindo. Oa mesma forma, os pedagogos
que no final do seculo XVIII au no come o do XIX, come,a
ram a substituir 0 metoda abstrato pelo intuitivo, esravam an
tes de tudo reftetindo aspiragocs vigen res naque la epoca. NemBasedow, nem Pestalozzi e nem Froebe l eram grandes psic6lo
gos. 0 que a doutrina delcs cxprime e sobretudo, respeito pela
liberdade inter ior horror diante de qu a lquer repressao e amor
pelo hornem e, logo, pcla crianga - nogoes que se encontram na
base do nos so individualismo maderno.
Assim, seja qual for 0 aspecto pelo qual abordemos a ed u
cagao, ela semprc se apresenta com 0 mesmo Carater. Sejam os
fins que e1a busca ou os meios que ela emprega sao semprc
necessidades sociais que ela satisfaz e ideias e sentimentos co
letivos que cia expressa. Sem duvida 0 proprio indivfduo sai
ganhando com este mecanismo. Nos ja nao admitimos ciara
mente quc aquilo que temos de melhor e devido a educa<;ao?
E aquilo que temos de melhor e de origem social. Portanto,
devemos sempre nos concentfar no estudo da sociedade; e
somcnte nele que 0 pedagogo vai encontrar os princfpios dasua investiga<;ao. A Psicologia bern pode Ihe apontar qual e a
melhor maneira de agir para apliear na crianc;a estes principios,
uma vez que as mesmos estiverem consolidados. Porem elan ~pode ajuda-lo a descobri-Ios.
Para eonciuir, eu gostaria de aerescentar que se ja existiu
uma epoea e urn pais em que 0 ponto de vista soeiol6gico se im
pas de modo particular mente urgente aos pedagogos, esta epo
ca c este pais e 0 infcio do seculo XX e a Franc;a. Quando uma
sociedade se encontra em urn estado de relativa estabilidade e
tema de educaC;ao que, igualmente durante certo tempo nao e
contestado por ninguem, as micas questoes urgentes que se co
locam sao questoes de aplicaC;ao pdtica . Nao emerge nenhuma
dtlVida s6riasabre 0
objetivo a alcanc;ar enem
sobre a orientac;aogeral dos metodos. Portanto, s{ pode haver controversia com
relac;ao a melhor maneira de colod .- los em pratica - e estas difi
culdades podem ser resolvidas pcla Psicologia. Eu nao preciso
ensinar a voces que a firmcza intclectual e moral nao predomina
mais no nos so seculo, 0 que, ao mesmo tempo e a sua miseria
e a sua grandeza. As profundas transformas;oes que as socieda
des contemporaneas sofreram ou cstao sofrendo demandam
transformaC;6es correspondentes na EducaC;ao naciunal. Porem,
em bora realmenre simamos que mudanc;;as sao necessarias, nao
sabemos muito bern como elas devem ser. Sejam quais forem
as convicc;6es pessoais dos indivfduos ou partidos, a opiniao pu
blica permanece indecisa e apreensiva. Portanto, nos nao abor
damos 0 problema pedagogico com a mesma serenidade que
os homens do seculo XVII. Nao se trata mais de colocar ideias
prontas em pratica, mas sim de descobrir ideias que nos guiem.Como poderfamos faze -Io se nao observassemos a propria ori
gem da vida educativa, ou seja, a sociedadc? Logo, e a sociedade
que e preciso estudar e sao as suas necessidades que e preciso
conhecer, ja que sao estas tIitimas que 6 prcciso satisfazer. Fi
car olhando so mente para 0 proprio umbigo significa desviar os
nossos olhares da propria realidade que devemos acessar enos
impedir de compreender 0 movimento que leva 0 mundo ao
nosso red or, bern como nos mesmos junto com ele. Portanto,
ao dizer que uma cultura sociol6gica nunca foi mais necessaria
120 Coler;ao Textos Fundantes de d u c a ~ a o
ao ed uca dor , naa ae hu qu e CSto u deixan do mc guiar por um sim
ple s preconceito 011 s ucumbindo a urn amor cxage rado por uma
i i lti i d t i h id i i Nao e
Nascido em 1.5 de ab ril de 85 8 em
Epin a l Fra ncta de familia de origemjudia e de pai rabino mile Ourkh elm
e 0 principal representante da escolade sociolo gia francesa. Ao lado deKarl Marx e de Max Weber Ourkhe im
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cie nc ia que cultivci durant e a minha vida in t cira . Nao e que a
Sociolugia po ss a nos dar de mao beijada proc cssos ja )fontos , os
quais ba sta urilizar. Alias sent que poderia se r as si m? Pacem, eia
pode , ma is c melhor , forn ece r-no s aq uilu de qu e tcmos mais ur
gcn rc m c m e necessidade , quero di ze r urn co rpo de idcias dir ct i
vas q ue se jam a alma da no ssa pratica , s us tcntando -a, dando urn
sc nrido a nossa v o e nos ligando intimamcmc a mc sma, 0 qu e
e lim a co nd i.yao obri gat6r ia para que esta a ~ ao sc ja fccunda.
Karl Marx e de Max Weber Ourkhe ime considerado um dos pais dasociologia . Ele define sua v o c ~ o
soci ol6gica como missao de fundaruma nova ciencia para uma nova
sociedade qual se ja a socledadeindustri a l fato qu e 0 diferencia deMarx e de Weber que se dedicam aSociologia que tem por fundamentos respectivamente a Economia e aPolitica. Com isso contribui para 0desenvolvimento do espiritouni vers itario na Europa inaugurandoas cadeiras de SocioJogla e deAntropologia Social. Casou·se e teveum casal de filhos . Ele vlve u 0 climadas grandes convulsoes socials queaba la ram a Europa desde 848 ate aPrimeira Guerra Mundial. Em f u n ~ o
desse clima Durkheim propoe-se afundar uma nova ciencia que deconta da e x p l i c ~ oda sociedadeque estaria nascendo desse processo .Crla entao a Ciencia da Mora l. Em
9 5 seu filho e morto lutando no
front de Salon ique ; em 9 7 Durkheim morre em Paris .
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