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Dor, Anestesia e Analgesia em Animais de

Laboratório Leonardo Toshio Oshio

Médico Veterinário Centro de Biologia da Reprodução - CBR/UFJF

Juiz de Fora, Minas Gerais

Senciente – adj. Aquele que é capaz de

sentir dor ou prazer e que não inclui, necessariamente, a autoconsciência.

Anestesia

Grego “Anaisthasia” – Insensibilidade

Todo procedimento e/ou droga capaz de

suprimir temporariamente a dor, para fins

exploratórios, cirúrgicos e de pesquisa.

Anestesia

1540: Paracelsus: Éter em Galinhas

16 de outubro de 1846 William Thomas Green Morton

Éter

Termos

• Anestesia

• Anestesia cirúrgica

• Analgesia

• Tranquilização

• Sedação

• Hipnose

• Catalepsia

• Neuroleptoanalgesia

Escolha do anestésico

• Espécie animal / Modelo experimental;

• Estado do animal;

• Duração da intervenção;

• Localização da intervenção;

• Custo operacional;

Cuidados pré-anestésicos

• Preparo de todo o material;

• Minimização do estresse animal;

- Auditivo;

- Olfativo;

- Manipulação/Contenção;

Sala de espera → Sala de anestesia → Sala de

cirurgia → Sala de recuperação

Divisão da Anestesiologia

• Medicação pré-anestésica (MPA);

• Anestesia local;

• Anestesia geral;

• Anestesia dissociativa;

Medicação Pré-anestésica

Objetivos:

Tranquilizar o paciente e evitar

reações indesejadas das outras medicações;

Medicação Pré-anestésica

Principais Grupos farmacológicos:

- Anticolinérgicos (atropina);

- Fenotiazinas (acepromazina);

- Benzodiazepínicos (diazepam);

- α2-agonistas (xilazina);

- Opioides (derivados da morfina);

Medicação Pré-anestésica

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia local

• Insensibilização pontual ou regional sem

alteração de nível de consciência;

• Desvantagem: ausência de contenção química;

• Uso associado com sedação;

Anestesia local

• Principais drogas: - Lidocaína;

- Prilocaína;

- Bupivacaína;

- Procaína;

*Associados com adrenalina;

Anestesia local

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia geral

• Injetável: - Utilização das vias intraperitoneal,

intramuscular e intravenosa - Barbitúrica

- Não-barbitúrica

- Dissociativa

• Inalatória: - Utilização das vias respiratórias

Anestesia geral

• Indução

• Manutenção

• Recuperação

Anestesia geral

• Tiopental e pentobarbital;

• Bólus ou Infusão contínua;

• Depressão potente do SNC –

Risco maior;

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia geral não-barbitúrica

Propofol: - Ação semelhante aos

barbitúricos;

- Altamente lipofílico - indução

rápida;

- ↓ efeito cumulativo

- rápida metabolização;

- Estocagem difícil; Fonte: arquivo pessoal

Anestésicos dissociativos

• Quetamina e tiletamina;

• Sem perda dos reflexos protetores:

- Oculopalpebrais;

- Laríngeos;

- Orais;

- Deglutição; • Inotrópico e cronotrópico

positivos; Fonte: arquivo pessoal

Anestesia inalatória

• Absorção pulmonar e passagem para a corrente

sanguínea;

• ↑ Segurança, rápida eliminação;

• Requer equipamentos específicos;

• Éter (Desuso);

• Óxido nitroso (fase inicial da anestesia);

Cirurgia Musculocutânea

• Xilazina + Quetamina

- Analgesia intensa: sistema muscular (Bernadi; Cortopassi; Fantoni, 2006)

- Xilazina: 1-10 mg/kg IM, IP -Quetamina: 50-100 mg/kg IM, IP Período hábil: 20 – 30 min (Flecknell, 1996)

Cirurgias viscerais

• Tiletamina + Zolazepam + Levomepromazina

• Tiletamina + Zolazepam + Fentanil

• Midazolam + Fentanil + Fluanisona

Tiletamina+zolazepam+levomepromazina

• Cirurgias cruentas -Tiletamina + zolazapam - 40mg/kg IM

- Levomepromazina - 2mg/kg IM

- Período hábil – 161,5 min (Alonso, 2005)

Tiletamina+zolazepam+fentanil

• Cirurgias intra-abdominais:

- Tiletamina+Zolazepam - 10 mg/kg IM

- Fentanil – 0,025 mg/kg IM

- Período hábil – 45 min (Schossler, 1993)

Tiletamina+zolazepam+fluanisona

• Boa anestesia cirúrgica em coelhos, ratos, hamsters,

gerbils e cobaias;

- Midazolam

- Fentanil

- Fluanisona

• Via IP

• Período hábil: 67min (Flecknell, 1984)

Anestesia inalatória

• Halogenados: Halotano, isoflurano; • Circuitos: - aberto;

- semi-aberto;

- semi-fechado;

- fechado; Fonte: arquivo pessoal

Anestesia inalatória

• Circuito aberto

Fonte: www.kentscientific.com

Anestesia inalatória

• Circuito semiaberto

Fonte: www.parklandscientific.com

(TAYLOR, 2007)

Anestesia inalatória

• Vaporizadores

Fonte: arquivo pessoal Fonte: www.kentscientific.com

Tipo Universal Tipo Calibrado

Anestesia inalatória

• Circuito semifechado e fechado

Anestesia inalatória

• Circuito semifechado e fechado

Anestesia inalatória

• Sondas endotraqueais

www.vetequip.com

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal em coelhos

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal em coelhos

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal

Fonte: arquivo pessoal

Anestesia inalatória

• Intubação endotraqueal em primatas

Anestesia com respiração controlada

• Cirurgias com exigência de toracotomia;

• Bloqueio dos movimentos respiratórios

involuntários através de substâncias;

• Apneia: bloqueadores neuromusculares

Anestesia com respiração controlada

Anestesia com respiração controlada

• Pancurônio: BNM competitivo

Reversor: neostigmina

• Succinilcolina A: BNM despolarizante

Reversor: pseudocolinesterase

Anestesia com respiração controlada

Monitoramento anestésico

• Adequada perfusão tissular com sangue oxigenado.

• Variáveis analisadas: - Circulatórias;

- Respiratórias;

- Profundidade da anestesia - Reflexos

- Temperatura corporal;

Monitoramento anestésico

• Métodos:

- Subjetivos;

- Objetivos: aparelhos;

Monitoramento anestésico

Monitoramento anestésico

Cuidados pós-anestésicos

• Acompanhar até a completa recuperação;

• Vias áreas patentes;

• Temperatura corporal;

• Analgésicos

• Antibióticos profiláticos;

• Ingestão alimentar/hídrica;

• Apresentação clínica/comportamental;

Cuidados pós-anestésicos

• Aquecimento:

Analgesia

Dor versus Nocicepção

1986 – Associação Internacional para o Estudo da Dor

“Uma experiência sensorial e emocional desagradável que está associada a lesões reais ou potenciais, que provoca uma resposta motora protetora que geralmente resulta em aprendizado de fuga e em alterações do padrão de comportamento espécie-específico.” (Kitchell,1987)

Nocicepção

“O componente fisiológico da dor, que

consiste dos processos de transdução,

transmissão e modulação de sinais neurais

gerados em resposta a um estímulo nocivo

externo.”

Objetivos da dor

• Alertar sobre o dano tecidual;

• Potencial de causar dano real ao tecido;

• Alertar um grupo social do perigo se ele

existe para um de seus membros;

• Dor crônica – fonte de estresse

Avaliação da dor em animais

• Alterações de comportamento, uma vez que não há

comunicação verbal;

• Vocalização;

• Perda de peso;

• Piloereção e postura alterada (encurvada);

• Cromodacriorreia (ratos);

• Imobilidade, que pode ser o único sinal de dor.

Avaliação da dor

• No ser humano, mesmo com variabilidades é possível

identificar situação de dor;

• E nos animais???

Dor em animais

Prerrogativas:

- Aceitar que os animais sofrem dor

- Aceitar o uso de analgésicos nos estudos

experimentais, pois muitos pesquisadores se

negam.

Recomendações

• O pesquisador deve testar o estimulo em si próprio

antes, e sempre procurar usar o estímulo menos invasivo

possível;

• O experimento deve ser o mais breve possível e o

número de animais o menor possível;

Recomendações

• Nunca devem ser usados animais unicamente sob o

efeito de bloqueadores neuromusculares;

Analgesia

• Desculpas para o não uso de analgésicos (I): “O uso de analgésicos poderia afetar os resultados do meu

estudo” INCORRETO!!! • DESENHO EXPERIMENTAL • OPÇÕES FARMACOLÓGICAS

Analgesia

• Desculpas para o não uso de analgésicos (II):

“ O uso de analgésicos conduz às automutilações, especialmente no pós-operatório ”

• ISTO É UM MITO!! • A ANALGESIA MELHORA A RECUPERAÇÃO

Analgesia

• Desculpas para o não uso de analgésicos (III):

“ O uso de analgésicos opioides provoca importante depressão respiratória”

FALSO!! É UM EFEITO DOSE DEPENDENTE E SUA

GRAVIDADE VARIA COM OS COMPOSTOS

Analgesia

• Desculpas para o não uso de analgésicos (IV):

“ O uso de analgésicos não está extendido porque não se conhecem as doses ”

INCORRETO!! • EXISTEM LIVROS E LOCAIS NA INTERNET ONDE

SE ENCONTRAM AS DOSES E ESQUEMAS DE DOSIFICAÇÃO

Cuidados pós-anestésicos

• Analgesia: • Opioides: - Morfina - Bruprenorfina - Butorfanol

• AINE’s - Carprofeno - Cetoprofeno - Flunixin meglumine

• Paracetamol*

Conclusões

• OS ANIMAIS SOFREM DOR

• PERMITIR O ESTRESSE E A DOR REFLETE NA QUALIDADE ÉTICA E CIENTÍFICA DO INVESTIGADOR

• O ESTRESSE E A DOR DETERMINAM A QUALIDADE CIENTÍFICA DE UM ESTUDO

• NÃO EXISTEM DESCULPAS PARA PERMITIR A PRESENÇA DE ESTRESSE OU DOR EM ANIMAIS DE EXPERIMENTAÇÃO

Reported Analgesic and Anaesthesic Administration to Rodents Undergoing

Experimental Surgical Procedures

STOKES, E. L.; FLECKNELL, P. A.; RICHARDSON, C. A. Laboratory Animals, v.43, p.149-154, 2009.

1990-1992: 3% das publicações relataram administração de analgésicos

2000-2001 2005-2006

Administração de analgésico

Ratos n=77 (%)

Camundongos n=9 (%)

Ratos n=69 (%)

Camundongos n=17 (%)

Analgésico sistêmico

especificado 8 (10,4%) 1 (11,1%) 15 (21,7%) 2 (11,7%)

Sem analgésico sistêmico, mas analgésico na

anestesia

19 (24,7%) 5 (55,6%) 22 (31,9%) 7 (41,2%)

Anestésico local 4 (5,2%) 1 (11,1%) 0 (0%) 0 (0%)

Sem analgésico 46 (58,7%) 2 (22,2%) 32 (46,4%) 8 (47,1%)

Número de artigos incluídos na pesquisa especificando a administração de analgésico classificado pela espécie e pelo período de tempo.

Modificado de Stokes; Flecknell; Richardson (2009).

0

5

10

15

20

25

30

35

1 2 3 4 5

% d

e A

nal

gés

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Sis

têm

ico

Ad

min

istr

ado Série1 Série2

2001-2002 2005-2006

Craniotomia Incisão de pele

Laparotomia Toracotomia Ortopedia

Uso relatado de analgésicos classificados por categoria de procedimento.

Modificado de Stokes; Flecknell; Richardson (2009).

Número de artigos especificando administração sistêmica de analgésicos

2000-2001 2005-2006 Classe de analgésico Analgésico Rato Camundongo Rato Camundongo

Opióides

Buprenorfina 6 1 5 1

Butorfanol 0 0 1 0

Tramadol 1 0 0 0

AINE’s

Carprofeno 0 0 3 0

Flunixin Meglumine

1 0 2 0

Ketorolac 0 0 1 0

Metamizol 0 0 1 0

Paracetamol 0 0 2 0

Não especificado 0 0 0 1

Total 8 1 15 2

Relato de administração de analgésico sistêmico classificado por agente.

Modificado de Stokes; Flecknell; Richardson (2009).

“Se o animal gritasse, Pasteur se enchia de consternação, tentando confortar e encorajar a vítima de um jeito que seria ridículo se não fosse comovente.”

1885 Dr. Émile Roux

Obrigado!

leonardo.oshio@gmail.com

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