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Aura com dor decabeça (cefaleia)

Aura típica é uma experiência sensorial de curtaduração que surge antes ou durante a crise deenxaqueca e é experimentada por cerca de 1/4 detodos os pacientes com enxaqueca. A experiência podeser visual, sensitiva, ou resultar em problemas com a falaou dificuldade em lembrar a palavra certa durante umaconversação. As alterações visuais típicas são visão demanchas, perturbações visuais em zigue-zague oucrescente, flashes de luz (fosfeno ou fotopsia), ou perdada visão, total ou parcialmente, com qualquer um delescom duração entre 5 minutos a uma hora.

Esses sintomas, quando aparecem pela primeiravez, podem atemorizar. No entanto, a aura típica naenxaqueca é geralmente um fenômeno recorrente ecompletamente reversível que marca o início de umacrise de enxaqueca. As pessoas afetadas por vezesusam esses sintomas da aura como um aviso para otratamento precoce eficaz da dor de cabeça. Existemtratamentos que podem reduzir a intensidade ou afrequência de aura, e muitas vezes há melhora da dor daenxaqueca ao tratar a aura.

Alterações visuais são as formas mais comuns deaura, ocorrendo em mais de 90% dos migranosos comaura. Pode haver manchas (coloridas ou pretas), círculosque crescem em intensidade, em zigue-zagues ou emforma crescente (meia-lua), e alterações caracterizadaspor brilho ou partes apagadas na visão. Não é invulgarexperimentar visão em túnel, de tal modo que os ladosdo campo visual são escurecidos. Quando as pessoasveem zigue-zagues ou crescentes, isto é chamado defenômeno visual “positivo”. Quando as pessoassimplesmente perdem a visão e veem apenas preto ou“escuro quase apagado”, este é considerado umfenômeno “negativo”. Os zigue-zagues, muitas vezeslembram a forma dos castelos ou fortes da Idade Média,por isso o fenômeno é chamado de “espectro defortificação em zigue-zague”. O cintilante que aparece naaura que ocorre com a visão obscurecida, é referidocomo “escotoma cintilante”, onde o escotoma é umponto cego na visão.

Alteração sensitiva é a segunda forma maisfrequente de aura, que pode consistir em formigamentoou dormência em um dos lados do rosto, do corpo,ou da língua. Normalmente, a alteração da sensaçãocomeça nos dedos das mãos e se move para cimaem direção ao braço e, em seguida, queixo e língua, oque é chamado de aura cheiro-oral ou “mão-boca”.

Uma terceira forma de aura resulta em problemascom a fala ou linguagem, como encontrar-setemporariamente incapaz de falar, apresentar falaarrastada, incapacidade de encontrar a palavraapropriada ou usar a palavra errada para expressaruma ideia.

Todos esses três tipos comuns de aura, e sintomasvariantes dentro de cada um desses tipos de aura,são considerados típicos, se qualquer um deles durarmenos de uma hora. Aura típica não é acompanhadapor falta de força (fraqueza) da área correspondenteafetada, embora às vezes o migranoso confundadormência intensa com fraqueza. A verdadeira fraqueza,como ser incapaz de levantar um braço, é atribuída auma forma mais rara de aura, i.e. enxaquecahemiplégica.

Aura é causada por um aumento nos “disparos” deneurônios cerebrais, que desempenham uma função emparticular. Por exemplo, uma aura visual é causada porneurônios que disparam no córtex visual do cérebro, eisso está associado com um grande aumento no fluxosanguíneo para nutrir os neurônios ativados. No finaldestes disparos os neurônios tornam-se inativos e ofluxo de sangue diminui porque os neurônios não estãomais ativados. Esse período de diminuição do fluxosanguíneo é referido como “depressão alastrantecortical”, e a aura é o resultado do “espalhamento”dessa ativação neuronal sobre o córtex cerebral, e adepressão só ocorre com o fim da ativação neuronal.

Um equívoco comum é considerar sintomas quesinalizam uma enxaqueca iminente como aura. Essessintomas, chamados de sintomas premonitórios oupródromos, são indícios de que a crise de enxaqueca

Headache: The Journal of Head and Face Pain© 2014 American Headache SocietyPublished by John Wiley & Sons, Inc.doi: 10.1111/head.12395

Material Educativo Sobre Dor deCabeça (Cefaleia)

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pode surgir em um futuro próximo, mas eles nãorepresentam verdadeiramente uma aura da enxaqueca.São sintomas premonitórios se sentir irritado(a),cansado(a), bocejando, ou ter uma mudança inexplicávelno humor. Algumas pessoas se tornam agitadas, eoutras têm dificuldade na concentração. Náusea, visãoturva e sintomas percebidos no pescoço são outrosindicativos comuns de enxaqueca iminente. Emboraesses sintomas não representem aura, podem ser sinaisde alerta úteis para se preparar para uma crise deenxaqueca e, assim, instituir medidas preventivaspossivelmente úteis, tais como a redução do estresse eruído, beber líquidos, ou reduzir os estímulos ambientaisexcessivos.

A aura verdadeira pode ser tratada. Magnésio(400-500 mg) é um medicamento com baixo efeitoadverso que pode ser utilizado quer no início da aura ouser utilizada diariamente para evitar a aura. A vitaminaB2 ou riboflavina (200-400 mg por dia) pode ser usadapreventivamente, sem efeitos colaterais significativos.Muitas drogas normalmente usadas para prevenção daenxaqueca também parecem ser eficazes na redução daaura, tais como o topiramato e certos antidepressivos.Alguns medicamentos que são provavelmente efetivosem prevenir aura pode não funcionar tão bem naprevenção da enxaqueca sem aura, como lamotrigina everapamil. Uma classe diferente de medicamentos quenormalmente não são usados como monoterapia para aprevenção da enxaqueca, tem se mostrado promissorana prevenção da aura. Memantina bloqueia o receptorN-metil-D-aspartato (NMDA) do glutamato no cérebro, eadmite-se que é capaz de inibir a propagação de sinaisno cérebro que ocorre com a aura. O magnésio parecetambém funcionar por se ligar ao receptorglutamatérgico NMDA.

O risco de acidente vascular cerebral em mulherescom enxaqueca sem aura provavelmente não é maior doque o encontrado em indivíduos sem enxaqueca.Estima-se que o risco aumenta em até o dobro donormal se uma mulher apresenta aura, mas esse riscopermanece muito baixo em geral. Quando se acrescenta

um contraceptivo contendo estrogênio há um aumentode 6 vezes no risco de acidente vascular cerebral, e empacientes com enxaqueca com aura que fumam e usamcontraceptivos contendo estrogênio, o risco de acidentevascular cerebral torna-se considerável, alcançando 9vezes o nível esperado. O uso de contraceptivoscontendo apenas progesterona não está claramentevinculado ao acidente vascular cerebral.

É altamente recomendável que aqueles que têmenxaqueca com aura e são tabagistas, de qualqueridade, a parar de fumar. Em mulheres com enxaquecacom aura e mais de 35 anos de idade, em particularrecomenda-se cautela no uso de contraceptivoscontendo estrogênio ou o uso de terapia de reposiçãohormonal por causa deste risco adicional. Ao discutir asopções de contracepção, as mulheres devem notificar oseu ginecologista ou médico de atenção primária, seelas sofrem de enxaqueca com aura. Qualquer pessoacuja aura piora após o uso de terapia hormonal terá desuspender o medicamento. Se a aura é atípica, porexemplo, se os sintomas visuais ou sensitivos, ou sehouver alteração da fala, aqui consideradoindividualmente, duram mais de uma hora, ou se éacompanhada por déficit motor, contracepção hormonalcontendo estrogênio não deve ser usado.

Aura é um fenômeno comum na enxaqueca,ocorrendo em cerca de um quarto das pessoas comenxaqueca. Em geral a aura segue um padrãoestabelecido. Quando reconhecidos como típicos, podeser tratável e até mesmo servir como um alerta paracomeçar a enfrentar a enxaqueca antes do início da dor.Com as devidas precauções, como evitar fumar econsideração criteriosa de contracepção comestrogênio, enxaqueca com aura é um problema tratávelque está raramente associado à complicações.

Deborah Tepper, MDCleveland Clinic Headache Center

Traduzido por Marcelo M. Valença, MDFederal University of Pernambuco, Recife

Para encontrar mais recursos visite The American Migraine Foundation

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