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1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O córtex pré-frontal e a sua importância para a
aprendizagem
Por: Jullie Maggessi
Orientador
Professora Dr.ª Marta Relvas
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O córtex pré-frontal e a sua importância para a
aprendizagem
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Neurociência Pedagógica
Por: Jullie Maggessi.
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido, por todos os
momentos que esteve ao meu lado
sempre com amável ternura, fazendo
de minha vida mais especial; ao meu
irmão que me proporcionou saber o
que é companheirismo; aos meus pais
que são a verdadeira razão da vida; às
minhas avós por todas as orações e
por todos aqueles que me
acompanham em outro plano e fazem
desta vida possível.
4
DEDICATÓRIA
A todos os meus professores,
grandes mestres que fizeram de mim uma
pedra lapidada.
5
RESUMO
A presente pesquisa busca demonstrar a importância da área do
córtex pré-frontal e a sua complexa rede integradora com as outras regiões
cerebrais. A sua importância como centro gerenciador de ações, pensamentos,
comportamentos sociais, personalidade, previsão de fatos projetados, centro
da criatividade e o principal responsável por sermos seres sociais.
A relação do córtex pré-frontal com o processo da aprendizagem, a
emoção e a sua interferência dentro dessa relação demonstram que a
aprendizagem depende de todos os processos integradores feitos através das
redes neurais e, assim, depreende-se que é possível potencializar cada aluno
de forma individual e coletiva.
Palavras-chaves: Córtex pré-frontal, redes neurais, cérebro
executivo, linguagem, aprendizagem.
6
METODOLOGIA
Os métodos que tornaram essa pesquisa possível foram as
inúmeras leituras de diversas disciplinas que, com o intuito maior que é a
aprendizagem, dialogaram em seus diferentes campos. Além das leituras e
citações, o ambiente da sala de aula também é parte fundamental da
composição desta monografia. Tanto do lado do professor, quando do lado do
aluno. Fazendo, desta forma, com que o ambiente da sala de aula seja um
laboratório favorável a práticas de aprendizagem. Sendo o objeto de estudo a
linguagem, a sua aquisição e como o córtex pré-frontal integra e coordena as
atividades neurais todas em consonância.
Procurei pautar todos os meus entendimentos em autores que me
dessem apoio quanto às teorias. Embasei meu método de pesquisa nos
autores: Elkhonon Goldberg, Roberto Lent e Gazzaniga, como principais
ratificadores de minhas exposições. Buscando, com isso, dar veracidade às
minhas interpretações.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Anatomia e funcionalidade 10
CAPÍTULO II
O córtex pré-frontal: o cérebro executivo 21
CAPÍTULO III
O córtex pré-frontal e a aprendizagem 31
CONCLUSÃO 41
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
ÍNDICE 44
8
INTRODUCÃO
O presente estudo visa abordar o córtex pré-frontal e a sua relação
com a aprendizagem, estabelecer sua estrutura macro e micro; delimitar suas
funções; a sua relação com as outras áreas neurais; a sua importância para
todas elas e para o estabelecimento de sua organização.
Há uma descrição inicial da composição do sistema nervoso central
e das suas estruturas. A relação entre elas e a sua respectiva função.
Há, também, as funções e as relações executadas pelo córtex pré-
frontal, como esse coordena os processos mais complexos do comportamento
humano, como integra as diversas áreas neuronais, como estabelece as
diversas reações que sofremos e como as entendemos.
Os processos emocionais estão diretamente envolvidos com o
córtex pré-frontal e, desta forma, as emoções e as reações provenientes dela
também são objetos de estudo, uma vez que é no córtex pré-frontal que se
estabelece a relação entre elas e aquilo que chamamos de sentimentos. Tendo
por base que sentimentalizar é aprender a transformar emoções em afeto e
esse processo é resultado das configurações que fazemos do mundo e de nós
mesmos através do córtex pré-frontal.
Essa relação existente entre as emoções, o córtex pré-frontal e a
integração deste com as outras áreas cerebrais é fundamental para entender e
potencializar o processo da aprendizagem, uma vez que é por meio dessa
integração que adquirimos ou não o conhecimento.
É preciso entender as redes neurais, para que se entenda toda teia
necessária para que ocorra a internalização dos conteúdos e com isso
entender que os métodos de ensino precisam ser lapidados e moldados à
novas realidades e a realidades diferentes. Buscando sempre, com isso, fazer
com que o aluno entenda para que está aprendendo e para que serve tal
9
aprendizagem. Potencializando, assim, sua área integradora e geradora de
comportamentos, o córtex pré-frontal.
10
CAPÍTULO I
ANATOMIA E FUNCIONALIDADE
Com 86 bilhões de neurônios, o cérebro humano opera como em
uma corrida de bastões. O sistema nervoso trabalha em cooperação, os
neurônios agrupam-se e escalonam-se como uma teia bem entrelaçada e
ligada entre si. Desta forma, o sistema nervoso é interativo e seus elementos
celulares são os neurônios e os gliócitos.
Sendo um sistema interativo por excelência, o sistema nervoso
funciona como um todo, com a cooperação integrada de todos
os seus elementos celulares – os neurônios e os gliócitos. Os
primeiros formam uma extensa rede de circuitos capazes de
receber do ambiente, processar, armazenar e enviar de volta
ao ambiente um amplo espectro de informações. Os segundos
participam da regulação dessa rede de comunicação, seja
interferindo ativamente na transmissão de informações, seja
propiciando condições homeostáticas para o seu
funcionamento. Tanto neurônios como gliócitos formam
extensas famílias de tipos morfológicos e funcionais diversos,
de acordo com a região que se localizam. Para que essas
famílias constituam de fato uma rede, lidam com sinais de
informação de alta eficiência, eletrofisiológicos e bioquímicos.
(LENT, 2008, p.62).
Para que se possa entender o funcionamento global da interação
neuronal, é preciso que se entenda a sua estrutura. A célula neuronal é
composta por dendritos, corpo celular e axônio. Os dendritos são estruturas
prolongadas que funcionam como “antenas” receptoras de informações,
impulsos vindos de outros neurônios através da região sináptica. O corpo
celular constitui o centro metabólico (composto de núcleo, citoplasma e
citoesqueleto) a informação vinda pelos dendritos é, então, processada. O
axônio transmite a informação através de impulsos elétricos, gerados pelo
potencial de ação. Logo, perceba-se à imagem da corrida com bastões.
Imagine, então, que cada atleta é um neurônio e, assim, cada um possui um
11
bastão. Cada bastão representa a informação contida em um neurônio, que
deve ser passada ao seu sucessor. Assim, o primeiro atleta corre para passar o
bastão ao segundo, o mais depressa possível, como o impulso eletrofisiológico
e bioquímico dos neurônios. Desta forma, os neurônios trabalham em equipe,
gerando pensamentos e ações.
Os corpos celulares dos neurônios estão concentrados no
sistema nervoso central e, também, em pequenas estruturas
globosas espalhadas pelo corpo, os gânglios nervosos. Os
dentritos e o axônio, genericamente chamados fibras nervosas,
estendem-se por todo o corpo, conectando os corpos celulares
dos neurônios entre si às células sensoriais, musculares e
glandulares. (RELVAS, 2009, p.31).
O sistema nervoso central
O sistema nervoso central (SNC) divide-se em: Encéfalo e Medula
espinhal. O encéfalo, por sua vez, divide-se em: cérebro (telencéfalo e
diencéfalo), cerebelo e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo).
É no diencéfalo que se situam as áreas cerebrais responsáveis por
fazer a conexão entre as áreas subcorticais e o córtex cerebral. É, também, o
centro das emoções. Onde estão localizadas as estruturas responsáveis pelo
circuito de Papez.
O diencéfalo é constituído por numerosos núcleos e
feixes, que podem ser agrupados topograficamente em tálamo,
epitálamo (acima do tálamo) e hipotálamo (abaixo dele). [...] o
tálamo é formado por vários núcleos importantes, sendo uma
“estação intermediária” entre as regiões subdiencefálicas e o
córtex cerebral. Muitos desses núcleos são sensoriais,
envolvidos principalmente na visão, na audição e na
sensibilidade corporal; outros são motores, participantes do
circuito de comunicação do córtex, dos núcleos da base e do
cerebelo; e outros ainda participam do chamado sistema
límbico, que cuida da vida emocional das pessoas. Por fim, o
hipotálamo é também formado por inúmeros núcleos e
12
relaciona-se com o controle das funções das vísceras, do
balanço hormonal, além de participar de modo importante da
expressão das emoções. (LENT, 2008, p. 30).
É no telencéfalo que se situa o córtex cerebral parte importante
não só pelo seu volume, mas também pela sua diversidade de funções. É ele
que recebe as informações externas, examina-as e, assim, envia o resultado às
diferentes partes do corpo.
É o córtex cerebral, em última instância, que interpreta as
informações sensoriais gerando as percepções de que somos
capazes; é também ele que planeja, programa e envia à
medula os comandos para a motricidade. É no córtex que se
situam muito dos “arquivos” da memória, e é ele que nos
possibilita focalizar a atenção em algo ou então dispersar e até
dormir; é por intermédio dele que compreendemos e emitimos
a fala e a mímica correspondente, e é ele que nos permite
entender e emitir comportamentos emocionais, bem como
sentir subjetivamente as emoções. [...] devem-se salientar
apenas alguns sulcos e giros importantes pelo seu tamanho,
pela sua consistência em todos os cérebros, e por definirem
limites importantes. São eles: o sulco longitudinal, que separa
os hemisférios; o sulco lateral, que separa o lobo temporal dos
lobos frontal e parietal; o sulco central, que delimita o lobo
frontal do parietal e separa o giro pré-central 9que aloja a área
motora primária) do giro pós-central (no qual se localiza a área
somestésica primária); e o sulco calcarino, na face medial do
córtex, em cujas margens e fundo se situa a área visual
primária. (LENTE, 2008, p. 32).
O córtex cerebral representado pela massa cinzenta, na qual se
encontram os corpos neuronais, representa a parte mais sofisticada do SNC. É
importante que se conheça a morfologia dos neurônios corticais, conforme se
viu acima, os neurônios são compostos de dendritos, corpo celular e axônio.
Os dendritos e os axônios compõem a parte branca do cérebro, os feixes de
fibras, e podem estender-se por todo o corpo, alcançando uma longa distância
13
ou podem ter um comprimento mínimo; entre um neurônio e outro (os
interneurônios). Têm-se dois tipos essenciais de neurônios, escalonados em
camadas, no córtex cerebral são eles: os piramidais e os estrelados chamados
assim por sua forma.
Os primeiros são geralmente excitatórios, porque ativam os
neurônios subsequentes do circuito. Além disso, emitem
axônios relativamente longos para outras áreas corticais, ou
para núcleos subcorticais. São chamados também de
neurônios de projeção. É por eles que a informação
processada no córtex sai para outros locais do SNC. Já os
neurônios estrelados podem ser inibitórios (diminuem ou
bloqueiam a atividade dos neurônios subsequentes do circuito
de que fazem parte). Seu axônio é mais curto, fazendo
comunicação local com outros neurônios da mesma região.
São também chamados de interneurônios ou neurônios de
circuito local. ( LENT, 2008, p.38).
É por essa vasta via neuronal que sentimos e expressamos nossas
emoções. É através da combinação de ações neuronais que nos identificamos
como seres humanos, capazes de construir e passar à diante civilizações.
É justamente esta parte do cérebro responsável pela dinâmica
civilizacionista, responsável por tudo que temos ao redor do mundo que se irá
tratar.
Outra importante estrutura é o cerebelo. Esse é responsável pela
integração do sistema motor, pela memória procedural e, consequentemente,
pela aprendizagem.
Há muito se sabe que o cerebelo tem participação
importante na coordenação motora, atuando em três diferentes
aspectos funcionais: (1) a manutenção do equilíbrio corporal;
(2) a regulação do tônus musculas; (3) o controle da harmonia
e precisão dos movimentos. De modo geral, associa-se ao lobo
floculonodular, junto com o verme, a tarefa de controlar os
músculos antigravitários para manter o equilíbrio. Juntas, essas
14
regiões são então chamadas vestibulocerebelo, por se
relacionarem com os núcleos vestibulares do ronco encefálico,
que detectam as alterações da posição da cabeça e do corpo.
A regulação do tônus muscular é propriciada pelas regiões
mais mediais dos hemisférios cerebelares (zona intermediária)
e com os feixes descendentes que exercem controle sobre a
medula espinhal: é o espinocerebelo. E o controle fino dos
movimentos é provido pelas regiões laterais dos hemisférios
cerebelares, mais volumosas do que as demais e que se
conectam profusamente ao córtex cerebral: trata-se do
cerebrocerebelo.
Atualmente, acumulam-se as evidencias de que o cerebelo
apresenta funções mais complexas do que apenas o controle
da motricidade. Assim, atribui-se a ele a coordenação da
aprendizagem motora e da memória de procedimentos, além
de complexas funções sensoriais, emocionais e cognitivas.
(LENT, 2008, p. 28).
O mesencéfalo, também conhecido como cérebro reptiliano, é
responsável pelo sistema de alerta, controla o ciclo do sono e da vigília e
integra o meio externo a respostas internas.
A principal função desempenhada pelo mesencéfalo é de
natureza sensorimotora, isto é, de integração entre o ambiente
percebido pelos principais sentidos e as respostas motoras
necessárias. A parte que fica dorsalmente à cavidade central
(arqueduto cerebral) é chamada tecto (como um teto,
realmente), e a que se posiciona ventralmente é chama-se
tegmento. [...] o mesencéfalo participa também do controle da
dor e de certas respostas motoras de origem emocional.
(LENT, 2008, P.29).
15
As células gliais
As células da neuroglia cumprem a função de sustentar, proteger,
isolar e nutrir os neurônios. Há diversos tipos celulares distintos, quanto à
morfologia, à origem embrionária e quanto às funções que exercem.
Distinguem-se, entre elas, os astrócitos, oligodendrocitos e micróglia. Os
astrócitos dão suporte mecânico e fornecem alimento à complexa e delicada
rede de circuitos nervosos. Os oligodendrócitos desempenham função
equivalente à das células de Schwann, formando bainhas protetoras sobre os
neurônios que ficam no encéfalo e na medula espinhal. As micróglias são um
tipo especializado de macrófago cuja função é fagocitar detritos e restos
celulares presentes no tecido nervoso. Preenchem os espaços entre os
neurônios, regulam a concentração de diversas substâncias com potencial para
interferir nas funções neuronais normais (como por exemplo as concentrações
extracelulares de potássio), regulam os neurotransmissores (restringem a
difusão de neurotransmissores liberados e possuem proteínas especiais em
suas membranas que removem os neurotransmissores da fenda sináptica).
Junto com essa multiplicidade neuronal destaca-se a segunda
família de células do sistema nervoso, a dos gliócitos. Trata-se
de células consideradas tradicionalmente como elementos de
suporte dos neurônios, que lhes proveriam nutrição, proteção,
isolamento elétrico e suporte metabólico. O significado
funcional dos gliócitos, entretanto, tem-se modificado
velozmente nos últimos anos, com base nas descobertas da
neurobiologia celular. Já se sabe que além das funções
mencionadas, os gliócitos participam de modo importante em
diferentes fases do desenvolvimento embrionário e pós-natal,
principalmente porque parecem se células-tronco até mesmo
no sistema nervoso adulto, sendo portanto possíveis fontes de
reposição neuronal em certas situações. E descobriu-se
também que os gliócitos se inserem nos circuitos dos
neurônios, participando ativamente no fluxo de informações
que passa continuamente entre eles. (LENT,2008, p.40).
16
Estudos recentes também sugerem que podem ativar a maturação e
a proliferação de células-tronco nervosas adultas e ainda, que fatores de
crescimento produzidos pelos astrócitos podem ser críticos na regeneração dos
tecidos cerebrais ou espinhais danificados por traumas ou enfermidades.
Os astrócitos estão associados às sinapses e, como vimos, são
capazes de as influenciar, estabilizar e aperfeiçoar. Sua ação
pode resultar até em consequências morfológicas, por exemplo
no hipocampo, no qual o número, o tamanho e a forma das
espinhas dendríticas são influenciados pelo contato com os
pedículos dos astrócitos, que liberam moléculas reconhecidas
por receptores nos dendritos pós-sinápticos.
Além disso, os astrócitos são células quimicamente excitáveis.
Não geram potencial de ação mas, uma vez ativadas, podem
emitir mensagens para células vizinhas, utilizando mensageiros
químicos semelhantes aos neurotransmissores e por isso
chamados de gliotransmissores. (LENT, 2008, P. 87).
As células gliais se comunicam com os neurônios e umas com as
outras sobre as mensagens trocadas pelas células nervosas. As células gliais
são capazes de modificar esses sinais nas fendas sinápticas entre os
neurônios e podem até mesmo influenciar o local da formação das sinapses.
Os neurotransmissores
Os neurotransmissores são moléculas pequenas que na sua maioria
são derivados de precursores de proteínas, eles são encontrados geralmente
em vesículas pré-sinápticas neuronais. Os neurotransmissores são liberados
na fenda sináptica e captados por terminais pós-sinápticos (por meio de
receptores localizados na membrana pós-sináptica), quando da passagem do
impulso nervoso de uma célula para outra, o que se chama de transmissão
sináptica. De acordo com a propriedade funcional do neurotransmissor e do
terminal pós-sináptico, os neurotransmissores são conhecidos por promovem
respostas excitatórias ou inibitórias entre neurônios que se comunicam através
de sinapses químicas.
17
Para que haja sinapses químicas, é preciso que o impulso elétrico
seja transmitido através do axônio, estimulando as vesículas, que contêm os
neurotransmissores, a liberá-los pela fenda pré-sináptica. Esses
neurotransmissores serão captados pelas fendas pós-sinápticas do outro
neurônio, estimulando, então, o impulso elétrico.
Sendo assim, a propagação do impulso elétrico, através da bomba
de sódio e potássio, é mais rápida do que a absorção das substancias
químicas pelos neurônios.
Os impulsos nervosos ou potenciais de ação são causados pela
despolarização da membrana. A despolarização e a repolarização de um
neurônio ocorrem devido às modificações na permeabilidade da membrana
plasmática. Em um primeiro instante, abrem-se "portas de passagem" de Na+,
permitindo a entrada de grande quantidade desses íons na célula. Com isso,
aumenta a quantidade relativa de carga positiva na região interna na
membrana, provocando sua despolarização. Em seguida abrem-se as "portas
de passagem" de K+, permitindo a saída de grande quantidade desses íons.
Com isso, o interior da membrana volta a ficar com excesso de cargas
negativas (repolarização).
O estímulo provoca, assim, uma onda de despolarizações e
repolarizações que se propaga ao longo da membrana plasmática do neurônio.
Essa onda de propagação é o impulso nervoso, que se propaga em um único
sentido na fibra nervosa. Os potenciais de ação assemelham-se em tamanho e
duração e não diminuem à medida que são conduzidos ao longo do axônio, ou
seja, são de tamanho e duração fixos.
Sem o potencial de ação não há a passagem de informações de um
neurônio para o outro, o que geraria uma dificuldade na aprendizagem e
assimilação de conteúdos. Desta forma, o potencial de ação é de total
importância para o processo da aprendizagem. Sendo através dele que se
desenvolvem as conexões neurais.
Para que ocorra o potencial de ação dentro do neurônio, é preciso
que o neurônio receba estímulos e que esses estímulos sejam passados à
diante. É nesse ponto que fica em foco a região sináptica, é nela que ocorre a
passagem química de um neurônio a outro. Essas substâncias químicas são
18
conhecidas como neurotransmissores e modulam os comportamentos e
emoções.
Denomina-se sinapse a estrutura de contato formada pelo
prolongamento de um neurônio dito pré-sináptico e um
neurônio (ou célula muscular) dito pós-sináptico. A membrana
pré-sináptica geralmente pertence à extremidade de um ramo
axônico, e a membrana pós-sináptica em geral se localiza em
um dendrito ou no corpo celular do segundo neurônio.
A estrutura da sinapse é especializada na transmissão química
da informação do neurônio pré-sináptico para a célula pós-
sináptica, que para isso emprega moléculas transmissoras
chamadas neurotransmissores ou, de modo mais geral,
neuromediadores. [...] os neuromediadores são sintetizados no
soma do neurônio ou no próprio terminal sináptico, que para
isso expressam a maquinaria molecular adequada (enzimas,
moléculas precursoras etc.). [...] a transmissão sináptica ocorre
quando um potencial de ação chega ao terminal pré-sináptico,
despolarizando-o. (LENT, 2008, p.73).
Para que se entenda melhor as funções de cada neuromediador
segue algumas de suas funções:
Acetilcolina (ACh)
Neuromediador envolvido em muitos comportamentos, bem com
atenção, aprendizado e memória:
- Movimento - os movimentos de nossos músculos são promovidos
pela liberação da acetilcolina dos neurônios colinérgicos, para as fibras
musculares.
- Sono REM - durante a fase de sono profundo (sono REM), a
acetilcolina é liberada da ponte.
- Aprendizado e memória - em animais de laboratório, ao bloquear a
liberação da acetilcolina, cria-se um déficit no aprendizagem e memória. Em
19
alguns casos, a colina (somente) é sugerida para facilitar o processo de
aprendizado e memória.
- Doença de Alzheimer - está associada, em 90% dos casos, com
perda de neurônios colinérgicos no prosencéfalo basal e hipocampo.
Serotonina (5HT):
Neurotransmissor que possui interferências no humor, na ansiedade
e na agressão.
- Desordens de humor - a diminuição da liberação de serotonina no
sistema nervoso central está associada a desordens de humor e depressão.
Costuma-se tratar esses pacientes com medicamento que bloqueiam a
recaptação da serotonina para o terminal pré-sináptico (ex. fluoxetina, o
Prozac).
- Desordem obsessiva compulsiva - associada à redução nos níveis
de serotonina no sistema nervoso central, é geralmente tratada por meio da
inibição da recaptação da serotonina.
- Apetite é reduzido por drogas que elevam a serotonina no encéfalo
(geralmente amina)
- Comportamento agressivo e suicídio - tem sido associado a
reduzidos níveis de serotonina no encéfalo.
- Latência de sono - a latência de sono (tempo que a pessoa levar
para dormir) é diminuída com triptofano um aminoácido necessário, para a
síntese de serotonina. Esse dado sugere que a serotonina pode ter um papel
importante na indução do sono.
Dopamina (DA):
Controla níveis de estimulação e controle motor em muitas áreas
encefálicas. Quando os níveis de dopamina estão extremamente baixos, os
pacientes são incapazes de se mover voluntariamente.
-Doença de Parkinson - acontece devido degeneração de neurônios
dopaminérgicos oriundos da substância negra, que enviam as suas projeções
para o estriado, o qual está envolvido no controle motor do movimento.
20
Noradrenalina (NA):
Esse neurotransmissor está relacionado à excitação físico e mental,
bem como é conhecido por promover o bom-humor. É produzido no locus
coeruleos e atua como mediador dos batimentos cardíacos, pressão
sanguínea, conversão de glicogênio em energia e outros.
- Atenção e alerta - a liberação da noradrenalina facilita a atenção e
o alerta durante o dia.
Peptídios:
Endorfinas / encefalinas - são neurotransmissores peptídicos
opiáceos endógenos capazes de modular a dor e reduzir o estresse.
GABA (ácido gama-aminobutirico):
Principal neurotransmissor inibitório do SNC. Ele está presente em
quase todas as regiões do cérebro, embora sua concentração varie conforme a
região. Está envolvido com os processos de ansiedade. Seu efeito ansiolítico
seria fruto de alterações provocadas em diversas estruturas do sistema límbico,
inclusive a amígdala e o hipocampo. A inibição da síntese do GABA ou o
bloqueio de seus neurotransmissores no SNC resultam em estimulação
intensa, manifestada através de convulsões generalizadas.
Glutamato:
O principal neurotransmissor excitatório do sistema nervoso.
O glutamato atua em duas classes de receptores: os ionotrópicos (quando
ativados exibem grande condutividade a correntes iônicas) e os metabotrópicos
(agem ativando vias de segundos mensageiros). Os receptores ionotrópicos de
glutamato do tipo NMDA são implicados como protagonistas em processos
cognitivos.
21
CAPÍTULO II
O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL: O CÉREBRO EXECUTIVO.
Todos os seres humanos precisam realizar tarefas em seu cotidiano,
fazer escolhas, tomar decisões. O que comer? O que vestir? Que casa querem
ter? Quantos filhos pretendem ter? Essas são algumas das simples escolhas
que se faz. E como se faz? Faz-se com o córtex pré-frontal, com o cérebro
executivo e com todas as complexas redes que dele surgem. São eles que
desempenham as funções mais avançadas e mais complexas. São o que se
pode chamar de coordenadores neurais.
O domínio executivo compreende um elenco de operações
cognitivas do qual fazem parte: a flexibilidade, o planejamento, a
intencionalidade e a capacidade de autorregulação dos processos mentais.
Assim, pode-se entender que o córtex pré-frontal é a estrutura
cerebral responsável pelo processo civilizatório da humanidade.
O córtex pré-frontal desempenha um papel fundamental na
formação de metas e objetivos; a seguir, no planejamento de
estratégias de ações necessárias para a consecução destes
objetivos. Ele seleciona as habilidades cognitivas requeridas
para a implementação dos planos, coordena estas habilidades
e as aplica em uma ordem correta. Finalmente, o córtex pré-
frontal é responsável pela avaliação do sucesso ou do fracasso
de nossas ações em relação aos nossos objetivos.
(GOLDBERG, 2002, p.46).
Desta forma, percebe-se a importância da evolução dos lobos
frontais para a sobrevivência humana. Formular metas e planejar objetivos é
mudar e transformar a realidade. É utilizar o panorama do presente para
planejar o futuro. O planejamento do futuro não foi importante só para a
construção de civilizações, mas também para a construção da identidade, do
eu. É a consciência do ser, a autoconsciência e a consciência dos outros.
22
O início de uma teoria.
O estudo das funções executivas surge do pelo contraste observado,
na prática clínica, de indivíduos com graves alterações de comportamento e
personalidade, mas com desempenho normal ou superior em testes cognitivos
padronizados.
O caso mais famoso, referente à lesão frontal, é o caso de
Phineas Gage, em 1848. Aos 25 anos Gage sofreu um
acidente de trabalho que ocasionou uma lesão em seu
lobo frontal esquerdo. Phineas Gage trabalhava como
capataz de uma turma de operários na construção da
estrada de ferro Rutland e Burlington em Massachusetts
(EUA), quando foi atingido por uma barra de ferro de 1m
de comprimento pesando 6 Kg. A recuperação de Gage
causou muita surpresa. Aparentemente normal, mas o
distúrbio em sua personalidade causou tamanha
estranheza que sua família e amigos não o reconheceram
mais como o mesmo. A lesão causou significativo
comprometimento de suas faculdades mentais como
descreveu seu médio John Harlow “do ponto de vista
mental, sua recuperação foi apenas parcial, pois suas
faculdades intelectuais se encontravam nitidamente
comprometidas: embora ainda presentes e sem que
houvesse demência, suas manifestações estavam
debilitadas: as operações mentais eram perfeitas
qualidade, mas não em quantidade nem em grau”. (LENT,
2008, p.288).
Assim, a ciência do cérebro começou a perceber que o mais
importante não era o fato das faculdades mentais trabalharem, mas sim o
modo como elas trabalham. A importância está na capacidade de aplicarem-se
as capacidades cognitivas categoriais e aplicadas a situações da vida.
23
É dentro dessa perspectiva que se apoia o conceito de função
executiva, ou seja, o conjunto de operações mentais que
organizam e direcionam os diversos domínios cognitivos
categoriais para que para que funcionem de maneira
biologicamente adaptativa. Para que a utilização dos recursos
físicos e sociais seja econômica e eficaz, não basta que os
domínios cognitivos categorias estejam intactos como módulos
independentes. (LENT, 2008, p. 289).
Desta forma, então, entende-se o caso de Phineas Gage, uma vez
que suas capacidades cognitivas categoriais funcionavam em perfeito estado;
porém, sua parte integradora (seu lobo frontal) foi lesionada. Assim, quando a
parte integradora, ou seja, a função executiva, falha, o indivíduo perde a
autonomia. E, desta forma, sua personalidade e suas características
modificaram-se totalmente.
Aspectos anatômicos da organização cerebral das redes
executivas.
A organização das redes executivas frontais é representada por
alças-córtico-subcorticais longas que emanam de setores delimitados do córtex
frontal e projetam-se para regiões circunscritas dos núcleos da base e destes
para núcleos talâmicos específicos que se projetam de volta para o córtex
frontal. Cinco circuitos são conhecidos: circuitos motor, oculomotor, e três
relacionados com o comportamento social com origens no córtices do cíngulo
anterior, frontal dorsolateral e orbitolateral.
24
Ideias e modelos teóricos acerca dos lobos frontais.
Autores qualificados, dedicados a campos tão diversos das
neurociências como a neurologia clínica ou a estrutura molecular do córtex
frontal, esforçaram-se por desenvolver ideias e modelos teóricos que
explicassem a contribuição dos lobos frontais para a organização do
comportamento. Segundo Luria (1902-1977) os lobos frontais são responsáveis
pelas formas de elaboração de comportamento – as que resultam da imposição
de metas preestabelecidas pelo próprio indivíduo e que dependem de planos e
estratégias que regulam ideias e comportamentos por meio da fala interior.
A neurocientista americana Patricia Goldman-Rakic (1937-2003)
desenvolveu uma excelente teoria sobre os lobos frontais como os mediadores
da memória operacional (ou memória de trabalho), ou seja, a capacidade de
manter representações em mente por curtos períodos (geralmente segundos)
enquanto as utilizamos no desempenho de alguma atividade imediata. Isso
ocorre quando desejamos anotar um numero de telefone desconhecido ou a
placa de um carro em fuga, precisamos mantê-los “na memoria” até achar lápis
e papel. Goldman-Rakic identificou no córtex frontal dorsolateral (mais
especificamente na área 46 de Brodmann) grupos de neurônios que se
mantêm ativos durante o período que medeia a aquisição da informação
(telefone, placa) e sua utilização subsequente (anotação). Esses neurônios
codificam em linguagem neural o material retido temporariamente na memoria
operacional até que a informação seja utilizada ou arquivada por mais tempo.
Lesões frontais dorsolaterais interferem na memoria operacional e o individuo
encontra dificuldade de dar sequencia as ações comportamentais por “perdê-
las a meio caminho do objetivo”.
A formulação mais frutífera do funcionamento dos lobos frontais foi
enunciada por Jordan Grafman, psicólogo, norte-americano, em meados dos
anos 1980. Seu modelo está centrado no conceito de UGC (Unidades
Gerenciais de Conhecimento) definidas como estruturas macrocognitivas
análogas a esquemas e roteiros de ação. As UGC são sequencias
automatizadas de comportamentos ou ideias, ativados automaticamente pelos
contextos apropriados, que se desdobram em sequencias comportamentais ou
25
ideativas dotadas de inicio, meio e fim. Exemplos de UGC são a ida a um
restaurante, tomar banho, planejar as férias, sair para fazer compras.
Grafman mostrou a importância dos lobos frontais como depositários
das UGC. Sob essa perspectiva os lobos frontais são responsáveis por um tipo
de memoria no qual estão codificados os engramas1 de ação que possibilitam
que realizemos nossas ações cotidianas de modo automatizado e com mínimo
de esforço. O modelo UGC foi, até hoje, o mais útil sobre o funcionamento
executivo, porque admite que sejam desenvolvidas hipóteses testáveis
experimentalmente. Tanto assim que a ideia das UGC tem sido largamente
apoiada por investigações subsequentes e ampliada a outros níveis de
complexidade, tais como os comportamentos sociais guiados por crenças e
atitudes morais.
Desta forma, pode-se perceber a importância dos lobos pré-frontais
e sua função integradora, que faz com que se possa planejar ações, prevendo
seus benefícios. Assim, o córtex pré-frontal é a ferramenta necessária na
tomada de decisões. Integrando os circuitos cerebrais, através das redes
neurais, organiza, prepara e envia informações e comandos a outras partes do
cérebro.
O córtex pré-frontal e a emoção.
Sendo o córtex pré-frontal o regulador e organizador das ações
humanas, compete a ele, também, adaptar as emoções e comportamentos ao
meio. É importante lembrar que os circuitos neurais, compostos pelas redes
neurais, fazem a integração do córtex pré-frontal com outras partes do cérebro.
Desta forma, o sistema límbico envia à área terciária a soma de emoções
produzidas, por meio dos impulsos elétricos e químicos que permeiam as
sinapses. Sendo assim, o córtex pré-frontal analisa, coordena e transforma-as
em sentimentos, que serão organizados e interpretados.
A regulação das emoções inclui todas as estratégias
conscientes e inconscientes para aumentar, manter ou diminuir
um ou mais componentes da resposta emocional. Esses
1 “Unidades” de memória.
26
componentes são os sentimentos, os comportamentos e as
respostas fisiológicas que constroem as emoções. (LENT,
2008, P.267).
O papel do córtex pré-frontal é, então, responsável pela melhor
elaboração da resposta ao ambiente. Ao perceber o ambiente, a amigdala
cerebral “inspeciona” cada indivíduo, suas expressões faciais, os detalhes ao
redor. Sempre em busca de sinais que sejam relevantes, para a captação de
alguma situação geradora de medo. Assim, a decepção, a raiva, o medo, a
felicidade e outras emoções passarão pela amigdala cerebral, esta por sua vez,
envia os sinais ao córtex pré-frontal que os analisa. Analisando os sinais,
coordena a situação social em que o individuo se encontra e, caso ache
necessário, faz com que certas emoções transpareçam ou não. Tudo é uma
questão de planejamento, atingir metas e alcançar objetivos; de forma que é
preciso construir meios que driblem, em certas ocasiões, a forma de demostrar
as emoções.
Viver em sociedade é ter a preocupação com o outro, é ter
consciência de que não se pode ser sincero sempre, afinal certas situações
exigem uma inibição da resposta produzida diretamente pela amigdala cerbral.
É a parte cognitiva, racional, em um conjunto de influências mútuas
com a parte emocional, ou seja, a influência do córtex pré-frontal na parte
emocional e vice-versa. É a sede da intencionalidade, capaz de prever as
situações, e melhor adaptar, dessa maneira, a resposta emocional a um
evento.
Há pelo menos duas estratégias diferentes: a regulação
antecipatória da emoção e a regulação da emoção focada na
resposta.
Na regulação antecipatória da emoção, várias estratégias são
possíveis para evitar que determinadas emoções de fato
aconteçam. Imagine que você tenha uma prova muito difícil a
ser realizada e está evitando ficar nervoso por conta disso.
Você pode evitar antecipadamente que essa emoção se instale
procedendo de várias maneiras [...] mudar cognitivamente o
27
caráter emocional da situação, convencendo a si mesmo de
que será apenas uma prona e que isso não mede seu valor
enquanto pessoa. Esta última estratégia de regulação
antecipatória é uma das mais utilizadas e é denominada
“reavaliação”. Nesse caso, elaboramos uma estratégia de
mudança cognitiva para alterar o impacto emocional de uma
situação.
No caso da regulação da emoção focada na resposta, a
emoção já foi instalada e o que fazemos é inibir as respostas
emocionais de maneira que as outras pessoas não possam
perceber o que sentimos. (LENT, 2008, p. 267).
Uma estratégia inteligente para que se possa viver socialmente de
forma mais favorável à relação. O que se percebe é a estratégia organizada
por meio do córtex pré-frontal que age a favor do próprio indivíduo, nos seus
conflitos, medos e dúvidas, buscando um objetivo e não se deixando dominar
pela emoção passada pela amigdala. E, ainda, age na avaliação do sucesso e
do fracasso das relações interpessoais, uma vez que não deixa transparecer,
em todas as ocasiões, as emoções.
Como já se poderia imaginar, o córtex pré-frontal parece ser
uma estrutura-chave para a regulação da emoção [...] o córtex
pré-frontal é importante para a extinção do medo condicionado.
Assim, é possível que o córtex pré-frontal exerça uma inibição
importante sobre a amígdala para controlar as respostas
emocionais. (LENT, 2008, p.267).
A informação nova e o interesse do lobo frontal
Para entender melhor essa ideia, pode-se voltar à imagem da
corrida com bastões. A passagem dos bastões de um atleta para o outro, que
deve passar por vários obstáculos até entregar o bastão ao seu sucessor,
representa o grupo de neurônios que trabalham juntos, através das redes
neurais; para alcançar determinado fim. No caso dos atletas da corrida, ganhá-
la; já no caso dos neurônios transmitir a informação de modo rápido e eficiente.
28
Mas onde está o papel dos lobos frontais? Bem, toda equipe possui
um técnico que organiza, orienta, enxerga a ação de forma diferenciada, dá
ordens e mantém a equipe obstinada a realizar a tarefa.
Desta forma, os lobos frontais dirigem e comandam a entrada de
informações novas. De modo que são capazes de identificar uma informação
nova de um evento já armazenado.
Parece haver uma forte relação entre a novidade da tarefa e o
nível do fluxo sanguíneo nos lobos frontais: ele é o mais alto
quando a tarefa é nova, o mais baixo quando a tarefa é
familiar, e intermediário quando a tarefa é parcialmente nova. À
medida que os níveis de fluxo sanguíneo são correlacionados
com a atividade neural (o que a maioria dos cientistas crê ser o
caso), esses experimentos fornecem provas fortes e diretas
sobre o papel dos lobos frontais ao se lidar com novidade
cognitiva.
Podemos lembrar que a novidade está associada com o
hemisfério direito. Isto significa que os lobos frontais estão mais
intimamente envolvidos com o trabalho do hemisfério direito do
que com os do hemisfério esquerdo? Pode ser. O lobo frontal
direito é maior no hemisfério direito do que no esquerdo. E,
embora seja útil traçar exageradamente paralelos diretos entre
estrutura e função, a maioria dos cientistas acredita que ais
tecido neural implica maior capacidade funcional.
O papel especial desempenhado pelos lobos frontais e pelo
hemisfério direito ao lidar com a novidade e pelo hemisfério
esquerdo em implementar rotinas sugere que as mudanças
dinâmicas associadas ao aprendizado são ao menos duplas.
Com o aprendizado, o locus do controle cognitivo desloca-se
do hemisfério direito para o hemisfério esquerdo, e das partes
frontais do córtex para as posteriores. (GOLDBERG, 2002,
p.99).
29
O córtex pré-frontal e a organização social humana
Goldberg, em seu capítulo a maturidade social e os lobos frontais,
reconhece que a capacidade que se tem ao controlar as ações volitivas, ou
seja, aquelas em que se tem vontade própria, não são inatas. Elas
desenvolvem-se através do desenvolvimento humano. Sendo, então, a
capacidade adquirida para controlar as emoções uma importante ferramenta
para o convívio social, destacando desta forma, a maturidade social.
Goldberg cita a hipótese de Allan Shore que acredita que a interação
mãe-bebê é importante para o desenvolvimento normal do córtex frontal. Em
oposição à boa formação do córtex frontal está a comprovação pelo intermédio
de experiências estressantes que podem lesionar permanentemente o córtex
orbitofrontal, predispondo o indivíduo a moléstias psiquiátricas mais tarde na
vida.
Logo, se o córtex pré-frontal sofre influência em sua formação e pré-
-disposição social, desde seus primeiros contatos com o mundo exterior, é
fundamental a presença do afeto, do respeito com esse novo ser humano, que
inicia sua jornada na complexa trama social.
É preciso que haja o compromisso com a criança e com o bebê e, é
preciso ainda que haja respeito com suas necessidades como cidadãos que
precisam de ambientes favoráveis aos seus desenvolvimentos.
Viver em sociedade implica estar, a todo momento, interagindo de
forma respeitosa uns com os outros. Para que isso aconteça o córtex pré-
frontal e outras estruturas às quais está ligado, precisa regular os impulsos
promovidos pelas emoções. Afinal é exatamente isso, ou seja, a regulação das
emoções que faz com que o ser humano seja um ser sociável, capaz de
aprender o afeto e controlar suas emoções.
A capacidade de inibir a aflição é fundamental para as
interações sociais. As metas e as necessidades de diferentes
membros de um grupo social nunca estão em perfeito acordo,
e a capacidade para compromisso é um mecanismo crítico de
30
harmonia e equilíbrio social. Esta capacidade depende de
nossa capacidade de controlar a aflição, a emoção negativa
que emerge de uma incapacidade de encontrar uma
gratificação imediata. Emoções negativas envolvem as
amígdalas, localizada profundamente dentro do lobo temporal.
De acordo com Posner, o córtex cingulado anterior controla as
amígdalas e, ao exercer esse controle, modera a expressão de
aflição. Uma sociedade de indivíduos com amígdalas ativas
incontidas pelo córtex cingulado anterior estaria
constantemente com uns na garganta dos outros. De acordo
com essa visão, o córtex cingulado anterior torna possível o
discurso civilizado e a resolução de conflitos. (GOLDBERG,
2002, p. 177).
É dessa forma que age, então, o centro diretor do cérebro.
Integrando e moderando as emoções à razão. Justamente essa, a razão, é a
previsão do fato, juntamente com a interpretação dessas emoções.
Codificando, desta forma, a melhor escolha a ser tomada, o melhor
comportamento, a melhor forma de portar-se diante de uma determinada
situação, diante de um planejamento, diante das diversas ocasiões sociais.
É assim que o córtex pré-frontal dirige os diversos campos da vida
de um ser humano, dando-lhe a personalidade, a intencionalidade, o
planejamento, o afeto, a memória de trabalho. É embaralhando e retirando o
melhor dessa informação que ele comanda os outros lobos cerebrais, através
de suas redes neurais.
31
CAPÍTULO III
O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL E A APRENDIZAGEM.
A educação é entendida como um processo contínuo pelo qual uma
pessoa se desenvolve nos seus conhecimentos; “[...] é um processo de
contínua reconstrução da experiência, com o propósito de ampliar e aprofundar
seu conteúdo social, enquanto, ao mesmo tempo o indivíduo ganha controle
dos métodos envolvidos” (John Dewey); “ [...] é qualquer ato ou experiência
que tenha um efeito formativo sobre a mente, caráter ou capacidade física de
um indivíduo”(George Keneller).
Em termos etimológicos, a palavra educação tem sua origem em
dois verbos latinos: Educare: cujo significado é transmitir informações a
alguém. Educere: significa extrair, desenvolver, algo que está no indivíduo.
A educação tem por objetivo dar possibilidades de mudanças
eficazes e responsáveis, e pode ser formal – adquirida através de estudo
organizado, usualmente administrado nas escolas, e informal – adquirida
mediante ao estudo privado, ou de experiências diárias; incluindo o que se
aprende através de comunicação interpessoal, livros, revistas, rádio, televisão,
cinema etc.
A educação de hoje deve levar em conta o fato de que a escola, com
seu modelo pretérito, fracassou. Uma vez que decorar conhecimento não é
preparar-se para a vida. O aluno é um cidadão e fará escolhas ao longo de sua
jornada. Estar dentro de um ambiente que lhe proporcione pensar é, de fato, a
grande proposta da neurociência à luz de seus conhecimentos atuais.
É preciso que o aluno adquira conhecimento para a vida,
conhecimento que irá lhe dar suporte nos desafios cotidianos.
É dentro dessa perspectiva que o ensino de Língua Portuguesa se
insere. Não se pode mais admitir que alunos saiam do colégio sem o domínio
de sua língua materna.
Estudar a Língua Portuguesa deve deixar de ser decorar múltiplas
listas, deve deixar de ser um conteúdo, simplesmente, passado pelo professor
32
e deve passar a ser a descoberta de um sistema que está sempre em
movimento e pré-disposto à mudança.
Mais enriquecedor, mais desafiador para a prática
docente é ter sempre em mente que “a gramática de qualquer
língua em funcionamento não tem regras rígidas de aplicação”
(Neves, 2003, p.79). Como a língua é viva e variável, há
ocorrências que carecem de explicação mais consistente,
fenômenos cujas explicações nem sempre são óbvias, e
diversas “zonas de imprecisão e de oscilação” (Neves, 2003).
Decorre daí que não faz sentido algum que a gramática
ensinada na escola se reduza a atividade de encaixamento em
moldes, de memorização de esquemas fechados, de imitação
de modelos e de decoreba de nomes esquisitos. (SILVA et al,
2012, p.33).
Ensinar o português, hoje, é atribuir significado à comunicação
diária, é demonstrar o poder do discurso, é dar sentido e significado para a
aprendizagem.
Deve-se contextualizar o ensino, mostrar para que serve passa a ser
fundamental. Entender as dificuldades que o aluno apresenta ao deparar-se
com um sistema, quase totalitário, novo e com novas características; mas, nem
por isso, menos próprio do seu sistema linguístico. Entender e levar o aluno ao
entendimento é partir de sua realidade e, só assim, mostrar-lhe o uso padrão
da língua.
Sabe-se que, hoje, o principal objetivo do ensino de língua
materna é o desenvolvimento da capacidade de comunicação,
tanto oral como escrita, de uma língua que o usuário já domina.
No entanto, o que se vê nas escolas, mais frequentemente, é
que a maior parte do tempo disponível para o trabalho com a
língua tem sido destinada a atividades que envolvem a
memorização de regras e conceitos dos conteúdos da
gramática normativa [...] Ano após ano, a escola tem-se
preocupado em ensinar a forma “correta” de falar e escrever,
por meio de regras e exemplos tidos como bons para serem
imitados. Sem levar em conta as dificuldades dos sujeitos
33
envolvidos no processo nem o uso efetivo da língua numa
situação de interação verbal. (SILVA et al, 2012, p.48).
Para que serve a língua e como devemos ensiná-la é a grande
questão. E é aí que surge a análise linguística, buscando consertar o que, até
pouco tempo, não estava dando resultado. A análise linguística busca colocar o
usuário da língua como pesquisador diante dos fatos, e não mais um aprendiz
que aceita todas as verdades impostas. O aluno passa a estudar sua língua
entendendo suas variações e formas de uso. Não havendo, assim, a
valorização de uma forma em depreciação de outra.
Mendonça (2006, p.205), em consonância com Geraldi
(2006b), pontua que o termo análise linguística “surgiu para
denominar uma nova perspectiva de reflexão sobre o sistema
linguístico e sobre os usos da língua”. Nesse sentido, a língua
é entendida como uma ação interlocutiva situada que, a todo o
momento e em qualquer circunstância, pode sofrer
intervenções de seus falantes. (SILVA et al, 2012, p. 49).
Dentro dessa perspectiva, a análise linguística serve para mostrar ao
aluno os diversos contextos situacionais da língua, os meios e as estratégias
usadas em cada um deles. Contextualizando, assim, o conteúdo abordado.
Em vez de querer que os alunos decorem regras gramaticais
para aplicar em exercícios repetitivos, o ensino da gramática se
volta para o domínio e o uso dos vários recursos da língua, nas
diversas situações de interação social. (SILVA et al, 2012, p.
114).
Quando o aluno entende que a aprendizagem da língua serve para
seu aperfeiçoamento, ele passa a interessar-se mais; fato capaz de
potencializar seu aprendizado e desenvolver suas múltiplas habilidades. Uma
vez que seu sistema límbico, responsável pelas suas emoções e memória,
estará trabalhando a favor do aprendizado; já que esse irá servir para algo.
34
A aprendizagem, e o interesse por tal, está diretamente ligada à
emoção, que por sua vez está ligada à razão, entende-se: ao córtex pré-frontal.
O “mecanismo” da aprendizagem pode envolver tipos de neurotransmissores
diferentes de acordo com o interesse do aprendiz. Desta forma, se a aluno está
disposto e interessado, ou seja, vê razão em estar adquirindo tal conteúdo, a
liberação de serotonina fará com que seu estado de ânimo seja favorável à
aprendizagem. Toda via, se o aluno não achar relevante o aprendizado de
determina disciplina ou possuir uma antipatia por seu professor, ou ainda, pelo
seu método de ensino, suas fendas sinápticas serão invadidas pelos
hormônios: adrenalina e cortisol. A presença das substâncias, conhecidas por
provocarem o estresse, concorrem com o glutamato, neurotransmissor
responsável pelo acesso à memória, nas proteínas, canais receptores, das
sinapses. O cortisol liga-se às proteínas impedindo, desta forma, que o
glutamato se fixe a elas. A consequência do processo é o não acesso à
memoria e a não aprendizagem ou fixação do conteúdo.
À medida que os neurônios do córtex recebem informação
sensorial, transmitem-na ao hipocampo. Somente após a
resposta do hipocampo, é que os neurônios sensoriais
começam a formar uma rede durável (assembleia). Sem o
“consentimento” do hipocampo, a experiência desvanece-se
para sempre.
É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o
estímulo se fixe na memória de longo prazo. A atitude de
“consentimento” do hipocampo parece depender de duas
questões. Primeiro, a informação tem algum significado
emocional, portanto, tem de ter alguma importância afetiva. [...]
É assim que nossa consciência se constrói sempre em
conformidade com nossos próprios interesses emotivos. G.J.
Ballone em www.psiqweb.med.br/ cursos/ memória/ html.
(RELVAS, 2009, P.61).
35
O afeto torna-se, então, fundamental na relação entre aluno e
professor, uma vez que através dele a aquisição do conhecimento torna-se
muito mais facilitada. Como exemplo dessa relação, destaca-se o filme indiano
Somos Todos Diferentes. Nele se percebe a sociedade moderna que vive em
moldes, sempre com pressa. Somos escravos do tempo.
O personagem principal, o menino Ishaan, incompreendido, vive em
seu mundo particular, onde tudo ganha vida e é mais divertido. Seu olhar sobre
as coisas e sua visão de mundo são diferentes. Não se moldando, desta forma,
aos padrões do sistema escolar. Mesmo diante do fracasso escolar, a escola
não percebe sua dificuldade e não lhe dá opções para que possa aprender de
maneira diferente. Ishaan possui outras habilidades, outros tipos de
inteligência, mas o que importa para a sociedade caótica, em que se vive, é o
quanto uma pessoa pode ser melhor que a outra, ou seja, o que importa é que
ela possa competir e ganhar dinheiro.
Diante da dificuldade de lidar com o problema, no caso Ishaan, a
escola tradicional diz aos pais do menino que não poderia fazer nada por ele. O
sistema escolar não se preocupou em dar uma orientação ou tentar entender o
que se passava com o menino, simplesmente, desacreditou dele.
Com a chegada de Ishaan ao colégio interno, seus problemas
pioram. O menino passa a sofrer toda a opressão de um sistema baseado na
ordem, disciplina e trabalho, em que não há espaço para o afeto. Deprimido e
sozinho, Ishaan para de se interessar até pela pintura, pela qual possuía uma
grande paixão.
O grande divisor de águas da vida de Ishaan é a chegada de um
professor com uma visão humanitária. Desse momento em diante, Ishaan
encontra alguém que lhe entende, alguém que sabe do que Ishaan é capaz.
Nikumbh, o novo professor, transcendendo as barreiras de uma sociedade,
busca tornar o diferente especial e destacá-lo por suas habilidades.
É, então, contra todo o sistema engessado da sociedade que
Nikumbh luta para que Ishaan tenha uma chance. Ele acredita no poder da
interação social, para que haja uma mudança em seu comportamento. Dentro
36
dessa perspectiva, a neurociência serve como forte ferramenta, mostrando que
qualquer pessoa pode e tem direito de aprender, basta que haja estímulo e
afeto. Todo processo de aprendizagem tem seu tempo, para uns mais
depressa do que para outros.
É fundamental a presença do afeto nas relações de ensino-
aprendizagem. Afinal, nosso sistema límbico está, diretamente, envolvido
nesta relação. O hipocampo, estrutura responsável pelo armazenamento da
memória, participa ativamente do circuito emocional do cérebro. A importância
da relação de afeto e do estímulo fica clara no filme, uma vez que é através
desse olhar diferenciado do professor, que o aluno ganha autoestima para
seguir em frente, sendo potencializado. Permitindo, desta forma, que seu
cérebro realize novas sinapses e, com a ajuda do afeto, guarde conhecimento.
As relações humanas, estejam elas dentro da escola ou não, são a
base da humanidade, no sentido mais restrito da palavra. O cérebro é moldado
para que se tenha relações interpessoais, ou seja, precisa-se do outro, precisa-
se do afeto e da troca de experiências. Os seres humanos são seres
dependentes dessa relação. O problema que se enfrenta hoje, nessa
sociedade egoísta e individualista, é a perda dessa relação. Fica evidente a
importância do afeto e do estímulo na vida de qualquer pessoa e que qualquer
relação interpessoal baseada no afeto é transformadora, capaz de subverter
qualquer barreira.
Essa situação faz-se presente na maioria das escolas do país, uma
vez que não há a preocupação com o estado emocional do aluno. A avaliação
feita, somente, através de provas que só medem a memorização dos mesmos.
Cada aluno é único e aprende de forma diferenciada e em seu
próprio ritmo, um sistema que só prioriza uma única forma de avaliação não
pode querer ser o modelo perfeito e não o é, como se vem constatando. A
escola e seu sistema em geral precisa acreditar nos resultados que demostram
o fracasso, para que se busque uma nova linha. Mais diferenciada, que seja
mais individualista e que demostre para que serve seu conteúdo. A escola deve
formar cidadãos conscientes de seu papel no mundo e fazê-los entender que
37
estar num ambiente escolar não significa, somente, socializar-se, mas também
adquirir conhecimento para a vida.
Aprender não é um processo localizado, mas envolve
alterações das relações mantidas por neurônios distribuídos
por várias áreas do cérebro. Uma boa rede neural não se
forma, necessariamente, pelo acúmulo de conteúdos, mas sim
pela capacidade crítica da pessoa em descobrir se a solução
encontrada foi adequada.
Professores e educadores deveriam estar atentos a esses
achados para desenvolver um estilo de aula reflexivo e crítico,
mesmo que ainda seja necessário o trabalho conteudista, por
força das circunstancias em que está elaborado nosso
programa educacional.
De nada serve uma grande quantidade de conteúdo de sentido,
pois sabemos que as sinapses se fortalecem na medida que a
informação seja significativa para a rede neural. As alterações
sinápticas, e novas formações na rede, também causam
alterações morfológicas no próprio cérebro, e a aprendizagem,
quando consolidada, produz alterações sinápticas. Portanto,
quanto maior a capacidade do cérebro de desenvolver essas
mudanças, maior será a capacidade de aprendizagem do
organismo. (TEIXEIRA, 2004, p.90).
Possuir capacidade crítica, nada mais, é estimular o córtex pré-
frontal. É ele que integrando as áreas corticais e subcorticais faz com que se
consiga alcançar objetivos e solucionar problemas. O que seria mais
importante do que solucionar problemas? É dentro desse paradigma que a
escola de hoje deve se pautar, na necessidade de resolver os conteúdos tendo
por base a solução dos problemas reais, enfrentados diariamente.
Trabalhar a matemática para que se saiba lidar com o dinheiro, para
se saiba planejar gastos e aprender o porquê de economizar; trabalhar a língua
portuguesa para entender os diversos tipos de textos que nos rodeiam, a cada
instante, para que não se seja enganado com discursos subversivos e
38
duvidosos, para que se saiba que linguagem é mais apropriada em cada
situação e quais as suas características.
Trabalhar a língua portuguesa dentro do paradigma da neurociência
é mostrar o valor do conhecimento linguístico. É preciso que seja ensinada
dentro da situação real, pode ser dentro dos gêneros orais ou escritos, o
importante é chegar ao fim, ou seja, demonstrar o real valor e sua função.
Dentro dessa perspectiva, qual é a função do aprendizado da língua
portuguesa? Para que estudar gramática? Para que serve a interpretação de
texto?
Esta resposta deveria ser óbvia para todos aqueles que um dia já
estudaram ou estudam o português. No entanto, não é a realidade atual no
sistema escolar.
Desta forma, toda aula introdutória de língua portuguesa deveria
expor a importância do discurso, dizer o quão importante é ter clareza sobre a
intensão do discurso alheio e o poder que ele veicula.
A aula de gramática deveria ser abordada de outra maneira, nunca
menosprezando as variantes linguísticas, e sim usá-las como ponto de partida
para se chegar à norma padrão. Trazendo, assim, a realidade do aluno para a
sala de aula. Ensinar os diversos sistemas linguísticos, para que o aluno sinta-
se parte de um sistema evolutivo e não menos importante. A variação
linguística deveria ser levada mais a sério pelos professores de língua
portuguesa, deveriam fazer da sala de aula um grande laboratório de análise
linguística, em que se deveria estudar a língua como um sistema vivo que se
adapta à sociedade de cada época. Fazer parte de uma análise e construir
conceitos é mais motivante do que receber uma regra pronta e rígida. O aluno,
percebendo que um sistema linguístico transcende gerações e muda com elas,
percebe que sua língua é o retrato de uma determinada sociedade e, desse
modo, entende a necessidade de haver regras para determinadas situações,
seja da escrita ou da oralidade.
Tecendo considerações sobre o ensino de língua materna,
Bagno (2002) defende que deve haver na escola espaço e
tempo para reflexão linguística de modo sistemático e
consciente, de modo que a língua mereça análise, reflexão e
39
investigação. Em outras palavras, podemos dizer que o
trabalho escolar que se faz com a linguagem só será produtivo
quando houver uma busca por novas formas de expressão e
compreensão do sentido por meio de práticas que
intensifiquem o contato do aluno com a própria língua e com os
outros sujeitos. Só será significativo também, se o ensino
estiver comprometido com a formação de alunos que possam
conhecer e reconhecer a realidade intrinsecamente variável e
heterogênea da língua, a qual está sujeita aos influxos das
ideologias e dos juízos de valor. (SILVA et al, 20012, p. 115)
Mais interessante ainda, é demonstrar ao aluno que no fim das
contas toda análise linguística, toda aula de gramática servem para a
construção e entendimento de um texto, texto esse oral ou escrito. A máxima
em língua portuguesa é perceber a importância da comunicação, da relação
interpessoal que se dá através do código, esse em questão a língua
portuguesa. Perceber a sociedade e seu pensamento, entender que um texto
só é construído por que possui uma intensão. Quer, de alguma forma,
influenciar aquele que o lê. Logo, entender um texto é saber o que está por trás
dele, é fazer inferência e tirar conclusões. É integrar conhecimentos, relacioná-
los, formando outros.
As reflexões aqui expostas fizeram-nos perceber que a uma
prática pedagógica direcionada ao ensino da língua está
simultaneamente atrelada uma concepção de língua. Nesse
sentido a língua concebida como instrumento de interação,
como mecanismo a serviço da comunicação, volta-se para
tomar o texto como objeto de estudo, por entender que não nos
comunicamos se não for por meio de textos. Dessa forma,
cabe-nos, então, lançar mão do texto como unidade de ensino
e, a partir dele, explorar os elementos que, presentes, de modo
explícito ou implícito, corroboram para a compreensão e a
construção do sentido. Isso implica dizer que, ao estudarmos a
teorização gramatical, devemos, simultaneamente, promover
um espaço para a reflexão, de modo que os elementos dessa
40
teorização devam ser apreendidos a tal ponto que possam ser
utilizados adequadamente numa situação de interação [...].
(SILVA et al, 2012, p. 129).
Desta forma, não há mais como se persistir em um modelo do
século XVIII de educação. É preciso que se instigue o aluno, despertar a
curiosidade, levá-lo ao raciocínio contextualizado, demonstrar a serventia do
assunto, de modo que seja estimulante a prática do aprendizado.
Os lobos frontais, mais especificamente o córtex pré-frontal, têm a
função de integrar, remanejar, codificar e aglutinar a informação. Essa área é
chamada por José Meciano Filho de área terciária ou terceira área,
responsável pela argumentação e pela elaboração do pensamento.
Infelizmente, o atual sistema escolar não vem priorizando a área
terciária como se deveria. As avaliações estão impregnadas de mecanismos
que medem apenas a memória do aluno, não se importando com a reflexão.
Exercita-se majoritariamente apenas uma das estruturas do sistema límbico, o
hipocampo, responsável pelo armazenamento da memória de longo prazo, não
proporcionando, dessa forma, a elaboração critica do pensamento, deixando o
córtex pré-frontal à margem do aprendizado.
Pensar no cérebro executivo é ter em foco suas redes neurais, é
entender que não se toma decisões sem a complexa harmonia com as
emoções. O córtex pré-frontal é executivo e sentimental. Possuir o poder de
decidir é ter um misto de razão e emoção, ou melhor, os seres humanos são a
interpretação de suas emoções através de seu cérebro executivo.
Assim, entender o cérebro executivo e estimulá-lo, é ter
sensibilidade para despertar o pensamento gerado pela conexão de estruturas
corticais e subcorticais. É levar o aluno a pensar sobre o pensar, é evidenciar a
importância do conteúdo para a vida, sobretudo, demonstrar que com novas
sinapses neurais tornam-se outros, capazes de transformarem-se sempre.
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CONCLUSÃO
Diante das argumentações expostas, depreende-se que, à luz da
neurociência, deve-se encarar a situação de aprendizagem de uma nova
forma; levar em conta todo complexo processo pelo qual o cérebro e seus
neurônios percorrem até a aquisição da informação.
O córtex pré-frontal é o grande gerenciador de todas as ações
humanas, é ele que promove a personalidade; que define o maior ou menor
grau de afeto; que estabelece a conexão com as memórias, armazenadas em
diversas regiões cerebrais, e, desta forma, integra-as; que estabelece a
memória de trabalho e faz com que se possa realizar ações planejadas; que é
responsável pela elaboração rebuscada do pensamento; fazendo com que se
consiga decidir pela melhor forma de agir e, consequentemente, faz com que
seja possível haver uma civilização.
A importância integradora do córtex pré-frontal, que se estabelece
através das redes neurais, é fundamental na regulação da emoção. Fazendo
com que seja possível estabelecer diversos comportamentos, cada qual para
uma determinada situação social.
O lobo frontal é capaz de entender uma informação e percebê-la
como informação nova ou velha, nesse caso informação velha entende-se por
memória. Desta forma, mostra-se mais interessado e mais ativo ao deparar-se
com a informação nova. Sendo assim, é de toda importância para o educador
entender os processos que levam o aluno à aquisição de conteúdos, através do
interesse pelo novo, pela busca do conhecimento.
Fundamental, também, é perceber que cada cérebro aprende de
uma forma, no seu tempo, com suas preferencias e disposições. Os
educadores devem levar em conta, então, todo processo emocional e cognitivo
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de cada aluno, não se deve mais amalgamar alunos como se fossem blocos
individuais.
Estimular as diversas percepções sensoriais, a fim de que formem
memória, passa a ser estratégia de uma nova forma de aprendizagem. É
preciso que o aluno perceba o mundo a sua volta com diversos estímulos e
acione o maior número de sinapses possível, uma vez que a aquisição do
conhecimento é transformadora e faz com que o individuo mude seu
comportamento.
É diante dessas exposições que a escola dos próximos séculos deve
pensar sua estratégia de ensino, levando em conta, primordialmente, a
contextualização dos conteúdos para a vida desse aluno. Mostrar para que
serve cada abordagem disciplinar faz com que o interesse aja a favor da
aprendizagem, mexendo, assim, com o sistema límbico cerebral do aluno.
Portanto, entender o modelo de aprendizagem cerebral contribui
para que haja uma aprendizagem significativa, mudando a realidade da
educação atual. É preciso que se entenda que emoção e razão concatenam-
se, e uma só existe em função da outra. Desta forma, a relação dentro de um
sistema em que haja professores e alunos o afeto e o respeito ao próximo
passa a ser regra. O professor precisa entender que é um veículo
transformador de realidades e para tal é necessário que perceba que o
conhecimento só é modificador quando o afeto se faz presente.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GAZZANIGA, Michael S. Neurociência cognitiva: a biologia da mente/
Michael S. Gazzaniga, Richard B. Ivry, George R. Mangun; tradução Angélica
Rosat Consiglio... [et al.]. - 2. Ed. – Porto Alegre: Artmed, 2006.
GOLGBERG, E. O Cérebro Executivo: Lobos frontais e a Mente civilizada.
Rio de Janeiro: Imago Ed., 2002.
LENT, R. (coordenador) Neurociência da Mente e do Comportamento. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
RELVAS, M. Fundamentos Biológicos da Educação. -4. Ed.- Rio de Janeiro:
Wak Ed., 2009.
SILVA, A. [et al.]. Ensino de Gramática: Reflexões sobre a língua
portuguesa na escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
ANATOMIA E FUNCIONALIDADE 10
O sistema nervoso central 11
As células gliais 15
Os neurotransmissores 16
CAPÍTULO II
O CÓTEX PRÉ-FRONTAL: O CÉREBRO EXECUTIVO 21
O início de uma teoria 22
Aspectos anatômicos da organização cerebral das redes executivas 23
Ideias e modelos acerca dos lobos frontais 24
O córtex pré-frontal e a emoção 25
A informação nova e o interesse do lobo frontal 27
O córtex pré-frontal e a organização social humana
29
CAPÍTULO III
O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL E A APRENDIZAGEM 31
CONCLUSÃO
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 43
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