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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA E APOIO FAMILIAR
Auricéa Oliveira da Silva Freire
ORIENTADOR: Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro 2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Terapia de Família. Por: Auricéa Oliveira da Silva Freire
DEPRESSÃO NA ADOLESCÊNCIA E APOIO FAMILIAR
Rio de Janeiro 2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela oportunidade de
estar neste plano, procurando evoluir cada vez
mais. A minha família, pelo apoio, carinho e
compreensão nos momentos mais difíceis nessa
caminhada. Em especial as minhas queridas
filhas, Thalícia e Letícia pelo carinho e motivação.
In memoriam, ao meu querido marido
companheiro e amigo que onde estiver,
continuará dando aquela força... saudades. Aos
meus pacientes, pelas ricas aprendizagens que
me possibilitam enquanto terapeuta e ser
humano. Aos colegas de turma, e em especial
aos colegas de trabalhos em grupo: Sandra
Ferrão, Carlos Belchor e Vania Reis, por trocas de
saberes, grandes aprendizados e cumplicidade de
nossa convivência. Aos professores e
funcionários da AVM.
A Professora Orientadora Fabiane Muniz,
pela orientação firme e segura.
A todos o meu muito obrigado!
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia as minhas filhas,
Thalícia e Letícia, por terem apoiado e incentivado
minhas escolhas com carinho.
RESUMO
A adolescência é um momento da vida marcada por grandes
transformações biológicas, psicológicas e sociais. Em função disso, os
adolescentes são mais propensos a ocorrência de transtornos emocionais.
Entretanto, as funções básicas desempenhadas pela instituição familiar no
decorrer do processo de desenvolvimento psicológico de seus membros
permanecem as mesmas.
No entanto, as modificações que transformaram a adolescência em
um período dinâmico, é caracterizada pelo aumento das responsabilidades
sociais, familiares e profissionais, que quando associadas as acentuadas
mudanças biológicas e hormonais, podem causar modificações, e
consequentemente alterações emocionais, com notáveis casualidades de
descontentamento, confusão, solidão, incompreensão e atitudes de rebeldia,
que indicam os primeiros quadros depressivos no jovem.
Frente a esta realidade, a adolescência e as relações familiares
nesta etapa do ciclo vital, tem sido foco de numerosos estudos. Este estudo
objetivou apresentar uma pesquisa através de um estudo bibliográfico sobre
depressão em adolescentes, bem como verificar a relação do apoio e suporte
familiar.
Palavras-chave: Depressão, adolescência, família.
METODOLOGIA
Para desenvolver uma análise crítica que nos proporcione um
melhor embasamento da temática, trabalhei com a pesquisa bibliográfica, com
dados obtidos através de textos e fontes que me forneceram embasamento
teórico, analisando teorias que me apararam o tema em questão a partir das
leituras dos seguintes teóricos: NICHOLS (2007), CALLIGARIS (2002),
ABERASTURY (2002), ZAGUARY (2015).
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Conceito de Depressão 10
1.1 O que é Depressão 11
1.2 Depressão a doença do século 16
CAPÍTULO II - Conceito de Adolescência 19
2.1 O que é Adolescência 20
2.2 Adolescência e seu Desenvolvimento 21
2.3 Depressão na Adolescência 24
CAPÍTULO III – Família 28
3.1 Família e Estrutura 28
3.2 Adolescência e a Família 33
3.3 Terapia familiar e Mediação de Conflito 37
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 45/47
INTRODUÇÃO
Neste trabalho, relata-se e verifica a prevalência de indicadores de
depressão nos adolescentes e o apoio familiar desta forma, pretende-se
contribuir para um melhor entendimento da depressão na adolescência.
A adolescência é a etapa da vida marcada por diversas mudanças,
tanto biológica como de ordem psicológica e social.
Contudo, a adolescência caracteriza-se, principalmente, pela
transformação. Talvez em nenhuma outra fase do ciclo da vida as mudanças
sejam tão radicais e abruptas. Essas diferentes modificações transformam a
adolescência em um período dinâmico, de mudanças, tornando os
adolescentes mais vulneráveis a instalação de diversos transtornos afetivos.
Nesta fase, é essencial a participação dos pais e da escola, que tem
um papel indispensável a desempenhar na construção da personalidade
desses indivíduos. É preciso que eles estejam atentos e alertas a gravidade
das manifestações emocionais e comportamentais apresentadas pelos jovens.
É caracterizada também, pelo aumento das responsabilidades
sociais, familiares e profissionais que, quando associadas as mudanças
biológicas e hormonais, podem causar inquietações, dúvidas e mudanças de
comportamento. Com todas essas modificações, destaca-se a importância de
se conhecer mais e melhor sobre as dificuldades vivenciadas nesta idade, que
muitas vezes são atravessadas por sintomas depressivos, de ansiedade,
sentimento de angústia dentre outros.
Assim, a abordagem do adolescente exige postura da família que é
um sistema ativo em constante transformação, que se altera com o passar do
tempo para assegurar a continuidade e o crescimento psicossocial de seus
membros. Não podemos nos esquecer de realidades significativas que
interagem com a família: a escola, o trabalho dos pais, o bairro, a vizinhança, a
religião e o grupo de amigos.
O conhecimento das dinâmicas familiares é de fundamental
importância na avaliação, no tratamento e na prevenção dos problemas
apresentados pelo adolescente e sua família. Para isso, o terapeuta deve
observar como a família e o adolescente estão atravessando essa etapa da
vida.
A adolescência é um período de vida que merece atenção, pois esta
transição entre a infância e a idade adulta pode resultar ou não em problemas
futuros para o desenvolvimento de um determinado sujeito.
No entanto, grandes dificuldades que levam o adolescente e sua
família a procurar ajuda profissional, se enraízam em questões de fracasso
ambiental e familiar.
10
CAPÍTULO I
CONCEITO DE DEPRESSÃO
Eu sou livre de tudo o que sei,
mas sou escravo de tudo o que ignoro.
Spinoza
A palavra depressão origina-se do latim e é composta de duas outras
palavras: baixar (premère) e pressionar, isto é, “deprimèrie” que, literalmente,
significa “pressionar para baixo” (COUTINHO, SALDANHA apud VIEIRA,
2008).
A depressão pode ser vista como um mal que enraíza no eu do
indivíduo, bloqueando suas vontades e dirigindo de forma negativa o curso de
seus pensamentos.
No entanto, a depressão é considerada muito mais profunda do que a
tristeza, podendo traduzir-se num estado de abatimento e infelicidade, pode ser
transitório ou permanente.
Depressão é um termo utilizado na psiquiatria para designar um
transtorno de humor, uma síndrome em que a principal queixa apresentada
pelos pacientes é humor depressivo e às vezes irritável, durante a maior parte
do dia, ou mesmo uma doença caracterizada por marcantes alterações afetivas
(BALLONE,2005).
11 11
1.1- O que é a Depressão
O Termo “Depressão” é usado com freqüência, para melhor
definição dos nossos sentimentos emocionais. A depressão promove crises de
tristezas elevadas e profundas, levando o individuo a prostração, dependendo
do grau ou intensidade com que se manifesta.
Estudos mostram que o desencadeamento das crises depressivas
é devido a múltiplos fatores, variantes de pessoas para pessoas, dependendo
de maior ou menor tendência a doença em pauta.
Abreu (2006) refere que a depressão é atualmente considerada
um dos transtornos mentais mais freqüentes e o seu desencadeamento recebe
a influencia, dos seus fatores genéticos e principalmente dos fatores
socioeconômicos, como: ausência de perspectiva de futuro, abandono familiar
e falta de diálogo interpessoal e social, solidão, dentre outros. (ABREU, 2006,
p.49).
Algumas definições mais claras, para melhor compreensão do
que é depressão:
A tristeza é uma emoção presente na vida de qualquer criatura e
que, em determinadas situações, de conformidade com a sua intensidade e
duração, não necessitará uma abordagem profissional.
Denominamos a tristeza de emoção e não de sentimento, porque,
com seu conteúdo psíquico, sempre carrega aspectos viscerais, tornando-se
12 12
facilmente identificável ao observador próximo. Ela se reflete na face, no olhar,
na postura corporal e até no modo de agir do indivíduo.
A tristeza é a emoção diante do fracasso, da perda e da
separação. É a constatação de uma falta, seja de um recurso físico ou moral,
de uma criatura ou de uma situação. Ela não pode ser evitada, mas não deve
ser cultivada, embora alguns a utilizem como instrumento de criatividade e
inspiração, como registrado na literatura e nas artes em geral.
Existe, portanto, uma tristeza necessária com a qual a criatura
precisa conviver por determinado tempo, retirando dessa vivência lições
preciosas para si. Exemplo é a tristeza diante da morte. Existe a dor da perda.
A criatura triste pode ter sua vida diária modificada e prejudicada,
mas isso será passageiro e geralmente não impedirá de realizar suas tarefas
fundamentais. A tristeza deixará de atuar com o desaparecimento do fator
causal ou com sua resolução psíquica, ou irá diluindo com o tempo, pelo
fortalecimento do indivíduo diante da ação motivadora ou pelo enfraquecimento
da importância desta.
A depressão deve ser alvo de atendimento especializado, seja reativa ou
fruto de uma tristeza estagnada, seja causada por outros fatores. Como
sintoma pode estar associado aos diversos quadros orgânicos e emocionais, e
ser causada por fatores exógenos, como no caso das intoxicações, por
diversas substâncias, ou na presença de situações estressantes, ou por fatores
endógenos como nas infecções, neoplasias, disfunções endócrinas,
deficiências nutricionais, etc.
É muito comum, também que a queixa principal seja a perda da
sensação de prazer (anedonia), ou redução do interesse por tudo em volta da
13
pessoa (apatia). Geralmente, há o relato de um cansaço exagerado com
sensação de perda da energia.
Quando se busca um diagnóstico de depressão, deve-se
pesquisar:
- os sintomas psíquicos;
- os sintomas fisiológicos e
- as alterações comportamentais no campo psíquico, podem ser
encontradas as seguintes alterações:
• Apatia
• Mau humor
• Distúrbio do sono
• Distúrbio alimentar
• Desinteresse por atividades laborativas
• Sentimento de pesar
• Lentidão nas atividades físicas
• Lentidão nas atividades mentais
14
• Isolamento
• Irritação
• Perda de apetite
• Perda ou ganho de peso
• Chorar frequentemente
• Vontade de morrer
• Inquietação
• Pensamento negativo
• Pessimismo
• Desesperança
• Dificuldade de chorar
• Boca seca
• Diminuição de desejo sexual
• Autopiedade
• Sentimento de culpa
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• Falta de estímulo
Quanto às causas da depressão, a medicina declara que a
provável explicação está no desequilíbrio da bioquímica cerebral,
principalmente, nos controladores dos estados de humor. Também foi
comprovado pela Ciência, que os antidepressivos, interagem de forma
satisfatória para a melhora do paciente.
No que diz respeito ao tratamento da depressão, existem dois
caminhos: o psicoterapêutico e o farmacológico. De acordo com Ilo (1998), o
tratamento farmacológico pode ser feito através de atindepressivo indicados
por médicos psiquiátrias, que apresentam resultados eficazes para o
tratamento. No entanto, além dos psicofarmácos a psicoterapia ou análise tem
apresentado resultados consideráveis, na redução dos sintomas depressivos e,
cada vez mais a literatura tem demonstrado que a combinação da psicoterapia
e da farmacologia produz resultados superiores a essas terapêuticas isoladas.
Corroborando esta idéia, Abreu citado por Vieira (2008), descreve
que em conjunto, é o que existe de mais eficaz, pois apenas a psicoterapia
pode não ser suficiente, por haver um desequilíbrio no funcionamento do corpo.
Por outro lado, apenas o medicamento não resolve, pela razão complementar:
a depressão se caracteriza por ser um distúrbio do humor, do afeto, tendo
repercussões em todo psiquismo, não existindo remédio milagroso, capaz de
trabalhar com essa esfera, que é alcançada na psicoterapia. (ABREU apud
VIEIRA, 2008, p.35)
16
Os dois tipos de tratamento a psicoterapia e o farmacológico, são
fundamentais no tratamento a depressão e só assim o individuo poderá ter o
alívio tão esperado para seus sofrimentos e aflições.
1.2- Depressão a Doença do século
A depressão conhecida como “doença do século”, é considerada
uma doença mental catalogada na classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas relacionados com saúde (CID) e no Manual de
Diagnósticos e Estatísticos das Perturbações mentais (DSM), recebendo
abordagens cientificas, como a médica e psicoterápicas.
Para Paganotto (2008), de acordo com os dados da OMS, desde
1950 a depressão é a doença psiquiátrica mais diagnosticada e está em quarto
lugar entre os maiores problemas de saúde do Ocidente. Para Dubovski &
Lubovski (2004), nos países industrializados, a incidência do transtorno
depressivo, mania, suicídio e transtornos psicóticos do humor tem aumentado.
Nos dias de hoje, a depressão é um dos problemas médicos mais
difundidos no mundo. Um estudo conjunto da Escola de Saúde Pública de
Harvard da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial- o
17
Global Burden off Discase Study – revelou que ela ocupa o 4 º lugar entre as
causas de doenças degenerativas e de mortes prematuras. E as estatísticas
demonstram que ela se amplia a cada dia. Os autores do referido estudo
predizem que, em 2020, torna-se a 2ª doença em importância, ficando atrás
apenas dos males cardíacos .
Ao longo de pouco mais de cem anos, foram enormes os
progressos realizados nas áreas do conhecimento e do tratamento da
depressão.
Desde então, muitos foram os avanços, sobre tudo, no
entendimento dos fatores genéticos e biológicos, mais não se deixou de lado a
psicoterapia, análise e com a introdução, nos anos 60 da terapia cognitivo-
comportamental e da psicoterapia transpessoal, que continuam, até o dia de
hoje, como auxiliares importantes do tratamento uma vez que não se pode
deixar de considerar a influência dos fatores psicológicos.
A tecnologia recente, particularmente, a empregada nos
aparelhos, que utilizam câmeras de pósitrons, permitiu aos pesquisadores
avançarem bem mais, com a observação das imagens dos cérebros em
funcionamentos, possibilitando-lhes comparar as atividades cerebrais das
pessoas deprimidas como as das que não o são. Com esses e outros recursos
após vários anos de pesquisa chegou-se a conclusão de que a depressão tem
bases biológicas e é, frequentemente, influenciada por estresse psicológico ou
social.
18
No seu desenvolvimento, há, portanto, uma interação complexa
de fatores genéticos, estressantes e modificadores de varias regiões do corpo
notadamente do cérebro. A perspectiva é que será a segunda causa de morte
e – ou morbilidade no ano de 2020, atrás apenas do grupo de doenças
cardíacas. Os impactos pessoais, sociais e econômicos causados pela
depressão são bastante significativos.
19
CAPÍTULO II
CONCEITO DE ADOLESCÊNCIA
“Ao lidar com pessoas lembre-se de que
você não está lidando
com criaturas de lógica, mas com criaturas de emoção.”
(Dale Carnegie)
Adolescer é palavra latina que significa crescer, desenvolver-se,
tornar-se jovem. Os dicionários registram que a adolescência é o período da
vida humana entre a puberdade e a virilidade e que adolescer quer dizer
crescer durante o período da adolescência. Contudo, não seja possível fixar
limites exatos para sua duração, os dez e os vinte anos, aproximadamente, são
em geral admitidos como as idades iniciais e finais desta etapa do
desenvolvimento humano.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera adolescente o
indivíduo entre 10 e 20 anos.
20
2.1– O que é a Adolescência
A adolescência abrange a puberdade que é entendida como a
primeira fase da adolescência. A fase da puberdade é universal, tem
características particulares que vai depender do ambiente sócio-cultural do
adolescente.
Na adolescência todo o processo de amadurecimento abrange os
componentes psicológicos e sociais característicos dessa fase da vida. Este
período vem sendo considerado como o momento importante do
desenvolvimento do adolescente, marcado pelas mudanças tanto da imagem do
corpo como pela estruturação da personalidade.
A mudança inicia-se na puberdade, que sofre ao sair da infância, a
transformação do corpo muito rápido, acelerado, em adulto.
A puberdade é constituída pelos seguintes componentes:
• Crescimento físico;
• Aceleração;
• Desaceleração, até a parada do crescimento (segundo estirão);
• Maturação sexual;
21
• Desenvolvimento dos órgãos reprodutores e aparecimento dos
caracteres sexuais secundários;
• Mudanças na composição corporal;
• Desenvolvimento dos aparelhos respiratórios, cardiovasculares e
outros.
De acordo com Calligaris (2002), a adolescência pode se definir de
vários e diferentes critérios tais como:
Cronológico, divide a adolescência em pré adolescência (10-12 anos);
adolescência inicial (13-16 anos) e adolescência final (17-21 anos);
Desenvolvimento físico baseia-se no começo da puberdade e termina no
momento em que o desenvolvimento está quase concluído.
Sociológico, o adolescente deixa de ser encarado como uma
criança, mas ainda não desempenha funções dos adultos.
Psicológico, são as mudanças psicológicas, maturidade, conceitos,
o adolescente passa por uma reorganização de personalidade.
2.2- Adolescência e seu Desenvolvimento
A fase de desenvolvimento da adolescência é uma fase onde
ocorrem grandes transformações e descobertas sexuais, sociais, culturais, etc.
22
Quanto ao desenvolvimento, sabe-se que é um período difícil,
onde o indivíduo se prepara para o exercício pleno de sua autonomia. Basta
lembrar as muitas expectativas que são depositada nessa etapa (corpo adulto,
capacidade reprodutiva, identidade sexual, responsabilidade, independência,
maturidade emocional, escolha profissional, que fica fácil compreender porque
a adolescência é uma fase de tantos conflitos.
De acordo com Pereira (2005), os adolescentes gostam:
• De discussão; de temas polêmicos de caráter social;
• Gostam também de leitura e filmes: aventuras, violência,
grandes descobertas e vidas de grandes homens.
• De criticar os adultos e os problemas sociais.
• De resolver os problemas do mundo, geralmente com
soluções muito radicais.
Os adolescentes não costumam gostar de:
• Do irmão mais novo;
• que fiquem pegando no pé;
• dar satisfações;
• chamar sua atenção em público;
23
• ficar fora do grupo;
• injustiças;
• hipocrisias.
Alguns autores sublinham as transformações corporais da
adolescência, que são marcadas pelas alterações orgânicas que ocorrem no
corpo, e outros frisam as comportamentais, tais como uma suposta rebeldia, o
isolamento, um apego exagerado ao grupo, a adoção de novas formas de se
vestir, falar e se relacionar, além de episódios de tristeza ou euforia.
Segundo Erikson (1976), o período da adolescência é marcado
por diversos fatores, inclusive por uma tomada de consciência de um novo
espaço no mundo, a entrada em uma nova realidade, que produz conflitos e a
perda de referências. Nesta fase, o encontro dos iguais no mundo dos
diferentes é o que caracteriza a formação dos grupos de adolescentes, que se
tornarão lugar de livre expressão e de reestruturação da personalidade.
Erikson (1976), descreveu esse período, ainda, como “crise de
identidade”, que acarreta angústia, passividade ou revolta, dificuldade de
relacionamento, além de conflitos de valores. Portanto, a construção da
identidade é pessoal e social, uma vez que se dá de forma interativa, através
de trocas entre o indivíduo e o meio em que está inserido. A identidade não
deve ser vista como algo estático e imutável, como se fosse uma armadura
para a personalidade, mas como algo em constante desenvolvimento.
24
2.3– Depressão na Adolescência
Com todas as modificações que transformam a adolescência em
um período dinâmico, essa fase é caracterizada pelo aumento das
responsabilidades sociais, familiares e profissionais, que quando associadas
às acentuadas mudanças biológicas e hormonais, podem causar inquietações,
dúvidas e mudanças de comportamento. Com todas estas modificações,
destaca-se a importância de se conhecer mais e melhor sobre as dificuldades
vivenciadas nesta idade, que muitas vezes são atravessadas por sintomas
depressivos, de ansiedade, sentimentos de angústia, solidão, dentre outros.
Assim, as pressões sociais, por exemplo, favorecem condições
propícias para estas variações e mudanças de humor no comportamento do
indivíduo. Dessa forma, os adolescentes se deparam com novas situações
confrontantes com as suas ideias. Aqueles que demonstram maior
sensibilidade nos seus sentimentos estão mais propensos a quadros de
alterações emocionais, com notáveis casualidades de descontentamento,
confusão, solidão, incompreensão e atitudes de rebeldia, que indicam os
primeiros quadros depressivos no jovem, embora os sentimentos de tristeza e
melancolia não sejam evidentes.
De acordo com Aberastury e Knobel (1981), a adolescência
caracteriza-se, principalmente pela transformação. Talvez em nenhuma outra
fase do ciclo da vida as mudanças sejam tão radicais e abruptas. O
adolescente se descobre confuso e desordenado por não possuir autoridade
como os adultos, e também por não poder mais usufruir completamente dos
direitos da infância.
25
A adolescência é, em virtude de sua natureza mesma, uma
interrupção no fluxo do crescimento tranquilo e a manutenção de um equilíbrio
constante, durante o processo adolesante, pode ser encarado como
anormalidade. (Anna Freud apud GALLANTINI, 1978, p.55).
O adolescente torna-se vítima das pressões sociais que o levam a
uma contradição entre o que é para sociedade e o que gostam de ser.
As relações sociais do adolescente tendem a ser grande fonte
para manifestações de conflito, principalmente a ansiedade. Ele começa a
perceber que ninguém entende os seus intuitos, e esta distonia impulsiona e
desperta sentimentos de incapacidade, sobrevindo a angustia e a melancolia,
por, indiretamente, se sentir só e confuso para tomar decisões sobre o futuro.
O jovem deprimido tende, a comunicar-se através de seus atos,
contendo-se no uso das palavras. Entretanto, na exploração dos resultados de
suas desavenças diante das inexperiências, recorrem as drogas, ao álcool, ao
sexo desvairado ou promíscuo, na tentativa de tranquilizar as suas próprias
aflições e reencontrar a paz extraviada.
Existem alguns fatores como a “Depressão Atípica”, em que os
adolescentes costumam “mascarar” o contexto real.
Sintomas como anorexia nervosa, bulimia nervosa, ou outros
distúrbios alimentares, também são fatores desencadeantes da depressão, em
contra tempo, podem se sentir extremamente cansados, sonolentos e
exaustos durante o dia, mesmo depois de várias horas de sono.
A depressão típica é a mais comum entre as depressões
encontradas. O adolescente deprimido apresenta baixa auto-estima.
26
Sintomatologicamente, o adolescente tem como motivos
principais de episódios depressivos, inquietação e irritabilidade, dificuldade de
concentração, isolamento, perda do interesse ou prazer nas atividades em
exercício, desesperança, sentimento de culpa, pensamento de morte, insônia,
sonolência durante o dia, e alterações do apetite, que podem levá-lo a ganhar
ou a perder peso.
O suicídio é intensamente praticado pela imaturidade do jovem,
por não superar as dificuldades que ele próprio desencadeou, e sucumbe
perante as dores físicas e morais que o acomete.
Nos jovens com elevado grau de tendência suicida, a tensão que
os domina também é fator determinante para o seu desequilíbrio.
No que diz respeito aos sintomas depressivos para os
adolescentes, Bahls (2002) descreve a presença dos seguintes aspectos:
Irritabilidade e instabilidade, humor deprimido, perda da energia,
desmotivação e desinteresse; retardo psicomotor, sentimento de
desesperança e/ou culpa; alterações do sono; isolamento; dificuldade de
concentração, prejuízo no desempenho escolar; baixa auto estima; ideação e
comportamento suicida, problemas graves do comportamento, (BAHLS, 2002,
p.259).
O autor refere que dentre as principais comorbidades associadas
aos quadros depressivos na adolescência estão os transtornos de ansiedade,
o uso abusivo de substâncias, os transtornos alimentares, o transtorno de
déficit de atenção e os transtornos de conduta.
27
Cabe salientar que os sintomas depressivos eram considerados,
anteriormente, como uma psicopatologia de rara ocorrência na adolescência.
No entanto, após a década de 1970, diversos autores apontam a existência de
transtornos depressivos em adolescentes e crianças.
A adolescência compreende um conjunto de transformações
biopsicossociais que se processam entre a infância e a idade adulta. Apesar
de haver uma tendência em caracterizar a adolescência como um momento de
dificuldades de ordem emocional, conflitos e alterações de humor, cada vez
mais tem sido enfatizado a necessidade de considerar que este também é um
momento de intensa exploração de descoberta de múltiplas oportunidades.
(Senna & Dessen, 2012).
28
CAPÍTULO III
Família
A família é o fulcro da maior importância para o homem.
(Joanna de Ângelis)
A família é, antes de tudo, um laboratório de experiências, na
qual a felicidade e a dor se alternam. É considerada uma instituição
responsável por promover a educação dos filhos e influenciar o comportamento
dos mesmos, no meio social. O papel da família no desenvolvimento de cada
indivíduo é de fundamental importância.
3.1– Família e estrutura
A família tem suas próprias leis, que consubstanciam as regras de
bom comportamento dentro do impositivo do respeito ético, recíproco entre
seus membros, favorável a perfeita harmonia que deve vigir sob o mesmo teto
em que se agasalham os que se consorciam.
No entanto, a família tem passado por inúmeras transformações
29
nas últimas décadas, passível de vários tipos de arranjos na atualidade. As
funções básicas desempenhadas pela instituição familiar no decorrer do
processo de desenvolvimento psicológico de seus membros permanecem as
mesmas.
A Família Pós moderna é uma família Igualitária com laços não
necessariamente duradouros. Diferentemente do passado, não se tem clareza
quanto aos papéis e comportamentos.
Os valores têm que ser construídos a cada dia dentro da família.
É necessário negociar as diferenças o tempo todo.
Por isso é natural que haja mais conflitos que antes. Pois, não
existem mais modelos normativos. Não se pode determinar normalidade.
Mas, apesar de todas as mudanças, uma questão continua
indiscutível como diz o autor OSÓRIO (1996):
“A família é a unidade básica do desenvolvimento emocional do
indivíduo.”
A ansiedade, a falta de comunicação, mau entendimento,
conflitos, gera no âmbito familiar perturbações e desequilíbrios que podem
ocasionar a um doente ou a uma doença.
Os conflitos entre o adolescente e a família são questões tão
antigas quanto à existência do homem. O jovem, busca sua independência,
entra em conflito com os seus responsáveis que, por sua vez, não conseguem
lidar com isso de uma forma satisfatória e madura.
30
Geralmente na família tem um doente, no qual chamam de “bode
expiatório” que é a porta voz da ansiedade familiar/grupo , isso demonstra que
na verdade, a família está doente e que existem conflitos não resolvidos.
A família funciona na sua totalidade, obtendo equilíbrio através da
sua comunicação aberta.
A falta ou a falha de diálogo, dentro das famílias, pode levar ao
fracasso ou ao sucesso dela.
As transformações ocorridas na sociedade, na estrutura familiar e
na forma como os pais foram educados provocaram dificuldades referentes à
educação dos filhos, principalmente na adolescência.
Digamos então que a vida familiar é uma das primeiras
experiências significativas de vida do indivíduo.
O autor do livro As constelações familiares em sua Vida Diária,
HELLINGER (2013) diz assim:
Ao vir ao mundo no seio de uma família, não herdamos somente
um patrimônio genético, mas sistemas de crenças e esquemas de
comportamento. Nossa família é um campo de energia no interior do qual nós
evoluímos. Cada um, desde seu nascimento, ocupa um lugar único (pág 15).
Isso significa que os papéis que serão desenvolvidos ao decorrer
da vida, muitos são alicerçados na dinâmica familiar, como por exemplo :
31
papel de pai, de mãe , entre outros. A família é uma matriz psicossocial para o
desenvolvimento de seus membros.
Pode-se dizer que é um evento previsível que apresenta grande
impacto na vida familiar e na adolescência, considerada como uma crise
importante no contexto familiar. Encarada como uma fase do ciclo de vida
familiar, a adolescência apresenta tarefas particulares, que envolvem todos os
membros da família.
Este período se constitui como uma fase de transição do indivíduo
da infância para a idade adulta, evoluindo de um estado de intensa
dependência para uma condição autonomia pessoal (Silva & Mattos, 2004). A
dinâmica familiar começa a mudar após o adolescente começar a ter vontade
própria e mais recursos pessoais para executá-la. Assuntos que antes
interessava passam a ser desinteressantes, quando ele se torna adolescente.
Em algum momento, alguns amigos continuam legais e outros se tornam
chatos, o que seus pais lhe dizem já não merece tanta atenção.
A estabilidade compreende a definição clara dos ideais usados
pela família, ou, em outras palavras, a determinação de um quadro de valores.
Incapazes, na infância e na adolescência, de um juízo perfeito
sobre o que é certo ou errado, o que lhes convém ou não, os filhos necessitam
que os pais lhe apontem o melhor caminho a seguir e que lhe perseverem.
As incertezas do porvir, tanto quanto as mudanças bruscas na
filosofia da vida, confundem-lhes o espírito e suscitam insegurança,
prejudicando seriamente seu equilíbrio emocional.
32
A harmonia resulta da correlação de diversos valores a serem
cultivados pelos pais, como o amor, a autoridade, o bom entendimento,
confiança e seriedade recíprocas.
Este é o momento do desabrochar da sexualidade, a fase dos
descobrimentos, e uma maior compreensão da família permitirão que o
adolescente lide com tal fase de maneira menos conflituosa, diminuindo a
ansiedade e os distúrbios característicos desta fase.
Uma vez que, a família não é constituída pela simples soma de
seus membros, mais um sistema formado de relações interdependentes no
qual a modificação de um elemento induz a do restante, transformando todo o
sistema que passa de um estado para outro, ocasionando um aumento das
brigas e disputa entre pais e filhos durantes os anos de adolescências, uma
vez que a necessidade de negociação constante, inerente a esta etapa,
aumenta a situação de conflitos entre as gerações.
O diálogo nessa etapa do desenvolvimento assume um papel
ainda mais importante, apesar de muitas vezes os adolescentes buscarem se
fechar em seu “mundo” próprio. Devido a essa tendência a reclusão e a busca
de refúgio, o diálogo com os membros da família, nessa etapa da vida, é
essencial, pois é justamente nesse período que eles mais necessitam da
orientação e da compreensão da família. A falta de diálogo no ambiente
familiar pode, portanto, acarretar ou, em certos casos acentuar algumas
dificuldades, principalmente em termos de relacionamento, podendo afetar até
mesmo o bem-estar e a saúde psíquica doas adolescentes.
33
O adolescente segundo Aberastury (2002), desconfia dos pais e
do mundo em geral, rejeitando a realidade. As mudanças de humor são
repentinas, havendo crises de susceptibilidade afetiva e a soma de
gratificações e frustrações dos primeiros anos de vida vai determinar a
intensidade e a gravidade dos conflitos.
A convivência com o adolescente não é um processo uniforme
para todas as famílias, mesmo compartilhando de uma mesma cultura. Ela
costuma ser geralmente, um período de conflitos e turbulência para muitos, no
entanto há famílias que passam por esta fase sem manifestarem maiores
problemas e dificuldades de ajustamento.
A estrutura familiar é constituída por padrões de interação, que
por sua vez governam o funcionamento dos membros da própria família
delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação.
(MINUCHIN; FISHMAN apud BAPTISTA et al., 2001).
3.2– Adolescência e Família
A organização familiar influencia o desenvolvimento dos seus
membros em todas as etapas do ciclo vital.
Assim, a família pode-ser descrita como o processo que
proporciona o desenvolvimento psicológico do indivíduo, como lugar em que
as pessoas se constituem enquanto sujeitos. Silva e Dessen (2001),
descrevem a família por um ciclo determinado tanto por estímulos biológicos
quanto pela interação psicológica, associados aos processos interativos que
34
ocorrem no interior do sistema familiar. Nem sempre a família consegue
acompanhar as mudanças vividas por um de seus membros, na evolução da
infância para a adolescência.
Atualmente, além das preocupações gerais dos pais com a
questão de como lidar com a adolescência dos filhos, existem dois grandes
problemas que vem afligindo os adultos que possuem filhos adolescentes. São
eles: a iniciação sexual precoce e a ameaça da droga, os quais trazem consigo
também a preocupação crescente com a possibilidade de contaminação pelo
vírus HIV, uma vez que tem crescido assustadoramente o número de
adolescentes contaminados por este agente infeccioso.
A família nos dias de hoje ainda exerce um papel importante no
desenvolvimento de seus membros, principalmente no período da
adolescência, continua exercendo no processo de desenvolvimento. O
adolescente se desenvolve no contexto familiar e nele permanece por um
período que tem se expandido cada vez mais, pode-se dizer que, apesar das
transformações significativas vivenciadas pela família nas últimas décadas.
A questão da proteção que a família insiste em exercer sobre o
adolescente pode ser considerada uma das situações mais conflitantes no
relacionamento entre pais e filhos. Quando os adolescentes se sentem
autônomos, a proteção dos pais pode gerar revolta, invasão à privacidade,
limitação, restrição de escolhas, por se sentirem tratados ainda como crianças.
Por essas razões, tornar-se cada vez mais importante a família buscar uma
ajuda adequada, com a finalidade de trazer uma construção na forma mais
adequada de lidar com seus filhos adolescentes, auxiliando-os a fornecer
orientações mais precisas que sirvam de referência para o adolescente, frente
a situações que necessitam de reflexão e tomada de decisões.
35
Assim, as famílias poderão reduzir suas angústias frente a
adolescência e estes, por sua vez podem ver os pais como o suporte
emocional singular ao qual podem recorrer diante das dificuldades de
ajustamentos que enfrentam. A falta de suporte por parte da família, podem
acentuar dificuldades e afetar o bem-estar e, consequentemente, a saúde
psíquica do adolescente.
As adaptações na organização familiar necessárias para manejar
as tarefas da adolescência são tão básicas que a própria família se transforma
de uma unidade que protege e nutri os filhos pequenos em uma unidade que é
um centro de preparação para a entrada da adolescência no mundo das
responsabilidades e dos compromissos adultos. Esta metamorfose familiar
envolve profundas mudanças nos padrões de relacionamento entre as
gerações, e, embora possa ser assinalada inicialmente pela maturidade física
do adolescente.
Em resultado, a maior função da família, foi transformada, da
função de unidade econômica em uma função de sistema de apoio emocional.
A transformação global que a família experiencia ao tentar
dominar as tarefas da adolescência. A maioria das famílias, depois de certo
grau de confusão e perturbação, é capaz de mudar as normas e os limites e
reorganizar-se, para permitir aos adolescentes maior autonomia e
independência. Entretanto, existem alguns problemas universais associados a
esta transição, que podem resultar de disfunção familiar e no desenvolvimento
de sintomas no adolescente ou em outros membros da família. Assim, como
os fatores que podem contribuir para a desorganização ou comportamento
sintomático da família, e as interações terapêuticas que poderiam ser efetivas
com essas famílias.
36
Todas as transformações ameaçam apelos anteriores. A tarefa da
adolescência desencadeia sentimentos de perda e medos de abandono na
maioria das famílias. Na medida em que os adolescentes fortalecem suas
alianças fora, sua menor participação em casa é frequentemente
experienciada, por outros membros da família como uma perda. Na verdade, a
transição da infância para a adolescência assinala uma perda para a família, a
perda da criança. Os pais sentem um vazio quando os adolescentes passam a
ter maior independência, pois não são mais necessários da mesma maneira e
a natureza de seus cuidados precisa mudar.
Tentar controlar arbitrariamente os adolescentes pode levar a um
comportamento seriamente sintomático. Em resultados, os adolescentes
podem ficar paralisados quando sentem a urgência de crescer, mais ficam em
casa para satisfazer as necessidades dos pais. Os pais experienciam um
dilema.
Segundo Marturano (1998), o aumento desses conflitos
geralmente está acompanhado de uma diminuição da proximidade do convívio,
principalmente em relação ao tempo que adolescentes e pais passam juntos.
Contundo, um conflito bem negociado pode levar a um crescimento para os
filhos e para os pais.
A convivência com o adolescente não é um processo uniforme
para todas as famílias, mesmo compartilhando de uma mesma cultura. Ela
costuma ser, geralmente, um período de conflitos e turbulência para muitos, no
entanto há famílias que passam por esta fase sem manifestarem maiores
problemas e dificuldades de ajustamento.
37
3.3 – Terapia Familiar e Mediação de Conflito
Conforme as famílias avançam para a adolescência dos filhos,
ocorrem mudanças que são capazes de resultar em disfunção familiar e no
desenvolvimento de sintomas no adolescente ou em outros membros da
família. As famílias podem vivenciar, bloqueios assim como os fatores que
podem contribuir para a desorganização ou o comportamento sintomático da
família.
Segundo Minuchin (1982), a família é encarada como um
organismo, um sistema aberto, composto de subsistemas, cada um dos quais
é envolvido por um limite semipermeável,que é, na verdade, um conjunto de
regras que governa quem está incluído dentro daquele subsistema e o modo
como eles interagem, com quem está fora deles.
A família é o principal sistema já que o acompanha desde o seu
nascimento. No caso do adolescente é na família que ele vai se percebendo e
construindo sua alto imagem.
Esse modelo de enfoque familiar amplia a visão de entender o
sofrimento do sujeito de forma contextualizada, uma vez que a família e o
adolescente sofrem influência de diversos sistemas.
O adolescente que cresce em uma família que impede seu
crescimento e independência se torna indefeso, diante do mundo
desconhecido e dependente dos adultos que o cerca, independente de suas
limitações emocionais. Crescer e tornar-se adulto implica a realização de
escolhas ativas sobre a compreensão de si mesmo e de seus
relacionamentos, de modo que seja possível estabelecer sua própria ordem,
38
com base nos eventos do próprio sistema de relações (familiares, de
amizades), e não de seus pais.
O bom funcionamento familiar requer as fronteiras nítidas, ou
seja, permitir variações entre os sujeitos ou subsistemas que permite o
crescimento e a independência. As fronteiras rígidas são explicitamente
restritivas e permitem pouco contato entre os subsistemas externos, o que
resulta em distanciamento e isolamento. Também há aspecto positivo no
sentido da independência e não do controle.
Este tipo de funcionamento tende a levar a uma independência e
a ter problemas com outras pessoas da família.
A Terapia Familiar Estrutural não é um conjunto de técnicas, e
sim uma maneira de enxergar a família. O terapeuta parte da própria interação
humana, isto é, a partir da sua interação fora da terapia.
Para serem eficazes os movimentos do terapeuta não podem ser
pré-planejados e ensaiados. Por outro lado, a estratégia da terapia deve ser
totalmente planejada. Seguindo os seguintes passos:
• Unir e acomodar;
• Trabalhar coma interação;
• Diagnosticar;
• Destacar e modificar as interações;
39
• Desequilibrar;
• Desafiar as suposições da família.
As três primeiras estratégias constituem a fase de abertura do
tratamento. Primeiramente o terapeuta da família deve desarmar as defesas
para acalmar a ansiedade, transmitindo aceitação e compreensão a cada
membro. Este passo constitui respeito não apenas aos sujeitos, mas a sua
estrutura e organização hierárquica. A segunda estratégia busca trabalhar com
a interação da família que será manifestada através da dinâmica que emergir
na terapia.
A Terapia Familiar Sistêmica, conta a história passada
relacionando com as transações e acontecimentos do presente e problema que
a família apresenta e a dinâmica que exibe, chamar atenção para as interações
e modificá-las, intervir na interação da família de forma libertá-la de seus
padrões de equilíbrio. Os sintomas que trazem muitas vezes, representam a
tentativa da família de resolver conflitos criados por sua incapacidade de
negociar as mudanças de relacionamento que devem acontecer durante a
adolescência.
O terapeuta utiliza a intensidade para fazer essas intervenções.
Minuchin (1982), frequentemente causava impacto dramático e vigoroso.
As tarefas são empregadas como forma de estruturar o trabalho e
explorar as transações família e o adolescente, através dela o terapeuta tem
uma melhor percepção da área que necessita ser abordada.
A prescrição de tarefas nas sessões terapêuticas, podem indicar
a forma de comunicação entre adolescente e sua família, demonstrando:
40
arranjos no espaço, interações familiares, dramatizações de situações
vivenciais que provocam mudanças. A prescrição de tarefas pode ser utilizada
também fora do espaço terapêutico.
Ao prescrever tarefas para a família e o adolescente, o terapeuta
deve ser cuidadoso em seu planejamento, estabelecer objetivos, observar,
acompanhar e ficar atento aos resultados das tarefas com uma perspectiva de
mudança dos padrões internacionais. As diferentes respostas dão tanto ao
terapeuta como a família e adolescente o melhor direcionamento a seguir.
De acordo com Nichols (2007), outra forma de abordar a família e
o adolescente é através da utilização do sintoma do paciente identificado da
seguinte forma:
• Concentração do sintoma: ajuda a identificar de forma mais
rápida os padrões transacionais disfuncionais da família.
• Exageração do sintoma: terapeuta intensifica o sintoma visando
uma manobra reestruturadora do sistema familiar.
• Desacentuação do sintoma: deslocar o foco do sintoma
centralizado em um sujeito
• Transferência para o novo sintoma: movimentação temporária do
foco para o outro membro da família
• Reclassificação do sintoma e modificação do mesmo no afeto:
reconceituar os sintomas em termos interpessoais provocando
mudanças.
• 41
Quando o adolescente apresenta algum problema, este não é
apenas responsabilidade este sujeito. O que parece ser problema de uma
única pessoa,vem para avisar que toda família está com dificuldade.
A Terapia Familiar Sistêmica é um dos recursos que tem
contribuído para aliviar a relação família e adolescente. O terapeuta deve
proporcionar um ambiente em que a família e o adolescente se sintam seguras,
confiantes, possam assumir o risco de se examinarem objetivamente e
claramente, bem como suas ações. Deve também mostrar-se seguro, podendo
estruturar suas perguntas sobre o que quer saber e o que o paciente pode lhe
responder.
O terapeuta deve ficar atento ao padrão de relação do
adolescente com ele mesmo e sua família, com as outras pessoas, com o
mundo, com a vida.
As maiorias dos pais recebem bem a oportunidade de falar
privadamente com o terapeuta a respeito de medo e suspeitas em relação ao
comportamento de seu adolescente. O objetivo terapêutico dessas sessões,
entretanto, é o de criar uma atmosfera mais segura em que eles se sintam
mais livres para serem mais objetivos, sobre seus papéis como pais,
explorarem as lutas que talvez enfrentem em outras áreas de sua vida. Na
maioria dos casos, para conseguir engajar os pais dessa maneira, o terapeuta
precisa primeiramente tratar das preocupações que eles trazem.
Sessões individuais com os adolescentes proporcionam uma
oportunidade para avaliar seu funcionamento fora do sistema familiar. Muitas
vezes eles apresentam o quadro muito diferente quando vistos sozinhos,
sentindo-se mais livre para explorar e expressar suas opiniões sobre o mundo.
42
Perguntas referentes a valores e crenças sobre a vida, amor, sexo,
responsabilidade, educação, drogas, amigos, famílias e o futuro ajudam a
esclarecer seu conceito de eu, ou identidade. Entender a semelhança ou
diferença dessas ideias em relação as opiniões dos pais identifica áreas de
conflito que podem estar bloqueando o processo de diferenciação.
Os encontros com os adolescentes também oferecem um
contexto mais seguro, no qual eles podem revelar segredos e fantasmas que
os atormentam. Incesto, estupro, abortos, drogas, álcool, sexo e abuso físico,
são questões que as vezes estão sob a superfície ou profundamente
enterradas.
De acordo com Cerveny (2002), toda e qualquer família pode ser
percebida e analisada como um sistema. Seus padrões de relacionamentos
entre si e com o contexto mais amplo são únicos e complexos. No entanto, as
interações que ocorrem no núcleo familiar seguem algumas “leis”, formuladas
na Terapia Geral dos Sistemas, que representam os padrões interacionais que
garantem a unidade e estabilidade do sistema.
A principal tarefa do terapeuta é, portanto, auxiliar a família e o
adolescente a desconstruir sua própria narrativa a partir de uma percepção
diferenciada dos fatos que vivenciou. Com seus questionamentos,
esclarecimentos e pontuações, o terapeuta familiar enfatiza os recursos da
família e mostra indícios de relações que são muito positivas ou de quando as
relações consideradas como problema não eram problema. (Nichols, 2007).
Em resumo, a principal tarefa do terapeuta é, colaborar com a família e o
adolescente. Ao proporcionar novas conexões, o terapeuta pode ajudar as
famílias a negociarem as mudanças, e relacionamento que devem ocorrer
durante a adolescência e a verem o futuro como menos perigoso, de forma que
43
o foco das conversações passe a ser a solução, a saúde e não o problema ou
a patologia.
Em famílias com adolescentes, a terapia e a mediação familiar
fazem contribuições importantes para a resolução de conflitos. Os dois
processos – terapia e mediação – oferecem oportunidades de transformação
estimulando a comunicação, a compreensão e a construção de novas
possibilidades para a resolução de conflitos.
CONCLUSÃO
Através das reflexões sobre a influência do suporte familiar no
adolescente depressivo, percebe-se a necessidade de se entender mais sobre
o respectivo transtorno de humor, que através dos fundamentos estudados,
entendem-se os inúmeros fatores que contribuem para o seu surgimento, e
quão importante é a relação da família e o indivíduo depressivo, principalmente
no que tange a fase da adolescência, por ser essa constituída de
transformações e grandes incertezas do próprio indivíduo que está em
processo de construção de identidade.
É fundamental observar a importância que existe na relação entre
família e o adolescente depressivo, afinal, essa influência, tem grande
destaque para o adolescente neste processo.
Frente a esta realidade, a adolescência e as relações familiares,
nesta etapa do ciclo vital, tem sido o foco de numerosos estudos.
Por essas razões, torna-se imperativo investir em programas de
orientação para pais com a finalidade de prepará-los para poderem lhe dar de
forma mais adequada com seus filhos adolescentes, auxiliando-os a fornecer
orientações mais precisas que sirvam de referências para os adolescentes.
A relação familiar pode vir a influenciar a origem, a evolução e
recuperação do adolescente depressivo, sendo que não existe apenas um fator
isolado e sim um conjunto de fatores, aonde o suporte familiar é importante e
faz parte.
A partir dos dados analisados, concluímos que o diálogo dentro da
família é muito importante, pois contribui para um bom desenvolvimento
emocional e psíquico dos seus membros.
A família é o alicerce com ela aprendemos o que é ser ético.
“O grupo familiar é conquista nobre do processo antropológico-
sociológico no qual o ser humano cresce”. (Joanna de Ângelis)
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