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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAO TECNOLGICA PAULA SOUZA
UNIDADE DE PS-GRADUAO, EXTENSO E PESQUISA
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO E DESENVOLVIMENTO DA
EDUCAO PROFISSIONAL
SERGIO PAMBOUKIAN
AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS
SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.
So Paulo
Maro/2018
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SERGIO PAMBOUKIAN
AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS
SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.
Dissertao apresentada como exigncia
parcial para a obteno do ttulo de Mestre em
Gesto e Desenvolvimento da Educao
Profissional do Centro Estadual de Educao
Tecnolgica Paula Souza, no Programa de
Mestrado Profissional em Gesto e
Desenvolvimento da Educao Profissional,
sob a orientao do Prof. Dr. Roberto Kanaane
So Paulo
Maro/2018
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FICHA ELABORADA PELA BIBLIOTECA NELSON ALVES VIANA FATEC-SP / CPS
Pamboukian, Sergio
P185c As competncias requeridas no sculo XXI dos egressos dos cursos superiores de tecnologia Mecnica e Soldagem da FATEC-SP / Sergio Pamboukian . So Paulo : CPS, 2018.
196 f. : il., figs., grafs., quads., tabs.
Orientador: Prof. Dr. Roberto Kanaane Dissertao (Mestrado Profissional em Gesto e
Desenvolvimento da Educao Profissional) - Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, 2018.
1. Competncias. 2. Curso superior de tecnologia. 3. FATEC-
SP. 4. Modelo de competncias. 5. Quarta revoluo industrial. I. Kanaane, Roberto. II. Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza. III. Ttulo.
CRB8-8281
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SERGIO PAMBOUKIAN
AS COMPETNCIAS REQUERIDAS NO SCULO XXI DOS EGRESSOS DOS CURSOS
SUPERIORES DE TECNOLOGIA MECNICA E SOLDAGEM DA FATEC-SP.
Prof. Dr. Roberto Kanaane
Profa. Dra. Helena Gemignani Peterossi
Profa. Dra. Amlia Covic
So Paulo, 26 de maro de 2018
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A Ourazine Pamboukian e Maria Pamboukian,
in memoriam: honro aos meus pais pelas
oportunidades que at hoje me perseguem.
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AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeo ao amigo Prof. Djanilson Pereira Vanderlei, incentivador de primeira
hora, pelo apoio na discusso do pr-projeto quando este trabalho se constitua apenas de
intenes, ausente neste momento pelo mesmo motivo de seu prprio mestrado inconcluso.
Agradeo aos Ilmos. Diretores da FATEC-SP Prof Dr Luciana Reyes Pires Kassab e Prof.
Me. Dcio Moreira pelo apoio e acesso s informaes junto a todos os departamentos.
Agradeo ao Chefe do Departamento de Soldagem da FATEC-SP Prof. Waldyr Veg pelo
apoio incondicional para que pudesse conciliar minhas atividades profissionais e acadmicas,
bem como a todos os colegas do departamento pela colaborao e palavras de incentivo.
Ao Prof. Wilson Hiroo Nakagawa, pelas informaes provenientes da Seo de Estgio e pela
deferncia que dispensou a este trabalho, at na reviso da comunicao enviada s empresas.
Agradeo s empresas que, ao responderem o questionrio, forneceram os dados para
elaborao da pesquisa, bem como aos professores dos Cursos de Tecnologia Mecnica
Modalidade Processos de Produo e Projetos, Mecnica de Preciso e Soldagem da FATEC-
SP pelo tempo dedicado em fornecer as preciosas informaes, bem como o apoio de seus
respectivos Chefes de Departamento. Minha gratido Dr Suzana Abreu de Oliveira Souza
Chefe do Departamento de Ensino Geral por auxiliar o acesso aos docentes do departamento.
Agradeo CESU e ao Centro Paula Souza pelo apoio e contribuio ao trabalho, ao
Coordenador da CESU Dr. Andr Alves Macedo e Prof Dr Luciana Ruggiero Gonzalez.
Agradeo a todos os docentes do programa de mestrado; ao Prof. Me. Sergio Eugnio Menino
e em especial Coordenadora da Ps-Graduao do Centro Paula Souza Prof Dr Helena
Gemignani Peterossi pelas contribuies nas disciplinas e nas bancas de qualificao e defesa.
Um agradecimento especial ao Prof. Dr. Roberto Kanaane, professor da disciplina Psicologia
do Adulto, colega do departamento de Soldagem da FATEC-SP e meu orientador pelos
conhecimentos, pela sua dedicao a este trabalho e pela sua amizade. Agradeo a todos que
contriburam para a consecuo deste trabalho, aos alunos da FATEC-SP que a cada encontro,
buscaram informaes sobre o andamento do projeto e deram sua contribuio e estmulo.
Aos Filhos Mateus e Lucas, por ser a razo de me prosseguir com os estudos e s minhas
irms Rose e Adriana pelo amor e cuidado de sempre. Agradeo minha esposa Mnica
Maria Roman Pamboukian que assumiu a responsabilidade do cuidado familiar durante dois
anos para que me dedicasse ao projeto.
Sobretudo, sou grato ao Senhor Deus, meu Senhor e Salvador, a quem seja toda a honra e a
glria para todo o sempre, Amm. Maranata, ora vem Senhor Jesus!
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Combati o bom combate, terminei a minha
carreira, guardei a f.
(Apstolo Paulo, 2 Timteo 4:7)
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RESUMO
PAMBOUKIAN, S. As competncias requeridas no sculo XXI dos egressos dos cursos
superiores de tecnologia em Mecnica e Soldagem da FATEC-SP. 196f. Dissertao
(Mestrado Profissional em Gesto e Desenvolvimento da Educao Profissional). Centro
Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza, So Paulo, 2018.
Foi realizada pesquisa qualiquanti utilizando o mtodo descritivo e como tcnicas a pesquisa
bibliogrfica. Adotou-se uma amostra no probabilstica. A coleta de dados se utilizou de trs
questionrios eletrnicos com escala Lickert e perguntas abertas. Atravs do sujeito de
pesquisa empregadores objetivou-se caracterizar quais as competncias requeridas dos
egressos dos cursos superiores de tecnologia em Mecnica e Soldagem da Faculdade de
Tecnologia de So Paulo visando contratao de egressos, face aos efeitos da quarta
revoluo industrial em andamento. De forma concomitante, questionou-se aos professores
dos cursos qual o nvel de desenvolvimento das competncias proporcionado pelos cursos
pesquisados e de que maneira o desenvolvimento de cada uma das competncias podem ser
ampliadas. Da mesma forma, foram caracterizadas as competncias pelos gestores e avaliada
a viabilidade de utilizao do modelo de competncias para estruturao dos currculos e do
Plano Pedaggico dos Cursos em estudo. A anlise e interpretao dos dados foram realizadas
atravs de triangulao e referente s questes abertas foi realizada anlise interpretativa
textual. Como resultados, 17 das 18 das competncias requeridas para o sculo XXI foram
caracterizadas como extremamente importantes e muito importantes pelos empregadores
todas 18 pelos gestores da FATEC-SP. Foram elencadas pelos professores alternativas para
desenvolver cada uma das competncias dos alunos e a viabilidade de utilizao do modelo de
competncias para a reestruturao de currculos e Planos Pedaggicos dos cursos
pesquisados foi ratificada pelos gestores.
Palavras-chave: Competncias. Curso Superior de Tecnologia. Fatec-SP. Modelo de
Competncias. Quarta Revoluo Industrial.
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ABSTRACT
PAMBOUKIAN, S. The required competencies in the 21st century of the graduates of
the superior courses of technology of FATEC-SP. 196f. Dissertation (Professional Master
in Management and Development of Professional Education). State Center for Technological
Education Paula Souza, So Paulo, 2018.
Qualiquanti research was carried out using the descriptive method and as bibliographic
research techniques. A non-probabilistic sample was adopted. The data collection was done
using three electronic questionnaires with Lickert scale and open questions. Through the
subject of research "employers" was aimed to characterize the skills required of graduates of
the higher technology courses in Mechanics and Welding of the Faculty of Technology of So
Paulo aiming at the hiring of graduates, in light of the effects of the fourth industrial
revolution in progress. At the same time, the teachers of the courses were asked about the
level of development of the competences provided by the courses studied and how the
development of each of the competences can be expanded. Likewise, the competencies were
characterized by the managers and evaluated the feasibility of using the competency model
for curriculum structuring and the Pedagogical Plan of the courses under study. The analysis
and interpretation of the data were performed through triangulation and referring to the open
questions was performed textual interpretive analysis. As a result, 17 of the 18 competencies
required for the 21st century were characterized as "extremely important" and "very
important" by employers all 18 by FATEC-SP managers. They were listed by the teachers
alternative to develop each of the competences of the students and the feasibility of using the
competencies model for the restructuring of curricula and Pedagogical Plans of the courses
surveyed was ratified by the managers.
Keywords: Competencies. Junior College Education. -SP. Fourth Industrial Revolution.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Pontos de inflexo esperados at 2025 ........................................................... 31
Quadro 2: Descritivo de Geraes .................................................................................... 47
Quadro 3: Competncias chave essenciais recomendadas pelo Parlamento Europeu ..... 57
Quadro 4: Pontos de inflexo esperados at 2025 ........................................................... 64
Quadro 5: Denominao dos Cursos Superiores de Tecnologia nos diversos pases ....... 75
Quadro 6: Resultados da aprendizagem dos CSTs de acordo com QEQ ......................... 76
Quadro 7: Contribuies do estudo dos Cursos de Tecnologia de outros pases ............. 78
Quadro 8: Contribuies do estudo de EFP de outros pases ao Brasil ............................ 79
Quadro 9: Cursos de Graduao Tecnolgica da Fatec-SP ............................................. 83
Quadro 10: Autorizao e reconhecimento dos cursos da Fatec-SP .................................. 84
Quadro 11: Competncias Profissionais dos Tecnlogos ................................................... 85
Quadro 12: Dados Curso Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo ...... 86
Quadro 13: Competncias egressos Tecnologia Mecnica Mod. Processos de Produo . 87
Quadro 14: Dados Gerais do Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos .......... 89
Quadro 15: Competncias egressos Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos .............. 90
Quadro 16: Dados Gerais do Curso de Tecnologia em Soldagem ..................................... 93
Quadro 17: Competncias dos Egressos do Curso de Tecnologia em Soldagem ............... 94
Quadro 18: Dados Gerais do Curso de Tecnologia em Mecnica de Preciso ................ 101
Quadro 19: Relevncia das competncias para o sculo XXI na viso dos gestores ........ 139
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 1: Evoluo dos Cursos Superiores de Tecnologia entre 1998 e 2008 ............... 67
Grfico 2: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica - Processos de Produo ........ 87
Grfico 3: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica - Projetos .............................. 90
Grfico 4: Relao candidato/vaga Tecnologia em Soldagem ......................................... 95
Grfico 5: Relao candidato/vaga Tecnologia Mecnica de Preciso ........................... 102
Grfico 6: Atividade econmica das empresas da amostra ............................................ 109
Grfico 7: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 110
Grfico 8: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 111
Grfico 9: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores ............. 112
Grfico 10: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores ............. 113
Grfico 11: Resultados de questionrios do Sujeito de Pesquisa Empregadores .............. 116
Grfico 12: Tempo como docente na Fatec-SP ................................................................ 117
Grfico 13: Titulao dos professores da amostra ........................................................... 117
Grfico 14: Resultado para competncia comunicao escrita em lngua portuguesa ..... 118
Grfico 15: Resultado para competncia comunicao oral em lngua portuguesa ......... 120
Grfico 16: Resultado para competncia comunicao em lnguas estrangeiras ............. 121
Grfico 17: Resultado para competncia matemtica, cincias e tecnologia .................... 122
Grfico 18: Resultado para competncia digital ............................................................... 123
Grfico 19: Resultado para competncia aprender a aprender .......................................... 124
Grfico 20: Resultado para competncia saber agir e reagir com pertinncia .................. 125
Grfico 21: Resultado para competncia mobilizar recursos em situaes complexas .... 126
Grfico 22: Resultado para competncia saber transpor ................................................... 127
Grfico 23: Resultado para competncia esprito de iniciativa ......................................... 128
Grfico 24: Resultado para a competncia esprito empresarial ....................................... 129
Grfico 25: Resultado para competncia sensibilidade e expresso cultural .................... 129
Grfico 26: Resultado para competncia cvica ................................................................ 130
Grfico 27: Resultado para competncia em operaes globais ....................................... 131
Grfico 28: Resultado para competncia inteligncia emocional ..................................... 132
Grfico 29: Resultado para competncia resoluo de problemas complexos ................. 133
Grfico 30: Resultado para competncia viso holstica .................................................. 134
Grfico 31: Resultado para competncia saber fazer ........................................................ 135
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Universo de Empresas pesquisadas .............................................................. 106
Tabela 2: Professores de Curso por Departamento da Fatec-SP ................................... 107
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Contextualizao das reflexes da Pesquisa .................................................... 18
Figura 2: Sala de aula Interativa MIT .............................................................................. 49
Figura 3: Quadro conceitual da Educao da OCDE para 2030 .................................... 59
Figura 4: Desenho da Lgica da Pesquisa .................................................................... 104
Figura 5: Desenho da Pesquisa ..................................................................................... 108
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LISTA DE SIGLAS
BRICS Brasil, Rssia, ndia, China, frica do Sul
CAD Computer Aided Design
CAE Computer Aided Engineering
CAM Computer Aided Manufacturing
CCR Curriculum Consortium Research
CEET SP Centro Estadual de Educao Tecnolgica de So Paulo
CEETEPS Centro Estadual de Educao Tecnolgica Paula Souza
CESU Coordenadoria de Ensino Superior
CNCST Catlogo Nacional dos Cursos Superiores Tecnolgicos
CFE Conselho Federal de Educao
CNE Conselho Estadual de Educao
CNI Confederao Nacional da Indstria
CST Curso Superior de Tecnologia
EFP Educao e Formao Profissional
EP Educao Profissional
EPT Educao Profissional e Tecnolgica
FATEC Faculdade de Tecnologia
FATEC-SP Faculdade de Tecnologia de So Paulo
FMI Fundo Monetrio Internacional
IES Instituio de Ensino Superior
IoT Internet of Things
MIT Massachusetts Institute of Technology
OCDE Organizao de Cooperao e de Desenvolvimento Econmico
PPC Plano Pedaggico do Curso
TIC Tecnologia de Informao e Comunicao
UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura
UNESP Universidade Estadual Paulista
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SUMRIO
INTRODUO .................................................................................................................... 16
CAPTULO 1- O SCULO XXI ......................................................................................... 28
1.1 A Quarta Revoluo Industrial ..................................................................................... 28
1.2 A Educao para o Sculo XXI ..................................................................................... 35
CAPTULO 2 AS COMPETNCIAS ............................................................................. 50
2.1 O conceito de Competncias .......................................................................................... 50
2.2 As Competncias para o sculo XXI ............................................................................. 56
2.3 O modelo de Competncias ............................................................................................ 62
CAPTULO 3 OS CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA ................................ 64
3.1 Origem e Histrico dos Cursos Superiores de Tecnologia .......................................... 64
3.2 Debates e tendncias para os Cursos Superiores de Tecnologia ................................ 68
3.3 Os Cursos Superiores de Tecnologia em Outros Pases .............................................. 73
CAPTULO 4 A FACULDADE DE TECNOLOGIA DE SO PAULO ..................... 79
4.1 Histrico da Faculdade de Tecnologia de So Paulo ................................................... 79
4.2 O Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo .................... 85
4.3 O Curso de Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos ............................................. 88
4.4 O Curso de Tecnologia em Soldagem ........................................................................... 91
4.5 O Curso de Tecnologia em Mecnica Modalidade Mecnica de Preciso ................ 96
CAPTULO 5 - METODOLOGIA ................................................................................... 103
CAPTULO 6 - RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................. 108
6.1 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa empregadores ..................................... 108
6.2 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa professores .......................................... 116
6.3 Resultados e discusso - sujeito de pesquisa gestores ................................................ 139
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................. 144
REFERNCIAS ................................................................................................................. 161
APNDICES ....................................................................................................................... 172
ANEXOS .............................................................................................................................. 184
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16
INTRODUO
Este estudo proveniente da reflexo do pesquisador a respeito das mudanas
ocorridas na sociedade e no trabalho durante as ltimas quatro dcadas, perodo em que as
prticas educativas foram mantidas essencialmente inalteradas. As reflexes, num primeiro
momento, concentraram-se em compreender o funcionamento da sociedade e a cultura de
ento; posteriormente, devido s rpidas mudanas, a reflexo buscou identificar o porqu a
sociedade e a cultura no mais eram como haviam sido. A principal motivao para
empreender este projeto foi a transformao da realidade observada, e a inquietao do
pesquisador em identificar quais os processos teriam alterado os valores e o comportamento
dos indivduos e da prpria sociedade. Desta forma, recorreu-se a uma fundamentao terica
sobre a ps-modernidade, a globalizao, a cibercultura, a sociedade do conhecimento, a
quarta revoluo industrial, os cursos superiores de tecnologia, bem como sobre as
competncias exigidas dos profissionais para o sculo XXI.
As implicaes econmicas provenientes de uma economia global e em mudana so
o pano de fundo para a compreenso do mundo atual. Entretanto, para delimitar a anlise
sobre o contexto educacional, adotou-se justamente a interseco entre as noes de
sociedade, trabalho e educao como o cerne da pesquisa, conforme representado na figura 1.
Figura 1 Contextualizao das reflexes da Pesquisa.
Fonte: elaborado pelo autor.
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Um pressuposto considerado neste trabalho que a civilizao ocidental se assentou
sobre a moral judaico-crist, sobre a filosofia grega e sobre o direito romano e que os valores
morais mantidos praticamente inalterados nos ltimos dois milnios, que permearam o
pensamento e a vida nos principais pases do ocidente at cerca da metade do sculo XX,
parecem ter sido abandonados devido s transformaes das sociedades ao lanar as bases da
sociedade do sculo XXI.
Nesse sentido, Rodrigues (2010) descreve a ocorrncia de um processo de ruptura na
histria do pensamento e da tecnologia devido revoluo causada pelas tecnologias de
informao e de comunicao (tics), pelo desenvolvimento de novos materiais, como o
grafeno1 e pela gentica. Na avaliao do autor, as mudanas paradigmticas alteraram os
fundamentos existentes sobre o modo de pensar e viver da humanidade e a viso de mundo
constituda no sculo XV e consolidada no sculo XVIII, questionando a Modernidade em
seus pilares fundamentais, ou seja, na crena da verdade alcanvel pela razo ou no
avano histrico contnuo rumo ao progresso. Para substituir estes paradigmas, foram
propostos novos valores, menos slidos e mais fluidos que serviram de base para o perodo de
superao da Modernidade seja no pensamento, na cincia e na tecnologia: a Ps-
Modernidade.
Bell (1973) j identificara tal processo de ruptura na sociedade dos Estados Unidos,
quando props o conceito de sociedade ps-industrial, referindo-se s sociedades cujas
economias se transformaram aps superarem o paradigma taylorista/fordista de organizao
do trabalho, que fora a base tcnica da produo por meio de processos mecanizados
caractersticos da era industrial, atravs da substituio pelos princpios da produo flexvel e
uso da microeletrnica. O autor descreveu uma sociedade ps-industrial, como aquela que
sofreu significativas alteraes em sua esfera social, poltica e cultural, estruturou-se em torno
de um eixo principal tecnolgico de processamento de informao atravs da computao e
das telecomunicaes, alm de possuir como princpio o valor conhecimento em
contraponto ao valor trabalho pertencente era industrial. Tais sociedades seriam marcadas
por um rpido crescimento do setor de servios em oposio ao manufatureiro, com a
intensificao do uso da tecnologia de informao e da utilizao do conhecimento e
criatividade como matrias-primas cruciais de suas economias. 1 O grafeno um material bidimensional obtido atravs do grafite da espessura de um tomo. As pesquisas se
iniciaram em 1947, mas s em 2004 rendeu aos cientistas Konstantin Novoselov e Andre Geim da Universidade de Manchester, na Inglaterra, o Prmio Nobel de Fsica pelo desenvolvimento do transistor de grafeno. Milhares de estudos foram publicados desde 2010 que comprovam o potencial de sua aplicao em diversos campos do conhecimento.
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18
Como decorrncia, no ltimo quarto do sculo XX, multiplicaram-se as afirmaes de
que as sociedades do mundo ocidental ingressaram em uma nova era de sua histria. Segundo
Kumar (1997), apesar do conceito de uma sociedade ps-industrial ter causado controvrsias e
discusses acaloradas poca, fato que, o industrialismo clssico, a sociedade tpica
escrutinada por Marx e Weber e habitada por quase dois sculos pelos ocidentais no mais
existia. Para o autor, tais sociedades seriam Ps-Industriais, Ps- Fordistas ou Ps-
Modernas, numa transio da sociedade industrial em direo a uma nova sociedade,
diferente, na medida em que a sociedade industrial fora diferente da sociedade agrria.
Castells (1999) refora a ideia de que, embora informao e conhecimento tenham se
constitudo em elementos cruciais para o crescimento econmico, bem como a evoluo
tecnolgica como fator determinante para a gerao de riquezas ao longo dos sculos,
testemunha-se agora um ponto de descontinuidade histrica. Para o autor, a emergncia de um
novo paradigma tecnolgico2 lastreado nas novas tecnologias de informao permite que ela
seja agora o produto do processo produtivo.
Desta forma, para Lastres e Albagli (1999) observa-se que os temas e questes que
marcaram a virada do milnio adentram ao Sculo XXI, mantendo-se em evidncia,
aglutinados em torno de dois fenmenos principais interligados: o papel central da
informao e do conhecimento no emergente paradigma scio-tcnico-econmico; e a
acelerao do processo de globalizao e os impactos econmicos, polticos e sociais da
decorrentes.
A globalizao, segundo o Fundo Monetrio Internacional (FMI), como um dos
processos de aprofundamento internacional da integrao econmica, social, cultural e
poltica teve impulso pela reduo de custos dos meios de transporte e comunicao dos
pases no final do sculo XX. O Fundo identificou os quatro aspectos bsicos da globalizao,
sendo o primeiro o comrcio e transaes financeiras; o segundo os movimentos de capital e
de investimento; seguidos pela migrao e movimento de pessoas e, por ltimo, a
disseminao de conhecimento (IMF, 2000).
Castells (1999) entende que uma nova economia surgiu em escala global no ltimo
quarto do sculo XX: informacional, global e em rede. Informacional porque a
2 Um "paradigma tecnolgico" de acordo com a definio abrangente epistemolgica uma "perspectiva", um
conjunto de procedimentos, uma definio dos problemas "relevantes" e do conhecimento especfico relacionado sua soluo. Cada "paradigma tecnolgico" define seu prprio conceito de "progresso" com base em seus compromissos tecnolgicos e econmicos especficos, indicando a direo de avano dentro do paradigma, sua "trajetria tecnolgica" (DOSI, 1982, p. 148).
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19
competitividade das empresas nessa economia depende de sua capacidade de processar e
aplicar, de forma eficiente, a informao. Global, porque as atividades produtivas esto
organizadas diretamente em escala global ou em uma rede de conexes entre agentes
econmicos. E, finalmente, em rede, porque a produtividade gerada em uma rede global de
interao de redes empresariais, possibilitada pela revoluo da tecnologia de informao
que forneceu a base material indispensvel para sua ocorrncia.
Sobre a nova economia, Kumar (1997) afirma que, quando Castells relacionou a
customizao de produtos, a descentralizao administrativa, o achatamento das hierarquias, a
fragmentao e individualizao do trabalho, ou seja, os pressupostos ps-fordistas da
produo flexvel e o trabalho flexvel recairiam sob os auspcios da economia informacional
global. No entanto, para o autor, a economia mundial ainda , e mais do que nunca,
capitalista, mas um capitalismo transformado pelo informacionismo, pois conter as
atividades econmicas nas fronteiras dos Estados-nao tornou-se impossvel.
A Revoluo Industrial iniciada no sculo XVIII, conforme Cavalcante e Da Silva
(2011), transformaram a modernidade e provm sustentao revoluo tecnolgica vivida
nos dias atuais. Canedo (2012) descreve que em sua primeira fase iniciada na Inglaterra, a
utilizao do carvo mineral como fonte de energia das mquinas movidas a vapor propiciou
a transio do sistema de produo artesanal para o sistema de produo industrial, fazendo
surgir locomotivas e navios a vapor para suprir a necessidade de transporte de mercadorias em
larga escala. Complementarmente, a autora aponta que, em sua segunda fase iniciada nos
Estados Unidos no final do sculo XIX, caracterizou-se pela substituio do carvo pelo
petrleo como fonte de energia, pelo surgimento de invenes como o automvel, o telefone e
o rdio, a implantao da produo em massa, bem como pela utilizao da energia eltrica
que possibilitou o aperfeioamento das mquinas industriais. A autora afirma que numa
terceira fase, iniciada aps a Segunda Guerra Mundial e tambm liderada pelos Estados
Unidos, foram introduzidos o uso da informtica e da energia nuclear, ao mesmo tempo em
que deflagrou a preocupao com o Meio Ambiente, o fortalecimento do sistema capitalista e
o crescimento econmico, ao transformar o Japo e a Alemanha em potncias econmicas.
Com o fim da Guerra Fria, a Globalizao gerou um novo cenrio nas relaes econmicas e
nas formas de produo, ao passo que a Internet, no final do sculo XX, alavancou o mundo
do comrcio e das finanas com o aumento da importncia no cenrio econmico global de
pases emergentes como Brasil, Rssia, ndia, China, alm da frica do Sul.
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Mais recentemente, Schwab (2016) aponta uma nova revoluo tecnolgica em curso,
com o potencial de transformar o trabalho, o modo de vida e as relaes entre as pessoas. Essa
quarta revoluo industrial apresenta evoluo acelerada, pois resultado da cultura da ps-
modernidade e a convergncia das inovaes tecnolgicas entre si, que aprofundam o impacto
gerado por estas inovaes no modo de vida atual. Desta forma, a conjuno de foras
reunidas que governam a sociedade atual, alterou o sistema produtivo, as atividades de
trabalho, a cultura local, as relaes sociais e o sentido e a valorao do conhecimento.
Para Menino, Peterossi e Fernandez (2010), se no passado a tecnologia precedia a
explicao cientfica do fenmeno, hoje, o conceito amplamente aceito de que a cincia
permite o desenvolvimento da tecnologia e sua aplicao na resoluo de problemas cada vez
mais complexos. A ideia de que cincia e tecnologia esto conectadas nas diversas reas do
conhecimento naturalmente aceita em nossos dias, embora seja recente.
Machado (2008) conceitua a Tecnologia como um conjunto de princpios e processos
de ao e de produo, instrumentos que decorrem da aplicao do conhecimento cientfico,
de diversos saberes e da experincia acumulada, que cumpre importante papel na reproduo
da vida humana e na resoluo dos problemas que afetam a existncia natural e social.
Nessa sociedade da informao e do conhecimento, apontam Guimares e Goulart
(2011), o progresso cientfico e tecnolgico requer dos profissionais de engenharia elevada
qualificao e escolaridade, aliadas a competncias tcnicas e interpessoais.
Cordo e Feres (2015) pontuam que as mudanas ocorridas no mundo tm exigido
cada vez mais conhecimento sobre cincia e tecnologia, estreitando a relao entre educao e
trabalho, propiciando uma ligao profunda entre o desenvolvimento social e econmico dos
pases e seus sistemas educativos. Desta forma, a Educao Profissional tm sido amplamente
debatida por contribuir diretamente na agenda de desenvolvimento social e econmico dos
pases, ao elevar a produtividade do trabalho e ampliar as possibilidades de incluso social
dos educandos, tornando a educao de qualidade e a formao profissional, elementos
essenciais na sociedade atual e do futuro.
Sacristn (2012) compreende que, decorrem do exposto, as mudanas de sentido e na
orientao da poltica, em especial no que tange educao, seja na organizao do sistema
educacional, na valorao do sujeito e na concepo da aprendizagem em sua finalidade, seu
contexto, seu contedo e suas aplicaes.
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21
Em documento do MEC sobre polticas pblicas para a Educao Profissional e
Tecnolgica (EPT) h o entendimento de que atualmente, a EPT se constitui em uma
dimenso do sistema educativo que evidencia suas diversas inter-relaes com os demais
aspectos da sociedade, como trabalho, economia, polticas e governo, entre outros (BRASIL,
2004).
Com tal viso, a Confederao Nacional das Indstrias (CNI) interpreta que no atual
momento, um dos principais determinantes da competitividade da indstria a produtividade
do trabalho propiciada por equipes qualificadas e profissionais bem formados, que possuem as
competncias para melhor utilizao dos equipamentos, a criao das solues para os
problemas cotidianos da produo, para adaptao dos processos, criao de novos produtos e
desenvolvimento e implementaes de inovaes tecnolgicas (CNI, 2013).
Para Laureth (2014) a trade - cincia, tecnologia e inovao - considerada como
base de estruturao do desenvolvimento econmico, motor do ciclo virtuoso de
transformao de competitividade em lucros e, os lucros, em aumento de qualidade de vida da
populao.
Entretanto, Ramos (2004) entende que tais mudanas nos padres de produo, de
consumo e de sociabilidade processadas ao final do sculo XX trouxeram implicaes
tambm para o pensamento educacional, de tal forma que, diversos pases empreenderam
reformas na educao profissional devido a um novo conjunto de signos e significados
moldado pela nova cultura, que se traduziu num papel especfico na representao da
sociedade, quanto aos processos de formao e de comportamento do trabalhador. Para a
autora, dentre esses novos signos, destaca-se a noo de competncia, que se constitui numa
pedagogia baseada em teorias psicolgicas da aprendizagem ao promover a valorizao do
processo educacional como conformador de personalidades flexveis e, no mbito da gesto
do trabalho, orientar o envolvimento do trabalhador com a cultura da empresa que assumem
uma posio hegemnica patrocinada por organismos multilaterais internacionais.
De forma pragmtica, Zarifian (2012) considera que a competncia est relacionada ao
indivduo quando este enfrenta as situaes profissionais. Desta forma, para o autor, a
competncia situacional, contingencial e se revela nas aes. A lgica da competncia est
conectada com a autonomia e a automobilizao do trabalhador.
Nesse sentido, Depresbiteris (2016) afirma ser compreensvel que o surgimento do
termo competncia na literatura da educao profissional tenha provocado tamanho
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desconforto nos educadores, posto que a primeira ideia de competncia na educao foi a de
competitividade, decorrente das necessidades do trabalhador e das empresas lutarem, em
tempos de crise, por um lugar no mercado de trabalho como exigncia do processo de
globalizao e do fenmeno de transformao produtiva, que colocava a competividade como
ncleo central da economia globalizada.
Marn (2017) relata que no incio do sculo XXI os contextos socioeducativos foram
acelerados por causa do impulso, da expanso, consolidao e modelo geral de Educao por
Competncias, gerado a partir das experincias de treinamento de gesto do trabalho.
Embora este modelo educacional tenha permeado todos os nveis, formas e dimenses dos
sistemas de educao no mundo globalizado, sua introduo no foi isenta de controvrsias,
no s da tradicional resistncia mudana que oferecem os educadores, mas tambm
derivada do discurso economicista que suporta esta abordagem e pelas suas implicaes
didtico-pedaggicas.
Estas implicaes, segundo Arajo (2011), indicam a necessidade de se transformar a
educao, de maneira a rever os contedos, a forma e as relaes entre docentes e discentes,
para se alcanar a educao inclusiva e de qualidade almejada pelas sociedades
contemporneas, apontando que os caminhos para tal transformao articulam metodologias
ativas de aprendizagem com Tecnologias de Informao e Comunicao (TICs),
complementadas com a preocupao com a tica pessoal e profissional.
As transformaes sociais, polticas, econmicas e culturais geradas pela evoluo do
conhecimento nos primeiros anos do sculo XXI, aliadas perspectiva da revoluo
tecnolgica afetar a todos os setores da vida humana, no isentar a educao de mudanas,
para Jacobowitz (2010). Para a autora, o domnio da gerao de conhecimento fundamental
para se manter a competitividade, cabendo s Instituies de Ensino Superior (IES) a
formao de profissionais competentes, alm do desenvolvimento de pesquisas tecnolgicas
que propiciem o desenvolvimento tcnico e econmico do pas.
Segundo Fava (2012), o perodo atual vivencia a mais rpida transformao
tecnolgica no que se refere informao. Em poucas dcadas, ocorreu a inveno e adoo
das tecnologias digitais por mais de um bilho de pessoas em todo o mundo. Entretanto,
nenhuma gerao viveu completamente uma vida na era digital. O que faz com que se
busquem novos paradigmas, novos modelos mentais, novos hbitos que obriguem a adaptao
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dos emigrantes3 digitais. O autor acredita que a movimentao dos mercados, a transformao
das indstrias e da educao sero realizadas pelos nativos4 digitais, por ainda persistir em
parte significativa das (IES) contemporneas um modelo baseado nos princpios da revoluo
industrial. Em sua viso, necessita-se de um novo conceito de Educao para atender
gerao de nativos digitais, com uma pedagogia de parceria entre docentes e discentes, com
uma nova metodologia que prepare os estudantes para um futuro desconhecido, no qual eles
sobrevivero pelas suas habilidades e competncias para busca e aplicao da informao e
adaptao a um ambiente em constante mudana.
Laureth (2014) concorda que as instituies de ensino superior (IES) necessitam de
modernizao, a fim de atenderem gerao dos nascidos digitais, oferecendo diferentes
modalidades educacionais, estmulos para continuidade dos estudos e mecanismos para
desenvolvimento das habilidades que permitam aos seus egressos a insero no mundo do
trabalho atual atravs do aprofundamento da compreenso das cincias e do desenvolvimento
de competncias para a inovao.
Schwartzman e Castro (2013) relembram as questes estruturais da educao
brasileira, como a inadequada formao de professores, a falta de qualidade da maioria das
escolas pblicas, o abismo socioeconmico entre uma minoria privilegiada e o restante dos
alunos, mazelas essas j conhecidas da educao nacional, onde mesmo os alunos que
prosseguem nos estudos em nvel superior, acabam por se deparar com o atraso na atualizao
dos currculos e no tocante s inovaes cientficas e tecnolgicas.
Para Laureth (2014) o movimento de convergncia tecnolgica impacta a educao e o
trabalho pelas transformaes em curso que podem agravar ainda mais as desigualdades
sociais, na medida em que a educao no acompanha a velocidade das mudanas e inovaes
tecnolgicas das empresas, fazendo com que as ocupaes mais complexas e de melhor
remunerao tendem a ser ocupadas por alunos egressos das instituies de melhor qualidade
de ensino.
No entanto, segundo Menino (2014) os Cursos Superiores de Tecnologia (CSTs)
emergem na ps-modernidade como resposta aos efeitos causados pela globalizao sobre o
3 Marc Prensky denominou emigrantes digitais aqueles que no nasceram no mundo digital, mas em alguma
poca da vida, adotaram o uso das novas tecnologias, mesmo com alguma dificuldade de domin-las completamente.
4 Nativos digitais so as pessoas que representam as primeiras geraes que cresceram com as novas tecnologias e passaram toda a vida cercados e utilizando computadores, vdeo games, tocadores de msica digitais, cmeras de vdeo, telefones celulares e todas as ferramentas da era digital.
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mercado de trabalho, ao habilitar o indivduo a construir as competncias que lhe permitam
dominar a tecnologia requerida por empregos de elevada qualificao.
Nesse sentido, Pamboukian e Kanaane (2016) entendem ser necessria a aproximao
das Instituies de Ensino Superior (IES) e as empresas contratantes, a fim de que a definio
das competncias dos tecnlogos seja feita em consonncia com as necessidades atuais e
futuras das indstrias, favorecendo sua insero profissional e a efetividade de sua
contribuio para o desenvolvimento industrial brasileiro.
Segundo Schwab (2016) para alm dos conflitos e tenses gerados pela implantao
das novas tecnologias, as transformaes da sociedade permitem a coexistncia com a
tecnologia, posto que a tecnologia no uma fora exgena sobre as quais no se tem
controle por um lado, nem tampouco se restringe uma escolha binria entre "aceitar e viver
com ela" e "rejeitar e viver sem ela".
A partir do exposto, questiona-se:
Quais so as competncias requeridas pelas empresas da regio metropolitana de So
Paulo visando a contratao de egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica
Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia
em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So
Paulo (FATEC-SP), face aos efeitos da quarta revoluo industrial em andamento?
Como justificativa, identificou-se oportunidade de prosseguimento de pesquisas sobre
a insero do tecnlogo com formao industrial no mercado de trabalho, por ainda persistir o
atraso tecnolgico do Brasil em relao a outros pases como Estados Unidos, Alemanha,
Japo, Inglaterra, Frana, Coria do Sul, entre outros, mesmo aps o desenvolvimento
ocorrido no pas na dcada de 1980 (PAMBOUKIAN; KANAANE, 2016). Assim, o atual
ritmo de adoo das inovaes tecnolgicas pelas indstrias, liderado pelos pases
desenvolvidos impe a necessidade de constante atualizao dos PPC oferecidos pelas
Instituies de Ensino Superior (IES), a fim de se minimizar a obsolescncia dos contedos
ensinados. Nesse sentido, atravs da perspectiva da insero do tecnlogo no mercado de
trabalho no sculo XXI, busca-se compreender os impactos gerados pela digitalizao sobre
as indstrias de transformao, assim como quanto ao perfil e competncias destes
profissionais, bem como sobre os prprios CSTs.
Nesse sentido, a incorporao da digitalizao atividade industrial resultou no
conceito de Indstria 4.0, em referncia ao que seria a 4 revoluo industrial, caracterizada
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pelo controle da produo a partir de sensores e equipamentos conectados em rede e pela
fuso do mundo real com o virtual, criando os chamados sistemas ciberfsicos. Dentre as
principais tecnologias que sustentam essa revoluo, incluem-se a internet das coisas, o big
data, a computao em nuvem, a robtica avanada, a inteligncia artificial, as novas
tecnologias de manufatura aditiva ou impresso 3D e a manufatura hbrida, ao aglutinar as
funes aditivas e de usinagem, em um nico equipamento (CNI, 2016).
Desta forma, os impactos simultneos desta quarta revoluo industrial sobre a
sociedade, o trabalho e a educao atestam a necessidade de um estudo mais aprofundado do
assunto e comprovam a relevncia social e acadmica do tema.
Destaca-se que a trajetria pessoal do pesquisador que o vincula ao tema tecnologia,
mudanas e educao compreende sua graduao em Curso Superior em Tecnologia (CST),
na modalidade soldagem, sua atuao profissional como tecnlogo em indstrias de
equipamentos para leo & gs e de autopeas, como consultor de empresa multinacional na
implementao de projetos de reengenharia e gesto da mudana em empresas privadas e
pblicas pr-privatizao e como estrategista no setor bancrio, tendo participado de projetos
como banco sem agncias. Atualmente, como docente do mesmo curso onde se graduou
dcadas atrs, observa, acompanha e reflete sobre o processo de formao dos tecnlogos e
como tais profissionais se apropriam da tecnologia, com vistas a atender s demandas do
mundo do trabalho para aumento da produtividade e de competitividade num mundo em
transformao.
Desta forma, tem-se como objetivo geral:
- Caracterizar as competncias requeridas pelas empresas da regio metropolitana de So
Paulo visando contratao de egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica
Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia
em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So
Paulo (FATEC-SP), face aos efeitos da quarta revoluo industrial em andamento.
Como objetivos especficos:
- Verificar o nvel de desenvolvimento das competncias requeridas para o sculo XXI dos
egressos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo,
Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia em
Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (Fatec-SP), na viso dos
professores dos cursos;
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- Identificar como os Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de
Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia
em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (Fatec-SP) podem
ampliar o desenvolvimento das competncias requeridas para o sculo XXI, na viso dos
professores dos cursos;
- Caracterizar as competncias requeridas para o sculo XXI para os Cursos Superiores de
Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade
Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia em Mecnica de Preciso da Faculdade de
Tecnologia de So Paulo (FATEC-SP) na viso dos gestores5;
- Identificar a viabilidade de aplicao do modelo de competncias para a atualizao dos
currculos dos Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos de
Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e Tecnologia
em Mecnica de Preciso da Faculdade de Tecnologia de So Paulo (FATEC-SP) na viso
dos gestores.
Esta dissertao foi estruturada em sua parte introdutria de maneira a contextualizar
as reflexes do pesquisador a respeito do tema abordado, de maneira a contemplar o estado da
arte sobre o tema, bem como apresentar sua relevncia acadmica, a justificativa para se
empreender tal pesquisa, manifestando as intenes do autor, a partir do problema de
pesquisa, os objetivos de pesquisa, o recorte da pesquisa e a descrio da estrutura do
trabalho.
Desta forma, o trabalho est assim estruturado:
- Captulo 1: A Quarta Revoluo Industrial.
Neste captulo procurou-se compreender as transformaes da sociedade global,
especialmente as mudanas culturais nas sociedades ocidentais e dos prprios indivduos a
partir da consolidao da cibercultura no modo de vida na ps-modernidade no que tange ao
trabalho, bem como as suas implicaes sobre a educao dos profissionais do Sculo XXI.
- Captulo 2: As Competncias.
5 Como gestores da FATEC-SP, para efeito deste estudo, foram considerados 3 chefes de departamento que
respondem pelos cursos em estudo, 1 vice-diretor, 1 diretor e 1 representante da Coordenadoria de Ensino Superior (CESU) do Centro Paula Souza. A CESU o rgo que coordena as aes das Faculdades de Tecnologia do Centro Paula Souza. Criada pela Lei Complementar n 1044/2008. Como rgo propositivo das aes no ensino superior, est constitudo um Comit de Diretores de todas as Fatecs existentes e presidido pelo Coordenador da CESU.
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Neste captulo foram apresentados os debates referentes ao conceito e ao modelo de
competncias na educao e em especfico, a produo terica sobre os diversos referenciais
de competncias existentes na educao, bem como as demandas de competncias requeridas
pelo mundo do trabalho para os profissionais do sculo XXI.
- Captulo 3: Os Cursos Superiores de Tecnologia.
Neste captulo apresentou-se a conceituao, origem, histrico, debates e tendncias
referentes aos Cursos Superiores de Tecnologia no Brasil, bem como seu funcionamento em
outros pases por intermdio da educao comparada.
- Captulo 4: A Faculdade de Tecnologia de So Paulo.
Neste captulo procurou-se descrever o lcus de onde se identificou a questo de pesquisa, a
Fatec-SP; local de atuao de parte dos sujeitos de pesquisa, seus professores e gestores, alm
do objeto da pesquisa: os Cursos Superiores de Tecnologia Mecnica Modalidade Processos
de Produo, Tecnologia Mecnica Modalidade Projetos, Tecnologia em Soldagem e
Tecnologia em Mecnica Modalidade Mecnica de Preciso.
- Captulo 5: Metodologia.
Neste captulo foram apresentados o objeto de pesquisa, seus sujeitos e as respectivas
amostras, bem como os procedimentos de coleta e anlise dos dados. Foram tambm
discutidos os mtodos, procedimentos e teorias que os fundamentam.
- Captulo 6: Resultados e Discusso.
Neste captulo foram apresentados os resultados da pesquisa de campo e a anlise dos
dados coletados a partir dos sujeitos de pesquisa frente aos objetivos estabelecidos, de forma a
confront-los com a fundamentao terica para estabelecimento das discusses pertinentes
segundo os mtodos pr-estabelecidos.
- Consideraes Finais.
Neste captulo procurou-se apresentar as reflexes do pesquisador a respeito do objeto
de pesquisa a partir dos eixos de anlise a respeito das demandas do mundo do trabalho para a
educao profissional.
- Referncias.
- Apndices
- Anexos.
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CAPTULO 1 O SCULO XXI
1.1 A Quarta Revoluo Industrial
A sociedade do sculo XXI enfrenta atualmente um intenso processo de transformao
em seu modo de vida, na maneira de como as pessoas se relacionam umas com as outras e no
valor determinante que o conhecimento assume para as atividades humanas, seja na produo
de bens e servios, seja na maneira de se ofertar a educao, que foi denominado como a
Quarta Revoluo Industrial. As tecnologias digitais impuseram transformaes, velocidade e
amplitude sem precedentes em sua escala, escopo e complexidade (FAVA, 2014);
(SCHWAB, 2016).
Segundo os autores Vuksanovi; Vei e Cvetkovi (2017) a Indstria 4.0 nova
revoluo industrial do sculo XXI, que aliadas influncia de mltiplas "megatendncias"
(demogrfica, urbanizao, sade, globalizao, mobilidade, mudanas climticas) traro
efeito econmico, ambiental e social de longo prazo para sociedades e governos.
O termo Indstria 4.0 foi cunhado na Alemanha em 2011 na Feira Industrial de
Hannover para descrever as mudanas na forma de organizar a produo nas indstrias de
transformao dos pases desenvolvidos. Estruturada em sistemas de produo que se
caracterizam pelo uso intensivo de automao e sistemas de comunicao interligados, cria
uma fbrica inteligente, de alta complexidade tecnolgica em que as mquinas, os produtos,
os insumos e clientes esto conectados pela comunicao de dados para monitoramento e
tomada de deciso, com a mnima interferncia do homem. Essa nova revoluo industrial
promove o encurtamento dos prazos de lanamento de novos produtos ao mercado, maior
flexibilidade das linhas de produo, com aumento da produtividade e da eficincia no uso de
recursos e energia e a integrao das empresas em cadeias globais de valor (SCHWAB,
2016); (LAURETH, 2014); (CNI, 2016).
Com o nmero crescente de dispositivos capazes de se comunicarem entre si, coletar
dados do ambiente e dos usurios como smartphones, veculos, eletrodomsticos, sistemas de
iluminao atravs da internet das coisas (IoT), associado s tecnologias de big data, realidade
aumentada, gamificao, drones, bioimpreso, computao em nuvem trazem mudanas que
afetam todos os setores da atividade humana. Surgem novos modelos de negcios, ao mesmo
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tempo desaparecem atores histricos e substitui por outros desconhecidos, reformula a
produo, o consumo, a mobilidade e o transporte, os sistemas de entrega, sade e educao
(LEAL, 2015); (CNI, 2016); (SCHWAB, 2016). As tradicionais divises entre indstria e
servios e as delimitaes dos setores industriais so alteradas (CNI, 2016).
Nesse sentido, Schwab (2016) apresentou dados de pesquisa realizada durante o
Frum Econmico Mundial de 2015 com executivos e especialistas do setor de tecnologia a
respeito do momento em que determinadas mudanas tecnolgicas estaro disponveis
sociedade. O quadro 1 demonstra as significativas alteraes e o percentual de entrevistados
que possuem a expectativa de que a mudana ocorra at 2025:
Quadro 1 Pontos de inflexo esperados at 2025.
N Ponto de Inflexo %
1 celular implantvel 82
2 80% das pessoas na internet 84
3 10% de culos conectados a internet 86
4 10% de pessoas com roupas conectadas a internet 91
5 90% da populao com acesso regular a internet 79
6 90% da populao com smartphones 81
7 90% da populao com armazenamento ilimitado e gratuito 91
8 1 trilho de sensores conectados a internet 89
9 .+ de 50% do trfego de internet residencial para aparelhos 70
10 1 cidade com 50 mil haitantes sem semforos 64
11 Big Data e decises 1 governo substituir Censo por fontes de Big Data 83
12 10% de todos automveis em uso nos EUA 79
13 1 mquina de com IA a fazer parte de um conselho de administrao 45
14 30% das auditorias corporativas realizadas por IA 75
15 1 farmacutico robtico dos EUA. 86
16 Bitcoin blockchain 10% do PIB mundial armazenado pela tecnologia blockchain 58
17 Maior n de trajetos compartilhados em relao a carros particulares globalmente 67
18 Os Governos e o blockchain 1 arrecadao de impostos atravs de um blockchain 73
19 produo do primeiro carro em 3D 84
20 primeiro transplante de fgado impresso em 3D 76
21 5% dos produtos aos consumidores impressos em 3D 81Impresso em 3D e os produtos de consumo
IA e a tomada de decises
IA e as funes administrativas
Robtica e Servios
Economia compartilhada
Impresso em 3D e fabricao
Impresso em 3D e a sade humana
Carros sem motorista
Mudana
Tecnologias Implantveis
Presena digital
Interface para viso
Tecnologia vestvel
Computao ubqua
Supercomputador de bolso
Armazenamento para todos
Internet das coisas
Casa conectada
Cidades inteligentes
Fonte: adaptado de Schwab (2016)
Entre os pontos de inflexo esperados at o ano de 2025, destacam-se os avanos nos
meios de produo, na comunicao, no processamento de informaes, na digitalizao na
economia, nos governos e na rea da sade. As pesquisas na rea de sade tm sido
priorizadas com o objetivo de prolongar a vida. Atualmente, o debate gira em torno do quanto
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ser possvel estender a vida humana. A pesquisa sobre a extenso significativa da vida est
em estgio inicial, sem resultados at agora. Grande parte da pesquisa faz uso de estudos em
animais e desenvolvimento de medicamentos, mas existem sinais promissores.
O aumento na expectativa de vida humana alterar a dinmica das sociedades, com
elevao na vida produtiva das pessoas, no entanto com a reduo da fora de trabalho,
intensificando a interao entre as geraes, pressionando os sistemas de sade e previdncia.
Isso tambm pode causar impactos pessoais e econmicos, como ter mais carreiras ao longo
da vida, alm de conflitos sobre a alocao de recursos entre as geraes (FADEL; BIALIK;
TRIALLINH, 2015).
Sobre as pesquisas, o stio Sade do Grupo Abril revela que parte significativa destas
pesquisas so financiadas pela empresa Google Ventures e incluem aplicaes do grafeno na
criao de pele e msculos artificiais, produo de prteses leves comandadas pelo crebro,
tratamentos contra o cncer, restaurao da viso por meio de implantes de retinas e
sequenciamento de DNA de forma rpida, precisa e com baixo custo. Tais avanos
tecnolgicos na medicina e na gentica abrem perspectivas para a preveno de doenas e a
supresso das principais causas de morte, estendendo a longevidade a um novo patamar,
proporcionando uma existncia de fruio e desfrute ainda no experimentada. Entretanto tais
benefcios podem ficar restritos a uma minoria privilegiada.
Conforme matria publicada no stio da Unicamp, descoberta sobre o uso do grafeno
abre perspectiva para o tratamento de doenas como Alzheimer, Parkinson e tumores
cerebrais em estudo em tese de doutoramento.
Semelhantemente, o stio do Jornal Folha de So Paulo publicou reportagem em que
relata o registro superior a nove mil patentes acerca das aplicaes do grafeno em diversos
campos do conhecimento. A empresa coreana Samsung lidera com cerca de 500 patentes,
seguida pela Chinesa OKTECH e da americana IBM. Nesse sentido, a expectativa que
diversos negcios sero drasticamente modificados pelas descobertas da nanotecnologia que
possibilitou o surgimento do grafeno, material ultraleve, cerca de cem vezes mais rpido que
o silcio, duzentas vezes mais resistente que o ao, com propriedades de condutividade
eltrica, trmica e ptica que possui potencial para fabricao de sensores, biossensores e
aplicaes para purificao, descontaminao, filtragem e dessalinizao da gua
(CAMARGOS; SEMMER; SILVA, 2017).
-
31
Desde seu surgimento, a produo automobilstica ocupa um lugar destacado na
economia, seja na forma de organizar a produo, seja na quantidade e velocidade de
incorporar inovaes tecnolgicas. A indstria automobilstica foi objeto do clebre estudo
conduzido pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) realizado em 14 pases e que
poca consumiu milhes de dlares e vrios anos para sua consecuo, publicado no livro A
mquina que mudou o mundo na dcada de 1990 (WOMACK; JONES, 2004).
Novamente, prepara-se um salto tecnolgico, com a progressiva substituio dos cerca
de 1,2 bilhes de automveis movidos a combustveis fsseis por veculos eltricos, que trar
significativas mudanas ao modo de vida da sociedade, com reduo da poluio atravs da
gerao de energia limpa, e como consequncia, o declnio da importncia do petrleo. O
custo de baterias eltricas, que em 2010 era de US$ 1000/kWh, em 2016 foi reduzido para
menos de US$ 300/kWh. Ao ser atingido o valor o custo de US$ 100/kWh, os veculos
eltricos sero compatveis em termos de custo aos veculos com motores combusto interna
e essa evoluo esperada para que os veculos eltricos atinjam escala at 2030, podendo ser
abreviada por novas descobertas (DELGADO et al, 2017).
Informao no stio globo.com em 2017 divulga que o valor em bolsa da empresa
Tesla fabricante de veculos eltricos j supera o valor da General Motors (GM), como
montadora de maior valor de mercado, embora sua produo de veculos corresponda a 0,2%
do mercado americano, enquanto a GM detenha 17,3% do mercado americano. Outro aspecto
relevante, a adoo de veculos autnomos para transporte de passageiros e de cargas reduzir
as taxas de acidentes, aumentando o conforto e a segurana, com impactos significativos para
as seguradoras (CNI, 2016).
Por outro lado, para Schwab (2016), ainda no foi dimensionada a amplitude desta
revoluo da economia global proporcionada por uma rede mundial de pessoas conectadas
por dispositivos mveis, com elevada capacidade de processamento e armazenamento,
interagindo sobre uma confluncia de avanos tecnolgicos emergentes. Embora muitas
destas inovaes estejam sua fase inicial, ao se aproximarem do ponto de inflexo em seu
desenvolvimento eleva a possibilidade de que tragam o aprofundamento ao ampliar as demais
inovaes, em uma fuso de tecnologias entre os mundos fsico, digital e biolgico.
O impacto positivo da tecnologia no crescimento econmico possivelmente ser
acompanhado pela reduo de empregos. As novas tecnologias promovero drsticas
alteraes na natureza do trabalho em praticamente todos os setores e ocupaes, porquanto o
efeito destrutivo que a tecnologia exerce sobre os empregos no algo recente. Os impactos
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32
da intensificao do uso da tecnologia tendem a aprofundar a tendncia de declnio dos nveis
dos empregos e na reduo da fora global de trabalho. A simplificao do trabalho permitir
que algoritmos substituam os seres humanos (RIFKIN, 1995); (SCHWAB, 2016).
O efeito da tecnologia foi permitir realizar as tarefas de forma mais fcil, rpida e
eficiente. Entretanto, pode existir uma polarizao entre aqueles que abraam a mudana e
aqueles que resistem a ela. Para o autor, essa desigualdade ontolgica pode separar aqueles
que se adaptam daqueles que resistem, excluindo estes dos benefcios trazidos pela tecnologia
(SCHWAB, 2016).
Peterossi (2003) identifica um descompasso crescente entre os modelos educacionais
existentes e suas qualificaes propiciadas e aquelas requeridas pelo mundo do trabalho. As
qualificaes tradicionais baseadas na reproduo do conhecimento adquirido e na
experincia tendem a ser desvalorizadas em um mercado de trabalho no qual se constata uma
procura crescente por qualificaes polivalentes e flexveis, que compreendem novos
conhecimentos tcnicos, capacidade de abstrao e compreenso global. Um dos aspectos
preocupantes desse quadro diz respeito defasagem existente entre as novas profisses
relacionadas com a tecnologia e as qualificaes tradicionais que se tornaram obsoletas. A
tecnologia est eliminando diversos postos de trabalho e a aprendizagem contnua torna-se
progressivamente um desafio para toda a vida.
A questo que se coloca que os trabalhadores deslocados das atividades operacionais
necessitaro ser requalificados para as novas profisses que surgirem, sendo a educao e
escolarizao fundamentais. A tecnologia permite suprimir empregos, entretanto so
empregos que por sua natureza j no h candidatos. O emprego tende a crescer em
ocupaes criativas e cognitivas bem remuneradas e diminuir nas ocupaes manuais,
repetitivas ou rotineiros de remunerao inferior (LEAL, 2015); (SCHWAB, 2016).
O impacto de desenvolvimento de novas competncias recair sobre as atividades que
relacionadas s habilidades sociais e criativas, em particular as situaes de incerteza que
exijam tomada de deciso, bem como o desenvolvimento de novas ideias. Para o desempenho
das novas profisses que surgirem, a qualificao exigida no corresponde a estudos
universitrios especficos, no existindo ainda um plano na universidade para elas (LEAL,
2015); (MATOS, 2015); (SHWAB, 2016). Como consequncia, os percursos formativos
tradicionais tendem a ser insuficientes para atender as qualificaes necessrias dos novos
profissionais. A aprendizagem ter que ser completada por uma segunda graduao, cursos
distncia, ou formas de aprendizagem informal como o desenvolvimento de habilidades e
-
33
competncias em estgios, viagens, servio voluntrio, entre outros. Num primeiro momento,
possivelmente a combinao de graduaes em reas diferentes do conhecimento sejam
necessrias para atender s exigncias das novas profisses. Como consequncia, os cursos
tradicionais tero rever seus currculos para o novo perfil de advogados, tecnlogos,
engenheiros e mdicos dos novos tempos (LEAL, 2015); (MATOS, 2015).
Entretanto, a fuso das tecnologias permitir o aumento da complexidade do trabalho e
a elevao da cognio humana, de forma a que h a necessidade de se preparar a fora de
trabalho e desenvolver modelos de formao acadmica para trabalhar em colaborao com as
mquinas cada vez mais capazes, conectadas e inteligentes (SCHWAB, 2016).
Menino (2014) correlaciona as profundas mudanas na atual economia com alterao
da caracterstica conjuntural do problema do desemprego que poderia ser solucionado curto
prazo, por um novo contorno de problema estrutural que requer solues abrangentes e de
longo prazo. Para o autor, as mudanas no sistema produtivo que abrangeram as revolues
Agrcola, Mercantil e Industrial produziram avanos tecnolgicos que geraram novos
empregos que absorveram os trabalhadores deslocados de suas atividades. Entretanto, os
ganhos de eficincia da informatizao e automao tm proporcionado ndices de
produtividade superiores ao crescimento da economia, eliminando postos de trabalho e
criando o denominado desemprego tecnolgico. A acelerao do processo tecnolgico elimina
funes nos setores tradicionais da economia e cria em contrapartida poucos empregos nos
setores ligados a tecnologia.
Sendo assim, afirma Schwab (2016), baseada na revoluo digital e combinando
vrias tecnologias que esto levando a mudanas de paradigmas na economia, negcios,
sociedade, e individualmente, a mudana envolve no mais s mudar o "o qu" e o "como"
fazer as coisas, mas tambm "quem" somos. Para o autor, do ponto de vista mais amplo da
sociedade, um dos mais notveis efeitos da digitalizao o surgimento da sociedade centrada
no indivduo. Ao contrrio do passado, a noo de pertencer, de fazer parte de uma
comunidade, hoje definida mais pelos interesses e valores individuais e por projetos
pessoais do que pela comunidade local, famlia e trabalho.
A esse respeito, Castells e Cardoso (2005) afirmam que na base no processo de
mudana social de crise do patriarcalismo e da famlia tradicional est um novo tipo de
trabalhador autodirigido com um novo tipo de personalidade flexvel capaz de se adaptar s
mudanas nos modelos culturais, ao longo do ciclo de vida. Este novo ser humano produtivo
requer uma reconverso total do sistema educativo, em todos os seus nveis. Isto se refere a
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novas formas de tecnologia e pedagogia, mas tambm aos contedos e organizao do
processo de aprendizagem. As sociedades que no forem capazes de lidar com estes aspectos
iro enfrentar maiores problemas sociais e econmicos, no atual processo de mudana
estrutural.
Aparentemente, Castells e Cardoso inveteram a relao de causa e efeito, de forma que
a crise do patriarcalismo e da famlia tradicional geraram a mudana de comportamento do
novo trabalhador proveniente das novas geraes, e no o contrrio. Embora discorde-se da
linha de raciocnio, chega-se mesma concluso, no sentido de que existe a necessidade de
novas formas de tecnologia e pedagogia, mas tambm dos contedos e organizao do
processo de aprendizagem. Nesse sentido, a transformao cultural alterou a herana judaico-
crist, com solapou a famlia patriarcal e acabou produzindo uma gerao hedonista6.
Para Schwab (2016), as mudanas estruturais no comrcio e economia podem ser
agravados pela substituio do trabalho pelo capital com a utilizao de robs e algoritmos.
O autor ressalta que a segunda revoluo industrial ainda no alcanou plenamente 17% da
populao mundial, ou seja, 1,3 bilhes de pessoas ainda no possuem acesso eletricidade.
De forma semelhante, a terceira revoluo industrial no atingiu mais da metade da populao
mundial, pois cerca de 4 bilhes de pessoas vivem sem acesso a internet. Portanto, a
substituio do trabalho por capital promovida pela tecnologia pode ampliar o fosso crescente
da riqueza daqueles que dependem do trabalho e aqueles que vivem do capital.
A sntese que o processo de mudanas trazido pela indstria 4.0 para as indstrias e
para o mercado de trabalho industrial dos pases em desenvolvimento trazem reflexos nas
exigncias para os profissionais e afetam a empregabilidade. A esse respeito, ntida a
integrao com a educao, pois a forma de organizao da produo atravs da integrao
das tecnologias exigir maiores nveis de escolaridade. Nos primeiros anos do sculo XXI, o
arranjo produtivo da Manufatura Avanada atravs da robotizao das atividades manuais e
repetitivas, resulta numa significativa reduo de trabalhadores, preconizando a manuteno
de um restrito contingente especializado nas novas tecnologias.
Diante do exposto, conclui-se que todo o processo de mudanas da quarta revoluo
industrial proporciona oportunidades e riscos, simultaneamente. Passados menos de vinte
6 O hedonismo foi fundado por Aristipo de Cirene (435-335 a.C.), e sua doutrina defendia que o prazer
absoluto, pois era o meio concreto para atingir o objetivo do homem, a felicidade. Para o hedonista era considerado moral tudo aquilo que dava prazer e imoral tudo que gerava dor, isto , todos os seres humanos buscam o prazer e tentam escapar do sofrimento. A dor seria o movimento spero da alma e o prazer o movimento suave da mesma. O filosofo afirmava que o prazer do corpo o sentido da vida.
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anos neste sculo XXI, a transformao observada desde os comportamentos solidificados
nas geraes anteriores, como o hbito de leitura de jornais e revistas que no foram
transmitidos s novas geraes, de forma a causar o encolhimento desses negcios e a
migrao rumo a suas verses digitais em busca de sobrevivncia. A televiso, que se tornara
o meio de comunicao de massa em substituio ao rdio, sofre com a reduo das verbas
publicitrias que migram ano a ano para a internet. Observa-se a ampliao do papel das redes
sociais como forma de se informar, e tambm a alterao do modo de vida das pessoas na
forma de comprar, estudar e buscar parceiros.
1.2 A Educao para o Sculo XXI
Schwartzman e Castro (2013) ao descreverem a realidade do Ensino Mdio no Brasil
concluem que o pas no est formando pessoas com as qualificaes mnimas necessrias
para o exerccio da cidadania, nem tampouco para a insero produtiva no mercado de
trabalho. Os autores sustentam sua afirmao citando como fonte a anlise dos dados do
Sistema de Avaliao da Educao Bsica Brasileira (SAEB) feita pelo movimento Todos
Pela Educao, em 2011, que registra que 11% dos jovens cursando a terceira srie do
Ensino Mdio dominavam os conhecimentos mnimos de matemtica esperados para este
nvel e 28,9% dominavam os conhecimentos mnimos de lngua portuguesa.
Constata-se, no poucas vezes, que na viso dos estudantes "a escola pouco
atraente". O desinteresse, a desmotivao e at certo menosprezo por parte dos alunos pela
educao indicam que as causas so intrnsecas, consequncia da falta de interao, rigidez
dos horrios, privao da espontaneidade e contedos carentes de sentido, dificultando a
compreenso dos assuntos abordados devido falta de conexo com a realidade do aluno. O
Ensino Mdio ao no propiciar a aprendizagem necessria ao desenvolvimento de
conhecimentos, atitudes, prticas sociais e de trabalho nas escolas pblicas brasileiras acarreta
a evaso e retira parcela significativa dos estudantes da escola. Revela-se a urgente
necessidade de um ensino inovador, diversificado, motivador e que seja capaz de dar
significado entre o que apreendido na escola e o cotidiano sua volta (MORN, 2014);
(CASTRO et al, 2015); (DINIZ; QUARESMA, 2016).
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Neste contexto, Dias Sobrinho (2010) traa um panorama dos desafios a serem
enfrentados no Brasil para se avanar com a qualidade da educao atual: elevadas taxas de
evaso, deficincias de formao nos nveis escolares anteriores, ocorrncia em muitos casos
de baixa qualidade de ensino, pesquisas limitadas a poucas instituies, precrias instalaes
fsicas, grande contingente de professores improvisados e sem formao adequada ao
magistrio superior, bem como elevados ndices de pobreza e desigualdades regionais.
Cabe destacar que o resultado educacional alcanado pelos egressos do ensino mdio
das escolas pblicas brasileiras torna-se relevante neste trabalho, na medida em que 70% dos
ingressantes nos cursos Superiores de Tecnologia da Fatec-SP, objeto desta pesquisa, so
provenientes das escolas pblicas7.
A educao tradicional ao depositar a responsabilidade do resultado da aprendizagem
no professor, como detentor do saber e das tcnicas de ensino, transforma o aluno em um
produto gerado a partir da convivncia com os contedos em disciplinas compartimentadas,
numa educao padronizada, que busca ensinar e avaliar a todos da mesma maneira e exige
resultados fixos, com estudantes agrupados em sala de aula num modelo ineficaz de
aprendizagem. No entanto, j existem iniciativas no sentido de se buscar uma nova forma de
ensinar, o que indica que os processos de organizar o currculo, as metodologias, os tempos e
os espaos precisam ser revistos, pois a sociedade contempornea demanda dos egressos
competncias cognitivas, pessoais e sociais que no se adquirem da forma convencional,
como a proatividade, colaborao e viso empreendedora (CASTRO et al, 2015); (MORN,
2015).
Desta forma, os processos educativos anacrnicos do sculo XIX, encerrados em
quatro paredes, limitados temporalmente no horrio de aulas e baseados numa relao em que
algum que detm o conhecimento o transmite aos demais necessitam ser revisados. A
interdisciplinaridade e interprofissionalidade no contexto do ensino superior so mais
suficientes para a universidade, nem tampouco os conhecimentos disciplinares fechados e
estanques para a formao de profissionais. As instituies de ensino se deparam com o
desafio de construir um projeto pedaggico que contemple as inovaes tecnolgicas, a
interatividade, a participao efetiva dos estudantes no processo de aprendizagem atravs de
7 Levantamento realizado pela Fundao de Apoio Tecnologia (FAT), responsvel pela organizao e
realizao dos processos seletivos das Fatecs mostra no 1 semestre de 2009, 70% dos mais 7,5 mil aprovados cursaram o Ensino Mdio em escolas da rede pblica.
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uma nova pedagogia para o sculo XXI (ARAJO, 2011); (FAVA, 2014); (MASETTO;
NONATO; MEDEIROS, 2017).
Portanto, no se trata mais de apenas implantar novas abordagens nas prticas
pedaggicas, e sim de adotar novos paradigmas a fim de promover uma educao de
qualidade com um novo modelo educacional em contraposio transmisso de contedos
em massa. A educao em um mundo globalizado precisa proporcionar conhecimentos
vertebrados entre si (SACRISTN, 2012); (PETEROSSI, 2014a); (MAZON, 2015).
Nesse sentido, a organizao escolar necessita uma transformao a fim de que todos
aprendam, integrando os aspectos individual e social, os diversos ritmos, mtodos e
tecnologias, para formar cidados plenos em todas as dimenses. As redes digitais
possibilitam organizar o ensino e a aprendizagem de forma mais ativa, dinmica e variada,
privilegiando a pesquisa, a interao e a personalizao dos estudos, em mltiplos espaos e
tempos presenciais e virtuais. Diante deste quadro, entende-se que a educao no passar
inclume pelas transformaes scio-poltico-econmicas observadas nas ltimas dcadas
sem sua prpria reinveno (ARAJO, 2011); (MORN, 2015).
Neste contexto, Lengel (2012) props o conceito de Educao 3.0, que se tornou um
constructo terico de uma nova escola, baseado na cultura digital, tal qual a sociedade atual.
Com isto, a escola deixa de ser como uma fbrica e passa a ser como um reflexo da sociedade:
digital, colaborativa, crtica e adaptvel.
Para o ensino superior, Masetto, Nonato e Medeiros (2017) asseveram que o xito de
um projeto de inovao curricular depende de professores, gestores, alunos e funcionrios que
sintam a necessidade urgente de mudar os cursos de graduao que no mais respondem
formao contempornea de profissionais e que estejam comprometidos a encontrar juntos
uma resposta de inovao para os cursos.
Segundo Morn (2015) as metodologias de ensino-aprendizagem so adotadas em
funo do resultado desejado; para que os alunos sejam proativos, faz-se necessria a adoo
de metodologias em que os alunos sejam expostos a atividades em que tenham que tomar
decises e avaliar os resultados, com apoio de materiais relevantes; de forma semelhante, para
produzir alunos criativos, eles precisam experimentar inmeras novas possibilidades de
mostrar sua iniciativa.
Para Arajo (2011) a mudana essencial no prprio papel dos sujeitos envolvidos
nos processos educativos. O autor apregoa que a relao ensino-aprendizagem seja invertida,
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deixando de se focalizar no ensino e mudar sua ateno para a aprendizagem e para o
protagonismo do sujeito da educao. Nessa concepo, a construo dos conhecimentos
pressupe um sujeito ativo, que participa de maneira intensa e reflexiva dos processos
educativos, que constri sua inteligncia, sua identidade e que produz conhecimento atravs
do dilogo estabelecido com seus pares, com os professores e com a cultura, na prpria
realidade cotidiana do mundo em que vive.
Observa-se que, progressivamente, as instituies educativas tem substitudo o modelo
de ensino por disciplinas por metodologias ativas de aprendizagem baseadas na resoluo de
problemas. Tal mudana exige a reconfigurao do currculo, um novo papel dos professores
e a reorganizao das atividades didticas. Neste novo enfoque educacional, o aprendizado se
d a partir de situaes reais que os alunos desempenharo em sua vida profissional. Desta
forma, a descoberta intelectual mediada pelos professores substitui a memorizao dos
contedos ou interpretao dos dados trazidos pelos professores. A busca do conhecimento
torna o aluno protagonista do processo, promove a aprendizagem coletiva e cooperativa,
estimula a curiosidade e o questionamento do cotidiano e dos conhecimentos cientficos,
proporcionando condies para que encontrem respostas para suas prprias perguntas e as da
sociedade. Para que isso ocorra, as atividades so planejadas, acompanhadas e avaliadas com
apoio de tecnologias a fim de mobilizar as competncias desejadas atravs da pesquisa,
avaliao de situaes, abordagens com diferentes pontos de vista, tomada de deciso e
assuno de riscos, numa aprendizagem pela descoberta, partindo do simples para o
complexo. As metodologias ativas so pontos de partida para avanar para processos mais
avanados de reflexo, de integrao cognitiva, de generalizao, de reelaborao de novas
prticas para superao da educao bancria, tradicional e focar a aprendizagem no aluno,
envolvendo-o, motivando-o e dialogando com ele (ARAJO, 2011; MORN, 2015).
A esse respeito, Masetto, Nonato e Medeiros (2017) destacam que as questes
relevantes so para que e para onde mudar, o que de novo se pretende construir como
indicadores da intencionalidade de um currculo inovador. A casualidade, o
espontanesmo, a falta de planejamento de uma mudana impedem a construo de um
projeto inovador, pois a organizao curricular possui objetivos de formao profissional,
contedos interdisciplinares, disciplinas integradas, metodologias ativas, processo de
avaliao que acompanha o desenvolvimento do aluno, o professor como mediador de
aprendizagem e o aluno como sujeito e protagonista da prpria formao. Inovao exige
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mudanas em todos esses aspectos curriculares, de forma simultnea e sinrgica. Reforam
que no so suficientes mudanas espordicas ou casuais em alguns aspectos.
Nesse sentido, algumas instituies educacionais se utilizam de mudanas
progressivas num caminho mais suave, com a manuteno do modelo curricular por
disciplinas, mas priorizam o envolvimento maior do aluno, com metodologias ativas como o
ensino por projetos de forma mais interdisciplinar, o ensino hbrido. Outras adotam a sala de
aula invertida ou propem modelos mais inovadores, radicais, sem disciplinas, que
redesenham o projeto, os espaos fsicos, as metodologias, baseadas em atividades, desafios,
problemas, jogos e onde cada aluno aprende no seu prprio ritmo e necessidade e tambm
aprende com os outros em grupos e projetos, com superviso de professores orientadores.
Desta forma, as tecnologias digitais, a aprendizagem mvel e novos conhecimentos sobre a
maneira como se aprende tem provocado uma mudana disruptiva nas formas de ensinar e
aprender (ARAJO, 2011); (MORN, 2015).
Desta forma, pesquisas de temtica da incorporao das novas tecnologias na
educao ganham relevncia, bem como sobre a atitude dos atores educacionais perante o
novo, a avaliao do ensino-aprendizagem em ambientes educacionais mediados por
computador, a natureza das interaes nos ambientes virtuais, as mudanas na organizao do
contedo, que evidenciam a necessidade constante de um trabalho multidisciplinar para a que
o processo de ensino-aprendizagem seja bem sucedido para as novas geraes (PETEROSSI;
MENINO; SAES, 2010); (ARAJO, 2011)
Segundo Masetto, Nonato e Medeiros (2017) a revoluo causada pelas (TIC) atingiu
um dos pilares da universidade, ou seja, como se trabalhar atualmente com a construo,
produo, socializao do conhecimento e como utilizado o acesso imediato s informaes
em todas as reas do conhecimento de forma aberta e simultnea aos alunos e professores,
removendo a propriedade e privilgio dos docentes. Nesse sentido, o fazer docente exige
integrar-se a ele o uso das tecnologias digitais para que o aluno aprenda a construir o
conhecimento por meio da pesquisa, da interaprendizagem, uma atitude que precisa ser
aprendida por alunos e professores.
Colombo et al (2004) apontam que, se por um lado a sociedade sofreu transformaes
que proporcionam mltiplas alternativas de aprendizagem na comunicao, no lazer e no lar,
por outro lado a educao permanece estagnada. Para os autores, praticamente inexiste
esforo por parte das instituies de ensino para adaptao dos professores de uma gerao
analgica ao uso dos recursos tecnolgicos; por outro lado, alunos em todos os nveis
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desenvolvem suas atividades corriqueiras atravs de aparelhos tecnolgicos como
computadores, vdeo games, smartphones e tablets. Assim, o comportamento dessas novas
geraes trouxe desafios aos educadores em como utilizar os meios tecnolgicos de modo a
atender essa mudana. O notrio descompasso entre a velocidade de evoluo das tecnologias
e o ritmo de mudanas na educao indica que as instituies de ensino necessitam rever o
modelo de ensino a fim de atender s demandas dos estudantes, ao mercado de trabalho
exigente quanto a profissionais hbeis em lidar com a tecnologia. Os computadores podem
auxiliar o aluno a executar e elaborar tarefas de acordo com seu nvel de interesse e
desenvolvimento intelectual, enquanto permitem a organizao e mtodos de trabalho,
gerando maior rendimento nos estudos e os jogos e linguagens de programao auxiliam no
aprendizado de conceitos abstratos.
Por mais que haja resistncia por parte de alguns professores, as tecnologias avanam
para os meios escolares e acadmicos. Assim, tanto os alunos quanto os professores passam a
fazer parte deste novo contexto de aprendizagem interativa onde o desafio est em como
filtrar o excesso de informaes e o que fazer com elas. Neste contexto a responsabilidade
com o processo de ensino e aprendizagem passa a ser dividida igualitariamente entre
professores e alunos num novo modelo de ensino implicando numa transformao do papel
dos professores e em uma nova mentalidade para a gesto educacional (MORN, 2014);
(CASTRO et al, 2015).
Masetto, Nonato e Medeiros (2017) destacam que projetos inovadores so construdos
e mantidos atravs do trabalho direto de formao dos professores para juntos construrem um
projeto novo e juntos levarem frente esse projeto. Todos os projetos inovadores de alguma
forma se preocuparam com a formao dos professores, tanto os atuais, aqueles que criam o
projeto, quanto os demais que vierem a compor o projeto, para compreenderem o projeto e
nele se integrarem. Esse um ponto fundamental no currculo inovador: o compartilhamento
entre os professores, o sentimento de pertencimento como algo comum entre todos, no
trabalho em equipe e isso s pode ser obtido com um programa de formao continuada dos
docentes.
Para que a inovao chegue s escolas, polticas pblicas so necessrias para que a
aprendizagem em rede e customizada se torne uma realidade, corroborado pelas experincias
de instituies de referncia que transformaram o projeto educativo utilizando as tecnologias
digitais como catalisadoras da inteligncia coletiva em contextos interativos.
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Arajo (2011) defende a adoo pelas instituies educativas da Aprendizagem
Baseada em Problemas, articulada com novas (TICs) e a preocupao com a tica pessoal e
profissional, por configurarem-se como ferramentas poderosas para formar as novas geraes
nas condies exigidas por sociedades que buscam estruturar-se em torno de conhecimentos
slidos e profundos, visando inovao, a transformao da realidade e a construo da
justia social.
Masetto, Nonato e Medeiros (2017) relatam que em 1998 a UNESCO, pela primeira
vez apresentou uma nova viso e uma nova misso para o ensino superior para o sculo XXI.
O documento buscou abrir a universidade para os problemas do mundo em termos da
formao de profissionais, de formao para o trabalho, de pesquisa e integrao desta com os
contextos e problemas reais contemporneos. Os autores relatam que, em decorrncia disso,
surgiram currculos inovadores a partir da dcada de 1970, quando o curso de Medicina da
Universidade de Maastricht, na Holanda, implementou um currculo baseado em Problem
Based Learning (PBL) que se espalhou por todo o mundo, inclusive no Brasil, nos cursos de
Medicina e E
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