diário de campo
Post on 23-Feb-2016
224 Views
Preview:
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
26, 27 e 28/10/2012 – Primeiras impressões e contatos no
Macapá e Curiaú
26/10- Chegamos 6a. noite, tarde.
27/10- sábado
Buscamos por outro hotel durante o dia. Acomodamos-nos e em seguida
entramos em contato com o quilombo, mas as pessoas estavam engajadas
na campanha eleitoral.
Aliás, a cidade está engajada na campanha- 50% cada candidato (PSOL e
PDT), é impressionante, parece não ter ninguem indiferente.
A campanha ficou a noite inteira na rua.
Propusemos à Josineide uma ida ao Quilombo, ao menos para conhecer o
local e ter uma primeira conversa, caso não atrapalhasse as suas ações. Ela
pediu para retornarmos a ligação no dia seguinte, pois mesmo que não
pudesse ir, buscaria por outra pessoa para nos recepcionar.
28/10 domingo – Visita ao quilombo
Retornamos a ligação à Josineide e combinamos encontrar com Jô
(Joaquina), sua irmã, que por não estar envolvida nas eleições, poderia nos
recepcionar e nos acompanhar ao Curiaú.
Visitamos o Curiaú, era dia de eleição. O quilombo tambem esta dividido
entre os candidatos.
Andamos e conversamos com a familia de Joaquina, - irmã da Josineide, a
presidente da Associação – A Jô nasceu no Curiaú, tem casa no quilombo e
os pais e irmãos que vivem lá, mas ela vive na cidade, acompanha mas não
está engajada na vida do quilombo e é atenta às questões de negritude.
O quilombo surpreende - uma extensa área de terra, com as ruas principais
asfaltadas, e as casas de uma parte dos moradores nas ruas principais são
grandes, de alvenaria e bem construidas dentro de quintais e jardins, mas
mais pra dentro há também casas de madeira relativamente precárias e
pobres. Seguindo a estrada se chega no balneário, para onde se dirigem
muitos carros vindos da cidade. (mais adiante do limite do quilombo há
outros bairros, muitos também quilombos). Parece que Curiaú foi o primeiro
dos quilombos a ter as terras legalizadas - a associação tem a posse e
escritura da terra.
Desde a chegada ao quilombo pudemos reparar que todas as pessoas que
vimos são negras. Perguntamos a Joaquina se no Curiaú, diferente da
região onde estamos em Macapá, a maioria da população é afro
descendente. Jô explica que apenas remanescentes quilombolas vivem lá, e
estes são majoritariamente afrodescendentes.
Jo, embora não tenha envolvimento com a campanha eleitoral, relata ter
sua preferência partidária, independente e diferente de seus familiares.
Diz ser a sua uma família que luta pela preservação da cultura e memória
da ancestralidade africana. Ela faz mestrado em Filosofia na PUC (talvez em
Minas?); Tatiane (filha de Jo) é formada em Publicidade e Propaganda, tem
um filhinho de 6 anos, mas é também trançadeira - uma das poucas na
região, e usa essa habilidade como fonte de renda, além de preservação de
cultura e trabalho de afirmação de identidade junto às demais garotas e
mulheres do Quilombo.).
Bruno (namorado de Tatiane) é graduado (não me lembro em que área) e
quando nos encontrou, fez saudações idênticas às feitas por adeptos às
religiões de matriz afro-brasileiras. Tivemos uma breve conversa sobre
religiosidade, e ele identifica algumas pessoas seguidoras e/ou zeladores/as
de terreiros, porém todos fora do Curiaú. O Bruno tem várias historias. Ele
vem de outro mocambo do sul do Pará, que foi destruido com a cessão das
terras do quilombo para a FORD na época do governo militar- criaram a
Fordlândia, marcaremos uma conversa com ele, se for possivel.
Conversamos longo tempo com Joaquina e sua familia - filha, neto e o
namorado da filha, Bruno. Por enquanto temos um mapeamento básico, e
interessante conversar com pessoa de dentro, mas de fora do quilombo.
Os bairros perifericos da cidade ja cercam a área entorno e não raro tem
problemas de invasão. Ja tiveram que pedir intervenção da policia para
integração de posse e desalojar cerca de 300 casas.
Falas de Joaquina- "é dificil a vida la no quilombo, uma parte sai e trabalha
fora - meu pai saiu e foi ser funcionário ....
Meus pais tiveram 14 filhos e mais uma adotada, hoje tem netos e bisneto.
Eu trabalho na policia, fiz curso, fiz concurso e hoje sou delegada. Quando
tem problemas no quilombo tento acomodar os conflitos internos e a
chamada à ordem
Eu não me conformo com aqueles que se acomodam, não se movem pra
conseguir melhorias pros filhos.
Ha discordancias internas, há problemas com alguns jovens, às vezes
brigas, há dificuldades entre os que vão de fora para o balneário e a
frequencia dos jovens lá juntos.
Minha irmã (Josineide) é tres mulheres em uma - sacrifica-se pela melhoria
do coletivo."
Ah nas eleições venceu o PSOL em Macapá - por pouco mais de 2.300
votos.
29/10/2012 – Conversa e apresentação à Associação de Moradores
(Ponto de Leitura)
Hoje fomos ao quilombo para uma primeira conversa coletiva.
Inicialmente falamos com Josineide – presidente da Associação. Profissional
Liberal (adv) trabalha na cidade e tambem cuida da Associação. Diz que
pegou a presidência há cerca de um ano e considera que a presidência
anterior deixou muita inadimplência e poucas ações, muita coisa parada.
Mostrou-nos uma lista de intenções de projetos a serem implantados,
estimulados, desenvolvidos, desde projetos culturais, ambientais, de
educação etc.
A Associação tem uma sede que foi construída em sua gestão, em mutirão
de alguns moradores. Tem uma sala de Biblioteca, com alguns livros e
álbuns de fotos históricas do processo do quilombo. É onde também serão
acomodados os livros para o Ponto de Leitura de Ancestralidade.
Na sede fica um policia florestal, que quando pode auxilia na associação.
Parece que tem muitos atendimentos, pois pela associação passam
encaminhamentos para as coisas burocráticas dos moradores. A presidente
parece sempre sobrecarregada e reclama de falta de ajuda, excesso de
coisas a fazer ...
Em seguida fomos encontrar com outras pessoas que apóiam e/ou
colaboram com a Associação do Curiaú. Uma primeira conversa coletiva, se
é que se pode chamar assim.
Presentes- Joaquina (sra. casada, com filhos, que se dedica em trabalho
voluntário na Associação), Silvana (secretaria), Vicente de Paula, Raimundo
dos Santos, Josineide (presidente da Associação), José Ferreira (pai de
Josineide, Joaquim (irmão do seu José e é um homem muito atento, alegre
e cheio de historias), Paulo, filho de Ze Vicente que pareceu interessante de
ter uma conversa.
Venta muito e a reunião foi ao ar livre – assim, dificilmente o gravador vai
conseguir registrar as falas.
Foi uma conversa talvez muito formal, e há certo embaraço no ar, - nos
apresentamos, falamos do projeto, e as pessoas falaram pouco, alguns
nada disseram- e não parecia timidez... será que constrangidos? Será
algum acordo interno? Não soubemos. Quem participou mais foi tentando
ajudar a formar listas dos que seriam entrevistados.
Em seguida o Sr. Joaquim começou a contar algumas histórias das muitas
que se ouve sobre os inícios do Curiaú- Cria U (Lugar bom pra criar gado)
Disse que tinha um sujeito (talvez escravizado) que era de uma fazenda lá
adiante e vinha sempre pra essas bandas a procura de mel. Um dia falou
(pro fazendeiro? Seu dono?)... que havia uma terra muito boa pra gado. Daí
o fazendeiro trouxe o gado todo e começou habitar essas terras. Depois
vieram os moradores do Mazagão, que é uma região povoada pelos povos
do Morrocos, trazidos pelos portugueses (há quem diga da cidade de Al
Jazira). Há tambem a história dos 7 irmãos... bom, tem que ver a gravação
dessas histórias, que são muitas, as vezes complementares, outras
contraditórias... e vão se somando versões...
Da reunião ficou descrito mais ou menos a agenda, ou os que deveriam ser
entrevistados.
Dos mais velhos: D. Chiquinha, Sr Marinho, da.Zefa, d. Izidia e Sr.
Raimundo, Sr. Vicente, Sr. Biló e esposa da. Palmira, Sr. José e Sr. Zé
(esses dois estão doentes de cama, talvez de pra ouvi-los)
Há uma proposta de Josineide, de fazer uma roda com esses senhores e
senhoras – pode ser mais estimulante para a lembrança dos
acontecimentos – e fica previsto para domingo dia 04 pela manhã.
Da 2ª. Geração – Sr. Joaquim, Jose Ferreira, Januário, Roldão Araujo, e
outros - sábado, dia 3, pela manhã – 9 hs
3ª. Geração - Chico, Rosilda, Vicente, Sr.Pedro, Paulo , João da Cruz,
Zequinha, Tia Maroca, Guita e outros – sábado, dia 3, à tarde as 15hs.
(essa roda não aconteceu)
Oficina com os jovens – será na 6ª. Dia 02 às 15 hs.
Ainda da roda:
Eles falam (e todos falam nas outras entrevistas) do calendário de festas –
tem o padroeiro – São Joaquim, em agosto, festa de uma semana. Antes se
elegia um festeiro que organizava a festa do ano, aquele que pegou a
bandeira no ano anterior- e todo mundo ajudava, aqueles que queriam
agradar o santo davam um boi – que é pra alimentar toda a gente durante
a festa. Antes o padroeiro era Santo Antonio – imagem pequenina – e tem a
igreja de santo Antonio no quilombo.
Sr. Joaquim conta que teve um dos moradores que foi a cidade e encontrou
uma imagem de São Joaquim e ficou encantado – grande e com um santo
que está sempre olhando para o céu. Perguntou o preço e era muito caro.
Voltou pra casa contou pra família e mais adiante a mãe dele vendeu a
única cabeça de gado que tinha e lhe deu o dinheiro pra ir buscar a
imagem. Imagem com o santo olhando pro céu. Foi uma festa grande e são
Joaquim ficou o santo principal.
Tem um calendário de festas quase todos os meses – algumas são no
espaço principal – igreja e galpões de são Joaquim; outras são de uma
família local que elegeu um santo, e tem geralmente uma área construída
com um galpão ou um terraço grande e la fazem a festa.
Tambem as falas constantes são do batuque e do marabaixo, que se
compõe com os ritmos de caixas e tambores e com os improvisos, que são
versos criados pelos cantadores, os “ladrão” – versos descritivos de
situações que vão observando, muitas vezes irônicos, com fala e a resposta
(uma espécie de desafio). Quando acontece algum evento, criam uma série
de ladrão.
O batuque é uma batida com os pandeiros (grandes pandeiros de couro) e
os tambores – batidas muito ritmadas e alegres e as danças tambem. No
marabaixo os instrumentos são a caixa e os tambores, mas a batida e a
dança são mais lentas. (numa demonstração é uma dança arrastando os
pés e a simulação que está amarrado).
Atualmente a festa é patrocinada pelo governo. E, segundo os velhos,
tocam muita musica com outro ritmo, muito alta, rápida.
O quilombo é dividido, tem o Curiaú de cima, ou de fora, Curiaú de baixo,
ou de dentro, e parece que outro Curiaú pequeno...
Há tambem reclamações do barulho noturno que causa conflitos no
quilombo- Esse parece ser um dos pontos de grande conflito – alguns
moradores abriram casas noturnas, outros cederam pra particulares – e os
alto-falantes altíssimos, que são impedidos de acontecer na cidade nas
horas noturnas, se instalaram por lá – é um ponto de reclamação em
muitas falas.
Vem muita gente de fora, e inclusive os menores (meninos e meninas) se
misturam nessas festas.
Há problemas com os jovens, muitos acabam presos, e há muitas
preocupações com as meninas.
O quilombo tem uma escola que vai até 8ª.serie, um posto de saúde, um
posto policial, 2 postos de guarda que ficam um no centro cultural (museu
do Curiaú, que é ao lado da igreja de santo Antonio), outro do deck do
balneário- de fato, duas mulheres, irmãs, da comunidade, que foram
escolhidas como funcionarias e os seus maridos, também funcionários,
fazem a guarda à noite.
Atualmente tem um engenheiro, provavelmente da Secretaria de Obras que
está indo ao quilombo conversar com os moradores, pois o governo
destinou verbas para a construção de casas, dentro do projeto “minha casa,
minha vida”. Ele nos diz que há muitas indecisões, idas e vidas, razões e
desrazões contraditórias dos moradores,- e que finalmente parece que
ninguém ou pouca gente quer a casa financiada (apesar dele insistir que é
um financiamento excelente). Seriam construídas casas independentes
(mas populares, com cerca de 40 m²).
Pelo menos, esse engenheiro salvou-nos: deu carona até a cidade.
Entrevistas com os mais velhos
30-10 - ENTREVISTA COM da. IZIDIA RAMOS DA COSTA (87anos) e
Sr. RAIMUNDO DA COSTA, chamado de Sr. Guri (96 anos)
Com a presença do filho – Manuel Ramos da Costa, na casa deste, pois a
casa/área do casal é bem mais adiante, e, como dizem, um lugar grande,
muito bem construído, todo cheio de plantas e flores, etc.
Fomos recebidos na varanda ampla. Ainda no terreno tem tambem uma
construção grande com ampla varanda coberta que é um restaurante onde
a família do seu Manuel (e esposa, filhos e parece que tem empregados)
gerencia, e servem refeições todos os dias.
Da. Izidia parece bem disposta, atenta e boa memória, mas ficou cega. Sr.
Raimundo, ou Sr. Guri, está bem, mas é sempre corrigido nas coisas que
lembra.
Da. Izidia... sempre estalando a língua, corrige com um ar sábio, e os
homens se calam. Linda mulher. Nasceu no Curiaú.
Contam que o Curiaú era um retiro na BR. Na epoca da escravatura, um dos
escravos buscava mel na região, achou o Cria U, com área fértil e boa para
o gado. O senhor dos escravizados libertos, finado Beto Severo, veio com o
gado e os homens pra região. Depois juntou com os negros do Mocambo,
que eram fugidos.
Antigamente tinha muita fartura, pirarucu que nadava de costas, e tinha a
época da subida dos peixes pra nascente, pra procriar. Pegavam peixe
sempre para o consumo, mas era muito. No local tem 18 ilhas e 18 poços
de água (criadores de peixes). As casas eram feitas com jussara e buriti
(palmeiras)
Sr. Raimundo é de fora do Curiaú, chegou com 5 anos na região- casou com
da. Izidia e tem 12 filhos, todos vivem dentro do Curiaú. Tem muitos netos
e 80 bisnetos, e embora diziam que não tem tataranetos, da. Izidia logo
corrigiu que tem muitos a caminho pelo menos.... (coisas que mulher
sabe...)
Sr. Raimundo tem uma área grande, comprada e expandiu comprou mais
terras e é onde mora. Parece que é terreno fora do Curiaú . Atualmente o
casal vive mais na casa do filho, Manuel.
Diz que já fez muita agricultura, plantio e gado, atualmente acha que tem
pouco incentivo. Fala da necessidade de incentivo do governo pra poder
melhorar.
Da. Izidia diz que quando criança havia muita fartura, trabalhou muito na
roça. Hoje falta, tem pouco peixe.
Da. Izidia tem um irmão, tio Zé, pai da Zefina, que mora no Laguinho, outro
bairro de Macapa, fica do outro lado da cidade.
Ambos falam das festas do Curiaú, dos tambores das musicas do
marabaixo. Antes iam às festas, gostavam, mas não tocavam ou dançavam.
Sr. Raimundo parece não gostar.
De fato, na entrevista, Sr. Raimundo que fala muito e de alguma maneira
constrangeu a conversa de da. Izidia, que parece bem mais contadora de
casos e teria que ir mais devagar com ela, pra dar tempo pra história.
Talvez será bom no encontro com os outros. Eles gostaram da idéia de
encontrar os outros de sua geração.
Fomos interrompidos pela TV Record de Macapá, que veio acompanhar um
pouco da entrevista e nos entrevistar- saímos- IPR- na TV!!!!
Repórter Wedson Castro – tel. 37242 0788 ou 3724 0788 (não tenho
certeza)
30-10- Conversa com Sr. Benedito Machado dos Santos (Sr. Biló) e
Da. Palmira, esposa.
Seu Biló, 85 anos, filho de vaqueiro, nascido no Curiaú. Da. Palmira, 76
anos, nasceu na Ressaca (bairro mais adiante na estrada do Curiaú), e veio
com seu Biló, casados a 59 anos, 12 filhos, todos morando no Curiaú.
Plantam muitas arvores frutíferas e tem uma área de plantio de mandioca
(maniva) e uma casa de farinha, que nos mostrou cuidadosamente todo o
processo, onde agora tem uma maquina de ralar mandioca eletrica que
facilitou o trabalho; fazem farinha na época das águas que é melhor pra
lavar e a mandioca fica mais facil; mandou fazer dois poços dentro da sua
área pra criar peixe. Criou muito peixe em outras épocas, mas foi roubado
em peixe e tambem nos plantios e no gado, por gente da própria família.
Agora de velho, mora com filha e filho e continua as lides do campo.
Pretende retomar os lagos e criar peixe,- fala nisso como aposentadoria.
Na área o genro tem criação de gado e búfalos, e seu Biló mostrou as
técnicas que tem pra chamar o gado pra dentro do cercado – queima
esterco e eles vem, ou ainda quando quer grita - Vem Comer ! Vem Comer!
E eles vem tudo.
Da. Palmira acompanha as falas, e se preocupa em dizer que mulher com
filho tem muita necessidade, é muito difícil. “melhor marido pra mulher é o
estudo, vai se cuidar e se manter independente!”
Seu Biló:”meu pai nunca contou história de como era antes, e dos ramos da
família, então não sei, mas ele já morava aqui com a minha mãe”.
Sr. Biló nasceu no quilombo, morava em outra área e depois veio pra atual,
os filhos moram todos no quilombo na área limite, onde as casas foram
construídas pra impedir invasão da cidade. O limite Curiaú/bairro é uma
rua. Longa. Lá pro final tem a entrada pra área deste casal.
Eles falam das festas, mas o tempo maior eles reclamam que atualmente
tem um enorme barulho, com os alto-falantes ligados extremamente altos,
com festa toda hora. “ninguem mais dorme por aqui”. Eles se referiram
muitas vezes a esse problema.
(Tambem outros moradores, e a própria presidente tem em conta esse
conflito)
31/10/2012 – Andando pelo Território
Pela manhã, nossa recepção falhou, confundiu as possibilidades de
entrevistas, e temos nada marcado.
Andamos longamente pelo Curiaú – de dentro e de fora, na BR, até o deck
do Balneário, Casa Grande, Vila Ressaca, Abacate.
No deck, tinha um posto de guarda, com uma guarda mulher.
Paramos na igreja Santo Antonio, onde tem festa em 13 de junho.
Conversamos com uma família, que estava muito restrita nas respostas, e
depois fomos ao museu do Curiaú, ao lado, onde conversamos com outra
guarda, mulher também. As 2 guardas (do deck e do museu) são irmãs.
Durante o tempo em que passamos no museu, a profissional nos informou
sobre o parentesco com a outra guarda e ainda que um tio, que fora
presidente da associação de moradores do Curiaú, empregou outros
familiares em postos públicos.
Na porta do museu há uma placa com a seguinte frase: “Esta obra foi
concluída para honra e glória ao nome do senhor Jesus Cristo”
Almoçamos no terraço do Sr. Manuel.
Voltamos à associação e a ideia era ir ate o Laguinho (bairro de Macapá)
buscar dois idosos pra entrevistar junto com Da. Chiquinha (tia da
Josineide) no quilombo, mas correu boato que tinha falta de gasolina na
cidade - estamos com o carro na reserva e há filas enormes nos postos de
combustível. Então ficamos no Laguinho a fazer entrevistas.
31/10/2012 - Entrevista com da. Josefa (da. Zefa, 96anos) e Sr.
Marinho (93anos)- muito alegres.
Ambos moram fora do Curiaú.
Da. Zefa nasceu fora do Curiaú, mas quando a mãe morreu foi morar no
Curiaú com o padrinho, família que era irmã da mãe de dona Chiquinha (e
elas se consideram irmãs).
Sr. Marinho nasceu e viveu no Curiaú, e tambem era parente das duas –
são primos. Sr. Marinho tambem viveu longo tempo no Curiaú, depois se
mudou para o Laguinho. Mora com a filha e netos.
Ambos se criaram no Curiaú, mas depois vieram morar no Laguinho - e
não voltaram pra lá - talvez tenha algo a ver com o acesso à distribuição de
terra. (Da. Zefa e Sr. Marinho - ambos moram fora do Curiaú e tambem a
Da. Tereza, que visitaremos em seguida).
No Laguinho - houve distribuição do terreno pela Prefeitura e as pessoas
contruiram as casas.
Eles, Da. Zefa e Sr. Marinho tem uma filha ...... que mora com da. Josefa –
um extra, como eles dizem – “a gente era jovem e inocente, ela era mais
velha, bonita e tava separada – foi sem maldade”, diz Sr Marinho.
Ela diz “nessa época eu já era dona do meu corpo”.
Depois se casaram com pessoas diferentes, ela novamente, e ele casou.
Da. Zefa cantava e compôs vários ‘ladrão’. Cantou vários versos. Aos 50
anos, o segundo marido tambem abandonou, e ela resolveu não ter mais
casos. Criou os 8 filhos lavando roupa pra fora, trabalhando na roça, e
cantando e dançando nas festas do quilombo. Costumavam os dois, alem
disso, trabalhar nas fabricas de farinha do Curiaú e trazer sacos de farinha
nas costas até Macapá (14 Km) pra vender.
Da. Zefa diz que criou a festa de Maria. (tem essa historia registrada em 2
gravações) Marabaixo. Muitos versos
Ambos dançavam muito e gostavam.
31-10 – fim da tarde, Entrevista com da. Tereza, 107 anos.
Da. Teresa parece um pouco cansada. Faz muito calor e em sua casa bate
muito sol à tarde, por isso marcamos à noitinha. Vive em Laguinho, com o
Neto, Sr. Raimundo.
Fala muito baixinho mas é muito lúcida e atenta a tudo.
“Minha família já estão todos mortos.” Da. Teresa teve 13 irmãos
Pai e mãe: Maria Rosa dos Santos e Manoel Inácio dos Santos
Avos maternos – Severiano Pinheiro dos Santos e Rosa Francisca de
Miranda.
A família era de Mazagão Velho e vieram pro Curiaú, os bisavos.
Ela nasceu no Curiaú, vivia da roça, plantava, depois veio pra Macapá pra
trabalhar – trabalhava como limpeza numa companhia de aviação.
Lembra-se de Festas de São Joaquim, Santo Antonio, Santa Maria.
Casou e teve 5 filhos, um homem. Mas depois separou e criou sozinha os
filhos.
Atualmente moram na cidade por conta da idade dela e quem cuida é o seu
neto Sr. Raimundo. Vivem na casa de madeira, e ao lado mora uma filha de
da. Tereza, também idosa.
Sr. Raimundo diz que todos na família gostavam de musica, e ele faz parte
de vários grupos de batuque e marabaixo ali no Macapá. Ele nos conta os
significados do marabaixo e batuque- “são dança de negros!” o batuque é
quando o senhor tinha uma boa colheita ele dizia pros negros escravizados
que podiam ter uma mão de couro (era a roda do batuque pra festejar). O
marabaixo é o lamento, é o escravo narrando um acontecimento triste- é
pesado, tem grilhões nos pés, um fala e outro responde.
....
Sr. Raimundo, neto, cuida afetuosamente da avó. Trabalhava fora da
cidade, mas deixou o trabalho e agora vive e trabalha só no Macapá, para
cuidar da avó e da tia. Moram numa casa de madeira que está em precário
estado, com uma escada de madeira que dá medo de subir. Tudo muito
difícil e parece que não tem iluminação elétrica. Essa senhora é mesmo uma
heroína sobrevivendo 107 anos nessas condições!
Ele canta e agita vários conjuntos de musicas regionais (semelhante ao Sr.
Pedro Bilão, que falaremos mais adiante).
Da. Teresa estava cansada. Mas se animou quando convidamos para o
encontro dos mais velhos no domingo, lá no Curiaú. Seu neto objetou que
seria muito difícil, pois ela é cadeirante, etc. Mas Da. Tereza avisou que iria.
E assim fomos buscá-los no domingo para o encontro.
No domingo, no táxi, a caminho do Curiaú, Sr. Raimundo contou que após
alguns anos viajando a trabalho, cada hora em uma cidade diferente,
decidiu retornar à sua casa para cuidar de sua avó (Dona Tereza) e da tia,
ambas já idosas. Embora tenha conseguido alguns empregos fixos, optou
por abandoná-los, mesmo tendo consciência de que sua renda não seria
suficiente para custear os gastos da casa. Sr. Raimundo afirma que não se
arrepende em viver de “biscates”, pois dessa forma tem tempo suficiente
para cuidar da avó e tia (cozinha, limpa a casa, etc.). Aponta que uma das
coisas que mais o incomoda, são as constantes promessas de pessoas, que
se comovem com as condições precárias da casa onde vive Dona Tereza, e
prometem reformar ou compra outra casa em espaço melhor. Ele ainda diz
que tem feito de tudo para protege-las destas pessoas, pois elas sempre
ficam esperançosos. E nada acontece.
03-11 –à noite. Visita rápida à casa de da. Chiquinha e seu filho,
Pedro Bolão.
O objetivo era verificar se estava tudo bem para o encontro com os idosos
no dia seguinte.
De inicio conversamos um pouco com da. Chiquinha, que é uma senhora
muito animada, e sua filha, Esmeralda, que é escritora e esse ano seria a
patrona da Feira do Livro que se realiza nesse momento em Macapá.
Da. Chiquinha sempre viveu no Curiaú. Foi casada com o Sr. Maximiliano
Machado dos Santos, o Sr. Bolão, falecido. Esse Senhor Bolão foi um
homem muito animado e criou um grupo de Batuque e Marabaixo, inclusive
em sua casa tem um grande galpão, onde se realizam festas de santos.
Da. Chiquinha diz que criou a festa de Na. Sra. de Guadalupe, pois ficou
encantada com a santa que conheceu em uma conversa com o padre. Ela
sente no momento que está tendo algum problema com a vista e me pediu
que lhe desse uma imagem de Santa Luzia: dia seguinte, andei Macapá
atrás de uma casa de santo; encontrei e levei a imagem de Santa Luzia– as
fotos de da. Chiquinha mostram a imagem.
Da. Esmeralda, filha, é uma senhora escritora e prendada, atenciosa e
alegre. Alem de escrever livros e poesias (mostrou alguns impressos),
também costura, faz bordados e cozinha paras festas.
O Sr. Pedro Bolão, filho, é um homem muito expansivo, tem um grupo de
musicas regionais, em parte com a família e inclui a mãe, e já faz shows
pelo Brasil (tem um agendado pra São Paulo, este ano). Junto com os filhos
tocam caixa, pandeirão e tambores. Eles também constroem e vendem
esses instrumentos. O Sr. Bolão nos presenteou com dois CD gravados pelo
grupo.
Entrevistas externas ao quilombo
01/11- Entrevista com Núbia, da CONAQ – Coordenação Nacional de
Comunidades Quilombolas.
No seu trabalho foram mapeadas as comunidades Quilombolas do Estado, e
12 pessoas fazem o acompanhamento.
Falou de outras pessoas do Curiaú com atividades locais –
Sr. Sebastião (escritor), Creuza Miranda, presidente do grupo de mulheres,
e de Festas Tradicionais.
Situou um pouco os conflitos do Curiaú. Vários grupos em divisão secular,
com o problema da distribuição e posse das terras. Atualmente tem um
problema grande com a associação – há desconfianças sobre a distribuição
das terras entre os moradores, na regularização do quilombo. Repetiu que
Associação tem conflito com toda a população (o que a própria presidente
tambem contou).
Em 1900 e poucos eram três comunidades onde tiveram a 1ª. titulação do
quilombo, mas separado – Curiauzinho, Pequeno, de Fora, Curiaú mirim- na
fronteira com Ipe e N.Horizonte.
Núbia faz uma observação quanto ao Curiaú Mirim: localizado na divisa com
os bairros Novo Horizonte e Ipê, ficou destinado aos moradores
(descendentes quilombolas) que regressaram ao Curiaú. Estratégia para
impedir novas invasões de pessoas da cidade.
Atualmente há conflitos partidários – um grupo familiar beneficia a Escola,
há quem é ligado ao governo federal.
Diz que não é dificil encontrar grupos partidários (citou os de direita) que
estão dentro das comunidades oprimindo os moradores - conflito de terra.
Núbia afirma que no Macapá dificilmente um quilombola se assume
quilombola, negro/a e/ou adepto/a de religiões de matriz africana. Isso
devido a grande repressão e assédio que sofrem, principalmente da igreja
pentecostal.
Talvez esse seja um dos motivos pelo qual a maioria não nos recebe nas
casas e sim nas varandas ou malocas. Quanto a autoafirmação da
negritude, durante as conversas na pesquisa, os mais velhos se assumem
mais do que os mais novos.
Durante a pesquisa, segundo a Cintia “pude constatar a partir das falas de
alguns moradores, que assuntos como a autoafirmação foram mais
constantes quando estávamos a sós. Isso, bem provavelmente, por conta
de uma identificação e da proximidade etnicorracial”.
Segundo Nubia, Macapá tem 34 comunidades quilombolas. No Amapá tem
154: no ramal Rio Pedreira – 44; Rio Malapi – 15 comunidades certificadas,
BR156 – que vai ate Oiapoque – 80 comunidades, Mazagão, oriundo da
passagem dos negros, Santana - Igarapé do Lago – 30 comunidades, até
Mazagana. Faz fronteira com o Platô das Guianas
Indicações da Região:
Tem que conhecer a Maloca do Bolão (no terreno de dona Chiquinha)
Tambor de Mina – Culumbu do Paluazinho- em Oiapoque
Falar com a Mãe do Sabá – Sebastião
Em Casa Grande – houve rebelião por conta de posse de terra. Sr.
Bernardo: conflitos de terra e por conta de mulheres.
Falou do: Encontro da Juventude Quilombola, Brasilia, 22 a 25/11
Encontro dos Tambores
Feira Quilombola de 27 a 30/11
Dia 01/11 – conversa com o Secretário Estadual da Juventude (do
Amapa)– Alex Nazaré
Diz que no Curiaú tem um projeto de Orquestra – trabalho do Instituto
Essência com a Oi Futuro (financia) – proposta é formar músicos e dão os
instrumentos para a orquestra.
Conselho comunidades quilombolas – CECADA (tambem Sr. Sebastião e a
Nubia falaram nisso)
Associação de Mulheres
Raízes do Bolão – ilho de da. Chiquinha, tem um conjunto de Marabaixo – e
produzem instrumentos.
Da Secretaria da Juventude: projetos judô, caratê, cinema
Falou um pouco dos programas que sua secretaria tem para os jovens:
Credito pra juventude – credito individual de 1 a 10 mil reais pra abrir um
negocio, 1 ano pra pagar em 60 x com juros de 0,5% se pagar antecipado,
e 2,5 se na época.Tem até agora 20 negócios financiados
Referencias da juventude e da cidade:
23 a 25 – Seminário da Juventude negra.
Museu Sacaca – medicina tradicional. (levou-nos a passear no museu)
Biblioteca Estadual Luli Tarso.
Juventude Maruarum – SEAFRO Secretaria de Politicas Afrodescendentes.
Área da Ressaca – periferia, hip hop, grafiti, biboys.
Juventude indígena
Marabaixo – tem varias casas – tem ladainha, reza, mastro, dança
Tambem Mazagão e Santana
Sul do Estado – Tumucumaque
Terras indígenas homologadas.
Carnaval- Boemios do Laguinho, Maracatu da favela
Radio Comunitária “Novo Horizonte” – Sr. Raimundo.
Depois fomos fazer uma entrevista na Rádio – Programa juventude. Junto
com o Secretário e apresentamos o projeto.
Jovens
2012-10-02 - Workshop com os jovens
Presentes:
Silvana, Diele, Diogo (garoto), Dirane, 19a., Cassia, 18, Joice, 16,
estuda em Macapá, Sara, 20 – idem, Andre, 24, não nasceu no Curiaú, Luan, 19, ensino médio, Ale Lumira, mora ha 9 anos, família mudou pra
cá, Joaquim Leandro, nasceu no Curiaú de fora. O encontro foi um pouco cortado pela presença de um adulto, Sr. Joaquim,
que sempre se punha a narrar as questões antes e pelos dos jovens.
Alguns falam mais, outros quase nada, mas praticamente todos afirmam que gostam de morar no Curiaú e consideram um privilégio, porque tem toda a família por perto, são amigos, tem uma área limpa, grande e linda
pra viver. Citam problemas como a distancia da cidade, a dificuldade pra freqüentar
escola para alem do ensino básico que tem no Curiaú, pois alem da distancia, há pouco transporte (ônibus) e às vezes a família não dispõe de dinheiro para a passagem. Então muitos não vão alem no estudo. Também
dizem que a diversão é limitada, pois teriam que ir ate Macapá e tem os problemas com o transporte.
Têm dificuldades para arranjar empregos, pois estes seriam na cidade e as pessoas dispensam ou não selecionam estes moradores jovens, devido à
distancia. Reclamam (talvez pela presença do adulto) da frequente passagem de moradores da cidade na estrada, e as provocações que fazem; alem disso,
falam dos bares que tem programas sempre e até muito tarde. Dizem que há problemas de assédio e corrupção de menores, que sem o limite das
famílias, freqüentam ingenuamente esses bares até tarde, e acabam inclusive se prostituindo, engravidando etc. Gostam das musicas tradicionais e contam as histórias do Batuque
(festejando a boa colheita) e do Marabaixo (lamento), histórias que eles repetem sobre os significados destes ritmos. Mas gostam tambem e muito
das musicas atuais, inclusive o funk (e para ilustrar isso, uma das jovens se pos a tocar as musicas que constam em seu celular. Alias todos/as tem celulares modernos e estão sempre conectados.
Sobre sexo parecem conversar mais entre os respectivos gêneros. Dizem que as famílias não permitem que durmam juntos nas casas, embora
algumas moças tenham filhos, ainda solteiras e ha muitos casos de casamentos não legalizados no Curiaú.
Complementa o encontro com 2 jovens no sábado, dia 03-11-12:
Sizane – mora a 10 anos no Curiaú, com a mãe, que não é do Curiaú, e é vizinha do pai. (Seguramente, a jovem veio pra garantir terreno dela e pra mãe, que não teria direito, já que se separou do pai). É secretaria da
Associação. Fernanda Leite dos Santos (neta do Sr. Joaquim), estudante, trabalha de
domestica em Macapá, dorme na cidade e só volta pra casa da mãe onde mora nos fins de semana. Pais- Oscarina e José Leite da Paixão, e avô- Clarindo dos Santos Filho, e o
Sr. Joaquim da Paixão. As respostas são semelhantes às do outro grupo. Porem, essas jovens
falam de maneira mais explicita que existe um assédio e um desrespeito às jovens do Curiáu, pelo fato de serem mulheres negras e remanescentes
quilombolas. Apontam também que acreditam que os homens de fora tem
uma conduta abusiva, devido a esse preconceito, e facilmente convencem garotas, que se iludem com a possibilidade de sair da Comunidade, para
viver uma vida com maiores facilidades e bens materiais. Dizem já ter sofrido preconceito fora do Curiaú, quando se identificaram moradoras da região, pois algumas pessoas dizem que as pessoas do Curiaú são festeiras,
as mulheres bonitas e não se intimidam em assediar ou discrimina-las.
Adultos
03-10 - Sábado, manhã - Encontro com adultos.
Roda com adultos
Deve-se salientar que vieram três casais (aparentados e parentes da
presidente da Associação) e mais uma pessoa lá do Curiaú de dentro, que
ao menos nessas questões parece concordar com as posições. Era um grupo
coeso e tinham a história articulada entre eles.
- Raimunda Leite da Paixão, casada com Sr. Joaquim Araujo da Paixão.
Irmã da da. Inacia e da. Maria
- Maria Leite de Araujo, casada com Sr. José Pereira de Araujo, pais de
Josineide (pres. Associação)
- Inacia Souza Leite, vive com Sr. Antonio Picanso, mas não casaram no
papel.
*Todas filhas de Alice de Souza Leite e Oscar da Costa Leite
- Manuel Ramos da Costa,
Filho de Da. Izidia e Sr. Guri. Saiu um tempo do Grajau e voltou. Seu irmão
mora Tb no quilombo, e tem 3 irmãos que moram fora.
Da. Izidia nasceu no Curiaú, o Sr. Guri, filho de Cearense, Sr. Oscar, com
uma moça de Araguari do Maranhão.
- José Pereira de Araujo
Segundo sua filha, Sr. Jose saiu do Curiaú, virou funcionário e criou os
filhos fora. Depois voltou. Diz que é bisneto dos primeiros donos do Curiaú*
- *Maria Joaquina dos Santos e Vicente Paulo dos Santos.
- Joaquim Araujo da Paixão, 67 anos, e irmão do Sr. Jose
Nasceu no Curiaú e continua ali vivendo.
Oficina: Com eles fizemos uma linha de história das famílias –
algumas.
Contam que 7 irmãos herdaram do dono da terra. Tem documento de 1892,
diziam que tinham 3 documentos, mas os três eram copia do mesmo
documento.
O primeiro documento foi da Sra. Domingas.
Faz doze anos que o quilombo foi regularizado, 1998, pela Fundação
Palmares, que deu o 1º. Titulo de quilombos, junto com a nova
Constituição. Regularização estipulante
Houve três guerras – invasões da terra.
Dizem que há problemas porque “os do Curiaú de dentro, ou de baixo,
muitos tinham vendido parte de terrenos para outras pessoas, fazendeiros e
muitos deles ainda querem vender as terras ou abrir negócios junto com
comerciantes da cidade”. À pergunta se isso separa o Curiaú de fora do de
dentro, ou se tem conflitos em ambos, mudaram de assunto.
MAPA – DE FILIAÇÃO
Sr. José e Joaquim
2 Bisavós:
Domissiana, casada com um africano Foloforro, mãe da avó Custodia
- Maria do Rosario
Domingas Espirito Santo, mãe da avó paterna, casada com Berto
Aires Ramos.
Sr. Jose: pais: Manuel Custodio dos Santos (Curiaú)
Otilia Pereira de Araujo (índia, Aldeia Matapi)
Sr. Joaquim: pais: Francisco Marinho da Paixão (Curiaú)
Maria Oliveira da Paixão (Acampina Grande
De ambos: Bisavós- do Masagão, e igual aos da da. Izidia Ramos da Costa
Pais do Pai- Vicente Paulo dos Santos e Maria Joaquina dos Santos
Pais da Mãe – igual aos Santos – Manuel José e Joaquim
As 3 irmãs - filhas de Alice de Souza Leite e Oscar da Costa Leite
Pai é irmão do Sr. Guri (pai do Manuel), veio de Araguari
Mãe – Alice de Souza Leite Bisavô- Severo dos Santos
Bisavó- Maria Rosa dos Santos.
TENTATIVA DE MAPA DA HISTÓRIA
No começo eram sete irmãos, que foram escravizados. Os sete vieram com
o patrão, um português que ficou doente e quando chegaram no Curiaú,
fugido, vieram para Pedreira (Retiro Paiol Grande). De lá saiu o pegador de
mel- murumuru, de amêndoa (sabão); de mungunbeira.
Eles conhecem só as duas irmãs (Domingas e Demissiana)
Domingas teve 2 maridos, e os filhos:
Duca, Manuel Ceculo Ramos, pai de Izidia, avô do Manuel
Berto
Demissiana – filhos: Custodia
Clarindo
Gerenaldo
1941- Sr. José que teve 15 filhos, tinha 6-7 anos e o Curiaú era como vila.
Só roça. As casas eram de palha de palmeira
Casa de farinha – na casa do pai ou faziam conjuntos e produziam farinha
de mandioca
1960- Sr. Joaquim- faleceu seu pai, e criou os irmãos – casou com Da.
Raimunda.
1966- Foi instalado o Posto médico e usina geradora de luz
1977- Instalado o Posto médico atual
Murilo na Prefeitura
Sr. Joaquim era representante da Comunidade, o Sr. José Araujo da
Paixão, irmão, era da Associação.
Até 1979 energia elétrica de Santana vinha somente ao Palacio do Governo
Em 1979 - Linha de eletrificação – O Prefeito atuava nos bairros mais velhos
de Macapa. Programa energia para o estado todo.
Quando passou de território a estado do Macapá – fizeram o asfalto, e
construíram a estrada faz uns 10 a 12 anos- governador Capiberibe
A Avenida vinha de Macapá até a Igreja Sto. Antonio.
1998 – regularização do quilombo.
Curiaú de dentro- regulariza em condições excelentes, conforme o grupo.
Tinha anteriormente 3 documentos de propriedade. Intercederam e
passaram os documentos, nesta geração para regularizar titulo.
Houve muita luta, disputa
Gestão do Coruja (Noro) na Associação, depois foi presidente Raimundo de
Souza, e a Josineide – atual presidente.
______________
Dia 03-11-12 – a tarde –
Dia 03-11-12 sábado, dia 3, à tarde as 15hs.
Para este horário estava agendado o grupo da, chamada por eles, 3ª.
Geração, com os srs/sras: Chico, Rosilda, Vicente, Sr.Pedro, Paulo , João da Cruz, Zequinha, Tia Maroca, Guita e outros –
Dirigimo-nos ao local e aguardamos um bom tempo e nenhum compareceu. Não tivemos noticia do que aconteceu com essa convocação. E também não
tivemos contato com essas pessoas, nem uma indicação para encontrá-los.
Só mais tarde vieram duas moças - Fernanda Leite dos Santos e Sizane, que disseram vir para a roda, e cujas entrevistas foram somadas à roda dos jovens.
(está relatado junto com workshop dos jovens, já que não apresenta
diferenças grandes)
03-11-12- à noite
Deveria ter um encontro com pessoas que não fazem parte da associação
(ou não compartilham as idéias/posições com os adultos entrevistados pela
manhã)
Nessa noite teria, após o culto que se realiza na igreja do Santo Antonio,
uma reunião, que seria marcada pela irmã de Sr. Manuel, Claudete, que
previa no sábado, um dia de convite casa em casa. Conforme combinado,
pela manhã um de nós foi ao encontro de Claudete para realizarmos o
corpo-a-corpo. Embora tivessemos confirmado a presença por telefone, por
algum motivo desconhecido, não conseguimos encontrá-la nem em casa
com os pais, nem por telefone, neste dia.
Por isso não foi possível realizar o corpo a corpo e convidar moradores do
Curiaú de Baixo para uma roda conversa para apresentar o projeto e se
possível realizar a pesquisa com eles também.
Fomos até a Igreja só de passagem, pois diziam que eles não nos
receberiam. Todavia, havia um casal que nos atendeu e nos levou até o Sr.
Sebastião (escritor), que saberia de tudo.
Sr. Sebastião, muito atencioso, mas desconfiado, nos faz muitas perguntas
e diz que está muito ocupado. Conseguimos agendar uma conversa para o
dia seguinte “de 14 às 15 horas”.
Obs:
O Sr. Geraldo foi o primeiro presidente da Associação. Ele é irmão do Sr.
Manuel, filho de Da. Izidia, e parece ter oposição com o grupo da
Associação, que iríamos encontrar na Igreja Santo Antonio nessa noite; mas
como narrado acima, houve desencontros com a Claudete, irmã deles e que
deveria ser a mediadora dessa conversa. No dia seguinte encontramos
outro irmão que estava no restaurante do Sr. Manuel, e que nos cobrou a
ida à Igreja Sto. Antonio na noite anterior.
O 2º presidente foi o Sr. José Araujo Paixão, que é irmão do Sr. Joaquim e
que tambem não apareceu nas entrevistas (ou não foi chamado)
Numa conversa com o Sr. Manuel, sobre os conflitos no Curiaú, ele nos dá a
versão de que os moradores do Curiaú tem problemas com a regularização
porque vêem mais vantagens em poder vender seus lotes de terra, ou fazer
comercio, abrir bares com baladas, etc.
Há uma pressão forte dos fazendeiros e moradores da cidade sobre a terra
naquele balneário e muito interesse na compra de terras.
Outras versões dizem que o conflito é secular, sobre a posse das terras e,
mais recente, é uma questão da distribuição de terra e das normas que
foram estabelecidas na regularização. Dizem que há pessoas com direitos
que ficaram de fora, e outras que não teriam direito e que pegaram terras
para si e pra todos seus filhos.
04-11 – Domingo - Encontro com Guardiões da Memória – Os mais
velhos
Foi acordado, sugerido por Da. Josefa, que o encontro seria na casa de Da.
Chiquinha, que é tia da Josineide, mãe do Pedro Bolão, que é musico das
coisas tradicionais, Marabaixo e Batuque e mantem um conjunto que se
apresenta pelo Brasil.
A casa é pequena, mas tem um galpão muito grande que é onde fazem a
festa de Santa Guadalupe, e parece ser um território mais neutro para
encontros.
Organizamos um lanche e praticamente fomos buscar cada um dos
senhores/as em suas casas pra levar e trazer ao local de encontro. Eles
estavam todos muito arrumados para o evento.
- vieram:
Da. Chiquinha
Da. Josefa
Sr. Marinho
Da. Teresa
Da. Izidia e Sr. Guri
Sr. Biló
Veio mais um que ainda teremos de consultar o nome
Estiveram tambem o Sr. Bolão e família, que inclusive proporcionaram
musica, onde o Sr. Raimundo (neto de da. Tereza) cantou.
- Sr Raimundo
- a filha de da. Josefa e Sr Marinho
- filha de da. Chiquinha - Esmeralda
- Josineide, Silvana e Sizane e mais três rapazes jovens, dos que estiveram
na roda de conversa no dia 02.
- chegaram depois outros adultos, todos animados com a reunião.
Antes de começar, houve um movimento, pois veio a TV Globo local, para
entrevistar a Associação, alguns presentes e também fomos entrevistados e
depois apareceu na TV repórter local.
Também havia outro grupo de escritores, inclusive esperavam pelo Ignacio
Loyola, que estava na cidade, mas não apareceu no local. A filha da da.
Chiquinha, da. Esmeralda, escritora, estava convidada e era homenageada
na Feira de Livros da Cidade.
Paralelamente, o Sr. Pedro Bolão preparava e nos ensinava a fazer
gengibirra (bebida típica do Curiaú, preparada para dias de festas). Nesse
momento um de nós presenciou uma cena, que os moradores disseram ser
comum. Motos de alta cilindradas em alta velocidade na pista, aceleravam
exatamente em frente das casas onde há uma grande quantidade de
pessoas pra fora. Além de acelerar, empinavam as motos, num sinal de
intimidação.
Logo as pessoas presentes disseram que se trata de médicos, juízes, os
doutores da cidade, que todo final de semana passam na região em direção
ao balneário. Ainda afirmam que há cenas piores, como mulheres que, na
garoupa, ficam nuas em certos trechos da rodovia. Estes são os mesmo que
muitas vezes estão nas festas e assediam as “nossas meninas”.
Do encontro com os guardiões
Eles vieram e se organizaram sentados todos como ‘alunos em sala de aula’
deixando a pesquisadora isolada lá na frente!
Estivemos o tempo todo emocionados e aquela situação era desconfortável.
O que perguntar a eles? Havia milhões de perguntas e nada parecia
suficientemente adequado.
Alguma coisa como ‘como é viver em um quilombo’? Quais os fatos mais
marcantes que aconteceram nesse tempo? Como viviam antes? O que é
diferente?
Poucas respostas. Aparentemente há um acordo de resistência, em não
tocar em qualquer assunto que pudesse sugerir um desacordo entre eles.
Há embaraços, alguns desconfortos – silencio e os gestos pareciam dizer
mais que palavras.
Foram convidados os outros presentes mais jovens para que fizessem
perguntas aos mais velhos e eles tambem tentaram algumas, como ‘vamos
dizer os nomes dos pais e dos avós, vamos fazer uma árvore genealógica.
Pouca animação.
Finalmente a questão se generaliza quando alguém diz – bom mesmo eram
as festas. Há quantas festas?! Logo identificam quem dançava, cantava, os
que faltam agora, as diferenças entre a musica que faziam e as de
atualmente (põem ate microfone pra cantar!!!) . O Sr. Guri por exemplo
tocava clarinete, enquanto as mulheres todas dançavam e a dona Josefa
fazia ladrão (composições continuando a proposta da musica), alguns dos
homens cantavam e passaram a lembrar os bons cantores e cantoras de
outra época.
Em seguida o Sr Bolão, seus filhos e alguns jovens pegaram os
instrumentos e todos começaram cantar e dançar. O Sr. Raimundo, neto de
Dona Tereza, mostrou sua arte no canto. Foi memorável.
Depois, outros entrevistados disseram que esse encontro foi um feito. Há
muito tempo não se encontravam esses mais velhos e muitos já tentaram
reuni-los, sem sucesso.
top related