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1 ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO ÍNDICE DE DATAS 02 de Maio de 2011 ..................................................................................................................... 2 08 de junho de 2011 ..................................................................................................................... 7 09 de junho de 2011 ................................................................................................................... 28 16 de setembro de 2011 ............................................................................................................ 42 07 de novembro de 2011 ........................................................................................................... 55 08 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 67 09 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 78 10 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 91 11 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 100 18 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 105 07 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 112 09 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 119 16 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 125 17 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 129 18 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 137 19 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 143 20 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 151 30 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 158 31 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 161 01 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 169 02 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 175 03 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 179 01 de março de 2012................................................................................................................. 185 11 de abril de 2012.................................................................................................................... 189 30 de outubro de 2012.............................................................................................................. 195

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1

ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO

ÍNDICE DE DATAS

02 de Maio de 2011 ..................................................................................................................... 2

08 de junho de 2011 ..................................................................................................................... 7

09 de junho de 2011 ................................................................................................................... 28

16 de setembro de 2011 ............................................................................................................ 42

07 de novembro de 2011 ........................................................................................................... 55

08 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 67

09 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 78

10 de novembro de 2011 ............................................................................................................ 91

11 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 100

18 de novembro de 2011 .......................................................................................................... 105

07 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 112

09 de dezembro de 2011 .......................................................................................................... 119

16 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 125

17 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 129

18 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 137

19 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 143

20 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 151

30 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 158

31 de janeiro de 2012 ............................................................................................................... 161

01 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 169

02 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 175

03 de fevereiro de 2012 ............................................................................................................ 179

01 de março de 2012 ................................................................................................................. 185

11 de abril de 2012 .................................................................................................................... 189

30 de outubro de 2012 .............................................................................................................. 195

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Dados da realização das observações

Data: 02 de Maio de 2011

Horário: 11H00 às 13H00

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Reconhecimento do espaço e da equipa do Centro de Treino da Produção (CTP)

Duração: Cerca de 2H

Participantes: Coordenador; 3 formadores

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Visitei o Centro de Treino com os objetivos de conhecer a equipa do CTP,

familiarizar-me com o espaço em que decorre a formação, captar o

ambiente geral do Centro, dar a conhecer a minha atividade de investigação

e os seus propósitos. No fundo, lançar as bases para uma boa relação de

colaboração com os elementos que orientam a formação.

Trabalham no centro 12 pessoas, entre o coordenador e os formadores, com

diferentes níveis de experiência profissional e na formação; um deles está

encarregue sobretudo das funções de apoio administrativo e logístico. Do

que foi explicado, o objetivo é que todos façam de tudo um pouco, sem

haver uma grande especialização de funções: dar formação, organizar os

grupos, tratar das questões administrativas relacionadas com a organização

da formação, estabelecer a ligação com as necessidades formativas da

Produção que seja o mais rápida possível, criar materiais e ferramentas para

a formação.

Pretendia também estabelecer uma primeira agenda de observações com o

coordenador, de acordo com a disponibilidade demonstrada pelos

formadores. Essa colaboração foi total, o ambiente foi informal e cordial.

Todos, sem exceção, se colocaram à disposição no caso de querer assistir a

uma das “suas formações”.

Já conhecia alguns dos formadores de vista, nomeadamente de outros

momentos em que visitei o Centro e dos Processos de RVCC. Este fator

Objetivos da

visita

Caraterização

da equipa

pedagógica do

CTP

Base de

colaboração

Ambiente

informal

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ajudou à nossa interação; parte do tempo das apresentações foi ocupado a

trocar impressões sobre os Processos de RVCC.

No momento da visita, não havia formandos no Centro, uma vez que

estavam em período de almoço. Esse facto permitiu conhecer e conversar

um pouco com todos os elementos e observar à vontade o espaço e os

meios disponíveis no Centro. O coordenador e dois formadores foram

guiando a minha visita de forma mais próxima, explicando a funcionalidade

dos espaços, das bancadas de trabalho da formação, dos instrumentos

disponíveis, do tipo de “trabalho de bastidores” que o tipo de formação do

Centro obriga a desenvolver.

Contíguo ao espaço do centro há uma oficina de trabalho, onde a maioria

dos meios técnicos e equipamentos ao dispor da formação são construídos,

a partir de peças disponibilizadas pela área da Produção da fábrica.

O CTP ocupa cerca de 900m2 e consiste:

Numa zona de estar e de trabalho da equipa de formadores e em

salas de formação mais “teórica”. Existe uma sala de trabalho para

a equipa do Centro, com secretárias, quadros de registo e material

informático; e duas salas de formação que o coordenador designa

por “salas da componente teórica” de dimensões razoáveis, com

secretárias e cadeiras, quadros para as atividades de formação,

cartazes informativos sobre conceitos da Produção. Todas as salas

têm janelas amplas viradas para o espaço “exterior” da formação; a

esse espaço chamam de “espaço da formação prática”.

Um espaço amplo para a realização as atividades de formação de

índole prática, com bancadas de trabalho, quadros brancos

apoiados em tripés, alguns rotativos, computadores, caixas

catalogadas com ferramentas, vários armários. Algumas das

bancadas para as atividades práticas têm uma estrutura composta

pela bancada de trabalho em si mesma e um quadro vertical com

alguns materiais pedagógicos para utilização na formação

Descrição do

espaço físico:

- salas de

formação

teórica

- espaço da

formação

prática

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(magnetes, canetas, cordas, entre outros). Há também uma zona

que, segundo o que me foi explicado, reproduz o “supermercado”

de peças que é utilizado na zona de construção das carroçarias, com

peças de carro arrumadas em prateleiras próprias (feitas pelos

elementos do CTP), catalogadas e organizadas por cores. Está ainda

disponível um “carro de treino”, para além de uma estrutura

robotizada que reproduz um produto em construção, estrutura essa

que é conduzida através de uma fita magnética colocada no chão,

reproduzindo o percurso dos carros na linha.

Não é fácil descrever todas as estruturas e materiais que compõe o CTP, mas

pode afirmar-se que há uma grande quantidade e diversidade de material

de trabalho prático e que a maior parte do espaço do CTP é ocupado por

esta área, porque “a formação tem uma forte componente prática”

(palavras de um dos formadores).

Existe informação dispersa por todo o espaço relativamente ao sistema de

produção do Grupo Automóvel, com destaque para alguns dos seus

conceitos mais emblemáticos, já mencionados por alguns adultos em

Processos de RVCC, nomeadamente os 5S, o Kaizen, os sistemas Poke Yoke,

entre outros. Os cartazes que dizem respeito a estes conceitos são

ilustrados e apelativos, estão colocados por cima das bancadas de trabalho

do espaço aberto e igualmente nas salas de formação.

Pedi ao coordenador se podia tomar algumas notas sobre o conteúdo dos

cartazes informativos afixados pelo CTP, pela relevância da informação

neles contida, uma vez que não me foi permitido gravar/filmar durante o

trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás

totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à

missão do Centro, apresentado como sendo um Centro de Treino Lean.

Em traços gerais, esta foi a informação compilada no momento, com a ajuda

do coordenador que foi explicando algumas questões particulares:

Quantidade e

diversidade de

material

Sistema de

Produção

Limitações

sobre registos

vídeo e áudio

Objetivos/miss

ão do CTP

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Missão do CTP:

Criar uma linguagem única e um entendimento comum para a

implementação do sistema de produção tendo como objetivo o

sincronismo e o valor acrescentado.

Permitir um suporte sistemático ao KVP Kascate através de um amplo

e gradual desenvolvimento de competências em todos os níveis da

hierarquia.

Assegurar continuamente o trabalho com standards nos processos

organizacionais sob o ponto de vista do trabalho de equipa, com o

objetivo de se alcançar e manter um desenvolvimento sustentável para

assegurar a competitividade e simultaneamente os postos de trabalho.

Segundo o que me foi explicado pelo coordenador, a perspetiva global é a

de descentralizar estes centros de treino em todo o mundo e em todas as

fábricas do Grupo, sobretudo ao nível da formação, para que trabalhem os

conceitos lean, que implicam o treino das tarefas básicas e do trabalho com

standards. Ao mesmo tempo, pretende-se que as estratégias aqui

trabalhadas sejam implementadas ao nível da fábrica, enquanto conceitos

generalizados, e que sejam reportadas as ideias de melhoria contínua que

forem surgindo ao Group Lean Centre, que funciona na empresa-mãe. É

nesse Centro que são definidos os módulos, materiais de apoio à formação

(em termos teóricos e informáticos) e os referenciais genéricos da formação

dos Centros lean, que depois são traduzidos e adaptados às realidades

específicas de cada país/empresa.

Outro cartaz que me mereceu especial atenção diz respeito aos objetivos

dos módulos de formação do CTP, que pretendem contemplar:

Entendimento único e uniforme sobre o sistema de

produção.

Sistemática estrutura de competências de tarefas

necessárias ao dia a dia.

Estandardização de componentes da formação prática.

Campos de ação e reconhecimento de mensagens a

considerar nas tarefas.

Relação do

CTP com o

Grupo Lean

Central

(o local e o

global)

Objetivos

gerais dos

módulos de

formação

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Aprender a atuar de acordo com o ciclo PDCA.

Extensão sistemática de competências para as áreas da

produção, nomeadamente em assuntos lean.

A estratégia de formação é implementada através dos módulos práticos e

as estações que são desenvolvidas/trabalhadas no Centro para cada área

estão em conformidade com um método de produção definido (standard).

O principal objetivo é estabelecer métodos efetivos e estáveis em prática,

através do trabalho de equipa.

No decorrer desta visita de observação, o coordenador informou que o

Centro foi inicialmente concebido em 2008 e começou a dar formação em

pleno em 2009, altura em que começou ele próprio a trabalhar no CTP,

vindo de um percurso de várias funções desempenhadas na empresa,

nomeadamente na linha de produção. Informou também que os

formadores que ali trabalham foram todos selecionados pela direção da

empresa em função da experiência em vários postos de trabalho e setores

da fábrica; ou seja, que a aposta no CTP é uma aposta na experiência

adquirida, nos trabalhadores e no know-how por eles desenvolvido ao longo

da vida profissional, sobretudo na empresa, não havendo recurso a

formadores externos.

Estratégias/m

etodologia de

formação

História do

Centro

Critérios de

seleção dos

formadores

Observações adicionais:

Em função da calendarização da formação, e de acordo com a opinião do coordenador sobre

qual o melhor tipo de formação para iniciar as observações, agendei a primeira observação

para o módulo Lean Games, nos dias 8 e 9 de junho.

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Dados da realização das observações

Data: 08 de junho de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Lean Games (Jogos Lean)

Duração: 7H (de 14H) (1º de dois dias)

Participantes: 3 formadores; 13 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Antes da formação começar, travei uma breve conversa com os três

formadores que irão ser responsáveis pela formação. Fiquei a saber que

serão 2 formadores principais e o terceiro estará presente para ir dando

apoio nas atividades, mas também como parte da sua formação como

formador, uma vez que entrou recentemente para a equipa do CTP.

Seguindo a sugestão deles, sentei-me num dos lugares destinados aos

formandos (que irão ser menos que os lugares disponíveis, segundo os

formadores), dizem que assim serei vista como mais uma formanda pelos

formandos e que isso fará com que sejam mais espontâneos. Também me

informaram que a formação do CTP tem tido muitos observadores – de

formadores em aprendizagem, de pessoas de diferentes áreas da fábrica, de

equipas de Centros Lean de empresas do Grupo de outros países e de

pessoas de outras empresas -, assim como as diferentes áreas da fábrica vão

tendo muitos observadores, pelo que é normal que os formandos se sintam

à vontade com pessoas “de fora”.

Perguntei quem são/de que áreas da fábrica virão e quantos serão os

formandos, ao que me responderam que “isso só sabemos quando a

formação começar”, porque nem sempre as pessoas são informadas, no dia

anterior, de que vão ter formação; na maior parte das vezes é de manhã que

os team leaders e as chefias decidem quem vem à formação, em função dos

fluxos da produção e do trabalho. Anoto este facto e transcrevo tão

fielmente quanto possível as palavras do formador, porque acho que é um

dado a reter para mais tarde analisar.

Formação dos

formadores

Presença

habitual de

observadores

no CTP

Constituição

dos grupos

Fluxos da

produção/sele

ção dos

formados

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A sala está disposta em U; eu fiquei num dos cantos da fila de

carteiras/cadeiras, com visão na diagonal, parece-me que assim consigo

visualizar melhor todos os formandos, formadores, quadros/placards de

trabalho. Ou seja, estou como que integrada no grupo de formação; não sei

se será a melhor posição, mas se achar que não favorece a observação ou

que não favorece o normal desenvolvimento da formação, aproveitarei um

intervalo para mudar de local.

Conversei também com os formadores sobre as condições da minha

assistência: que não irei intervir, mas irei explicar a minha presença, solicitar

o consentimento das pessoas e garantir o anonimato dos observados. Os

formadores concordaram, embora considerem que ninguém se irá opor,

nem mesmo a serem identificados. Já na visita inicial tinha falado com a

equipa do CTP sobre as caraterísticas e objetivos das minhas observações, e

o que me foi dito na altura coincide com esta postura descontraída dos

formadores, mas era importante retomar e esclarecer estas questões.

Explicaram-me os contornos metodológicos gerais da formação:

inicialmente, pretende ser uma formação mais “teórica”, expositiva, ao que

se segue um conjunto de exercícios práticos, de jogos, cujo objetivo será o

de demonstrar na prática, através de trabalho em equipas, como se pode

melhorar uma série de operações elementares na organização da produção

e do trabalho. A ideia é que sejam dois dias “diferentes dos dias de

trabalho”, que sejam lúdicos, mas que fomentem “o espírito de equipa na

resolução de problemas com que alguns dos trabalhadores lidam no dia-a-

dia”.

Achei importante registar desde já estas considerações de caráter mais ou

menos prévio porque me parecem revelar algumas situações de interesse

para o estudo. Aproveitei os momentos “mortos”, em que os formandos vão

chegando espaçadamente, a partir das 7H15, para tomar estas notas rápidas

em manuscrito, que terei de transcrever depois, uma vez que não me foi

autorizada a entrada de computador por ter câmara fotográfica integrada;

o coordenador garantiu que iria tentar contornar essa questão, por ser

Configuração

da sala

Apresentação

da

investigadora

e do objetivo

da observação

Metodologia

da formação:

a teoria e a

prática

Objetivo

lúdico

Restrições da

observação

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sensível ao trabalho adicional que isto implica. Ainda assim, refletindo sobre

estas questões, também me parece que a minha presença vá ser encarada

com maior naturalidade por estar acompanhada de um caderno e não de

um computador; a minha presença terá um ar mais informal, talvez.

Os trabalhadores-formandos vão chegando entre as 7h15 e as 7h30, hora

em que inicia a formação. A formação começa em sala. No total são 13

pessoas; só alguns estão vestidos com fardas de trabalho, o que parece

indicar que, ou não são todos de áreas de trabalho em que a farda é exigida,

ou apenas alguns foram informados antecipadamente sobre a formação,

conforme um formador havia comentado comigo anteriormente.

A formação começou pelas apresentações pessoais, sem informações muito

pormenorizadas – apenas nome, idade, local de trabalho, funções

desempenhadas que, em alguns casos, foram mais desenvolvidas por

iniciativa dos próprios. Dos 13 formandos, 9 são homens (com funções nas

áreas da montagem final, pintura, prensas e carroçarias) e 4 são mulheres

(duas vêm da montagem final, uma das finanças e outra da área da

logística).

A maioria não se cruzou em nenhuma área de trabalho, outros só se

conhecem de vista, alguns afirmam mesmo nunca terem sequer “visto”

determinado colega; o formador faz notar que a empresa é muito grande e

que são mais de 3000 trabalhadores, pelo que é normal que não se conheça

muita gente, nem de vista. Acrescenta que um dos objetivos da formação é

também de que as pessoas conheçam melhor os colegas e as diferentes

áreas de trabalho na fábrica, “partilhar experiências”. Ao longo das

apresentações, os formadores foram reagindo de forma a identificarem-se

com alguns dos postos de trabalho referidos – como também já tendo

trabalhado em diferentes áreas -, o que me parece ter contribuído para criar

um ambiente de empatia e confiança com a equipa de formadores.

Também eu me apresentei, de acordo com o que tinha definido e

combinado com os formadores. A reação dos trabalhadores foi, no geral, de

Composição

do grupo de

formação

Apresentações

dos

formandos

Postos de

trabalho de

origem

Objetivos da

heterogeneida

de dos grupos

Apresentação

da

investigadora/

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grande naturalidade e aceitação, alguns desejaram-me bom trabalho. Um

dos formandos fez uma observação curiosa: que já estavam habituados que

viessem pessoas de fora aprender com eles.

Apenas um dos formadores falou, sempre num tom de voz tranquilo, usou

linguagem clara e incentivou a que fizessem comentários sobre a sua

exposição. Apoiou-se na projeção de alguns dispositivos, não em demasia e

sem excesso de informação. Todos os diapositivos têm a marca do Grupo

Automóvel em rodapé, facto salientado pelo formador: tudo o que é dito

em Portugal sobre a empresa (aos trabalhadores), o seu percurso e os seus

objetivos, é dito em Espanha, na Polónia, no México, na Alemanha; em

todas as empresas do grupo.

A exposição centrou-se em questões de conjuntura económico-financeira

global, no momento de crise mundial, analisando o mercado neste setor da

indústria e apresentando o Grupo Automóvel e o seu posicionamento nesse

mercado no momento atual. Salientou a imagem de qualidade dos produtos

da marca, a preocupação com a coesão e coerência de estratégias entre as

empresas do grupo, os objetivos de liderança no mercado e apresentou

alguns números que revelam a evolução nesses objetivos.

Foi feita uma comparação persistente com as marcas concorrentes,

sobretudo no que diz respeito à relação entre o número de carros

produzidos ao longo dos anos, o número de vendas e a evolução do

emprego nas diferentes marcas que dominam o setor de mercado.

Mencionaram-se alguns dos desaires de outras marcas como também

estando na base do sucesso do Grupo, mas salienta-se que foi a forma como

a empresa soube desenvolver-se ao longo dos tempos que tem marcado a

diferença. O formador refere-se à atividade em Desenvolvimento e

Investigação como sendo da inteira responsabilidade da empresa-mãe, pelo

que todas as empresas do Grupo seguem standards de desenvolvimento e

de evolução que estão de acordo com as orientações emanadas da sede.

reação do

grupo

Postura do

formador

Apresentação

em

diapositivos

Conteúdos da

apresentação

do Grupo

Automóvel

Standards

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Durante esta primeira parte da formação foi notória a insistência em

informação que tem a ver com a “cultura de empresa”, cimentada num

acordo com os trabalhadores que segue a lógica do “compromisso mútuo”:

os trabalhadores conseguem mais eficiência e produtividade, a empresa

consegue mais emprego, melhores condições de trabalho e mais segurança

e apoio aos trabalhadores. A apresentação do sistema de produção

concebido pelo Grupo também revela essa preocupação, em demonstrar

que a produção depende das pessoas que a asseguram e que estas

dependem da forma como a produção decorrer.

O sistema de produção do Grupo foi apresentado ao pormenor. Por respeito

às questões éticas que se colocam na investigação, mencione-se apenas

alguns dos conceitos gerais em que este sistema assenta: a produção

sincronizada apoiada no valor acrescentado; a importância de uma

organização de trabalho em constante processo de melhoria contínua, mas

em que se procura a produção nivelada e estável; a valorização das ações

de proteção do ambiente. Alguns conceitos de produção são salientados

pelo formador como sendo os pilares do sistema de produção e que

subjazem à formação no CTP: os princípios de ciclo, de fluxo, de pull e de

procura da perfeição; todos, balanceados pela estação mais lenta. Em

simultâneo, a empresa pretende ser uma organização assente no

desenvolvimento dos empregados, na gestão de conhecimentos e na

melhoria contínua, como formas de garantir o desenvolvimento global da

organização, e não apenas de obter lucro rápido.

O formador salienta que o objetivo da empresa, ao implementar conceitos

de produção que promovem a redução do tempo de fabrico, com menos

defeitos e menos desperdícios, não é simplesmente que se acelere o tempo

de produção da empresa, o que explica em parte o tempo de espera que

existe com alguma regularidade para a entrega de alguns dos modelos da

marca. São várias as referências à ideia de que a empresa não pretende

apenas rapidez de construção; quer um equilíbrio entre a qualidade e a

rapidez, considerando que alguns dos conceitos lean implementados

permitem ajudar os trabalhadores a conseguir esse objetivo.

Cultura de

empresa

Compromisso

mútuo

Sistema de

produção e

conceitos

metodológicos

aplicados na

empresa

Conceitos de

produção e

redução do

tempo de

fabrico

Rapidez/equilí

brio da

produção

Enfoque nos

conceitos lean

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Um dos formandos reagiu dizendo que se “o cliente tiver de esperar

demasiado tempo, pode muito bem comprar um carro de outra marca”, ao

que o formador responde: ”Isso nunca acontece. Quem escolhe um carro da

nossa marca não quer outro qualquer só porque é mais rápido a chegar às

mãos. Mas nós temos de nos preocupar se a espera for demasiada. Pelo

cliente.”. De um modo geral, os restantes formandos concordam com a

observação do formador na defesa da empresa, apresentando razões que

levam as pessoas a preferir a “nossa marca”, como dizem com frequência.

Percebe-se que há uma identificação das pessoas com a empresa e os seus

valores, alguns formandos expressam-se como estando orgulhosos,

considerando “uma sorte pertencer a uma empresa assim”. Anotei a noção

de “pertença” à empresa.

Foi notório que, cerca de meia hora depois de a formação começar, os

formandos já participavam de forma constante. Estabeleceu-se uma

dinâmica dialogada, em que as pessoas colaboraram abertamente com as

suas perceções e as suas experiências na fábrica e não só. A minha presença

não pareceu em nenhum momento inibi-los, talvez funcionasse mesmo

como motivo pelo qual pretendessem expressar-se mais e melhor. Esta

observação foi-me feita pelo formador ao intervalo, embora salientasse

que, normalmente, as formações do Lean Games fossem assim, muito

participadas, e que a componente prática os estimula bastante, sendo que

alguns dos trabalhadores têm expressado até vontade de repetir a

formação. Segundo o formador, isso não é possível, uma vez que toda a

população a empresa tem de fazer esta formação, objetivo que ainda está

longe de ser atingido.

…………………………………………………………………………….

Cerca das 9h a formação recomeçou, mantendo o teor predominantemente

expositivo embora dialogado. Desta vez, optei por ir tomando notas (mais

pormenorizadas) à medida que a formação se foi desenrolando, uma vez

que verifiquei como o ambiente de formação era descontraído e a minha

integração como observadora era encarada com naturalidade.

Identificação

entre os

trabalhadores

e a empresa

Nível de

participação

dos

formandos

Motivação

pela

componente

prática

Métodos de

formação

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13

O formador dá muitos exemplos de situações ocorridas na linha de

produção, muitos deles advenientes da sua própria experiência profissional.

Isso incita os formandos a acrescentarem exemplos próprios, comentados

por outros que anuem ou adicionam mais exemplos. Foram abordados

conceitos que dificultam o processo de Just in Time, como a sobreprodução,

a manutenção de stocks, os tempos de espera, a distância entre as

peças/componentes e as estações de trabalho, as formas de transporte de

peças e componentes, os processos não ergonómicos, os processos

desnecessários e a comunicação ineficaz. A este propósito, anotei um

comentário específico do formador: “Foi talvez das coisas que mais

formação tivemos na ATRP, foi sobre comunicação, mas curiosamente é a

que mais falha”.

Sobre as falhas de comunicação, formadores e formandos apresentaram

várias razões: a inexistência de standards formalizados, a introdução de

alterações na engenharia da produção sem informação prévia, a falta de

auxiliares visuais em alguns postos de trabalho, a diferença de metodologias

de trabalho entre turnos. Segundo o formador, estas falhas estão na base

de alguns dos erros mais comuns e de retrabalhos, com custos para a

produção e para a organização do trabalho pelos próprios operadores de

linha.

Este é o mote para apresentar o primeiro exercício prático ou jogo

pedagógico. A realização do exercício seguiu algumas etapas de preparação,

a notar:

1 – Alteração da configuração do espaço e equipamentos da sala, com o

apoio dos outros dois formadores. Os formandos mantiveram-se de pé,

junto a uma das paredes, observando as alterações.

2 – Distribuição de cartões representando diferentes zonas/áreas da fábrica.

3 – Distribuição de caixas de diferentes tamanhos e de outros materiais

necessários para a atividade pelas diferentes mesas da sala, agora com uma

disposição diferente da inicial.

Conceitos lean

Questões da

comunicação

Importância

dos standards

Introdução da

1ª atividade

prática

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14

O formador principal enuncia o objetivo do exercício: vislumbrar e

experimentar o processo de Push (empurrar), um conceito de organização

do trabalho que designa o facto da estação seguinte determinar o ritmo do

trabalho a realizar pela seguinte (por oposição a Pull, em que a estação

seguinte define o ritmo da anterior). Segundo é explicado, o exercício

envolve 5 zonas de trabalho com funções distintas, representadas pela

reorganização das mesas, agora distribuídas pela sala numa lógica

aparentemente aleatória. Existem, assim, funções ligadas ao armazém (de

peças em bruto), à logística, à montagem final, à qualidade e à

armazenagem final.

O formador explica que a ideia é que todas as zonas se articulem da melhor

maneira possível para dar conta de encomendas específicas. O exercício

será feito em 4 rondas, de 5 minutos cada; o objetivo é ir melhorando o

processo a cada ronda, cronometrando-o e assinalando as falhas de cada

uma das rondas, propondo o que melhorar de uma para a outra. A cada um

é atribuída uma função, associada a uma das zonas.

O formador sai por momentos da sala com o grupo que designou como os

“observadores externos ao processo”, para informar sobre os critérios da

observação a realizar; eu acompanhei esse grupo em particular. O formador

explica que há, no meio das caixas normais, encomendas especiais que

estão assinaladas com uma sinalética específica - bolas de diferentes cores

coladas nas caixas; cada cor passa a corresponder a um dos observadores.

Os observadores têm de seguir o processo das caixas assinaladas com a cor

que lhe foi designada, sem revelar o que está a fazer, e ir cronometrando

essas encomendas à medida que passam pelos diferentes postos de

trabalho. O objetivo do exercício é ver a evolução do processo de produção,

ver quantas das encomendas assinaladas (com a cor de cada observador)

chegam ao final do processo, e tomar nota do que correu menos bem e pode

ser melhorado, apresentando pistas de melhoria contínua.

De volta à sala, há 5 formandos que estão em postos de trabalho, 4

formandos que verificarão a qualidade dos produtos e 4 observadores

Conceitos lean

Explicação da

atividade/seq

uencialidade

das operações

Metodologia

da atividade

Page 15: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

15

externos com os critérios “secretos” de observação. Os postos de trabalho

atribuídos foram: 1 elemento no posto de abastecimento, 1 operador de

logística, um operador em cada uma das mesas com caixas (1 nas caixas

grandes; 1 nas caixas pequenas), 1 operador na montagem final; a qualidade

e a armazenagem não tem operadores atribuídos. A função do operador da

montagem final é colocar um objeto pequeno dentro de cada uma das

caixas pequenas, que depois têm de ser colocadas em caixas maiores,

colando no topo de cada caixa grande um post-it que assinala o final a

montagem de cada produto. Os elementos da zona da qualidade verificarão

se a montagem as caixas está feita de acordo com os critérios definidos para

a montagem.

Reproduz-se o mais aproximadamente possível a configuração que a sala

passou a ter, com as posições de cada zona, funções e movimentações

definidas para cada formando/operador:

Reconfiguraçã

o da sala para

realização da

atividade

Zona de abastecimento geral

(com todo o material)

Abastecimento de caixas grandes

(1 operador)

Abastecimento de caixas pequenas

(1 operador)

1 operador

de logística

Zona da montagem final

(1 operador)

Zona da qualidade

(4 operadores)

Zona da armazenagem final

(sem operador atribuído)

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16

No final da ronda, foi assinalado como primeiro erro o facto do operador de

logística ter carregado a montagem final em excesso, na medida em que

transportava muitas caixas de cada vez para poder ser mais rápido a

fornecer a linha; com isso, foi empurrando – segundo o princípio de push - a

montagem para um ritmo acelerado e quase caótico de trabalho.

São marcados, num quadro especifico para o efeito, os tempos das

encomendas especiais marcadas com as cores dos observadores (foi para

esse efeito que foram assinaladas, para permitir que os observadores

fossem controlando o processo e o ritmo), das peças que ficaram nas

diferentes zonas de trabalho, notando-se que muitas caixas ficaram na

montagem intermédia (51), enquanto que finalizadas apenas foram 15.

Todos os pormenores desta ronda são assinalados: o espaço utilizado (cerca

de 40m2), o número de operadores funcionais (5), o tempo de ciclo (20

segundos), a média de peças por operador e do tempo de peças por cada

operador. Estes dados são registados no quadro referido, enquanto o

formador vai explicando que o objetivo era experienciarem os efeitos

negativos do push, dos problemas que surgem.

Nesta fase, cerca de 20 minutos são dispensados para o diálogo sobre os

diferentes aspetos importantes do exercício; os formandos são incitados a

identificar os problemas surgidos, os formadores (sobretudo os 2 mais

experientes) vão-se apoiando no que os formandos vão referindo para

introduzir alguns “elementos metódicos da produção”, nomeadamente o

pull e o fluxo. Formador principal explica que numa relação entre o cliente

e o fornecedor segundo esta lógica, há uma redução substancial de stocks,

com fases de armazenagem mais reduzidas e com fornecimentos de elevada

frequência (ou seja, mais fornecimentos de menos peças de cada vez).

A propósito destes conceitos, o formador vai perspetivando a evolução que

os modelos de produção têm tido até chegar à ideia do kanban, que designa

um ciclo de abastecimento numa lógica de “supermercado”, que permite

Conceitos lean

Análise da

atividade

pelos

formadores e

pelo grupo

Análise/reflex

ão

pormenorizad

a sobre a

atividade

Reflexão sobre

a ação

Conceitos lean

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17

controlar a cadeia logística, para que as componentes que entram no

processo de produção estejam próximas da linha como uma espécie de

“buffets estandardizados” (expressão do formador), integrando o sistema

pull.

No final desta primeira ronda e da subsequente discussão, ficam

preenchidos dois quadros distintos: um, em que se registam os tempos da

produção e o número de peças, nos diferentes postos e zonas de trabalho

simulados; outro, em que se identificam os tipos de desperdício –

sobreprodução, tempos de espera, transporte, stocks, movimentos,

defeitos/falhas e retrabalhos.

Segue-se uma segunda ronda, desta vez numa lógica pull: apenas poderão

transportar 3 caixas de cada vez e só são fornecidas mais caixas à montagem

final quando não houver caixas por montar. Ou seja, é a montagem final que

decide as necessidades de abastecimento de componentes.

Ao longo desta ronda, o formador vai dando dicas sobre a melhoria do

processo aqui e ali: forma de montar as caixas, de colocar uma dentro da

outra, de as transportar, entre outros pormenores de organização. No fim

da ronda, voltam a discutir os resultados e a registá-los nos dois quadros

anteriormente referidos.

Na terceira ronda, o operador de logística passa a fornecer as caixas uma a

uma (e não 3 de cada vez). Altera-se também a posição em que se colocam

as peças para a montagem final trabalhar, no sentido de ficarem mais perto

do local onde o operador vai retirar cada componente a montar (em vez de

aleatoriamente, como em ambas as rondas anteriores).

Nota-se perfeitamente que, no final desta ronda, os formandos já

perceberam a natureza do exercício e se envolvem mais ativamente na

discussão sobre os processos e formas de os melhorar. O ambiente é

estimulante e até eu fico com vontade de experimentar o exercício. O

formador teve de relembrar que teriam de fazer uma pausa, e cerca de 10

Sistematização

/racionalizaçã

o dos

resultados

2ª ronda da

atividade

prática

3ª ronda da

atividade

Relação do

grupo com a

atividade

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18

minutos, embora os formandos insistissem em fazer de imediato a quarta

ronda.

No regresso do intervalo, o formador salienta mais alguns conceitos de

produção envolvidos no exercício de simulação que têm estado a fazer,

salientando que os tempos de ciclo têm de ser nivelados por um conjunto

de fatores: as caraterísticas das encomendas dos clientes, as oscilações

dessas encomendas, o nivelamento e a sincronização desses ciclos com a

linha, até se chegar a um tempo de ciclo constante. O exemplo que é dado

sobre estas questões é a dos próprios produtos construídos na fábrica: se

fabrica um produto mais complexo, a seguir tem de colocar na linha (que é

única para todos os modelos fabricados) dois ou três produtos mais simples,

para que os tempos de produção continuem nivelados e constantes.

Para estes processos produtivos é fundamental a implementação de

standards, o auxílio de informação visual e a implementação de rotinas de

trabalho. Para isso, salienta o formador, é preciso que haja um

treino/formação eficiente dos trabalhadores, nomeadamente dos novos

trabalhadores e dos trabalhadores em regime temporário.

Esta questão suscita algumas opiniões da parte dos formandos, salientando-

se a importância que dão à formação prévia desses operadores,

nomeadamente em Fundamental Skills (outro módulo do CTP). Os

formadores concordam e afirmam que é muito complicado conseguir essa

“situação ótima”; para além disso opinam sobre o tempo de produção de

cada estação da linha, que consideram ser demasiado exigente para os

trabalhadores e ainda mais se forem inexperientes. Referem-se ainda casos

de pessoas que têm saído com bastante experiência, know-how, e

formação. A atitude de todos os participantes é muito descontraída, com

imensa vontade de participar e acrescentar exemplos práticos.

Notoriamente, a minha presença não tem sido obstáculo ao normal

desenvolvimento da formação, conforme os formadores assinalaram no

último intervalo.

Forma de

organização

da produção

Standards

Relação com

outros

módulos de

formação

Ambiente da

formação

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O tom de conversa é informal mas os formadores não se desviam dos

objetivos da formação: vão fazendo pontes entre as práticas

experimentadas com as do trabalho em contexto real, entre os conteúdos a

que a formação se reporta e as estratégias da empresa para a produção. Um

dos formandos comenta que “toda a gente da fábrica devia estar a fazer

esta formação”, ao que o formador responde que essa é a intenção; outro

formando acrescenta que todas as formações deviam ser “assim práticas e

tipo jogo”, comentário com que outros formandos concordam

abertamente.

Uma das questões da organização do trabalho que o formador introduz na

última ronda da atividade da formação é a de “espinha de peixe”; ou seja,

para uma linha principal, condutora da produção, há várias operações e

operadores secundários que contribuem. Salienta a importância crescente

que os operadores de logística terão, sendo um suporte cada vez maior para

a melhoria e rapidez dos processos produtivos. O formador informa que a

empresa está a melhorar os sistemas de abastecimento e que estão a ser

calculadas e implementadas rotas cíclicas de abastecimento em redor da

linha.

Depois desta breve introdução e novos conceitos e métodos de trabalho,

realiza-se a 4ª ronda. Desta feita, o formador lança o desafio para que os

formandos percam o tempo que acharem necessário para definir os

processos de melhoria, desde as posições, os postos de trabalho, a

configuração das bancadas de trabalho, às sequências de tarefas e formas

de organização da linha de montagem.

O formador transforma-se, neste período da formação, num mediador do

processo de melhoria, totalmente da responsabilidade dos formandos; vai

alertando para alguns aspetos e vai sugerindo que experimentem as ideias

parcialmente antes de montarem toda uma sequência de ações da ronda

final. O layout da sala foi mudado quatro vezes, como resultado desta

sugestão; nota-se uma influência sobre a configuração em “espinha de

Tom informal

Reação de

adesão dos

formandos às

atividades da

formação

Última ronda

da atividade

prática

Conceitos e

métodos Lean

Discussão/intr

odução de

melhorias no

processo

Reconfiguraçã

o do espaço

Page 20: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

20

peixe”, de que o formador falou antes, mas igualmente por ser a que a linha

de produção “real” também segue. Nas sugestões que fazem os formadores

utilizam a terminologia concetual que têm vindo a explicitar ao longo da

manhã, quer na teoria quer na prática, de modo que rapidamente os

formandos começam também a utilizar os conceitos de pull, fluxo, ciclo,

entre outros.

Esta é uma fase muito interessante da formação: todos os elementos se

envolvem na discussão, dando propostas, testando hipóteses, mudando de

opiniões, construindo novas ideias para o processo. Ao final de cerca de 30

minutos, os formandos tinham redefinido a organização da sala,

redistribuído as funções de trabalho e eliminado 2 postos de trabalho. Dos

5 operadores iniciais ficaram 3, o que também originou o comentário de que

“isto é uma tática para eliminar postos de trabalho”. A este comentário o

formador respondeu que, apesar das muitas reestruturações que a empresa

tem tido, ninguém tinha ainda sido despedido e que havia sempre funções

(diferentes) para desempenhar.

Esta ronda final, a que o formador chamou de “ronda de otimização”, foi a

mais bem-sucedida em termos dos indicadores analisados a cada

experiência realizada e assinalados nos quadros. Os formandos

manifestaram a sua satisfação por terem passado de 15 caixas feitas na

primeira ronda, 18 na segunda e na terceira, para 42 na última ronda. Esta

questão levou a discussão de volta à questão da eliminação de postos de

trabalho. O formador deu o exemplo de um exercício similar realizado num

Centro de Treino de uma fábrica na Alemanha, em que um grupo decidiu

fazer o exercício com apenas 1 operador, obtendo como resultado apenas

20 caixas. O exemplo gerou vários sorrisos e o formador acrescentou com o

que já tinha afirmado no início da formação: que o objetivo da empresa era

encontrar um equilíbrio entre a qualidade e o tempo de produção, não era

simplesmente fazer mais carros.

Perante a questão do formador sobre “qual o fator que acharam que mais

ajudou a melhorar o processo”, os formandos foram respondendo que a

Discussão de

propostas de

melhoria em

grupo

Tensões: a

eliminação de

postos de

trabalho

Realização da

ronda final da

atividade

Resultados das

melhorias

implementada

s/Eliminação

de postos de

trabalho

(Tensão)

Reflexão

conjunta

sobre

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troca de ideias, a partilha da experiência que já tinham em determinadas

tarefas, a união do grupo foram os fatores de melhoria. O formador

aproveitou as opiniões para salientar a importância do trabalho em equipa

na procura de soluções para os problemas do quotidiano do trabalho e para

a sugestão de melhorias.

Terminado este exercício, a formação interrompeu para almoço entre as

11.50 e as 12.35.

…………………………………………………………………………….

No período de almoço, em conversa com os formadores, foram-me dizendo

que todos os grupos dos Lean Games são muito interventivos e criativos,

porque a própria natureza dos exercícios apela a isso. Vão trocando ideias

comigo sobre a alternância que tentam imprimir entre os conteúdos

teóricos e os exercícios práticos, sobre a importância de motivar as pessoas

não só para aquela formação mas para as outras; uma vez gostando de

umas, esforçam-se por estar noutras, falam nisso aos team leaders, que nem

sempre têm disponibilidade de realizar um trabalho prévio de selecionar

“este ou aquele” que precisa mais de formação e na maioria das vezes

escolhem ou quem está com menos trabalho numa dada altura, ou quem se

oferece para ter formação.

Perguntei-lhes se não notavam que isso incentivava a que quem mais

formação tivesse, mais formação iria procurar ter, em detrimento de outros

com menos oportunidades de formação que iriam procurar menos tê-la; um

dos formadores respondeu que não têm sentido muito isso; outro referiu

que têm tido sempre muita gente que nunca fez formação no CTP, embora

alguns afirmem que vão com mais agrado porque “já ouviram dizer que a

formação do CTP é diferente, que não é seca”.

A satisfação dos formadores sobre aquilo que fazem e a forma como fazem

é evidente. A conversa vai-se desenvolvendo em tom natural, sobre coisas

da vida na fábrica e objetivos pessoais. Também me questionam sobre o

meu interesse pela formação do CTP, sobre os Processos de RVCC, entre

alterações/me

lhorias do

processo

Caraterísticas

dos grupos

dos Jogos Lean

Dificuldades

de

seleção/dispo

nibilização dos

formandos (da

linha)

Efeito

Mateus?

Imagem da

formação do

CTP na

população da

fábrica

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outros assuntos. Procuro não centrar a conversa muito nas minhas

atividades.

Em tom algo provocatório perguntei-lhes se não tinham saudades de

trabalhar na linha. Um disse de imediato que não; outro respondeu que às

vezes o stress da linha lhe fazia falta e o mais velho respondeu que antes do

CTP já não trabalhava diretamente na linha, mas do que se lembra não tem

muita saudade. Uma coisa que parece haver em comum com estes três

formadores foi o facto de terem tido vontade de voltar a estudar depois de

entrarem para o CTP, sendo que um deles está a terminar o ensino

secundário através do Processo de RVCC e os outros manifestaram vontade

de concorrer ao ensino superior.

…………………………………………………………………………….

O período da tarde começou às 12.35, com uma componente mais teórica.

A sala estava já reorganizada como inicialmente, em U.

A primeira temática abordada foi a dos 5S, entendidos como a base de uma

gestão lean. Formador principal continua a ser o mesmo; um segundo

continua a ser mais de apoio às questões colocadas e o terceiro mantém-se

como observador. Reparei que este terceiro formador está a tirar algumas

notas enquanto a formação decorre.

O formador aborda a origem dos 5S de passagem, associando-os ao

toyotismo e à filosofia de produção japonesa nos anos após a 2ª Grande

Guerra, que rapidamente se disseminaram pelo mundo da construção de

automóveis. A tradução que é feita dos conceitos japoneses é:

1- Arrumar

2- Limpar

3- Organizar

4- Estandardizar

5- Disciplinar

Trabalhadores

/formadores:

relação com

os postos de

origem

Percursos

experienciais e

motivações

para a

aprendizagem

Organização

prévia do

espaço da

formação

5S

Toyotismo e

sua base

histórica

Page 23: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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O formador passa à descrição de procedimentos a adotar para cada um dos

5S com base em imagens elucidativas (fotografias de locais de trabalho

antes e depois da aplicação dos 5S). É salientada a sua aplicação a vários

níveis e com muitas vantagens. Se os conceitos forem colocados em prática:

no local de trabalho apenas deve estar o que é necessário;

tudo se encontra no local definido;

o local de trabalho estará limpo e organizado;

as não-conformidades podem ser detetadas com maior facilidade;

os operadores conseguem treinar o ato de “agarrar sem olhar”;

há uma maior simplificação do trabalho, de um modo geral.

Este preâmbulo sobre os 5S introduziu um segundo jogo prático. Desta vez,

realiza-se fora da sala de formação, no espaço de trabalho prático contíguo

às salas do CTP. Este exercício tem um espaço próprio previamente

preparado, assinalado com um placard que diz “5S”. São formadas duas

equipas, de 6 e 7 pessoas. Num placard branco estão cartões de papelão

plastificado que são magnéticos (já tinha reparado neste placar quando fiz

a visita de reconhecimento do espaço). Cada cartão tem um número, são

várias dezenas e estão todos fora de qualquer ordem numérica ou tipo de

organização. Muitos deles estão tortos, ou “de cabeça para baixo”. O

objetivo do exercício é conseguir encontrar e assinalar com uma seta os

cartões do número 1 ao 50, sendo que a seta deve seguir a direção que o

número tem (ou seja, se o número estiver para cima, a seta segue esse

sentido, se estiver noutra posição, como diagonal, ou virado para baixo, a

seta a desenhar deve seguir sempre o sentido em que os número estão

colocados).

Os formandos não podem alterar a posição dos cartões, não podem retirar

nenhum; apenas identificar os números pretendidos e desenhar uma seta

no sentido em que surgem. O exercício terá a duração e 60 segundos. A

equipa A começou por conseguir assinalar 19 cartões e a equipa B assinalou

9. Na sequência desta primeira tentativa, os formandos foram incitados a

aplicar os dois primeiros “S”: arrumar e limpar. Assim, retiraram os cartões

Demonstração

de aplicação

de 5S ao posto

de trabalho

Introdução do

segundo jogo

Espaço/mater

ais (pré-

organizados

Descrição/real

ização da

atividade

Page 24: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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com números acima do 50, sem retirar os restantes das posições em que

estavam anteriormente, e limparam as setas que tinham desenhado. Agora,

o tempo diminuiu para 50 segundos.

Numa segunda tentativa, a equipa A conseguir assinalar 25 e a B conseguir

14. Depois desta tentativa, formador pediu que observassem o “caos” dos

cartões com alguma atenção, para ver se posteriormente conseguiam

encontrar a sequência de números com maior facilidade. Desta vez, o tempo

dado foi de 40 segundos, a equipa A assinalou 30 cartões e a B conseguiu

22.

No final da terceira tentativa, o formador pediu que os formandos

encontrassem a organização dos cartões que mais facilitasse a tarefa. Já

podem alterar a posição com que os cartões de 1 a 50 estão dispostos no

quadro. É de notar que os cartões têm diferentes tamanhos e formatos, os

números também têm tamanhos diferentes, o que dificulta a tarefa de

desenhar a seta por cima dos números, ainda que agora os formandos os

possam colocar todos numa posição mais favorável, ou seja, direitos.

Um dos formandos sugeriu que em vez de uma seta, agora que os cartões

estavam todos colocados na mesma direção, pudessem desenhar apenas

um risco, sugestão que foi aceite. Assim, a última ronda foi realizada em 30

segundos e ambas as equipas conseguiram assinalar os 50 cartões. No final

da atividade, o formador estabeleceu o paralelo com as imagens de locais

de trabalho que havia mostrado antes do exercício prático e solicitou as

opiniões sobre o que tinha melhorado após a aplicação dos 5S no exercício.

As opiniões foram todas no sentido de que, de outra forma, nunca teriam

conseguido assinalar os cartões todos. Alguns deram exemplos de situações

do quotidiano em que, mesmo sem que ninguém tivesse pedido, sentiram

necessidade de organizar o local de trabalho segundo aquela lógica. De um

modo geral, no entanto, o conceito do Kaizen está presente ao longo de

toda a linha de produção e é aplicado em todas as zonas, incluindo externas

à produção, segundo o testemunho das formandas das finanças e da

logística.

Várias

tentativas de

melhorar a

atividade

Discussão de

ideias sobre

como fazer a

atividade

Kaizen

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Foi feito um curto intervalo, de apenas 5 minutos, entre as 13.50 e as 13.55.

Alguns dos formandos mantiveram-se no mesmo local a trocar opiniões com

outros sobre situações familiares, comuns, formas de agir no trabalho com

a aplicação dos 5S. Alguns referiram-se inclusive à forma como aplicam o

conceito em casa (na cozinha, na despensa e no escritório, foram os

exemplos dados), desde que o começaram a usar na fábrica.

Depois do intervalo, a formação prossegue na zona de trabalho prático,

desta vez com um exercício de montagem de parafusos numa porta. O

chamado “jogo da porta” foi lançado sem muita orientação inicial, apenas

foi facultada uma ajuda visual de como proceder ao aparafusamento. Para

a atividade, os formandos dispunham de uma porta de carro numa estrutura

que facilitava o seu manuseamento, uma série de peças, entre parafusos,

ferramentas e colunas de som.

Foi notório que a equipa A não começou por arrumar nem limpar o espaço

previamente: a estratégia seguida foi escolher um elemento com

experiência na montagem final, enquanto os colegas forneciam as peças.

Também não utilizaram a ajuda visual. Demoraram algum tempo a

encontrar os primeiros parafusos, pequenos, no meio de muitos outros de

vários tamanhos. Lentamente, foram-se organizando: uns procuravam as

peças necessárias, outros passavam as peças, outros ajudavam aquele que

tinha sido designado de operador principal. No caso da equipa B, houve

alguma atenção e tempo dispensado à ajuda visual que foi fornecida. Em

qualquer dos casos, o tempo cronometrado de ambas as equipas não diferiu

muito, rondando os 5 minutos.

O grupo de formação regressou à sala, onde foram discutidos os erros

cometidos na montagem da porta e na organização prévia, tentando

relacionar ambas as questões. As sugestões que foram elencadas nessa

discussão (registadas no quadro pelo formador) foram:

aplicar os 5S à organização dos parafusos nas caixas;

Introdução de

nova atividade

Jogo da porta

– dimensão

mais

operacional do

que os jogos

anteriores

Estratégia das

equipas

Reflexão

conjunta

sobre o “erro”

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separar por caixas o tipo de peças e a quantidade necessária para a

montagem da porta;

sequenciar a utilização das peças;

acrescentar mais duas Powertools (aparafusadoras) aos

equipamentos disponíveis;

atentar às ajudas visuais.

É de atentar que, uma vez mais, a atitude do formador é de instigar ao

questionamento sobre as práticas, convocando não só as práticas na

formação como as que os trabalhadores têm no quotidiano do trabalho. Dá

igualmente muito valor aos exemplos da realidade da fábrica, expressa nas

suas experiências e nas dos formandos, a quem solicita frequentemente

exemplos concretos do local de trabalho.

As equipas voltam a realizar a tarefa, aplicando os procedimentos

anteriormente definidos (que demoraram cerca de 20 minutos em

preparativos), e o tempo de execução melhorou em 3 minutos. Estes factos

são realçados por um formando, no sentido de que se “perdeu mais tempo

do que aquele que foi ganho”. O formador salienta que, ainda que se

demore algum tempo a preparar o local de trabalho, essa preparação vai ser

útil para a repetição de muitas atividades e diferentes tarefas, pelo que

nunca é “tempo perdido”.

O formador pede a opinião sobre a análise que os formandos fazem do

processo de melhoria e o investimento feito nesse processo. Os formandos

salientam algumas questões como o facto do investimento material ter sido

pouco (apenas mais duas caixas e duas aparafusadoras), de se ter obtido

uma melhoria significativa. Um dos formandos diz que o tempo ganho “dava

para montar outra porta, mas este posto, na linha, tem de ser feito ainda

em metade deste tempo”; os colegas riem-se e concordam com a

observação.

De regresso à sala de formação, o formador faz uma síntese das atividades

do dia e uma sistematização dos conceitos que foram trabalhados através

Motivação

para o

questionamen

to das práticas

Repetição da

atividade/aplic

ação das

propostas de

melhoria

discutidas

Reflexão sobre

o

questionamen

to e a ação

Sistematização

dos conceitos

da produção

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dos jogos: refere-se em particular à prática de “aprender a ver”, de observar

o local de trabalho e de o organizar segundo a lógica dos 5S e da eliminação

de desperdícios - de produção, de tempo, de espaço, de movimentos do

operador, de peças disponíveis e do transporte dessas peças, de retrabalhos

por causa dos erros). Enfatiza que cada ação deve ter valor para o processo

e evitar ações desnecessárias. Reforça a ideia de que a comunicação (sobre

problemas e soluções) entre elementos da equipa e entre as equipas é

fundamental; dessa forma pode partilhar-se experiência e conhecimento,

numa lógica em que “todos ganham”.

Encerra a sessão afirmando que “espera que tenham gostado” e que

“amanhã voltem ainda com mais vontade, e ainda mais cedo. Tentamos

começar às 7.10 no máximo?”

Os formandos sorriem, confirmam que gostaram muito, que o dia passou “a

correr” e que amanhã chegam mais cedo. Alguns referem que hoje

chegaram “àquela hora porque só depois de chegar à linha é que o chefe

me disse para ir para a formação”. Após mais alguns comentários

apreciativos da formação e algo críticos sobre a forma de seleção e

organização dos grupos de formação, termina a sessão.

aplicados nas

atividades

Reações de

adesão à

metodologia

da formação

Opinião crítica

sobre a forma

de constituir

os grupos

Observações adicionais:

Tentei não tirar demasiadas notas durante a observação, para não inibir os formandos e os

formadores; no fundo, observo mas não quero que se “sintam observados”, ou que isso

molde demasiado as atitudes que têm. Aproveitei os intervalos para sistematizar o melhor

possível o que observei.

Os trabalhadores parecem aderir mais às metodologias da formação – por serem lúdicas e

funcionarem em equipas – do que à aplicação dos conceitos lean, propriamente.

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Dados da realização das observações

Data: 09 de junho de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Lean Games (Jogos Lean)

Duração: 7H (de 14H) (2º de dois dias)

Participantes: 3 formadores; 13 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Cheguei ao CTP às 7h. Já estavam dois formandos em conversa com um

formador e o coordenador; todos me cumprimentaram efusivamente. Um

dos formandos perguntou “então e a Sandra não faz a formação connosco

porquê?”. Respondi que apenas estava com eles para observar, que não

queria interferir, mas que estava a ser muito interessante a experiência. O

coordenador disse de imediato que se eu quisesse fazer a formação, estava

à vontade, era só dizer que isso se arranjava. Não me tinha ocorrido essa

possibilidade, foi o que respondi e fui sincera. Disse que ia pensar no

assunto, e por aqui ficou esta questão.

Às 7h10 estavam já todos os formandos e formadores presentes. A

formação recomeça em sala, o formador não perde muito tempo com trocas

de palavras iniciais e projeta um filme de teor cómico – um polícia na

autoestrada tenta apanhar um porco, que fugiu de um camião de transporte

de animais.

Após o vídeo, entre os risos e comentários dos formandos sobre as imagens

e sem explicar a intenção da projeção, o formador apresenta o tema central

do dia: o trabalho com standards. Só depois lança o primeiro desafio:

desenhar um porco. Cada formando recebe uma folha em branco e deverá

desenhar o animal o melhor que conseguir. O formador vai percorrendo a

sala e, olhando os desenhos de cada um, faz comentários como “isso parece

um gatinho”, “isso é um cão salsicha, oh Sousa”, “você está a aborregar o

seu porco”. Diz o formador: “Estão a ver? Um porco é um porco. Mas não é

fácil desenhar um porco.”

Desafio para a

investigadora

fazer a

formação

Visionamento

de filme –

motivação

para a

atividade

posterior

Atividade

lúdica –

“desenhar

porco com

standards”

Ambiente

informal e

envolvente

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Depois de pedir que todos mostrem os seus desenhos e de um primeiro

momento de risota e comentários jocosos, o formador pergunta: “Digam lá,

o que é que aconteceu?”. Cada um vai justificando a sua forma de desenhar

o animal, normalmente com a referência à falta de jeito para o desenho. O

formador salienta que cada um desenhou um porco sem standards nem

procedimentos definidos, pelo que cada um fez apelo à memória da imagem

que tem do animal e à sua competência para desenhar. Associando estas

questões com o que sucede na linha, o formador narra uma experiência

pessoal: quando chegou à linha, à estação de “laterais”, não sabia soldar,

pelo que foram os colegas que o ensinaram. Não conhecia os standards e só

ao final de uma semana é que conseguiu começar a soldar “mais ou menos”.

Por esta altura, e depois de um dia inteiro de formação, percebo que o

formador nunca se senta, circula muito em redor e no interior do U que as

carteiras fazem no meio da sala; fala em tom suave, nunca eleva a voz para

se fazer ouvir melhor, optando por esperar que os formandos acabem de

falar/conversar quando pretende retomar a palavra. É bastante bem

disposto e assertivo nos comentários que faz.

De volta ao tema/conteúdo em exposição: apresenta-se a noção de

standards – “são normas vinculativas para os processos de trabalho”;

“trabalhar com standards significa que as normas são conhecidas,

partilhadas e acordadas entre todos” (expressões do formador a partir de

informação projetada de alguns diapositivos). O formador esclarece que

trabalhar com base em standards não significa que os processos sejam

imutáveis: as ideias de melhoria mudam os standards, que permitem “falar

a mesma língua”, “detetar falhas e desvios”.

Refere-se ao psicólogo americano que originou o designado “ciclo de

Deming”: planear, executar, verificar, atuar (ou ciclo PDCA - Plan, Do, Check,

Act - no original). Explica que a existência de documentos de apoio à criação

de standards (como gráficos, procedimentos, diagramas e folhas de

trabalho standard) são exemplos que estão pela fábrica que revelam a

Ambiente da

formação

Standars

Postura do

formador

Standards

Melhoria

contínua e o

ciclo de

Deming

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importância de se adotar uma lógica PDCA nos processos de melhoria da

produção.

De seguida, o formador centra-se nas folhas de trabalho standard, ou SAB

(do alemão Standard-Arbeitsblätter), como vulgarmente são referidas na

fábrica), salientando a sua importância na sistematização da informação

sobre os processos e na clareza da linguagem utilizada, para que todos que

as leiam possam entender e reproduzir os passos de uma tarefa ou conjunto

de tarefas, que constituem os standards.

Passa-se à explicação de todos os campos de preenchimento da folha de

trabalho standard, com enfoque no que diz respeito ao espaço reservado

para os “motivos” de uma dada operação. Esta questão leva à troca de ideias

sobre a importância dos operadores saberem a razão de ser de uma

determinada operação, nomeadamente o porquê de ser realizada de uma

determinada forma. Alguns formandos salientam que a ausência desse

campo de informações faria com que se sentissem alienados das suas

funções e que isso não daria espaço para a proposta de melhorias.

Esta observação dá origem a uma troca de argumentos, no fundo em defesa

do esclarecimento dos trabalhadores e do domínio sobre as funções que

exercem. Os formados chamam a atenção para o facto de, apesar destas

folhas e informações existirem um pouco por toda a linha de produção, nem

sempre a linguagem usada é esclarecedora nem uniformizada, fazendo com

que cada um intérprete de diferentes formas a mesma informação.

Como forma de testarem a eficácia do trabalho com standards, o formador

apresenta uma proposta de exercício prático com uma SAB, através da qual

se explica como desenhar um porco. A reação do grupo é imediata: risos e

comentários do género “essa é boa”, “não sabia que havia standards para

porcos”, ao que o formador reage de forma tranquila dizendo que “todos

nós somos um pouco a repetição de um standard, com hipóteses de ser

melhorado”. Novo conjunto de risos, percebe-se que a analogia é bem-

humorada e consegue os seus objetivos.

Folha de

Trabalho

Standard

(SAB)

Informação

sobre a SAB

Discussão em

torno da

utilização das

SAB

Exercício

prático com

SAB

Desenho de

porco a partir

de SAB

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O desenho do porco com apoio numa SAB é feito no exterior da sala de

formação, em duas equipas, idênticas às do dia anterior. O quadro em que

a atividade é realizada tem uma imagem bastante aumentada da SAB e uma

folha com quadrículas numeradas para ir desenhando o porco de acordo

com as instruções que, pelo teor e pormenor das descrições, se tornam

extremamente cómicas. As instruções são muito precisas nos passos a dar,

como por exemplo “desenhar um M entre 1 e 2; um W entre 7 e 8 e entre 8

e 9”. No final, ambas as equipas tinham desenhado um porco praticamente

igual, sendo que as diferenças existentes foram atribuídas à falta de

melhores especificações em determinados traços.

Como segundo exercício com standards, os formadores (agora os três são

bastante ativos na formação, dois deles mais ao nível as explicações sobre

as tarefas, o mais novo ajuda ao nível da organização dos espaços, do

fornecimento dos materiais da formação e pequenas explicações a dúvidas

colocadas pelos grupos) propõem que cada equipa construa uma das duas

partes que constituem um porta-rolo de fita-cola e que criem a SAB

respetiva depois da operação feita. A equipa A terá como tarefa construir o

suporte metálico da fita-cola e a equipa B terá de construir o rolo que vai

suportar a fita-cola.

À disposição, as equipas têm um quadro com uma SAB aumentada, como a

do “standard do porco”, imagens (magnéticas) para colocar na SAB, uma

bancada de trabalho e material variado.

Os espaços de trabalho de cada equipa são distantes um do outro, para que

não possam acompanhar o processo desenvolvido pela outra equipa. No

final da atividade, haverá uma segunda ronda, em que as equipas trocam de

bancadas e terão de reproduzir a operação descrita na SAB da equipa

contrária. Desse modo, poderão verificar se, na prática, a SAB é inteligível e

reproduzível em operações por qualquer pessoa.

Em cada equipa fica um formador a apoiar os passos iniciais de montagem

do objeto em causa e a redação da SAB; após os primeiros 2 ou 3 passos, os

formadores afastam-se das equipas e deixam-nas trabalhar em autonomia.

Espaços/mater

iais da

formação

Exercício de

orientação

com SAB

construída por

outra equipa

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De vez em quando, regressam aos grupos para verem como o trabalho vai

evoluir; fazem alguns comentários orientadores, do género “Já pensaram

que os vossos colegas ao ler isto podem não perceber bem?”

O exercício demora cerca de 1 hora, com um pequeno intervalo pelo meio.

Quando as equipas tiveram de montar a peça com a ajuda da SAB da equipa

contrária, a montagem foi conseguida em cerca de 8 a 10 minutos. Ainda

assim, apesar do espanto geral pela simplicidade com que executaram esta

segunda parte da atividade, todos denotam que há partes da SAB que

podiam ser mais especificadas.

Cerca das 10h o grupo volta para a sala de formação, conversam bastante

entre si. Nota-se que os formandos estão ainda mais soltos e descontraídos,

interessam-se pelo que estão a fazer, comentam os processos, as vantagens;

também fazem algumas críticas à excessiva objetividade dos processos de

estandardização. As pessoas que não trabalham na linha de montagem

estão surpreendidas com o tipo de formação e a forma como se envolvem

nas atividades, os colegas da linha de montagem e de outras áreas da

produção elogiam as prestações dos elementos das finanças e da logística.

O ambiente é de grande empatia entre formandos e formadores, bem como

de aceitação sobre os conteúdos e os métodos da formação.

Após este momento de troca de palavras, o formador apresenta um novo

tema de formação: a troca rápida de ferramentas, ou SMED (Single-Minute

Exchange of Dies), um conceito também emanado da produção lean.

Segundo é dito, o objetivo principal da componente teórica, nesta matéria,

é a de conhecer o método, as medidas organizacionais e técnicas de redução

de tempo na troca de ferramentas, os elementos metódicos e os formatos

standard a serem utilizados. O formador principal volta a estabelecer uma

associação entre as questões referidas e o sistema de produção do Grupo.

Uma das justificações para a importância da SMED tem a ver com a

diversidade de produtos com caraterísticas diferentes que o Grupo constrói,

de uma forma geral, e que a linha, em particular, produz; para além disso, a

Conceito de

SMED

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lógica da produção em massa tem mudado para uma lógica de produção de

pequenos lotes de produtos que têm de ser cada vez mais diversificados.

O formador dá como exemplo da importância das técnicas de troca rápida

de ferramentas a diferença entre mudar os 4 pneus de um carro doméstico

(mais ou menos 1H) e a mudança de pneus num carro de corrida (cerca de

4,6 segundos). Isso só é conseguido através da eliminação sucessiva de

desperdícios, da estandardização de processos de trabalho, permitindo

acelerar o processo de troca, nesse caso.

Salienta também que há uma grande diversidade de tipos de ferramentas:

nas prensas, cada ferramenta pesa cerca de 40 toneladas (o trabalhador-

formando das prensas confirmou este dado), pelo que as técnicas de troca

são diferentes das trocas feitas na montagem. São feitas referências por

vários formandos a diferentes tipos, dimensões e funções de ferramentas

na fábrica.

Segundo a explicação feita pelo formador, e partilhada por alguns

formandos que revelam ter bastante conhecimento sobre esta questão, a

SMED é conseguida porque se transfere o máximo possível de trocas

internas para trocas externas às operações, que podem inclusive ser feitas

em simultâneo com outras operações. Isto implica um processo de

otimização, para além de observação e acompanhamento prolongados dos

processos de SMED e de muito treino específico.

Muito frequentemente, implica ferramentas muito caras e muita formação;

os trabalhadores com experiência neste tipo de operações salientam que

essa experiência é fundamental, mas que as pessoas mais velhas estão a

começar a sair da fábrica e que já deviam ter começado antes a transmitir o

conhecimento que têm sobre estas técnicas. Levanta-se novamente a

questão do investimento na formação dos novos operadores; a conversa

gira em torno deste assunto durante alguns minutos. O formador não

interrompe.

Quando a troca de ideias termina, o formador aproveita para salientar que

tem havido alguma preocupação em garantir a aprendizagem destas

Estandardizaç

ão dos

processos

Postura dos

formados face

ao trabalho

desenvolvido

(autocritica/m

elhoria)

Investimento

na formação

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técnicas e a sua melhoria; regularmente, são feitos filmes sobre as trocas

mais complexas de ferramentas como forma de registar os processos, para

posterior análise pelas equipas com vista à melhoria contínua e à passagem

de testemunho, também. É de notar que as imagens (seja fotografias ou

filmes) que têm sido projetadas, de bons e menos bons exemplos de várias

operações e processos, são recolhidas na própria empresa.

De novo, a conversa desenrola-se em torno da importância de cada um nos

problemas a resolver e nas melhorias a propor, combatendo uma “atitude

mais passiva por parte dos operadores” (palavras do formador). Com esta

observação, o formador aproveita para regressar à questão da melhoria de

movimentos dos operadores e a redução desse tipo de desperdício.

Outro dos elementos que contribui para a troca rápida de ferramentas é o

procedimento afeto à TPM (Total Productive Maintenance). Através da

identificação dos problemas prioritários, as equipas de melhoria contínua

detetam as suas causas, elaboram planos de ação e executam as medidas e

apresentam as melhorias conseguidas.

São vários os vídeos que o formador passa sobre propostas de melhoria de

processos em diferentes zonas da fábrica, que foram aceites e

implementadas, com ênfase para o facto de serem operações de melhoria

de baixo custo. No entanto, o formador refere-se a algumas melhorias em

postos de trabalho que foram motivadas por razões de segurança e

ergonómicas, cujas soluções foram de custo significativamente maior do

que os exemplos mostrados. Formandos concordam e vão dando alguns

exemplos que conhecem.

O formador parece ter noção de que está há já algum tempo (cerca de 1H)

a dar informações e trocar opiniões/exemplos com os formandos sobre

conceitos e sua aplicação na linha, mas sem exercícios práticos associados,

uma vez que afirma (quase de repente) “Bem, depois desta grande seca,

vamos lá para fora”, referindo-se ao início de outra atividade prática. Antes

de a apresentar, no entanto, é feito um intervalo de cerca de 5 minutos.

Combate à

passividade

dos

operadores

Conceito de

TPM

Exposição/exe

mplificação

acerca da

atividade de

troca de

ferramentas

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Iniciando-se cerca das 11h10, a atividade lançada é sobre técnicas de troca

rápida de ferramentas; implica o trabalho em equipa de forma a conseguir

mudar uma ferramenta “pesada” no decorrer de uma etapa do processo de

produção, com as mesmas duas equipas anteriormente formadas, apoiadas

pelos dois formadores mais experientes (o terceiro formador continua a ter

um papel sobretudo de apoio à formação). O formador principal explica a

tarefa, no que diz respeito aos diferentes passos, medidas de segurança e

ferramentas a utilizar, apresentando os equipamentos (bancadas de

trabalho e ferramentas). O instrumento central é um carro de treino –

apenas uma carroçaria sustentada numa estrutura construída para o efeito.

Cada equipa designa o executor da troca; há uma discussão prévia em cada

equipa sobre os passos a dar, notando-se que os formandos estão já muito

alertados para pormenores de preparação prévia, segundo as

aprendizagens de atividades anteriores. Há, portanto, uma aplicação prática

de conceitos e uma aplicação de aprendizagens a novos contextos.

Um operador, designado como o principal, irá dar os passos da tarefa,

orientado e apoiado pelos colegas, que distribuem funções entre si, como a

passagem de peças, sequência de procedimentos e correção do trabalho à

medida que for sendo feito. A tarefa implica um aparafusamento com

medidas e aturas concretas de parafusos, uma peça de carroçaria que está

presa num torno. A todo o tempo, os formandos têm de ir medindo a altura

de parafusos e furações. No final da primeira experiência, a equipa A

demora 2m26seg e a equipa B excede os 6 minutos.

No fim da experiência, os formadores pedem para que sejam identificados

os fatores de desperdício que motivaram a diferença de tempos de

execução, bem como os que podem ainda ser melhorados na equipa que foi

mais rápida. Como forma de realizarem uma nova experiência, o formador

disponibiliza outros recursos, que estão numa mala e que as equipas podem

escolher utilizar ou não.

Preparação de

exercício com

aplicação do

conceito de

SMED

Metodologia

da formação

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É de assinalar que os elementos que menos participaram na 1ª ronda, foram

incitados a ser mais ativos na segunda pelos próprios colegas e não pelos

formadores.

Sem serem pressionados quanto ao tempo de preparação para a segunda

tentativa, as equipas demoram cerca de 30 minutos a escolher previamente

as ferramentas, seccionando-as, discutem o melhor processo, tendo em

conta os tipos de desperdício que identificaram, para além de que testam

as opções que vão fazendo, às vezes sobre os mais pequenos detalhes.

Finda a preparação da segunda experiência, e dado que são 11.35, é feita a

interrupção para almoço, que se irá estender até às 12.30.

…………………………………………………………………………….

Cerca das 12h30 a formação é retomada. Um pouco antes disso, combino

com o formador que me ceda uns minutos no final da formação para poder

entregar um pequeno questionário aos formandos e aos formadores.

Segue-se mais algum tempo de discussão nos grupos, testes sobre detalhes;

treinam alguns passos intermédios, ferramentas; em alguns casos repetem

o treino. Um dos formandos afirma “Isto é que é treinar! Agora é que vamos

lá!”; outro diz que “Somos uma equipa, não somos? Então podemos decidir

que em vez de um só operador, precisamos de dois!”. Cerca de 20 minutos

depois começam as segundas rondas da atividade, completamente

diferentes das primeiras, sendo que todos ficam espantados, formadores

inclusive, uma vez que houve trocas de ferramentas que não chegaram a

demorar um segundo. Os formadores incentivaram os autores das ideias a

“registarem a patente e apresentar à administração”. Foi mais um momento

de grande descontração e troca de ideias sobre o que foi bem-sucedido,

desta vez.

Como uma nova atividade prática lançada, a tarefa principal recai sobre a

melhoria das ações a desenvolver em torno das atividades externas e

internas de trocas de ferramentas, a partir de uma simulação de sequências

de funções. Desta vez, as equipas distribuíram tarefas entre o

Discussão em

grande grupo

Noção de

equipa

Relação

formação/apli

cabilidade das

técnicas

abordadas

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manuseamento de uma empilhadora manual, a cronometragem do tempo,

a contagem dos passos/movimentos e o desenho dos movimentos em

diagrama de esparguete.

Nesta atividade, as equipas começaram de imediato não só com a discussão

sobre a distribuição de tarefas, sobre as ferramentas necessárias e se

deviam pedir mais algumas ou não aos formadores, como também

decidiram treinar a melhor forma de executar a tarefa, nomeadamente

alguns dos movimentos necessários, tentando evitar os que não o fossem.

Percebe-se que já entenderam plenamente a postura que se pretende

deles.

Após o primeiro ensaio, não muito bem sucedido por ambas as equipas,

seguiram-se as etapas habituais sobre a troca de opiniões sobre o que

correu bem e o que pode ser melhorado. A tarefa era bastante complexa,

implicando muitas movimentações, transporte, mudanças de ferramentas

(desde pequenas a outras de maior porte). Os formadores apelam aos

conhecimentos prévios dos trabalhadores e à sua experiência de trabalho

para implementar mais melhorias. Denota-se algum cansaço por parte dos

formandos; dois deles estão mesmo mais afastados do centro das

atividades.

Segundo o que conclui o grupo, de uma forma geral, a solução para alguns

dos problemas passa por ter já algumas das ferramentas pré-preparadas

(com cabos, peças, parafusos), de modo a que ao retirar uma, se coloque a

outra e seja só necessário ligar os cabos e aparafusar o que é necessário.

Alguns dos formandos dão exemplos de situações da montagem em que a

rapidez de uma estação só é possível porque as peças e as ferramentas de

troca já vêm pré-preparadas; formador afirma que aqui o princípio é o

mesmo.

Passam a tratar da mudança o layout do espaço do exercício prático,

formadores e formandos, de modo a poderem implementar as alterações

sugeridas e aceites por todos. É de realçar que, desta vez, não se trata de

concretizar alterações realizadas no seio de cada equipa, mas de adaptar

Diagrama de

esparguete

Nova

atividade

Distribuição

de tarefas nas

equipas

Treino

Conceito de

TPM

Apelo à

experiência

dos

trabalhadores

Soluções para

os problemas

(organização o

trabalho)

Mudança do

espaço

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todo o “cenário” de acordo com a opinião dos dois grupos/equipas. Desde

bancadas com rodas, para serem mudadas a meio da atividade, a sistemas

de calhas por onde correm peças mais pesadas, vários são os processos

melhorados em conjunto para se chegar a uma nova forma de fazer as

operações. Na repetição do exercício, várias são as melhorias

implementadas, sendo que são também várias as situações que os

formandos vão assinalando que podiam ser alteradas (apenas dois realizam

a tarefas e todos os outros que observam vão comentando).

Alguns formandos comentam que na linha nem sempre há tempo para

encontrar este tipo de soluções para os problemas e que valia a pena perder

um bocado para resolver algumas situações mais complicadas.

Aproveitando este comentário, o formador aproveita para chamar a

atenção dos restantes formandos sobre o facto de ser por essa razão que a

formação insiste tanto nos processos de melhoria do trabalho, e afirma:

“Porque no trabalho, na maior parte das vezes, não há tempo para pensar

nestas coisas e faz-se como sempre se fez, mesmo que não funcione bem”.

É feito um intervalo cerca das 14.10, de 10 minutos, uma vez que também

o formador nota que alguns formandos estão a aparentar cansaço.

De regresso à sala de formação, são projetados pequenos filmes de sessões

de formação no mesmo módulo, com vários exemplos de diferentes opções

sobre a forma de trocar rapidamente de ferramentas de pequena e média

dimensão. Vão sendo feitos comentários sobre os exemplos visionados,

tanto por formandos como por formadores.

De seguida, é projetado um filme sobre a zona das prensas que revela todo

o processo de modelagem e corte das peças, bem como as ferramentas

gigantescas a que já se tinha feito alusão em momentos anteriores da

formação. Neste momento, são sobretudo os trabalhadores das prensas

presentes na formação que explicam o que se vai vendo, mais que os

formadores (e a pedido destes). Informam, inclusive, que a área das prensas

tem uma Unidade de Negócios que desenha e corta peças para outras

marcas de automóveis.

Repetição da

atividade

depois de

implementada

s as melhorias

propostas

Diferenças

entre

formação e

trabalho

Exigência da

linha de

produção

Visionamento

de filmes

alusivos às

ferramentas

metodológicas

em foco

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Após o visionamento deste último filme, com cerca de 20 minutos, o

formador anuncia que o módulo está prestes a terminar, pedindo que os

formandos preencham um questionário de avaliação da formação. Neste

questionário, que é anónimo, é solicitada a opinião dos formandos

(classificada de 1 a 4) sobre a adequação da duração da formação, do

equipamento, do espaço, do material usado, dos métodos, bem como a

aplicabilidade dos conhecimentos adquiridos; para além disso, é pedida

uma avaliação sobre o formador, respeitante à clareza do discurso, ao

domínio dos assuntos abordados, à gestão do tempo, à relação e qualidade

da interação com o grupo e aos métodos utilizados, solicitando ainda um

balanço global sobre a sua prestação. Segundo o formador, esta avaliação é

depois analisada pelo CTP e partilhada com a área de que depende o seu

funcionamento (Área da Produção).

Formadores despedem-se e agradecem aos formandos a presença e a

participação; o formador principal encerra formalmente o módulo

agradecendo e acrescentando “foi um prazer”, desejando que o trabalho

que fizeram ali tenha sido útil de algum modo. Afirma também que tem

consciência de que para uns, a “formação se encaixará melhor no seu posto

de trabalho”, mas que a informação passada pretende ser transversal a

todos os setores da empresa. Elementos que não fazem parte da área da

produção afirmam que foi muito útil para perceber todo o processo de

produção da fábrica e para valorizar a forma como os operadores

desenvolvem o seu trabalho. Afirmam ainda que muitos dos conceitos que

foram apresentados ou já são ou podem vir a ser aplicados nos seus locais

de trabalho, embora de uma forma diferente da produção.

Por fim, o formador passa-me a palavra, terminando com um

agradecimento pela minha presença e interesse na formação do CTP. Eu

agradeço a aceitação da minha presença e a simpatia que todos

demonstraram, reforço a importância de ter podido observar a formação e

o facto de terem sido todos tão naturais, apesar de estar ali um elemento

exterior ao ambiente, da formação e da fábrica. Um formando afirma que já

me conhecia de sessões de esclarecimento sobre o RVCC, outro diz que já

me tinham visto “pela empresa”, e reforçam, de uma maneira geral, que já

Avaliação (da

satisfação) da

formação

Fundamentaçã

o dos

exercícios de

melhoria na

formação, em

relação com o

trabalho

Agradeciment

o pela

disponibilidad

e em “serem

observados”

Reação dos

trabalhadores

à observação a

formação

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estão habituados a serem observados. Riem-se, eu agradeço novamente e

peço mais uma pequena colaboração, através do preenchimento de

questionários. Reagem bem, preenchem o questionário, despedem-se de

mim amavelmente.

Observações adicionais:

Desta vez, decidi não almoçar com o grupo de formadores e ficar na sala de formação para

“afinar” alguns pormenores da descrição sobre as observações feitas. Acrescento também

alguma reflexão pessoal que a releitura de algumas passagens me sugere.

Tratou-se de uma manhã com muita informação, não sendo tão simples como parecia

inicialmente decidir o que vou descrever pormenorizadamente e o que vou mencionar sem

maior profundidade. Os conteúdos e temáticas da formação parecem estar a predominar nas

descrições que vou fazendo. Por outro lado, este segundo dia dos Lean Games tem sido mais

preenchido com conceitos, que convocam outros (nomeadamente os que foram trabalhados

ontem). Ou seja, a formação tem estado também mais centrada nos conceitos, e em conceitos

mais complexos.

Considerando que devo olhar melhor para os métodos, atitudes, meios utilizados, ocorre-me

que os métodos são predominantemente ativos, alternando com momentos expositivos e

demonstrativos. Há uma grande assertividade por parte dos formadores, sobretudo aquele

que assume um papel mais central na formação. O clima é de empatia generalizada, de

colaboração com a equipa de formadores e entre todos os que fazem parte do grupo de

formação.

Denota-se que há práticas cimentadas de trabalho em equipa nas funções desempenhadas

no dia-a-dia que os trabalhadores-formandos facilmente transportam para a formação,

quando a isso são desafiados; os formadores também contam com isso. As decisões são

tomadas em conjunto, senão nas primeiras rondas das atividades - sendo que nestas os

formadores também não atribuem um tempo específico para a sua preparação, talvez para

que haja matéria para discussão e melhoria posterior -, sem dúvida nas segundas experiências

sobre a mesma atividade.

As atividades práticas são lúdicas e estimulantes, reportam-se diretamente a situações do

quotidiano da produção, com enfoque para tarefas da montagem final e algumas das

carroçarias. As prensas e a pintura não têm sido muito abordadas e/ou ilustradas, mas são

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áreas muito específicas, que exigem uma preparação muito concreta e o seu treino exige,

também, equipamentos diferentes e mais exigentes dos que aqueles que o CTP detém. Sobre

isto mesmo falava com um dos formadores num dos intervalos.

Há uma preocupação constante em associar as atividades, por um lado, ao exercício

quotidiano do trabalho e, por outro, aos conceitos do sistema de produção do Grupo, que são

fundamentalmente influenciados pela lógica lean. Ou seja, há uma forte articulação entre a

formação, o trabalho em concreto e a produção enquanto sistema estruturante das ações do

trabalho. Isto pode querer dizer que a formação serve de suporte à apreensão dos conceitos

da produção que, de alguma forma, parecem não estar ainda a ser aplicados em pleno na

organização do trabalho. Os exemplos dados pelos formadores e pelos formandos são

exemplo de preocupações sobre a uniformização nos processos e procedimentos; a ênfase

colocada sobre a necessidade dessa uniformização e otimização - sobre a estandardização, a

aplicação dos 5S, a eliminação de desperdícios, por exemplo -, tem sido uma constante da

formação neste módulo.

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Dados da realização das observações

Data: 16 de setembro de 2011

Horário: 7H00 às 15.30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo L.E.G.O. Line (Linha L.E.G.O.)

Duração: 7 horas

Participantes: 2 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-

Chave/Temáticas

A formação começa cerca das 7H10 e decorre em sala. Esta sala é, tal como

a outra que já conhecia, grande e bem iluminada. O centro da sala é

ocupado por uma estrutura feita de barras de alumínio que sustentam um

tapete rolante na horizontal, à altura da cintura, onde estão vários

tabuleiros dispostos em fileira; à volta dessa estrutura estão várias racks

com caixas de material variado, que percebo serem sobretudo peças de

Lego.

A estrutura é notada por todos os formandos que vão chegando, que se

aproximam para ver melhor de que se trata. Uns comentam “São mesmo

peças de Lego”, “Olha, vamos montar Legos” ou “Isto é uma linha de

montagem, tal e qual”. No fundo da sala estão cadeiras encostadas à

parede, em que os formandos se vão sentando segundo a orientação dos 2

formadores presentes. Há 15 cadeiras disponíveis, sento-me a uma das

pontas da fileira. Os formandos são 12.

Durante cerca de 20 minutos, os formandos apresentam-se a pedido dos

formadores – nome, idade, situação na empresa, estado civil, são alguns dos

dados pessoais referidos. A maioria dos trabalhadores não se conhece,

sendo que há pessoas pertencentes à Pintura, às Carroçarias, à Montagem

Fina, Qualidade (a maioria), Finanças, Logística e Recursos Humanos. Depois

disso, um formador informa que estão dois observadores externos: eu (que

me apresento e esclareço as razões da observação) e um outro elemento,

que se apresenta de seguida. Trata-se de um responsável pela melhoria

contínua numa empresa, que tem estado a observar alguma da formação

na ATRP e noutras empresas para construir um plano de melhoria para

aquela em que trabalha. Só depois os formadores se apresentam. Referem

Materiais da

formação

(peças lego;

estrutura feita

propositadament

e para este

módulo)

Reação positiva

dos trabalhadores

aos materiais da

formação

Apelo ao lado

lúdico

Apresentação dos

formandos

Caraterização do

grupo de

formação

Observadores

(outro, para além

de mim; de uma

empresa)

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a experiência profissional na fábrica, comentam que estão ali alguns colegas

de postos em que já trabalharam.

Um dos formadores começa por explicar a agenda do dia de formação e

salienta os objetivos da formação: reconhecer as noções de desperdício, de

otimização e de qualidade, para além de alguns dos princípios basilares de

organização e desenvolvimento das tarefas do trabalho na empresa, como

o trabalho em equipa, a qualidade e os processos de melhoria contínua.

Explica o significado da designação do módulo, de origem alemã:

L – Lernen (aprender)

E – Erleben (viver)

G – Ganzheitlicher (global)

O – Optimieren (otimizar)

O formador explica que o objetivo é que todos os trabalhadores façam esta

formação, de todas as áreas e independentemente do tipo de vínculo à

empresa: cerca de 3.000 pessoas já o fizeram (muitas delas, antes de existir

CTP) e faltam cerca de 500.

Segue-se um momento expositivo, muito semelhante ao que já havia

observado no início dos Lean Games. Para além da evolução do Grupo

Automóvel e da empresa e dos seus objetivos no mercado a médio prazo, a

exposição refere-se à importância dos mercados em crescimento (Índia,

Brasil, China). Formadores explicam que todos os dados relativos à empresa

são dados oficiais, compilados pela empresa-mãe e enviados a todos os

Centros de Treino de todas as empresas do Grupo que têm estes Centros. A

exposição prossegue com a explicação dos conceitos de base e princípios do

sistema de produção do Grupo, apoiada em diapositivos (em tudo

semelhantes ao dos Lean Games).

Após cerca de 30 minutos de exposição, sem interrupções por parte dos

formandos (que, embora não participando, parecem interessados e alguns

Apresentação do

planeamento da

formação

Significado de

L.E.G.O.

Abrangência da

formação –

destina-se a

todos os

trabalhadores

Apresentação do

Grupo e dos

conceitos de

produção da

empresa

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tomam notas), os formadores passam a explicar em que consistem as

estruturas que estão no meio da sala, cujo esquema se tenta reproduzir no

essencial:

Depois da explicação dada, um dos formadores lança uma questão ao grupo:

“O que consideram ser importante para que uma linha de montagem

funcione bem?”. A esta questão, os formandos vão dando algumas

respostas que vão sendo anotadas num quadro flipchart, que foram as

seguintes:

Informação

Afluência de peças

Treino

Boa disposição dos operadores

Especificações e instruções no local de trabalho

Ergonomia

Coordenação entre equipas

Organização do

espaço/materiais

Funcionamento

da linha de

montagem/organ

ização do

trabalho

Zon

a d

a Lo

gíst

ica

(rac

ks c

on

ten

do

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xas

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Zon

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Boa liderança

Depois de alguns minutos de troca de opiniões e esclarecimentos sobre a

importância e cada item assinalado, um dos formadores passa à explicação

da tarefa. Neste caso, como até aqui tinha intervindo apenas um formador,

é explicado que um deles assumirá mais a componente teórica e o outro a

componente prática da formação.

Depois de um curto intervalo, cerca das 8H30 a formação é retomada. O

formador da componente prática apresenta a atividade, na qual o grupo se

irá organizar como uma equipa de trabalho para fazer a simulação de uma

sequência de operações. Formador explica que cada posto de trabalho tem

uma carta de especificação no local, com um exemplo (imagem e texto

explicativo) de cada uma das partes do carro já construídas com essas

especificações.

No que diz respeito à zona da logística, o grupo deve decidir o que entra e

sai da linha, sendo que isso faz parte da organização do trabalho de equipa.

O objetivo inicial é construir dois carros: um amarelo com o volante à direita

e um preto com o volante à esquerda.

O formador explica que as peças disponíveis na logística estão classificadas

com códigos que distinguem as peças dos carros com volante à esquerda

dos carros com volante à direita. É explicado que a primeira tentativa de

montagem é apenas uma experimentação inicial: serve para repararem nos

pequenos detalhes, nas dificuldades surgidas, para depois poderem

preparar melhor a simulação.

É visualizado um filme que retrata todos os passos da montagem, com a

devida explicação das operações. De seguida, apenas 1 formando faz a

testagem do exercício. Esse formando é o que vai assumir o papel de team

leader do grupo, que é acompanhado de perto pelos formandos que

assumirão os diferentes postos de trabalho. A ideia é que o team leader seja

o primeiro a experimentar as dificuldades do exercício e que dê o exemplo

aos elementos que fazem parte a sua equipa. É de notar que o formando

Partilha de

opiniões

Apresentação/ex

plicação da

atividade

Logística

Organização de

materiais da

atividade

Visualização de

filme

exemplificativo

da atividade

Experimentação

do exercício

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escolhido como team leader não tem qualquer experiência como tal, nem

trabalha na área da produção, mas nos recursos humanos.

Esta analogia é notada pelos formandos, ao que o formador confirmam: “na

formação como na realidade, deve ser o líder a dar o exemplo”. Apesar da

simulação de linha ter autómatos, esta está parada enquanto se vão

realizando as tarefas de cada posto de trabalho assinalado. O formador

também vai acompanhando o treino de perto, alertando para alguns

pormenores das operações.

Os formandos que desempenharão o papel de operadores de logística

observam todas as operações realizadas e vão tomando notas sobre as

peças e os códigos a elas associados para decidir que peças irão alimentar a

linha. Enquanto isso, o segundo formador vai alertando também para alguns

procedimentos da logística (como separar as peças, dividindo-as por caixas

e, eventualmente, decidir novas formas de codificação, mais evidentes para

os operadores).

Após esta experimentação, todos os passos da atividade são preparados

com muita cautela, sendo que o grupo reúne cerca de 5 minutos para:

Definir um nome para a equipa.

Decidir o número de carros que terão como meta de produção. O

grupo define que a meta será de 4 a 6 carros e o formador irá depois

balancear a velocidade da linha em função desse objetivo.

Fazer uma “limpeza” da linha, retirando de lá tudo o que foi

colocado no exercício de treino prévio.

O formador faz notar que, depois de iniciada a tarefa, a linha só é parada

por ordem do team leader, através da frases “Para a linha”. Depois, a

produção só reiniciará com a frase “Arranca a linha”. Estas ordens são

gravadas num autómato pelo team leader. A velocidade da linha é

balanceada para 6 carros, 12 minutos. Toda a sequência será filmada pelo

formador, para posterior análise pelo grupo.

Importância da

liderança

Atividade de

observação e

análise

Preparação da

atividade

1ª ronda da

atividade

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A primeira simulação completa do exercício é então realizada. Nos minutos

iniciais tudo decorre com tranquilidade, mas a partir dos 2 minutos iniciais

começam a surgir os primeiros problemas. Há carros cujas peças vêm mal

montadas de estações anteriores e os operadores do meio da linha acabam

por ter de perder mais tempo com cada um. Num tom divertido, começam

a trocar comentários entre si, como “eu já sabia que ias fazer asneira, pá”,

“oh, estava-se mesmo à espera!”, “Isto já estava a correr bem demais”. O

team leader vai intervindo, tentando ajudar na correção das peças. Pelo

meio, vai incitando a equipa, dizendo “Vá lá, vá lá, o tempo está a passar”,

“Oh Nunes, vê lá se consegues dar ali uma mãozinha ao Zé”, “Isto também

não é o fim do mundo, tudo se arranja, a gente consegue”.

Depois dos 12 minutos passados, a linha para automaticamente. O grupo

reúne-se em redor da bancada final, que representa a zona de

armazenamento dos carros, para observar a obra feita. O formador verifica

a qualidade dos carros: 4 estão bem construídos, 2 têm pequenos defeitos.

Vai brincando com os defeitos encontrados: “Epa, estas portas nunca na

vida iam abrir”, “Eu gostava de saber para que serve um carro onde não se

consegue entrar!”. Todos os formandos se riem, enquanto vão comentando

o que poderá ter corrido mal na montagem de algumas peças. Ninguém do

grupo está distraído, todos dão atenção ao que se vai analisando e vão

dando opiniões.

Depois de assinalar os defeitos com bolas autocolantes coloridas, que

distinguem o tipo de gravidade dos defeitos, o grupo dirige-se para a linha:

contam-se os carros que ficaram a meio da construção, são 11. O formador

vai fazendo notar alguns problemas de organização do trabalho. Por

exemplo, a linha estava sobrelotada, levando a que o formador comentasse:

“ainda não eram carros e já havia trânsito”, sendo que 6 estações tinham 11

tabuleiros de trabalho. O formador revela um ótimo sentido de humor,

cativando facilmente os formandos. O ambiente é muito descontraído e

informal.

Com base no panorama da linha simulada, o formador refere-se ao princípio

pull e afirma que o mesmo não foi aplicado; os formandos acabaram por

Ambiente da

formação

Relação

interpessoal

Análise/reflexão

sobre a atividade

Sinalização do

erro

Conceitos da

produção

Introdução do

princípio push

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aplicar o push, ou seja, “empurraram” trabalho demais na linha de uma

estação para a seguinte. O grupo concorda, alguns formandos afirmam que

mesmo na linha de montagem da fábrica todos conhecem o princípio pull,

mas normalmente o que cada estação quer é despachar trabalho. O

formador afirma que não adianta de grande coisa, porque na linha de

montagem real não se consegue “empurrar os carros”, mas que o princípio

de push é mais grave ainda no abastecimento das linhas e noutras zonas.

O formador observa que a logística está pouco organizada, pelo que desafia

os responsáveis dessa zona a repensarem o espaço e a forma de

abastecimento das peças à linha. É depois feito um intervalo de cerca de 10

minutos, durante o qual os formandos, apesar de saírem do espaço da

formação, continuam a comentar entre si a atividade e os detalhes a

melhorar.

No regresso do intervalo, o formador projeta o filme que fez da atividade,

pedindo que o grupo tome notas sobre o que vão vendo, o que lhes parece

menos bem e onde é que os problemas começaram, para “depois reunirem

com a administração e fazerem as vossas sugestões e pedidos, ok?” (todos

se riem).

No final do filme, é anotado num flipchart um conjunto de

problemas encontrados:

Algumas ações de operadores são dispensáveis; outros estão

sobrecarregados de trabalho.

Aceleração excessiva dos tabuleiros na linha.

Há erros de produção que são provocados pela

sobreprodução/sobrealimentação da linha.

Na logística, a divisão de peças pelas caixas e das caixas pelas racks

está mal concebida, não facilita a alimentação racional da linha.

O formador mais vocacionado para a componente teórica aproveita estas

“deixas” para introduzir mais alguns conceitos ligados à otimização dos

processos produtivos, tais como:

Tipos de desperdícios

Autoscopia

Reflexão sobre a

atividade me

conjunto

Formador

“vocacionado”

para as questões

teóricas –

apresentação de

conceitos lean

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Noção de valor acrescentado

One touch/one motion

Poka Yoke

Espaço necessário para uma estação

Espaço de trabalho sem sobreposição

Distância das peças/componentes

Enquanto este formador explica estes conceitos, são várias as intervenções

dos formandos, ora por quererem mais esclarecimentos, ora para dar

exemplos concretos que conhecem, ora para acrescentar informação.

Denota-se que a maioria já está familiarizada com os termos, alguns dão

mesmo exemplos da vida pessoal para os ilustrar. Parece mais uma partilha

de informações do que uma exposição de caráter teórico. Enquanto isso, o

outro formador (da componente prática) vai arrumando todo o espaço da

atividade, recolocando as peças nos locais iniciais, sem intervir.

Depois da breve exposição “teórica”, que durou cerca de 30 minutos,

definem-se alguns objetivos de base para a reformulação da nova ronda da

atividade: reorganizar os postos de trabalho, reduzir os desperdícios,

identificar melhorias que permitam “zero falhas” e melhorar a ergonomia

de algumas posturas dos operadores. O formador lança as regras para esse

trabalho:

Podem alterar a posição das racks da logística.

Não podem alterar a posição a linha de montagem.

Não podem alterar as peças atribuídas a cada posto.

O posto número 5 pode ser a “cobaia” das alterações, que depois

são estandardizadas.

Não podem transferir operações para outros postos.

É feito novo intervalo, após o que o grupo se reúne e, sem a intervenção dos

formadores, constroem propostas de melhoria para o exercício. Um dos

elementos do grupo anota as alterações a propor no flipchart. O formador

Debate em torno

dos

conceitos/exempl

os da linha

Preparação de

reformulação da

2ª ronda do

exercício

Construção

conjunta de

proposta de

reformulação a

organização do

grupo

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faz notar que, depois de almoço, o “administrador” (papel que ele assume,

no roleplay) irá analisar as propostas e decidir quais são aceites.

Cerca de 45 minutos depois o grupo interrompe as tarefas para almoço,

entre as 11H45 e as 12H30.

………………………………………………………………………………

De volta do almoço, são debatidas as propostas apresentadas pelo grupo

para melhorar o exercício. O formador vai estabelecendo paralelismos entre

as propostas que os formandos apresentaram e os conceitos anteriormente

apresentados (que agora estão afixados num quadro de cortiça, que o

formador trouxe para poder ir fazendo a análise das propostas).

O formador faz associações com as situações e postos de trabalho que

conhecem, enfatizando a possibilidade de transporem a “postura de

melhoria contínua para o trabalho real”. Ao conjunto de propostas dos

formandos, o formador acrescenta mais algumas sugestões, que são

aceites, como a introdução de ajudas visuais que ajudem a distinguir as

peças para abastecimento mais rápido da linha. Na prática, etiquetas com

cores diferentes para os diferentes tipos de peças/postos. No final desta

parte do trabalho, o formador insiste na ideia de que, no posto de trabalho

real, as equipas devem sempre fazer sugestões de melhoria, “que algumas

hão-de ser aceites”.

O formador sai então da sala com o team leader, para fazerem as ajudas

visuais, pedindo que todos fiquem a aguardar enquanto o fazem. O grupo

sugere que podem ir avançando com o trabalho, mas o formador que ficou

na sala insiste que devem esperar. Nem dois minutos depois, o outro

formador e o team leader regressam, já com todo o material necessário

etiquetado e reorganizado, que na verdade estava uma sala contígua,

pronto para ser usado nesta parte da formação. Todos se riem. Um dos

formandos comenta:” olha se na linha fosse assim tão rápido alterar as

coisas!”. O formador insiste: “Pode não ser tão rápido como aqui, mas

devem sempre tentar mudar as coisas”.

Debate sobre as

propostas de

melhoria

Associação com

os postos de

trabalho

Incentivo à

melhoria

contínua no

posto de trabalho

Reorganização

dos

materiais/espaço

s da atividade

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O formador e a team leader reorganizam a zona da logística, substituindo as

caixas, dando algumas explicações sobre a nova organização do espaço.

Algumas das melhoria parecem implicar custos, conforme é notado por

alguns elementos, mas o formador explica que na maioria dos casos se trata

de materiais reciclados de outras operações e equipamentos.

De seguida, os formadores atribuem 30 minutos para que o grupo

reorganize os postos de trabalho de acordo com as melhorias discutidas e

aceites. Um dos formadores ajuda na gestão das alterações. O outro

formador faz cálculos com um dos “engenheiros” designados (o formando

que na primeira ronda tinha cronometrado os tempos por posto). Decidiram

propor realizar 16 carros em 12 minutos, o que o grupo aceitou. A

velocidade da linha foi balanceada segundo esse objetivo.

A segunda ronda foi, de facto, um sucesso: sem “entupimentos” e

“retrabalhos” ao longo da linha, todas as operações se simplificaram

bastante com as alterações feitas, a meta foi cumprida e nenhum dos 16

carros tinha defeito. Uma das melhorias mais significativas foi o facto da

zona de abastecimento ter sido colocada por detrás da linha de montagem,

para que os operadores apenas tivessem de esticar os braços para alcançar

as peças necessárias, que se tornaram igualmente mais fáceis de identificar

através das etiquetas distintivas.

A disposição da estrutura de apoio à atividade passou a ser a seguinte:

Realização da 2ª

ronda: otimização

Zon

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o

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Depois de finalizada a segunda ronda, os formadores assinalaram a evolução

que o grupo conseguiu; também foram referidas questões que ainda

podiam melhorar, se houvesse uma terceira ronda. Os formandos também

foram acrescentado opiniões, algumas delas reportaram-se à 1ª ronda e à

experiência na linha de montagem real.

Todo o grupo ajudou o formador da componente prática, de seguida, na

arrumação da sala, repondo o layout inicial (para o próximo grupo de

formação), seguindo as orientações precisas dos formadores, “para não

deixar pistas para os outros”.

No final da arrumação da sala, o formador teórico encerrou os trabalhos da

formação com a apresentação de diapositivos com os resultados do grupo,

que ficou manifestamente espantado com o facto de o formador ter feito

gráficos e tabelas com os tempos e resultados da atividade. Mostrou

também alguns gráficos comparativos com outros grupos de 2011, por

exemplo: do número de tabuleiros em excesso, do número de carros

construídos, com e sem defeitos, a média de tempo por carro.

No final do conjunto de diapositivos, havia ainda um conjunto de imagens

dos formandos e da atividade do dia. Os formandos demonstraram o agrado

e verbalizaram que se percebia que os formadores tinham tanto ou mais

trabalho que eles naquela formação.

Numa ronda rápida de opiniões sobre o dia de formação, os formandos

assinalaram a boa disposição geral, o nível de participação de todos, o

dinamismo dos exercícios, a competência dos formadores e o espaço para

partilha de opiniões. Um deles afirmou que “até se tinham esquecido que

estavam lá mais pessoas”, referindo-se a mim e ao outro observador; todos

os formandos concordaram e os formadores agradeceram o nosso interesse

em observar a formação. Agradeci e elogiei a formação.

Depois de distribuídas e preenchidas as folhas de avaliação da formação (tal

como nos Lean Games), um dos formadores despediu-se com a frase: “E não

Análise/reflexão

sobre melhorias

Arrumação dos

espaços

Apresentação dos

resultados

“operacionais” do

grupo de

formação

Reconhecimento

do empenho dos

formadores

Ambiente da

formação

Reação aos

observadores

Apelo à

transposição da

formação para o

trabalho

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se esqueçam do que aqui fizeram hoje: reduziram desperdício, aumentaram

a produção, melhoraram a qualidade dos carros e divertiram-se a trabalhar

em equipa!”. Todos se riram e saíram da sala, alguns comentando o quanto

a formação tinha sido “diferente de todas as outras”.

Observações adicionais:

Optei por ficar na sala, em vários dos intervalos, para completar algumas anotações que fiz. Há

bastante informação que é importante dar conta, entre os conteúdos e a forma como são

trabalhados, as metodologias e a reação dos formandos às mesmas. Os meios técnicos e

tecnológicos disponíveis são muito acima da média, tendo em conta a formação profissional que

conheço. Impressiona o facto de haver todo um automatismo criado para simular uma linha de

montagem “em ponto pequeno”, que funciona na perfeição e reproduz um conjunto de

operações que as pessoas executam no trabalho real.

As metodologias são criativas e envolventes, os formandos comentam que se sentem “a brincar

com carrinhos”, como na infância. As pessoas que constituem o grupo de formação pertencem

a diferentes setores da fábrica, alguns não relacionados com a produção, e quase ninguém se

conhecia previamente. A meio da manhã foi notória a facilidade com que se constituíram como

uma equipa de trabalho, o ambiente tornou-se rapidamente descontraído e bem-humorado. A

metodologia utilizada faz com que os formandos se identifiquem facilmente com as tarefas, que

criem laços entre si. Os formadores, por seu turno, têm uma atitude de “colegas” com os

formandos, independentemente da hierarquia que se lhes pudesse ser reconhecida ou que

pudessem ter antes de serem formadores, uma vez que trabalharam em diversas funções na

fábrica (a maioria como team leaders, figura que é altamente respeitada pelos operadores de

linha, pelo que já pude perceber).

É de notar a escolha do team leader para a atividade proposta: foi feita pelo grupo, e não pelos

formadores, sendo que a pessoa em causa se ofereceu precisamente por nunca ter trabalhado

na área e gostar de ter essa experiência. Os colegas apoiaram a ideia, nomeadamente um que

exerce essas funções numa das zonas da linha de montagem, e os formadores corroboraram que

as diferentes áreas deviam conhecer as diferentes funções, sobretudo experienciá-las. Foi

mencionado o quanto isso melhorava a comunicação entre as áreas e as hierarquias.

Há alguma repetição de métodos – entre o expositivo, dialogado e prático/ativo, nesta ordem –

entre esta formação e a que vi anteriormente, dos Lean Games. Há sempre momentos

posteriores à prática para refletir sobre o que fizeram e pensar em melhorias, em conjunto e

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numa lógica de trabalho de equipa. A repetição de métodos revela uma coerência interna na

metodologia de formação do CTP, procurando ligar a teoria e as práticas, a reflexão com a ação.

Há também repetição dos conceitos trabalhados. Também na sessão dos Lean Games a que

assisti anteriormente, os conceitos ligados ao sistema de produção e da organização do trabalho

foram debatidos. Foram também colocados em prática, antes ou depois de serem debatidos.

Nessa sessão como nesta, os formadores têm consciência de quais os resultados dos exercícios

iniciais relativamente a alguns dos conceitos a introduzir, aproveitando para os debater com as

pessoas e fazer associações com as suas consequências no trabalho real.

De um modo geral, os trabalhadores não só confirmam que algumas das situações

demonstradas/simuladas acontecem na produção, como assumem que são práticas a melhorar.

Parece-me que um dos métodos do CTP é ir insistindo nas mesmas questões, nos diferentes

módulos, sobre os conceitos que são fundamentais para a organização do trabalho, até que os

conceitos do sistema de produção estejam a ser implementados por todos. Já tinha reparado

nessa recorrência nos referenciais da formação, mas seria impossível saber como são

operacionalizados sem assistir à formação.

O outro observador da sessão trocou algumas impressões comigo durante a formação, no

sentido de realçar o dinamismo da formação e a boa relação entre todos. Também comentou

que “infelizmente, nem todas as empresas têm os meios para fazer formação assim”.

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Dados da realização das observações

Data: 07 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e

Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Nota prévia

Os moldes em que esta formação ocorre merecem uma explicitação prévia.

Numa primeira fase o grupo de formação é um só. Será uma parte mais

teórica e genérica da formação, idêntica para os dois públicos-alvo:

operadores da Montagem Final e operadores das Carroçarias (ou Body,

como costumam designar internamente). Num segundo momento, os

grupos irão separar-se, de acordo com essa especificação.

Por se tratar de uma formação longa (5 dias seguidos, num total de 40

horas), e muito especializada, decidi acompanhar/observar o grupo geral e,

depois da sua divisão, tentarei observar os dois grupos de formação

alternadamente, uma vez que a formação se desenrola em espaços muito

próximos no CTP. Após esta experiência, considerarei se faz sentido

observar novamente estes módulos, desta feita dois grupos

separadamente.

A formação começa cerca das 7.10, numa das duas salas que já conheço de

outras observações. É feita uma apresentação básica dos formandos, como

de costume: nome, idade, situação na empresa e alguns interesses pessoais.

Também me apresento, agradecendo a possibilidade de observar a

formação.

O grupo é composto por 12 pessoas e estão 3 formadores em sala. Nem

todos os formandos têm experiência das áreas em que vão ter formação,

mas têm a expetativa de virem a trabalhar nelas. Vêm das áreas das Prensas,

Organização dos grupos da formação Apresentação dos formandos Caraterização dos grupos

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Carroçarias, Montagem Final, Qualidade, Recursos Humanos e Planeamento

e Infraestruturas. Alguns já se conhecem de formações anteriores. De um

modo geral, todos mencionam terem feito o módulo L.E.G.O. Line e

manifestam o desejo de que seja uma formação “parecida”. Há sorrisos, o

grupo parece dinâmico, falam com desenvoltura.

Um dos formadores toma a palavra para apresentar a estrutura da formação

ao longo dos 5 dias. Informa sobre a divisão em dois grupos, que será feita

a partir do 2º dia. Inicia depois a exposição, apoiada em diapositivos, sobre

diversas questões relacionadas com a empresa e com o seu sistema de

produção.

Explica previamente que o sistema de produção foi concebido pelo Grupo

Automóvel com a participação de um elemento com experiência prévia

numa empresa de automóveis da concorrência (a Toyota), de quem surgiu

a ideia de criar os Centros de Treino nas empresas do Grupo para

disseminação dos conceitos e princípios básicos.

Não posso deixar de anotar que é a primeira vez que os formadores referem

a origem dos conceitos trabalhados de forma tão sistematizada e explícita,

apesar de serem claras as influências do toyotismo nos conceitos do sistema

de produção do Grupo.

É apresentada a organização interna do CTP, a sua integração na estrutura

da empresa, as formações existentes e as que estão planeadas (por

exemplo, o Fundamental Skills de Pintura). É igualmente apresentada a

história da empresa e do Grupo a que pertence, a sua expansão pelo mundo,

principais concorrentes e objetivos a médio prazo, os valores e diretrizes

que unificam a multinacional, enquanto “medidas necessárias para criar

uma consciência comum” (palavras do formador).

Noto que há 2 formandos que conversam entre si sobre questões paralelas,

mas ainda assim sobre carros, durante 2 ou 3 minutos. O formador não

interrompe nem os interrompe; os formandos acabam por se silenciar.

Estrutura da formação Apresentação do sistema de produção do Grupo Automóvel/posição no mercado Conceitos toyotistas Diretrizes da multinacional Consciência comum

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Durante algum tempo, o formador discorre sobre os desafios atuais e

permanentes das empresas, dos quais realça (porque os escreve no quadro

branco):

• Agressividade dos mercados globais.

• Concorrência a nível global.

• Exigência dos clientes baseadas na excelência, na qualidade, no tempo

de entrega, nos custos.

Para estas questões, o formador avança com algumas medidas que têm sido

implementadas pelo Grupo:

• Melhoria dos processos e das estruturas

• Aumento da produtividade, da competitividade

• Aumento das garantias dadas pelas fábricas e empresas do Grupo.

Cerca das 9H o formador faz uma curta pausa na formação. Noto que

durante este tempo, e desde as apresentações, não houve participação

voluntária ou solicitada por parte dos formandos.

No regresso no intervalo, o formador prossegue a exposição, desta vez

sobre a temática ambiental, salientando os esforços da empresa

relativamente à preservação do ambiente no local em que as fábricas são

colocadas. Nesta altura, há 2 ou 3 formandos que participam, referindo a

ETAR da empresa, o sistema de tratamento da pintura. Salientam também

o reaproveitamento de peças e componentes e a separação dos resíduos

nas carroçarias. Estas ações têm permitido

reciclar toneladas de material. Muitos formandos revelam-se espantados.

O formador refere-se depois alguns dos princípios que mais são referidos na

formação: o pull e o push, a melhoria contínua, o trabalho em equipa, os 5S,

os desperdícios, solicitando a intervenção dos formandos para darem

exemplos que conheçam da sua própria experiência. Alguns referem alguns

postos de trabalho, outros fazem menção à formação do L.E.G.O. O

Desafios atuais das empresas Competitividade Qualidade Exigências do Cliente Medidas da empresa para o seu desenvolvimento Questões ambientais

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formador refere a formação que está a ser desenvolvida ao nível e toda a

fábrica, o KVP – Cascata -, em formato de Workshops, para criar cadeias de

melhoria contínua em todas as zonas.

Seguem-se as apresentações da zona da Montagem Final e do Body por dois

formadores diferentes, partindo de mapas projetados que revelam a

estrutura das linhas, os responsáveis pelas estações e os pontos de

verificação de qualidade. Um dos formandos mais jovens manifesta não

conhecer a estrutura hierárquica das linhas, uma vez que foi integrado na

empresa há pouco tempo.

Um dos formadores explica que as equipas normalmente têm entre 8 a 12

elementos, “as equipas respondem aos team leaders, os team leaders

respondem aos supervisores”, e depois à hierarquia superior. Acrescenta

que os turnos são dois – das 7H às 15H30 e das 15H30 às 24H -, com dois

intervalos por turno de 7 minutos cada, 30 minutos de almoço e 30 minutos

por semana para reunião de equipa. Esta explicação é dirigida aos

trabalhadores mais recentes da empresa, sobretudo. Os mais antigos vão

anuindo à medida que a explicação é dada.

Às 10H30 é feito novo intervalo e no regresso o tema é o trabalho de equipa.

O formador que tinha falado antes do intervalo refere que “Uma equipa é

mais do que o somatório das performances individuais”. Parece uma frase

citada, mas não estou certa e o formador não a apresenta como tal.

Continua a usar o mesmo tom pausado e baixo que anteriormente e capta

facilmente a atenção de todos.

Lança a pergunta: “Então e o que é para vocês trabalhar em equipa?”. São

várias as opiniões dadas, das quais retive: “ conhecer bem os colegas”,

“funcionar bem em conjunto”, “respeitar as hierarquias”, “cada um saber o

seu lugar e a sua função”, “ajudar os colegas”. O formador vai comentando

e colocando outras questões, algumas em provocação, tal como: “então e

não têm de respeitar os colegas tanto como o team leader?”, ou “e se

houver mais que uma função para cada um?”.

Conceitos do sistema de produção Estrutura hierárquica da linha de montagem Reuniões de equipa Trabalho de equipa

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Salienta que é preciso saber que funções cada um tem mas também é

fundamental estar apto para fazer todas as funções da equipa, para

substituir e/ou ajudar os colegas e para que possa haver rotatividade dentro

da equipa.

Segue-se um conjunto de enunciados em diapositivos, que o formador vai

lendo e comentando; no essencial:

• Objetivos do team leader: representar, coordenar e informar sobre os

problemas e sugestões da equipa.

• Objetivos da reunião semanal da equipa: coordenar tarefas, articular

com as tarefas a montante e a jusante da sua equipa e de cada

operação da equipa.

Sobre a reunião semanal de equipa, o formador salienta que faz parte do

horário de trabalho, mas nem sempre é compatível como fluxo de trabalho.

Muitas equipas dividem em 3 reuniões semanais de 10 minutos cada. O

formando mais jovem comenta que lhe parece que esse tempo é curto;

outros formandos vão dando opiniões diferentes: que nem sempre se

cumprem quaisquer reuniões, que depende das dinâmicas do líder ou que,

mesmo sendo pouco tempo, as experiências que têm demonstram serem

frutíferas.

O formador salienta que esta metodologia de trabalho – o trabalho de

equipa - tem várias vantagens, para os operadores e para a empresa:

• Permite fazer uma formação e uma qualificação contínuas dos

operadores.

• Há uma maior identificação com todo o trabalho feito pela equipa.

• O trabalho torna-se menos monótono. Havendo mais rotatividade de

funções há também menos problemas de saúde, porque há menos

repetição de operações.

Funções na equipa de trabalho Vantagens do trabalho em equipa

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• As equipas tornam-se mais versáteis se cada um detiver as

competências para, pelo menos, dois postos de trabalho.

• A tendência é a de haver cada vez mais rotatividade de funções (como,

assinala o formador, acontecia há alguns anos, em que todos faziam

todos os postos).

• Para a empresa, há uma maior redução de custos, enquanto aumenta

a produtividade.

Algumas destas vantagens foram enunciadas pelos formandos e, depois,

complementadas pelo formador. Há alguma dinâmica de partilha de

opiniões. Noto que há dois ou três formandos que, de vez em quando, fazem

comentários paralelos entre si, em voz baixa. Nunca são interrompidos pelo

formador.

A sessão prossegue em torno da temática da qualidade. São vários os

conceitos e normas que o formador apresenta em diapositivos. Apresenta

várias noções de qualidade, que vai comentando, assim como os formandos:

• Qualidade é quando o cliente regressa e não o produto.

• Qualidade é a ausência de erro.

• Qualidade é a concordância entre o real e a teoria – e a teoria é

definida pelo cliente.

• Qualidade é adaptada às necessidades, é um produto adequado e

fiável.

Um dos formandos intervém, dando vários exemplos de falhas de

qualidade, não só na fábrica como em outras marcas de automóveis. Tem

experiência na área. Referem-se casos mais graves do que outros, todos vão

dando um pouco a sua opinião sobre os exemplos dados. Formador alerta

que a qualidade atribuída a uma marca define a procura dos produtos dessa

marca e o seu estatuto junto da opinião pública. Muitos dos exemplos dados

sobre marcas com qualidade são de automóveis considerados de luxo,

formador vai referindo que “esta” e “aquela” marca já pertencem ao Grupo

Reações dos formandos Conceitos e normas de qualidade Exemplos do quotidiano de trabalho

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da empresa em que trabalham; o grupo é unânime em reconhecer que,

junto de família e amigos e na opinião pública em geral, a marca desta

empresa é reconhecida pela segurança e pela qualidade.

O formador pergunta: “Como é que produzimos qualidade, então?”. Das

respostas, retém-se que é importante seguir os processos predefinidos

(standards), e o trabalho em equipa. Durante esta troca de ideias, o grupo

estava muito participativo, mas volta a ficar em silêncio pouco tempo

depois.

O formador continua a apresentar alguns sistemas de controlo de

qualidade, salientando a importância das normas definidas por cada

sistema. De seguida, volta a interpelar o grupo, pedindo que indiquem

algumas das exigências que eles próprios, como clientes, colocam quando

compram um automóvel. As respostas são as seguintes:

• Frequência de reparação reduzida

• Ausência de falhas

• Fiabilidade

• Bons acabamentos

• Consumo reduzido

• Durabilidade

• Conforto na condução

• Individualidade

• Equipamentos interiores funcionais

• Standards de segurança elevados

• Novas tecnologias

Formador volta à exposição, referindo mais uma norma/sistema de

qualidade. Até ao momento já referiu a DIN ISSO 8402, o FIS, o FIS-eQs, a

ISSO 9001, VDA 6.1 e vários tipos de auditorias internas que vão sendo feitas

na fábrica.

Há muita informação a ser passada; no entanto parece-me que a postura do

formador – interpelando os formandos –, o facto de dar muitos exemplos

Qualidade Sistemas de controlo da qualidade Normas de qualidade

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do trabalho real e de convocar a experiência dos formandos, acaba por

“aligeirar” esta parte da formação.

Nota-se, também, que desde que o formador começou a falar sobre

qualidade, e quando é menos “teórico” sobre o assunto, os formandos

dialogam muito mais. Uma vez que estão colocados em diferentes partes da

fábrica e têm diferentes níveis de experiência (alguns trabalham mesmo nas

equipas de controlo da qualidade), esta parte da formação começou a

tornar-se mais dinâmica.

Algumas questões são comentadas pelo formador sem “pudor”, por

exemplo, a forma como os dados são manipuláveis pela linha para que

pareça que a produção está a decorrer sem anomalias nem defeitos,

situação que é depois “desmentida” pela quantidade de carros que estão na

zona das reparações. Este assunto anima ainda mais alguns formandos, que

dão exemplos de como essa manipulação é fácil de fazer.

Durante cerca de 5 minutos, várias são as conversas paralelas que

decorrem: o formador com um dos formandos que trabalha na qualidade,

vários parceiros de carteira, os outros dois formadores. É interessante, no

entanto, a forma como ninguém se interrompe, nem o formador, e como

ninguém se incomoda com este momento que poderia ser lido como mais

“caótico” da formação.

Quando o formador informa que são horas de almoço, alguns dos

formandos ficam ainda em sala, continuando a conversa que estavam a ter

antes.

Noto que o 3º formador ainda não interveio, apesar de se ter mantido de

pé, em diferentes locais da sala.

………………………………………………………………………………

De regresso do almoço, a exposição voltou a ser feita pelo primeiro

formador da manhã. Desta vez, insistiu-se nos conceitos associados ao

Metodologia da formação Reação dos formandos à componente teórica Questões da produção

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sistema de produção, tal como já tinha acontecido nos Lean Games e no

L.E.G.O Line. Assim, durante cerca de duas horas, falou-se de:

• 5S

• Tipos de desperdício

• Processos pull

• Tempos de ciclo

• Just in Time

• Valor acrescentado

• Comunicação

• Standards

• Ciclo de Deming – PDCA

• Folhas de trabalho standard (SAB)

Não me pareceu relevante transcrever toda a informação transmitida sobre

estes conceitos. No entanto, houve algumas questões de relevo pelo meio,

nomeadamente no que diz respeito à intervenção do formador.

Uma delas tem a ver com o método do formador para introduzir cada bloco

de informação: iniciou sempre pelos conhecimentos prévios dos formandos.

Depois de os questionar sobre o que sabiam e se aplicavam no local de

trabalho, desenvolvia então os conceitos, com base em diapositivos. Por

essa razão, conseguiu que os formandos não se dispersassem muito e

participassem com alguma regularidade.

Outro elemento a considerar é o espirito autocrítico revelado em várias

situações. Por exemplo, ao começar a falar dos tipos de desperdício,

comentou com o grupo “Isto é a sequência do costume, não é? Pode ser

maçador, mas vamos falando do que sabemos primeiro.”. Numa outra

ocasião, e como 3 formandos insistiam em manter uma conversa paralela,

o formador interrompeu e sugeriu uma pausa que, pelo que percebo, foi

antecipada. Para além disso, revelou sentido de humor e soube aproveitar

os comentários dos formandos para complementar as ideias.

Conceitos de produção Apelo à experiência/conhecimento dos trabalhadores Espírito autocrítico dos formadores

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O grupo foi-se mantendo medianamente participativo, por vezes mantendo

algumas conversas paralelas. Praticamente nenhum tomou notas, só 3

formandos trouxeram caderno e caneta.

Um dos assuntos que mais animou o grupo foi a comunicação, em que vários

foram os exemplos dados, mais e menos positivos, da experiência na

fábrica. O formador insistiu que essa era uma meta da empresa, melhorar a

comunicação, e os formandos foram apontando as maiores dificuldades

sentidas para chegar a essa meta, como a falta de tempo na linha.

………………………………………………………………………………

Aproveitei o intervalo para analisar toda a informação anotada desde a hora

de almoço; acabei por optar resumir os conteúdos, muitos deles repetidos

de outras formações, e concentrar-me nas “formas”.

………………………………………………………………………………

Depois de um intervalo entre as 14H30 e as 14H45, o grupo reuniu-se, sob

indicação prévia do formador, no exterior da sala. Segundo foi explicado,

até ao final do dia de formação o objetivo é conhecer o espaço do CTP e a

zona em que cada grupo fará formação.

Depois de apresentarem o espaço em que cada grupo irá desenvolver o

resto da formação, o formador (que passarei a designar por A) informa que

ficará com um outro (o que não interveio até ao momento, que será o

formador B) com o grupo da Montagem Final e que o formador que falou

mais sobre as questões da qualidade (formador C) ficará responsável pelo

grupo do Body.

Ficarão 8 pessoas na Montagem Final e 4 no Body, formador C explica que

o espaço que vão ocupar não comporta mais formandos de cada vez, porque

o material que usam ocupa mais espaço (como se viu antes durante a visita).

Antes ainda de encerrar o dia de formação, o formador A pede a atenção

para o facto da reunião do grupo ser sempre na chamada “zona de treino”.

Conforme vai explicando nessa mesma zona, há um conjunto de exercícios

Comunicação na empresa À parte Divisão do trabalho pelos formadores Divisão dos formandos pelas áreas de formação

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que todos os formandos terão de fazer antes de se dividirem e começarem

os trabalhos.

Na zona de treino há quatro exercícios, cujo objetivo é fazer um

aquecimento de músculos e articulações de mãos, braços, ombros e tronco.

1. Bolas maleáveis: colocando três bolas em cada mão, os formandos

devem fazê-las rodar durante um minuto, sem as deixar cair.

2. Enrolar cabo: numa bancada vertical estão pregados alguns tubos de

plástico. Os formandos têm de enrolar o cabo à volta de cada um dos

tubos, num sentido e sequência predefinidos. Sempre que a sequência

não é respeitada, o exercício tem de ser reiniciado. Como desafio

pessoal, cada um pode contar o tempo que demora para ir verificando

a sua evolução, em termos de rapidez e destreza.

3. Enrolar cabo com peso: implica o manuseamento de um instrumento

feito com duas varas, que se juntam numa das extremidades, ficando

uma perpendicular à outra. Nessa vara perpendicular estão

penduradas duas cordas, a uma distância entre si que permite segurar

a vara com as duas mãos; na extremidade das cordas estão dois sacos

com cerca de 1Kg. O objetivo é rodar a vara com as mãos de modo a

que as cordas vão enrolando à sua volta e trazendo os sacos atrás, para

depois as desenrolar lentamente, através do movimento inverso,

repetindo o exercício algumas vezes.

4. Passar cabo: numa bancada horizontal estão pregados tubos de

plástico, em posições assimétricas entre si, cada um deles com uma

argola aplicada na ponta. Os formandos terão de fazer passar um cabo

por cada uma das argolas, numa sequência predeterminada,

implicando movimentos de mãos em sentidos variados. Tal como no

exercício “Enrolar cabo”, a atividade tem de ser reiniciada se a

sequência não for respeitada; cada um pode cronometrar o tempo de

execução.

Os exercícios de aquecimento acabam por funcionar como desafios

pessoais: vários são os formandos que treinam e cronometram, sobretudo

Zona de treino/zona de aquecimento

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o 2º e o 4º exercício. O formador mostra que, por cima da bancada destes,

está uma tabela onde podem ir registando os tempos. Todos acham graça à

ideia.

Depois de encerrada a formação, falei um pouco com os formadores,

explicando qual seria a minha estratégia para os dias seguintes, sobre

acompanhar ambos os grupos alternadamente. Demonstram toda a

disponibilidade e acrescentam que estou totalmente à vontade para

observar as vezes que quiser, colocar questões e até experimentar a

formação. Esta questão já me foi colocada antes.

Desafio/competividade da zona de treino

Observações adicionais:

Almocei com um grupo alargado de formadores do CTP. O formador que orientou a parte final

da manhã de formação perguntou-me o que estava a achar. Comentei com ele a animação final,

a propósito das questões da qualidade e das reparações finais, e o formador conversou comigo

bastante tempo sobre isso. Explicou-me que no grupo de formação há várias pessoas que

trabalham na qualidade e outros que trabalham nas reparações, pelo que os diálogos a que

assisti são naturais e “também são formação”. As questões da qualidade são, segundo o

formador, um dos pontos críticos da fábrica, nomeadamente na Montagem Final, pelo que a

direção da produção quer inverter a tendência e insistir muito na qualidade dos processos e dos

produtos.

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Dados da realização das observações

Data: 08 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e Body

(Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Conforme combinado no dia anterior, o grupo reúne-se na zona de treino e

realiza os exercícios de aquecimento. O ambiente de início do dia de formação

torna-se mais dinâmico, na medida em que os exercícios são lúdicos e apelam

a alguma disputa entre os formandos. Quando todos completam os

exercícios, o formador B (que no dia anterior tinha estado sobretudo como

espetador) refere algumas normas de segurança que terão de cumprir: usar

roupa de trabalho, incluindo as botas de biqueira de aço, cobrir os cintos e

não usar relógio (ou usar a proteção própria que costuma ser usada por alguns

operadores na fábrica), fios, anéis ou pulseiras. Uma vez que há pessoas que

não usam farda de trabalho, é-lhes pedido que tragam calçado que proteja os

pés de algum objeto que possa cair e magoar.

Enquanto os formandos se vão dividindo pelas duas zonas de formação

prática, o formador C desafia-me a experimentar os exercícios de enrolar o

cabo e passar o cabo, os dois exercícios mais complexos, dizendo “vá lá que

ninguém está a ver, isso é engraçado”.

Perante a insistência e amabilidade do formador, resolvo fazer a experiência.

Efetivamente, não é fácil reproduzir os movimentos na sequência pedida,

sobretudo tentando ser rápida. De acordo com o formador, quanto mais se

faz, melhor e mais rápido se consegue fazer.

Montagem Final

O espaço desta formação está organizado de maneira a que os formandos

tenham, cada um, um posto de trabalho; 8 postos, ao longo de um corredor

formado pelas próprias bancadas de trabalho, 4 de cada lado do corredor. Por

Zona de treino

Competitividade/

desafio pessoal

Regras de

segurança

Organização do

espaço de

formação da

Montagem Final

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cima de cada bancada de trabalho há um monitor de computador e um

teclado. O formador B explica que no computador apenas corre um programa

de apoio àquela formação, “por isso escusam de tentar ir à net”. Risos.

Por debaixo da bancada de trabalho estão vários materiais (parafusos,

estruturas metálicas com furações, chaves, porcas, entre outros). O formador

explica que as bancadas foram imaginadas e construídas pela equipa do CTP

com materiais da fábrica (a admiração é generalizada), “Menos os

computadores”. Risos novamente.

Acima das bancadas, numa das paredes existem placards com informações

sobre os conceitos do sistema de produção: 5S, tipos de desperdício,

elementos básicos do sistema; SAB. Enquanto o formador apresenta todos os

meios e materiais disponíveis, pergunta quem já fez os Lean Games. Uma vez

que todos afirmam ter feito o módulo, o formador apela à memória que têm

sobre a troca rápida de ferramentas, que irão treinar ali.

Segundo explica o formador, o treino que irão fazer pretende ir

complexificando as operações gradualmente. Afirma que tem a noção que os

formandos já dominam muitas das operações complexas que ali irão treinar,

mas que algumas delas não são feitas de acordo com os procedimentos

instituídos, levando a falhas de qualidade na produção que originam

retrabalhos e mais custos para a empresa. O formador acrescenta “Eu sei

porque também já lá trabalhei e sei que nem sempre é fácil fazer melhor.”

Passa depois a explicar as fases de cada exercício/operação:

Terão sempre um vídeo de apoio para cada operação, que devem

visualizar previamente no computador.

No mesmo programa, têm as diversas fazes de cada operação,

explicada e demostrada. Podem visualizar as vezes que quiserem.

Depois de treinada cada operação, devem realizá-la de novo com o

cronómetro próprio do programa, que têm uma espécie de semáforo

e vai avisando, com a cor, se o tempo está a ser cumprido ou não,

passando de verde, a amarelo e a vermelho, cor que significa que não

Tecnologias na

formação

Materiais

Placards

informativos

Interrelação entre

os módulos de

formação

Treino/complexifi

cação crescente

Qualidade

Melhoria

contínua

Explicação da

sequência de

atividades

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conseguiram fazer a operação no tempo necessário e, por isso, devem

treinar um pouco mais.

Se não conseguiram fazer a operação no tempo necessário, devem

treinar um pouco mais e voltar a usar o “semáforo” para verificação

final.

Pede-lhes depois para irem experimentado o programa de computador,

verificando os materiais que têm, para estarem familiarizados com as

bancadas de trabalho quando começarem os exercícios. Enquanto fazem isso,

eu sigo para a zona do Body.

Body

O espaço é em tudo semelhante ao da Montagem Final, embora com

bancadas diferentes. O programa de computador é idêntico, mas versa sobre

operações realizadas nas carroçarias. Um dos formadores está a explicar que

os programas vêm da empresa-mãe e depois são traduzidos para Português,

porque o objetivo é estandardizar a preparação/formação que os

trabalhadores do Grupo têm em todo o mundo. Um formando diz que isso lhe

faz “um bocado impressão”; o formador responde “Mas tem vantagens, olhe

se quiser ir trabalhar para uma fábrica noutro país qualquer? Tem a mesma

preparação que os outros”. A discussão não desenvolve.

As diferenças mais significativas entre este espaço e o da Montagem Final são

o número de bancadas e o tipo de materiais que estão disponíveis: perto das

bancadas de trabalho, estão armazenadas de forma metódica várias peças de

carros, como para-choques e portas. Para além disso, há uma carroçaria

inteira de um carro num dos cantos do espaço da formação que o formador

apresenta como sendo a sua mascote.

………………………………………………………………………………

Cerca das 8.45 ambos os grupos fizeram uma pausa, de cerca de 15 minutos.

Eu aproveito para organizar as anotações. Por enquanto, parece-me

exequível acompanhar os dois grupos. Resolvo começar a trocar impressões,

esporadicamente, com alguns dos formandos e formadores em momentos de

Organização do

espaço de

formação do

Body

Estandardização

ao nível global

Questões do

emprego

Materiais da

formação

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pausa, porque já percebi pelas experiências de observação anteriores que há

sempre informação interessante que passa – impressões, opiniões, reações à

formação que me interessa captar.

………………………………………………………………………………

Body

Tal como no grupo da Montagem Final, o formador explica a metodologia de

trabalho a seguir na execução dos exercícios, que chama de “aprendizagem e

treino”. Percebo que o grupo da Montagem final já estava mais adiantado nas

explicações sobre as atividades.

Para além das recomendações de segurança prévias, o formador distribui

luvas de proteção. Segundo explica, os formandos irão trabalhar com

ferramentas perigosas, como os selantes e a soldadura. Por outro lado, as

luvas que distribuiu pelos formandos (deu-me umas a mim também, para

poder confirmar o que ele ia dizendo; disse-o com um ar bem disposto) são

feitas de um material que é sensível às rebarbas e outras saliências que as

peças do carro possam ter, pelo que têm uma dupla função: proteger e

verificar a qualidade.

Antes de avançar, o formador refere que as atividades terão uma lógica cíclica

e uma complexidade crescente: explicação da operação; visionamento do

filme; conjunto de passos a dar; ir buscar materiais; treinar com apoio do

formador e da ajuda visual; testagem final. Diz o formador que “pode haver

variações pessoais, desde que não saiam fora dos standards das orientações

visuais e auditivas.”. Enquanto vai explicando as questões relativas à

sequência das operações, resolvo ver o que se vai fazendo na Montagem

Final.

Montagem Final

Neste momento, estão a treinar a operação de apanhar 4 peças – parafusos -

de cada vez e analisar se têm defeito. Trata-se de treino puramente mecânico

que integra um exercício mais complexo. Quando me vê aproximar, é o

Metodologia de

“aprendizagem e

erro”

Questões de

segurança

Complexificação

crescente dos

exercícios

Standards

Treino mecânico

de operações

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formador que me explica o que os formandos estão a treinar. Explica que é

fundamental que os operadores aprendam a segurar de uma só vez várias

peças na mão, de preferência sem olhar, para que todo o resto do trabalho

seja mais agilizado; é uma operação simples que entra em várias operações

complexas. Diz o formador que, apesar de ser repetitivo, “parece mais seca

do que é” na realidade.

Fico a observar o grupo durante alguns minutos e confesso que fico

impressionada. Ao final de algum tempo, conseguem pegar em 4 parafusos

de cada vez, sem olhar, levá-los à ponteira da aparafusadora e aparafusar na

furação. Isto, sem demorar muito tempo. Nem todos os formandos trabalham

na montagem final, pelo que a destreza que observo não tem só a ver com a

experiência que já trazem. O formador vai incentivando bastante, sobretudo

os que não tinham experiência prévia.

Body

Por aqui, fazem a análise de defeitos de uma chapa pintada com a ajuda da

contraluz. Formador vai explicando técnicas para usar a luz na identificação

de detalhes e defeitos. Aproxima-se de cada um dos formandos, à vez,

colocando-se de forma a ver a chapa do mesmo ângulo e corrigi-lo, para que

possam encontrar melhor os defeitos. Vão dizendo “Ah, pois é, está ali um

defeito”, “Bem, eu não via ali nada, mas está lá uma mossa, está”.

Outro exercício caricato consiste em colocar uma mão em cima de uma

balança, com a palma da mão virada para baixo e fazendo uma pressão

constante, com que pese sempre entre 5 e 10 kg. Explica o formador que o

treino de sensibilidade manual é muito importante. De outra forma, não vão

conseguir “colocar por exemplo, 80 cm de sealer com espessura e cadência

corretas”.

Um dos formandos, que tem experiência em colocação de sealer, realiza o

exercício com mais facilidade. Concorda com o formador e diz que o sealer é

das coisas mais importantes no carro, porque é como o cimento para as casas.

O formador sorri e concorda.

Consequências da

repetição do

treino

Qualidade

Técnicas de

verificação de

qualidade

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………………………………………………………………………………

Do que é possível observar, cada tarefa é básica, no sentido em que implica

apenas uma ação/operação. No entanto, percebe-se que a ideia é que as

tarefas evoluam em complexidade, implicando a aplicação das ações mais

básicas treinadas anteriormente.

A postura dos formadores é de apoio e esclarecimento constantes. Vão

explicando aos formandos, um de cada vez, a importância das ações que estão

a realizar, ainda que lhes pareçam irrisórias no contexto geral das tarefas que

já executam no trabalho.

………………………………………………………………………………

Montagem Final

Neste momento, a sequência de operações do primeiro exercício está a ser

testada. O tempo ideal seria de 2 minutos, mas vários são os semáforos que

ficam a vermelho antes dos formandos concluírem a tarefa. A reação dos

formandos é curiosa, porque reclamam com o semáforo, dizem piadas sobre

“nunca terem sido bons condutores” e coisas do género. O formador A

assinala que só um deles conseguiu fazer a sequência corretamente no tempo

definido, e que não era operador da montagem final. Todos se riem da

situação.

Formador pede para tentarem novamente. Desmontam as peças todas e

voltam a coloca-las nos locais iniciais. Agora o tempo será o da linha de

montagem: 1m25seg. Novamente, é o mesmo formando que consegue

cumprir o tempo, mas com algumas falhas na qualidade das operações

De seguida, o formador acompanha um a um os formandos na execução das

operações, assinalando os passos em que alguma coisa está a falhar. Os

formandos vão dialogando com o formador e repetindo as operações. Cerca

de 20 minutos depois, todos conseguem executar a tarefa no tempo previsto

e com a sequência pretendida. Um formando comenta: “Não é fácil conjugar

tempo, qualidade e sequência obrigatória”; os outros concordam e o

Nível de

dificuldade das

tarefas/operaçõe

s

Postura dos

formadores

Treino/teste

Treino de rapidez

Objetivo do

treino

Tempo, qualidade

e sequência

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formador afirma que “esse deve ser o objetivo mas requer treino”. Outro dos

formandos comenta que a entreajuda foi fundamental e o formador repete:

“esse deve ser o objetivo mas requer treino”.

Body

O formador explica alguns cuidados a ter na colocação do sealer,

acrescentando que é um material fundamental na ligação dos componentes

da carroçaria, para além da soldadura, e que deve ser bem colocado.

Formandos vão visionando as diferentes etapas do exercício, no computador;

formador vai a cada posto confirmar que estão a entender o que se pretende.

Por vezes, explica por outras palavras e exemplifica os modos de colocação

da pistola do sealer, inclinação, espessura, entre outros pormenores.

………………………………………………………………………………

Quando terminam cada operação completa, os formandos preenchem uma

folha, designada “Folha de confirmação de técnicas básicas”, onde vão ser

registados os progressos individuais. Estas folhas de registo individuais

acompanham toda a formação e no final são assinadas pelo formador e pelo

formando. É, segundo os formadores, uma forma de lhes conferir valor pelo

que fizeram. A folha fica com as pessoas e assim podem sempre relembrar o

que fizeram na formação.

………………………………………………………………………………

Body

No regresso do almoço, começam por treinar a aplicação de sealer, após o

visionamento filme do programa de computador e as explicações passo a

passo pelo formador. Numa primeira operação, as linhas sobre as quais têm

de colocar o sealer são retas, com espessuras diferentes: 3, 5 e 8 milímetros.

Todo o equipamento necessário está na bancada de trabalho, incluindo a

pistola e o tubo que transporta o sealer. A espessura depende da inclinação e

da pressão. A linha tem de ser uniforme e não ficar com bolhas. Rapidamente

Verificação dos

progressos

individuais

Complexificação

das atividades

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os formandos percebem o quando a tarefa é complicada, à exceção do que já

trabalha com aquele material no dia-a-dia. O formador pede, nas diferentes

tentativas, que este formando o ajude a orientar os colegas. O treino repete-

se durante cerca de 10 minutos.

………………………………………………………………………………

Montagem Final

A sequência de treino das operações prossegue, numa nova atividade, mais

complexa que a anterior. Implica o aparafusamento de várias espessuras de

parafusos, mudança de ponteiras, furações de diferentes diâmetros.

Noto como os formandos retiram 3 e 4 parafusos de cada vez das caixas de

material, conforme tinham treinado num exercício anterior. As orientações

que visualizam são claras, os formandos vão treinando. De vez em quando,

um formando pede ajuda ao formador, às vezes chama-o só para confirmar

que estão a fazer bem. O que se observa e o ambiente que se sente é mais de

trabalho do que de formação, e o formador faz parte do trabalho de equipa.

Observo as testagens do semáforo, que passou a ser um momento desafiante

para os formandos. Querem sempre fazer mais rápido e tentam que a cor não

chegue a mudar para o amarelo. Depois de várias tentativas, todos

conseguem executar as operações no tempo definido e o formador diz: “Estão

a ver? Qualidade, tempo e sequência. É tudo uma questão de treino e de

trabalho em equipa.” Os sorrisos e comentários de satisfação dos formandos

confirmam que estão interessados e envolvidos na atividade.

No final da atividade um dos formandos pergunta qual é a operação seguinte.

O formador responde: “A próxima operação é, como sempre, arrumar a

bancada.”.

………………………………………………………………………………

Body

Repetição/treino

Complexificação

das atividades

Treino

Vantagens do

treino de

operações

Organização do

trabalho na

formação

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Estão a finalizar o treino de colocação e sealer em três linhas verticais, com as

mesmas espessuras que as anteriores (horizontais). O formador vai

chamando a atenção para a ergonomia e para conjugarem a perfeição da

colocação do cordão de sealer com as posturas mais vantajosas para o corpo,

de modo a prevenir algumas doenças profissionais.

Observo as atividades durante alguns minutos, impressionada com a minucia

necessária para a operação. O relacionamento entre os formandos é já de

uma grande familiaridade, ajudam-se mutuamente. Quando um consegue

fazer a tarefa dentro do prazo do semáforo, os outros batem palmas.

De seguida, têm de colocar sealer sobre riscas onduladas. Quando veem as

ondas sobre as quais terão de colocar o sealer, riem-se enquanto um deles diz

“Eia, agora é que vai ser!”. Antes de avançarem, decidem que é altura de

fazerem um intervalo.

………………………………………………………………………………

Montagem Final

O exercício para o qual se preparam implica a utilização e uma chave

dinamométrica, ou chave de torques. O formador demora-se algum tempo a

explicar como funciona a chave, alguns dos formandos não conheciam a

ferramenta.

Enquanto visualizam o filme sobre a operação a realizar (estão em redor de

um só computador), o formador vai acrescentando explicações. Esta

operação será mais complexa e implica as anteriores: agarrar 4 parafusos,

porcas, trocar de ferramentas, diferentes furações e aperto com chave

dinamométrica.

Body

O formador explica que a tarefa que irão realizar de seguida requer cuidados

especiais, porque provoca um grande campo magnético. Conta a história de

um colega da fábrica a quem não foram dadas as instruções sobre os cuidados

Qualidade/ergon

omia

Interajuda

Nova

atividade/novo

treino de

operações

Complexificação

de atividades

Saúde dos

operadores

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a ter na utilização da máquina e acabou com os parafusos que tinha numa

perna todos desaparafusados. Teve de ser operado novamente.

Vai explicando como se utiliza uma máquina de soldar por pontos enquanto

visionam o filme no computador. Tal como no outro grupo, a dinâmica evoluiu

de um trabalho individual (cada um com o seu computador) para um trabalho

em grupo, sobretudo na fase da explicação dos exercícios.

Pouco tempo depois, o formador informa que já não terão tempo para

começar a atividade, pelo que pede para se sentarem numa mesa de grupo

que está perto do espaço da formação prática para fazerem o ponto de

situação sobre o dia e preencherem as folhas de confirmação as técnicas

básicas. Os formandos demonstram-se satisfeitos com o dia, afirmam ser

importante experimentar as técnicas e treiná-las e elogiam a forma como a

formação está organizada e os materiais disponíveis.

O formador dá a formação do dia como finalizada. Terminam um pouco mais

cedo que os da Montagem Final.

Montagem Final

Já finalizaram as operações que estavam a treinar antes e estão em redor de

uma outra mesa de grupo, também no espaço da formação prática.

Preenchem a folha de confirmação de técnicas e o formador pede para que

expressem a opinião sobre a utilidade do dia de formação.

Formandos salientam fatores como: saber o que se passa na linha; saber as

funções dos operadores e as exigências colocadas. Alguns levaram os

exercícios mais a sério e outros encararam as operações como um jogo, um

desafio pessoal.

Trabalho

individual/grupo

Reunião de final

do dia (balanço

das atividades da

formação)

Opiniões/reações

dos formandos

sobre a formação

Observações:

Na pausa para almoço, entre as 11H45 e as 12H30, tive oportunidade de falar com a única mulher

do grupo, que confessou o interesse pessoal nas formações do CTP, uma vez que já fez várias e

gostou sempre bastante. Não é uma formação tradicional, é mais prática e os grupos interagem

mais, foram estas as razões que deu. Não pertence à produção da fábrica, pelo que não está

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habituada ao peso de algumas ferramentas, mas diz que até isso acha importante, para que todos

compreendam a dificuldade daquilo que os operadores fazem.

Conversei um pouco com o formador que intervém menos na formação e está a dar apoio aos

Fundamental Skills da Montagem Final. Explicou-me que está a fazer formação nos métodos do

CTP, através do acompanhamento dos módulos, para em 2012 passar a orientar o módulo de

Fundamental Skills de Pintura, função para a qual já teve formação em Pintura, embora trabalhe

há cerca de 15 anos nessa área como team leader. Também já esteve na Alemanha a acompanhar

módulos do mesmo género, que agora terá de implementar e adaptar ao CTP. Percebe-se que

admira o trabalho dos colegas do CTP e confessou estar ansioso por começar.

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Dados da realização das observações

Data: 09 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e Body

(Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-

Chave/Temáticas

O grupo junta-se na zona de aquecimento. Alguns repetem várias vezes o

exercício de passar o cabo e enrolar o cabo. Os tempos começam a ser mais

rápidos, os formandos desafiam-se uns aos outros.

A zona do Body sofreu uma pequena inundação, por causa da chuva forte,

situação que, segundo os formadores, tem acontecido algumas vezes e ainda

não foi resolvida. Por isso, não é possível utilizar a máquina de soldar por

pontos de imediato, porque é essa a zona inundada. Formador pede aos

formandos para voltarem daí a uma hora, para que possam limpar a zona

antes de começar a formação.

Montagem Final

Os exercícios implicam, desta vez, materiais mais complexos: tubos de várias

dimensões, alicates, abraçadeiras. Para além disso, precisam de óculos

especiais de proteção, porque, segundo explica o formador A, os alicates

fazem muita força nas abraçadeiras, que costumam saltar e podem provocar

algum acidente.

Depois de escolhidos os materiais necessários para as operações, começam a

colocar os materiais numa placa própria (que está debaixo da bancada de

trabalho). Começam depois a visualizar o filme, seguindo a mesma lógica

sequencial das outras atividades. Os formandos revelam estar muito à

vontade com esta metodologia.

Body

Zona de

treino/aquecimen

to

Materiais

Proteção dos

operadores para

a atividade

Sequência de

tarefas da

atividade

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Cerca das 9H15 foi possível aos formandos voltarem às bancadas de trabalho.

A atividade a realizar implica afixação e soldadura com pistola. O formador

explica quais são os materiais necessários e os formandos de imediato tratam

de os colocar à mão.

O formador pergunta: “Porque será que têm duas caixas na bancada de

trabalho, uma do lado direito e outra do lado esquerdo?”. Após várias

tentativas de acertarem na resposta certa, sem sucesso, o formador

responde: “É uma para cada mão”. Todos se riem do que devia ser óbvio, mas

não é, conforme fazem notar.

Tanto no Body como na Montagem Final, os formadores revelam

preocupação com as questões ergonómicas, chamando a atenção para os

pequenos detalhes e as consequências, a médio prazo, para a saúde. Para

além disso, a correta posição do corpo nas tarefas favorece a sua execução,

como alertam.

Várias são as situações em que, antes dos formandos começarem a realizar

as operações pedidas, alertam para a posição do corpo, as precauções com a

qualidade (evitar riscos, por exemplo, com o manuseamento das

ferramentas).

Montagem Final

Depois de cerca de 20 minutos a treinar a utilização do alicate de abraçadeira,

como o apoio e a demonstração repetida dos formadores, os formandos

passam finalmente para a execução a tarefa.

Enquanto treinam para o teste do semáforo, o formador A alerta que podem

pôr em prática as noções de one touch, one motion, posicionando

previamente as peças segundo a forma mais eficaz de utilização, assim como

para se lembrarem sempre de verificar se as bancadas de trabalho estão de

acordo com os 5S.

Prosseguem com o treino. Os formadores seguem-nos de perto,

acompanhando um de cada vez na tarefa e ajudando a corrigir pormenores.

Organização dos

Materiais

Questões

ergonómicas

Treino/testagem

Conceitos de

produção

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Body

Finalizada a operação com as pistolas de soldar, segue-se uma tarefa que

implica agarrar 4 parafusos ao mesmo tempo, numa operação idêntica à que

a Montagem Final já realizou.

O formador explica os perigos de não se conseguir agarrar a quantidade

pretendida, sobretudo se forem a mais na mão, porque se corre o risco de

deixar cair algum. Isso pode provocar acidentes. Ou então podem ficar caídos

dentro da estrutura do carro, com consequências para a qualidade do

produto final.

Passam à visualização e treino da operação.

Montagem Final

A atividade que está a ser treinada implica o encaixe de conectores elétricos

de vários tipos, finalidades e dimensões numa placa onde estão os terminais

desses conetores.

Novamente, o formador opta por ir explicando a todos enquanto vão

visionando, apelando depois a que visionem mais uma vez ou duas antes de

começarem a tentar. Assinala que nesta operação está envolvido o conceito

de poka yoke (uma só cor, uma só posição, uma só correspondência).

Enquanto treinam, percebo que os formandos do Body fizeram intervalo.

Continuo a acompanhar a MF até ao teste da operação, no final da qual o

formador chama a atenção para o facto de alguns dos formandos não terem

preparado previamente a tarefa, por exemplo, ao não definirem a sequência

para as ligações, fazendo com que os fios acabassem muito enleados. Os

formandos não contestam, concordam que deviam ter sido mais cuidadosos.

Um deles afirma inclusive que se aquilo fosse assim num carro a sério, podia

ter problemas elétricos. Riram-se, mas perceberam a questão.

Passam a arrumar novamente as bancadas de trabalho e fazem um intervalo.

Treino

Qualidade/segura

nça no trabalho

Treino

Explicação de

atividade

Conceitos da

produção

Qualidade

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Body

Depois do intervalo a atividade roda à volta do alinhamento de portas com

torque. A rotina das tarefas parece estar totalmente interiorizada. O

formador apoia nas explicações, centradas no visionamento das imagens

próprias para o efeito; os formandos treinam, apoiam-se uns aos outros,

solicitam a ajuda do formador em algumas operações.

Montagem Final

Para as operações que se seguem, o formador pede que os formandos deixem

de usar as bancadas habituais e utilizem outras, em que não vão ter a ajuda

do programa do computador.

Trata-se de bancadas algo idênticas, mas com ajudas visuais em formato de

portefólio, com várias páginas de instruções, ilustradas com imagens.

Conforme o formador explica, agora não vão fazer todos a mesma operação,

mas sim uma cadeia de operações distintas. Cada portefólio é diferente e

contém especificações de cada conjunto de tarefas para cada operador.

Cada um vai buscar os materiais necessários às diferentes caixas que

abastecem o espaço de formação, de acordo com essas especificações. Vão

trocando opiniões entre si sobre a melhor forma de se articularem; fazem isso

sem que o formador tenha pedido para que se articulassem. O formador sorri

e afirma: “É isso mesmo, se são uma equipa têm de trabalhar em conjunto.”.

Body

Decorrem várias atividades que implicam a colocação de parafusos em

diferentes diâmetros de furações, com chapas de metal que não reconheço

de imediato como sendo peças da carroçaria de um carro, uma porta e a

ombreira em que a porta é aparafusada.

Trata-se de fazer o alinhamento de portas com ferramentas de torques,

colocando uma “galga” que tem a espessura exata, referente à folga que a

porta tem de ter para que as placas de chapa não rocem uma na outra ao

Interiorização/aut

omatização das

rotinas da

formação

Entreajuda nos

grupos

Ajudas

visuais/portefolio

s

Cadeias de

operações

Trabalho em

equipa

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abrir a porta. Os formandos vão evoluindo na tarefa por tentativa e erro:

apertam ou alargam os parafusos, e experimentam abrir a porta; se as peças

de chapa tocam uma na outra, têm de voltar a mexer no parafuso, até que a

porta tenha a folga exata. A atividade é complexa, um dos formandos refere

isso mesmo; outro comenta que “comparado com a linha, isto não é nada”; o

formando anterior responde que “não é bem assim, na linha tu não fazes esta

sequência toda”, e o diálogo entre ambos prossegue em torno das diferenças

entre a formação e as práticas que têm no trabalho. Formador intervém para

dizer que às vezes as coisas que parecem muito complexas se tornam simples,

“basta treinar muito”; compara com outras atividades, nomeadamente

desportivas. Os formandos vão concordando com os exemplos dados e com

a ideia de que “só treinando muito se consegue a excelência” (palavras de um

formando).

As tentativas e erros são várias, o formador vai alertando para a utilização

correta da galga, sem interferir diretamente nas operações, que demoram

mais algum tempo. Só 3 formandos conseguem fazer a tarefa no “verde” do

semáforo; o formador não dá muita importância ao facto de um deles ser

menos rápido e afirma: “Isso vai com o tempo.”. De seguida, dá mais algumas

orientações técnicas sobre o processo de alinhamento de portas e das

dificuldades que surgem.

Montagem Final

Durante cerca de 15 minutos, os formandos estiveram sempre a treinar os

diferentes passos a partir de cada um dos portefólios. Neste momento, o

formador está a acompanhar o desempenho individual, cronometrando-o.

Terão 2 minutos para fazer cada posto.

Reparei agora que todas as aparafusadoras das estações estão colocadas na

lateral das bancadas, com uma legenda com o título “ergonomia”, e com

algumas imagens sobre a correta forma de as utilizar.

Enquanto um dos formandos realiza as operações que lhe foram atribuídas,

repara que uma das luzes que eram suposto acender num painel não

acendem. O formador informa que a falha é propositada, que ao escolherem

Tentativa e erro

Comparação com

as rotinas do

trabalho

Defesa do treino

para

aperfeiçoamento

Excelência

Treino

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as peças têm de as testar previamente, conforme já tinha sido referido no dia

anterior. Riem-se ambos, e o formando procura uma outra peça, testa-a e

utiliza-a.

Assim que dois operadores completam as suas estações, têm como missão

explicar a sua estação um ao outro sem interferência do formador. Esta

estratégia é fundamentada na necessidade de, numa equipa, cada um ter de

saber fazer mais do que um posto. O objetivo, neste exercício, é que todos

aprendam todos os postos, se isso for possível e houver tempo.

Um dos formandos relaciona essa tarefa com as questões abordadas em sala

e comenta: “Pois, está bem feito, sim senhor”. Suponho que se refira à

metodologia de formação, e ao alinhamento entre a teoria e as práticas.

Body

Aqui treina-se a deteção de defeitos numa porta real de um carro, retirada da

linha do Body por ter vários defeitos.

O repto do formador é que, em conjunto, identifiquem os defeitos que, avisa,

são de vários tipos, Pede-lhes para se lembrarem das coisas que foram

falando em sala e ao longo da formação.

Durante cerca de 15 minutos, observam, tocam, veem a contraluz, e vão

trocando opiniões sobre o que vão detetando: fissuras, espessura desigual da

chapa, mossas, furações defeituosas.

………………………………………………………………………………

Pouco antes do intervalo para almoço, reparei que vários formandos da

Montagem Final, finalizando o exercício, se dedicam a treinar o “enrolar

cabo” e “passar cabo” da zona de aquecimento. Parece ter-se tornado um

entretém entre vários formandos, vão assinalando os tempos e comentando

a posição que alcançaram no “ranking”.

O intervalo para almoço é, como de costume, entre as 11H45 e as 12H30.

Qualidade

Entreajuda/rotati

vidade de funções

Teoria/práticas

Zona de

treino/aquecimen

to

Competitividade

entre formandos

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………………………………………………………………………………

Montagem Final

Nesta altura, já os formandos começam a trocar de estações. Os que estão

mais avançados nos exercícios de treino/testagem, vão ajudando os colegas

nos diferentes passos de cada treino até realizarem o teste final, com

cronómetro. O ambiente é de entreajuda; alguns vão comentando que se

tivessem mais tempo para treinar assim, fora da linha, depois era mais fácil

trabalhar mais rapidamente. Um dos formandos comenta que assim ainda

lhes pediam mais trabalho em menos tempo; outro responde que preferia ir

rodando de tarefas, para o trabalho não ser tão rotineiro, que para isso tem

de saber fazer as estações, e que nem sempre há tempo na linha para estarem

a aprender novos postos.

Body

A tarefa que agora executam implica vários tipos de operações, desde a

deteção de defeitos ao aparafusamento e confirmação de alinhamentos.

Os formandos explicam uns aos outros cada passo da operação: parece que o

computador é já pouco utilizado, apenas o é para as instruções básicas, e o

formador pouco intervém na explicação das operações. De vez em quando,

um dos formandos pede ajuda para compreender alguma instrução, ao que o

formador acede de imediato. O clima é de trabalho dinâmico e entreajuda.

Não se vê ninguém de parte ou desinteressado.

Montagem Final

Num momento que parece ser de pausa, mas em que ninguém saiu do espaço

de formação, o formador B conversa com os formandos sobre a

aprendizagem que está a fazer e sobre o projeto de Fundamental Skills de

Pintura, comentando a formação que fez no estrangeiro, as semelhanças e

diferenças.

Rotatividade de

estações

Vantagens do

treino

Dificuldades de

aprendizagem de

tarefas na linha

de produção

Dinamismo/inter

esse na formação

Fundamental

Skills de pintura

(previsão)

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Body

Tal como no último exercício da Montagem Final, a atividade que se está a

preparar é feita com base num portefólio, dentro da mesma lógica: diferentes

postos, diferentes especificações, treino de cada passo, execução da tarefa;

troca com os colegas e aprendizagem com a explicação dos colegas. Trata-se

de um exercício de inspeção e qualidade.

………………………………………………………………………………

Ocorre-me que o que se torna mais pertinente observar não é tanto o tipo de

conteúdos específicos que são trabalhados – alguns deles muito técnicos e

dificilmente passíveis de serem descritos sem um conhecimento adicional

sobre a matéria – mas antes o espírito de equipa e as exigências colocadas

aos operadores.

Desse ponto de vista, não me parece imprescindível observar as duas

formações em separado, esta metodologia resulta até melhor no sentido em

que não estou constantemente a observar o mesmo grupo, posso encontrar

semelhanças e diferenças entre as posturas e métodos dos formadores,

analisar as coerências ou incoerências dos módulos de formação de forma

mais imediata.

Tornou-se evidente que, apesar das diferenças de conteúdos e técnicas

específicas, os métodos são consistentes, seguem uma mesma lógica,

respondem a um conjunto de preocupações e envolvem conceitos que são

semelhantes, como a qualidade, a ergonomia, o treino para a perfeição e

rapidez das operações executadas, os 5S e a eliminação de desperdícios.

Percebe-se que a formação pretende fomentar um forte espírito de equipa e

de entreajuda. Expõe as questões da rotina, potencia a rotatividade e alerta

para os efeitos da rotina causada pelo trabalho rotineiro e estandardizado,

sobretudo se não houver cuidados ergonómicos. Mas isto são considerações

ainda preliminares que terei de ir confirmando com mais observações.

Enquanto tomo nota destas observações mais reflexivas, numa mesa entre os

dois espaços de formação, vejo que na Montagem Final continuam a trocar

Sequência

repetitiva de

atividades

Conteúdos

técnicos

Métodos ativos

Semelhanças/dife

renças entre as

formações das

duas áreas de

produção

Rotina/rotativida

de

Trabalho

rotineiro e

estandadardizado

Questões

ergonómicas

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de estações, treinar e testar, e no Body estão praticamente no mesmo ponto,

apesar das operações serem tecnicamente diferentes.

Noto que o ambiente na Montagem Final é um pouco mais agitado, animado,

mas provavelmente isso deve-se ao facto de serem o dobro dos formandos.

É de registo que, de vez em quando, um formando cantarola ou assobia

baixinho, tal como se estivesse no seu posto real, numa zona familiar. Às vezes

também se dizem piadas, contam-se histórias sobre a linha a propósito de

uma ou outra ação que executam.

É raro os formadores dizerem alguma coisa, normalmente quando o fazem é

para entrarem na brincadeira ou na história, mas vão verificando se o

trabalho está a ser feito. Nunca se afastam ou se encostam em algum lado,

estão sempre a circular pelo espaço; uma vez por outra, os formadores vão

espreitar uma e outra área, para ver em que ponto estão os formandos do

outro grupo.

………………………………………………………………………………

Body

Após um curto intervalo, o grupo debruça-se sobre as indicações de uma

outra atividade (de novo, com apoio nas instruções do computador). Trata-se

de um tipo de alinhamento de painéis do carro que é bastante complexo,

segundo o formador, e que, segundo ele “nem toda a gente consegue fazer

na linha do Body”. Trata-se de um alinhamento de fender entre painéis

laterais de uma porta.

O formador vai relembrando uma série de operações simples, que treinaram

antes, que agora vão ser necessárias; ou seja, “terão de usar todas as técnicas

anteriores e ter muito espirito de equipa”, segundo as palavras do formador.

Todo o processo de alinhamento é, com efeito, bastante complexo e é todo

manual; ou seja, não há máquinas envolvidas para além de aparafusadoras.

O alinhamento tem medidas específicas, que são dadas, mas tem de ser feito

com tempo e por tentativa e erro.

Treino/troca de

estações

Ambiente na

formação

Acompanhament

o dos formadores

Repetição da

metodologia

Trabalho de

equipa

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O formador vai observando o que cada um vai fazendo e ajuda sem fazer pelos

formandos. Vai questionando: “Então, o que é que pode estar a correr mal?”,

“Qual será o parafuso que lhe está a causar esse problema?”, tentando

potenciar o raciocínio dos formandos sem lhes dar a chave da resposta.

Montagem Final

O grupo continua o processo de aprendizagem e repetição das operações

associadas a cada um dos postos de trabalho. Uns ajudam outros, esperam

que outros acabem para poderem aprender as estações que lhe faltam.

Durante um longo período de tempo, os formandos organizam-se sem a

interferência dos formadores. De vez em quando estes dizem-lhes para irem

olhando para os procedimentos do portefólio, ao que os formandos

respondem que preferem a ajuda dos colegas. Isto sucede várias vezes.

A intervenção dos formadores, nesta fase da formação, limita-se às questões

da ergonomia e da qualidade; sobretudo corrigem posturas, explicando a

importância de o fazerem – pela qualidade e/ou rapidez do trabalho, mas

também por razões de saúde. Só lhes pedem para repetirem o exercício

quando excedem muito o tempo definido para as operações (2 minutos). O

formador avisa o grupo que só terá mais meia hora; apesar de não fazerem

outra atividade hoje, amanhã não poderão continuar com este exercício.

Body

Às 15.10 o grupo termina as atividades por hoje, o formador acaba por decidir

que terão de continuar o exercício na manhã seguinte, uma vez que ainda

ninguém conseguiu completar a sua estação.

Reúnem-se em redor da mesa de reunião do grupo, como no dia anterior e

preenchem a folha de confirmação de aprendizagens técnicas. O formador

pede para que digam o que sentiram e como avaliam o trabalho do dia, qual

o ponto forte e o fraco. Os formandos apontam como ponto forte “tudo”,

dizendo-o quase em uníssono; como ponto fraco, referem a execução das

tarefas de verificação da qualidade, que consideram as mais difíceis.

Reflexão sobre o

erro

Autonomia e

auto-orientação

nas tarefas

Ergonomia e

qualidade

Testagem (não

tão valorizada

como o treino)

Balanço do dia de

formação

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O formador refere que, na linha real, o tempo de ciclo por operador é de

1m25sg, o que significa que têm de fazer operações daquelas nesse período

de tempo (os formandos que não trabalham na linha de produção

demonstram espanto). Acrescenta ainda que a fábrica já fez 700 carros por

dia, num período que foi considerado o que tinha melhores índices de

qualidade. Coloca, por isso, a questão: “Porque será?”.

A explicação dada pelo formador concentra-se no número de operações por

operador: quanto menos operações, menor é a probabilidade de defeito,

maior a qualidade. Quando um tempo de ciclo é maior, isso significa que um

só operador tem de fazer várias operações, aumentando a probabilidade de

erro em alguma das operações que faz. Os formandos discutem um pouco em

redor desta ideia, nem todos concordam mas acabam por compreender o

ponto de vista.

O formador aproveita o tempo que falta para dar uma ideia sobre o que serão

as atividades do dia seguinte, em que irão nomear os operadores do dia, um

escrivão e um team leader e fazer a inspeção de uma carrinha com apoio

numa grelha com coordenadas, em equipa. Terão de repetir essa atividade

em fases sucessivas até detetarem todas as falhas de qualidade, na traseira,

no interior e no exterior da carrinha de treino. Um dos formandos reage

dizendo “Ah, mais exercícios de inspeção!”, ao que outro acrescenta que só

treinando várias vezes é que conseguem fazer o mesmo tipo de trabalho na

linha. Formador afirma que “era isso mesmo que ia dizer”, relembrando que

o objetivo das repetições é o de automatizar algumas atitudes, de atenção ao

pormenor. O primeiro formando explica que, apesar da reação “contra”, até

tem achado a formação divertida e percebe porque é importante treinar.

Informa ainda que, segundo a planificação, na sexta-feira irão à linha para

analisar uma estação e construir a SAB dessa estação. Formandos expressam

algum desconforto relativamente a estas folhas de trabalho standard; alguns

já as conhecem do trabalho na linha. Os três formandos concordam que é

importante tentarem uniformizar os métodos e os passos das operações que

realizam; um deles considera que às vezes a descrição destas folhas standard

é excessiva e nem sempre as orientações correspondem à realidade das

Tempo de ciclo

por operador

Historial de

produção da

fábrica

Relação entre

qualidade e

tempos de

ciclo/rapidez

Planeamento das

atividades

Reação às

repetições das

atividades

Proximidade com

a linha de

produção

Standards

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operações feitas. Formador explica que a formação do dia seguinte tem o

objetivo de se aproximar do que é feito da linha para tentar melhorar os

procedimentos, a partir da observação que vão fazer e dos standards que eles

próprios vão propor.

O formador despede-se dos formandos, que ainda ficam algum tempo a

treinar o enrolamento e a passagem de cabos, na zona de aquecimento

(parece ter-se tornado num concurso).

Montagem Final

Formadores e formandos arrumam os espaços, deixando tudo como estava à

chegada.

Durante a reunião de final de dia, informa que, como não tiveram tempo para

aprender todas as estações, terão uma parte do período da manhã de

amanhã para o fazer.

Questionados sobre a forma como decorreu o dia, a opinião generalizada é

de que a formação foi “muito motivante”, “como um dia de trabalho mas

agradável”, “bem estruturada”. O ambiente entre todos é referido como um

dos pontos fortes e ninguém assinalou pontos fracos. Referem-se aos

objetivos da formação, afirmando que está bem organizada, consegue

motivar para o treino sem ser cansativo.

O formador recorda alguns dos objetivos principais da formação, como sendo

o de reorganizar os postos de trabalho – e não de os eliminar -, identificar

melhorias que permitam alcançar as “zero falhas” e melhorar a ergonomia de

algumas posturas dos operadores.

O formador A faz um resumo do que será o dia de amanhã: depois de

terminarem a atividade de hoje, irão executar uma sequência de operações

em equipa numa simulação de linha, com um autómato balanceado para a

velocidade da linha de montagem da fábrica. Os formandos manifestam

bastante agrado com a ideia.

(vantagens e

limitações)

Zona de

treino/aquecimen

to

Balanço do dia de

formação

Objetivos da

formação:

reorganização e

não eliminação

dos postos de

trabalho

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Após preencherem a folha de confirmação de técnicas, alguns formandos

dedicam-se ao treino do enrolamento e passagem de cordas (um verdadeiro

entretém para a maioria, sem dúvida).

Zona de

Treino/aquecime

nto

Observações:

A sequência de atividades parece-me repetitiva; monótona, para quem está de fora, pelo menos.

No entanto, os formandos reagem às atividades com naturalidade. Aplicam as formas de trabalhar

em equipa que usam na linha, essa familiaridade dá-lhes maior à vontade com as tarefas.

Estão já rotinados com a sequência de operações em cada exercício, a formação “flui”. Os

formadores intervêm o mínimo indispensável, mas estão sempre presentes. O ambiente de

formação é dinâmico e de entreajuda.

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Dados da realização das observações

Data: 10 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e

Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

O grupo junta-se na zona de aquecimento. Como tem vindo a ser hábito, há

exercícios em que os formandos se divertem a treinar a rapidez e a destreza,

competindo entre si e demorando-se neles algum tempo. Os formadores

comentam que “é sempre assim, em todos os grupos”, “isto vira um vício”.

Após a divisão dos grupos entre os dois espaços, terminam os exercícios de

aprendizagem, treino e testagem de um conjunto de estações. Essa

atividade decorre até às 9H00.

No final desta tarefa, e depois de uma pausa de 10 minutos, os dois grupos

juntam-se numa mesma sala de formação. Durante algum tempo, os

formandos continuam a conversar entre si; são eles próprios que pedem uns

aos outros para se calarem e darem atenção aos formadores.

Os dois formadores principais começam por informar que a ideia é que os

dois grupos percebam que, apesar das diferenças entre as zonas -

Carroçarias e Montagem Final – há questões que são comuns e que vêm a

propósito de alguns exercícios que fizeram “nas práticas”. Assim,

enfatizaram questões relacionadas com a responsabilidade do produto e

com a segurança:

utilização normal dos materiais e ferramentas; segurança do

operador e segurança do produto; avisos do fabricante; noção de

risco; noção de call-back (quando os produtos têm de ser retirados

do mercado por falhas graves);

importância das auditorias internas e externas;

testagem de peças dos carros por amostragem;

Zona de

treino/aquecim

ento

Treino/testage

m

2 grupos

reúnem-se

Questões de

qualidade e

segurança

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fragilidade dos componentes elétricos e eletrónicos;

importância da recolha de reclamações de campo (a 3meses, a 6

meses, a 1 ano);

papel das task-forces: equipas de reparações e qualidade, que andam

pela Alemanha, pelos concessionários, recolhendo e resolvendo

problemas;

consequências jurídicas e não jurídicas de produtos defeituosos;

função da carta viageira (especificações, controlos de qualidade, tudo

é nela registado): formadores enfatizam a importância deste

documento que acompanha a construção do carro (“É o bilhete de

Identidade do carro”, segundo afirma um deles)

Após alguma discussão em torno das questões mencionadas, o formador A

informou que o dia será dedicado sobretudo à construção de folhas SAB, ao

que uns e outros foram respondendo que já sabiam, uma vez que os

formadores tinham informado sobre isso no dia anterior.

No regresso a cada uma das zonas, um dos formandos confessa ao formador

do Body que nunca viu uma carta viageira. O formador comenta que isso

não devia acontecer, mas o formando explica que acabou de entrar na

empresa, ainda “está a aprender”.

O formador pede-lhe para esperar um pouco, vai à sala de formadores e

depois de alguns minutos (enquanto outros formandos se distribuem,

alguns vão enrolando e passando as cordas nos exercícios de aquecimento)

volta com uma carta viageira, que lhe mostra e explica. Os outros dois

formadores, que entretanto se aproximaram, também vão dando umas

achegas na explicação: que nem sempre a carta viageira é como aquela, que

algumas ficam nas próprias áreas, mas há sempre uma genérica que

acompanha o carro ao longo do processo de construção.

Body

Primeiro auditam o exterior da traseira de uma carroçaria de carrinha, tal

como o formador tinha informado. Depois, o interior. O grupo faz a

atividade em conjunto, dividindo as zonas a observar entre cada um. Depois,

SAB

Carta viageira

Novos

trabalhadores

Exemplificação

de carta

viageira

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trocam 2 a 2 e verificam as zonas auditadas antes, para confirmar se não

passou nenhum defeito aos colegas. O formador comenta: “Boa estratégia,

sim senhor. É assim mesmo, quantos mais olhos e mãos, melhor”.

Quando encontram os defeitos, assinalam-nos numa grelha de coordenadas

do carro, semelhante à carta viageira daquela área de produção. A tarefa é

demorada, não só porque os defeitos são muitos como porque implica

entrarem para dentro da carroçaria e partilharem esse espaço.

Ao final de algum tempo, são os próprios formandos que concluem que,

uma vez que já não devem faltar muitos defeitos no interior, o melhor é só

verem dois a dois. Ideia aceite.

Montagem Final

Formador está a apresentar a estrutura automatizada que será “o carro para

montar” da linha simulada. A linha é, neste caso, uma linha magnética no

chão que faz mover a estrutura que está por cima. Os formandos pedem

explicações de como é que aquilo foi feito, quem fez, parecem muito

interessados. Um deles pergunta: “O que é que eu tenho de fazer para vir

trabalhar para o CTP?”. Os formandos riem-se e dizem que de vez em

quando há pessoas que são convidadas para entrar, outras saem para outras

áreas da empresa, é uma questão de ”ir falando e estar atento”.

Vai explicando que terão de encontrar a melhor forma de montar as peças

que têm de montar, definidas por ajudas visuais. Depois da operação feita,

terão de construir a folha de trabalho standard (SAB). Pergunta se já

conhecem a SAB; alguns nunca viram nenhuma, formador vai buscar uma e

começa a explicar os diferentes campos de preenchimento. Os formandos

ficam reunidos em volta da mesa de grupo com o formador A, que explica a

SAB, enquanto o formador B está a organizar o espaço e os equipamentos

necessários para a atividade, a pedido do outro formador.

Body

Organização do

grupo

Qualidade

Carta viageira

Metodologia/m

ateriais da

formação

(sofisticação)

SAB

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Cerca de 20 minutos depois de iniciada a auditoria, o formador verifica os

defeitos encontrados, guiado pela grelha de coordenadas. Num ou outra

situação, brinca com a forma como assinalaram o defeito: “Então mas este

defeito está na esquerda ou na direita?”. Aponta alguns defeitos que

deixaram passar, coisas mínimas, diz, mas que na pintura fariam com que a

peça pudesse ficar mal pintada, por exemplo.

A propósito de cada defeito assinalado, o formador vai dialogando com os

formandos sobre as causas, fazendo apelo às operações e atividades que

fizeram no dia anterior: “este parafuso ficou torto”, “isto está assim porque

o ponto de soldadura foi mal feito”, “aqui estão soldaduras a mais”, “este

sealer está grosso demais, via-se notar na pintura”, entre outras.

Os formandos estão atentos. O formador demonstra domínio total sobre as

matérias de que fala e os formandos reconhecem-lhe esse conhecimento.

Vão dizendo “a si não lhe passa nada ao lado”, “não há nada como a

experiência”, ou “quem sabe, sabe”.

Montagem Final

Os formandos discutem sobre os materiais que precisam, experimentam,

repetem, discutem novamente; dividem-se pelas laterais da estrutura

automatizada, trocam impressões sobre a melhor forma de cada operador

se movimentar sem se atrapalharem. Os formadores estão apenas a

observar a uma curta distância. Comentam comigo que “este grupo é muito

autónomo”, mas também que, apesar de “nem todos serem assim”, a

formação da montagem final é “sempre muito ativa”.

Em cada grupo (um por cada lateral) há um “escrivão”, que toma notas de

cada passo, tendo em conta todos os pormenores, para redigirem depois

em conjunto a SAB. Passado algum tempo, os dois grupos voltam a reunir-

se, bem como os escrivães, e discutem sobre o que devem colocar na SAB.

Qualidade

Domínio dos

conteúdos pelo

formador

Organização do

grupo para

execução da

atividade

Autonomia dos

grupos

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Entretanto, os dois formadores deixam o grupo sozinho, informando que

voltam dentro de cerca de 20 minutos, para “trabalharem à vontade”.

Body

Depois da tarefa da auditoria, o grupo analisou o correu bem e o que podia

ter sido mais bem organizado. Formador frisa a importância da equipa ser

autónoma mas saber organizar-se. Diz, em tom brincalhão: “Vocês eram

bons para trabalharem juntos. Não podiam era fazer todos a mesma coisa!”.

Riem-se e concordam que essa questão nem sempre foi respeitada.

O formador aproveita a deixa para definir as funções da próxima atividade:

um escrivão, dois operadores e um team leader. Terão de montar um fender

e garantir o alinhamento, realizando a SAB “de forma muito clara e

objetiva”. Relembra algumas questões básicas sore a comunicação na

fábrica, dentro de equipas e entre as mesmas.

A tarefa é complexa, implica muita organização entre todos. O formando

que assume o papel de team leader é o mais jovem e com menos

experiência, de acordo com a opinião de todos. O formador concorda, mas

diz que terão de ver, ao longo da atividade, se isso resulta, porque um “team

leader tem sempre de ter muita experiência para comandar os outros”.

………………………………………………………………………………

A pausa para almoço decorreu entre as 11H30 e as 12H30.

No regresso à formação, vou alternando entre os dois grupos (estão a 4 ou

5 passos um do outro); os formandos não perderam tempo e dirigiram-se

de imediato “aos seus postos”.

Reparei que o método de construção a SAB é diferente nos dois grupos: no

Body, vão construindo a SAB enquanto vão realizando as operações,

sobretudo a partir do trabalho do “escrivão”. Na Montagem Final, primeiro

discutem muito sobre o processo de montagem e o como o deverão

reproduzir, ajudando o escrivão a tomar as notas; depois de um

Trabalho em

equipa

SAB

Organização dos

grupos

Métodos de

construção da

SAB

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determinado conjunto de operações, sentam-se para ir redigindo a SAB, por

partes.

Em qualquer dos casos, os formadores vão supervisionando e

aconselhando. Não evitam que os formandos cometam erros, nas

operações como na SAB, surgindo situações em que têm de reformular, não

só parte das operações como parte da SAB. É um trabalho de construção de

práticas e orientações técnicas subjacentes que demora bastante tempo e

é feito com grande autonomia.

Montagem Final

Cerca das 14.45 o grupo inicia a operação, que o formador designa por

“elementar” por integrar várias das operações “básicas” dos dias anteriores.

Depois de iniciado o autómato, que se começa a movimentar ao longo da

linha magnética colocada no chão, as duas equipas trabalham nas duas

laterais do “carro”.

Pormenor importante: antes de começarem a atividade, o formador pediu

que dois operadores das diferentes equipas trocassem entre si; ou seja,

teriam de se reger pela SAB que o colega fosse lendo, que não correspondia

àquela que a sua equipa original tinha feito. Isto dificultou bastante as

operações mas foi um fator de maior interesse, verbalizado pelos

formandos. O formador explicou: “Isto não é para ver se vocês são bons a

fazer, que isso eu já vi. É para vocês perceberem a dificuldade de seguir uma

SAB.”

Os escrivães de ambas as equipas vão lendo a SAB como orientação para a

execução das operações. Notam-se diferenças na atuação das duas equipas,

no que diz respeito às soluções encontradas para a produção das duas

laterais:

Uma das equipas assinalou os locais de aparafusamento com fita-cola

de cores (aplicando o poka yoke, conforme depois o formador

salienta) e teve em consideração uma sequência lógica de colocação

das peças (por exemplo, de cima para baixo; de trás para a frente);

Aprendizagem

pelo erro

Atividade de

“operação

elementar”

Papel da SAB

Estandardização

dos processos

Conceitos da

produção

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no entanto, os auxiliares eram muitos e a equipa acabou por “se

perder” entre as várias indicações. Para além disso, o operador que

tinha trocado de equipa não teve muito tempo para se familiarizar

com a sinalética.

a outra, usou menos auxiliares visuais, mas foi mais eficaz na sua

utilização. O operador que chegou de novo à equipa teve, por isso,

mais facilidade em adaptar-se às sinaléticas. Este facto é assinalado

pelo formador durante a análise que faz do processo, salientando que

na linha as orientações “não podem ser de menos nem de mais”.

Ao final de alguns minutos, nota-se que os operadores nem sempre seguem

as orientações da SAB que fizeram, saltando ou alterando alguns passos. De

vez em quando um formando diz para o escrivão: “Isso já está, segue”. Ou o

contrário: o escrivão lê uma determinada orientação, mas o operador ainda

está na tarefa anterior e diz: ”Espera aí, que ainda não acabei esta”.

Também surgem comentários como: “O quê? Lê lá isso outra vez.”, sendo

que o autómato vai circulando, para o qual o formando diz: “Espera aí que

ainda não percebi onde é que aparafuso isto!”. Isto gera uma risada geral,

incluindo os formadores. Numa outra situação, um deles diz: “Olha lá, mas

quem é que escreveu isso? Isso não se percebe”; o escrivão responde: “Eu

não fui à escola, vim pra fábrica quando era pequenino”. Todos se vão

divertindo visivelmente ao longo da atividade pelas situações caricatas que

vão surgindo.

A operação demora muito mais do que o previsto e quando o autómato

parou as equipas continuaram a realizar as operações que faltavam. O

formador diz: “Epa, então esse carro já está na estação a seguir e tu ainda aí

estás?”. O formando responde: “Não interessa, chefe, isto é para ser bem

feito.”

No ponto de situação posterior, o formador salienta que, tratando-se de

trabalhadores na linha real, iriam ter de retificar a SAB até que fosse

inequívoca e que a operação estivesse alinhada com a SAB, no tempo de

ciclo pretendido. Ainda assim, as equipas retificam o que reconheceram não

Ambiente da

formação

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98

estar conforme os processos, enquanto alguns elementos do grupo vão

desmontando os materiais usados para poderem repetir a operação.

A segunda tentativa é muito mais rápida, nota-se uma maior concentração,

não fazem muitos comentários entre si. Conseguem fazer a operação no

tempo de ciclo (1m25) e no final até batem palmas e dizem “Yes”, “agora

sim”, “quando a gente quer, isto vai”.

De forma organizada desmontam novamente as peças do autómato e

arrumam o espaço. O formador vai lembrando os 5S. Reúnem-se na mesa

de grupo e preenchem a folha de confirmação de técnicas, enquanto vão

conversando sobre as maiores dificuldades e motivações do exercício do

dia.

Body

Finalizada a sequência das operações, que foi acompanhada pela

construção e retificação, passo a passo, da SAB, fazem a reunião do fim do

dia. Noto que não repetiram a atividade para que confirmassem as

retificações feitas, não tendo completado as operações dentro do tempo de

ciclo pretendido. A questão do tempo de ciclo parece não ser tão valorizada

por este formador, que foi mais insistente na questão da clareza e

objetividade da linguagem da SAB.

Durante a reunião final, comparam a SAB feita com outras duas, feitas em

formações anteriores. De novo, referem os pontos fortes e frágeis, do ponto

de vista de cada um, sendo que a criação de standards é apontada como a

questão mais complexa, embora reconheçam a importância de haver

standards na linha real. De novo referem o bom ambiente entre todos e a

orientação do formador como pontos fortes.

Depois de preencherem a folha de confirmação de técnicas, os formandos

dirigem-se à zona de aquecimento e repetem o que já se tornou uma rotina

e, em definitivo, uma espécie de competição entre eles: os exercícios

“enrolar cabos” e “passar cabos”. Os formandos da Montagem Final

procedem da mesma forma, cronometram e registam os tempos. O

Repetição da

mesma

operação

“elementar”,

para melhoria

Rapidez

Competitividade

Conceitos da

produção

Balanço final do

dia de formação

Comparação de

SAB

Importância dos

standards na

linha

Zona de

treino/aquecim

ento

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formador elogia um deles, dizendo que já está no “top 10” dos formandos

que têm passado pelo CTP. Competitividade

latente

Observações adicionais:

Almocei com o grupo de formadores, desta vez a conversa rodou em volta de situações de

trabalho na fábrica, mencionando-se preocupações sobre a relação entre equipas, a

rotatividade e a preparação dos operadores mais novos.

Voltei mais cedo para a sala de formação de maneira a rever as anotações antes do período da

tarde começar. Reparo que ainda não me referi à linguagem usada pelos formadores: é clara,

acessível, não evita os conceitos mais técnicos. De vez em quando, há formandos que pedem

esclarecimentos sobre um dado termo, que é prontamente esclarecido com exemplos práticos

da sua aplicação.

Não noto constrangimento dos formandos pela minha presença. Estão, provavelmente, tão

envolvidos nas atividades que sinto que se esquecem que ali estou. Tento não estar demasiado

“em cima” das situações, para não atrapalhar nem alterar o funcionamento dos grupos.

Os grupos são dinâmicos, parecem ter prática de autogestão, organizam-se com facilidade para

executar as tarefas; os formadores funcionam como mediadores entre a explicação e a teoria

e as práticas que têm de desenvolver. A formação “flui” e é muito interessante de se observar.

Para além disso, os espaços são tranquilos, têm todo o material necessário à mão e muitos

meios disponíveis.

Tenho a noção de que seria interessante experimentar as práticas, experienciar a forma como

os grupos se organizam para trabalhar na formação, embora receie que a minha presença possa

ser um obstáculo na organização interna dos grupos. Vou partilhar esta ideia com o

coordenador no final desta formação e ver que perceção tem de situações semelhantes, uma

vez que sei que há observadores com frequência e que, em alguns casos, fazem algumas das

atividades precisamente para experimentar o lado mais prático da formação. Dessa forma,

poderia também observar mais uma formação de cada um destes Fundamental Skills, dessa vez

separadamente.

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Dados da realização das observações

Data: 11 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Fundamental Skills – Montagem final e

Body (Competências Fundamentais de Montagem Final e Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-

Chave/Temáticas

Após a rotina diária na zona de aquecimento (competição incluída), o grupo

reúne-se em sala: os formadores explicam o objetivo de filmarem estações da

linha, reforçam a importância das SABs e salientam alguns cuidados a ter na

visita às linhas.

No caso do grupo do Body, o formador optou por não filmar estações por

duas razões: pretende repetir o exercício do dia anterior e retificar melhor a

SAB que fizeram, para além de que só há uma máquina de filmar, pelo que

terão de sabem ainda se vai haver tempo para que ambos os grupos cumpram

essa parte das atividades.

………………………………………………………………………………

Visito a linha com o grupo da Montagem Final e verifico que muitos deles

conhecem os operadores com que se vão cruzando. Comentam entre si o

local em que trabalham e demoram algum tempo até decidir quais as

estações a filmar, uma vez que terão de ter complexidade média e não ser o

posto de trabalho de nenhum dos formandos.

Após algum tempo, decidem-se por uma estação, filmam, conversam um

pouco com os operadores de linha, que nunca deixam de trabalhar. O ritmo

de trabalho é acelerado e cada operador realiza várias operações, enquanto

troca impressões com os colegas a propósito de alguns dos carros que

chegam. Há bastante barulho na linha, nem sempre consigo acompanhar as

conversas.

Zona de

treino/aquecim

ento

Atividade de

filmagens de

estações da

linha de

produção para

construção e

SAB

Relação entre

os operadores

de

linha/formando

s

Ambiente e

ritmo de

trabalho na

linha

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………………………………………………………………………………

Cerca das 9H o grupo da Montagem Final regressa da visita à linha. Os

formadores conferenciam enquanto os formandos fazem intervalo.

Concluem que o grupo do Body não vai ter tempo para filmar uma estação e

realizar todo o trabalho subsequente.

O formador do Body decide ir com o grupo à zona dos alinhamentos, uma vez

que essas foram as operações que suscitaram mais dúvidas, curiosidade e

nem sempre os operadores têm a oportunidade de as visitar. É o próprio

formador que me convida a acompanhá-los.

………………………………………………………………………………

Na zona do Body, tivemos de ter alguns cuidados adicionais de segurança: o

cabelo não pode estar solto, os olhos têm de estar protegidos com óculos

espaciais, por causa das fagulhas da soldadura. Todas as zonas de soldadura

estão, aliás, isoladas com placas altas e nenhum do material utilizado pode

ser inflamável. O formador cumprimenta todos os operadores; aquele foi o

seu local de trabalho durante quase 20 anos.

Aproveita a visita para dar esclarecimentos sobre algumas questões teóricas

a propósito da visualização das práticas e responder às muitas perguntas que

os formandos colocam, nomeadamente sobre:

a programação dos robots e o investimento que tem sido feito na

formação dos operadores para essa função;

o sincronismo necessário entre as diferentes operações;

a importância dos standards;

os pontos de verificação da qualidade;

a evolução da relação homem/máquina ao longo dos tempos na

fábrica, sobretudo no sentido da máquina substituir o homem nas

operações mais perigosas. O formador deu exemplo de vários

acidentes nesta zona da fábrica, que levaram a algumas decisões sobre

a alteração do processo de produção e a maior intervenção de robots.

Diferença de

opção

metodológica

entre o FS Body

e Montagem

Final

Visita à zona do

Body

Cuidados de

segurança

Relação

formador/zona

de trabalho

Questões

teórico/práticas

da zona do Body

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………………………………………………………….

Depois do almoço acompanhei a formação da Montagem final.

Montagem Final

O grupo visualizou o filme que fez, tomando notas de todos os detalhes.

Depois redigiram a SAB, melhorando-a por fases.

Neste momento, estão a transpor a SAB para um formato digital, em que vão

incluir imagens retiradas das fotografias que também tiraram da estação

observada. O objetivo é criar uma SAB final ilustrada.

O formador informa o grupo que é frequente o departamento da Engenharia

Industrial pedir estas SABs ao CTP, sobretudo as imagens captadas, mas

também as ideias. Dessa forma, tem uma base para construção de SABs ainda

mais especificadas.

Os formandos mencionam que acham interessante essa relação entre o que

se faz na formação e a melhoria na produção, aproveitando os materiais que

ali se fazem. O formador concorda e acrescenta que “esse é um dos objetivos

da formação do CTP, colaborar com a área da produção e levar à melhoria

contínua”.

Body

A tarefa de criar uma SAB em formato digital é ligeiramente diferente, porque

não filmaram uma estação. O formador fornece imagens relativas à atividade

que fizeram no dia anterior e que completaram de manhã. Será essa a SAB a

passar para ficheiro digital.

Todo o procedimento é idêntico ao da Montagem Final; até as informações

sobre a relação entre o CTP e a Engenharia Industrial é idêntica.

………………………………………………………………………………

É de registar a forma como, apesar do contratempo com a máquina de filmar,

os dois grupos conseguiram manter-se a par e passo no planeamento feito,

Atividade de

explicitação dos

saberes

Relação entre a

formação e a

Engenharia

Industrial

Objetivo do

CTP:

colaboração

com a produção

para melhoria

dos processos

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ajustando-se aos contratempos. O trabalho do grupo do Body é mais

aligeirado, mas fazem o mesmo tipo de procedimento final.

Depois dessa fase da formação, que decorreu durante o resto da tarde, os

grupos voltaram a sentar-se nas respetivas mesas de reunião de grupo e

finalizaram o preenchimento das folhas de confirmação de técnicas.

Cada formador responsável entregou uma folha a cada formando para que a

juntassem ao processo anterior, com uma fotografia de grupo ampliada. Foi

uma espécie de surpresa aos formandos: a fotografia tinha sido tirada no

regresso do almoço e os formadores tinham feito aquele trabalho enquanto

os formandos terminavam as SABs.

Não é a primeira vez que os formadores têm uma ação deste género. Lembro-

me que no L.E.G.O. Line um dos formadores fez uma coisa idêntica, que incluía

o tratamento de dados da formação, apresentando-o ao grupo no final a

formação.

O processo pedagógico da formação fica concluído com a folha de avaliação

da formação, segundo explicam os formadores. Guardam as folhas de

confirmação de técnicas, a avaliação e a fotografia de grupo num dossier já

com uma lombada identificativa do grupo, ficando um exemplar da fotografia

aos formandos. Dessa forma, no final e cada formação fica também finalizado

o processo pedagógico formal.

A formação finaliza-se cerca das 15H, uma vez que os formadores tinham

agendada uma reunião de departamento para as 15H15. As despedidas são

efusivas, com elogios à formação pelo meio, retribuídos pelos formadores no

sentido de incentivar os formandos a continuarem “o bom trabalho”.

Os formandos ainda repetem os exercícios de aquecimento que os têm

aliciado ao longo dos dias de formação, o formador regista um deles no top

10 do CTP. Um outro formando pede ajuda ao formador da Montagem Final

num exercício que lhe foi pedido na Faculdade: percebo que ambos estão a

fazer o mesmo curso superior, em anos diferentes.

Organização das

tarefas

Empenho dos

formadores na

motivação dos

formandos

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………………………………………………………………………………

O encerramento da formação teve de ser rápido, uma vez que ia haver uma

reunião da equipa do CTP com a Área da Produção.

Zona de

treino/aquecim

ento

Relação

CTP/Área de

Produção

Observações adicionais:

Depois da visita à linha do Body, almocei com o grupo de formação na cantina. A conversa entre

o formador e os formandos girou em torno da visita à linha, de forma natural e descontraída,

demonstrando uma relação de colegas de trabalho; denota-se a confiança depositada no colega

mais velho e mais experiente (o formador) para obter mais (in)formação.

No final do dia, não tive oportunidade de falar com o coordenador sobre a minha ideia de

participar em alguns módulos do CTP, uma vez que se preparava para a reunião referida

anteriormente. Decidi que irei contactá-lo mais tarde para falar com ele sobre esse assunto.

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Dados da realização das observações

Data: 18 de novembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo L.E.G.O. Line (Linha L.E.G.O.) Duração: 7H

Participantes: 2 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-

Chave/Temáticas

Notas prévias

A ideia de participar na formação como formanda foi surgindo ao longo das

observações não participantes. Foi um desafio pessoal sobre o qual refleti ao

longo de algum tempo, nomeadamente na sequência de alguns comentários

dos próprios formadores e formandos de sessões que observei

anteriormente. Partilhei a ideia com a orientadora e com o coordenador do

CTP e defini que faria a experiência em duas ou três ações de formação.

Pareceu-me fundamental, sentir na prática, as práticas que me tinha

proposto estudar.

Também é importante registar que, apesar de haver uma grande abertura da

parte do coordenador para que eu esteja nas formações como observadora,

a verdade é que tenho de justificar a reincidência das observações num

mesmo módulo; esta é (também) uma forma de estar como observadora nos

mesmos módulos uma segunda vez, tentando confirmar perceções e

diversificar as pistas de análise.

Nas últimas semanas já me foi sido permitido utilizar o computador no

espaço do CTP, mas optei por registar as impressões sobre este módulo do

LEGO cerca de 2 a 3 dias depois, por me parecer que teria uma memória mais

objetiva do desenrolar da formação. Tomei apenas algumas notas no

desenrolar da formação, tentando não ser muito notada nessa tarefa, para

também não constranger os outros formandos.

A maior dificuldade sentida foi o facto de já conhecer as atividades, porque

já tinha observado este módulo de formação. Um conhecimento prévio

Observação

participante

Vantagens da

Observação

participante

Uso do

computador e

tomada de notas

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sobre as atividades não facilita a lógica de “aprendizagem pelo erro” ou de

“ação-reflexão-ação”, porque já observei como se faz.

Não omiti a minha motivação e a razão de ser da minha presença nesta

formação. Não sei se por essa razão ou por não ser da empresa, senti que os

formandos não tinham mantido uma relação comigo de “igual para igual”;

foi evidentemente diferente daquela que mantêm entre si. Senti alguma

reserva sobre a minha inclusão na organização das tarefas e na minha

inserção no grupo, em termos de trabalho de equipa.

Pode ter acontecido que a minha presença tenha alterado o que seria a

relação pedagógica sem a minha intervenção, mas essa também é uma

questão que tenho de contemplar quando estou apenas como observadora.

Seja como for, parece-me que com o decorrer do dia, os trabalhadores se

foram habituando à minha presença e a minha participação acabou por ser

frutífera para conferir um olhar diferente sobre as minhas observações.

……………………………………………………………………………………

O dia de formação começou às 7H. Como ainda não estavam instalados os

meios tecnológicos necessários, compostos por computador e projetor,

houve um pequeno compasso de espera, de cerca de 15 minutos, enquanto

os formadores preparavam o que faltava. Os formandos foram chegando,

foram mantendo conversas entre si; alguns já se conhecem de trabalharem

na mesma zona.

A sala é composta por um conjunto de cadeiras alinhadas no fim da sala,

encostadas à parede do fundo, de modo a deixar livre todo o centro da sala,

onde estão as estruturas que reproduzem a linha de montagem para a

realização a atividade, com racks dispostas ao longo dessa linha, tal como na

sessão em que observei mas não participei.

Sentados no fundo da sala, começou-se a formação pela apresentação

pessoal dos formadores e formandos: nome, idade, funções

desempenhadas, hobbies. Dos 12 formandos, apenas duas pessoas são da

montagem final, incluindo um team leader; as restantes são de outras áreas,

Exposição dos

objetivos da

observação

participante aos

formandos

“Efeito do

observador”

Meios e

materiais

Configuração do

espaço

Constituição do

grupo de

formação

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107

como os Recursos Humanos, a Qualidade e a Logística. Eu apresentei-me

também nessa altura, expliquei ao que vinha, as minhas motivações e

agradeci a possibilidade de estar com todos os outros formandos. Os

formadores apresentaram-se depois. Foram dois os formadores

responsáveis pela formação: um orientou a generalidade das atividades; o

outro, deu apoio na organização da sala, no desenvolvimento das atividades

e foi dando um ou outro conselho ao longo do desenvolvimento da atividade.

Foi feita uma breve exposição com o objetivo de caraterizar o Grupo

Automóvel, os seus objetivos e missão a médio prazo, o sistema de produção,

alguns conceitos de melhoria contínua – como os 5S, tipos de desperdício,

noções básicas de otimização e de standars. Esta parte da formação durou

cerca de 1H30.

Após uma série de sessões de formação observadas, concluo que em todas

esta é a chave que abre os trabalhos da formação, passando depois para as

atividades práticas, tentando associar alguns conceitos apresentados a essas

práticas, implementando-os nos exercícios. Por outro lado, como os

trabalhadores passam por todas as formações do CTP (à exceção dos

módulos de Fundamental Skills, que são destinados aos operadores de cada

área específica da produção), ou pelo menos esse é o objetivo do CTP, é

possível que estes conceitos vão ficando mais solidamente inculcados nas

pessoas que fazem parte da empresa, consolidando uma “cultura de

empresa”.

Quando se passa à explicação dos exercícios, todos os formandos se

levantam e aproximam da linha. Denoto o agrado crescente por sentirem

que afinal não vamos estar sentados e que vai ser uma formação prática.

Primeiro a tarefa é explicada na íntegra, sendo feita por um dos formadores,

do princípio ao fim. Depois, distribuem-se os postos de trabalho na linha e

algumas funções externas à linha, como a de observadores, que irão tomar

nota do que acharem que merece ser registado para ser discutido e

melhorado.

Heterogeneidade

do grupo

Apresentação do

Grupo

Automóvel

Sistema de

produção da

empresa

Sequência

consistente de

atividades

Cultura de

empresa

Explicação da

atividade

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Designa-se um team leader, um operador de qualidade e lança-se o desafio:

“Quantos carros se conseguirão fazer em 12 minutos?” Em função da meta

definida, é alinhado o automatismo da linha, que irá estar a andar ao ritmo

definido e não poderá ser parada, a não ser que o team leader indique que

isso tem de ser feito. A atividade é filmada por um dos formadores.

O exercício inicia-se com calma, eu estou no primeiro posto de trabalho, que

consiste em colocar um tabuleiro na linha, que tenho de agarrar na parte

inferior da linha, rente ao chão, colocar uma base de feita de Lego, onde

encaixo oito peças mais pequenas. Este conjunto será o apoio onde os outros

operadores de linha irão montando as restantes peças do carro, cada um

deles com uma sequência de encaixes e operações simples de 2 ou 3 passos

cada. No entanto, denota-se que a meio da linha as operações se

complexificam, porque são mais peças e que requerem mais atenção.

Sensivelmente a meio da atividade, a linha teve mesmo de ser parada,

porque o posto do meio da linha acumulou 3 carros por montar, por não

conseguir montar um outro que vinha mal montado de trás.

Ainda assim, conseguiram montar-se 8 carros - apesar de 2 terem pequenos

defeitos -, que tinha sido a meta definida pelo grupo.

A parte seguinte da formação é dedicada a visualizar o vídeo feito pelos

formadores sobre a primeira ronda da atividade, anotando-se os problemas

que foram surgindo e as possíveis razões dessas ocorrências; os que fizeram

de observadores, emitem as suas opiniões; o mesmo sucede com todos os

outros formandos. Eu ainda me sinto inibida, sobretudo porque já presenciei

aquela formação e sei que há pormenores simples que serão mencionados

mais adiante. Não quero mudar a dinâmica do exercício estragando o “efeito

surpresa”.

É feita uma lista de alterações a fazer, no que diz respeito à organização e

sequência de trabalho e, sobretudo, à reorganização ao nível da logística,

uma vez que se detetou que o maior problema tem a ver com o fornecimento

de peças. Daqui que as caixas vão ser reorganizadas, as peças de Lego serão

dispostas de forma mais ergonómica e acessível à linha e aos operadores. Há

Distribuição de

tarefas no grupo

1ª ronda de

atividade

Dificuldades na

linha

Autoscopia

Atividade de

melhoria

Reflexão sobre a

ação

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recurso, por exemplo, a etiquetas coloridas para as diferentes fases do

processo de montagem, para que os operadores possam ser mais rápidos nas

suas montagens.

Eu faço esse registo num flipchart, a partir das opiniões concertadas de

todos. Todo este processo, de observação, discussão e concertação de

estratégias (no fundo, processo de melhoria contínua) ocupa cerca de 1H30

da formação. Entre o primeiro exercício e a discussão de melhorias, a

formação é interrompida para almoço. O intervalo de almoço é de 45

minutos.

No regresso do almoço, e após mais um curto período de reflexão, discussão

e propostas de melhoria, estas são implementadas, mantendo-se a maioria

das funções do roleplay, com exceção dos observadores, que passam a ser

operadores de logística, alimentando a linha de produção com as peças que

vão faltando.

O número de problemas diminuiu significativamente, não havendo

ocorrências que obriguem, por exemplo, a parar a linha. São feitos 12 carros,

sendo que um deles tem um defeito. Mesmo ali, ao redor da linha, as

situações de melhoria são debatidas. Desta vez foram feitos 12 carros em 12

minutos, ou seja um carro por minuto. O automatismo da linha é afinado

para esse espaçamento e a atividade é novamente repetida, com pequenas

alterações ao nível da organização, a pedido dos próprios formandos. Sente-

se um grande entusiasmo, os formandos verbalizam que “isto é mesmo

engraçado”; vão também falando mais comigo, perguntando sobretudo

como é que me “estou a dar com isto”.

De novo, foram feitos 12 carros, desta vez sem defeitos. Há quem sugira mais

alterações, que são bem acolhidas mas que não podem ser implementadas,

uma vez que o exercício não vai poder ser repetido. A lógica debatida é que

“nada está tão bem que não possa ser ainda mais melhorado” e que “essa é

uma das grandes responsabilidades das equipas de trabalho e não apenas de

cada um”. Estes dois formadores são, talvez, mais pragmáticos do que outros

que tenho encontrado na formação. Denota-se que têm um grande domínio

2ª ronda do

exercício –

otimização

Resultados da

otimização

Reação positiva

dos formandos

aos métodos da

formação

Melhoria

contínua

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da atividade e sabem onde querem que os formandos cheguem, mas fico a

pensar, como elemento do grupo de formação, que o entusiasmo

demonstrado pelo exercício poderia ter sido melhor aproveitado, para

concretizar mais algumas das propostas que foram feitas.

Após a finalização da atividade, os formadores orientam os formandos para

que se possa arrumar a sala tal como ela estava no início da formação. O

tempo das atividades reserva esta meia hora para este efeito, uma vez que

cerca das 15H30 termina esta ação, mas inicia-se outra, do turno da tarde.

Ou seja, a sala terá de ficar tal qual estava quando entrámos. É de assinalar

que todos seguem a lógica dos 5S na arrumação da sala. Tudo é feito

eficazmente, sem confusões e de forma célere.

Ainda há cerca de 15 minutos para um balanço final da formação. Neste

balanço final, os formandos referem com frequência o quanto se divertiram,

que foi um dia diferente, que os problemas ali detetados refletem em muito

os problemas que vão surgindo na linha, que toda a gente deveria passar por

esta formação e implementar alguns daqueles princípios na linha, se bem

que não se consegue prever tudo o que acontece na linha. Uma das questões

que é levantada pelos formadores é o facto de todos terem no seu horário

de trabalho, formalmente, meia hora semanal para discussão de problemas

e proposta de melhorias.

As opiniões são mais ou menos concordantes com a importância de uma

organização metódica no posto de trabalho, mas os formandos assinalam a

dificuldade de a pôr em prática, em virtude do stress que se vive na

verdadeira linha de montagem, referindo que muitos problemas não estão

previstos e não há tempo para “ir ver os procedimentos”. Esta problemática,

das diferenças entre ideias e teorias defendidas na formação e as práticas

postas em funcionamento na empresa, é uma das que mais entusiasmaram

a discussão do grupo de formação. É salientado por diversas vezes que, na

maioria dos casos, a meia hora de reunião semanal não chega a ser cumprida,

porque há assuntos mais urgentes para tratar na linha, ou mesmo porque é

usada em trabalho nas estações.

Controlo da

atividade pelos

formadores

Arrumação do

espaço do

espaço após

atividade

Conceitos da

produção

Balanço final da

formação

Reunião de

equipa (da linha)

Práticas vs

procedimentos

Dificuldades da

linha de

produção

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É claramente uma formação lúdica e divertida, consegue esse objetivo com

facilidade, pela própria natureza dos exercícios e até pelos materiais usados.

Para além disso, a sequência de atividades promove a discussão e a vontade

de melhorar, apelando a um sentido de união da equipa.

Um dos formandos enuncia algo desse género, acrescentando que a empresa

sabe bem como “treinar gente competitiva”, mas que é uma “competição

saudável, em equipa”, no sentido de que põe as pessoas a pensar em

conjunto e a encontrar soluções em conjunto. Outro formando acaba por

afirmar que “às vezes é pena que seja só assim na formação”, ao que outro

responde que “não é bem assim, isso depende muito do teu chefe”.

Antes de finalizar, há ainda tempo para que os formandos façam a avaliação

da formação, nos mesmos moles de todas as outras que tenho observado.

Natureza lúdica

da formação

Trabalho de

equipa

Formação para a

competitividade

Observações:

Senti que o grupo era um pouco menos dinâmico do que os outros que observei. Não sei isso

está relacionado com a minha presença, a verdade é que com o avançar do dia o grupo tornou-

se mais “solto” e integraram-me progressivamente no grupo.

Achei a experiência positiva e a continuar, pelo menos até rever todos os Módulos principais do

CTP.

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Dados da realização das observações

Data: 07 de dezembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Lean Games (Jogos Lean) Duração: 7H (de 14H) (1º de dois dias)

Participantes: 2 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

A formação sofreu um ligeiro atraso no seu início, uma vez que os formadores

tiveram de esperar que chegassem alguns operadores de linha até cerca das

7h30, hora sensivelmente a que chegaram mais três formandos, todos da

linha de montagem. A justificação dada foi a de que só tinham sido

informados há 10 minutos de que tinham formação. De facto, vêm vestidos

com a farda de trabalho.

A disposição da sala repete a que observei na sessão não participante dos

Lean Games: em U, com vários placards expostos pela sala, nomeadamente

alguns que agora já sei que servirão para anotar os resultados de cada

atividade. As apresentações são breves, restringem-se a alguns dados

pessoais genéricos – nome, idade, zona de trabalho e funções

desempenhadas –, referindo-se às áreas de origem, que vão da Montagem

Final e Pintura, aos Recursos Humanos e Logística. Quando me apresentei, a

reação foi de grande interesse; houve quem me questionasse se já não estava

no RVCC, porque me conhecia dessas funções, apesar de não ter feito o

processo comigo. Demonstrei surpresa por me conhecer; um outro formando

afirmou que “sim, um dia destes é como se fosses da empresa”, ao que um

dos dois formadores respondeu que eu já era do CTP.

Seguiu-se a apresentação sobre os conceitos relacionados com o sistema de

produção do Grupo, tal como noutras sessões a que assisti. Este grupo

manifestou algumas opiniões mais críticas sobre os objetivos da empresa: são

estratégias para um crescimento mais rápido a menor custo; há trabalhadores

que estão na empresa numa base de “vai-vém”, ou seja, que são

Influência da

Produção na

formação

Espaço da

formação

Constituição do

grupo

Interesse pela

investigadora e

pelo estudo

Conceitos do

sistema de

produção

Trabalhadores

precários

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trabalhadores temporários mas que fazem as mesmas funções que outros

efetivos, sem nunca chegarem a ter as mesmas regalias.

Também há opiniões em linha com o discurso da organização: que as

estratégias acabam por assegurar os postos de trabalho; que o que os

trabalhadores desta empresa ganham está muito acima da média de outras

empresas no país; que outras empresas têm “caído” e esta “vai-se

aguentando”; que as condições de trabalho não se comparam com as de

outras empresas. Achei muito interessante esta discussão, que foi sendo

intercalada com os diversos conceitos apresentados pelos formadores. Desta

vez, ambos os formadores foram falando, não se notando que houvesse um

“principal”. Em nenhum momento os formadores interromperam as

interpelações dos formandos, foram mesmo seguindo o fio das conversas e

tentando mediar a discussão, embora com uma tendência para representar

os ideais da empresa.

No decorrer do primeiro exercício prático, foi-me destinada a função de

fornecer as caixas grandes à linha (em tudo idêntica à primeira observação

dos Lean Games). A agitação foi enorme, o grupo de formação é

extremamente participativo e gosta de dar opiniões sobre todas as etapas, o

que por vezes dificulta a tarefa dos formadores, que precisam que a atividade

siga um determinado caminho. Desde o início que houve alguns formandos a

chamar a atenção sobre a forma como as caixas iam ser fornecidas à linha,

que não podiam “entupir” a linha.

As diferentes rondas da mesma atividade vão revelando sensivelmente o

mesmo tipo de melhorias que já tinha tido oportunidade de observar.

Considero que não será uma mais-valia em observar de novo a mesma

formação e focar-me novamente nos conteúdos e metodologias de formação,

que por esta altura já conheço bem. As dinâmicas de grupo são, talvez, a

estratégia mais bem conseguida através deste tipo de atividades, bem como

a proximidade das práticas do trabalho através de simulações, role play,

gravações e visionamento das ações, entre outras.

Funções dos

trabalhadores

precários

Vantagens da

empresa face ao

emprego

Mediação da

discussão

Caraterísticas

do grupo de

formação

Melhoria

contínua

Dinâmicas de

grupo

Metodologia da

formação

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114

A postura dos formadores também é de relevo nestas observações. Apenas

uma vez encontrei um formador que já tinha estado numa formação

previamente observada, em todos os casos tenho-me cruzado com

formadores novos. Esse tem sido um critério para escolher as formações a

observar, com toda a abertura do coordenador. Estes dois formadores

revelam uma atitude muito semelhante aos que já conheci: falam em tom de

voz suave, não interrompem as conversas paralelas nem as discussões em

grupo, embora não percam o controlo da formação em nenhuma altura,

reconduzindo as deambulações para os conteúdos da formação de forma

natural. Os formadores apoiam muita da informação que transmitem em

exemplos pessoais de situações experienciadas em diferentes postos de

trabalho.

Revelam, também, uma experiência profissional consideravelmente

diversificada, dentro e fora da empresa, o que se nota através dos exemplos

que dão ou pela forma como contrapõem um exemplo dado pelos formandos.

Tal como outros formadores que conheci antes, têm um perfil polivalente,

adaptam-se rapidamente ao estilo do grupo. Essa tem sido uma caraterística

evidente na equipa de formadores, apesar de diferentes e com diferentes

grupos de formação, nomeadamente quanto aos níveis de adesão e

participação nas atividades, postura crítica e capacidade de trabalho em

equipa. Funcionam como mediadores e moderadores.

A discussão em grande grupo sobre as melhorias a implementar para a última

ronda da atividade foi bastante animada e participada: alguns dos formandos

demonstraram já conhecer a técnica da “espinha de peixe”, enquanto os

formadores a iam explicando, o que fez com que a sugestão de alterações

fosse no sentido de reproduzir a forma como dois deles já trabalhavam nas

suas estações. Um dos formadores aproveitou para salientar que as sugestões

demonstravam não só que alguns conceitos ali trabalhados já eram postos em

prática nas linhas, como a evolução da organização do trabalho seguia no

sentido da estandardização que a empresa pretendia.

Um dos formandos emitiu a opinião de que a excessiva uniformização dos

processos os tornava rotineiros, ao final de algum tempo, causando alguma

Postura dos

formadores

Importância do

know-how dos

formadores

Perfil

polivalente

Melhoria

contínua

Conceitos da

produção e

implementação

na linha

Excessiva

uniformização

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115

desmotivação nos operadores, que “tal como toda a gente precisa de fazer

coisas novas de vez em quando”. A troca de ideias prosseguiu em redor das

vantagens e desvantagens da estandardização, com o formador a defender

que não se tratava de normalizar para estagnar, mas para poder “evoluir num

sentido comum a todos”. A diferença de posições foi aparentemente

respeitada por ambas as partes e aceite em alguns dos argumentos. O

formando que anteriormente tinha emitido uma opinião mais crítica

terminou dizendo que “pois, não é possível trabalhar em conjunto se cada um

fizer à sua maneira”.

Aproveitando a deixa sobre o trabalho em conjunto, os formadores incitaram

a que se terminasse o trabalho de sugestão e melhorias e que se repetisse o

exercício, alertando que faltava apenas cerca de 20 minutos para a hora de

almoço.

O exercício foi repetido, os processos revelaram-se, de facto, mais eficazes.

Nova discussão surgiu, desta vez em torno da otimização, não só dos

processos, mas da “força de trabalho”. A questão da diminuição dos postos

de trabalho como consequência de práticas de gestão lean ocupou cerca de 5

minutos, antes da pausa para almoço. Um dos formadores referiu que essa é

uma questão que surge inevitavelmente quando se fazem estes exercícios no

Lean Games, mas que os trabalhadores que ali estavam podiam testemunhar

se alguém tinha sido despedido na sequência de alterações na gestão das

estações de trabalho. Um dos formandos concordou, afirmando que conhecia

quem tivesse perdido “um posto de trabalho mas ganhou outro melhor”.

Aproveitando a afirmação, um dos formadores fez algumas afirmações

pertinentes, que aqui tento reproduzir o mais fielmente possível, partindo das

notas que tirei: “Aliás, essa é uma resposta àquilo que vocês há pouco se

queixavam, da rotina e da repetição de tarefas. Esta é também uma maneira

de provocar alterações nos postos de trabalho e nas funções dos

trabalhadores. Assim, também ganham experiência em mais funções. É isso

que a empresa pretende: polivalência, e não estagnação.”

………………………………………………………………………………….

dos processos e

o trabalho

rotineiro

Vantagens/desv

antagens da

estandardização

Noção de

trabalho de

equipa

Eficácia dos

processos

Otimização

Conceitos da

produção

Tensão:

Reconfiguração

dos postos de

trabalho

Melhoria

contínua/otimiz

ação como

solução para a

rotina

Entre a

polivalência e a

estabilidade

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………………………………………………………………………………….

De regresso à sala de formação, a formação seguiu uma componente mais

teórica, em redor dos conceitos dos 5S, seguida da atividade prática com os

cartões magnéticos que já tinha registado na sessão de observação não

participante. A atividade foi muito animada, os grupos perceberam

rapidamente que se tratava de uma questão de “arrumação, limpeza e

organização”, embora os formadores não permitissem que se saltasse

nenhum dos passos da atividade. Pensei que essa opção talvez fosse rígida

demais, mas, por outro lado, essa é a visão de quem já conhece a atividade e

não de quem a faz pela primeira vez. Os formadores não saltam nenhuma

etapa e repetem as metodologias, embora se adaptem aos ritmos e opiniões

dos grupos.

No jogo da porta, um dos formandos do grupo em que estava inserida sugeriu

logo na primeira ronda que se fizesse uma escolha dos materiais necessários,

aplicando os 5S, afirmando que a “caixa dos parafusos é mais confusa que o

quarto do meu filho”. O formando que estava responsável pela organização

dos materiais sugeriu que primeiro se fizesse como estavam habituados,

depois se via o era necessário escolher. Um dos formadores percebeu a

conversa e concordou que era melhor que se fizesse alguma seleção prévia,

mas não forneceram mais material que permitisse fazer uma melhor

separação. O formando acabou por realizar a atividade sem separar

previamente os materiais; a discussão em torno desta decisão demorou

algum tempo. Quem fez as funções de operador de linha acabou por decidir

colocar os parafusos nos bolsos, dividindo pelos dois os tipos de parafusos

necessários. O formador percebeu a estratégia e comentou: “Pois é. É por isso

que depois na linha aparecem carros riscados. Se isso cai dos bolsos, lá se vai

a pintura!”. O formando sorriu mas não alterou a forma de proceder, apesar

de os outros elementos do grupo chegarem a insistir para usar outro método.

No restante da atividade, o grupo seguisse a metodologia definida.

Seguiu-se a estratégia habitual, de reflexão sobre os problemas surgidos e

sugestão de alterações. Parece-me que este grupo é mais dinâmico na forma

Conceitos da

produção

Metodologia de

trabalho vs

metodologia da

formação

Aplicação dos

5S

Qualidade

Resistência dos

formandos à

mudança de

práticas

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117

como age e reage, mas pode ser uma impressão de quem está “de dentro” e

não ser tão objetiva como quem é exterior às atividades.

A formação terminou depois da segunda ronda de aperfeiçoamento. Os

formandos ainda ficaram algum tempo no exterior em conversa sobre as

atividades e sobre situações da fábrica suscitadas pelos exercícios que tinham

feito durante o dia. Um dos formadores esteve também nessa conversa, de

forma totalmente informal, corroborando algumas opiniões. Nestas

situações, os formadores voltam a ser mais um dos trabalhadores das linhas.

Reflexão sobre a

atividade

Identificação

profissional

entre os

formadores e os

formandos

Observações:

As atividades são divertidas, sem dúvida; participar nestes jogos é mais interessante do que

simplesmente observar, conforme já me tinha ocorrido noutros momentos. Em simultâneo,

sentem-se “na pele” as dificuldades de executar as tarefas propostas, sobretudo quando se tem

de articular ideias e práticas com outros, com ritmos ou formas de fazer diferentes entre si. As

discussões a propósito das melhorias a implementar revelaram isso mesmo, sendo que estar

“dentro” das discussões lhes dá uma dimensão mais realista estar de fora a registá-las.

Almocei com os formandos, na cantina da empresa. Penso que perceberam que não queria falar

muito das minhas intenções de estudo, falaram comigo sobretudo sobre os Processos RVCC e,

alguns deles, sobre as formas de prosseguimento de estudos. O interesse pelo meu

conhecimento sobre alguns assuntos que os motivam acabou por dominar a conversa. No final

do almoço, alguns deles agradeceram-me os esclarecimentos, afirmando que “quando não é

alguém que sabe a informar-nos, a gente bem pode ficar à espera que a informação nos chegue”.

Penso que seria uma crítica indireta à divulgação que a empresa faz sobre os Processos RVCC,

em que já não tenho papel ativo, conforme lhes expliquei.

Tive oportunidade de falar com os dois formandos que são trabalhadores em contrato

temporário, para perceber melhor algumas questões. Do que me foi dito, não sentem

diferenciação quanto ao acesso à formação interna, mas não têm as mesmas hipóteses que os

outros de fazer outro tipo de formações enquanto estão a trabalhar, porque não se podem

ausentar do local de trabalho e porque o trabalho por turnos não é compatível com a realização

de formações no exterior, mais longas e com horários fixos.

Explicaram-me que, em períodos em que a empresa os dispensa, não perdem totalmente o

vínculo; normalmente são colocados a fazer formação na academia de formação do parque

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Industrial. Um deles tinha feito um Curso EFA para terminar o secundário num desses períodos

de interregno das funções na empresa, comentando que “não tinha sido tudo em vão”. Preferiam

ser efetivos da empresa, mas ainda assim sentem que estão melhor do que “muita gente que

não tem emprego nenhum”. Esta questão é fundamental para perceber os contornos do

emprego estável na empresa.

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Dados da realização das observações

Data: 09 de dezembro de 2011

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Lean Games (Jogos Lean) Duração: 7H (de 14H) (2º de dois dias)

Participantes: 2 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

O segundo dia de formação, com início cerca das 7.15, começou com a

visualização do filme sobre o porco na autoestrada e o exercício do desenho

do porco sem e com standards. O ambiente foi totalmente descontraído e

informal, todas as situações ocorridas foram motivo de boa disposição. Pude

experimentar a dificuldade de desenhar um porco, e a facilidade de

reproduzir um standard ao desenhá-lo. Estas questões são pertinentes, na

medida em que, sem experimentar, talvez não compreendesse a defesa que

alguns dos formadores fazem do trabalho com standards. De facto, os carros

têm de sair todos idênticos, apesar das especificações dos clientes. O que me

leva ao questionamento sobre como é que o exercício daquele tipo de

trabalho pode ser motivador e como é que há espaço para fazer sugestões

criativas de alteração aos standards.

Coloquei essas questões, na sequência da atividade e no momento em que se

estava a discutir algumas das aprendizagens feitas, assumindo o papel de

formanda que não tem experiência naquele trabalho. Fui acompanhada na

minha dúvida por vários formandos, nomeadamente dois que vinham dos

recursos humanos. O formando que, no dia anterior, tinha feito uma

observação no mesmo sentido, concordou.

Desta vez, o formador optou por enfatizar as mais-valias de se trabalhar com

o que é seguro e conhecido, em vez de estar sempre a reinventar, porque a

fábrica precisa de processos estáveis e “não se pode fazer um carro diferente

todos os dias” (palavras do formador). No entanto, o formador realçou que a

empresa incentiva à criatividade, que muitas das sugestões de alteração dos

trabalhadores, nomeadamente da linha, têm sido aceites e implementadas.

Também referiu novamente que há muito mais facilidade de mobilidade

Standards

Limitações/vant

agens do

trabalho por

standards

Formadores

enquanto

intermediários

da mensagem

que a empresa

quer passar

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dentro da empresa, de modo a que os operadores façam mais funções e

sejam mais polivalentes do que na maioria das empresas deste ramo.

De um modo geral, os formandos concordaram. Mesmo as pessoas dos

recursos humanos realçaram que há funções que fazem que também são

repetitivas e rotineiras, embora não “tão pesadas”, mas que se estiverem

descontentes há sempre forma de mudarem de tarefas. Nessa altura, o

formador afirmou perentoriamente: “Acreditem que a empresa prefere

mudar de procedimentos do que mudar de trabalhadores”. A discussão

continuou em redor destas questões: o investimento que é feito na formação,

a abertura à mobilidade interna e até as hipóteses de trabalho em outras

empresas do grupo no estrangeiro, como sendo grandes vantagens de

trabalhar na empresa, comparativamente com a “maioria das outras que

conhecemos”.

Segue-se a atividade em que cada equipa tem de conceber uma das duas

partes de um porta-rolo de fita-cola e que criem a respetiva SAB. Esta é uma

atividade mais complexa de executar do que parece à partida, ou pelo menos

do que me pareceu na observação não participante. Temos apenas uma

imagem final do que deverá ser construído e os materiais. Os materiais são

todos para utilizar, não pode sobrar nem se pode pedir mais nenhum. Aqui,

percebem-se as competências criativas e operacionais que alguns dos

trabalhadores têm.

A atividade desenvolve-se como é pretendido, as equipas trocam de lugares

e conseguem facilmente reproduzir o objeto a partir da SAB da outra equipa.

São feitas algumas sugestões de melhoria, por ambas as equipas, sobre as

SAB’s. A formação é interrompida para cerca de 10 minutos de intervalo.

De regresso, cerca das 10H30, a formação prossegue em sala. Segue-se uma

exposição sobre as SMED, trocas rápidas de ferramentas, e sua centralidade

no processo de produção da fábrica. São dados vários exemplos e visualizados

vários filmes de operações de troca de ferramentas feitas na linha de

montagem. A propósito desta temática, o formador refere a TPM, dando

vários exemplos de sugestões de melhoria na fábrica. Faz algumas referências

Rotatividade/po

livalência

Compromisso

mútuo

Empresa

depende dos

trabalhadores

SAB

Criatividade dos

formandos

Predefinição da

atividade

Método SMED

Método TPM

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às discussões anteriores sobre os standards e as rotinas, reforçando que há

espaço para alterações e que os trabalhadores não devem assumir uma

atitude passiva. Esta questão já tinha sido mencionada na outra sessão dos

Lean Games que observei.

Desta vez pareceu-me que esta parte da formação foi mais rápida, ou talvez

estivesse mais envolvida. Os outros formandos não aparentam cansaço nem

desmotivação apesar de ser um período longo dentro da sala, com muita

informação e explicações técnicas. Continuam a ser participativos, colocam

questões que se reportam a situações concretas de trabalho. Os formadores

revelam um conhecimento alargado sobre várias estações e zonas de

trabalho, desde a pintura, às prensas, logística, carroçarias e montagem final.

As pessoas dos recursos humanos vão comentando que “nunca imaginavam

que isto fosse assim”. Eu penso exatamente o mesmo, aliás, lembro-me de

ficar espantada aquando das primeiras explicações sobre o processo

produtivo. Talvez a minha perspetiva seja próxima da das pessoas que vêm

dos Recursos Humanos, na medida em que também elas nunca trabalharam

na produção da fábrica.

Cerca das 11H15, saímos para a zona exterior de formação, onde é explicada

a nova atividade, de troca rápida de ferramentas, com a utilização do carro

de treino. Cada equipa designa o operador a fazer a troca; num dos casos fica

alguém dos recursos humanos como operador, afirmando “Eu quero mesmo

ver o que é que isto custa.”. Após a prévia organização e divisão de funções,

a atividade é executada sem grandes dificuldades para ambas as equipas.

No caso da equipa em que me inseri, as pessoas mantiveram uma atitude de

“colegas” para comigo, tal como o formador, que me tratou como a outros

trabalhadores da empresa. Durante a atividade, foi perguntando a todos nós

“como estava ir” e corrigiu a minha postura, por estar muito inclinada na

bancada de trabalho. Colocou-me algumas questões sobre as opções da

equipa e os outros elementos do grupo foram intercalando a resposta ao

formador com a minha, sem tentarem responder por mim.

Tensões em

torno do

trabalho por

standards

Perfil

participativo do

grupo

Heterogeneidad

e

Criação de uma

imagem

abrangente da

empresa

Melhoria vs

Custos

Reação do

grupo à

investigadora

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122

Uma vez que são 11.45, o grupo concorda que será melhor interromper para

ir almoçar, deixando as sugestões de melhoria para depois do almoço.

………………………………………………………………………………….

De regresso, cerca das 12.45, segue-se o período de sugestões em grande

grupo. Cerca de meia hora depois (são todos muito interventivos e nem

sempre é fácil chegar a um consenso; mas fazem cada passo da atividade com

enorme empenho).

A atividade é repetida com apoio em mais materiais; o tempo de execução é

mais rápido e o trabalho em si mesmo torna-se menos pesado, o que leva um

formador a salientar que é frequente que as alterações feitas não sejam

apenas por uma questão de ganhar tempo, mas sobretudo por questões de

saúde e de ergonomia. Diz um dos formandos: “Pois, é uma chatice se a gente

adoece”. Percebendo a intenção do formando, o formador responde que a

empresa investe no apoio à saúde e em melhor ergonomia no local de

trabalho também por questões económicas, mas não só.

As duas pessoas dos recursos humanos referem que é muito importante

garantir que quem ali trabalha tem todo o apoio possível em termos de saúde,

até porque se os operadores ficarem incapacitados, por alguma razão, a

empresa perde mais com a sua saída, por exemplo, do que em evitar

problemas de saúde ou dar condições de acompanhamento médico. Mas

acreditam que o investimento feito na saúde é sobretudo para garantir

“melhores condições físicas e psicológicas de trabalho”, porque assim

“também se trabalha melhor”. O formando anterior concorda, dizendo, “Lá

isso é verdade”, parecendo-me que, apesar de crítico relativamente a uma

série de assunto, é também bastante assertivo em aceitar a opinião dos

outros.

É de registar que, quando surgem diferenças de opinião, os próprios

formandos vão apresentando argumentos e contra-argumentos,

frequentemente sem a interferência dos formadores. Não há um clima de

conflito quando algumas questões mais delicadas são discutidas; é

importante igualmente registar isto. Sente-se que as pessoas têm uma visão

Atitude

crítica/participa

tiva do grupo

Tempo de

execução das

atividades

Saúde dos

operadores e

custos para a

empresa

Importância dos

trabalhadores

para a empresa

Condições de

trabalho

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realista sobre a empresa e também um espírito crítico fundamentado sobre

algumas situações de trabalho, que expõem com à vontade.

O tempo dedicado às sugestões, à repetição do exercício e às conclusões

gerais acabou por se prolongar até às 14.30. O formador refere essa questão,

dizendo que não vão ter tempo para realizar uma outra atividade (de facto,

na observação não participante havia uma outra atividade de troca de

ferramentas), justificando que prefere que se “gaste mais tempo a discutir

ideias sobre os conceitos aplicados, já que esse é também o objetivo da

formação”.

Regressados à sala, visualizamos o filme sobre o trabalho realizado nas

prensas (que já tinha visto na outra sessão observada). Desta vez, o formador

vai fazendo algumas pausas no visionamento para explicar algumas questões

suscitadas pelas imagens; em duas situações, são os formandos que pedem

esclarecimentos. O formador explica, no fim do filme, que para a área de

produção e para o CTP é muito importante que toda a gente que faz formação

no CTP tenha uma noção geral sobre todo o processo de produção, das

prensas à montagem final. Segundo diz, grande parte das pessoas que

trabalha na empresa não conhece a área das prensas, nunca lá foi; é como se

fosse uma área à parte. Alguns formandos anuem com a cabeça, de facto não

conheciam. As pessoas dos recursos humanos confessam-se muito

surpreendidas pelo tipo de trabalho que é feito nas prensas, confirmando que

pouca gente sabe “o que lá se faz”.

Cerca das 15.15, os formadores distribuem as folhas de avaliação da formação

e explicam a sua função avaliação, como é hábito. De seguida, os formadores

dão por encerrada a formação. Agradecem a presença de todos, um deles faz

uma referência específica à minha presença na formação. Alguns formandos

afirmam que eu estou “aprovada para trabalhar na empresa”. Eu agradeço a

colaboração, dizendo-lhes que gostei imenso da experiência e da forma como

todos me integraram. Vários formandos elogiaram a prestação dos

formadores. No final, bateram-se palmas à formação, coisa que não tinha

assistido fazerem antes, embora o coordenador já me tivesse dito que às

vezes acontece.

Objetivos da

formação:

discussão em

torno dos

conceitos da

produção

Visionamento

de filme

exemplificativo

do trabalho nas

prensas

Fechamento de

algumas áreas

da produção,

até para os

próprios

trabalhadores

Reação do

grupo à

investigadora e

à formação

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Observações:

Prosseguindo a ideia de que a observação participante poderia dar um novo enfoque sobre a

realidade da formação, combinei a minha presença num grupo de formação de Lean Games. Fiz

a formação durante os dois dias, fazendo os horários e tarefas do grupo de formação. Todas as

impressões foram registadas cerca de 2 a 3 dias depois do fim da formação, a partir de notas

tomadas sobretudo em momentos de pausa da formação.

Ao contrário do que tinha sentido inicialmente no grupo de formação do L.E.G.O. Line, este grupo

acolheu-me e integrou-me de forma calorosa e imediata. Comecei por não referir que já tinha

assistido àquele módulo de formação, tal como fiz na minha participação no L.E.G.O Line. No

segundo dia essa questão surgiu, no meio de uma conversa informal sobre as minhas

observações anteriores, e eu referi que já conhecia o módulo e os exercícios, mas afirmei (e segui

esse intuito) que não iria partilhar soluções que tivesse visto anteriormente noutros grupos de

formação; concordaram, de outra forma os exercícios perdiam “a piada”.

Mais uma vez, subsistiu a dúvida sobre se a minha presença alterou o que seria a relação

pedagógica sem a minha intervenção, mas essa é uma questão que não há como alterar neste

momento. Os trabalhadores habituaram-se rapidamente à minha presença e foi interessante

sentir que me viam como “um deles”, na medida em que os comentários sobre as atividades, o

seu interesse e pertinência, foram mais espontâneos que no grupo da L.E.G.O. Line e mesmo com

os grupos em que apenas observei.

Faz-me refletir sobre a importância de, neste caso, serem dois dias de formação, em vez de um

só, como no L.E.G.O., na medida em que o contato é mais prolongado e a habituação à minha

presença torna o ambiente mais descontraído e “real”, ou seja, próximo do que seria se eu não

estivesse presente e/ou mais próximo de um contexto real de equipa.

Fez-me concluir, também, que o tempo de aprofundamento do contacto e das relações

interpessoais é um fator fundamental no desenvolvimento da formação. Apesar do L.E.G.O ser,

à partida, mais divertido, os Jogos Lean transmitiram-me uma maior sensação e pertença e

partilha no grupo; a equipa funcionou melhor e a procura de soluções para os problemas foi mais

dialogada. Senti também uma maior pressão para aplicar os conceitos do sistema de produção,

tanto mais que mais tempo de formação significa mais conceitos para pôr em prática.

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Dados da realização das observações

Data: 16 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final

(Competências Fundamentais de Montagem Final)

Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)

Participantes: 3 formadores; 12 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Notas prévias

Farei a formação dos Fundamental Skills com o grupo da Montagem Final. O

facto de já ter observado este módulo pode trazer vantagens – uma vez que

os exercícios são muito técnicos e eu não tenho qualquer prática em nenhuma

das competências que a formação trabalha, ter visto antecipadamente pode

dar-me um maior à vontade com os materiais e os equipamentos; e pode ser

uma desvantagem, porque já observei os exercícios – com efeitos na

motivação, postura face aos exercícios -, e porque a metodologia me parece

repetitiva e pouco motivante, apesar dos grupos que observei parecerem

sempre muito envolvidos com as atividades. O facto de não ter nenhuma

experiência associada a este tipo de operações suscita-me algumas dúvidas

sobre o que conseguirei fazer.

No entanto, algumas destas questões também se colocavam à partida

noutros módulos em que participei: a experiência na participação no L.E.G.O

Line e nos Lean Games foi bastante positiva. No fundo, para construir uma

visão diferente sobre o que é a formação integrada na empresa e as suas

dinâmicas na relação com o trabalho real.

………………………………………………………………………………..

Os formandos de Montagem Final e de Carroçarias (Body) estão juntos, neste

primeiro dia. Conforme explicam os formadores, nos dias seguintes o grupo

será separado em dois espaços distintos do CTP, para o desenvolvimento da

formação específica de cada uma daquelas áreas da produção. O dia é

Vantagens/desv

antagens da

observ.

Participante

Especificidade/t

ecnicidade do

módulo

Balanço sobre a

participação

prévia noutros

módulos

Apresentação

do Grupo

Automóvel e

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dedicado à explicitação de conceitos fundamentais do sistema de produção

do Grupo, em tudo idêntico ao que observei na semana de Dezembro, na

observação não participante.

A exposição é feita com apoio em recursos audiovisuais, fazendo apelo à

opinião e práticas profissionais dos formandos. A disposição das carteiras e

cadeira é feita em U, na direção da parede branca onde os diapositivos de

apoio à exposição são projetados.

Os formadores estão sempre de pé, vão alternando entre os diferentes cantos

da sala, sobretudo o formador de apoio. O formador principal fica sempre

mais num canto da sala, numa posição diagonal relativamente às mesas dos

formandos.

A formação começa pela apresentação dos formadores e formandos,

começando pelos primeiros. Nome, idade, experiência na fábrica, setores em

que trabalham e já trabalharam, hobbies, são as características a que cada um

se refere nessa apresentação

São 12 formandos, contando comigo; 2 formadores e outros 2 que estão em

formação. A maioria dos formandos vem da Montagem Final, de zonas

distintas, há um de Pintura e outro de Prensas. Foi referido o alargamento do

número de formadores como uma necessidade urgente, tendo em conta o

volume crescente de formação atribuído ao CTP, sobretudo com a previsão

do início de mais duas áreas de Fundamental Skills – Pintura e Logística.

………………………………………………………………………………..

O grupo é participativo e argumentativo, os formandos dão várias vezes

exemplos de casos da linha de produção que confirmam o que vai sendo dito,

mas também dão exemplos que contrariam alguns conceitos que são

mencionados. Por exemplo, quando se fala do trabalho de equipa, há quem

concorde com os fundamentos apresentados, mas há quem refira práticas

diferentes daquelas que são indicadas como sendo preferenciais.

dos conceitos

do sistema de

produção

Materiais e

espaço

Postura dos

formadores

Apresentação

do grupo

Constituição do

grupo

Volume

crescente da

formação no

CTP

Caraterísticas

do grupo

Confronto entre

as praticas e as

teorias

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Desde cedo que a formação se tornou bastante dialogante, observando-se

que os formandos são interessados e sentem necessidade de dar a sua

opinião, de mostrar qual é a sua experiência e que práticas também eles

observam na linha de produção, por contraste ao que vão ouvindo e sobre a

“teoria” das práticas que vai sendo exposta.

Denota-se que há 2 ou 3 formandos com características de advogado do

diabo, com opiniões tendencialmente provocatórias e com uma fraca opinião

e expetativa sobre a empresa.

Alguns dados e conceitos explicitados são a repetição do que costuma ser o

início dos módulos de formação a que já assisti, nomeadamente:

Dados da evolução do grupo/marca

Projetos e planos da empresa para o futuro

Otimização

Melhoria contínua

Trabalho em equipa

Relação cliente/fornecedor em várias as dimensões

Qualidade na produção e exigências do cliente

Sistema de produção, de informação, de controlo e de qualidade

Diretivas, normas e auditorias

Segurança e ergonomia

5S, one touch, one motion, poka yoke (entre outros métodos)

Tipos de desperdício

Trabalho por standards e folha de trabalho por standards (SAB)” Antes de

finalizar o dia de formação, que tal como nos módulos de Fundamental Skills

que tinha observado é muito teórico-concetual, o formador chama a atenção

que no dia seguinte terão de vir com roupa de trabalho ou, pelo menos, que

devem cumprir as regras básicas de segurança – sem fios, pulseiras, relógios,

fivelas de cintos protegidos e com uso de botas de trabalho ou com biqueira

reforçada (que terá de ser o meu caso, uma vez que não tenho botas de

trabalho).

Formandos

argumentativos

Conceitos da

produção

Standards

SAB

Regras de

segurança

Apresentação

dos espaços e

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128

Vamos depois aos espaços específicos da formação prática. Os formadores

mostram os espaços e explicam a organização das bancadas de trabalho

prático, das mesas de reunião de grupo; mostram onde estão os cacifos e os

armários de material. Questionam o grupo sobre a forma como sentiram este

primeiro dia de formação; grupo é unânime em dizer que, apesar de ser mais

teórico (coisa que os formadores tinha avisado no início), não foi muito

maçador. Permitiu-lhes refletir sobre algumas práticas do dia-a-dia.

divisão dos

grupos

(MF/Body)

Reação dos

formandos à

metodologia

Observações:

Optei por estar mais envolvida com a formação do que a tomar notas, coisa que fiz no primeiro

momento de pausa. Penso que terá sido útil para a minha integração no grupo, que me pareceu

reagir bem à minha presença, sabendo os objetivos da minha participação. Alguns elogiaram a

minha “coragem”, um afirmou qualquer coisa como “é importante sentir estas coisas na pele e

não só estudá-las”. Achei curioso.

Page 129: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

129

Dados da realização das observações

Data: 17 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final

(Competências Fundamentais de Montagem Final)

Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)

Participantes: 2 formadores; 8 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Os dois grupos de FSkills (MF e Body) juntam-se num espaço comum da

formação prática; fazem-se os exercícios de aquecimento dos músculos e

tendões das mãos, pulsos, braços e costas (conforme já foi descrito na sessão

observada de 8 de novembro).

Enquanto isso, os formadores vão conversando com os trabalhadores sobre

exemplos de problemas de saúde provocados por movimentos repetitivos e

formas de evitar certas patologias; apesar de não haver este tipo de

instrumentos acessórios na linha de produção, os formadores sugerem

movimentos que podem ser feitos antes de começarem a trabalhar ou

durante o trabalho, sempre que sentem desconforto.

Segue-se exercício de enrolar cordas à volta de pequenos tubos numa

determinada sequência, na vertical, e de passar cordas em cabos, na

horizontal. Tal como tinha acontecido na outra formação deste módulos,

estes exercícios de “passar cordas” e “enrolar cordas” foi um sucesso.

Os dois formadores em formação também estão presentes e vão auxiliando

na distribuição de materiais e na explicação dos movimentos.

Cerca das 8H, os grupos dividem-se pelo espaço do Body e pelo da Montagem

final.

O 1º posto da Montagem Final é-me atribuído; dessa forma, consigo utilizar

mais facilmente o computador pessoal ou o caderno de apontamento, se tiver

oportunidade de ir tirando notas.

Zona de

treino/aquecim

ento

Saúde dos

operadores

Definição da

estratégia para

fazer obsv. part.

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O formador juntou todos em redor de um dos computadores de apoio, que

estão em cada um dos postos de trabalho simulados. Explica o menu dos

exercícios, que serão 7. Mostra como estão organizados os layouts do

programa que irão usar: lado esquerdo do ecrã há um submenu para cada

exercício; lado direito estão disponíveis itens de segurança e qualidade

relacionados com o exercício; ao centro, há fotografias do exercício e/ou

filmes.

O formador principal chama atenção para diversos elementos importantes de

segurança e manutenção de aparafusadoras. Em todas as informações que o

formador vai dando, os formandos vão dando exemplos de boas e más

práticas de utilização e manuseamento das aparafusadoras na linha. O

formador refere-se ainda a questões ergonómicas e de qualidade.

Após um intervalo de 20 minutos, cerca das 8H30, iniciamos a rotina dos

exercícios: ver o vídeo, ir passo a passo, no programa de computador;

experimentar cada passo já co os materiais; começar a montagem de acordo

com as etapas definidas; executar e treinar toda a operação para, por fim,

realizar o teste do semáforo.

O formador verifica com cada um dos formandos se conseguem fazer todos

os passos corretamente e em segurança. No meu caso, noto que tem especial

cuidado na forma como explica o exercício e vai acompanhando a sua

evolução. Os colegas de grupo volta e meia perguntam-se se quero ajuda,

respondo que “está a ir bem”, ou coisa parecida.

No exercício seguinte, todos têm de ir buscar material ao armário, material

esse que está arrumado em caixas com a indicação de cada posto de trabalho.

Não tinha dado conta deste pormenor na sessão anterior a que assisti. Para

além disso, cada posto está identificado com uma cor, para além do número

da estação.

Nesta altura, o formador chama a atenção como cada um colocou as duas

caixas nas suas bancadas: são duas, uns puseram-nas no lado direito, outros

no esquerdo, e outros ainda colocaram uma na esquerda e outra na direita.

O formador aproveita para referir a falta de standard e relembra que “vamos

Materiais de

apoio à

formação

Segurança e

manutenção

dos materiais

Qualidade e

ergonomia

Sequência dos

exercícios

Aprendizagem,

treino e

testagem

Reação dos

formandos à

investigadora

Organização do

trabalho e

aplicação dos

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131

trabalhar com ambas as mãos; logo, o mais lógico será uma em cada lado da

bancada”.

Há outro formando que argumenta que prefere as 2 do mesmo lado, o

esquerdo, e o formador coloca-o perante algumas em situações hipotéticas

de utilização dos parafusos que lá estão dentro. Chama a atenção para a

importância dos standars e de todos, na mesma equipa, terem uma

determinada lógica de funcionamento. Este formando acaba por concluir que

é melhor uma de cada lado, enquanto o primeiro a ser alertado acaba por

colocar uma caixa de cada lado.

Neste exercício é preciso agarrar em 4 clips de expansão de uma só vez,

confirmar o bom estado; isto, com a mão esquerda e a direita. Há um

formando que contesta o porquê dos 4, acha que deverão levar logo mais,

para não perder tempo. Dá exemplo de como funciona na linha. Formador

fornece dado curioso de qualidade: reclamações ao nível da montagem final

têm em grande parte a ver com peças soltas dentro da estrutura do carro,

nomeadamente parafusos.

Este formando é extremamente argumentativo; o formador vai pedindo

diferentes exemplos de prós e contras de se terem muitos parafusos ou

poucos de cada vez na mão. Há uma troca de opiniões acesa, mas de forma

assertiva. No fim, acabam a troca de opiniões de forma natural e sem haver

conflito.

Grande parte dos alertas dos formadores, nesta altura, têm a ver com

ergonomia e qualidade. Existe diálogo, exemplificação no momento e

exemplificação através das práticas de cada operador na linha.

Formador refere que está a passar à frente de alguns subpassos em cada

exercício porque, para quem já tem experiência de linha, pode tornar-se

“infantil”, e faz com que os exercícios se tornem repetitivos, quer nos passos

a seguir quer nos alertas de segurança e qualidade. O formador acrescenta

que os exercícios vão sendo adaptados aos grupos e também em função das

críticas que vão sendo feitas.

conceitos de

produção

Standards de

trabalho dentro

da equipa

Treino e

repetição e

operações para

aperfeiçoament

o técnico

Formando

argumentativo

Ergonomia e

qualidade

Teor simplista

de alguns

exercícios

programados

Adequação da

formação à

realidade dos

grupos

Page 132: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

132

………………………………………………………………………………..

Às 10H10min faz-se nova pausa, de 10 minutos. Segundo o que o próprio

formador diz, estar parado no mesmo sítio faz com que se fique com mais frio

e isso provoca dores de pernas. É um facto que esta parte dos exercícios

práticos implica estar parado no mesmo lugar durante muito tempo. O espaço

é amplo e um pouco frio, por se tratar de um pavilhão.

Durante o intervalo anoto algumas coisas e reflito sobre as sensações que vou

tendo: a crescente dificuldade dos exercícios tem feito com que o formador

desvie um pouco a atenção que tem tido para comigo para dar resposta aos

pedidos de ajuda de outros formandos, o que é positivo. Isso demonstra que

as dificuldades que sinto são idênticas às de outros formandos.

Outro dado curioso tem a ver com o efeito do treino repetitivo: se, por um

lado, parece maçador, tem sido interessante sentir que mesmo as coisas que

pareciam difíceis se conseguem fazer ao final de algum treino, como a

questão de agarrar vários objetos pequenos, ao mesmo tempo e sem olhar,

que tanto me tinha impressionado na observação que fiz anteriormente deste

módulo. De facto, consegue-se, depois de algum treino.

………………………………………………………………………………

Cerca das 10H24 regressa-se à formação. Um formador que está em formação

é agora quem explica o exercício seguinte. Agora trata-se de inserir parafusos,

que primeiro são retirados da caixa em conjuntos de 4 de uma só vez. Há

explicação, depois treino, tanto para mão esquerda como para mão direita.

No final de toda a sequência, todos têm a descrição do exercício total, que se

trata de uma sequência de operações básicas em sequência. Há depois um

teste final, cujo tempo é medido através do método MTM (methods of time

measurement. Trata-se de sistemas com tempos predefinidos que servem

para descrever os processos de trabalho e para associar os tempos

predefinidos aos processos. O formador vai falando sobre este método, onde

Dificuldades

colocadas pelos

exercícios – ao

nível a postura e

das condições

de trabalho

Dificuldade

crescente dos

exercícios

Reação da

investigadora às

atividades de

treino repetitivo

Efeitos do treino

Treino

Conceitos da

produção

Page 133: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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surgiu (indústria têxtil) e as suas vantagens. O próprio programa de treino tem

um slide informativo sobre este método.

Este exercício final é medido através do teste do semáforo; esta sinalética é

entusiasmante, todos os formandos tentam fazer o exercício enquanto a

barra temporal ainda está verde (1m25sg); depois há 10 segundos de

tolerância (amarelo), entrando depois em zona vermelha, ou seja, fora do

tempo máximo de execução da sequência de operações básicas. Por várias

vezes o meu exercício (e não só o meu) ficou no vermelho.

Todos fazem o exercício como treino e depois são visionados, um a um, pelos

formadores. As únicas questões que assinaladas têm a ver com normas de

segurança, qualidade e ergonomia; quanto ao tempo de execução, não é lhe

dada demasiada importância.

No final, todos nós desmontamos os parafusos e os clipes de expansão da

placa onde foram colocados e arrumamos tudo. Os formadores vão

chamando a atenção para a aplicação dos 5S no processo de organização dos

materiais.

O exercício seguinte segue a mesma lógica, com sequências de 4 parafusos

(direita/esquerda) aparafusados em placas de aço específicas, com furação

própria. Desta vez, são 3 medidas de parafuso diferentes, que exigem

ponteiras diferentes na aparafusadora. No final de algum treino, fez-se o teste

do semáforo. Os formandos fazem notar que estão a conseguir ser mais

rápidos. Alguns deles elogiam a minha evolução, que até “já nem precisa de

ajuda”.

As atividades interromperam-se às 12H para almoço.

………………………………………………………………………………

Os trabalhos retomaram às 12H45m, em volta da mesa de trabalho do espaço

de formação prática. Fez-se o ponto de situação e preencheram-se os espaços

nas folhas de auto verificação, relativos aos exercícios já feitos.

Testagem

(lúdica)

Treino/testage

m

Qualidade e

ergonomia

Aplicação dos

conceitos da

produção ao

método de

arrumação dos

materiais

Treino/testage

m

Verificação das

aprendizagens

Page 134: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

134

Prossegue-se para outro exercício, que introduz as porcas. Neste caso, porcas

sextavadas. Formadores referem alguns dos perigos reais de má colocação

deste material, quer na linha quer no produto final, ou seja, o carro.

Denota-se agora um pouco menos de intervenção dos formandos, talvez por

se tratar do período pós-almoço, ou porque os exercícios vão repetindo uma

mesma lógica, de introdução, visionamento de imagens/vídeo de explicação,

avisos de segurança e itens de qualidade a ter em consideração.

Quando os exercícios e testes práticos recomeçam, nota-se maior ânimo por

parte do grupo, de uma forma geral.

O formador vai buscar uma chave dinamométrica, explicando como funciona,

sobretudo para mim, porque todos os formandos já conhecem a ferramenta.

Exercita-se, chamando-se a atenção para o excesso de aperto, o que aumenta

os newtons na porca, provocando quebra do parafuso, mais tarde. Neste caso,

como noutros já referidos, são mencionadas consequências reais que um

trabalho menos correto com estas ferramentas pode ter num carro, com

retrabalhos maiores do que um erro com uma simples porca poderia levar-

nos a pensar. Os outros formandos dão vários exemplos que confirmam esta

questão.

Feitos os testes sobre este exercício, com aparafusamento de porcas de 8 e 6

mm com aparafusadora de bateria e com chave dinamométrica, e após

desmontagem do material usado, é feito novo intervalo, cerca das 14H.

Nesta altura, há dois formandos que comentam um com o outro o que estão

a achar da formação, concordando que “está a correr bem, umas partes mais

seca que outras, mas a correr bem”.

Segue-se novo exercício depois do intervalo de cerca de 10 minutos, desta

feita sobre tampas de vedação e passa-cabos. Estes materiais são feitos de

plástico mole, pelo que a sua colocação tem técnicas específicas. São

responsáveis pela vedação de águas, por exemplo, pelo que é muito

importante ficarem bem colocados. E, de facto, requerem perícia e treino

para a colocação, facto comprovado com as minhas inúmeras tentativas até

Treino

Repetitividade

da sequência de

operações em

cada exercício

Reação positiva

do grupo aos

exercícios de

treino e

testagem

Explicações

técnicas

Treino/testage

m

Opinião dos

formandos

sobre a

formação

Treino

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conseguir. Quando finalmente consegui, houve quem batesse palmas. A

atitude dos colegas continua a ser de incentivo e sente-se uma maior

entreajuda entre todos, não só comigo.

Segue-se um diálogo sobre a importância de auto-verificações de qualidade

por parte de cada operador, na linha, para evitar retrabalhos ou, pior, para

evitar que problemas subsistam até ao cliente final, podendo provocar

estragos ou mesmo perigos reais, relacionados com a segurança e não só com

o conforto.

Muitos são os exemplos, mais uma vez, de boas e más práticas de verificação

de qualidade na linha de produção que cada formando vai dando; refere-se a

carta viageira, documento que acompanha o carro ao longo da sua

construção, os diversos problemas advenientes do seu não preenchimento

quando é necessário e quais os constrangimentos que o trabalho na linha

coloca para quem reporta um erro na carta viageira.

Estas questões internas, de diferença e até polémicas entre teoria e práticas

são frequentes na formação, tal como os formadores me têm referido em

conversas informais e como tenho podido observar. Esta é uma questão

importante a assinalar.

Seguem-se os testes individuais deste exercício, visualizados pelos

formadores, que fazem um ou outro reparo, sobretudo relativos à qualidade,

que parece ser um dos temas chave destas formações.

Quando este exercício finaliza, cada um de nós arruma os seus materiais e

ferramentas, as chapas de trabalho; fomos buscar uma vassoura e uma pá e

deixámos o local de trabalho limpo e arrumado.

De seguida, na mesa de reunião do grupo preenchem-se as folhas de

confirmação das técnicas e faz-se um ponto de situação. No geral, todos

sentem que foi útil para melhorar técnicas e repensar “vícios”, mas também

fazem o contraponto com a realidade da linha de montagem, mais acelerada

e com outras exigências.

Ambiente de

entreajuda no

grupo

Autorregulação

no trabalho

Custos/perigos

Carta viageira

Tensões em

torno das

diferenças entre

teoria e práticas

Qualidade

Arrumação e

limpeza do

espaço

Balanço final do

dia de formação

Diferenças entre

a linha de

produção e a

formação

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Há um formando que se refere especificamente aos conteúdos da formação,

referindo que são um pouco repetitivos, tal como as sequências e as lógicas

de evolução dentro de cada exercício se tornam um pouco repetitivos. Outro

formando concorda mas justifica isso com a ideia de que é repetindo algumas

técnicas que se vai apreendendo, pelo que alguns corroboram a 1ª opinião e

outros, a 2ª.

O formador salientou que foram pulados passos em muitos exercícios para

que não fossem mais repetitivos; por outro lado, para quem nunca trabalhou

na linha, talvez seja mesmo esta a melhor forma de aprender as técnicas. Um

formando salientou o meu caso, aliás, e eu confirmei que só repetindo

algumas coisas é que consegui fazê-las.

Repetitividade

dos conteúdos e

sequências

Justificação da

repetição e do

treino

Observações:

Almocei com o grupo de formação, distante dos formadores. Comentaram a minha postura,

acham curioso que me dê “ao trabalho” de experimentar o que eles fazem. Na brincadeira,

prometem: “Não te vamos deixar mal, esta vai ser a melhor equipa da Montagem Final”. Senti

que aquela conversa foi importante para a minha integração no grupo.

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Dados da realização das observações

Data: 18 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final

(Competências Fundamentais de Montagem Final)

Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)

Participantes: 2 formadores; 8 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Entre as 7H05 e as 7H30 todos repetiram os exercícios de aquecimento, em

especial aqueles que têm feito “as delícias” dos formandos. Até eu já tento

passar e enrolar o cabo mais depressa, mas estou longe dos rankings.

O exercício inicial do dia implica manuseamento de alicates de abraçadeiras.

É uma ferramenta que pode ser perigosa, daí ter de se usar óculos de

proteção, para além das medidas de segurança habituais.

O formador principal exemplifica com dois tipos de alicates (para diferentes

medidas de tubo), enquanto o formador em formação vai ajudando

individualmente, sobretudo aqueles que nunca usaram esta ferramenta,

como eu. São experimentados vários tubos e os formadores vão confirmando

se as abraçadeiras foram bem colocadas, assim como se, no ato de colocação

das abraçadeiras, houve cuidado com as normas de segurança.

Temos cerca de 15 minutos de treino individual antes dos formadores

assistirem ao teste do semáforo. Uma vez mais, o que é realçado são questões

de qualidade ou de segurança, não se dando relevância ao tempo demorado

na tarefa. Os formadores observam as prestações de cada um e depois disso

as bancadas são arrumadas por cada um de nós, como é habitual; noto que já

ninguém tem de alertar para o facto, cada um fá-lo automaticamente no final

de cada operação concluída. Enquanto arrumam os materiais, os formandos

vão trocando opiniões sobre o nível de dificuldade das operações e sobre a

semelhança destes procedimentos finais com aquilo que fazem.

É feito um intervalo de cerca de 20 minutos (entre as 8H40 e as 9H).

Zona de

treino/aquecim

ento

Competitividade

e motivação

intrínseca dos

exercícios

Material de

proteção e

normas de

segurança

Treino/testage

m

Procedimentos

automatizados

de arrumação

do local

Semelhanças

entre os

exercícios e as

operações de

trabalho

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No regresso do intervalo, o grupo de formação ficou um pouco a conversar

sobre questões da eletrónica na fábrica. Nota-se à vontade e bom ambiente

entre todos.

Neste 3º dia, nota-se uma intervenção crescente do formador em formação,

quer nas explicações dos exercícios, quer no acompanhamento da execução

dos exercícios pelos formandos.

O último exercício da estação fixa de trabalho simulado tem a ver com a

ligação de conetores eletrónicos. Há uma pequena explicação de algumas das

características destas fichas, que seguem uma lógica poka yoke, o que diminui

a margem de erro nas ligações, uma vez que só há uma posição,

normalmente, para a ligação de fichas. São feitos vários alertas de segurança

e qualidade, novamente; exemplifica-se com problemas reais que podem

advir de más ligações eletrónicas.

Novamente há tempo de treino, com os formadores a acompanharem

individualmente cada um, alertando, corrigindo e, por fim, verificando o teste

final

NOTA: Os textos do programa de apoio aos exercícios é simples, básico,

mesmo. Tem muitas imagens e vídeos de demonstração. É bastante intuitivo.

Este programa de treino é standard para as fábricas do Grupo.

Nesta fase, a formação deixa de ser apoiada em computador para ser apoiada

em portefólio. O formador explica os exercícios e a forma como devem ler e

consultar o portefólio.

Os postos de trabalho simulados são agora num conjunto de 8 bancadas, cada

uma com o seu portefólio, que orienta os diferentes passos a seguir com texto

muito simples e com imagens; antes, temos de abastecer o nosso posto, indo

buscar as ferramentas e os materiais necessários para o efeito, que estão

armazenados no armário (que agora é outro), mais uma vez organizados por

cores, de acordo com a cor de cada posto.

Ambiente da

formação

Formador em

formação

Conceitos de

produção

Treino/testage

m

Nível de

dificuldade dos

textos de apoio

aos exercícios

Portefólio de

apoio

Trabalho

individual/equip

a

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Os postos têm uma sequência de operações básicas, que são treinadas e

depois testadas; cada posto tem um tempo específico para a realização do

teste destas tarefas. Antes de começar a fase de treino, os formadores

explicam cada posto, exemplificando, e adiantam que há 4 postos que são

idênticos na sequência e nas operações realizadas, pelo que esses formandos

apenas terão de treinar num dos postos e trocar com o colega do lado para

realizar um treino apenas e o respetivo teste. O formador acrescenta que,

normalmente, até fazem todos os postos, mas como são idênticos fizeram

esta alteração. Finaliza dizendo: “A questão aqui é a de otimizar os passos

para não se perder tempo.”

Os treinos não me parecem maçadores, mas talvez o sejam para quem já tem

experiência de trabalho na área. Alguns colegas queixam-se disso, mas

também acrescentam que “pelo menos assim tomam mais atenção às

questões da qualidade e da segurança”.

Após cerca de 6 rotações de postos de trabalho, é feita uma pausa para

almoço, entre as 11H45 e as 12H30.

Nota-se que há espírito de entreajuda, não só entre formadores/formandos,

mas entre os formandos entre si, mesmo relativamente a mim.

No regresso do almoço, continuam as atividades até aqui descritas, com os

formandos a rodarem de posto; nesta altura, os que antes já fizeram as

operações de determinado posto, ajudam e dão dicas precisas sobre os

postos que dominam, tornando o trabalho mais fácil e rápido.

Senti que é muito mais simples reproduzir uma sequência de operações

quando ela nos é descrita por quem já a fez e tem experiência do que quando

temos de ler as instruções e segui-las passo a passo.

Formadores continuam a observar, aconselhando, corrigindo técnicas,

posturas e chamando a atenção para questões de qualidade, sempre. É caso

para dizer que os formadores não têm “mãos a medir” no acompanhamento

que fazem, e que há preocupação em corrigir certas práticas por parte dos

trabalhadores de linha, com muita experiência de trabalho na empresa na sua

Treino de

operações em

sequência

Rotatividade

Otimização

Rapidez

Perceção sobre

o interesse das

atividades de

treino

Qualidade e

segurança

Entreajuda no

grupo

Rotatividade

Simplicidade da

reprodução de

operações

quando

explicadas por

alguém que já

sabe executar

as tarefas

Acompanhamen

to dos

formadores

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140

maioria. São dados muitos exemplos, quer pelos formandos quer pelos

formadores, de postos de trabalho concretos em que uma determinada

técnica, postura ou distração tem dado origem a pequenas falhas ou

retrabalhos.

Ao final de cerca de 1H, existe alguma discrepância de tempos de execução,

fazendo com que alguns formandos estejam à espera durante algum tempo e

se confessem uns com os outros dizendo-se desmotivados. A razão apontada

para esta sensação tem a ver com a repetitividade de operações, com o

tempo de espera, e com o facto curioso de notarem que os formadores não

sabem ao certo que formandos já fizeram que estações de trabalho. Estes

comentários surgem sobretudo entre 3 formandos, precisamente os que

estão mais desocupados.

Com efeito, essa é uma sensação que também eu, no papel de formanda,

sinto um pouco: apesar da motivação natural de ser uma atividade prática,

para além de ser novidade total para mim, há um excessivo compasso de

espera entre os treinos e testes das diferentes estações.

Depois dos testes feitos, todos os materiais e ferramentas são arrumados e é

feito um intervalo de 15 minutos, entre as 14H e as 14H15.

A formação prossegue depois com um submódulo de “torques de segurança”,

que se trata de um módulo que também é dado à parte, pontualmente, em

alguns setores da fábrica, pela importância que parece ter para a qualidade

dos produtos. Esta é uma parte mais teórica da formação, que irá demorar

até ao final do dia (15H30).

A formação é apoiada num powerpoint que é projetado, na mesma sala onde

inicialmente o grupo se juntou no primeiro dia de formação.

Os principais tópicos sobre os conteúdos desta fase da formação foram:

Noção de torque

Relação com as questões físicas (incluindo a equação física; princípios

simples de alavanca)

Repetitividade

das operações e

desmotivação

dos formandos

Conceitos

técnicos

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Classificação de torques (classes A, B e C)

Importância dos torques em alguns dos elementos constitutivos do

carro: motor, ABS, travões, entre outros.

Relação entre as condições de segurança e dependência entre os

apertos corretos de diferentes parafusos.

Formas de registo das tentativas de torques

Formandos animam-se numa troca de exemplos sobre as formas de

ultrapassar os problemas de torques que surgem na linha, por exemplo

através da lubrificação dos parafusos, com vaselina ou mesmo com o óleo do

carro.

O formador refere a importância do registo de torques imputados a um

operador em concreto, sendo que um formando dá o exemplo do seu posto

de trabalho; trata-se de uma equipa de 6 pessoas, o login da powertool é feito

apenas por um, que é que “tem o código de barras à mão”. Ou seja, em caso

de erro no torque, estariam 6 pessoas envolvidas, o que poderá trazer

problemas.

É referida a questão da confiança entre os elementos da equipa, mas também

as consequências de se assumir o trabalho de todos por todos. O mesmo se

coloca à questão dos carimbos de confirmação de operações: muitas vezes

são colocados vários por um só operador. Formador alerta para as

consequências e a importância do team leader estabelecer um código de

conduta para a equipa e o seu comportamento relativamente a estas

questões de responsabilização do trabalho individual dentro das equipas. Um

dos formandos, que é team leader, dá exemplos da forma como o trabalho na

linha obriga à união e à responsabilização, afirmando que “de outra maneira

era impossível trabalhar bem àquele ritmo”.

Este momento é bastante dialogado e as questões são amplamente

debatidas. O formador que está em sala é o que está em aprendizagem, o

outro teve de se ausentar para uma reunião. Mantem sempre uma atitude de

quem está em aprendizagem com as experiências dos colegas/formandos,

referindo mesmo “Ok, já aprendi mais umas coisitas hoje”, apesar de se

Dinâmica do

grupo por via do

apelo à

experiência

Confiança entre

elementos da

equipa

Código de

conduta na

equipa de

trabalho

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142

denotar uma vasta experiência em diferentes setores da fábrica. Os

formandos estiveram sempre concentrados e envolvidos nos exemplos e

conselhos dados, não se denotando cansaço por se estar sentado e em sala.

Esta exposição decorreu até cerca das 15h20, altura em que o formador

dispensou o grupo, relembrando que no dia seguinte nos esperava às 7H00

na sala de formação.

Na saída, vários formandos ficaram a treinar o “passar corda” e “enrolar

corda”.

Zona de

treino/aquecim

ento

Observações:

As atividades tornam-se repetitivas e rotineiras, sobretudo para os trabalhadores que já têm

experiência na área. Para mim, para quem tudo é novo, não se tornou tão rotineiro, mas ainda

assim percebo a razão de alguns comentários. É uma formação sentida como mais pertinente

para quem não sabe executar ainda as tarefas; para os que têm experiência, trata-se de alterar

modos e hábitos de trabalho à luz de técnicas definidas pelo sistema de produção. Talvez daqui

advenham maior resistência, também.

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Dados da realização das observações

Data: 19 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final

(Competências Fundamentais de Montagem Final)

Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)

Participantes: 2 formadores; 8 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

O dia começa em sala; não passamos pelo aquecimento com bolas, sacos e

cordas, possivelmente porque a formação será agora um pouco mais teórica.

Com efeito, em sala, os formadores explicitam, alguns conceitos e regras

relativos à “Responsabilidade do Produto”, conceito que atravessa todos os

níveis hierárquicos e fases de construção/produção do carro. Fala-se muito

de como às vezes as equipas se protegem entre si, nomeadamente porque

assumem em equipa um conjunto de operações que seriam imputáveis a

operadores em concreto. O que significa que, em caso de falha, às vezes é

impossível determinar um culpado específico, mas é “dele” que se vai à

procura quando se quer responsabilizar alguém sobre o produto.

Deram-se exemplos concretos de áreas fora da fábrica, como o acidente

aéreo do avião francês Concorde, há alguns anos, em que se apurou que o

culpado seria um técnico do avião que partiu antes (uma roda desse avião é

que terá causado a queda do outro); o exemplo atual do navio italiano que

naufragou e da responsabilidade do seu comandante, para já.

Estas questões geraram bastante discussão, mas sempre num tom assertivo,

sobretudo por parte dos formadores, que aceitaram todas as opiniões,

integrando-as nos exemplos que pretendiam fazer passar. Isto durou cerca de

1H30, após o que se fez um intervalo.

De seguida, fomos novamente para o espaço da formação prática. O formador

explicou o exercício a realizar: existe um carrinho automatizado no centro

desse espaço, que, segundo o formador principal explica, está preparado para

Formação mais

teórica

Responsabilidad

e sobre o

Produto

Corresponsabiliz

ação da equipa

Sofisticação dos

meios e

materiais da

formação

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perfazer um ciclo de produção, através de uma banda magnética no chão. Em

grupos de 4, teremos de reproduzir um conjunto de ligações com cabos e

tubos, numa operação complexa, idêntica a uma outra que já está montada

no carro automatizado (AGV – Auto Guidance Vehicle).

Este será uma espécie de “problema” para o qual cada grupo terá de

encontrar uma solução. Cada grupo está de um dos lados do AVG, a operação

é a mesma, mas ambos os grupos são exortados a fazer a atividade sem

trocarem demasiadas informações entre si, para que se veja que tipo de

soluções cada grupo encontrou para o mesmo problema. Essa será uma

questão também a debater no final a atividade. Formador principal informa

que teremos tempo suficiente para a atividade, a solução tem de encontrada

e descrita por volta das 13H.

Consoante formos definindo os passos da montagem, temos de construir uma

SAB, ou seja, uma folha de trabalho standard. A tarefa - organização,

reconstrução dos passos, folha SAB, realização da operação em movimento e

troca de lugar entre equipas - será complexa e durará o resto do dia.

O grupo de 8 foi dividido em 2 equipas de 4, cada uma trabalhou numa das

laterais do carro. Cada equipa teve direito a um carrinho de apoio, onde foram

colocados todos os materiais e ferramentas necessárias à reconstrução da

operação.

De cada um dos lados do AGV, cada formador repetiu, mais resumidamente,

o que teremos de fazer. Relembrou que esta atividade irá colocar em ação as

competências básicas que se treinaram nos 2 dias anteriores.

E assim, colocámos “mãos à obra”, observando o conjunto-modelo,

selecionando peças, organizando sequências; fomos também descodificando

o que precisavamos descrever na SAB, que não é uma folha totalmente nova

para os formandos, ou porque já se usam em alguns lugares da linha, ou

porque já foram confrontados com ela na formação, logo no primeiro dia.

Os formadores, a partir dessa fase, afastaram-se um pouco de nós, deixando-

nos organizar o trabalho autonomamente. De vez em quando aproximaram-

Resolução de

problemas em

equipa

SAB

Autonomia do

grupo

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se para confirmar se precisávamos de apoio; normalmente as respostas foram

do género: “Tudo controlado” ou “Está a ir”. De facto, sente-se um grande

envolvimento em redor da atividade.

Os termos usados foram muito técnicos, uma vez que vários formandos

assumem as funções que têm na linha, ou seja, de operadores; estão a

trabalhar numa área que dominam, tratando-se aqui de melhorar técnicas e

otimizar processos mais do que apreender técnicas. A experiência de trabalho

denota-se agora bastante, através da linguagem usada, das opções que

tomam, das opiniões apresentadas para resolver o “problema” colocado.

A intenção é fomentar as práticas de melhoria contínua, de reestruturação de

processos mentais, aproximação entre as pessoas, discussão e concertação

de ideias em trabalho de equipa. Parece ser mais isso que está em causa neste

dia de formação.

Com o tempo, a discussão entre todos os formandos foi-se centrando mais na

dificuldade em descrever os processos de forma sintética e simples na SAB do

que, propriamente, na dificuldade dos processos. Afirmam que já estão

habituados a fazer operações semelhantes de forma intuitiva, e que “fazer é

mais fácil do que explicar como se faz”. Frase curiosa. Ofereci-me para fazer

a SAB em conjunto com um deles, porque não domino as técnicas, sugestão

que foi bem acolhida.

Enquanto trabalhámos na atividade, os formadores ora nos apoiaram, ora iam

fazendo pequenas reparações em equipamentos da formação; por exemplo,

no dia anterior os formadores detetaram uma falta de ligação de um fio

elétrico, pelo que agora um deles substitui a peça danificada.

Cada um de nós foi fazendo pequenas pausas à vez, nunca se ausentando mais

que um de cada equipa ao mesmo tempo; foi essa a orientação que os

formadores deram. Ou seja, os intervalos são determinados por nós, quando

sentimos necessidade. Quando um de nós se ausenta avisa os formadores e

os colegas. Há como que uma norma implícita de cidadania a este respeito.

Motivação pela

atividade (apelo

à criatividade e

ao trabalho de

grupo)

Melhoria

contínua e

otimização

Dificuldade de

explicitação dos

processos

Autonomia do

grupo na

realização das

tarefas

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Uma das questões que levanta mais complexidade no preenchimento da SAB

tem a ver com especificidades, por exemplo, sobre com que mão pegar em

parafusos (esquerda ou direita) para uma determinada operação básica que

compõe o problema a resolver. Os formandos desabafam: “Nunca tinha

pensado na importância de pegar na aparafusadora com a esquerda ou com

a direita ou quantos parafusos levar logo na mão.”.

Aparentemente, apesar de já conhecerem e dominarem as competências

básicas quanto a utilizações, esta formação está a servir para lhes dar algum

rigor, técnica e sequencialidade, no sentido de melhorar as performances e

protegerem-se ergonomicamente, bem como assegurarem a qualidade dos

produtos. Fui conversando sobre isso sobretudo com um dos colegas,

enquanto fomos preenchendo a SAB.

Mais do que uma vez, os formadores referiram que a verdadeira importância

destas formações para os operadores não é a aprendizagem de operações,

porque isso eles já fazem há muito tempo, e nas condições mais stressantes.

O objetivo é que pensem sobre o que fazem, como fazem e como deveriam

fazer.

A intervenção dos formadores dirigiu-se progressivamente mais à

preocupação com a linguagem usada na SAB, colocando perguntas como “E

já escreveste isso na SAB?”, “Como é que o operador sabe qual o parafuso a

usar?”, “ Não chega dizer que é um parafuso.”, “Já disseste na SAB que antes

ligas a ficha? Isso também é um passo na SAB.”

Em alguns momentos, o formador em aprendizagem tornou-se quase um dos

elementos de cada equipa: discutiu, ajudou a encontrar a melhor linguagem

a usar na SAB; depois afastou-se e retornou passado algum tempo.

………………………………………………………………………………

Cerca das 11H45 a atividade foi interrompida para almoço, durante cerca de

45m. Este é mais do que o tempo que normalmente os operadores de linha

têm para almoçar (apenas 30 minutos). Note-se que, para almoçar, temos de

nos deslocar mais de 500 metros, demoram-se alguns minutos a pé, o que

Questionament

o das práticas

instaladas

Qualidade e

ergonomia

Objetivos da

formação:

pensar como e

feito e como se

devia fazer

SAB

Ajuda do

formador na

explicitação da

SAB

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significa que, mesmo em formação, há apenas cerca de 30 minutos para

almoçar. E raramente há atrasos.

Os formandos – a quem volta e meia já chamo de colegas – têm sido

incansáveis comigo e com a minha integração. Parecem sempre preocupados

se me estão a “deixar de fora”, e mesmo na atividade da SAB, penso que se

tivesse pedido para ficar numa função mais técnica, teriam acedido de bom

grado.

Não obstante, sinto que são competitivos e querem fazer a atividade o melhor

possível no tempo destinado; seria impossível com uma pessoa inexperiente

como operadora. Está a ser uma experiência muito interessante,

nomeadamente em termos humanos. Sente-se que estas pessoas estão

habituadas a trabalhar em equipa e a lidar com as vantagens e desafios desse

método de trabalho.

………………………………………………………………………………

De regresso do almoço, cerca das 12.35, ainda passámos cerca de 30 minutos

de volta do problema, selecionando peças e definindo sequência, após o que

nos sentámos, em duas mesas distintas (uma está no espaço exterior –

práticas, outro grupo está na sala de formação teórica). O objetivo foi o de

melhorar a SAB que cada grupo foi construindo enquanto resolviam o

problema dado. É como “passar a limpo” um rascunho, melhorando-o.

Raramente se pede auxílio aos formadores, que só se aproximaram de vez em

quando para perguntar se precisávamos de ajuda, que foi declinada na maior

parte das vezes.

É feito um intervalo de 10 minutos, entre as 14H e as 14.10.

Quando regressámos do intervalo, seguiu-se o momento do teste das

operações elementares (nome que atribuem ao conjunto de operações

básicas necessárias para resolver o problema colocado).

Formador principal deu as orientações para teste. Cada equipa designou

quem seria o operador e quem ia ler a SAB. Mas, à última da hora, o formador

Competitividade

Hábitos de

trabalho em

equipa e de

resolução dos

problemas da

linha

Melhoria da SAB

Teste da

atividade

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informou que iria haver uma troca: ou seja, cada equipa teve de realizar a

atividade com base na SAB que a outra equipa construiu, para testar a

objetividade e clareza de cada SAB. Formandos reagiram rindo e um

comentou: “Eu não dizia?”.

Às 14H20 arrancou o primeiro teste. A equipa A, que estava responsável pela

montagem do mecanismo no lado esquerdo do AVG, leu a SAB ao operador

da equipa B, a da direita do AVG. O teste foi feito por uma equipa de cada vez.

A primeira equipa ultrapassou o tempo de andamento do AVG, sendo que o

operador denotou de imediato que havia passos descritos que não eram

inteligíveis para ele. Afirmou que sabia um ou outro passo porque já sabia que

ele era necessário mas que não estava na SAB que lhe estavam a ler.

Finalizada a tarefa, o formador assinalou essas questões e uma ou outra

questão de qualidade que não foi acautelada. Os formandos concordaram

com os reparos feitos e até acrescentaram outros, mais relativamente à

técnica e à descrição da SAB.

Às 14H30, as equipas trocaram de posição: a equipa B leu a sua SAB ao

operador que era da equipa A. Também neste caso foram assinaladas, ainda

durante a execução, questões de menor clareza que atrapalharam quem não

conhecia a SAB; também esta equipa ultrapassou o tempo destinado à tarefa.

Essa, no entanto, não foi a questão mais vincada pelo formador, mas antes a

da linguagem das SABs e as questões de qualidade e segurança que têm de

ser acauteladas.

Formador diz que, provavelmente, se as equipas agora juntassem as duas

folhas iriam encontrar uma terceira, mais aperfeiçoada, mais rigorosa do que

ambas as que foram construídas. Refere que esse é um método importante

na melhoria contínua.

Depois, cada operador voltou a reunir-se à equipa a que inicialmente

pertencia. O objetivo era repetir a operação em simultâneo na esquerda e na

direita, sem SAB e apenas a partir dos passos memorizados, sendo designados

operadores diferentes para cada equipa. Esta operação foi cronometrada.

Desafio da

atividade

(verificação do

grau de

explicitação a

SAB)

Reflexão sobre a

tarefa

Qualidade e

segurança

Nova testagem

da atividade

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As operações ultrapassaram o tempo, mas, mais uma vez, essa questão não

foi salientada pelos formadores. Um de cada lado e com cada equipa,

discutiram as falhas que subsistiram; voltam a pegar nas SABs e assinalam,

tanto formadores como formandos, as questões que poderiam ser

melhoradas.

Por fim, ainda houve uma terceira repetição da atividade, desta feita apenas

para apreciar as questões relativas à qualidade. Apontaram-se questões de

postura, também, mas centraram-se no posicionamento das ponteiras

quando apontados os parafusos e os riscos que podem ter para o carro e para

os operadores, a importância dos torques na verificação dos

aparafusamentos com qualidade, associando-se ao que foi discutido no final

do dia anterior, em sala.

Referiu-se, ainda, o conceito dos 5s para a preparação do posto de trabalho e

o quanto isso promove a qualidade do produto e diminui o risco de erro ou

de acidentes.

Após o final da atividade, o formador principal Informou que no dia seguinte

iriamos à linha de montagem final, escolher um posto de trabalho real,

fotografá-lo e filmá-lo para depois se construir uma SAB.

Regressámos à mesa de reuniões do grupo depois de guardar os materiais e

ferramentas usados. Preencheram-se os campos do dia relativos à folha de

confirmação das técnicas e fez-se o ponto de situação. A opinião geral foi de

que este foi o dia mais desafiante de formação, de que todos gostaram, não

se sentiram muito desocupados como no final do dia anterior. Referiu-se a

dificuldade se construir as SABs e formador principal referiu a importância

desta metodologia para o trabalho com Standards, que está a ser

implementada em toda a fábrica e difundida em todas as fábricas da marca.

Fez-se referência à importância das tomadas de decisão conjuntas, quer seja

em equipa quer seja ao nível da fábrica. Daqui que os engenheiros da fábrica

tenham, inclusive, solicitado já por diversas vezes as SABs que vão sendo

Melhoria

contínua

Qualidade

Conceitos de

produção e

promoção da

qualidade

Planeamento

das atividades

do dia seguinte

Balanço final do

dia de formação

Standards

Relação da

formação com a

Engenharia

Industrial

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feitas na formação do CTP para implementar na fábrica, depois de revistas e

melhoradas.

Eram cerca de 15H20 quando a formação do dia foi dada como encerrada.

Observações:

Tive de fazer toda a descrição anterior da tarefa de grupo durante o período de almoço, para não

me esquecer das coisas mais importantes. Nos outros exercícios consigo ir pausando e tirado

notas; neste, é impossível. O ritmo e a envolvência das atividade não era compatível com

interrupções para tirar notas. Esta atividade teve maior recetividade dos formandos, envolveu

maior criatividade e espaço de manobra.

No entanto, denotou-se que a estandardização pretendida obtém resistências, limita-lhes a

criatividade nas operações, o “jeito pessoal” é como que anulado em função das normas.

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Dados da realização das observações

Data: 20 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Montagem Final

(Competências Fundamentais de Montagem Final)

Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)

Participantes: 2 formadores; 8 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

A formação recomeça cerca da 7H10, no espaço exterior da formação prática,

junto à mesa de trabalho. O formador principal explica qual é a atividade do

dia: o grupo irá à linha da montagem final observar postos de trabalho dos 3

modelos produzidos pela fábrica, pelo que subdividirá em 3 grupos diferentes

(dois de dois elementos e um com quatro, uma vez que um dos modelos é

mais complexo). O objetivo será o de observar, registar movimentos,

materiais usados e ferramentas, para posteriormente construir SABs dos

postos observados.

Para completar esta tarefa, o formador principal filma e fotografa os postos,

conversa com os operadores de linha para esclarecimento de alguns

movimentos e materiais usados (como quais as ponteiras de aparafusadoras,

como recebem as especificações de materiais a colocar em determinado

posto, etc.).

Os formandos recebem um cartão identificador de “Formação”, é confirmado

que todos trazem botas de trabalho, incluindo eu, que também tenho de

apanhar o cabelo, no cumprimento de uma norma que abrange quem

trabalha na linha.

Chegados à linha, especificamente à chamada zona “A”, os formadores falam

entre si para decidir quais serão os postos a observar para cada modelo de

carro e falam com o team leader da zona nesse sentido. Depois das

conversações, os formadores dividem os grupos pelos postos a observar. O

espaço em questão não é muito, pelo que uma das preocupações é posicionar

os formandos em locais que não interfiram com o trabalho dos operadores de

Organização da

atividade

principal do dia

Standards

Proximidade da

linha de

montagem para

realização a

atividade

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linha mas que, ao mesmo tempo, garantam uma boa observação dos seus

movimentos.

Fiquei no grupo de 4 pessoas; é designado um elemento que tome notas e os

restantes contribuem para que se vão anotando todos os passos observáveis,

ferramentas utilizadas e materiais usados. Sinto alguma dificuldade em

nomear os materiais e ferramentas, uma vez que não tenho experiência de

linha de montagem, mas os passos e movimentos são observáveis e simples

de descrever.

Os outros formandos, no entanto, sentem a dificuldade inversa, aceitando as

sugestões que vou dando e achando graça quando não sei nomear alguma

coisa. Denota-se satisfação em poderem ajudar-me nessa questão. Vão-me

contando situações que ocorrem na linha, pormenores da construção dos

veículos nos postos por que já passaram.

Uma das coisas que mais impressiona é a rapidez quase tranquila com que os

operadores de linha executam as tarefas, apesar do espaço apertado daquela

zona em particular, da velocidade a que a linha anda e da proximidade entre

os carros na linha. Os movimentos de cada operador são precisos e repetidos

a cada carro que passa pela estação; os elementos da equipa cooperam nas

operações e conversam enquanto trabalham, sobre pormenores do trabalho,

sobre as ferramentas, ou sobre coisas da vida.

Entre formandos e formadores (o que está em aprendizagem está bastante

ativo) existe uma colaboração constante na atividade, o formador vai

chamando a atenção para um ou outro pormenor, para perceber se alguma

coisa nos está a escapar.

Esta atividade demora cerca de 1H30, entre o ir e vir à linha, a definição dos

postos, conversas com os operadores e team leader e observação, registo e

filmagem dos postos. É de registar, que enquanto o grupo andava pelas

laterais da linha de montagem, ia havendo comentários de quem estava a

trabalhar no sentido de fazerem graça pelo facto dos que estavam no grupo

de formação estarem “de passeio” ou “no descanso”, comentários que são

Observação dos

operadores de

linha para

estandardização

dos processos

Articulação de

tarefas no grupo

Aprendizagem

em contexto

com a

experiência dos

operadores

Precisão,

rapidez e

sequência dos

movimentos

dos operadores

de linha

Filmagem para

reflexão/estand

ardização

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levados com descontração. Também se vão cumprimentando, porque muitas

vezes conhecem quem está a trabalhar.

No caminho de regresso, o formador principal vai comentando comigo o

quanto este dia de formação é exigente para os formadores: têm de filmar e

fotografar, acautelar as questões de segurança quando as pessoas vão à linha,

porque não podem acontecer nem acidentes nem situações que prejudiquem

o normal funcionamento dos postos de trabalho a observar.

Por outro lado, quando regressam da linha, têm de passar as imagens para

computador, tratá-las, colocá-las em sistema para depois serem usadas nas

SABs digitais que os formandos irão construir. Muitas vezes os formandos não

conhecem bem o Excell, casos em que ainda têm de intervir, ensinando as

questões mais básicas deste programa.

De regresso ao CTP, os formadores pedem para que os formandos se juntem

para tirar uma fotografia ao grupo. É depois feito um intervalo e às 9H

regressa-se ao espaço exterior da formação prática, e todos se sentam na

mesa do grupo. Durante este tempo, os formadores estiveram na sala de

formadores no computador, fazendo as tarefas referidas anteriormente.

Nesta altura, o formador pede para que os formandos enumerem as questões

ou conceitos que acharam mais pertinentes na formação, o que sentem que

“levam” da formação. De uma forma geral, todos concordam que as questões

de qualidade e responsabilidade pessoal são as coisas mais importantes, para

as quais estarão mais alerta; referem-se também algumas técnicas treinadas,

nomeadamente a confirmação do torque, a estandardização, e alguns passos

que faziam naturalmente de um modo na linha, em virtude da experiência e

de alguns “vícios”, mas que perceberam que seria mais vantajoso,

nomeadamente em termos ergonómicos, fazer de outra forma. No entanto,

conforme um deles afirma, “Resta saber se depois, na linha, me lembro ou

tenho tempo para fazer as coisas desta maneira”.

A propósito disto, outro formando refere que essa questão é muito

importante e que às vezes “a teoria e a prática não são a mesma coisa”. São

debatidas algumas situações que ocorrem na fábrica, em postos de trabalho

Exigência da

atividade de

formação

Balanço da

formação

Rotinas

instaladas vs

aquisição e

novas rotinas

Teoria/prática

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que conhecem ou que neste momento fazem, em que é muito complicado

mudar rotinas. O formador reforça a necessidade de o fazerem, até que

também essa nova técnica ou postura se torne numa rotina.

De seguida, o formador pergunta que tipo de formação achavam importante

terem, e alguns dos formandos referem que todos deviam saber e aplicar os

5s, os princípios de ergonomia, de qualidade, de responsabilidade do

produto.

O formador faz o resumo do que foi dito por todos e de seguida sugere que

os grupos façam a SAB na sala de formação, por estar mais quente. De facto,

o espaço exterior da formação prática torna-se muito frio quando estamos

parados, por se tratar de um pavilhão muito amplo e alto, sem ar

condicionado e cujas portas/portões estão frequentemente abertos.

São 9H30 quando vamos para a sala, formador informa que podemos fazer as

pausas quando entendermos, tal como no dia anterior durante a atividade do

AVG. O objetivo é construir SAB de cada operação observada, quer para o lado

direito, para o lado esquerdo do carro.

A função de escrever é distribuída entre mim e um outro elemento do grupo.

A linguagem a usar tem de ser objetiva, “chã”, mesmo, e dar conta do

processo observado passo por passo. Trocam-se ideias e vai-se estruturando

o processo, registando em campos específicos da SAB.

Cerca de 20 minutos depois, o formador principal vem à sala e liga o

computador, uma vez que já colocou as fotos e os vídeos em rede; é-nos

possível rever os processos observados. Uma vez mais, o formador resume os

diferentes passos das estações observadas. Também traz as fotos em

miniatura, impressas em duas páginas, para que consigamos ir visualizando e

escolhendo as imagens ilustrativas da SAB.

A construção da SAB é um processo muito discutido entre os elementos do

grupo e vai sendo feita entre comentários sobre várias situações de trabalho

na produção: dificuldades, postos mais ou menos fáceis, desequilíbrio quanto

à responsabilidade que cada estação implica, evolução que a linha de

Transformação

de novas

técnicas em

rotinas, através

do treino

Elaboração da

SAB

Definição das

tarefas em

grupo

Articulação

entre os

formadores e o

trabalho dos

formandos

Exigência do

trabalho de

explicitação

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montagem tem tido em termos de organização, limpeza, estrutura e

distribuição dos postos de trabalho.

Enquanto os grupos se envolvem nesta tarefa, o formador principal ausenta-

se, para tratar das questões logísticas do resto da formação, enquanto o

formador em aprendizagem continua em sala, alternando o seu apoio aos

diferentes grupos. Senta-se, discute os diferentes passos que se vão

descrevendo e ele próprio expressa as suas dúvidas sobre algumas questões.

Alguns formandos expressam o descontentamento sobre o nível de

especificidade da folha SAB, que lhes parece demasiado “infantil” para o

trabalho que é feito. Reclamam quando o formador principal, um pouco antes

da pausa para almoço, informa que teremos de passar o rascunho feito a

limpo, tanto para o lado direito como para o lado esquerdo. Isto porque a SAB

será transposta para formato digital, pelo que lhes parece desperdício de

tempo e esforço fazer duas SABs à mão.

Cerca das 11H45 é feito o intervalo para almoço, de 45 minutos, como de

costume.

No regresso de almoço, dentro do tempo definido, continuamos a passar a

limpo a SAB de rascunho que fizemos de manhã, tanto para o lado esquerdo

como para o lado direito das estações observadas. Os formadores tomam

nota de quais as fotografias que cada grupo selecionou para ilustrar os

diferentes passos da SAB, ausentando-se de seguida para prepararem as

imagens e os computadores que os formandos irão usar.

Um dos formandos diz que preferia estar na linha a montar “cockpits” do que

estar a fazer SABs desde 4ª feira, coisa que os outros estranham e até se riem.

Confessa estar cansado de fazer SABs quando acha que não são práticas nem

aplicáveis. Alguns colegas referem que há setores da fábrica onde já se usa

essa metodologia. O outro colega diz que, pelo menos, que o fizessem só a

computador.

Às 13H30 o grupo em que me insiro termina a parte manuscrita da tarefa e

seguimos para o computador. Pedem-me para ser eu a passar “a limpo”, eu

Reação à SAB

Excessiva

simplicidade da

linguagem vs

complexidade

das operações

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acedo; o ambiente entre colegas é muito descontraído e de entreajuda,

mesmo comigo, coisa que tenho denotado em crescendo desde 3ª feira.

Construíram-se as SABs dos dois lados do ponto de trabalho observado em

cerca de 30 minutos. Esta tarefa implicou o manuseamento de programas

diversos: de imagens, excell e word. A primeira SAB fiz eu, com apoio de um

dos formandos do grupo; a segunda, troquei com o colega que me havia

ajudado antes (a ditar); tinha muito boas competências em TIC. Os outros dois

colegas continuaram a colar as imagens nas folhas SABs manuscritas, que

ficam para os formadores arquivarem no dossier técnico pedagógico do

módulo.

Finalizadas as atividades, cerca das 14H55 regressamos à sala teórica, onde

se fez a avaliação da ação e se trocaram algumas opiniões finais, no fundo, na

sequência do que foram sendo os comentários solicitados pelos formadores

ao longo da formação. Eis alguns dos comentários:

É sempre bom fazer formação um pouco fora da linha.

É também uma semana de descanso.

Estabelecem-se novas ligações e laços, o que facilita a comunicação

dentro da empresa.

Serve para ter novas ideias sobre coisas que até já se conhecem.

Gosta-se sempre de ter formação.

A formação acabou por superar as expetativas.

Houve quem desse os parabéns à prestação do formador em formação, que

se envolveu muito com o trabalho dos grupos e esteve sempre disponível para

ajudar. Desejaram-lhe as melhores felicidades para a nova função.

Os formadores agradeceram a entrega e o esforço de todos e despediram-se

até outra formação. Ainda distribuíram por todos uma cópia da fotografia de

grupo, informando que será enviada para um determinado setor da empresa,

responsável pela newsletter, onde que por vezes as fotografias da formação

são publicadas.

Tecnologias na

formação

Balanço final da

formação

Reações do

grupo à

metodologia e

profissionalismo

do formador

Observações:

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157

Percebo que há descontentamentos, mas também há uma espécie de orgulho pelo estatuto e

estabilidade que a fábrica tem alcançado. É impossível reproduzir aqui os diálogos entre as

pessoas dos grupos, pelo que se tenta reproduzir, em alternativa, o ambiente e as intenções.

Sobre esta questão em particular, é notório que há tensões na reação dos trabalhadores à

empresa entre alguns descontentamentos face à rotina do trabalho e à exigência da linha, em

confronto com o reconhecimento da estabilidade e estatuto que a empresa lhes oferece.

Page 158: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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Dados da realização das observações

Data: 30 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências

Fundamentais de Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (1º de cinco dias)

Participantes: 1 formadores; 4 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

A formação começa pela apresentação dos formadores e formandos,

começando pelos primeiros, referindo-se ao nome, idade, experiência na

fábrica, setores em que trabalham e já trabalharam e algumas atividades de

lazer mais habituais.

São 12 formandos, contando comigo; o grupo tem 10 homens e 1 mulher,

para além de mim, que vem dos Recursos Humanos. Os outros formandos

pertencem às áreas das Prensas, Carroçarias e Montagem Final. Serão 2

formadores a orientar a formação. Um dos formadores que há duas semanas

estava em formação (no Fundamental Skills de Montagem Final) parece agora

exercer o papel de formador com maior intervenção e será um dos dois

formadores a acompanhar a formação de montagem final.

Como é habitual, os formadores estão sempre de pé, vão alternando entre os

diferentes cantos da sala, sobretudo o formador auxiliar. O formador principal

fica normalmente num canto da sala, numa posição diagonal relativamente

às mesas dos formandos.

Mais uma vez, à semelhança da semana de 16 a 21 de Janeiro, e outras

formações já observadas, o dia é dedicado à explicitação de conceitos

fundamentais do sistema de produção.

Como de costume no módulo de Fundamental Skills, os formandos da

Montagem Final e os do Body estão juntos, neste primeiro dia e nos dias

seguintes o grupo será separado em dois espaços distintos do CTP, de acordo

com a formação nas duas áreas distintas da produção.

Caraterísticas

do grupo

Postura dos

formadores

Explicitação dos

conceitos da

produção

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A exposição a que assisto é a mesma que foi feita nos outros Fundamental

Skills. A informação é alternada com demonstração, fazendo apelo à opinião

e experiência dos formandos.

O grupo é bastante participativo desde o início, sendo que o formador que

comanda a exposição é o mesmo que há duas semanas. Colocam muitas

questões, dão muitos exemplos, tanto quando lhes é solicitado como por

iniciativa própria.

Os formadores vão alternando nas respostas às questões colocadas e

integram os exemplos que os formados dão relativamente nos conceitos

expostos.

A cada introdução de um conjunto de conceitos, como o de auditoria, o de 5

S, de tipos de desperdícios, entre outros que são explorados ao longo deste

dia, o formador principal começa por questionar se estes são familiares aos

formandos; alguns vão dizendo o que se lembram, outros vão avançando que

até se lembram mas que “não são muito seguidos na linha”.

Os formadores vão também perguntando se há dúvidas; mesmo não

havendo, repetem sempre uma vez mais, resumindo e sistematizando a

exposição mais alargada que é feita anteriormente sobre um conceito ou

conjunto de conceitos.

Há 2 formandos que revelam cansaço (fecham os olhos com sono, com

frequência) cerca das 14.30. Estamos a uma hora do final do dia de formação.

Nesta altura, ambos os formadores estão no lado direito da sala, não

conseguindo ver as caras dos formandos que estão nesse lado da sala, porque

lhe ficam de costas. No entanto, cada vez que, em vez de exposição com base

em diapositivos, há tendencialmente mais troca de opiniões ou

exemplificação de situações do trabalho na fábrica, esses formandos reagem;

remexem-se na cadeira e retomam a atenção por mais algum tempo.

Isto acontece ciclicamente, até que, cerca de 20 minutos depois, o formador

principal se coloca mais a meio da sala, passando a conseguir visualizar todos

os formandos de frente. Apesar do cansaço evidente, aqueles formandos

Nível de

participação e

adesão do

grupo

Associação dos

conteúdos da

formação às

práticas de

trabalho

Conceitos de

produção já

conhecidos

pelos

formandos

Metodologia da

formação

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ficam mais despertos. Mas não dura muito, há um deles que chega mesmo a

adormecer. Cerca das 14H55 o formador principal pergunta: “Quem é que

está a dormir?”, os formandos riem-se, incluindo aquele que dorme; de

seguida o formador diz: “Está mesmo quase a terminar, é só mais um

bocadinho.”.

Coincidência ou não, o 2º formador, nesse exato momento, sai do fundo do

lado direito da sala, onde está desde o último intervalo, e vai posicionar-se no

lado esquerdo da sala, atrás dos formandos, ficando em posição de ver de

frente todos os que estão do lado direito do “U”.

Cerca das 15.05 o formador principal diz:” Está mesmo quase; só faltam mais

300 slides!”; formandos riem, “Estou a brincar, já terminei a apresentação.”.

O 2º formador pergunta se alguém quer alfinetes para acordarem, os

formandos voltam a rir; ou seja, existe a noção de que, por esta altura, a

formação teórica já se tornou pesada ou maçadora e tentam brincar com o

assunto.

Antes de finalizar a formação de hoje, ainda vão aos espaços dos dois

Fundamental Skills, para apresentar os equipamentos e explicar um pouco

como vão decorrer os dias que se seguem.

Como tem sido observado em outras formações, os intervalos foram

realizados a cada hora e meia de formação, sensivelmente. Cerca da 15.25 a

formação termina.

Desmotivação

do grupo face

ao conteúdo

teórico do

primeiro dia de

formação

Postura dos

formadores face

aos conteúdos

teóricos

Observações:

Este dia de observação confirma a repetitividade inicial das formações, em torno dos conceitos

e métodos do sistema de produção do Grupo e da empresa. Em simultâneo, sinto que estarei a

chegar ao ponto em que mais observações dos mesmos módulos não me vão fornecer muito

mais informações novas sobre a formação. Revendo algumas notas de campo, as observações

estão a confluir com frequência na direção dos mesmos tópicos (saturação).

Page 161: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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Dados da realização das observações

Data: 31 de janeiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências

Fundamentais de Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (2º de cinco dias)

Participantes: 1 formadores; 4 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

A formação começa cerca das 7H10, mas às 7H05 os formandos já estão no

espaço do CTP. Os 5 minutos de espera têm a ver com o facto de os

formadores terem de ligar os computadores de apoio à formação.

Hoje, o formador que esteve como auxiliar no dia anterior já não está

presente, está um 3º formador, que irá assegurar a formação prática do Body.

Trata-se de um formador mais velho, que assegurou a formação de um dos

Lean Games que observei.

Este formador toma as rédeas da formação no início do dia, dando algumas

explicações sobre a importância do aquecimento dos membros superiores

para a execução de certas funções, tanto do Body como da Montagem Final.

Ainda estão juntos os dois grupos. Seguem-se os jogos de aquecimento já

descritos noutras observações, com o mesmo interesse especial pelo desafio

de “passar cordas” e “enrolar cordas”.

Cerca das 8H, os grupos dividem-se. Vou com o grupo para o espaço destinado

à formação prática do Body. Os formandos sentam-se na mesa, o formador

fica de pé e começa por explicar que o módulo se divide em operações básicas

e operações elementares. Explica de que forma os postos ou estações de

trabalho estão organizados: trata-se de um corredor, com 4 postos do lado

direito; cada um tem uma bancada, com prateleiras por baixo, com um ecrã

de computador à altura da cabeça de cada operador. Em frente, no mesmo

corredor, estão os respetivos “armazéns de peças”; cada estação tem o seu.

Zona de

treino/aquecim

ento

Operações

básicas/operaçõ

es elementares

Espaço/materiai

s

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Resume um pouco quais são as operações básicas que irão ser treinadas (com

apoio em exercícios orientados pelo computador) e quais serão as operações

elementares (conjunto organizado de operações básicas, e que serão

orientadas através de Portefólios).

O índice de conteúdos desta parte da formação é:

1. Identificar Defeitos de Qualidade

2. Aplicação de Sealer

3. PSW Clamping e Soldadura

4. Montagem e Alinhamentos

5. Inspeção Final

6. Reparações

Cada um destes itens vai subdividir-se em vários, com momentos de

explicação, exemplificação com vídeos e fotos, itens de qualidade e de

segurança, testes parciais e um teste de semáforo no final.

O formador explica também como estão compostas as bancadas de treino. Dá

exemplos de como alguns exercícios se irão desenvolver. Depois refere-se a

uma parte de uma carroçaria que está no espaço da formação, cujo exercício

consistirá na inspeção interior e exterior da traseira do veículo.

De seguida, convida os formandos a verem de que forma o armário de

material está arrumado, segundo uma lógica de “visual management”, ou

seja, cada estação tem uma etiqueta com uma cor; os respetivos materiais

estão arrumados no armário em prateleiras com etiquetas da mesma cor e

caixas com o mesmo tipo e cor de etiqueta. Refere-se ao poka yoke e aos 5S,

como sendo conceitos que estão ali sempre em funcionamento.

De seguida, os formandos vão para os postos de trabalho e inicia-se o

primeiro exercício.

Detetar defeitos visualmente, seja ângulos de peças de chapa dobrada, seja

rebarbas ou dimensões de furações, não é fácil. Os exercícios de computador

pareceram-me simples, de “navegação” intuitiva; são repetitivos quanto à

Conteúdos

específicos da

formação

Organização dos

conteúdos/ativi

dades

Conceitos de

produção

Dificuldades da

tarefa de

inspeção de

qualidade

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sequência e às lógicas de aprofundamento; o formador é que vai dando

indicação de quando se pode avançar no treino assistido.

Neste primeiro exercício, o formador chama a atenção que é importante

treinar a deteção das falhas nos materiais, falha por falha, um tipo de cada

vez, para melhor as detetar depois no conjunto.

São vários os exercícios simples, com o mesmo tabuleiro de peças, em que

umas têm falhas outras não. Inicialmente, trata-se de falhas a detetar apenas

com o auxílio da visão.

Cerca das 8H55 é feito um intervalo de cerca de 15 minutos. Cerca das 9H10

o grupo retorna.

De volta às bancadas de treino, passa-se a um conjunto de exercícios sobre

deteção de falhas, agora usando o tato.

Depois, troca-se de tabuleiro. Neste, será feito o teste deste primeiro

conjunto de operações básicas: encontrar 5 peças OK, inspecionando de entre

um conjunto de 20 peças, utilizando as técnicas visuais e manuais explicadas

e experimentadas. O teste é o do “semáforo”, e o tempo máximo é de 1m35

segundos, com 10% de tolerância. De uma forma geral, os formandos

esquecem-se de um dos tipos de teste, que é da medição da furação com um

instrumento a que chama de “passa/não-passa”. Findo o teste, arruma-se os

tabuleiros e passamos a um exercício dedicado a detetar mossas e bicos em

chapas, pintadas e em cru.

Trata-se de treinar a visão em contraluz; para o efeito, as bancadas têm uma

lâmpada fluorescente que nos ajuda a posicionar e visualizar a peça em

contraluz. Durante esta atividade, que tem um conjunto de exercícios de

treino de deteção deste tipo de falhas em crescendo de dificuldade, são

inúmeras as vezes que o formador conversa com o grupo sobre as

consequências deste tipo de defeitos na produção dos carros. Um dos

formandos com mais experiência na linha do Body dá vários exemplos de

peças em que este tipo de defeitos tem provocado problemas.

Programa de

computador

(Repetitividade

e excessiva

simplicidade)

Qualidade

Treino/testage

m

Deteção de

falhas de

qualidade

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Cerca das 10H10 é feita uma pequena pausa de 10 minutos. No regresso, há

dois formandos que vêm mais cedo e conversam um pouco com o formador

sobre questões relacionadas com furos e soldadura. Este grupo é constituído

por trabalhadores das carroçarias que estão nessa área da fábrica desde o seu

início. Um dos formandos confessa que já está a ficar cansado deste tipo de

funções, porque é um trabalho que se torna pesado ao final de tantos anos.

De regresso, passa-se ao teste do semáforo: mossas e bicos numa chapa;

baixa espessura e fissuras, noutra; tudo em 58 segundos. O teste é simples,

mesmo para mim que não tenho prática, o mesmo já tendo sucedido com o

anterior.

De seguida, o exercício implica a utilização de uma balança, onde se treina a

pressão mais ou menos constante com a mão esquerda e a mão direita. Esta

é uma das técnicas usadas para treinar a pressão, inclinação e precisão

necessárias para a colocação do sealer, uma cola especial para a chapa.

A atividade seguinte implica tocar em pedaços de chapa com ângulos,

aparafusadas a um tabuleiro. O formador explica a atividade, salientando que

devemos usar as duas mãos, garantindo uma posição ergonómica das mãos e

braços; a mão esquerda é usada para o lado esquerdo das peças e a mão

direita, para o lado direito das mesmas.

À medida que se encontram os defeitos, colocam-se ímanes vermelhos, que

depois são verificados pelo formador. Sou elogiada pela precisão a encontrar

os defeitos, mesmo sem treino nem prática de linha. Tenho consciência que

é uma técnica de motivação. Este conjunto de exercícios tem a ver com uma

zona do Body designado por Metal Finish, em que as questões da qualidade

da chapa são verificadas.

De seguida, o conjunto de exercícios envolve a aplicação sealer. O formador

demora cerca de 20 minutos a explicar as precauções a ter, pela perigosidade

de algumas colas pelos produtos químicos e pela temperatura que podem

atingir. Demonstra algumas das suas aplicações através do programa de

Caraterização

do grupo de

formação

Dificuldades do

trabalho na

linha

Treino

Treino

Treino

Perigosidade de

alguns materiais

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165

apoio, em computador; nós estamos em volta de um dos postos de trabalho,

observando e ouvindo as suas explicações.

Um dos elementos do grupo trabalha com sealer e dá vários exemplos de

tipos de cola, de questões a ter em atenção; o formador agradece a

intervenção e salienta a importância de irem relacionando os exercícios da

formação com as suas práticas e dando exemplos, uma vez que ele próprio já

está fora da linha há algum tempo.

O intervalo para o almoço decorre entre as 11H50 e as 12H40

Retomando as atividades, temos de colocar sealer sobre o tracejado

desenhado em tabuleiros próprios, em linhas retas verticais de 3, 5 e 6mm. O

formador vai depois a todos os postos para verificar a espessura, a aderência

da cola, entre outros aspetos da qualidade da aplicação. A tarefa não é nada

fácil, as linhas de sealer saem muito tortas, pelo menos no início.

O exercício repete-se depois com linhas de diferentes espessuras, na

horizontal, notando-se maior complexidade na aplicação. Formador vai

visionando e comentando, corrigindo posturas e técnicas de aplicação. Segue-

se um tabuleiro com riscas onduladas, de diferentes espessuras, para

preencher com sealer.

Note-se que, antes de se trabalhar com a pistola do sealer (sobre a qual o

formador também deu explicações e indicações de segurança), coloca-se uma

película transparente sobre o tabuleiro com as riscas, a vermelho, e é sobre

essa película que se trabalha. Depois, é deitada fora para um caixote de lixo

industrial, de reciclagem de resíduos tóxicos.

Após o treino de colocação de sealer na vertical, horizontal e ondulado, em

todos os casos tanto com a mãe esquerda como com a mão direita, segue-se

o teste do semáforo. O último tabuleiro a usar tem agora uma combinação de

todos os tipos de riscas, quanto à espessura e direção, e o teste consiste em

colocar sealer por cima de todas elas em 1m25sg, seguindo ainda uma

sequência de alternâncias entre a mão direita e a mão esquerda.

Participação dos

formandos com

o seu know-how

Treino

Treino

Testagem

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166

Apesar de todos os formandos concordarem que o desafio é grande, pela

complexidade e quantidade de operações em tão pouco tempo, na realidade

todos conseguem realizá-lo, ainda que ultrapassando um pouco o tempo

destinado. O exercício é feito à vez, o formador vai observando a colocação

do sealer, salienta o que está a ser bem feito e as técnicas que ainda não estão

totalmente corretas.

Após este conjunto de exercícios, passamos a uma outra técnica de trabalho

em carroçarias, desta vez montagem e alinhamento. Segundo a sequência de

atividades do programa de computador de apoio à formação, deveríamos

trabalhar a soldadura, mas o formador informa que se irá passar à frente, mais

tarde voltar-se á a esse item, dizendo apenas que não teremos tempo para

aquele exercício para já.

O formador demora algum tempo a explicitar questões relativas à

aparafusadora: função da etiqueta de identificação, importância de uma boa

utilização, posicionamento na mão por questões ergonómicas. Estas questões

foram também abordadas na formação de Montagem Final com o mesmo

nível de pormenor.

Enquanto explica a operação, vai demonstrando com uma aparafusadora,

complementando com observações sobre a qualidade que estão explicadas

no programa de computador. A este respeito, o formador confessa que alguns

dos vídeos do programa e exercícios só lá estão por uma questão de

estandardização entre fábricas da marca, sendo que alguns se tornam

demasiado básicos para quem já trabalha há algum tempo na área. Por outro

lado, às vezes a simplicidade e a repetição do tipo de exercícios ajuda a

despertar os trabalhadores, já rotinados a certas práticas menos rigorosas, a

reverem os seus modos de trabalho.

Cerca das 14H15 é feito um intervalo de 15 minutos. Estar de pé a ouvir e

observar o que o formador apresenta torna-se, agora, um pouco cansativo,

não só nem especificamente para mim; o cansaço é visível e comentado entre

os formandos. Este também foi o motivo que o formador deu para fazer uma

paragem, dizendo: “Eu já sei que isto da parte da tarde é mais difícil.”.

Complexificação

das tarefas

Qualidade de

execução

Técnica,

qualidade e

ergonomia

Estandardização

entre fábricas

Alteração de

rotinas do

trabalho

Exigência da

formação

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…………………………………………………………………………..

Findo o intervalo, pratica-se o aparafusamento em várias direções, com o

formador constantemente a chamar a atenção para a ergonomia ao pegar na

ferramenta e a mudá-la de mão.

A atividade fica a meio, o formador opta por interrompê-la para deixar cerca

de 20 minutos finais para fazer o ponto de situação sobre o dia e o

planeamento das atividades do dia seguinte. O formador resume a forma

como a atividade que ficou a meio se irá desenvolver no dia de amanhã,

chamando a atenção que apesar de trabalharem na linha, há ferramentas que

serão usadas pela primeira vez, em alguns casos.

Distribui a folha de confirmação de técnicas (a que chama de “caderneta dos

formandos”) e pergunta se há dúvidas que queiram colocar. Os formandos

não expressam dúvidas, apenas mencionam que estão a achar a formação

interessante, que muitas das ações que fazem no seu posto de trabalho têm

a ver com estas operações básicas e que é bom para corrigirem hábitos e

posturas menos corretos.

A formação termina cerca das 15H20; alguns formandos ficam “em

competição” com os da Montagem Final nos exercícios da zona de

aquecimento.

Treino

Ergonomia

Reorganização

da sequência de

atividades da

formação

Formandos têm

noção de que

estão a corrigir

técnicas e

hábitos

Zona de

treino/aquecim

ento

Competitividade

Observações:

Fazer a formação e registar o que vai acontecendo não é uma tarefa simples, sobretudo por se

tratar de uma formação fundamentalmente prática. Ainda assim, há sempre momentos em que

é possível tomar notas, sobretudo nos intervalos, acabando por se tornar muito exigente

também por isso.

O ambiente é bastante amistoso, o formador é muito pormenorizado nas explicações que dá

sobre os passos dos exercícios. É muito preocupado com as questões da segurança e ergonomia,

para além da qualidade. Preocupa-se em verificar se eu percebo os exercícios e em motivar-me

quando os realizo.

Os formandos, de uma forma geral, não trabalhavam juntos na mesma zona, apesar de 2 deles

já se terem cruzado em tempos numa zona de trabalho. Rapidamente encontraram pontos de

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interesse comum, trocam experiências e mantêm conversas sobre as funções desempenhadas

com frequência. Também me acolheram bem, manifestam frequentemente a vontade de me

ajudar e, tal como o formador, vão dando conta dos meus avanços. A aplicação de sealer em

diferentes direções e com diferentes espessuras, usando ambas as mãos, foi o exercício em que

mais dificuldades senti. Ainda assim, notei (e foi notado pelos outros formandos) a evolução no

traço e na espessura, depois de várias experimentações. O treino e a sua repetição têm, de facto,

esse efeito. E contrapartida, torna-se cansativo ao final e algum tempo.

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Dados da realização das observações

Data: 01 de fevereiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências

Fundamentais de Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (3º de cinco dias)

Participantes: 1 formadores; 4 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

O dia de formação começa cerca das 7H35, após os habituais exercícios de

aquecimento; no caso dos exercícios de enrolar e passar cabos, tiram-se

tempos, confirmando uma espécie de tradição em tentar entrar no ranking

dos mais rápidos, que está afixado em cada uma das respetivas bancadas.

Segue-se a continuação do exercício deixado a meio no dia de ontem. Agora

trabalham-se os alinhamentos de chapas e a verificação de espaços entre

peças (Gap e Flush) e a utilização de chaves de torque e chaves

dinamométricas (para confirmar torques). Formador explica os perigos dos

parafusos terem mais ou menos newtons do que era suposto e salienta a

necessidade de se seguirem as especificações dos apertos para cada situação.

Os exercícios, por si só, são interessantes e dinâmicos; sente-se a evolução

das operações e o quanto as técnicas treinadas antes foram importantes para

depois irem sendo integradas a cada nova atividade.

O programa de apoio, em computador, é simplista. Segue passo a passo cada

operação, e se para quem já tem prática pode parecer absurdo, mesmo para

mim, que não a tenho, torna-se “infantil” e repetitivo seguir alguns dos passos

descritos.

De seguida, segue-se o teste do semáforo, que passa por fazer um conjunto

de aparafusamentos em placas de diferentes espessuras, aplicando os

conhecimentos de alinhamentos e torques. No final, o formador salienta que

o importante é reter novos conceitos que possam aplicar no trabalho e

Zona de

treino/aquecim

ento

Competitividade

Exercícios

técnicos

Qualidade/segu

rança

Treino e

evolução das

técnicas

Excessiva

simplicidade do

programa de

computador

que apoia a

formação

Testagem

Retenção dos

conceitos

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melhorar a qualidade, do trabalho e do produto, “mais do que fazer os

exercícios dentro do verde do semáforo”.

É feito um intervalo de 15 minutos, entre as 8H50 e as 9H05.

Passa-se ao tema da soldadura: neste capítulo, o formador explica que muitas

das imagens e exercícios propostos pelo programa de computador que estão

a seguir são desadequadas para a realidade da fábrica. Os vídeos são de uma

outra fábrica, em Espanha, e os equipamentos aí utilizados são diferentes.

Por outro lado, muito do treino proposto pelo referido programa seria

importante para quem entrasse de novo na fábrica, não para quem já aqui

trabalha e tem tanta experiência. Esta questão foi, até ao momento, referida

por várias vezes e nota-se que o formador faz uma adaptação muito “sua” dos

exercícios propostos pelo programa. Os formandos concordam.

É de assinalar que são referidos, com alguma frequência, conceitos bastante

teóricos de física e de química, sobretudo na explicação do que são os pontos

de soldadura e como são feitos. Um dos formandos revela muitos

conhecimentos sobre o assunto, uma vez que trabalha em soldadura; refere

alguns cuidados a ter sobre a qualidade das cápsulas de soldadura, o sistema

de arrefecimento que lhes garante um bom funcionamento, entre outras

questões, umas mais práticas e outras mais teóricas. O formador agradece,

vai dizendo “eu ia falar nisso a seguir, mas obrigado por teres dito isso”.

Nesta fase, e desde o regresso do intervalo, a formação tornou-se mais

expositiva, também vai sendo dialogada, com momentos de demonstração e

exemplificação. Estamos de pé em frente a um dos computadores, que o

formador utiliza para orientar este momento de formação; não é a posição

mais confortável para se estar durante cerca de uma hora. No entanto, os

formandos parecem não se importar, demonstram-se atentos e

participativos; comentam comigo que o estão habituados a estar de pé o dia

inteiro.

O formador demonstra domínio sobre todos os conteúdos da formação, quer

quanto a conceitos teóricos – o que, neste módulo, implica muitos

Ênfase na

qualidade

Desadequação

do programa de

computador

Adaptação das

atividades pelo

formador

Conceitos

teóricos

Metodologia da

formação

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conhecimentos de física, química e mecânica, entre outras áreas do

conhecimento -, quer quanto a situações da realidade da fábrica, que lhe vão

servindo sempre para exemplificar questões. Este vaivém entre a teoria e as

práticas é convocado com muita frequência na formação, quer pelos

formadores quer pelos formandos. Mesmo não tendo nenhuma formação nas

áreas mencionadas, percebo os exemplos dados das experiências de alguns

dos operadores, sobretudo nas consequências que algumas das questões

físicas e químicas têm nas operações que estão a ser explicadas.

Cerca das 10H voltamos aos exercícios práticos, desta feita sobre inspeção

final de defeitos: torques de parafusos, pontos de soldadura, aplicações de

sealer, defeitos de gap e flush. Num só tabuleiro, há várias peças que são

sujeitas à apreciação dos formandos. Formador explica, pede para

posicionarmos o programa do computador nesse exercício prático, verifica se

os formandos detetaram todos os defeitos possíveis. A mim, falharam-me 2.

De seguida, passamos para um exercício de inspeção final em peças

interiores, num tabuleiro, onde estão vários tipos de defeitos de chapa e de

pontos de soldadura. A repetição deste tipo de exercício, a um nível de

pormenor tão fino, faz com que se consigam identificar progressivamente

cada vez mais defeitos, facto assinalado pelos formandos. Formador confirma

que esse é o objetivo da repetição.

Cerca das 11H é feito um intervalo de 10 minutos. Os formandos ficam pelo

espaço interior do pavilhão do CTP, nomeadamente para treinar os exercícios

de aquecimento de enrolar e passar corda, com o objetivo de os fazer cada

vez mais depressa. O ambiente é descontraído e quase “familiar”.

No regresso, é feito o teste do semáforo, mais uma vez trata-se de identificar

as falhas dos diferentes tipos num conjunto de peças que estão fixas num

tabuleiro próprio.

Depois da verificação e das observações de correção do formador, como é

costume, arrumam-se os tabuleiros no local próprio das racks e os materiais

no armário.

Teoria/prática

Tecnicidade dos

exercícios

Treino e

repetição

Ambiente da

formação

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172

Antes da pausa para almoço, o formador desabafa comigo que neste módulo

do Fundamental Skills é muito difícil fazer uma boa gestão de tempo, porque

basta aparecer alguém com mais dificuldades ou que converse mais, para já

não se conseguir cumprir um plano. No entanto, diz que “o grupo está com

bom tempo”.

Cerca das 11H45 faz-se uma pausa para almoço, de cerca de uma hora.

No regresso do almoço, o formador informa que nesta fase da formação já

terminámos as operações básicas e iremos passar às operações elementares,

com peças e subconjuntos mais próximos da realidade e do dia-a-dia do

trabalho na fábrica. Esses subconjuntos de peças apresentam defeitos, que já

não são a um nível básico, e que podem causar muitos problemas na

construção dos carros.

O formador pega num dos tabuleiros de trabalho e coloca-o numa das

estações de treino, explicando de seguida a atividade: trata-se de analisar um

conjunto de peças de vários tipos e formatos, que irão encaixar nas galgas que

têm os tabuleiros de trabalho, para identificar as que estão OK ou NOK (não

ok). Isto vai ser feito para um conjunto de 3 peças diferentes. Formador vai

avisando que estas são as peças que geram geralmente mais polémica, mas

diz: “Não faz mal, a gente quer é polémica desta, ou não se aprende nada.”

O primeiro exercício de inspeção sobre estes três conjuntos de peças é

aparentemente simples, mas a deteção de defeitos revela-se mais complicada

do que poderia parecer inicialmente: muitos dos defeitos só pode ser

detetado por comparação entre peças, demonstrando o quanto pode ser

importante o conhecimento que se tem dos materiais com que se está a

trabalhar.

O exercício de teste é a inspeção sobre uma peça mais complexa que as

anteriores, com mais subconjuntos implicados, e com defeitos muito mais

difíceis de detetar. Formador chama a atenção que este é o tipo de defeitos

que acontece nas linhas, que causam prejuízos elevados; um simples parafuso

Adequação do

ritmo da

formação aos

grupos

Operações

básicas e

elementares

Ideia de que a

polémica é

positiva

Defeitos de

qualidade

Treino/testage

m

Page 173: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

173

pode implicar horas de retrabalhos. Desta vez, o teste é feito apenas com

ajuda visual e táctil, sem recorrer a nenhum equipamento específico.

Esta parte da formação é agora orientada, para além do formador, por um

portefólio, cujo texto, imagens e sequências orientam os exercícios que se

irão fazer. No entanto, as indicações são sempre dadas primeiro pelo

formador. Existe um portefólio por cada bancada de trabalho, a linguagem é

simples e as imagens elucidativas. No entanto, com as indicações dadas pelo

formador, poucas vezes os portefólios são usados.

De seguida, trata-se de um conjunto de exercícios de aplicação de sealer

sobre peças reais, em chapa, em áreas que são cobertas por tiras de fita

adesiva de papel para não estragar as peças, para que estas possam ser

reutilizadas. As peças têm rebordos e inclinações, pelo que se torna mais

difícil fazer a aplicação de sealer.

A última atividade do dia implica desmontar um conjunto de peças e voltar a

montar, para que fiquem montadas de forma exatamente igual e com as

mesmas funcionalidades. Este conjunto é complexo: implica desaparafusar

numa sequência obrigatória, bem como voltar a montar nessa sequência. São

usadas várias ferramentas, que fomos buscar ao armário, praticamente todas

as que até aqui já tinham sido experimentadas, assim como todas as técnicas

envolvidas.

Na montagem deste conjunto, vários problemas surgiram: o alinhamento das

peças tem especificidades, não é tarefa simples. Esta atividade despoleta uma

maior entreajuda entre os colegas de formação, de forma a conseguirmos

voltar a montar a peça do mesmo modo. O formador observou, não interferiu

muito, deixou que os formandos fossem descobrindo e que fossem trocando

opiniões sobre a montagem. Muito interessante, mesmo para quem não tem

experiência na área; para quem já tinha experiência, foi comentando que “às

vezes, na área, é mesmo assim: temos de desmontar e montar até ficar bem.”

Cerca das 15H10 terminou a formação do dia, e repete-se o procedimento de

preenchimento da “caderneta do formando”, assim como da troca de

opiniões sobre as atividades e discussão sobre algumas questões que foram

Portefólio

orientador

Pouca utilização

do Portefólio

Treino

Entreajuda no

grupo

Comparação

entre as

atividades da

formação e os

postos de

trabalho

Page 174: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

174

surgindo. A questão mais assinalada foi o gosto em descobrirem sozinhos a

forma como a peça final teria de ser montada e o espírito de entreajuda, que

se tem notado cada vez mais.

Mais uma vez, é referido que o facto de estarem a treinar operações que

aparecem no dia-a-dia é proveitoso, mesmo que já as saibam fazer, porque

há técnicas que se vão esquecendo e rotinas instaladas que é bom rever,

melhorar e estar mais de acordo com o que a empresa pretende.

Este diálogo final, a troca de opiniões e experiências, parece ser a rotina de

final de dia em todas as formações que são mais prolongadas (2 dias ou mais).

Os formadores preferem deixar um exercício a meio para cumprir esta fase

do dia de formação.

Cerca das 15H25 deu-se por terminada a formação do dia.

Treino de

operações do

dia-a-dia

Balanço final do

dia de formação

Observações:

Nota apenas para o elevado nível de tecnicidade dos exercícios, persistência na sequência entre

treino e testagem, embora o formador substitua muitas das indicações do programa de

computador e do Portefólio pelas suas próprias indicações ou pela entreajuda no grupo.

Page 175: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

175

Dados da realização das observações

Data: 02 de fevereiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências

Fundamentais de Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (4º de cinco dias)

Participantes: 1 formadores; 4 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

A formação hoje começa dentro da sala “das teóricas”, como alguns

formandos designam. Não passamos pelo aquecimento com bolas, sacos e

cordas. O tema da formação é idêntico ao que foi observado no dia 19 de

Janeiro, aquando da minha observação e participação no Fundamental Skills

da Montagem Final. Mais uma vez, os grupos de Montagem Final e do Body

estão juntos na sala.

Trata-se de rever as questões relacionadas com a “Responsabilidade do

Produto”. Esta matéria é interessante para os formandos, que participam

ativamente na exposição, contribuindo com exemplos dos perigos de

“carimbar às escuras”, de se responsabilizarem pelas suas ações e, por vezes,

pelas dos colegas.

Não reproduzirei aqui os assuntos referidos, porque os exemplos dados pelo

formador foram os mesmos que na sessão da Montagem Final e nas sessões

de Fundamental Skills em que observei e não participei. Este grupo é mais

participativo do que o de 16 a 20 de Janeiro, no que toca a exemplos práticos

a partir de conceitos mais teóricos.

Nestas trocas de ideias, como noutras situações, o meu estatuto junto deles

não é o mesmo que teria se fosse colega de linha, nomeadamente porque não

tenho exemplos de trabalho para dar que vão ao encontro do que estão a

treinar. Mantenho-me, no entanto, sempre atenta ao que vão dizendo e

percebo que a minha presença não os inibe de falarem, mesmo sobre as

questões mais polémicas da linha.

Formação

teórica

Responsabilidad

e do Produto

Semelhança

com FSkills da

Montagem Final

Participação e

adesão do

grupo aos temas

Reação do

grupo à

investigadora

Page 176: ANEXO 1 - DIÁRIO DE CAMPO...trabalho de campo, pedido que foi aceite com a afirmação: “Estás totalmente à vontade”. Um desses cartazes diz respeito aos objetivos e à missão

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Cerca das 8H30 é feito um intervalo, de cerca de 15 minutos.

Cerca das 8H55, regressamos do intervalo diretamente para a zona da

formação prática. Começamos por assinar as folhas de presença dos dias

anteriores e passamos ao exercício seguinte. Trata-se de alinhar uma porta,

apenas desapertando e apertando 3 parafusos. Isto reproduz uma das

operações que é feita na linha, das que exige mais sensibilidade e não só

técnica.

No caso da porta que me calhou, o alinhamento é extremamente complicado:

um dos pilares parece estar mesmo danificado. Depois de uma série de

apertos e desapertos, o formador chama outro formador para tentar

perceber como é que se pode alinhar aquele conjunto de peças. Formador

comenta que o problema é que a balança está danificada.

A atividade que se segue implica inspeção geral de uma parte de uma

carroçaria – o tamanho e a complexidade das peças e conjunto de peças a

analisar tem vindo a crescer. Agora, em pares, cada equipa inspeciona metade

da carroçaria traseira de uma carrinha. O metal está em cru.

A inspeção divide-se em: gap, flush e alinhamentos; inspeção visual e manual

exterior de mossas e outras imperfeições; inspeção visual e manual interior,

de pontos de soldadura, cordões de soldadura e de sealer. Temos uma grelha

com coordenadas para ir assinalando os defeitos encontrados. O trabalho a

pares corre bastante bem, com muito espírito de equipa.

A meio da atividade é feito um intervalo de 10 minutos. Durante a primeira

parte da atividade o formador ausentou-se; as equipas colaboram entre si, e

há mesmo operações que só podem ser efetuadas e defeitos que só são

detetados se as equipas cruzarem opiniões e ações. No regresso do intervalo,

o formador observa o que já foi detetado e informa que há mais defeitos por

encontrar. De seguida, ausenta-se novamente e as equipas retomam o

trabalho, agora já totalmente em conjunto, em grupo de 4 e não em pares.

Cerca das 11H20 o formador verifica os defeitos detetados. Pelo meio vai

fazendo algumas piadas e em algumas situações trata-nos por “meus

Novo exercício

de treino

Complexidade

crescente das

tarefas

Tecnicidade da

formação

Entreajuda no

grupo

Autonomia do

grupo

Postura do

formador

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meninos”, como quem ralha, mas ninguém leva a mal. O tom de brincadeira

é inequívoco.

Depois desta verificação, passamos à atividade seguinte: agora, a partir da

ação de demonstrar e montar um front fender (painel que fica entre a roda e

a porta dianteira), o grupo terá de construir também uma folha de trabalho

standard, ou SAB (iniciais do alemão, como se disse numa observação

anterior, e que é a designação mais usada na fábrica).

É utilizada uma carroçaria praticamente completa para o efeito, é colocada

uma pequena bancada construída num carrinho-rack (construído pelos

formadores do CTP, como, aliás, todos os materiais didáticos e de apoio à

formação) mesmo junto à carroçaria.

Formador explica toda a atividade, exemplificando que tipo de frases (curta e

simples) devem ser usadas na SAB, os seus objetivos e importância. Os

formandos vão observando e ouvindo com atenção, questionando alguns

campos da SAB. Formador resume, dizendo que, no fundo, esta folha deve

descrever: “O quê”, “Como”, “Porquê”, e ter imagens elucidativas e tempos

de execução de cada parte da operação.

Fornece as ferramentas necessárias, pergunta se há dúvidas e informa que a

atividade terá de terminar cerca das 14H30, uma vez que a formação

terminará hoje mais cedo por haver uma reunião dos formadores do CTP. De

seguida, afasta-se e diz que se tiverem dúvidas deverão chamá-lo. Vai arrumar

material e verificar ferramentas.

Como sucedeu na outra formação de Fundamental Skills em que participei,

eu colaboro ao nível do preenchimento da SAB, a pedido dos formandos, que

como me viram a tirar notas durante e a semana consideram que “estarei em

melhores condições para o fazer”.

A tarefa revela-se muito mais exigente do que se pensava, porque não se trata

de dominar técnicas, por um lado, nem de conseguir uma linguagem objetiva:

trata-se de saber descrever a realidade das ações que são feitas, numa

determinada sequência de montagem e alinhamento, que é, ela própria, um

SAB

Materiais da

formação

Linguagem da

SAB

Postura do

formador

SAB

Exigência da

explicitação da

SAB

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desfio para os formandos. Ou seja, tudo é feito com a colaboração de todos;

questiono muitas vezes os colegas sobre o que fizeram e como fizeram; torna-

se complicado para eles descreverem as ações que repetem quase

instintivamente. Por outro lado, às vezes até agradecem que eu pergunte,

porque de outra forma iam-se esquecer do que acabaram de fazer.

Cerca das 11H45 fez-se paragem para almoço, de cerca de 45 minutos, e no

regresso retoma-se a atividade, com a mesma participação ativa de todos. O

formador volta a procurar-nos, assinala uma ou outra questão, mas de

seguida ausenta-se novamente. Segundo verbaliza: “Não posso aqui estar

senão estou sempre a meter o bedelho.”

A tarefa demora cerca de 1H30, após o que chamamos o formador, que revê

os passos descritos tentando reproduzir as operações através da SAB feita.

Vai deparando com algumas situações que é preciso melhorar. Esta fase gera

muita discussão entre formandos e formador, ora por questões de linguagem

ora pela necessária exatidão dos passos descritos. É uma discussão animada

e produtiva.

Começa-se a passar “a limpo” a SAB, para que fique arquivada no dossiê

técnico-pedagógico, mas esta tarefa é interrompida pela necessidade de

terminar a formação mais cedo. Como se registou anteriormente, o CTP tem

uma reunião com a coordenação da Área de Produção. Assim, às 14H45 a

formação é interrompida.

Dificuldade da

explicitação dos

saberes

individuais

Postura do

formador

Relação entre a

Produção e o

CTP

Observações:

A questão da dificuldade de explicitação dos saberes dos trabalhadores, de modo a construir a

SAB, parece-me a mais pertinente neste dia de formação. A linguagem tem de ser simples e a

SAB segmenta as operações complexas em fragmentos da ação que é feita, o que dificulta

bastante. Por outro lado, essa explicitação tem como objetivo orientar outros operadores; ou

seja, disseminar o conhecimento interno, mas com a orientação do formador, que vai

encaminhando para as aprendizagens feitas, nomeadamente no que diz respeito à inclusão dos

métodos do sistema de produção.

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Dados da realização das observações

Data: 03 de fevereiro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação participante do módulo Fundamental Skills – Body (Competências

Fundamentais de Carroçarias)

Duração: 7H (de 40H) (5º de cinco dias)

Participantes: 1 formadores; 4 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

O grupo reuniu-se diretamente na zona de treino prático do CTP, para

terminar a SAB do dia anterior. O formador faz as últimas correções e levanta

mais algumas questões, pacíficas, e termina-se a tarefa do dia anterior. De

seguida, teremos de aguardar que o grupo de Fundamental Skills da

Montagem Final regresse da atividade da manhã, que é ir à linha de produção

observar e gravar/fotografar uma estação para depois escrever a SAB. Isto

porque, tal como já tinha sucedido quando fiz a observação não participante

deste módulo, o CTP só tem 1 máquina de filmar. Isto significou cerca de 45

minutos de espera para que este grupo de Fundamental Skills do Body

pudesse também ele realizar o mesmo tipo de atividade.

Enquanto se espera, os formandos conversam sobre temas variados: o frio

(trata-se de uma das semanas mais frias desde que o inverno começou); o que

vão fazer no fim de semana; experiências da tropa (a propósito do frio). O

ambiente, conforme se tem feito notar várias vezes, é descontraído, familiar

até.

Entre as 9H00 e as 10H15 fomos à linha observar um posto. A caminhada até

à zona chamada de “doors to body” é longa, pelo caminho vamos observando

outros postos, de passagem, referindo-se algumas questões que foram

faladas em formação.

Chegados à zona em causa, o formador vai pedindo opinião a um dos

formandos, que trabalha precisamente naquela zona da fábrica, sobre um

posto que seja interessante de observar, que não seja muito complicado nem

demasiado simples. Formador explica que se for demasiado simples não vai

SAB

Dificuldades na

gestão de

alguns materiais

da formação e

consequências

na organização

da formação

Ambiente da

formação

Observação de

posto de

trabalho

Confiança no

know-how dos

formandos

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representar desafio nenhum, e se for demasiado complicado, terá de ajudar

demasiado na elaboração da SAB. O objetivo é que o grupo seja o mais

autónomo possível.

Dois dos formandos tiram notas, outro simplesmente observa e a mim cabe-

me a tarefa de fotografar as etapas que aquela estação implica, os passos que

o operador dá, os materiais e ferramentas que utiliza.

A estação em causa coloca a porta esquerda, da frente, com recurso a uma

ferramenta altamente tecnológica designada jig. Durante cerca de 30 minutos

observamos, trocamos impressões sobre os passos que observamos,

decidimos que momentos e ações fotografar.

Neste caso, nem sempre é fácil fotografar, uma vez que o espaço de atuação

do operador está calculado apenas para que o próprio lá esteja. Não que seja

apertado, mas não está pensado para que haja mais pessoas naquele posto;

logo, a nossa movimentação tem de ser calculada de forma a não interromper

as operações e não causar danos nem obstrução de movimentos do operador,

que ainda assim consegue ser extremamente empático.

O operador vai explicando algumas das operações que vai fazendo, sobretudo

quando o formador o questiona. Explica a razão de ser de as fazer numa

determinada sequência, alguns pormenores de utilização da ferramenta

automatizada (jig), entre outros pormenores técnicos, de segurança e de

qualidade. Apenas o formador interage diretamente com o operador de linha,

para que se interfira o menos possível com as operações e tempos da estação,

mas o operador fala olhando diretamente para as várias pessoas do grupo.

Depois das observações concluídas, regressamos ao CTP. De caminho,

fazemos um pequeno intervalo de 10 minutos. O formador trata de imprimir

as fotos tiradas; eu tomo as notas necessárias para mais tarde compilar a

descrição da atividade. O formador pergunta: “então, isso está a ir bem? E

tens gostado?”. Respondo-lhe que sim, tem sido muito frutífero e

interessante. Agradeço o seu interesse.

Desafio como

motivador da

atividade

Divisão de

tarefas

Organização do

local de

trabalho

Colaboração dos

operadores de

linha com a

formação

Relação com a

investigadora

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De seguida sentamo-nos à volta da mesa de reunião do espaço dos

Fundamental Skills do Body. Com as fotos impressas em tamanho bastante

pequeno, explica que primeiro devemos descrever passo por passo as

operações da estação observada e, em função disso, selecionar as fotos que

achamos mais ilustrativas.

Como o formador também tomou notas, e inclusivamente questionou

diversas vezes o operador de linha, tem dados mais concretos que os que

foram fruto da simples observação. Lê as suas notas, formandos vão trocando

opiniões sobre um ou outro passo. Há uma operação que suscita especial

dúvida; formandos e formador chegam a deslocar-se à carroçaria que está no

CTP, para treino, para tirar uma dúvida relativamente às dobradiças e aos

parafusos usados. Formador diz que, quando não há consenso sobre o que

cada um observou e concluiu, tem de se ir novamente à linha, coisa que

acontece muitas vezes neste momento da formação.

Os formandos e o formador trabalham sobre as questões de igual para igual,

como se de uma tarefa de trabalho real se tratasse e fossem colegas de

estação; é o que me ocorre pensar. Todas as ideias são tidas em consideração,

em caso de dúvida, opta-se, quase sempre, por exemplificar na prática, com

gestos e movimentações que representam o que observaram. Vão, inclusive,

ao armário, procurar algumas das ferramentas que foram utilizadas na

estação observada, para confirmar opiniões divergentes. A atitude face à

formação é a atitude face ao trabalho: ativa, experimental e de tomada de

decisões conjuntas. Em determinada altura o formador salienta essa mesma

ideia: “a formação tem de reproduzir o melhor possível aquilo que se faz na

linha, senão não interessa grande coisa.”

Como está frio no pavilhão do CTP, porque o espaço da formação prática é

muito amplo e aberto, o formador sugere que se faça aquele trabalho numa

das salas de formação teórica; no dia de hoje, só os Fundamental Skills de

Montagem Final e de Body estão CTP, pelo que as salas teóricas (que são

duas) estão livres.

Dificuldade de

análise e

explicitação da

observação

Relação entre o

formador e os

formandos

(identidade

profissional)

Trabalho de

reflexão em

equipa

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182

Nos outros dias da semana, aquelas salas estão normalmente ocupadas por

grupos de Lean Games, que vão à sala teórica com mais frequência; nessas

situações, a segunda sala de formação é usada pelos 2 grupos de Fundamental

Skills para fazer esta atividade de construção da SAB.

A atividade de construção da SAB, manualmente e depois em computador,

ocupa o resto do dia; segundo o formador, conta que tudo fique terminado

às 15H10. O intervalo para almoço é feito, como de costume, entre as 11H45

e as 12H30.

……………………………………………………………….

No regresso do almoço, a tarefa continua com o mesmo empenho de todos.

Alguns confessam que não está a ser a parte favorita da formação, mas que

têm “pena de estar a acabar”.

Após o preenchimento e correção de pormenores da SAB pelo grupo e pelo

formador, passa-se à sua transposição para um documento excell. Se na

manual não fui eu a escrever, por insistência minha, no caso desta transcrição

foi eu a fazê-la, com apoio total dos formandos. Nenhum se ausentou e, direta

ou indiretamente, todos colaboraram.

Pelo meio da atividade, o formador veio com um 2º formador para nos tirar a

habitual fotografia de grupo e, coisa que não tinha reparado antes, questiona

cada um sobre “O que vão levar da formação para o posto de trabalho?”.

É curioso que esta é a 4ª vez que estou em contacto com um grupo de

Fundamental Skills e nunca me tinha apercebido deste pormenor e que essas

frases são apostas na folha de rosto do dossiê técnico-pedagógico, na mesma

folha em que irá aparecer a fotografia de grupo. Há sempre coisas que

escapam, sendo que é por isso também que é importante observar o mesmo

tipo de situação mais do que uma vez. No entanto, sinto que agora estarei a

chegar ao ponto em que pouco mais teria a retirar de futuras observações,

todas as situações já são demasiado familiares.

Neste caso, as frases do grupo em resposta à questão foram as seguintes:

SAB

Reação dos

formandos à

formação

SAB

Trabalho

colaborativo

Balanço final da

formação

Vantagens da

observação

participante

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Conhecer a SAB.

Melhoria da qualidade através dos detalhes.

Conhecimento de práticas standard.

Troca de experiências de várias áreas.

Aplicações de várias técnicas.

Segue-se o preenchimento individual da folha de avaliação da formação.

Depois disso, o formador pede a opinião sobre a forma como decorreu a

formação. Anotei as frases:

gostaram muito do trabalho em equipa;

o melhor foi a construção do espírito de ajuda entre todos;

pela duração, permite fazer mais coisas que outras mais curtas;

o material é adequado, permite fazer tudo o que fazem na linha.

O formador disponibiliza-se ainda para esclarecer sobre alguma questão que

algum deles necessite, tanto a mim, para o meu trabalho, como aos

formandos, sempre que se cruzarem ou se o procurarem no CTP. Cerca das

15H25 terminou a formação. Os formandos ainda ficam algum tempo no

espaço do CTP, em conversas com os colegas sobre a formação.

Reações do

grupo à

formação

Trabalho de

equipa como

mais-valia

Duração da

formação

Ambiente da

formação

Observações:

No intervalo para almoço, acrescento algumas descrições e reflexões pessoais sobre o que foi

sendo feito. Tenho repetido este procedimento com frequência como forma de tentar registar o

mais possível, antes que a memória apague alguns pormenores importantes. Nem sempre é fácil

distinguir entre as descrições e as reflexões, sobretudo no papel de participante.

A troca de opiniões sobre o que foi visto por diferentes pessoas sobre o mesmo processo é muito

interessante, rica, mesmo. Denota-se que há diferentes perspetivas sobre a mesma operação,

nomeadamente para quem conhece as operações em causa através da própria pática, como é o

caso de um dos formandos que trabalha na área da estação observada.

Daqui que seja motivo de tensão a implementação de standards rígidos, que pretendem que

todos trabalhem da mesma forma, que analisem segundo os mesmos padrões. Isto aponta para

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uma racionalização talvez excessiva do trabalho e para o facto de a formação ter um papel de

apoio a essa forma de trabalhar.

Relativamente às observações, creio ter chegado ao ponto em que não necessitarei de repetir as

observações dos módulos centrais do CTP. A informação recolhida é significativa, revela dados

substanciais (que já se corroboram entre observações) e permite cruzar perceções. Irei ainda

observar os módulos que têm menor expressão, como a Oficina Profissional e a Paixão pelo

Detalhe, mais para verificar semelhanças de orientação para a formação.

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Dados da Realização das observações

Data: 01 março de 2012

Horário: 13H00 às 15H00

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Anmutung (Paixão pelo Detalhe)

Duração: 2H

Participantes: 1 formadores; 10 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Esta formação decorre durante duas horas, dentro do horário laboral. Os

trabalhadores a frequentar o módulo são identificados quando se

apresentam no local de trabalho, apesar de já haver uma seleção prévia que

tem em conta quem ainda não fez esta formação. O formador explicou-me

que esta questão decorre do facto do módulo já existir há algum tempo na

empresa, pelo que a grande maioria dos trabalhadores já o realizou,

acrescentando que em breve o módulo, nos moldes em que é desenvolvido,

deixará de existir.

O coordenador referiu a possibilidade de haver um alargamento desta

formação de 2H para 2 dias, que significa incluir muitas alterações e abranger

mais conteúdos e atividades, porque a empresa está muito “centrada nas

questões da qualidade”; nomeadamente, deverá incluir a visita à linha, para

ver os detalhes, que são o cerne da formação, in loco. Esse trabalho de

reformulação está ainda a ser pensado e trabalhado, segundo as palavras do

coordenador. Diz que os formandos gostam sempre muito da formação mas

queixam-se de ser curta, de não permitir fazer trabalho prático nem colocar

muitas questões.

Assisti a uma formação que decorreu entre as 13 e as 15H, o grupo era de 10

pessoas, composto por 5 elementos da produção e 5 dos recursos humanos,

com um formador apenas. As apresentações foram muito rápidas, realizadas

de pé (toda a formação é feita de pé); a minha apresentação foi breve, feita

pelo próprio formador. Alguns formandos manifestaram já saber quem eu

era; dois deles já tinham estado em formações que observei.

Forma de

constituição do

grupo

Módulo prévio à

existência do

CTP

Possibilidade de

reconfiguração

do Módulo no

futuro

Constituição do

grupo

Espaço e

materiais da

formação

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186

O espaço foi especificamente criado para esta formação, dentro pavilhão do

CTP mas isolado dos outros espaços de formação com paredes de pladur. As

paredes têm muitos posters e placards colados, alusivos ao tema. O título dos

posters é sempre Anmutung – Prazer pelo detalhe e o subtítulo “Precisão,

carinho, perfeição, excelência”. Este é o lema da formação, que vai ser

explorado com exemplos concretos e objetos do dia-a-dia. O slogan que está

em muitos dos cartazes e em alguns vídeos que são passados é “A Excelência

constrói-se pelo detalhe”, relacionando diretamente as questões da

qualidade com a importância a dar aos detalhes. Os cartazes da parede

mostram como isso é importante em cada área, desde a produção aos

serviços indiretos, salientando a importância de se construir uma empatia

com o produto com que se lida, como contributo para o detalhe e qualidade

finais.

O espaço da formação está estruturado em “zig-zag”, ou seja, percorre-se

através de posters verticais ou de biombos, e o grupo vai circulando e parando

pelos espaços, de acordo com as diferentes atividades que o formador

propõe. Há um espaço que reproduz uma de sala de estar, para simular o

espaço em que um cliente poderá ter de aguardar numa compra de uma

viatura. Um outro espaço simula uma bancada de supermercado, com 3 ou 4

espécimes do mesmo produto e cerca de 10 produtos diferentes. A ideia é

explorar o que os formandos sentiriam num determinado espaço, olhando

aos detalhes e tentando consciencializar sobre o que é importante para cada

um, salientando os detalhes que marcam a diferença, que produtos

escolheriam e por que motivos, chamando a atenção para essas razões.

Detalhes como o estado do produto, o vasilhame, o preço, o aspeto visual, a

forma como está disposto, tudo isso é analisado.

É feito o visionamento de alguns filmes: um deles segue os pensamentos de

um trabalhador que se serve na cantina da empresa, explorando as razões

pelas quais faz as suas escolhas, desde o que usa para comer até ao que

escolhe para comer. Um outro vídeo mostra a perspetiva da empresa sobre a

importância nos detalhes, estabelecendo um paralelo com a produção de

Lema da

formação

Empatia com o

produto

Organização do

espaço

Reprodução de

cenários

quotidianos

Trabalhadores

colocados no

papel dos

consumidores

Visionamento

de filmes de

sensibilização

para a influência

dos detalhes

Vídeo

promocional da

empresa

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vidro, sua evolução até ao cristal e os cuidados a ter. Trata-se de um vídeo

promocional da empresa, dedicado a esta temática.

O final do corredor em zig-zag desemboca numa sala grande, onde estão

desde peças de cristal a posters de carros produzidos na empresa. A pedido

do formador, os formandos identificam nos cartazes aquilo que são os

detalhes importantes para cada um, como um cliente que procura um carro,

relativamente aos exteriores e aos interiores do veículo. Os cristais parecem

funcionar aqui como uma metáfora da perfeição, na medida em que estão até

expostos em vitrinas, conjuntamente com miniaturas de carros da marca e do

Grupo Automóvel.

O formador pede dois voluntários para realizar um exercício: com apoio em

dois cockpits de dois produtos da fábrica, que têm 8 anos de diferença de

produção, dois trabalhadores fingem que vão de viagem ao volante. Em

conjunto com os outros colegas, motivados pelo formador, todos vão

identificando os detalhes de cada um dos exemplares, nomeadamente as

evoluções nos pormenores.

Visualizam-se depois spots publicitários, alguns deles não estão traduzidos

para Português, mas cujos diálogos o formador vai explicando. A questão dos

detalhes a que as campanhas dão valor e realce são apontadas, mais pelo

formador que pelos formandos, que vão anuindo com a cabeça. O grupo não

é muito participativo, o formador fala mais do que os formandos. Talvez esta

questão esteja diretamente relacionada com a curta duração da formação e

o facto de nãos e poder demorar muito tempo com cada observação ou

exercício. No entanto, o formador é bastante expressivo, bem-disposto na

forma como fala, fala muito e um pouco depressa, embora inteligível.

Nesse ponto da formação, o formador faz uma breve consideração sobre

como são os diferentes povos da Europa que compram carros da empresa e

como é distinta a sua relação com os carros. Estabelece relações com os

detalhes que são importantes para cada tipo de cliente e o papel que as

opções dadas têm na relação entre o cliente e a marca.

Perfeição

Comparação

com a Marca

Evolução dos

acabamentos

Vídeos

promocionais

Caraterísticas

do grupo

Perfil do

formador

Empresa e sua

expressão

global

Relação com os

produtos

internos

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Por fim, há um espaço no fundo da sala onde estão várias portas de carro,

cada uma representando uma fase da sua construção: prensas, onde as peças

são moldadas e feitas; carroçarias, onde são soldadas umas às outras para

fazer as carroçarias dos carros; pintura, com as diferentes tintas e

componentes que lhe são aplicados; e montagem final, onde a porta é

montada com tudo o que precisa para ser funcional.

Formador vai explicando estas questões, chamando a atenção para detalhes

específicos e gerais que estão envolvidos em cada fase da produção. Por

exemplo, uma peça mal cortada nas prensas não se consegue montar, nas

carroçarias. Um grão de areia que entre no momento da peça ser cortada,

amolga a peça e estraga a ferramenta que a corta, o que significa que há

detalhes micro com proporções macro e vice-versa, a que cada trabalhador

deve ter atenção, numa lógica quer individual quer de coletivo.

A formação termina de forma rápida; formador agradece a presença de todos

e encerra a formação.

Focalização nos

detalhes

Observações:

Esta formação pareceu-me demasiado rápida para os conteúdos que aborda e até mesmo para

criar um dinamismo as atividades que o tema parece potenciar, se houvesse mais tempo.

Comentei esta questão com o coordenador que afirmou que “não podia estar mais de acordo”.

Diz que é por essa razão que pretendem alargá-la para dois dias, mas que o processo de conceção

dos referenciais e materiais ainda estava demorado.

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Dados da realização das observações

Data: 11 abril de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Profiraum (Oficina Profissional) Duração: 7H

Participantes: 1 formadores; 1 tutor; 2 formandos

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Nota prévia

Para que esta formação aconteça, os líderes de equipa têm de poder

dispensar trabalhadores da linha, seja para a realizarem, seja para fazerem

tutoria a quem a está a realizar. Apenas 2 ou 3 formandos a fazem numa

sessão, e nem todos os dias se realiza. Esta foi a segunda vez que me desloquei

à fábrica para tentar observar esta modalidade de formação, uma vez que, na

maioria das vezes, só no próprio dia o CTP sabe se vai ter ou não trabalhadores

para a fazer. Questionado sobre as formas de organização deste módulo, o

coordenador apenas esclareceu que a sua realização depende das

necessidades sentidas na linha - de mais pessoal ou de mudança de funções,

por exemplo - e à medida dos pedidos da direção da Produção. Quer isto dizer

que é a Produção que define em que áreas/setores da produção se justifica

esta formação; os referenciais vão sendo criados à medida dessas

contingências, não me tendo sido explicado se esse trabalho de conceção é

feito antes ou depois da identificação das necessidades da produção.

……………………………………………………………………………………

Cerca das 7H00 o formador designado para o Profiraum obteve a informação

vinda da linha em como terá formandos.

Cerca das 7.15 reúnem-se no espaço da fábrica destinado ao efeito. Trata-se

de uma zona específica para o efeito na própria fábrica e não no CTP, num

dos extremos da linha de produção da montagem final. Os carros passam,

inclusive, por cima das nossas cabeças em linhas suspensas que os

transportam de uma zona para outra.

Dificuldades da

organização e

observação

deste módulo

Dependência da

Produção

Criação de

referenciais à

medida

Espaço da

formação na

linha de

produção

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O espaço é de cerca de 50 m2, delimitado por placards informativos e de

trabalho (com grelhas para preenchimento), que funcionam como biombos

que delimitam o espaço destinado à formação. Existe um ruído de fundo

caraterístico do funcionamento da fábrica, mas que não impede a

comunicação. Apareceram dois trabalhadores para aprenderem estações

novas.

O espaço tem equipamentos específicos para a componente mais formal da

formação: um carro de treino; duas portas para simulação de estações da

Montagem Final – Doors; um banco de carro montado numa estrutura

construída para o efeito, para treino de torques (segundo o formador, de

tanto treinarem os torques no carro de treino, os parafusos e furações já não

estão em condições, dai a solução de colocar um banco de treino fora do

carro); algumas racks com materiais e ferramentas, organizadas na lógica dos

5S.

Segundo o que me é explicado, todo este equipamento é utilizado apenas na

versão estática do Profiraum, ou seja, quando a empresa encomenda a

formação específica de alguns postos de trabalho para alguns operadores, no

sentido de os preparar para a rotatividade de funções na linha. De outro

modo, a versão dinâmica do Profiraum não utiliza estes equipamentos,

porque os trabalhadores vão para os postos de trabalho que irão aprender

durante o dia. É o caso do Profiraum de hoje, pelo que o formador informa os

trabalhadores que terão de escolher uma estação que não conheçam para

aprenderem durante o dia.

Formador e formandos definem em conjunto as áreas e os postos de trabalho

para onde estes últimos se irão deslocar; formador distribui dois tipos de

identificadores, um para os que estão em formação e outro para entregarem

ao colega que o team leader designar como tutor. Só quando chegarem à

estação definida para treino é que o team leader respetivo designará o tutor

on the job para esse dia, que pode ser ele próprio ou não. O formador regista

num quadro de grandes dimensões (um dos placards já referidos)

informações recolhidas dos formandos: nome, posto de origem, posto de

Materiais e

equipamentos

Diferentes

versões do

Módulo

Organização

conjunta do

modo de

desenvolver a

formação

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treino, data do Profiraum. Desse modo, qualquer pessoa que por ali passe fica

a saber onde pode encontrar os trabalhadores em formação on the job.

O ambiente é informal, o formador apenas salienta algumas questões

logísticas e técnicas sobre o que devem ter em consideração quando estão a

aprender um novo posto. De pé junto a um dos placards informativos, o

formador relembra algumas questões básicas, como terem de saber que

estação vão aprender, que ferramentas têm de saber usar e os materiais de

montagem, a que sequência da produção essa estação corresponde, entre

outros dados da linha de produção. Alguns dos conceitos que estão na base

destes cerca de 15 minutos de informação são os 5S, a utilização das folhas

de trabalho standard (SAB), os conceitos específicos do processo de produção

e objetivos da formação em causa.

O principal objetivo da formação, salientado pelo formador e registado num

dos placards informativos, é a “extensão sistemática de competências para as

áreas da produção”, a flexibilização de competências profissionais para

promover a rotatividade de postos, seja por razões levantadas pelos

operadores de linha, seja por questões de saúde ou ergonomia, seja pelas

exigências do próprio sistema de produção, do ciclo de encomendas e de

produção da fábrica.

Depois destas curtas informações, os trabalhadores dirigem-se sozinhos para

as estações previamente definidas, após terem definido como hora de

retorno ao espaço do Profiraum as 15H15, para balanço e feedback do dia de

formação. Não há qualquer interferência deste formador no modo como os

postos de trabalho vão ser ensinados aos trabalhadores em formação.

O formador troca algumas impressões comigo sobre a forma como esta

formação se desenrola. Salienta que a maior dificuldade é que a linha liberte

os trabalhadores, quer para fazerem quer para tutorarem o Profiraum. Referi

o risco destes trabalhadores em formação assumirem uma espécie de

substituição de operador por um dia, libertando o colega-tutor das suas

funções, mas o formador informou que, ao longo do dia, passa pelos postos

para ver como está a decorrer o treino.

Ambiente da

formação

Conceitos de

produção

Objetivo do

Módulo:

extensão

sistemática das

competências

Flexibilização e

suas motivações

(Produção,

saúde)

Dificuldades de

disponibilização

dos

trabalhadores

da linha para a

formação

No posto de

trabalho: treino

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192

Por outro lado, quando as tarefas são mais simples, o trabalhador em

formação pode aprender vários postos de trabalho em vez de um só.

Salientou ainda o facto de agora os trabalhadores já se começarem a habituar

a esta formação e que é uma questão de mentalidade, que vai mudando

lentamente. Mas garantiu que nunca teve queixas de que os operadores-

tutores se “encostem” ao trabalho que está a ser aprendido pelos colegas em

formação.

De seguida, o formador passa por diversos espaços da fábrica, aproveitando

o tempo e o percurso de volta para o CTP para rever alguns placards de

auditorias de 5S, pela qual é responsável. Esta prática, que ele coordena,

desenvolve-se na fábrica há algum tempo, e implica responsabilizar as

equipas de trabalho pela organização, limpeza e tudo o que os 5S definem

para a otimização do posto de trabalho. Ciclicamente, ele passa pelas

estações de trabalho e confirma se um determinado nível dos 5S está a ser

conseguido ou não, assinala em folha própria, visível num placard perto dessa

estação de trabalho, e define com o team leader o prosseguimento da

metodologia para o nível seguinte dos 5S.

O formador refere que a intenção deste método é consciencializar, de forma

direta e objetiva, as equipas para a importância das metodologias de trabalho,

nomeadamente os 5S, referindo-se aos resultados (custos vs qualidade) da

sua implementação noutras empresas, bem como responsabilizar as equipas

pela implementação da técnica de organização dos postos de trabalho.

Passámos depois pelos dois postos designados para o Profiraum, confirmando

que o team leader de ambas as estações em aprendizagem tinha designado

um tutor; num dos casos era o próprio team leader. Em ambos os casos, os

operadores (tutores e em formação) não se conheciam. O trabalhador em

formação, num dos casos, estava já com as ferramentas de trabalho a

executar algumas operações guiado pelo colega tutor; no outro caso, o team

leader explicava os passos da operação a realizar. O formador do CTP não

interveio, apenas cumprimentou toda a gente, trocou algumas palavras (que

Aprendizagem

de vários postos

no mesmo dia

Mudança de

mentalidades

face à formação

Formador

coordenador da

implementação

dos 5S

Aplicação em

face dos

resultados

alcançados

Custos/qualidad

e

Funções do

tutor

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não consegui perceber) com os tutores e ficou a observar durante alguns

minutos.

Já conheço bem este formador do CTP: dinamizou duas das sessões de

formação a que assisti e foi um dos formadores que entrevistei. É um dos que

há mais tempo está no CTP e que mais responsabilidades assume,

nomeadamente a do controlo da implementação dos 5S na fábrica. Esta

metodologia revela a íntima relação que existe entre o CTP e a gestão da área

da produção.

De regresso ao CTP, combinei com o formador regressar por duas vezes aos

postos de trabalho em que os trabalhadores estão a realizar o Profiraum: às

11H e às 14H.

Nas visitas à linha, pude confirmar aquilo que o formador me tinha dito antes:

num dos casos, o trabalhador já estava a aprender uma segunda operação da

linha, com um segundo tutor. O formador conversou por alguns minutos com

ambos e de seguida comentou comigo “Está tudo a correr bem”. No outro

caso, o trabalhador em formação continuava na mesma estação, mas estava

já a aprender outro posto de trabalho, orientado pelo mesmo tutor.

Na sequência destas visitas, questionei o formador sobre as formas de avaliar

esta estratégia de formação. Foi-me explicado que não fazem nenhuma

avaliação formal, mas que os tutores registam a formação. O CTP fica com a

informação e quem já teve formação em que posto de trabalho e, em caso de

necessidade, isso pode ajudar a reposicionar um trabalhador. Comenta ainda

que o Profiraum não acontece tantas vezes como seria desejável, mas que

isso tem tendência a mudar, até porque os team leaders têm verificado que

essa é uma “boa forma de aprender” e têm ficado mais abertos à

metodologia.

Às 15H15 é a hora do balanço final da formação. Os trabalhadores-formandos

reúnem-se com o formador do CTP no espaço do Profiraum, na fábrica. O

balanço feito é positivo: os trabalhadores sentem que, dessa forma,

aprenderam “a prática na prática”, e que se sentem aptos a desempenhar

essas funções. Não referem “abusos” por parte dos colegas que os tutoraram,

Relação entre a

Produção e o

CTP

Regresso aos

postos de

trabalho/treino

para observação

Avaliação da

formação

Avaliação

informal

Grau de adesão

ao Módulo

Dependência

dos team

leaders

Balanço final da

formação

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antes pelo contrário, assinalam a boa vontade com que a tutoria foi feita e

expressam a opinião que “esta é a melhor forma de aprenderem novos postos

de trabalho”.

Cerca das 15H25 o formador deu por encerrado o dia de formação. Perguntei

se via algum impedimento para que pudesse ver mais uma formação destas,

uma vez que se desenrolava no espaço da linha e não queria ser vista como

intrusa. Sobre essa questão, o formador afirmou que estaria sempre

disponível para me acompanhar, dizendo que já ninguém me “estranha” pela

fábrica.

Falei um pouco mais sobre isso com o formador, assim como sobre o caráter

prático da formação do Profiraum. O formador confirmou que é a modalidade

em que há menos componente teórica, sendo quase totalmente uma

formação em ação. Referiu ainda que, para a aprendizagem sobre os

conceitos e as questões mais teóricas do sistema de produção, os

trabalhadores já passam pelos outros módulos do CTP, que apesar de serem

práticos têm sempre momentos mais teóricos, para ajudar a implementar

novos conceitos. Estas observações corroboram algumas das minhas

impressões sobre as formações que observei no CTP.

Reação da

empresa à

investigadora

Predomínio da

componente

prática

Implementação

de conceitos

Observações:

A intenção de voltar a observar este módulo prende-se sobretudo com a importância de

corroborar algumas impressões. Nomeadamente, verificar que diferenças existem em cada

sessão do módulo, uma vez que o formador referiu que o Profiraum vai sendo realizado à medida

das necessidades, que parecem estar dependentes da decisão da área de Produção e não de uma

calendarização predefinida.

No entanto, o teor da formação afasta-se nos restantes módulos, segue uma lógica de treino no

posto de trabalho, pelo que não integra o design da investigação. Seria praticamente impossível

acompanhar diretamente as atividade de formação realizadas no posto, saindo fora do âmbito

do protocolo, e levantava questões de restrição de observações que seriam de difícil resolução.

Seria, talvez, uma outra investigação, com outro enquadramento.

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Dados da realização das observações

Data: 30 outubro de 2012

Horário: 7H00 às 15H30

Local: Centro de Treino da Produção

Atividade: Observação não participante do módulo Profiraum (Oficina Profissional) Duração: 7H

Participantes: 1 formadores; 1 formando

Registo de Observações Ideias-Chave/

Temáticas

Nota prévia

Tem sido muito difícil agendar uma segunda observação desta formação, tal

como foi complicado conseguir fazer a primeira (dia 11 de abril) porque só no

próprio dia é que o CTP sabe se vai ter pessoas para a realizar. Por esse

motivo, e porque pretendia seguir a metodologia de observações dos

restantes módulos e observar também duas sessões do Profiraum, combinei

com o coordenador para me informar no dia em que soubesse que ia decorrer

esta formação. Assim, cerca das 7H15 o coordenador contactou-me e cerca

de 30 minutos depois consegui estar na empresa para fazer a observação.

……………………………………………………………………………………

Quando cheguei, estava apenas um trabalhador-formando numa sala do CTP

com um formador. O formador apresentou-me ao formando e explicou-me

que esperava dois formandos mas que a produção não dispensou o segundo

elemento. Referiu-se às questões da dificuldade em articular a gestão da

produção com a formação. Pôs-me a par do que já tinham abordado: os

conceitos do sistema de produção do Grupo e que este Profiraum era

dedicado aos postos de trabalho relacionados com as cablagens (ligações

elétricas).

Estavam a comentar uma série de diapositivos projetados no quadro branco

da sala, um ao lado do outro, numa atitude bastante informal. E assim

prosseguiram, passando pelos 5S, os tipos de desperdício, os standards. O

formando é bastante interventivo, conversando naturalmente sobre o que vai

sendo projetado, dando exemplos que conhece da prática da linha. Parece já

ter alguma experiência na área.

Dificuldade de

planeamento na

observação

Contingências

da produção

afetam

organização da

produção

Espaço da

formação

Especificidade

desta sessão do

módulo

Componente

teórica centrada

nos conceitos

lean da

produção

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À semelhança dos diapositivos usados noutras formações, estes são de

natureza ilustrativa, com imagens e pouco texto. O formador vai relacionando

as questões da qualidade com os custos e a segurança no trabalho,

nomeadamente para a saúde dos trabalhadores, mencionando algumas das

práticas mais comuns na fábrica e a forma como poderiam ser feitas com mais

eficácia.

O formando vai concordando com algumas observações e discordando de

outras, afirmando: “Não é fácil fazer isso dessa forma”, “Não deve haver duas

pessoas da linha que façam isso da mesma maneira”, “ Não é fácil pelo tempo

de demora numa estação”. Ou seja, contrapõe com as suas práticas e com

algumas realidades, vai dando outros pontos de vista sobre as mesmas

questões, com algumas das quais o formador também vai concordando. O

formador nunca deixa “cair” um comentário do formando, aproveitando

sempre o que este diz para avançar.

No final da conversa sobre os seis ou sete diapositivos projetados, o formador

resume aquilo que vai ser o resto do dia, salientando que é mais um dia de

sensibilização do que formação ativa, propriamente dita. Observo como este

início de Profiraum é diferente daquele que tinha observado antes.

O formador encerra o momento de formação em sala com um pequeno vídeo

sobre as consequências de trabalhos realizados com defeitos em cablagens.

No final o formando afirma “ Nós devíamos ver todas as estações da cablagem

para ter a noção do que se faz em todo o processo, isso evitava muita coisa.”

De seguida, cerca das 10H30, saímos para a zona da fábrica para observar

diversas estações e para que o formando possa propor alguns standards que

ajudem a melhorar os processos envolvidos. Na zona das cablagens,

observam e comentam as práticas de alguns postos e estações em que há

maior quantidade de fios para colocar, pelo que há maior probabilidade de

haver problemas, como cortes em fios ou passagens mal feitas. Durante

algum tempo, o formando fica com um dos elementos das equipas

observadas (fazendo o papel de tutor, embora durante muito menos tempo

do que na primeira observação que fiz deste módulo; não há intervenção

Semelhança

entre a

exposição e o

observado no

momento

expositivo de

outros módulos

Resistência aos

standards no

trabalho

Postura do

formador

Formação de

sensibilização

(diferente do

outro Profiraum

que observei)

Visionamento

de vídeo

ilustrativo do

tema da

formação

Standards

Discussão sobre

as práticas de

trabalho

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direta no processo de trabalho); isto acontece por 2 vezes, em duas estações

diferentes.

Depois de uma pausa na visita às estações, o formador faculta documentação,

a saber:

• protocolo de roteamento da cablagem de uma zona em que verificaram

mais problemas;

• estudo sobre as fichas mais danificadas, com base nas zonas do carro com

maior incidência de problemas em cablagens;

• número de reparações da semana anterior, com gráfico de incidências

superiores a 2 e um outro gráfico relativo aos números de 2012;

• um exemplar de matriz de seguimento de problemas que surgem na linha.

O formador explica que estes documentos existem não só para identificar e

estudar os problemas, mas também para os partilhar com os operadores.

Dessa forma, procura criar-se uma maior sensibilização. Explica ainda que

estes momentos formativos são importantes para fazer um levantamento de

problemas, que o CTP procura passar ao Pilot Plant. Essa é a área da empresa

que faz o estudo sobre as possibilidades de melhoria nos processos. Formador

refere que as propostas de melhoria por vezes se arrastam muito tempo até

serem implementadas, porque implicam procedimentos, orçamentos e

custos.

Vai lendo os processos já elencados como sendo a melhorar nos documentos

que deu ao formando, comenta que departamentos são responsáveis por

cada alteração. Formando vai comentando e refere que já houve testes sobre

alguns dos problemas mencionados, no fundo confirmando que as questões

“não ficam só no papel”.

Antes de almoço, o formador ainda troca mais algumas ideias com o

formando, pedindo-lhe que dissemine a informação, uma vez que são poucos

os operadores a fazer esta ação de sensibilização. Formando responde que

“Primeiro é preciso cativar o team leader.” Riem-se ambos e concordam que

Análise de

documentos de

trabalho sobre

cablagens

Melhoria

contínua

Influência do

team leader na

mudança das

práticas

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esse, por vezes, é o primeiro obstáculo a transpor nas melhorias que

pretendem.

……………………………………………………………………………………

Cerca das 12H30 regressamos os três ao espaço do CTP e encaminhamo-nos

para o espaço do Profiraum da fábrica, onde tinha estado na anterior

observação. Depois de mais uma referência aos pontos críticos da cablagem,

fazem (tanto o formando como o formador, talvez para que aquele não se

sinta tão observado; não coloquei essa questão) alguns exercícios práticos nos

equipamentos de treino disponíveis neste espaço (ver descrição do Profiraum

1), durante cerca de 1H de exercícios. Enquanto o fazem, trocam ideias sobre

as melhores formas de executar algumas operações sem danificar os fios e as

ligações.

Depois destes exercícios, o formador segue comigo e com o formando para

algumas das estações que observámos de manhã, com o intuito de filmar e

analisar o processo. A partir das imagens deste vídeo, com a duração de cerca

de 3 minutos, e já no CTP, o formador e o formando anotam alguns dos pontos

críticos num quadro flipchart, com algumas sugestões de melhoria. Uma vez

mais, a ideia que transmitem é a de dois colegas de trabalho à procura de

soluções para serem implementadas; aliás, o formador refere isso mesmo no

final do dia de formação, agradecendo a colaboração do colega.

Visita a postos

de trabalho de

cablagens, para

observação e

análise

Espaço do

Profiraum na

fábrica: treino

de operações de

cablagens

Objetivo de

sensibilização

para a melhoria

contínua

Relação de

identificação e

confiança

profissional

entre formador

e formando

Observações:

Este Profiraum não tem nenhuma semelhança com o outro a que assisti, que era totalmente

prático. Este centrou-se na observação, na análise de documentação, na reflexão do trabalhador

que foi moderada pelo formador e encaminhada para os conceitos de produção e as vantagens

da melhoria contínua.

Num momento de pausa, comentei isto com o formador que me disse que é uma outra estratégia

da empresa, que tem surtido algum efeito. No entanto, apenas 4 operadores, contando com o

formando de hoje, realizaram este Profiraum sobre cablagens. Esclarece-me que estas oficinas

profissionais são, no fundo, de metodologia livre, de acordo com as necessidades sentidas pela

Produção, incidindo em áreas em que mais problemas têm de ser resolvidos. Este esclarecimento

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foi bastante pertinente e terei de tê-lo em consideração na caraterização desta modalidade de

formação.

Ambas se integram numa lógica de formação no e para o exercício de trabalho (como a tradução

do alemão indicia, aliás: profiraum = espaço profissional) mas têm métodos muito distintos.

Enquanto no primeiro caso observado, o objetivo evidente era que os trabalhadores

aprendessem novos postos de trabalho, neste segundo caso tratou-se de uma espécie de

“reciclagem” sobre ligações elétricas, focada na importância da qualidade e da melhoria

contínua. Foi notório que o formador se preocupou em proporcionar uma visão de conjunto

relativamente a todas as estações e postos de trabalho relacionados com as cablagens, de

maneira a sensibilizar o trabalhador para os problemas que afetam a qualidade dessas ligações.

Depois de ter observados dois exemplos tão diferentes de metodologias sob a mesma

designação, comentei com o formador que provavelmente iria encontrar um tipo de formação

diferente a cada observação, impressão eu o formador corroborou. A primeira que observei foi

mais prática, mergulhada no posto de trabalho, um exemplo de training on the job; esta segunda,

promoveu a reflexão para a mudança partindo dos espaços e situações do trabalho mas sem o

contacto direto, apenas baseada na experiência prévia.

Considerando que se integra numa outra tipologia de formação e que ia exigir outra metodologia

de investigação, não irei observar novas sessões deste módulo.

Também no que diz respeito aos restantes módulos, considero ter já um manancial de dados

diversificado, por um lado, e que se repete, por outro, pelo que não deverei realizar mais

observações, como já tinha percecionado antes de realizar a observação desta modalidade de

formação.

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ANEXO 2 – ENTREVISTA AO COORDENADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO

Investigadora: Bom dia António1. Como já sabes, esta entrevista tem um carácter bastante

informal, a ideia é confirmar algumas coisas que … algumas perceções que eu tenho tido da

observação que tenho feito aqui na formação do CTP. Queria primeiro agradecer a tua

disponibilidade, queria explicitar que é, de facto, uma entrevista muito importante, na medida

em que vou confirmar algumas ideias e vou complementar outras, e portanto agradeço muito a

tua disponibilidade. Queria também assegurar-te que os dados que são aqui referidos são

confidenciais, são usados apenas no âmbito do estudo, não vão ser usados para mais nada e

inclusivamente o teu nome será mantido no anonimato. Queria começar por te perguntar uma

coisa muito simples, que é … basicamente, como é que vieste parar aqui ao CTP?

António: Então como é que eu vim parar ao CTP? (pausa) O CTP, como a gente já tem falado,

mas para ficar registado, começou a ser fundado nos finais de 2008, na altura só por um

manager, na altura pelo Amilcar Oliveira, começou a definir a estrutura, o que é que íamos fazer,

como é que íamos fazer. Ele trabalhou durante cerca de 3 meses sozinho, e depois ao fim desses

3 meses, portanto em dezembro, mais ou menos, dezembro de 2008, começou por convidar as

pessoas para a equipa que ele queria formar, para preencher as vagas da estrutura que tinha

criado. E o convite surgiu da parte dele, eu na altura trabalhava já noutro departamento, que

tem muito a ver … aliás, agora faz parte da mesma área, na altura não, agora já fazem parte da

mesma área, que eram os sistemas de produção, que ao fim e ao cabo é um departamento que

aborda toda a temática do sistema de produção, que depois nós tentamos também aqui

transmitir aos formandos. E foi nessa perspetiva que eu vim para cá, por já ter conhecimento da

produção, algum conhecimento de logística e também ter nos últimos anos o conhecimento do

1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.

Data de realização da entrevista: 29 de novembro de 2012

Duração: 44m 26seg

Local: Centro de Treino da Produção (CTP)

Entrevistado: Coordenador do CTP

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sistema de produção, que depois me convidaram para vir para aqui. E para cá vim, na altura

como … como especialista, ou seja, como formador e ao mesmo tempo developer de ações de

formação, entretanto depois o Amilcar Oliveira, ao final de um ano, mais ou menos, a

organização achou por bem, e a meu ver com alguma razão, que não era um departamento que

necessitasse de uma posição de manager, e decidiram que o Amilcar iria ocupar outra posição e

que, dentro da equipa, se iria arranjar uma pessoa para coordenar o departamento e agora cá

estou, desde essa altura, desde outubro … outubro/novembro de 2010, cá estou como

coordenador, tendo entrado como formador.

Investigadora: Hum, hum… Olha, e a tua experiência profissional aqui dentro até aqui chegares,

achas que teve alguma influência na escolha da tua pessoa?

António: Teve … teve, teve, teve, porque toda a estrutura do CTP, atualmente, e desde o início,

é formada por pessoas que começaram na produção, ou seja, são todas pessoas que …uns

numas áreas, outros, noutras, que têm muita experiência de produção e que conhecem a

produção de fio a pavio, como se costuma dizer. E daí que eu diga que tem influência, porque

eu passei, desde que entrei para a ATRP, passei mais ou menos 8 anos na produção, depois

estive 2 anos e meio no planeamento logístico, depois estive mais 2 anos e meio a 3 anos nos

sistemas de produção, e depois com essa experiência toda acumulada acharam que era pessoa

indicada para ocupar este lugar. Tal e qual como os meus colegas, nós quando viemos eramos

… 12, todos vieram da produção. Todos eles. E inclusive o Amilcar Oliveira também era uma

pessoa que tinha estado muito tempo na produção, e também foi a pessoa que veio lançar o

departamento.

Investigadora: Hum, hum… E o teu percurso académico? Ou seja, o teu percurso escolar, até

chegares ao CTP e às funções que exerces e depois daí até ao momento, achas que tem alguma

influência?

António: Antes, o percurso anterior, eu acho que não teve grande influência. Porque eu quando

vim para aqui, aliás, quando vim para aqui acho que era na altura que estava a acabar o RVCC …

Investigadora: Hum, hum…

António: Ou seja, não teve grande influência…

Investigadora: O RVCC do secundário?

António: O RVCC do secundário, exatamente. Portanto, não teve grande influência na escolha.

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Investigadora: Hum, hum…

António: Penso eu. Depois disso, o meu percurso, estou agora a tentar fazer a licenciatura, agora

já tem … agora já tem influência. Derivado à posição que ocupo, era necessário.

Investigadora: Hum, hum… Mas foi-te aconselhado, é isso?

António: Foi-me aconselhado. Foi-me aconselhado. E tive … dos vários … dos vários chefes que

já tive enquanto aqui neste departamento, um deles, uma das coisas que me aconselhou, se

bem que eu já tinha isso na ideia, quando acabei o RVCC, o próximo passo … (barulho de fundo

de carros em teste interrompe por uns segundos a conversa) pronto, isto não estava…

Investigadora: Não faz mal.

António: Já tinha planeado isso, eu, sozinho, e depois ainda tive mais um empurrãozinho, desse

chefe, na altura foi o Gilberto, o Dr. Gilberto, que deu o empurrãozinho final, mas já era, já era

minha começar a tirar a licenciatura.

Investigadora: E estás a fazer licenciatura em quê?

António: Tecnologia e Gestão Industrial, portanto é um curso noturno, no IPS, em Setúbal, e é

um curso que eu acho que … não só se adequa à minha posição aqui, mas …quase toda a ATRP

encaixa que nem uma luva.

Investigadora: É?

António: É, é um curso que tem, como o nome indica, gestão e depois tem as tecnologias, ou

seja, não é um curso de Engenharia pura, onde nós vamos aprender, ou ficar com mais

conhecimento ao nível das engenharias e daqueles pormenores da engenharia, não. Aborda,

vários temas, mas depois, por outro lado, dá-te os conhecimentos para gerir, gestão de equipas,

gestão de recursos humanos, gestão financeira, ou seja, é uma mistura que depois se adapta a

estas posições que nós temos aqui na ATRP, que são as posições de coordenação, de chefia, e

por aí a fora.

Investigadora: Ok. Então achas que também essa formação de nível superior te está a ajudar

nestas funções que agora desempenhas?

António: Sem dúvida …

Investigadora: Ou estas funções que desempenhas estão a ajudar-te lá…

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António: São as duas coisas. Eu posso dizer que é as duas coisas. Há muita coisa que eu faço

aqui no meu dia-a-dia que depois me ajuda nos meus estudos, e há muita coisa que eu oiço

durante os estudos e depois vou estudando e depois me ajuda aqui no dia-a-dia. Portanto, há

um mix, que é muito interessante, e que dá bons resultados.

Investigadora: Só mais uma coisa relativamente a esta questão da tua formação prévia e da tua

formação contínua, no desempenho das tuas funções. Das formações que tu tiveste, porque eu

sei que tiveste algumas formações específicas para exerceres estas funções, o que é que

destacarias como tendo sido as formações mais marcantes, ou que mais importantes foram para

desenvolveres estas funções?

António: Bem, em primeiro lugar toda a formação que têm, a formação técnica, no início, por

parte da produção. Mas depois, agora já mais próximo da transição, toda a formação …e pode-

se dizer que a formação também é a experiência e depois o desenvolvimento daquilo que nós

absorvemos na formação, tudo o que tem a ver com o sistema de produção.

Investigadora: E tiveste essa formação onde?

António: Parte dela aqui na ATRP e parte dela na Alemanha. Algumas semanas numa fábrica da

AD, e depois mais algumas nas fábricas da Marca, mas foi por aí que …foi por aí que começou

tudo com o sistema de produção. É claro que depois, quando foi o arranque do CTP, nós … e

também como tu sabes e como se vê, as formações aqui no CTP são todas um bocadinho

importadas da Alemanha e depois adaptadas à nossa realidade. É óbvio que depois a parte da

formação que eu tive de ter nessa altura foi toda nas fábricas alemãs, para ver como é que

funcionava, qual era … qual era a dinâmica das formações lá para adaptarmos para aqui. É óbvio

que essa é a parte mais importante da formação toda, que eu tive aqui enquanto empregado da

ATRP para a função eu desempenho agora, se formos falar na outra formação toda, é óbvio que

se calhar já não me lembro nem de 50%, mas tive muita formação. Principalmente logo na

entrada, formação cá em Portugal, formação no estrangeiro, depois, já depois da produção

arrancar …

Investigadora: Desculpa interromper, estás a falar da tua entrada para a ATRP…

António: Estou a falar da entrada para a ATRP, exatamente. No início sem termos sequer

produção a decorrer, nós tivemos … eu, no meu caso, tive à volta de ano e meio só de formação.

Investigadora: E estás aqui desde o início…

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António: Estou aqui desde o início. Desde … 17 de maio de 93. Há muito tempo. Já vai fazer 20

anos que aqui trabalho. Nós … eu tive ano e meio só de formação, só formação. Entre o

estrangeiro e aqui dentro na ATRP, no IEFP em Setúbal, no IPS, em Lisboa… Nós tínhamos

formação em todo o lado. Técnica e comportamental. Depois, já depois de termos a produção a

andar, e com a evolução que nós fomos tendo na nossa carreira, eu entrei como team leader,

ou seja como chefe de equipa para a produção, depois passado um ano fui … passei a supervisor,

ou seja, já não tinha só uma equipa para chefiar, já tinha várias equipas para chefiar, e depois a

partir daí … a organização achava por bem que nós devíamos ter mais formação

comportamental, por causa da liderança e por aí fora, e tive também depois, é óbvio que

espaçado no tempo, mas muita, muita formação comportamental. Tive também formação

técnica, fiz o REFA … eu não sei se conheces o REFA, é um curso que é dado pela … Academia

luso … não é Academia … Associação de Comércio Luso-Alemã.

Investigadora: Hum, hum…

António: Que é um curso que é … alemão, mas que foi adaptado para nós, e é um curso que tem

muito também a ver com a gestão e com a otimização, tudo o que são processos de trabalho e

por aí a fora. Aborda o MTM, aborda as cargas de trabalho, a gestão do dia a dia, e foi um curso

que nos foi dado aqui dentro, na altura nós tínhamos 4 horas por dia, era um bocadinho durinho,

porque entravamos às 7 da manhã e à uma da tarde tínhamos de ir para sala ter formação, até

às 5 e tal da tarde, e era um bocadinho durinho, ainda levou cerca de 9 meses, portanto sempre

nesse regime, mas foi um curso que nos deu, a mim e aos meus colegas, conhecimentos muito

úteis para depois utilizarmos no dia a dia na produção. Pronto, e depois há os cursos que a ATRP

vai desencadeando, seja a nível técnico, seja a nível comportamental, ao longo dos anos, que

são dados em parceria com a Academia de Formação, e que normalmente são cursos que

abrangem os vários níveis, ou seja, os cursos para operadores, os cursos para especialistas, para

coordenadores, depois para managers e quase todos os anos há um tipo de curso desses, nós

costumamos chamar os pacotes, que é o que está a acontecer agora, o que eles chamam a

gestão avançada com liderança e a gestão avançada sem liderança, ou seja, com liderança é para

coordenadores e managers, e sem liderança será para os especialistas, mas são cursos que

abordam todas as temáticas, a resolução de problemas, o trabalho em equipa, e nos vamos

tendo constantemente atualizações nestes temas.

Investigadora: Hum, hum… Ok. António, então vamos mergulhar um bocadinho agora no CTP e

falar um bocadinho mais sobre esta estrutura. Lançava-te assim uma pergunta muito genérica.

Qual é a importância que tu achas que esta estrutura tem na empresa?

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António: Eu acho que tem, tem, tem muita importância, ou seja, tem ajudado, nos últimos anos

a empresa, não só a suportar a formação técnica que é necessária, porque, a meu ver, é muito

uma formação do tipo que nós ministramos aqui no CTP do que ter formação técnica…ela pode

ser técnica e dada por fornecedores, ou por entidades externas, mas a formação dada aqui, no

âmbito do Sistema de Produção é sempre coordenada com os elementos da produção, eu acho

que consegue preparar as pessoas para aquilo que depois encontram no dia-a-dia na linha de

produção, sendo que o nosso grupo alvo não só os operadores de produção, mas

maioritariamente são eles que vêm aqui ter a formação.

Investigadora: Hum, hum, certo.

António: E nesse aspeto tem contribuído também um bocadinho para a evolução das pessoas

no seu posto de trabalho e na sua carreira… e vai-lhes dando alguns conhecimentos que

eles…alguns já trabalham há tanto tempo como eu, se calhar, cá dentro, não faziam a mínima

ideia que havia coisas que se passavam no dia-a-dia deles que eles poderiam fazer um

bocadinho…de maneira diferente, tendo melhores resultados e principalmente, que é um ponto

forte que nós abordamos aqui, poupando-os a eles no aspeto ergonómico. Porquê? Porque as

pessoas habituam-se a fazer certa operação de tal maneira, e fazem-na durante anos, sem

sequer imaginarem que estão a causar problemas para eles. Eles fazem-na assim só porque lhes

dá mais jeito fazerem-na assim, e podem estar a criar graves problemas para a saúde, a nível

ergonómico, para eles. Quando vêm aqui têm uma perceção de que, se fizerem um bocadinho

diferente, não é preciso ser muito diferente, se mudarem ali qualquer coisa, podem atenuar os

efeitos prejudiciais que isso pode ter.

Investigadora: Dentro do plano de formação da empresa, há mais formação sem ser esta aqui

do CTP. Como é que tu distingues essas formações, ou como é que as articulas? Ou seja, dentro

do plano geral da formação da ATRP, para além desta formação, sabes, obviamente, que há

outras, como é que elas se distinguem e como é que elas se articulam?

António: Como é que elas se distinguem? Portanto, toda a formação aqui do CTP é da

responsabilidade da ATRP, minha enquanto coordenador do departamento e, é obvio, que os

Recursos Humanos têm aqui a sua responsabilidade também, mas é dada aqui. A que é externa

ao CTP, ou seja, externa à ATRP, ou seja, que é dada na Academia de Formação, que é dada por

fornecedores, é toda coordenada pelos Recursos Humanos e não passa nada pelo CTP. Essa é a

primeira distinção. Depois, nós aqui no CTP temos a formação…não podemos dizer que é a

formação do CTP, que é dada no âmbito geral, e depois temos a, a, a formação particular. Ou

seja, nós temos formação que é dada no CTP que é só dada internamente na ATRP, ou seja, não

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há comunicação para mais lado nenhum. Mas temos formação que é dada aqui no CTP e que

depois é submetida através da Academia de Formação ao IEFP. Essa é a formação que faz parte

toda…desde que esteja debaixo chapéu do sistema de produção é a formação que, como nós

costumamos dizer, que sai para fora. A grande distinção é aquela que é coordenada por nós e a

que é coordenada pelos Recursos Humanos. Os Recursos Humanos, neste momento, ficaram

um bocadinho, entre aspas, com tudo o que é formação comportamental e de línguas.

Basicamente, tudo o que é formação técnica passa por aqui. É óbvio que se for formação técnica

de um equipamento novo que venha para a fábrica, não somos nós que vamos dar a formação.

São contratados os fornecedores do equipamento e são eles que vão dar formação. Tudo o que

seja a outra formação técnica, normalmente é dada por aqui.

Investigadora: Vamos agora focar-nos um bocadinho nos grupos. De uma forma assim

resumida, porque também tenho essa informação de outras fontes e da minha informação, mas

como é que vocês costumam organizar os grupos de formação?

António: Os grupos de formação. Nós tentamos sempre, nem sempre isso é possível, mas nós

tentamos sempre… Se for uma formação que seja transversal à empresa, e convém explicar

porquê: nós temos as formações específicas, os Fundamental Skills da Montagem, são só,

maioritariamente, para pessoas da Montagem, os das prensas, para os das prensas, os do Body

para o Body, e por aí fora. Depois, temos outro tipo de formações, que nós chamamos de Lean

Training, ou seja, os Lean Games, a LEGO Line, o Truck Game, que são transversais à empresa. E

quando digo transversais, é de topo, e é do operador até ao plano médio. Se for uma formação

dessas, que é transversal, nós tentamos sempre que as equipas sejam multifuncionais, ou seja,

que tenham pessoas de todas as áreas. Até porque depois a experiência vivida durante os

módulos de formação é completamente diferente, se tivermos pessoas de várias áreas ou se

tivermos pessoas só de duas ou três áreas. A experiência conta muito para enriquecer a

formação. Porque depois eles trocam ideias e falam nas experiências que têm e é muito

enriquecedor. Portanto, nós tentamos sempre que seja, nem sempre conseguimos. Porque as

pessoas que vêm à formação do CTP têm que ser pessoas, principalmente as da produção, têm

que estar disponíveis na produção, ou seja, têm que ser pessoas em que eles têm um allowance

para as disponibilizar para a formação, e têm que as disponibilizar. E nem sempre isso é possível,

com a variação da produção e dos problemas que vão acontecendo no dia-a-dia, eles num dia

podem disponibilizar mais pessoas, noutros dias menos. Ou à semana. Umas semanas podem

disponibilizar mais, noutras podem menos. Agora, o que nós tentamos sempre é que sejam

multifuncionais. Nas outras formações que são específicas, como é óbvio, vêm as pessoas que

são selecionadas pela produção e vêm para essa formação só as daquela área. Quando eu digo

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selecionadas por eles, e é assim que funciona, nós na semana anterior aos módulos de formação

acontecerem, nós disponibilizamos uma série de vagas e são … as chefias das pessoas que as

vão nomear para virem à formação.

Investigadora: Quer da Produção, quer das outras áreas?

António: Quer da Produção, quer das outras áreas, sim.

Investigadora: E que outras áreas é que são chamadas?

António: Todas as áreas: as finanças, a logística, os recursos humanos, todas as áreas vêm fazer

formação aqui, principalmente as formação…o LEGO Line, os Lean Games, que são as formações

que são transversais a todo o pessoal da empresa e esse vêm, vêm cá todos.

Investigadora: E até que nível e hierarquia, tens noção?

António: Eu posso dizer que as primeiras sessões da LEGO Line começaram por ser dadas ao

Plant Manager e depois por aí abaixo.

Investigadora: Explica-me um bocadinho melhor o que é o Plant Manager…

António: O Plant Manager é … nós podemos chamar isso, portanto é o Diretor da fábrica, agora,

nesta altura, é o Miguel Almeida, na altura em que começámos com a LEGO Line, era o Heinz, e

que na altura, ele e os managers todos, foram as primeiras pessoas a terem, a experimentar. É

óbvio que, e nós tentamos fazer isso nos módulos todos, portanto, antes do módulos

começarem, vir cá…se não puder vir o Plant Manager, que venham, no mínimo, os managers

das áreas, para nós termos também um feedback da parte deles porque, como eu dizia há

bocado, as formações são importadas e depois adaptadas, e eles têm sempre um input positivo,

ou seja, têm sempre uma ideia de que é preciso “afinar aqui”, se calhar é melhor dizer ”isto”

antes de dizer “aquilo”, e há sempre…há sempre essas sessões…

Investigadora: Esse diálogo existe, então…

António: Esse diálogo existe. Há sempre essas sessões piloto antes das formações arrancarem

oficialmente, para haver aqui um acerto e para todos depois estarmos em sintonia quando a

formação é dada, para estarmos em sintonia com o que é a estratégia da fábrica. Porque, apesar

da formação ser maioritariamente técnica, passam-se aqui muitos conceitos que são conceitos

que são utilizados pela organização e que são conceitos estratégicos. E que é isso que se tenta

incutir nas pessoas, portanto, convém nós estarmos alinhados com aquilo que é pensamento da

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chefia, porque senão depois podemos estar a ir por um caminho errado. Daí que se faça isso no

início da cada formação.

Investigadora: Hum, hum. Bom, António, tenho tido a perceção de que, porque já tenho vindo

a acompanhar o CTP praticamente desde o início, não é, não foi logo em 2009, mas em 2010, e

tenho tido a noção de que o volume da formação tem vindo em crescendo. Isso confirma-se?

António: Sim, sim.

Investigadora: E como é que está agora previsto o futuro do peso do CTP no plano geral da

formação da empresa?

António: É verdade que tem vindo em crescendo, mas não … eu posso dizer que temos vindo

em crescendo, não porque tenhamos mais importância, não porque tenhamos mais formação,

mas sim por causa dos altos e baixos que a nossa indústria, que é a indústria automóvel, tem,

que é… nós temos os altos e baixos a nível de volume de produção e de necessidades de

produção. Sempre que nós temos pessoas disponíveis na produção para formação, as pessoas

vêm. Mas também com a identificação das necessidades que a produção de vez em quando

identifica e nos pede para nós desenvolvermos novos módulos de formação. Daí que tenha

vindo a crescer. O futuro? Eu prevejo um futuro risonho para o CTP, até porque já para o ano,

vamos arrancar agora logo no início do próximo ano com muita gente aqui, tal e qual como

arrancámos este ano, para o ano vamos arrancar também, um bocadinho devido à baixa de

volume, vamos ter agora no início do ano… ou seja, vamos baixar o volume de produção, vamos

ter mais pessoas disponíveis para frequentar o CTP. Eu acho que a razão do aumento de

formação aqui no CTP é uma mistura de duas coisas, ou seja, a identificação de necessidades de

formação diferentes, e daí terem vindo mais pessoas, e também depois a razão dos altos e

baixos. Fazendo um bocadinho o resumo deste ano, nós começámos, e eu tenho falado isso com

a minha equipa, nós começámos em janeiro, janeiro, fevereiro e março, foram três meses

caóticos …

Investigadora: Sim, eu acompanhei essa fase…

António: Não tínhamos mãos a medir!

Investigadora: Sim, sim…

António: Tínhamos muita gente aqui em formação. Depois, posso dizer que de abril a junho

estabilizou, e depois, como já se esperava, quase todos os anos é assim, a partir de julho

começou a decrescer. E a decrescer porquê? Por uma necessidade de reajustar os números da

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Produção, houve uma necessidade maior de pessoas na Produção, e se as pessoas já estavam

dentro a ATRP, não havia necessidade de se estar a contratar pessoas novas, então… Também

os números da formação pode-se dizer que estavam mais ou menos atingidos, ou seja, havia

uma previsão de que, com aquele ritmo, até ao fim do ano, se ia atingir os números sem

problemas nenhuns, então começou-se a cortar um bocadinho, entre aspas, na formação.

Decresceu um bocadinho de julho para cá. Agora, no final do ano, tem estado a aumentar outra

vez, mas pronto, agora falta-nos uma semana, já não vai haver grandes, grandes modificações.

Investigadora: Ok. Olha, ainda falando um bocadinho da formação, mas agora já de outro ponto

de vista, tendo mais a ver com as questões das metodologias, com a forma como a formação é

feita e se desenvolve. Tu que tens também formação nessa área, da gestão da formação e da

metodologia da formação, diz-me uma coisa: em que é que tu achas que a metodologia da

formação aqui no CTP é diferente do resto da formação que sabes que é promovida pela

empresa? Que é que tu destacarias como sendo assim a mais-valia nesta metodologia que vocês

usam?

António: A principal diferença que eu identifico aqui, e identifico em relação à ATRP e identifico

em relação às formações onde já participei nas empresas e de que tenho conhecimento, é o

dinamismo que nós empregamos na formação aqui diariamente. Ou seja, quando eu digo

dinamismo é porquê? Nós não temos, basicamente, nenhuma formação que as pessoas

cheguem aqui e se sentem 8 horas numa sala e estejam 8 horas a ouvir o formador a expor, a …

a fazer exposição de matéria. Não temos nenhuma. Todas as formações dadas aqui são

formações dinâmicas, quando eu digo dinâmicas, é óbvio, as pessoas vêm à sala, têm a parte

teórica, ouvem os conceitos, mas depois têm sempre aquilo que nós chamamos os jogos, que é

fora de sala, ou dentro de sala, alguns deles são feitos dentro de sala, mas têm os jogos para

conseguirem colocar em prática aquilo que ouvem na teoria. Ou seja, as pessoas durante a

formação têm logo um contacto com aquilo que estão a ouvir e que … estão, ou não, a

apreender. Mas têm um contacto direto. Alguns desses jogos têm relação direta com aquilo que

é a nossa Produção, ou seja, espelham aquilo que se passa no dia-a-dia da Produção, outros

deles não têm nada ver com … são, são jogos criados para que o conceito passe melhor para as

pessoas, mas que não têm nada a ver com fazer carros. Outros sim, como é a LEGO Line, que é

uma simulação autêntica de uma linha de produção. O jogo das caixas, já nem por isso, não é?

Portanto, este dinamismo que é empregue durante a formação é que aquilo que eu acho que é

… é aquilo que nos diferencia.

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Investigadora: Hum, hum. Ok. Existe uma espécie de dinâmica constante de melhoria contínua,

eu já percebi. Quer no vosso trabalho, quer na formação. E relativamente aos referenciais? O

que é que eu quero dizer com isto? Vocês têm referenciais, esses referenciais não são

construídos aqui, vocês recebem-nos, aplicam-nos, e como é que depois acontece? Vocês

adaptam-nos e informam a “casa mãe”? Não existe esse diálogo, por exemplo, sugestão de

melhoria daqui para lá? Como é que isso se processa?

António: Existe, existe. E fazes bem em fazer essa pergunta. Porque é assim, nós enquanto CTP,

pertencemos à ATRP. Todas as outras fábricas têm, com outro nome, não serão os CTPs, mas

serão Lean Centres, nós também vamos mudar o nosso nome agora para Lean Centre…

Investigadora: Ai é? Ah. Ok.

António: Agora no início do ano. Mas são os Lean Centres, serão os Lean Center Konzern, serão

centros de treino, todas as fábricas têm um. E depois nós temos um departamento central, que

é o Lean Center Konzern, que é em Wolfsburg, que é aí que, não são eles sozinhos que

desenvolvem as formações, é em coordenação com as fábricas, mas são eles que são, que

coordenam depois a distribuição das formações. Cada formação que é criada, ou seja, cada

módulo que é criado, tem sempre um “master”, ou seja, um “master” é o tal referencial por

onde nós nos vamos guiar. Não quer dizer que ele esteja em Wolfsburg. Eu posso dar um

exemplo: a LEGO Line foi desenvolvida em Ingolstadt2 e o referencial está lá, mas por exemplo

os Fundamental Skills da Montagem Final foi desenvolvido em Hanover, e ele está lá. Os Lean

Games foram desenvolvidos no Lean Center Konzern em Wolfsburg, e é lá que está o referencial.

Depois, nós, os coordenadores dos vários CTPs ou dos vários centros de treino das fábricas, têm

duas reuniões anuais a … a … em que se deslocam a uma das fábricas e vão visitar um dos centros

de treino, dessa fábrica, e vão ver as inovações, as melhorias feitas, e por aí fora. E estão em

constante …constantemente a contactar, até porque temos a nível informático uma aplicação

que é chamada o eRoom, ou seja, é uma sala electrónica, onde são depositados todos os

conteúdos das formações. Sempre que há uma atualização de qualquer conteúdo, ela é

colocada, depois de ser revista obviamente pelo Lean Center Konzern, é colocado lá. Depois aqui

há duas situações: ou é uma alteração que faz sentido para todas as fábricas e toda a gente

adapta, e informa que realmente adaptou e está a seguir aquela metodologia, ou não adapta,

porque pode ser uma coisa que não faça sentido para alguma das fábricas, mas normalmente

faz. Nós, enquanto contribuidores para esse processo, também quando fazemos aqui alguma

alteração, também informamos, e se, caso seja aprovado, também lá colocamos a nossa

2 “Casa mãe” da AD, que pertence ao Grupo Automóvel.

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alteração. Se bem que é um bocadinho difícil, porque, maioritariamente, o que lá está é em

Língua Alemã (risos), nós para importarmos ainda importamos em Alemão e traduzimos para o

Português, e tudo bem, quando é daqui para lá, das duas uma, ou colocamos lá em Inglês, ou se

vamos colocar em Português, quando muito, os colegas brasileiros vão usar. Todos os outros,

ninguém vai tocar naquilo. Mas pronto, a nível das melhorias, é assim que funciona. É óbvio que

nós também somos autónomos aqui para implementar melhorias. Nós estamos agora com …

para todos os Fundamental Skills, temos estado em conversa e mostrámos ao nosso

departamento de Recursos Humanos, que tem a parte da ergonomia, mostrámos tudo aquilo

que temos disponível ao nível da ergonomia, e de segurança, e vamos agora, dentro em breve,

fazer algumas pequenas alterações, não é muita coisa. Mas vamos fazer pequenas alterações a

tudo o que é os Fundamental Skills, para falarmos um bocadinho mais e mais especificamente

em segurança e em ergonomia.

Investigadora: Hum, hum…

António: Se bem que nós, nós … já era … já fazia parte dos conteúdos, mas eles acham que há

ali alguns melhoramentos a fazer, e é isso que nós vamos fazer.

Investigadora: Interessante. E entre os formadores do CTP, vocês têm momentos de reflexão

para melhoria contínua? É uma coisa mais informal de … vão passando, vão conversando …

António: Eu diria que é mais informal. Eu não posso dizer que, uma vez por mês, ou duas vezes

por mês, nos sentamos e vamos … não, isso não acontece. O que acontece, e é no dia-a-dia, e

tu, como sabes, a equipa aqui contacta constantemente, no dia-a-dia os formadores, eles

próprios vão vendo necessidade … epa temos ali alguma informação, ou que já está

desatualizada, ou que alguém falou nisto e deu esta ideia, e era bom … e depois falam uns com

os outros. E se houver ali …digamos que isto aqui é uma democracia sempre com direito à última

palavra! Mas desde que haja ali uma concordância ali da maior parte deles, em relação à

alteração, a alteração faz-se e atualiza-se. Uma das coisas que nós deixámos de fazer, porque

isto depois chegou a uma altura em que achámos que era exagerado, estabelecemos períodos

para as alterações. E isto porquê? Porque eles realmente achavam que havia necessidade de

alteração e depois começavam a alterar, a alterar… Ou seja, havia conteúdos, nomeadamente

nas apresentações, não na parte prática, mas na parte teórica, havia conteúdos que eram

alterados de semana a semana. E isso não faz muito sentido. Então o que é que estabelecemos?

As alterações, eles vão tomando nota daquilo que querem fazer e mais ou menos de dois em

dois, de três em três meses, faz-se uma alteração, altera-se a versão do documento. Isto para a

parte teórica. Quando é na parte prática, às vezes é mais rápido, porque são coisas, até porque

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têm de ser testadas depois … a parte teórica, eles chegam aqui e uma parte … para expor, na

parte prática eles têm que o testar antes. Ou seja, testam, deu resultado, já não se vai voltar

para trás, fica, fica, fica assim. Mas realmente eles têm essa autonomia. Agora quando eu digo

que é uma democracia com direito à última palavra, isso é assim: como eu digo, são uma equipa,

eles são muito coesos, uns percebem mais disto, outros percebem mais daquilo, mas depois

todos falam uns com os outros, todos partilham as ideias e normalmente chegam sempre a bom

entendimento. Uma das questões que levou a que se fizesse ele tal período de atualização, é

porque eles são todos muitos versáteis, não quer dizer que não haja uma pessoa que não tenha

mais experiência numa formação ou noutra, mas quase todos dão todas as formações. O que é

que poderia acontecer? Havia um que mexia numa apresentação, alterava qualquer coisa e por

alguma razão, outro colega que até estava no outro turno, não tinha conhecimento. Na semana

seguinte ia pegar naquilo e quando chegava ali, ups… E então decidiu-se fazer as coisas de uma

maneira, para já, mais espaçada, para não haver tanta alteração e também para dar tempo para

eles falarem uns com os outros e todos saberem a que nível é que as coisas estavam.

Investigadora: hum, hum… Por acaso há uma questão que eu acho que nunca te coloquei,

mesmo a título informal. Sabendo eu que a formação decorre nos dois turnos, tal como a

produção, nunca me foi possível assistir, por razões pessoais, não porque vocês não o tivessem

disponibilizado, assistir ao período da tarde/noite, mas os grupos são igualmente dinâmicos …

as atitudes são idênticas? Ou vocês notam diferença?

António: São, são. Com uma pequena diferença. É óbvio que o turno da tarde, não é, o turno

que começa às três e meia, tem muito pouca gente das áreas de apoio, ou seja, quando eu digo

as áreas de apoio são as logísticas …

Investigadora: Sim, sim.

António: Os Recursos Humanos, as Finanças, essas pessoas trabalham maioritariamente no

turno da manhã. Isso obriga a que os grupos da parte da tarde sejam maioritariamente da

produção, ou seja, o que é que depois de vez em quando nos falta aqui nesses grupos? Faltam-

nos as pessoas do Planeamento, faltam-nos as pessoas da Logística … não é que não venham,

vêm é com menos …porque eles também têm alguns a trabalhar, vêm é com menos frequência.

Então esses grupos são mais homogéneos, não são tão multifuncionais, são mais homogéneos,

é mais produção. E então aí as coisas de vez em quando, não é que não corram bem, mas não

há tanta partilha de ideias, não há tanta partilha de experiência, porque eles são todos

produção, partilham as experiências da produção e ficam por ali. Quando há os outros, há a

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partilha daquilo que é, que é feito fora da produção e por aí fora. Basicamente é essa a diferença,

mas não … não nos levanta grandes problemas.

Investigadora: Certo, hum, hum… António, um último conjunto de questões e que agora têm

mais a ver com a relação entre os objetivos da formação e os objetivos da empresa. Destes anos

em que isto se tem vindo a desenvolver, achas que a formação do CTP está simplesmente ao

serviço dos objetivos da produção, ou, a … existe outra, outra estratégia?

António: Não, a … a estratégia principal é, é, é a formação de … não só da produção, mas na, na,

na fábrica toda. Portanto, para todas as áreas. É óbvio que, como o nome indica e quando foi

formado, “centro de treino da produção”, ou seja, maioritariamente é produção. Os objetivos

da formação dada aqui é … é óbvio que é maioritariamente para a produção, para passar os

conceitos e as técnicas, mas também para o resto da fábrica para passar os conceitos, porque,

como eu digo, a maior parte dos conceitos que são aqui passados são conceitos do Sistema de

Produção que são estratégicos, não só para a fábrica, para a ATRP, mas também para o grupo

da Marca. Portanto, o objetivo principal dos centros de treino, não só deste, mas os das outras

fábricas também, é passar os conceitos e … e, do Sistema de Produção a todos os níveis, não só

para a produção.

Investigadora: Então quais é que são para ti as grandes finalidades do CTP?

António: Termos pessoas focadas naquilo que são os objetivos do Mach18… o Mach18 é uma

estratégia, que a Marca desenvolveu para atingir uma série de objetivos até 2018, e os quatro

principais são: ser o maior construtor a nível mundial, ter as melhores equipas, ou seja, os

melhores empregados, ter pessoas satisfeitas e ter a melhor qualidade. E é óbvio, no meio disso

tudo depois vêm os lucros, não é? (risos de ambos) Como não podia deixar de ser. Ou seja,

quando se definiu esta estratégia, que já foi definida já em dois mil e … sete, para aí, que se

começou a falar nisto, começaram-se a desenvolver algumas … algumas entidades e alguns

departamentos que dessem suporte a … a … ao desenvolvimento dessa estratégia. Um deles, foi

o Sistema de Produção. Depois do Sistema de Produção começou-se a ramificar uma série de

departamentos, alguns deles, os Centros de Treino. E esse é o principal objetivo de nós

existirmos, é estarmos aqui para que consigamos fazer com que as pessoas trabalhem de outra

maneira, não vou dizer que não, nós queremos que as pessoas trabalhem de outra maneira, a

questão do trabalho estandardizado, a questão dos 5S, da melhoria contínua, a … esse é o

principal objetivo do CTP.

Investigadora: Hum, hum… E esses objetivos são definidos anualmente? Semestralmente?

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António: Esses objetivos normalmente … anualmente. Não é normalmente, são mesmo

anualmente. Eu posso dizer que em 2007, quando se começou a falar nisto, a … a produção

anual, acho que na altura era de seis milhões e qualquer coisa, mas como nós entretanto

ultrapassamos esse número rapidamente, agora o objetivo para 2018 já não são os seis milhões,

já são dez milhões e qualquer coisa de carros.

Investigadora: Os objetivos também vão subindo…

António: Os objetivos também vão subindo, também vão a subir. Ou, e não era a primeira vez,

ou descendo se, se, se se verificar que eles são utópicos. Não é o caso. É tudo tangível, até ver.

Investigadora: Até ver, hum, hum. E os objetivos daqui do CTP, são definidos anualmente?

António: São definidos anualmente.

Investigadora: Por que área?

António: Pela área da Engenharia Industrial, à qual, à qual nós pertencemos.

Investigadora: Exato… e articula com os Recursos Humanos?

António: Articula com os Recursos Humanos, articula com a Academia de Formação, porque

tem que articular com a parte do IEFP, ou seja, a parte de construções de metal, porque nós …

portanto, toda a formação que é submetida ao IEFP é porque tem, tem …

Investigadora: É financiada …

António: É financiada. Daí que tenha de ser tudo articulado. Esse é um dos problemas que nós

também temos tido agora nos últimos anos, que é, com os cortes sucessivos … houve em 2011

logo, em 2012 houve mais cortes, para o ano ainda não tive notícia, mas provavelmente vai

haver na mesma, e quando eu digo cortes, são os cortes no total de horas que nós podemos dar,

ou seja, que nós podemos submeter para serem financiadas, são as tais horas que são dadas em

Pilar 1, que eu acho … que tens mais conhecimento ainda que eu disso. Tudo o que é Pilar 1 tem

vindo a ser cortado ao longo dos anos. E nós aqui, principalmente todas as que estão debaixo

do chapéu do Sistema de Produção, são, são … fazem parte do Pilar 1 e depois nós vamos

encolhendo o leque. Não nós, porque nós, as horas dadas aqui são uma fatia daquilo que é

atribuído à ATRP, e quando é atribuído à ATRP é atribuído aos Recursos Humanos, nós depois

vamos lá buscar a nossa fatia. A nossa fatia tem-se mantido igual todos os anos, não tem descido

nem subido, são as 40.000 horas por ano.

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Investigadora: Hum, hum…

António: 40.000 horas de formação. É óbvio que nós damos muito mais. Este ano, e eu não

posso dar o número com certeza, mas andamos à volta das sessenta e poucas mil já. Ou seja …

Investigadora: E isso no final do ano é acertado, ou é um número informal?

António: Não, não, no final do ano é tudo contabilizado e publicado. E publicado.

Investigadora: Publicado onde? Já agora …

António: Publicado nos números internos.

Investigadora: Ah, certo.

António: Portanto, não é, não é para fora, números internos.

Investigadora: Certo. A administração tem noção …

António: Tem noção daquilo que é feito …

Investigadora: … desse trabalho…

António: Aliás, têm que ter mesmo, principalmente na parte em que me diz a mim respeito e às

minhas pessoas. Nós, um dos objetivos, ou seja, os objetivos do CTP, também são os objetivos

das pessoas que estão no CTP, portanto …

Investigadora: Eu ia-te perguntar isso mesmo a seguir.

António: Um dos meus objetivos anuais é eu conseguir que sejam dadas aqui as 40.000 horas.

No mínimo.

Investigadora: Isso entra na tua avaliação? Como trabalhador …

António: Isso faz parte da minha avaliação de desempenho.

Investigadora: Certo …

António: Nós temos uma avaliação de desempenho anual, onde tem vários critérios e onde há

uma parte dos critérios que são os objetivos traçados no início do ano, portanto … eu, esse, o

das 40.000 horas, já sei que ele é certinho todos os anos. Não tem mexido, é certinho todos os

anos. Depois há outros objetivos, mas esse, das 40.000 horas, ou seja, a quantidade de horas de

formação que se dão aqui, é um dos objetivos que faz parte da minha avaliação de desempenho.

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Investigadora: E tu vês os formadores que trabalham contigo a … preocupados com essa

questão também, ou porque o volume de formação é tão grande, nem lhes ocorre?

António: A … eu não os vejo, ou seja, não os vejo preocupados com isso da mesma maneira que

eu. É … pode ser um bocadinho da mesma maneira que eu, mas porque eu também vou ao

encontro daquilo que eles pensam, que é … e isto, eu tenho dito isto desde o início que nós

viemos para cá, a … o CTP só existe enquanto houver formandos para o frequentarem. No dia

em que o … no dia em que a produção, ou no dia em que as outras áreas não colocarem aqui

pessoas, nós não estamos cá a fazer nada. E a preocupação deles, e nomeadamente nas fases

em que a formação decresce um bocadinho, essa é a preocupação dele, é “O que é que nós

vamos fazer agora, porque não estão cá a colocar pessoas, qualquer dia tiram-nos daqui,

qualquer dia acabam com isto …”. Eu tenho tentado, até porque, pronto, tenho provavelmente

… não é provavelmente, é porque de certeza tenho uma visão a …diferente da deles, porque,

para já porque tenho mais informação do que eles, e porque sei porque as coisas que

acontecem, provavelmente sei-as antes, muito antes deles, tenho tentado sempre mantê-los

a… descansados com isso, porque não vejo … desde que começámos até agora nunca vi perigar

a existência do CTP. Mesmo nas alturas em que isto está…está mais fraco, ou seja, que há menos

afluência de formandos aqui, mesmo nessas alturas eu tenho, eu sei que é temporário, porque

… e sei quais são as razões. E tento-lhes passar essa mensagem. Não é fácil. Há alturas em que

não é fácil, nomeadamente depois quando as pessoas trabalham cá dentro mas, e … e nós

sabemos que o trabalhar cá dentro às vezes não … não equivale a, a ter a informação toda. E

quando se vê certas notícias em jornais lá fora …

Investigadora: Hum…

António: As pessoas tremem um bocadinho. Porquê? Quando há que haver cortes, onde é que

há cortes? De certeza absoluta que não é nas pessoas da produção que têm de fazer os carros,

porque isso é o nosso core business, nós temos que fazer carros aqui todos os dias, e temos de

vender carros. Se há cortes a fazer ou se há reduções a fazer, será nas áreas de apoio. E o CTP

não deixa de ser uma área de apoio.

Investigadora: Hum, hum …

António: Apesar de dar muito apoio à produção, mas é uma área de apoio. E é esse, de vez em

quando, é esse sentimento que eu vejo nas pessoas, eu tento descansá-los, a… Eu nunca vi,

posso mesmo dizer que desde, desde 2009 que cá estou, nunca vi problemas nenhuns em

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relação a isso, ou seja, perigar a existência disto, ou saírem pessoas daqui, não, não há… Agora

que... que, pronto, às vezes leva-nos a pensar um bocadinho, leva.

Investigadora: De qualquer das maneiras, todos os… toda a equipa que está aqui no CTP é

constituída por pessoas que são efetivas da fábrica…?

António: Sim, sim, sim, não há nenhum que não…

Investigadora: O receio das pessoas é voltarem à linha?

António: O receio das pessoas … não, o voltarem à linha não, eles são todos pessoas de

produção, se em dois dias tivessem de voltar à linha e a fazer as suas antigas funções …

Investigadora: Voltavam…

António: Voltavam, sem problemas nenhuns e nós, mesmo os especialistas, a mesma coisa. Não,

não. A questão é, é mesmo o que é, o que é que isto pode dar?

Investigadora: De uma forma geral?

António: De uma forma geral, não é … Porque … ou seja, se tivermos numa fase de produção

alargada, e alguém que tenha uma estratégia diferente e diga “O CTP, toda a formação que é

dada no CTP, vai ser dada noutro lado, e o CTP a partir de agora é extinto”, eu não tenho dúvidas

nenhumas que não iriam despedir as pessoas que estão aqui. Iriam a …reintegrá-las nas equipas

e sem problema nenhum. Numa fase normal. Se for numa fase que estamos em redução, a gente

não sabe o que, o que é que pode acontecer, porque é assim, se estão a reduzir, estão a reduzir

em todo o lado, logo não iriam ter lugar para estas pessoas. Esse é o sentimento das pessoas e

é aquilo que eles às vezes podem … “o que é que nos vai acontecer?”. Não vai acontecer nada.

(risos)

Investigadora: Tranquilo.

António: Tranquilo.

Investigadora: António, olha, da minha parte, estou super esclarecida, agradeço-te imenso a

disponibilidade. Queria-te perguntar se queres colocar alguma questão, se tens alguma dúvida

…?

António: Não …

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Investigadora: Se queres acrescentar algum dado, que aches importante? Tendo em conta a

orientação da conversa…

António: Eu acho que … Acho que dissemos tudo.

Investigadora: Não? Achas que disseste tudo?

António: Acho que dissemos tudo. Sim.

Investigadora: Então, olha, agradeço-te mais uma vez a tua disponibilidade, está bem? E teres

aceite este desafio…

António: De nada. E não tenhas problemas…

Investigadora: E acho que isto vai ser mesmo importante para …

António: Se te esqueceste de alguma coisa …

Investigadora: Para o cruzamento dos dados.

António: Estamos cá na mesma. Não vamos embora.

Investigadora: Obrigada. (risos de ambos)

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ANEXO 3 – ENTREVISTA A FORMADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO

Investigadora: Paulo1, em primeiro lugar queria-te agradecer a disponibilidade para fazeres esta

entrevista, a … e vocês têm sido extraordinários a acompanhar-me aqui pelo CTP nas formações

e tudo o mais, e a possibilidade de fazer esta entrevista no final das observações é muito

importante para o estudo, permite-me confirmar algumas coisas, a … ainda recolher alguns

dados que eu entretanto não teria apanhado pelo caminho, e portanto é mais uma entrevista

final de confirmação e de organização de ideias do que propriamente de levantamento de

dados, porque para isso eu também estive cá, a fazer as observações e a participar em algumas

formações. Mas é de facto um momento muito importante e agradeço-te muito a tua

disponibilidade, foste um dos formadores com quem estive …

Paulo: Sempre, sempre, sempre à vontade e já viste que foi com … com todo o gosto que eu tive

em dar o meu melhor …

Investigadora: … é verdade, é verdade …

Paulo: … de forma a que a coisa corresse …

Investigadora: … corresse bem, não é? A … queria-te assegurar que os dados são confidenciais,

são apenas utilizados no âmbito do estudo, portanto não vão ser utilizados para mais nada,

inclusivamente irei alterar, irei alterar o teu nome, para se manter no anonimato, isto para te

garantir que de facto é … é uma entrevista no âmbito do meu estudo e nada mais. Então se

calhar começava, Paulo, por te fazer uma pergunta muito geral mas que se calhar te vai dar

muito pano para … para mangas, para tu responderes, e que tem a ver com a forma como tu

vens parar ao CTP. Pedia-te para falares um bocadinho do teu percurso dentro e, e se quiseres

começar um bocadinho antes, do percurso profissional até chegares aqui à ATRP …

1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.

Data de realização da entrevista: 04 de dezembro de 2012

Duração: 31m 33seg

Local: Centro de Treino da Produção (CTP)

Entrevistado: Formador do CTP

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Paulo: … dentro da, daqui …

Investigadora: … e depois na ATRP, até chegares aqui ao, ao CTP …

Paulo: … estou quase a fazer o RVCC.

Investigadora: Ah! (risos)

Paulo: Queres antes, da ATRP, ou…

Investigadora: Um bocadinho, sim

Paulo: … antes da ATRP …

Investigadora: Sim, de uma forma resumida, de uma forma resumida.

Paulo: Antes da ATRP eu … trabalhei já noutra fábrica de automóveis. Na antiga Renault de

Setúbal.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Trabalhei e estudei, até ao 9º ano, portanto o mundo automóvel para mim já não foi uma

estreia.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Trabalhei como operador de linha de montagem final. Embora depois o meu estudo, eu

tirei o 9º ano, mas a …à noite, que era o antigo 3º ano do Curso geral de Mecânica.

Investigadora: Hum, hum. Ok.

Paulo: Portanto a minha formação é na base da mecânica.

Investigadora: Da mecânica. Hum, hum.

Paulo: Quando concorri para a ATRP, concorri como técnico de manutenção mecânico.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Entrei, fui admitido em junho de 1993, mas não entrei a desempenhar as funções de

técnico de manutenção mecânico. Aproveitaram a minha experiência, dado que eu tinha já

trabalhado numa fábrica de automóveis, e colocaram-me como team leader.

Investigadora: Hum, hum.

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Paulo: … a liderar uma equipa na altura de 54 pessoas.

Investigadora: Ena! (risos)

Paulo: Algo que não tinha nada a ver com aquilo que eu vinha à espera.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Enfrentei o desafio com a maior naturalidade, dado que também me facultaram alguns

cursos a nível comportamental para liderar equipas …

Investigadora: Tiveste formação inicial, então …

Paulo: Exatamente.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: A … tive inclusive formação no estrangeiro, tive numa fábrica em Espanha mês e meio,

na FD Valência, depois estive mês e meio numa fábrica no México, em Hermosillo, para ver as

formas diferentes de comunicação entre equipas …

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: …e dentro, mesmo dentro da fábrica

Investigadora: … da fábrica, hum, hum.

Paulo: Foi muito interessante e uma mais-valia, depois poder arrancar aqui na ATRP. Eu

desempenhei as funções de team leader até cerca mais ou menos de o ano 2000. A … a área

onde eu estava, que era o antigo underbody surge, que eu liderava 54 pessoas, era uma área

muito problemática na altura, com muitos acidentes, o trabalho era muito pesado e então a

forma que encontraram de melhorarmos foi automatizando. Conseguimos passar de equipas de

54 pessoas para 6 operadores,

Investigadora: Ena!

Paulo: … com o automatismo que fizemos.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E então não fazia sentido um grande número de team leaders para tão poucas pessoas.

Eu aí vi a oportunidade de execu … , de, vá lá, de … fazer aquilo para o qual eu concorri para esta

casa, que foi como técnico manutenção mecânico.

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Investigadora: Tu preferias?

Paulo: Preferia.

Investigadora: Que engraçado.

Paulo: Porque eu sempre fui uma pessoa do campo …

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Da ação.

Investigadora: Da ação. (risos)

Paulo: E então, tive a oportunidade de desenvolver os meus conhecimentos, dado que a

tecnologia é muito avançada, como tiveste oportunidade de ver.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E tirei muita coisa dessas formações, a nível técnico. Programação de robots, de

Eletrónica, Eletricidade, Pneumática … a …Hidráulica, PLC’s, já podes ver o mundo …

Investigadora: … pois …

Paulo: … de formação que eu tive, que eu acrescentei já à minha experiência profissional. Enfim,

depois, a … mantive-me como técnico de manutenção nessas áreas, fiz depois o arranque das

linhas do Rodis, das linhas novas também como técnico de manutenção, e fiz o arranque das

linhas novas do Rapidus. E cheguei a uma altura que digo assim, a … eu agora precisava, sentia

que precisava de algo diferente. Já tinha liderado equipas, já tinha passados por tudo que era

manutenções nesta casa, sentia necessidade de algo diferente. E vi a oportunidade da formação.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Soube que iria haver este departamento, concorri, fui aceite … cá estou.

Investigadora: Concorreste em que altura, no início em nov … em 2009?

Paulo: Em 2009. Dado que eu vim para este departamento logo … o departamento foi criado em

janeiro e eu entrei em final de fevereiro.

Investigadora: Ok. E ficaste com que formações? Nessa altura?

Paulo: Nessa altura, a … nós não tínhamos formação dada específica para cada área.

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Investigadora: Certo.

Paulo: Estava, sabíamos que … o departamento estava de início, sabíamos que iria haver uma

formação de Body, uma formação de Montagem Final, não se falava sequer em formação de

Prensas nem de Pintura, mas pronto, a … e arrancamos com a formação do L.E.G.O.

Investigadora: Ah, ah.

Paulo: Que era para toda a gente da fábrica. E aí eu entrei com, com os meus colegas a dar

aquele tipo de formação, depois passamos para os Lean Games, e depois é que nasceu os

Fundamental Skills. Fundamental Skills Montagem Final, foi o primeiro, depois o de

Fundamental Skills Body. E agora estão a desenvolver o Fundamental Skills de Prensas e de

Pintura.

Investigadora: De Prensas?

Paulo: De Prensas.

Investigadora: E estás também ligado ao do Body, ou é impressão minha?

Paulo: A … sim, dado que eu, costumo dizer, fui o pai…

Investigadora: Pois… da área também, não é?

Paulo: O pai daquilo que ali está feito, eu conheço aquilo … de olhos fechados,

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: … como tu já tiveste oportunidade de ver.

Investigadora: Sim, sim, sim.

Paulo: Ali não há segredos para mim.

Investigadora: Certo.

Paulo: Foi feito, foi construído por mim.

Investigadora: A zona toda das carroçarias, não é?

Paulo: Exatamente.

Investigadora: Hum, hum.

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Paulo: Tal como vai acontecer o mesmo com as prensas, como eu vou fazer a certificação, como

eu estou a desenvolver da mesma forma como desenvolvi a de Body, também não vai haver

segredos algum …

Investigadora: Segredos. Hum, hum. Sentes de alguma forma que a tua experiência profissional

está a ser posta ao serviço da formação?

Paulo: Exatamente.

Investigadora: E isso é gratificante?

Paulo: É muito. A … fico muito satisfeito, inclusive agora com aquele colega que ali está…

Investigadora: A … o senhor brasileiro?

Paulo: O brasileiro.

Investigadora: Com quem estavas a conversar.

Paulo: Ele veio cá fazer a certificação, está a fazer o mesmo que eu fui fazer há 9 anos, ele veio

cá fazer connosco. E é muito gratificante ter algo assim do género.

Investigadora: Hum, hum. Passar o testemunho …

Paulo: Passar a nossa informação, aquilo que nós temos …

Investigadora: Certo.

Paulo: … de bom aos nossos colegas.

Investigadora: Hum, hum, muito interessante de facto. Olha, Paulo, agora pedia-te para con …

falares um bocadinho do teu percurso escolar ou académico, se não te importares. (risos)

Paulo: O meu percurso escolar …

Investigadora: Já percebi que até ao 9º ano fizeste um curso geral de Mecânica, não foi?

Paulo: Sim.

Investigadora: Ok. E depois disso?

Paulo: E depois parei, não estudei mais.

Investigadora: Paraste. Hum, hum.

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Paulo: A … todas as formações que eu tirei para além, foram todas dentro desta casa.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Complemento … comportamentais, ou profissionais a … na área …

Investigadora: …técnicas? Hum, hum.

Paulo: … técnicas. É isso. Não sei o que é que poderei acrescentar mais. Estou … iniciei o RVCC.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Parei,

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: … por questões familiares, infelizmente, parei.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Tenciono acabá-lo. Não desisto … eu sou daquelas pessoas que pode levar tempo mas

nunca desiste de um objetivo.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Pode levar tempo, mas … se eu tenho aquele objetivo eu tenho de chegar ao fim.

Investigadora: Hum, hum. Mas, a … é impressão minha ou também tinhas entrado através dos

Maiores de 23 para um curso superior?

Paulo: Não.

Investigadora: Foi impressão minha. Ok

Paulo: Foi impressão. Tive um familiar que entrou, mas não … não é que os meus familiares

diretos …

Investigadora: Então?

Paulo: … não me estejam a pressionar nesse aspeto, dado que veem em mim, não sei, talvez as

pessoas que estejam de fora julguem que eu tenha capacidades para tal.

Investigadora: Hum, hum.

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Paulo: E, a … principalmente a minha esposa me esteja a pressionar para que eu acabe o ensino

Investigadora: O ensino secundário.

Paulo: O 12º, e concorra aos Mais de 23 ao ensino superior. É um desafio a pensar …

Investigadora: … a pensar …

Paulo: … mas eu primeiro quero que a minha filha acabe, para o ano há-de …

Investigadora: Ah.

Paulo: Felizmente há-de acabar este ano.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E depois eu logo penso um bocadinho mais em mim. O meu objetivo principal é que ela

acabe agora o dela.

Investigadora: Hum… Muito bem. Mas de qualquer das maneiras, Paulo, isso significa que não

te sentes pressionado aqui pelo CTP para fazeres algum tipo de formação académica. Portanto,

isso não vos é … exigido.

Paulo: Não. Não. Não. Nunca, nunca foi posto em causa a minha escolaridade.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: A minha entrada no CTP tem a ver com … a minha grande experiência profissional.

Investigadora: Certo.

Paulo: Dado que passei de team leader, liderança de equipas e depois como técnico de

manutenção, e manutenção do Body é algo que abrange …

Investigadora: Claro.

Paulo: É um mundo.

Investigadora: É um mundo.

Paulo: Quem pertencer à manutenção do Body trabalha numa manutenção de qualquer fábrica.

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Investigadora: Hum. Das formações que tu referiste há pouco, e tiveste muitas no âmbito aqui

da ATRP, a … destacavas assim alguma que te foi mais marcante, ou que achas que foi mais

importante para o teu desempenho profissional?

Paulo: Sim. A … Programação Robótica.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: É um desafio muito interessante, a … e cativa as pessoas. Motiva. Cativa e motiva as

pessoas, é uma formação muito interessante e dado que eu também acompanhei a evolução

dos robots.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Começamos com um modelo muito antigo, fomos evoluindo até chegar aos dias de hoje.

E eu também fui acompanhando …

Investigadora: … foste acompanhando…

Paulo: … esse tipo de formação.

Investigadora: E para o desempenho das funções de formador? Que formação é que tu

destacavas assim mais?

Paulo: A … achei muito interessante o CAP.

Investigadora: O CAP. Hum, hum.

Paulo: O CAP para mim, a … se calhar foi das formações mais difíceis que eu tive.

Investigadora: Fizeste aqui na Academia de Formação?

Paulo: Trabalhosas.

Investigadora: Também fizeste aqui na Academia de Formação, foi isso?

Paulo: A … fiz na Academia de Formação e ATRP. A … difícil em questão de trabalho, porque nós

não fizemos pós laboral …

Investigadora: Certo …

Paulo: Fizemos com a … as horas, 8 horas contínuas

Investigadora: Certo …

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Paulo: Foi um bocadinho trabalhoso dado que tínhamos muito trabalho pós as 8 horas de

formação aqui …

Investigadora: Hum, hum…

Paulo: Preparar os trabalhos para apresentar dentro daquele período, que era um período

muito curto que tínhamos para fazer o … o curso.

Investigadora: O curso. Mas foi uma exigência aqui da … da … do CTP?

Paulo: Sim. Foi …

Investigadora: Para poderes passar a dar formação…

Paulo: Foi. Ninguém pode dar formação sem o CAP.

Investigadora: Hum.

Paulo: Essa sim, é uma exigência.

Investigadora: Hum, hum. Certo.

Paulo: Agora de resto …

Investigadora: De resto, não. Olha, vamos agora falar um bocadinho do CTP no âmbito do … da

empresa. Gostava de te perguntar qual é que é a importância que tu vês que o CTP tem para a

empresa, para o desenvolvimento da empresa, para o funcionamento da empresa?

Paulo: A … dado que esta empresa tem como o ponto forte o trabalho em equipa …

Investigadora: Hum, hum…

Paulo: O CTP tem sido importante aí dentro desse âmbito. Porquê? Porque como tem algumas

formações … conforme tiveste oportunidade de participar, viste que focamos muito o trabalho

em equipa.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Portanto, a forma como as pessoas trabalham.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E, se não conseguirmos trabalhar em equipa esta empresa não consegue chegar a lado

nenhum.

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Investigadora: Pois…

Paulo: É muito importante o trabalho em equipa. Eu costumo usar aqueles termos que por vezes

achas engraçado e costumo dizer que nós podemos ter o melhor jogador do mundo numa

equipa de 11 elementos, mas todos têm que jogar.

Investigadora: Pois …

Paulo: Porque senão ele sozinho não consegue fazer nada.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E o CTP aí contem um papel muito importante. Foca muito o trabalho em equipa, junta

muito as pessoas e através disso conseguimos passar a nossa mensagem.

Investigadora: Mensagem… ok. A … Como é que tu distinguias a formação que é dada aqui da

formação que é promovida, por exemplo, pelos Recursos Humanos, e dada por … em articulação

com outras entidades formadoras, por exemplo a Academia de Formação? Tu que já passaste

por essas formações também, como é que tu distinguirias?

Paulo: A diferença … bom, a diferença principal para já que eu acho da … da… da entre o CTP e

a, as outras formações, é que esta é mesmo direcionada para as áreas específicas. Temos

formações direcionadas para aquele tipo de pessoas …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: As pessoas da Montagem Final têm uma formação específica para a Montagem Final;

pessoas de Body têm uma formação específica para o Body. Não é aquela … aquele tipo de

formação generalista …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: … em que não sei bem se se aplica a mim se para o meu colega.

Investigadora: Certo.

Paulo: A … é específico, aquela pessoa. Isto é a grande diferença que eu vejo neste tipo de …do

CTP …

Investigadora: Hum, hum …

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Paulo: … para, por exemplo, uma Academia de Formação em que dão boa formação, mas é mais

generalista, vá lá.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E esta é mais específica.

Investigadora: E essa também é a perceção que tens através dos formandos?

Paulo: Exato.

Investigadora: Dos … trabalhadores que vêm aqui fazer formação.

Paulo: Exato, exato.

Investigadora: Também é essa a sensação que eles transmitem?

Paulo: É.

Investigadora: Certo. Ok. Olha, tu sabes como é que são organizados os grupos de formação, eu

também sei, mas …vamos falar só um bocadinho sobre isso mais só para esclarecer algumas

coisas, sobretudo no que diz respeito às dificuldades que por vezes surgem. Portanto, os grupos

são constituídos, a ... tu sabes como, a ... fala-me um bocadinho disso. Como é que eles são

constituídos e que problemas é que problemas é que isso às vezes traz?

Paulo: Grupos de formação ou de formadores?

Investigadora: Formandos. Estamos a falar de grupos de formação …

Paulo: Formandos …

Investigadora: Sim.

Paulo: A … no nosso caso, e … é muito difícil es … dado que, são operadores de linha …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: Que estão des … destinados a um certo e determinado posto de trabalho. Para retirar

uma pessoa de um posto de trabalho e colocar, por exemplo, 5 dias em Fundamental Skills, é

muito. Tem que haver alguém que o vá substituir.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Se eu necessito de 10 pessoas diárias, tem que haver um excedente de dez pessoas …

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Investigadora: O que pode ser complicado …

Paulo: Exatamente. O que se torna muito complicado muitas vezes, é não haver pessoas que

possam substituir naqueles postos de trabalho para libertar esse grupo para ter formação. É aí

a nossa grande dificuldade. Por vezes.

Investigadora: E … e sobre a heterogeneidade do grupo, ou seja o facto de às vezes o grupo ser

constituído por pessoas … não estou a falar dos Fundamental Skills, estou a falar das outras mais

genéricas, não …

Paulo: Mais genéricas …

Investigadora: … serem constituídos por pessoas que vêm de outras áreas, para além da

Produção. Achas isso uma mais-valia …?

Paulo: É, eu acho uma mais-valia, porque dá a conhecer a … a áreas de departamento de apoio

aquilo, a nossa realidade, aquilo que se passa no nosso dia-a-dia, têm acesso a determinados

pontos da fábrica porque, por exemplo, uma pessoa dos Recursos Humanos não tem noção de

certos e determinados problemas que se passam no Body ou na Pintura, e assim ao termos um

grupo que abrange todas as áreas da fábrica, conseguimos focar um bocadinho de cada área e

aí as pessoas tomarem conhecimento, vá lá … generalista, sobre alguns problemas do chão de

fábrica.

Investigadora: Do chão de fábrica, e isso é importante …

Paulo: É muito importante.

Investigadora: Achas que melhora também a …

Paulo: Melhora …

Investigadora: … a visão e … o desempenho das pessoas …

Paulo: … melhora, até mesmo o diálogo por vezes entre áreas.

Investigadora: Hum, hum… Pois de facto isso é …

Paulo: As áreas conheçam os pro …a … umas às outras de forma diferente.

Investigadora: Certo. E isso é …

Paulo: “Ah, eu pensava que aquela área era melhor que a minha” … não.

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Investigadora: Hum.

Paulo: Às vezes é um engano.

Investigadora: Portanto, a formação também serve um bocadinho para as pessoas dialogarem

sobre a realidade da fábrica …

Paulo: Exatamente. E terem um conhecimento geral de todas as áreas da fábrica. Porque …

sabes que há áreas restritas nesta fábrica …

Investigadora: Claro …

Paulo: … que nem toda a gente tem acesso, e através da formação conseguimos abrir um

bocadinho a janela …

Investigadora: … hum, hum …

Paulo: … e transmitir um pouco daquilo que se passa em todas as áreas.

Investigadora: Boa, boa. Olha, a … como é que tu vês o futuro do CTP em termos de volume de

formação? Achas que vai continuar a crescer? Ele tem vindo a crescer, não é?

Paulo: Tem vindo a crescer a … não sei se tiveste dados, os dados deste ano se tiveste acesso,

mas quando chegámos a meio do ano já tínhamos …

Investigadora: … já tinham ultrapassado as metas.

Paulo: … hum, a meta …

Investigadora: Já sei, já sei …

Paulo: … a, o que é muito bom a … vejo um bom futuro, muito trabalhoso para nós. (risos)

Investigadora: (risos)

Paulo: Muito trabalhoso para nós, mau para a fábrica.

Investigadora: Certo. Explica lá um bocadinho melhor isso …

Paulo: Porquê? Vai … vai haver um decréscimo de Produção, vai haver um excedente de pessoas.

Investigadora: Hum, hum. Portante aquele problema que tu colocavas há bocadinho …

Paulo: … há pouco, vai deixar de existir.

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Investigadora: E vai ser o problema ao contrário …

Paulo: Vai, exato. Onde é que essas, onde é que o excedente de pessoas virá cair? Virá cair na

formação. O que é muito bom, o que é muito bom para nós e para as pessoas, o que é mau para

a fábrica.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Temos que ver as coisas do ponto de vista global. Para mim, a … seria bom era estarmos

sempre com o mesmo nível e Produção e termos cá as pessoas em formação.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Para termos um excedente de pessoas em formação, algo corre mal na produção…

Investigadora: … na produção. Ninguém sabe. Vocês têm essa noção, da relação entre a

formação e a …

Paulo: Exatamente. Exato …

Investigadora: … e a Produção.

Paulo: Epa, somos pessoas que viemos de lá de dentro …

Investigadora: Claro.

Paulo: Eu costumo dizer que estamos um bocadinho de fora, mas não.

Investigadora: Hum.

Paulo: Estamos lá fora cá dentro!

Investigadora: … lá fora cá dentro!

Paulo: E então temos essa noção, a gente sabe, daí … uma vantagem das pessoas de linha,

pessoas de Produção que estão na formação, sabem sempre os problemas que existem nas

áreas em mandarem pessoas para a formação!

Investigadora: Claro.

Paulo: A gente já sabe, só vêm pessoas para a formação se houver excedente. Não há área

nenhuma que vá libertar pessoas para formação e depois não tenha pessoas para produzir.

Investigadora: Precisamente. É evidente …

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Paulo: Não faz sentido!

Investigadora: Claro, claro …

Paulo: Então o futuro, o futuro próximo e que espero que seja não muito prolongado, mas os

dois próximos anos vão ser dois anos com muita formação nesta casa.

Investigadora: Hum, hum. A … Paulo, queria-te agora falar um bocadinho sobre … a forma como

esta, como esta formação chega até ao CTP. São vocês na … ou melhor, eu tenho conhecimento

que não são vocês que definem os referenciais de formação, portanto os planos de formação

vêm …

Paulo: Vêm de Wo … vêm da casa-mãe.

Investigadora: Da casa-mãe.

Paulo: Da casa-mãe … a … pegando um pouco no conceito da TT …

Investigadora: Hum …

Paulo: … e já que quer ser líder mundial, tem que ser …

Investigadora: … convém aprender …

Paulo: … exactamente, com aqueles que já o atingiram há algum tempo …

Investigadora: Pois …

Paulo: … chegou à conclusão que para atingir um elevado número de produção com um certo

grau de qualidade, as pessoas têm que ter formação. E têm que ter formação segundo uns

princ… uns padrões.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: E então criou em todas as fábricas os Centros de Treino, com formações específicas,

standard. A formação que é dada na ATRP, é dada em todas as fábricas do Grupo. Nos mesmos

moldes.

Investigadora: E é igual?

Paulo: Igual. Varia a linguagem.

Investigadora: Varia a linguagem. E os instrumentos de treino?

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Paulo: São precisamente iguais. Adaptados apenas aos modelos de cada fábrica …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: Mas, é precisamente igual. Aquilo que tiveste oportunidade de ver aqui, vais a Hannover

vês igual, vais a Espanha vês igual, e agora tens o exemplo dos colegas do Brasil …

Investigadora: Que vieram cá …

Paulo: … que vieram cá ver o que é que nós temos para fazer igual e dar da mesma forma.

Investigadora: Certo. Ok. Então e vocês quando detetam que alguma coisa poderia ser mudada

na formação, relativamente aos padrões que vos chegam às mãos, fazem essas adaptações, ou

não?

Paulo: às vezes, se não fugir muito do standard …

Investigadora: … do standard … exato, hum, hum …

Paulo: … fazemos as nossas, ou seja metemos a nossa … o nosso toque pessoal.

Investigadora: Certo.

Paulo: Mas não podemos fugir muito do standard.

Investigadora: Certo.

Paulo: … do standard da Marca.

Investigadora: Isso numa lógica de melhoria contínua, é isso?

Paulo: Sim.

Investigadora: E depois vocês reportam? A … à casa-mãe antes de … ou sugestões de melhoria…

Paulo: Sim. Viste a nossa linha de LEGO?

Investigadora: Sim, fiz. Vi e fiz, sim.

Paulo: Gostaste?

Investigadora: Muito. Achei muito interessante.

Paulo: Aquela linha foi construída … também tem lá o meu toque pessoal.

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Investigadora: Hum, hum …

Paulo: E viste que o carro anda num tapete?

Investigadora: Certo.

Paulo: Foi a primeira fábrica do Grupo em que a linha, o carro anda num tapete.

Investigadora: Ai que engraçado, não andava num tapete?

Paulo: Não, os tabuleiros eram passados de mão em mão …

Investigadora: À mão. Certo.

Paulo: E eu disse assim: “Não faz sentido estarmos a fazer uma simulação de uma linha real,

dado que vamos arrancar com uma linha única com um tapete, porque é que nós não colocamos

o carro a andar no tapete?”. “Olhe, boa ideia.” Fizemos o tapete, automatizamos a linha, só que

depois tivemos que participar à casa-mãe.

Investigadora: Certo.

Paulo: A casa-mãe achou uma ideia excelente, pediu-nos todos os dados, todo, todo o esquema

do processo …

Investigadora: Certo.

Paulo: … e mandou implementar nas outras fábricas …

Investigadora: Muito interessante.

Paulo: …aquilo que nós fizemos com a nossa linha de L.E.G.O.

Investigadora: Muito interessante, porque isso é mesmo então uma lógica de diálogo …

Paulo: … e de melhoria.

Investigadora: De melhoria contínua.

Paulo: E de melhoria contínua.

Investigadora: Certo.

Paulo: Aproveitar aquela ideia e desenvolver para todas as outras fábricas.

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Investigadora: Vocês têm muito essa preocupação metodológica? Quando detetam que alguma

coisa não é muito adaptável aqui à realidade, têm a preocupação e dialogar uns com os outros?

Paulo: Sim.

Investigadora: … para melhorar?

Paulo: Temos, temos. Esse é um ponto que é muito importante.

Investigadora: Também existe trabalho de equipa entre os formadores …

Paulo: Exatamente. Não faz sentido estarmos a falar de algo que não, que não tem assim grande

cabimento.

Investigadora: Certo.

Paulo: Temos que ajustar e … sermos objetivos.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Adaptar aquilo que nos faz falta.

Investigadora: Portanto, não faz sentido falar de coisas que não têm cabimento, melhor é

ajustar.

Paulo: Claro, ajustar.

Investigadora: Não é? Dialogando entre vocês … ok. A … olha, como é que feita aqui a avaliação

da formação?

Paulo: A avaliação da formação, logo … a primeira logo a avaliação da formação é feita pelos

formandos.

Investigadora: Certo.

Paulo: Eles são os primeiros a avaliar a formação, através daquele feedback …

Investigadora: … que é feito no final, que eu vi …

Paulo: … através de um formulário que eles têm que preencher …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: … que depois é entregue nos Recursos Humanos …

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Investigadora: Hum, hum …

Paulo: … aquele feedback passa por nós mas é entregue nos Recursos Humanos, com a avaliação

do formador.

Investigadora: Certo.

Paulo: Depois, a nível de fábrica, a … ainda há pouco o meu colega do Brasil me perguntou como

é que nós sabíamos se estávamos a ter resultados ou não.

Investigadora: Isso é uma questão muito importante, como é que vocês sabem?

Paulo: Como é que nós sabemos…? Nós sabemos através dos resultados finais da Qualidade …

Investigadora: Hum … hum, hum.

Paulo: … e conseguimos passar de … CRC de, são carros bem feitos à primeira, de 75% para 84%,

por exemplo.

Investigadora: E acham que isso tem uma relação direta …

Paulo: E … Exatamente, com a formação.

Investigadora: Hum, hum.

Paulo: Através da formação nós conseguimos melhorar bastante os nossos padrões superiores.

Investigadora: Interessante. E relativamente à vossa própria avaliação enquanto trabalhadores?

Paulo: A … no feedback também que os formandos fazem, está a avaliação da formação e tem

uma parte que faz a avaliação do formador.

Investigadora: Do formador. (em simultâneo com o Paulo)

Paulo: Através daquele feedback nós conseguimos ver quais são os pontos que temos a

melhorar.

Investigadora: E vocês são avaliados em função disso?

Paulo: Também.

Investigadora: Também?

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Paulo: Também, dado que a … faz parte vais chegar à nossa chefia a avaliação dos formandos e

através disso, dessa avaliação dos formandos eles conseguem fazer o plano de avaliação…

Investigadora: Certo.

Paulo: dos formadores…

Investigadora: Dos formadores, não é? Portanto, vocês são avaliados pelas metas concretas …

Paulo: Exatamente …

Investigadora: …pelo volume de formação, que como disseste há bocadinho é ultrapassado logo

a meio do ano … não é?

Paulo: Exato, o que é muito bom.

Investigadora: E depois … e depois também pela … reação dos formandos à própria …

Paulo: … dos formandos à própria a … à própria formação.

Investigadora: Hum… formação.

Paulo: Como é que o formador reage perante um …

Investigadora: … hum, hum. OK. Depois por outro lado há então esse lado da avaliação dos

resultados que é vocês perceberem na linha como é que os resultados melhoraram …

Paulo: Exatamente, no campo.

Investigadora: … em termos de qualidade, em função da formação.

Paulo: … no campo, no campo.

Investigadora: Certo. Muito interessante. Olha, a … eu penso que tu já focaste um bocadinho

esta questão, mas queria só aprofundar um bocadinho mais, a … quais são para ti as grandes

finalidades aqui da formação do CTP?

Paulo: A finalidade principal de todas estas formações, tem como objetivo o Sistema de

Produção … da Marca …

Investigadora: Hum … em termos quê, de conceitos …?

Paulo: De conceito, ideologia …

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Investigadora: Hum, hum …

Paulo: … e há um ponto que é muito focado em todas as formações que tem a ver com a

estandardização.

Investigadora: Certo …

Paulo: A … existe um grande, um … como é que hei-de dizer... (pausa prolongada) falta-me a

palavra … um dos objetivos da Marca é que todas as fábricas trabalhem de uma forma standard.

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: Standard seja aplicado em todas as fábricas, todos os processos sejam, sejam iguais em

todas as fábricas dado que … é que vamos ter agora uma plataforma standard para todos os

carros.

Investigadora: Uma plataforma? Como assim?

Paulo: A … igual, todos os carros vão partir, vão nascer da mesma plataforma, foi criado um

standard para todas as plataformas dos carros da Marca, daí veres a importância que eles dão

aos standards. Portanto, estandardizar o produto, estandardizar a fábrica e estandardizar os

meios de fabrico.

Investigadora: Certo.

Paulo: Aí é que está o grande objetivo da, da Marca, e é o grande objetivo da formação, é

trabalharmos os standards.

Investigadora: E na lógica … e qual é o objetivo que tu achas que está por detrás disso? Paulo,

já agora, perguntava a tua opinião.

Paulo: Eu diria que é uma melhoria a nível de qualidade …

Investigadora: Hum, hum …

Paulo: … e produzir a mais baixo custo.

Investigadora: Hum, ok.

Paulo: Tem a ver com custos de produção e melhoria dos padrões de qualidade. Se trabalharmos

com uma base em standards, conseguimos rapidamente identificar os nossos problemas.

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Investigadora: Pois, faz sentido… ok. A … olha a … vocês têm conhecimento, enquanto

formadores, como é que são definidas as metas anuais de formação para o CTP?

Paulo: Sim. A … geralmente no início do ano fazemos, temos uma reunião com, com a chefia,

onde é apresentado o programa anual … (barulho de fundo não permite perceber uma palavra)

e lá aparecem os números, os objetivos da … para a formação do nosso, para o ano inteiro.

Investigadora: Ok. Depois o António divide por …

Paulo: Exatamente…

Investigadora: … pela equipa de formadores…?

Paulo: … por áreas

Investigadora: Por áreas.

Paulo: Por áreas. Cada área, é claro que estou a falar nas formações específicas … das áreas …

Investigadora: Sim …

Paulo: … nem todas as áreas têm o mesmo número de pessoas, há áreas que têm mais horas de

formação, outras que têm menos.

Investigadora: Como a Montagem Final …

Paulo: Exato.

Investigadora: … por exemplo…

Paulo: … têm duas mil e, dois mil e tal operadores …

Investigadora: Claro …

Paulo: … e as Prensas têm 120.

Investigadora: Pois com certeza. Hão-de ter menos …

Paulo: … horas de …

Investigadora: …horas de formação.

Paulo: … horas de formação (investigadora e Paulo em simultâneo). Têm que ser divididas …

Investigadora: Claro.

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Paulo: … mediante o público-alvo.

Investigadora: Certo. Olha, assim antes de acabar ia-te fazer um desafio. Se te, se tu quisesses

caracterizar a formação do CTP numa ou duas palavras, quais é que tu escolhias, por exemplo,

se quisesses completar a frase: ” A formação do CTP é …”

Paulo: Best in Class.

Investigadora: É quê?

Paulo: Best in Class.

Investigadora: Best in Class… Explica lá um bocadinho isso.

Paulo: A … é muito boa.

Investigadora: É muito boa. Muito bem.

Paulo: É muito boa. A … fiquei satisfeito com este tipo de formação, e a forma como nós estamos

a passar e, fico muito satisfeito com o feedback de algumas pessoas.

Investigadora: Das pessoas …

Paulo: Isso é o fundamental, já que a formação é para as pessoas a … fico, sinto-me realizado

quando chego ao fim de uma formação e vejo que o feedback é muito positivo, as pessoas …

Investigadora: O que é que eles costumam dizer?

Paulo: Ficam satisfeitos, nunca … para já a pessoa quando entra aqui entra pouco recetivo,

porque julga que é daquelas formações de “encher balão”, de “encher pneu”, como se diz na

gíria (risos de ambos). É! A … estou a falar na linguagem, de linha…

Investigadora: Sim …

Paulo: … e depois veem que são abordados aqueles assuntos que eles nunca imaginariam e que

são usados no dia-a-dia!

Investigadora: Certo.

Paulo: Eles ficam extremamente satisfeitos, e toda a gente diz, mesmo as pessoas que cá estão

há 20 anos como eu nesta casa, “Eu aprendi algo.” Isso …

Investigadora: Isso é muito importante, não é?

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Paulo: É muito importante. E deixa-me muito satisfeito.

Investigadora: É para continuares aqui?

Paulo: É para continuar, exato.

Investigadora: Se tivesses que escolher entre continuares aqui e voltares à linha?

Paulo: A … a linha tinha de me fazer uma proposta muito interessante!

Investigadora: Tinha de te fazer uma proposta muito interessante, não é? (em simultâneo com

o final da frase do Paulo, entre sorrisos de ambos.) Olha, Paulo, queres acrescentar alguma

coisa?

Paulo: A … não.

Investigadora: Não?

Paulo: Desejo-te as maiores felicidades.

Investigadora: Ah, obrigada, obrigada.

Paulo: Que tudo corra bem…

Investigadora: Eu é que tenho a agradecer, Paulo, que isto… sei que às vezes pode ser …

Paulo: Espero que o meu contributo que tenha sido …

Investigadora: Foi, foi, seguramente!

Paulo: … uma mais-valia …

Investigadora: Como formador, e foste o “meu” formador (risos)…

Paulo: Como mais valia espero que o meu contributo …

Investigadora: Agradeço imenso. Agradeço imenso a disponibilidade. Agradeço imenso a

objetividade com que respondeste às coisas que eu te fui perguntando …

Paulo: (ininteligível o que diz)

Investigadora: Foste bastante sintético e muito, e muito concreto naquilo que disseste …

Paulo: Isso a … não sei se é uma particularidade minha, não gosto muito da (faz movimentos

circulares com as mãos, indicando conversa “enrolada”)

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Investigadora: Não, foi …

Paulo: …mesmo, como te disse …

Investigadora: … não, foi excelente.

Paulo: … eu a dar a formação, eu a dar a formação, a …

Investigadora: És um homem das práticas, como tu dizes, não é?

Paulo: Exato, exato. Temos que ser práticos e objetivos.

Investigadora: Sim, sim … isso nota-se. Muito obrigada, está bem?

Paulo: De nada.

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ANEXO 4 – ENTREVISTA A FORMADOR DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO

Investigadora: Marco1, olha … em primeiro lugar queria-te agradecer a disponibilidade para

fazeres esta entrevista, queria-te explicar que a entrevista não é propriamente uma entrevista

de recolha extensiva de dados, na medida em que já estive aqui cerca de um ano e meio a

observar. É mais uma entrevista de confirmação de algumas coisas que eu fui percebendo e

também de recolha de alguma informação mais a título pessoal. Queria-te garantir que os dados

são confidenciais, são apenas usados para o estudo em causa, não vou usar os dados para mais

nada e que o teu nome será substituído e mantido no anonimato, portanto, as entrevistas

seguem esta lógica e … e é para te assegurar mesmo essa confidencialidade e o anonimato. Ok?

A primeira questão eu te queria colocar, é uma questão muito genérica, e que tem a ver com o

teu percurso até chegares aqui ao CTP. Se tu não te importares, falavas-me um bocadinho sobre

esse percurso até chegares aqui?

Marco: A pergunta que eu te faço também é, o meu percurso a nível só, a nível da ATRP, ou o

meu percurso externo, antes da ATRP? Também é importante, se calhar, não sei se será, se não

é.

Investigadora: A mim interessam-me as duas coisas …

Marco: As duas coisas.

Investigadora: Começas por onde achares melhor.

Marco: Bom, digamos que o meu percurso profissional começou há muitos anos atrás, comecei

por trabalhar na Força Aérea, onde tirei um curso de mecânico de material aéreo e digamos que

foi a minha escola para tudo aquilo que, ou grande parte daquilo que eu faço nos dias de hoje.

Tive lá cinco anos, fui mecânico de motores, C730, depois fui para o voo, andei, fui tripulante

1 Todos os nomes de pessoas e empresas mencionadas ao longo da entrevista foram substituídos por nomes fictícios.

Data de realização da entrevista: 04 de dezembro de 2012

Duração: 39m 37seg

Local: Centro de Treino da Produção (CTP)

Entrevistado: Formador do CTP

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durante dois anos e meio, e digamos que foi uma grande escola que eu tive, mesmo a nível de

disciplina e de rigor para aquilo que nós fazemos aqui, que é o que se pretende transmitir às

pessoas. Depois, andei dois anitos um bocado perdido, ou seja, saí da Força Aérea e fui para o

Aeroporto trabalhar, mas aquilo não correu lá muito bem. Digamos que aí foi só mais o

conhecer, o ter o know-how de como é que funciona o Aeroporto … a, existe muita pressão lá,

não tenho dúvidas nenhumas, se aqui existe, lá também existe, até que, em 96, eu vim para a

ATRP. Vim às escuras, posso dizer que nunca tinha visto uma fábrica de automóveis, concorri à

ATRP e, a … apresentei o meu currículo. Poderá ter sido uma mais-valia, de tal forma que, eu fiz

os psicotécnicos e depois … vim logo para uma área de reparações. Ou seja, eu não entrei

diretamente para uma linha, entrei para uma área de reparações, que era o LCD, onde me

mantive um ano e tal a trabalhar, e que fazia grandes reparações, ou seja, fazia reparações do

género de substituir caixas de velocidades, motores, tudo o que tinha a ver com mecânica, nós

cá dentro chamamos chassi. A … depois essa área foi absorvida pela zona 15, que é uma área

idêntica a esta que eu tinha falado, onde me mantive a trabalhar praticamente até vir para o

CTP. O que aconteceu durante estes anos todos em que eu estive na zona 15, digamos que passei

por vários, dentro da zona 15, que era uma área de reparações, passei por várias áreas, ou seja,

tive em reparações de chassi, em reparações de tream, reparações elétricas, reparações de ar

condicionado, portanto isto sempre relacionado com o carro. Em, 2005, a … fui para a linha, não

quer dizer que eu nunca tivesse estado na linha, mas fui para a linha três meses, porque havia

excesso de pessoas na zona onde eu estava e, para não mandarem as pessoas embora, íamos

para a linha. Estive três meses, foram três meses que foram esgotantes a nível físico, mas foram

… digamos muito interessantes a nível profissional, porque deu para assimilar o que é a linha. A

linha, existe um grande espírito de camaradagem, estamos muito restritos ao tempo, sete horas

são sete horas, não é sete e um nem sete e dois, e cá está, talvez daí a tal história de disciplina

que eu trouxe da Força Aérea, para mim isto não me ser estranho, a … depois estive três meses

lá e regressei novamente à zona 15. Em setembro desse ano, o meu chefe disse-me que eu ia

começar a fazer reparações nos carros matriculados, ou seja, desde 2005 até 2009, eu estive a

fazer reparações nos carros matriculados. O que é que são os carros matriculados? São aqueles

carros que foram produzidos na nossa fábrica, eram matriculados por mim, fazia as revisões,

fazia as reparações de avarias, e estive neste serviço até 2009, altura em que ingressei no CTP,

e desde 2009, vai agora em janeiro fazer 4 anos, estou aqui como formador a … para mim é uma

experiência nova e se me perguntassem há 5 anos que eu iria ser formador, garantidamente a

resposta era não. Era, de certeza absoluta, era isso que eu responderia.

Investigadora: E agora? Se te perguntassem se tu querias voltar…

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Marco: Se eu queria voltar à produção?

Investigadora: Ao teu trabalho anterior …

Marco: Claro que não vou dizer que não, nem vou dizer que sim. Como perspetiva de carreira,

não … para voltar para a produção e eventualmente fazer aquilo que fazia … não diria que não,

mas gostaria de subir um pouquinho mais,

Investigadora: Hum, hum …

Marco: Porque isto a gente tem objetivos na vida. Enquanto estava nas reparações, o meu

objetivo era chegar ao topo de carreira como reparador, mas a partir do momento que venho

para aqui, o topo de carreira já passa a ser um bocadinho mais acima, claro que a gente vai

tentar atingir esse degrau. Se eu gostava de voltar à produção? A … não.

Investigadora: Não. (risos de ambos)

Marco: Digamos que … não, porquê? Eu estive desde 2005 até agora, embora tivesse ligado à

produção, eu já não trabalhava para a produção.

Investigadora: Hum, hum …

Marco: Eu estava a trabalhar para os Recursos Humanos em que … as coisas não estavam

dependentes de outras pessoas, eu sabia o que é que tinha de fazer, a equipa com quem eu

trabalhava era uma equipa pequena, mas todos nós sabíamos o que é que tínhamos de fazer,

não precisava que me mandassem fazer algo, eu sabia que tinha de fazer aquilo, acabava, ia

buscar outro serviço …

Investigadora: Pois …

Marco: … e assim sucessivamente. Ou seja, havia um bom espírito de equipa. Só que este serviço

depois passou para a alçada da AVSN, e eu vim para este departamento.

Investigadora: Olha, consegues resumir-me agora um pouco o teu percurso escolar ou

académico?

Marco: Sim, posso dizer que … mais ou menos … portanto eu tenho o 12º, concluí-o com o RVCC,

faltava-me uma disciplina de 11º e as três de 12º, na altura em que eu fiz o 12º eram só três

disciplinas. A … comecei na altura, fiz até ao 9º ano sem grandes problemas, embora as médias

não fossem assim grandes … grandes médias, mas andava na ordem dos 13, 14, a … e depois fui

para o 10º ano, e esse 10º ano digamos que … obcecado pela história da Força Aérea, fui para

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uma área que era a Saúde, na altura era Científico-Naturais, a Área A, a … não correu bem, não

correu porque … eu queria ser piloto, tinha que ter a Área A, só que as disciplinas eram muito

duras, tinha … duras, quer dizer, difíceis, e tinha que ter por exemplo Matemática, Física e

Química, digamos que não são disciplinas fáceis. Resolvi voltar atrás, ou seja, considerei aquele

ano como perdido, voltei ao 10º ano novamente para a Área B, e entrei na altura para uma área

de Científico-Tecnológica, que era a área de Construção Civil, entrei na área de construção civil,

mas como, sempre com segunda intenção de ir para a Força Aérea, e depois para,

eventualmente, ir para um técnico. Só que as médias eram muito altas, e apesar de eu ter uma

média de … à opção de específica de 15 … 15, não … 15, exatamente, 15 ou 17, agora já não me

lembro, mas tinha as outras disciplinas por trás, que eram Matemáticas e Físicas, que andavam

dos 12 e 13 e não deu para entrar no técnico, que eram 16 ou 17 na altura …

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Era muito alto, Não entrei, ficou por aí. Inscrevi-me na Força Aérea e pronto, a partir daí

… foi o meu percurso.

Investigadora: Fizeste o RVCC há quanto tempo?

Marco: Olha, fiz o RVCC na altura em que vim aqui para o departamento, foi em 2009, e foi salvo

erro com a equipa da “Bússola” do CNO do Seixal.

Investigadora: Hum, hum… ok. Fizeste mesmo o RVCC ou fizeste substituição das disciplinas em

falta por módulos de formação?

Marco: Não, não, não fiz em módulos. É, o meu objetivo seria fazer por módulos, eu poderia de

fazer, salvo erro, quatro, até cinco módulos, mas eu não optei porquê? Porque cada módulo,

salvo erro, eram 50 horas …

Investigadora: Sim …

Marco: E eu teria de disponibilizar 200 horas. Ora na altura estava a arrancar aqui no Centro de

Treino, sempre à tarde, os módulos eram à tarde, ou seja, era incompatível, o horário que eu

tinha aqui com o horário que eu teria que frequentar lá no CNO, neste caso, seria no Seixal …

optei por fazer o RVCC. Eu preferia ter feito os módulos …

Investigadora: Hum, hum.

Marco: Garantidamente teria tido algo mais interessante, assim tive que expor ... expor, não,

não vou dizer expor, tive que contar a história da minha vida …

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Investigadora: Certo.

Marco: … a ver se … se era certificado, não é certificado, se era reconhecido.

Investigadora: Sim, sim. Reconhecido, validado, certificado.

Marco: Exatamente … de, as equivalências, e fui, pronto. Pensei que era mais complicado, mas

não…

Investigadora: Não foi muito complicado. Olha, Marco, e aqui, e no âmbito do teu trabalho na

ATRP, até chegares ao CTP, e depois do CTP … podes-me falar um bocadinho da formação

profissional eu foste tendo? Do que te, agora, recordares?

Marco: A nível interno?

Investigadora: Sim.

Marco: É assim, eu posso dizer que em 97 eu fiz uma formação de 80 horas de hidráulica,

pneumática e eletrónica. Tudo isto porquê? Na altura estava na área de reparações, como eu te

disse, e foi uma altura em que … a … para subir de … de … de nível salarial eu teria de ter alguma

formação deste género.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: E fui fazer essa formação. Tirando essa, tive algumas formações ministradas pela

Academia de Formação, na altura, por colegas meus que trabalhavam cá, que foi o PQO,

também tive 16 horas, a … tive o TPM, tive os 5s, as URQs, são aquelas que me … aquelas

formações de que eu me recordo agora. Tirando isso, depois há aquelas formações do TOJ, que

é o Training on Job, mas que não … é apenas aprender um posto de trabalho.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: E depois de estares aqui no CTP? Ou melhor, para desenvolveres estas funções, tiveste

alguma formação específica?

Marco: Exatamente. Portanto, para ser formador, tive que ir tirar o CAP.

Investigadora: Ok…

Marco: Foram 92 horas, portanto eu primeiro vim para cá e depois logo nessa semana fui tirar

o CAP. Foi uma formação que eu achei interessante, mas também, a … foi muito concentrada e

muito, muito teórica. Achei a formação … stressante, para mim foi muito stressante, uma

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formação stressante. Foram três semanas seguidas, afeta … digamos que eu sou uma pessoa um

pouco nervosa, vá, vamos dizer assim, e afetou-me com o sistema nervoso. Mas consegui, mas

foi a formação eu tive para vir a ser formador.

Investigadora: E fizeste essa formação onde? Desculpa interromper-te.

Marco: Aqui na ATRP, mas foi a Academia de Formação que a ministrou.

Investigadora: Certo, hum, hum…

Marco: Depois disso, a nível interno, não fiz mais nenhuma formação, ou seja, tenho muita

formação, mas sou eu que a ministro.

Investigadora: Hum, hum. (risos de ambos)

Marco: Depois, fiz agora há relativamente pouco tempo, há um ano, estive duas semanas em

Pamplona, a receber informação, ou formação, sobre uma formação eu estou a desenvolver

agora aqui no Centro de Treino, e em maio deste ano também fui três dias à Alemanha ter uma

formação de moderador de Kascade. Portanto, é mais ou menos as formações que eu tenho

tido aqui na ATRP. De resto, mais ou menos… não tenho tido mais nada.

Investigadora: Hum, hum. Destacas assim alguma que tenha sido mais importante, ou que tenha

influenciado mais o teu desempenho como formador?

Marco: O CAP foi importante.

Investigadora: Hum, hum …

Marco: O CAP é importante porque nos ensina técnicas de … como gerir uma formação, quebrar

alguns conflitos, porque existem às vezes nas formações, principalmente essas técnicas. O resto

depois vem com a experiência. E também … transmitiu-nos como é que as coisas funcionam, o

que é que são os conteúdos programáticos, o que é que são … o plano de sessão, coisas desse

género. Na altura não fazia a mínima ideia, como te disse eu vim de uma área de reparações,

duma produção, que não, nem sonhava a mínima ideia que viria a ser formador, agora

considero-me formador, na altura diria que não. A … agora mais recentemente, e lembrei-me

agora, ando a frequentar aulas de Inglês, tinha algum conhecimento de Inglês, mas achava que

estava um bocadinho fraquinho e então estou a tirar … os níveis de Inglês, já fiz o A1, agora

estou no A2, quero ver se faço as 40 horas de Conversação e o B2, ou seja, mas aqui mais como,

a nível pessoal do que a nível de formação, embora … tem ajudado bastante, porque quando fui

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à Alemanha, na Alemanha não falam alemão, como é óbvio, a formação lá foi em Inglês e já me

ajudou bastante. Porque a gente fala, fala, fala, mas …

Investigadora: É diferente, não é, é um Inglês mais, mais aperfeiçoado. Olha, e essa formação

de Inglês estás a fazê-la através aqui da ATRP com a Academia de Formação, é isso?

Marco: É, é. Estou a fazer a da ATRP, digamos que não me convidaram, eu fiz-me de convidado.

Investigadora: Certo. Hum, hum.

Marco: Mostrei interesse e estou a tirar na ATRP, também ali no edifício 10, a … o António

propôs-me, digamos que oficialmente foi assim que se passou e estou a tirar na Academia de

Formação com a formadora que é a Ana Fortunato.

Investigadora: Ok. Olha e que tipo de formação é que tu achas que poderias ou deverias ter, ou

que já sentiste falta ter, para aperfeiçoar ainda mais a tua função como formador aqui no CTP?

Ou achas que não … que neste momento não faz sentido ter mais formação?

Marco: Eu acho que … não, sentido faz sempre, formação é sempre bem-vinda, costumo dizer

até mesmo aos meus formandos …

(o barulho de fundo, decorrente de uma formação que se desenvolve no espaço contíguo àquele

em que estamos a realizar a entrevista, faz com que se interrompa a entrevista durante alguns

momentos)

Marco: A formação, a formação que eventualmente … (o barulho continua, embora com menos

intensidade) as formações todas elas fazem falta. Eu digo aos meus formandos quando estou

aqui, é assim: nós … (mais barulho de fundo) a … a formação … todas as formações são

importantes, eu costumo dizer que até uma formação de corte e costura pode ser importante,

o importante é que a gente a possa aplicar …

Investigadora: Aplicar …

Marco: Por exemplo, uma formação eu que gostava de ter aqui, e que não tive, talvez Gestão

de Conflitos, embora não tenha tido muitos conflitos…

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Mas não deixa de ser algo … (mais barulho de fundo, novamente mais elevado; um outro

formador entra na sala onde estamos a realizar a entrevista, pede desculpa porque não sabia

que estávamos aqui; formador Marco pede ao colega que peça aos outros para se acalmarem

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um pouco, porque “está a ser gravado, o que ele disse está a ser gravado”. Trocam mais algumas

palavras sobre a formação desse dia e o outro formador sai, pedindo desculpa pela interrupção.)

Investigadora: Estávamos a falar sobre a formação que gostavas de ter. Que achavas …

Marco: A Gestão de Conflitos, a … por exemplo, nós falamos muito aqui em MTM, que é o

Método de Medição de Tempos, neste caso, na indústria automóvel, a … não tenho nenhuma,

já se falou nisso, provavelmente virei a ter mas para já não a tenho. E o que é que isto é

interessante? Porque nós falamos muito em MTM, as linhas funcionam à base de MTM, e eu

não tenho essa formação, e às vezes estou a falar com os formandos e … como é que hei-de

dizer … sei, mas não tenho a certeza 100% …

Investigadora: Não tens conhecimento de causa, não é?

Marco: Não tenho conhecimento de causa. Embora, temos ali uma tabela, para calcular, mas a

gente não utiliza, só mostramos, só mostramos.

Investigadora: O MTM é exatamente o quê?

Marco: É um método, aquilo em inglês quer dizer Method Time Mesurement, ou seja medições

de tempo … métodos de medição de tempo. E isto … as linhas, hoje em dia, tudo funciona assim.

Para resumir é o seguinte: a Engenharia Industrial, que é a área onde eu pertenço, calcula que,

para montar esta peça, baseado neste estudo, demora 30 segundos, independentemente de eu

ser mais ágil ou menos ágil, eu tenho 30 segundos para montar aquela peça, ou seja, e a partir

deste momento aquela estação fica analisada por este estudo, tem 30 segundos para montar

aquela peça. Então, toda a gente tem de montar a peça em 30 segundos. E o MTM é um

bocadinho isto, é … o cálculo das cargas de trabalho, digamos assim.

Investigadora: Sim, sim. E em termos, só para encerrar este capítulo da formação pessoal e

profissional, em termos académicos, tens alguma perspetiva? Gostavas de voltar… um

bocadinho a uma escola de outro tipo, ou não passam por aí as tuas perspetivas?

Marco: Olha, eu vou-te dizer uma coisa … se a nível profissional me fizer falta, se calhar estou

predisposto a isso. Se eu achar que não me vai fazer falta, não.

Investigadora: Não.

Marco: Não. O que é que eu quero dizer com isto? Quer dizer que imaginemos que dizem isto:

“Olha, há uma possibilidade de seres promovido para isto”, algo deste género, “mas, tens de

começar a frequentar uma licenciatura.” Então aí, estou predisposto, não é. Agora, para já não.

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E posso explicar porquê. Como eu te disse o CAP foi algo que me custou um bocadinho, não

estava habituado já a este ambiente de estudo, embora agora as coisas já estejam melhores, e

foi porque eu tive vinte e tal anos sem estudar, desde … 89, 89 não, 86/87 foi quando estudei e

quando foi o tempo … digamos que o maior … a maior concentração de estudo foi nessa altura,

ou seja quando estive na Força Aérea, e posso dizer que em cinco meses, cinco meses, fiz 29

testes …

Investigadora: Meu Deus …

Marco: 29 testes. Foi nessa altura. Nessa altura não estudava, nessa altura já era aquilo que hoje

em dia chamamos computadores, eu memorizava, eu escrevia numa folha … só que estava

habituado a esse ritmo. Deixei isso, parei. Quando fiz o CAP, temos que ter algum estudo, temos

que preparar aquelas atividades para sermos avaliados, a … isso afetou um pouco comigo. Se eu

fosse começar a estudar agora, o que é que isto iria requerer? Um grande estudo novamente a

nível de Matemática, que está para trás e esquecida, Física e Química, porque sempre fui uma

pessoa digamos que uma pessoa ligada a este tipo de áreas, a … se eu tivesse que fazer isso, ou

seja, teria que perder muito tempo e garantidamente iria afetar a … a minha saúde. Eu não tenho

dúvidas nenhumas que ia afetar.

Investigadora: Certo, hum, hum…

Marco: E afeta, porque vim para cá, por exemplo agora já estou mais … mas ao princípio afetou.

Por exemplo, eu agora não concorri a uma vaga, que apareceu cá, porque, por isso mesmo,

porque tinha que … não quer dizer fosse aceite, mas não concorri porque me disseram logo

“Olha, atenção que existe muito stress aqui”, e eu não fui para lá por causa disso. E se calhar

podia ganhar ligeiramente mais do que ganho aqui, mas não concorri, só porque …

Investigadora: Não compensava …

Marco: Se calhar não compensaria. Agora se me disserem que, “Sim senhor, há esta perspetiva,

mas tens que frequentar, ou deverás …”, portanto, então aí tenho e pensar duas vezes. Mas em

condições normais…

Investigadora: Não.

Marco: Digamos que não.

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Investigadora: Certo. Olha, vamos mudar agora um bocadinho para o CTP, propriamente dito.

Do teu ponto de vista, e daquilo que tu tens conhecido do CTP desde que cá estás, e estás cá

desde o início, não é? Certo?

Marco: Sim, sim.

Investigadora: Qual é que é a importância que tu vês que o CTP tem na empresa? Enquanto

papel, funções…

Marco: Bem, primeiro que tudo é importante porque as pessoas tinham pouca formação e agora

têm algo aqui dentro da própria empresa, e uma das mais-valias do Centro de Treino é que os

formadores que cá estão são oriundos da empresa. E depois é transmitir às pessoas aquilo que

a empresa pretende, neste caso, o Grupo, qual é a estratégia do grupo, neste caso até 2018 e

esperamos que mais à frente. Eu acho que é importante por isso mesmo. Ou seja, além de

termos muito conhecimento das nossas linhas, transmitimos às pessoas o que é que a empresa

quer. Eu acho que nesse sentido é uma mais valia. Tínhamos antigamente muitos formadores

que vinham, externos … a … vêm falar de temas que, na teoria as coisas funcionam bem, mas

depois na prática não funcionam, só que eles não têm esse conhecimento de causa. Eu aqui

quando estou com … com as pessoas, eu digo-lhes “Isto é o ideal, mas sei que às vezes não se

passa, eu conheço o processo”. E de facto isso é importante e as pessoas que vêm cá às

formações gostam e é uma coisa que lhes agrada, é que os formadores que cá estão são oriundos

da casa, porque sabem o que é que se cá passa. Embora, as coisas, na teoria é uma coisa e na

prática, são outra. Mas os formadores externos, já não gostam tanto. Mas … eu acho que é

importante para a empresa, para já para dar a formação às … para formar as pessoas que cá

têm, em vez de mandarmos a formadores externos, tentamos formá-los. Há pessoas que

gostam, há outras que não gostam.

Investigadora: Há outras que não gostam…

Marco: É o caso de hoje então…

Investigadora: É? Hoje em particular, não?

Marco: De uma pessoa que está ali…

Investigadora: Ah. Certo.

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Marco: Porque … ontem chegou lá, a gente faz aquela apresentação inicial, “Então, diz-me...”,

portanto ele deu-me o percurso dele, o que é que fez, “Ah, mas as formações aqui é sempre a

mesma coisa, e querem é queimar horas, querem…”

Investigadora: Hum…

Marco: Pronto, “isto tudo porque recebem regalias do estado” … e eu assim “Pronto, está bem,

concordo contigo. Então, mas que tipo de formação é que gostarias de ter, era uma formação

técnica, era?”, “Sim, uma formação técnica.”; “Então dá-me lá um exemplo de uma formação

técnica que gostasses de ter?”, “Ah, agora não me lembro.”

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Ou seja, a …

Investigadora: Hoje está a decorrer os Lean Games, é isso?

Marco: Os Lean Games, exatamente. Ou seja, as pessoas, muitas vezes, não gostam, dizem que

não gostam, mas quando lhes perguntamos algo que gostassem de ter, também…

Investigadora: Também não sabem dizer?

Marco: Também não sabem responder. Ou seja, eu costumo dizer que são aquelas pessoas que

são do contra, e se calhar, há pouco quando eu falei de uma formação de Gestão de Conflito,

seria …

Investigadora: Nesse sentido, não é?

Marco: Nesse sentido. Isto não é fácil de gerir, e depois às vezes entre uns e outros, uns

concordam, outros não concordam e gera-se ali conflito e a gente tem que se pôr lá no meio,

mas … é importante, eu acho que é importante o Centro de Treino.

Investigadora: E, como tu sabes, melhor que eu, não é, há mais formação promovida pela

empresa, não é? De que modo é que tu achas que se distingue esta formação, da formação que

a empresa, através do Recursos Humanos, também promove?

Marco: De que forma se distingue? Bem, eu continuo a dizer eu isto não é uma formação técnica,

no geral, ou seja, salvo raras exceções, por exemplo, eu acho que a formação do Body, é uma

formação mais técnica, ensina as pessoas a trabalhar, tirando isso … a maior parte das formações

estão vocacionadas para mostrar os elementos metódicos que estão a ser aplicados atualmente

na empresa.

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Investigadora: Hum, hum.

Marco: Quer conceitos de ergonomia, de 5S, de estandardização, trocas rápidas de ferramenta,

e aqui não são formações técnicas, mas transmitir aquilo que nós fazemos cá na fábrica. Uns

fazem determinadas áreas, outros fazem noutras. Não vamos é ensinar as pessoas a reparar

carros, não vamos ensinar as pessoas a montar carros, damos é os conteúdos, neste caso os

elementos metódicos, que estão a ser implementados, ou seja, o simples facto de uma peça na

linha estar numa determinada posição é benéfico para o operador … do que antes estava, ou

seja, o elemento metódico, eu vou dizer “É preferível estar assim, porque vocês não vão mexer

na peça …” E isto é o elemento metódico que é o “one touch, one motion”, ou seja, pegamos na

peça uma vez e vamos montar. É conteúdos assim, não, não formações técnicas. Eu considero

que nós não damos formação técnica.

Investigadora: Hum, hum. Portanto, isso é uma das diferenças, não é, relativamente ao resto da

formação.

Marco: Embora a grande maioria de certeza preferisse formações técnicas, hidráulica,

pneumática, eletricidade …

Investigadora: Certo.

Marco: VAS, coisas deste género.

Investigadora: Mas essas continuam a ser dadas? Ou não? Pela empresa, via Academia de

Formação?

Marco: Eu penso que sim. Eu penso que sim, mas … não em grande quantidade. Não em grande

quantidade. A empresa está mais vocacionada agora em, tudo o que puder, enviar aqui para o

Centro de Treino. Neste caso, a empresa do Grupo, ATRP.

Investigadora: Diz-me, da tua experiência de formador, nós sabemos como é que são

organizados os grupos, também já conversei com o António sobre essa questão, e para ti a

questão era mais … era mais outra, que é: em termos da forma como são organizados os grupos,

que constrangimentos ou que problemas é que por vezes surgem e que vocês, como

formadores, têm de lidar? Os grupos são formados chamando pessoas da linha …

Marco: Sim…

Investigadora: Isso nem sempre é simples … e depois quando vocês recebem as pessoas, como

é que vocês fazem essa gestão?

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Marco: É assim, nós tentamos, por exemplo, eu pessoalmente, depende da formação, eu

prefiro, gosto de ter grupos mesclados, ou seja, Recursos Humanos, Finanças, Planeamento,

Linha, Body, Linha, quer dizer, Linha não, Montagem Final, Body …

Investigadora: Sim, sim…

Marco: E de preferência uma a duas pessoas destas áreas, de cada área destas, Porquê? A …

porque, para mostrar uns aos outros que todos nós temos problemas nas respetivas áreas. Os

Recursos Humanos, que está nos Recursos Humanos, tem problemas que não passa pela cabeça

às pessoas da linha de produção, as pessoas da linha de produção têm problemas, que não passa

na cabeça … e estas formações são vantajosas, para mim, e esses grupos assim, a … gosto de

trabalhar com esses grupos porque acaba por haver um diálogo, “Ah, isso é assim? Não pensei

que fosse assim.”. Nem sempre isso é possível, porque nós não, não, não somos nós que

escolhemos as pessoas, é aquilo que nos aparece cá. Ou seja, os coordenadores das áreas é que

definem quem é que vai mandar, só como título de curiosidade, por exemplo, o grupo que, neste

momento, tenho na sala, tenho 16 pessoas, são 5 da área de Body, 10 da Montagem Final, sendo

todos da mesma zona, portanto, ‘tás a ver …

Investigadora: Hum, hum.

Marco: O que é, o que é que isso contribui para uma formação … são 10 pessoas que têm todos

o mesmo problema …

Investigadora: Certo.

Marco: … que se queixam todos, e que vêm até com o chefe à formação (risos de ambos).

Investigadora: Estou a ver. Portanto …

Marco: Às vezes não é fácil de gerir isto, embora a gente tente proporcionar um bom diálogo

ali, é … tem que se mandar uma piada ou outra para quebrar o gelo, porque às vezes aquilo …

começa a fugir do caminho que nós traçamos, mas … para eles, para mim tem sempre interesse,

mas para eles não tem grande interesse porque são 10 pessoal do qual lidam todos os dias, do

outro lado tenho 5 pessoas, com o qual lidam todos os dias, 5 pessoas de produção, 10 pessoas

de produção. Uma pessoa das compras. Se esta pessoa das compras não for muito faladora …

Investigadora: Pois, os outros absorvem, não é?

Marco: Absorvem e não se apercebem.

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Investigadora: Mas os grupos não costumam ser tão grandes. Estás-me a falar de 16?

Marco: Estou a falar de 16 … depende dos dias.

Investigadora: Ah.

Marco: Depende dos dias.

Investigadora: Mas nos grupos que eu assisti …

Marco: Não.

Investigadora: … o número de pessoas era mais reduzido…

Marco: Claro que nós...

Investigadora: … rondava os 10, 12.

Marco: 10, 12.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: Às vezes temos 16, às vezes temos 17, o meu record é 17, a … perde-se um bocado.

Quando temos muita gente perde-se as pessoas.

Investigadora: Pois. Mas estão dois formadores sempre, não é?

Marco: Dois formadores. Mas não é por isso que se perde, os exercícios normalmente estão

divididos, sempre divididos em dois grupos…

Investigadora: Certo.

Marco: E normalmente só uma pessoa é que tem parte ativa no exercício.

Investigadora: Certo.

Marco: Embora nós motivemos a … tentamos motivar que a pessoa, as outras também

participem, mas é difícil, e quando os grupos são grandes, por exemplo, do género de hoje, que

temos 8 de um lado, 8 do outro, estão dois ou três a trabalhar e o que vai acontecer é que estão

os outros com conversas paralelas e a gente tenta que isso não aconteça, mas não é fácil.

Investigadora: Não é fácil. A … tu tens alguma ideia sobre … como é que será o futuro do volume

de formação aqui no CTP, achas que a tendência será de crescer? Será de manter? Será de

diminuir? Isso é conversado entre vocês, no CTP, com, com o coordenador, ou não?

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Marco: Nós, a … falamos, às vezes, não falamos muito, o que a gente sabe, normalmente, é

pelas reuniões de comunicação pelo Diretor da fábrica, e posso dizer que o volume de formação

previsto para o ano que vem vai ser muito, mesmo.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: Porquê? A produção vai baixar, é do conhecimento público, a produção vai baixar e … o

que é que vai acontecer, as linhas vão diminuir a velocidade, vão ter pessoas a mais e eles não

querem despedir ninguém, felizmente, não querem manter ninguém, como tal estão a optar

por enviar as pessoas para formação. Vão enviar, de certeza, para aqui muitas pessoas, mas nós,

eu, não sou o chefe aqui do Centro de Treino, mas tenho a certeza que nós não vamos ter

capacidade para absorver todas as pessoas que vão ficar livres. Mas sei que vamos ter muito

trabalho agora … no próximo ano. Mas não é um tema que a gente debata muito.

Investigadora: Não?

Marco: Sabemos, estimamos, e tal, mas não é um tema que a gente …

Investigadora: Mas é para continuar em força, não é?

Marco: Para já, sim.

Investigadora: Para já, sim. Ok. Já te fiz um bocadinho esta questão, tem a ver com o facto da

formação aqui do CTP ser diferente do resto da empresa, mas agora queria virar um bocadinho

mais para os, para os referenciais. Ou seja, os programas que vocês utilizam como … orientação

para, para ministrarem as formações, a … são, são, são programas que vos chegam às mãos já

feitos. Certo?

Marco: Sim, a grande maioria, sim.

Investigadora: O que é que vocês depois fazem com esses referenciais quando os recebem?

Marco: É assim, a gente tenta, normalmente recebemos esses programas e … normalmente vêm

sempre com uma linha condutora da Alemanha.

Investigadora: Certo…

Marco: Isto, nas formações que eles lá têm. E quando nós recebemos esses programas a gente

tenta adaptar às nossas, à nossa realidade, temos que fazer a produção das apresentações, e

nós tentamos adaptar à nossa realidade. O exemplo que eu te posso dar daquela que estou a

desenvolver, que é o Jogo do Camião, por exemplo, que eu fui assistir à formação em Espanha,

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e ele, e lá … como é que as coisas funcionavam? Lá as coisas foram ministradas mais ou menos

igual àquilo que têm na … Alemanha.

Investigadora: Certo…

Marco: Não foi? Eu disse que fui à Alemanha, não, eu fui a Espanha.

Investigadora: A Espanha.

Marco: A Espanha. Só que quando chego aqui, digamos que aquilo que se fala naquela formação

já está um bocadinho … obsoleto.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: Então eu tentei ser um bocadinho criativo, e estou a tentar criar nesta formação,

mantendo a linha condutora que eles lá têm, que é, na última ronda, eu criar um pick to light,

ou seja, nós não temos nenhuma formação, não temos … com pick to light, ou seja, pegar a peça

por onde a luz acende, e como neste momento a linha…

Investigadora: Ah, isso é que quer dizer pick to light.

Marco: Exatamente.

Investigadora: É pegar a peça por onde a luz acende.

Marco: Quando a luz acende, ou seja …

Investigadora: Ok. (risos de ambos)

Marco: pick to light, ou seja, o operador vai pegar na peça, ele lê com o código de barras, e ele

ao ler o código de barras, vai acender várias luzes nas racks …

Investigadora: Certo…

Marco: … e eles apenas têm de tirar as peças onde as luzes estão acesas. Na Alemanha, ou na,

em Espanha, quando eu lá estive, ele, a … a quarta ronda, neste caso, não era feita assim, a

quarta ronda era um painel e o operador teria que escolher sempre a peça por um papel. Então

eu aqui já adaptei essa formação à nossa realidade. Nós já temos muitos “supermercados” …

Investigadora: Sim, sim …

Marco: … próximo da produção, temos pick to lights, então nesta formação eu já utilizo o pick

to light.

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Investigadora: Já faz sentido, claro…

Marco: Embora nenhuma formação lá fora o tenha. Mas, nós também temos que ir…

Investigadora: Adaptando, não é?

Marco: Eu digo que temos que nos adaptar à nossa realidade, isto é formações o qual recebemos

os conteúdos lá de fora. Também temos formações em que não recebemos os conteúdos lá de

fora e que são criadas por nós. Nesta, estamos a falar por exemplo da Qualidade, que é a que o

João Ferreira está agora a fazer, esta formação digamos que foi desenvolvida por nós, e aqui

com o foco sempre daquilo que o Grupo quer, que é carros bem feitos à primeira, mas todos os

conteúdos teóricos, todos os conteúdos práticos foram desenvolvidos por nós …

Investigadora: … por vocês. Hum, hum. Essa formação do Camião é uma formação que, digamos

assim, recebeste a incumbência de pôr de pé, é isso?

Marco: Mais ou menos, sim. Eu fui ter, fui, fui receber a formação lá em Pamplona e digamos,

fiquei incumbido de … desenvolver a formação, está praticamente pronta para arrancar, já fiz

um try run aqui com …

Investigadora: Hum, hum.

Marco: … com a Engenharia Industrial, com alguns supervisores, e penso que para o ano, no

início do ano, vamos arrancar com ela, um bocadinho semelhante à do LEGO, com algumas

diferenças … com muitas diferenças, não vale a pena …

Investigadora: Já vi o LEGO, já vi o Camião, o Camião é um bocadinho maior que o, que era o

(risos de ambos) carro do LEGO…

Marco: É ligeiramente maior.

Investigadora: Mas é …

Marco: O princípio é a mesmo.

Investigadora: … a lógica é a mesma…

Marco: Embora, eu penso que se calhar vai causar polémica, a nível dos operadores. O LEGO era

organizar o posto de trabalho com coisas extremamente simples, são, eram sete postos de

trabalho em linha, e não pretendíamos nenhuma otimização a nível de postos de trabalho. O do

Camião, as coisas já não são bem assim. Começamos com 6 postos de trabalho, são postos, são

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postos de trabalho muito desequilibrados, ou seja, há postos de trabalho com muita carga de

trabalho, tem muitas tarefas, há outros que têm pouca, então as pessoas vão ter que fazer um

balanceamento a … de forma a que aquilo fique uniforme. Mas ao fazermos este

balanceamento, deixa de ser 6 postos e passam a ser 4, e aqui … (formador suspira)

Investigadora: Nos tempos que correm isso é um tema difícil …

Marco: Nos tempos que correm … é um tema difícil e digamos que se calhar não é o timing mais

certo para a formação, mas temos que a passar, é …

Investigadora: Certo.

Marco: Tenho é que a tentar passar da melhor forma, mostrar às pessoas que se calhar é

importante que as empresas sejam produtivas, vou-lhes tentar dar a hipótese … a hipótese, não,

mostrar-lhes que aquilo que eu estou aqui a fazer é um bocadinho aquilo que se passa na nossa

fábrica, nós estamos a reduzir, estamos a otimizar a linha, mas não estamos a mandar ninguém

embora.

Investigadora: Hum.

Marco: E foi aquilo que o nosso chefe da fábrica está a fazer e ele, apesar de baixarmos a

produção, continua a insistir e a bater o pé para não mandar ninguém embora, porque se eles

quisessem mandar as pessoas embora, tinham mandado, e eu vou dizer que é isso, se calhar

não é o timing mais correto, mas…

Investigadora: Daí se calhar a tal formação de Gestão de Conflitos …

Marco: Se calhar talvez aí …

Investigadora: Dava-te outra … bagagem, não é?

Marco: Dava-me outra bagagem, neste tipo de situação

Investigadora: Certo. Hum, hum. Marco, relativamente aqui à … às metas que vocês têm para a

formação, há aqui uma curiosidade que eu tenho. Vocês são avaliados, como qualquer outro

trabalhador da fábrica, pela vossa … por metas, não é? E as vossas metas, aqui no CTP, são

definidas e depois avaliadas em função da execução da vossa formação, que vocês

desenvolvem?

Marco: Sim, a … O António, é o António que é o nosso chefe, ele, digamos que atribui tarefas.

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Investigadora: Hum, hum.

Marco: De acordo com o nosso desempenho, se calhar também de acordo com as avaliações

que ele recebe, quer por escrita quer por …

Investigadora: Certo …

Marco: … quer por via verbal, e penso que tudo isso tem … influência na nossa avaliação.

Investigadora: Estás a falar das avaliações que os formandos fazem da ação, das ações que …

Marco: …que os formando fazem, eu penso que …

Investigadora: … que vêm aqui desenvolver.

Marco: Eu penso que terá, eu nunca falei, eu nunca falei com ele sobre isto.

Investigadora: Ai não? Nunca conversaram sobre …

Marco: Não, não, sobre essa, se aquela avaliação, ele olha para aquilo. Agora, uma coisa tenho

a certeza: aquilo que nós fazemos aqui, a nível teórico e a nível prático, que tem peso, tem.

Agora a avaliação dos formandos, ou dos meus formandos, se tem peso para a minha avaliação,

nunca falei com ele sobre isso …

Investigadora: Hum, hum…

Marco: … mas, penso que também se tiver deve ser muito pouco. Agora, aquilo que nós

fazemos, por exemplo … por exemplo, o António atribuiu-me a, o Camião, sozinho a mim.

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Inicialmente estava cá o André e o Mariano Félix, eles foram-se embora, ele poderia ter

atribuído, ou seja, digamos que isto é, eu acho que é um voto de confiança da parte dele e eu

tento retribuir da melhor maneira possível, mas … no fundo é uma maneira dele me avaliar

também … o percurso que eu vou fazendo cá dentro. Eu acho que é a forma que ele avalia, deve

ser essa.

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Eu nunca discuto muito as minhas avaliações.

Investigadora: Não?

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Marco: Desde que eu concorde.

Investigadora: A … dá-me só aqui um bocadinho para ver se não me perco, não me esqueço de

nada. Não. Penso que está … penso que está tudo. Marco, diz-me agora tu se queres acrescentar

alguma coisa que aches que seja importante, a … se queres colocar alguma questão extra. Se

queres falar um pouco mais de alguma formação que aqui seja desenvolvida e que tu aches que

é mais pertinente …

Marco: Posso falar das formações que nós estamos a desenvolver e de todo o Centro de Treino.

Não sei se o António falou sobre isso contigo se não, mas atualmente a gente está a desenvolver

Profiraums em todas as áreas da fábrica, ou seja prensas, body, pintura, montagem final …

Investigadora: Hum, hum…

Marco: Estamos a criar os Fundamental Skills de Prensas, que é o Manuel Rodrigues que o está

a fazer, e o Fundamental Skills de Pintura, que é o Otávio e o José que o estão a fazer, ou seja,

não arrancaram as formações, mas está-se a desenvolver. Depois, também se está a fazer uma

formação de Logística e de NLK, no qual o António também me pediu para participar, mas

infelizmente não posso participar por questões pessoais, a minha mulher vai ser operada

brevemente, senão eu teria muito gosto, ou seja, para a semana eu era para vir, mas não posso,

mas gostava de o fazer. Temos as formações da Qualidade, que é ministrada … aquela que

criámos ou aquela que o Duarte também está a fazer … Nós temos aqui muitas formações. A …

todas elas são importantes. É preciso é termos formandos.

Investigadora: Hum. (risos)

Marco: Eu costumo, também costumo dizer às pessoas é: eu tenho a noção que isto é uma

fábrica de automóveis, não é uma fábrica de fazer formação.

Investigadora: Hum, hum … hum, hum.

Marco: E tudo isso tem um grande peso aqui no nosso Centro. Se nós tivermos muita gente cá

no nosso Centro de Treino, para nós é bom, mas para a fábrica em si não é bom, porque temos

pouca produção. Se não temos cá ninguém no nosso Centro de Treino, a … é sinal que a fábrica

está a produzir bem, mas também é mau para nós porque não temos formandos, logo também

não estamos cá a fazer o papel para o qual a … para o qual fomos solicitados. Mas pronto, isto

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Investigadora: Mas têm, mas existe essa noção entre os formadores, que a formação aqui está

ao serviço da produção? Têm essa noção?

Marco: Eu acho que 100% das pessoas que cá estão têm essa noção.

Investigadora: Sabem isso.

Marco: Eu acho. Mas eu tenho, eu sei disso. Não sei, agora os outros não sei, só … eles é que

podem responder.

Investigadora: Olha Marco, só mesmo para encerrar, se te pedisse para tu classificares ou

caracterizares o tipo de formação, a metodologia de formação que vocês usam aqui, para

classificares isso numa palavra ou duas, no máximo, quais eram as palavras que tu escolhias?

Marco: Essa é uma pergunta fácil para uma resposta difícil …

Investigadora: Se alguém te perguntasse: “Como é que é a formação no CTP?”, tu respondias

“A formação no CTP é…”?

Marco: Pá, eu tento … eu tento, não, as formações no CTP tentam ser dinâmicas e que haja

muita interatividade entre os formandos.

Investigadora: Hum, hum.

Marco: Principalmente isto, ou seja, dinâmicas e tem que haver interatividade.

Investigadora: Interação. Hum, hum.

Marco: Para mim, principalmente, e agora isto já são as duas palavras.

Investigadora: Duas palavras. (risos) Mas essa é uma boa resposta.

Marco: São as duas. Portanto, dinâmica e tem que haver interatividade. Depois, é uma das mais-

valias que dizem que há, ou seja, os módulos não serem muito teóricos, alguns são teóricos, mas

têm sempre uma componente teórica e uma componente prática …

Investigadora: Certo …

Marco: … que põe em prática aquilo que fazemos na teoria.

Investigadora: Certo, certo, certo …

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Marco: E isso é uma das vantagens do CT … ia eu a dizer que tem que haver dinâmica e tem que

haver interatividade, ou seja, tem que haver atividade entre as pessoas e … com formandos e o

formador para que isto corra bem, isto é o que eu …

Investigadora: Ok. Achas que queres dizer mais alguma coisa?

Marco: Não. Se não tiveres aí no teu … agradeço.

Investigadora: Acho que não.

Marco: Agradeço a entrevista que me fizeste. Espero …

Investigadora: Eu é que tenho a agradecer, Marco.

Marco: … que corra tudo bem para o teu mestrado …

Investigadora: Para o doutoramento?

Marco: Doutoramento, peço desculpa.

Investigadora: Não faz mal.

Marco: E pronto, fico muito contente por participar, e olha … desejo-te toda a sorte do mundo.

Investigadora: E eu agradeço imenso, mais uma vez, Marco, agradeço imenso porque sei que

nem sempre é muito fácil, as pessoas não só terem tempo e disponibilidade para se prestarem

a estas coisas, como a ultrapassar algum receio, alguns receios que vocês … têm sido de facto

extraordinários a envolver-me na formação e tudo mais.

Marco: Volto a dizer que se fosse aqui …

Investigadora: E nas entrevistas, mais numa vez, tenho a agradecer.

Marco: Se fosse aqui há 5 anos atrás, se calhar era mais complexo. Ou seja, o facto de estar isto

(aponta para o gravador)…

Investigadora: A máquina a gravar … (risos de ambos)

Marco: … isto aqui, a … era complexo. Mas no fundo não deixa de ser aquela experiência que a

gente vai ganhando na sala…

Investigadora: Sim …

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Marco: … ao princípio estar lá, pronto, não era fácil, mas pronto a gente vai ganhando, pronto,

a gente vai … é … é o treino. Acima de tudo, é o treino.

Investigadora: Obrigada, Marco. Está bem?

Marco: ‘Tá, obrigado eu. Vá.

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ANEXO 5 - GUIÃO DE ENTREVISTA

Destinatários: Coordenador e 2 Formadores do Centro de Treino da Produção da ATRP

Objetivos Gerais:

1. Caraterizar os percursos profissionais e formativos de elementos da equipa de formação do

CTP.

2. Compreender o papel do CTP no âmbito das oportunidades de formação da empresa.

3. Descrever os modos de organização e funcionamento do CTP.

4. Caraterizar as metodologias de formação implementadas pelo CTP.

5. Relacionar a função de formação do CTP com os objetivos da empresa.

Blocos/Subtemas Objetivos

Específicos Questões

A. Apresentação/Informação/ Acolhimento Pertinência e adequação da entrevista

- Explicitar objetivos do estudo e da entrevista. - Reforçar a importância de respostas honestas, personalizadas. - Estabelecer empatia, assegurando a confidencialidade da informação prestada.

Acolher e informar o entrevistado sobre os

objetivos do estudo e da entrevista Explicar a importância da entrevista para o

estudo em causa

Solicitar disponibilidade para uma participação ativa durante a entrevista

Assegurar a confidencialidade

B. Coordenador/Formadores Percurso profissional e formativo: - Relação entre a experiência prévia e as funções atuais - Relação entre a formação e as funções atuais (objetivo 1.)

- Conhecer o percurso profissional, académico e formativo do entrevistado; - Relacionar esse percurso com a prática profissional atual; - Compreender a visão do entrevistado sobre a formação que a empresa lhe proporcionou.

Questão de enquadramento: - Como é que veio parar ao CTP? Como foi o seu percurso profissional até ao

momento (dentro e fora da ATRP)?

Consegue resumir como foi até agora o seu percurso académico/formativo?

Que funções desempenha atualmente na

empresa? O que faz, concretamente? Considera que a sua experiência profissional e

formativa o têm ajudado no desempenho das funções atuais? Em que medida/pode dar exemplos concretos?

Das formações que tem tido, qual (ais)

destacaria como sendo a(s) mais determinante(s) no desempenho das suas funções?

Que tipo de formação considera que ainda o poderia ajudar mais nas suas funções?

Questão de enquadramento:

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C. CTP Relevância, organização e funcionamento do CTP (objetivos 2 e 3)

- Enquadrar o CTP no plano geral da formação da empresa. - Compreender a relevância do CTP no panorama formativo da empresa. - Compreender os modos de organização e funcionamento do CTP.

- Qual é a importância do CTP na empresa? Que tipo de formação é desenvolvida no CTP

e de que modo se distingue do resto do Plano de Formação da empresa? Existe alguma articulação entre ambas?

Como é que são organizados os grupos de

formação? Com que objetivo? Porque é que são envolvidas outras pessoas

na formação, para além dos trabalhadores da linha de produção?

Que vantagens e constrangimentos tem

reconhecido neste modo de organização?

Que futuro prevê para o CTP, no panorama geral da formação da empresa?

D. CTP Metodologias de formação (objetivo 4.)

- Caracterizar as metodologias de formação do CTP. - Distinguir os métodos de formação do CTP dos que são preconizados pelas restantes oportunidades de formação promovidas pela ATRP. - Entender a relação entre os referenciais da formação e os referenciais da prática – dinâmicas de melhoria contínua.

Questão de enquadramento:

- Em que é que a formação do CTP é diferente da restante formação promovida pela empresa?

Os referenciais que são utilizados são construídos por que entidade(s)?

Existe alguma dinâmica de melhoria contínua

relativamente aos referenciais, por exemplo, no que diz respeito a sugestões de alteração? Lembra-se de algum caso concreto em que essa dinâmica tenha existido?

Que tipo de preocupações metodológicas têm os formadores do CTP na condução da formação?

Existem momentos de reflexão sobre a formação entre os elementos do CTP? Se assim for, com que finalidades e aplicabilidade?

Como é que é feita a avaliação da formação?

E. CTP – Empresa Relação estratégica entre Formação e Produção (objetivo 5.)

- Perspetivar a relação entre a função de formação do CTP com os objetivos da empresa. - Compreender os modos e objetivos de gestão da formação do CTP por parte da empresa.

Questão de enquadramento: - A formação do CTP está simplesmente ao

serviço dos objetivos da produção? Quais são, para si, as grandes finalidades da

formação do CTP? Como é que são definidos os objetivos anuais

(ou outra periodicidade) de formação do CTP?

Que fatores podem levar à alteração desses objetivos?

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Essas metas têm sido atingidas? Que

constrangimentos tem sentido?

As metas da formação refletem-se na avaliação dos elementos do CTP? De que forma?

F. Questões finais/Agradecimentos

- Esclarecer dúvidas finais por parte do entrevistado. - Relembrar importância da colaboração prestada e encerramento da entrevista.

Tem alguma questão que queira colocar,

alguma dúvida sobre as finalidades destas questões que coloquei?

Agradecer a disponibilidade de ter aceitado

realizar a entrevista, reforçando a importância da colaboração prestada.

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ANEXO 6 – QUESTIONÁRIO AOS FORMANDOS DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO

Destinatários: Formandos

Local e Data: Centro de Treino da Produção da ATRP; ____ / ____ / _________

Módulo de formação em que se insere o formando: ____________________________

1. Sexo: Masculino Feminino

2. Idade: _________

3. Assinale a sua área de trabalho, colocando um X.

Áreas de trabalho

Montagem final

Carroçarias

Pintura

Prensas

Qualidade

Direção de Produção

Logística

PEI (Planeamento e Infraestruturas)

Finanças

Administração

Recursos Humanos

Engenharia Industrial & Gestão Otimizada

Outra (indique qual):

4. Indique há quanto tempo trabalha na empresa, colocando um X.

a. Até 4 anos

b. Entre 5 e 10 anos

c. Há mais de 10 anos

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5. Já frequentou outros módulos de formação do PTC para além deste?

Sim Não

5.1. Em caso de resposta afirmativa, indique qual/quais:

Nota: Este questionário insere-se numa investigação no âmbito de uma Tese de doutoramento

em Formação de Adultos, que tem como base o estudo de caso sobre o Centro de Treino da

Produção. A sua colaboração é muito importante e totalmente voluntária. Todos os dados

serão mantidos anónimos.

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ANEXO 7 – QUESTIONÁRIO AOS FORMADORES DO CENTRO DE TREINO DA PRODUÇÃO

Destinatários: Formadores

Local e Data: Centro de Treino da Produção da ATRP; ____ / ____ / _________

1. Sexo: Masculino Feminino

2. Idade: _________

3. Qualificações Académicas:

Assinale com uma cruz Risque o que não se aplica e indique o ano

concluído/frequentado

Ensino Básico

Ensino Secundário

Ensino Superior

Conclusão/frequência de: _________

Conclusão/frequência de: _________

Conclusão/frequência de: _________

4. Assinale as áreas de trabalho por onde já passou, excluindo a actual, colocando um X.

Áreas de trabalho

Montagem final

Carroçarias

Pintura

Prensas

Qualidade

Direção de Produção

Logística

PEI (Planeamento e Infraestruturas)

Finanças

Administração

Recursos Humanos

Engenharia Industrial & Gestão Otimizada

Outra (indique qual):

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5. Indique há quanto tempo trabalha na empresa, colocando um X.

a. Até 4 anos

b. Entre 5 e 10 anos

c. Há mais de 10 anos

6. Orienta ou já orientou outros módulos de formação do PTC, para além deste?

Sim Não

5.1. Em caso de resposta afirmativa, indique qual/quais:

7. Para orientar esta formação, teve formação prévia?

Sim Não

6.1. Em caso de resposta afirmativa, indique quais foram as entidades formadoras.

Nota: Este questionário insere-se numa investigação no âmbito de uma Tese de doutoramento

em Formação de Adultos, que tem como base o estudo de caso sobre o Centro de Treino da

Produção. A sua colaboração é muito importante e totalmente voluntária. Todos os dados

serão mantidos anónimos.