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Constantino Ferreira

DESCOBRINDO

A VOCAÇÃO

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Copyright © Pró-Luz Editora Título: DESCOBRINDO A VOCAÇÃO Autor: Constantino Ferreira Primeira edição: Capa : Depósito legal: 154465/00 ISBN: 972-8007-24-8 Classificação: Teologia Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Não é permitida a publicação sem autorização dos editores.

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ÍNDICE

Prefácio 5

I. Chamados pelo amor de Deus 7

II. Chamados pelo sacrifício de Cristo 13

III. Chamados para a comunhão 19

IV. Chamados para o baptismo 27

V. Chamados para a bem-aventurança 37

VI. Chamados para ser Igreja 43

VII. Chamados para a verdade 49

VIII. Chamados para a luz 61

IX. Chamados para o ministério 67

X. Chamados para a disciplina 73

XI. Chamados a lutar pela fé 79

XII. Chamados para o Reino 87

XIII. Chamados para a santidade 95

Conclusão 105

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Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobedi-ência, para com todos usar de misericórdia.

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos!

Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro?

Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja re-compensado?

Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!

(Paulo - Rm 11.32-36) “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais cor-roborados com poder pelo Espírito no homem interior para que Cristo habite pela fé no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a pro-fundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus”.

(Paulo - Efésios 3. 14-19).

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PREFÁCIO

O presente trabalho que nos é presenteado pelo Pastor Constantino Ferreira constitui mais uma jóia de alto valor teológico na literatura evangélica.

A revelação que ele tem das coisas sagradas no tocante à simplicidade da Palavra de Deus, permite-lhe remeter-nos para as verdades eternas de modo simples e eficaz. Sem entrar numa teologia profunda o autor esgrima com mestria os pontos essenciais das Escrituras, as quais penetram profundamente no nosso espírito, deixando em nós as marcas da sabedoria do Espírito Santo.

Descobrindo A Vocação, é o sexto livro escrito e publicado da autoria do Pastor Constantino Ferreira. Eminente professor no Instituto Bíblico do Monte Es-perança, o autor ainda encontra tempo para ministrar nas Igrejas que o convidam.

Congratulamo-nos por mais este excelente traba-lho, sabendo que o mesmo irá contribuir para enrique-cer o espírito de todos os leitores, levando-os, simul-taneamente, ao intrínseco sentimento de que estão vo-cacionados e chamados para viverem uma vida cristã com sentido e vitoriosa. Recomendamos, com muita alegria, o presente livro.

Os Editores

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Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escân-dalo para os judeus e loucura para os gregos.

Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sa-bedoria de Deus.

Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os ho-mens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.

Porque vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os po-derosos, nem muitos os nobres que são chamados.

Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes.

E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as des-prezíveis, e as que não são para aniquilar as que são;

para que nenhuma carne se glorie perante ele.

Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção;

1 Co 1.23-30

CAPÍTULO UM

CHAMADOS PELO AMOR DE DEUS Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Fi-lho unigénito para que todo aquele que nele crê não

pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16)

As Sagradas Escrituras revelam que Deus criou o homem e a mulher e os colocou no jardim do Éden para desfrutarem de todas as suas delícias e manterem uma comunhão estável com o seu Criador. Porém, as criaturas decidiram desobedecer ao Criador e perde-ram a sua comunhão. Contudo, após Adão e Eva terem pecado Deus manifestou o seu amor prometendo que a semente da mulher viria para vencer Satanás.

Muitos anos mais tarde o profeta Isaías recordou esta promessa ao povo da seguinte forma: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e será o seu nome Emanuel”. No tempo determinado o Senhor en-viou um mensageiro celestial a uma virgem de Nazaré para lhe anunciar o cumprimento da referida promes-sa. O anjo disse-lhe: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus; e eis que em teu ventre concebe-

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rás e darás à luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lc. 1.31,32).

José, ao aperceber-se do facto, intentou deixar Maria por imaginar que lhe havia sido infiel. Porém, Deus não lho permitiu e revelou-lhe a verdade acerca do assunto. A sua amada não havia sido infiel; ela es-tava sendo usada por Deus para dar à luz o salvador do mundo a quem chamaria Jesus. Ele seria o cumpri-mento da profecia de Isaías que diz: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e será o seu nome Emanuel” (Is. 7.14). Convencido, José aceitou Maria como esposa mas não coabitou com ela até que deu à luz o seu filho primogénito.

Os dois nomes dados pelo anjo ao filho de Maria revestem-se dum significado importantíssimo: Ema-nuel significa que Deus está connosco, enquanto o nome Jesus exprime que Yahweh salva. Pois a nossa maior necessidade é a salvação e Deus connosco para uma vida vitoriosa. O valor incalculável do Natal é que Jesus trouxe vida nova ao mundo. Todos os que o aceitam pela fé recebem essa vida nova de Deus.

Apesar das nossa transgressões o amor divino não sofreu alteração alguma. Antes pelo contrário, o nosso pecado é que motivou a vinda do Seu Filho uni-génito. A vinda de Jesus prova quanto Deus nos ama. Se recordarmos que Jesus foi gerado expressamente para nos substituir na condenação compreenderemos melhor o amor que ele encerra. E, em vista disso, os

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nossos corações ficam cheios de amor e gratidão ao Senhor.

O Criador, cheio de misericórdia, ofereceu-nos o Filho para que crendo nele tenhamos a vida eterna. João expressa-se desta maneira: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito para que todo aquele que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). A vinda de Jesus prova o grande amor de Deus pela humanidade. Ainda muito mais se recordarmos que ele veio com o propósito de suportar a vergonha da cruz em nosso lugar.

Ainda que o amor de Deus seja imensurável, o apóstolo Paulo define-o como tendo comprimento, largura, altura e profundidade (Ef. 3.18). Esta grande-za significa que o amor divino é eterno e abrange to-das as criaturas com o maior sacrifício. Pois, Jesus afirmou que ninguém tem maior amor do que alguém dar a vida pelos seus amigos. Mas Ele deu a vida pelos pecadores, o que qualifica ainda mais o seu amor.

O Senhor, vendo-nos irremediavelmente perdi-dos, agiu de forma a recuperar-nos. Ele não se agrada na condenação das suas criaturas. A sua maior alegria é receber cada pecador arrependido e perdoar-lhe as suas transgressões. Foi por este motivo que enviou o seu amado Filho ao mundo a fim de tomar a forma humana como nós e nos substituir no cumprimento da Lei.

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Jesus não é fruto da vontade humana. Assim como Deus formou o homem do pó, também operou com o mesmo poder para gerar na virgem o novo Ho-mem. Quando Maria respondeu que não conhecia va-rão, o anjo esclareceu que “descerá sobre ti o Espírito Santo e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o santo que de ti há-de nas-cer será chamado filho de Deus” (Lc. 1.35).

O Pai deu forma humana ao Filho a fim de subs-tituir os pecadores no sacrifício e cumprir dessa forma o alvo final da Lei. Após três anos e meio de ministé-rio e muita incompreensão foi, finalmente, crucifica-do. Quando sentiu aproximar-se o fim exclamou: “Está consumado”. Tanto o Pai como o Filho haviam terminado a sua missão para restaurar a humanidade. Tudo fora feito para que readquiríssemos a comunhão perdida devido ao pecado.

Deus tem celebrado vários acordos no intuito de salvar a humanidade, mas todas as vezes esta tem fa-lhado. Com intensa rebeldia os pactos têm sido que-brados em prejuízo das relações humano-divinas com resultados nefastos. Assim, a humanidade mergulhou no caos. Porém, visto que o Criador é misericordioso e não tem prazer na destruição da sua criação, prometeu fazer uma nova aliança connosco.

A figura proeminente neste pacto é nosso Senhor Jesus Cristo. O autor da Epístola aos hebreus, referin-do-se a Ele, diz: “Por isso é mediador dum novo pacto

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para que, intervindo a morte para remissão das trans-gressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna” (Hb. 9.15).

Portanto, a base da nova aliança é o sangue de Cristo, o qual pode, pela fé, purificar de todo o pecado qualquer pecador arrependido e, assim, contribuir para a tão necessária comunhão com Deus. É chamado o pacto da paz porque Jesus veio reconciliar as pessoas com o Pai mediante o seu sacrifício. Veio estabelecer connosco uma nova aliança para a eternidade.

As acções de Deus convergiram para a nossa li-bertação. Jesus nasceu devido às nossas transgressões e morreu para nos libertar da condenação. O seu san-gue é o fabuloso preço da liberdade. Jesus veio do céu para desfazer as obras do Diabo, isto é, veio redimir e desfazer o pecado no coração humano. Durante o seu ministério o Senhor fez este convite. “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos ali-viarei” (Mt. 11.28). Este convite encerra uma promes-sa para todos, a qual terá cumprimento quando as pes-soas abandonam o pecado e aceitam Cristo como seu salvador e Senhor.

Deus criou-nos para a paz e Jesus veio chamar-nos para a paz. Ele é o Príncipe da paz capaz de res-taurar a paz em todos os corações. Ele reconciliou-nos primeiro com o Pai; então, convidou-nos a viver em paz com todos. A fé em Cristo é o requisito essencial

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para viver em paz. É a paz resultante duma real comu-nhão com Deus que influi para a paz social.

CAPÍTULO DOIS

CHAMADOS PELO SACRIFÍCIO DE CRISTO

“O filho do homem não veio para ser servido, mas

para servir e dar a sua vida por muitos” (Mt. 20.28) A humanidade carecia de resgate para desfrutar

uma vida nova totalmente do agrado de Deus e uma esperança que lhe facultasse plena felicidade. Foi por este motivo que o Filho de Deus veio em forma hu-mana para dar a sua vida em resgate dos pecadores. O seu sangue é o fabuloso preço da nossa redenção. João Baptista apresentou-o como “o cordeiro de Deus que leva o pecado do mundo”. E Jesus disse a seu respeito: “O filho do homem veio dar a sua vida em resgate de muitos”. S. Paulo, um fariseu zeloso e convertido a Cristo, confirma que Jesus foi morto pelos nossos pe-cados e ressuscitou para nossa justificação (Rm. 4.25). E S. Pedro ensina que o sangue de Cristo nos resgatou da vã maneira de viver que por tradição recebemos dos nossos pais (1 Pd. 1.18,19.

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A cruz é o símbolo do amor de Deus. Ali foi ex-presso o maior amor que alguém pode demonstrar. Jesus disse que ninguém tem maior amor do este de dar alguém a vida pelos seus amigos. Este é o amor expresso pelo vocábulo grego “ágápe”. É aquele que o apóstolo Paulo diz que nunca falha, ou nunca cai. Não é alterado pelas circunstâncias. O amor de Deus ja-mais acaba, mesmo aquele que o Espírito Santo der-rama em nossos corações.

Jesus identificou-se com os pecadores quando permitiu sofrer naquela cruz entre dois malfeitores e morrer pelos crimes que nós cometemos. Ele verteu ali o seu precioso sangue como preço do resgate das nos-sas almas. Ainda que podia libertar-se de tal sofrimen-to renunciou a semelhante proeza preferindo amar-nos até ao fim, até à morte. Quem ama até à morte não tem possibilidade de amar mais. S. Paulo afirma que “Deus prova o seu amor para connosco em que Cristo morreu por nós sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5.8).

A Trindade divina está ocupada na salvação da humanidade. Jesus assegurou que tudo quanto o Pai faz Ele faz também (Jo. 5.39). O Pai amou-nos e deu o Filho. O Filho amou-nos e deu a sua vida. O Espírito ama-nos e convence-nos do pecado para nossa salva-ção. Visto que Deus é uma Trindade unida o seu amor é triangular no aspecto.

A cruz é o símbolo do amor e do juízo divinos. Foi ali que Jesus cravou os nossos pecados (Cl. 2.14).

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Ele levou-os na cruz e lá os deixou. O pecado foi con-denado na sua carne. Jesus quis satisfazer a Lei e, to-mando o nosso pecado, foi feito pecado para ser con-denado, o justo pelos injustos. Pilatos, quando o julga-va, não encontrou nele crime algum digno de morte. Mas, porque o povo clamava pela crucificação cedeu aos seus apelos cruéis entregando o justo à morte pe-los injustos. Assim, Ele suportou o castigo que nos traz a paz.

Agora, assegura S. Paulo, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm. 8.1). Isto é, assim como o Senhor recebeu o nosso pecado e a con-denação, nós, pela fé, recebemos Cristo e a justifica-ção. E todo o que nele crer não será condenado pelos motivos seguintes:

Primeiro, porque o pecado foi cravado na cruz. Segundo, porque o pecador foi condenado em Cristo. Terceiro, porque em virtude da Lei haver sido cumpri-da por Cristo não tem mais força sobre os que têm fé. O crente no Senhor Jesus ficou ilibado de comparecer em juízo no último dia porque aceitou em seu favor, pela fé, o julgamento do Calvário.

A cruz é o símbolo da morte do pecador. S. Paulo afirma categoricamente que “já estou crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim, e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl. 2.20). Quando trocamos o pecado por

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Cristo somos considerados como mortos para o peca-do e vivos para Deus. Por isso a lei não tem mais con-denação para aquele que está morto. Quanto ao que vive, este não pode ser condenado porque já o foi. Aqui reside a nossa salvação.

Cristo informa que quem quiser segui-lo deve re-nunciar a si mesmo e suportar cada dia a cruz que nos é imposta por causa do seu nome. Ora, isto significa que cada cristão deve considerar-se morto para não servir mais ao pecado a fim de não ser condenado. Mas considera-se vivo ao serviço de Deus desfrutando como resultado a vida eterna. Renunciar a mim mes-mo significa expressar a atitude de Cristo perante o sofrimento: “não se faça a minha vontade, mas a Tua”. A vantagem de possuir o Cristo vivo é que Ele não pode ser condenado outra vez.

O sacrifício de Cristo não teria valor se Ele não ressuscitasse. Nenhum benefício viria daí para os pe-cadores, como diz Paulo: “se Cristo não ressuscitou logo é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé” (1 Co. 15.14). Continuaríamos enredados no pecado e perdidos em nossos pecados. Mas, porque o Senhor foi levantado dentre os mortos recebemos a garantia de que Deus se agradou do sacrifício e que a Lei foi cumprida em nosso favor. A ressurreição é o testemu-nho da nossa justificação. Se acreditamos na morte vicária de Cristo aceitamos também a sua ressurreição para usufruirmos os benefícios que o Calvário nos fa-culta.

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Pelas evidências neo-testamentárias há excelentes motivos para acreditarmos que Cristo ressuscitou den-tre os mortos. E, como ele ressuscitou, os que nele cre-rem hão-de também vencer a morte. Se morrermos com Ele também com Ele viveremos na eternidade. Isto significa que os crentes, à semelhança de Jesus, hão-de ressuscitar. Eis a descrição do apóstolo Paulo: “Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormire-mos, mas todos seremos transformados, num momen-to, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombe-ta; porque a trombeta soará e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incor-ruptibilidade, e isto que é mortal se revista da imorta-lidade ... então, cumprir-se-á a palavra que está escri-ta: Tragada foi a morte na vitória” (1 Co. 15.51-54). A ressurreição é o testemunho da vitória sobre a morte.

A ressurreição atesta que podemos confiar ple-namente no Cristo vivo como nosso único Mediador diante do Pai. Ele está, como Sacerdote, intercedendo em favor dos crentes, seus amigos e companheiros de todos os dias. Todo aquele que nele crer será salvo. A cruz e a ressurreição facultam-nos a possibilidade de sermos uma nova criação, criaturas com uma nova esperança que nos torna mais felizes.

CAPÍTULO TRÊS

CHAMADOS PARA A COMUNHÃO

“O que vimos e ouvimos isso vos anunciamos para que tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão

é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo” (1 João 1.3).

O apóstolo Paulo, na sua primeira epístola aos Coríntios escreve o seguinte: “Fiel é Deus pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co. 1.9). O termo grego para comunhão é “koinonia” cuja raiz é “koinos” e signifi-ca comum, expressa várias ideias como: comunhão, comunidade, participação, contribuição, cooperação, etc. Estes vocábulos exprimem o conceito da comu-nhão cristã.

O divino Criador, não tendo em conta os tempos da ignorância, teve misericórdia de nós e chamou-nos das trevas para a luz com a finalidade de formarmos uma nova comunidade – a família de Deus. Por este motivo, aconselha-nos a viver na luz para existir real-mente uma boa comunhão. S. Paulo alerta os crentes

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com a seguinte expressão: “E que comunhão tem a luz com as trevas?” (2 Co. 6.14). Deveras, sabemos que nada têm em comum nem são companheiras. Quando a luz aparece as trevas desaparecem. Não participam de características semelhantes. Da mesma sorte o apóstolo pede aos crentes que não participem com os demónios. Ou, como disse o Senhor na sua oração: “estão no mundo, mas não são do mundo”. Não per-tencemos ao mundo porque fomos adquiridos pelo valioso sangue de Cristo e chamados para uma nova e mais sublime comunhão.

A comunhão dos santos é trilateral, e só nesta forma é perfeita. O apóstolo João refere-se à mesma da seguinte forma: “O que vimos e ouvimos isso vos anunciamos para que tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo.1.3). Pelo exposto constatamos que o evangelho é anunciado com a finalidade de levar as pessoas a um relacionamento trinitário, sem o qual toda a prática religiosa será vã. Uma comunhão real é triangular no seu aspecto; implica união a Deus, a Jesus Cristo e aos irmãos.

Deus criou-nos para manter connosco uma co-munhão perfeita e contínua. Porém, o pecado arruinou este plano fazendo divisão entre a criatura e o Criador. Não obstante, o Senhor procurou renovar a mesma por meio de seu amado Filho Jesus Cristo. Quando, pela fé, o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado, voltamos à paz com Deus readquirindo, desta forma, a

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comunhão. E mais, tornamo-nos morada de Deus, como lembra S. Paulo: “não sabeis que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” E noutro lado: “ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo em vós, proveniente de Deus?”. Ainda, o Senhor disse: “Se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e vire-mos para ele e faremos nele morada” (1 Co. 3.16; 6.19; Jo. 14.23). Aqui observamos a existência duma comunhão perfeita. Enquanto nós participamos do Es-pírito de Deus Ele participa do nosso corpo. É nosso companheiro de todos os momentos para nos guiar, proteger e abençoar.

Comungar é participar de factores comuns. O Pai é santo, o Filho é santo e os cristãos são santos em toda a maneira de viver. Como filhos de Deus temos pensamentos nobres, palavras edificantes e acções condignas. Deus é Luz, Jesus é a Luz e os santos são a luz do mundo na manifestação do carácter justo do Pai. Deus é amor e os cristãos amam, não só os ir-mãos, mas também os inimigos. Fazem bem a todos procurando ganhá-los para a mesma comunhão. Deus é eterno e os crentes em Jesus possuem a vida eterna. Deus está interessado no estabelecimento do seu reino, e nós comungamos com este ideal sendo seus coope-radores. O alvo principal do cristão deve ser o reino de Deus e a sua justiça, disse Jesus (Mt. 6.33).

Para haver comunhão com Deus deve existir co-munhão com seu Filho. Isto implica em ser seu com-

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panheiro, participar das suas aflições, da sua natureza, e da sua missão. É ser um com Ele e ter as coisas em comum. Quando lhe entregamos o corpo Ele dá-nos o seu Espírito e compartilhamos dos mesmos factores.

O Senhor disse várias vezes: “se alguém quer vir após mim negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Esta cruz que temos de suportar é o sofri-mento pela causa de Cristo; é o desprezo por causa do seu nome. Havemos de participar da sua dor e da sua morte, considerando-nos mortos com Ele. Sentir o que ele sentiu quando estava na cruz dando a vida por nós. Ainda que tenha sido tentado a recuar e a descer do madeiro, não cedeu por um momento, preferindo so-frer a morte para nos salvar. Jesus assegurou que qualquer que não levar a sua cruz e não seguir após Ele não pode ser seu discípulo (Lc. 14.27). Como bons discípulos seguimos atentamente os passos do mestre, pois sabemos que seremos recompensados.

O apóstolo Pedro afirma que participar das afli-ções de Cristo não deve ser motivo de tristeza, mas de alegria porque sobre nós repousa o Espírito de Deus (1 Pd. 4.13). Desta forma partilhamos da natureza divina (2 Pd. 1.4). Desde que Cristo passa a ser nosso com-panheiro começamos a assimilar os seus caracteres de forma a parecer-nos com Ele. Como diz S. Paulo: “Já estou crucificado com Cristo e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl. 2.20). Comunhão com Cris-to é sentir o que Ele sentiu e fazer o que Ele faria. A sua presença outorga-nos sentimentos nobres que nos

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levam a realizar a sua vontade (Fp. 2.5). Recebemos aversão ao pecado e não permitimos que ele reine so-bre nós. Agora participamos da sua santidade e servi-mos a Deus com uma vida nova (Rm. 6.22).

O apóstolo considera-se testemunha das aflições de Cristo e participante da glória que se há-de revelar (1 Pd. 5.1). Não só ele, mas todos os que comparti-lham com Cristo aqui participarão da sua glória tam-bém. A justificação operada pelo Senhor conduz os crentes à glorificação, como está escrito: “Aos que predestinou a esses também chamou; e aos que cha-mou a esses também justificou; e aos que justificou a esses também glorificou (Rm. 8.30). Falando com o Pai, o Senhor Jesus disse: “Eu dei-lhes a glória que a mim me deste para que sejam um como nós somos um”. Esta expressão demonstra uma comunhão perfei-ta entre os cristãos. Apesar da diversidade é possível viver na unidade quando Cristo é o alvo, o centro das nossas atenções.

Também partilhamos do seu ministério cumprin-do a missão iniciada por Ele e nos entregou dizendo: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda a criatura”. Comungar com Cristo é pertencer ao seu corpo como membro activo procurando o progresso do reino dos céus. É cumprir a ordem missionária e anun-ciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a luz (1 Pd. 2.9). É ser um com Ele.

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Quando nos anunciaram o evangelho foi para termos comunhão uns com os outros, para participar-mos do mesmo Deus, do mesmo Cristo, do mesmo Espírito; do mesmo amor, da mesma compaixão, da mesma salvação; participar das mesmas aflições, das mesmas necessidades e do mesmo serviço. Como diz a Escritura: “procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz; há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação” (Ef. 4.3,4).

Um provérbio sueco diz que “a alegria partilhada é alegria dobrada; tristeza partilhada é tristeza dividida pela metade”. E os cristãos foram chamados para par-ticipar tanto das alegrias como das tristezas. S. Paulo ensina-nos desta maneira: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram”. Quando um irmão é bem sucedido há motivo para regozijo; porém, se é desfavorecido deve ser causa de cuidado colecti-vo. Aquele que partilha das aflições do próximo parti-cipa também da consolação (2 Co. 1.7). Paulo felicita os filipenses pelo facto de comungarem com ele na sua aflição enviando-lhe o necessário para que pudes-se anunciar o evangelho sem impedimento, prometen-do-lhes ao mesmo tempo o galardão (Fp. 4.14-17).

As igrejas da Macedónia e da Acáia manifesta-ram boa comunhão com os irmãos de Jerusalém quan-do souberam que ali havia necessitados e fizeram uma colecta para lhes enviar. Aqueles que estavam partici-pando dos bens espirituais – do evangelho – partilha-

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vam agora os seus bens temporais – o auxílio – (Rm. 15.26,27). Quem tiver bens do mundo e vendo o seu irmão necessitado lhe negar o auxílio, como estará nele o amor de Deus? inquire S. João (1 Jo. 3.17).

Nós fomos chamados para comungar no serviço do evangelho. Sendo muitos formamos um corpo coo-perante administrando cada qual o dom conforme o recebeu. Os filipenses eram cooperadores do evange-lho desde o primeiro dia, como diz S. Paulo: “Todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas mi-nhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho” (Fp. 1.4-7). O reino dos céus manifesta-se na cooperação, na participação do serviço de cada membro. Ninguém pode dizer ao outro: não tenho ne-cessidade de ti (1 Co. 12.21).

Para que esta comunhão prevaleça é preciso per-severar na doutrina dos apóstolos como fizeram os cristãos primitivos (Act. 2.42). Se estivermos consci-entes do nosso dever concernente ao reino de Deus e satisfizermos esse ideal, certamente desfrutaremos perfeita comunhão com Deus e uns com os outros. Como disse Jesus: “Eu neles e Tu em mim para que eles sejam perfeitos em unidade” (Jo. 17.24).

Ainda, o apóstolo João afirma que se andarmos na luz temos comunhão uns com os outros. Ora, Deus é luz e santidade absoluta. Jesus é a luz do mundo e a revelação da santidade. Nós somos a luz do mundo na manifestação do carácter divino. Enquanto vivermos

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em santidade manteremos perfeita comunhão com Deus, com Cristo e com os irmãos, a morada do Espí-rito Santo. Sobretudo, há necessidade de viver em amor porque aquele que ama está na luz. O amor não se porta indecentemente, não suspeita mal, não se irri-ta; o amor é benigno, tudo sofre, tudo suporta. O amor que mantém a verdadeira comunhão denomina-se “ágápe” porque Deus é “ágápe” (1 Jo. 4.8).

“De sorte que foram baptizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agre-garam-se quase três mil almas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Em cada alma havia temor, e mui-tas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.

Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos segundo cada um tinha necessi-dade. E perseverando unânimes todos os dias no tem-plo, e partindo o pão em casa comiam juntos com ale-gria e singeleza de coração, louvando a Deus e cain-do na graça de todo o povo”. (Actos 2.41-47).

CAPÍTULO QUATRO

CHAMADOS PARA O BAPTISMO

“Arrependei-vos e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados e re-

cebereis o dom do Espírito Santo” (Actos 2.37).

O rito do baptismo surgiu numa época em que os banhos sagrados se praticavam entre várias religiões no Oriente. O simbolismo da água teve papel impor-tante na história das religiões. Pois, a água evoca o nascimento e a fecundidade, a purificação e a restitui-ção da saúde. Recorde-se o relato do livro de Génesis acerca da Terra e da Vida emergindo das águas. E ain-da a narrativa sobre o leproso Naamã que mergulhou nas águas do rio Jordão para recobrar a saúde.

Quando João iniciou o seu ministério profético dirigiu-se para o rio Jordão a fim de baptizar ali os judeus arrependidos. Todavia, ele exigia dos seus can-didatos ao baptismo um verdadeiro arrependimento, mudança de atitude em relação ao pecado, a fim de poderem entrar no reino de Deus. A fim de cumprir toda a justiça e nos servir de exemplo, o próprio Jesus

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foi baptizado no mesmo lugar. E, ordenou que o mes-mo fosse administrado a todos os que nele cressem. Em obediência a esta ordenança os discípulos baptiza-ram, após o pentecostes, quase três mil pessoas.

Assim como Noé passou incólume pelo juízo das águas do dilúvio e foi introduzido num mundo novo, também o baptizando é livre da condenação e introdu-zido no reino de Deus. Conforme Israel passou pelas águas do Mar Vermelho, escapando à ira de Faraó, e foi introduzido na terra prometida, também os crentes que são baptizados escapam à ira de Deus e ingressam no Seu reino (Mc. 16.15).

O baptismo, por si mesmo, não fornece qualquer bênção às criaturas se não houver arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus Cristo. A água, simplesmente, não tem alguma virtude especial, ou acção mágica no candidato. Sem fé este acto não tem virtude alguma sobre as pessoas. O baptismo é sinal de arrependimen-to e testemunho da fé no Senhor Jesus. Este é o limiar do caminho cristão: arrependimento, fé e baptismo. O plano entregue pelo Senhor à sua Igreja é: Ide, disci-pulai, baptizai, ensinai. Portanto, nós somos chamados para o baptismo do arrependimento. No dia de Pente-costes Pedro convidou os seus ouvintes desta maneira: “Arrependei-vos e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados e re-cebereis o dom do Espírito Santo” (Act.2.38)

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O baptismo consciente tem um significado mui profundo em relação ao pecador arrependido. Ao mer-gulhar nas águas profundas o crente identifica-se com Cristo na sua morte, sepultamento e ressurreição. Isto é, considera-se morto para o pecado, cuja natureza quer sepultar a fim de renascer para uma vida nova com Cristo. Recordemos que os crentes de Éfeso fo-ram rebaptizados porque o que haviam recebido ante-riormente de João não continha a fé no Senhor Jesus (Act. 19.2-5).

São três as bênçãos confirmadas pelo baptismo, embora recebidas pela fé. A remissão dos pecados, o novo nascimento, e a entrada no reino de Deus.

Já sabemos que o sacrifício de Cristo é o preço do resgate e do perdão dos pecados. Porém, o pecador carece de fé para se apropriar de tal benefício e esta deve manifestar-se por actos externos tal como o bap-tismo nas águas. É neste sentido que S. Pedro se refere ao baptismo para o perdão dos pecados em Actos 2.38.

Ora, se uma pessoa passa os anos sem desejar o baptismo é semelhante àquela que, havendo sido bap-tizada, não sofreu transformação alguma. Temos um exemplo semelhante em Actos 8.13-22. Embora Si-mão aceitasse o cristianismo e fosse baptizado, não havia experimentado uma transformação mental. O seu pensamento não era recto diante de Deus, por isso permanecia na iniquidade.

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Assim como o baptismo sem fé é inoperante, também a fé que não leva ao baptismo é sem valor. Porque, ou a pessoa em causa não decidiu abandonar prazeres pecaminosos, ou sente vergonha de testemu-nhar publicamente a sua fé, pelo que incorre em deso-bediência, perdendo, deste modo, a salvação. Ainda, pode não sentir desejo algum em se associar com os santos e participar da Santa Ceia, o que prova o alhe-amento do reino de Deus para o qual somos chama-dos. Tal pessoa não tem a garantia da salvação.

Mas, alguém inquirirá: Então, o que terá aconte-cido ao malfeitor que morreu com Cristo e a quem foi prometido o paraíso sem o baptismo? Ora, nesse caso específico o referido indivíduo não tinha possibilidade de se fazer baptizar, assim como outros não terão em virtude de morte inesperada. Além disso o Senhor é soberano para declarar a salvação como quer.

Uma pessoa que manifesta o seu arrependimento dá provas disso pela renovação da sua mente, manifes-tada por actos externos entre os quais está o baptismo nas águas. Este acto é o selo da promessa de obediên-cia à vontade divina. O mesmo foi aconselhado por Ananias a Saulo de Tarso: “Levanta-te e baptiza-te e lava os teus pecados”. Isto significa que ele devia re-nunciar ao pecado e prometer fidelidade a Cristo para ser recebido no seio da Igreja. Mais tarde, como dou-tor da Igreja, ensinou que o crente baptizado deve considerar-se, à semelhança de Cristo, morto para o pecado. E, como quem morreu já não comete pecado,

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também aquele que morreu com Cristo foi sepultado com Ele no baptismo e jamais vive na iniquidade nem, de modo algum, será condenado. O próprio S. Paulo afirma que agora já não há condenação alguma para aqueles que estão em Cristo Jesus.

A salvação, como dom da graça divina, recebe-se pela fé, mas testemunha-se e sela-se pelo baptismo nas águas. Uma pessoa que realmente nasceu de novo pelo Espírito de Deus não hesitará em pedir o baptismo, integrando-se deste modo no corpo de Cristo. Não sendo a água que opera o novo nascimento é, contudo, o testemunho de que o pecador sepultou a velha natu-reza de pecado e ressuscitou para uma vida nova com Deus (Rm. 6.4). O caso de alguém negligenciar o bap-tismo será sinal de não ter ainda experimentado a re-generação, pois não demonstra disposição em obede-cer ao mais elementar mandamento do Senhor.

Crê-se que Jesus quis despertar Nicodemos para esta realidade quando lhe disse: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo. 3.5). Este mestre judeu aceitava que a virtude de Deus estava em Cristo, assim como julgava vir a fazer parte do reino de Deus. Ora, o Senhor corrigiu-o usan-do a alegoria da água naturalmente para lembrar-lhe a exigência de João quando baptizava: “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento”. Era mister que Ni-codemos passasse do simples assentimento intelectual para uma vida regenerada operada pelo Espírito Santo

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e confirmada pelo baptismo a fim de poder participar do reino de Deus.

De acordo com Romanos 6.3-11 o baptismo sim-boliza os actos redentores de Cristo e ao mesmo tempo o testemunho pessoal da nossa participação dos mes-mos. Na imersão o crente identifica-se com a morte de Cristo, considerando-se também morto para o pecado. Na submersão comprova que está sepultando a velha natureza pecaminosa. Na emersão, ao sair das águas, manifesta que a sua fé em Cristo lhe proporcionou uma vida nova para glória de Deus.

O baptismo do crente é o selo da experiência da sua regeneração. Paulo ensina que “todos quantos fos-tes baptizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gl. 3.27). É naquele momento de humilhação e obe-diência que recebemos a nova vestimenta do Senhor, um novo manto de justiça e santidade que nos cobre para glória de Deus.

De acordo com S. Paulo não basta o conhecimen-to das verdades bíblicas, nem tampouco a fé que transporta montanhas (1 Co. 13.2). Se no crente não houver o amor de maneira alguma verá o reino de Deus. Porém, a fé que opera a regeneração enche-nos do amor de Deus (chamado no grego ágápe) ao pró-ximo passando, deste modo, a colaborar no reino, o qual o apóstolo caracteriza como : “justiça, paz e ale-gria no Espírito Santo”. Só uma nova criatura, regene-rada por Cristo, pode participar do reino de Deus. Foi

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isto que Jesus ensinou a Nicodemos: “Aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus” e “aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo. 3.3,5).

O crente regenerado, cujo coração está cheio de amor divino, já participa do reino de Deus. Pois em seu coração está o Espírito de Deus guiando a sua vida. O baptismo sela o seu ingresso na comunidade cristã, corpo de Cristo. Ao mesmo tempo serve de marco histórico divisório entre a vida velha e a nova, assim como o mar vermelho serviu para Israel (1 Co. 10.1,2).

O baptismo é o sinal do pacto feito com Deus de amá-lo e servi-lo em todas as circunstâncias. É a lem-brança do que Cristo fez por nós e do que prometemos fazer por Ele. Devemo-lhe fidelidade até à morte na esperança da consolidação do seu reino, sabendo que não estamos mais sob o domínio do pecado, mas de Deus (Rm. 6.14). Após o baptismo o crente é recebido na igreja local e participa da comunhão dos santos conforme verificamos em Actos 2.41,42. Aqueles que recebem a Palavra de Deus com alegria obedecem ao ritual do baptismo, cujo exemplo foi dado por Cristo, agregando-se, deste modo, à Igreja de Deus.

A forma primitiva do baptismo é compreendida pelo exame do vocábulo grego, da prática apostólica e da História. O substantivo e o verbo referentes ao bap-tismo aparecem no Novo Testamento noventa e seis

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vezes demonstrando assim a sua importância. Além disso, é um ritual instituído por Cristo. A palavra bap-tismo provém do grego (baptô) cujo significado é imergir, mergulhar. É usada por Lucas para dizer “que molhe a ponta do seu dedo” (Lc. 16.24). E por João para mencionar o pão que Jesus daria a Judas “o pão molhado ... e molhando o pão” (Jo. 13.26). Marcos também a usa para se referir ao “lavar os copos” dos fariseus (Mc. 7.4). Isto implica mergulhar o dedo, o pão e os copos, não sendo excepção o baptismo das pessoas.

A preposição grega (en) existente junto do referi-do vocábulo é melhor traduzida “em, dentro de”, e já algumas versões da Bíblia trazem esta forma mais cor-recta, tal como a dos Missionários Capuchinhos onde se lê “baptizar em água” e “baptizar no Espírito San-to”.

João Baptista procurava muitas águas porque eram necessárias para a imersão total (Jo. 3.23). Filipe e o Eunuco da Etiópia entraram na água para realizar o baptismo (Act. 8.37).

Um documento do primeiro século – a Didaquê – dá-nos conta da prática naquele tempo: “... baptizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo em água viva; se não tiverdes água viva baptizai em outra água; se não puderdes em água fria fazei em água quente”.

João Crisóstomo, no quarto século, escreveu acerca do baptismo: “... faz-vos descer às águas sagra-

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das, sepultando o velho homem, ao mesmo tempo que ressuscita o homem novo, renovado à imagem daquele que o criou”. E mais adiante: “Logo que saem das pis-cinas sagradas toda a assistência os abraça, saúda,” etc.

O Deão anglicano Stanley diz que “nos primeiros treze séculos a prática quase universal do baptismo foi aquela que vemos descrita no Novo Testamento, e que corresponde exactamente à significação da palavra “baptizar” isto é: aqueles que foram baptizados foram mergulhados, submersos, imersos em água”.

A Arqueologia tem encontrado em vários lugares piscinas baptismais dos tempos primitivos que com-provam a prática do baptismo por imersão. Em Portu-gal e Espanha foram já descobertos alguns desses bap-tistérios do século quarto comprovando a prática imer-sionista na península ibérica.

O candidato é todo aquele que, arrependido, crê na remissão do pecado e mudou de atitude em relação ao mesmo. Para receber a condenação basta descrer. Mas, para desfrutar da salvação é preciso crer e obe-decer. Por isso, Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt. 7.21). Pelo mesmo motivo ordenou aos discípulos que ensinassem tudo o que Ele lhes tinha ordenado.

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“Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus.

Bem-aventurados os que choram porque eles serão consolados.

Bem-aventurados os mansos porque eles herdarão a terra.

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos.

Bem-aventurados os misericordiosos porque eles al-cançarão misericórdia.

Bem-aventurados os limpos de coração porque eles verão a Deus.

Bem-aventurados os pacificadores porque eles serão chamados filhos de Deus.

Bem-aventurados os que sofrem perseguição por cau-sa da justiça porque deles é o Reino dos céus.

Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo o mal contra vós por minha causa.

Exultai e alegrai-vos porque é grande o vosso galar-dão nos céus”. (Mt. 5.3-12).

CAPÍTULO CINCO

CHAMADOS PARA A BEM-AVENTURANÇA

“Bem-aventurados os que têm o seu prazer na lei do

Senhor e na Sua lei meditam de dia e de noite” (Salmo 1.2).

Bem-aventurança é um estado de felicidade espi-ritual em virtude da comunhão existente com Deus. Não consiste meramente de circunstâncias naturais favoráveis, mas, e primordialmente, de atitudes e ac-ções que dignifiquem a alma e o próprio Deus. No li-vro bíblico de Apocalipse encontramos sete proposi-ções proferidas por Cristo denominadas bem-aven-turanças.

Bem-aventurados os que lêem a Palavra de Deus porque serão muito abençoados (Ap. 1.3). Ela é uma luz viva no caminho cristão, revelando tanto os peri-gos como a direcção correcta. É pão para a alma, im-prescindível ao robustecimento do crente. É mel para a

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saúde, indispensável a uma vida espiritual e moral sã. É uma espada para o cristão usar a cada instante, es-sencial à vitória sobre as tentações. Há uma grande necessidade de ler a Bíblia Sagrada no lar e nas reuni-ões da igreja para o aperfeiçoamento humano. Porque “toda a Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeita-mente instruído para toda a boa obra” (2 Tm. 3.16,17).

Bem-aventurados são os que ouvem a mensagem da Palavra de Deus porque recebem fé, elemento es-sencial para adquirir regularmente as promessas divi-nas e vencer o adversário.

Bem-aventurados os que guardam a Palavra de Deus porque estão na luz e entrarão no reino dos céus, conforme afirmação do Senhor Jesus (Ap. 22.7). Por-que desta forma estaremos protegidos contra as ciladas do inimigo que busca sempre a quem possa derrotar. Como ensinou Pedro: “Sede sóbrios, vigiai porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar, ao qual re-sisti firmes na fé” (1 Pd. 5.8,9).

Cristo assegurou que bem-aventurado é quem está ouvindo e praticando a Palavra de Deus. É deste modo que realizamos a vontade de Deus e provamos a nossa fé em Cristo genuína e dinâmica. Ouvimos para ter fé e aceitar a redenção, a qual resulta em vida nova e boas obras para glória de Deus e testemunho da sal-

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vação. Finalmente, seremos recompensados pela nossa obediência e fidelidade ao plano divino.

Bem-aventurados os que lavam as suas vestes no sangue do Cordeiro porque entrarão na cidade santa e terão direito à árvore da vida (Ap. 22.14). Desde a queda ficámos privados da comunhão com Deus e da vida eterna. Por isso, Cristo veio como Cordeiro de Deus para tirar o pecado do mundo e restaurar a co-munhão perdida. Agora, mediante a fé no sangue ver-tido na cruz, podemos ficar purificados de todo o pe-cado e voltar a desfrutar daquela comunhão, readqui-rindo, desta forma, a vida espiritual. Do mesmo modo, tornamo-nos parte da família de Deus, a comunidade dos santos que eternamente louvarão ao Senhor que os resgatou (Ef. 2.13,19).

Bem-aventurados os que vigiam, esperando an-siosamente a vinda de Cristo, porque estarão prepara-dos para estar ao Seu lado eternamente (Ap. 16.15). Aqueles que carecem do Espírito Santo devem agora adquiri-lo pela fé porque a promessa diz respeito a tantos quantos Deus chamar (Act. 2.39): “Nos últimos tempos derramarei do meu Espírito sobre toda a car-ne” (Act. 2.16,17). Esta dádiva de Deus é muito im-portante porque só cheios do Espírito Santo viveremos vidas dinâmicas e vitoriosas. Portanto, enchamo-nos do Espírito de Cristo e esperemos receber o galardão que dará àqueles que amam a Sua vinda.

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Bem-aventurados os que morrem no Senhor por-que descansam das suas tribulações e alcançam refri-gério na presença de Deus (Ap. 14.13). Estes são os que acabam a carreira terrena com fidelidade a Cristo, que são vencedores nas adversidades deste mundo, e por isso receberão consolação eterna. Aqueles que morrem em Cristo também viverão com Cristo. Pois Ele morreu para que nós vivamos. Cristo assegurou: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim ainda que esteja morto viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá” (Jo. 11.25,26). A morte dos crentes em Jesus não é o fim, mas uma finalidade. Ela tira-nos das canseiras e enfados desta vida para nos transportar ao Paraíso de descanso eterno e de de-lícias na presença de Deus.

Bem-aventurados os que ressuscitarem quando Jesus aparecer porque reinarão com ele (Ap. 20.6). Estes esperarão, purificados pelo sangue do Cordeiro, a volta do seu Senhor e não sofrerão o dano da separa-ção eterna de Deus. Eles alegrar-se-ão pelo facto de verem cumprida a sua esperança. O reino de justiça e paz está à sua disposição. Aquilo em que se envolve-ram na sua vida será uma realidade concreta – o Reino de Deus. Por isso, “buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt. 6.33).

Bem-aventurados os que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro porque ficarão para sempre com o Seu Senhor (Ap. 19.9). As bodas falam da união con-sumada entre Cristo e a sua noiva, que é a Igreja. Ex-

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tremamente felizes serão aqueles que aceitam o convi-te feito pela pregação do evangelho e são fiéis até ao fim. A estes Deus honrará com os festejos da vitória do Seu amado Filho, na qual colaboraram com fé e dedicação. A Ceia revela a boa comunhão existente entre o Senhor e os seus convidados, os quais se as-sentarão à mesa do banquete celebrando a vitória.

Finalmente, bem-aventurados os que têm Cristo porque possuem a vida eterna e desfrutarão dum am-biente de extrema felicidade eternamente (1 Jo. 2.11, 12).

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Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedo-res.

Antes tem o seu prazer na Lei do Senhor e na sua Lei medita de dia e de noite.

Pois será como árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará.

(Salmo 1. 1-3).

CAPÍTULO SEIS

CHAMADOS PARA SER IGREJA

“Como também Cristo amou a Igreja e a Si mesmo se entregou por ela para a santificar” (Efésios 5.25).

A Igreja é o conjunto de pessoas que foram cha-madas por Deus para iniciarem e manterem com Ele uma comunhão espiritual através de nosso Senhor Jesus Cristo. É o número dos remidos pelo sangue do Cordeiro de Deus que esperam a volta do seu Salvador a fim de instaurar o seu reino.

O Novo Testamento menciona cento e catorze vezes o termo “ekklessia”, traduzida igreja, assem-bleia, congregação, ajuntamento. A mesma palavra é empregada no livro de Actos para referir-se a Israel no deserto (Act. 7.38), a um motim em Éfeso (Act. 19.32), e a um ajuntamento (v. 39).

A primeira referência à Igreja de Cristo encontra-se em Mateus 16.18, referindo-se ao propósito da sua fundação sobre a rocha: “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Esta pedra é a confissão de Pedro, que

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disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus é o seu principal fundamento, seguindo-se-lhe os após-tolos e os demais crentes (Ef. 2.20). Além disso, o próprio Pedro concorda e confirma que Cristo é a pe-dra ao mencionar a profecia que lhe diz respeito: “Eis que ponho em Sião a pedra principal de esquina eleita e preciosa, e quem nela crer não será confundido” (1 Pd. 2.6; Is. 28.16).

Era dia de Pentecostes, a festa das colheitas ju-daicas e da entrega da Lei a Moisés, no Sinai. Judeus de todas as partes visitavam Jerusalém jubilando pelo facto. Enquanto os festejos decorriam um pequeno grupo anónimo encontrava-se reunido numa sala me-ditando sobre os últimos acontecimentos – a morte daquele que acreditavam ser o Messias enviado por Deus. Quase cento e vinte pessoas não podiam esque-cer o que se passara no Calvário, nem as últimas pala-vras do seu Mestre: “Destas coisas sois vós testemu-nhas. E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade até que do alto sejais re-vestidos de poder” (Lc. 24.48,49).

Estando todos na expectativa de tão gloriosa promessa eis que, “de repente, veio do céu um som como de um vento veemente e impetuoso que encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas

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conforme o Espírito Santo lhes concedia que falas-sem” (Act. 2.1-4).

Este fenómeno pentecostal atraiu grande multi-dão àquele lugar e, confusa, começou a comentar o sucedido. Uns afirmavam ouvi-los falar na sua própria língua das grandezas de Deus. Outros, zombando, di-ziam que estavam embriagados. O primeiro testemu-nho é mais digno de crédito, pois não é coerente que uma multidão piedosa estivesse já embriagada às nove horas da manhã. Em resposta àquela zombaria Pedro abriu a porta e, com ousadia do Espírito Santo, come-çou a esclarecer o sucedido.

Após haver pregado um sermão vigoroso, o povo arrependido perguntou o que havia de fazer e o apóstolo respondeu: “Arrependei-vos e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (Act. 2.38,39). Como resultado quase três mil pessoas se uniram à Igreja e foram baptizadas.

A Igreja fundada por Cristo acabara de receber a promessa para o cumprimento da missão que lhe fora confiada e observava os primeiros resultados. Nesta Igreja primitiva e apostólica encontramos algumas ca-racterísticas que servem de modelo ao povo de Deus em toda a parte e em todos os tempos.

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Primeiramente, verificamos a necessidade de ar-rependimento para ser incorporado na Igreja do Se-nhor. Jamais alguém poderá sentir o perdão e ser in-cluído no corpo de Cristo sem que tenha manifestado sentimento de culpa e grande desejo de mudança. Não há pior serviço prestado à causa de Cristo do que obri-gar alguém a aceitar a Sua doutrina sem o verdadeiro arrependimento. Isto tem acontecido ao longo da His-tória da Igreja resultando daí uma cristandade sem cristianismo. É de salientar que João, Jesus e os após-tolos, sempre convidaram as pessoas ao arrependimen-to e só baptizavam a quem demonstrasse frutos do mesmo.

Então, é exigida fé em nosso Senhor Jesus Cristo como Salvador e Senhor. Pedro, na casa de Cornélio, disse que “a este (Jesus) dão testemunho todos os pro-fetas de que todos os que nele crêem receberão o per-dão dos pecados pelo seu nome” (Act. 10.43). Paulo e Silas, na prisão em Filipos aconselharam o carcereiro: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo tu e a tua casa”. Sem fé é impossível agradar a Deus. Uma pes-soa poderá aceitar a sua doutrina, mas não ter nela ne-nhuma confiança. Será semelhante ao escravo que sa-bendo a vontade de seu senhor não agiu em conformi-dade com a mesma, sendo, por isso, castigado com muitos açoites. Isto é, o castigo será na medida do co-nhecimento e sem a acção correspondente.

A Igreja de Cristo é formada somente pela fé nele. Pedro afirma categoricamente que não há outro

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nome dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos. Ter fé implica confiar plenamente naquele em que se acredita. Acreditar em Jesus e não confiar nele é uma ofensa a juntar às demais. Ter como certa a sua morte e não confiar em sua substituição redentora é permanecer em condenação. A confiança no sacrifício de Cristo é o único escape do pecador e o meio pelo qual se une ao Seu corpo – a igreja. Deus, em Sua in-finita graça, enviou-nos o Filho, que tomou o nosso lugar na condenação; e nós, pela fé, apropriamo-nos do perdão em virtude da sua condenação.

A Igreja de Cristo persevera na doutrina dos apóstolos. Sabe que os seus ensinamentos foram rece-bidos directamente do seu Senhor e que há vantagem em segui-los. Se alguém se desviar dos ensinamentos apostólicos envereda por caminho incerto e perto está da perdição. A Igreja do Senhor não dá maior valor à tradição do que à Palavra de Deus. Aquela consta de acumulação de hábitos, ritos e preceitos humanos alte-rados de acordo com as épocas. Porém, a Palavra de Deus procedeu dele e os seus princípios permanecem inalteráveis. Ela é a única regra de fé e de vida em to-dos os tempos. Só as palavras dos profetas e dos após-tolos nos inspiram ao verdadeiro culto e à prática do bem.

Os discípulos de Cristo participam fielmente na comunhão. Este é o ponto alto da sua chamada medi-ante a pregação do evangelho. O apóstolo João escre-veu assim: “O que vimos e ouvimos vos anunciamos

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para que também tenhais comunhão connosco; e a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (1 Jo. 1.3). A verdadeira comunhão dos santos é tri-angular, envolvendo o Pai, o Filho e os irmãos, a morada do Espírito Santo. Poderemos nós imaginar aqueles cristãos compartilhando as alegrias da salva-ção?

Os discípulos de Cristo participam no culto ao Senhor, no partir do pão e nas orações. O culto é sim-ples, não mistificado, de forma que todos participem ao longo do mesmo. A Igreja reúne-se para adorar a Deus e proclamar a salvação. No primeiro dia da se-mana celebra a santa ceia com pão e vinho comemo-rando a morte e ressurreição do Senhor até que volte. Acerca disto Jesus falou desta maneira: “Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide até àquele dia em que o beber novo no reino de Deus” (Mc. 14.25).

O mesmo relato do Pentecostes conta-nos que em toda a alma havia temor e muitas maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Até das cidades vizinhas vinha muita gente trazendo os enfermos e atormenta-dos por espíritos imundos os quais eram curados. Em virtude de Deus ser o mesmo e Cristo não ter mudado ainda é possível observar acontecimentos semelhantes em nossos dias. A Igreja do Pentecostes foi fundada e chamada por Cristo para anunciar aos homens o reino de Deus e a salvação.

CAPÍTULO SETE

CHAMADOS PARA A VERDADE

“Sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e

no que é verdadeiro estamos, isto é, em Seu Filho Jesus Cristo” (1 João 5.20).

A Igreja é o organismo universal de Deus cuja

constituição é a Bíblia Sagrada, e a evangelização a sua principal missão. É de Deus porque o Criador tem direito à Sua criação. Além disso, adquiriu-nos por um preço fabuloso a fim de voltarmos para Ele e sermos regenerados. Jesus deu a Sua vida preciosa para nos redimir. Ele libertou-nos do domínio de Satanás, da condenação e da morte, e assegurou que quem crer nele terá a vida eterna. Aqueles que aceitam esta ver-dade juntam-se ao povo de Deus e formam a Igreja de Cristo, a qual estará com Ele pela eternidade.

A Bíblia ensina que a Igreja é o Templo de Deus. É a habitação do Espírito Santo. Jesus disse que “se alguém me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará e viremos para e faremos nele morada” (Jo.

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14.23). Os cristãos, regenerados, manifestam Deus entre os seus semelhantes através do fruto correspon-dente ao Espírito Santo, cujos ingredientes são: Amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fide-lidade, mansidão e domínio próprio “(Gl. 5.22). O Se-nhor revela-se através das acções do Seu Espírito para convencer as pessoas do pecado, da justiça, do juízo e do Seu amor.

Jesus é o fundamento principal e o edificador es-pecial da morada espiritual que é a Igreja. Os cristãos, como pedras vivas deste edifício, vivem unidos sob a direcção do Espírito Santo em demonstração da pre-sença de Deus. O Senhor orou pela unidade dos cris-tãos a fim de o mundo crer nele. E, para existir esta unidade é preciso sacrificar a vontade própria em sub-missão à vontade do Senhor.

Tomamos como exemplo a atitude de Jesus quando, no Getsêmani, em sofrimento disse: “não seja como eu quero, mas sim como Tu queres”. Apesar de lhe ser difícil suportar o duro sacrifício na cruz prefe-riu obedecer ao plano de Seu Pai. Assim, voluntaria-mente, Ele tomou o nosso lugar na condenação para nós tomarmos o Seu lugar na justificação. A cruz é o ponto inicial da sua igreja. Sem cruz ela não existiria e nós estaríamos perdidos.

Jesus é o supremo director do corpo e todos os membros lhe obedecem. Todos os corpos perfeitos têm uma cabeça que orienta as suas actividades atra-

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vés do sistema nervoso. O mesmo se passa com a Igre-ja de Cristo. Ele dirige-a através do Seu Espírito me-diante os ministérios que instituiu para sua edificação (Ef. 4.11,12). Apóstolos e profetas deixaram-nos os seus conselhos inspirados por Deus. Evangelistas, pas-tores e mestres transmitem-nos com a unção do Espíri-to Santo.

A Bíblia é a constituição da Igreja. É a sua única regra de fé e de vida. O apóstolo Paulo aconselhou Timóteo a permanecer naquilo que tinha aprendido nas sagradas letras porque toda a Escritura é de inspi-ração divina e proveitosa para instruir e aperfeiçoar os homens e mulheres de Deus (2 Tm. 1.13; 3.16). Como membros da Igreja submetemo-nos às Escrituras por-que sabemos que elas têm a orientação certa para as nossas vidas.

Não devemos ir além do que está escrito por ins-piração divina, nem omitir nenhuma parte da Escritu-ra. Procuremos entender a vontade do Senhor pelos princípios espirituais e morais que ela encerra. Exami-nemo-la diariamente a fim de agir de acordo com o plano de Deus. Sigamos o exemplo dos crentes de Be-réia que, ao ouvirem Paulo falar sobre Jesus, exami-navam diariamente as Escrituras para certificarem se o que ele dizia estava de acordo com as profecias (Act. 17.11).

É conveniente dedicar bastante tempo ao estudo da Palavra de Deus a fim de receber conhecimentos

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sólidos e ser capaz de rejeitar os maus ensinamentos. Paulo avisa-nos que nos últimos tempos alguns se des-viarão da fé genuína para dar ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demónios (1 Tm. 4.1). Cuidado com as novas doutrinas apresentadas em bandejas de prata. Certa vez ouvi o pastor António Barata dizer o seguinte: “O erro, para quem desconhe-ce a verdade, a verdade lhe parecerá”. Muitas pessoas aceitam como verdade aquilo que tem muita dose de mentira pelo facto de não examinarem constantemente as Sagradas Escrituras. Assim como aconteceu no Éden, o diabo não cessará de enganar os povos até que seja amarrado conforme revelou o Senhor Jesus a João (Ap. 20.2).

A Igreja foi chamada para cumprir uma missão especial. Após a ressurreição o Senhor ordenou aos discípulos essa missão dizendo: “portanto, indo, disci-pulai, baptizai e ensinai a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado (Mt. 28.20). A Igreja é a exten-são do ministério de Cristo e a evangelização é a sua principal tarefa. Proclamar as Boas Novas do Reino é o nosso dever primordial. A nossa obrigação é ensinar a verdade. Jesus disse que a sua Igreja é a luz do mun-do. Portanto, a nossa missão é desmascarar a mentira e esclarecer a verdade; é divulgar a Palavra de Deus e indicar o caminho certo. Como astros no firmamento, assim devem os cristãos ser notados neste mundo.

Quando Jesus chamou os primeiros discípulos disse-lhes que faria deles pescadores de homens. Isto

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é, eles fariam discípulos que por sua vez fariam ou-tros. Antes de ascender ao céu renovou a sua ordem à Igreja indicando-lhe o âmbito da sua missão conforme está escrito em Actos 1.8: Mas recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas tes-temunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra”. Os cristãos ora-ram durante dez dias e receberam o poder prometido para anunciar com ousadia a Palavra de Deus, a qual produz fé para aceitar a vida eterna e entrar no reino de Deus.

A mais nobre missão da Igreja é examinar as Es-crituras Sagradas e transmitir a sua mensagem de for-ma que o povo entenda e se volte, arrependido, para Jesus. A Igreja unida proclama Cristo e o seu reino em toda a terra até que venha com poder e grande glória. O livro de Apocalipse declara enfaticamente que “os reinos do mundo se tornaram de nosso Senhor e do seu Cristo e Ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap. 11.15). Ora vem Senhor Jesus e reina sobre to-dos.

Deus quer que todos venham ao conhecimento da Verdade. Isso é possível quando há verdadeiro interes-se pela mesma. Todavia, os humanos são mais incli-nados para a mentira, especialmente no que concerne às coisas espirituais. Já o grande Mestre da verdade dizia aos fariseus: “mas, porque vos digo a verdade não de credes”. Segundo diz o apóstolo Paulo, os que não têm amor pela verdade de boa vontade receberão a

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mentira como se verdade fosse; mas espera-os o jul-gamento cujo fim é a condenação, pois tiveram prazer na iniquidade (2 Ts. 2.10-12).

Deus é identificado por Moisés e Jeremias como a Verdade. É Ele mesmo quem pode revelar-nos a Verdade. Deus revela-nos a Verdade através de Seu Filho, da Sua Palavra e da Sua Igreja. Certa vez Jesus, orando, dizia: “Graças Te dou, ó Pai, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Queria com isto dizer que o orgulho da sabedoria humana impede o conhecimento da Verda-de, sendo, por conseguinte, necessária humildade para aceitar a revelação divina.

O apóstolo dos gentios, Paulo, referindo-se aos crentes de Tessalónica, dá o seguinte testemunho: “... como dos ídolos vos convertestes a Deus para servir o Deus vivo e verdadeiro” (1 Ts. 1.9). No entender des-tes cristãos a Verdade estava no Deus da Bíblia e não em falsas ideias a respeito de Deus. Portanto, o Senhor revela-nos a Verdade através de Seu Filho, da Sua Pa-lavra e da Sua Igreja. Observemos atentamente o tes-temunho divino.

Jesus é o “logos” divino incarnado; logo Ele é Deus e Deus é a Verdade (Jo. 1.1,14). O Senhor o afirma da seguinte maneira: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14.6). João Baptista testemu-nhou dele assim: “A Lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. Deus nunca foi

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visto por alguém, o Filho que está no seio do Pai, Esse o fez conhecer” Jo. 1.17,18). Jesus revelou a verdade aos povos que estavam em trevas de mentira. O evan-gelista João apresenta-o da seguinte maneira: “Ali es-tava a luz verdadeira que alumia a todo o homem que vem ao mundo” (Jo. 1.19).

Os vocábulos “luz e verdade” exercem a função de esclarecer. E Cristo esclarece-nos acerca das coisas espirituais, que são de inestimável valor porque são eternas. Se alguém estima a verdade está pronto a ou-vir Aquele que veio para testemunhar dela. Então, com o conhecimento da verdade ficará livre do pecado e da condenação, conforme disse Jesus: “e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará; ... se, pois, o Filho vos libertar verdadeiramente sereis livres” (Jo. 8.32, 36). Alguns dos seus contemporâneos expressaram-se com a seguinte confissão de valor e apreço: “Mestre, bem sabemos que és verdadeiro e que ensinas o cami-nho de Deus segundo a verdade” (Mt. 25.16).

Se queremos conhecer a verdade devemos apren-der com nosso Senhor Jesus Cristo que jamais lhe mis-turou o erro. Os seus ensinamentos estão isentos de mentira; podemos confiar plenamente neles. Um exemplo da verdade do seu ensino está naquela céle-bre proposição teológica que dirigiu à mulher samari-tana: “Deus é Espírito e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (Jo. 4.24). Qual-quer pessoa que aceite a operação de Jesus na sua vida

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fica livre para servir o Deus verdadeiro em novidade de vida e de verdade.

Jesus, quando intercedia pelos seus discípulos, mencionou a seguinte frase: “Santifica-os na verdade, a Tua Palavra é a verdade.” (Jo. 17.17). Logo que o supremo Mestre afirma que a Palavra de Deus é a Verdade não deve ser aceite outra pseudo-verdade, a qual é reconhecível por sua oposição à Bíblia Sagrada.

A verdade enobrece as criaturas que dela fazem uso, enquanto a mentira avilta. S. Paulo, na sua carta aos Efésios, aconselha sabiamente: “Estai, pois, fir-mes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade e vestida a couraça da justiça” (Ef. 6.14). Ninguém se convença que praticando a mentira será bem sucedido. Esta é uma arma de Satanás à qual devemos contrapor a verdade. O conhecimento e uso da verdade propor-cionam-nos segurança na peregrinação desta vida em direcção à pátria celeste.

Para conhecer a verdade é preciso seguir o exem-plo dos habitantes de Beréia, que examinavam diaria-mente as Escrituras para conferir o que ouviam da boca de Paulo. Sábios e nobres são aqueles que estu-dam a Palavra de Deus para conhecerem a verdade a respeito dos seus relacionamentos com o Criador. Ela esclarece como o pecado abriu um fosso entre Deus e o homem resultando na perda da comunhão e na pe-caminosidade humana oposta à santidade divina. Só conhecendo a verdade podemos voltar à comunhão

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com o Deus da verdade. Ele quer que todos cheguem ao conhecimento da verdade e sejam salvos.

Dirigindo-se ao seu companheiro Timóteo, Paulo definiu a Igreja do Deus vivo como a Casa de Deus, a coluna e firmeza da verdade (1 Tm. 3.15). Esta defini-ção revela a característica e a missão da Igreja de Cris-to. A Casa serve para morada do Espírito Santo, en-quanto as colunas sustentam o edifício. O apóstolo ensina que os que crêem e aceitam Cristo formam uma morada para Deus, assim: “vós sois o Templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei”(2 Co. 6.16).

A Igreja recebeu a verdade, é portadora da ver-dade e tem de proclamá-la e defendê-la entusiastica-mente. Ao longo da História da Igreja muitos mártires deram a vida em defesa da verdade. Depois de Cristo, o primeiro mártir em defesa da verdade foi Estêvão. Quando, em sua defesa, dissertava sobre a História de Israel, acusou os judeus de traidores e homicidas, estes enfureceram-se e arrojaram pedras contra ele até à morte.

Tiago, Cefas e João eram considerados na Igreja como “as colunas” no ministério espiritual e no servi-ço da verdade. Eles defenderam a verdade desmasca-rando os falsos ensinamentos. S. Pedro, referindo-se a todos os crentes em Cristo, ensina: “Vós, também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais a

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Deus por Jesus Cristo;... para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravi-lhosa luz” (1 Pd. 2.5,9).

Por conseguinte, a Igreja é, em virtude de ser o corpo de Cristo, o sacerdócio real para prestar adora-ção e serviço a Deus. Sendo Jesus o sacerdote por ex-celência, a sua Igreja recebeu dele a missão sacerdotal. O conjunto dos crentes em Cristo possui, vive, defen-de e propaga a Verdade. O apóstolo João confessa que o seu maior gozo é saber que os crentes andam na Verdade, (3 Jo. 4). Especialmente, manifestou o seu apreço ao amado Gaio por ele viver na verdade. Os cristãos são depositários e sustentáculo da Verdade.

O profeta Zacarias menciona as coisas que o povo de Deus deve praticar: “Falai a verdade cada um com o seu companheiro; executai juízo de verdade e de paz nas vossas portas” (Zc. 8.16). E o apóstolo Pau-lo acon- selha aos Efésios que deixem a mentira e fa-lem a verdade cada um com o seu próximo” (Ef. 4.16). O Senhor Jesus prometeu enviar o Espírito Santo para que nos guiasse em toda a verdade (Jo. 16.13). O Espí-rito Santo veio e tem guiado a Igreja na senda da ver-dade.

Portanto, a Verdade é a manifestação de Deus e tudo o que a Ele concerne. Deus é espírito, único, in-visível, eterno e poderoso. Jesus é o único salvador porque só Ele deu a vida por nós e junto do Pai inter-cede a nosso favor. A Bíblia Sagrada é a única regra

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de fé e vida porque é a mensagem inspirada por Deus para nossa instrução. A Igreja é o conjunto dos crentes santificados, depositários, guardiães e propagadores da Verdade.

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1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

2 Ele estava no princípio com Deus.

3 Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.

4 Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;

5 a luz resplandece nas trevas, e as trevas não preva-leceram contra ela.

6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.

7 Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele.

8 Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.

9 Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo.

CAPÍTULO OITO

CHAMADOS PARA A LUZ

“Vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtu-

des daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pd. 2.9).

João, no início do seu evangelho, testemunha que Jesus estava no princípio com Deus e era a luz dos homens. E a luz resplandeceu nas trevas, mas os que estavam em trevas não o compreenderam. Nele estava a luz verdadeira que alumia a todas as pessoas. Ele veio para o que era seu, mas os seus rejeitaram-no (Jo. 1.1-11). Assim, continuaram em trevas.

Mateus testifica que o início do ministério de Cristo cumpriu uma das profecias a Seu respeito que diz: “O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz” (Is. 9.2; Mt. 4.16). Jesus veio para ser a luz do mundo.

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Quando o menino Jesus foi levado ao Templo em Jerusalém, o velho Simeão reconheceu nele o salvador e a luz para alumiar as nações (Lc. 2.32). Durante o Seu ministério Jesus apresentou-se como a luz do mundo dizendo: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo. 8.12).

Seguir Jesus é viver segundo o Seu exemplo, é fazer o que Ele faria, é andar no caminho certo. Certa vez, tendo lavado os pés aos discípulos, disse-lhes: “Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que como eu vos fiz façais vós também” (Jo. 13.14,15). Em virtude de vivermos numa cultura diferente não há necessidade de lavar-mos, da mesma forma, os pés uns aos outros, mas po-demos servir-nos de acordo com as necessidades pró-prias do nosso tempo.

Uma luz vai na frente indicando o caminho cor-recto a fim de ser evitado o errado. Jesus indicou-nos o caminho da salvação e da vida eterna com o seu exemplo. Basta-nos fé para iniciar a caminhada n’Ele e obediência para chegar ao final com Ele. Certa vez Ele afirmou a seu respeito: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). Ele é único, não há alternativa. Ou Ele ou mais ninguém.

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Isaías escreveu um convite do Senhor desta for-ma: “Deus justo e salvador não há fora de mim. Olhai para mim e sereis salvos vós todos os termos da terra, porque eu sou Deus e não há outro” (Is. 45.21,22). E Jesus esclareceu Filipe quando este pediu para lhe mostrar o Pai: “Estou à tanto tempo convosco e não me tendes conhecido Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu, mostra-nos o Pai?” (Jo. 14.9). João diz que jamais alguém viu a Deus, mas o Filho o tornou conhecido (Jo. 1.18). E aqueles que o conhece-ram testificaram dele para que o conheçamos de forma semelhante.

Jesus foi sempre a expressa imagem de Seu Pai. Nem mesmo Satanás conseguiu alterar a viva imagem de Deus com a sua astúcia. Paulo dá testemunho de que Ele é “a imagem do Deus invisível, o primogénito de toda a criação” (Cl. 1.15) porque n’Ele habitava toda a plenitude da divindade (Cl. 1.19; 2.9). Nada havia n’Ele que não fosse divino. Por isso, pode ser tomado como o exemplo máximo para as nossas vidas. Não há santo maior do que Ele, nem exemplo maior do que o Seu. Quem o seguir receberá da Sua luz e será transformado numa luz para o mundo em trevas.

Por isso, o Senhor nomeou os seus discípulos como a luz do mundo com estas palavras: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edifi-cada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa

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luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso pai que está nos céus” (Mt. 5.14-16).

Os cristãos são seguidores de Cristo e, assim como a Lua recebe a luz do Sol reflectindo-a sobre a Terra, também eles transmitem a luz de Cristo ao mundo em trevas. Um verdadeiro seguidor de Cristo não pode andar escondido porque a vida que nele exis-te o denunciará como discípulo de Cristo. A nossa maneira de viver testemunha do Cristo que vive em nós pelo Espírito Santo e mediante as obras feitas em Seu nome.

A pessoa que segue a Cristo procura glorificar a Deus em toda a maneira de viver, como ensinou o apóstolo Paulo: “Quer comais, quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Co. 10.31). E acrescentou: “Sede meus imitadores como também eu de Cristo” (1 Co. 11.1). “Sede, pois, imitadores de Deus como filhos amados, e andai em amor como também Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós em oferta e sacrifício” (Ef. 5.1,2). “Porque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andai como filhos da luz... e não comuni-queis com as obras infrutuosas das trevas, mas, antes, condenai-as” (Ef. 5.8,11).

Paulo aconselha a “fazer todas as coisas sem murmurações nem contendas para que sejais irrepre-ensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no

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meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo” (Fp. 2.14,15). E João diz que “aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas”. Porém, “aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo” (1 Jo. 2.9,10).

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14 Pois o amor de Cristo nos constrange, porque jul-gamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram;

15 e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

16 Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o co-nhecemos desse modo.

17 Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.

18 Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos re-conciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação;

19 pois que Deus estava em Cristo reconciliando con-sigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da recon-ciliação.

20 De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamo-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus.

CAPÍTULO NOVE

CHAMADOS PARA O MINISTÉRIO “E tudo isto provém de Deus que nos reconciliou con-sigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da

reconciliação” (1 Co. 5.18).

O apóstolo Paulo refere-se deste modo ao minis-tério geral dos cristãos: “E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos deu o ministério da reconciliação” (2 Co. 5.18). Todos somos chamados para a reconciliação com Deus e para ministrar a reconciliação. Jesus ensinou que o verdadeiro adorador é aquele que procura a re-conciliação antes de comparecer diante de Deus para adorar (Mt. 5.24). Além disso, declarou bem-aventurados os pacificadores porque eles serão cha-mados filhos de Deus (Mt. 5.9).

Aqueles que experimentam a paz com Deus fi-cam em perfeitas condições de ministrar essa mesma paz. Pois, ninguém pode dar aquilo que não tem. Foi por isso que Jesus nos deixou a sua paz, que é diferen-

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te daquela que o mundo dá, a fim de podermos minis-trá-la aos outros. Quando temos paz em nós mesmos desejamos compartilhá-la com outras pessoas.

Paulo aconselha mesmo a possibilitar a paz com todas as pessoas (Rm. 12.18). Isto, porque o reino de Deus é caracterizado por justiça, paz e alegria, que provêm do Espírito Santo. “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para edificação de uns para com os outros” (Rm. 14. 17,18). E em Hebreus 12.14 lemos: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Neste sentido todos os cristãos têm o ministério da reconciliação para o qual foram chamados.

Todavia, visto o nosso Deus ser Deus de paz, aprecia que seus filhos também se empenhem na paz. Por isso, concedeu ministérios específicos à Igreja para ministrarem a Sua paz. Quem ministra tem um ministério; e na Igreja de Cristo há vários ministérios definidos pelo serviço prestado à comunidade. O Espí-rito Santo é quem distribui os dons essenciais à função dos ministros (1 Co. 12.4). Paulo ensina que Jesus es-colheu “uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mes-tres, querendo o aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério – da reconciliação – para edifica-ção do corpo de Cristo” (Ef. 4.11,12).

“De modo que, tendo diferentes dons segundo a graça que nos é dada, se é profecia seja ela segundo a

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medida da fé; se é ministério seja em ministrar; se é ensinar haja dedicação ao ensino; ou o que exorta use esse dom para exortar; o que reparte faça-o com libe-ralidade; o que preside com cuidado; o que exercita misericórdia com alegria” (Rm. 12.6-8).

E para corrigir a Igreja de Corinto Paulo ensina que “a uns pôs Deus na Igreja, primeiramente apósto-los, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres, depois milagres, depois dons de curas, socorros, go-vernos, variedade de línguas” (1 Co. 12.28).

Os ministros exercem funções equivalentes ao dom recebido. O evangelista é aquele que foi dotado pelo Espírito Santo para proclamar a boa nova de modo a convencer as pessoas à conversão. Timóteo foi aconselhado a fazer a obra de evangelista apesar de ter ficado em Éfeso para conduzir a igreja, que é função do presbítero (1 Tm. 1.3).

Na medida em que a Igreja crescia havia necessi-dade de mais ministros, vocacionados pelo Espírito Santo, para cumprirem o ministério da reconciliação. Então, os apóstolos estabeleceram presbíteros em cada igreja para cuidarem do povo que Deus resgatou com o sangue de Seu Filho (Act. 14.23; 20.28).

O vocábulo grego refere-se a homens com expe-riência e maturidade. Paulo instruiu Tito a nomear presbíteros em cada cidade e forneceu-lhe as caracte-rísticas exigidas para a sua função, as quais continuam a ser observadas na Igreja de Cristo (Tt. 1.5-9). Estes

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formam o presbitério, a entidade que governa a igreja na ausência dos apóstolos (1 Tm. 5.17). O primeiro presbitério foi formado em Jerusalém com a presença dos apóstolos (Act. 15.2). Eles reuniram-se para deci-dir sobre questões doutrinárias referentes à circuncisão dos gentios e à lei de Moisés (Act. 15.6). Então, pare-ceu bem a toda a igreja a decisão tomada pelo presbi-tério e disso deram conhecimento (Act. 15.22). Além de se reunirem periodicamente, os presbíteros são conselheiros e condutores do povo que Deus lhes con-fiou.

Convém recordar que a palavra “ancião” veio do latim e é equivalente ao termo grego “presbítero”. Aos presbíteros, Pedro, que se considera um presbítero en-tre os demais, aconselha que “não tenham domínio sobre a herança do Senhor, mas sirvam voluntariamente de exemplo ao rebanho” (1 Pd. 5.1-3). O próprio Jesus ensinou que, entre os cristãos, quem quiser ser o primeiro seja servo de todos (Mt. 20.27). Os presbíteros são os pastores, aqueles que apascentam, também chamados bispos porque vigiam e protegem o povo do Senhor das falsas doutrinas (Act. 20.28). Os mestres são os professores que ensinam as doutrinas bíblicas e preparam os ministros para o cumprimento eficiente da sua função. Quando chegou a Jerusalém a notícia de conversões em Antioquia, a igreja enviou para lá Barnabé, um homem qualificado para instruir os novos crentes. Este, por sua vez, foi a Tarso buscar Saulo para o ajudar e durante um ano

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ensinaram muita gente (Act. 11.19-26). A igreja rece-beu bons fundamentos doutrinários de mestres vocaci-onados. Parece que a igreja de Antioquia possuía to-dos os ministérios em funcionamento, o que fez dela uma igreja missionária. Como resultado da sua prepa-ração espiritual e doutrinária logo no seu início envia-ram Barnabé e Saulo como missionários a outros luga-res (Act. 13.1,2). Este deve ser o principal propósito da igreja em nosso tempo.

De acordo com o crescimento da igreja os após-tolos em Jerusalém sentiram a necessidade de eleger ajudantes para a obra social a fim deles se dedicarem especialmente à Palavra de Deus e à oração. Então elegeram sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria para cuidarem da obra social. Como resultado a igreja crescia por multiplica-ção (Act. 6.5-7).

Maria, no casamento de Caná, disse aos serventes para fazerem tudo quanto Jesus dissesse (Jo. 2.5). O termo grego usado para serventes é “diáconos”, cuja forma verbal correspondente é utilizada por Paulo ao recomendar Febe, que servia na igreja de Cencreia, (Rm. 16.1).

Na saudação aos filipenses, Paulo menciona os diáconos juntamente com os bispos da igreja desta maneira: “a todos os santos em Cristo Jesus que estão em Filipos com os bispos e diáconos, graça a vós e paz (Fp. 1.1). E o mesmo vocábulo aparece em Colos-

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senses 1.7: “como aprendestes de Epafras, nosso ama-do conservo, que para vós é um fiel ministro “diáco-no” de Cristo”. Do mesmo modo é usado pelo apósto-lo quando refere as qualificações dos bispos e dos diá-conos em 1 Timóteo 3. Acerca de Timóteo ele diz o seguinte: “Propondo estas coisas aos irmãos serás bom ministro “diácono” de Jesus Cristo” (1 Tm. 4.6).

O Espírito Santo reparte pelos membros da Igreja de Cristo dons e ministérios para serem úteis na edifi-cação da mesma. Todos temos a responsabilidade de ministrar aos outros o dom como o havemos recebido. No corpo de Cristo não deve haver membros inacti-vos. Cada qual tem uma missão a cumprir porque para isso fomos chamados.

Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedo-res.

Antes tem o seu prazer na Lei do Senhor e na sua Lei medita de dia e de noite.

Pois será como árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cujas folhas não caem, e tudo quanto fizer prosperará.

(Salmo 1. 1-3).

CAPÍTULO DEZ

CHAMADOS PARA A DISCIPLINA “Porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qual-quer que recebe por filho. Se suportais a correcção

Deus vos trata como filhos” (Hb. 12.6,7).

Deus não é de confusão, mas de ordem. A Igreja é o povo de Deus e como tal deve ser de ordem. Deve submeter-se à disciplina do Senhor para não haver confusão. Só com disciplina poderemos contribuir para glória de Deus. Onde não há disciplina reina a anarquia, a desordem, e isso não honra ao Senhor. A missão da Igreja é fazer tudo para glorificar a Deus.

A Bíblia fala-nos de disciplina entre o povo de Deus. Em Hebreus 12.5-11 encontramos sete vezes o substantivo e o verbo corrigir, e uma vez a palavra disciplina, todas provenientes da mesma raiz grega que fala enfaticamente de disciplina. O mesmo verbo é traduzido noutros lugares da Bíblia por instruir, ensi-nar, aprender, repreender, e castigar.

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A disciplina pelo ensino S. Paulo assegura que toda a Escritura é divina-

mente inspirada e proveitosa para instruir em justiça – disciplinar – (2 Tm. 3.16). Como principal meio de disciplina temos a Palavra de Deus, a qual deve ser lida e estudada por todos os crentes para adquirirem boa disciplina. David diz que ela é uma lâmpada para os pés, e que é bem-aventurado o varão que nela medi-ta de dia e de noite. Não há melhor do que a Palavra do Senhor para recebermos boa disciplina e nos con-duzirmos sabiamente.

Jesus deu vários ministérios à sua Igreja com a finalidade de aperfeiçoar os santos e edificar o corpo de Cristo (Ef. 4.11, 12). Em cada congregação deve haver quem ensine a sã doutrina e corrija o povo do Senhor. A sã doutrina é a que se encontra revelada nas Sagradas Escrituras, a suprema regra de disciplina. E, para que haja disciplina, o ministro deve ser apto para ensinar e servir de exemplo às pessoas (1 Tm. 3.2). Mas, os crentes devem submeter-se ao ensino dos seus guias para que sintam as bênçãos dos Senhor. Devem comportar-se como filhos obedientes a Deus. Porém, onde não houver obediência existe rebelião e necessi-dade de correcção.

A disciplina pela correcção

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Tito é aconselhado por Paulo a falar a sã doutri-na, a exortar e repreender com autoridade (Tt. 2.15). Sem um ensino bíblico e claro não há autoridade para disciplinar. Toda a disciplina deve basear-se nas Sa-gradas Escrituras porque contêm a autoridade de Deus. A Timóteo, Paulo aconselha desta maneira: “Que pregues a Palavra, instes a tempo e fora de tem-po, redarguas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina ... instruindo com mansidão os que resistem, a ver se porventura Deus lhes dará arrependimento para conhecerem a verdade” (2 Tm. 4.2; 2.25).

Está provado que o ensino austero, rude, provoca rebelião e afastamento. É evidente que se aprende me-lhor com um espírito manso. O Mestre Jesus convida-va as pessoas a aprender dele deste modo: “aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”. O apóstolo Pedro aconselhava os presbíteros a cuidar do rebanho, não por força, nem dominando sobre a he-rança de Deus, mas servindo de exemplo ao povo (1 Pd. 5.2,3). Deus começa a disciplina da Igreja com os seus ministros e exorta os crentes a imitarem a sua fé e o seu exemplo.

Qualquer mestre tem a função de corrigir os erros dos discípulos. Por isso o Senhor deu ministérios à Igreja precisamente para esse efeito. Todos visam aperfeiçoar os santos para o ministério da reconcilia-ção. Nenhum crente deverá rejeitar a correcção; antes, agradeça quando for repreendido justamente porque será abençoado (Hb. 12.11).

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A disciplina pelo castigo A acção directa de Deus é uma dura repreensão

para um membro indisciplinado. Mas, como Deus cas-tiga a quem ama, devemos esperar os melhores resul-tados. Especialmente, é para não sermos condenados com o mundo (1 Co. 11.32). Na revelação a João, Jesus disse o seguinte. “Eu repreendo e castigo a todos quantos amo ; sê zeloso e arrepende-te” (Ap. 3.19).

Deus castiga das mais variadas formas, conforme os casos. Miriã, porque se rebelou contra Moisés, fi-cou leprosa (Nm. 12.9,10). Coré, Datã e Abirão, foram engolidos pela terra porque se rebelaram contra Moi-sés (Nm. 16.32). Ananias e Safira morreram porque mentiram ao Espírito Santo perante os apóstolos (Act. 5.5, 10). Elimas, porque resistiu contra Deus, ficou cego (Act. 13.11). Porém, em todos estes casos veio o temor sobre o povo de Deus.

A acção disciplinadora da igreja é mais branda e visa sempre a recuperação do faltoso antes que caia nas mãos de Deus. Nenhuma igreja deve ignorar esta acção para manter a ordem na família de Deus. O apóstolo Paulo censura os cristãos de Corinto por te-rem desprezado a disciplina numa questão de moral que poderia trazer grandes prejuízos à comunidade (1 Co. 5).

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Havemos de distinguir vários graus de acção dis-ciplinar em conformidade com os casos. Jesus ensina como agir em caso de pecado: “Ora, se o teu irmão pecar, vai e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir ganhaste a teu irmão. Mas, se não te ouvir leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada, E se não as escutar di-lo à igreja; e se também não escutar a igreja considera-o como um gentio ou publicano” (Mt. 18.15-17). Se depois das várias instâncias para restau-rar a comunhão quebrada o faltoso persistir em sua rebelião, este será privado da mesa do Senhor até que se arrependa.

Paulo ensina como proceder com um irmão que for surpreendido numa tentação: “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo para que não sejas também tentado” (Gl. 6.1). Noutro lugar diz: “Mas nós, que somos fortes, devemos suportar a fraqueza dos fracos” (Rm. 15.1).

Os espirituais são aqueles que vivem segundo a orientação do Espírito Santo, contrariando as inclina-ções carnais. São os fortalecidos pelo Espírito de Cris-to

e que vencem as tentações da carne desobedecendo a Satanás. Estes estão em condições de suportar os mais fracos.

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Noutras ocasiões o apóstolo aconselha: “Roga-mo-vos, também irmãos, que admoesteis os desordei-ros, consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes para com todos” (1 Ts. 5.14). E acerca dos desordeiros ensina “que vos aparteis de todo o irmão que andar desordenadamente e não se-gundo a tradição que de nós recebeu”... “todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão (2 Ts. 3.6,15).

Ninguém deve desprezar qualquer aspecto de disciplina, porque se no presente pode provocar triste-za, no futuro produz imenso gozo pelos seus resulta-dos (Hb. 12.11).

CAPÍTULO ONZE

CHAMADOS A LUTAR PELA FÉ

“Amados, tive por necessidade escrever-vos e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos san-

tos” (Judas 3). O cristão encontra-se com muitas pessoas cujas

convicções religiosas são diferentes das suas. Por este motivo deve conhecer as doutrinas bíblicas a fim de prestar os devidos esclarecimentos. Visto que Paulo refere a Igreja de Cristo como a coluna e firmeza da verdade, os cristãos devem afirmar as suas convicções conforme a Bíblia Sagrada. Por isso, é necessário que os cristãos conheçam as doutrinas bíblicas fundamen-tais para reconhecer e rejeitar as que lhe são contrári-as.

O Senhor Jesus avisou-nos que nos últimos tem-pos se levantariam muitos falsos pregadores que enga-nariam a muitos (Mt. 24.11). Estamos assistindo ao aparecimento de seitas religiosas de toda a espécie em cumprimento da palavra profética. Este fenómeno não

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poderá ser evitado porque é profético. Porém, embora reconheçamos a liberdade religiosa, o cristão pode li-vrar-se de cair nas suas malhas permanecendo fiel à Palavra de Deus, que é a Bíblia Sagrada.

Todos os ensinamentos devem ser examinados à luz das Sagradas Escrituras, a genuína Palavra de Deus, que não muda, e os que não estiverem de acordo com a mesma sejam rejeitados como falsos. Todavia, Paulo escreveu que “nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demónios” (1 Tm. 4.1). Significa isto que alguém conhecedor da verdade se deixará enganar aceitando a mentira.

Muitas pessoas reclamam-se de pertencer à Igreja de Cristo sem contudo possuírem a Bíblia como sua única regra de fé e prática. Outros torcem a sua men-sagem, separando versículos do seu contexto, para sua própria perdição. Todas as pessoas que não dão a pro-eminência às Sagradas Escrituras, ou forçam o sentido para emitirem as suas opiniões, deverão ser advertidas do seu erro e entregues ao Espírito Santo para que as convença da verdade.

Paulo sentiu necessidade de alertar os cristãos acerca dos falsos mensageiros desta maneira: “Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Co. 11.13,14). É preciso tomar em

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consideração que revelar profundo conhecimento das Escrituras, mencionando-as facilmente, não significa fidelidade a Deus e à Sua Palavra. O Diabo conseguiu enganar Eva de modo semelhante.

Eis o método prático para descobrir com alguma facilidade as seitas pelas suas doutrinas. É uma regra de cinco interrogações sobre doutrinas fundamentais:

1. A BÍBLIA é na totalidade a Palavra de Deus e a única regra de fé e norma para a sua vida?

Em caso contrário esclareça-se com a própria Bí-blia acerca da qual disse Jesus: “A Tua palavra é a verdade” e “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo. 17.17; 5.24). O apóstolo Paulo refe-re-se à Bíblia desta forma: “Toda a Escritura é divi-namente inspirada e proveitosa para ensinar, para re-darguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instru-ído para toda a boa obra” (2 Tm. 3.16).

No livro bíblico de Deuteronómio está escrito: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus” (Dt. 4.2). A palavra de Deus é a autoridade máxima em matéria de fé e de vida, e quem a seguir viverá por ela. A par com a leitura diá-ria da Bíblia, o cristão deve ler bons comentários bí-blicos sem que estes tomem o lugar da Palavra de Deus.

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2. JESUS é o Messias que veio em carne da virgem Maria e morreu na cruz para nos libertar da condenação e do pecado?

A profecia apontava para o nascimento dum va-rão desta maneira: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e será o seu nome Emanuel” (Is. 7.14). Quando Maria deu à luz o seu primogénito a quem chamaram Jesus, porque ele era o salvador; e Emanuel, porque ele era Deus connosco (Mt. 1.21,23). João escreveu que ele no princípio era a Palavra, o “logos” e o “logos” era Deus. E o “logos” incarnou e manifestou a glória de Deus (Jo. 1.1,14). Quando os discípulos o viram caminhar sobre as águas imagina-ram ver um fantasma, mas Ele esclareceu que possuía um corpo semelhante ao deles (Mt. 14.26,27).

O apóstolo João, para combater as ideias gnósti-cas do seu tempo, escreveu a sua primeira carta que traz o seguinte conselho: “Amados, não creiais em todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus; porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus; mas este é o espí-rito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis que já está no mundo” (1 Jo. 4.1-3).

3. O SANGUE de Jesus vertido no Calvário é a única base da fé pela qual somos salvos?

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Na epístola aos Hebreus está escrito que sem der-ramamento de sangue não há remissão. Ora, se o san-gue de animais servia, naquele tempo, para santificar o pecador, quanto mais o sangue de Cristo que foi sacri-ficado como um cordeiro imaculado! (Hb. 9.13,14,22). Com efeito, Jesus, ao tomar o cálice da sua última páscoa, afirmou: “Isto é o meu sangue, do Novo Tes-tamento, que é derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt. 26.28).

S. Paulo ensina a igreja de Roma a ter fé no san-gue de Cristo da seguinte forma: “Sendo justificados gratuitamente pela Sua graça, pela redenção que há em Jesus Cristo, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no Seu sangue para demonstrar a Sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos sob a pa-ciência de Deus” (Rm. 3.24,25). E João confirma na sua primeira carta que o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado (1 Jo. 1.7). Por conseguinte, é desnecessário acrescentar outro fundamento à fé do crente, e o que passa disto pode considerar-se erro.

4. A RESSURREIÇÃO de Cristo foi real e fí-sica, havendo ressuscitado o mesmo corpo colocado no túmulo?

Convém salientar que só ressuscita quem tiver morrido. O próprio Senhor disse acerca de si: “O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e ma-tá-lo-ão, e ao terceiro dia ressuscitará” (Mt. 17.22,23). Ele de facto morreu porque não foi necessário que-

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brar-lhe as pernas como era costume entre os conde-nados à morte. Esse mesmo corpo que foi colocado no sepulcro saiu dele ao terceiro dia e apareceu aos discí-pulos. Quando o viram imaginaram que era um espíri-to, mas o Senhor esclareceu dizendo: “Porque estais perturbados e porque sobem tais pensamentos aos vos-sos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede, pois um espíri-to não tem carne nem ossos como vedes que eu tenho” (Lc. 24.39). E ouvindo estas palavras, os discípulos receberam a confirmação e comeram com Ele.

Existe ainda a confissão do céptico Tomé, cuja experiência basta para aceitarmos a ressurreição física do Senhor. Dizia ele descrente: “Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos e não meter o dedo no lugar dos cravos, e não meter a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo. 20.25). Ora, na pró-xima vez que Jesus lhes apareceu fez o convite ao in-crédulo Tomé para tirar a prova por si mesmo dizen-do: “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; e chega a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente” (Jo. 20.27). Ao observar a realidade da ressurreição, Tomé deixou sair esta expressão: “Meu Senhor e meu Deus!” Como observamos Tomé acei-tou a ressurreição de Jesus e confirma a sua veracida-de. O apóstolo Paulo afirma que aqueles que rejeitam a ressurreição do Senhor são considerados falsas tes-temunhas de Deus, e que tanto a pregação como a fé são vãs (1 Co. 15.14,15).

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5. A ASCENSÃO e volta do Senhor têm como finalidade ajuntar a sua Igreja e estabelecer o reino dos céus?

Com efeito, Jesus prometeu voltar e tomar os crentes para junto de Si (Jo. 14.3). Os mensageiros celestes informaram os discípulos, que o olhavam su-bindo nas nuvens, que “esse Jesus que dentre vós foi recebido em cima no céu, há-de vir assim como para o céu o vistes ir” (Act. 1.11).

Mateus gravou as palavras do Senhor acerca da sua vinda: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão e ve-rão o Filho do homem vindo sobre as nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt. 24.30). Nessa ocasião os reinos do mundo pertencerão a Deus e ao Seu Mes-sias, conforme as palavras de Jesus em Apocalipse 11.15 que diz: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”. Será a consumação do reino instituído pelo sangue do Cordeiro de Deus. Ele há-de tomar o trono de David, conforme a revelação do anjo a Maria (Lc. 1.32). Quando Ele voltar Israel converter-se-á e o Rei dos reis governará o mundo e será Senhor sobre todos.

Estes são os pontos essenciais para reconhecer e rejeitar qualquer doutrina que se afaste da Bíblia Sa-grada. O apóstolo Paulo escreveu aos cristãos da Ga-lácia deste modo: “Ainda que nós mesmos, ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que

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já vos temos anunciado seja maldito” (Gl. 1.8). Visto que o evangelho anunciado pelos apóstolos se encon-tra gravado na Bíblia, seja ela a única regra de fé e norma de vida para os cristãos.

“O Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escon-deu, e, pelo gozo dele, vai vende tudo quanto tem e compra aquele campo.

Também, o Reino dos céus é semelhante ao ho-mem negociante que busca boas pérolas; e, encon-trando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a.

Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar que apanha toda a qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia e, as-sentando-se, apanham para os cestos os bons, os ru-ins, porém, lançam fora”. (Mateus 13.44-48).

CAPÍTULO DOZE

CHAMADOS PARA O REINO

“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas”

(Mt. 6.33).

O propósito de Deus é instaurar o Seu Reino so-bre toda a Terra para que haja paz, prosperidade e se-gurança. Após a desobediência no jardim do Éden as pessoas ficaram sob o domínio de Satanás formando, deste modo, o reino das trevas. Porém, Deus prometeu que a semente da mulher haveria de vencer Satanás tirando-lhe o domínio sobre as Suas criaturas. Foi com esse alvo que chamou Abrão a fim de iniciar um reino que restaurasse a felicidade a todas as pessoas. Esta foi a mensagem que Deus falou ao povo através de Moisés: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu concerto, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis reino sa-cerdotal e povo santo” (Êx. 19.5,6). Porém, os descen-dentes de Abrão falharam no propósito divino e o Se-

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nhor enviou Seu Filho para lançar os fundamentos do reino.

O nascimento de Jesus foi anunciado a Maria com a promessa de que seu filho receberia o trono de David, cujo reinado seria eterno (Lc. 1.32,33). No princípio do seu ministério, o Senhor começou apre-sentando a proximidade do Reino de Deus deste modo: “O tempo está cumprido e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho”. O Senhor trazia consigo a missão de lançar os funda-mentos do Reino dos céus. Ele era o próprio funda-mento porque dava exemplo de submissão ao Pai. Além disso, daria a sua vida para resgatar os pecado-res do domínio de Satanás.

O evangelho que Ele pregava constava de apre-sentação do amor de Deus e convite ao arrependimen-to para entrar no Reino. Dizia: “Arrependei-vos por-que é chegado o Reino dos céus”. “E percorria Jesus toda a Galiléia ensinando nas suas sinagogas e pre-gando o evangelho do Reino e curando toas as enfer-midades e moléstias entre o povo” (Mt. 4.23).

O Reino de Deus vem dos céus para tornar feli-zes as pessoas que vivem sobre a Terra. Todavia, o Reino é oferecido a quem deseje voluntariamente en-trar nele com submissão às respectivas leis. Isto signi-fica que Deus fez a Sua parte na preparação e oferta, esperando agora que as pessoas de boa vontade tam-bém cumpram a sua parte. Ora, Deus amou o mundo

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de tal maneira que lhe enviou o Seu amado Filho para convidar todos a entrar no seu Reino. A prova de que Jesus trouxe o Reino de Deus à Terra está na liberta-ção dos oprimidos de Satanás. Dizia Ele: “Se eu ex-pulso os demónios pelo Espírito de Deus é, por conse-guinte, chegado a vós o Reino de Deus” (Mt. 12.28).

Deste modo, o Diabo começou a perder o seu reino. Mas, para completar a tarefa, Jesus haveria de dar a Sua vida para resgatar os pecadores. Ele mesmo confirmou que veio para dar a Sua vida em resgate de muitos. E quando estava expirando na cruz exclamou: “Está consumado”. Estava tudo cumprido para que as pessoas pudessem entrar no Reino que tinha iniciado.

Mas, se o Reino é uma dádiva da graça de Deus, há condições a cumprir para que as pessoas possam recebê-lo, entrar e permanecer nele. Enquanto Deus estendeu a mão da Sua graça com a oferta, as pessoas devem estender a mão da sua fé para aceitá-la. Há, portanto, seis condições básicas a satisfazer, da nossa parte, para entrar e permanecer no Reino de Deus.

Arrependimento é o passo fundamental para re-ceber o Reino de Deus. Isto significa que as pessoas devem reconhecer o seu estado de pecadores e neces-sidade de mudança. Porque todos pecaram e carecem da vida de Deus. Esta vida nova começa na mudança da mente quando resolvemos chamar ao pecado pelo seu nome e decidimos voltar-lhe as costas. A mensa-gem dos apóstolos era esta: “Arrependei-vos, pois, e

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convertei-vos para que sejam apagados os vossos pe-cados e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor” (Act. 3.19). Enquanto o pecado nos afasta de Deus, o arrependimento é a nossa pri-meira atitude para aproximação. Sem ele ninguém pode subir os degraus da restauração.

Fé em Cristo é o segundo passo fundamental para receber o Reino de Deus. Fé é a demonstração da confiança, tanto na acção como na oferta do Senhor. Cremos que Jesus foi morto pelos nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. Ele cumpriu o que a lei exigia de nós, a morte, para que pudéssemos des-frutar o que a graça nos dá, a vida, no Seu Reino. Ele representou-nos na morte para nós o representarmos na vida. “Porque se pela ofensa de um só a morte rei-nou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo” (Rm. 5.17).

O apóstolo Paulo confessou que “Já estou cruci-ficado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl. 2.20). Por conseguinte, a nossa vida é uma caminhada de fé, sem a qual nin-guém pode agradar ao Senhor.

Conversão é o terceiro passo fundamental para receber o reino de Deus. É iniciar uma nova página na história da vida pessoal. Podemos obter uma boa ilus-

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tração da conversão na acção de Jesus transformar água em vinho para alegrar um casamento em Caná. Conversão tem o sentido de volver em sentido oposto. Paulo refere-se à conversão dos tessalonicenses desta maneira: “como dos ídolos vos convertestes a Deus para servir ao Deus vivo e verdadeiro” (1 Ts. 1.9). O serviço que era prestado aos ídolos, aos falsos deuses, foi transferido para o Deus verdadeiro.

Portanto, a nossa conversão consta de voltar as costas ao pecado e aos ídolos a fim de servir unica-mente a Deus. Isto é, assim como outrora servíamos à injustiça para receber a morte, também agora servimos à justiça para desfrutar da vida no Reino de Deus. Pois, também Cristo, “quanto a morrer morreu para o pecado; mas quanto a viver vive para Deus” (Rm. 6.10). Assim são também aqueles que se convertem ao Deus vivo.

Novo nascimento é o quarto passo fundamental para receber o Reino de Deus. Nicodemos era um ju-deu que esperava o reino de Deus e procurou Jesus para uma entrevista. Ele representava os companheiros do Sinédrio ao dizer: “Rabi, bem sabemos que és mes-tre vindo de Deus porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes se Deus não for com ele”. Ao que prontamente Jesus respondeu: “Na verdade, na verda-de te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus” (Jo. 3.2,3).

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João usou aqui uma palavra grega que significa “nascer de cima”. Visto que o corpo é de baixo e nas-cido em pecado, não pode ver o Reino de Deus, nem, tampouco, entrar nele. Para vê-lo e entrar nele é preci-so nascer do Espírito, que, simbolicamente, vem de cima, dos céus. Tiago fornece-nos o verdadeiro senti-do da palavra quando diz que “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de vari-ação” (Tg. 1.17). É esta boa dádiva, e este dom perfei-to, que nos franqueia a entrada no Reino de Deus. E Pedro fala de sermos gerados de novo, “não de semen-te corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1 Pd. 1.23).

Santificação é o quinto passo fundamental para receber e se manter no Reino de Deus. Assim escreveu S. Paulo: “ Não sabeis que os injustos não hão-de her-dar o Reino de Deus?” E fornece-nos uma grande lista de formas de vida que impedem a entrada no Reino de Deus: “Não erreis; nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomi-tas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêba-dos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus”. E apresenta-nos a santificação como resultado da conversão: E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados, mas haveis sido santifi-cados, mas haveis sido justificados em nome do Se-

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nhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co. 6.9-11).

Por conseguinte, santificação significa purifica-ção e separação do pecado, e consagração a Deus para viver em novidade de vida com ajuda do Espírito San-to. O autor de Hebreus aconselha-nos a seguir a paz e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. E Paulo afirma que Deus é poderoso para nos edificar e dar herança entre os santificados (Act. 20.32).

Ministério é o sexto passo fundamental para re-ceber e se manter no Reino de Deus. Quando Jesus iniciou o seu ministério compartilhou essa missão com os discípulos dizendo: “Vinde após mim e eu vos farei pescadores de homens”. Ele entregou-lhes a missão de recrutar pessoas para o Seu Reino, e disse-lhes: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça porque deles é o Reino dos céus” (Mt. 5.10). E ordenou-lhes que proclamassem a chegada do Reino dos céus (Mt. 10.7). Todavia, esclareceu que “nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt. 7.21). Ele assegurou que “este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as gentes, e então virá o fim” (Mt. 24.14).

O Senhor iniciou o Seu ministério proclamando a chegada do Reino de Deus. Instruiu-nos a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça. Ensi-

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nou-nos a orar pela concretização do Reino e terminou falando durante quarenta dias, após a ressurreição, so-bre o Reino. Em Samaria, Filipe pregava sobre o Rei-no de Deus. Paulo visitava as Sinagogas por toda a parte e pregava sobre o Reino de Deus. A sua mensa-gem era simplesmente Cristo e o Seu Reino. Ele dizia que “tudo provém de Deus que nos reconciliou consi-go mesmo e nos deu o ministério da reconciliação” (2 Co. 5.18). Pois “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14.17). Este é o ministério que deve ser cumpri-do por todos os convertidos ao Deus verdadeiro.

CAPÍTULO TREZE

CHAMADOS PARA A SANTIDADE

“Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo para que fôssemos santos e irrepreensíveis di-ante dele em caridade, e nos predestinou para filhos

de adopção por Jesus Cristo” (Ef. 1.4,5).

O sentido exacto de santificação é separar do pe-cado para consagrar ao serviço exclusivo de Deus. Si-gnifica sair da tutela de Satanás e ficar sob a soberania de Deus em união com Cristo. Enquanto a justificação descreve o lado divino da santificação, a conversão descreve o lado humano, que envolve a personalidade total, intelecto, emoções, e vontade.

A conversão tem o sentido de volver, virar, vol-tar em sentido oposto. Quem se vestiu do novo ho-mem, deixa de ter motivos para manter o mesmo rumo. Uma nova criação, com a mente de Cristo, não está adequada aos velhos caminhos do pecado. Quem tem a mente de Cristo só está bem no caminho de Cristo, servindo a Cristo.

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Deus aconselhava o povo de Israel à conversão, quando estava em angústia. Voltar para Deus é a me-lhor solução, a melhor decisão, e o melhor caminho. “Porquanto, o Senhor teu Deus é Deus misericordioso, e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esque-cerá do concerto que jurou a teus pais;” (Dt. 4.30, 31). Ele é fiel e cumpre as suas promessas, se tão somente formos fiéis à Sua Palavra.

O Senhor exortava Israel a deixar os maus cami-nhos e a voltar-se para Ele; “Tornai para mim, diz o Senhor dos Exércitos, e eu tornarei para vós;... E não sejais como vossos pais, aos quais clamavam os pri-meiros profetas, dizendo: Convertei-vos dos vossos maus caminhos e das vossas más obras; mas não ouvi-ram, nem escutaram, diz o Senhor;” (Zc. 1.3,4). Con-versão não é mudar de sistema religioso, mas de sis-tema vivencial; é iniciar uma vida nova com a ajuda do Espírito santo. Assim seja consigo prezado leitor.

Ainda hoje Deus envia pregadores para convidar o povo à conversão. Ordenou que fossem por todo o mundo a fim de fazerem discípulos, e ensinarem o caminho da santificação; (Mt. 28.19,20). Porque quem crer e for baptizado será salvo; (Mc.16.15). Por conse-guinte, quem guiar alguém à conversão cobrirá uma multidão de pecados, de forma que já não haverá con-denação para tal pessoa; (Tg. 5.20).

A conversão alcança perdão, refrigério, e muita alegria, pela presença do Senhor; (Act. 3.19). Além

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disso, concede-nos o privilégio de servir ao Deus vivo em novidade de vida. Paulo relata a experiência da igreja do primeiro século: “como dos ídolos vos con-vertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadei-ro;” (1 Ts. 1.9).

Aspectos da santificação A santificação tem dois aspectos fundamentais: o

interno, que é operado pelo Espírito Santo, mediante a fé, e o externo, sendo operado progressivamente, pela vontade do indivíduo. A santificação interna é efectu-ada através da purificação de todos os pecados no momento da conversão, enquanto a santificação exter-na consta de um processo contínuo que requer obedi-ência aos altos padrões divinos.

1. A santificação interna procede de Deus. No instante da manifestação de fé no Seu Filho acontece a transformação espiritual; como está escrito: “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do espírito para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo” (1 Pd. 1.2).

A santificação é o resultado do sacrifício de Cris-to, que sofreu em amor, para possuir ao seu lado uma igreja purificada; “para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhan-te, mas santa e irrepreensível” (Ef. 5.26,27). A santi-ficação acontece por acção do Espírito Santo em cola-boração com a vontade humana.

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Paulo dá-nos conta do processo da santificação. “Não sabeis que os injustos não hão-de herdar o Reino de Deus? Não erreis. Nem os devassos, nem os idóla-tras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o Reino de Deus. E é o que alguns têm sido, mas haveis sido la-vados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1 Co. 6.9-11).

A santificação consta da purificação da nossa consciência. Aos hebreus foi comprovado que se o sangue dos animais já era útil à consciência no passa-do, “quanto mais o sangue de Cristo que, pelo espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, pu-rificará a vossa consciência das obras mortas, para ser-virdes ao Deus vivo?” (Hb. 9.14).

2. A santificação externa é um processo de submissão constante à vontade do Senhor. Paulo ex-pressa-se desta maneira: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2 Co. 7.1). Significa, fazer aquilo que Ele faria, diariamente, na intenção de agradar-lhe, em constante purificação de pensamentos, palavras e obras.

A santificação é necessária porque “sem santifi-cação ninguém verá o Senhor;” (Hb. 12.14). Só os

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santos podem ver o Santo Deus e estar em sua presen-ça. Para isso precisamos de santificar-nos mediante a fé e a obediência à Palavra do Senhor.

Santificação é consagrar o meu corpo ao serviço de Deus e da Sua justiça. Em Romanos 6.13 lemos assim: “Nem tampouco apresenteis os vossos mem-bros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justi-ça.” E, no verso 19 lê-se: “...assim, apresentai agora os vossos membros para servirem à justiça para santi-ficação.” Isto é, fazer tudo o que Jesus faria para agra-dar ao Pai.

Santificação é fazer todas as coisas para glória de Deus; (1 Co. 10.31,32). Comer, beber, falar, vestir, servir, negociar, comprar, etc., tudo o que seja útil para glorificar ao Senhor, isso é o que deve ser feito. A santidade mantém-se pelo temor de Deus, o qual contribui para que nos afastemos do mal. “E se invo-cais por Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo a obra de cada um, andai em temor durante o tempo da vossa peregrinação. Mas como é santo aque-le que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver;” (1 Pd. 1.17-14). Deste modo seremos a luz do mundo, ajudando outros nesta pere-grinação terrena.

Santificação é: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida

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que agora vivo na carne vivo-a na fé do filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim;” (Gl. 2.20). A santificação começa na cruz com Cristo, passa pela sepultura com Cristo, (no baptismo) e pela ressurreição com Cristo, em renovação constante para uma vida nova com Cristo.

A nossa posição em Cristo

Quando, pela fé, aceitamos Cristo, assumimos uma nova posição perante Deus e para Deus. Após a justificação, o Senhor trata-nos, não mais como peca-dores, mas como filhos justos e Sua habitação na terra.

Quando uma pessoa experimenta a transformação espiritual, definida como regeneração, é adoptada como filho de Deus com todos os direitos. Porque no cumprimento do tempo, “Deus enviou seu Filho, nas-cido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adop-ção de filhos. E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama, Abba, Pai. Assim, já não somos mais escravos, mas filhos; e se somos filhos, somos também herdeiros de Deus por Cristo;” (Gl. 4.4-7).

A adopção de pecadores como filhos de Deus é um acto amoroso da Sua parte, que todos devemos reconhecer e agradecer de coração. Observe-se como o apóstolo João descreve esta linda verdade: “Vede

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quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôs-semos chamados filhos de Deus;” (1 Jo. 3.1).

Aquele que nasceu do Espírito de Deus é guiado pelo mesmo Espírito, e tem testemunho disso; (Rm. 8.14). Aí, o Espírito Santo testifica com o meu espíri-to que sou filho de Deus; (Rm. 8.16). Logo, como Seu filho sou reconhecido pela prática da justiça e do amor; (1 Jo. 3.10). E, sendo filho de Deus, pertenço à grande família dos santos do Senhor. “Assim, já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus;” (Ef. 2.19).

Além disso, juntos constituímos a morada de Deus em Espírito, como está escrito: “Edificados so-bre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus é a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor, no qual também vós juntamente sois edifica-dos para morada de Deus em Espírito;” (Ef. 2.20-22).

Eu amo e obedeço a Deus; logo, sou morada de Deus. Como Jesus falou: “Se alguém me ama guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada;” (Jo. 14.23).

Fomos comprados para ser o templo do Espírito Santo. “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? ” (1 Co. 6.19). Isto é, uma vez purificados pelo sangue do Cordeiro, ficamos em

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condições para albergar e conservar o divino Senhor connosco em comunhão constante.

Portanto, devo glorificar a Deus no meu corpo, o qual pertence a Deus, mantendo-o são, limpo, e prote-gido de qualquer impureza que possa contribuir para afastar o divino habitante da sua morada; (1 Co. 6.20).

E, porque somos morada de Deus, somos vence-dores “porque maior é o que está em nós, do que o que está no mundo;” (1 Jo. 4.4). A soberania de Deus é um aspecto do seu domínio inalterável e eterno sobre a sua criação. A autoridade do filho de Deus começa na adopção. João assegura que “A todos quantos o rece-beram (a Jesus) deu-lhes a autoridade de se tornarem filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;” (Jo. 1.12). Ser filho de Deus é o mais alto privilégio que alguém pode ter e não deve desperdiçar por nada desta vida.

Somos vencedores no mundo porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo, mediante a sua fé; (1 Jo. 5.4). Podemos também vencer a inclinação da car-ne pela submissão ao espírito. Eis o conselho de Pau-lo: “Andai em espírito, e não cumprireis a concupis-cência da carne;” (Gl. 5.16). Aqueles que nasceram de Deus não continuam no mau hábito de viver em peca-do.

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que é gerado de Deus guarda-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca; (1 Jo. 5.18). Jesus

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concedeu-nos autoridade sobre os demónios quando disse: “Eis que vos dou autoridade para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo, e nada vos fará dano algum; (Lc. 10.19). Em Seu nome sempre vence-remos.1

Finalizo com as palavras de Paulo aos romanos: “Porque os que dantes conheceu também os predesti-nou para serem conforme a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito entre muitos ir-mãos. E aos que predestinou a esses também chamou; e aos que chamou a esses também justificou; e aos que justificou a esses também glorificou” (Rm. 8.29,30).

Nós fomos criadns à imagem de Deus, portanto, santos como Ele. A queda no pecado separou-nos do Criador e, deste modo, perdemos a imagem de santi-dade. Mas Deus amou-nos de tal maneira que mandou chamar-nos ao arrependimento a fim de recuperarmos o estado anterior. Ora, quem responde a este apelo é justificado, que significa receber a declaração de justo. É como se nunca tivéssemos pecado, havendo nós sido pecadores. Aquele que nunca pecou, com muito amor tomou o nosso lugar na condenação, para que nós, pela fé, tomássemos o seu lugar como filhos santos. Finalmente, e sendo filhos, seremos glorificados ao lado do unigénito Filho de Deus. Ele mesmo afirmou que na casa do Pai há muitas moradas e prometeu le-var-nos para junto dele eternamente (Jo. 14.2,3).

1 Capítulo extraído do meu livro “Eis o Homem”.

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“E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe.

E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu adereçada como uma espo-sa ataviada para o seu marido.

E ouvi uma grande voz do céu que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus.

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas”.

(Apocalipse 21.1-4).

CONCLUSÃO

Ora, nós fomos criados com um propósito espe-

cial, que Satanás transtornou introduzindo o pecado no mundo, mas que Deus quis restaurar enviando seu Fi-lho ao mundo. Ele convidou todos a segui-lo e, depois disso, substituiu-nos na condenação pelo seu sacrifício na cruz. Deus, em Seu infinito amor, ofereceu o pa-gamento pelo nosso pecado e, por Sua grande miseri-córdia, perdoou e purificou-nos de todo o pecado. Por conseguinte, nós somos chamados pelo amor sacrifici-al de Cristo para seguir o Seu exemplo.

Nós somos chamados para restaurar a comunhão com Deus e com Seu filho porque essa é a nossa voca-ção. Ninguém poderá ser realmente feliz se não des-frutar plena comunhão com o Criador e as suas criatu-ras. É a comunhão, ou participação comum das coisas, que torna as pessoas plenamente felizes.

Nós somos chamados para iniciar uma vida nova mediante renúncia ao pecado e aceitação do plano di-vino na prática diária. Este início deve ser marcado pelo baptismo em água como sinal de morte para o pecado e ressurreição para a vida nova com Cristo.

Nós somos chamados para a bem-aventurança porque não fomos criados para a maldição. Por isso,

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são bem-aventurados os que se purificam pela fé no sangue do Cordeiro de Deus. O Senhor proclamou bem-aventurados todos os que aceitam a Cristo e me-ditam na Sua palavra constantemente.

Nós somos chamados para formar a nova comu-nidade, ou Igreja de Cristo. Somos a família de Deus formada por irmãos nascidos de novo, do mesmo Pai e da mesma semente, a Palavra de Deus. Somos o novo Homem, o corpo de Cristo, para revelar o Deus vivo ao mundo.

Nós somos chamados para a verdade a fim de deixarmos a mentira de Satanás e seguirmos a orienta-ção da Palavra de Deus, a verdade suprema. Nós não temos de seguir o pai da mentira, o Diabo, para ser com ele condenados. Por isso, cumpriremos a nossa vocação quando vivermos na verdade e falarmos a verdade com os nossos companheiros.

Nós somos chamados das trevas do pecado para a luz de Cristo a fim de brilharmos para glória de Deus e salvação das outras pessoas. Somos considerados como astros que reflectem a luz de Cristo no firma-mento das trevas deste mundo.

Nós somos chamados para cumprir o ministério da reconciliação mediante a vocação concedida pelo Espírito Santo a cada um. O nosso Deus é de paz e como Seus filhos buscamos a paz e vivemo-la. Além disso, proclamamos o evangelho da paz a todas as criaturas para que tenham paz com Deus e connosco.

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Nós somos chamados para a disciplina porque Deus não é de confusão, mas de ordem. Por isso, como filhos vivemos ordeiramente agradando ao Pai do céu. Aprendemos a disciplina pela Sua Palavra, e cumprimos a orientação das Sagradas Escrituras a fim de não sermos disciplinados pelo castigo severo.

Nós somos chamados a lutar pela fé que uma vez foi dada aos santos e aceitámos para nossa salvação. Estamos atentos aos falsos ensinamentos para rejeitá-los, e proclamamos a sã doutrina segundo a Bíblia Sa-grada.

Nós somos chamados para formar o reino de Deus e a proclamá-lo a todas as pessoas a fim de se estender a toda a Terra. Somos o especial gabinete onde Deus trabalha diariamente de modo a abençoar e proteger a todos os que lhe obedecem.

Finalmente, somos chamados para a santidade. Porque se o Pai é santo também os filhos o são. E nós recebemos do Seu Espírito para ser santos como Ele é santo. Assim, devemos ser santos em toda a nossa ma-neira de viver. Quer comamos, bebamos, vistamos, ou qualquer outra coisa, façamos tudo para glória de Deus e seremos recompensados.

Amén.

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