decisão do juiz

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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIAILHÉUS

3a V DOS FEITOS DE REL DE CONS CIV E COMERCIAIS

PROC. N° 0002642-30.2011.805.0103MANDADO DE CITAÇÃO E INTIMAÇÃO,para ser cumprido na forma abaixo:

ADVERTÊNCIA

1. Prazo para resposta: 15 (QUINZE) DIAS.2. Não sendo contestada a ação, presumir-se-ão

verdadeiros os fatos articulados pelo autor.Art. 285 do C.P.Civil

DE ORDEM DO DOUTOR JORGE LUIZ DIAS FERREIRA, Juiz deDireito da 3a Vara Cível e Comercial da Comarca de Ilhéus, Estado da Bahia, na formada lei etc ...

MANDAao Oficial de Justiça FRANCISCO MIGUEL DE SOUZA,que a vista do mesmo expedido dos autos da AÇÃO INIBITÓRIA C/C INDENIZA TÓRIAPOR DANOS MORAIS, sob o nO 0002642-30.2011.805.0103, por ANGELA MARIACORREA DE SOUSA contra EMíuo GUSMÃO, PROCEDA a INTIMAÇÃO de EMíuoGUSMÃO, brasileiro, estado civil ignorado, blogueiro, com endereço nesta cidade noCaminho 18, casa 07, Hernani Sã, Urbis, para retirar do "610g do Gusmão", no prazode vinte e quatro (24) horas, os textos seguintes: "AUGUSTO MACEDO DE SAíDA","EX-AMANTE DE AUGUSTO MACEDO AFIRMA QUE ERA LARANJA" e "E AGORAIRMÃ ÂNGELA?", sob pena de pagamento de multa diária de R$500,00(quinhentosreais). Após, CITE-O para contestar a presente ação no prazo de quinze (15) dias,sob pena de serem aceitos como verdadeiros os fatos alegados pela autora,ficando, ainda, INTIMADO do inteiro teor da decisão de fls. 65/68, cuja cópia segueanexa. Tudo conforme petição inicial e decisão de fls. 65/68 que seguem anexas porcópia.

Dado e passado nesta Cidade e Comarca de Ilhéus - Bahia,

27 de maio de 2011. '~ SeI. Marivaldo dos Santos Silveira, Escrivão,

digitei e assino de ordem, c rme Ato ;~04/91 d2didência do Tribunal de Justiça,BEL. MARI)#.~.t;60.ir;:NrosSILVEIRA.CRI. ()3070FICI0

Proc. N° 0002642-30.2011.805.0103

Vistos, etc.

Ângela. Maria Corrêa de Sousa, DeputadaEstadual, atualmente no exercício do seu segundo mandato, ingressou coma presente Ação Inibitória c/c Indenizatória por Danos Morais contraEmílio Gusmão,proprietário de um "blog" intitulado "Blog do Gusmão",em razão de inúmeras notícias veiculadas no referido endereço eletrônico,citando de forma depreciativa o nome da parlamentar e a relacionando adenúncias de súpostas irregularidades ocorridas na Secretaria deAssistência Social do Município de Ilhéus, além de atribuir-lhe prática decrime eleitoral pela utilização indevida de verbas públicas para custearsua campanha.

Relata a autora que diante das acusações que aseu entender são inverídicas, ingressou com uma ação penal contra o réu,o qual não se intimidou e, ao invés de retratar-se como facultava oprocedimento criminal, continuou com os abusos, destartedisponibilizando "em seu site um link direto, com a imagem dademandante, que leva o leitor diretamente a todos os comentáriospublicados sobre as alegadas irregularidades na Secretaria de AssistênciaSocial ", objetivando denegrir a imagem da autora.

Requer antecipação da tutela, no sentido de que1- "o RÉU promova a retirada do banner que mantém na páginainicial de seu blog, e de todo o conteúdo a que o link remete, sobretudoas notas intituladas "AUGUSTO MACEDO DE SAÍDA", "EX­AMANTE DE AUGUSTO MACEDO AFIRMA QUE ERALARANJA", "E AGORA IRMÃ ÂNGELA" e "ÂNGELA NÃO QUEREXPLICAR, PREFERE O SILÊNCIO ";11- "determinar que o réu se abstenha de veicular, no seu meio decomunicação qualquer expressão agressiva, injuriosa, difamatória ecaluniosa contra a requerente;"111- "determinar a publicação da resposta às inverdades publicadaspelo réu, cujo teor está anexo, inclusive determinando que no texto do

"i/1 l

I

?direito de resposta conste a expressão: "PUBLICADO MEDIANTEDETERMINAÇÃO JUDICIAL";

Apesar de formular um pedido de direito deresposta, a autora não anexou o respectivo texto à inicial.

DECIDO.O controle do exercício da atividade de

informação pelo Poder Judiciário, na prática, é questão que merece serexaminada sob mais de um prisma.

De um lado, emerge inquestionável a ingerênciado Judiciário, provocado para tutelar suposto direito subjetivo ameaçadoou violado (cf art . .xxxv da Constituição Federal).

De outra vertente, a mesma Constituição Federalassegura o plena liberdade de pensamento e de informação jornalística,aqui entendida em sentido amplo (art. 5~ incisos IVe IX, combinado comos arts. 220 a 224).

Fato é que a Lei Maior, ao mesmo tempo em quegarante a liberdade de informação, garante a inviolabilidade daintimidade, da vida ·privada, da honra e da imagem das pessoas,assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moraldecorrente de sua violação (art. 5,X).

Desse modo, a interferência do Judiciário,quando provocado, no exame da atividade informativa ou de comunicação,não constitui violação ou "censura" ao exercício desse mister, comoequivocadamente costuma-se propalar, mas a legítima atividadejurisdicional, constitucionalmente garantida ao cidadão, para garantir oseu direito de ação, apreciando a suposta violação desse direito peloexercício irregular da atividade informativa.

Conforme comentário de José Afonso da Silvacom escólio em Albino Greco (in COMENTÁRIO CONTEXTUAL ÀCONSTITUIÇÃO, 5° edição, 2008, págs. 826/827: "A liberdade deinformação não é simplesmente a liberdade do dono da empresajornalística ou do jornalista. A liberdade destes é reflexa, no sentido deque ela só existe e se justifica na medida do direito dos indivíduos auma informação correta e imparcial. A liberdade dominante é a de serinformado, a de ter acesso às fontes de informação, a de obtê-Ia. Odono da empresa e o jornalista têm um direito fundamental de exercersua atividade, sua missão, mas especialmente têm um dever. A eles sereconhece o direito de informar ao público os acontecimentos e idéias,mas sobre eles incide o dever de informar à coletividade taisacontecimentos e idéias objetivamente, semalterar-Ihes a verdade ouesvaziar-Ihes o sentido original: do contrário se terá não informação,mas deformação."

~

E conclui José Afonso da Silva - "Os jornalistase as empresas jornalísticas reclamam mais seu direito do que cumpremseus deveres."

No caso em apreço, submete-se à apreciaçãodeste JuÍzo suposta violação de direito à honra e à imagem deparlamentar em site de comunicação virtual, que embora não se possadefinir como empresa jornalística, porquanto não se sabe se o titularresponsável é jornalista profissional, desenvolve atividade similar, que é ainformação, a quaJ é disseminada de forma rápida e eficaz, estando,portanto, sujeito à mesma disciplina constitucional.

E algumas das matérias publicadas realmenteatingem a imagem e a honra da deputada autora da presente ação, indoalém do direito de informar, porquanto nelas o réu levanta suspeita e fazacusações sem apresentar as provas sobre a veracidade do quantodivulgado.

Um exemplo do quanto afirmado encontro nasseguintes matérias: "AUGUSTO MACEDO DE SAÍDA", quando afirmaque "Há indícios de "que a secretaria foi aparelhada em benefício dacampanha da 'irmã"'; "EX-AMANTE DE AUGUSTO MACEDOAFIRMA QUE ERA LARANJA", quando diz em texto sublinhado que "Afonte deste blog suspeita que a grana era destinada à campanha dereeleição da deputada~ que se auto-intitula como 'serva de Deus"'; "EAGORA IRMÃ ÂNGELA?, quando praticamente repete texto do artigoanterior, "Uma fonte deste blog. suspeita que os valores descritos pelaamante de Macedo. possam ter sido direcionados à campanha dadeputada."

Quanto aos demais artigos, embora abordandopraticamente o mesmo tema, não me parece que tenha o articulistaextrapolado o limite da informação, ainda que de forma sensacionalista.

Relativamente ao pedido de proibir o réu de"veicular, no seu meio de comunicação qualquer expressão agressiva,injuriosa, difamatória e caluniosa contra a requerente", parece-me semobjetividade, podendo configurar, aí, sim, censura à liberdade deinformação e de expressão.

Com efeito, é cediço que a Constituição Federalprotege a honra e a imagem da pessoa, sendo coerente supor que ninguémpode violar esse direito.

No entanto, também é assegurada a livre

manifestaçã? ~o pens~mento e a liberdade ~e informaç~o, ~e mo~o que ~\Isom~nte obJetzvam.en~e.pod: s:r mensur:z~o se a publzcaçao vezculada~ /lefetzvamente constztuz vlOlaçao a honra e a zmagem da parlamentar. \ ~.

Ressalte-se, por último, que na condição de / /.

figura pública, com mandato garantido por s,grágio popular, tem of

parlamentar, e no particular, a ora demandante, satisfação a prestar àsociedade a respeito de seus atos na vida pública, sua conduta etc., postoque daí advirá a credibilidade à sua pessoa. Como já se disse em relação àmulher de César: no caso, "Não basta ser honesto, tem que parecerhonesto".

Posto isto, com fundamento nos dispositivosconstitucionais supracitados, ainda com espeque no art. 273, I c/c art. 461,§ 3~ 4° e 5~ ambos- do Código de Processo Civil, CONCEDO,parcialmente, a tutela, para determinar ao réu que retire do "Blog doGusmão ", no prazà de vinte e quatro (24) horas, os textos seguintes:"AUGUSTO MACEDO DE SAÍDA", "EX-AMANTE DE AUGUSTOMACEDO AFIRMA QUE _ERA LARANJA" e "E AGORA IRMÃÂNGELA?", sob pena do pagamento de multa diária de R$500,00(quinhentos reais).

Cite-se o réu para contestar a presente ação noprazo de quinze (15) dias, sob pena de serem aceitos como verdadeiros osfatos alegados pela autora, devendo ainda ficar intimado do inteiro teordesta decisão para os dt!vidos fins.

- Intimem-se.

Ilhéus, 06 rje mai

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