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danilo arnaldo briskievicz

I D E N T I D A D E

D a n i l o A r n a l d o B r i s k i e v i c z

I D E N T I D A D E

ISBN 978-85-914125-0-1

B e l o H o r i z o n t e

Inverno de 1993

O poeta nunca se cansa, por que a

poesia nunca terá um ponto final,

e se ele pára o coração continua a

cantar as melodias do mundo, da

vida, do agora, do ontem, do

amanhã; mesmo deixando

transparecer mistério...

P.O.M.G.

Dedico as poesias

Manoel Bonfim

Angelina Briskievicz

Humberto Venuto

3º Período Filosofia

Nota

Livro novamente editado agora em formato digital para

publicação no site www.recantodasletras.com.br datado de

1993, sendo o primeiro livro de poesia do autor.

PRÓLOGO

Para borrifar o papel

com sentimentos e palavras

o poeta de alma cortada

declina o dia

declina a noite

percorrendo o mistério

que o faz contemplar

na vida no momento no tempo

uma profundidade intensa

que o leve a amar.

Para borrifar o papel

de risadas e realidade

o poeta de alma penada

purifica o dia

mistifica a noite

descrevendo os mistérios

de sua indignação

com a dor silêncio tormento

um sentimento irrisório

que o leve a calar.

Um poeta no dia

perscruta os atos idos

na certeza própria

convence-se da má sorte.

Parte I

IDENTIDADE

EU SOU

Coração sem identidade

quebra-cabeça montado

de dor e ardor e clamor

um grito de desespero.

IDENTIDADE

Identidade que se processo no ocaso

de encontros e despedidas

inversões e diversões

de espantos e acolhidas

contradições e paixões.

Fiz-me na hora certa

incerta manhã da existência

difusa luz da história

onde conto meus dias

sem receio de ser feliz

com anseio de ter aqui

um momento alegre e

contagiante

escrito na tábua da minha razão

contração de sonho e realidade.

Identidade portátil

fundada nas estruturas sólidas

do ser, humano que é,

a cada etapa

tateando no escuro dos diálogos frutuosos

calorosos.

Descobri a idéia estreita

de ser humano interessado

em si só.

BOCADO

Da boca fiz poesia

do sorriso hipocrisia

de quem sorri e beijei

só me resta melancolia.

LINHA DO HORIZONTE

Na linha do cotidiano

deslizo a caneta da vida.

Inocentemente desvendo

a solidão a cada ano.

Na foz do destino

corro em rios de lembranças.

Incessantemente me desiludo

com todo desatino.

CASULO

Envolvido em mim mesmo

sou epiderme.

Despido de mim mesmo

sou expressão.

INDEFINITO

Se queres me definir

mira a estrela mais distante

e percebe seu brilho.

Conta os olhares perdidos

que mirei a lua, a praia, o infinito.

ausculta meu peito em sol menor

e entenda sua sinfonia.

Se queres me definir

descolore o azul de meus olhos

e pinta um branco total.

junta contigo o conhecimento de tudo

Com o saber divino.

e ausculta meu peito de-cadente

perscruta minh’alma penitente.

CACOGRAFIA

No questionário da vida

achei poucas afirmações

e não fostes exclamação

decerto minhas reticências.

TEMPORAL

Doeu-me na pele de neve

a chuva pálida de tua voz

ecoando nas grutas de meu ser

frases prontas de despedida.

Onde tu estavas quando me traí?

Onde estava eu quando te perdi?

RE-AÇÃO

Ao passado que é limite

acrescento uma revisão

anotando os seus erros

no caderno da emoção.

Errei por descrever

quem era eu ao agir

e anotei consciente:

devo me redescobrir.

Acertei vivendo as etapas da vida

ano e meses e dias com intensidade.

Anotei um acerto:

a cada tempo uma realidade.

No erro da noite

nos acertos da tarde

descobri a ambigüidade:

sinto a vida de verdade.

ANÕNIMO

Sério, eu?!

Quero

tempo

tombo.

Tédio, eu?!

Tento

canto

minto.

FUTURÍSTICO

Para onde for acompanhar-me-ão

recordações passadas

e singelos amigos.

Comigo virão as emoções da vida

que insistem no atropelo

e as mais belas despedidas.

PARTE II

NOITE

ESCALADA

Suado de alegria

subi a escadaria.

Melancolia à parte

noite vazia.

Deitado na saudade

desci ao abismo.

SONO

Veia desatada em mil nós

pulsão emocional vulcão

na noite de desembaraço

adormeço em meio ao verão.

Desacordei de um sono leve

pesado em seus contornos

suave em seu declínio

rude no seu reinício.

Fui noite, agora sou dia

paraíso, hoje sou profecia

tentei um acordo, desacordei insone.

procurei um atalho, caí na armadilha

destino castigo estilo solitário.

CÓSMICO

A nuvem pálida

o jato de luz

a estrela apagada:

tudo é madrugada.

Algo do nada

é tua lembrança.

NOTAS

Como quem toca uma guitarra

e suspira um saxofone

na noite de despedida

não sou o mesmo

já tenho

os pressupostos que me compunham.

DESPEDIDA

Ouvirei teus gemidos

sem censurar

mas na partida de teus passos

permite-me chorar?

Relerei tuas cartas

sem pestanejar

mas ao queimá-las

concede-me duvidar?

Sentirei tuas palavras

sem lamentar

mas ao pedir perdão

deixa-me negar?

Dispersei tuas lembranças

sem hesitar

mas quando te rever

posso te convidar?

REssINTO

Tu não aceitaste desculpas

na noite flagelada de dores

nem mesmo sentistes a flâmula

da minha incerteza que pairava.

Incerto que estava

acertei teu egoísmo

e de tudo que assumimos

me sobreveio ressentimento.

HORAS

Desperta

a noite já vem.

Acorda a

madrugada chegou.

Dorme

o dia caiu.

Doce vampiro.

AFTER DAY

O que restou da noite

foi a angústia

a insônia

e a solidão do açoite.

O que restou do beijo

foi o sabor

a forma

e a distração do ensejo.

O que restou de ti

foi o retrato

a carta

e a porção mais triste.

PARTE III

PASSADO

PASSANTE

Ondulei a curva já remota

de teus pés na sala

e não se encontram notícias

dos jornais passados

que tu lestes.

(estão arquivados).

Não se acha a mesma mesa

no canto da sala

e a televisão preto e branco

hoje é colorida.

(tudo evolui).

Desci as escadas da sorte

e me veio a saudade

da canção serena

que compusestes na primavera.

(mudam-se as estações).

Limpei a viseira

que meus olhos azuis possuem

e vi no quarto de hóspede

a sua marca arcaica.

(reformaram as paredes).

Peguei-me ultrapasado

ligando fatos idos ao presente

revivendo sentimentos

sem sentidos ao luar.

MEIAS PALAVRAS

Na distância fixa

tremenda desilusão

tu não estás

em comunhão com meu corpo.

Digo ao relento

ouves sem atenção

e expresso por carta

só entendes sofrimento.

Palavras são instintos

que distinguem

cada relação.

Para ti usei amor

ouvi amizade

utilizei paixão

ouvi estima.

Usei palavras demais,

castigo-me agora

pela hora não consumada.

FASCISTA

No fim da tarde

condeno o tudo ao meu nada

na mancha negra da lagoa dourada

desprendo um olhar de vertigem.

Nas caldas vulgares da sereia

atendo a insatisfação

nas lembranças do passado

doído e incerto

encrenco a máquina sentimental.

E concreto que sou

torno-me semblante pesado

escalando a tarde

comigo apenas.

Volte-se para o lado

e não verás minha face.

VISÃO

Um corpo sentado

recente visão

nos sonhos te tenho

não sem obstáculos reais.

O irrealismo

de teus lábios nos meus

impressiona e desfigura.

TOQUE

Entendi a caminhada da manhã

rompendo a tarde

aprofundando o sentido mágico

dos afagos no corpo

dos toques nostálgicos.

PARTE IV

SUBSTRATO

SAUDADE

Pensei em nada e tudo se vai

rebuscando o papel

chamuscado de saudade.

Pensei remorso e encontrei esperança

esverdeando o canal

pintando-o de felicidade.

ANGUSTÍADE

Solidão é algo brando

capricho de deuses

produz amargura, uma dor danada

resseca a garganta, impede a palavra.

Machuca no fundo

remói o passado.

Corrói o meu mundo

destrói o pecado.

Brisa que sopra na fronte da paixão

é tesão recolhido

de toque em noite de contração

de beber a taça da libido.

ESTÁTICO

Estacionados estão

os objetos ao meu redor

plantas em silêncio

jardim estático.

Parados estão os objetos próximos

mesa batida

rádio estático.

Calados estão

os objetos ao meu redor colocados

mesa em silêncio

rádio estático.

CERTEZA

Distâncias separam pessoas

ligadas por certas realidades:

habitam o planeta Terra

e pensam as mesmas verdades.

Distâncias unem certezas

de seres da mesma espécie

sentem-se solitárias

e choram de saudades.

Distâncias unem e separam

os amantes da vida,

com seus sentimentos e sentidos

sensações e conflitos.

NEGATIVO

Na sombra de mim

o sol se faz escuro

como pele negra

negativo obscuro.

Com a sombra em mim nascida

ando – negativo pela rua

e na noite a lâmpada assombra

se não, sou sombra da Lua.

ESSÊNCIA

Um desejo invade

complacência.

Um vento inspira

demência.

Uma música apavora

carência.

PARTE V

MAR

ALUSÃO

Caminhonete pisoteando o asfalto

marchando caminho adentro

afora

agora

desbravando algo mais

que uma ilusão passageira.

PORÃO

O mar me traz algo esterno

um sentimento eterno

pós-moderno.

Mar, corrente de emoções

canções eruditas

cristalizadas em seus cações.

FALÁCIA

Vendaval de esperança

me vem ao contemplar

na imensidade molhada desta terra

a frieza do mar.

Fala de calmaria

fronteiras quebradas e limites

instransponíveis sem utopia

possíveis para quem ama.

GELATINÍSTICO

Na nata do mar

escorre meu amor

pela vida

minhas crenças

e realizações.

Na dúvida de caracol

me enrolo em conflitos

nas curvas da sereia gorada

estou pensativo.

Cravo os dedos na areia

pálida e estranha

escorre sangue

espalhado em meu corpo.

Céu e mar

eu aqui

incrédulo protesto silencioso

de pensamento vaidoso

bípede racional

filósofo da solidão marginal.

MEDO

Na solidão do mar

cravado de escuridão

descobre-se que amar

é absoluta contradição.

No estar sobre as águas

agitadas pelo vento

percebe-se o nada que

agora é meu sentimento.

Na escuridão de meu céu

brilha a estrela da saudade

a Lua de uma paixão

revelando-me por inteiro:

profundo

obscuro

exato

a-mundo.

BÚSSOLA

Agarrei-me ao mastro do barco

em meio a palavras de medo

descubro que bem cedo

perdera meu zelo.

Mastro que me aponta as estrelas

astro, me fez perceber

como é imensa a galáxia e

minha possibilidade de ser.

Mas o mastro

é um astro

sem lastro.

O mastro me apontou na noite

o Cruzeiro do Sul.

PARTE VI

JIRI

E

Cor és

dor és

Cor és dor

Cor és dor... és!

I

Cansaço, malas, parada

utopia, previsões, palavras.

Pela janela avisto a caatinga

já passando por Minas Gerais

pela mente alucino

Jiribatuba que não chega mais.

Ao lado o padre

ao lado os colegas

de lado as senhoras

à frente das relvas.

E passa rodovia

e rodoviária

chega Salvador

cidade imaginada.

Salvador, ferry-boat, mar

conversa, Bom Despacho, calar.

II

O vento passa o tempo

vento espanta o cansaço

vento calmo

“ainda é cedo”.

Chegamos à casa paroquial

descemos as malas

ocupamos os quartos

jantamos...

repouso.

Ondas calmas

calmaria mental.

RE COR DAÇÃO

Teu nome escrevi na areia

facilmente pensei em ti

lembrança remota

do que deixamos de fazer.

Deitei-me na praia

metade água ) (metade areia

meus braços abertos em contorno

retrataram um coração.

Coração de águas salgadas

borbulha em recordações

coração divino

perdido em meditações.

Danilo Arnaldo Briskievicz é

formado em Filosofia pela PUC

Minas. Pós-graduado em Temas

Filosóficos pela UFMG e mestre

em Filosofia Social e Política pela

mesma universidade. Autor de

diversos livros poéticos e

históricos além de artigos

filosóficos. Publica seus livros e artigos no site

www.recantodasletras.uol.com.br/autores/doserro. Nascido no

Serro, Minas Gerais, acredita na expressão artística como

forma de contato mais humanizado entre as pessoas.

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