copa 2014 falta informação e sobra ordens de despejo...

Post on 22-Jan-2019

218 Views

Category:

Documents

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

CIRCUITOMATOGROSSO

CUIABÁ, 9 A 15 DE FEVEREIRO DE 2012CAPA PG 4www.circuitomt.com.br

CIRCUITOMATOGROSSO

CUIABÁ, 9 A 15 DE FEVEREIRO DE 2012CAPA PG 5 www.circuitomt.com.br

COPA 2014

Ordens de Despejo provocam pânico em CuiabáEntidades dos movimentos sociais e moradores apontam a necessidade de mais diálogo; movimento nacional denuncia a remoção em massa de 170 mil pessoas no Brasil. Em Cuiabá já

são 12 famílias notificadas. Por Neusa Baptista. Fotos: Mary Juruna

Nas 12 cidades-sededa Copa do Mundo de2014, pelo menos 170 milpessoas serão removidas deforma forçada de suasresidências devido às obraspreparatórias para oMundial. Os dados são deum dossiê publicado nofinal do ano passado pelaArticulação Nacional dosComitês Populares da Copae das Olimpíadas emostram alguns dos motivospelo quais representantesdos movimentos sociaiscontinuam “batendo natecla” da necessidade degarantir a segurança demoradia daqueles queresidem na rota das novasruas, avenidas e trincheiras.Em Cuiabá, asdesapropriações para asprincipais obras demobilidade urbana estão nafase inicial e já causampolêmica. As notificações dedesapropriação começarampelo Bairro Três Lagoas, naregião do CPA, onde estãosendo negociadas asindenizações para cincofamílias.

Todavia, observando asituação das demaiscidades-sede, nota-se que apreocupação das entidadesnão é exagerada. Um dosargumentos principais é deque a metodologia utilizadapelos Estados para asdesapropriações

Bairros afetados indiretamenteNo bairro Coophema,

entre as avenidas JornalistaAlves de Oliveira e 31 demarço, será executadaparte da obra dealargamento das rodoviasBR 070, 163 e 364;Aclimação, Bela Vista, SãoRoque e São Carlos estãona rota da obra de 3.200metros de prolongamentoda Avenida VereadorJuliano Costa Marques. Naregião haverá aindaalargamento mais de milmetros da rua B eduplicação da avenidaSenegal, entre as avenidasdo CPA e Juliano CostaMarques. Alargamento dosistema viário do 9º BEC,nas ruas da mangueira eCarmindo de Campos(encontro entre a FernandoCorrêa e a rua daMangueira), no bairroShangri-lá, com extensãode 813,94 m.

Haverá também obrasde obras de ampliação demais 1.311,68 m. na ruaBarão de Melgaço, nobairro do Porto e acréscimode 2.656,93 m na avenidaBalneário Dr. Meirelles,

atingindo também as ruasArchimedes Pereira Lima eAv das Torres, na região dobairro Tijucal.

A construção daTrincheira Mário Andreazza,na intersecção entre aavenida Ciríaco Cândia eAvenida Miguel Sutil, comextensão de 379,35 m,interferirá nos bairros SantaIsabel e Cidade Verde e a

ampliação de 1.285,32 m.na rua dos Eucaliptosafetará o bairro Jardim dasPalmeiras. Os bairrosGuarita I e II, em VárzeaGrande, estão na rota dasobras de duplicação daestrada da Guarita, queserá aumentada em8.382,54 m.

Visualize as obras noinfográfico ao lado.

Obras afetarão indiretamente vários bairros

Falta informação e sobrapreocupação a comerciantes

A falta de informaçõesclaras é um dos problemasapontados pelas entidadesdos movimentos sociais. Deacordo com a ArticulaçãoNacional dos ComitêsPopulares da Copa e dasOlimpíadas, em váriascidades-sede há relatos deremoções feitas sem a devidacomunicação por meiosoficiais. A presidente daAssociação dos Moradoresdo Centro Norte de Cuiabá,Francisca Xavier, que morano local há 20 anos, diz nãosaber se sua residênciatambém será alvo dedesapropriação e relata asituação dos comerciantes daárea central, principalmenteda avenida Coronel Duarte(Prainha), que estão tendoprejuízos há um ano, quandoa então Agência da Copa doMundo do Pantanal(Agecopa) anunciou asdesapropriações. Segundoela, dos 25 lojistas daavenida, quatro já fecharamas portas em consequênciados rumores sobre o assunto.“Ficamos na expectativa, masnão temos nada de concreto.O prejuízo foi grande. Quemtem prédio por aqui nãoconsegue mais alugar e hámuito tempo que omovimento das lojas caiu”.Segundo informações delojistas, a avenida já tem 12imóveis “encalhados”.

No caso doscomerciantes, outrapreocupação é a perda declientela e os gastosdecorrentes da mudança deendereço, além da

necessidade de garantir queo novo ponto de venda sejatão movimentado quanto oatual, explica a comercianteMarilene Pelissari Guimarães,dona da papelaria Coxipó,na esquina da avenidaCampo Grande com aPrainha. Ela prevê perdas deR$ 700 mil para cada anoque o estabelecimentopermanecer inativo. “Aquipassam seis mil carros porhora. Como vou arrumaroutro ponto assim? E osgastos que terei comindenizações parafuncionários demitidos,pagamento de aluguel, novoalvará? E tem mais: o meucliente saberá para onde euvou?”, questiona ela, que noinício dos rumores sobre asdesapropriações, chegou areduzir as compras demateriais, mas com o passardo tempo, mudou de ideia.

“Tirei isso da minha cabeça,vou deixar acontecer”.

Cobrando providências,os lojistas protocolaram noúltimo dia 30 requerimentode audiência pública sobre otema na presidência daAssembleia Legislativa (AL).Em sua defesa, a Secopalembra que realizou duasaudiências públicas e tem sereunido frequentemente commoradores para tirar dúvidas.

Para o líder comunitário,Chico Leblon, o processo estámuito confuso e as pessoasilhadas. Para ele, a Secopa“fala uma coisa e faz outra”.“Nossa indignação comocuiabanos é porquequeremos a Copa. Nasreuniões com a Secopa, asinformações não sãoclaramente passadas, fala-semuita coisa boa, mas atéagora não vimos nada. Paraele, os moradores podem atéendurecer contra asdesocupações, mas no finalvão acabar aceitando.Porém, o Governo precisa sermais firme na tomada dedecisões para evitar casoscomo o dos moradoresretirados da beira do córregodo Barbado, no bairroPlanalto no ano passado,muitas das quais estãovoltando às residências pornão terem para onde ir.

A reportagem tentouentrar em contato com apresidente da Associação dosLocatários da Prainha, DilmaGaião, mas o telefonefornecido para contato estavana caixa de mensagens.

Na avenida da Prainha, quatro lojas já fecharam as portasdepois dos rumores sobre as desapropriações

Líder comunitário Chico Leblon é um dos quereclamam da falta de informações

Famílias desesperadas buscamalguma explicação na Secopa

Doze famílias da rua8 de abril, no bairroVerdão, levaram um sustoao receber, no último dia6, mandados de despejoassinados pelo juiz MárcioGuedes, do Tribunal deJustiça. A área onde selocalizam as casaspertence ao Estado, o quelhe dá direito a realizarreintegração de posse. Nolocal, será construída umatubulação da ArenaPantanal.

Uma das moradoras,Maria de Fátima Bielque,reclama que não houvequalquer comunicadoformal da SecretariaExtraordinária da Copa(Secopa) aos moradores,que foram pegos desurpresa. “O juiz que fezisso não é um ser humano,mais de 20 pessoas não

sabem para onde vão. Omandado de despejo dizque não temos direito anada, não acho justo queseja dada maisimportância para a Copado que para as pessoas”,diz ela. Por conta disso, umgrupo foi até a Secopa nomesmo dia para tentaruma reunião com osecretário-adjunto deDesapropriações daSecopa, Djalma SaboMendes, que tentoutranquilizar os ânimos,informando que na últimaquarta (8) daria umaresposta sobre adestinação dos moradores.Caso não houvessesolução para o caso, osmoradores prometeramacampar em frente àSecopa até uma solução.

A assessoria do órgão

informou que não hácerteza de que osmoradores ganharãonovos imóveis do Governo.A iniciativa de doar casasa estes moradores estásendo analisada pelaSecopa como um possívelincentivo à grilagem deterras, já que a área é umaocupação. Os moradoresdo local poderão retirarequipamentos como portase janelas.

Segundo a assessoriado órgão, os moradoresforam informados de queseriam removidos comantecedência, e járeceberam atendimentopor parte da Secretaria deEstado de Trabalho eAssistência Social (Setas) eque não será feito uso deforça na retirada dasfamílias.

Moradores da rua 8 de Abril, ao lado da obra da Arena Pantanal,reclamam que não teriam sido avisados sobre despejo

desobedece à Resolução nº13/2010 do Conselho deDireitos Humanos daOrganização das NaçõesUnidas (ONU) quedetermina a efetivaparticipação dascomunidades nos processosde planejamento eimplementação das obras.Se não forem tomados oscuidados necessários, olegado deixado pelas obraspode ser a destruição decomunidades tradicionais, adegradação ambiental e apiora das desigualdadesurbanas.

Na grande Cuiabá, asprincipais desapropriaçõesserão decorrentes das obrasde mobilidade urbana.Ainda não se sabe o totalde famílias atingidas, masapenas no bairro CasteloBranco, um dos que serãomais cortados pela avenidaParque do Barbado, 289casas serão desapropriadas.No bairro Bela Vista, naregião do CPA, que seráafetado pela mesma obra,93 casas serão derrubadas.

Vencedor da licitaçãopara a elaboração doslaudos de desapropriação,o consórcio Diefra/Cappeassinará com a Secopacontratos dedesapropriações do lote 01,no trecho CPA – Aeroportovalor estimado: R$ 1,014milhão); lote 02, do Coxipó

ao Centro (R$ 1,265milhão) e lote 03 (R$ 1,456milhão).

As principaisdesapropriações ocorrerãoem alguns dos bairroscortados pelas avenidasMiguel Sutil, da FEB eGonçalo Antunes de Barros(antiga Jurumirim). Estaúltima ganhará mais1.139,78 metros deextensão e pavimentação,obra que pode significar arealocação de famílias daprópria Jurumirim e nas ruasIpiranga, Dr. UlissesGuimarães, Minas Gerais,Tancredo Neves, C e D. Nobairro Três Lagoas, entre ascerca de 20desapropriações previstas,cinco já foramhomologadas e tiverampagamento autorizado pelaComissão Multidisciplinarcriada pela Secopa.

A reclamação dealgumas lideranças é deque muito poucainformação concreta temsido repassada pela Secopasobre onde, como e quandoserão feitas as remoçõesdas famílias. Um dos casosde mais destaque é o daconstrução da AvenidaParque do Barbado, cujotraçado segue da avenidaFernando Corrêa da Costaà Archimedes Pereira Lima(estrada do Moinho) e destaaté a avenida Juliano Costa

Marques. Segundo aSecopa, a obra não foilicitada e estão ainda em

análise os laudos de umestudo socioeconômico dosmoradores da região dos

bairros Renascer, Pedregal eCastelo Branco, onde serãoatingidas cerca de 400

famílias. Metade destenúmero é de moradores dobairro Castelo Branco, ondefica a maior parte daextensão da Área dePreservação Permanente(APP). A presidente dobairro, Deumaci Freitas,denuncia que interesses naespeculação imobiliárianorteiam os trabalhos deremoção, pois bairros depopulação carente como oBela Vista e Castelo Brancoestão localizados em áreasde alto valor imobiliário.Segundo ela, numa quadrado bairro Castelo Branco,famílias que moram embarracos serão removidas.“Esteticamente, para ospolíticos, o barraco demadeira é feio”. Para ela, aretirada das famílias émotivada unicamente porinteresses financeiros e épreconceituosa.

Moradora do bairro há24 anos, ela lembra que aAvenida Parque do Barbadojá estava prevista no projetode regularização fundiáriada prefeitura de Cuiabádesde o governo Dante deOliveira, mas nunca chegoua ser realizada. “Em bairrosmais ricos, os moradoressão mais respeitados, até alei muda para atender aeles. O estacionamento doshopping Pantanal não estánuma APP? E residencialBonavita? Que chegou a ser

embargado pela Justiça?”,questiona.

Há indícios de que aatitude da Secopa contrariaa Resolução 369/2006 doConselho Nacional de MeioAmbiente (Conama), quepermite a ocupação de APPpor comunidades em riscosocial.

A presença da APP éum dos complicadores destaregião. No caso de área depreservação, os moradoresnão serão desapropriados,mas remanejados, ocontrário do que aconteceráaos que estiverem em áreasnão protegidas. Em ambosos casos, segundo aSecopa, eles serãorealocados em novasresidências. Porém, aindanão foi informado onde,fato que é uma dasprincipais preocupações dosmoradores e das entidadesde defesa do direito àmoradia, que temem adesagregação dascomunidades, a perda deempregos e a dificuldadede acesso a serviços comosaúde e educação. Outrocomplicador, neste caso eno de muitos outros bairros,é o fato de os moradoresnão possuírem título doterreno, o que os habilita aorecebimento de outroimóvel. A regularizaçãofundiária na capital é umadas questões que vêm com

as desapropriações.Segundo a DefensoriaPública de Mato Grosso,cerca de 80% dos bairros deCuiabá estão irregulares. Oórgão chegou a cogitarsolicitar ao Governo doEstado a regularização detodos os lotes a seremdesapropriados, ideia quefoi abandonada pordemandar muito tempo aponto de poder atrasar asobras. Atualmente, o órgãoluta pelo correto pagamentodas indenizações pelosimóveis.

O promotor CarlosEduardo Silva, do grupo deacompanhamento dasobras da Copa naProcuradoria Geral doEstado (PGE), não descartaa ocorrência deespeculação imobiliária nasáreas desapropriadas. Deacordo com ele, ainda nãofoi apresentado àProcuradoria o projeto finaldas remoções, apenas aproposta enviada aoConselho Estadual de MeioAmbiente (Consema) para olicenciamento. “Estáfaltando transparência.Deveria haver reuniõesperiódicas com osmoradores para acalmá-los,pois as famílias estãointranquilas. Há interesse emlimpar a cidade, tirar aspessoas indesejadas”,comenta.

Desapropriações para obras de mobilidade urbanaestão em fase inicial, mas os problemas já se avolumam

top related