contestação - internação involuntária
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DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
REGIONAL DE SANTOS – UNIDADE SÃO VICENTE Rua Major Loretti, 11 – Parque Bitaru – CEP 11.310-380
Telefone: (13) 3467-2013
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª
VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE SÃO VICENTE
– SP.
Processo nº
Medida protetiva para internação involuntária
, brasileira, solteira, portadora da cédula de identidade RG
nº. SSP/SP e do CPF nº., com residência na Rua, São Vicente/SP, por meio do
Defensor Público que esta subscreve, nomeado pelo Juízo para a defesa,
dispensado da apresentação do instrumento de mandato, nos termos do artigo 16,
parágrafo único da Lei 1.060/50, vem, respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 300 do Código de Processo Civil, fazendo
uso das prerrogativas previstas no artigo 5º, parágrafo 5º, da Lei 1.060/50,
apresentar sua necessária e tempestiva Contestação, nos autos da ação em
epígrafe, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:
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I. Do relatório
Trata-se de ação, com pedido liminar, que objetiva a
internação compulsória da ré no Hospital Geral Guilherme Álvaro ou, na falta de
vagas, em qualquer outro hospital da rede pública de saúde ou particular, com a
nomeação da agravada como curadora provisória para acompanhamento da ação
e da internação involuntária.
A autora sustenta que a ré possui esquizofrenia paranóide e
transtorno afetivo bipolar, mas se recusa a aceitar a internação em hospital
psiquiátrico.
Narra, ainda, que a ré foi presa em flagrante em surto
psicótico no dia 08.02.11 e que, após pedido de liberdade provisória, obteria
alvará de soltura no dia 09.02.11, por volta das 14h.
Argumenta que a ré tem direito à saúde, que a Lei 10.216/01
garante a internação involuntária e que os genitores da ré são pessoas de idade
que sofrem muito com as crises psiquiátricas, de forma que necessitam da
internação da ré para que possam se restabelecer física, emocional e
psicologicamente.
O Ministério Público manifestou-se pela concessão da
medida liminar, para o fim de determinar a internação psiquiátrica da ré.
Em seguida, o MMº. Juiz proferiu a r. decisão de fl. 38:
“Vistos.
1 – Defiro a gratuidade.
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2 – Estão presentes os requisitos para a concessão da liminar.
Os documentos médicos juntados, lavrados por psiquiatras,
atestam ser a ré portadora de ESQUIZOFRENIA
PARANÓIDE, com surtos psicóticos, e que ela se recusa a se
submeter a tratamento ambulatorial ou mesmo internação
voluntária. A autora, sua mãe, relata ser a ré agressiva e
oferecer risco à integridade física dos pais, pessoas já com
certa idade, e que não conseguem convencer a filha a se
tratar. O que gera circula vicioso de surtos e agressões.
Posto isso, DEFIRO A LIMINAR para autorizar a
internação da ré, por iniciativa de seus pais, em
estabelecimento psiquiátrico adequado para o seu quadro de
saúde, em regime fechado, independentemente do
consentimento da própria paciente, no local e pelo tempo que
for necessário segundo critério médico. Deixo de indicar o
hospital por não ser atribuição do juízo, posto que cada
unidade hospitalar tem suas regras próprias com relação a
vagas, tipo de paciente que recebe, etc., não se podendo
impor judicialmente a internação em determinado
estabelecimento sem que seja o local indicado por médico em
conjunto com a família do paciente.
Expeça-se a autorização.
3 – Sendo manifesta a incapacidade civil da ré, para receber
citação válida, nomeio CURADORA a sua mãe, autora, .
Depois de cumprida a liminar, dê-se vista dos autos à
Defensoria Pública para se manifestar na defesa dos
interesses da ré, no processo.
Int.”
Em cumprimento à ordem judicial, foi expedido alvará para
internação voluntária, assinado o compromisso de curatela e, só então, aberta
vista dos autos à Defensoria Pública.
II. Das questões preliminares
a) Da ausência de citação
Inicialmente, verifica-se que a r. decisão de fl. 38 foi
concedida e cumprida sem a citação da ré, que ainda não ocorreu, sem a
observância do procedimento previsto no artigo 218, parágrafo 1º do Código de
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Processo Civil e antes da nomeação de curador especial para atuar em sua defesa,
em violação aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal.
De acordo com o artigo 218, “caput”, do Código de Processo
Civil, a citação não será feita quando se verificar que o réu é demente ou está
impossibilitado de recebê-la. Para tanto, exige o parágrafo 1º do referido artigo
que o oficial de justiça elabore certidão, descrevendo minuciosamente a
ocorrência, e que, em seguida, seja nomeado médico para examinar o citando.
Apenas após apresentação do laudo, o juiz nomeará curador ao réu e determinará
a citação na pessoa do curador, nos termos dos parágrafos 2º e 3º do Código de
Processo Civil.
Não obstante, no caso em tela, o procedimento legal não foi
realizado. Sem qualquer certidão do oficial de justiça e sem laudo médico de
perito judicial, a r. decisão de fl. 38 considerou que a ré era incapaz para receber
a citação válida e nomeou como curadora a autora.
Ocorre que não se pode presumir a incapacidade da ré para
receber a citação, sob pena de se desconsiderar a plenitude da condição de sujeito
de direitos da ré e todos os direitos garantidos às pessoas com sofrimento mental,
previstos na Constituição Federal, em diversos tratados internacionais e na
legislação infraconstitucional, como a Lei nº 10.216/01.
Salienta-se que a própria autora pleiteou a citação e
interrogatório da ré para contestar a ação (item 4 de fl. 12) e não narrou ser ela
incapaz de receber o ato citatório.
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Além disso, a r. decisão de fl. 38 descumpriu o previsto no
artigo 218 do Código de Processo Civil e os princípios do contraditório, da ampla
defesa e do devido processo legal, criando procedimento não previsto em lei,
impedindo que a ré tenha ciência da ação e, inclusive, possa constituir advogado
de sua confiança para a defender, com quem poderia ter contato pessoal para
apresentar seus argumentos e provas em sua defesa, para ter uma defesa plena e
mais concreta.
Observa-se que o artigo 2º, parágrafo único, incisos V e VII,
da Lei nº 10.216/01, considerando que a pessoa com transtorno mental é sujeito
de direitos e deve ser tratada sem qualquer tipo de discriminação, nos termos do
artigo 1º da referida lei, garante à pessoa com transtorno mental o direito de ter a
presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de
sua hospitalização involuntária e o direito de receber o maior número de
informações a respeito de sua doença e de seu tratamento.
Ademais, o artigo 5º, parágrafo único, inciso VI, da Portaria
GM nº 2.391, de 26 de dezembro de 2002, do Ministério da Saúde (documento
anexo), exige que a Comunicação de Internação Involuntária contenha a
descrição dos motivos da discordância do usuário sobre sua internação, sendo
certo que o paciente deve ser ouvido.
Contudo, tais dispositivos legais acabaram por ser
desrespeitados, diante da r. decisão judicial que determinou a internação
involuntária ré sem que ela tenha sido sequer citada da ação judicial, visto que
ela poderá ser internada sem sequer saber da existência da ação judicial e das
razões apresentadas pelo Juízo para sua internação.
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Salienta-se que a ré possui vinte e quatro anos de idade, já
atingiu a maioridade há seis anos e, até a presente data, não há notícia de que
tenha sido proposta qualquer ação de interdição por seus familiares. Aliás, a
autora propôs ação pleiteando apenas a internação involuntária da ré, mas não a
sua interdição, o que indica que a autora possa não ser incapaz para a prática dos
atos da vida civil.
Ademais, dependendo do tipo e intensidade do transtorno
mental, a ré poderia ter absoluta capacidade para receber a citação judicial, de
forma que a presunção de sua inaptidão caracteriza discriminação repelida pelo
ordenamento jurídico pátrio.
Evidente que, apenas após certificação do oficial de justiça e
laudo judicial circunstanciado e devidamente fundamentado, é que se poderia
efetuar a citação da ré na pessoa de seu curador, em observância ao artigo 218,
parágrafos 1º, 2º e 3º, do Código de Processo Civil, e artigo 6º da Lei nº
10.216/01.
Diante disso, requer-se seja determinada a regular citação da
ré e reconhecida a nulidade da r. decisão de fl. 38 ou, ao menos, que seja
determinada a suspensão da r. decisão de fl. 38.
b) Da incompetência absoluta do Juízo
Por outro lado, nota-se que o Juízo é absolutamente
incompetente para processar a presente ação, visto que a demanda, na forma
como foi proposta pela autora, não é de competência do Juízo de Família e
Sucessões, até porque não foi formulado qualquer pedido de interdição.
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Tanto é assim que a própria autora endereçou sua petição
inicial à Vara Cível da Comarca de São Vicente. Contudo, sem qualquer
justificativa, a ação foi remetida para o Juízo de Família, que, também sem
qualquer motivação acerca de sua competência para processamento do feito,
apreciou o pedido liminar e o deferiu.
Assim, requer-se seja reconhecida a incompetência absoluta
do Juízo, determinada a redistribuição dos autos ao Juízo Cível da Comarca de
São Vicente e declarada a nulidade da r. decisão de fl. 38, nos termos do artigo
113, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil.
c) Da carência da ação
Não bastasse o já alegado, a petição inicial é inepta, pois dos
fatos narrados não decorre o pedido formulado, há falta de interesse de agir e o
pedido é juridicamente impossível, de modo que o processo extinto sem
julgamento de mérito.
Verifica-se que a autora narra que a ré possui transtorno
mental e recomendação médica para internação, mas não deseja ser internada.
Diante da recusa da ré, requer seja determinada judicialmente a sua internação
involuntária sem discriminar prazo.
Ocorre que, se a ré realmente tivesse laudo circunstanciado
determinando a sua internação em virtude de transtorno mental grave, como
determina o artigo 6º da Lei nº 10.216/01, e estivessem presentes as demais
exigências legais para internação, como a autora alega estarem, a internação
involuntária poderia ocorrer independentemente de ação judicial, de modo que
dos fatos narrados não decorre o pedido formulado.
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Considerando a narrativa exposta pela autora em sua petição
inicial, falta interesse de agir a ela, pois não há necessidade da ação judicial para
ter a pretensão pleiteada reconhecida, já que a internação involuntária ocorre
sem o consentimento do paciente, a pedido de terceiro e por recomendação
médica, não por ordem judicial, nos termos do artigo 6º, parágrafo único,
inciso II, da Lei nº 10.216/01.
Importante esclarecer que a internação se dá por ordem
judicial quando ocorre na modalidade da internação compulsória, prevista no
artigo 6º, inciso III, da Lei nº 10.216/01, que é reservada para casos distintos do
presente, como os casos de medida de segurança.
Eventualmente, também é possível decisão judicial sobre
internação quando, em virtude da ausência de vagas, pleiteia-se do Poder Público
a internação em estabelecimento público ou o custeio da internação em
estabelecimento particular. Contudo, trata-se de hipótese totalmente diversa, em
que a ação é proposta contra o Poder Público, para dirimir lide existente entre a
pessoa com sofrimento mental e o Poder Público, situação não mencionada pela
autora.
Conveniente a transcrição do artigo 6º da Lei nº 10.216/01:
“Art. 6º A internação psiquiátrica somente será realizada
mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os
seus motivos.
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de
internação psiquiátrica:
I – internação voluntária: aquela que se dá com o
consentimento do usuário;
II – internação involuntária: aquela que se dá sem o
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
III – internação compulsória: aquela determinada pela
Justiça.” (g.n.)
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Na verdade, no caso em tela, o que se percebe é que a ação
acaba por pretender que o Juízo realize a análise meritória sobre a necessidade ou
não de internação (o que não cabe ao Judiciário, mas à equipe técnica de saúde
mental), e supra a deficiência dos relatórios médicos apresentados pela autora,
que não constituem laudo médico circunstanciado, não atestam o esgotamento
dos recursos extra-hospitalares e, portanto, não são suficientes para que a autora
consiga internar a ré.
Conforme asseverado, se a ré realmente preenchesse os
requisitos para a internação involuntária, esta já teria ocorrido, pois, como
explicado, a internação involuntária ocorre a pedido de terceiro e por
recomendação médica, mesmo sem o consentimento do paciente.
Diante disso, apenas se pode concluir que, por não
conseguir a internação da ré, já que ela não pode ser internada sem prévia
análise de equipe técnica de saúde mental, sem esgotamento dos recursos
extra-hospitalares e sem laudo médico circunstanciado, os quais não ainda
foram realizados, a autora pretende supri-los por via judicial, formulando
pedido juridicamente impossível.
Acrescenta-se que não foi formulado pedido de interdição da
ré, o qual seria necessário, nos termos do artigo 1777 do Código Civil, até para
que fossa adequadamente fixada a pessoa do curador, de modo que o
provimento jurisdicional pleiteado não é adequado e, portanto, falta interesse de
agir.
Ademais, foi requerida a internação involuntária sem
discriminar prazo e com amplitude de locais, de forma ampla e ilegal,
formulando-se pedido juridicamente impossível, já que a internação depende de
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laudo médico circunstanciado, deve ser limitada ao período de surto, tem como
finalidade permanente a reinserção social do paciente em seu meio (artigo 2º da
Lei nº 10.216/01) e não pode acontecer em estabelecimentos asilares ou
desprovidos dos recursos que assegurem assistência integral à pessoa portadora
de transtorno mental, incluindo serviços médicos, de assistência social,
psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros, além dos direitos previstos no
artigo 2º da Lei nº 10.216/01.
Por tais motivos, necessária se faz a extinção do processo,
sem julgamento de mérito, com fulcro no artigo 267, incisos IV, VI ou XI do
Código de Processo Civil.
III. Do mérito
Ainda que sejam afastadas as preliminares arguidas, a ação
deve ser julgada improcedente.
Inicialmente, é importante esclarecer que a autora pretende:
i) a internação involuntária da ré por ordem judicial; ii) que a internação seja feita
no Hospital Guilherme Álvaro ou, na hipótese de falta de vagas, em qualquer
outro Hospital da Rede Pública de Saúde ou em Hospital da Rede Particular de
Saúde; iii) que seja nomeada curadora da ré.
Para sustentar a internação involuntária da ré, a autora alega
que a ré sofre de esquizofrenia paranóide e transtorno afetivo bipolar, que tem
doença mental desde a adolescência, que toma vários medicamentos controlados,
que tem comportamento agressivo e inconveniente, que já agrediu seus pais e
que, em surto psicótico, foi presa em flagrante por tentativa de furto em 08.02.11.
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Acrescenta, ainda, que a ré não aceita a internação
psiquiátrica, medida que seria recomendada para garantir a sua integridade física,
a de seus familiares e a da sociedade.
Ocorre que tais argumentos não são suficientes para
justificar a internação involuntária da ré.
Conforme já asseverado, a internação involuntária ocorre
sem o consentimento do paciente e a pedido de terceiros, mas não por ordem
judicial e sim por laudo médico circunstanciado, com o preenchimento dos
estreitos requisitos previstos na Lei nº 10.216/01, visto que se trata de medida
excepcional, que deve ser limitada ao período de surto, considerando a
comprovação científica de que as internações por longo período prejudicam a
saúde do paciente.
No caso em tela, os requisitos legais para a internação
involuntária não estão presentes, até porque, se estivessem, a internação já teria
ocorrido sem a necessidade de ação judicial.
A autora narra que a ré possui esquizofrenia paranóide e
transtorno afetivo bipolar e, nesse sentido, apresenta relatórios médicos
subscritos pela médica particular, Dra. , do ano de 2010 e 2011 (fls. 17, 18, 19
e 27).
Nota-se que ambos os relatórios apresentam descrição de
sintomas semelhantes, mas com diagnósticos distintos, ora de transtorno afetivo
bipolar, ora de esquizofrenia paranóide, o que evidencia alguma imprecisão
quanto ao diagnóstico.
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Observa-se que o relatório médico mais recente (fl. 27),
apresentado pela autora, indica, sucintamente, que a ré apresenta crises psicóticas
frequentes e necessita de internação psiquiátrica, embora esteja fazendo uso
diário de medicamento.
Não bastasse isso, é certo que nenhum dos documentos
apresentados configura o laudo médico circunstanciado exigido pelo artigo 6º,
“caput”, da Lei nº 10.216/01.
O laudo médico circunstanciado deve apresentar,
minuciosamente, os motivos que justificam a internação, os quais não foram
devidamente apresentados nos relatórios juntados pela autora.
Além da existência de diagnóstico fechado, com a descrição
da intensidade e gravidade da doença, o laudo deve indicar a necessidade da
extrema medida, que somente pode ser realizada após frustrados os recursos
extra-hospitalares, de acordo com o artigo 4º da Lei nº 10.216/01.
No presente caso, a autora apenas informa que a ré estava
em tratamento com médica particular Dra. , sem especificar a
frequência, característica e recursos envolvidos nos atendimentos para que se
possa aferir se foram esgotados todos os recursos extra-hospitalares disponíveis.
Os relatórios médicos, por sua vez, também não indicam
quais recursos extra-hospitalares vinham sendo utilizados pela ré e muito menos
que eles tenham sido esgotados.
Observa-se que somente foram apresentados receituários de
atendimento no sistema público de saúde no ano de 2009, que não prescrevem a
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necessidade de internação, o que indica que, desde então, a ré apenas vinha
fazendo atendimento psiquiátrico particular, como narrado pela autora, e não
vinha fazendo uso de todos os diversos programas e recursos extra-hospitalares
disponíveis para o seu atendimento, conforme documentos anexos, que são
eminentemente públicos e devem ser oferecidos pelo Município de São Vicente,
que possui Gestão Plena e, portanto, está compromissado com a proteção social
especial de alta complexidade, de acordo com o Plano Nacional de Assistência
Social, com a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social
e com o Plano Estadual de Assistência Social.
Ressalta-se que, de acordo com o artigo 2º, parágrafo único,
incisos I, VIII e IX, da Lei nº 10.216/01, a pessoa com transtorno mental tem
direito a ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às
suas necessidades; a ser tratada em ambiente terapêuticos pelos meios menos
invasivos possíveis; ser tratada, preferencialmente, em serviços de saúde mental.
Ademais, a necessidade ou não de internação deve ser
avaliada por equipe técnica de saúde mental, de composição multidisciplinar e
pública, que avalie a condição do paciente em sua complexidade e que considere
a normativa e os recursos disponíveis no sistema público de atendimento, para
que haja efetivo controle da extrema medida, o que não ocorreu no caso em
questão.
Nesse sentido, o relatório final da III Conferência Nacional
de Saúde Mental, convocada pelo Ministro da Saúde e organizada pelo Conselho
Nacional de Saúde (SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. CONSELHO NACIONAL
DESAÚDE. Comissão Organizadora da III CNSM. Relatório Final da III
Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília, 11 a 15 de dezembro de 2001.
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Brasília: Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, 2002, 213 p., ISBN
85-334-0592-8):
“6. Controle da internação psiquiátrica
No curso do processo de Reforma Psiquiátrica, é necessário
que os gestores estaduais e municipais estabeleçam
mecanismos efetivos para o controle das internações
psiquiátricas. Com este objetivo, foram aprovadas também as
seguintes propostas:
119. Estabelecer formas de controle único para a emissão de
AIH, assegurando que todas as internações necessárias sejam
autorizadas pelo serviço público, preferencialmente de base
territorial, constituído por equipe de saúde mental.
120. A internação e a reinternação psiquiátrica deverão
ocorrer após avaliação da equipe técnica de saúde mental dos
serviços substitutivos.
121. Estimular a criação de centrais de regulação de
internaçãopsiquiátrica com o objetivo de evitar internações
não indicadas.
122. Rever o critério de tempo de internação e garantir, por
meio de supervisões institucionais e fiscalizações, que o
tempo de internação seja o mais breve possível, de acordo
com avaliação e conduta psiquiátrica e da equipe
multiprofissional.” (p. 46-48, g.n.).
Importante assinalar, também, que o laudo circunstanciado
de internação involuntária deve conter informações sobre os motivos da
discordância do usuário sobre sua internação, sobre a previsão estimada do
tempo de internação, sobre o local de internação, sobre o contexto familiar do
paciente etc., até porque tais informações deverão constar, obrigatoriamente, na
Comunicação de Internação Involuntária, nos termos do artigo 5º, parágrafo
único, da Portaria GM nº 2.391, de 26 de dezembro de 2002, do Ministério da
Saúde (documento anexo). Contudo, nenhuma dessas informações foram
apresentadas nos relatórios médicos juntados.
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De outro lado, verifica-se que a autora não comprova que a
ré tenha doença mental desde a adolescência e nem que ela tenha comportamento
agressivo ou tenha agredido seus pais.
A ré já possui vinte e quatro anos e sua interdição nunca foi
pleiteada. Ademais, não há nos autos documentos que atestem que a ré tenha
iniciado tratamento médico antes de 2009.
Observa-se, outrossim, que o boletim de ocorrência juntado
não indica que a ré tenha praticado qualquer ato violento contra o proprietário do
automóvel e nem contra os policiais que a abordaram e conduziram à Delegacia
da Polícia, sendo que não os relatórios médicos juntados apenas não apontam que
a ré tem comportamento inadequado e agitado.
Importante destacar que não se pode utilizar o referido
transtorno mental da ré, de intensidade e natureza ainda não suficientemente
demonstradas, de forma discriminatória, presumindo-se a necessidade de
internação como forma de auto-preservação, como veda o artigo 1º da Lei
10.216/01, até porque as internações são excepcionais, temporárias e não
configuram a melhor alternativa terapêutica.
Não se pode deixar de considerar que a internação representa
extrema violência ao direito de liberdade da ré e pode caracterizar grave ou até
irreparável prejuízo à sua saúde, caso realmente ela não seja necessária,
sobretudo da forma ampla como foi pleiteada.
Sobre o tema, conveniente a transcrição da r. decisão do
Desembargador Relator, Dr. Testa Marchi, que bem observou a excepcionalidade
da internação psiquiátrica e a necessidade de prévia perícia médica, com laudo
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circunstanciado, considerando que a medida representa extremo cerceamento à
liberdade:
“Tendo em vista a exigência legal, ainda não atendida pela
requerente, reputa-se conveniente, dada a situação
superveniente da alegada piora no estado de saúde do
requerido, uma prévia elaboração de perícia médica, com
laudo circunstanciado em que constem os elementos hábeis a
respaldar a medida que, conquanto possa ser salutar ao
interdito e à família, se mostra constritiva, em razão da
compulsoriedade. A cautela se justifica em virtude de que a
Lei n° 10.216/01, em seu art. 4o estabelece um limite
temporal para a internação e prevê que só deve ser indicada
quando os recursos extra-hospitalares ministrados tenham se
revelado insuficientes e, no caso, se revele a conveniência de
manter o paciente internado.
Acresce, ainda, que o mesmo art. 4o, em seus parágrafos
disciplina que o tratamento deve primar pela reinserção social
do paciente e oferecer assistência integral através de uma
equipe multidisciplinar. Ademais, em face da ausência de
dispositivo legal que autorize, de forma automática, ou ao
menos, desprovida de melhores elementos, a concessão da
tutela pleiteada, determinando a internação do paciente em
estabelecimento psiquiátrico, deve ser mantida a r. decisão
impugnada, até que ultimada a perícia médica, uma vez que a
internação compulsória, embora se destine à preservação da
saúde do paciente e bem estar dos que o cercam, não deixa de
ser um ato que, ao menos em tese, cerceia sua liberdade, o
que revela o cuidado com que agiu o MM. Juiz.
4. Ante o exposto, nega-se provimento ao agravo.”
(TJ/SP; Agravo de Instrumento n° 0162775-
16.2010.8.26.0000; Relator (a): Testa Marchi; Órgão
julgador: 10ª Câmara de Direito Privado; da Comarca de
Bauru; Data do julgamento: 18/01/2011).
Observa-se que os princípios da reforma psiquiátrica e o
Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental (SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE. CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Comissão
Organizadora da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial.
Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental – Intersetorial, 27
de junho a 1º de julho de 2010. Brasília: Conselho Nacional de Saúde/Ministério
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da Saúde, 2010, 210 p.), convocada pelo Ministro da Saúde, objetivam a
desinstitucionalização e a extinção dos hospitais psiquiátricos para internação em
regime fechado:
“2.4 Atenção às pessoas em crise na diversidade dos
serviços
Princípios e diretrizes gerais
396. A consolidação da reforma psiquiátrica exige a
priorização, por parte dos gestores dos níveis federal,
estadual e municipal, da atenção à crise no âmbito da rede
substitutiva em saúde mental, considerando sua importância
fundamental na implementação de um processo efetivo que
possibilite a extinção dos hospitais psiquiátricos e de
quaisquer outros estabelecimentos em regime fechado.
397. Dessa forma, a IV Conferência ratifica a criação, o
fortalecimento, e a ampliação da rede de saúde mental e de
ações articuladas saúde mental na atenção básica,
ambulatórios de saúde mental, Núcleos de Apoio à Saúde da
Família (NASF), Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS),
Residências Terapêuticas, CAPS I, II, III, CAPSi, CAPSad,
Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192),
Unidades de Pronto Atendimento (UPA)/Pronto
Atendimento, e leitos em hospitais regionais e gerais ,
destacando que essa rede deve atuar na lógica antimanicomial
e interdisciplinar, integrada nas três esferas de governo.
398. Em paralelo, a Conferência enfatiza o
descredenciamento progressivo dos leitos psiquiátricos da
rede privada e a desativação progressiva dos hospitais
psiquiátricos públicos, com o cumprimento dos prazos
estabelecidos pelo Programa Nacional de Avaliação dos
Serviços Hospitalares/Psiquiatria (PNASH/Psiquiatria), e a
necessidade de garantir a participação das organizações de
usuários e de familiares, assim como o deslocamento dos
recursos financeiros para a criação e manutenção dos serviços
substitutivos.
(...)
Atenção à crise na rede
403. Extinguir definitivamente toda e qualquer forma de
internação de cidadãos com sofrimento psíquico em hospitais
psiquiátricos e em quaisquer outros estabelecimentos de
regime fechado, acabando também com a
eletroconvulsoterapia no Brasil.
404. Garantir e ampliar o atendimento das situações de crise
em saúde mental 24 horas, priorizando CAPS III, no Pronto
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Socorro Geral em articulação com a rede SAMU 192; em
municípios que não tenham estes dispositivos, garantir que os
serviços de emergência atendam às situações de crise em
saúde mental facilitando o acesso aos demais serviços de
saúde.
405. Garantir, sempre que o usuário com sofrimento psíquico
estiver em crise e que se faça necessária a intervenção em
emergência hospitalar, esta ocorra nos hospitais gerais que
tenham serviço de urgência e emergência.
406. Atender as emergências psiquiátricas em unidades gerais
24 horas, contando ainda com equipes volantes para dar
suporte matricial às unidades básicas e secundárias de saúde.
407. Garantir, em todo território nacional, a implantação
imediata de CAPS III, conforme a legislação vigente, dando
ênfase à importância desse dispositivo na atenção à crise na
rede substitutiva de saúde mental, dispensando o recurso ao
hospital psiquiátrico.
408. Garantir leitos de retaguarda noturna, finais de semana e
feriados, em Hospitais Gerais, inclusive em municípios de
pequeno porte, para cidadãos com sofrimento psíquico, assim
como leitos para síndrome de abstinência e desintoxicação
para adultos, crianças e adolescentes, com equipe capacitada
possibilitando tratamento humanizado.
(...)
2.5 Desinstitucionalização, inclusão e proteção social:
Residências Terapêuticas, Programa de Volta para Casa e
articulação intersetorial no território
Princípios e diretrizes gerais
425. A consolidação da política de saúde mental do SUS,
orientada pelos princípios da reforma psiquiátrica, exige
estimular, ampliar e garantir os programas de
desinstitucionalização com o conseqüente fechamento dos
leitos psiquiátricos e a rede de serviços substitutivos que
favoreçam a inclusão e proteção a todos os cidadãos com
sofrimento psíquico.
426. Com essa perspectiva, a IV Conferência enfatiza a
necessidade de garantir e ampliar o acesso aos Serviços
Residenciais Terapêuticos e ao Programa de Volta para Casa
às pessoas com transtornos mentais que deles precisem, com
ampliação do processo de financiamento. No sentido de
garantir a acessibilidade devem ser desencadeados
movimentos na direção de revisão das normativas e
legislação existentes.
427. Nesse contexto, é de fundamental importância ampliar
estratégias para fortalecer o protagonismo das famílias e dos
usuários dos serviços de saúde mental, tendo em vista a
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necessidade de lutar contra o estigma e de favorecer a
inclusão social das pessoas com transtornos mentais.
428. Destacase, ainda, a relevância de todos os atores
assumirem o compromisso de não admitir nenhum tipo de
postura ou incentivo que contrarie os princípios da reforma
psiquiátrica, assim como não admitir políticas públicas
discriminatórias e excludentes aos cidadãos com sofrimento
psíquico.” (fls. 74-78, g.n.)
Acrescenta-se que os princípios da reforma psiquiátrica
foram incorporados inclusive no âmbito da aplicação das medidas de segurança,
conforme prevê o artigo 17 da Resolução nº 113, de 20 de abril de 2010, do
Conselho Nacional de Justiça:
“Art. 17 O juiz competente para a execução da medida de
segurança, sempre que possível buscará implementar
políticas antimanicomiais, conforme sistemática da Lei nº
10.216, de 06 de abril de 2001.”
No mesmo sentido, os artigos 1º e 4º da Resolução nº 4, de
30 de julho de 2010, do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária:
“Art. 1º - O CNPCP, como órgão responsável pelo
aprimoramento da política criminal, recomenda a adoção da
política antimanicomial no que tange à atenção aos pacientes
judiciários e à execução da medida de segurança.
§ 1° - Devem ser observados na execução da medida de
segurança os princípios estabelecidos pela Lei 10.216/2001,
que dispõe sobre a proteção dos direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo
assistencial de tratamento e cuidado em saúde mental que
deve acontecer de modo antimanicomial, em serviços
substitutivos em meio aberto;
(...)
Art. 4º - Em caso de internação, mediante o laudo médico
circunstanciado, deve ela ocorrer na rede de saúde municipal
com acompanhamento do programa especializado de atenção
ao paciente judiciário.
Parágrafo único - Recomenda-se às autoridades responsáveis
que evitem tanto quanto possível a internação em manicômio
judiciário.”
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Não se pode deixar de observar, ainda, que a autora não
especificou o tempo da internação involuntária desejada e, embora tenha
indicado a preferência pela internação no Hospital Guilherme Álvaro, requereu,
subsidiariamente, a internação em outro Hospital da Rede Pública ou Particular.
Evidente que o pedido é extremamente amplo e não pode ser
acolhido, sob pena de concessão de verdadeira carta branca à autora, pois a
internação deve ser limitada ao período de surto, tem como finalidade
permanente a reinserção social do paciente em seu meio (artigo 4º, parágrafo 1º,
da Lei nº 10.216/01) e não pode ser feita em estabelecimentos asilares ou
desprovidos dos recursos que assegurem assistência integral à pessoa portadora
de transtorno mental, incluindo serviços médicos, de assistência social,
psicológicos, ocupacionais, de lazer e outros, além dos direitos previstos no
artigo 2º da Lei nº 10.216/01.
Acrescenta-se que, na hipótese de internação por ordem
judicial, cabe ao juiz levar em conta as condições de segurança do
estabelecimento quanto à salvaguarda da paciente, dos demais internados e
funcionários, nos termos do artigo 9º da Lei 10.216/01, de forma que não é
suficiente a menção genérica de internação em estabelecimento adequado.
Além disso, incumbe ao Ministério Público o controle da
internação psiquiátrica involuntária e dos estabelecimentos adequados para tanto,
o que evidencia a importância do controle sobre o local de internação.
Nunca é demais lembrar o trágico caso do Sr. Damião
Ximenes Lopes, que, em 1999, foi vítima de tortura, maus tratos e faleceu nas
dependências da clínica psiquiátrica Casa de Repouso Guararapes, o que
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ocasionou a condenação do Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos
Humanos.
Deve-se mencionar, outrossim, que a autora não apresentou
argumentos e provas suficientes que justifiquem que ela seja nomeada curadora
da ré, discussão que deveria ser objeto de ação de interdição, ainda não proposta,
não obstante a autora relate que a ré sofre de transtornos mentais desde a sua
adolescência.
Embora seja sua mãe e demonstre interesse na curadoria, a
autora narra que é idosa, que tem dificuldades de lidar com os referidos
transtornos da ré e ainda pleiteia a internação como medida de proteção para si, o
que indica que, eventualmente, a curadoria poderia ser melhor exercida por outro
parente ou outra pessoa próxima.
Por todas essas razões, requer-se a total improcedência da
ação.
Subsidiariamente, caso se entenda viável a internação
involuntária por ordem judicial, necessário que esta seja: i) condicionada à
análise positiva de equipe técnica de saúde mental e elaboração de laudo médico
circunstanciado; ii) realizada em Unidade de Internação Psiquiátrica em Hospital
Geral, comprovadamente adequada às exigências da Lei nº 10.216/01; iii)
limitada ao prazo máximo de duração do surto, exigindo-se do curador a
apresentação de relatório mensal sobre o estado de saúde da ré e a necessidade de
manutenção da internação, sem prejuízo das demais avaliações previstas em lei,
realizadas na unidade de internação e pela Comissão Revisora de Internação
Psiquiátrica Involuntária; iv) realizada conforme a Lei nº 10.216/01 e demais
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regulamentações, da forma terapêutica mais adequada, afastando-se o regime
fechado.
Observa-se que a própria autora não requereu a internação
psiquiátrica em regime fechado, como acabou por ser deferido pela r. decisão de
fl. 38, de modo que tal determinação deve ser afastada, sob pena de julgamento
diverso do pedido e cerceamento indevido da liberdade da ré.
Não se deixa de mencionar que eventual imposição de
medida de segurança somente pode ser feita por Juízo Criminal e em processo
criminal, após comprovação da prática de crime.
Assim, caso não seja extinta e nem julgada improcedente a
ação, requer-se sejam determinados os condicionamentos e requisitos
apresentados.
IV. Dos pedidos
Diante de todo o exposto, requer-se:
a) seja determinada a regular citação da ré e reconhecida a
nulidade da r. decisão de fl. 38 ou, ao menos, que seja determinada a suspensão
da r. decisão de fl. 38;
b) seja reconhecida a incompetência absoluta do Juízo,
determinada a redistribuição dos autos ao Juízo Cível da Comarca de São
Vicente e declarada a nulidade da r. decisão de fl. 38, nos termos do artigo 113,
parágrafo 2º, do Código de Processo Civil;
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c) seja determinada a extinção do processo, sem julgamento
de mérito, com fulcro no artigo 267, incisos IV, VI ou XI do Código de Processo
Civil;
d) a produção de todas as provas em direito admitidas,
requerendo, desde já: i) o interrogatório da ré e o depoimento pessoal da autora;
ii) a realização de estudo psicossocial na residência da autora; iii) a realização de
perícia sobre a ré pela equipe técnica de saúde mental do CAPS III - Mater de
São Vicente; iv) a expedição de ofício ao Hospital Guilherme Álvaro, solicitado
informações sobre a suposta tentativa de internação da ré no local; v) a expedição
de ofício ao CREI de São Vicente, com cópias de fl. 23, solicitando-se prontuário
e relatório médico dos atendimentos realizados pela ré no local; vi) a intimação
da autora para que informe o local de internação da ré e do Ministério Público
Estadual para que informe se recebeu notícia da internação da ré (artigo 8º,
parágrafo 1º, da Lei 10.216/01), expedindo-se ofício ao local para que apresente
prontuário e relatório de internação da ré;
e) superadas as preliminares suscitadas, seja julgada
totalmente improcedente a ação;
f) subsidiariamente, no caso de procedência da ação, que a
internação seja: i) condicionada à análise positiva de equipe técnica de saúde
mental e elaboração de laudo médico circunstanciado; ii) realizada em Unidade
de Internação Psiquiátrica em Hospital Geral, comprovadamente adequada às
exigências da Lei nº 10.216/01; iii) limitada ao prazo máximo de duração do
surto, exigindo-se do curador a apresentação de relatório mensal sobre o estado
de saúde da ré e a necessidade de manutenção da internação, sem prejuízo das
demais avaliações previstas em lei, realizadas na unidade de internação e pela
Comissão Revisora de Internação Psiquiátrica Involuntária; iv) realizada
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conforme a Lei nº 10.216/01 e demais regulamentações, da forma terapêutica
mais adequada, afastando-se o regime fechado;
g) a intimação do Ministério Público dos demais atos do
processo, inclusive para se manifestar sobre a contestação apresentada;
h) a concessão dos benefícios da assistência jurídica gratuita,
nos termos da Lei 1.060/50, tendo em vista que a ré está sendo defendida pela
Defensoria Pública do Estado de São Paulo, nomeada pelo Juízo para tanto;
i) a concessão de prazo em dobro e a intimação pessoal de
todos os atos do processo, nos termos do artigo 5º, parágrafo 5º, da Lei 1.060/50.
Termos em que,
pede deferimento.
São Vicente, 24 de março de 2011.
Rafael Rocha Paiva Cruz
Defensor Público
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