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Conselho Municipal de Saúde de Vitória
Presidente:
Luiz Carlos Reblin
Conselheiros(as) Municipais de Saúde:
Sônia Maria Lievori do Rego Pereira Rosane Ernestina Mageste
Mariana Meneguelli Dagustinho Rosini Helena Pataro Gurgel
Weslene Vargas Moura Ismênia Novaes Barbosa Maria Maruza Carlesso
Fabíola Cristiana de Macêdo Mota Péricles Alves Noronha
Geraldo Silvério de Oliveira Luceni Gomes de Novaes
João Vicente Roeder Cristiana Aparecida Nascimento Gomes
Olga Maria Pereira Paiva Walace Nascimento Lúcio
Graciete de Souza Maria da Penha Oliveira Peres
Edson Ferreira Maria Margaret Belmiro Lima
Paulete Ambrósio Maciel Rogério Eller
Laíra Augusta Viegas Vasconcellos Benedito Domingos dos Santos
Artur Martins Lemos Maria das Graças Barbosa Martins
Wilson Pereira das Candeias Elida Rocha
Rosimeri Galimberti Martins Marília Oliveira Boynard
Zélia Maria de Oliveira Raynaud
Secretaria Executiva do Conselho Municipal de Saúde
Secretário Executivo:
Alexandre de Oliveira Fraga
Equipe Administrativa:
Maria da Penha Campos de Rezende Rafael Vulpi Caliari
Estagiário:
Jefferson de Almeida Galter
3
Comissão Organizadora da I Conferência Municipal de Saúde da População Negra
Conselheiros Municipais de Saúde:
Benedito Domingos dos Santos
Edson Ferreira
Elida Rocha
Fabiola Cristiane de Macêdo Mota
Walace Nascimento Lucio
Grupo de Trabalho de Atenção à Saúde da População N egra:
Antônia de Oliveira Campos
Benedita do Nascimento Martins
Cristina Monteiro da Costa
Dirce Celestino
Henriqueta Tereza do Sacramento
Jacira dos Anjos Pereira
Juliana Carvalho Rodrigues
Leomar dos Santos Vazzoler
Nelma Gomes Monteiro
4
5
Sumário
Apresentação..............................................................................................7
Termo de Referência..................................................................................9
Análise da situação da saúde da população negra de Vitória.................... 13
Eixo I........................................................................................................... 21
Eixo II.......................................................................................................... 26
Propostas Inéditas...................................................................................... 33
Diretrizes para a construção de uma política específica............................ 34
Anexo I “Pré-Conferência Municipal de Saúde da População Negra”........35
Referências.................................................................................................37
Anexo II Portaria nº 992 de 13 de maio de 2009........................................ 39
CAVVID – Glossário....................................................................................47
Anexo III “Um grito pela equidade”..............................................................54
6
7
APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO
A I Conferência Municipal de Saúde da População Negra, que foi realizada nos dias 07 e 08 de maio de
2010, foi fruto das reivindicações dos usuários no Conselho Municipal de Saúde e das entidades
representantes da população negra no município de Vitória.
Este movimento teve início em 2006 quando, a partir da proposta do saudoso conselheiro Paulo César
Bernardes, representante da CUT, o Conselho Municipal de Saúde decidiu por realizar o I Fórum
Municipal de Saúde da População Negra do município de Vitória. O fórum realizado em 2007,
antecedendo a realização da Etapa Municipal da XIII Conferência Nacional de Saúde, foi um marco na
discussão da desta importante política.
Com a publicação da Política Nacional de Atenção à Saúde da População Negra por parte do Ministério
da Saúde, o Conselho Municipal de Saúde de Vitória detectou a importância da realização desta
Conferência Municipal, visto a necessidade de debater as diretrizes para implantar a política em nossa
cidade.
A Secretaria Municipal de Saúde assumiu a realização desta conferência por entender que existe a
necessidade de aprofundar as discussões acerca desta temática, e fez todo o esforço para que o evento
fosse exitoso e produtivo.
A Comissão Organizadora, composta por representantes da Secretaria de Saúde, Secretaria de Direitos
Humanos e Cidadania e membros do Conselho Municipal de Saúde, buscou na preparação desta
conferência proporcionar à população de Vitoria a oportunidade de debater os rumos da atenção à saúde
da população negra no município de Vitória.
Com esta finalidade foram realizadas as pré-conferências por região de saúde: Região Maruípe, Forte São
João, Centro, Santo Antônio, São Pedro e Região Continental.
Na 1ª. Conferência de Saúde da População Negra estiveram representados os gestores e Prestadores de
Serviços de Saúde com 28 delegados credenciados, Trabalhadores da Saúde com 34 delegados
credenciados, Usuários do SUS com 45 delegados credenciados, totalizando 107 delegados credenciados.
Para a discussão da temática estiveram presentes as palestrantes Dra. Jurema Werneck, Conselheira
Nacional de Saúde, que apresentou o tema “A construção e implantação da Política Nacional de Atenção
à Saúde da População Negra”, Dra. Joice Aragão, Ministério da Saúde, que apresentou o tema “Política
nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme”.
8
9
Termo de referência
I Conferência Municipal sobre Saúde da População N egra
“Saúde da População Negra: Um desafio de Todos Nós”
A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra está embasada nos princípios
constitucionais de cidadania e dignidade da pessoa humana, do repúdio ao racismo, e da
igualdade. É igualmente coerente com o objetivo fundamental da República Federativa do
Brasil de “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação” (BRASIL, 1988).
Essa política reafirma os princípios do SUS, constantes da Lei n.º 8.080, de 19 de setembro
de 1990, a saber:
• a universalidade do acesso, compreendido como o “acesso garantido aos serviços de
saúde para toda população, em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou
privilégios de qualquer espécie”;
• a integralidade da atenção, “entendida como um conjunto articulado e contínuo de
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada
caso, em todos os níveis de complexidade do sistema”;
• a igualdade da atenção à saúde; e
• descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de
governo (BRASIL, 1990a).
A esses princípios vêm juntar-se os da Participação Popular e Controle Social, instrumentos
fundamentais para a formulação, execução, avaliação e eventuais redirecionamentos das
políticas públicas de saúde. Constituem desdobramentos do princípio da “participação da
comunidade” (BRASIL, 1990a) e principal objeto da Lei n.º 8.142, de 28 de dezembro de
1990, que instituiu as conferências e os conselhos de saúde como órgãos colegiados de
gestão do SUS, com garantia de participação da comunidade (BRASIL, 1990b).
Igualmente importante é o princípio da equidade. A iniqüidade racial, como fenômeno social
amplo, vem sendo combatida pelas políticas de promoção da igualdade racial, regidas pela
Lei n.º 10.678/03, que criou a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
10
Racial - SEPPIR1,
Coerente com isso, o princípio da igualdade, associado ao objetivo fundamental de
conquistar uma sociedade livre de preconceitos onde a diversidade deseja um valor, deve
desdobrar-se no princípio da equidade. Para isso, deve se reafirmar no dia a dia pela
linguagem comum, se mantém e se alimenta pela tradição e pela cultura, influencia a vida, o
funcionamento das instituições e também as relações entre as pessoas; é condição histórica
e traz consigo o preconceito e a discriminação, afetando a população negra de todas as
camadas sociais, residente na área urbana ou rural e, de forma dupla, as mulheres negras,
também vitimadas pelo machismo e pelos preconceitos de gênero, o que agrava as
vulnerabilidades a que está exposto este segmento.
Do ponto de vista institucional – que envolve as políticas, os programas e as relações
interpessoais –, deve-se considerar que as instituições comprometem sua atuação quando
deixam de oferecer um serviço qualificado às pessoas em função da sua origem étnico-
racial, cor da pele ou cultura. Essa falta de comprometimento é resultante do racismo
institucional.
O racismo institucional constitui-se na produção sistemática da segregação étnico-racial, nos
processos institucionais. Manifesta-se por meio de normas, práticas e comportamentos
discriminatórios adotados no cotidiano de trabalho, resultantes da ignorância, falta de
atenção, preconceitos ou estereótipos racistas. Em qualquer caso, sempre coloca pessoas
de grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem no acesso a
benefícios gerados pela ação das instituições.
A dimensão político-programática de combate ao racismo institucional é caracterizada por
diferentes fatores, tais como
* a produção e disseminação de informações sobre as experiências diferentes e/ou
desiguais em nascer, viver, adoecer e morrer;
* a capacidade em reconhecer o racismo como um dos determinantes das desigualdades
no processo de ampliação das potencialidades individuais;
* o investimento em ações e programas específicos para a identificação de práticas
discriminatórias;
1 Conforme Medida Provisória nº 483, publicada no Diário Oficial de 25/032010, ganhou recentemente novo status na estrutura do Governo
Federal, passando a ser "órgão essencial" da Presidência da República, dessa forma aumentando os recursos humanos e financeiros para
que a pasta cumpra a missão de estabelecer políticas públicas voltadas aos grupos sociais afetados pela discriminação étnico-racial.
11
* as possibilidades de elaboração e implementação de mecanismos e estratégias de não
discriminação, combate e prevenção do racismo e intolerâncias correlatas – incluindo a
sensibilização e capacitação de profissionais;
* o compromisso em priorizar a formulação e implementação de mecanismos e estratégias
de redução das disparidades e promoção da equidade que embasa a promoção da
igualdade a partir do reconhecimento das desigualdades e da ação estratégica para superá-
las.
* na saúde, a atenção deve ser entendida como ações e serviços priorizados em função de
situações de risco e condições de vida e saúde de determinados indivíduos e grupos de
população.
O SUS, como um sistema em constante processo de aperfeiçoamento, na implantação e
implementação do Pacto pela Saúde, instituído por meio da Portaria n.º 399, de 22 de
fevereiro de 2006, compromete-se com o combate às iniqüidades de ordem socioeconômica
e cultural que atingem a população negra brasileira (BRASIL, 2006).
Cabe ainda destacar o fato de que a Política Nacional de Saúde Integral da População
Negra apresenta como princípio organizativo a transversalidade, caracterizada pela
complementaridade, confluência e reforço recíproco de diferentes políticas de saúde. Assim,
contempla um conjunto de estratégias que resgatam a visão integral do sujeito,
considerando a sua participação no processo de construção das respostas para as suas
necessidades, bem como apresenta fundamentos nos quais estão incluídas as várias fases
do ciclo de vida, as demandas de gênero e as questões relativas à orientação sexual, à vida
com doenças e ao porte de deficiência temporária ou permanente.
(texto extraído e adaptado da Política Nacional de Saúde Integral
da População Negra: uma política do SUS, 2010)
No Município de Vitória/ES a institucionalização da Política Nacional de Saúde da População
Negra, inicia-se com a realização do I Fórum Municipal sobre Saúde da População Negra
em agosto de 2007 e na VI Conferência Municipal de Saúde em 2009. O Fórum representou
um momento marcante que propiciou a discussão do tema cujo produto foi apresentado e
discutido durante a V Conferência de Saúde em 2007 e inserido neste documento para a
validação destas propostas, tendo em vista a recente institucionalização da Política Nacional
de Saúde Integral da população negra em 2009 e, a partir dos avanços e discussões em
todo o município com a participação da sociedade civil, Secretaria de Saúde e Secretaria de
Cidadania e Direitos Humanos acontecerá esta I Conferência.
12
13
ANÁLISE DA SITUAÇÃO DA SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA EM VITÓRIA
Para caracterização deste perfil de saúde da população segundo cor ou raça foram
utilizadas estimativas populacionais tendo por base o Censo de 2000, no qual a definição de
cor foi auto declarada. Segundo as estimativas, considerando um ritmo de crescimento de
1,012 ao ano, os afrodescendentes compõem 45,9% da população de Vitória (Quadro 1).
Quadro 1 – Distribuição das estimativas populaciona is do Município de Vitória/ES, segundo
raça ou cor. ANO Raça/Cor
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Branca 156.656 158.370 161.967 163.959 165.933 164.341 166.316 167.992
Pretos/pardos 137.378 138.881 142.036 143.782 145.513 144.117 145.849 147.602
Amarela 839 848 867 878 888 880 890 901
Indígena 1.499 1.516 1.550 1.569 1.588 1.573 1.592 1.611
Sem declaração 2.985 3.018 3.087 3.125 3.162 3.132 3.169 3.207
TOTAL 299.357 302.633 309.507 313.312 317.085 314.042 317.817 321.313
Fonte: SEMUS/GVS Elaboração por estatístico Fabiano José Pereira
Estudos que analisaram a saúde da população negra de Salvador (2006) destacaram as
dificuldades de se obter dados da população negra. Em qualquer base de dados que se
analise, a população de pardos e brancos é sempre maior. Em nosso estudo consideramos
para universo da população, os pretos e pardos. Nos últimos cinco anos, os coeficientes
gerais de mortalidade (CGM) de negros em Vitória foram maiores do que os registrados no
Brasil e no Espírito Santo (Gráfico 1). Em 2004, o risco de morte entre os negros moradores
da capital era 1,3 vezes maior do que no Estado em geral. Em 2008 o risco foi de 1,0.
14
Gráfico1 - Distribuição dos Coeficientes de Mortalidade na população negra no Brasil, Espírito Santo e em Vitória.
Período 2004 a 2008
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
2004 2005 2006 2007 2008
Tax
a/10
00
Brasil ES Vitoria
Fonte: MS/DATASUS/SIM
Em relação ao campo da saúde, o quesito cor apesar de constar nos formulários que
alimentam os diversos sistemas de informações, não é de preenchimento obrigatório, sendo
observada uma ausência significativa do preenchimento deste campo, o que eleva a
freqüência de ignorados ou não informados.
Este fato pode alterar de forma importante a análise sistemática e/ou comparativa dos
dados. A mortalidade proporcional (MP) estratificada pela raça ou cor, em negros foi de
8,6%, nos pardos 31,8% e nos brancos 41,6%. Após o agrupamento de pardos e negros, a
MP do grupo ficou em 40,8% (Gráfico 2), no período de 2004 a 2008.
15
Gráfico 2 - Mortalidade proporcional , segundo raça / cor. Período 2004 a 2008. Vitória, ES.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Branca Preta Amarela Parda Indígena Ignorado
%Todas as raças ou cores Pretos + pardos
Fonte: MS/DATASUS/SIM
Quando analisamos os óbitos em relação a faixa etária, observamos que entre os negros, o
risco do evento morte chega a 1,5 em relação aos não negros menores de um ano. Essa
diferença relativa continua ao longo dos anos tendo seu ápice na faixa dos quinze aos
dezenove, quando o risco de morrer por ser negro chega a 5,8 vezes.
Quanto às causas de mortalidade geral, segundo o Código Internacional de Doenças - CID-
10, o perfil epidemiológico de negros é semelhante ao encontrado na população brasileira,
sendo a primeira causa de mortalidade as doenças cardiovasculares (DAC) nos dois
segmentos, a segunda posição é ocupada pelas causas externas nos negros e pelas
neoplasias (câncer), nos não negros (Gráfico 5).
16
0
200
400
600
800
1000
1200N
º A
BS
OLU
TO
D. aparelhocirculatório
Causasexternas
Neoplasias D. aparelhodigestivo
D. doaparelho
respiratório
D.endócrinas
nutricionais emetabólicas
Algumas D.infecciosas eparasitárias
Gráfico 5 - Distribuição das causas de mortalidade, segundo CID 10. Período 2004 a 2008. Vitória, ES.
Negros Não Negros
Fonte: MS/DATASUS/SIM
No gráfico 6, são apresentados os coeficientes de mortalidade específica por neoplasias em
negros e não negros. No período a curva se mantém constante nos dois grupos, sendo
maior a prevalência entre os não negros com uma leve ascendência no ano de 2008.
Gráfico 5 - Coeficientes de mortalidade por câncer. Período 2004 a 2008. Vitória.
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
2004 2005 2006 2007 2008
Negros Não Negros
Fonte: MS/DATASUS/SIM
Na segunda posição de mortalidade em negros estão as causas externas (acidentes e
violências), as agressões se constituem no principal motivo com 425 casos entre os negros.
17
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
Ac. de transporte
Outras causas ext. de lesões acid.
Lesões autoprovocadas voluntaria
Agressões
Seqüelas de causas externas
Gráfico 6 - Casos de óbitos por causas externas. Período 2004 a 2007. Vitória, ES.
Não negros Negros Ignorado
Fonte: MS/DATASUS/SIM
O Núcleo de Prevenção da violência e Promoção da Saúde de Vitória – NUPREVI em
parceria com Universidade Federal do Espírito Santo, com recurso do CNPq, realizou o
Projeto de Pesquisa - Análise Ecológica da Violência Letal no Município de Vitória - ES: sua
distribuição e contexto sócio espacial, Projeto de Pesquisa SIGMOR. A pesquisa concluiu
em suas análises que os homens negros e jovens do município são as grandes vítimas do
homicídio e vivem em regiões pobres, segundo os indicadores de desenvolvimento urbano
(baixa escolaridade, baixa renda e domicílios piores, ficando com o pior Índice de Qualidade
Urbana (IQU)). A freqüência do homicídio entre negros na área de menor IQU foi
significativamente maior que nas áreas de maior IQU. Os homicídios nas regiões e bairros
de menor IQU tenderam a ser de residentes, mostrando mais proximidade entre vítima e
agressor. Nas áreas de maior IQU os homicídios foram mais preponderantes entre não
residentes mostrando mais distância de vítima e agressor.
A pesquisa mostrou ainda um padrão de distribuição espacial do óbito por homicídio
segundo raça/cor que difere óbito por acidente de transporte e por suicídio. O homicídio
ocorre com maior freqüência em negros e se concentra mais ao norte da ilha, o suicídio
ocorre mais em brancos e ocorre mais ao sul da ilha. Os acidentes de transporte também se
concentram mais ao Sul.
18
A mortalidade por HIV/AIDS, entre negros, apresenta registros a partir da faixa etária de 10 a
14 anos. Apresentando prevalência importante em todas as faixas (Gráfico 7).
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
10 a 14 15 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 a 69 80 e +
Gráfico 7 - Coeficientes de mortalidade por HIV/AIDS, segundo idade. Período 2004 a 2007. Vitória, ES.
Negros Não Negros
Fonte: MS/DATASUS/SIM
Embora a situação de saúde da população negra compreenda aspectos de adoecimentos já
conhecidos como hipertensão arterial, diabetes, mioma uterino, neoplasias, HIV, entre
outros. O que se ressalta ao considerar a temática é a doença falciforme, que é hereditária e
de alta prevalência na população negra e na população em geral devido a miscigenação, já
conhecida há 100 anos. Esses fatores fazem com que sejam formuladas políticas bem
definidas para a doença falciforme.
A Doença Falciforme – doença hereditária muito grave, especialmente a Anemia Falciforme,
foi diagnosticada pela primeira vez há 100 anos, mas ainda é pouco conhecida. Além disso,
muitas pessoas têm o traço falciforme, mas são aénas portadoras do gene da doença, não
apresentam seus sintomas e por isso desconhecem essa condição. Esse é um dos
problemas mais graves na Saúde da População Negra e requer desses pacientes cuidados
especiais por toda vida.
Em Vitória os serviços relativos à doença falciforme já são oferecidos desde 1999,
antecipando-se à determinação nacional e a partir das portarias do Ministério da Saúde e na
mobilização que culminou com a elaboração da Lei Municipal nº 5.016/1999. Contudo,
19
devido a novas pesquisas, a situação atual exige uma nova legislação. O Programa
Municipal de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme foi oficialmente
implantado no ano de 2001. Desde então crianças foram diagnosticadas pela triagem
neonatal. Além dessa triagem, feita Teste do pezinho nas unidades de saúde habilitadas, a
Secretaria Municipal de Saúde presta assistência às pessoas com a Doença Falciforme
através de consultas, exames e dispensação de medicamentos nas farmácias de acordo
com a política nacional e referenciamento para as unidades da rede assistencial
complementar especializada (HEMOES - Hemocentro do ES, HINSG - Hospital Infantil
Nossa Senhora da Glória e HUCAM - Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes).
A SEMUS oferece ainda a partir de convênio com laboratório, o exame para detecção da
doença em crianças e adultos e vem capacitando os profissionais de saúde sobre Doença
Falciforme.
A implantação das ações de cuidados às pessoas com Doença Falciforme diminui
significativamente a mortalidade por essa doença, especialmente entre as crianças e as
gestantes. Por isso é tão importante a disseminação do conhecimento sobre a doença entre
a população geral e os profissionais para atenção integral à saúde dos doentes.
Além da Doença Falciforme faz-se necessário avançar nas ações relativas às outras
condições de adoecimento da população negra em Vitória, tais como a Hipertensão arterial,
Diabetes, Transtornos Mentais, Mioma uterino, Aborto séptico, Desnutrição entre outras.
Sendo assim a construção da Política Municipal de Saúde Integral da População Negra do
Município de Vitória está fundamentada nas evidências das imensas desigualdades em
saúde dessa população e expressa o compromisso do município com a diminuição das
desigualdades. Reafirma também as responsabilidades de todos na implementação das
ações e na articulação com outros setores do governo e da sociedade civil, em especial com
os movimentos sociais que representam a população negra.
Seguindo as mesmas diretrizes e mesmos eixos da Política Nacional de Saúde da
População Negra serão discutidos com os delegados desta Conferência os seguintes temas:
20
I - Raça Negra e Racismo como Determinante Social d as Condições de Saúde: acesso,
discriminação e exclusão social;
II - Morbidade e Mortalidade na População Negra
21
EIXO 01: Raça Negra e Racismo como Determinante Soc ial das Condições
de Saúde: acesso, discriminação e exclusão social
A seguir são apresentadas as propostas para o equacionamento deste problema: adoção de
mecanismos gerenciais e de planejamento para a promoção da equidade em saúde de
grupos em condições de vulnerabilidade; instituição de instâncias de promoção da equidade
em saúde; ações de formação e educação permanente destinadas a gestores, trabalhadores
de saúde e lideranças de movimento negro; desenvolvimento de estratégias de articulação
com as instituições de promoção da equidade racial a fim de operacionalizar atividades inter
setoriais; processo de articulação e negociação para o fortalecimento da mobilização social
do SUS; aperfeiçoamento dos sistemas de informação e a realização de estudos e
pesquisas sobre a situação de saúde dessa população.
I - Atenção integral a Saúde do Cidadão
1- Garantir, em consonância com a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional
(LOSAN), a Segurança Alimentar e Nutricional da população negra.
2- Fortalecer a Rede de Atenção Integral à Saúde da População Negra no município de
Vitória, mediante articulação com outros setores, por meio de ações integradas;
3- Implementar nos programas de saúde ações voltadas para idosos e pessoas com
necessidades especiais com recorte racial;
4- Adotar mecanismos gerenciais e de planejamento para a promoção da equidade em
saúde de grupos populacionais em condições de vulnerabilidade e iniqüidade;
5- Criar uma comissão de trabalho sobre a saúde da população negra junto ao Conselho
Municipal de Saúde com monitoramento técnico/científico;
6- Apoiar e articular ações intersetoriais e garantia de direitos a pessoas com doença
falciforme;
22
7- Articular ações intra e intersetoriais para o desenvolvimento da Política Nacional de
Saúde Integral da População Negra;
8- Apoiar os processos de educação popular em saúde pertinente às ações de promoção da
saúde integral da população negra;
9- Realizar estudos e pesquisas sobre os impactos do racismo na saúde e do sofrimento
mental da população negra;
10- Reconhecer o racismo como um dos fatores de risco à saúde mental e um mediador
negativo nas relações com a população negra (usuário-servidor, servidor-usuário, servidor-
servidor, gestor-servidor e gestor-usuário), APOIANDO A IMPLEMENTAÇÃO DE políticas
INTERSETORIAIS de superação do racismo institucional;
II. Vigilância em Saúde
11- Realizar a coleta, a sistematização e disponibilização dos dados relativos à variável
raça/cor – Quesito-Cor – em todos os Ciclos de Vida, no Sistema de Informação da rede
municipal de saúde, observando que a coleta dessa variável esteja presente em todos os
formulários utilizados nas Unidades de Saúde do Sistema Único de Saúde/SUS municipal;
12- Exigir de acordo com a legislação vigente o preenchimento do Campo: Quesito Raça/cor
em 100% dos instrumentos de informação gerencial;
13- Sensibilizar os profissionais de saúde da rede para realização da coleta de dados
relativos à variável raça/cor, por meio da auto-declaração;
14- Propor junto a Secretaria de Gestão Estratégica (SEGES) a atualização do Índice de
Qualidade Urbana (IQU) e a inclusão da variável Raça/cor para conhecer, estudar, analisar,
monitorar, vigiar os fatores condicionantes e determinantes do processo saúde-doença na
23
população negra;
III. Gestão do SUS
15- Fortalecer o processo de mobilização social no SUS através da formação de lideranças
do movimento negro sobre os determinantes sociais de saúde, direito à saúde e exercício do
controle social, COM A PARTICIPAÇÃO DO CONEGRO.
16- Apoiar o MAPEAMENTO PARA O reconhecimento dos quilombos urbanos do município
de Vitória;
17- Fortalecer a gestão participativa com incentivo à participação popular e ao controle
social;
18- Desenvolver processos de educação permanente para os trabalhadores de saúde
visando ao enfrentamento das iniqüidades em saúde;
19- Introduzir a abordagem étnico racial nos processos de formação de Escolas/Centros
Formadores dos profissionais de Saúde;
20- Realizar cursos visando à capacitação dos profissionais e gestores dos serviços de
saúde CONTEMPLANDO NOS PROCESSOS JÁ EXISTENTES AS especificidades sobre a
saúde da população negra e o impacto do racismo.
21- Buscar parcerias com representantes das Religiões de matrizes africanas e com as
entidades do movimento negro E CONEGRO para a realização de cursos de capacitação;
22- Incluir nos cursos de formação a abordagem sobre assédio moral, racismo, saúde
mental e diversidade étnica religiosa e cultural da população negra municipal;
23- Propor a inclusão de temas como; processo histórico da política de embranquecimento
na sociedade brasileira; Política de Ação Afirmativa e a discussão sobre raça e trabalho na
construção do conceito de saúde durante o processo de aprendizagem dos cursos de
24
especialização da saúde;
24- Promover capacitação dos profissionais, dentro de uma concepção holística que
contemple as ciências humanas tais como: sociologia, antropologia, urbanismo, psicologia,
direitos humanos, história, etc.;
25- Propor a inclusão da temática étnico-racial nos cursos-capacitação realizadas pela
Escola de Governo;
26- Apoiar a realização de Oficinas de Capacitação em Gestão de Risco, que tem por
objetivo avaliar e sistematizar medidas preventivas e resolutivas em face de possíveis
episódios de violência ou ameaça sofrida pelos serviços de saúde, profissionais e usuários,
para profissionais do Programa de Saúde da Família e/ou outros profissionais que atuam em
áreas de vulnerabilidade social;
27- Propor uma linha de pesquisa a Gerência de Formação e Desenvolvimento em Saúde
para apresentação de projetos que paute a política nacional de saúde da população negra.
28- Fortalecer a implantação e o monitoramento do instrumento de trabalho denominado
Manual de Gestão de Risco que tem por objeto orientar a forma de conduta do trabalhador
em situações de conflito;
29- Divulgar os canais de denúncias existentes para situações de racismo que ocorram nos
serviços do Município de Vitória;
30- Produzir material educativo acerca dos determinantes sócio-econômico e cultural das
doenças de maior prevalência na população negra e os resultados obtidos sobre a variável
raça/cor;
25
26
EIXO 02: Morbidade e Mortalidade na População Negra
Serão adotadas ações para a redução das taxas de morbimortalidade da população negra,
especialmente a redução da mortalidade materna, infantil e por mortes violentas. Para o
enfrentamento deste problema apresentam-se um elenco de ações, tais como: capacitação
dos trabalhadores da saúde, das equipes do Núcleo de Prevenção à violência e Promoção
da Saúde com a abordagem étnico-racial; ampliação da rede de atenção as mulheres e
adolescentes em situação de violência; inserção da temática saúde da população negra nos
conteúdos de educação permanente dos trabalhadores das Equipes de Saúde.
I. Atenção Integral a Saúde do Cidadão
31- Institucionalizar a política municipal de saúde da população negra, incorporando nos
ciclos de vida: criança, adolescente/jovem, adulto e idoso à atenção a saúde da população
negra;
32- Reafirmar na rede pública os exames para identificação do traço falciforme e orientação
genética as pessoas com doença/traço falciforme;
33- Implantar em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde a rede de atenção integral à
saúde da população negra;
34- Implementar a atenção integral à pessoa com doença falciforme nos territórios de
saúde;
35- Incluir no programa de atenção integral à saúde da população em situação de rua o
recorte racial;
36 - Propor a implantação de ações educativas sobre a saúde da população negra nos
27
Centros Municipais de Educação Infantil e nas Escolas municipais de Ensino Fundamental
em parceria com a Secretaria Municipal de Educação;
37- Destacar na Atenção Integral à Saúde da Mulher o recorte étnico-racial;
38- Intensificar as ações as pessoas negras em situação de vulnerabilidade inseridas no
Programa Bolsa Família.
39- Garantir a dispensação de medicamentos e equipamentos para tratamento das doenças
prevalentes na população negra;
40- Garantir exames laboratoriais específicos para as doenças prevalentes na população
negra;
41- Enfatizar e valorizar a tradição do uso de práticas naturais de saúde onde se incluem as
ervas medicinais aproximando o saber popular e a ciência para tratamento das doenças
prevalentes na população negra monitorando os resultados e divulgando-os;
42- Incluir nos programas e projetos prioritários de atenção e vigilância à saúde o recorte
étnico/racial;
43- Reconhecer os espaços culturais e religiosos de matrizes africanas como agentes de
promoção da saúde e prevenção de doenças na população negra;
44- Implementar ações de promoção da saúde com programas de alimentação saudável,
atividades físicas e culturais relacionados às matrizes africanas;
45- Estimular a participação dos agentes tradicionais das práticas naturais de saúde
(comunidade de terreiro, benzedeiras, mães de santo e outros) na construção da política na
atenção integral à saúde da população negra;
28
46- Estruturar ações de promoção da saúde para o adolescente e jovem negro, em parceria
com outras Secretarias Municipais que já desenvolvem ações especificas;
47- Inserir no calendário de ações da saúde a realização de atividades específicas sobre a
saúde da população negra;
48- Desenvolver ações de Educação em Saúde na população de quilombos urbanos de
Vitória;
49- Incentivar ações educativas ao enfrentamento do racismo institucional na saúde;
50- Desenvolver ações articuladas de prevenção e recuperação de crianças, adolescentes e
jovens em situação de vulnerabilidade social;
51- Ampliar e humanizar o Programa de Saúde Mental, considerando as terapias
complementares e de matriz africana, além da terapia farmacológica;
52- Articular ações de prevenção da violência e promoção da saúde com outras secretarias
municipais, para redução da mortalidade por homicídio prioritariamente no sexo masculino;
II. Vigilância em Saúde
53- Implantar ações de Vigilância às Pessoas com Doença Falciforme;
54-Utilizar indicadores sociais e de saúde como parâmetros para o monitoramento das
doenças prevalentes da população negra;
55-Desenvolver indicadores em conjunto com a coordenação de Informação para o
monitoramento da prevenção e controle do quadro de morbimortalidade da população negra;
29
56-Divulgar anualmente o resultado dos dados sobre morbimortalidade da população negra
através de boletins periódicos;
57- Reorganizar a rede municipal de saúde para o atendimento das vitimas/família em
situação de violência doméstica, sexual, racial e/ou outras violências;
58- Participar na implementação da Ficha de Notificação-Investigação Individual de Violência
Doméstica, Sexual e\ou outras Violências em articulação com Redes de Proteção de Vítimas
de Violência, com recorte etnicorracial;
59- Monitorar o preenchimento da variável raça/cor nos instrumentos de coleta de dados e
definir a sua inclusão nos relatórios emitidos pelos Comitês, Núcleos, Programas e Serviços
responsáveis pela análise e divulgação dos dados;
60- Qualificar a variável e análise de dados em saúde quanto ao quesito raça/cor nos
sistemas de informação do SUS e banco de dados municipais;
61- Elaborar diagnóstico epidemiológico de Saúde da população negra de Vitória;
III. Gestão do SUS
62- Garantir a inclusão da Política Municipal de Saúde da População Negra no Plano
Municipal de Saúde e no Plano Plurianual (PPA), em consonância com a realidade e
necessidade do município;
63- Implementar a execução da Política Municipal de Saúde da população negra inscrita no
Plano de Saúde;
64- Estabelecer estratégias, instrumentos de gestão e indicadores para monitoramento e
avaliação do impacto da implementação desta Política em consonância com o Pacto pela
Saúde;
65- Implantar o recorte racial no Sistema de Ouvidoria (OuvidorSUS);
30
66- Incluir a avaliação da qualidade do atendimento ao usuário negro prioritariamente em
situação de vulnerabilidade social à luz dos protocolos científicos e da ética, nos processos
de auditoria realizadas no SUS;
67- Incluir nas ações de Educação em Saúde a temática étnico-racial;
68- Inserir a temática saúde da população negra nos conteúdos de formação dos
profissionais das Equipes de Estratégia de Saúde da Família;
69- Sensibilizar e capacitar os profissionais de saúde no atendimento à população negra;
70- Articular com a Escola de Saúde a inserção da temática etnia e saúde da população
negra na elaboração dos currículos e dos materiais didáticos dos cursos de educação
profissional;
71- Capacitar profissionais de saúde para o preenchimento do quesito raça-cor nos
instrumentos dos sistemas de informação;
72- Promover capacitação dos profissionais e gestores dos serviços de saúde sobre
problemas de saúde da população negra e o impacto do racismo na saúde;
73- Articular juntamente com a Fundação de Apoio à Ciência e Tecnologia (FACITEC) a
realização de pesquisas sobre a saúde da população negra do município de Vitória;
74- Promover a sensibilização e capacitação dos conselheiros de saúde, gestores,
lideranças sociais, populares em relação à temática Saúde da População Negra;
75- Realizar campanhas educativas e informativas para conscientizar a população sobre a
importância da realização de consultas e exames para detecção do traço falciforme;
31
76- Realizar ações educativas inter e intra-setoriais sobre doenças e problemas de saúde
relacionados à população negra;
77- Disponibilizar periodicamente os dados dos sistemas de informação em saúde relativos
à variável cor/raça na página da Internet da PMV/SEMUS;
78- Democratizar a informação sobre as doenças com prevalência na população negra,
através de folhetos informativos, cartazes, outdoors, nas entidades de bairros, nos
movimentos negros, nos transportes públicos e alternativos, e junto às lideranças
comunitárias;
79- Disponibilizar materiais sobre etiologia, diagnóstico e tratamento das doenças que
prevalecem na população negra nas capacitações, eventos, espaços coletivos entre outros;
80- Propor que seja o dia 27 de Outubro como o Dia de Mobilização Municipal Pró-Saúde da
População Negra, referendando comemoração Nacional2;
81- Institucionalizar o Núcleo de Prevenção da Violência e Promoção da Saúde;
2 O Movimento Negro em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas, o UNFPA, com o apoio do Programa Interagencial de
Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia – Nações Unidas, Brasil e do MDG F – Fundo para o Alcance dos Objetivos do Milênio, a Mobilização iniciaram em 20 de outubro e termina em 20 de novembro, tendo como principais protagonistas as Redes Nacionais de Controle Social e Saúde da População Negra, Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, Lai Lai Apejo: População Negra e Aids e de Promoção e Controle Social da Saúde das Lésbicas Negras (Sapatá) instituíram o dia 27 de outubro como o “Dia de Mobilização Nacional Pró-Saúde da População Negra”. Com o tema “Racismo faz mal a saúde: Política de Saúde Integral da População Negra Já!”, redes da sociedade civil, governos e movimentos sociais promoverão uma série de atividades para envolve a sociedade na luta contra o racismo no setor saúde e pela implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
32
33
PROPOSTAS INÉDITAS
• Garantir Implantação e/ou implementações das deliberações da conferência.
• Dar visibilidade as propostas na conferência e aferir a cada dois anos essas
deliberações, monitorando com conhecimento e participação do movimento negro.
• Implementar o atendimento em saúde bucal na gestação de alto risco da mulher
negra, levando-se em conta o alto grau de morbidade materna.
• Destacar no programa HIPERDIA o recorte étnico-racial.
DIRETRIZES PARA CONSTRUÇÂO DE UMA POLITICA ESPECÍFI CA:
• Debater e implantar uma Política Municipal de Saúde para a População Negra;
34
• Implantar a estrutura de Câmara Técnica com a participação do Controle Social para
acompanhar e monitorar essa Política;
• Implantar Programa de Enfrentamento ao Racismo Institucional com ações
intersetoriais;
• Estruturar processos de Educação permanente (formação dos profissionais e das
lideranças da sociedade civil);
• Estabelecer parceiras com os aparelhos formadores (universidades) para discutir os
processos formais e organização dos currículos.
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ANEXO I
PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA SECRETARIA MUNICIPAL DE CIDADANIA E DIREITOS HUMANO S
SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE
PRÉ-CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEG RA - ABRIL DE 2010
PORQUE POLÍTICAS ESPECÍFICAS PARA SAÚDE DA POPULAÇÃ O NEGRA? Os indicadores sociais apontam uma grande diferença entre negros e brancos, constituindo um fenômeno
complexo, observado em praticamente todos os setores da vida cotidiana brasileira. Isso se manifesta ao longo
da vida por meio do pior atendimento recebido pelos negros no sistema de saúde, nos altos níveis de
repetência e abandono escolar, além da menor probabilidade de conseguir um emprego. Essas questões
decorrem de situação de pobreza em que vive a população negra brasileira, agravadas pela prática passada e
presente da discriminação racial reconhecida como fato.
MARCO HISTÓRICO LEGAL
• A Constituição Federal de 1988, em seu texto, reconhece o racismo e o preconceito como fenômenos
presentes na sociedade brasileira, classificando o racismo como crime inafiançável e imprescritível,
apresentando, desta forma, a necessidade de combatê-lo. A Constituição do Brasil garante aos
brasileiros viver em um Estado de Direito; perante a lei, todos são iguais em direitos e obrigações;
• O Ministério da Saúde, sabedor dessas desigualdades sociais que acometem a população negra,
historicamente esquecida, publicou em 13 de maio de 2009, a Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra: Uma Política do SUS (PNSIPN), por meio da Portaria Nº 992/2009, oficializando o
compromisso das três esferas governamentais, na execução de ações específicas em saúde, voltadas
para a população negra no âmbito da equidade no Sistema Único de Saúde – SUS.
• I Fórum Municipal sobre a saúde da população negra- No Município de Vitória/ES a institucionalização
da Política Nacional de Saúde da População Negra, inicia-se com a realização do I Fórum Municipal
sobre Saúde da População Negra em agosto de 2007. O Fórum representou um momento marcante
que propiciou a discussão do tema cujo produto foi apresentado e discutido durante a conferência.
• O Conselho Municipal de Saúde deliberou a realização, no ano de 2010, da Iª Conferência Municipal
de Saúde da População Negra.
• A realização da Conferência Municipal de Saúde, em 2009, aprovou duas ações importantes: 1-
Instituir e implementar a Política Municipal de Saúde da população Negra e efetivar o
acompanhamentos das ações planejadas com a institucionalização da atenção à saúde da população
negra; 2-Implementar ações intersetoriais para desenvolvimento de projetos em parceria com os
movimentos sociais e demais setores visando articular ações/eixos das Políticas de promoção da
saúde e de Saúde da população negra.
• A Convenção pela Eliminação de Todas as formas de Discriminação Racial enfatizou a importância do
debate para o enfrentamento e o combate a desigualdade e a discriminação, visando proporcionar aos
negros, direitos a habitação, educação, saúde pública, tratamento médico, bem como, o acesso a
todos os serviços e equipamentos públicos. Além disso, proporcionar a tais grupos, igual gozo ou
exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais.
36
Tais considerações fundam-se na idéia de que o racismo desumaniza e desqualifica o trabalho em saúde
resultando para a população negra, uma baixa expectativa de vida, se observarmos os altos índices de
mortalidade materna e infantil. É indiscutível a importância da vida humana e que as diferenças existenciais
não devem ser motivos para desqualificações ou redução de oportunidades para determinado grupo racial que
não se aproxima do padrão hegemônico. O recorte étnico-racial na assistência e na pesquisa em saúde nos
leva a discussão sobre o quesito cor nos prontuários médicos e a relação de doenças e agravos prevalentes na
população negra, que para efeito de estudo, estão agrupadas nas seguintes categorias:
1 - GENETICAMENTE DETERMINANTES : Anemia falciforme, Redução de G6PD (Deficiência Glicose
6 Fosfato Desidrogenase – Anemia Hemolítica Aguda ou Crônica); Foliculites.
2 - ADQUIRIDAS POR CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS : Desnutrição, Anemia Ferropriva (Anemia
causada pela deficiência de ferro), Doenças do Trabalho, DST/HIV/AIDS, Mortes Violentas, Mortalidade
Materna e Infantil Elevadas, Abortos Sépticos, Sofrimento Psíquico, Estresse, Depressão, Tuberculose,
Transtornos Mentais, Abuso de Álcool e outras Drogas, Violência Doméstica e de Gênero.
3 - DE EVOLUÇÃO AGRAVADA OU TRATAMENTO DIFICULTADO : Hipertensão Arterial, Diabetes
Tipo II, Coronariopatias (doença das coronárias que pode criar uma situação favorável ao infarto do miocárdio);
Insuficiência Renal Crônica, Câncer do Colo do Útero, Miomatose Uterina (Miomas).
Essas doenças e agravos necessitam de uma abordagem específica sob pena de se inviabilizar a Promoção
da Igualdade em Saúde no país, pois o conceito de saúde como sendo o completo bem estar físico, mental e
social, nos faz pensar o quanto estamos doentes a partir do local de trabalho, tipo de moradia, tipo de
ocupação, nível de renda, escolaridade, expectativa de vida e índice de desenvolvimento humano (IDH).
DIRETRIZES PARA CONSTRUÇÂO DE UMA POLITICA ESPECÍFI CA:
• Debater e implantar uma Política Municipal de Saúde para a População Negra;
• Implantar a estrutura de Câmara Técnica com a participação do Controle Social para acompanhar e
monitorar essa Política;
• Implantar Programa de Enfrentamento ao Racismo Institucional com ações intersetoriais;
• Estruturar processos de Educação permanente (formação dos profissionais e das lideranças da
sociedade civil);
• Estabelecer parcerias com os aparelhos formadores (universidades) para discutir os processos formais
e organização dos currículos.
EIXOS QUE SERÃO DEBATIDOS NA CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA
I - Raça Negra e Racismo como Determinante Social das Condições de Saúde: acesso, discriminação e
exclusão social;
II - Morbidade e Mortalidade na População Negra.
37
Referências:
Batista, Luís Eduardo e KALCKMANN, Suzana (Org.) Seminário Saúde da População Negra Estado de São Paulo 2004. São Paulo: Instituto de Saúde, 2005.232 p.(Temas em Saúde Coletiva)
Bastos, Márcia de Jesus Rocha Pereira et al. Análise ecológica dos acidentes e da violência letal em Vitória, ES. Revista de Saúde Pública, Fev 2009, vol.43, no.1, p.123-132. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Céspedes 32. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 368 p
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Subsecretaria de Planejamento e Orçamento. A saúde da população negra e o SUS: ações afirmativas para avançar na eqüidade / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Subsecretaria de Planejamento e Orçamento. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2005. 60 p. – (Série B. Textos Básicos em Saúde) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde Integral da População Negra : uma política para o SUS. Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à Gestão Participativa. – Brasília : Editorado Ministério da Saúde, 2010. 56 p. – (Série B. Textos Básicos de Saúde) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Subsecretaria de Planejamento e Orçamento. A saúde da população negra e o SUS: ações afirmativas para avançar na eqüidade Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Subsecretaria de Planejamento e Orçamento. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2005. 60 p. – (Série B. Textos Básicos em Saúde) BRASIL. Tabnet/DATASUS. Sistema de Informação de Mortalidade. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205 [ capturado em 03 março de 2010]. COMISSÃO NACIONAL SOBRE OS DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (CNDSS). Carta aberta aos candidatos à Presidência da República. Setembro de 2006. Disponível em: www.determinantes.fiocruz.br. Acessado em: 15/01/2010. Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial: Brasília, 30 de junho a 2 de julho de 2005: Relatório Final/ Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial. – Brasília: Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, 2005 PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR. Diagnóstico de Saúde da População Negra. Salvador: Recôncavo, 2006.
38
39
ANEXO II
Ministério da Saúde
Gabinete do Ministro
PORTARIA Nº 992, DE 13 DE MAIO DE 2009
Institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso das atribuições que lhe conferem os incisos I e II do parágrafo único do art. 87 da Constituição, e
Considerando a diretriz do Governo Federal de reduzir as iniquidades por meio da execução de políticas de inclusão social;
Considerando os compromissos sanitários prioritários nos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão, pactuados entre as esferas de governo na consolidação do SUS, visando qualificar a gestão e as ações e serviços do sistema de saúde;
Considerando o caráter transversal das ações de saúde da população negra e o processo de articulação entre as Secretarias e órgãos vinculados ao Ministério da Saúde e as instâncias do Sistema Único de Saúde - SUS, com vistas à promoção de equidade;
Considerando que esta Política foi aprovada no Conselho Nacional de Saúde - CNS e pactuada na Reunião da Comissão Intergestores Tripartite - CIT;
Considerando a instituição do Comitê Técnico de Saúde da População Negra pelo Ministério da Saúde, por meio da Portaria n° 1.678/GM, de 13 de agosto de 2004, que tem a finalidade de pro-mover a equidade e igualdade racial voltada ao acesso e à qualidade nos serviços de saúde, à redução da morbimortalidade, à produção de conhecimento e ao fortalecimento da consciência sanitária e da participação da população negra nas instâncias de controle social no SUS; e
Considerando o Decreto n° 4.887, de 20 de novembro de 2003, que cria o Programa Brasil Quilombola, com o objetivo de garantir o desenvolvimento social, político, econômico e cultural dessas comunidades, e conforme preconizado nos arts. 215 e 216 da Constituição, no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT e na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho - OIT, resolve:
Art. 1º Instituir a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Art. 2º A Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa SGEP articulará no âmbito do Ministério Saúde, junto às suas Secretarias e seus órgãos vinculados, a elaboração de instrumentos com orientações específicas, que se fizerem necessários à implementação desta Política.
Art. 3° Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação
JOSÉ GOMES TEMPORÃO
40
ANEXO
POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO NE GRA
CAPITULO I DOS PRINCÍPIOS GERAIS
1. Princípios Gerais A Constituição de 1988 assumiu o caráter de Constituição Cidadã, em virtude de seu compromisso com a criação de uma nova ordem social. Essa nova ordem tem a seguridade social como "um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade,destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social" (BRASIL,1988, art. 194). Esta Política está embasada nos princípios constitucionais de cidadania e dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988, art. 1o, inc. II e III), do repúdio ao racismo (BRASIL, 1988, art. 4o, inc. VIII),e da igualdade (BRASIL, art. 5o, caput). É igualmente coerente com o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil de "promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação" (BRASIL, 1988, art. 3o, inc. IV). Reafirma os princípios do Sistema Único de Saúde - SUS, constantes da Lei no 8.080, de 19de setembro de 1990, a saber: a) a universalidade do acesso, compreendido como o "acesso garantido aos serviços de saúde para toda população, em todos os níveis de assistência, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie"; b) a integralidade da atenção, "entendida como um conjunto articulado e contínuo de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigido para cada caso, em todos os níveis de complexidade do sistema"; c) a igualdade da atenção à saúde; e d) a descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo (BRASIL, 1990a, art. 7o, inc. I, II, IV IX). A esses vêm juntar-se os da participação popular e do controle social, instrumentos fundamentais para a formulação, execução, avaliação e eventuais redirecionamentos das políticas públicas de saúde. Constituem desdobramentos do princípio da "participação da comunidade" (BRASIL, 1990a, art. 7o, inciso VIII) e principal objeto da Lei no 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que instituiu as conferências e conselhos de saúde como órgãos colegiados de gestão do SUS, com garantia de participação da comunidade (BRASIL, 1990b). Igualmente importante é o princípio da equidade. A iniquidade racial, como fenômeno social amplo, vem sendo combatida pelas políticas de promoção da igualdade racial, regidas pela Lei no 10.678/03, que criou a SEPPIR. Coerente com isso, o princípio da igualdade, associado ao objetivo fundamental de conquistar uma sociedade livre de preconceitos na qual a diversidade seja um valor, deve desdobrar-se no princípio da equidade, como aquele que embasa a promoção da igualdade a partir do reconhecimento das desigualdades e da ação estratégica para superá-las. Em saúde, a atenção deve ser entendida como ações e serviços priorizados em razão de situações de risco e condições de vida e saúde de determinados indivíduos e grupos de população. O SUS, como um sistema em constante processo de aperfeiçoamento, na implantação e implementação do Pacto pela Saúde, instituído por meio da Portaria no 399, de 22 de fevereiro de 2006, compromete-se com o combate às iniquidades de ordem sócio-econômica e cultural que atingem a população negra brasileira (BRASIL, 2006). Cabe ainda destacar o fato de que esta Política apresenta como princípio organizativo a transversalidade, caracterizada pela complementaridade, confluência e reforço recíproco de diferentes políticas de saúde. Assim, contempla um conjunto de estratégias que resgatam a visão integral do sujeito, considerando a sua participação no processo de construção das respostas para as suas necessidades, bem como apresenta fundamentos nos quais estão incluídas as várias fases do ciclo de vida, as demandas de gênero e as questões relativas à orientação sexual, à vida com patologia e ao porte de deficiência temporária ou permanente.
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2. Marca Reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde.
CAPÍTULO II
DAS DIRETRIZES GERAIS E OBJETIVOS 1. Diretrizes Gerais: I - inclusão dos temas Racismo e Saúde da População Negra nos processos de formação]e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social na saúde; II - ampliação e fortalecimento da participação do Movimento Social Negro nas instâncias de controle social das políticas de saúde, em consonância com os princípios da gestão participativa do SUS, adotados no Pacto pela Saúde; III - incentivo à produção do conhecimento científico e tecnológico em saúde da população negra; IV - promoção do reconhecimento dos saberes e práticas populares de saúde, incluindo aqueles preservados pelas religiões de matrizes africanas; V - implementação do processo de monitoramento e avaliação das ações pertinentes ao combate ao racismo e à redução das desigualdades étnico-raciais no campo da saúde nas distintas esferas de governo; e VI -desenvolvimento de processos de informação, comunicação e educação, que desconstruam estigmas e preconceitos, fortaleçam uma identidade negra positiva e contribuam para a redução das vulnerabilidades. 2. Objetivo Geral Promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e à discriminação nas instituições e serviços do SUS. 3. Objetivos Específicos: I - garantir e ampliar o acesso da população negra residente em áreas urbanas, em particular nas regiões periféricas dos grandes centros, às ações e aos serviços de saúde; II - garantir e ampliar o acesso da população negra do campo e da floresta, em particular as populações quilombolas, às ações e aos serviços de saúde; III - incluir o tema Combate às Discriminações de Gênero e Orientação Sexual, com destaque para as interseções com a saúde da população negra, nos processos de formação e educação permanente dos trabalhadores da saúde e no exercício do controle social; IV - identificar, combater e prevenir situações de abuso, exploração e violência, incluindo assédio moral, no ambiente de trabalho; V - aprimorar a qualidade dos sistemas de informação em saúde, por meio da inclusão do quesito cor em todos os instrumentos de coleta de dados adotados pelos serviços públicos, os conveniados ou contratados com o SUS; VI -melhorar a qualidade dos sistemas de informação do SUS no que tange à coleta, processamento e análise dos dados desagregados por raça, cor e etnia; VII - identificar as necessidades de saúde da população negra do campo e da floresta e das áreas urbanas e utilizá-las como critério de planejamento e definição de prioridades;
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VIII - definir e pactuar, junto às três esferas de governo, indicadores e metas para a promoção da equidade étnico-racial na saúde; IX - monitorar e avaliar os indicadores e as metas pactuados para a promoção da saúde da população negra visando reduzir as iniquidades macrorregionais, regionais, estaduais e municipais; X - incluir as demandas específicas da população negra nos processos de regulação do sistema de saúde suplementar; XI - monitorar e avaliar as mudanças na cultura institucional, visando à garantia dos princípios anti-racistas e não-discriminatório; e XII - fomentar a realização de estudos e pesquisas sobre racismo e saúde da população negra.
CAPÍTULO III DAS ESTRATÈGIAS E RESPONSABILIDADES DAS ESFERAS DE GESTÃO
1. Estratégias de Gestão(*): I -implementação das ações de combate ao racismo institucional e redução das iniquidades raciais, com a definição de metas específicas no Plano Nacional de Saúde e nos Termos de Compromisso de Gestão; II - desenvolvimento de ações específicas para a redução das disparidades étnico-raciais nas condições de saúde e nos agravos, considerando as necessidades locorregionais, sobretudo na morbimortalidade materna e infantil e naquela provocada por: causas violentas; doença falciforme; DST/HIV/aids; tuberculose; hanseníase; câncer de colo uterino e de mama; transtornos mentais; III - fortalecimento da atenção à saúde integral da população negra em todas as fases do ciclo da vida, considerando as necessidades específicas de jovens, adolescentes e adultos em conflito com a lei; IV - estabelecimento de metas específicas para a melhoria dos indicadores de saúde da população negra, com especial atenção para as populações quilombolas; V -fortalecimento da atenção à saúde mental das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos negros, com vistas à qualificação da atenção para o acompanhamento do crescimento, desenvolvimento e envelhecimento e a prevenção dos agravos decorrentes dos efeitos da discriminação racial e exclusão social; VI - fortalecimento da atenção à saúde mental de mulheres e homens negros, em especial aqueles com transtornos decorrentes do uso de álcool e outras drogas; VII - qualificação e humanização da atenção à saúde da mulher negra, incluindo assistência ginecológica, obstétrica, no puerpério, no climatério e em situação de abortamento, nos Estados e Municípios; VIII - articulação e fortalecimento das ações de atenção às pessoas com doença falciforme, incluindo a reorganização, a qualificação e a humanização do processo de acolhimento, do serviço de dispensação na assistência farmacêutica, contemplando a atenção diferenciada na internação; IX - inclusão do quesito cor nos instrumentos de coleta de dados nos sistemas de informação do SUS; X - incentivo técnico e financeiro à organização de redes integradas de atenção às mulheres negras em situação de violência sexual, doméstica e intrafamiliar; XI - implantação e implementação dos Núcleos de Prevenção à Violência e Promoção da Saúde, nos Estados e Municípios, conforme a Portaria MS/GM no 936, de 19 de maio de 2004, como meio de reduzir a vulnerabilidade de jovens negros à morte, traumas ou incapacitação por causas externas (BRASIL, 2004a);
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XII - elaboração de materiais de informação, comunicação e educação sobre o tema Saúde da População Negra, respeitando os diversos saberes e valores, inclusive os preservados pelas religiões de matrizes africanas; XIII - fomento à realização de estudos e pesquisas sobre o acesso da referida população aos serviços e ações de saúde; XIV - garantia da implementação da Portaria Interministerial MS/SEDH/SEPM no 1.426, de 14 de julho de 2004, que aprovou as diretrizes para a implantação e implementação da atenção à saúde dos adolescentes em conflito com a lei, em regime de internação e internação provisória, no que diz respeito à promoção da equidade (BRASIL, 2004b); XV - articulação desta Política com o Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário, instituído pela Portaria Interministerial MS/MJ no 1.777, de 9 de setembro de 2003 (BRASIL, 2003b); XVI - articulação desta Política com as demais políticas de saúde, nas questões pertinentes às condições, características e especificidades da população negra; XVII - apoio técnico e financeiro para a implementação desta Política, incluindo as condições para: realização de seminários, oficinas, fóruns de sensibilização dos gestores de saúde; implantação e implementação de comitês técnicos de saúde da população negra ou instâncias similares, nos Estados e Municípios; e formação de lideranças negras para o exercício do controle social; e XVIII - estabelecimento de acordos e processos de cooperação nacional e internacional, visando à promoção da saúde integral da população negra nos campos da atenção, educação permanente e pesquisa. * Em virtude de seu caráter transversal, todas as estratégias de gestão assumidas por esta Política devem estar em permanente interação com as demais políticas do MS relacionadas à promoção da Saúde, ao controle de agravos e à atenção e cuidado em saúde. 2. Responsabilidades das Esferas de Gestão 2.1. Gestor Federal: I - implementação desta Política em âmbito nacional; II - definição e gestão dos recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, pactuadas na Comissão Intergestores Tripartite - CIT; III - garantia da inclusão desta Política no Plano Nacional de Saúde e no Plano Plurianual -PPA setorial; IV - coordenação, monitoramento e avaliação da implementação desta Política, em consonância com o Pacto pela Saúde; V - garantia da inclusão do quesito cor nos instrumentos de coleta de dados nos sistemas de informação do SUS; VI - identificação das necessidades de saúde da população negra e cooperação técnica e financeira com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, para que possam fazer o mesmo, considerando as oportunidades e os recursos; VII - apoio técnico e financeiro para implantação e implementação de instâncias de promoção de equidade em saúde da população negra no Distrito Federal, nos Estados e nos Municípios; VIII - garantia da inserção dos objetivos desta Política nos processos de formação profissional e educação permanente de trabalhadores da saúde, em articulação com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, instituída pela Portaria GM/MS no 1.996, de 20 de agosto de 2007 (BRASIL, 2007);
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IX -adoção do processo de avaliação como parte do planejamento e implementação das iniciativas de promoção da saúde integral da população negra, garantindo tecnologias adequadas; X - estabelecimento de estruturas e instrumentos de gestão e indicadores para monitoramento e avaliação do impacto da implementação desta Política; XI - fortalecimento da gestão participativa, com incentivo à participação popular e ao controle social; XII -definição de ações intersetoriais e pluri-institucionais de promoção da saúde integral da população negra, visando à melhoria dos indicadores de saúde dessa população; XIII - apoio aos processos de educação popular em saúde pertinentes às ações de promoção da saúde integral da população negra; XIV -elaboração de materiais de divulgação visando à socialização da informação e das ações de promoção da saúde integral da população negra; XV - estabelecimento de parcerias governamentais e não governamentais para potencializar a implementação das ações de promoção da saúde integral da população negra no âmbito do SUS; XVI - estabelecimento e revisão de normas, processos e procedimentos, visando à implementação dos princípios da equidade e humanização da atenção e das relações de trabalho; e XVII - instituição de mecanismos de fomento à produção de conhecimentos sobre racismo e saúde da população negra . 2.2 Gestor Estadual: I - apoio à implementação desta Política em âmbito nacional; II - definição e gestão dos recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, pactuadas na Comissão Intergestores Bipartite - CIB; III - coordenação, monitoramento e avaliação da implementação desta Política, em consonância com o Pacto pela Saúde, em âmbito estadual; IV - garantia da inclusão desta Política no Plano Estadual de Saúde e no PPA setorial estadual, em consonância com as realidades locais e regionais; V - identificação das necessidades de saúde da população negra no âmbito estadual e cooperação técnica e financeira com os Municípios, para que possam fazer o mesmo, considerando as oportunidades e recursos; VI - implantação e implementação de instância estadual de promoção da equidade em saúde da população negra; VII - apoio à implantação e implementação de instâncias municipais de promoção da equidade em saúde da população negra; VIII - garantia da inserção dos objetivos desta Política nos processos de formação profissional e educação permanente de trabalhadores da saúde, em articulação com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, instituída pela Portaria GM/MS no 1.996, de 20 de agosto de 2007 (BRASIL, 2007); IX - estabelecimento de estruturas e instrumentos de gestão e indicadores para monitoramento e avaliação do impacto da implementação desta Política;
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X - elaboração de materiais de divulgação visando à socialização da informação e das ações de promoção da saúde integral da população negra; XI -apoio aos processos de educação popular em saúde, referentes às ações de promoção]da saúde integral da população negra; XII - fortalecimento da gestão participativa, com incentivo à participação popular e ao controle social; XIII -articulação intersetorial, incluindo parcerias com instituições governamentais e não governamentais, com vistas a contribuir no processo de efetivação desta Política; e XIV - instituição de mecanismos de fomento à produção de conhecimentos sobre racismo e saúde da população negra. 2.3 Gestor Municipal : I - implementação desta Política em âmbito municipal; II - definição e gestão dos recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política, pactuadas na Comissão Intergestores Bipartite - CIB; III - coordenação, monitoramento e avaliação da implementação desta Política, em consonância com o Pacto pela Saúde; IV - garantia da inclusão desta Política no Plano Municipal de Saúde e no PPA setorial, em consonância com as realidades e necessidades locais; V - identificação das necessidades de saúde da população negra no âmbito municipal, considerando as oportunidades e recursos; VI - implantação e implementação de instância municipal de promoção da equidade em saúde da população negra; VII - estabelecimento de estruturas e instrumentos de gestão e indicadores para monitoramento e avaliação do impacto da implementação desta Política; VIII - garantia da inserção dos objetivos desta Política nos processos de formação profissional e educação permanente de trabalhadores da saúde, em articulação com a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, instituída pela Portaria GM/MS Nº1.996, de 20 de agosto de 2007 (BRASIL, 2007); IX - articulação intersetorial, incluindo parcerias com instituições governamentais e não governamentais, com vistas a contribuir no processo de implementação desta Política; X - fortalecimento da gestão participativa, com incentivo à participação popular e ao controle social; XI - elaboração de materiais de divulgação visando à socialização da informação e das ações de promoção da saúde integral da população negra; XII - apoio aos processos de educação popular em saúde pertinentes às ações de promoção da saúde integral da população negra; e XIII - instituição de mecanismos de fomento à produção de conhecimentos sobre racismo e saúde da população negra.
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CAVVID - CENTRO DE ATENDIMENTO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊN CIA E DISCRIMINAÇÃO
Doméstica, de gênero, racial e por orientação sexual
GLOSSÁRIO
AÇÕES AFIRMATIVAS – Políticas públicas compensatórias, voltadas para reverter as tendências históricas que conferiram a grupos sociais uma posição de desvantagem, particularmente nas áreas da educação e do trabalho. No Brasil, nos últimos anos, muito se tem discutido a implantação de ações para proporcionar à população afro-brasileira (secularmente discriminada) uma inserção efetiva em espaços como as universidades e setores do mercado de trabalho. AFRO-BRASILEIRO – Adjetivo usado para referir-se à parcela significativa da população brasileira com ascendência parcial ou totalmente africana. O termo tem patrocinado uma calorosa discussão sobre quem representa efetivamente, esse segmento populacional no Brasil. Principalmente depois dos posicionamentos oficiais em relação à reserva de vagas, pelo sistema de cotas, para negros na universidade. ANTI-RACISMO - Termo que designa um movimento de rejeição consciente ao racismo e suas manifestações. ETNOCENTRISMO – Visão de mundo que considera o grupo a que o indivíduo pertence o centro de tudo. Elegendo-o o mais correto e o padrão cultural a ser seguido por todos, considera os outros, de alguma forma diferente, como inferiores. IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO – Conjunto de idéias que defendiam a miscigenação com o objetivo de, por intermédio dos casamentos inter-raciais, transformar o Brasil em um país branco e, consequentemente, promover um processo de extinção da raça negra. Esta ideologia teve grande aceitação pelas elites brasileiras, de 1870 a 1930. Transformar o Brasil, que era negro e mestiço, em um país branco foi o projeto implementado seriamente pelos cientistas e políticos daquela época. IDENTIDADE ÉTNICA – Conjunto de caracteres próprios e exclusivos de uma pessoa a que faz reconhecer-se pertencente a um determinada povo, ao qual se liga por traços comuns de semelhança física, cultural e histórica. A identidade étnica assumida positivamente é fundamental para a auto-estima do negro e se constitui também uma estratégia necessária ao fortalecimento de seu grupo, na luta contra as injustiças sociais. MOVIMENTO NEGRO – Organizações sociais da população afro-brasileira, no sentido de lutar pelo fim do racismo, do preconceito e das discriminações raciais, procurando assegurar conquistas sociais, defender os direitos e promover a valorização do negro e de sua cultura. MULATO – É uma palavra portuguesa que significa jovem mula. Foi usado nas Índias Ocidentais e nos Estados Unidos para se referir a crianças de herança racial mista. É um termo desumanizante, pejorativo, de cunho discriminatório, mas muito usado no Brasil, sem reprovação social.
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MULTI-RACIAL – É um termo abrangente, sugerindo pluralidade de heranças por várias gerações. “Na realidade brasileira, podem ser encontrados indivíduos negros, brancos, asiáticos, indígenas. A maior parte da população, sem a menor dúvida, resulta de mestiçagens várias de todos os grupos entre si, em maior ou menor grau.” NEGRITUDE – Postura de reverência aos antigos valores e modos de pensar africanos, conferindo sentimentos de orgulho e dignidade aos seus herdeiros. É, portanto, uma conscientização e desenvolvimentos de valores africanos. A exaltação da negritude tem sido uma das propostas escolhidas pelos movimentos negros brasileiros para a elevação da consciência da comunidade, a fim de fortalecer a luta contra o racismo e suas mais diversas manifestações. NEGRO – Termo que, de acordo com a significação dada pelos dicionários, significa de cor escura, muito escuro; que pertence à raça negra. De acordo com a realidade brasileira, o termo negro é um conceito político. Ser negro é identificar-se e reconhecer-se como tal. PRECONCEITO RACIAL – Conjunto de valores e crenças estereotipadas que levam um indivíduo ou um grupo a alimentar opiniões negativas a respeito do outro, com base em informações incorretas, incompletas ou por idéias preconcebidas. É a forma mais comum, a mais freqüente de expressão de racismo. RACISMO – Estrutura de poder baseada na ideologia da existência de raças superiores ou inferiores. Pode evidenciar-se na forma legal, institucional e também por meio de mecanismos a de práticas sociais. No Brasil, não existem leis segregacionais, nem conflitos públicos de violência racial, o racismo promove a exclusão sistemática dos negros da educação, cultura, mercado de trabalho, e meios de comunicação. RESISTÊNCIA NEGRA – Diversas atitudes e manifestações de rebeldia do povo negro ante a violência do escravismo. Fugas, suicídios, escravismos, insurreições, organização de quilombos e preservação de sua cultura de origem foram formas de resistir e lutar. O povo negro nunca foi resignado. Sempre resistiu à situação de escravizado. As variadas organizações negras que surgem por todo território brasileiro são as mais expressivas manifestações de resistência do povo negro na atualidade. Intelectuais e trabalhadores, pesquisadores e sindicalistas, grupos culturais, religiosos e sacerdotes do candomblé, jovens da periferia e universitários e a força das mulheres negras espalhadas por todos estes movimentos impulsionam à luta anti-racismo. A exemplo dos ancestrais escravizados, negros brasileiros vêm tecendo uma história da preservação da dignidade de seu povo. ESTIGMA - “Marca”, impressão ou rótulo que torna visível traços extraordinários, ruins ou negativos, desqualificando e discriminando uma pessoa ou um grupo social. Pessoas ou grupos estigmatizados são socialmente conhecidos pelos aspectos julgados “negativos” e associados ao estigma. Com isso, são penalizados e colocados à margem da sociedade. O estigma cria um círculo vicioso de discriminação e exclusão social, que perpetua a desinformação e o preconceito. GÊNERO – Gênero é a construção social do sujeito masculino ou feminino. Não significa o mesmo que sexo, pois este se refere às características biológicas de uma pessoa, enquanto gênero remete a uma construção social, histórica e cultural, envolvendo relações de poder, identidades, papéis e funções sociais, imagens e significados associados a cada um dos sexos.
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A discussão teórica sobre gênero faz-se necessário para compreender papéis e lugares de homens e mulheres na sociedade. A diferenciação entre papéis desempenhados por homens e mulheres (no trabalho, na vida política, sexual, reprodutiva e familiar) criou o que podemos chamar de cultura machista e patriarcal. IDENTIDADE DE GÊNERO - Refere-se à maneira como alguém se sente e apresenta para si e para os demais como homem ou mulher, ou ainda uma mescla de ambos, independente do sexo biológico. Trata-se de uma dimensão fundamental da existência humana, não devendo, portanto constituir motivo para a discriminação. MACHISMO - É um conjunto de leis, normas, atitudes e/ou traços sócio-culturais do homem cuja finalidade, explícita e/ou implícita, tem sido e é, produzir, manter a submissão da mulher em todos os níveis: sexual, procriativo, trabalhista e afetivo. PATRIARCADO - Forma de organização social que se baseia na autoridade paterna. No núcleo familiar predomina a autoridade do pai de família sobre os demais membros do grupo; na sociedade, este sistema social, ideológico e político se amplia e cristaliza o poder de decisão e a autoridade dos homens relegando as mulheres à submissão. VIOLÊNCIA DE GÊNERO - Na sociedade em que vivemos a relação entre homens e mulheres é baseada na desigualdade. Entre as inúmeras manifestações dessa desigualdade está a violência. A violência de gênero tem seus alicerces na subordinação das mulheres. Elas são tratadas como se fossem objetos e dominadas pelos homens, que mantém sobre elas uma relação de poder. As manifestações de violência vão desde as pressões psicológicas até os maus tratos físicos e a morte. Para isso o agressor faz uso da força e também de ameaças. A violência de gênero é um dos recursos para a manutenção da dominação-exploração das mulheres e para submetê-las a situações que contrariam seus desejos. VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER - Qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública como na esfera privada:Ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência, incluindo-se, entre outras formas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual;Ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro e abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada, seqüestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local; ePerpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - É a violência que acontece dentro de casa, no convívio familiar, praticada por maridos ou companheiros (as), pais, irmãos(ãs), padrastos, madrastas. Como identificá-la? de várias formas: agressão física, ameaças, xingamentos, maus tratos, destruição de documentos, torturas, calúnia, difamação, relações sexuais forçadas, estupro etc... A legitimidade social da dominação masculina marca o caráter de gênero na violência doméstica, onde a condição de submissão da mulher e a superioridade do homem representa o papel do homem como chefe, senhor, dono, com poder de julgar a mulher e violentá-la fisicamente e psicologicamente como uma forma de punição.
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ASSÉDIO SEXUAL - Essa denominação designa todas as condutas de natureza sexual, tais como expressões físicas, verbais ou não verbais, que são propostas ou impostas às pessoas contra sua vontade, notadamente sobre seu local de trabalho, e que significa atentado a sua dignidade. A maior parte desses comportamentos é dirigida contra as mulheres e constitui uma expressão de poder dos homens sobre as mulheres. Muitas gerações de mulheres foram, e são ainda, submetidas a solicitações de ordem sexual, não desejadas. DIREITOS REPRODUTIVOS - Como conceito, os direitos reprodutivos são a autodeterminação de cada pessoa em matéria de procriação e sexualidade. A luta pelos direitos reprodutivos é uma luta política e representa uma crítica radical à sociedade patriarcal e aos atuais modelos dominantes de desenvolvimento político, social e econômico. Ao mesmo tempo, constitui uma parte da luta feminista pela transformação da sociedade. SEXO E SEXUALIDADE - Atualmente a palavra “sexo” é usada em dois sentidos diferentes: um refere-se ao gênero e define com a pessoa é, ao ser considerada como sendo do sexo masculino ou feminino e o outro refere-se à parte física da relação sexual. A sexualidade, por sua vez, possui diversas formas de se expressar, seja através de atividades biológicas, orientação, identidade, gênero e práticas sexuais.Culturalmente podemos classificá-las de várias maneiras dependendo dos valores éticos e morais da sociedade, da religião onde habitamos, dos fatores ambientais ao qual estamos sujeitos, dogmas, normas e leis sociais. Esses são alguns dos fatores que interferem e influenciam nossos hábitos. Por esse motivo, não seria coerente afirmamos que há uma sexualidade especifica que possa ser reputada, e sim sexualidades, constituídas dos conceitos e tendências que reeditam o enredo da vida de cada um de nós. A sexualidade é a nossa maneira de ser. Ela é criativa e criadora e acompanha o movimento da vida. Exibe-se através dos nossos olhos, do nosso sorriso, da nossa mão estendida, do nosso abraço. A sexualidade se difunde e se transfigura, transcendendo a unanimidade e caracterizando a individualidade de cada um, o nosso jeito de ser e de viver. DIVERSIDADE - De acordo com o dicionário Houaiss, diversidade significa multiplicidade, qualidade daquilo que é diverso, diferente e variado. Com relação à sexualidade, refere-se à multiplicidade de identidades, orientação e desejos sexuais. EDUCAÇÃO NÃO-SEXISTA - É a educação que promove a igualdade entre homens e mulheres. Existe já um caminho iniciado nos processos de mudança nas relações de homens e mulheres na sociedade. No entanto, isso implica em profundas transformações culturais e sociais. SEXISMO - Conjunto de manifestações de comportamento discriminatório que favorece um sexo em detrimento do outro. Abrange todos os âmbitos da vida e das relações humanas. Desequilíbrio sexual do poder. Na sociedade patriarcal o sexismo se manifesta por meio da reprodução incessante dos estereótipos que inferiorizam a mulher vinculando-a à sua natureza biológica e valorizando os mitos da menopausa, da maternidade, da perfeita dona de casa, destituindo-as da condição de seres culturais, campo no qual as diferenças biológicas homem-mulher deixam de existir. IDENTIDADE SEXUAL - É o gênero ou o sexo com o qual a pessoa se identifica, ou pelo qual é identificada pela sociedade. Não necessariamente está relacionado com os genes, a aparência, a orientação ou o papel sexual.
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ORIENTAÇÃO SEXUAL - É a direção espontânea do desejo afetivo e erótico, que pode ter como objeto pessoas do sexo oposto (para heterossexuais), pessoas do mesmo sexo (para homossexuais) ou de ambos os sexos (para bissexuais). O objeto de desejo sexual não é uma opção consciente da pessoa, pois é uma construção individual a partir da leitura e vivência que cada um faz dos elementos disponibilizados pelo meio social: família, escola, vizinhança, mídia, entre outros. Nesta tese, orientação sexual não significa Educação Sexual. EDUCAÇÃO SEXUAL - Ato de educar a respeito do sexo e da sexualidade. PAPEL SEXUAL - É como a pessoa se comporta socialmente, independente do sexo biológico, da orientação e da identidade sexual. GLBTT - Sigla que designa gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. A discriminação e o preconceito pela orientação sexual constituem uma das áreas de maior índice de violação de direitos humanos em nosso país. Gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBTs) estão entre os grupos de maior vulnerabilidade na sociedade brasileira, atingindo altos índices de rejeição, nos mais diversos ambientes sociais. Entre 1948 e 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou a homossexualidade como um transtorno mental. Em 17 de maio de 1990, a assembléia geral da OMS aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. A nova classificação entrou em vigor entre os países-membro das Nações Unidas em 1994. Com isso, marcou-se o fim de um ciclo de 2000 anos em que a cultura judaico-cristã encarou a homossexualidade primeiro como pecado, depois como crime e, por último, como doença. Apesar deste reconhecimento da homossexualidade como mais uma manifestação da diversidade sexual, os gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (GLBTs) ainda sofrem cotidianamente as conseqüências de ações de violência (verbal e física) marcadas pela discriminação e pelo preconceito, levando até ao assassinato de muitos(as). Também sofrem preconceito e discriminação por orientação sexual no local de trabalho, na escola, na igreja, na rua, no posto de saúde e na falta de políticas públicas afirmativas que os(as) contemplem. Embora se apresente de formas diversas, em sua maioria sutis e legitimizadas pelo cotidiano, a violência e a discriminação pela orientação sexual deve ser melhor percebida nos círculos sociais, garantindo assim a denúncia e a possível mudança de cultura, apontando para uma perspectiva de respeito e acolhimento da diversidade. HETEROCENTRISMO - Atitudes comuns de pessoas que enxergam a heterossexualidade como única forma de orientação sexual. Um heterocentrista não possui, necessariamente, atitudes discriminatórias ou preconceituosas diante de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, isso porque “não toma conhecimento” de sua existência. Mas esse comportamento pode acontecer a partir do momento que o indivíduo percebe a diversidade.
HETEROSSEXISMO - Atitude de quem aceita a heterossexualidade como única forma válida de orientação sexual. O heterossexista tende a discriminar gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais com base em sua orientação sexual, seja de maneira agressiva e violenta, seja de maneira “sutil” ou “cordial”. O termo é utilizado na mesma concepção que caracteriza as palavras racismo e sexismo.
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HOMOSSEXUALIDADE - É a atração afetiva e sexual por uma pessoa do mesmo sexo. Da mesma forma que a heterossexualidade (atração por uma pessoa do sexo oposto) não tem razões biológicas ou explicação do porquê uma pessoa o é, o mesmo acontece com a homossexualidade. A Classificação Internacional de Doenças (CID – 10) não inclui a homossexualidade como doença, distúrbio e nem perversão desde 1993, e no Brasil essa retificação aconteceu em 1985. Em 1999 o Conselho Federal de Psicologia baixou uma resolução dizendo que os psicólogos não podem tratar a homossexualidade como doença.
HOMOFOBIA - Medo, desprezo ou intolerância contra homossexuais, que pode inclusive resultar em atos de violência. O termo e usado para descrevera repulsa face às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo sexo, o ódio generalizado aos homossexuais e todos os aspectos do preconceito e da discriminação anti-homossexual. Para muitas pessoas é fruto do medo de elas próprias serem homossexuais ou de que os outros pensem que elas o são. Dentro da diversidade sexual, a homofobia pode se apresentar com especificidades, a partir das quais algumas pessoas ligadas ao movimento GLBT, preferem chamá-la transfobia, quando direcionada a transexuais e travestis, e lesbofobia, quando dirigida às lésbicas.
HOMOSSEXUAIS - Pessoas que têm orientação sexual e afetiva por pessoas do mesmo sexo.
LÉSBICAS OU HOMOSSEXUAIS FEMININOS - Designa mulheres que sentem afeto e atração, tanto emocional como física, por mulheres.
GAYS OU HOMOSSEXUAIS MASCULINOS - São homens que se relacionam afetiva e sexualmente com pessoas do mesmo sexo. O termo gay, que em inglês significa “alegre”, foi adotado principalmente por pessoas ligadas a movimentos de afirmação homossexual ao longo do mundo e designa pessoas que apresentam e/ou têm um estilo de vida de acordo com essa preferência sexual, vivendo abertamente sua sexualidade.
HSH - “Homens que fazem sexo com homens” utilizado principalmente por profissionais de saúde na área da epidemiologia para referirem-se a homens que mantêm relações sexuais com outros homens, independente de sua identidade sexual.
MSM - Sigla que significa “Mulheres que fazem sexo com mulheres”. É utilizada principalmente por profissionais da saúde, para se referirem a mulheres que mantêm relações sexuais com outras mulheres, independente de sua identidade sexual.
BISSEXUAIS - São pessoas que se relacionam afetiva e sexualmente com ambos os sexos. Alguns assumem as facetas de sua sexualidade abertamente, enquanto outros vivem sua conduta sexual de forma fechada.
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TRAVESTIS - Homens ou mulheres que se identificam mais com o papel do outro sexo biológico. Apesar de aproximar seu corpo a formas do outro sexo, usando roupas e adereços como alterações físicas, geralmente não deixam de obter prazer com a genitália que ostenta. Os travestis normalmente não têm a intenção de alterar seu sexo biológico.
TRANSEXUAIS - São pessoas que não se identificam com o sexo que ostentam anatomicamente. Sendo o fato psicológico predominante na transexualidade, o indivíduo identifica-se com o sexo oposto, embora dotado de genitália externa e interna de um único sexo. A transexualidade não é orientação sexual, mas sim uma questão de identidade de gênero. Ou seja, um(a) transexual pode ser homo, bi ou heterossexual.
DRAG QUEEN - Homem que não disfarça ser homem, se enxerga como homem e “brinca” com a identidade feminina, vestindo-se em público como mulher e de forma extravagante.
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ANEXO III
Um grito pela equidade
O Brasil é um país repleto de desigualdades expressas nas relações étnico-raciais, etárias, de
gênero e territoriais.
O SUS é um sistema público e universal baseado nos princípios da equidade, integralidade da
atenção e controle social e que se materializa nos estados, municípios e em cada unidade de
saúde através de uma atenção de qualidade e humanizada. Neste sentido o sistema, deve assumir
como desafio permanente, a inclusão social e a luta pela eliminação de todo e qualquer tipo de
discriminação seja ela de origem étnico-racial, religiosa, por orientação sexual, porte de
necessidades especiais ou deficiência ou outra situação.
Nós mulheres e homens que atuamos nos serviços, na pesquisa, na gestão e no controle social,
reunidos no Seminário Nacional de Saúde da População Negra, propomos dar um basta no
racismo que determina desigualdades ao nascer, viver e morrer para quase metade da população
Brasileira.
“Não há democracia racial no Brasil”!
O racismo desumaniza e desqualifica o trabalho em saúde e tem como resultado uma
expectativa de vida menor para a população negra: as taxas de morte materna e infantil são
maiores; a violência produz mais mortes e mortes mais precoces neste grupo. Além disso, ainda
temos problemas no que se refere à área de informação, capacitação e formação em saúde.
Os gestores representados pelo Ministro da Saúde, pelos presidentes do Conselho Nacional de
Secretários Estaduais de Saúde e Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde; o
representante da Organização Panamericana de Saúde no Brasil, o Conselho Nacional de Saúde
e a Ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, assinaram um
termo onde a inclusão social, e a redução dos diferentes níveis de vulnerabilidade, são premissas
de um compromisso de parceria permanente pelo avanço do SUS.
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Este Seminário foi mais um momento histórico da luta contra a discriminação racial e propõe
a toda sociedade e, em especial, aos gestores:
1. A realização de um amplo processo de disseminação de informação sobre a doença
falciforme enquanto uma patologia de grande prevalência na população negra;
2. A priorização de ações dirigidas às comunidades quilombolas, de modo a incluí-las
definitivamente nas ações do SUS em cada um dos vinte e três estados onde estão presentes;
3. A utilização do quesito cor na produção de informações para o processo decisório da
gestão em saúde, na agenda de pesquisa e na educação permanente;
4. A organização de ações na área de atenção em saúde que levem em consideração as
desigualdades sócio-raciais, onde seja garantida a resposta às necessidades da população
negra e à integralidade, sem discriminação.
A luta pela vida é nosso objetivo principal, e isto significa garantir os princípios do SUS.
A cor da pele não pode ser um obstáculo nesta luta.
I Seminário Nacional Saúde da População Negra.
Brasília, 20 de agosto de 2004.
Secretaria Especial de Políticas
de Promoção da Igualdade Racial
Ministério da Saúde
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