comentário e teologia provérbios
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Provérbios Introdução
Telogia e
comentário
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Livro de Provérbios | Introdução, Esboço e Análise
Provérbios (Pv)
Autor: Salomão, Agur e rei Lemuel
Data: Cerca de 950 aC
Autor
Salomão, rei de Israel, era filho de Davi e de Bate-Seba. Ele reinou por quarenta anos, de
970 a 930 aC, assumindo o trono quando tinha cerca de vinte anos de idade. Sem dúvida
influenciado pelos Salmos escritos por seu pai, Salomão nos deixou mais livros do que
qualquer outro escritor do AT, excetuando-se Moisés. Parece provável que Cantares de
Salomão tenha sido escrito quando ele era um jovem romântico; Provérbios, quando
estava mais maduro e no auge de seu poder; Eclesiastes, quando já estava mais idoso,
mais inclinado a conclusões filosóficas— e talvez mais cínico. Se poder não se mostrava
em campos de batalha, mas no domínio da mente: meditação, planejamento, negociação e
organização.
A reputação de Salomão para a sabedoria provém não apenas de seus resultados práticos,
como no caso da disputa de um bebê (1Rs 3.16-27), mas também de declarações diretas
das Escrituras. Em 1Rs 3.12 Deus diz: “Eis que te dei um coração tão sábio e entendido,
que antes de ti teu igual não houve, e depois de ti teu igual se não levantará.” Em 1Rs 4.31
ele é considerado “mais sábio do que todos os homens”, seguindo um citação de vários
nomes de homens sábios para comparação. A respeito de Agur e do rei Lemuel (301;
31.1) nada se sabe, exceto que, pelos seus nomes, não são israelitas. A sabedoria é
universal, não nacional.
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Data
Uma vez que o Livro de Pv é uma compilação, sua composição estendeu-se por um longo
período, com a obra principal datada de cerca de 950 aC. Os caps. 25-29 são identificados
como transcritos pelos “homens de Ezequias”, o que situa a cópia em cerca de 720 aC,
embora o material em si fosse de Salomão, talvez retirado de um documento separado
encontrado no tempo de Ezequias.
Conteúdo
Sob a liderança de Salomão, Israel alcançou sua maior extensão geográfica e desfrutou da
menor violência de todos o período monárquico. “Pacifico”, o significado de seu nome,
descreve o reinado de Salomão. E paz, com sabedoria, trouxe prosperidade sem
precedentes para a nação, o que se tornou motivo de respeito e admiração para o rainha de
Sabá (1Rs 10.6-9) e pra outros governantes da época. Palavras sábias, como música ou
outras formas de arte, tendiam a florescer em tal época, e então durar pelas gerações
seguintes.
O livro de Pv não é apenas uma coleção de provérbios, mas uma coleção de coleções. Seu
pensamento ou tema unificador é: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria”
(9.10), aparecendo de outra maneira como: “O temor do SENHOR é o principio (ou parte
principal) da ciência” (1.7). Dentre a diversidade de exemplos, algumas verdades se
repetem:
A sabedoria (a habilidade de julgar e agir conforme as orientações de Deus) é o mais
valioso dos bens.
A Sabedoria está disponível para qualquer um, mas o preço é alto.
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A Sabedoria tem sua origem em Deus, não na própria pessoa e vem por meio da atenção à
instrução.
A Sabedoria e a justiça andam juntas. É bom ser sábio, e é sábio ser bom.
O homem mau sofre as conseqüências de seus atos maus.
O ingênuo, o tolo, o preguiçoso, o ignorante, o orgulhoso, o libertino e o pecador nunca
devem ser admirados.
Muitos contrastes se repetem ao longo do livro. A antítese ajuda a clarear o sentido de
muitas palavras-chaves. Entre várias ideias que são colocadas em contraste estão:
� Sabedoria em oposição a Loucura
� Justiça em oposição a Impiedade
� Bem em oposição ao Mal
� Vida em oposição a Morte
� Prosperidade em oposição a Pobreza
� Honra em oposição a Desonra
� Permanente em oposição a Transitório
� Verdade em oposição a Falsidade
� Ação em oposição a Preguiça
� Amigo em oposição a Inimigo
� Prudência em oposição a Precipitação
� Fidelidade em oposição a Adultério
� Paz em oposição a Violência
� Boa Vontade em oposição a Ira
� Deus em oposição ao Homem
O Espírito Santo em Ação
O ES não é mencionado diretamente no Livro de Pv. Mas a sabedoria se refere ao seu
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espírito (1.23), que é, sem dúvida, o ES. De fato, um ponto principal do livro é que a
sabedoria sem Deus é impossível; assim, nesse sentido, seu espírito tem destaque em toda
parte. No entanto, a palavra predominante traduzida por “espírito” no livro tem quase
sempre o sentido de “atitude” ou “comportamento”, nunca implicando uma personalidade.
Em nosso época, um tempo de ação especial do ES, é o Espírito que nos ajuda a garimpar
as riquezas de Pv, mais do que Pv nos ajuda a entender o Espírito. Foi dito a respeito do
AT e do NT. “O Novo está encoberto no Antigo; o Antigo está revelado no Novo”.
No caso do Livro de Pv, o Espírito Santo no NT demonstra como a sabedoria do Livro
(que vem apenas através da justiça) é colocada em prática.
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Esboço de Provérbios
I. Introdução 1.1-7
Título, propósito e introdução 1.1-6
Tema ou lema 1.7
II. Avisos de um pai e advertências da Sabedoria 1.8-8.36
Avisos de um pai, parte um 1.8-19
Advertências da Sabedoria, parte um 1.20-33
Avisos de um pai, parte dois 2.1-7.27
Advertências da Sabedoria, parte dois 8.1-36
III. O caminho da Sabedoria em oposição ao caminho da Loucura 9.1-18
IV. Provérbios de Salomão e palavras do sábio 10.1-29.27
Provérbios de Salomão— primeira coleção 10.1-22.16
Palavras do sábio— primeira coleção 22.17-24.22
Palavras do sábio— segunda coleção (pelos homens de Ezequias) 25.1-29.27
V. Provérbios de Agur 30.1-33
A vida de moderação temente a Deus 30.1-14
As maravilhas da vida observadas sobre a terra 30.15-31
A insensatez do orgulho e da ira 30.32,33
VI. Provérbio do rei Lemuel 31.1-31
Conselhos de uma mãe para um filho nobre 31.1-9
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Um poema acróstico sobre a esposa perfeita 31.10-31
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Introdução Bíblia Livro de Provérbios
Proferidos por: Salomão, Agur, Lemuel
Lugar da Escrita: Jerusalém
Escrita Completada: c. 717 AEC
O livro de Provérbios é o de número 20 no cânon das Escrituras. Quando Salomão, filho
de Davi, se tornou rei de Israel em 1037 AEC, orou a Yehowah, pedindo-lhe “sabedoria e
conhecimento” para “julgar este grande povo”. Em resposta, Jeová lhe deu ‘conhecimento
e sabedoria, e um coração entendido’. (2 Crô. 1:10-12; 1 Reis 3:12; 4:30, 31) Em
resultado disso, Salomão chegou a “falar três mil provérbios”. (1 Reis 4:32) Parte dessas
palavras de sabedoria foi assentada por escrito no livro bíblico de Provérbios. Visto que a
sua sabedoria era realmente a que “Deus lhe pusera no coração”, então, ao estudarmos
Provérbios, estamos estudando, com efeito, a sabedoria de Deus. (1 Reis 10:23, 24) Esses
provérbios englobam verdades eternas. Têm o mesmo valor hoje como quando foram
proferidos pela primeira vez.
O reinado de Salomão era uma época propícia para Deus guiar seu povo. Dizia-se que
Salomão ‘se sentava no trono de Yehowah’. O reino teocrático de Israel estava no seu
apogeu, e Salomão foi favorecido com superabundante “dignidade real”. (1 Crô. 29:23,
25) Era época de paz, fartura e segurança. (1 Reis 4:20-25) Entretanto, mesmo sob aquele
domínio teocrático, o povo tinha seus problemas e suas dificuldades pessoais em virtude
das imperfeições humanas. É compreensível que o povo se voltasse para o sábio Rei
Salomão em busca de ajuda para solucionar seus problemas. (1 Reis 3:16-28) Ao
pronunciar julgamento nesses numerosos casos, ele proferiu ditos proverbiais que se
adequavam a muitas circunstâncias da vida do dia-a-dia. Esses ditos breves, mas cheios de
significado, foram muito prezados por aqueles que desejavam harmonizar seu modo de
vida com a vontade de Deus.
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O livro não diz que Salomão escreveu os Provérbios. Todavia, diz que ele ‘falou’
provérbios, também que “fez uma investigação cabal, a fim de pôr em ordem muitos
provérbios”, revelando assim que tinha interesse em preservar esses provérbios para uso
futuro. (1 Reis 4:32; Ecl. 12:9) Na época de Davi e de Salomão, o nome dos secretários
oficiais figurava na lista dos oficiais da corte. (2 Sam. 20:25; 2 Reis 12:10) Não sabemos
se esses escribas da sua corte escreveram e compilaram os provérbios de Salomão, mas as
expressões de um rei tão importante seriam altamente consideradas e normalmente seriam
assentadas por escrito. Admite-se em geral que o livro seja uma coleção compilada de
outras coleções.
O livro de Provérbios pode ser dividido em cinco partes. Estas são: (1) Capítulos 1-9,
iniciando com as palavras: “Os provérbios de Salomão, filho de Davi”; (2) Capítulos 10-
24, descritos como “Provérbios de Salomão”; (3) Capítulos 25-29, esta parte começa com
as seguintes palavras: “Também estes são provérbios de Salomão transcritos pelos
homens de Ezequias, rei de Judá”; (4) Capítulo 30, inicia assim: “Palavras de Agur, filho
de Jaque” e (5) Capítulo 31, que abrange “Palavras de Lemuel, o rei, a mensagem
ponderosa que sua mãe lhe deu em correção”. Salomão foi, pois, o originador da maior
parte dos provérbios. Quanto a Agur e Lemuel, não há nenhuma informação precisa sobre
a identidade deles. Alguns comentaristas sugerem que Lemuel talvez tenha sido outro
nome de Salomão.
Quando se escreveu e compilou o livro de Provérbios? A maior parte foi assentada por
escrito, sem dúvida, durante o reinado de Salomão (1037-998 AEC), antes de seu desvio.
Em virtude da incerteza sobre a identidade de Agur e de Lemuel, não é possível
determinar a data da matéria deles. Visto que uma das coleções foi feita durante o reinado
de Ezequias (745-717 AEC), a coleção final não poderia ter sido feita antes de seu
reinado. Foram também as duas divisões finais compiladas sob a direção do Rei Ezequias?
Em resposta, certa obra erudita comenta: “Algumas ed(ições) do texto hebr(aico)
apresentam o trigrama, ou três letras, Hete, Zaine, Cofe (חזק), que representam a
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assinatura do Rei Ezequias, nas cópias feitas pelos seus escribas, para indicar que o
serviço fora terminado.”
Nas Bíblias hebraicas, esse livro era chamado originalmente pela primeira palavra do
livro, mish·léh, que significa “provérbios”. Mish·léh é o plural, em construto, do
substantivo hebraico ma·shál, substantivo este que, segundo se crê, deriva duma raiz que
significa “ser parecido” ou “ser comparável”. Estes termos descrevem bem o conteúdo do
livro, pois provérbios são ditos sucintos que com freqüência empregam semelhança ou
comparação destinada a fazer o ouvinte refletir. A forma breve dos provérbios faz com
que seja fácil seguir a linha de pensamento e entendê-los, e os torna interessantes, sendo
desta forma facilmente ensinados, aprendidos e lembrados. A idéia fica gravada na
memória.
É também muito interessante examinar o estilo de expressão do livro. É escrito em estilo
poético hebraico. A estrutura da maior parte do livro é em paralelismo poético. Não se
expressa com rima no fim dos versos, ou com som igual. Consiste em versos rítmicos com
repetição de idéias ou de pensamentos paralelos. A beleza e a força didática residem no
ritmo de pensamento. Esses pensamentos podem ser sinônimos ou antíteses, e há neles a
força do paralelismo que estende o pensamento, amplia a idéia e assegura que seja
transmitido o significado do pensamento. Encontramos exemplos de paralelismo sinônimo
em Provérbios 11:25; 16:18; e 18:15, e de paralelismo mais abundante de antítese em
Provérbios 10:7, 30; 12:25; 13:25; e 15:8. No fim do livro, aparece outro tipo de estrutura.
(Pro. 31:10-31) Os 22 versículos ali estão dispostos de forma tal que, em hebraico, cada
um começa com a letra sucessiva do alfabeto hebraico, sendo este o estilo acróstico,
também usado em diversos salmos. Quanto à beleza, este estilo é sem igual nos escritos
antigos.
A autenticidade de Provérbios é também provada pelo amplo uso que os cristãos
primitivos fizeram desse livro para estabelecer as regras de conduta. Parece que Tiago
estava bem familiarizado com Provérbios, e empregou os princípios básicos encontrados
nesse livro para dar bons conselhos sobre a conduta cristã. (Compare Provérbios 14:29;
10
17:27 com Tiago 1:19, 20; Provérbios 3:34 com Tiago 4:6; Provérbios 27:1 com Tiago
4:13, 14.) Citações diretas de Provérbios acham-se também nas seguintes passagens:
Romanos 12:20—Provérbios 25:21, 22; Hebreus 12:5, 6—Provérbios 3:11, 12; 2 Pedro
2:22—Provérbios 26:11.
Além disso, o livro de Provérbios revela estar em harmonia com o restante da Bíblia,
provando assim que faz parte de “toda a Escritura”. Quando o comparamos com a Lei de
Moisés, com o ensinamento de Jesus e com os escritos de seus discípulos e apóstolos,
observamos uma notável união de pensamento. (Veja Provérbios 10:16—1 Coríntios
15:58 e Gálatas 6:8, 9; Provérbios 12:25—Mateus 6:25; Provérbios 20:20—Êxodo 20:12
e Mateus 15:4.) Mesmo quando se trata de pontos tais como a preparação da terra para ser
a habitação do homem, há harmonia de pensamento com outros escritores da Bíblia. —
Pro. 3:19, 20; Gên. 1:6, 7; Jó 38:4-11; Sal. 104:5-9.
A exatidão científica, quer se trate de provérbios que envolvam princípios da química, da
medicina, quer da saúde, atesta também a inspiração divina do livro. Aparentemente,
Provérbios 25:20 fala das reações ácido-alcalinas. Provérbios 31:4, 5 concorda com as
últimas descobertas científicas de que o álcool inibe o raciocínio. Muitos médicos e
nutricionistas concordam que o mel é alimento sadio, o que faz lembrar o provérbio:
“Filho meu, come mel, pois é bom.” (Pro. 24:13) As modernas observações
psicossomáticas não são novidade para Provérbios. “O coração alegre faz bem como o que
cura.” — 17:22; 15:17.
Deveras, o livro de Provérbios abrange de modo tão completo as necessidades do homem,
bem como todas as situações em que se pode encontrar, que certa autoridade declarou:
“Não há nenhuma relação na vida que não tenha a sua instrução apropriada, não há
tendência boa ou má sem o seu devido incentivo ou correção. A percepção humana é em
toda a parte levada em relação imediata com a Divina, . . . e o homem caminha como na
presença do seu Criador e Juiz . . . Todo o tipo de humanos se encontra neste livro antigo;
e, embora esboçado há três mil anos, ainda é tão fiel à natureza como se tivesse sido tirado
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agora do seu representante vivo.” — Dictionary of the Bible, de Smith, 1890, Vol. III,
página 2616.
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Teologia do Lívro de Provérbios
A teologia do livro de Provérbios consiste em cinco aspectos: (1) Deus tem
imutavelmente estruturado tanto do cosmos e da sociedade; (2) Deus revelou a estrutura
social através deste livro, (3) a estrutura social consiste em uma ação conexões que une e
destino; (4) a adesão a estrutura ordenada do Senhor é uma questão do coração, e (5) as
palavras são poderosamente eficaz na formação dos corações jovens.
§ 1 Uma Sociedade Estruturada.
A mulher sabedoria, uma personificação dos ensinamentos de Salomão, estava presente
quando o Senhor criou o mundo com os seus vastos mares, a sua altos céus, e sua boa
terra (8:22-26), e celebrou diariamente a maneira pela qual ele fixava os limites dessas
entidades vastamente cósmicas, permitindo que a humanidade vivesse dentro deles (vv.
27-31). Ela encantou-se quando ele partiu o mar, estabelecendo seu limite (v. 29). A
celebração da sabedoria na ordem beneficente do Senhor sobre o cósmico pelo qual ele
conteve o caos no tempo primordial corresponde ao seu papel na eliminação de ordem
social, restringindo o mal dentro do tempo histórico. Por seguir estes ensinamentos
relativos, entre outras coisas, para a aquisição de riqueza duradoura (10:2-5), realizando
atos de justiça de caridade para com os necessitados (vv. 6-7), e falando para formar
relacionamentos amorosos (vv. 10 -14), os fiéis esculpem para si um reino eterno (8:15-
21). O sábio vive em segurança dentro dos limites desses ensinamentos, mas os
insensatos, que sem disciplina desenfreadamente desejam avidamente o que está fora
desses limites prescritos (10:3 b), morrem por transgressão da ordem do SENHOR (4:10-
19).
Estas estruturas sociais não existem de forma autônoma, independente do Senhor, que os
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ordenou. Pelo contrário, o Senhor sustém a eles: “Ele tem a vitória em reserva para os
retos, ele é um escudo para aqueles cuja caminhada é irrepreensível, para aquele que
guarda o curso do justo e protege o caminho de seus fiéis” (2:8 - 9;. cf 3:26; 5:21-23;
16:1-5). Os provérbios são verdadeiros somente se Deus sustentá-los. A fé não está nos
provérbios em si, mas no Senhor que está por trás deles (3:5; 22:19). De fato, os
ensinamentos deste livro são equiparados a conhecer o próprio Deus: “Meu filho, se você
aceitar as minhas palavras... então você vai encontrar... o conhecimento de Deus” (2:1, 5).
§ 2 A Estrutura Revelada.
Salomão explica por que aceitar seus ensinamentos relativos a estruturas sociais fixas é
equivalente ao conhecimento de Deus: “Porque o Senhor dá a sabedoria, e de sua boca
procedem o conhecimento e o entendimento” (2:6). A boca de Salomão tornou-se boca de
Deus.
Deus falou de várias maneiras em tempos passados aos pais (Hb 1:1). Ao contrário de
Moisés, que falou com Deus face a face, e os profetas, a quem deu visões e sonhos (Nm
12:6-8), o Senhor “falou” a Salomão e outros sábios inspirados, como Agur (Pv 30:1) e o
Rei Lemuel (31:1) através de suas observações da criação e da humanidade. O laboratório
do sábio é o mundo. “Passei pelo campo do preguiçoso”, escreve ele, “[onde] espinhos
tinham vindo em todos os lugares ... e na parede de pedra estava em ruínas. Apliquei o
meu coração para que eu observasse” (24:30-32). Ao que ele escreve de seu provérbio:
“Um pouco de sono, um sono pouco... e pobreza há de vir sobre vós como um bandido”
(vv. 33-34). Em outras palavras, o sábio inspirado observa que, dentro da criação caída há
um princípio de entropia que destrói a vida, mas com disciplina pode-se superar o caos
ameaçador. É claro, o sábio é um mestre moral, não um cientista natural. Sua retirada da
ordem cósmica para instruir os fiéis na disciplina pode superar o caos social.
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A teologia do livro não é uma teologia natural. A mulher sabdoria não é a ordem cósmica
por si só, como muitos afirmam. Em vez disso, Salomão fala como o rei de Israel (1:1), e
como tal tem-se sido cuidadosamente educado na Lei Mosaica. Neste livro Solomão
consistentemente usa o nome de Deus, “Yahweh”, que significa sua relação de aliança
com Israel (Êxodo 3:13-15; 6:2-8). Através da lente da aliança mosaica, o rei inspirado
cunha seus provérbios (Pv 29:18). Embora o sábio não fale com o trovão profético do céu,
“assim diz o Senhor”, ele fala com autoridade divina, usando o mesmo vocabulário que
Moisés usou para sua revelação: torah, “lei/ensino”, e mitzvah, “mandamento” (3:1).
§ 3 A Conduta Consequente.
A estrutura social ordenada e sustentada por Deus revelada neste livro implica uma
ligação inseparável entre atos e destino. Esta conexão é representada pela metáfora “o
caminho”, que ocorre cerca de 75 vezes em todo o Livro dos Provérbios e trinta vezes nos
capítulos 1-9, uma coleção de admoestações para abraçar o ensino do livro e a chave
hermenêutica para o livro. A metáfora denota uma estrada transitável, ou o movimento em
uma estrada, levando a um destino e conota ao mesmo tempo o “curso da vida” (i.e, o
caráter e contexto de vida), “conduta de vida” (i.e, específicas escolhas e comportamento),
e “consequências dessa conduta” (isto é, o destino inevitável de tal estilo de vida). Os
sábios estão no caminho da vida (2:20-21); tolos estão a caminho de morte (1:15-19).
Considerando que o cristianismo pensa nisso como uma “fé”, o Livro dos Provérbios,
como a maioria da Bíblia, pensa dos fiéis como seguindo um caminho, uma halakah, um
caminho de vida.
A vida neste livro refere-se à vida abundante em comunhão com o Deus vivo e eterno. De
acordo com Gênesis 2:17, a ruptura do relacionamento adequado com Aquele que é a
fonte da vida significa morte. A sabedoria é a preocupação de estabelecer e manter esse
relacionamento adequado e assim a vida (veja 2:5-8). A perícope primeira (1:8-19)
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assume que o ímpio pode enviar sangue inocente a uma morte prematura, mesmo que
prematuramente, como no caso de Cain que matou Abel, o justo (Gen 4:1-9). A promessa
de vida neste livro (2:19; 3:2), como na Bíblia como um todo, deve implicar uma
realidade que transcende a existência clínica e sobrevive a morte clínica. Se não, o
assassinato de Abel, em Gênesis 4, do sangue inocente em Provérbios 1:8-19, e do Filho
de Deus, desconstruiria tanto a Bíblia como o livro como os ímpios teriam triunfado sobre
os justos.
Salomão compara seus ensinamentos a uma árvore da vida (3:18). A literatura religiosa do
antigo Oriente Próximo, especialmente o Egito, e 2-3 Gênesis sugerem que a árvore da
vida simboliza a vida eterna, no sentido pleno do termo. O tolo seduzido em Provérbios 5
sofre depois que seu corpo é gasto e depois que ele desperdiçou a sua vida (vv. 7-14). Sem
especificar como, o texto hebraico recebeu as promessas da “imortalidade” ao justo
(12:28) e um refúgio seguro, mesmo em morte clínica (14:32). No entanto, ao contrário de
literatura apocalíptica, que desenha uma nítida distinção entre este mundo e o vindouro, a
Literatura Sapiencial diz respeito a vida como tanto esta como a ainda por vir. O sábio
enfatiza a importância de abraçar a vida agora.
§ 4 Foco no Fim.
“O justo pode cair sete vezes, ele se erguerá novamente, mas os ímpios são derrubados
pela calamidade” (24:16). Jó e Eclesiastes, em contraste, focam na realidade atual, “sob o
filho”, quando os justos parecem “nocauteados”. Até mesmo Provérbios 24:16 quase
descarta a queda dos justos em uma cláusula concessivo, outros provérbios também, ao
mesmo tempo que afirmam a ordem moral, também afirmam ou sugerem que os justos
sofrem, enquanto os maus prosperam. Ele qualifica a consequência da conduta, pelos
provérbios com o tema “melhor do que” (por exemplo, 15:16-17; 16:16, 19; 17:1; 19:22;
21:03, 22:1; 28:6). Estes pobreza ligação provérbios com retidão e riqueza com a maldade
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e assim torná-lo perfeitamente claro que a piedade e a moralidade não levam
imediatamente a um fim feliz.
Devido à natureza epigramática dos provérbios, cada um expressa uma verdade com a
maior concentração no seu assunto. Para obter a plena verdade, no entanto, é preciso lê-
los como uma coleção. Por exemplo, após as promessas maravilhosas em 3:1-10, Solomão
acrescenta: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor” (vv. 11-12). Prosperidade e
adversidade são a mistura sábia e necessária da formação do filho. A explicação de
Salomão, “porque o Senhor corrige a quem ama, como o pai ao filho em quem ele se
deleita,” mostra que a tutela do pai passa para o Pai celestial. O sábio qualifica as
recompensas palpáveis da sabedoria que são catalogadas em 3:13-20 com a admoestação
“não negues o bem daqueles que o merecem” (v. 27), uma advertência que implica boas
pessoas podem estar precisando de ajuda. Seus ensinamentos sobre a riqueza em 10:2-5
não são para ser lido isoladamente, mas juntos: o versículo 2 diz respeito à riqueza e ética,
versículo 3 a riqueza e religião, e os versículos 4-5 para a riqueza e prudência. Ler desta
forma o livro não ensina um Evangelho rico e próspero, mas promete que o Senhor
recompensará os Seus servos fiéis.
§ 5 Coração.
A adesão a estrutura social ordenada por Deus (s) é um assunto do coração, o centro
emocional-intelectual-moral de uma pessoa (2:2; 4:23). Solomão não entrega os seus
ensinamentos de forma fria, as proposições racionais pedindo uma resposta igualmente
racional, desapaixonada. Pelo contrário, em uma bela peça de ficção literária, “a sabedoria
chamou em voz alta na rua, levanta a sua voz nas praças públicas” (1:20). “Ela levanta a
sua voz” que se refere a uma situação fervorosa e emocional. Salomão exorta o filho a
“levantar a sua voz” (“invocar”, NVI) à sabedoria (2:3). Quando a sabedoria de Salomão é
aceita com todo o coração, então a sabedoria que estava no coração de Deus entra no
coração do crente: “Pois a sabedoria”, que se originou na boca de Deus (v. 6), agora
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“entrará em seu coração, e o conhecimento [de Deus e de Seus ensinamentos] será
agradável à tua alma”. (v. 10).
A sabedoria promete vida daqueles que a amam (8:17, 21) e pede aos seus amantes para
vigiar diariamente às suas portas como uma noiva (v. 34). Para ter esta noiva, é preciso
estar disposto a vender todos como dote (4:7). Ela deve ser realizada em respeito e
reverência: o temor do Senhor é o primeiro princípio da sabedoria (1:7; 9:10). Pelo
contrário, simplórios malformados, que passam para a idade adulta sem ter feito um
compromisso com a sabedoria, o amor a sua liberdade; odiarão os insensatos o
conhecimento, e os escarnecedores cobiçarão a capacidade de simulação (1:22). A escolha
ou rejeição dos ensinamentos de Salomão é afetiva, não apenas cognitiva. O simplório
formativo, a quem o livro é dirigido (1:4), precisa tomar uma decisão para a prudência
ética e religiosa antes de entrar na cidade e se engajar em seu comércio e política (8:3).
Tal decisão também é necessário para prepará-los para resistir aos homens maus e
mulheres dentro dela.
§ 6 O Poder das Palavras.
Salomão ordenou que este livro para que os pais da aliança pudessem ensiná-la dentro de
casa, o lugar da educação no antigo Israel. É dirigido à criança que estiver dentro da
aliança para entrar na maturidade. A costura entre as gerações é mais vulnerável para
pessoas de fora neste momento quando o orgulho e paixão correm na maré cheia. As
vozes de ambos os pais (1:8; 31:26) competem com as vozes de homens apóstatas e
mulheres infiéis. Os pais são armados por Salomão com toda sua habilidade retórica na
conversa para combater os homens que lançam a tentação do dinheiro fácil, oferecidos por
homens apóstatas (1:10-19; 2:12-15), e ao sexo fácil, oferecido por mulheres infiéis (2:16-
19; 5:1-23; 6:20-35; 7:1-27; 9:13-18).
18
A menção da mãe como uma professora é único dentro de Literatura Sapiencial no antigo
Oriente Próximo. No Antigo Testamento, ambos os pais são colocados em pé de
igualdade diante da criança (Lv 19:3). Para a “linstrução fiel” estar na língua da mãe, ela
própria deve primeiro ter sido ensinada. Embora o livro seja dirigido a “filhos” que iria
assumir a responsabilidade pela casa, as filhas não são excluídas.
Salomão assume todo o poder da fala: na verdade, ela tem o poder de vida e morte
(18:21). Embora as crianças sejam responsáveis por suas próprias decisões (Ezequiel
18:20), a formação parental terá seu efeito (Prov 22:6,15). As crianças que fazem-no na
classificação dos sábios traz a alegria aos pais, mas aqueles que não conseguem abraçar a
sabedoria herdada trazem apenas a dor (10:1).
Bruce K. Waltke
Bibliografia
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R. N. Whybray, The Intellectual Tradition in the Old Testament.
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20
Visão Geral do Livro de Provérbios
Livro de Provérbios
Tema: sabedoria abundante em poucas palavras
É a sua vida livre de problemas e frustrações? Poucos diriam que é. E amiúde os
empenhos para resolver os problemas são tiros pela culatra, deixando a pessoa em
situação ainda pior do que a anterior. Há uma fonte de conselho em que a pessoa pode
confiar para melhorar a situação?
Há uma fonte particularmente excelente de orientação no livro bíblico de Provérbios.
Embora escrito no Oriente Médio há mais de 2.500 anos, as máximas breves de
Provérbios se aplicam a todas as pessoas e continuam ainda atualizadas.
A Bíblia indica que a maioria dos provérbios são de autoria do Rei Salomão. (Pro. 1:1;
10:1; 25:1) Embora os registros bíblicos não digam diretamente que Salomão os escreveu,
dão a entender, de maneira convincente, que ele o fez. Dizem que ele falou milhares de
provérbios e “ponderou e fez uma investigação cabal, a fim de pôr em ordem muitos
provérbios”. — 1 Reis 4:32; Ecl. 12:9.
Neste livro bíblico, o estilo de expressão é poesia hebraica, que consiste não em rima de
versos, mas em pensamentos paralelos. Muitas vezes as linhas de paralelo formam um
contraste, como é o caso de Provérbios 10:28, que diz: “A expectativa dos justos é alegria,
mas a própria esperança dos iníquos perecerá.” Em outros casos, as expressões paralelas
são sinônimas, como se nota nestas palavras de Provérbios 18:15: “O coração do
entendido adquire conhecimento e o ouvido dos sábios procura achar conhecimento.”
21
I. PROPÓSITO SUBLIME
O propósito do livro de Provérbios é explicado logo no seu começo, onde lemos: “Os
provérbios de Salomão, filho de Davi, Rei de Israel, para se conhecer sabedoria e
disciplina, para se discernirem as declarações de entendimento [“palavras de significado
profundo”, A Bíblia de Jerusalém], para se receber a disciplina que dá perspicácia, justiça
e juízo, e retidão, para se dar argúcia aos inexperientes, conhecimento e raciocínio ao
moço.” — Pro. 1:1-4.
O livro de Provérbios dirige muito dos conselhos aos jovens, pessoas “inexperientes”,
cujo coração está aberto para todo o tipo de influência e que são desencaminhados
facilmente. Precisam chegar a estimar a “sabedoria”, que envolve ver as coisas como elas
realmente são e saber dar a este conhecimento um uso prático. “Disciplina” também é
necessária, tanto na forma de autodomínio como na forma de punição imposta por outros.
— Pro. 1:1-4; 2:7, 10-13; 4:1, 5-7, 13.
Os provérbios oferecem ajuda especial para o desenvolvimento das faculdades mentais na
direção certa. Há muito incentivo para adquirir perspicácia e “argúcia”, isto é, perícia e
bom juízo em todos os setores da vida. (Pro. 1:4; 8:5) Esta educação nunca termina. “O
sábio escutará e absorverá mais instrução, e homem de entendimento é aquele que adquire
orientação perita para entender um provérbio e uma expressão enigmática, as palavras de
sábios e seus enigmas.” (Pro. 1:5, 6) Os provérbios bíblicos amiúde assumem a forma de
charadas e “enigmas”, que são declarações complexas e intricadas que precisam ser
decifradas. Entendê-las exige tempo e meditação. A abundante sabedoria de Provérbios é
acessível somente àqueles que estão dispostos a procurá-la. Isto é deixado bem claro
nestas palavras de Provérbios 2:1-5:
“Filho meu, se aceitares as minhas declarações e entesourares contigo os meus próprios
mandamentos, de modo a prestares atenção à sabedoria, com o teu ouvido, para inclinares
teu coração ao discernimento; se, além disso, clamares pela própria compreensão e
22
emitires a tua voz pelo próprio discernimento, se persistires em procurar isso como a prata
e continuares a buscar isso como a tesouros escondidos, neste caso entenderás o temor de
Yehowah e acharás o próprio conhecimento de Deus.”
Consideremos alguns exemplos de conselhos sábios disponíveis no livro de Provérbios.
II. COISAS QUE DEUS ODEIA
Os que desejam saber o que é certo e o que é errado se deparam com uma quantidade
espantosa de opiniões diferentes. Os provérbios podem ajudar a esclarecer a confusão. Por
exemplo, em apenas quatro pequenos versículos que se seguem, aprendemos a respeito de
certas atitudes mentais e as ações correspondentes que Deus odeia:
“Há seis coisas que Yehowah deveras odeia; sim, há sete coisas detestáveis para a sua
alma: olhos altaneiros, língua falsa e mãos que derramam sangue inocente, o coração que
projeta ardis prejudiciais, pés que se apressam a correr para a maldade, a testemunha falsa
que profere mentiras e todo aquele que cria contendas entre irmãos.” — Pro. 6:16-19.
A intensificação de um número pelo número seguinte, mais alto, é usada muitas vezes
pelos escritores bíblicos. (Jó 5:19; 33:29; Pro. 30:15, 16, 18, 19, 21-31; Isa. 17:6; Amós
1:3, 6, 9, 11, 13; 2:1, 4, 6) Em Provérbios 6:16-19, os números não devem ser entendidos
literalmente, como se dissesse que Deus odeia apenas seis ou sete coisas. As sete
categorias são básicas e abrangem todos os tipos de atos errados. As primeiras seis
concentram-se em três tipos de proceder errado — em pensamento (“olhos altaneiros”, “o
coração que projeta ardis prejudiciais”), em palavra (“língua falsa”, “testemunha falsa que
profere mentiras”) e em ação (“mãos que derramam sangue inocente”, “pés que se
apressam a correr para a maldade”).
Especialmente odioso é o sétimo tipo de indivíduo mencionado. Ele deriva intenso prazer
de atiçar contenda entre pessoas que de outro modo viveriam juntas pacificamente. O
23
aumento de seis para sete, sugere que os humanos sempre continuam multiplicando seus
atos maus.
Quando alguém chega a entender que o Criador encara o orgulho, a intriga e a mentira no
mesmo nível do derramamento de sangue e outros atos violentos, deve sentir-se movido a
fazer mudanças vitais nele mesmo. O resultado será melhores relações com outros e maior
alegria cada dia da vida.
III. LIDAR COM A IRA
Uma das causas mais frequentes do sofrimento entre as pessoas é a ira descontrolada.
Muitos talvez achem que entregar-se à ira é evidência de força. Mas a Palavra de Deus
declara exatamente o contrário, dizendo: “Melhor é o vagaroso em irar-se do que o
homem poderoso, e aquele que controla seu espírito, do que aquele que captura uma
cidade.” (Pro. 16:32) Embora os guerreiros que capturam uma cidade demonstrem muita
força, controlar o temperamento exige força e coragem ainda maiores.
Como pode alguém continuar a manter o seu temperamento sob controle? Provérbios
oferece estas excelentes orientações:
“Não tenhas companheirismo com alguém dado à ira; e não deves entrar com o homem
que tem acessos de furor, para não te familiarizares com as suas veredas e certamente
tornares um laço para a tua alma.” — Pro. 22:24, 25.
“Uma resposta, quando branda, faz recuar o furor, mas a palavra que causa dor faz subir a
ira.” — Pro. 15:1.
“O princípio da contenda é como alguém deixando sair águas; portanto, retira-te antes de
estourar a altercação.” — Pro. 17:14.
Todas estas declarações incentivam a fugir de situações que suscitam a ira desde o
começo. A razão é bem expressa nestas palavras adicionais: “Se agisse de modo insensato
24
por te elevares a ti mesmo, e se fixaste nisto o teu pensamento [“se maquinaste o mal”,
Almeida, atualizada], põe a mão à boca. Pois, bater o leite é o que produz manteiga, e
premer o nariz é o que faz sair sangue, e premer a ira é o que produz a altercação.” — Pro.
30:32, 33.
Todas as pessoas ocasionalmente tendem a se exaltar de maneira imprudente. Exigem
excessivamente dos outros, ou talvez digam ou façam algo que ofenda. Em tais ocasiões a
pessoa deveria ‘por a mão à boca’, reprimindo quaisquer palavras ou ações adicionais que
provocariam ainda mais aquele que ficou ofendido. Assim como é necessário bater o leite
para fazer manteiga e premer ou golpear o nariz para causar uma hemorragia, assim uma
briga só acontece quando as pessoas soltam as rédeas dos sentimentos de furor e
continuam incitando umas às outras à ira.
IV. EVITAR A PREGUIÇA
O livro de Provérbios tanto recomenda o trabalho árduo como desencoraja a preguiça. O
escritor inspirado declara: “O preguiçoso disse: ‘Há um leão lá fora! Serei assassinado no
meio das praças públicas!’” (Pro. 22:13) Para evitar o trabalho, o preguiçoso inventará
desculpas fantásticas, tais como a que um leão entrou na cidade e que ele pode ser morto
se sair. Três outros provérbios salientam como alguém não disposto a trabalhar afeta a si
mesmo e a outros:
“O preguiçoso mostra-se almejante, mas a sua alma não tem nada. No entanto, far-se-á
que a própria alma dos diligentes engorde.” — Pro. 13:4.
“Por causa do inverno, o preguiçoso não lavra; vai estar mendigando no tempo da
colheita, mas não haverá nada.” — Pro. 20:4.
“Como vinagre para os dentes e como fumaça para os olhos, assim é o preguiçoso para os
que o enviam.” — Pro. 10:26.
25
V. A NECESSIDADE DE DISCIPLINA
Visto que os humanos são imperfeitos e inclinados à lei do menor esforço, a maioria das
pessoas rejeita a disciplina. O livro de Provérbios incentiva uma atitude diferente,
dizendo: “Faze deveras teu coração chegar-se à disciplina e teu ouvido às declarações de
conhecimento.” (Pro. 23:12) Disciplina aqui significa tanto autodomínio como correção
administrada por outros. Amiúde é dada através de “declarações de conhecimento”, isto é,
expressões vindas de alguém com conhecimento e que serve para informar outros. Às
vezes, porém, a disciplina precisa ser mais firme do que simples palavras. “Feridas de
contusões são o que expurga o mal; e os golpes, as partes mais íntimas do ventre.” (Pro.
20:30) A disciplina firme, quando aceita no espírito correto, não só contém os atos ruins
mas também motiva a pessoa a fazer uma mudança íntima, para melhor.
A respeito da disciplina dos filhos pelos pais, lemos: “Não retenhas a disciplina do mero
rapaz. Não morrerá se lhe bateres com a vara. Tu mesmo lhe deves bater com a vara, para
que livres a sua alma do próprio Seol.” (Pro. 23:13, 14) “Quem refreia a sua vara odeia
seu filho, mas aquele que o ama está à procura dele com disciplina.” — Pro. 13:24.
É claro que a disciplina precisa ser administrada sempre com autodomínio e não num
acesso de ira. E não será necessário usar todas as vezes a punição física. Em várias
ocasiões, apenas umas poucas palavras de conselho sábio são suficientes. “Uma censura
penetra mais em quem tem entendimento do que golpear cem vezes um estúpido.” — Pro.
17:10.
VI. EVITAR A IMORALIDADE SEXUAL
O livro de Provérbios condena a imoralidade sexual. Considere, por exemplo, as seguintes
palavras de aviso:
26
“Pois o mandamento é uma lâmpada e a lei é uma luz, e as repreensões da disciplina são o
caminho da vida, para guardar-te da mulher má, da maciez da língua da mulher
estrangeira. Não desejes no teu coração a sua lindeza e não te cative ela com os seus olhos
lustrosos, visto que por causa duma mulher prostituta fica-se reduzido a um pão redondo;
mas, no que se refere à esposa de outro homem, ela caça até mesmo a alma preciosa.”
(Pro. 6:23-26)
Aqueles que se empenham em atos sexuais imorais com frequência terminam na miséria.
Os que procuram prazer sexual com uma “mulher prostituta” ou de outra maneira
praticam fornicação talvez também paguem com a perda de sua saúde quando sucumbem
diante das dolorosas e mutiladoras doenças venéreas. O perigo é ainda maior quando
alguém procura intimidades com o cônjuge de outra pessoa. Uma adúltera põe em perigo
a “alma preciosa”, ou a vida, do seu parceiro ilícito. A respeito disso, o escritor inspirado
acrescenta:
“Pode um homem juntar fogo no seu seio sem se queimarem as suas vestes? Ou pode um
homem andar sobre brasas sem se chamuscarem os seus pés? Assim é com aquele que tem
relações com a esposa do seu próximo; ninguém que tocar nela ficará impune. . . . Quem
comete adultério com uma mulher é falto de coração; quem faz isso, arruína a sua própria
alma. Achará praga e desonra, e seu próprio vitupério não será extinto. Pois o furor dum
varão vigoroso é ciúme, e ele não terá compaixão no dia da vingança [contra aquele que
cometeu adultério com sua esposa]. Não terá consideração para com nenhuma sorte de
resgate, nem consentirá, não importa quão grande faças o presente.” (Pro. 6:27-35)
A infidelidade marital pode resultar em dano irreparável para as pessoas e famílias
envolvidas.
VII. CUIDADO COM ‘A DOCE VIDA’
27
Para muitas pessoas, através da história, a principal coisa na vida tem sido a busca dos
prazeres. Embora a Bíblia não desencoraje ninguém de se divertir, enfatiza a necessidade
de se obter um conceito mais equilibrado das diversões. “Achaste mel? Come o que for
suficiente para ti, a fim de que não tomes demais e tenhas de vomitá-lo.” (Pro. 25:16)
Assim como comer mel literal demais pode deixar a pessoa fisicamente doente, assim o
excesso de diversão voltada para a ‘doce vida’ pode levar à doença tanto física como
espiritual. Além disso, o excesso de prazeres amiúde conduz a circunstâncias de extrema
miséria. “Aquele que ama a hilaridade será alguém em necessidade; quem ama o vinho e o
azeite não enriquecerá.” — Pro. 21:17.
O que dizer da determinação de acumular riquezas? O livro de Provérbios avisa que as
riquezas não são seguras e podem desaparecer subitamente. Lemos: “Não labutes para
enriquecer. Deixa da tua própria compreensão. Fizeste teus olhos relanceá-la [a riqueza],
sendo que ela não é nada? Pois, sem falta fará para si asas como as da águia e sairá
voando em direção aos céus.” (Pro. 23:4, 5) Visto que fortunas imensas podem ser
perdidas rapidamente por serem manejadas deficientemente ou por circunstâncias
imprevistas, as Escrituras admoestam as pessoas a dirigir seus esforços na direção de
alguma coisa mais segura do que a busca das riquezas. Observe atentamente este
conselho:
“Devias conhecer positivamente a aparência do teu rebanho. Fixa teu coração nas tuas
greis; porque o tesouro não ficará por tempo indefinido, nem o diadema por todas as
gerações. Desapareceu o capim verde e apareceu a relva nova, e ajuntou-se a vegetação
dos montes. Os carneirinhos são para a tua vestimenta e os cabritos são o preço do campo.
E há suficiência de leite de cabra para teu alimento, para alimento dos da tua casa, e os
meios de vida para as tuas moças.” — Pro. 27:23-27.
Nem as riquezas materiais (“tesouro”), nem uma posição de destaque (“diadema”)
garantem segurança real. Tempo, esforço e dinheiro investidos em negócios amiúde se
28
perdem devido ao fracasso de empreendimentos arriscados. Acontecimentos inesperados
podem causar o desaparecimento súbito tanto da riqueza como da posição respeitável.
Por outro lado, esforços empregados na criação de animais domésticos não resultam em
decréscimos, mas geralmente resultam em acréscimos para o proprietário. Deus provê
“vegetação” abundante para alimentar os animais domésticos. Através da história humana
os cuidados diligentes na criação de animais têm provado ser, de maneira constante, mais
seguros como meio de se obter alimento, roupa e rendimentos do que as riquezas ou a
proeminência. Daí, o sábio conselho: “Devias conhecer positivamente a aparência do teu
rebanho.” O princípio nestas palavras pode ser aplicado hoje ao trabalho diligente em
qualquer campo de trabalho seguro.
O livro de Provérbios, embora escrito há milhares de anos, contém orientação
incomparável para as pessoas que vivem hoje. Leia estas palavras inspiradas
regularmente. Medite nas suas lições. Embora cada provérbio tenha apenas algumas
palavras, sua sabedoria abundante pode fazer a sua vida perdurar de maneira segura e
feliz.
-
29
Provérbios 1
1.1 — O prólogo do livro de Provérbios (Pv 1.1-7) tem três partes: (1) título (v. 1), (2)
objetivo (v. 2-6) e (3) tema (v. 7). O título, Provérbios de Salomão, filho de Davi, rei de
Israel (v. 1), pode sugerir três coisas: (1) Salomão é autor do livro, (2) Salomão foi autor
das principais contribuições ao livro, ou (3) Salomão é o patrono da sabedoria em Israel,
então seu nome esta neste título como honorífico. Como há outros autores (ex.: Agur [cap.
30] e Lemuel [Pv 31.1-10]), e algum material de Salomão foi editado muitíssimo depois
de sua morte (Pv 25.1), parece mais sensato interpretar as palavras de abertura do livro
como uma combinação da segunda e terceira opções. Salomão não pode ser o autor de
todo o livro, mas é seu contribuinte mais notável e o modelo do ideal de sabedoria de
Israel.
1.2,3 — Os versículos 2 a 6 explicam o objetivo do livro de Provérbios. Os verbos
“conhecer”, “entenderem” e “receber” referem-se as formas de adquirir sabedoria. A
palavra sabedoria se refere à capacidade, o que pode ser adquirida em sua vida quando se
põe em pratica os ensinamentos dados por Deus. O termo instrução também pode ser
traduzido como “disciplina” [NVI]; refere-se ao processo de recepção de conhecimento e
posterior aplicação a sua vida diária.
1.3 — A expressão traduzida como “instrução do entendimento”, assim como a sabedoria,
denota uma habilidade em prática, tal como a de um artesão ou músico. Ou seja, a
sabedoria afeta a vida como a habilidade dos artistas afeta a prática de sua arte. As
palavras justiça, juízo e equidade dão um contexto moral a sabedoria, instrução e palavras
que dão entendimento. A sabedoria bíblica permeia a vida inteira; exige uma mudança de
comportamento e comprometimento com a justiça.
1.4 — Os simples ou ingênuos são os jovens inexperientes, com tendência ao erro. Os
30
termos “prudência” e “bom senso” incluem os fatos mais duros da vida. O sábio já
aprendeu com a experiência a distinguir o que e verdadeiro, louvável e bom do que e
falso, vergonhoso e ruim (Rm 12.1,2).
1.5,6 — A expressão crescer em sabedoria vem destacar que o homem que adquiriu
alguma compreensão deve continuar desenvolvendo-se em discernimento; sempre há mais
o que aprender. O versículo 6 fala das lições que a pessoa mais madura obtém por meio do
estudo de provérbios, interpretação, palavras dos sábios e adivinhações.
1.7 — O temor do Senhor é o ingrediente mais básico da sabedoria, uma virtude que só
pode ser alcançada quando se conhece Deus e submete-se a Sua vontade. Ter
conhecimento sobre algo e nenhum de Deus aniquila o valor de possuir esse
conhecimento. Só os loucos rejeitaram o temor ao Senhor. O verbo “desprezar” tem uma
forte carga negativa e dá mais peso ao fato de que não temer a Deus equivale a rejeitar
toda sabedoria (Dn 11.32; Jo 17.3).
1.8,9 — As palavras de abertura deste trecho bíblico soam como o apelo de um pai ao seu
filho, um tema que esta presente em todo o resto do livro. O versículo 8 destaca a
responsabilidade de instruir tanto do pai como da mãe.
1.10-14 — Aqui está a primeira passagem de advertência. Neste trecho bíblico, o autor
alerta que não devemos misturar-nos com os criminosos. Isto espelha uma situação
desregrada da sociedade atual em que é comum ver jovens fracos se deixarem envolver
pela rede de violência.
1.15-18 — Nestes versículos, o autor aconselha cautela. Ele destaca que cada passo no
caminho perigoso é um passo em direção à destruição ao ilustrar com o ato de estender
31
uma rede para capturar uma ave. Neste caso seria uma tarefa inútil, pois a ave, espiando a
armadilha sendo preparada, desvia-se dela. Só que existe o louco, que e mais tolo do que o
pássaro; ele vê a armadilha ser montada e ainda assim cai nela.
1.19 — Prendera a alma. Estas palavras concluem a advertência do autor aos jovens e
apresentam um tema que os trechos seguintes abordarão: o estudo da sabedoria é uma
questão de vida ou morte.
1.20,21 — A palavra Sabedoria aqui esta com letra maiúscula porque não foi traduzida da
mesma palavra hebraica que deu origem ao termo sabedoria no versículo 2, mas sim do
vocábulo hebraico hokhmoth (que também e encontrado em Pv 9.1; 14.1; 24.7; Sl 49.4).
Neste caso, a palavra hebraica provavelmente e a forma plural de hokhmah (Pv 1.2), e não
um substantivo abstrato separado, apontando para as multiformes excelências da
sabedoria.
1.22-27 — Este trecho bíblico se dirige aos néscios aqueles que pouco sabem sobre o
temor do Senhor e ainda não encontraram uma direção certa na vida. São ensinamentos
que repreendem o que e mal e apontam para o que e bom, ressaltando que os que
rejeitaram a sabedoria serão ridicularizados quando chegar a hora de enfrentarem o juízo
inevitável de sua insensatez (Sl 2.4). Ainda assim, a Sabedoria da risadas de júbilo diante
da obra de Deus e deleita-se por causa do povo de Deus (Pv 8.30,31).
1.28-33 — Eu não responderei. Esta e a consequência que enfrentara aquele que escolheu
desprezar a sabedoria; o Senhor não atendera as orações. O louco costuma rejeitar os
sábios conselhos do Senhor porque se recusa a temer a Deus (v. 29). Os versículos 31 e 32
retomam o tema do versículo 19 sobre a orientação dos pais: os loucos atraem sua própria
destruição. Rejeitar a sabedoria os destruirá. Este tenebroso alerta termina com a promessa
32
de vida aos poucos que derem ouvidos as palavras de sabedoria; estes encontrarão
segurança e paz.
33
Provérbios 2
2.1-4 — Este capítulo descreve os frutos produzidos pela busca de sabedoria e atrelam os
conceitos de sabedoria e conhecimento de Deus com mais propriedade.
2.5-8 — Quando se busca a sabedoria, entende o temor do Senhor e encontra o
conhecimento de Deus. Quem conhece Deus teme (reverência) a Ele. Os versículos 6 a 8
se assemelham as palavras dos Salmos (compare ao Sl. 91). A expressão “a verdadeira
sabedoria” usa outro sinônimo para sabedoria, uma palavra que pode ser traduzida como
“sucesso permanente” ou “vitória”.
2.8-13 — A expressão “veredas do juízo” (v. 8) contrasta fortemente com caminhos das
trevas (v.13). Este contraste apresenta um dos principais temas de Provérbios, o contraste
entre dois caminhos. Jesus falou de dois caminhos, um estreito e outro largo (Mt 7.13,14).
A estrada certa é marcada pelas demandas da justiça, do juízo e da equidade (v. 9). Estas
são as demandas da lei de Deus.
2.10,11 — Entrará no teu coração. Estas palavras ressaltam a internalização da sabedoria.
Os conhecimentos ensinados pelos provérbios devem ser aprendidos e praticados.
2.12-15 — A expressão “mau caminho” (v. 12) contrasta diretamente com o caminho da
sabedoria, e caracteriza-se pelas coisas perversas, por mentiras e distorções, por
deformações e enganações, e por trevas e desvios.
2.16-22 — A expressão mulher estranha faz referência a mulher adultera, sedutora,
imoral. O adultério é incompatível com o ideal da lei de Deus. A palavra estranha também
conotava prostituição, porque a mulher estrangeira dos antigos cultos de fertilidade do
Oriente Médio participava de praticas sexuais nos seus ritos de adoração.
34
35
Provérbios 3
3.1,2 — Lei e mandamentos são palavras que, como no Provérbio 1.8, chamam a atenção
para a ligação entre a sabedoria e a Lei mosaica. Os provérbios são a Lei aplicada.
3.3,4 — Benignidade e fidelidade são duas palavras de peso dentro da Bíblia, pois
descrevem o caráter de Deus (Sl 100.5) e os valores que Ele exige de Seu povo. O
apóstolo João empregou o equivalente grego destas palavras, graça e verdade, para
descrever o caráter de Jesus (Joao 1.14).
3.5,6 — As palavras “confia no Senhor” ecoam a ordem de Deuteronômio 6.5 para amar
Deus com todo o nosso ser. O verbo “confiar” e complementado pelo verbo “estribar-se”
(“sustentar-se”). Confiar em Deus e depender conscientemente Dele, da mesma forma que
e preciso apoiar os pés no estribo para não perder o equilíbrio ao andar a cavalo. A ideia e
reforçada com a exortação para reconhecê-lo em todos os teus caminhos, o que significa
observá-lo e conhecê-lo enquanto se vive. Ao fazê-lo, a pessoa percebera que, cada vez
mais, Deus facilita os seus caminhos.
3.7-10 — As promessas destes versículos tratam de padrões genéricos, e não de regras
sem exceções. São os resultados típicos de quem assume um compromisso com Deus. A
ordem para louvar ao Senhor com a tua fazenda [recursos, na NVI] e dar-lhe as primícias
de toda a tua renda e uma parte do significado de adorar ao Senhor. Sendo assim, da
mesma forma que no pacto de Deus com Israel, Ele prometeu, entre tantas coisas, manter
seus celeiros e lagares cheios.
3.11,12 — A correção do Senhor é o outro lado da Sua graça. Devemos apreciar a
correção de Deus em nossas vidas, porque Ele só disciplina aqueles a quem ama (Hb 12.7-
10).
36
3.13-18 — Confira as bem-aventuranças proferidas por Jesus no Sermão da Montanha
(Mt 5.2-12). O termo hebraico traduzido como “bem-aventurado” [feliz, na NVI] possui
uma ideia explosiva de múltipla felicidade (Sl 1.1). Fica implícito, então, que Deus fica
muito contente ao ver Seus filhos seguindo os princípios da sabedoria. A pessoa que
encontra sabedoria descobre um tesouro incalculável. Adão e Eva foram expulsos do
jardim do Éden e proibidos de tocar na árvore da vida (Gn 3.22-24), mas a sabedoria e
outra árvore da vida, que começara a restaurar a felicidade perdida no Paraiso.
3.19, 20 — A expressão “com sabedoria, fundou a terra” revela um dos temas centrais de
Provérbios, que é a associação de sabedoria e criação. O capítulo 8 é dedicado a este
assunto.
3.21 — Este versículo estimula a conservar tanto a fé como a sabedoria. O intuito e
semelhante ao de Shemá Israel [Ouça Israel] (ver comentário em Dt 4.39; 6.4). Também
se assemelha as ideias básicas do Salmo 91 (compare o v. 26 com o Sl 91.10-13).
3.22-26 — Boa parte do capítulo 3 contem conselhos parecidos com as da parte posterior
do livro. Estes conselhos soam como aperitivo do que virá depois, mas no momento
aparecem no contexto da benção concedida ao homem que se aproximou da Sabedoria.
Tais provérbios revelam-nos um grande senso de orientação, que não estão distantes do
contexto teológico. Concentram-se no conhecimento de Deus; baseiam-se no caminho
para a sabedoria. Conforme lemos estes provérbios, vamos situando-nos para os que
começam no capitulo 10.
3.27-30 — Este trecho bíblico se refere ao tratamento respeitoso para com o nosso
próximo, um dos principais ensinamentos de Jesus (Lc 10.25-37). Da mesma forma, não
37
se deve evitar fazer o bem ao nosso próximo quando se tem o poder de fazê-lo (Pv 3.27).
E falta de caráter poder pagar uma dívida e não fazê-lo (v. 28), e não há piedade para
tramoias interesseiras (v. 29) ou palavras de intriga (v. 30) contra companheiros pacíficos.
3.31-35 — De nada vale a pena ter inveja do homem violento, porque Deus abomina a
perversidade. Só um tolo desejaria ser detestável aos olhos do Senhor! Este trecho bíblico
termina com um contraste da benção de Deus para os justos com Sua maldição sobre os
ímpios (Gn 12.3).
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Provérbios 4
4.1-4 — A expressão correção do pai deixa implícita ternura e afeição, bem como
preocupação e disciplina por parte dos pais. A introdução do capítulo 4 lembra o início da
primeira orientação por parte dos pais feita em Provérbio 1.8 [Filho meu], mas o
interlocutor agora é plural, “filhos”. Assim como seu pai o instruiu, o filho ensinara aos
seus filhos, uma geração apos a outra. O apelo aos pais para ensinarem as coisas de Deus
aos seus filhos baseia-se em Deuteronômio 6.7 e reflete os Salmos (ex.: Sl 78.3,4).
4.5-7 — Os versículos 5 a 9 apresentam um apelo apaixonado do pai aos filhos para que
adquiram a sabedoria a qualquer custo. A introdução dos primeiros capítulos de
Provérbios segue um padrão: afirmativa, repetição e embelezamento. Fazendo amplo uso
da reafirmação criativa, as ideias são entendidas bem claramente. As palavras do versículo
7 são particularmente fortes: a sabedoria é a coisa principal. A palavra principal é
traduzida como “o princípio” está em Proverbio 1.7, mas aqui tem o valor de primeira em
importância.
4.8,9 — Estes versículos ressaltam o valor absoluto da sabedoria. A pessoa que tem a
sabedoria e lhe obedece sem hesitar será exaltada e honrada; sua presença se tomará um
diadema de graça e uma coroa de glória. Estas metáforas são apelos eficazes por uma
resposta do coração (Pv 1.9; 3.3).
4.10-19 — Estes versículos apresentam um novo apelo de pai para filho para andar no
caminho da sabedoria e evitar a vereda dos ímpios a todo custo. O contraste entre essas
duas carreiras [veredas, na NVI] e profundo. O caminho da sabedoria e reto, sem
obstáculos e seguro. O caminho dos ímpios é tortuoso, perigoso e marcado por violência.
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Uma estrada é um caminho de luz, a outra, de escuridão; uma conduz a promessa, e outra,
a uma estrondosa destruição.
4.20-27 — Este trecho bíblico orienta a cuidar das vontades e das emoções, e a manter a
fala honesta, o olhar atento e o bom senso no proceder. Adentrar o caminho da sabedoria
não é um acaso. Boa parte deste capitula reforça e refina os temas encontrados nos
capítulos 1 a 3. A ênfase na virtude nos prepara para as advertências do capitulo 5.
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Provérbios 5
5.1-6 — O capítulo 5 volta ao tema da mulher estranha (Pv 2.16-19). Este trecho fala
veementemente a favor da fidelidade conjugal. Se você quer conservar a discrição, ouça
estas palavras, senão seus pés descerão a morte.
5.7-14 — A Bíblia ensina em varias partes que a tentação como um todo é inevitável, mas
algumas devem ser evitadas a qualquer preço. A pessoa ajuizada sabe disso e não se
aproxima da mulher estranha [imoral]. As instruções do apóstolo Paulo a Timóteo para
fugir dos desejos da mocidade (2 Tm 2.22) ensinam o mesmo tema. Envolver-se com tal
pecado desonra e consome aqueles que tombam nele.
5.15 — Em um país árido como Israel, um poço era um bem valioso e um privilégio a ser
resguardado. O cônjuge também era (e e). A expressão “bebe a água” é uma referencia
oblíqua a conjunção sexual (Pv 9.17), e “da tua cisterna” é um claro apelo a fidelidade
conjugal — um homem e uma mulher juntos pelo matrimônio. Os autores da Bíblia, às
vezes, falam da salvação como uma fonte (Is 12.3); chamar o cônjuge de fonte d’agua era
um gesto afetivo (Ct 4.15).
5.16,17 — Nestes dois versículos, há uma pequena “virada de mesa”. Como seria,
pergunta o professor, se sua própria esposa se tornasse a mulher estranha de outros
homens? Por acaso sua “fonte d’agua” deveria correr pelas ruas? Ou “sua água” estar em
praça publica? “Não!”, diz o professor. Faça com que estas águas sejam só suas, e não
algo que partilha com estranhos (v. 17).
5.18-20 — As palavras “alegra-te com a mulher da tua mocidade” compreendem uma
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ordem e um estímulo para se achar alegria na felicidade mutua do casamento. De fato, ter
prazer no leito conjugal é bendito por Deus (Cantares; Hb 13.4).
5.21-23 — Na expressão “os olhos do Senhor” reside um ponto decisivo: o que se faz em
secreto não passa despercebido aos olhos de Deus, que tudo vê. Nisto, incluem-se também
as praticas de adultério, que só leva a ruína. Uma vida insensata termina em morte
amarga. O caminho secreto do perverso e um escândalo as claras no céu; termina com a
solidão de um inferno particular.
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Provérbios 6
6.1-5 — Estes versículos alertam sobre o perigo de ser fiador (Pv 11.15) ou coassinar um
empréstimo. Isto não significa que nunca devamos ser generosos ou ajudar os outros caso
possamos, mas que não devemos prometer o que não podemos cumprir. No tempo de
Salomão, um cossignatário que não pudesse pagar perderia tudo o que tinha e, ainda por
cima, seria reduzido a escravidão. Mesmo que as leis de hoje sejam diferentes, a
incapacidade de quitar uma divida é ainda uma forma de escravidão e pode ser um
problema sério.
6.6-11 — Este trecho alerta contra a armadilha da preguiça. O preguiçoso érefém do lazer.
Tudo de que ele precisa para sobreviver pode ser aprendido com a formiga, uma criatura
humilde que se ocupa em armazenar comida no verão para enfrentar o inverno que virá.
Como a formiga, a pessoa sábia trabalha duro. Por outro lado, o preguiçoso é viciado em
dormir e perdeu todo o interesse em trabalhar (Pv 26.13-16).
6.12-15 — O homem vicioso é criador de casos. Diferentemente do preguiçoso, cujo
único desejo é encontrar outro lugar para cochilar, o criador de problemas mal pode
esperar para se meter em novos apuros. Diferentemente do preguiçoso (v.6), ele se ocupa
até demais, mas planejando coisas erradas. Ele se alegra em semear a intriga. Mas como o
preguiçoso, ele não percebe que a destruição estápróxima.
6.16-19 — Este trecho é um provérbio numérico (Pv 30.15-31) que descreve sete coisas
que aborrece o Senhor. O uso de progressão numérica — seis coisas aborrece o Senhor, e
a sétima... — nestes provérbios é um mecanismo retorico que embeleza a poesia, ajuda a
memorizar e constrói um clímax. Dá a impressão de que há mais a ser dito sobre o
assunto. A progressão incorpora não apenas os números, mas também as palavras que
descrevem a resposta divina; o vocábulo aborreceprogride para abomina. O termo
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“abomina”é a expressão mais forte da Bíblia de “ódio” pela perversidade(compare com
Lv 18.22). Em uma lista desse tipo, o último item é o mais importante.Assim, o leitor
saberá que o que semeia contendas entre irmãos(v. 19) é o que mais desagrada
Deus.Compare com a benção de Deus aos irmãos que vivem juntos em paz (Sl 133.1).
6.20-24 — Este trecho vincula os ensinamentos do pai com os da mãe(Pv 1.8). A
instrução materna deve estar atada ao coração e ao pescoço da pessoa, como companhia
permanente e guiaconfiável — como a Lei de Deus (compare com Dt 6.4-9; 11.18-21).
(Para as palavras lâmpadae luz, veja Sl 119.105.)
6.25 — O termo “olhos” refere-se aos olhares sedutores.
6.26 — O contraste ressalta a terrível devastação que uma adúltera traz à vida de um
homem. Comparada a confusão causada por uma prostituta, a adúltera consome a vida de
sua vítima.
6.27-35 — Furta para saciar-se, tendo fome. Este trecho não apoia o roubo. Simplesmente
compara o roubo, que poderia ser uma ação até compreensível se a razão for a fome, com
o adultério, que nunca faz sentido. Jogar fora o compromisso com sua companheira da
vida inteira é loucura. Para os antigos israelitas, fidelidade conjugal era sinal de fidelidade
à Deus. Mas vale ressaltar que naquela época se um homem roubasse alimento era
condenado a restituir sete vezes o valor roubado.
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Provérbios 7
7.1-5 — O problema da imoralidade (Pv 2.16-19; 5.1-23; 6.20-35) tem solução: “Guarda
os meus mandamentos [...] como a menina dos teus olhos.” As pessoas devem guardar as
palavras sábias como protegem a pupila dos seus olhos. Deus cuida do Seu povo com o
mesmo zelo (Dt 32.10).
7.14-21 — Tudo o que a adúltera faz é perverso. Ela procura seduzir e mostrar suas ações
supostamente boas, fazendo um convite ao jovem que ele não consegue recusar. Uma das
estratégias dela é convidá-lo para um banquete, que teria como cardápio parte da oferta
que ela apresentara ao Senhor como sacrifícios pacíficos [de comunhão, na NVI]. Afinal,
este tipo de oferta era realizado para agradecer por uma misericórdia alcançada, e a carne
do sacrifício tinha de ser comida no mesmo dia. Estes preparativos e convite seriam
aceitáveis entre uma esposa e seu marido; seriam honrados por Deus. Porém, no caso da
mulher imoral, e nada menos do que pura perversidade.
7.22,23 — Este trecho emprega varias metáforas desfavoráveis para descrever como um
jovem tolo recai na imoralidade. A expressão “como o louco ao castigo das prisões”
poderia ser traduzida “como um cervo que pateia até se ver preso”. A ideia é de que o
jovem não tem noção do seu destino. Ele é tão insensato que nem tem noção de sua
insensatez.
7.24-27 — O capítulo 7 termina com um epílogo (v. 24-27) no qual se arremata a lição:
“Agora, pois, filhos, dai-me ouvidos.” Em outras palavras, fique longe da mulher imoral!
Ela é fatal, e já fez muitas vítimas.
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Provérbios 8
8.1-11 — Este capítulo é um hino de louvor à maravilha de possuir sabedoria. A
expressão,“não clama, porventura, a sabedoria?” atesta que a sabedoria deseja chegar a
todos; por isso, dissemina sua mensagem publicamente, diferentemente da mulher imoral,
que busca seus objetivos as ocultas e com mentiras. Pode-se confiar nas palavras de
sabedoria; seus conselhos são gratuitos e benignos. Suas palavras de verdade contrastam
com as mentiras da impiedade (Pv 7.21-23). A sabedoria cumpre as suas promessas; ela
não é uma provocadora espalhafatosa. O que a sabedoria oferece tem valor inestimável,
muito mais rico do que prata e ouro; não há pedra preciosa nem nada de valor que se
compare a ela (uma expressão parecida se encontra em Pv 3.14,15).
8.12,13 — As palavras “eu, a sabedoria, habito com a prudência” abrem a segunda parte
deste trecho sobre a excelência da sabedoria (v. 12-21). Novamente, neste contexto,
vemos a sabedoria atada diretamente ao temor do Senhor. A oferta de sabedoria só está
aberta aos que temem a Deus. Aproximar-se da sabedoria requer aproximar-se do
Altíssimo, o que significa afastar-se de tudo o que Ele abomina — o mal, o orgulho, a
arrogância, o mau comportamento e a fala perversa. Jesus disse que a verdade está nele
(Jo 8.32).
8.14-21 — Neste trecho bíblico, fala-se de príncipes, nobres e juízes. Para que as
autoridades possam exercer seu poder com idoneidade é preciso o uso da sabedoria, um de
seus apelos mais requintados. Além disso, a sabedoria leva aqueles que a seguem a
riquezas e honra (Pv 9.1-6). É um contraste chocante com o destino do tolo (Pv 6.33,35).
8.22-31 — Esta parte do capítulo 8 descreve o papel da sabedoria na criação. O Senhor
me possuiu no princípio de seus caminhos. Nesta expressão, o termo “possuiu” em
hebraico pode significar “trouxe” ou “criou”. Melquisedeque usou a mesma palavra para
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identificar Deus como o Criador do universo (Gn 14.19). O Senhor, sempre sábio,
produziu a sabedoria; O Senhor, dono de todo conhecimento, criou o conhecimento. A
sabedoria só teve um princípio no sentido de que Deus, naquele momento, separou-a para
exibi-la; na medida em que é uma das perfeições de Deus, ela sempre existiu (v. 23). Estes
versículos fornecem parte do contexto para o retrato de Cristo no NT como a Palavra
divina (Jo 1.1-3) e como a sabedoria de Deus (1 Co 1.24,30; Cl 2.3).
8.30,31 — Usando de sabedoria, Deus criou o universo. Logo, um estudo devido sobre o
universo é uma descoberta progressiva da sabedoria de Deus (Rm 1.20). A palavra
“delicias” expressa a exuberância brincalhona e infantil da Sabedoria, como um filho
querido. E sua maior alegria está no ápice da obra de Deus — os filhos dos homens — ou
seja, na humanidade.
8.32-36 — Esta parte é o epílogo do hino de louvor do capítulo 8. Apela para que todos o
ouçam: “Agora, pois, filhos, ouvi-me.” A sabedoria oferece bênçãos e vida a todos os que
lhe seguem, mas amaldiçoa e mata os que a odeiam. O gentil convite da sabedoria e mais
desejável do que qualquer coisa e leva-nos a uma vida bem-aventurada.
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Provérbios 9
9.1 — Aqui reside o contraste definitivo entre loucura e sabedoria. Cada uma delas
oferece um banquete para a vida (v. 1-6) e outro para a morte (v. 13-18). Entre essas duas
seções há uma parte (v. 7 -12) que fala das consequências da vida de sabedoria versus a de
insensatez. Assim como em Provérbio 1.20, no versículo 1 do capitulo 9 o termo hebraico
traduzido como “sabedoria” esta no plural, e não no singular, para chamar a atenção. “Sete
colunas”. Nesta expressão, o número sete representa a completude, conforme é comum na
poesia semítica. Ou seja, não é que houvesse literalmente sete colunas, mas sim que a casa
da sabedoria tinha firmeza e caráter substancial.
9.2,3 — Dentre os alimentos do banquete da sabedoria constavam carne e vinho, servidos
sobre uma bela mesa (Pv 7.14). A carne recém-abatida era o diferencial do banquete nos
tempos bíblicos. Já o vinho era um gênero precioso no antigo Israel; mas em banquetes
especiais, o anfitrião acrescentava temperos aromáticos ao vinho, acentuando o aroma e
melhorando o gosto (Ct 8.2). Tudo isso contrasta com a atitude da mulher insensata.
Enquanto a sabedoria ocupa-se em cuidar de cada detalhe como uma anfitriã zelosa, a
insensatez se senta a porta de casa sem ter o que fazer (v. 14) A sabedoria manda suas
criadas correrem a cidade para convidar as pessoas para o jantar.
9.4-6 — A sabedoria faz questão de convidar para o seu banquete os simples, quer dizer,
aqueles que ainda não se decidiram pelo caminho que tomarão na vida (Pv 1.4; 7.6). Com
as palavras “pão e vinho”, a sabedoria promete vida. A pessoa que se aproxima da
sabedoria não tem nada a perder senão sua ingenuidade. Leia Hebreus 5.14, onde fala da
pessoa madura como aquela que é capaz de desfrutar bem do alimento sólido e alcançar o
crescimento espiritual, enquanto a ingênua só consegue beber leite e continuar sendo
menino na fé (Hb 5.13).
9.7-9 — “Escarnecedor” ou “zombador” é quem se opõe frontalmente a sabedoria (Pv
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1.22), escarnecendo do que é de Deus (SI 1.1). Como a pessoa deve reagir ao zombador?
O melhor é nem dar resposta. O sábio, por sua vez, aceita ser corrigido e reage com
gratidão ao que apontou o seu erro. O sábio sempre aceita criticas construtivas; fica
implícito que ele é uma pessoa humilde (Pv 3.7; 9.10; 11.2).
9.10-12 — O temor do Senhor é o tema central do livro dos Provérbios (Pv 1.7). A única
maneira apropriada de aproximar-se do santo Deus é com temor, ou seja, reverência. O
termo “Santo” é um nome plural e majestoso da palavra hebraica que poderia ser
traduzido como o Santíssimo ou a quintessência da santidade. A expressão para ti mostra
que você mesmo sentirá os efeitos de sua sabedoria ou insensatez; é impossível escapar
deles.
9.13-18 — Esta parte faz uma paródia dos versículos 1 a 6. Nos seis primeiros versículos
deste capítulo, a sabedoria personifica o valor da sabedoria. Já nesta segunda parte (v. 13-
18), é a vez de a insensatez ser personificada, comparada neste caso com uma mulher
louca. Ela fala em voz alta, e inconsequente, estridente, indisciplinada e não sabe coisa
alguma (Pv 7.10-12). Ela grita as mesmas palavras que a sabedoria usa (compare o v. 16
com o v. 4), mas com uma diferença: ela não tem nenhum banquete maravilhoso para seus
convidados, mas apenas comida ordinária, furtada e escassa. Embora receba muita
atenção, seu convite só faz sentido para os faltos de entendimento.
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Provérbios 10
10.1 — Os provérbios de Salomão concentram-se no filho sábio, como nos capítulos 1 a
9, e o comparam com o filho louco. O termo “filho” é genérico — a questão central não é
ser filho em vez de filha, mas sim se ele (a) é sábio (a) ou louco (a). O comportamento de
um filho afeta ambos os pais. Os pais têm sua fonte de alegria ou tristeza no filho que
demonstra capacidade para a vida.O tempo dos verbos sugere que o filho sábio alegra seus
pais continuamente e que o filho louco traz contínuos dissabores aos seus pais.
10.2 — Este versículo é um alerta contra confiar na riqueza, e não na retidão pessoal. Os
perversos podem ser ricos, mas essa riqueza não lhes adiantará de nada depois de mortos.
Neste caso, a morte é algo a temer — se a pessoa não conhece Deus. O fato de a
integridade libertar da morte pressagia certa esperança de vida após a morte.
10.3 — Este versículo fala de como Deus generosamente provê as necessidades da alma
dos justos, mas retribui com Sua justiça aos ímpios. Provérbios assim ressaltam (1) as
circunstâncias como deveriam ser e (2) o fim dos ímpios (SI 73.17). Não indicam
necessariamente a vida como ela sempre é, nem o que os ímpios estão vivendo neste
momento.
10.4 — Muitas vezes os Provérbios vinculam preguiça à pobreza, e trabalho duro à
riqueza (v. 2). Este provérbio determina a norma.
10.5 — A expressão “ajunta no verão” compara a pessoa habilidosa a vergonhosa,
baseando-se no quanto trabalham durante a época da colheita. A descrição da segunda
pessoa é particularmente dura: o que dorme na sega.
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10.6 — A ideia apresentada por este provérbio põe em contraste uma aura abençoada que
paira sobre o justo com o cheiro pútrido da violência que emana do ímpio.
10.7 — Naquela época, o nome da pessoa era significativo e importante. Quando o nome
da pessoa era lembrado pelas gerações futuras como bom, atribuía-se grande valor a vida
dessa pessoa. Mas quando a memória de um nome era poluída, era como se esta pessoa
jamais tivesse vivido.
10.8 — O termo hebraico traduzido como “será transtornado” significa “está arruinado”, e
provem da mesma raiz de “apodrecerá” no versículo 7. Este tipo de paralelismo poético
deve ter agradado os israelitas da Antiguidade.
10.9 — Muitos provérbios comparam dois caminhos na vida. A expressão “anda em
sinceridade”significa obedecer a Lei de Deus como um plano de vida. Escolher caminhos
tortuosos e desdenhar do propósito da Lei que Deus generosamente nos apresentou.
10.10 — Embora muitos provérbios comparem dois comportamentos, as duas partes deste
provérbio falam de más ações. Além disso, a segunda parte deste provérbio é idêntica a
segunda parte do versículo 8. Trata-se de um vínculo que dá liga ao trecho.
10.11 — Aqui há mais um provérbio tratando da boca (Pv 10.6,8,10). Este versículo
apresenta a fala como produto externo da realidade interna. A expressão manancial de
vida é praticamente uma imagem divina, uma antítese bastante forte a palavra “violência”.
10.12 — Este versículo trata das relações interpessoais, e não da salvação. O ódio é uma
arma do diabo para gerar contendas, mas a pessoa sábia reage às transgressões ou
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desentendimentos com amor, tolerância e desejo forte de fazer o bem. Caso o indivíduo
revidasse as ofensas de forma negativa, o ódio seria despertado no coração de ambas as
pessoas envolvidas na situação, configurando em uma atitude sem sabedoria.
10.13 — Este provérbio declara que as palavras podem ter um papel positivo — o de
comunicar sabedoria. A palavra “vara” se refere ao castigo, neste caso, merecido. As
palavras “falto de entendimento” vem da expressão idiomática hebraica “falto de
coração”. Aquele a quem “falta coração” e é comparado desfavoravelmente ao que e sábio
de coração (v. 8).
10.14,15 — A expressão “escondem” [“acumulam”, na NVI] a sabedoria é um tema forte
nos textos de orientação dos capítulos 1 a 9 (Pv 1.1-3; 3.1). O versículo 14 compara a
busca de conhecimento do sábio com a fala vazia do tolo. Já no versículo 15, a fazenda
[“riqueza”, na NVI] é comparada a uma fortaleza. Neste caso, quer dizer que uma cidade
rica terá maior segurança para suportar os ataques inimigos do que uma cidade pobre.
Naquela época, só as cidades muradas estavam preparadas para resistir às forcas
adversarias.
10.16,17 — Estes versículos apresentam a doutrina dos dois caminhos: o do justo, que
leva a vida; e o do ímpio, que conduz ao pecado. A expressão “as produções do ímpio”
assemelha-se com o que Paulo escreveu em Romanos 6.23: o salario do pecado e a morte.
10.18-21 — Estes versículos falam dos perigos da fala, especialmente a mentira e a
difamação. Para evitar estes pecados é preciso praticar a autocontenção.
10.22 — O vínculo da riqueza com a benção do Senhor é explicitado neste versículo.
Nesta sentença, Yahweh concede ausência de tristezas e fartura de riquezas. Que benção!
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10.23,24 — A palavra traduzida como “divertimento” geralmente significa “riso alegre”
(Sl 126.2).As vezes, quer dizer “risada vazia”(Pv 14.13; Ec 7.3,6). Aqui, o provérbio
emprega a palavra de forma completamente negativa. Para o tolo, a perversidade não
passa de um jogo. Ele inventa as regras conforme progride. Para ele, só perderia se fosse
pego. Mas quem tem entendimento tem uma perspectiva de longo prazo. No fim, ele
consegue o que deseja, enquanto a justiça se abate sobre o ímpio.
10.25 — A natureza breve dos perversos é comparada a estabilidade dos justos. Assim
como o Salmo 1.3,4, onde os justos são comparados a uma árvore, e os ímpios, a moinha,
neste provérbio a tempestade sopra e espalha os ímpios, mas não tira os justos do lugar. O
perpetuo fundamento dos justos é a fé em Deus, assim como as águas que alimentam a
árvore do Salmo 1.3.
10.26 — O preguiçoso é uma figura cômica nos provérbios. Aqui o preguiçoso (hb. ‘asei)
irrita aquele que o mandou cumprir uma tarefa. Ele é como o sabor ácido do vinagre na
boca, como uma fumaça que irrita a vista.
10.27 — Este versículo contem a primeira aparição da expressão temor do Senhor nos
capítulos 10 a 22 (Pv 1.7,29; 2.5; 8.13; 9.10). O vinculo da devoção com a vida longa e da
perversidade com a morte precoce é outro tema comum em Provérbios (3.1,2).
10.28 — O justo tem algo por que esperar com alegria; o ímpio não (v. 24)
10.29 — Cada pessoa vê o caminho do Senhor de forma diferente. Quem é inocente o vê
como refugio da tempestade e do calor do dia. Os iníquos o veem somente como fonte de
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terror. A perspectiva de quem vê faz toda a diferença; o caminho do Senhor continua
sempre o mesmo, puro.
10.30 — Este provérbio demonstra forte confiança na sobrevivência definitiva dos justos
e no juízo final dos ímpios. Em nossa experiência limitada, podemos ver os ímpios com
sucesso e os justos batalhando para sobreviver. Mas no juízo final (Sl. 73) inverterão os
seus destinos.
10.31, 32 — Estes versículos formam outro par de sentenças sobre a fala verdadeira e a
falsa. Podem ser comparados a Provérbio 10.11,13,20,21 e Tiago 3. Esta repetição com
variações indica a importância da verdade e da mentira tanto naquela época como no
mundo moderno.
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Provérbios 11
11.1 — Tratar o próximo de forma justa é um prolongamento do mandamento para amar o
próximo como a si mesmo (Lv 19.18), que, por sua vez, é um prolongamento do
mandamento principal a Israel: amar somente a Deus (Dt 6.4-9). É por isso que balança
enganosa é uma abominação para Deus, um termo que descreve uma aversão de revirar o
estômago.
11.2 — Muitos provérbios comparam o arrogante ao humilde, assim como podemos ver
aqui. A palavra “soberba” em hebraico provem de uma raiz que significa “ferver”; refere-
se a uma arrogância ou insolência exagerada. Esta imagem é da postura presunçosa ou
arrogante da pessoa sem Deus. Esta postura conduz sempre a afronta.
11.3-6 — Estes versículos formam uma série de provérbios que comparam os resultados
da retidão com os da perversidade na vida das pessoas. Assim como se compara o orgulho
a humildade no versículo2, a sinceridade e a perversidade são comparadas no versículo 3.
11.4-6 — Ocasionalmente, os provérbios falam da morte como uma época de recompensa
e castigo. As riquezas não tem qualquer poder sobre isto. Somente a retidão tem sentido e
poder após a morte.
11.7 — Enquanto a pessoa viver, há razão para esperança. Mas se a pessoa viveu sem
Deus, quando sua vida acaba, a esperança também cessa.
11.8 — Neste versículo, talvez também se esteja falando de questões mortais; os
problemas do qual o justo escapa são aqueles que o ímpio terá.
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11.9 — O homem profano pode jogar o nome de seu vizinho na lama com suas palavras,
assim como o justo é liberto pelo conhecimento. Os poderes negativos e positivos da fala
são dos mais impressionantes conceitos destas sentenças.
11.10,11 — Os verdadeiros justos trazem justiça a todos da cidade, e a cidade vivencia a
verdadeira paz — isto e, shalom, que traz o sentido de “ser completo”, “ser cheio” ou “ser
pleno”. Muitos salmistas clamavam pela redenção dos justos e pelo fim do mal (SI 69.22-
28). (Leia a historia de Sodoma e Gomorra em Genesis 18.22-33 para saber o que
acontece com uma cidade em que não há justos.)
11.12 — A paciência e o controle fazem parte da sabedoria. Alguém falto de sabedoria, a
quem “falta coração” (Pv 10.13), despreza o seu próximo. Mas a pessoa que possui
entendimento tem juízo para controlar seu lado passional e ficar calada (Pv 17.28).
11.13 — O amigo fiel encobre os assuntos delicados que o infiel revela. O amor cobre
todas as transgressões (Pv 10.12; Tg 5.20; 1 Pe 4.8).
11.14 — Tanto na Antiguidade como na atualidade, os líderes das nações precisam de
conselheiros. Na verdade, todas as pessoas precisam de conselhos de pessoas sabias e
confiáveis.
11.15,16 — Estes provérbios equilibram um ao outro. O primeiro alerta contra ficar por
fiador ou dar aval a estranhos. O segundo elogia a generosidade, de onde provem a honra.
Uma das maiores virtudes é não ser possessivo. Os membros da igreja do primeiro século
doavam generosamente aos necessitados (At 2.44,45; 4.32-35).
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11.17 — Mais um versículo sobre generosidade fala do bem que volta para o benfeitor. A
avareza, por sua vez, tende a reduzir a pessoa cruel ao mesmo tamanho de seu coração
mesquinho.
11.18 — O trabalho fraudulento provem da iniquidade; o bom trabalho, da retidão. O
justo faz por merecer seu salário; o ímpio apenas rouba.
11.19 — Provérbios como este nos recordam que a busca da retidão é uma questão de
vida ou morte.
11.20 — Os conceitos contrastantes de abominação e deleite de Yahweh (Pv 11.1)
reaparecem aqui com respeito aos valores contrastantes da perversidade e benignidade da
alma e da trajetória do homem na vida. E possível fazer o Senhor sorrir pela forma como
se viveu a vida. Também é possível causar-lhe revolta.
11.21 — A expressão “junte mão a mão” é literal; significa “juntar forças”. Opor-se
coletivamente aos propósitos de Deus é completamente sem sentido (Sl 2.1-4).
11.22 — Uma joia de ouro no focinho de uma porca não teria sentido. Os antigos
israelitas julgavam os porcos sujos e repelentes. A pessoa imoral e comparada a este
animal, não importa qual seja a aparência externa.
11.23 — O termo “desejo”é usado em alguns provérbios num sentido negativo (Pv
13.12,19; 18.1; 19.22), mas aqui ele é usado em sentido positivo. O justo deseja o bem.
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11.24-27 — Estes provérbios precisam ser modelos da nossa postura em relação a riqueza:
deve ser repartida. A mesquinharia pode levar a perda. Já a generosidade tem o efeito
oposto. Ser egoísta é insensatez, porque só cria inimigos e desonra Deus.
11.28 — Este provérbio fala da insensatez de confiar nas riquezas. A segunda parte deste
versículo pode ser às vezes mal-interpretada como se dissesse que a retidão sempre leva
ao sucesso. O provérbio na verdade fala da postura de uma pessoa em relação a riqueza. É
tolice por a confiança em riquezas em vez de confiar em Deus.
11.29 — Certos atos insensatos prejudicam ativamente a família. Eis ai uma estrada certa
para a ruína para herdar o vento.
11.30 — Conforme Provérbio 3.18, a imagem da árvore de vida denota a árvore do jardim
do Éden (Gn 2; 3). A retidão e a sabedoria são formas de recuperar a árvore da vida
perdida.
11.31 — Como os justos vão receber sua recompensa no final (2 Co 5.10), deduz-se que
os ímpios, que desafiam Deus e entram em conflito com Sua obra, certamente serão
julgados.
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Provérbios 12
12.1 — O sábio sabe que a disciplina e a orientação são a sua própria recompensa. Mas
quem abomina ser repreendido é um bruto (literalmente, imbecil).
12.2 — Este versículo fala sobre a repreensão de Deus aos homens de pensamentos
perversos. O Evangelho de João fala de alguém já condenado por ter feito o mal, e que se
agarra propositalmente a escuridão embora a luz já tenha chegado (Jo 3.16-21).
12.3 — Este provérbio fala sobre o fim definitivo do ímpio e do justo. O que seguir a
impiedade terminara em ruína, mas os justos restarão de pé, como a imagem da árvore em
Salmo 1.3.
12.4 — A mulher virtuosa [“mulher exemplar”, na NVI] e a mesma expressão hebraica
empregada no famoso acróstico de Proverbio 31.10-31. O homem que se casa com uma
mulher virtuosa deve agradar-se, porque o caráter nobre dela é uma honraria para ele.
12.5,6 — Devemos estar atentos aos pensamentos que rondam nossa mente, pois são eles
que determinam o que falamos e dizemos. Por isso, no mínimo, precisam não ser
enganosos e perversos. O versículo 6 lembra que as palavras dos ímpios são como uma
tocaia mortal, pois elas provem de pensamentos perversos.
12.7 — Aqui, o poeta mostra o fim dos ímpios e dos justos. Os perversos estão com os
dias contados e serão totalmente derrotados, mas os justos resistem às adversidades e
permanecem eternamente com o Senhor.
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12.8 — Eis aqui um elogio adequado a quem demonstra ser sábio, especialmente quando
usa esta sabedoria para o bem do próximo. Em contrapartida, o ímpio não merece
qualquer louvor, a não ser o desprezo por seu coração desviado.
12.9 — Este é mais um provérbio que usa a comparação com a expressão “melhor é... do
que”.Este versículo ressalta que o homem humilde que trabalha para se sustentar (e não
tem servos) é melhor do que o que exalta a si mesmo achando ser superior aos outros e
não coloca o alimento na mesa. A pretensão e a arrogância destroem o ser humano.
12.10 — O homem bom é sensível para respeitar e cuidar do bem-estar dos animais, mas
o ímpio, mesmo sendo sensível, não se preocupa e é cruel ate mesmo com os seres
humanos.
12.11 — Muitos provérbios destacam o contraste do trabalho duro com a preguiça. O
sábio trabalha duro, enquanto que o tolo perde tempo.
12.12,13 — A perversidade faz mal aos ímpios; a retidão ajuda os justos (v. 14). Isto é
outra forma de dizer que tudo o que o homem semear, isso também ceifara (G1 6.7). A
expressão “a raiz dos justos” também aparece no versículo 3.
12.14 — A satisfação não vem por causa do exotismo ou estranheza de alguma coisa, mas
sim por falar e agir com retidão. Sentir que realizou um trabalho bem-feito e recompensa
suficiente para os sábios.
12.15 — O autoengano do tolo é notório. Ele gosta de estar do lado errado e não procura
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conselhos quando precisa. Afinal, buscar ajuda e admitir uma necessidade, algo que o tolo
nunca é capaz de assumir por ter um ego extremamente inflado.
12.16 — Um homem insensato não tem autocontrole e deixa-se provocar facilmente,
externando afrontas. Cuidado com as palavras descuidadas, pois podem tornar-nos tolos.
Então é aconselhável pensar antes de falar. O rei Davi demonstrava esta preocupação (2
Sm 16:5-12).
12.17 — Justiça e engano são características presentes na testemunha fidedigna e na
mentirosa, respectivamente.
12.18,19 — Muitos provérbios elogiam aqueles que falam cuidadosa e verdadeiramente.
A fala espelha o caráter da pessoa. As palavras do justo são confiáveis e verdadeiras (v.
17), e apaziguam quem as ouve.
12.20 — O modo como as pessoas agem ou se expressam reflete o que há no coração
delas. Os que planejam o mal tem engano no seu coração; os que advogam a paz tem
alegria.
12.21 — O medo do castigo só vale para os ímpios. O justo não tem nada a temer. Apesar
de também enfrentar calamidades, o justo pode sempre contar com a provisão e
intercessão divina para superar os problemas da vida cotidiana. Outra possível
interpretação deste versículo é que nenhum agravo se refira a realidade última [quando os
salvos em Cristo desfrutarão da vida eterna e não mais sofrerão as dores deste mundo], e
não a nossa experiência enquanto vivemos aqui na terra.
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12.22,23 — O termo “abominável” significa ódio extremo, e isto enoja o Senhor (Pv
11.20). Portanto, é melhor ficar em silencio do que ter lábios mentirosos.
12.24 — Qualquer um que procure obter um alto cargo não pode dar-se ao luxo de ser
enganador (v. 11,14).
12.25 — A solicitude [“coração ansioso”, na NVI] perde um pouco de sua força em face
de uma palavra positiva de incentivo. As palavras de encorajamento de Barnabé a Paulo
são um grande exemplo disso (At 4-36; 9.27; 11.2-30; G1 2.1).
12.26 — Nossos amigos ajudam-nos a determinar quem havemos de tornar-nos (1 Co
15.33).
12.27 — O preguiçoso trabalha, mas não termina aquilo que começa. A cura para a
preguiça é ser diligente — seguir em frente até terminar.
12.28 — Adequadamente, o último provérbio deste capítulo fala outra vez em questões de
vida ou morte.
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Provérbios 13
13.1 — O filho sábio ouve a instrução (Pv 10.1,17) e é melhor do que o escarnecedor — o
pior tipo de insensato (Sl 1.1). Alguns tolos são ingênuos e inexperientes, mas abertos a
sugestões; às vezes até os que já são insensatos há tempos repensam sua posição. O
escarnecedor, porém, ri da justiça e não gosta de censuras.
13.2,3 — É destacado aqui o uso apropriado da fala, tornando-se assim um recurso
valioso. Entretanto, quando a fala não é usada de forma adequada, pode gerar contendas e
dissensões. Às vezes, dizer a palavra errada pode até por uma vida em risco.
13.4 — O preguiçoso é consumido por desejos insaciáveis porque nunca são realizados. A
pessoa laboriosa pode conseguir seus objetivos e encontrar a satisfação.
13.5 — A pessoa que aborrece a palavra de mentira não se sente simplesmente mal com
isso, mas a evita a todo custo.
13.6 — Nos provérbios, a justiça é retratada como amiga e a impiedade como inimiga (Pv
11.27). A impiedade nos fere, mas a justiça nos ampara.
13.7 — Há quem se faça rico, não tendo coisa nenhuma. Este paradoxo de a ganância
levar à pobreza e a generosidade conduzir à riqueza é um tema recorrente nas Escrituras
(Pv 11.24; Mt6.19-21). A questão não é quanto dinheiro se tem, mas como é usado.
13.8 — Uma pessoa muito rica pode ter de gastar essa riqueza para pagar um resgate.
Porém, o pobre tem pouca probabilidade de passar um apuro pelo qual tenha de pagar um
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resgate. Boa parte dos pobres poderia querer correr este risco, mas há algum valor de
proteção pessoal na pobreza.
13.9 — Para o antigo israelita, a candeia era a única fonte de luz a noite. Sem ela, a pessoa
não tinha como enxergar o caminho a sua frente (Pv 20.20; 24.20).
13.10 — A palavra soberba (Pv 11.2) não se refere a autoestima ou a uma postura mental
positiva, mas a arrogância e a recusa de adorar a Deus. Este tipo de orgulho é egoísta e
leva a conflitos.
13.11 — Este provérbio descreve as consequências naturais a longo prazo de trapacear.
As pessoas que comprometem sua honestidade para ficarem ricas simplesmente adiam a
necessidade inevitável de trabalhar para ganhar o seu pão. Chega o dia em que sua trapaça
é exposta, momento em que, provavelmente, os colegas honestos já obtiveram algo digno
e duradouro por meio da labuta.
13.12 — A árvore de vida (Pv 11.30) simboliza o alcance de um desejo profundamente
sentido. É como retornar ao jardim do Éden.
13.13 — Uma pessoa pode desprezar a instrução ou reagir com reverencia a ela,
compreendendo que o Orientador maior é Deus. A correção só existe para o bem de cada
um.
13.14 — Seguir a sabedoria é algo que nos conduz direto para a fonte de vida (Pv 10.11).
Se pesquisarmos sobre a antiga Judá, descobriremos que em sua terra árida havia uma
fonte para saciar a sede das pessoas e dos rebanhos. Era uma necessidade — uma fonte de
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vida —, assim como a sabedoria é indispensável ao ser humano. A fonte também servia
como ilustração da salvação (Is 12.1-3).
13.15 — A graça de Deus e de outras pessoas — a boa reputação — é altamente
desejável, porque ela assegura que você não estará só em sua vida. A graça provem do
bom entendimento.Uma boa reputação era a primeira qualificação listada pelos apóstolos
para os diáconos da igreja do primeiro século (At 6.3).
13.16 — Mais um provérbio em que coloca o prudente e o tolo frente a frente. Neste
versículo, destaca-se que o primeiro costuma agir com entendimento, o que é adquirido no
estudo da Palavra, e que o segundo vive segundo a sua insensatez.
13.17 — Naquela época, era comum contratarem mensageiros particulares quando os
serviços postais do governo não estavam funcionando. Esses homens tinham de ser
diligentes e fieis em seu ofício. Só que, durante a viagem, o mensageiro era surpreendido
por imprevistos ou envolvia-se com coisas prejudiciais. Assim, ele se desviava de seu
propósito principal e não cumpria sua missão com êxito, prejudicando quem o contratou.
Por isso, este versículo faz uma retaliação ao mau mensageiro. É preciso ser um
mensageiro fiel, bem-sucedido.
13.18 — Este é mais um provérbio sobre o desprezo a instrução (Pv 13.1). Fala da
pobreza como consequência logica daquele comportamento inconsequente.
13.19 — Poucas coisas agradam tanto quanto a realização de um desejo. Entretanto, a
insensatez dos tolos é tão profundamente enraizada que, se ele abandonar seu caminho
autodestrutivo, sente-se enfermo. O termo usado para esta sensação ruim, “abominação”,
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é o mesmo usado para falar do sentimento do Senhor diante das atitudes tolas em outras
passagens (Pv 11.1).
13.20 — A escolha de amigos (Pv 12.26) é extremamente importante, pois a influência
destes sobre nossa vida é muito mais forte do que a maior parte das pessoas percebe.
13.21 — O mal é inimigo do pecador (v. 6), e não amigo; ele é seu perseguidor, e não
companheiro.
13.22 — No livro dos Provérbios, riqueza é um tópico com muitos desdobramentos.
Dentre as diversas abordagens, vemos que a riqueza pode ser um beneficio da vida reta
(Pv 13.11; 10.22), mas isso não é garantido (Pv 28.6); notamos que ela não pode tornar a
pessoa boa (Pv 11.4), e, no fim, importa menos do que alcançar graça aos olhos de Deus
(Pv 11.28). O homem de bem sabe disso e confia no Senhor para suprir suas necessidades.
Em contrapartida, o pecador tenta amealhar e conservar a riqueza, mas no fim fracassa.
13.23 — Este provérbio aborda a injustiça; observa que alguns pobres até têm bens, mas
estes lhe foram tomados por falta de juízo [falta de justiça, na NVI].
13.24 — Este é o primeiro de vários provérbios sobre disciplina familiar. Quando os pais
disciplinam os filhos com amor, estão copiando o exemplo da correção com amor
exercida por Deus (Pv 3.11,12).
13.25 — A satisfação genuína esta ligada a retidão; o fracasso abjeto está ligado a
perversidade.
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Provérbios 14
14.1 — A mulher sábia edifica a sua casa, ou seja, ela cria um ambiente pacífico para
zelar por sua família.
14.2 — A expressão “teme ao Senhor” contrasta fortemente com “despreza-o”. O amor
pela sinceridade coincide naturalmente com o amor e o respeito pelo mais sincero de
todos, o próprio Deus. Por outro lado, o apreço pela perversidade resulta em ódio por Ele.
O temor ao Senhor como princípio da sabedoria é o tema central de Provérbios (Pv 1.7).
14.3 — Este versículo alerta para o perigo da fala impulsiva e as compensações por se
pensar antes de falar. As palavras do tolo tomam a forma de uma vara pronta para seus
inimigos aplicarem contra ele. Este provérbio recorda que há muita gente que é a pior
inimiga de si mesma.
14.4 — O fazendeiro precisa tolerar um pouco de bagunça no celeiro se quiser criar boi
para ajuda-lo na colheita ou servir de fonte de alimento. Não se trata de uma desculpa para
ser desleixado, mas de um incentivo para trabalhar com afinco.
14.5 — Este versículo reafirma a lei de Deus: “Não dirás falso testemunho contra seu
próximo” (Ex 20.16; Dt 5.20).
14.6 — A imagem do escarnecedor retorna neste versículo (Pv 13.1) como um truque
poético para demonstrar a validade da busca por sabedoria pelos prudentes.
14.7 — O tolo não é um mero incomodo; ele é um risco para a alma. A insensatez não é
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simplesmente desagradável; é um perigo para a vida. Assim, a reação prudente a
insensatez enraizada é evita-la como o perigo que é. Só o tolo corteja o desastre brincando
com a insensatez.
14.8 — Este provérbio põe em contraste as pessoas prudentes e as tolas. Os sábios sabem
o que estão fazendo e por que. Têm motivos sábios para suas ações, baseados no
conhecimento que têm de suas opções. Os tolos, por sua vez, enganam com tanta
frequência que se enrolam na própria mentira. Não sabem para aonde estão indo.
14.9 — A profundidade da estultícia é vista quando o tolo zomba do pecado e de suas
consequências; é a pior forma de autoengano. O sábio, por sua vez, concentra-se em
agradar ao Senhor.
14.10 — Um dos provérbios mais significativos sobre os sentimentos e as reações do
individuo é este: ninguém conhece as dores ou alegrias do outro. A empatia é uma ciência
de aproximação, jamais exata. Ainda assim, devemos recordar as palavras do hino
maravilhoso: “Ninguém sabe..., a não ser Jesus!”
14.12 — Só quando é tarde demais, a pessoa iludida descobre que esta na engarrafada
estrada que leva a morte. Não está implícito que ela tenha sido enganada, mas que ela
confiou demais na sua própria sabedoria, em vez de recorrer, humildemente, a Deus.
Diversos provérbios apresentam sua mensagem em termos de dois caminhos — um que
leva a vida, e outro que conduz a morte (Pv 16.25).
14.13 — Raramente, as emoções mais profundas são simples. Sãoinúmeras as
complexidades da maravilhosa configuração da personalidade humana.
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14.14 — A pessoa que tiver o coração desleal (hb. sug leb) saciar-se-á com os produtos de
suas perversões. Da mesma forma, o homem de bem se saciara com os produtos de sua
sinceridade. O bem triunfara, e o mal será julgado.
14.15 — Uma característica da pessoa ingênua é a facilidade de acreditar em qualquer
coisa. A pessoa prudente tem mais cuidado.
14.16 — A expressão “teme e desvia-se do mal”sugere temor de Deus (v. 2).
14.17 — Tanto os irritadiços [NVI] como os que tencionam o mal são tolos. Os sábios não
se misturam com eles para que não tenham parte em suas loucuras.
14.18 — Os contrastes entre o ingênuo e o prudente (Pv 14.15) continuam neste versículo.
A pessoa simples ou ingênua tem um legado de tolices que ela pensa que vai ajuda-la a
melhorar sua vida. O prudente está como que coroado pelo seu conhecimento; ou seja, a
característica que mais chama atenção nele é a sabedoria que ele compartilha.
14.19 — Dentro das antigas cidades muradas, a área do portão seria normalmente a parte
mais frágil da muralha. Os engenheiros da antiga Canaã elaboraram estruturas complexas
para fortificar este ponto. Controlar o portão da cidade significava controlar a cidade; ser
subjugado pelo portão significava incapacidade de derrotar suas defesas. No fim das
contas, os perversos se submeterão as portas do justo.
14.20 — Este é outro provérbio espirituoso (Pv 14.11; 12.27). Neste caso, fala
ironicamente de como o dinheiro atrai vários amigos.
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14.21 — Jesus assinalou que o mandamento de amar os outros e não odiá-los só é menos
importante que o de amar Deus (Mt 22.39). (Veja Lv 19.13,17, para a lei que adverte o
não desprezo ao próximo.)
14.22 — As duas palavras de devoção mais importantes da Bíblia são beneficência e
fidelidade. Juntas, elas significam fidelidade constante ou lealdade verdadeira. No Novo
Testamento, o equivalente grego desta expressão é traduzido como “graça e verdade” (Jo
1.14) e é usado para se referir ao Senhor Jesus. Quem trama o mal nada conhece destas
virtudes.
14.23 — Falar que vai fazer não é a mesma coisa que fazê-lo. Apenas falar leva a pobreza.
Só o agir leva as vantagens tão procuradas.
14.24 — Este versículo precisa ser balanceado por outros que aconselham mais prudência.
Uma coisa é certa: insensatez só gera mais insensatez, e esta proliferação se dá em alta
velocidade.
14.25 — Não devemos esperar mais de uma falsa testemunha do que a falsidade (Pv
14.5), mas podemos descobrir que a verdadeira testemunha não apenas diz a verdade,
como também pode salvar inocentes.
14.26, 27 — Estes versículos contem a ideia central do livro de Provérbios — o temor do
Senhor (Pv 14-2). O temor de Deus proporciona tanto proteção como fonte de vida (Pv
13.14; 18.10) para as pessoas, uma imagem que relembra o jardim do Éden.
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14.28 — Não há muito a dizer de um rei sem súditos, exceto, talvez, que ele é um
impostor no trono. Quanto maior o povo, maior a glória do rei.
14.29 — Trabalhar para não ter “pavio curto” não é sinal de letargia, mas de sabedoria. O
tolo perde a calma sempre, confirmando sua estultícia.
14.30 — Da mesma forma pela qual um coração sadio garante a saúde do corpo todo, a
inveja pode apodrecer os ossos [que representam a parte física e psicológica].
14.31 — Por vezes, as Escrituras ressaltam que a forma como você trata as pessoas é a
mesma com a qual lida com Deus (Ex 22.22-24; Mt 25.31-46; 1 Jo 4.20).
14.32 — Alguns provérbios descrevem a libertação da própria morte (Pv 11.4). O
ensinamento da vida após a morte não é muito disseminado no Antigo Testamento, mas
também não foi completamente deixado de lado.
14.33 — Este provérbio observa que a sabedoria não é totalmente desconhecida pelos
tolos, porque, de vez em quando, ela se deixa perceber de relance por eles. No entanto, o
verdadeiro lar da sabedoria é junto daquele que possui um coração compreensivo. O
contraste de um relance ocasional de sabedoria com o repouso permanente dela junto a
pessoa que possui entendimento é gritante.
14.34 — Embora cada indivíduo seja o responsável por suas próprias ações, os efeitos
destas se estendem a sua comunidade.
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14.35 — Quando o servo trabalha direito, o rei se agrada extremamente dele. No entanto,
o rei também demonstra raiva e animosidade pessoal contra aquele que o envergonha.
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Provérbios 15
15.1 — Muitas vezes não e pelo que dissemos, mas como dissemos, que damos azo as
reações mais variadas, de aceitação a ira. (Para conhecer as palavras gentis de Abigail a
Davi quando ele estava irado, veja 1 Sm 25.12-34.)
15.2 — Vemos neste versículo outra comparação dos usos contrastantes da fala. Este
provérbio coloca a língua dos sábios em contraposição a boca dos tolos. Um emprega bem
o conhecimento; o outro arrota sua estultícia.
15.3 — O fato de os olhos do Senhor estarem em toda parte, observando tudo, arrepia os
perpetradores do mal e conforta os súditos de Deus (Ec 12.14).
15.4 — A resposta branda do versículo 1 pode ser considerada de língua saudável, e a
palavra dura do versículo 1, perversidade. A primeira é como uma árvore da vida,
devolvendo-nos um pouco do Éden (Pv 3.18; 11.30; 13.12); a outra quebranta o espírito,
recordando a expulsão do Jardim (G n 3.23,24).
15.5 — A pessoa verdadeiramente sábia tira proveito da correção. O termo traduzido
como “prudentemente” na segunda parte deste versículo significa “ser astuto”. A astúcia
pode ser maldosa, mas, aqui, tem o sentido positivo de ter jogo de cintura (Pv 1.4).
15.6 — Vemos aqui que uma casa é uma benção e a outra esta arruinada. O motivo disso é
como a casa foi adquirida e como está sendo usada. A casa do justo contem grandes
tesouros porque esta fundada na sabedoria e no respeito a Deus. Por outro lado, a dos
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perversos está destruída. Estes nunca terão ganho algum que os satisfaça, e perdem o que
já tem por tratarem de forma desonesta.
15.7 — As pessoas revelam quem são através do que dizem. O tolo não consegue deixar
de falar besteiras.
15.8,9 — Ocasionalmente, os provérbios tocam no tema da adoração (Pv 16.6). A
adoração proveniente dos que não são contritos nem humildes é abominável a Deus (P v
ll.2 0 ). De Gênesis 4 a Joao 4, as Escrituras comparam a adoração positiva a negativa (Is
1.11-15). Provérbio 15.9 fala de mais uma coisa abominável ao Senhor: a forma de vida
escolhida pelos ímpios.
15.10 — Este provérbio promete correção molesta [severa lição, na NVI] a pessoa que
deixa a vereda de Deus. Ou seja, disciplina é um meio de correção, e não de punição. Só a
pessoa que aborrece a repreensão — a que teimosamente se recusa a escutar, vez apos vez
— morrerá.
15.11 — Este é um provérbio do tipo “quanto mais” (Pv 11.31), que estampa a claridade
com que o Senhor sonda os corações das pessoas. A palavra hebraica sheol, traduzida
como “inferno”, neste versículo denota o medo do desconhecido (Pv 9.8). Quando
empregada junto a palavra que significa “perdição”, sheol significa o misterioso reino da
morte, uma condição negra e assustadora. Entretanto, a morte não tem mistérios para o
Senhor. E se o reino misterioso dos mortos é conhecido por Ele, certamente o coração das
pessoas lhe é transparente. Argumentos como este, que procedem do grande para o
pequeno, aparecem em ambos os Testamentos.
15.12 — A palavra “escarnecedor” (Pv 14.6) é empregada como recurso poético ou
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comparativo em provérbios para expor com mais clareza o caráter do sábio. Se o
preguiçoso é uma figura cômica em Provérbios, por outro lado o escarnecedor e um vilão.
Ele se deleita em zombar das coisas de Deus (Pv 1.22) e é incapaz de aceitar disciplina
(Pv 9.7), repreensão (Pv 9.8) ou censura (Pv 13.1). Ele não é capaz de achar a sabedoria
(Pv 14.6) e deve ser evitado (Sl 1.1). Seu grande problema é demonstrado por sua reação a
correção. Ele não aprende com ela nem procura obtê-la. O escarnecedor e insensato com
convicção.
15.13 — O objetivo deste versículo é relembrar que o sentimento interior transparece no
rosto da pessoa. Logo, o homem de coração alegre resplandece essa felicidade.
15.14 — A pessoa que tem coração sábio nunca está satisfeita com o que já sabe. A busca
da sabedoria e do conhecimento é uma tarefa para a vida toda — nunca está terminada
nesta vida. Os tolos, porém, que não sabem o tamanho de sua ignorância, continuam a ir
atrás da insensatez.
15.15 — A pessoa de coração alegre de Provérbio
15.13 Retorna neste versículo — um duro contraste entre as percepções das pessoas
quanto ao seu fardo na vida. Para a pessoa alegre, a vida é um eterno banquete. Para o
oprimido, cada dia é uma aflição.
15.16 — Este é outro versículo que usa a expressão “melhor é... do que” (Pv 12.9). Neste
caso, põe em contraste o valor real do pobre com o do rico em matéria de presença ou
ausência de temor ao Senhor (Pv 14.26,27). O rico indolente pode estar tomado de
inquietudes, enquanto que o pobre devoto e capaz de habitar em paz.
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15.17 — O ódio arruína até o banquete mais fino. O amor enobrece até a refeição mais
simples.
15.18 — Uma pessoa iracunda pode criar problemas onde eles não existem; mas a pessoa
que não tem “pavio curto” — que é longânime — apazígua brigas (v. 1).
15.19 — Comparada a estrada do justo, o caminho do preguiçoso é cheio de espinhos,
sempre cercado por dores agudas. Como o caminho é extremamente difícil, o preguiçoso
por vezes hesita trilhar seu caminho esperando que algum dia ele se torne mais fácil de
seguir.
15.20 — Este provérbio é parecido com o quinto mandamento: Honra a teu pai e a tua
mãe (Ex 20.12; Dt 5.16). “Honrar” e “ouvir” os pais é um assunto frequente nos
provérbios de Salomão. O início deste versículo e o mesmo usado em Provérbio 10.1.
15.21 — O problema todo da insensatez é que ela se alimenta de si própria. Onde houver
estultícia, haverá tolos deslumbrados, haverá também um homem de entendimento
andando na direção oposta.
15.22 — Quanto maior a decisão, maior a necessidade de aconselhamento. Até mesmo
tomadores de decisões sábios e experientes — sejam eles pessoas comuns ou governantes
— precisam de conselheiros (Pv 13.10).
15.23 — As palavras têm poder para edificar ou destruir. Salomão escreveu muitos
provérbios sobre as consequências da fala (Pv 15.4; 14.23). Assim como palavras tolas
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podem trazer a derrocada da pessoa (Pv 14-3), da mesma forma a palavra sábia pode
alegrar todos os que a ouvirem. O apóstolo Tiago escreveu sobre o poder destrutivo das
palavras (Tg 3.5,6). O autor de Hebreus também nos exortou a incentivarmos uns aos
outros (Hb 10.24,25).
15.24 — A assustadora palavra “inferno” (hb. sheol, Pv 15.11) é empregada aqui como o
destino do tolo, mas não do prudente e trabalhador. Enquanto que o caminho da estultícia
(do tolo) tem uma inclinação pronunciada, descendo ao abismo, o caminho da vida (do
prudente) conduz para cima, para a glória, e seu destino final e Deus.
15.25 — Deus fará justiça no fim dos tempos. Aos soberbos, o Senhor servirá uma dose
de humildade. Mas a viúva, pessoa completamente indefesa na Antiguidade, Ele
concederá proteção. Em muitos pontos, as Escrituras descrevem Deus como Protetor dos
indefesos (Dt 10.18; SI 68.5; 146.9; Jr 49.11).
15.26 — Diversos provérbios tratam do que Deus abomina (v. 8,9). Maus pensamentos,
por exemplo, enojam o Senhor. Não existem pensamentos ocultos a Ele. Devemos orar
como Davi para que nossas palavras e a meditação de nosso coração sejam aceitáveis aos
olhos de Deus (SI 19.14).
15.27 — O mal do suborno está em perverter a justiça, ser uma distorção que, com o
tempo, semeia a desconfiança e a desonra entre a população.
15.28 — Uma pessoa justa (sabia) pondera como melhor responder; a pessoa impia (tola)
simplesmente emitira alguma tagarelice malévola. O louco atrai mais loucura pelo
comportamento que tem e e levado, por companhias também tolas, a praticar mais
perversidade e loucura.
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15.29 — Deus mantem distância dos ímpios, aproximando-se deles vez por outra apenas
para punir ou fazer justiça. No entanto, o Senhor tem prazer de estar perto dos justos. As
preces destes são sempre bem-vindas.
15.30 — Os efeitos das boas ações e dos sentimentos positivos são apresentados ainda
com mais ênfase neste versículo do que em Provérbio 15.16.
15.31,32 — A disciplina é essencial para o aprendizado. Logo, o instinto natural de
autopreservação é perigoso quando chega a hora de ouvir uma censura necessária. (Para
aprender sobre a relação entre disciplina e sabedoria, consulte Pv 1.7.)
15.33 — Somente o conhecimento não torna ninguém mais sábio. É preciso também o
temor do Senhor. O mesmo vale para a honra, que necessita ser acompanhada da
humildade.
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Provérbios 16
16.1,2 — Estes versículos comparam as limitações humanas com a soberania de Deus. O
homem pode planejar, sonhar e ter esperanças, mas o resultado final vem do Senhor. Em
vez de entregarmos o nosso destino à própria sorte, devemos confiar no Pai. Nosso
amoroso Senhor tem controle de nossas situações aparentemente caóticas, uma questão
apontada pelo versículo 2. Além de ser soberano, Deus é o Juiz dos juízes. Todas as
injustiças deste mundo serão remediadas num glorioso dia.
16.3 — O termo “confia” provem de uma palavra que significa “rolar”. A ideia é rolar
seus problemas na direção do Senhor. Confiar nossas decisões a Deus nos libera da
preocupação com as adversidades (Pv 3.5,6).
16.4 — Este versículo fala sobre a criatividade da obra do Senhor de forma abrangente e
confiante. Depois, inclui até mesmo os ímpios como tendo sido feitos para fins de
julgamento de Yahweh. Assim como o Faraó foi instrumento para o Seu plano de
libertação do povo de Israel e para a justificação de Sua glória, também os ímpios como
um todo estão sob Sua soberania absoluta.
16.5 — Ser altivo de coração significa orgulho, no sentido pejorativo da palavra. Uma
pessoa com orgulho no coração rouba o crédito do Provedor que abençoa com tanta
generosidade e não agradece pela provisão recebida. E por isso que Deus o considera uma
abominação, uma palavra que em todo o livro de Provérbios se refere aquilo que deixa o
Senhor enojado (Pv 15.26).
16.6 — A expressão “pela misericórdia e pela verdade” também pode ser traduzida como
pela devoção genuína. A expressão se purifica provavelmente se refere a uma oferta
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sacrificial, mas realizada com um coração contrito (como em Sl 40.6-8). A palavra
“temor” aqui é empregada para ressaltar que o respeito ao Deus faz a pessoa afastar-se do
mal (Pv 3.7).
16.7 — O deleite de Deus para com o justo não tem limites, beneficiando não só o homem
que teme ao Senhor, como também os amigos deste e, em certos casos, até os inimigos.
Este versículo apresenta uma esperança de paz entre Deus e os homens.
16.8,9 — O livro dos Provérbios costuma falar da riqueza como recompensa da sabedoria
e da virtude (Pv 14.11), mas nem sempre. A justiça é o verdadeiro tesouro.
16.10 — Aqui começa uma seção de versículos sobre a realeza (v. 10-15). Neste caso, a
palavra adivinhação não tem um sentido negativo, pois denota que o rei tomava decisões
inspiradas por Deus para saber como falar e agir no seu reino. Como a nação estava nas
mãos do rei, sua responsabilidade máxima era obedecer a Deus (a reparação de Israel pelo
rei Josias, 2 Rs 22; 23). Ate mesmo o rei precisava submeter-se aos ditames da justiça de
Deus.
16.11 — O peso e a balança justa importam para Deus porque Ele é totalmente
verdadeiro. A falsidade e a desonestidade não são meras trapaças que prejudicam as
pessoas; também ofendem ao Senhor.
16.12 — Um rei justo imita o exemplo do divino Yahweh. Um rei perverso não respeita
nem obedece a voz do Senhor e, portanto, não possui.
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BIBLIOGRAFIA
Fonte: http://bibliotecabiblica.blogspot.com.br/2011/11/teologia-do-livro-de-
proverbios.html
http://bibliotecabiblica.blogspot.com.br/
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