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8/7/2019 Codato, Adriano; BONAMIM, Giovana. Patrimnio histrico e dominao simblica: o jogo entre centralizao e regi
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34 Encontro Anual da Anpocs
ST13 - Grupos dirigentes e estruturas de poder
Patrimnio histrico e dominao simblica:
o jogo entre centralizao e regionalizao no universo
das elites durante o Estado Novo
Adriano Codato (NUSP/UFPR)
Giovana Bonamim (NUSP/UFPR)
Caxambu MG
2010
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Resumo
O paper pretende explicar a funo poltica da poltica de tombamento de bens
culturais pelo Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (SPHAN) durante
o Estado Novo. Partimos da suposio de que a tcnica de definir, catalogar e por
sob a guarda do Estado bens do patrimnio histrico foi orientada pela poltica de
concentrao de poderes no nvel federal e pelo desejo de redefinir a autonomia das
elites regionais. Nesse sentido, o SPHAN teria promovido, fora, a incorporao
material e simblica das classes dirigentes estaduais por meio da incluso de seus
bens regionais ao patrimnio histrico e artstico nacional, em vias de constituio. A
partir da sistematizao de dados coletados diretamente nos processos da agncia,analisamos as correlaes entre o posicionamento poltico das elites em relao ao
governo central, a frequncia e a natureza dos tombamentos.
Palavras-chave: patrimnio histrico; elites; Estado Novo.
Adriano Codato professor de Cincia Poltica na Universidade Federal do Paran
(UFPR). Editor da Revista de Sociologia e Poltica(www.scielo.br/rsocp), tambmum dos coordenadores do Ncleo de Pesquisa em Sociologia Poltica Brasileira
(NUSP) da UFPR (www.nusp.ufpr.br).
Giovana Bonamim possui graduao em Cincias Sociais pela Universidade
Federal do Paran (2008) e atualmente mestranda em Cincia Poltica pela
mesma instituio.
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Introduo
O objetivo deste paper apresentar a funo poltica da poltica de
tombamentos de bens culturais pelo Servio do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional (SPHAN) durante o Estado Novo (1937-1945), sob a direo de Rodrigo
Melo Franco de Andrade. Partimos inicialmente da suposio um tanto genrica
de que a tcnica de definir, catalogar e por sob a guarda do Estado bens do
patrimnio histrico e artstico foi orientada pela poltica de concentrao de poderes
no nvel federal e pelo desejo de redefinir a autonomia das elites regionais. J
prevista na Constituio de 1934, a proteo aos bens histricos e artsticos
somente se realizou com a expanso da mquina estatal e das funes de governo
da decorrentes promovida pelo governo do Estado Novo. O fato decisivo aqui foi a
criao do SPHAN.
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Inicialmente concebido por Mrio de Andrade a pedido de Gustavo Capanema
e finalmente formatado nos moldes do decreto-lei n. 25 de 30 de novembro de
1937, o Servio foi responsvel, a partir de ento, pela classificao sistemtica dosbens histricos e artsticos nacionais. Menos de trs meses aps o golpe de 10 de
Novembro a agncia inicia definitivamente seus trabalhos e promove o primeiro
tombamento em 19 de fevereiro de 1938. At o final do ano quase duas centenas de
aes como essas seriam realizadas.
Essa poltica, como todas as outras decises de Estado desse perodo, eram
determinadas pelo desejo de centralizao poltica e administrativa. Ela vinha
disfarada sob o palavrrio da unidade nacional e, em termos mais amplos, nopode ser entendida se no se leva em conta seus fins. Explicitamente, o Estado
Novo tratava de reordenar o territrio, dando ao federalismo um novo significado1 e
uma nova utilidade poltica; de suplantar as identidades particulares, como lngua,
smbolos e tudo o que no se referisse ao Brasil; e de unificar politicamente o Pas
sob a direo e o comando do Presidente ditatorial (o Chefe Nacional , na
linguagem do regime). Implicitamente, a pretenso era refazer a hierarquia poltica
entre os grupos de elite, enquadrando os imperialismos estaduais, conforme o
peculiar vocabulrio dos idelogos. Para tanto, diversos mecanismos, atravs de um
sem-nmero de aparelhos, foram acionados depois de 1937. O SPHAN foi um deles
e o estudo das decises iniciais dessa elite burocrtica permite ver, concretamente,
a racionalidade peculiar do Estado ditatorial em ao.
A fim de compreender os tombamentos, que poderiam ocorrer tanto por via
consensual como por via no consensual, coletamos os dados diretamente no
Arquivo do IPHAN, na cidade do Rio de Janeiro. Isso permitiu um contato direto coma ntegra dos processos de tombamentos realizados durante o Estado Novo. Nosso
objetivo inicial era encontrar evidncias sobre potenciais conflitos enfrentados pela
direo da agncia na incorporao de bens simblicos regionais ao patrimnio
nacional. Essa questo, era o que se supunha, possui um claro sentido poltico
porque envolve um controle estatal sobre a propriedade privada regional. Os
conflitos e consensos entre os agentes envolvidos, que da decorrem, so expressos
1 Para as sutilezas desse debate, ver Diniz Filho e Bessa, 1995.
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por meio de negociaes diretas entre proprietrios e a agncia, em documentos
anexados aos processos de tombamento de cada bem.
A coleta ocorreu do seguinte modo: fizemos a leitura completa dos 180primeiros processos de tombamento (de um total de 437 processos realizados entre
1938 e 1945) para apreender de que modo se davam as negociaes em torno das
decises da agncia. Alm disso, analisamos o universo total de processos (437)
para determinar quantos poderiam ser classificados como conflituosos (77
processos). Desses a grande maioria foi tambm analisada2.
Aps a leitura desses 180 documentos, observou-se que os processos que
motivavam os conflitos mais significativos encontravam-se arquivados oucancelados. Alm dessas duas possibilidades, conforme previsto no artigo oitavo
do decreto que criou o SPHAN, em caso de recusa do proprietrio em tombar o
bem, realizar-se-ia um tombamento compulsrio. Caso mais frequente, os casos de
tombamento foroso tambm forneceriam evidncias para a ao autoritria do
Estado varguista contra os interesses particulares de elites regionais. Portanto,
processos cancelados, arquivados e tombamentos compulsrios representam aqui
situaes onde h conflito explcito. Durante o perodo do Estado Novo, o SPHAN foiresponsvel por 41,74% dos processos de tombamento realizados pelo Estado at
2009. 81,16% deles se referem a tombamentos em que o proprietrio consentiu ao
processo, enquanto 17,84% deles contm algum tipo de conflito que impedia que o
tombamento fosse realizado com o consenso do proprietrio.
A partir do levantamento de dados acerca da localizao, natureza do beme
data de tombamento de todos os itens colocados sob a guarda do Estado no
perodo, localizamos do universo de 437 processos, 77 casos conflitantes3. Fizemosuma leitura e uma anlise interpretativa de cada um deles, o que permitiu apreender
alguns sinais sobre o jogo entre centralizao e regionalizao no universo das
elites durante o Estado Novo e, de modo mais especfico, duas coisas: os limites da
2 Quatro processos desapareceram dos registros do SPHAN.3 A determinao de casos conflitantes ocorreu da seguinte maneira: os bens tombadoscompulsoriamente puderam ser encontrados mediante pesquisa do metadado na basede dados do Arquivo do IPHAN. Os bens arquivados ou cancelados no esto contidos na sequncianumrica do catlogo de bens tombados pelo IPHAN. O salteamento de nmeros de processo indicaque o nmero ausente um caso de tombamento arquivado ou cancelado.
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ao burocrtica da agncia frente a setores/indivduos contrrios aos tombamentos;
a aderncia de determinados setores sociais e regies aos propsitos do SPHAN.
I. REVISO DA LITERATURA
Estudos que tm o SPHAN como objeto de pesquisa so predominantemente
exteriores s Cincias Sociais e Cincia Poltica em especial. Essas investigaes
so desenvolvidas prioritariamente nas vrias reas de conhecimento que compem
as cincias humanas. No campo da arquitetura, Cavalcanti (2006) apresenta o
SPHAN como o lugar privilegiado dos arquitetos modernistas, de onde puderam
escrever a histria da arquitetura nacional, agindo como elite intelectual brasileira.
A propsito, Miceli j havia notado que o Servio do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional constituiu um captulo da histria intelectual e institucional da gerao
modernista, um passo decisivo da interveno governamental no mbito da cultura e
o lance acertado de um regime autoritrio empenhado em construir uma identidade
nacional. Mas possivelmente a pista mais interessante que sugere outra.
Segundo ele, o Servio tambm um captulo pouco conhecido mas prestigioso da
histria contempornea das elites brasileiras justamente porque se incumbiu defazer o inventrio, arrolado sua imagem e semelhana, dos grandes feitos, obras
e personagens do passado dessa classe dirigente (Miceli, 2001, p. 360). No campo
da histria destacamos as contribuies de Chuva (2003; 2009), que apresentam
importantes informaes sobre a organizao e os funcionrios da agncia, e de
Oliveira (2008), que reconstri a histria das polticas patrimoniais no Brasil.
A percepo de conflitos que envolvem a poltica do SPHAN notadamente
central nos trabalhos de Gonalves (1996), Rubino (1991), Fonseca (2001) e Velho
(2006), que apresentam as principais contradies e os desequilbrios regionais das
polticas patrimoniais brasileiras em suas diversas fases por meio da performancedo
Servio. Estudos de caso, como o da atuao do SPHAN em So Joo Del Rei
(Flores, 2007) e das representaes do Brasil promovidas pela agncia (Rubino,
1991) oferecem evidncias convincentes de que as negociaes para o tombamento
de determinados bens encerravam conflitos importantes. Sobre a atuao do
SPHAN no estado de So Paulo, destaca-se a contribuio de Gonalves (2007),
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que se debrua sobre os aspectos tcnicos das restauraes realizadas na regio, a
partir do estudo detalhado de cinco casos entre 1939 e 1975. Kersten (2009) discute
o conceito de patrimnio cultural por meio da apresentao dos processos detombamento dos bens de patrimnio paranaenses. Todavia, nenhuma dessas
anlises procurou tratar das decises do Servio do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional a partir do problema das relaes entre grupos de elites ou da lgica da
constituio do espao nacional (os estudos disponveis procuram reconstruir a
poltica de patrimnio como narrativa ou discurso estatal sobre a brasilidade).
Esses dois grandes temas remetem para o projeto central das elites dirigentes nesse
perodo: a construo da capacidade estatal4.
A capacidade poltica da Unio os aparelhos e as instituies nacionais do
Estado brasileiro era nesse contexto um assunto incontornvel. Francisco Campos
ressaltou que cinquenta anos de Constituies liberais, cinquenta anos de vigncia
de um falso sistema representativo, cinquenta anos cultuando o mito do sufrgio
universal e outras miragens parecidas teriam produzido um Estado que no passava
de uma nuvem de palavras. As instituies polticas brasileiras, segundo ele, eram
inadequadas at ao prprio espao territorial sobre o qual se deveria exercer a
autoridade do governo. Com o Estado Novo e seu conjunto de aparelhos, essa
fantasmagoria deixaria de ser uma abstrao para se tornar um fato poltico, e a
poltica dos estados, graas ao Estado autoritrio, seria enfim substituda pela
poltica da Nao. Mas, note: Nao no apenas nmero e espao: preciso
organizar o nmero e articular o espao, pr forma e dar Nao o sentimento de
que ela constituiu um s corpo e uma s vontade (Campos, 1938, pp. 11 -12). O
SPHAN poderia ser, nesse sentido, um dos seus instrumentos. Ele contribuiu para a
4 A expresso, proposta por Theda Skocpol, rene e designa certas ideias particularmente teis paraesse estudo. A noo de capacidade estatal sugere que preciso, contra as explicaessocietalistas, conceber o Estado como um ator, isto , assumir que os agentes estatais so capazesde formulare perseguir intenes e objetivos definidos a partir de suas prprias prioridades (e nocomo meras respostas a demandas sociais). J a capacidade de implementarefetivamente essaspreferncias nunca absoluta, mas est condicionada pela relao concreta entre os agentesestatais (e seus recursos) e os agentes no-estatais (e seus interesses). Ela sugere tambm que preciso imaginar o Estado no s como um ator, mas como um fator determinante: as configuraesorganizacionais do Estado, ou mais simplesmente, suas estruturas institucionais influenciam de formadecisiva as ideias, os negcios e as competncias polticas dos diferentes grupos sociais. VerSkocpol, 1985.
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organizao do poder do Estado em bases de fato nacionais, cooperando para
viabilizar a capacidade estatal.
II. A POLTICA DE TOMBAMENTO: OS MECANISMOS DO PROCESSO
Na apresentao do primeiro nmero da Revista do SPHAN, o diretor da
agncia, Rodrigo Melo Franco de Andrade, defendeu a necessidade de que
houvesse uma ao sistemtica e continuada com o objetivo de dilatar e tornar
mais seguro e apurado o conhecimento dos valores de arte e de histria do nosso
pas (Andrade, 1937, p.32). Essa ao, metdica e continuada, promovida por meio
de processos de seleo dos bens de patrimnio regionais, teve como primeiro
efeito o reforo simblico das hierarquias polticas. As escolhas, medida que
reforavam a raridade de determinados edifcios e a urgncia de sua incorporao
para a formulao de um patrimnio nacional coeso, acentuavam, segundo Lamy
(1993, p.51) o grau de separao [desses bens] em relao massa de outros
bens (no classificados). Nesse sentido, os processos de definio burocrtica do
que deveria ser ou no patrimnio nacional determinavam (e revelavam) um
sistema de oposio de interesses econmicos e polticos (Lamy, 1993, p.51)
muito mais complexo do que uma simples organizao e classificao burocrtica
dos itens patrimoniveis. Esses processos encerram seja uma oposio seja uma
colaborao entre interesses econmicos e polticos regionais e centrais.
O artigo 17 do Decreto-Lei 25/1937 estipulava que As coisas tombadas no
podero, em caso algum, ser destrudas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prvia
autorizao especial do Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, ser
reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinquenta por cento do
dano causado. Portanto, uma vez tombado um imvel, seu proprietrio deve mant-
lo nas exatas condies em que estava no momento em que foi catalogado. O
prefeito de Diamantina (MG), em resposta notificao do SPHAN que anuncia o
tombamento nada mais nada menos do que do conjunto arquitetnico da cidade,
dirige ao rgo os seguintes questionamentos:
a) Poder o Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional especificar e definir
os bens, nesta cidade, ora levados a tombamento? b) So permitidas, nesta cidade,
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as construes em estilo moderno bungalows, chalets e semelhantes? c) Qual o
modelo-padro a ser obedecido e aconselhado nas futuras construes? d) Toda e
qualquer reconstruo depende de planta e deve ser feita sem alterao de estilo? e)
Nas construes antigas permitida a colocao de telhas francesas? f) Qual o tipode esquadrilhas a ser adotado em construes ou reconstrues? g) Em caso de
reconstrues, podem as casas comerciais colocar portas de ferro5.
Levado ao p da letra, o decreto simplesmente impedia quaisquer alteraes
propostas pelo proprietrio que no fossem aprovadas pelo Conselho Consultivo,
mediante apresentao de laudo tcnico de especialistas do SPHAN. Cabia tambm
ao proprietrio notificar ao SPHAN a transferncia do imvel, quando ocorresse, no
havendo todavia nenhum tipo de restrio relativa compra, venda ou obteno pormeio de herana.
Ainda que o ato de ter um imvel tombado consolide entre os proprietrios a
conscincia de pertencimento a uma cultura distintiva (Lamy, 1993, p.50), e tenha o
efeito de transformar sua propriedade particular num fator a mais do projeto de
integrao da comunidade nacional brasileira, nem todos os donos estavam
interessados na incorporao de seus bens aos patrimnio histrico e artstico.
Essas situaes de conflito, conforme j apontamos, sero resolvidas de doismodos: ou o tombamento ocorre compulsoriamente; ou o processo arquivado ou
cancelado.
O diagrama a seguir estabelece de maneira mais clara o fluxo decisrio da
agncia. Consideramos que os processos que tiveram como resultado a
impugnao, o tombamento compulsrio, o arquivamento do processo ou o
cancelamento do tombamento so evidncias da ausncia de consenso entre os
proprietrios e os burocratas6.
Os processos eram abertos com o envio de uma notificao (1) ao
proprietrio do bem, solicitando um posicionamento no sentido de impugnar (2.1) ou
5 Em carta anexada ao Processo n. 64-T-38, datada de 8 de abril de 1938.6 Consideramos tambm a ausncia de resposta do proprietrio como uma deciso desfavorvel aotombamento. Em alguns casos a falta de satisfaes era um expediente para prolongar o tempo emque o imvel no se sujeitaria s restries impostas pelo tombamento demolio ou reforma para que o mesmo fosse posto abaixo ou renovado e assim perdesse as caractersticas originais quejustificavam o tombamento.
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anuir (2.2) ao tombamento. No caso de anuncia, o tombamento se realizava
mediante inscrio do bem no livro de tombo (a). Em caso contrrio, o pedido de
impugnao seria avaliado (2.3) pelo Conselho Consultivo do SPHAN, que decidiriao problema a partir de pareceres tcnicos realizados por assistentes especializados
(em especial arquitetos e historiadores da arte, conforme a tabela 1.2). Apesar de
ser oferecida ao proprietrio a possibilidade de impedir o tombamento, poucos
pedidos de impugnao foram considerados. Desse modo, essa consulta era um
eufemismo para notificar o tombamento autoritrio do edifcio.
Por outro lado, quando no havia resposta do proprietrio (3) os bens
poderiam ser tombados compulsoriamente (c) ou o processo arquivado (d). Ainterveno da Presidncia da Repblica (4) com seu poder de vetar o tombamento
era o nico mecanismo para impedir o curso do processo ou mesmo torn-lo sem
efeito, mesmo com deciso favorvel do Conselho Consultivo da agncia.
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Imagem 1 - Sequncia obrigatria dos processos de tombamento de bens histricos
nacionais pelo SPHAN
No caso do tombamento de uma casa na Praia do Caju, no Rio de Janeiro,
Belmiro Rodrigues e Cia. (importadores de carvo de pedra, empresa fundada em
1870), solicita diretamente ao Presidente Getlio Vargas fazer tornar sem efeito a
deciso do SPHAN sobre o imvel. Lucio Costa, Paulo Thedim Barreto e Alcides da
Rocha Miranda so designados para a vistoria, optando por manter a deciso do
Servio do Patrimnio. Gustavo Capanema e a Presidncia defendem ento a
continuidade do processo de tombamento. O despacho presidencial questionadopela empresa sob a alegao de que no h interesse pblico envolvido na questo,
somente interesses particulares. O tombamento ocorre em 20 de abril de 19387.
7 O tombamento do Campo de Sant'Anna, na cidade do Rio de Janeiro, foi cancelado por despachodo Presidente da Repblica assinado em 8 janeiro 1943.
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III. OS DECISORES: OS AGENTES DO SPHAN
Nos anos 1930, grande parte dos intelectuais animavam ou estavam
indiretamente vinculados s discusses sobre identidade nacional. A questo
fundamental era promover a organizao da Nao brasileira (Oliveira, 2008; Chuva,
2003; Fonseca, 1996). Convidados a trabalhar no governo do Estado Novo, esses
intelectuais so empurrados a assimilar as regras do jogo burocrtico e, em
especial, do jogo poltico. Eles acatam tambm a prioridade do imperativo nacional
e aderem, explicitamente ou no, a uma viso hierrquica da ordem social. Assim,
apesar de suas discordncias, convergem na reivindicao de um status de elite
dirigente (Pcaut, 1990, p.14). Atuando como autntica elite dirigente e capaz deestabelecer, agora efetivamente, os laos de coeso de uma cultura brasileira, os
intelectuais do SPHAN oscilaram entre a burocracia, a poltica, as artes e a
construo de um campo acadmico de pesquisas em patrimnio ou folclore.
Promoveram assim o registro legtimo sobre o que se deveria considerar patrimnio
nacional nos planos material e simblico e nos campos econmico, poltico e
artstico. Conforme Miceli, encontram-se a (sobre)representados os espcimes
caractersticos de todas as fraes da classe dirigente brasileira, em seus ramos
pblico e privado, leigo e eclesistico, rural e urbano, afluente e decadente (Miceli,
2001, p. 360). Uma anlise mais detida dos dados informar, contudo, que havia
uma preferncia da agncia por igrejas no meio urbano. Dos bens privados (a
grande maioria), situava-se nas cidades. Os bens pblicos eram minoria e diziam
respeito quase que completamente a edificaes militares.
O artigo primeiro do decreto-lei que cria a agncia define vagamente
patrimnio histrico e artstico nacional como o conjunto de bens mveis e imveisexistentes no Pas e cuja conservao seja de interesse pblico, quer por sua
vinculao a fatos memorveis da histria do Brasil, quer por seu excepcional valor
arqueolgico ou etnogrfico, bibliogrfico ou artstico (Decreto-lei 35/1937). Com a
finalidade de incorporar itens relevantes histria material brasileira, a agncia
seleciona bens de patrimnio regionais que so prioritariamente imveis e, em
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menor grau, colees de museus privados8. Essa seleo estava a cargo dos
tcnicos e conselheiros do SPHAN, em colaborao com representantes locais que
promoveriam a indicao das unidades para o tombamento.Alguns estudos (Gonalves, 2006; Chuva, 2009) destacam, com base na
anlise da legislao, a subjetividade presente nos processos de escolha e de
definio dos bens de patrimnio nacional. Sem critrios objetivos e estritos que
orientassem rigorosamente a ao dos agentes do SPHAN, as decises sobre os
tombamentos, defendem os autores, dependeriam exclusivamente da capacidade de
convencimento dos envolvidos nos processos de tombamento, especialmente
aqueles que compunham o Conselho Consultivo da repartio.Apesar de ser composto prioritariamente por funcionrios nascidos no Rio de
Janeiro, houve um esforo por parte da direo em garantir uma representao
regional mnima numa instituio que afinal se pretendia nacional. De modo
semelhante, a maioria dos funcionrios atuava como historiador ou historiador da
arte, mas outras atividades profissionais, como escritores, arquelogos e
antroplogos, estavam representadas9. Apesar da concentrao de historiadores e
de cariocas na agncia, Silva considera que havia certa heterogeneidade nacomposio do quadro funcional do SPHAN. Essa heterogeneidade seria
responsvel pelo no pertencimento institucional do SPHAN a nenhum campo
especfico: ou somente poltico, ou somente artstico, ou s acadmico (Silva, 2010,
p. 7).
8 Como o caso da coleo de arte presente no Museu David Carneiro, em Curitiba, em que o
tombamento da coleo que compe o museu est includa no processo de tombamento do imvel(Processo n. 40-T-38). A Coleo Etnogrfica de Porto Alegre, de propriedade do Hotel Guaba, tombada em fevereiro de 1938, mas tem seu processo cancelado (Processo n. 93-T-38) assim que aColeo adquirida pela Secretaria de Estado dos Negcios da Educao e Sade Pblica do RioGrande do Sul, em data no informada. Outro caso semelhante ocorre no Rio de Janeiro, em que oMuseu Nacional adquire a coleo arqueolgica Balbino de Freitas de Conchais do Litoral Sul emabril de 1938 (Processo n. 77-T-38)9 O estado de origem e a especializao profissional constituem duas variveis decisivas para seentender a natureza e o contedo das decises do SPHAN. Ser que se pode estabelecer umacorrelao direta entre a quantidade de bens tombados por estado e a naturalidade dos tcnicos?Ser que essa varivel se sobrepe ou se submete influncia exercida pela formao profissional epela vinculao a um ou outro campo do conhecimento sobre essas decises? Por exemplo: amaioria dos escritores so escritores regionalistas. O nico socilogo era Gilberto Freyre. E amaioria dos historiadores, incluindo historiadores da arte, do Rio de Janeiro ou de Minas Gerais.
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Tabela 1.1. Frequncia do estado ou pas
de origem dos Conselheiros e Tcnicos
do SPHAN
Estado/pas de Origem Freq.
Alagoas 1
Amazonas 1
Bahia 4
Cear 1
Esprito Santo 1
Gois 0
Maranho 1
Mato Grosso 0
Minas Gerais 12
Par 3
Paraba 0
Paran 1
Pernambuco 9
Piau 1
Rio de Janeiro 17
Rio Grande do Norte 0
Rio Grande do Sul 4
Santa Catarina 1
So Paulo 6
Sergipe 0
No informado 7
Alemanha 4
Estados Unidos 1
Portugal 1
Rssia 2
Total 77
Tabela 1.2 Frequncia da atividade
profissional dos Conselheiros e Tcnicos
do SPHAN
Atividade Profissional Freq.
Advogado 1
Antroplogo 5
Arquelogo 1
Arquiteto 11
Artista 3
Engenheiro Militar 2
Escritor 7
Historiador 23
Historiador da Arte 20
Jornalista 2
Restaurador 1
Socilogo 1
Total 77
Fonte: Chuva, 2009, anexo B.
Notou-se tambm a ocorrncia de conflitos importantes entre os funcionrios.
Segundo Santos, havia duas tendncias notveis entre os agentes, dividindo-os
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entre os defensores da arquitetura moderna e os advogados da arquitetura colonial.
O passadismo manifesto dos coloniais, grupo representado por Jos Marianno Filho,
oposto ao grupo modernista liderado por Lucio Costa
10
, provocava intensas disputasinternas que continuavam inclusive atravs da imprensa. Entre ambos, o barroco
consenso como patrimnio nacional, tendo em vista seu rendimento simblico da
relao passado-futuro (Santos, 1996, p.24). Ou mais exatamente: o lugar
privilegiado que a arquitetura barroca deve ocupar fornece nao uma espcie de
lugar de civilizao em que se realiza a histria nacional, forjando assim uma
memria coletiva comum a todos os brasileiros. Essa memria inventada e
simbolizada pelo barroco excluir da histria patrimonial da nao todos os no-
brancos, no-lusitanos e no-catlicos (cf. Rubino, 1996, p. 103).
A despeito dessa disputa interna, o SPHAN se estabeleceu como um lcus ao
mesmo tempo burocrtico e acadmico sobre patrimnio (cf. Santos, 1996, p.77).
Suas concepes so promovidas e difundidas por meio da Revista do SPHAN, que
atua como um mecanismo de transmisso e legitimao das pesquisas realizadas
pela agncia estatal. Efeito editorial da concorrncia com outras instituies que se
ocupavam do patrimnio, entre as quais se destaca o Museu Nacional, a Revista do
SPHAN funcionou igualmente como instrumento de demonstrao de competncia
intelectual que sustentava todas as prticas que envolviam os processos de registro
dos bens de patrimnio durante o regime autoritrio do Estado Novo. Por isso,
apesar dos inmeros documentos internos e cartas apontarem para a existncia de
resistncias regionais, a Revista do SPHAN no explicita, no divulga e no
reproduz conflitos, salvo quando justifica, em termos bem gerais, a necessidade de
proteo ao patrimnio histrico nacional diante da expanso da industrializao e
da consequente transformao das cidades.
Essa atividade editorial era um efeito direto dos processos de tombamento.
Em especial, efeito das avaliaes e vistorias tcnicas e dos estudos realizados
acerca do patrimnio nacional. Na Revista do SPHAN eram ento publicadas
informaes importantes que sintetizavam e justificavam as decises tomadas pelo
10 Lcio Costa garantiu o tombamento quase imediato da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte,quatro anos aps o fim de sua construo em 1948.
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Conselho Consultivo, a incluso ou no de um determinado prdio ao patrimnio
nacional, etc. Essas decises se baseavam em pareceres tcnicos e na posio
pessoal de cada Conselheiro em relao ao caso em questo. As reunies doConselho Consultivo eram marcadas por um ethostecnocrtico e especializado cuja
retrica e atitude eram sustentadas a partir de categorias universalizantes como
bem pblico e at mesmo cidadania. O proprietrio que aquiescesse com a
determinao do SPHAN colaboraria (materialmente) para a inveno da Nao a
partir do Estado.
IV. NEGOCIAO SIMBLICA INTRA-ELITES
Imposto pela deciso dos agentes do SPHAN, o tombamento impedia a
demolio do imvel e impunha grandes restries a reformas e restauraes.
Houve casos de proprietrios que se opuseram ao processo, enquanto outros
aderiram imediatamente, apesar das restries que seu efeito implicava sobre o bem
particular. O principal constrangimento reclamado pelos proprietrios dizia respeito
proibio da realizao de restauraes e reformas sem que o SPHAN as
autorizasse formalmente. Essa permisso era fornecida mediante a realizao deuma vistoria tcnica a partir da visita de um agente competente para avaliar a
necessidade das modificaes. Em caso de alteraes fsicas do bem tombado sem
autorizao expressa da agncia, estava prevista no Decreto-lei que criou o SPHAN
a imposio de uma multa ao proprietrio no valor de 50% do valor do dano imposto
ao bem.
O mapa a seguir d uma viso espacial da distribuio de bens de patrimnio
tombados pelo SPHAN no perodo ditatorial. Ele refere-se ao total de 437 processos.
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Imagem 2. Bens de patrimnio tombados pelo SPHAN por estado entre 1938 e 1945
O SPHAN tombou 437 bens durante o Estado Novo. Como lembra Rubino,
no h nesse universo meno a monumentos relacionados histria republicana,
tampouco historia de negros e de populaes indgenas (1991, p.129). Alm disso,
incorporao de itens ao patrimnio no equilibrada entre todas as regies
brasileiras. No sentindo de apreender possveis hierarquizaes decorrentes de uma
atuao marcadamente desigual da instituio frente aos bens regionais,
contabilizamos as seguintes cifras: do total dos itens tombados durante a ditadura,
116 deles o foram no estado da Bahia, 103 no Rio de Janeiro e 63 em Minas Gerais,
o que totaliza 64,45% dos bens considerados patrimnio brasileiro no perodo.
Apesar da grande concentrao em trs estados, dois outros tm melhor
representao que a mdia nacional: enquanto 11 estados brasileiros tm menos de
15 bens tombados cinco deles tiveram at cinco tombamentos , Sergipe e
Pernambuco tm 21 e 41 itens postos sob a proteo do Estado, respectivamente.
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Conforme a Tabela 3, trs estados brasileiros no foram objeto dessa poltica: Acre,
Amazonas e Mato Grosso.
Tabela 3 - Quantidade de bens tombados porestado e regio11 durante o Estado Novo (Fonte:
IPHAN,2009)
Regio Sul 159
Distrito Federal/Rio de Janeiro 103
Paran 11
Santa Catarina 5
Rio Grande do Sul 13
So Paulo 27
Regio Centro 64
Mato Grosso 0
Minas Gerais 63
Gois 1
Regio Este 141
Esprito Santo 4
Bahia 116
Sergipe 21
Regio Nordeste 57
Alagoas 1
Cear 1
Paraba 14
Pernambuco 41
Rio Grande do Norte 0
Regio Norte 8
Acre 0
Amazonas 0
Par 8
TOTAL 437
11 Segundo as unidades federativas e regies brasileiras vigentes em 1940.
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possvel afirmar que a maioria absoluta dos tombamentos consensual,
diante do baixo nmero de bens tombados compulsoriamente ou arquivados durante
o Estado Novo (64 de 486 bens, o que equivale a 13,16% deles). Apesar disso importante notar que foi durante esse intervalo reduzido que ocorreu a maior
quantidade de tombamentos conflituosos: 68,75% dos tombamentos arquivados ou
cancelados at a atualidade ocorreram no perodo de 1938 a 1945.
1. Tombamentos por via consensual
Entre os proprietrios que aderiram imediatamente ao tombamento nota-se
um especial interesse da Igreja Catlica, que raramente se ops aos processos. No
caso dos processos conduzidos na Bahia, a maioria se refere a imveis de
arquitetura religiosa. No caso do estado de Pernambuco, 34 dos 41 bens tombados
so edifcios religiosos.
Um dos exemplos do entusiasmo da Igreja Catlica diante do tombamento da
Igreja Abacial do Mosteiro de So Bento em Olinda, Pernambuco, d bem a medida
do que ser quer dizer. O responsvel pelo patrimnio, Dom Bonifcio Jansen, em
resposta notificao do SPHAN, declara:
"Nada tenho a opor para impugnar os referidos tombamentos. Pelo contrrio aplaudo
o ato do Governo, ato h muito necessrio para conservar os monumentos que
nossos antepassados com tantos sacrifcios, tanto esprito de religio e tanto bom
gosto construram e nos deixaram como preciosa herana, digna de toda estima e
venerao"12.
O mesmo religioso, com relao ao tombamento da Igreja Nossa Senhora dos
Prazeres, tambm em Olinda, escreve ao SPHAN em 25 de maro de 1938: Certo que a ordem beneditina far todo o possvel para auxiliar o Governo na execuo de
um decreto-lei to patritico como oportuno e at necessrio13.
Nota-se tambm a aderncia do Irmo Prior Desembargador Lyderico dos
Santos Cruz, responsvel pela Igreja e Casa da Ordem Terceira do Carmo, em
12 Processo n. 50-T-38.13 Processo n. 5-T-38.
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Salvador. enviado para ser anexado ao processo o discurso proferido pelo Irmo
Miguel de Lima Castello Branco, na solenidade de comemorao do terceiro
centenrio da Ordem a proprietria do bem , em 19 de outubro de 1936:No Brasil, o Sacerdote tem sido, - Senhores, - em regra, um dos elementos mais
eficientes da Civilizao Nacional. O combate Igreja Catlica est, no presente,
como no passado, produzindo frutos venenosos que degradam, corrompem,
aniquilam e devastam Naes, outrora gloriosas. [...] Tem sido o Padre, com a
palavra, os livros e a escola, o seguro pedestal sobre que assenta, h muitos sculos,
o firme, solido e indestrutvel monumento do Progresso. [...] Falar dos inmeros
benefcios por eles prestados, ao chegarem as nossas plagas, para onde convergiam
criminosos e colonos de refugo, dizer de sua fora e sacrifcios no catequizar os
ndios, tirando-os da barbaria; descrever as virtude de trabalho, abnegao, coragem,
habilidade e herosmo desses missionrios de Cristo para, reunindo tendncias
opostas, elementos heterogneos, darem comeo a formao de nossa
nacionalidade; desenrolar aos vossos olhos fatos, prodgios surpreendentes, que s
a F arraigada em coraes fortes, pode realizar, como de fato realizou o Brasil,
durante os trs primeiros sculos da sua colonizao14.
A est presente a ideia de que a Igreja Catlica foi a responsvel pela
produo da nao brasileira. O mesmo argumento utilizado nos pedidos deimpugnao de tombamentos. No processo referente Igreja de N. S da Penha de
Frana, no Rio de Janeiro, Jos Rainho da Silva Carneiro, representante da
Irmandade de N. S. da Penha faz a seguinte alegao no pedido de impugnao: o
Brasil, essencialmente catlico por ndole, por tradio e porque no diz-lo, por
educao, no cristaliza diante destes monumentos da sua f edificante. No sentido
de defender o no tombamento da Igreja, alega que a mesma dever ser ampliada:
na proporo que se for multiplicando a populao, inadiveis exigncias surgiro,
como por exemplo: em N. Senhora Aparecida, em So Paulo, em N. Senhora de
Nazareth, em Belm do Par, e em N. Senhora da Penha, no Rio de Janeiro,
Santurios que, pela sua preferncia, havero de alargar as suas balizas para
recolher devidamente os fiis e dar-lhes o conforto espiritual, fim para que foram
exclusivamente institudos [...]15.
14 Processo n. 82-T-38.15 Processo n. 52-T-38.
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Essas argumentaes encontravam abrigo no Servio. Alberto Lamego,
membro do Conselho Consultivo, em artigo para do primeiro nmero da Revista do
SPHAN, apresenta justificativas histricas especficas para a unificao nacional, adespeito das diferenas regionais. Ele defende que a religio catlica, por meio da
influncia jesuta, suficiente para atestar as fundaes da nacionalidade brasileira:
prova de tacanhssima parcialidade e de completa ignorncia dos nossos grandes
historiadores, o de contestar-se a formidvel influencia do primitivo jesuta na
cimentao da nacionalidade brasileira" (Lamego, 1938).
Com relao aos estados, apenas 7,94% do total de bens tombados em
Minas Gerais ocorreram por via conflituosa. Nos cinco casos assim classificveisocorreu tombamento compulsrio por expirao de prazo de resposta do
proprietrio, e nesses processos no h nenhuma notificao de conflito expresso
ainda que os bens tenham sido tombados a despeito da posio do proprietrio.
Minas Gerais tem a segunda menor quantidade de bens tombados
compulsoriamente, o que demonstra uma notvel aderncia dos proprietrios
mineiros com relao s polticas desenvolvidas pelo SPHAN. Essa aderncia se
demonstra por vrios casos em que os prprios proprietrios solicitam o
tombamento dos bens. Nessa condio, se destaca o caso da Fbrica de Ferro
Patritica16, em Ouro Preto. Considerada a primeira fbrica de carvo do Brasil,
catalogada pelo SPHAN em junho de 1938.
2. Tombamentos por via conflituosa
Carlos Drummond de Andrade, responsvel pela inscrio dos itens
tombados nos livros de registro do SPHAN, numa crnica pela ocasio da sada de
Rodrigo Mello Franco de Andrade da agncia, fez referncia aos conflitos existentes
entre o Servio e as elites regionais, representadas por prefeitinhos de bigodinhos
enfadonhos que a tudo queriam demolir (Drummond apudSantos, 1996, p.19).
O direito de demolio, impedido pela legislao ao proprietrio do bem
tombado, era a principal razo para que as aes do SPHAN encontrassem algum
16 Processo n. 31-T-38.
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tipo de oposio. So notveis os casos de confrontos entre interesses nacionais e
interesses particulares, principalmente em funo das restries econmicas aos
negcios que o tombamento de determinado edifcio representava. Mas havia umasegunda razo para opor-se aos tombamentos. No Rio Grande do Sul, por exemplo,
certos grupos resistiram declaradamente aos tombamentos, dessa vez com a
inteno de exclurem seus bens da nacionalizao simblica.
O mapa a seguir representa a incidncia dos conflitos em torno dos
tombamentos determinados pelo SPHAN.
Imagem 3. Casos de processos cancelados, arquivados ou processos de tombamentocompulsrios entre 1938-1945
O estado da Bahia teve 14 bens tombados por via conflituosa, mas em
nenhum desses processos o proprietrio apresentou oposio declarada ao fato.
Dez desses processos so de tombamento compulsrio, em virtude da ausncia de
resposta do proprietrio em consentir ou no com a deciso do estado. Outros
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Consultivo. Em parecer, o Conselho esclarece que o imvel o exemplar de um
engenho de acar transformado em uma das primeiras fazendas de caf do Brasil.
Afonso Arinos de Melo Franco registrou no processo que o edifcio tombadopermanece [...] como um dos raros testemunhos, talvez o nico, da evoluo
econmica do pas, no ponto de vista da transio de suas duas maiores culturas
agrcolas: o acar e o caf19.
A arquitetura que nasceu da economia do caf , no entanto, inexistente entre
as representaes de patrimnio histrico. Apesar de todos os esforos de Mrio
de Andrade como representante do Servio em So Paulo, a subrepresentao do
estado notvel: Neste estado separatista, que nunca foi corte e tampouco teveriquezas coloniais, o SPHAN s poderia ter olhos para usando os termos
ressentidos do prprio Mrio toscas capelas bandeiristas e capelas jesuticas
(Rubino, 1996, p. 102).
Apesar disso, todos os processos de tombamento no estado de So Paulo
tm o consentimento dos proprietrios. O nico caso arquivado, e que poderia
corresponder a um potencial conflito, referente ao tombamento voluntrio
solicitado por Caio Prado Jnior de um imvel familiar na Rua da Consolao. Oconflito reside em o SPHAN ignorar a documentao encaminhada por Prado Jnior
para que se realizasse o procedimento. Apesar disso o processo arquivado sob o
pretexto de falta de informaes20.
No Rio Grande do Sul, trs dos 13 processos de tombamento deram origem a
problemas. O nmero baixo tem uma razo. Em documento interno do SPHAN, um
19 O proprietrio coloca em questo o valor artstico e histrico do bem para sustentar que o
tombamento reduziria o valor de troca do imvel. Assim resolve o Conselho Consultivo: Osinteressados incidem no engano de muitos, de confundir valor histrico com incidente histrico; dasrazes que podem dar valor histrico a um prdio, a mais superficial, ante o moderno critriohistrico-social, seria a hospedagem de pessoa celebre; a notoriedade prpria de um grande centrorural, e aquele que, na regio, melhor conserva (melhor que a 'fazenda da Taquara') ascaractersticas antigas, a mais valiosa que se ali tivesse morado algum personagem ilustre. Poroutro lado, valor artstico que interessa ao poder publico conservar, no se mede tanto pelaexcepcional beleza, tcnica ou luxo da obra, como pelo carter nacional, ambientao e conexesarqueolgicas. [] A casa da fazenda do Viegas , pois, uma das mais notveis sobrevivncias da'aculturao dos engenhos de acar' dos primeiros tempos do Brasil, em pleno Distrito Federal, ecom circunstncia, ainda de, tendo-se adaptado essa fazenda, 'aculturao do caf', permanecer asede quase indene das influencias clssicas que prevaleceram no tempo do Imprio. Processo n. 54 T 1938.
20 Processo n. 339 T 44
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parecer no assinado afirma no haver bens artsticos a serem tombados no Rio
Grande do Sul. Apenas bens histricos da zona missioneira: pouco ou quase nada
apresenta o Rio Grande do Sul indiscutivelmente digno de tombamento. Ainda seafirma a impraticabilidade de seleo rigorosa e purista naquele estado.
O primeiro processo, referente Igreja Matriz de So Pedro, em Rio Grande,
corresponde primeira tentativa de tombamento por parte do SPHAN no estado 21.
Ele fracassa e um dos mais emblemticos no sentido de demonstrar a distncia
simblica entre os poderes regional e central.
O bispo de Pelotas (RS), responsvel regional pelo tombamento da Igreja
Matriz de So Pedro, em resposta notificao enviada pelo SPHAN, afirma teracreditado que a agncia enviaria peritos competentes para averiguar a veracidade
das informaes recebidas. Ele diz no concordar que a Igreja constitua patrimnio
histrico, e lamenta que o tombamento impea a reforma e/ou reconstruo de uma
nova igreja que possa abrigar adequadamente os paroquianos. O bispo refora no
fazer nenhum tipo de oposio ao SPHAN (isto , ao governo) e solicita auxlio para
reparos urgentes no imvel a fim de evitar seu desmoronamento. O Conselho
Consultivo decide impugnar o tombamento por pretender reconstru-la livrementedesde os fundamentos, defendendo em ata que no nenhuma obra de arte, que
so puras paredes sustentando um teto j bastante arruinado. Nesse sentido
solicitado que se organize uma lista de quesitos, claros e precisos, sobre o que
pode constituir obra de arte em arquitetura religiosa, e mande pessoa competente e
idnea examinar se a Matriz de So Pedro responde ou no satisfatoriamente a
esses quesitos22.
Augusto Meyer, jornalista e memorialista gacho, membro do ConselhoConsultivo do SPHAN, e Abellard Barreto, presidente da Biblioteca Riograndense,
voltam carga e se manifestaram no sentido de incluir a Igreja Matriz de So Pedro
ao patrimnio histrico e artstico nacional:
Elogiada por Semple Lisle, Saint-Hilaire e outros viajantes, um dos raros
monumentos arquitetnicos do Estado do Rio Grande [...]. Se fossemos nos cingir a
21 Processo n.1-T-38
22 Processo n. 1-T-98.
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tombar exclusivamente obras perfeitas de arte, bem pouco teramos no Brasil para
inscrever nos Livros de tombo. No se trata de comparar os nossos monumentos com
as grandes obras de arte da Grcia, da Itlia ou da Frana, mas sim de proteger o
nosso patrimnio histrico e artstico [...] A matriz de So Pedro incontestavelmentemonumento de maior importncia na histria do Rio Grande
23.
Um dos processos de tombamento arquivados mais relevantes e onde h
implicaes polticas mais explcitas aquele referente ao tombamento da Casa do
Colono Alemo, ainda no Rio Grande do Sul24. Este caso revela a preocupao em
resistir, de alguma forma, poltica do governo federal e em nada se orienta pela
criao de impedimentos e restries materiais provenientes do tombamento.
Em 15 de fevereiro de 1938 o SPHAN envia notificao de tombamento da
Casa do Colono Alemo para a Prefeitura de So Leopoldo, que nega, em 22 de
novembro de 1939, quase dois anos depois, haver o referido imvel no municpio.
Isso seria explicado pela alterao administrativa do estado do Rio Grande do Sul
neste perodo, o que teria causado o engano por parte do SPHAN. Segundo o
Secretrio da Educao e Sade Pblica, Coelho de Souza, Estncia Velha, onde
havia o imvel, estava agora sob a administrao de Novo Hamburgo. Assim ele
escreve a Rodrigo Melo Franco de Andrade em 4 de dezembro de 1939:
O prefeito desta ltima localidade continua a ser o Cel. Teodomiro Porto da Fonseca,
a quem se refere em sua carta. Quanto comuna de Novo Hamburgo a que hoje
pertence Estncia Velha informo-lhe que tem como Prefeito o Dr. Odon Cavalcanti
Carneiro Monteiro, brasileiro, pertencente a tradicional famlia da Paraba, esprito
brilhante, merecedor at de mais alto posto. Tenho certeza que ele acolher, com
entusiasmo, qualquer apelo seu no sentido de ser acelerado o tombamento da Casa
do Colono Alemo e de sua conservao25.
Mas em 1940, Estncia Velha incorporada administrao de So
Leopoldo, e em 9 de janeiro de 1941 adquire o imvel para a construo do museu
da colonizao germnica no estado. A inaugurao, que contou com a presena de
protestantes e catlicos, referida em carta do Secretrio da Educao e Sade
23 Processo n. 1-T-98.24 Processo n. 95-T-38.
25 Processo n. 95-T-38.
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Pblica do Estado a Rodrigo Melo Franco de Andrade, em 29 abril 1941, dessa
forma:
Quando se iniciou o servio de tombamento da mesma, aconteceu o que sempre severifica entre ns, quando o Governo Brasileiro toma qualquer providncia que atinge
um grupo da Colnia Alem: catlicos e protestantes unem-se, pois o esprito de
trabalho neles o sentimento predominante. Possivelmente, na inteno de evitar
que a casa que uma espcie de relquia da Colnia ficasse inteiramente ao
alvedrio do Servio do SPHAN, o representante da Unio Popular, Padre Tambo, e o
Bispo Dohms, Presidente do Snodo Luterano, resolveram doar o prdio prefeitura
de So Leopoldo, para ser nele instalada uma escola e um Museu da Colonizao26.
E assim o Secretrio da Educao e Sade Pblica interpreta a situao nosentido de sugerir o arquivamento do processo:
Esse acontecimento, no fundo, no mais do que uma manifestao da reao
surda e mal sopitada da colnia, contra a ao nacionalista dos governos da
Repblica e do Estado, que no lhes tm dado quartel27.
Chama a ateno que este o nico caso em 437 onde se percebe, e se
contesta, a poltica de nacionalizao dos bens de patrimnio pelo Estado (Novo). O
mais curioso de tudo que o SPHAN aceita a justificativa da comunidade alem
riograndense revelando uma indita disposio para negociar. Fato incomum at
ento. Desse modo, a exceo ilumina a regra: a norma a definio autoritria do
bem a ser tombado pelos agentes do SPHAN e a anuncia dos proprietrios;
quando havia alguma resistncia, o Estado impunha sua deciso. A ocorrncia de
conflitos no era marginal ou desimportante, mas a soluo era sempre a mesma.
3. Interveno estatal e tombamento de bens da Unio
O artigo quinto do Decreto-lei n. 25/1937 dispunha que o tombamento dos
bens pertencentes Unio, aos Estados e aos Municpios se far de oficio por
ordem do Diretor do Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, mas
dever ser notificado entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a
coisa trombada, a fim de produzir os necessrios efeitos. O tombamento
26 Processo n. 95-T-38.
27 Processo n. 95-T-38.
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automtico, feito apenas mediante notificao, no compreendia a possibilidade de
impugnao ou de anuncia deciso da agncia.
Na cidade de Jequitaia (BA), Aristides Paes de Souza Razil, Tenente-CoronelComandante, nomeado responsvel pela casa Avenida Frederico Ponts, de
posse da Unio, se ops deciso do SPHAN. Rodrigo Melo Franco de Andrade
questiona em parecer interno a atitude: "Desde que se trate de prprio nacional,
estadual ou municipal, o tombamento se far de ofcio, isto , por deliberao
exclusiva do diretor do SPHAN. [...] Ser lcito o Sr. Comandante da 6 Regio Militar
impugnar o tombamento?28. O presidente do Servio do Patrimnio lembra que um
acordo preliminar acerca dessa poltica j havia sido feito entre o SPHAN, o Diretor
do Domnio da Unio e o Ministrio da Guerra:
cumpre notar mais outra circunstncia relevante para a apreciao da espcie:
que, segundo o Aviso n. 10 do Senhor Ministro da Guerra que se encontra anexo por
copia autntica ao processo, o imvel em apreo deixou de estar sob a guarda do
Comando da 6. Regio Militar e foi entregue Diretoria do Domnio da Unio, de
acordo com o artigo 812 do Regulamento Geral de Contabilidade Pblica. Por
conseguinte, o senhor Comandante da 6. Regio Militar deixou de ser autoridade
competente para conhecer da notificao. Bastou a que foi feita ao senhor Diretor do
Domnio da Unio, para que o tombamento produzisse os devidos efeitos"29.
Aqui a retrica burocrtica e o apelo a normas regimentais superam e
substituem qualquer considerao de ordem artstica ou histrica, o que revela a
extrema capacidade dessa pequena elite de adaptar o discurso conforme as
convenincias e segundo o adversrio.
importante notar que poucos processos contm evidncias do envolvimento
de autoridades do Estado nos casos de tombamento. Indicamos a possibilidade
legal e o nico exemplo encontrado relativo interveno do presidente daRepblica para o cancelamento da deciso: o tombamento do Campo de Sant'Anna,
na cidade do Rio de Janeiro. Ele foi cancelado em por despacho assinado em 8
janeiro 194330. Por outro lado, o tombamento da coleo arqueolgica do Museu da
Escola Normal Justiniano de Serra, em Fortaleza o nico realizado no Cear
28 Processo n. 165-T-38.29 Processo n. 165-T-38.
30 Processo n. 99-T-38.
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ocorre por meio da troca de ofcios entre o Ministro Gustavo Capanema e o
Interventor Federal do Cear, Dr. Francisco Menezes Pimentel.
Concluses
A recusa dos proprietrios em ter seu bem declarado de interesse pblico em
apenas um caso pode estar relacionada a uma estratgia de negar o pertencimento
nao brasileira. Por outro lado, os resultados da pesquisa permitem afirmar que
o principal motivador para que os proprietrios no desejassem o tombamento eram
econmicos, na medida em que o seu registro no rol do Servio inviabilizaria a
potencial especulao imobiliria. Os tombamentos por via conflituosa nodemonstram qualquer dificuldade do SPHAN em impor suas decises a particulares
que discordavam dos vereditos da agncia.
Nesse sentido, a hiptese inicial apenas parcialmente verificada. De fato, a
tcnica de definir, catalogar e por sob a guarda do Estado bens do patrimnio
histrico foi orientada pela poltica de concentrao de poderes no nvel federal, ou
mais propriamente, ela s foi possvel em funo dessa concentrao de poderes e
, ela mesma, um ndice eloquente da capacidade estatal em vias de constituio.Por outro lado, a questo da redefinio da autonomia das elites regionais no pode
ser verificada com este tipo de evidncia. No mximo, pode-se supor que ela um
efeito mais ou menos obrigatrio da centralizao ditatorial. Mas os dados medida
que no documentam o conflito tornam essa suposio difcil de comprovar.
O maior problema da hiptese possivelmente est em decalcar sobre o
universo burocrtico-intelectual dos agentes do SPHAN razes de ordem puramente
poltica que no entram nas suas consideraes (ou no entram em primeiro lugar
nas suas consideraes). certo que seus agentes, que outrora se ocuparam de
atividades puramente intelectuais, so desafiados a incorporar e exercer o ethos
burocrtico estadonovista e, alm disso, adquirir uma indita capacidade de
negociao na relao com identidades regionais. Mas fazem isso sem considerar a
questo das autonomias/heteronomias dos grupos polticos e sim a partir da sua
viso autoritria do que merece ser enfim preservado como histria e como
memria. Nesse sentido, uma sociologia dessa elite intelectual e burocrtica que
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integra os quadros do SPHAN pode explicar mais e melhor a lgica que orientava a
seleo dos bens a serem tombados, ao contrrio do que imaginamos no incio.
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