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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE DIREITO
THATIANE LOBO LARA
DIREITO SUCESSÓRIO NO ÂMBITO DO DIREITO SOCIETÁRIO: ESTUDO APLICADO A UMA SOCIEDADE LIMITADA
FORTALEZA – CE 2013
THATIANE LOBO LARA
DIREITO SUCESSÓRIO NO ÂMBITO DO DIREITO SOCIETÁRIO: ESTUDO APLICADO A UMA SOCIEDADE LIMITADA
Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Direito do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação.
ORIENTADOR
PROF. DR. JOSÉ JÚLIO DA PONTE NETO
FORTALEZA – CE 2013
THATIANE LOBO LARA
DIREITO SUCESSÓRIO NO ÂMBITO DO DIREITO SOCIETÁRIO: ESTUDO APLICADO A UMA SOCIEDADE LIMITADA
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Direito, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data da aprovação ___ /___ /___ .
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________________________
Professor ..............................................
_______________________________________________________________
Professor ...............................................
_______________________________________________________________
Professor................................................
Aos meus pais por todo amor e dedicação para comigo, por terem sido fundamentais para que eu tenha me tornado a pessoa que hoje eu sou.
AGRADECIMENTOS
A DEUS, que me deu vida e inteligência, e que me dá força para continuar a caminhada em busca de meus objetivos.
A minha mãe que sempre me deu carinho, amor e compreensão suficientes para enfrentar todas as dificuldades que aparecessem em meu caminho.
A meu irmão Thiago que sempre foi um grande amigo, companheiro e um grande incentivador para que eu realizasse todos os meus sonhos.
A meu pai que sempre me mostrou a importância de se buscar os objetivos e a realizá-los sempre com determinação e persistência.
A meu amado esposo João Paulo que me deu total apoio para que eu conseguisse terminar esse projeto.
Ao meu orientador, coordenador, professor e amigo Júlio pelas sugestões e orientações prestadas durante a realização deste trabalho.
E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta monografia.
RESUMO
Com as mudanças culturais, religiosas e econômicas, novos modelos de sociedades, inclusive mercantis, foram surgindo no mundo. Inicialmente a maioria dessas sociedades era familiar e poucos eram os conflitos, mas em compensação quando estes aconteciam envolviam-se questões sucessórias. Passou-se então a discutir-se questões envolvendo o Direito Sucessório, o Direito Societário e a relação existente entre ambos na resolução de conflitos. Com a modificação do Código Civil, já em 2002, outras questões foram suscitadas como a possibilidade de reconhecimento de filiação natural, nomeação de tutores e testamenteiros e ainda transmissão de direitos morais do autor de obras científicas e artísticas. Baseado nessas interpretações este trabalho foi desenvolvido com o objetivo geral de analisar os conflitos existentes entre Direito Sucessório hereditário e Direito Societário. Serão mostradas as possíveis soluções na busca de resolver as lides judiciais em que os sucessores passam a fazer parte do quadro geral de sociedades mercantis. Também será abordado a Lei Civil na sucessão hereditária que transmite aos herdeiros o domínio dos bens do de cujus. No âmbito empresarial será visto se a morte do sócio não caracteriza a inserção dos herdeiros na sociedade. Palavras-chaves: Direito Sucessório; Direito Societário; Sociedade; De cujus; Sucessão; Herdeiros; Conflitos; Sucessores; Bens.
ABSTRACT
With the changing cultural, religious and economic models of inclusive societies were emerging in the commercial world. Initially most of these societies were familiar and there were few conflicts, but in compensation when they happen to involve issues of succession. Attention then turned to discuss the issues surrounding the Succession Law, Corporate Law and the relationship between them in conflict resolution. With the amendment of the Civil Code in 2002 have further questions were raised as to the possibility of recognizing natural affiliation, appointment of guardians and executors and still transmitting moral rights of the author of works of art and science. Based on these interpretations of this work was developed with the overall goal of analyzing conflicts between hereditary succession law and company law. Possible solutions are shown in seeking to resolve the judicial labors in which the successors become part of the general commercial companies. It will also be addressed in the Civil Law that transmits hereditary succession to the heirs of the domain property of the deceased. In the corporate world will be seen if the death of a partner does not characterize the insertion of the heirs in society. Keywords: Succession Law, Corporate Law, Society, De deceased; Succession, Heirs; Conflict; Successors; Goods.
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2. REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................12
2.1 Direito de Sucessão.............................................................................................12
2.1.1Histórico do Direito de Sucessão......................................................................13
2.1.2 Conceituação do Direito de Sucessão..............................................................14
2.1.3 Princípios do Direito de Sucessão.....................................................................15
2.1.3.1 Princípio de Saisine........................................................................................16
2.1.4 Capacidade para suceder e os tipos sucessórios.............................................17
2.1.5 Tipos sucessórios legítimos e testamentários...................................................18
2.1.5.1 Sucessão legítima..........................................................................................18
2.1.5.2 Sucessão Testamentária................................................................................19
2.1.6 Direito de Sucessão no Brasil...........................................................................20
2.2 O Direito Societário..............................................................................................22
2.2.1 Origem de Sociedade........................................................................................22
2.2.2 Conceito de Sociedade empresarial..................................................................22
2.2.3 Formas de Constituição das Sociedades..........................................................23
2.2.4 Classificação das Sociedades...........................................................................25
2.2.4.1 Quanto à Responsabilidade dos Sócios........................................................25
2.2.4.2 Quanto à Estrutura Econômica......................................................................26
2.2.4.3 Quanto à Existência de Personalidade Jurídica.............................................26
2.2.4.4 Quanto à Natureza do Ato Conceptivo...........................................................26
2.2.5 Tipos de Sociedades Empresárias....................................................................27
2.2.5.1 Sociedade em Nome coletivo.........................................................................27
2.2.5.2 Sociedade em Comandita Simples................................................................28
2.2.5.3 Sociedade Limitada........................................................................................28
2.2.5.4 Sociedade Anônima.......................................................................................29
2.2.5.5 Sociedade em Comandita por Ações.............................................................29
2.3 Direito Sucessório X Direito Societário.................................................................30
2.3.1 Consequências das decisões acerca do ingresso ou não do herdeiro
sucessório no quadro societário da empresa.............................................................33
2.3.2 Sucessão Hereditária em uma empresa limitada..............................................33
2.4 Julgados Relacionados ao Tema.........................................................................36
3. CONCLUSÃO.........................................................................................................39
REFERÊNCIAS..........................................................................................................41
10
1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da civilização, questões envolvendo sucessão são
discutidas. Na Roma e na Grécia antiga, este era um tema corrente dentro das
sociedades, mas existiam diferenças entre elas, principalmente no tocante ao
Direito. Observa-se que no direito romano a filha não herdava do pai se esta fosse
casada, e que no direito grego ela não herdava em nenhum caso. A sucessão nos
primórdios era basicamente sustentada na religião cultuada entre os povos.
Com as mudanças culturais, religiosas e econômicas, novos modelos de
sociedades inclusive mercantis foram surgindo no mundo. Inicialmente a maioria
dessas sociedades eram familiares e poucos eram os conflitos, mas em
compensação quando estes aconteciam envolviam-se questões sucessórias.
Passou-se então a discutir-se questões envolvendo o Direito Sucessório, o Direito
Societário e a relação existente entre ambos na resolução de conflitos.
Já no Brasil, devido ao sistema patrimonialista presente nos países ocidentais
o Código Civil Brasileiro de 1916 trouxe o Direito Sucessório para determinar o modo
de aquisição do patrimônio a ser recebido em razão da morte de seu proprietário,
chamada então de sucessão causa mortis.
Ocorre que nesse momento a preocupação era a de preservar o patrimônio
do de cujus. Com a modificação do Código Civil já em 2002 outras questões foram
suscitadas como a possibilidade de reconhecimento de filiação natural, nomeação
de tutores e testamenteiros e ainda transmissão de direitos morais do autor de obras
científicas e artísticas.
Baseado nessas interpretações, este trabalho foi desenvolvido com o objetivo
geral de analisar os conflitos existentes entre Direito Sucessório hereditário e Direito
Societário. Observam-se a partir de uma perspectiva inicial confusões acerca de
herdeiros presentes nos quadros societários por força do Código Civil Brasileiro.
Este estudo mostrará as possíveis soluções na busca de resolver as lides
judiciais em que os sucessores passam a fazer parte do quadro geral de sociedades
mercantis. Também será abordado a Lei Civil na sucessão hereditária que transmite
aos herdeiros o domínio dos bens do de cujus. Já sob o âmbito empresarial será
analisado se a morte do sócio não caracteriza necessariamente a inserção dos
herdeiros na sociedade. Para tratar do assunto o trabalho está dividido em três
capítulos.
11
Quanto à organização da monografia, nessa primeira seção são apresentados
aspectos referentes à contextualização, justificativa, problema de pesquisa, bem
como os objetivos gerais e específicos.
A segunda parte discorre sobre uma visão geral sobre o Direito Sucessório,
seu surgimento no mundo e no Brasil. Este capítulo mostrará também o Código Civil
Brasileiro como norteador deste direito, o conceito de sucessão, seus princípios, o
conceito de herdeiros e os direitos pertinentes aos mesmos. A segunda seção
também aborda os tipos sucessórios, capacidade de herdar e os tipos de
sociedades.
Para a realização desse trabalho foram feitas coletas de dados através da
pesquisa em doutrinas, artigos, publicações e pesquisa na internet, sendo esta
coleta usada nos dados secundários do estudo. Já os dados primários foram
adquiridos mediante estudos jurisprudenciais e análises dos documentos legais.
Na terceira e última divisão são apresentadas às considerações finais do
estudo com a resposta do problema de pesquisa, bem como a sugestão para futuros
estudos. Por fim são apresentadas as referências e apêndices.
12
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O Direito de Sucessão
Conceitua-se sucessão como a perpetuação do direito do seu titular através
de seus sucessores. Segundo Pereira (2008, p.1), a palavra “suceder” tem o sentido
genérico de virem os fatos e fenômenos jurídicos “uns depois dos outros” (sub +
cedere). Sucessão é a respectiva sequência.
Direito Sucessório é, portanto, a transmissão dos bens de uma pessoa que
morre para seus herdeiros, dando-lhes direito sobre sua propriedade.
Gonçalves (2010, p.19) assim conceitua sucessão:
“A palavra “sucessão”, em sentido amplo, significa o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens. Numa compra e venda, por exemplo, o comprador sucede ao vendedor, adquirindo todos os direitos que a este pertenciam. De forma idêntica, ao cedente sucede o cessionário, o mesmo acontecendo em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito. No direito das sucessões, entretanto, o vocábulo é empregado em sentido estrito, para designar tão somente a decorrente da morte de alguém, ou seja, a sucessão causa mortis”.
A idéia de sucessão está constante na história do mundo desde quando o
culto pela religião era fator preponderante nas decisões da sociedade. O culto, ato
que os antigos realizavam, era sinal que a ideia de fragilidade do homem já era de
conhecimento. A religião era forma encontrada para dar explicações aos vários
fenômenos naturais ou até aqueles que da pouca ciência não se conseguia explicar.
Com as mudanças na sociedade, e o aumento das propriedades familiares,
muitos conflitos começaram a surgir, principalmente entre os herdeiros dessas novas
propriedades.
A partir destes conflitos, o Direito de Sucessão foi ganhando força para ser
aresolução dos mesmos. A razão de existência do Direito de Sucessão se dá por
conta de dois institutos da sociedade combinados, que no caso são a propriedade e
a família.
13
2.1.1 Histórico do Direito de Sucessão
A origem do Direito Sucessório surge com as primeiras formações de grupos
familiares, o que transfere ao ponto inicial da civilização.
O Direito Romano e Grego mostram o papel fundamental que tinha a religião
na transmissão de propriedades com a morte do patriarca. Ligava-se, portanto
diretamente os cultos religiosos com a transferência dos bens do morto aos seus
descendentes.
Fustel de Coulanges, historiador francês, relata em sua obra “A cidade antiga”
os aspectos das sociedades Greco-Romano indispensáveis para o estudo e
conhecimento do Direito Sucessório.
A sucessão, naquela época, trazia o culto da religião entrelaçado ao
patrimônio do sucedido. Se o interessado possuísse o mesmo deus do sucedido, ele
então era um sucessor legal.
O referido autor (1830, p.85) relata que:
“Tendo-se estabelecido o direito de propriedade para a celebração de um culto hereditário, não era possível que esse direito se extinguisse após a breve existência do um indivíduo. Morre o homem, permanece o culto; a lareira não deve apagar nem o túmulo ser abandonado, tendo continuidade a religião domestica, o direito de propriedade deve continuar com ela”
Fustel (1830, p. 90) discorreu também que:
“um homem morria sem filhos; para saber qual era o herdeiro dos seus bens, bastava descobrir quem deveria ser o continuador do seu culto.. ora, a religião doméstica transmitia-se pelo sangue , de varão em varão. A descendência na linha masculina era a única em estabelecer entre dois homens a relação religiosa que permitia que um continuasse o culto do outro. O que se chamava parentesco não era outra coisa , como vimos acima senão a expressão dessa relação.”
Através de sua obra as diferenças entre as sociedades grega e romana são
visíveis. Na Grécia, por exemplo, a filha em nenhuma hipótese herdava e em Roma
se esta viesse a casar não herdaria. Se no caso a filha sendo única herdeira, esta
seria capaz provisoriamente, pois se viesse a se casar ofereceria sacrifícios aos
antepassados de seu marido, ficando proibida de prestar cultos aos de seu pai.
14
Dentre as características em comum entre as sociedades o machismo fica
em evidência. As mulheres serviam somente para procriar, cuidar da casa e dos
filhos. A sociedade defendia que a filha não estava apta a continuar a religião
paterna, pois a mesma se casa e ao se casar renuncia ao culto do pai para adotar o
do seu marido.
Observa-se isso no Código de Manu, que diz que depois da morte do pai, os
irmãos dividiam entre si o patrimônio, e o código também recomendava que os
irmãos devessem conceder um dote ás irmãs. Isso só reforça que as mesmas não
tinham por direito acesso á sucessão.
Com o passar do tempo, o culto religioso deixou de ser o principal
fundamento da sucessão, sendo o mesmo substituído por outras razões políticas e
sociais relevantes, sendo a principal delas o impedimento da divisão da fortuna do
falecido entre todos os filhos visando manter a família poderosa.
Tal argumento era utilizado, pois se acreditava que, dividindo-se o patrimônio
acumulado pela família, por ocasião da morte do patriarca, que era o gestor dos
bens da família, a perpetuação desta família seria frustrada.
2.1.2 Conceituação do Direito de Sucessão
Como dito anteriormente, conceitua-se sucessão como a transmissão dos
bens de uma pessoa que morre para seus herdeiros, dando-lhes direito sobre sua
propriedade. A sucessão é o marco inicial para o surgimento do Direito de
Sucessão.
Ao ramo do Direito que regula a transferência dos bens patrimoniais do de
cujus aos seus sucessores chamamos de Direito Sucessório. É através deste
instituto que é possível a normatização legal da transmissão de direitos e obrigações
em função da morte.
Gonçalves (2010, p.19) nos explica o conceito de Direito Sucessório:
“O referido ramo do direito disciplina a transmissão do patrimônio (o ativo e o passivo) do de cujus (ou autor da herança) a seus sucessores”. Esta expressão latina é abreviatura da frase de cujus sucessione (ou hereditatis) agitur que significa “aquele de cuja sucessão (ou herança) se trata”
15
Já Rodrigues (2002), por sua vez coloca o Direito Sucessório como o conjunto
de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de alguém, depois de sua
morte, ao herdeiro, em virtude de lei ou de testamento.
Diniz (2002 p.5) diz que esse ramo do Direito é o complexo de disposições
jurídicas que regem a transmissão de bens ou valores e dívidas do falecido, ou seja,
a transmissão do ativo e do passivo do de cujus ao herdeiro.
Regula-se através do Direito de Sucessão a normatização das situações
jurídicas impostas no momento da morte. Vários podem ser os conflitos que nascem
com a situação da morte e o repasse das propriedades aos sucessores do falecido,
servindo-se assim o Direito de Sucessão como norteador na resolução dessas lides.
Ocorre que, surge então para os sucessores obrigações antes pertencentes
ao de cujus. Não se extingue as relações jurídicas existentes anteriormente entre o
sucedido e suas propriedades, mas tão somente o repasse dessas obrigações para
o sujeito herdeiro que assume as relações pertencentes ao seu titular.
Há doutrinadores que sustentam que o Direito Sucessório é criação do direito
positivo sobrevivendo apenas por questões de interesse social, podendo ser extinto
a qualquer momento. Em contra senso Silvio Rodrigues depõe a favor da
necessidade deste instituto uma vez que sem a possibilidade da sucessão
hereditária o indivíduo não preservaria seus bens ou encontraria meios para burlar
as leis que proibissem a transmissão de suas propriedades para seus herdeiros.
2.1.3 Princípios do Direito de Sucessão
No mundo jurídico não é permitida a transmissão de herança entre vivos.
Existe a necessidade da morte do sucedido para então se iniciar o procedimento da
transferência de bens, portanto não há que se falar em expectativas de direitos em
relação à herança de pessoas vivas.
Os princípios gerais que regem o Direito Sucessório envolvem a
universalidade e a indivisibilidade. Todos os bens pertencentes ao de cujus são
transmitidos automaticamente com a sua morte. Transferem-se direitos e deveres
em sua totalidade, não sendo possível o recebimento parcial da herança, devendo-
se por tanto recebê-la, se este for o caso, em sua totalidade.
Gama (2003) conceitua qual seria o exato momento da sucessão:
16
“A existência da pessoa física (ou natural) termina com a morte, nos precisos termos da legislação civil brasileira, gerando a produção de determinados efeitos jurídicos de ordem patrimonial e extrapatrimonial. O termo sucessão, em sentido amplo, significa o ato pelo qual alguém assume o lugar de outra pessoa, passando a ocupar a posição jurídica que anteriormente era daquele que deixou de integrar a relação jurídica”.
Diante disto é notório que a morte é fator necessário para a sucessão
hereditária. A titularidade dos bens patrimoniais do de cujussão transmitidos desde
logo a morte seja confirmada. Essa transmissão ocorre mesmo que os herdeiros
legatários e/ou testamentários não participem do conhecimento da morte do
sucedido.
Têm-se como pressupostos para caracterizar a sucessão: morte do autor da
herança e a vocação hereditária legal ou testamentária, com objetivos específicos:
continuidade das relações jurídicas e perpetuação do patrimônio familiar.
O princípio que fundamenta o Direito Sucessório tem origem francesa,
conhecido como princípio de Saisine é ele que demonstra que o patrimônio do de
cujus se transmite no momento da morte.
2.1.3.1 Princípio de Saisine
Saisine é um princípio fundamental do Direito Sucessório, onde o momento
da morte do autor hereditário é que estabelece a abertura da sucessão.
Compreende este princípio a transmissão de todos os direitos que não desaparecem
com a morte.
O Código Civil determina em seu art. 1.784 que aberta à sucessão, a herança
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
Os bens do finado transmitem-se com suas dívidas. Assim como os direitos
transmitem-se também os deveres.
Neste sentido, é necessário definir quais os direitos que são transmitidos, se
apenas os patrimoniais não personalíssimos, ou também os direitos da
personalidade, ocorrendo divergência acerca do assunto.
Faz-se importante saber que os herdeiros só respondem pelas dívidas até o
valor da herança, não podendo afetar o patrimônio do herdeiro as dívidas do seu
sucedido. O Código Civil esclarece:
17
Art. 1792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança, incube-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.
A sucessão é aberta no exato instante da morte do autor e no local de seu
domicílio. Fatos esses considerados importantes tendo em vista uma posterior
discussão acerca da competência no julgamento da sucessão e suas regras.
Os ensinos de Maria Helena Diniz (2007, p.32) nos permitem observar que:
“Na falta de domicílio certo, será competente o foro da situação dos bens ou do lugar do óbito, se situados os bens em lugares diversos (CPC, art. 96, parágrafo único, I e II), desde que o falecimento tenha ocorrido no Brasil. Se o passamento se deu no estrangeiro, o foro competente é o do último domicílio do de cujus o Brasil (CPC, art. 96, caput; CC art. 1785, Súmula 58 do extinto TFR).”
2.1.4 Capacidade para suceder e os tipos sucessórios
Herdeiro é a pessoa com capacidade para herdar, participar do ato
sucessório, podendo ser legítimo ou testamentário.
A sucessão legítima é aquela incidem as regras legais de sucessão, enquanto
que a sucessão testamentária torna-se eficaz o negócio jurídico feito pelo autor da
herança ainda em vida dando destino ao seu patrimônio, deriva de seu último ato de
vontade.
Esta capacidade está ligada a legalidade para exercer o papel de herdeiro.
Gonçalves (2007, p. 93) nos mostra neste sentido que:
“O herdeiro ou legatário pode, com efeito, ser privado do direito sucessório se pratica contra o de cujus atos considerados ofensivos, de indignidade. Não é qualquer ato ofensivo, entretanto, que a lei considera capaz de acarretar tal exclusão, mas somente os consignados no art. 1814, que podem ser assim resumidos: atentado contra a vida, contra a honra e contra a liberdade de testar do de cujus”.
Vislumbram-se tais considerações presentes no Código Civil em seu art.
1.814 que nos diz que:
Art. 1.814São excluídos da sucessão os herdeiros oulegatários: I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
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II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro; III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
Observamos neste contexto as possibilidades de exclusão elencadas no
Código Civil, mas esse tipo de sanção não é definitivo como nos mostra o art. 1.818
também do Código Civil.
“Art. 1.818 Aquele que incorreu em atos que determinem a exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico”. Parágrafo único. “Não havendo reabilitação expressa, o indigno, contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da disposição testamentária”.
2.1.5 Tipos sucessórios legítimos e testamentários
É possível a existência das duas formas de sucessão ao mesmo tempo.
Entende-se que a sucessão será legítima quando não houver testamento, quando
este for julgado nulo ou caducar e quando não esgotar o patrimônio do herdeiro.
No entanto, as disposições testamentárias não poderão afastar a sucessão
legitima quando houver herdeiros necessários. Analisaremos a seguir estas duas
espécies de sucessão que são a Sucessão Legítima e a Sucessão Testamentária.
O Código Civil em seu art. 1.786 esclarece como se dá esse tipo de sucessão
no Brasil. O mesmo diz que:
“Art. 1.786 a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade”
2.1.5.1 Sucessão legítima
A Sucessão Legítima é assim chamada pelo fato de ser observado o que diz
o texto legal.
Gonçalves expõe a cerca da sucessão legítima, senão vejamos:
“Dar-se a sucessão legitima ou ab intestato em caso de inexistência, ineficácia ou caducidade de testamento e, também, em relação aos bens
19
nele nãocompreendidos. Nestes casos a lei defere a herança a pessoas da família do de cujus e, na falta destas, aopoder Publico.”
Pontes de Miranda em seus ensinamentos demonstra que a sucessão
legítima está ligada ao vínculo familiar. Casos em que o autor da herança tenha
deixado testamento aplica-se a sucessão legítima no que o testamento não
estabelecer.
A sucessão legítima apresenta os herdeiros legítimos que decorrem de
determinação legal e dividem-se em herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais até 4º grau e companheiro). Ao
herdeiro legítimo cabe a totalidade dos bens se não houver outros herdeiros.
O art. 1829 do Código civil positiva os herdeiros legítimos especificando a
ordem de vocação hereditária:
Art. 1.829 A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais.
2.1.5.2 Sucessão Testamentária
É aquela que provém da última vontade do de cujus. É ato unilateral, solene,
passível de revogação. Através do testamento é possível a disposição dos bens total
(se não houver herdeiros necessários) ou parcial após sua morte do testador,
nomeação para tutores e reconhecimento de filhos.
O herdeiro testamentário é aquele que irá receber a transmissão dos bens
deixados pelo autor como desejo de última vontade do autor.
Carlos Roberto Gonçalves coloca a sucessão testamentária como decorrente
de expressa manifestação de última vontade, em testamento ou codicilo. A vontade
do falecido em vida é assegurada por lei dando a livre possibilidade de testar, mas
limitando o percentual testado dos bens para garantir parte dos bens aos herdeiros
necessários. Só poderá dispor de 50% de seus bens, constituindo a outra metade a
20
legítima intangível dos herdeiros necessários. Sobre a legítima, não pode o testador
instituir usufruto ou direito de habitação.
O Código Civil apresenta em seus artigos 1857 e 1858 a possibilidade de
testar, senão vejamos:
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte. § 1º A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento. § 2º São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado. Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo.
Portanto, temos que a sucessão testamentária coloca o herdeiro como
beneficiado da herança do de cujus por ato de última vontade, podendo ser inclusive
herdeiro legítimo. Isso ocorre quando o falecido deseja que o herdeiro seja mais
beneficiado em relação aos outros herdeiros necessários com quem possa estar
concorrendo.
Por fim, temos os legatários que não são herdeiros, pois sucedem a titulo
singular. São tratados por um regime jurídico próprio e recebem por sucessão
determinado bem a título singular, podendo ser este herdeiro legítimo ou
testamentário com qualidade especifica de legatário.
2.1.6 Direito de Sucessão no Brasil
Observa-se que a Constituição Federal de 1988 garante o direito de herança
em seu art. 5°, inciso XXX, do Título II, concernente aos direitos e garantias
fundamentais.
Verifica-se então que a sucessão pelo fator morte é um direito adquirido dos
herdeiros do morto, evitando-se assim apropriação dos bens do de cujus pelo
Estado. Ademais, essa possibilidade só ocorrerá em situações em que não seja
encontrado sucessores legais ou testamentários, ficando assim os bens do de
cujuspara o Estado.
Veja-se então, a disposições acerca da sucessão causa mortis fixadas nos
artigos 5º da Constituição Federal, incisos XXX e XXXI.
21
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXX - é garantido o direito de herança; XXXI - a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do "de cujus";
Devido ao sistema patrimonialista presente nos países ocidentais o Código
Civil Brasileiro de 1916, trouxe o Direito Sucessório para determinar o modo de
aquisição do patrimônio a ser recebido em razão da morte de seu proprietário,
chamada então de sucessão causa mortis.
Ocorre que nesse momento a única preocupação era a de preservar o
patrimônio do de cujus.
Com a modificação da legislação em tela, feita 2002, outras questões foram
suscitadas como a possibilidade de reconhecimento de filiação natural, nomeação
de tutores e testamenteiros e ainda transmissão de direitos morais do autor de obras
científicas e artísticas.
Na legislação pátria, é no Código Civil Brasileiro que se encontra respaldo
legal para apreciação da matéria sucessória.
Deste Código trazem as diretrizes necessárias para a elucidação de possíveis
conflitos, nos esclarecendo suas condições e pressupostos para a admissão deste
instituto no Brasil.
Neste sentido o direito das sucessões tem por escopo a transferência de bens
patrimoniais do finado aos seus sucessores. O Direito Sucessório passou a existir a
partir da junção de dois institutos: a propriedade e a família que desde os primórdios
era o que importava para a sociedade.
O Direito de Sucessão evoluiu bastante com o passar do tempo, trazendo
segurança jurídica na resolução de questões antes não positivadas pelo nosso
ordenamento jurídico.
Isso possibilitou uma maior exatidão na hora de reaver os bens deixados pelo
falecido, garantindo que seus bens sejam transmitidos imediatamente com todas as
garantias para quem de direito for.
22
2.2 O Direito Societário
2.2.1 Origem de Sociedade
Com a evolução do homem em seu aspecto econômico passaram a surgir as
primeiras formas de sociedades, como por exemplo, a criação das sociedades com
finalidade específica para arrecadação de impostos e compra de escravos. A função
primária da sociedade era a de se obter vantagens financeiras com regras e
princípios específicos dando à sociedade respaldo legal na formação neste tipo de
comunhão de ideias. Sabe-se inicialmente que os grandes motivos na criação das
sociedades foram por interesses familiares, na perpetuação do negócio familiar.
Foi no Direito Romano que surgiram as primeiras leis relacionadas a este
tema. Tal regulação visava finalidades próprias como compra de escravos,
cobranças de tributos e administração de bens familiares deixados por seus
patriarcas.
Mas foi na Idade Média que surgiram os moldes para as sociedades
empresárias que temos hoje. Imposições como a limitação na responsabilidade do
patrimônio do sócio tendo a necessidade de ocultá-los surgiu em busca de proibir
que algumas classes econômicas presentes na sociedade viessem a exercer a
prática comercial estabelecida pelos nobres, militares, senadores e magistrados.
Depois com o renascimento a ideia para a criação de capital era apenas a
inserção de contribuição financeira.
Já nos dias atuais o Código Civil nos traz precisamente o que devemos
entender por sociedade:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
2.2.2 Conceito de Sociedade empresarial
Sociedade empresarial é conceituada pelo Código Civil em seu art.982:
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.
23
Sendo assim entende-se por sociedade empresária a reunião de pessoas
com interesse econômico que através de exercício habitual de atividade econômica
organizada se propõe a um determinado ramo de produção de bens ou serviços.
Fran Martins (1993 p. 186) conceitua Sociedade empresaria como sendo:
"A entidade resultante de um acordo de duas ou mais pessoas que se
comprometem a reunir capitais e trabalho para a realização de operações com fim lucrativo."
Sabe-se, porém que existem alguns requisitos necessários para a formação
de sociedades empresárias são eles: agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável de forma prescrita ou não defesa em lei, formação de
capital social e ainda o animus de constituir sociedade.
2.2.3 Formas de Constituição das Sociedades
Os documentos legais utilizados para constituição de uma empresa são o
Estatuto Social, o Contrato Social e o Requerimento de Empresário. O Estatuto
Social é utilizado pelas sociedades em ações e entidades sem fins lucrativos, o
Contrato Social é utilizado pelas demais sociedades, já o Requerimento é usado
pela maioria dos microempresários. Baseado nas cláusulas constante tanto no
Estatuto Social quanto no Contrato Social, fica esclarecido o relacionamento interno
e externo na entidade.
Nas cláusulas também constam a qualificação da entidade, tipo jurídico de
sociedade, a denominação, localização, seu objeto social, forma de integralização
do capital social, prazo de duração da sociedade, data de encerramento do exercício
social, foro contratual, divisão de quotas por sócio e outros fatores indispensáveis
para o bom funcionamento legal de uma sociedade.
O seu registro é efetuado na Junta Comercial do Estado da sociedade, ou nos
Cartórios de Registro de Pessoas Jurídicas, dependendo da natureza jurídica da
Sociedade. No caso se for de uma sociedade de advogados, o registro da mesma se
dará na OAB seccional do Estado onde vai funcionar a sociedade dos profissionais.
Resta salientar que os documentos mais utilizados são o Estatuto Social é o
Contrato Social. O requerimento de empresário também é uma forma bastante
24
utilizada, mas a mesma não possui a quantidade informações constante nos outros
dois modelos.
De acordo com a Junta Comercial do Estado do Ceará
(http://www.jucec.ce.gov.br/), devem constar no Estatuto Social, no Contrato Social e
no Requerimento de Empresário, basicamente os seguintes dados:
a) Estatuto Social – deve conter no Estatuto Social a denominação social,
prazo de duração; sede: município; objeto social, definido de modo preciso
e completo; capital social, expresso em moeda nacional; ações: número
em que se divide o capital, espécie (ordinária, preferencial, fruição), classe
das ações e se terão valor nominal ou não, conversibilidade, se houver, e
forma nominativa; diretores: número mínimo de dois, ou limites máximo e
mínimo permitidos; modo de sua substituição; prazo de gestão (não
superior a três anos); atribuições e poderes de cada diretor; conselho
fiscal, estabelecendo se o seu funcionamento será ou não permanente,
com a indicação do número de seus membros - mínimo de três e máximo
de cinco membros efetivos e suplentes em igual número; término do
exercício social, fixando a data.
b) Contrato Social - O Contrato Social não poderá conter emendas, rasuras e
entrelinhas; o nome empresarial obedecerá ao princípio da veracidade e
da novidade, incorporando os elementos específicos ou complementares
exigidos ou não proibidos em lei; o nome empresarial pode ser de dois
tipos: Denominação Social ou Firma Social; a denominação social deve
designar o objeto da sociedade, de modo específico, não se admitindo
expressões genéricas isoladas, como: comércio, indústria, serviços.
Havendo mais de uma atividade, deverá ser escolhida qualquer delas; é
permitido figurar na denominação social o nome de um ou mais sócios;
nele deverão ser indicadas com precisão e clareza as atividades a serem
desenvolvidas pela sociedade, sendo vedada a inserção de termos
estrangeiros, exceto quando não houver termo correspondente em
português ou já incorporado ao vernáculo nacional; poderá constar no
contrato social que a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de
suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do
capital social; e por fim deverá conter o visto de advogado, com a
25
indicação do nome e número de inscrição na Seccional da Ordem dos
Advogados do Brasil.
c) Requerimento de Empresário – no requerimento deve constar nome do
empresário; nacionalidade; estado civil; sexo; data de nascimento; regime
de bens do empresário; nome dos pais; número da identidade e do CPF;
endereço onde reside e o endereço da empresa; o nome empresarial; o
valor do capital social; o enquadramento da empresa em ME ou EPP; a
data de inicio das atividades; a assinatura do empresário e por último a
inscrição do CNPJ.
2.2.4 Classificação das Sociedades
Existem vários tipos de sociedade no Brasil de acordo com o nosso Código
Civil. Mas antes de explicarmos cada uma delas, devemos primeiramente dizer que
essas sociedades se constituem a partir da abertura de uma empresa.
Podemos conceituar empresa como sendo a forma legal de uma pessoa ou
um grupo de pessoas, explorar alguma atividade mercantil na exploração de bens ou
serviços.
A empresa pode ser exercida por um empresário individual, no caso uma
pessoa física, ou por uma sociedade empresária, no caso uma pessoa jurídica.
Essas empresas quando abertas são classificadas em vários tipos que são:
Quanto à responsabilidade dos sócios;
Quanto à estrutura econômica;
Quanto à existência de personalidade jurídica;
Quanto à natureza do ato conceptivo.
2.2.4.1 Quanto à Responsabilidade dos Sócios
Na constituição dessas empresas, fica estabelecida a responsabilidade dos
sócios no momento da abertura da mesma. Essa responsabilidade não fica
determinada de acordo com a responsabilidade da sociedade, e sim pela
responsabilidade de cada sócio, pois todas as sociedades têm responsabilidades
ilimitadas por suas obrigações. A responsabilidade dos mesmos é dividida em:
26
a) Ilimitada – os sócios da empresa respondem de maneira subsidiária,
porém a mesma é solidária e ilimitada. A responsabilidade é subsidiária
em relação á sociedade, mas solidária em relação aos sócios entre si.
b) Limitada – nessa responsabilidade, os sócios da empesa respondem até
certo limite pelas dívidas da sociedade, sendo de maneira limitada
conforme descrito no estatuto ou no contrato social, tendo que no mesmo
constar tal tópico.
2.2.4.2 Quanto à Estrutura Econômica
Nessa classificação, podemos verificar dois tipos dela que são:
a) Sociedades de Capital – nessa classificação de sociedade, o fator
primordial é a contribuição financeira que foi dada pelo sócio. Podemos
colocar como exemplo a se todos os sócios dessa sociedade fossem
pessoa jurídica.
b) Sociedade de Pessoas – a característica principal dessa classificação de
sociedade é que pessoas se unem a partir de algum interesse pessoal
apara constituir uma sociedade.
2.2.4.3 Quanto à Existência de Personalidade Jurídica
Já nesta classificação, a diferença maior se percebe em sociedades que tem
reconhecimento pelos códigos comerciais, e outras por leis especiais. Os dois tipos
desta classificação são:
a) Personificadas – são sociedades que possuem personalidade jurídica, e
as mesmas são constituídas por intermédio de documento no Registro de
Comércio, no caso as Juntas Comerciais ou no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas.
b) Não-Personificadas – são as sociedades comuns, em conta de
participação.
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2.2.4.4 Quanto à Natureza do Ato Conceptivo
Nesta classificação, verificamos que as sociedades podem serem constituídas
a partir de um contrato social ou de um estatuto social. Abaixo temos os dois tipos
desta classificação que são:
a) Sociedade Contratual – é aquela que sua constituição se dá a partir de um
contrato, ou seja, é criada conforme a livre e espontânea vontade de seus
sócios.
b) Sociedade Estatutária ou Institucional – é aquela que os sócios não tem
plena autonomia de vontade, não cabendo ampla discussão das regras
que regem a sociedade.
No tópico a seguir, falaremos dos tipos de sociedade empresariais, que são:
Sociedade em Comandita Simples;
Sociedade em Comandita por ações;
Sociedade em Nome Coletivo,
Sociedade Limitada;
Sociedade Anônima
2.2.5 Tipos de Sociedades Empresárias
De acordo com o nosso Código Civil e a Lei 6.404 de 1976, são vários os
tipos de sociedade existentes em nosso país. Neste trabalho iremos abordar só
cinco tipos societários por estes serem os mais importantes na resolução do
problema de pesquisa estudado.
Esse estudo sobre os tipos de sociedade terão como norteador das ideias e
conceitos o Código Civil e a Lei das S.A – 6.404/1976.
Os tipos de sociedades estudados serão a Sociedade em ComanditaSimples,
a Sociedade em Comandita por Ações, a Sociedade em Nome Coletivo, a
Sociedade Limitada e a Sociedade Anônima.
No caso do estudo em relação á Sociedade Anônima, teremos como base a
Lei 6.404 de 1976, diferente dos outros tipos que serão estudados no Código Civil.
28
2.2.5.1 Sociedade em Nome coletivo
Conforme o que preceitua o Código Civil, a Sociedade em Nome coletivo é
composta somente de pessoas físicas com responsabilidade ilimitada e solidária em
relação as obrigações empresárias. Os artigos que positivam esse tipo societário
vão do artigo 1.039 ao artigo 1.044 do Código Civil:
Dentre eles podemos destacar o art. 1.044, vejamos:
“Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.”
2.2.5.2 Sociedade em Comandita Simples
A Sociedade em Comandita Simples o Contrato Social deve especificar os
dois tipos de sócios que ela possui que são os comanditados e os comanditários. A
característica dos comanditados é responderem ilimitada e solidariamente pelas
ações sociais e os comanditários são obrigados apenas pelos valores de suas
quotas.
O Código Civil estabelece:
Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota; Art. 1.050. No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão quem os represente.
2.2.5.3 Sociedade Limitada
A Sociedade Limitada caracteriza-se pela responsabilidade de seus sócios,
cada sócio se responsabiliza apenas por sua cota de participação. Utiliza-se a
nomenclatura “Ltda.” nestes tipos societários.
O Código Civil traz que:
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Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. Art. 1.087. A sociedade dissolve-se, de pleno direito, por qualquer das causas previstas no art. 1.044.
2.2.5.4 Sociedade Anônima
A Sociedade Anônima tem como característica marcante seu capital social
dividido em ações, onde a responsabilidade de seus sócios ou acionistas limita-se
ao valor da emissão das ações subscritas ou adquiridas. Podem ser ainda de capital
fechado ou aberto, significando dizer, ou a empresa pertence a um grupo reservado
com limitações contratuais ou possuem possibilidades de negociar suas ações.
As Sociedades anônimas regem-se por legislação especial, a Lei 6.404/76
que disciplina a atuação deste tipo societário. O Código Civil nos mostra apenas dois
artigos:
Art. 1.088. Na sociedade anônima ou companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. Art. 1.089. A sociedade anônima rege-se por lei especial, aplicando-se lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código.
2.2.5.5 Sociedade em Comandita por Ações
Na Sociedade em Comandita por Ações igualmente como na Sociedade em
Comandita Simples existem os sócios comanditados que respondem ilimitada e
solidariamente pelas ações sociais e os comanditários que são obrigados apenas
pelos valores de suas quotas. É um tipo societário de capitais divididos por ações e
onde somente os acionistas podem ser diretores ou gerentes.
Vejamos algumas características apresentadas pelo Código Civil:
Art. 1.090. A sociedade em comandita por ações tem o capital dividido em ações, regendo-se pelas normas relativas à sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e opera sob firma ou denominação. Art. 1.091. Somente o acionista tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade.
30
Podemos observar as características peculiares de cada sociedade. De um
modo geral devemos atentar para suas particularidades. Sabe-se, entretanto que em
comum a elas temos o modo de resolução da Sociedade em relação à morte de um
sócio.
O Código Civil disciplina essa possibilidade no artigo 1.028:
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:
I - se o contrato dispuser diferentemente; II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Verificando-se, pois, essa possibilidade genérica da lei no que diz respeito a
aceitação de sucessores herdeiros em caso de morte de um dos sócios, devemos
estudar até que ponto a lei impõe aos sócios remanescentes a aceitação do novo
sócio na empresa. Equivocadas ilações podem surgir com a interpretação da
Sucessão hereditária no âmbito do direito societário, podendo ocorrer até mesmo a
extinção da empresa por conflitos que podem vir a surgir. Assunto esse que
trataremos no capítulo a seguir.
2.3 Direito Sucessório X Direito Societário
Neste tópico será abordado o ponto de conflito existente entre Direito
Sucessório Hereditário e o Direito Societário. O Código Civil de 2002 trouxe
inúmeros esclarecimentos a cerca da sucessão no Brasil, mas em compensação
deixou margens para interpretações duvidosas à respeito da sucessão Hereditária
no âmbito do Direito Societário.
Na dissolução de uma sociedade, será discutido acerca de sociedade
Limitada, que está positivada no art. 1.033 do Código Civil e pode ser dada de várias
maneiras como por decisão unânime entre os sócios por exemplo. O artigo
mencionado referencia as demais possibilidades, vejamos:
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I- o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II- o consenso unânime dos sócios;
31
III- a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV- a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de 180 (cento e oitenta) dias; V- a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Verifica-se também que o código Civil em seu art. 1.028 apresenta a condição
para o caso de falecimento de um dos sócios, colocando as três exceções para a
liquidação de suas quotas:
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I- se o contrato dispuser diferentemente; II- se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III- se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
Observa-se, entretanto, que pela visão da sucessão hereditária transmitem-se
aos herdeiros a propriedade e posse dos bens do de cujus, visão esta não percebida
pelo direito empresarial que não coloca obrigatoriamente, mas sim por vontade dos
sócios, os sucessores herdeiros como novos sócios. Segundo o direito societário o
que ocorre são apenas a transmissão do crédito correspondente as quotas
herdadas, visto que a composição social da empresa implica na escolha pessoal de
cada pessoa, suas características e qualidades intrínsecas.
Quando se quer impor a entrada de sócios por motivo de sucessão hereditária
sem a anuência dos demais sócios acontece a quebra da affectio societatis. Fran
Martins (1990, p. 212) assim conceitua affectio societatis como sendo “o desejo de
estarem os sócios juntos para a realização do objeto social".
Ricardo Negrão (2011, p.515) coloca no seu Manual de Direito Comercial e
Empresarial as situações no caso de falecimento de sócios empresários, de
empresa limitada, veja-se:
“Falecido um dos sócios, e no silêncio do contrato social, podem os demais optar por: a) dissolver a sociedade (art. 1.028, II); b) acordar, com os herdeiros, sua substituição no quadro social (art. 1.028, III); ou c) pagar o valor da quota aos herdeiros, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, que coincide com a do evento morte, verificada em balanço especialmente levantado (art. 1.031)”
O Código de Processo Civil estabelece que ocorrendo o falecimento de um
dos sócios integrantes de sociedade empresária, suas quotas na sociedade devem
ser inventariadas,ocorrendo então à apuração dos haveres se este for sócio de
sociedade não anônima. Apuração de haveres no caso em tela é o procedimento de
32
avaliação do montante devido a sócio que se retira (morre) de uma sociedade não
anônima.
Ulhôa (2002 p.465-466)nos explica acerca das consequências em caso de
morte de sócio pertencente à sociedade limitada:
“Morte de sócio. Se falece o sócio da sociedade limitada, isto pode implicar a dissolução parcial desta. De fato, a participação societária, como os demais elementos do patrimônio do falecido, será atribuída, por sucessão causa mortis, a um herdeiro ou legatário, que nunca estão obrigados a fazer parte dasociedade limitada, seja ela de pessoas ou de capital. Têm eles direito,portanto, à apuração dos haveres de que decorre a dissolução parcial. Claro,se o sucessor do sócio morto quiser fazer parte da sociedade, e ossobreviventes concordarem, nada obriga a liquidação da quota. (...) Em suma, a morte de sócio só dissolve a limitada quando o sucessor não deseja entrar para a sociedade, ou, sendo ela de pessoas, os sobreviventes querem impedir o ingresso dele. Se o sucessor do sócio morto concorda em manter o investimento na empresa, e os sobreviventes concordam em tê-lo como sócio, a sociedade não se dissolve, nem sequer parcialmente. (...)”
Diante disto entende-se, portanto, que não há obrigatoriedade na inserção de
herdeiros no quadro societário de uma empresa por falecimento de um dos sócios e
posterior sucessão hereditária. Se for por vontade do herdeiro e por acordo entre os
sócios remanescentes isto pode ser feito. Não desejando que isto ocorra por uma
das duas partes serão apurados os haveres do sócio que faleceu de acordo com o
contrato social e serão devolvidos os valores correspondentes. O Art. 1031 do
Código Civil nos coloca positivados esta situação:
“Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado. § 1o. O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. § 2o. A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de 90 (noventa) dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário”.
O detalhe a ser observado em caso de falecimento de um dos sócios com
sucessores hereditários de uma empresa limitada é a observação do contrato social
da empresa. Este documento regulará as vontades dos sócios empresários no
momento da constituição da empresa.
33
Devem ser definidas as diretrizes que disciplinarão os casos de falecimento
de um dos cotistas, se pode ou não haver sucessão hereditária em caso de
falecimento de um dos sócios e a maneira de apuração dos haveres. Este detalhe
estipulado no contrato social resguardará e disciplinará a vontade de seus sócios
evitando confusões e lides judiciais.
2.3.1 Consequências das decisões acerca do ingresso ou não do herdeiro
sucessório no quadro societário da empresa
Caso os herdeiros do sócio falecido, este pertencente a um quadro societário
em sociedade limitada, venham a tomar a decisão de integrar o quadro societário e
os sócios remanescentes em nada se opuserem todos os direitos e deveres antes
pertencentes ao sócio que veio a falecer serão repassados aos novos sócios. Ou
seja, não apenas os haveres serão recebidos, mas suas dívidas serão entregue Isto
está explicitado no art. 1.025 do código Civil, vejamos:
“Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas sociais anteriores à admissão.”
Já se os herdeiros sucessórios do sócio falecido pertencente a um quadro
societário de empresa limitada optarem pela não participação como sócios,
decidindo apenas pela retirada das quotas antes pertencentes ao seu sucessor,
deve ser feito como anteriormente dito a realização da apuração dos haveres, no
momento do inventário do de cujus.
Devemos observar que quando o herdeiro não ingressa como sócio na
empresa e retira seus haveres estes não farão parte do quadro societário da
empresa, são apenas condôminos das quotas antes pertencentes pelo de cujus,
preservando-se os valores até serem pagas aos herdeiros sucessórios e não sendo
responsáveis pelas dívidas pertencentes à empresa.
2.3.2 Sucessão Hereditária em uma empresa limitada
Devemos trazer os questionamentos acima mencionados para questões
envolvendo a sucessão hereditária dentro dos quadros sociais de uma empresa
34
limitada. Em casos onde em uma empresa que tem a perda de um dos seus sócios
devido ao falecimento deste e um de seus sucessores possui o interesse de assumir
a posição do pai por exemplo, vários quesitos devem ser observados antes de
qualquer decisão a ser tomada pelos sócios remanescentes.
O Código Civil esclarece acerca da morte dos sócios em empresas limitadas,
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo: I - se o contrato dispuser diferentemente; II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade; III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.
O primeiro ponto a ser analisado é se o sucessor hereditário tem interesse em
integrar o quadro social da empresa no lugar de seu sucedido falecido, este
interesse sendo também dos sócios remanescentes quais as consequências disto
para a empresa e para o novo sócio?
Bem neste caso observa-se que todos os direitos e deveres antes
pertencentes ao sócio que veio a falecer serão repassados ao seu herdeiro. Todos
os proventos serão recebidos, mas suas dívidas serão entregues, ou seja, direitos e
deveres serão repassados.
Agora se o sucessor hereditário do mesmo modo desejar fazer parte da
sociedade, mas em contrapartida este não for o desejo dos sócios remanescentes
como é possível a elucidação deste conflito? Deve ser observado a princípio o que
traz o contrato social da empresa, se nele possuir cláusulas especificas sobre este
assunto então o contrato deverá ser seguido e o sucessor hereditário integrará o
quadro de sócios da empresa.
De outro modo será visto quando o contrato social silenciar sobre o assunto
tendo por base que de acordo com o que disciplina o Art. 1028 do Código Civil,
apenas por vontade dos sócios, o herdeiro sucessório integrará o quadro da
sociedade, visto que a composição social da empresa implica na escolha pessoal de
cada pessoa, suas características e qualidades intrínsecas.
E quando a empresa estiver diante de sucessores hereditários que não
desejam fazer parte dos quadros sociais da empresa, qual a conduta deve ser
adotada pelos empresários? Se o herdeiro não quiser suceder o falecido como
35
sócio este pode retirar as importâncias relativas às quotas que lhes passasse a
pertencer.
Com o inventário dos bens deixados pelo falecido, seria imposto o cálculo do
valor das quotas pela forma chamada de “Apuração de Haveres”. Este procedimento
tem por finalidade a avaliação do montante devido a sócio que se retira (morre) de
uma sociedade não anônima.
Mônica Gusmão nos ensina que: "Não havendo previsão contratual expressa,
opção dos demais sócios pela terminação da sociedade ou, por acordo de herdeiros,
substituição do morto, resolve-se a sociedade em relação ao sócio falecido e liquida-
se a sua quota".
Já quando a decisão for à dissolução da sociedade é necessária a aprovação
dos sócios remanescentes que se realizará mediante o consenso da totalidade
destes, ou seja, se dará por deliberação da unanimidade dos sócios na sociedade
por prazo determinado (art. 1.033, II, do Código Civil) e da maioria absoluta, na
sociedade por prazo indeterminado (art. 1.033, III, do Código Civil), tendo em vista
se tratar de regra específica para o caso de ocorrência da morte de sócio.
Observa-se que isto só poderá ser feitor depois que os herdeiros sucessores
puderem dispor das quotas sociais depois de ultimada a partilha das quotas da
sociedade, comprovada mediante o formal de partilha, ou escritura pública
elaborada por Tabelião, ou testamento.
Importante salientar que a lide judicial em nada poderá favorecer aqueles que
buscam por decisões favoráveis quanto a sua inserção ou não nos quadros
societários de empresas em que um de seus sócios falece. Logo porque se busca o
que está estabelecido no contrato social este estando silente é apenas através das
decisões dos sócios remanescentes que o sucessor pode ou não vir a integrar o
quadro de sócios da empresa limitada, podendo até mesmo haver a dissolução da
sociedade se assim for de interesse dos sócios.
Para dar embasamento acerca da questão estudada, Direito Sucessório no
âmbito do direito societário será exposto no próximo capítulo jurisprudências que
confirmam a situação aqui analisada.
Foram coletados alguns casos que envolviam Direito Sucessório e Direito
Societário, para dar um maior embasamento jurídico. Abaixo segue algumas das
mais importantes encontradas mediantes pesquisas feitas na internet bem como em
livros e artigos publicados.
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2.4 Alguns Julgados Relacionados ao Tema
As diversas formas de conflito entre Direito Sucessório e Direito Societário
podem ser vistas em algumas decisões de diversos tribunais espalhados pelo nosso
país. Estas decisões confirmam o entendimento da legislação civil que preconiza a
vontade dos sócios em relação a entrada ou não de sucessores hereditários em seu
quadro societário. Abaixo segue algumas destas decisões:
Processo: AGV 5784 MS 2005.005784-6 Relator (a): Des. Divoncir Schreiner Maran. Julgamento: 04/10/2005 Órgão Julgador: 2ª Turma Cível Publicação: 21/10/2005 Parte(s): Agravante: Espólio Rogério Velasques Soares Leal Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - INVENTÁRIO - DE CUJUS PARTÍCIPE DE SOCIEDADE LIMITADA, OM CAPITAL MAJORITÁRIO APURAÇÃO DE HAVERES - DESNECESSIDADE DA PROVA PERICIAL - RECURSO PROVIDO. Em se tratando de sociedade de capital limitado, falecendo um dos sócios, não existe necessidade de apuração dos haveres mediante prova pericial, uma vez que tal só se faz imprescindível quando a sociedade continuar com os sócios remanescentes, com exclusão daquele que faleceu, caso em que a apuração de haveres faz-se necessária para apurar-se o valor do crédito, que ingressará no processo de inventário e será partilhado entre seus herdeiros. Mesmo nessa hipótese, contudo, a perícia para apuração dos haveres só será necessária se o balanço patrimonial da empresa, a ser apresentado pelo seu contador, não trouxer elementos necessários para apuração do haver do sócio falecido e, outrossim, realizada em processo incidente, fora do processo de inventário, dada a necessidade de participação dos demais sócios em tal procedimento.
Diante do julgado acima, a apuração dos haveres em caso de falecimento de
um dos sócios só se faz necessária se os sócios remanescentes desejarem
continuar com a sociedade uma vez que se isto ocorre deverá ser estabelecida a
cota parte de cada um e apurado os haveres do sócio falecido.
Processo: APL 1453997120118260100 SP 0145399-71.2011.8.26.0100 Relator(a): Teixeira Leite Julgamento: 28/08/2012 Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial Publicação: 30/08/2012
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Ementa: DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. Apuração de haveres. Morte de sócio. Em que pese a previsão da EIRELI, sócia remanescente quer a dissolução da sociedade para que outra pessoa possa se associar a ela. Inexistência de affectio societatis com o herdeiro do sócio falecido. Sociedade de pessoas. Necessidade de dissolução. Apuração de haveres que será feita em liquidação a partir de perícia técnica. Impossibilidade de resolução desta questão no juízo do inventário. Questão de alta indagação. Recurso do herdeiro do sócio, voltado a modificar essa solução, desprovido.
Há que se observar também que diante das empresas individuais de
responsabilidade limitada (EIRELI), estas possuindo sócios e um deles falecendo a
empresa poderá ser extinta se o remanescente julgar que as qualidades dos
possíveis herdeiros (affectio societatis) não são suficientes para que estes possam
fazer parte do quadro societário da empresa.
Processo: APL 1584038320088260100 SP 0158403-83.2008.8.26.0100 Relator(a): Luiz Antonio de Godoy Julgamento: 19/06/2012 Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado Publicação: 19/06/2012 Ementa: DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE. Falecimento de sócio Contrato social que não prevê a sucessão dos herdeiros Direito somente à apuração de haveres, objeto de discussão em incidente ao inventário dos bens deixados pelo de cujus. A transmissão da herança que não implica a aquisição da qualidade de sócio pelo herdeiro Extinção do processo sem resolução de mérito, de ofício Manutenção da disciplina da sucumbência Apelação prejudicada.
Nos casos onde o contrato social se cala diante da sucessão hereditária e
quando também não há vontade dos sócios remanescentes em trazer para a
sociedade o herdeiro sucessório do falecido deverá ser feita apuração dos haveres e
não se devem questionar possíveis direitos quanto a integração do sucessor nos
quadros sociais da empresa.
Processo: 817828501 PR 817828-5/01 (Acórdão) Relator (a): Stewalt Camargo Filho Julgamento: 11/04/2012 Órgão Julgador: 17ª Câmara Cível Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, CUMULADA COM APURAÇÃO DE HAVERES. DISSOLUÇÃO JUDICIAL (ART. 1.029 DO CC). FALECIMENTO DE SÓCIO. SUCESSORES. DIREITO DE NÃO PERMANECER NA SOCIEDADE. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO LEGAL OU CONTRATUAL EM SENTIDO CONTRÁRIO. QUEBRA DA AFECCTIO SOCIETATIS. PAGAMENTO DO VALOR DA QUOTA PERTENCENTE AO SÓCIO FALECIDO, A SER APURADO EM
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LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO DE HAVERES DISPOSTA PELO ARTIGO 1.031, DO CÓDIGO CIVIL. OMISSÃO INEXISTENTE. RECURSO OBJETIVANDO REDISCUTIR O MÉRITO. MERO INCONFORMISMO. PREQUESTIONAMENTO. DESCABIMENTO. LIMITES DO ART. 535, I E II, CPC. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO REJEITADOS. Processo: 8178285 PR 817828-5 (Acórdão) Relator (a): Stewalt Camargo Filho Julgamento: 01/02/2012 Órgão Julgador: 17ª Câmara Cível Ementa: APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO PARCIAL DE SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA CUMULADA COM APURAÇÃO DE HAVERES. CUMULAÇÃO DE AÇÕES E DE PEDIDOS. NECESSIDADE DE INTERVENÇÃO DA SOCIEDADE E DOS SÓCIOS. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. NOTIFICAÇÃO (ART. 1.029 DO C. CIVIL). DISSOLUÇÃO JUDICIAL. CITAÇÃO. SUPRIMENTO. MÉRITO. FALECIMENTO DE SÓCIO. SUCESSORES. DIREITO DE NÃO PERMANECER NA SOCIEDADE. AUSÊNCIA DE DISPOSIÇÃO LEGAL OU CONTRATUAL CONTRÁRIA. QUEBRA DA AFFECTIO SOCIETATIS. COMPROVAÇÃO. PAGAMENTO DO VALOR DA QUOTA PERTENCENTE AO SÓCIO FALECIDO, EM DINHEIRO (ART. 1.031, § 2º DO CÓDIGO CIVIL). DECADÊNCIA DA EMPRESA. MANIFESTAÇÃO DOS APELANTES NO SENTIDO DE SER A EMPRESA PRÓSPERA E RENTÁVEL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. LITIGIOSIDADE. SUCUMBÊNCIA RECONHECIDA. FIXAÇÃO COM BASE NO ART. 20, § 4º DO CPC, CORRETAMENTE. VALOR QUE NÃO PODE SER TIDO COMO IRRISÓRIO OU EXORBITANTE. SENTENÇA MANTIDA. NEGADO PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS.
Nas duas jurisprudências acima, observamos que nas empresas limitadas, se
não estiverem expressas, no contrato social da empresa, questões relacionadas à
sucessão hereditária, os sócios remanescentes é que devem decidir pela inserção
ou não dos herdeiros nos quadro societário da empresa.
Importa na decisão a questão das características pessoais apresentadas
pelos sucessores. Não desejando que os herdeiros sucessórios integrem a
sociedade deve ser realizado a apuração dos haveres e estes integrados ao
inventário do falecido.
Não sendo assim ocorrerá a transmissão do crédito correspondente às quotas
herdadas, sendo devido a apuração dos haveres no momento do inventário, visto
que a composição social da empresa implica na escolha pessoal de cada pessoa.
Agora se por vontade dos sócios, e se esta também for à vontade do
sucessor hereditário, o herdeiro integrará o quadro societário da empresa e terá
direito á suas cotas correspondentes no contrato.
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5. CONCLUSÃO
Abordou-se neste trabalho os conflitos existentes entre Direito Sucessório
hereditário e Direito societário. Foram estudadas possíveis soluções na busca de
resolver as lides judiciais em que os sucessores passam a fazer parte do quadro
geral de sociedades mercantis.
Com as mudanças culturais, religiosas e econômicas, novos modelos de
sociedades inclusive mercantis foram surgindo no mundo. Inicialmente a maioria
dessas sociedades eram familiares e poucos eram os conflitos, mas em
compensação quando estes aconteciam envolviam-se questões sucessórias.
Passou-se então a discutir-se questões envolvendo o Direito Sucessório, o Direito
Societário e a relação existente entre ambos na resolução de conflitos.
No Brasil, com o Código Civil de 1916, o Direito Sucessório veio para
determinar o modo de aquisição do patrimônio a ser recebido em razão da morte de
seu proprietário, chamada então de sucessão causa mortis. A única preocupação
era a de preservar o patrimônio do de cujus. Com a modificação do Código Civil já
em 2002 outras questões foram suscitadas como a possibilidade de reconhecimento
de filiação natural, nomeação de tutores e testamenteiros e ainda transmissão de
direitos morais do autor de obras científicas e artísticas.
Esse estudo também abordou a Lei Civil na sucessão hereditária que
transmite aos herdeiros o domínio dos bens do de cujus. Já sob o âmbito
empresarial foi analisado se a morte do sócio não caracterizava necessariamente a
inserção dos herdeiros na sociedade.
Observou-se que também se aplica a vontade dos sócios ou o que disciplina
o contrato social nos casos envolvendo empresas limitadas. Importante dizer que o
que está elencado no contrato social é o que deve prevalecer este estando silente é
sócios remanescentes é que decidirão a possível inserção do o sucessor hereditário
na integração no quadro de sócios da empresa limitada, podendo até mesmo haver
a dissolução desta se assim for de interesse dos sócios.
Baseado neste estudo firma-se o entendimento, portanto, na primazia da
vontade dos sócios remanescente em caso de falecimento de um dos sócios nas
empresas limitadas. Observa-se que apesar da titularidade dos bens patrimoniais do
de cujus serem transmitida desde logo a sua morte, a posse e o domínio dos bens
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do falecido são repassados ao herdeiro, não implica dizer que este será sócio da
empresa em que o sucedido figure como parte do quadro societário.
Agora se por vontade dos sócios, e se esta também for à vontade do
sucessor hereditário, o herdeiro integrará o quadro da sociedade. Não sendo assim
ocorrerá a transmissão do crédito correspondente às quotas herdadas, sendo devido
a apuração dos haveres no momento do inventário, visto que a composição social
da empresa implica na escolha pessoal de cada pessoa.
Por fim este estudo teve por finalidade buscar resolver os conflitos que
envolvam o Direito Sucessório e o Direito Societário respaldando-se no Direito
positivado, nos estudos jurisprudenciais e nos ensinamentos doutrinários. O
entendimento correto acerca deste assunto evitará que muitas lides judiciais sejam
iniciadas tendo em vista entendimento já firmado.
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RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: Direito das Sucessões 2003. 26. ed. Rev. E atual. Por Zeno Veloso; e acordo com o novo Código de Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo, SP. 2003. v. 7. ed. Saraiva 2003 (p. 3 – 131). TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado. RIBEIRO. Gustavo Pereira Leite. Manual de Direito das Famílias e das Sucessões.Belo Horizonte: Mandamentus, 2008. http://www.jucec.ce.gov.br. Acesso em 30 de março de 2013. http://www.jusbrasil.com.br/. Acesso em 30 de março de 2013. http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22325890/apelacao-apl 1453997120118260100-sp-0145399-7120118260100-tjsp. Acesso em 31 de março de 2013.
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