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ORIGINAL MEGAPRO 2018
CAPÍTULO 004
Novela de
RENNAN LOPES
Direção
Direção Artística
Personagens deste capítulo
ALEXANDRE
ALTIVA
APARECIDINHO
BRUNO
CAMILA
CAROL
CHICA
CLEUDES
CLEYTON
COISINHA
DIEGO
DIJÉ
FRED
ÍRIS
IVO
JÚLIO CÉSAR
JUMA
LICA
LEIDIDAY
LURDINHA
MALU
MARCO ANTÔNIO
MARCELA
MARIA RITA
NERO
PEDRO
ROQUE
STEFANY
SILMARA
TELMINHA
VERAS
Participações especiais
SECRETÁRIA
Esta é uma obra de ficção baseada na livre criação artística e sem compromisso com a
realidade. Todos os direitos reservados ao autor e à MEGAPRO ®
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 1
CENA 01. APTO TELMINHA. SALA. INTERIOR. DIA
A CAMPAINHA TOCA. TELMINHA ATENDE. MARIA RITA NA PORTA.
MARIA RITA – É aqui que estão precisando de babá?
TELMINHA – É aqui sim. Você é a...?
MARIA RITA – Nice. Sou a Nice.
TELMINHA – Nice... Sabe que tu me lembra alguém, Nice?!
MARIA RITA PARALISA.
TELMINHA – Ai, não consigo lembrar quem é. Deve ser coisa da
minha cabeça. Entra, Nice! Fica à vontade.
MARIA RITA ENTRA. VÊ STEFANY, VIDRADA NA TV.
MARIA RITA – Essa deve ser a Stefany.
TELMINHA – É ela sim. Diz oi pra moça, filha!
STEFANY – (NÃO LIGA) Oi.
MARIA RITA – Quê que tu tá vendo aí de tão interessante na TV?
STEFANY – Um negócio sobre a serpente.
MARIA RITA – Que serpente?
STEFANY – A encantada, ora. Aquela que fica embaixo da Fonte do
Ribeirão.
MARIA RITA – Ah, adoro essa lenda! Morria de medo quando me
contavam no meu tempo de criança.
STEFANY – Não é lenda, não, moça. A serpente existe sim!
MARIA RITA OLHA PARA TELMINHA, QUESTIONANDO.
TELMINHA – Astúcias de Stefany. Deixe pra lá. Venha, vamos
conversar!
MARIA RITA – Vamos.
AS DUAS SEGUEM PARA A SALA DE REFEIÇÕES, QUE DIVIDE-SE DA SALA APENAS
POR UM BALCÃO. SENTAM-SE À MESA.
EM STEFANY, CONCENTRADA NA TELEVISÃO.
CORTA PARA/
CENA 02. ILHA TECELAGEM. FRENTE. EXTERIOR. DIA
TAKE PARA PONTUAR. PRÉDIO ENORME, ESPELHADO, BEM MAIOR QUE EM 2001.
NOME DA EMPRESA EM LOCAL BEM VISÍVEL. MOVIMENTO DE PESSOAS POR ALI.
CORTA PARA/
CENA 03. ILHA TECELAGEM. ANTESSALA DO ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA
AMBIENTE MÉDIO, COM UMA GRANDE JANELA COM VISTA PARA OS DEMAIS
PRÉDIOS. NA MESA, A SECRETÁRIA MEXE NUMA REDE SOCIAL NO COMPUTADOR.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 2
ELEVADOR ABRE. DE LÁ, SAI VERAS (ALTO, FORTE, NEGRO, TERNO, 45 ANOS).
SECRETÁRIA FECHA O NAVEGADOR RAPIDAMENTE.
VERAS – Júlio César já chegou?
SECRETÁRIA – Já sim.
VERAS – Quê que tu tava vendo aí que fechou correndo quando
eu entrei?
SECRETÁRIA – Eu? Que é isso?! Eu tava... tava resolvendo umas
planilhas aqui.
VERAS – Sei... Vê lá, hein?! As folgas da Marcela são os piores
dias!
VERAS ENTRA NO ESCRITÓRIO.
CORTA PARA/
CENA 04. ILHA TECELAGEM. ESCRITÓRIO JÚLIO CÉSAR. INTERIOR. DIA
LUGAR AMPLO, BEM DECORADO. JÚLIO CÉSAR SENTADO À SUA MESA, PENSATIVO.
VERAS ENTRA.
VERAS – Certos funcionários não podem ver uma brecha que
fogem das obrigações e vão se esbaldar.
JÚLIO CÉSAR – Filhos idem.
VERAS – Ih... Já vi tudo.
VERAS SENTA DE FRENTE PARA JÚLIO.
VERAS – Pedro, Malu ou Stefany?
JÚLIO CÉSAR – Combo! Os três. (P) Veras, eu sou um mau pai?
VERAS – Nunca fui teu filho, mas acho que não é, não, senão
Nero também estaria incluso nesse pacote.
JÚLIO CÉSAR – O único que ainda faz alguma coisa direito naquela
casa...
VERAS – E por que tu não bota ele pra herdar a presidência de
uma vez, Júlio? Há anos eu te vejo aí, pegando no pé de
Pedro, mas o menino não quer, o menino não gosta.
JÚLIO CÉSAR – Mas tem que gostar! Tu acha que é fácil pra mim
passar pela traição e morte de uma mulher, ficar com três
filhos pequenos pra criar, depois perder meu pai no meio
de uma crise, e ter que administrar tudo isso sozinho? (P)
Todos! Todos têm que estar comigo! Nero foi o que deu
menos trabalho pra entender isso, graças a Deus, mas os
outros ainda precisam de uma prensa.
NESSE MOMENTO, MARCO ANTÔNIO (CABELOS GRISALHOS, 65 ANOS) VAI
ENTRANDO. PARA NA PORTA E FICA OUVINDO.
JÚLIO CÉSAR – Olha, talvez Pedro nem seja presidente de nada, mas só
esse laboratório aqui vai fazer bem pra ele. Pelo menos
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 3
ele passa mais tempo longe daquele parque de
vaquejada...
MARCO ANTÔNIO ENTRA DE SUPETÃO.
MARCO ANTÔNIO – Como é que é? Laboratório? Tu tá deixando o futuro da
tecelagem nas mãos de um moleque só pra ele fazer teus
gostos? (TOM) Irresponsável!
JÚLIO CÉSAR – (LEVANTA) Desaprendeu a bater antes de entrar, Marco
Antônio?
MARCO ANTÔNIO – Não vem querer mudar de assunto, Júlio! Vem cá, eu
ouvi bem essa palhaçada?
VERAS – Doutor Marco Antônio, se acalme/
MARCO ANTÔNIO – (CORTA) Cala a boca, Veras! Sai daqui! Cuida!
VERAS SAI.
JÚLIO CÉSAR – Quê que é? Chega gritando comigo, bota meu assessor
pra fora do meu escritório... Quem te deu essa autoridade
toda?
MARCO ANTÔNIO – Eu sabia... Eu sabia que papai tava senil quando deixou
a Ilha no teu nome. Onde nós vamos parar, meu Deus?
Júlio César, isso aqui não é brinquedo, é coisa séria!
JÚLIO CÉSAR – Eu trato a Ilha como uma coisa séria. É a coisa mais
séria da minha vida! E é por isso que eu coloco a família
toda pra ajudar.
MARCO ANTÔNIO – Enfiar uma empresa goela abaixo num menino que só
tem vocação pra correr boi não ajuda em nada. Se
continuar assim, a tecelagem vai pro fundo do poço!
JÚLIO CÉSAR – Tu escutou muito bem, apesar de não dever ficar
ouvindo conversa alheia, que o Pedro não vai ser
presidente.
MARCO ANTÔNIO – E quem te garante que nós só vamos falir se o Pedro
assumir? Esse teatrinho que tu arma esses anos todos
não conta? Pensa, Júlio César, pensa! Tu acha que papai
ia achar vantagem de um negócio desse?
JÚLIO CÉSAR – Ia. Ia sim, sabe por quê? Porque ele tinha visão geral
das coisas, enxergava a longo prazo, e graças a Deus eu
puxei isso a ele. Já tu...
MARCO ANTÔNIO – É impressionante como tu fala tanta besteira e acha
que é o dono da razão.
JÚLIO CÉSAR – E quem é o dono da razão? Tu? Marco Antônio, tu não
dá conta nem do teu casamento! Dá um tempo!
JÚLIO CÉSAR VAI SAINDO. MARCO ANTÔNIO O SEGUE.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 4
MARCO ANTÔNIO – Vai falar do meu casamento agora? Só porque não
conseguiu segurar a tua mulher?
JÚLIO CÉSAR PARA. SE VIRA. FICA DE FRENTE PARA MARCO ANTÔNIO.
MARCO ANTÔNIO – Calou, né? Porque tu sabe que é verdade. Desde que
Maria Rita fez o que fez, tu vem fazendo merda atrás de
merda pra não ser traído mais uma vez.
JÚLIO CÉSAR – Até tu?
MARCO ANTÔNIO – Ah, então quer dizer que mais gente já falou isso?
Graças a Deus não sou o único são nessa empresa.
Acorda, Júlio César! Se tu quiser se fechar no teu
mundinho por causa desse casamento que nunca deu
certo, dane-se, mas não meta a tecelagem no meio.
JÚLIO CÉSAR – Vai contar pro Pedro e pro Nero agora?
MARCO ANTÔNIO – (FRIO) Será?
OLHAM-SE FIXAMENTE POR UM TEMPO. MARCO ANTÔNIO SAI, DEIXANDO JÚLIO
CÉSAR IMÓVEL. NELE.
CORTA PARA/
CENA 05. MANSÃO VILLAR. SALA. INTERIOR. DIA
SILMARA SENTADA NO SOFÁ, LENDO UMA REVISTA. PEDRO ENTRA.
SILMARA – Apareceu o margarido. Posso saber qual o problema em
dizer onde vai passar a noite? Todo mundo ficou
descabelado atrás de ti.
PEDRO – Pra começar, eu nem sabia que eu ia ter de dormir lá
no parque. Acabou que eu tive que competir e até
ganhei. Tá bom pra senhora?
SILMARA – Tu sabe o que teu pai acha disso, né?
PEDRO – Meu pai não tem que achar nada. Ele que se afogue
nos sonhos que ele tem pra mim e que nunca vão se
realizar. E a senhora, tia Silmara, vê se para de cuidar da
minha vida e começa a olhar pro seu rabo!
SILMARA – Que palavreado é esse, Pedro? Me respeita, moleque!
PEDRO – Da mesma forma que sua cria lhe respeita? Piada...
SILMARA – Maurício está encaminhadíssimo fazendo a faculdade
dele, graças a Deus. Não venha querer falar do meu filho!
PEDRO – Esse é um. Mas e Diego? A senhora pelo menos sabe
onde ele passou a noite?
SILMARA FICA CALADA.
PEDRO – Vou pro meu quarto.
PEDRO SOBE AS ESCADAS.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 5
MAURÍCIO (ALTO, ATLÉTICO, 25 ANOS, CABELOS E BARBA PRETOS), AJUDANDO
DIEGO (ALTO, MAGRO, LOIRO, 18 ANOS, GROGUE) A ANDAR, AO LADO DE CAMILA
(ESTATURA MÉDIA, CABELOS COMPRIDOS E LISOS, 23 ANOS) ENTRAM. SILMARA
LEVANTA.
SILMARA – (ASSUSTADA) Meu Deus do céu! O que aconteceu com
ele?
CAMILA – Nada muito fora do comum, sogrinha. Deu PT.
SILMARA – Deu o quê?
MAURÍCIO – Bebeu demais e acabou assim, nesse estado. Encontrei
ele jogado lá pelo Centro. Ele e mais uma dúzia de gente.
CAMILA – Parece que tava tendo uma festa com os amigos dele,
aí já viu, né?!
SILMARA – Ai, meu Pai eterno! Maurício, dá um banho nele e bota
pra dormir. Faz isso pra mim.
MAURÍCIO – Bora, Diego. Ó o degrau.
SOBEM AS ESCADAS. SILMARA SENTA NOVAMENTE NO SOFÁ, PREOCUPADA. NELA.
CORTA PARA/
CENA 06. MANSÃO VILLAR. QUARTO DIEGO. BANHEIRO. INTERIOR. DIA
DIEGO NU, EMBAIXO DO CHUVEIRO. MAURÍCIO ESFREGA A ESPONJA NELE.
DIEGO – (BALBUCIA) Já chega, né, Maurício? A água tá gelada!
MAURÍCIO – Ah, agora é ruim? Ninguém manda ser irresponsável
desse jeito.
DIEGO – Que diabo é, Maurício? Virou meu pai?
MAURÍCIO – Deus me livre de ter um filho assim! Cria rumo, Diego!
Já é maior de idade, não é pra ficar fazendo essas
presepadas, não.
DIEGO – Tá, tá...
MAURÍCIO OLHA PARA O CORPO DE DIEGO.
DIEGO – Quê que é? Tá gostando?
MAURÍCIO – Te lascar, vai!
EM MAURÍCIO, CONSTRANGIDO.
CORTA PARA/
CENA 07. MANSÃO VILLAR. QUARTO DIEGO. INTERIOR. DIA
CAMILA SENTADA NA CAMA, ESPERANDO. MAURÍCIO VEM COM DIEGO, ENROLADO
EM UM ROUPÃO.
DIEGO – Tá de banho tomado. Agora vê se dorme um pouco.
CAMILA LEVANTA. DIEGO SE DEITA NA CAMA E LOGO DORME.
CAMILA – Vamo?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 6
SAEM.
CORTA PARA/
CENA 08. MANSÃO VILLAR. CORREDOR. INTERIOR. DIA
MAURÍCIO E CAMILA CAMINHAM LADO A LADO.
MAURÍCIO – Ô garoto que dá trabalho!
CAMILA – É... (P) E nós, hein? Não vamos curtir uma noite juntos,
não?
MAURÍCIO – Tipo o quê?
CAMILA – Ah, tu que sabe. Um cineminha hoje à noite, sei lá.
MAURÍCIO – Cinema hoje não dá, não. A não ser que tu queira ir
com o Fred também.
CAMILA PARA.
CAMILA – Como é que é? Tu vai sair com o Fred, Maurício?
MAURÍCIO – Vou. Quê que tem?
CAMILA – Quê que tem? Agora é todo dia isso? Vive pra cima e
pra baixo com esse Fred. Às vezes parece que tu namora
com ele, não comigo.
MAURÍCIO – Ah, Camila, não viaja! Vamo tomar café.
MAURÍCIO PASSA NA FRENTE E DEIXA CAMILA ALI, FURIOSA. NELA.
CORTA PARA/
CENA 08. APTO TELMINHA. SALA. INTERIOR. DIA
MARIA RITA E TELMINHA SENTADAS A UMA MESINHA. STEFANY CONTINUA VENDO
TV.
TELMINHA – (SURPRESA) São Paulo? Já trabalhou em São Paulo?
MARIA RITA – Sim, numa casa de família, cuidando de um bebê.
TELMINHA – Do tamanho da Stefany?
MARIA RITA – Não, bem menor. Bebê mesmo, de colo.
TELMINHA – Mas tu sabe que essas empregadas de casa de família
são danadas pra furar o olho da patroa, né?
MARIA RITA – Sei sim, mas Deus me livre, dona Telma! Inclusive,
quase sempre eu descobria as traições do patrão e abria
os olhos da patroa. Sem querer agourar seu
relacionamento, mas, se alguma coisa acontecer, eu vou
ser a primeira a se colocar do seu lado.
TELMINHA – (INTERESSADA) Gostei de ti, Nice! Gostei mesmo.
MARIA RITA – Eu também gostei da senhora. Gostei da Stefany.
Gostei de tudo! E se a gente combinar isso, todo mundo
sai ganhando, não é mesmo?
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 7
TELMINHA – Tem razão.
TELMINHA LEVANTA. MARIA RITA FAZ O MESMO.
TELMINHA – Nice... (ESTENDE A MÃO) Tá contratada!
MARIA RITA SORRI. APERTA A MÃO DE TELMINHA.
MARIA RITA – A senhora nem sabe como eu fico grata. Posso lhe dar
um abraço?
TELMINHA – Claro! Tô vendo que vamos ser grandes amigas!
SE ABRAÇAM. EM SEGUNDO PLANO, TV MOSTRA IMAGENS DE UMA SERPENTE
ENCANTADA.
REPÓRTER – (OFF/TV) A serpente encantada de São Luís foi
derrotada no passado, e passa seus últimos dias de
resguardo debaixo da ilha. Cuidado! Quando a cauda
encontrar a cabeça, toda a cidade afundará.
NO SORRISO VITORIOSO DE MARIA RITA.
CORTA PARA/
CENA 09. CASA DE LICA. FRENTE. EXTERIOR. DIA
TAKE PARA PONTUAR. CASA SIMPLES, SEM REBOCO, ALGUMAS PARTES EM BARRO,
CAINDO AOS PEDAÇOS, EM MEIO A VÁRIAS OUTRAS PARECIDAS.
CORTA PARA/
CENA 10. CASA DE LICA. COZINHA. INTERIOR. DIA
LUGAR MINÚSCULO, CONJUGADO COM A SALA. DECORAÇÃO HUMILDE. À MESA,
QUÊDA (NEGRA, BAIXA, MAL CUIDADA, 80 ANOS) COSTURA NUMA MÁQUINA
ANTIGA. CAFÉ POSTO.
LICA VEM DO QUARTO.
LICA – Bom dia. (ESTENDE A MÃO) Bença, vó.
QUÊDA – (BEIJA A MÃO DE LICA) Deus te abençoe.
LICA SENTA À MESA E VAI SERVINDO O CAFÉ.
LICA – Pode ir parando com isso, viu?
QUÊDA – O quê, menina?
LICA – Ora, vovó, moradessa a senhora já tá costurando?
Ande, tome um café.
QUÊDA – Já tomei, fia. Tô só terminando essa costura que é pra
hoje ainda.
LICA – Ê, Dona Quêda... Não para nunca, hein?!
QUÊDA – É o jeito. Se teve uma coisa que eu aprendi nessa vida,
Lica, foi a conquistar minhas próprias coisas. Nunca andei
pedindo dinheiro pra ninguém, sempre trabaiei pra ter o
meu.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 8
LICA – Mas é tão pouquinho...
QUÊDA – É pouquinho mas é meu! É nosso!
CLEYTON VEM DO QUARTO, SE ESPREGUIÇANDO. SENTA À MESA E COMEÇA A SE
SERVIR.
LICA – Bom dia pra ti também, Cleyton!
CLEYTON – (DESANIMADO) Ah... Bom dia.
QUÊDA – Ih... Que foi que te deu, menino?
CLEYTON – Nada não, vó.
LICA – Nada não... Tudo sim! Anda, Cleyton, desembucha. (P)
Foi com Malu, num foi?
CLEYTON – Como é que tu sabe?
LICA – Como é que eu sei? Tá na tua cara! Todo dia é um
problema diferente que tu te mete por causa dessa
menina. Esquece ela, siô!
CLEYTON – Esqueço nada. Eu gosto dela, ela gosta de mim.
QUÊDA – (POR CIMA) Mas a família dela num gosta de ti, muito
menos de ti andando com ela.
CLEYTON PASSA UNS INSTANTES CALADO.
CLEYTON – Eu ia pedir ela em casamento ontem.
REAÇÃO DE LICA E QUÊDA.
QUÊDA – É o que, pequeno?
CLEYTON – Eu ia. Na frente de todo mundo lá no Pedra Som.
Consegui anel e tudo. Mas aí o irmão dela chegou/
LICA – (CORTA) Pera lá! Onde tu conseguiu dinheiro pra
comprar anel de noivado, Cleyton?
CLEYTON – Umas economias que eu tinha...
LICA – Ah, economias? A gente aqui passando necessidade, às
vezes comendo uma vez por dia, vovó tendo que comprar
uma ruma de remédio caro e tu fazendo economia pra
comprar anel de noivado? É isso, Cleyton?
CLEYTON – O quê que tu queria, Lica? Pobre num pode casar mais?
LICA – Com gente que ganha por mês o que tu junta em um
ano, nem pensar! Como é que tu vai sustentar mulher,
Cleyton? Tu tem dinheiro pra isso?
CLEYTON – Eu disse que ia fazer o pedido. Não fiz porque o irmão
dela chegou bem na hora, gritou, explodiu...
QUÊDA – Olha aí, tá vendo? Bem feito! Ninguém mandou se
meter com gente rica. Mas isso é coisa de Deus pra tu
num casar com essa menina, sabia? Agora tu vai se virar
pra vender esse anel e trazer dinheiro pra dentro de casa.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 9
CLEYTON – Pô, vó, até a senhora?
QUÊDA – Até eu o quê? Eu e São Luís todinha tamo vendo que
esse teu namoro num vai pra frente.
LICA – Tá na hora é de tu abrir o olho, Cleyton! (LEVANTA)
Agora eu vou passar lá na casa da Carol pra gente ir pro
ensaio. Aproveito pra encontrar meu namorado, que é o
certo pra mim, tá? Beijo!
QUÊDA – Vai com Deus, minha fia.
LICA SAI.
QUÊDA – E tu, Cleyton, fica com Ele! Só Ele pra alumiar tua
cabeça e mostrar que essa tal de Malu só traz pobrema.
Pra ti e pra nós!
CLOSES ALTERNADOS. EM CLEYTON, CHATEADO.
CORTA PARA/
CENA 11. CASA DE DIJÉ. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
LUGAR DIVIDO DA SALA APENAS POR UM BALCÃO. TODOS À MESA, TOMANDO CAFÉ.
DISCUSSÃO. VOZES MISTURADAS. DIJÉ SE LEVANTA DA CABECEIRA.
DIJÉ – (GRITA) Ei!!!
TODOS PARAM DE FALAR.
DIJÉ – Vocês pensam que tão na casa de quem? Da Mãe
Joana?
ALTIVA – Da Mãe Joana pode ser que não, mas da mãe Dijé...
DIJÉ – Hum... Gracista! Eu só te olho, Altiva!
ALEXANDRE – Hehein, mamãe, se sente aí. Bora terminar de tomar o
café.
DIJÉ – (SENTA) Só levantei pra ver se vocês paravam de
gandaia na hora do café. E por falar em gandaia, não é,
Altiva, cadê teu marido? Num era pra tá aqui com a
gente?
ALTIVA – Eita, que hoje ela me marcou! Orlando tá na casa de
uma parenta dele lá que tá fazendo aniversário. Tá bom,
papuda?
JUMA – Olha, eu num sei vocês, mas esse negócio de
aniversário de parenta em outra cidade num cola comigo,
não.
LEIDIDAY – E o que é que cola contigo, encalhada? Nada! Carne de
piranha é a menos procurada.
CLEUDES – Epa! Num fala da minha fia!
LEIDIDAY – Pois ela que num fale da minha mãe.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 10
CAROL – Ai, gente, para! Não se pode tomar uma xícara de café
sem que tenha pau de briga aqui dentro dessa casa.
APARECIDINHO – Pra tu ver a educação que tua mãe deu...
DIJÉ – Aparecidinho, tu te cala, que pra eu dar na tua cara é
daqui pra ali.
CLEUDES – Xiba, égua! Vai partir pra violência física?
DIJÉ – Se num pararem com o licute, quem vai partir aqui é
vocês. Partir daqui de volta praquele Igarapé do Meio.
ROQUE – Té doido? Nam! Deus me livre! (P/ CLEUDES) Mamãe,
se aquiete aí, pelo amor de Deus.
NESSE MOMENTO, LICA ENTRA, BATENDO NA PORTA.
LICA – Ô de casa! Vixe, cheguei na hora boa!
APARECIDINHO – Armaria! Qual será a hora ruim então?
DIJÉ – Já mandei tu te calar. (LEVANTA) Lica, meu amor!
Como é que tá?
DIJÉ E LICA BEIJAM OS ROSTOS.
LICA – Tô boa. (P/ ALEXANDRE) E tu, tatu? Vai falar comigo
não?
ALEXANDRE LEVANTA E DÁ UM SELINHO EM LICA.
ALEXANDRE – Veio me ver, foi?
LICA – Não. Quer dizer, também. Vim chamar Carol pro ensaio
do boi.
CAROL – (LEVANTA) Vixe Maria, eu tinha até esquecido. Pois
rumbora, mermã.
LICA – Tu acompanha nós no ônibus, Alexandre?
ALEXANDRE – Eita, amor, nem vai dar. Já tô atrasado pro serviço, ó.
LICA – (CHATEADA) Ah... Então tá. Vamo, Carol?
CAROL – Vamo. Volto na hora do almoço, viu, mamãe?
DIJÉ – Tá bom, fia. Tchau.
CAROL E LICA SAEM.
ALEXANDRE – Eu também já tô de saída. Tenho que chegar no
supermercado antes do patrão assinar minha carta de
demissão. Até mais!
ALEXANDRE SAI.
DIJÉ – (P/ CLEUDES E APARECIDINHO) Tão vendo, duas
gralha? Meu filho, meu orgulho! Trabaiadô todo!
EM DIJÉ, ORGULHOSA.
CORTA PARA/
CENA 12. ESCRITÓRIO DE ALEXANDRE. FACHADA. EXTERIOR. DIA
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 11
RUA ESBURACADA, CASAS MAL CONSTRUÍDAS, PAREDES PICHADAS. UM ÔNIBUS
ESTACIONA POR ALI. DE LÁ, DESCE ALEXANDRE. O ÔNIBUS PARTE.
ALEXANDRE OLHA PARA OS LADOS, SORRATEIRO. NINGUÉM NA RUA. SE DIRIGE A
UM BECO, SUBINDO UMA ESCADA QUE EXISTE ALI.
CORTA PARA/
CENA 13. ESCRITÓRIO DE ALEXANDRE. INTERIOR. DIA
CUBÍCULO. PAREDES CHEIAS DE FOTOS DE MULHERES PELADAS. PAPÉIS
ESPALHADOS. ATRÁS DA MESA, ALGUÉM SENTADO COM A CADEIRA VIRADA PARA
TRÁS. ALEXANDRE ENTRA.
ALEXANDRE – Começou cedo, hein?
A CADEIRA SE VIRA, REVELANDO MARCELA (ALTA, MAGRA, CABELOS COMPRIDOS E
PRETOS, 30 ANOS), LIXANDO A UNHA.
MARCELA – Deus ajuda quem cedo madruga.
MARCELA LEVANTA E VAI ATÉ ALEXANDRE. ENTRELAÇA OS BRAÇOS EM SEU
PESCOÇO, SENSUAL.
MARCELA – E aí? Novidades da pretinha?
ALEXANDRE – Tá caidinha! Já chama de amor, já dá beijinho toda
hora, só vendo! Logo mais puxo ela pra cá.
MARCELA – Rápido assim, é?
ALEXANDRE – Ah, essa Lica é uma idiota, Marcela! Menina trouxa...
Fica até sem graça de trazer ela.
MARCELA – Então vai logo desistindo da ideia, Alexandre. Puta
besta não rende.
ALEXANDRE – Mas gostosa rende. Esse probleminha aí eu resolvo na
cama com ela. Tu sabe, né?! Quem resiste ao taco do
garotão aqui?
MARCELA – Convencido! Quando eu achar uma resposta eu te digo.
Enquanto isso, vou cada vez menos resistindo.
MARCELA PULA NO COLO DE ALEXANDRE.
SOBE SONOPLASTIA: Tara – Pabllo Vittar
SE BEIJAM. ELE A CONDUZ ATÉ A MESA E A PÕE SENTADA ALI. AOS BEIJOS, VÃO SE
DESPINDO. ALEXANDRE BEIJA O PESCOÇO DE MARCELA, QUE DELIRA. TRANSAM
SOBRE A MESA.
CORTA PARA/
CENA 14. STOCK SHOTS. SÃO LUÍS. EXTERIOR. DIA-NOITE
TAKES DO DECORRER DO DIA NA CIDADE. PESSOAS NAS PRAIAS SURFANDO,
MERGULHANDO NO MAR E VENDENDO SUAS ARTES. ENTARDECE. POR DO SOL NA
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 12
PONTA D’AREIA. PESSOAS FAZEM CAMINHADA POR ALI. ANOITECE. TAKE FINAL NA
FRENTE DO PRÉDIO DE MARIA RITA. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 15. APTO MARIA RITA E ÍRIS. INTERIOR. NOITE
ÍRIS SENTADA NO SOFÁ. MARIA RITA DEITA SOBRE SUAS PERNAS.
MARIA RITA – Ai! Tá vendo, Íris? Pra quem dizia que eu nunca mais ia
ver a cor das paredes da mansão...
ÍRIS – Até então você só viu a cor das paredes do
apartamento da tal Telminha, né? Quero ver como vai
fazer pra voltar de vez pra casa do Júlio César.
MARIA RITA LEVANTA. ENCARA ÍRIS.
MARIA RITA – Íris! Olha bem pra mim e diz se eu tenho cara de idiota.
Tu acha que eu tô naquele apê pra quê? Pra cuidar do fi
dos ôto? Ah, me respeita! Não tem lugar melhor pra
saber do que tá se passando lá na mansão do que ali. A
menina lá, fia da Telminha, tem no máximo uns seis anos.
Eu dou um doce e ela me diz o que eu quero ouvir.
ÍRIS – Tô entendendo. Vai ficar jogando verde com a criança,
né?
MARIA RITA – Demorou, hein, Íris?! Às vezes eu não sei se tu é burra
ou te faz. É bom que tu seja inteligente pelo menos pra
contar as minhas notas de cem.
ÍRIS – Nossas notas de cem! Ou cê vai me largar no primeiro
beco que aparecer?
MARIA RITA – Era o que eu tava pensando.
ÍRIS OLHA PARA MARIA RITA, ESPANTADA.
MARIA RITA – Te acalma! Se tu fizer tudo direitinho, nossa amizade
continua.
ÍRIS – Sei...
CLOSES ALTERANDOS. EM MARIA RITA.
CORTA PARA/
CENA 16. MANSÃO VILLAR. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE
JÚLIO CÉSAR SENTADO COM OS PÉS SOBRE A MESA, LENDO UM LIVRO. NERO
ENTRA, ANIMADO, E PÕE UMA PAPELADA EM CIMA DA MESA.
NERO – Orçamento do mês. Algodão, seda, linho, insumos... Tá
tudo aí.
JÚLIO CÉSAR – (NÃO LIGA) Tá bom. Leva pro Pedro pra ele dar uma
olhada.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 13
NERO – Mas o senhor não vai nem passar o olho?
JÚLIO CÉSAR – É pra isso que eu tô mandando tu levar pra Pedro. Pra
ele fazer isso.
NERO SE CHATEIA. PEGA OS PAPÉIS E RASGA. JÚLIO SE AJEITA NA CADEIRA.
JÚLIO CÉSAR – Tá louco, Nero? Vai ter que digitar tudo isso de novo
até amanhã!
NERO – Digita tu! Se não quiser, manda Pedro. Não é ele que
faz tudo na tecelagem?
JÚLIO CÉSAR – Agora eu achei. Só faltava tu mesmo pra me dar
trabalho. Te cria, Nero!
NERO – Fala isso pro seu filhinho preferido, seu herdeiro, que
virou a noite puxando rabo de boi sem avisar ninguém.
Chegou na manhã do outro dia! É esse o futuro
presidente da Ilha, pai?
JÚLIO CÉSAR – Para de ciuminho e vai procurar trabalho, Nero. Esse
orçamento não vai ser refeito sozinho, não.
TELMINHA E STEFANY VÃO ENTRANDO. PARAM NA PORTA E FICAM OUVINDO.
NERO – Eu dou minha alma por essa empresa e quem fica
debaixo das suas asas é esse vaqueirinho da disgranha.
Injustiça! (APONTA O DEDO) O senhor é um poço de
injustiça!
JÚLIO CÉSAR – (GRITA/POR CIMA) Tira esse dedo da minha cara agora
antes que eu quebre ele no meio, moleque!
TELMINHA ENTRA, QUEBRANDO O CLIMA. STEFANY A ACOMPANHA.
TELMINHA – Epa! Ninguém vai quebrar nada de ninguém, tá? Todo
mundo vai sair com seus dedos intactos. Nerinho, vai pro
quarto esfriar a cabeça, faz favor.
NERO – Fica aí com o seu garanhão. Quero ver até quando vai
suportar esse velho arbitrário.
JÚLIO CÉSAR – Me respeita, Nero! Tu me respeita!
NERO SAI, IRADO.
JÚLIO CÉSAR – Telminha, eu não tô aguento mais!
TELMINHA – Calma, garanhão, calma! É inferno astral. Teu
aniversário tá chegando, aí dá nisso. Tá lembrado, né?
JÚLIO CÉSAR – (SE ACALMA) Ah, é tanta coisa acontecendo de uma vez
só que eu nem tive tempo pra pensar em aniversário.
TELMINHA – Mas já temos que começar a pensar. Vai ser uma festa
e tanto, garanhão!
JÚLIO CÉSAR – Agora é hora de resolver esse problema da babá de
Stefany. Depois a gente pensa em festa.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 14
TELMINHA – Amor, enquanto tu vem com a tapioca, eu já tô
voltando com o beiju quentinho. Já temos uma babá!
JÚLIO CÉSAR – Ah, é? Um problema a menos, graças a Deus! Como se
chama?
STEFANY – Tia Nice.
JÚLIO CÉSAR – Já tá chamando de tia? Tô vendo que é boa mesmo.
TELMINHA – É ótima. Tu tem que conhecer, garanhão!
JÚLIO CÉSAR – Então amanhã mesmo vou ao teu apartamento dar as
boas vindas pra... tia Nice.
JÚLIO CÉSAR DÁ UM SELINHO EM TELMINHA. NELE.
CORTA PARA/
CENA 17. MANSÃO VILLAR. QUARTO NERO. INTERIOR. DIA
NERO ENTRA, FURIOSO.
NERO – (ESBRAVEJA) Inferno!!!
PEGA UM VASO E JOGA NA PAREDE.
NERO – Injustiça! Passo vinte e quatro horas cuidando dessa
desgraça de empresa e não me dá valor. Velho otário!
CHUTA A CADEIRA DA ESCRIVANINHA, DERRUBANDO-A.
PEDRO APARECE.
PEDRO – Nero? Quê que tá acontecendo, cara?
NERO – É tudo culpa tua! Desgraçado!
NERO DÁ UM SOCO EM PEDRO, QUE LEVA A MÃO AO ROSTO.
PEDRO – Tá broco? Olha que eu te acabo de porrada, hein?!
NERO – Vem! Cai dentro! Tô a fim de te dar um raspa hoje.
CHICA ENTRA.
CHICA – Gente, que zuada é essa? (VÊ PEDRO) Pedro, teu rosto
tá muito vermelho!
PEDRO – Foi esse maluco aí, que anda dando bogue no primeiro
que vê.
NERO – Eu tenho motivo pra isso! Cala a boca!
PEDRO – Vem calar!
CHICA – (POR CIMA) Parou! Que é isso, gente? Vocês num
cresce, não? Desde pequeno é todo dia uma briga, ficam
se engalfinhando aí. Já chega, né?! Pedro, vai botar um
gelo nesse olho.
PEDRO SAI, ZANGADO.
CHICA – E tu, seu Nero, vai me contar que história é essa de
andar metendo murro no teu irmão.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 15
NERO – Não interessa, Chica.
CHICA – Interessa sim, senhor! Tu acha bonito isso?
NERO – E tu acha lindo essa preferência do papai por Pedro,
né? Eu não entendo! Não entendo essa fixação!
CHICA – Tá falando da Ilha?
NERO – Ah, Chica, esquece! Tu vai ficar do lado desse peão de
meia tigela de qualquer jeito...
CHICA – Ai, Nero... Eu tento, mas num dá pra conversar contigo.
CHICA SAI. NERO CHUTA O TAPETE. DEITA NA CAMA, IRADO. NELE.
CORTA PARA/
CENA 18. MANSÃO VILLAR. COZINHA. INTERIOR. NOITE
PEDRO SENTADO NA BANQUETA, NA FRENTE DO BALCÃO. COISINHA PÕE GELO EM
SEU OLHO. JUMA OBSERVA.
PEDRO – Ai... Vai com calma, Coisinha!
COISINHA – Oxe, tô indo devagarinho.
PEDRO – Mas tá apertando demais.
JUMA – Desajeitada, não. Toda! Sai, Coisinha! Deixa que eu
boto.
JUMA PEGA A COMPRESSA DE GELO E RAPIDAMENTE PÕE SOBRE O OLHO DE PEDRO.
PEDRO – Pelo amor de Deus! Quê que é isso?
JUMA – O quê?
PEDRO – Parece que tá cortando pescoço de frango. Te acalma
aí, Juma!
CHICA APARECE. PÕE AS MÃOS NA CINTURA.
CHICA – Mas num é que eu tô dizendo? São duas marmota
mermo...
JUMA – Ô, dona Chica! Eu tô fazendo direitinho.
CHICA – Direitinho igual tua cara. Cuida, te sai. Deixa que eu
passo esse negócio.
CHICA TIRA A COMPRESSA DAS MÃOS DE JUMA.
CHICA – Sai, sai! As duas!
JUMA E COISINHA SAEM PELOS FUNDOS. CHICA SENTA AO LADO DE PEDRO E
CALMAMENTE COLOCA A COMPRESSA SOBRE SEU ROSTO.
CHICA – Pronto. Assim tá bom?
PEDRO – Tá sim. Conversou com Nero?
CHICA – Que conversei o quê? E Nero lá conversa direito com
alguém? Só deu pra saber que o motivo disso tudo foi
inveja.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 16
PEDRO – Ah... Já imagino de quê. Mas poxa, a culpa não é
minha, Chica! A ideia de jerico de me colocar à frente da
empresa é de papai.
CHICA – Eu sei, meu filho, eu sei. Mas fazer o quê?
PEDRO – Isso pelo menos vai servir pro doutor Júlio César ver
que essa ideia só causa mais confusão aqui dentro de
casa. Se eu tivesse lá no parque, montado no lombo de
um cavalo, nada disso tava acontecendo.
CHICA – Ai, eu acho tão lindo tu falando assim. Faz tanto tempo
que eu num te vejo numa vaquejada... Ainda corre?
PEDRO – Por esses tempos tá difícil, né, mas sempre que dá eu
tô correndo. E cada vez que eu corro, parece que é a
primeira, com Januário do meu lado, olhando,
ensinando...
CHICA – Ele faz falta, né?
PEDRO – É... Mas é só pegar esse cordão que eu sinto como se
ele tivesse comigo.
PEDRO TIRA SEU CORDÃO DE DENTRO DA CAMISA E FICA OBSERVANDO.
PEDRO – É ele que me protege, Chica. É ele que me dá forças.
Ficou sabendo que ontem eu corri pelo Belágua, tipo, de
última hora, e ainda consegui ganhar o torneio?
CHICA – E foi, Pedro? Meu Deus! Esse parque aí é cheio de
surpresa mermo...
PEDRO – Muitas!
INSERT DO CAP 3, CENA 20: MOMENTO EM QUE PEDRO E CAROL TROCAM
OLHARES.
CHICA – Hum... É impressão minha ou teve mais coisa além
dessa vitória, Pedro?
PEDRO – Tu me conhece mesmo, hein, Chica?!
CHICA – Então quer dizer que teve.
PEDRO – Teve. Teve sim. Uma moça, bem bonita, tava lá na
arquibancada.
EM SEGUNDO PLANO, JUMA E COISINHA OBSERVAM OS DOIS PELA JANELA.
CHICA – Sabia. Galanteador!
PEDRO – (RI) Que nada, Chica. A gente só trocou uns olhares
mesmo.
CHICA – Até agora, né? Tu sabe o nome dela?
PEDRO – O Ivo me falou hoje quando eu perguntei por ela. É
Carol.
CHICA – Carol... Tem tanta Carol em São Luís...
PEDRO – Que nem ela, não.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 17
CHICA – Ih, agora pronto. Apaixonou!
RIEM.
CORTA PARA/
CENA 19. MANSÃO VILLAR. ÁREA DE LAZER. EXTERIOR. NOITE
COISINHA E JUMA ESPIAM A COZINHA PELA JANELA.
JUMA – Tá vendo, Coisinha? Até o patrãozinho tá arrumando a
dele por aí e nós aqui encalhada.
COISINHA – Nós não, minha filha. Tu! Eu tenho meu Roque
Santeiro, tá?
JUMA – Ih, Coisinha... Respeita meu irmão!
COISINHA – Falei mentira? Eu, hein. Aceita, Juma! Mas falando em
tua família, vem cá... Carol num é o nome da tua prima?
JUMA – É sim, por quê?
COISINHA – Tá pensando no que eu tô pensando?
JUMA – O quê? Tá dizendo que Pedro tá apaixonado por Carol
de tia Dijé? Teu olho! Onde que ele vai se interessar por
ela? É bonita, mas é basiquinha toda, bem pobrezinha.
COISINHA – Juma, num é assim também, não. Eu, por exemplo, saio
na rua e tudo que é homem olha pra mim.
JUMA – Ô, graça! Logo tu, Coisinha? Logo tu, que tá que é uma
Brastemp: num tem uma curva!
COISINHA – Como é? Me respeita, pequena!
CHICA VEM DA COZINHA.
CHICA – Fuxiqueiras! Sabia que vocês tavam aqui, espiando
nossa conversa.
JUMA – (DISFARÇA) Que é isso, dona Chica? Deus me livre de
escutar conversa alheia. Longe de mim!
CHICA – Longe de mim vocês duas! Vão caçar serviço e larguem
de curiar a vida dos ôto, vão! Cuida, cuida!
JUMA E COISINHA SAEM DALI, CONSTRANGIDAS. CHICA CRUZA OS BRAÇOS,
BALANÇANDO A CABEÇA NEGATIVAMENTE.
CHICA – É cada uma que parece duas...
NELA.
CORTA PARA/
CENA 20. MANSÃO VILLAR. QUARTO SILMARA E MARCO. INTERIOR. NOITE
SILMARA DEITADA NA CAMA, MEXENDO NO CELULAR. MARCO ANTÔNIO AO SEU
LADO, LENDO UM LIVRO.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 18
SILMARA – Ai, saiu matéria nova no blog do Carlo Bem-Te-Vi. Vou
já marocar.
MARCO ANTÔNIO – Esse é aquele aspirante a jornalista que fala da vida de
todo mundo?
SILMARA – Ai, amor, não fala assim! Adoro Carlo!
NESSE MOMENTO, MAURÍCIO ABRE A PORTA. AO LADO DELE, ESTÁ FRED
(ESTATURA MÉDIA, MAGRO, BARBA POR FAZER, 25 ANOS).
MAURÍCIO – Tô atrapalhando?
SILMARA – Oi, filho! Tá não. E aí, Fred!
FRED – Boa noite, dona Silmara, seu Marco Antônio...
MARCO ANTÔNIO – Boa noite. Estavam onde?
MAURÍCIO – A gente tava num cinema vendo um filme que saiu
agora. Muito bom, por sinal. Depois eu passo o nome pra
vocês. Eu só passei pra avisar que o Fred vai dormir aqui
hoje, beleza?
SILMARA – Hoje? Mas e a Camila? Não saiu com ela?
MAURÍCIO – Ah, mãe, eu saio quase toda noite com a Camila. Tenho
que ter tempo pros meus amigos também, né?
SILMARA – (ESTRANHA) Claro, claro. Tudo bem por mim.
MAURÍCIO – Valeu. Boa noite!
SILMARA – Boa noite, filho.
MARCO ANTÔNIO – Noite.
MAURÍCIO E FRED SAEM.
MARCO ANTÔNIO – Só eu tô notando?
SILMARA – Esse grude do Maurício com o Fred? Não. Eu também
percebo. Mas deixa, são melhores amigos.
MARCO ANTÔNIO – Até a namorada esse garoto tá despachando pra sair
com ele. O meu medo é que meu próprio filho fique igual
a esse Carlo Bem-Te-Vi.
SILMARA – Fuxiqueiro?
MARCO ANTÔNIO – Viado!
EM MARCO ANTÔNIO, SÉRIO.
CORTA PARA/
CENA 21. MANSÃO VILLAR. QUARTO MAURÍCIO. INTERIOR. NOITE
MAURÍCIO E FRED ENTRAM. FRED SENTA NA CAMA.
FRED – Falar com os teus pais dá até arrepio na espinha.
MAURÍCIO – Oxe, por quê?
FRED – Tu não percebe como eles me olham? Como se eu fosse
te engolir a qualquer hora.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 19
MAURÍCIO – Ah, eles são assim mesmo. Deixa pra lá.
MAURÍCIO SENTA AO LADO DE FRED.
MAURÍCIO – E aí, gostou do filme?
FRED – Muito. Mas será que aquilo acontece mesmo? Tipo, na
vida real.
MAURÍCIO – O quê? Dois amigos se apaixonarem? É o que mais
acontece!
FRED – Ah, Maurício, não sei... Eu acho que pode atrapalhar a
amizade, sabe? É complicado.
MAURÍCIO – Não posso dizer nada porque nunca namorei nenhum
amigo meu. Quer dizer, amiga.
FRED – Por quê?
MAURÍCIO – Ah, nunca senti atração. A Camila eu namoro porque a
gente já se conheceu ficando, então/
FRED – (CORTA) Não. Não isso. Por que tu se corrigiu tão
rápido assim? Amigo, amiga...
MAURÍCIO – Pra tu não pensar que eu fico me interessando por
homem, né.
FRED – Tu acha que seria um problema?
SE OLHAM POR UM TEMPO, SÉRIOS.
MAURÍCIO – (QUEBRANDO O SILÊNCIO) Acho melhor a gente dormir
logo, né não?
FRED – Tu que sabe.
MAURÍCIO – Eu... vou tomar um banho e... já volto.
FRED – Beleza. Eu espero aqui.
MAURÍCIO SAI, CONSTRANGIDO. EM FRED.
CORTA PARA/
CENA 22. STOCK SHOTS. SÃO LUÍS. EXTERIOR. DIA
SONOPLASTIA: Young – The Chainsmokers
AMANHECE. TAKES ROTINEIROS DA CIDADE. PONTOS TURÍSTICOS, CASARÕES DO
CENTRO HISTÓRICO. TAKE FINAL NA FRENTE DO PRÉDIO DE TELMINHA.
SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 23. APTO TELMINHA. QUARTO STEFANY. INTERIOR. DIA
QUARTO AMPLO, TODO COR-DE-ROSA, COM VÁRIOS BICHOS DE PELÚCIA
ESPALHADOS. CORTINAS FECHADAS. STEFANY DORME. MARIA RITA ENTRA. OLHA
PARA STEFANY.
MARIA RITA – (PARA SI) Ô diabo...
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 20
ABRE AS CORTINAS.
MARIA RITA – Vamo acordando, Stefany! Já são dez horas!
STEFANY DESPERTA. SENTA NA CAMA, SE ESPREGUIÇANDO.
STEFANY – Ah, a senhora já tá trabalhando aqui, tia Nice?
MARIA RITA – Já sim, meu amor. Ó, tua mãe disse que quando voltar
quer tudo arrumadinho, viu?
STEFANY LEVANTA, CALÇA AS PANTUFAS E SE DIRIGE AO BANHEIRO.
CORTA PARA/
CENA 24. APTO TELMINHA. QUARTO STEFANY. BANHEIRO. INTERIOR. DIA
STEFANY ESCOVA OS DENTES, EM CIMA DE UM BANQUINHO. MARIA RITA,
ENCOSTADA NO VÃO DA PORTA, ASSISTE.
MARIA RITA – Dormiu bem?
STEFANY – Uhum.
MARIA RITA – Sonhou com o quê?
STEFANY COSPE NA PIA.
STEFANY – Tive um pesadelo, tia. Horrível!
MARIA RITA – Ai, meu Deus. Me conta.
STEFANY – O papai. Ele se separava da mamãe. Eles tavam
brigando por causa de mim no sonho, dizendo que eu era
muito atentada.
MARIA RITA – (FALSA) É mesmo? Ah, mas fica calma, meu benzinho.
Teu pai me parece ser um homem muito bom. Ele não
faria isso contigo e com a tua mamãe, não.
STEFANY DESCE DO BANQUINHO E SE ENXUGA.
STEFANY – Eu fico com medo, sabe? Tá bom que eu sou
espoletinha de vez em quando, mas ele tá brigando com
todo mundo esses dias.
MARIA RITA – (INTERESSADA) Todo mundo? Todo mundo quem? Me
conta isso direito.
SAEM.
CORTA PARA/
CENA 25. APTO TELMINHA. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA
STEFANY E MARIA RITA VÊM DO QUARTO.
STEFANY – Meus irmãos. Parece que o papai não gosta deles.
STEFANY SE SENTA À MESA, COM O CAFÉ JÁ POSTO.
STEFANY – Ó, o Pedro só quer saber daquela vaquejada lá dele. O
Nero morre de ciúmes do Pedro. A Malu tá namorando
um homem que papai diz que é marginal...
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 21
MARIA RITA – (POR CIMA) Malu tá com marginal???
STEFANY – A senhora conhece?
MARIA RITA – (DISFARÇA) Eu? Não... Quer dizer... Eu só fiquei
espantada porque... meu Deus do céu, uma Villar
namorando um marginal. Complicado, hein?
STEFANY – Pois é, tia... Tomara que hoje papai acorde com o pé
direito, pra não acabar brigando com a senhora também.
MARIA RITA – Comigo? Como assim?
STEFANY – Mamãe não disse pra senhora, não? Papai vem aqui
hoje lhe conhecer.
BAQUE. MARIA RITA SE ESPANTA.
MARIA RITA – Júlio César... Doutor Júlio César vem aqui hoje? Pra me
conhecer?
STEFANY – É. Não é legal?
MARIA RITA – (PARALISADA) É... Muito legal.
EM MARIA RITA, PERPLEXA.
CORTA PARA/
CENA 26. PARQUE BELÁGUA. GALPÃO. SALA. INTERIOR. DIA
BRUNO, COM O BRAÇO ENGESSADO, SENTADO NO SOFÁ, ASSISTINDO A UMA TV
ANTIGA. LURDINHA APARECE.
LURDINHA – E aí? Tá melhor?
BRUNO – Marromeno... Ainda tá doendo um tiquin.
LURDINHA – Que palhaçada do Ivo, né? Parece doido! Mas tu
também, viu, Bruno? Se soubesse desabotoar uma
camisa, num tarra desse jeito.
BRUNO – Que diabo é, Lurdinha? Vai botar a culpa em mim
agora? Mais culpada é tu, que anda por aí quebrando
torneira! Mão de macho!
LURDINHA – Me respeita, menino!
BRUNO – Me respeita tu! Num tá vendo o estado que eu tô? Aí
vem com a cara que nem treme botar a culpa em mim,
logo em mim, a vítima disso tudo.
LURDINHA – Ô, tadin dele...
BRUNO – Sai daqui, sai! Se num ajuda, num intrapaia.
LURDINHA – Grosso! Só vim dizer que Ivo tá lá fora querendo
conversar contigo. Deve tá arrependido.
BRUNO – Por que num disse logo? Enrolona. E eu num quero
falar com esse moleque, não.
LURDINHA – Mas Bruno/
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 22
BRUNO – (CORTA) Faça o favor de dizer isso pra ele. Obrigado.
LURDINHA – Bruto!
LURDINHA SAI, IRRITADA. EM BRUNO, ZANGADO.
CORTA PARA/
CENA 27. PARQUE BELÁGUA. ARENA. EXTERIOR. DIA
LURDINHA E IVO CONVERSAM.
IVO – Como num quer?
LURDINHA – Num quer, Ivo! Bruno tá nem tchun pra ti. Dessa vez tu
exagerou, viu?
IVO – (BATE NA CERCA) Otário! Pois eu também num procuro
mais ele. Que se lasque! Tu e ele!
LURDINHA – Eu? O que eu fiz? Quem chegou com coisa que só
existe na tua cabeça foi tu.
IVO – Me enche não!
IVO SE DIRIGE A UM CAVALO E O MONTA.
LURDINHA – (GRITA) Ô, Ivo!
SOBE SONOPLASTIA: Zero Boi – Mano Walter
IVO CAVALGA POR TODA A EXTENSÃO DA ARENA, ESTRESSADO.
LURDINHA – Ora dois menino que me dão trabalho, siô! Huhum!
NELA. SONOPLASTIA OFF.
CORTA PARA/
CENA 28. PRÉDIO DE TELMINHA. CORREDOR. INTERIOR. DIA
O ELEVADOR SE ABRE. DE LÁ, SAEM TELMINHA E JÚLIO CÉSAR. SE DIRIGEM A UMA
DAS PORTAS.
TELMINHA – Ai, tu vai amar a Nice, garanhão!
JÚLIO CÉSAR – Acho que vou mesmo. Nunca te vi falar tão bem de
alguém. Ou é só por que esse alguém tá te poupando
tempo por cuidar da Stefany?
TELMINHA – Credo, amor! Não fala assim. Eu falo da Nice porque
achei ela maravilhosa mesmo.
JÚLIO CÉSAR – Então tá. Vamos conhecer essa Nice então.
PARAM NA FRENTE DE UMA PORTA. TELMINHA A DESTRANCA. ENTRAM.
CORTA PARA/
CENA 29. APTO TELMINHA. SALA. INTERIOR. DIA
TELMINHA – Chegamos!
JÚLIO CÉSAR ESTANCA NA PORTA, CHOCADO COM ALGO QUE VÊ.
LINHA TÊNUE CAPÍTULO 4 Pag.: 23
JÚLIO CÉSAR – Tu? Mas tu num tava... Quê que tu tá fazendo aqui?
TELMINHA NÃO ENTENDE.
EM JÚLIO CÉSAR, ASSUSTADO.
EFEITO FINAL: A imagem é tomada por linhas brancas e enturvece.
FIM DO CAPÍTULO
Créditos sobem ao som de
LINHA TÊNUE – Maria Gadú
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