perfil fake - megapro.com.br · alessa — eu pedi pra tu esperar lá na sala. ... eu vim aqui...

MEGAPRO

Central Megapro de Produção Capítulo 02

PERFIL FAKE

Entre quatro paredes

Minissérie de

Rynaldo Nascimento

Escrita por Rynaldo Nascimento

Direção Geral Lucas Luciano Weslley Vitoritti

Personagens deste capítulo

ADSON ALESSA BENTO

BERNARDO BRISA

CARLITO CATARINA

DITO DUDA

EVANDRO GILDETE INDIARA

IÊDA JEFF

JHEYSON JORGINHO

KAILAN LINDOMAR

LUCAS MACAU

MARIANE MAX

MÁRIO NIELY

PENHA RAFAEL

REGINALDO SARA

TEODORA TÁBATA TÉRCIA YASMIN ÉLCIO

Participação Especial ESTUDANTE

PERFIL FAKE Capítulo 02 Pag.: 1

CENA 01. CASA DE ALESSA. CORREDOR. INTERIOR. DIA.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR. NA

REAÇÃO DE MÁRIO QUE VIRA-SE PARA ALESSA.

ALESSA — O que tu tá fazendo aqui?

YASMIN, DO QUARTO, OUVE A VOZ DA MÃE E FECHA A PORTA. MÁRIO ASSUSTA-

SE COM A BATIDA E ENCARA ALESSA.

ALESSA — Eu pedi pra tu esperar lá na sala.

MÁRIO — (NERVOSO) Eu sei, mas é que o caminhão com meus móveis

acabou de chegar e eu preciso ir embora.

ALESSA — Mas já?

MÁRIO — É. Eu vim aqui justamente te procurar. (RI PARA DISFARÇAR)

Mas com tantas portas. Fiquei meio perdido.

ALESSA — E eu demorei porque estava procurando uma coisa pra te

oferecer como boas-vindas ao Mar e Sol, mas acabei não

encontrando. (P) Tu vai gostar muito do condomínio.

MÁRIO — Espero que sim. Agora que vou assumir como professor na

UFMP, O CONDOMÍNIO foi minha primeira opção. Perto da

universidade. Mas, enfim... a gente conversa uma próxima hora.

Vim mesmo me despedir.

ALESSA SORRI.

ALESSA — Não quero ser entrona, mas já sendo, que tal uma ajuda na

mudança?

MÁRIO — Você?

ALESSA — É. Posso te quebrar esse galho. Olha que sou ótima em

organização. Arrumo tudo rápido, cada coisa em seu lugar, nos

mínimos detalhes.

MÁRIO — Já eu sou a bagunça em pessoa. Acho que vai ser legal. Vem

conhecer minha casa nova.

MÁRIO SEGURA NA MÃO DE ALESSA E A LEVA. ELA VAI TODA FELIZ. CORTA

PARA:

CENA 02. CONDOMÍNIO. CASA DE MÁRIO. EXTERIOR. DIA.


TOMADA DO ALTO REVELANDO A PAISAGEM DE COQUEIROS QUE CERCAM O

CONDOMÍNIO, A LINDA VISTA PARA O MAR. CAMINHÃO PARADO NA FRENTE DA

CASA DE MÁRIO. CÂMERA FLAGRA HOMENS DESCENDO COM MÓVEIS E

APARELHOS ELETRÔNICOS. CÂMERA EM MÁRIO QUE COORDENA A ENTRADA.

FUNDE COM:

CENA 03. CASA DE MÁRIO. SALA. INTERIOR. DIA.

OS HOMENS VÃO ARRUMANDO TODOS OS MÓVEIS E ELETRÔNICOS. ALESSA

OBSERVA O INTERIOR DA CASA E COMENTA ALGUMA COISA EM OFF COM MÁRIO

QUE SORRI. ALESSA SORRI SEM GRAÇA, MÁRIO DESVIA O OLHAR E ELA O OLHA

LEVEMENTE ENCANTADA. CORTE DESCONTÍNUO: MÓVEIS JÁ ARRUMADOS.

ALESSA COLOCA AS DECORAÇÕES QUE RETIRA DE UMA CAIXA. MÁRIO VEM DA

COZINHA TRAZENDO DOIS SANDUÍCHES E SUCO NUMA BANDEJA.

ALESSA — Humm... parecem deliciosos. (PEGA) Mais cedo ouvi tu dizer

que faz dieta. Desculpa a indiscrição, mas como faz para manter

um corpão desses?

MÁRIO GARGALHA.

ALESSA — (VERGONHA) Ai, meu Deus! Falei besteira, né?

MÁRIO — Não. Não é isso. É que tu falou de uma forma engraçada.

ALESSA — (VERGONHA) Tô terminando aqui e já estou indo. Desculpa

invadir seu espaço assim, Mário. Sou entrona.

AJEITA A ÚLTIMA DECORAÇÃO. MÁRIO A OBSERVA. ALESSA SE VIRA PARA SAIR.

ALESSA — Eu já vou/

MÁRIO SEGURA O BRAÇO DELA.

MÁRIO — Ei. Não vai. Espera.

ALESSA ENCARA MÁRIO QUE A OLHA PROFUNDAMENTE.

MÁRIO — Eu não quis te deixar envergonhada. Falei que cê falou de uma

forma engraçada porque eu achei lindo o seu sorriso. Já te

falaram que seus lábios são lindos, Alessa?

ALESSA DERRETE-SE. ESTÁTICA.

MÁRIO — Eu que estou parecendo um idiota te falando isso. Te devo

desculpas.

ALESSA — Pare com isso, Mário.


MÁRIO — Devo. Sei que devo. Te dei uma trombada daquelas lá fora. Tu

me ajudou pra caramba na decoração da casa. Obrigado, Alessa!

Quero ter sua companhia por mais vezes.

ALESSA — Vamos nos ver, sim. A gente vai se encontrar muito ainda.

MÁRIO — Tenho certeza disso.

ALESSA SORRI. MÁRIO AJEITA O CABELO DELA.

ALESSA — Eu preciso ir. Minha filha deve estar precisando de alguma

coisa e eu ainda tenho que voltar pra prefeitura.

MÁRIO — Converse com sua filha. Não vale a pena vocês brigarem.

ALESSA — Do que tu tá falando?

MÁRIO — Mais cedo tu disse que teve uma briga com Yasmin. Ela entrou

como um furacão em casa e eu percebi um climão entre vocês.

ALESSA FICA SEM JEITO.

MÁRIO — Desculpa estar me metendo. Mas cê me contou. E eu gostei

muito de você, Alessa. Quero muito o seu bem. Não fica mal com

Yasmin. Tá bom?

ALESSA ASSENTE E ABRAÇA MÁRIO. CÂMERA EM CLOSE DE MÁRIO.

ALESSA — Não sei explicar, mas sinto em você um homem de muita

confiança, que transmite paz, energia boa, num sabe?

MÁRIO — Digo o mesmo de você. Vamos nos encontrar logo mais,

Alessa. Espero que da próxima vez Yasmin dê uma bolinha pro

vizinho novo e venha conhece-lo.

ALESSA SORRI E DIZ:

ALESSA — Tenho que ir.

MÁRIO SORRI E ABRE A PORTA. SE ENCARAM. ELA VAI. MÁRIO FECHA A PORTA.

CAMINHA PELA SALA, SE ESPREGUIÇA E SENTA NO SOFÁ.

MÁRIO — Até que é gostosinha.

MÁRIO PARA, PENSATIVO. GARGALHA DO NADA. LEVANTA. PEGA O NOTEBOOK,

LIGA E ACESSA A INTERNET.

MÁRIO — Yasmin... Yasmin...


ELE DIGITA E ENCONTRA O PERFIL DE YASMIN VINCULADO A UMA MARCAÇÃO

DO CONDOMÍNIO. MÁRIO VAI PASSANDO AS FOTOS DE YASMIN E PARA EM UMA

EM QUE ELA ESTÁ ALEGREMENTE COM AMIGAS DA ESCOLA. OLHAR SEMPRE

FIXO EM DETALHES. OLHOS VAGUEIAM. LÁBIOS ENTREABERTOS. MAIS FOTOS

ATÉ PARAR EM UMA EM QUE YASMIN USA UM BIQUÍNI. EM MÁRIO DESEJANDO-A.

CORTA PARA:

CENA 04. CASA DE IÊDA. SALA. INTERIOR. DIA.

AMBIENTE SIMPLES. POUCOS MÓVEIS ESPALHADOS: UM SOFÁ E A MESA DE

REFEIÇÕES. TELEVISÃO NA PAREDE LIGADA EM ALGUM NOTICIÁRIO. LUCAS

SENTADO NO SOFÁ, TODO DESPOJADO. IÊDA EM SUA FRENTE, EM PÉ.

LUCAS — Se a senhora já me tem como doido, tu num sabe quem é

Alessa. Aquela ali é carne de pescoço, chave de cadeia, minha

mãe! Oxe! Aquela ali quando tava comigo era muito louca.

IÊDA — Poupe-me dos detalhes de sua vida bandida.

LUCAS — Não, tô só falando pra justificar a minha tese. Percebi ontem

que Yasmin não pode ficar sendo cuidada por aquela

desequilibrada.

IÊDA — E que juiz vai te dar a guarda da menina, Lucas? Tu é ex-

presidiário. Vão alegar logo.

LUCAS — Oxe, mas tô há tempos de boas, tenho meu negócio de

informática. Conserto minhas paradas. Tô de boa. (LEVANTA)

Vou entrar na justiça, sim. Hoje em dia tem a tal da guarda...

LUCAS VAI PARA A COZINHA. IÊDA INDO.

IÊDA — A guarda compartilhada. Mas/

CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 05. CASA DE IÊDA. COZINHA. INTERIOR. DIA.

LUCAS ABRE A GELADEIRA E PEGA ÁGUA. IÊDA ATRÁS DELE.

IÊDA — Já vi que vai começar tudo de novo.

LUCAS — Tudo de novo o quê?

IÊDA — Confusão. Tu mais a cobra lá da Alessa. (SEGURA LUCAS)

Meu filho, pensa bem. É melhor você ficar vendo a menina de

longe. Quem sabe eu não arrumo uma maneira de cê encontrar

com ela lá na universidade?!


LUCAS VAI SE SERVINDO DA ÁGUA.

LUCAS — Não, mainha! Já tá decidido. Eu vou entrar na justiça. Essa

guarda vai ter que ser compartilhada comigo, sim. Perdi anos de

vida da minha filha. Agora quero me reaproximar. Eu tenho esse

direito. Não vai ter juiz nenhum que me negue um direito que eu

tenho. Eu sou o pai. Eu quero ver a minha filha crescer, poxa! Eu

tenho esse direito.

IÊDA — (TEMEROSA) Eu sei, Lucas, mas é que/

LUCAS — (POR CIMA) É nada! Deixe comigo. Eu sei o que tô fazendo.

IÊDA — (TEMEROSA) Tenho medo de tu/

LUCAS — (CORTA) Já disse.

LUCAS ABRAÇA IÊDA.

LUCAS — Não sei porque, mãe, mas depois de ontem fiquei com a

impressão de que eu preciso estar perto de minha filha. Preciso

protegê-la, num sabe?!

IÊDA ASSENTE. NELES. CORTA PARA:

CENA 06. NOVA OLINDA. GERAIS. EXTERIOR. NOITE.

ANOITECE. PLANOS BONITOS DO MOVIMENTO DE CARROS NAS PRINCIPAIS

RUAS. MOVIMENTO DE PESSOAS NA LADEIRA. NA PRAÇA CENTRAL, ALGUMAS

PESSOAS CURTEM UM SOM DE VIOLÃO. CORTA PARA:

CENA 07. APART. NIELY. SALA. INTERIOR. NOITE

LOCAL ACONCHEGANTE, PEQUENO, MAS MODERNO E SOFISTICADO. NIELY

ESPARRAMADA NO SOFÁ. ALESSA EM PÉ. EFUSIVA.

ALESSA — Niely, você tem que conhecer ele. Tu não sabe. Tem mais.

NIELY — (REVIRA OS OLHOS) Tem mais?

ALESSA — Tem. Ele tem um porte físico avantajado, sabe? Macho!

Macho! Homem viril! Cabra da peste. Amei tudo, tudo. Além do

mais é um lord. Gentleman.

NIELY LEVANTA.

NIELY — Já vai você de novo, Alessa. Não basta o que aquele

português te fez passar ontem?


ALESSA — Ronaldo é passado. E, além do mais, todo mundo já foi

passada pra trás na vida. Tô aderindo aquela filosofia, mana:

deixa fluir, deixa fluir.

NIELY — Às vezes tenho a impressão que tu e Yasmin tem quase a

mesma idade. Mental, no caso.

ALESSA — Idiota.

NIELY — Alessa, esse tal Mário pode ser isso tudo ai que você falou:

macho, cabra macho, né?

ALESSA — É.

NIELY — Bem. Viril, charmoso, um fofo... Vai trabalhar/

ALESSA — Como professor na UFMP.

NIELY — Não importa. Você tá louca. Sua filha tá lá em sua casa

precisando de tua atenção e tu tá aqui me falando de um homem

que acabou de conhecer como se ele fosse a maravilha do

mundo, o deus grego que veio de encomenda pra casar contigo.

Ei. Acorda, meu amor. Realiza. Aterrissa.

ALESSA — Você adora quebrar o meu clima, né? (PEGA A BOLSA) Que

saco!

NIELY — Ontem você tava louca, desesperada, deu um show no

aniversário de sua filha. Já se desculpou com ela? Não me disse

ainda. Chegou aqui só me falando desse Mário e esqueceu

totalmente de sua filha.

ALESSA — Tentei falar com Yasmin, mas ela foi arisca comigo. Não me

deu abertura.

NIELY — Imagino.

ALESSA — Me leva pra casa. Tu me deixou morrendo de dor de cabeça.

NIELY PEGA A CHAVE DO CARRO, SEMPRE ENCARANDO ALESSA.

NIELY — Quando tu vai aprender, hein? Quando?

ALESSA BUFA, ABRE A PORTA E SAI. NIELY BALANÇA A CABEÇA

NEGATIVAMENTE. CORTA PARA:

CENA 08. NOVA OLINDA. BARZINHO. EXTERIOR. NOITE.


MÚSICA ROLANDO. ALGUMAS MESAS COM CASAIS, OUTRAS COM GRUPOS DE

AMIGOS. ALGUNS BEBEM, OUTROS PETISCAM ALGUMA COISA. CÂMERA

REGISTRA A GARGALHADA DE DITO NO GRUPO COM KAILAN E OUTROS AMIGOS.

TODOS BEBEM, MENOS KAILAN.

DITO — Então quer dizer que o princeso de Nova Olinda vai amarrar as

chuteiras.

KAILAN — Pois é, meu amigo. Tô quase de casamento marcado!

OS AMIGOS RIEM.

DITO — Tem certeza que é isso que tu quer, Kailan? Ou é pressão da

primeira dama?

GARGALHAM.

KAILAN — Mainha tem nada com isso, não. É coisa minha mesmo. Tô

firme na igreja, quero uma varoa abençoada!

DITO — Já que é assim, vamos bebemorar!

DITO ERGUE O COPO COM OS DEMAIS. KAILAN SORRI SEM GRAÇA. DITO

OFERECE O COPO.

KAILAN — Tô de boa. Vou até pedir uma água.

DITO — Vai dizer que não sente nem uma vontadezinha de colocar só

um golinho na boca?! Aproveita que vai se prender a sua

virgenzinha e bora fazer uma despedida de solteiro daquelas.

KAILAN — Galera, na boa. Cês sabem que eu curto a amizade de vocês,

mas eu tô de boa, sério mesmo. Não preciso me embreagar.

DITO — Filhinho da mamãe ele. Bebe, porra. A galera é de boa.

KAILAN ENCARA O COPO OFERECIDO POR DITO. RECUSA.

KAILAN — Obrigado, meu amigo. Mas já tá na minha hora.

DITO — Hoje ele tem um jantar com a filha do futuro reitor.

KAILAN SORRI.

DITO — Vai lá, meu brother. Curte seu momento. Desculpa a resenha.

KAILAN VAI SAINDO.


KAILAN — De boa. Valeu, galera! Valeu! Fui.

DITO — Ele vai casar com Sara. A única nega da cidade que ninguém

nunca ouviu falar isso aqui, ó. (FAZ GESTO) A mina é pura. É.

Pura mesmo.

CORTA PARA:

CENA 09. CASA DE BERNARDO. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

CÂMERA VEM DA GRANDE CAMA BOX. BRINQUEDINHOS SEXUAIS ESPALHADOS.

SARA DIANTE DO NOTEBOOK. INSERIR EFEITO: IMAGEM DE WEBCAM. SARA

DANÇA SÓ DE CALCINHA DIANTE DA CÂMERA. CLOSE DE SARA QUE VIRA-SE E

MOSTRA A BUNDA. O HOMEM DO OUTRO LADO DA TELA MASTURBA-SE.

DETALHE NO SITE DE CAM-GIRL. TEMPO EM SARA SENSUALIZANDO. MAÇANETA

DA PORTA GIRA. ALGUÉM TENTA ENTRAR, MAS A PORTA ESTÁ TRANCADA.

BERNARDO — (OFF) Sara? Sara, minha filha, abra essa porta, vá? Tá

trancada por quê? Sara!

SARA SE ASSUSTA, FAZ LOG OFF NO SITE E CORRE PARA O GUARDA ROUPA.

PEGA UM VESTIDO QUE COBRE QUASE TODO O CORPO.

BERNARDO — (OFF) Sara.

CÂMERA JÁ EM SARA ABRINDO A PORTA E SORRINDO MEIO TENSA PARA O PAI.

SARA — Oi, pai!

BERNARDO — Estamos já em cima da hora pro jantar na casa do prefeito.

Não podemos nos atrasar, filha!

BERNARDO ENTRA. OLHA TUDO.

SARA — Eu não sei se quero ir, pai.

BERNARDO — Como não sabe se quer, Sara? Que conversa é essa? Tu vai,

sim, visse?! Oxe! Tá abestalhada, é? Tu tá de casamento

marcado com Kailan. Tem que marcar presença no jantar.

Especial, jantar especial preparado por missionária Gildete. Não

podemos fazer desfeita, filha.

SARA RESPIRA FUNDO.

SARA — Deixa eu me trocar, então.

BERNARDO — Joga rápido, hein, filhota?


BERNARDO BEIJA A CABEÇA DE SARA.

BERNARDO — Minha abençoada... (VÊ COMPUTADOR LIGADO) Já falei pra

tu parar de usar muito a internet. Isso não é bom pra você, minha

pureza!

SARA — Tava só fazendo um trabalho do curso, pai. Já vou desligar e

me preparar pro meu noivo.

BERNARDO — Fique bela para seu noivo, filha!

BERNARDO SORRI E SAI. SARA VAI ATÉ A PORTA SORRINDO, MAS AO FECHÁ-LA,

ELA BUFA DE ÓDIO. ARRANCA O VESTIDO COM RAIVA E SE DEITA NA CAMA, SÓ

DE CALCINHA.

SARA — Que saco! Eu deixei essa história ir longe demais. E não estou

com saco pra continuar. Aff! Se eu pudesse ao menos me virar

sozinha.

SARA LEVANTA.

SARA — Acorda, Sara! Hora de encarnar a personagem.

SARA CORRE PARA O BANHEIRO. CORTE PARA:

CENA 10. CASA DE MÁRIO. QUARTO DE MÁRIO. INTERIOR. NOITE.

QUARTO ESCURO. MÚSICA ALTA. LUZ DE NOTEBOOK SOBRE A CAMA. A PORTA

DO BANHEIRO SE ABRE E MÁRIO SAI ENROLADO NUMA TOALHA. SENTA-SE NA

CAMA E PEGA O NOTEBOOK. NA TELA O PERFIL DE YASMIN EM UMA REDE

SOCIAL. MÁRIO CLICA NO SEU PERFIL E PERCEBEMOS UM PERFIL FAKE COM

VÁRIAS FOTOS DE UM JOVEM QUALQUER POR QUEM MÁRIO SE PASSA. MÁRIO

VOLTA AO PERFIL DE YASMIN E CLICA EM ADD. NO ROSTO DELE. CORTE PARA:

CENA 11. CASA DE ALESSA. QUARTO DE YASMIN. INTERIOR. NOITE.

QUARTO DE ADOLESCENTE. ALGUMAS COISAS ESPALHADAS. COMPUTADOR

LIGADO NA PEQUENA ESCRIVANINHA. CAMA DE SOLTEIRO BEM ALCOCHOADA.

YASMIN LEVANTA-SE DA CAMA JÁ GRAVANDO UM ÁUDIO.

YASMIN — Ai, amiga, só não te chamo pra jantar aqui, porque tá muita bad

depois daquele babado do meu niver. Tu acredita que minha mãe

saiu com o vizinho novo e até agora não voltou?

YASMIN MANDA O ÁUDIO, ABRE A JANELA DO QUARTO E OBSERVA A CASA DE

MÁRIO.

YASMIN — Ela deve estar enfiada lá.


YASMIN PERCEBE O SOM ALTO VINDO DA CASA DE MÁRIO. MÁRIO SURGE NA

JANELA DE SUA CASA E VÊ YASMIN OLHAR PARA SUA CASA. ELE A ENCARA

FRIO. TEMPO. PORTA DO QUARTO DE YASMIN SE ABRE. ELA FECHA A JANELA E

VÊ A MÃE.

ALESSA — Filha. A gente precisa conversar sobre o que aconteceu ontem.

YASMIN — A senhora acha mesmo que tenho algo pra conversar?

YASMIN VAI PARA A CAMA COM A CARA FECHADA. ALESSA, ENVERGONHADA,

ANDA POR ALI.

ALESSA — Claro que temos. Eu sei que pisei na bola com/

YASMIN — (CORTA) Por que tu nunca me disse que o meu pai já tinha

sido um bandido?

ALESSA ENCARA YASMIN.

ABERTURA

CENA 12. CASA DE ALESSA. QUARTO DE YASMIN. INTERIOR. NOITE.

CONTINUAÇÃO NÃO IMEDIATA DA CENA ANTERIOR. ALESSA LEVEMENTE

ABALADA, EM PÉ. YASMIN SENTADA DIANTE DA MÃE.

ALESSA — Quando eu me juntei com seu pai, eu era uma maluca. Bem

mais louca do que eu sou hoje em dia, como diz sua tia. Lucas e

eu vivemos todo o tipo de aventura.

YASMIN — (ESTRANHA) Todo tipo de aventura... Isso significa...

ALESSA — Significa que eu tava ligada nos rolos dele, sim. Mas eu nunca

quis me envolver. Sempre pedia pra Lucas fazer as paradas dele

longe de mim. Eu tinha medo da polícia bater na casa e eu... eu

tava grávida de você. Ele prometeu que ia parar assim que tu

nascesse, mas essas coisas não são tão fáceis. Ele continuou, eu

queria me livrar. Foi quando a casa caiu. Ele foi preso e eu decidi

recomeçar minha vida.

YASMIN — Por que nunca me contou?

ALESSA — Eu tinha vergonha. Sempre tive vergonha de ter me envolvido

com Lucas. Essa cidade é pequena. Ficar falada aqui é um pulo.

Ainda mais tu, minha filha. Uma garota, tão jovem... Eu não queria

que ele se aproximasse de tu e acabasse te difamando/


YASMIN — Mas quem disse que eu me importo com o que os outros

falam?

ALESSA — Não é bem assim/

YASMIN — Não tenho que dar satisfação pra essa gentinha de Nova

Olinda, minha mãe. Essa gente daqui vive de aparência. São uns

hipócritas! Tu mesma vive cercada daquelas dondocas, mulher de

vereador e tantas outras que chifram os maridos até cansar.

ALESSA — O que é isso, Yasmin?

YASMIN — É só pra senhora entender que pouco me importa o que essa

gente pensa em respeito de meu pai. Compreendo que a senhora

tenha sentido vergonha, mas ele é o meu pai.

ALESSA — Tu vai procurar ele?

YASMIN — Não sei. Mas caso eu o procure, eu te falo.

ALESSA — Minha filha/

YASMIN — Não tenta. É o meu pai.

ALESSA SE CALA. SE APROXIMA DE YASMIN.

ALESSA — Desculpa por ontem, meu amor. Eu estraguei uma festa linda

que seus amigos fizeram. Me desculpa.

YASMIN OLHA A MÃE NO FUNDO DOS OLHOS.

YASMIN — Desculpo. Mas... Eu te olho e... Eu só queria que a senhora

tivesse mais tempo pra me conhecer, mãe. Mais tempo pra gente

curtir. Mais tempo pra gente ser feliz.

ALESSA — Tu não é feliz com tudo isso que tem aqui?

YASMIN — Sou. Mas eu seria mais feliz se a senhora fosse feliz também.

ALESSA SE OLHA NO ESPELHO.

ALESSA — Mas eu sou feliz.

YASMIN A ABRAÇA POR TRÁS.

YASMIN — Então porque procura em vários homens a felicidade? Eu

percebi que o vizinho novo mexeu contigo.


ALESSA — (SE OFENDE) Já tá pensando besteira. Mário só foi gentil. Eu

quis retribuir ajudando na organização da casa/

YASMIN — (RI) Cara! Não! Isso é sério?

ALESSA — O que?

YASMIN — É sério isso que a senhora arrumou a casa do cara?

ALESSA — Só ajudei na/

YASMIN GARGALHA E DIZ:

ALESSA — Para com isso/

YASMIN — Tá vendo? É disso que tô falando. Dessa tua carência.

ALESSA — Eu não sou carente. Sou muito bem resolvida comigo mesmo,

garota.

ALESSA ENCARA YASMIN E SAI BUFANDO. YASMIN BALANÇA A CABEÇA

NEGATIVAMENTE. CORTA PARA:

CENA 13. CASA DE ALESSA. SALA. INTERIOR. NOITE.

ALESSA SENTA-SE NO SOFÁ, CELULAR NA MÃO. VAI NAVEGANDO NO INSTAGRAM

E ACESSA O PERFIL DE MÁRIO. NO OLHAR DELA ENCANTADA COM AS FOTOS.

CENA 14. NOVA OLINDA. EXTERIOR. NOITE.

TOMADA GERAL DA PRAÇA, MOVIMENTAÇÃO DE ÔNIBUS E CARROS, BARES COM

ALGUNS JOVENS, OUTROS JOVENS COM MOCHILAS E CADERNOS SAINDO DE UM

ÔNIBUS QUE CHEGA DA UNIVERSIDADE. ÚLTIMO TAKE NA CASA DO PREFEITO,

UM CASARÃO ANTIGO. CORTE PARA:

CENA 15. CASA DE EVANDRO. SALA. INTERIOR. NOITE.

SOFÁ IMENSO TOMA CONTA DE QUASE TODO O AMBIENTE. UMA BÍBLIA DECORA

O LOCAL, ALÉM DE ALGUMAS FLORES. MÓVEIS ANTIGOS DECORAM A LINDA

SALA DE GILDETE. CÃMERA EM GILDETE QUE ACABA DE RECEBER TÁBATA E

RAFAEL.

RAFAEL — (BEIJOS) Boa noite, mainha!

GILDETE — Boa noite, meu filho! (OLHA PARA TÁBATA) Que cara é essa,

Tábata? Mais parece um guabiru!

TÁBATA — Só estou com um pouco de dor de cabeça, minha sogra!


EVANDRO VEM DESCENDO A ESCADA.

RAFAEL — Vai começar, Tábata? Eu falei pra ela ficar em casa, mainha?

TÁBATA — Mas eu não estou reclamando, Rafael!

RAFAEL — Veio a viagem toda falando que tá com essa cabeça doendo.

EVANDRO — Deixa a Tábata descansar.

EVANDRO ABRAÇA O FILHO.

GILDETE — Tábata precisa fazer mais visitas ao templo do Senhor.

Inclusive você também, Rafael. Faz tempo que vocês deixaram de

ir à igreja.

EVANDRO — Não pode, filhão!

RAFAEL — Tô devendo mesmo! Mas é que o trabalho tem me tirado o

couro.

EVANDRO — E aqueles arruaceiros, hein?! Nossa!

RAFAEL — Nem me fale, pai. Mas tô de olho neles! Na melhor hora eu

pego os comunistas de jeito.

RAFAEL SE AFASTA COM EVANDRO. GILDETE CERCA TÁBATA.

GILDETE — A mulher forte edifica a sua casa. Mas edifica na rocha.

TÁBATA — Por que tá me falando isso, minha sogra?

GILDETE — Tenho percebido que tu anda deixando os homens de tua casa

muito soltinhos. Tá edificando a casa na areia, Tábata. E quando

o Senhor soprar vai tudo pelos ares. Tome conta de seu

casamento, mulher. Abre o olho com Rafael! Não permito que cê

faça meu filho se perder.

TÁBATA — Como assim eu posso fazer Rafael se perder?

GILDETE — O Senhor tudo vê. Faça seu papel de mulher, apenas!

GILDETE SE AFASTA. TÁBATA FICA PENSATIVA.

GILDETE — Cadê Bernardo que não chega logo com essa abençoada, meu

Deus?!

EVANDRO — Mandou uma mensagem de que tá a caminho.


GILDETE — Kailan? Cadê Kailan? (GRITA) Kailan?

GILDETE VAI EM DIREÇÃO A COZINHA. CORTA PARA:

CENA 16. CASA DE EVANDRO. COZINHA. INTERIOR. NOITE.

KAILAN MEXE NA NOS DOCES E SALGADOS QUE PENHA ARRUMA SOBRE A

MESA. DUDA, QUE ESTÁ PERTO DA PORTA DOS FUNDOS, RI QUANDO PENHA

BATE NA MÃO DE KAILAN.

KAILAN — Oxe! Só um, Penha!

PENHA — Tua mãe me mata se faltar umzinho que seja. É bem capaz de

dizer que fui eu que comi antes dos convidados.

PENHA AFASTA OS DOCES E SALGADOS. KAILAN SE APROXIMA DE DUDA.

KAILAN — Então tu é sobrinha de Penha. Nunca tinha te visto por aqui.

DUDA — Deve ser porque tu não frequenta a cozinha quando eu venho

filar a boia.

CÂMERA ABRE EM GILDETE QUE DIZ:

GILDETE — Bom saber que na minha ausência, a Penha tem dado minha

comida pros outros.

PENHA E DUDA SE ASSUSTAM.

KAILAN — Está fazendo questão de comida, mãinha?

GILDETE — Pelo contrário. Estou falando que a pior coisa é pegar o que

não te pertence, sem a autorização da dona. Agora, tu vai lá pra

sala que tua noiva tá chegando.

KAILAN — Vixe! Já tá na hora! (PARA DUDA) A gente se fala.

KAILAN SAI. GILDETE ENCARA DUDA.

GILDETE — Não, vocês não vão se falar, até porque meu filho não te deve

nada, né? Não tem assunto nenhum pra tratar contigo.

DUDA — Eu só vim aqui porque minha tia/

GILDETE — Sua tia vai perder o emprego da próxima vez que permitir a

entrada de estranhos na minha casa.

DUDA — Mas eu não sou estranha. Eu sou sobrinha dela.


GILDETE — Dela. Gente dela não é gente minha. Não quero saber de você

fazendo piseiro por aqui, garota. Conheço bem o seu tipinho.

Essas roupinhas... Não quero. Pegue logo a reta, siga seu

caminho.

DUDA ENCARA GILDETE E PENHA. PENHA SEM JEITO, COM MEDO. DUDA SAI.

GILDETE ENCARA PENHA.

PENHA — Dona Gildete, minha sobrinha só veio trazer meu remédio. Eu

aproveitei pra dar um prato de comida pra coitada. Estudou tanto

a bichinha.

GILDETE — Aquilo estuda?

PENHA — Dudinha é bem aplicada, visse?! Mais aplicada que a outra.

GILDETE — Poupe-me do que acontece no marimbu que tu vive, Penha.

Não quero essa menina aqui. Não gosto dela.

PENHA — Mas a senhora tá fazendo questão de comida, dona Gildete!

Logo a senhora que diz pra todo mundo que é uma mulher boa,

missionária querida por todo mundo da congregação.

GILDETE — Mas eu sou boa. Boníssima. Te deixo trabalhar com a minha

família, te pago salário, e tu duvida de minha bondade? Não seja

ingrata, Penha. Tá avisada quanto a entrada dessa gente na

minha casa. Não permito. Não quero. Me dá asco. Agora, se

movimenta.

CAMPAINHA TOCA.

GILDETE — (SORRI) A noiva de Kailan chegou. Uma mulher linda, Penha.

Branca, virgem, mulher pura, de igreja, sabe? Né que nem umas

e outras. Ai, ai... Quero tudo nos trinques, visse, fofa?!

GILDETE RESPIRA FUNDO E SAI. PENHA FICA ALI HUMILHADA. CORTA PARA:


BERNARDO E SARA ALI. SARA SEMPRE SE FAZENDO DE PURA, JEITOS

MODERADOS. RAFAEL BEBE UM SUCO E A OBSERVA. SARA PERCEBE E DESVIA

O OLHAR. EVANDRO E BERNARDO SE CUMPRIMENTAM.

EVANDRO — MEU amigo, meu grande amigo!

BERNARDO — Que honra está em tua casa pra oficializar o noivado de minha

preciosidade, joia rara do Senhor, com teu filho, meu amigo.


EVANDRO — Tenho certeza que Sara fará Kailan muito feliz.

GILDETE SE APROXIMA.

GILDETE — Minha querida!

SE BEIJAM. AMIGAS.

SARA — Tudo bem, dona Gildete?

GILDETE — Oh, olha só o jeitinho dela?! Tão meiga! Ai, eu amo essa

menina! Kailan? Cadê ele?

KAILAN VEM DESCENDO A ESCADA. SARA O OLHA. KAILAN VEM TODO

SORRIDENTE, OLHAR APAIXONADO.

EVANDRO — Tá aí teu genro, Bernardo! O futuro prefeito de Nova Olinda!

KAILAN — Que isso, pain?!

EVANDRO — Mas é, ué! Tô te preparando pra isso, visse?! Tenho que ter um

representante meu naquela prefeitura. Eu não pretendo deixar

minha cidade na mão dos comunistas que se infiltraram por aqui e

tão querendo ditar moda.

BERNARDO — Nem me fale, meu amigo! Tô sofrendo dobrado com essa

gente na universidade.

EVANDRO — Antes dessa gente, Nova Olinda era uma cidade familiar, as

pessoas se respeitavam. Pensei que a universidade viria pra

promover conhecimento pro povo, mas percebi que veio um

bando de ratazana pra desvirtuar a juventude e o povo de Nova

Olinda.

BERNARDO — Dias melhores virão! Eu vou ganhar a eleição pra reitor e

vamos ver se a gente não moraliza esse povo.

RAFAEL — Se não moralizar por bem, a gente moraliza na bala.

EVANDRO E BERNARDO RIEM. KAILAN QUEBRA O CLIMA.

KAILAN — Mas não estamos aqui pra falar disso. Sara, quero te dar isso

aqui, ó.

KAILAN PEGA O ANEL DE NOIVADO E MOSTRA PARA ELA. SARA O ENCARA,

ENCARA GILDETE QUE BRILHA OS OLHOS DE FELICIDADE E AGARRA EVANDRO.


GILDETE — Olha que pedra preciosa, bem! Eu que escolhi com maior gosto

numa joalheria luxo de Recife.

SARA SE INTERESSA PELA JOIA E DIZ:

SARA — Muito linda. Acho que cabe perfeitamente em meu dedo.

SARA ERGUE A MÃO. KAILAN SORRI APAIXONADO E COLOCA. PESSOAL

APLAUDE.

RAFAEL — E viva os noivos!

PENHA JÁ CHEGA COM CHAMPANHE. TÁBATA AJUDA A SERVIR. SARA OLHA O

ANEL ENCANTADA. KAILAN SORRI PARA ELA. EM SARA MARAVILHADA COM O

ANEL. OLHAR AMBICIOSO. CORTA PARA:

CENA 18. APART. NIELY. COZINHA. INTERIOR. NOITE.

NIELY, APENAS DE SUTIÃ E CALÇA JEANS, APARENTANDO TER CHEGADO DA

RUA A POUCO TEMPO, SE DIRIGE ATÉ A PIA LEVANDO UM PEQUENO PRATO E

UMA XÍCARA USADOS. CELULAR NA MÃO. MENSAGEM DE APLICATIVO. NIELY

ACESSA. NA TELA: UMA IMAGEM DE MÁRIO EM UMA DE SUAS VIAGENS E ENVIA:

Quero todooo pra mim!!! SEGUIDA DE UM EMOJI AMERELINHO COM OLHOS DE

CORAÇÃO. NIELY BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE E FALA ENQUANTO

DIGITA.

NIELY — Tome tento, mulher! Já tá apaixonada?

CORTA PARA:

CENA 19. CASA DE MÁRIO. QUARTO DE MÁRIO. INTERIOR. NOITE.

MÁRIO ANALISA SEUS DOCUMENTOS SOBRE A CAMA. LIGAÇÃO NO CELULAR.

ATENDE.

MÁRIO — (CEL.) Fala, camarada! Como assim? (PEGA CELULAR E

OLHA) O único perfil que ainda está ativado é o do Instagram.

Apenas. Melhor desativar... Verdade! (VIVA VOZ/ VAI OLHANDO

APP) não me atentei pra esse fato. Tô aqui arrumando a

documentação. Amanhã assumo na universidade de Nova Olinda.

Tô ansioso pra conhecer os novos alunos. (RI) Cê sabe que

produzir ciência é meu outro fetiche.

CÂMERA NO CELULAR: MÁRIO DELETA O PERFIL DO INSTAGRAM. CORTE RÁPIDO

PARA:



ALESSA SENTADA NUMA CADEIRA. NOTEBOOK NA MESA DIANTE DELA.

PAPELADA POR ALI. NO COMPUTADOR, ALESSA VÊ O PERFIL DE MÁRIO. YASMIN

VEM DESCENDO A ESCADA. VÊ A MÃE PRESA ÀS FOTOS DELE.

YASMIN — Tá fazendo o quê?

ALESSA LOGO MUDA DE ABA NO SITE.

ALESSA — Trabalhando. Não tá vendo?

YASMIN — (DESCONFIADA) Tô é vendo é esse teu trabalho. Tá aí

futucando o perfil do vizinho. Tá gostando dele, né? Confesse!

ALESSA — Ai, Yasmin, estou, sim. Achei o Mário um cara fantástico,

visse?! Bem atencioso, charmoso, inteligente e solteiro. Hetero e

não é gay. Olha que maravilha.

ALESSA VOLTA PARA A PÁGINA DE MÁRIO.

ALESSA — Olha pra isso, filha! Olha que homem lindo! Deixa eu te

mostrar/

YASMIN — Lindo, mesmo.

ALESSA — O que tu acha de eu chamar ele pra jantar?

YASMIN — Chama, ué. A senhora num quer? Então, chame.

ALESSA — Sua tia já tá me chamando de idiota aqui no zap. Aff! Niely é

mal-amada mesmo. Não arranja ninguém e fica querendo

controlar os homens que escolho.

YASMIN — Mas a senhora tem um dedo podre mesmo.

ALESSA — Mas com esse aqui eu sinto que vai ser diferente.

YASMIN — (BRINCA) Ui, ela já quer casar ela.

ALESSA — (RINDO) Mas se ele quisesse eu casava. É. Casava. Por um

homem desses. Eu casava, sim. Me jogaria.

YASMIN ENCARA ALESSA QUE OBSERVA A FOTO DE MÁRIO. CORTE PARA:

CENA 21. UFMP. GERAL. EXTERIOR. NOITE.

TOMADA RÁPIDA DE ALGUNS PONTOS DA UNIVERSIDADE. ÚLTIMO TAKE NA

LANCHONETE DE LINDOMAR. CORTA PARA:


CENA 22. UFMP. LANCHONETE. EXTERIOR. NOITE.

CLIPE: OVOS SENDO QUEBRADOS NA CHAPA. PÉS MASCULINOS EM UM TÊNIS

ESTILOSO DANÇAM NO COMPASSO DA SONOPLASTIA. CÂMERA SE ELEVA. PÃO

ESQUENTANDO. CARNE NA CHAPA. MONTAGEM DE UM DOGÃO COMPLETO.

CÂMERA REVELA ÉLCIO TERMINANDO SEU FEITO.

ÉLCIO — No capricho saindo quentinho da chapa, carai! Das mãos do

futuro maior MC de Pernambuco! É Elcinho do brega, papai!

ÉLCIO BRINCA E ENTREGA PARA O CLIENTE. REGINALDO CRUZA O CAMINHO

CARREGANDO SUCOS.

REGINALDO — Se adiante, miséra, que já tá na hora da gente sair fora.

ÉLCIO — (TIRANDO AVENTAL) Eu já terminei, meu turno, fio. Eu tô

vazando pra toca do Jheyson, pai.

REGINALDO — Vai lá, MC Élcio. No dia que tu virar MC de verdade eu te

respeito, pivete.

REGINALDO SE AFASTA. LINDOMAR VEM DO CAIXA.

ÉLCIO — Seu Lindomar, meu parceiro, tô aqui na quebradeira. Meu

turnão acabou e tô precisando tomar aquela gelosa trincada. Me

adiante cinquenta, vá.

LINDOMAR — Já vem tu pedindo vale, Élcio. Tô ali com um monte de notinha

tua, com teus garranchos lá, de tanto vale que tu já pegou esse

mês.

ÉLCIO — Tá miséra, seu Lindo? Oxe! Libere esse, vá. Libere que quando

eu virar MC eu te dou em dobro.

LINDOMAR — Quando virar MC. Sabe nem mexer direito na chapa... Sonha

menos, moleque.

ÉLCIO — Tu vai ver quando eu tiver a grana de gravar meu clipe e cair

na net. Tenho até a música já, tá, fío. Na moral, seu Lindo, o

senhor vai ficar de bichão. (GARGALHADA) Vai ser pipoco,

parceiro!

LINDOMAR RI E BALANÇA A CABEÇA NEGATIVAMENTE. RETIRA CINQUENTA E

ENTREGA PARA ÉLCIO.

ÉLCIO — Valeu, meu patrão. (ABRAÇA) Por isso que te dou valor!


LINDOMAR — Bora parando, visse?!

ÉLCIO RI E VAI SAINDO.

LINDOMAR — Ei, fí, não esquece do meus brega, não. Quero torar meu

porçante no fim de semana na praia.

ÉLCIO — Olha que a delegada te pega, visse?!

LINDOMAR SORRI. REGINALDO VAI COM ÉLCIO.

REGINALDO — Dei linha, visse?!

REGINALDO PASSA APRESSADO.

ÉLCIO — Tá devendo a quem, macho?

REGINALDO — A ninguém. Só tô atrasado.

ÉLCIO DESVIA SEU CAMINHO E SAI CANTAROLANDO. CORTE PARA:

CENA 23. UFMP. CAMPUS. INTERIOR. NOITE.

DITO CONVERSANDO COM OUTROS ESTUDANTES.

DITO — Mas podem ficar tranquilos que essa eleição já tá ganha.

ESTUDANTE — Como tu tem tanta certeza assim, homi?

DITO — A galera da ala conservadora vai fazer essa universidade

tremer daqui uns dias.

ESTUDANTE — Só escuto essas promessas, mas a gente não tem feito nada

de efetivo para frear essa falange de imorais. Deu na boca de

urna que Indiara tá na frente, visse?!

DITO — Balela! Besteirol! Confia em mim. Tô te dizendo que é coisa

séria. Nitroglicerina pura. Deixa eles acharem que tão na frente.

REGINALDO PASSA E DITO PERCEBE.

DITO — Eu preciso ir. Amanhã a gente discute mais.

DITO SE AFASTA E VAI PARA A MESMA DIREÇÃO QUE REGINALDO. CORTE PARA:

CENA 24. UFMP. CORREDOR. INTERIOR. NOITE.


LOCAL SEM NENHUMA MOVIMENTAÇÃO. REGINALDO ENTRA NO BANHEIRO.

TEMPO. DITO VEM VAGAROSAMENTE. OLHA PARA OS LADOS. ENTRA NO

BANHEIRO. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 25. UFMP. BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.

REGINALDO LAVANDO AS MÃOS E VÊ DITO ENTRAR. OS DOIS SE OLHAM.

REGINALDO, BEM SAFADO, DIZ:

REGINALDO — Me amarro quando te vejo com teus colegas pagando de

machinho.

DITO — Te excita?

REGINALDO — Oxe! Ó (APERTA) Se não...

DITO SE APROXIMA E APERTA O PÊNIS DE REGINALDO. SEGURA NO QUEIXO DO

OUTRO.

DITO — É o nosso segredo.

REGINALDO — Relaxe. É o nosso segredo. Só faço contigo mesmo.

DITO — Vem cá. Tô sedento pra... caralho!

DITO PUXA REGINALDO PARA UM DOS BOXES DO BANHEIRO. SE TRAMCAM.

REGINALDO JÁ VAI ABRINDO A CALÇA. DITO PRONTAMENTE SE AJOELHA. NO

SORRISO MALICIOSO DELE. BEM PUTINHA ENCUBADA. CORTA PARA:


SARA, BERNARDO, KAILAN, RAFAEL, TÁBATA, GILDETE E EVANDRO ACABAM DE

JANTAR.

BERNARDO — Que refeição maravilhosa, missionária!

PENHA VAI RECOLHENDO OS PRATOS.

KAILAN — Agradeça a Penha que faz cada comida maravilhosa.

GILDETE — Se Penha faz algo que preste é claro que é por conta da minha

rígida supervisão. Inclusive, achei o molho da salada carregado

no sal. Ela sabe que Evandro tem pressão alta.

PENHA — Me perdoe, seu Evandro.

SARA VAI OBSERVANDO TUDO INCOMODADA.


EVANDRO — Não, Penha. Tava tudo uma maravilha. Gildete que acaba

exagerando as vezes.

GILDETE — Eu não exagero, benzinho. Penha tá velha. Não vê quase mais

nada, coitada. Tô até pensando em te dispensar, Penha. Sei lá,

procurar uma pessoa mais jovem pra ocupar a vaga.

TÁBATA — Mas a penha tá em perfeita condição de seguir no serviço,

minha sogra.

GILDETE — Alguém pediu sua opinião, Tábata? Rafael... Essa sua

mulher... Fica caladinha, mas só pronta pra dar o bote. É claro

que eu sei que Penha tá bem. Falo assim porque me preocupo

com ela. Querendo ou não, ela tá acabada. Olha pra isso.

Mamolengo perde.

GILDETE RI. BERNARDO SORRI AMARELO, SEM GRAÇA. RAFAEL GARGALHA.

RAFAEL — Essa mainha! (LEVANTA) Eu tô indo embora.

TÁBATA — Mas não vai ficar pra sobremesa?

RAFAEL — Tu num tava com dor de cabeça, mulher?

EVANDRO — Fique mais um pouco, meu filho. Não se avexe assim.

RAFAEL — Tenho que resolver uma parada no Boqueirão.

GILDETE — O que tu vai fazer naquele mafuá, meu filho?

PENHA ENCARA GILDETE E SAI.

RAFAEL — Coisas da corporação.

SARA — A senhora é sempre assim?

GILDETE — Assim como, querida?

SARA — Preconceituosa.

GILDETE — Como é que é, Sara?

SARA — Preconceituosa, soberba... Porque foi isso que vi essa noite. A

senhora destratou a Penha como se ela fosse uma qualquer.

BERNARDO — Sara, minha filha/


SARA — Não, pai! Me deixe, visse?! Eu não estou acostumada a esse

tipo de situação, nem acho elegante uma mulher cristã como a

senhora tratar um outro ser humano dessa forma. Eu estou

decepcionada, Kailan!

KAILAN — (SEM JEITO) Mainha exagera mesmo! Coitada de Penha,

mainha.

RAFAEL — Enquanto cês ficam aí discutindo eu tô indo. Levanta, mulher.

Rumbora!

TÁBATA LEVANTA. GILDETE SEMPRE A ENCARAR SARA. CARA DE POUCOS

AMIGOS.

RAFAEL — Boa noite.

TÁBATA — Tchau!

SE DESPEDEM.

BERNARDO — Desculpa, Gildete. Tô vendo que tu ficou abalada com o que

Sara falou.

SARA — É só o que penso.

SARA LEVANTA E SE AFASTA. KAILAN VAI ATRÁS.

EVANDRO — (SUSSURRA) Também o que tu tinha que falar na frente da

menina, né? Já mandei essa mulher controlar a língua.

GILDETE — Ah, me deixa! Quem tem que controlar a língua é Sara. Quem

é ela no ministério glorioso pra me afrontar desse jeito.

BERNARDO — Sara é que nem esses jovens de hoje em dia: idealizam aquele

mundinho deles.

EVANDRO — Que nem Kailan!

GILDETE — Que nem Kailan, não. Porque nesse mundinho aí, meu filho

não há de viver nunca!

GILDETE BEBE O SUCO E ENCARA SARA A CONVERSAR COM KAILAN.

KAILAN — Me desculpa pelo jeito de minha mãe.

SARA — Já passou.

KAILAN SEGURA A MÃO DE SARA.


SARA — Amei o anel.

KAILAN — Quando a gente casar vou te encher de pedras preciosas,

Sara!

SARA — Já amei!

EM SARA INTERESSEIRA, MAS FACEIRA. EM GILDETE OBSERVANDO. CORTA

PARA:

CENA 27. NOVA OLINDA. BOQUEIRÃO. GERAIS. EXTERIOR. NOITE.

NAS IMEDIAÇÕES DA UNIVERSIDADE, PLANOS GERAIS DO BOQUEIRÃO, UM

BAIRRO PERIFÉRICO DE NOVA OLINDA. BREGA-FUNK ROLANDO. TAKES DAS

MENINAS USANDO ROUPAS CURTAS, JOVENS SEM CAMISA. CRIANÇAS

CORRENDO PELAS RUAS, ESPETINHO ASSANDO, MERCADINHOS E OUTROS

COMÉRCIOS FUNCIONANDO. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 28. BOQUEIRÃO. BAR. EXTERIOR. NOITE.

ABRE EM UMA CERVEJA SENDO ABERTA. ÉLCIO E JHEYSON SENTADOS.

ÉLCIO — Valeu, meu brother!

ÉLCIO SERVE. ELES BRINDAM.

ÉLCIO — E aí, meu parceiro, quais as novidades sobre a carreira de seu

MC aqui?

JHEYSON — Nenhuma, né, Élcio?! Já te falei que sem grana não vai rolar o

clipe, mané.

ÉLCIO — Carai, mano, eu fico na bruxa com isso. Trabalho tanto e não

me sobra um centavo pra investir no clipe.

JHEYSON — Se tu quer um clipe responsá vai ter que desembolsar, véi.

ÉLCIO — Como, parceiro?

JHEYSON DESVIA SUA ATENÇÃO PARA UMA MORENA GOSTOSA QUE VEM SE

APROXIMANDO. SALTÃO, SHORTINHO CURTO OSTENTANDO AS BELAS PERNAS.

CÂMERA PEGA A CHEGADA DELA NO BAR QUE APOIA A MÃO NA MESA DELES.

MARIANE — Não convida mais a novinha pra gelosa, não é?

JHEYSON — Senta aí, princesa!

JHEYSON LEVANTA JÁ PEGANDO UMA CADEIRA.


MARIANE — (NOJENTA) Tenho coisa melhora pra fazer.

ÉLCIO — Dá ideia pra essa nega, não, visse?!

MARIANE — Oxe, Élcio. Tá me tirando?

ÉLCIO — Tô tirando ninguém, não!

MARIANE — Tá me tirando, sim. Me tratando com grosseria todo dia que me

vê. Escuta aqui, seu MC de merda, cê nunca vai ter sucesso

porque quem nasceu pra porco, vive no chiqueiro.

ÉLCIO LEVANTA, IRRITADO.

ÉLCIO — Qual foi, Mariane? Chega aqui e vem tirar cuns cara?! Se

oriente, visse?!

MARIANE SAI FECHANDO.

MARIANE — Eu sou gostosa, meu amor! Aposto que faço sucesso mais

rápido que aquele clipe que tu sempre promete, mas não tem

dinheiro pra bancar.

CARRO PARANDO. MARIANE SORRI. VIDROS FECHADOS. MARIANE VAI ENTRAR,

MAS ANTES SOLTA BEIJOS.

ÉLCIO — Nega escrota!

JHEYSON — Quem é esse cara que vem pegar ela sempre?

ÉLCIO — Isso é pilantra!

ÉLCIO BEBE A CERVEJA DE VEZ.

ÉLCIO — Preciso arrumar grana, parceiro e fazer mei mundo de zé povin

que me agoura aqui no Boqueira engolir tudo que disseram. Tu

vai ver se eu num chego lá. De um jeito ou de outro.

EM ÉLCIO. CORTA PARA:

CENA 29. MOTEL. INTERIOR. NOITE.

RAFAEL DEITADO NA CAMA, MEXE NO CELULAR. MARIANE SAI NUA DO

BANHEIRO. RAFAEL DEIXA O CELULAR DE LADO.

RAFAEL — Isso que é mulher de verdade!

MARIANE REVELA UM CHICOTE E BATE NA PAREDE.


MARIANE — Quem manda aqui essa noite sou eu. Quero meu policial de

quatro.

RAFAEL VAI CAINDO NO JOGUINHO.

RAFAEL — De quatro, minha soldada?!

MARIANE — Que nem uma putinha. Vai. De quatro.

CHICOTADA EM RAFAEL. ELE FICA DE QUATRO.

MARIANE — Isso no chão. No chão. Seu lugar. Me chupa, vai.

RAFAEL AVANÇA EM MARIANE. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 30. NOVA OLINDA. GERAIS. EXTERIOR. DIA.

BELAS PAISAGENS DA PRAIA. TAKES RÁPIDOS. CORTA PARA:

CENA 31. CONDOMÍNIO. FRENTE. EXTERIOR. DIA.

YASMIN CUMPRIMENTA O PORTEIRO E VAI EM DIREÇÃO AO PONTO DE ÔNIBUS.

CARRO DE MÁRIO SAINDO DO CONDOMÍNIO. MÁRIO VÊ A GAROTA CAMINHANDO

EM DIREÇÃO AO PONTO DE ÔNIBUS PRONTA PARA IR À ESCOLA. ENCOSTA O

CARRO. YASMIN OBSERVA.

MÁRIO — Oi. Te vi andando sozinha. Tá indo pra onde?

YASMIN — Pra escola.

MÁRIO — Onde tu estuda?

YASMIN — No Complexo lá na UFMP. Mas logo meu ônibus chega.

MÁRIO — Que isso! Te levo.

YASMIN — Não. Valeu.

MÁRIO — Tô indo pra universidade. Hoje assumo como professor. Entra.

YASMIN HESITA.

MÁRIO — Tá com medo de mim? (RI) Eu não mordo. E tenho certeza que

cê vai preferir ir ouvindo uma boa música. Ônibus chacoalha

demais.

YASMIN SORRI AMARELO.

MÁRIO — Bora. Não quer chegar atrasada, né?


YASMIN — Pensando melhor... Vou aceitar sua carona.

YASMIN ENTRA NO CARRO. PÕE O CINTO. MÁRIO A FITANDO A TODO O

MOMENTO. CARRO SEGUE. CORTE PARA:

CENA 32. CARRO DE MÁRIO. INTERIOR. DIA.

MÁRIO E YASMIN CONVERSAM.

MÁRIO — Eu cheguei de São Paulo tem pouco tempo. Mas sou do

Recife.

YASMIN — Vai dar aula em qual curso na universidade?

MÁRIO — Sou professor de ciências da computação, mas vou trabalhar

no Bacharelado Interdisciplinar em Ciências Exatas. Gostei da

metodologia dos bacharelados interdisciplinares da instituição.

YASMIN — Legal. Minha mãe não tá te dando sossego, né?

MÁRIO — (RI) Como assim?

YASMIN — Ah, pode falar. Ela já deu em cima de tu, não deu?

MÁRIO — Não. Por quê?

YASMIN — Nada.

MÁRIO — Ah, agora eu quero saber.

YASMIN — (RINDO) Besteira. Minha mãe com as maluquices delas.

MÁRIO — Sua mãe é uma pessoa incrível. Me afeiçoei a ela logo de cara.

Além de ser uma linda mulher. Linda assim como tu.

YASMIN FICA SEM JEITO.

MÁRIO — Estamos chegando na universidade.

YASMIN — Tu pode me deixar em qualquer lugar aqui. Obrigado pela

carona.

MÁRIO — Agora que vamos estar praticamente no mesmo lugar, será um

prazer te dar carona.

YASMIN SORRI E DÁ TCHAU. MÁRIO ACOMPANHA A IDA DELA PELO RETROVISOR.

NO OLHAR DELE. CORTE PARA:

CENA 33. UFMP. COLEGIADO DE EXATAS. INTERIOR. DIA.


MÁRIO ASSINA O TERMO DE ASSUNÇÃO. BERNARDO ENTREGA A VIA DELE.

BERNARDO — Seja bem-vindo, professor Mário. Pelo seu currículo tenho

certeza que irá contribuir muito para o desenvolvimento de nosso

curso.

INDIARA ENTRA.

BERNARDO — Essa é a nossa atual reitora. Professora Indiara.

MÁRIO — (CUMPRIMENTA) Mário.

INDIARA — Ah, sim. O professor aprovado no último concurso. Bem-vindo.

BERNARDO — Estava falando para Mário que a universidade está em ritmo de

processo eleitoral.

INDIARA — Eleição para a reitoria. O colega deve ter noção de como

ocorre.

MÁRIO — Sei sim. E quem são os concorrentes, além da senhora é

claro?!

BERNARDO — Eu. (RI) E tenho certeza que a professora Indiara não ficará

irritada quando os números comprovarem.

MÁRIO PERCEBE A ESTRANHEZA.

INDIARA — Seja bem-vindo mais uma vez, professor. O que precisar, saiba

que pode contar com o apoio da reitoria.

INDIARA SORRI E SAI.

BERNARDO — Ela ficou bravinha. Comunista.

MÁRIO — Ah, sim... Comunista... Sei bem.

BERNARDO — Você não é um, é?

MÁRIO — Eu não.

BERNARDO — Graças a Deus! As universidades federais e institutos ainda

sofrem desse mal que contaminou o país. Mas em breve a gente

consegue fazer a limpeza. A começar por aqui.

MÁRIO — Conte comigo. Moralização universitária é muito importante.

Temos que fazer o processo de ensino universitário voltar ao


antigo status perdido pelas ilusórias teorias e ideologias dessa

gente.

BERNARDO — Já gostei de você.

MÁRIO — Sério? Que bom! E eu percebi que aqui realmente eu encontrei

pessoas que pensam igual. (ERGUE A MÃO) Tens um aliado,

Bernardo!

NELES. CORTE PARA:

CENA 34. UFMP. COMPLEXO. PÁTIO. EXTERIOR. DIA.

JEFF PASSA MAQUIAGEM NO ROSTO DE DUDA QUE ESTÁ AO LADO DE YASMIN.

JEFF — Só mais um pouquinho de brilho aqui e... luxo, mana! Ficou

gata, visse?!

DUDA — Me dá o espelho, quero ver.

YASMIN DÁ O ESPELHINHO DE BOLSA. DE REPENTE JEFF É AGARRADO POR

TRÁS E JOGADO NO CHÃO. JORGINHO, ADSON E SEUS AMIGOS.

JEFF — Quase me machucou, seu idiota!

JORGINHO — Tu não viu foi nada, seu viadinho. Eu vou te moer todinho pra

tu aprender que com cabra homi não se brinca.

YASMIN PASSA NA FRENTE.

YASMIN — Deixa de ser infantil. Foi tu quem começou com os memes. Se

agora não aguenta, idiota, para de perturbar, visse?!

JORGINHO — Meu papo é com o viadinho!

CARLITO SE APROXIMA.

CARLITO — Ninguém vai bater no Jeff aqui não.

ADSON — Olha só quem veio defender a amiguinha.

CARLITO — Melhor cês deixarem ele em paz!

JORGINHO — Vai ter troco, seu viadinho! Aborto da natureza!

JORGINHO E ADSON ENCARAM CARLITO. JEFF LEVANTA.

JEFF — Gente, eu fui agredida. Fui atacada covardemente por aquele

idiota homofóbico. Obrigado por me defender, Carlito!


DUDA — Arrasou, Carlito!

YASMIN — Gostei de sua atitude, Carlito.

CARLITO SORRI PARA YASMIN. JEFF SE JOGA NOS BRAÇOS FORTES DO

COLEGA.

JEFF — Agora cuida de mim, cuida?! Acho que quebrei a patinha!

ELES RIEM. CARLITO PÕE JEFF ALI.

CARLITO — A aula já vai começar. Fica esperto.

CARLITO PISCA PARA YASMIN E SAI.

JEFF — (GRITA) Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia!

YASMIN — Sabia do que?

JEFF — Carlito é gay!

YASMIN — Oi?

DUDA — Ai, amiga, também estou achando.

JEFF — Cês não viram como ele me segurou? Moortã! Aquele braço.

Vontade de morder. Choca fico!

ELAS RIEM.

JEFF — É sério, mulher. Ele me pegou de jeito. Senti magia. Teve

magia, num teve Duda?

ELES VÃO CONVERSANDO FORA DO ÁUDIO. CORTA PARA:

CENA 35. UFMP. COMPLEXO. CORREDOR. INTERIOR. DIA.

ALUNOS POR ALI. ALGUNS ENTRAM E OUTROS SAEM DE SUAS SALAS. YASMIN

PASSA COM DUDA E JEFF QUANDO TEODORA E MAX SE CRUZAM.

MAX — Teodora.

TEODORA PARA.

MAX — A gente precisa conversar.

TEODORA — Ainda tem mais ofensas a me dizer, professor? Se tiver,

guarde-as para o senhor.


MAX — Quero te pedir desculpas.

TEODORA ESTRANHA.

MAX — Eu fui um idiota de ter caído na onda desses garotos. Tu é uma

colega muito querida e eu não quero que as nossas ideologias

acabem nos afastando.

TEODORA — (RESPIRA FUNDO) Max... Eu nunca quis te agredir. Eu nunca

te agredi na realidade, mas o que você me fez passar na frente

dos colegas foi muito humilhante.

MAX — Eu reconheço meu erro. Me desculpa.

TEODORA — Eu vou tentar esquecer. Agora, estamos atrasados. A aula.

TEODORA ENTRA NUMA SALA. MAX FICA SEM JEITO, MAS SEGUE PARA OUTRA

SALA. SIRENE TOCANDO. ALUNOS ENTRANDO. CORTA PARA:

CENA 36. CONDOMÍNIO. EXTERIOR. NOITE.

ANOITECE SOBRE UM TOMADA DA MOVIMENTAÇÃO DO CONDOMÍNIO. TAKE DA

CASA DE ALESSA. CORTA PARA:


YASMIN JANTA PIZZA COM REFRIGERANTE.

ALESSA — Por quê tu não me contou isso, filha?

YASMIN — Tô contando agora, ué. Ele me deu carona. Simpático ele.

ALESSA — Eu te falei. E tu achando que eu era exagerada.

CAMPAINHA TOCA.

ALESSA — Agora fiquei animada.

YASMIN — Ele te acha linda.

ALESSA PULA DE ALEGRIA.

ALESSA — Ele falou? Ele falou? Deixa eu atender a porta depois quero

saber de todos os detalhes do papo entre vocês.

ALESSA ABRE A PORTA E DÁ DE CARA COM MÁRIO. ELA SORRI SEM JEITO.

MÁRIO — Atrapalho?


ALESSA — Não. Claro que não. Entra.

MÁRIO ENTRA.

MÁRIO — Não quero atrapalhar o jantar de vocês, mas é que... tu me

recebeu de forma excepcional, Alessa, e eu estou numa nova

fase de minha vida... na realidade eu quero comemorar, e

também te agradecer, com um jantar.

ALESSA — Um jantar?

MÁRIO — Tu já tá jantando, né? Me desculpa. Eu também nem avisei

que iria fazer uma bacalhoada.

ALESSA — Tu cozinha?

MÁRIO — Dizem que divinamente bem.

ALESSA — Espera eu me arrumar? Prometo que não demoro!

MÁRIO FAZ QUE SIM. ALESSA VAI PARA O QUARTO. MÁRIO OLHA PARA YASMIN.

YASMIN — Rápido, hein?!

MÁRIO — E tu? Não quer jantar comigo?

YASMIN — Minha mãe é melhor companhia.

MÁRIO — Ficaria feliz com a sua presença.

YASMIN — Obrigada.

MÁRIO NÃO RETIRA OS OLHOS DELA. CORTE PARA:

CENA 38. CASA DE MÁRIO. SALA. INTERIOR. NOITE.

MÁRIO E ALESSA TERMINARAM DE JANTAR E RIEM À BEÇA. TAÇAS COM VINHO

PRÓXIMAS A ELES. MÁRIO BEBE MAIS E OLHA NO FUNDO DOS OLHOS DE

ALESSA. ELA PERCEBE E VAI FICANDO TÍMIDA.

ALESSA — Tu me deixa encabulada.

MÁRIO — Encabulada por quê? Tu é tão bonita, Alessa.

MÁRIO ALISA O ROSTO DELA.

MÁRIO — Hoje conversando com tua filha, eu percebi o quanto tu é

importante na vida dela. Eu queria ter te conhecido muito antes.

Tu é um tipo de mulher que eu precisava conhecer.


ALESSA ENCARA MÁRIO APAIXONADA.

ALESSA — Eu também te acho muito atraente.

MÁRIO — Então o que estamos esperando pra fazer aquilo que estamos

com vontade?

MÁRIO SEGURA O ROSTO DE ALESSA E A BEIJA. ALESSA DEIXA-SE ENTREGAR.

BEIJO FORTE. ALESSA MONTA SOBRE MÁRIO E TIRA A CAMISA DELE. TAÇA DE

VINHO CAI. MÁRIO TIRA A ROUPA DE ALESSA E OS DOIS SE PEGAM.

FADE OUT.

CENA 39. UFMP. CAMPUS. INTERIOR. DIA.

FADE IN. ABRE NAS DIVERSAS FAIXAS DE APOIO AS CHAPAS. CÂMERA PASSEIA

PELOS ALUNOS QUE USAM CAMISAS DAS DUAS CHAPAS. UMA GALERA FAZ

BATUCADA EM DEFESA DE INDIARA. BERNARDO PASSA E OBSERVA. INDIARA

RECEBE APOIO. BERNARDO IDEM. MUITA MOVIMENTAÇÃO E BATUCADA. BRISA,

TÉRCIA, MACAU E BENTO DISTRIBUEM PANFLETOS DA CHAPA DE INDIARA.

BRISA — Vamos votar, galera! Democracia na UFMP!

TÉRCIA — Professora Indiara para nossa universidade avançar

BENTO E MACAU ENTREGAM PARA OUTRAS PESSOAS.

MACAU — Aqui atrás vocês encontram todas as propostas.

BENTO — Vai rolar uma cultural em apoio a chapa! Conta com vocês.

CÂMERA SEGUE PARA BRISA QUE ESTÁ CERCADA POR ALGUMAS PESSOAS QUE

QUEREM AS CAMISAS DA CHAPA. REGINALDO SE INFILTRA POR ALI E PASSA A

MÃO NA BUNDA DE BRISA QUE LOGO VIRA-SE E ACERTA UM TAPA NA CARA

DELE.

REGINALDO — Você tá louca?

BRISA — Tu me assediou!

REGINALDO — Eu o quê?

BRISA — Você passou a mão na minha bunda, seu canalha!

AS PESSOAS SE VOLTAM PARA REGINALDO.

BRISA — Foi ele! Foi ele!

EM REGINALDO CERCADO. CORTE PARA:


CENA 40. UFMP. LANCHONETE. EXTERIOR. DIA.

CATARINA PARA O CARRO E LINDOMAR DESCE.

LINDOMAR — Vou chegar um bocadinho tarde em casa hoje, amor.

CATARINA — Não me diga que marcou com teu funcionário de ir no brega?!

LINDOMAR — Só por umas três horas, Caty, eu prometo que não passa

disso.

CATARINA — Eu quero saber o que tanto tu vê lá nesses brega, Lindomar.

Porque se for mulher.../

LINDOMAR — Oxe! Né nada!

CATARINA — Eu, ó...

CATARINA FAZ GESTO QUE CORTA O MEMBRO DELE. LINDOMAR SENTE A DOR.

CÂMERA VAI PARA YASMIN QUE LANCHA SOZINHA. MÁRIO A OBSERVA DE LONGE

E SE APROXIMA.

MÁRIO — Posso me sentar contigo?

YASMIN — Senta aí.

MÁRIO — (SENTA) Acabei de dar minha primeira aula. Mas os alunos tão

com a cabeça na eleição...

YASMIN — É. Vai pedir nada não? Tô varada. Vou pegar mais uma

coxinha.

MÁRIO — Vai daqui pra casa?

YASMIN — Falei pra minha mãe que eu iria passar na casa de uma amiga

antes.

YASMIN LEVANTA.

YASMIN — Já volto.

MÁRIO A OBSERVA E VÊ O SUCO DA GAROTA ALI. MÁRIO ABRE SUA MOCHILA E

PEGA UM FRASCO PEQUENO. OLHA PARA OS LADOS E PINGA ALGUMAS GOTAS.

TEMPO. YASMIN VOLTA. ÉLCIO SE APROXIMA.

MÁRIO — Eu vou querer um... (OLHA CARDÁPIO) Um misto quente...

YASMIN BEBE SEU SUCO TODINHO. MÁRIO SORRI PARA ELA. CORTA PARA:


CENA 41. UFMP. INTERIOR. DIA.

YASMIN VAI CAMINHANDO AO LADO DE MÁRIO. ELA APARENTA SONOLÊNCIA.

YASMIN — Eu já disse que não precisa. Eu vou sozinha.

MÁRIO — Mas eu tô percebendo que tu tá estranha/

YASMIN CAI. MÁRIO A SEGURA.

MÁRIO — Yasmin... Yasmin...

YASMIN NÃO RESPONDE. MÁRIO OLHA PARA OS LADOS E PEGA YASMIN NO

COLO. CORTE DESCONTÍNUO: MÁRIO PÕE YASMIN NO BANCO DO FUNDO. OLHA

PARA OS LADOS. NENHUMA MOVIMENTAÇÃO. ENTRA NO CARRO. OLHAR FRIO.

CORTE PARA:

CENA 42. CONDOMÍNIO. ENTRADA/FRENTE DE CASA. EXTERIOR. DIA.

MÁRIO PASSA DE CARRO E CUMPRIMENTA O PORTEIRO QUE NÃO PERCEBE

YASMIN NO FUNDO DESACORDADA. GARAGEM DE MÁRIO SE ABRE E O CARRO

ENTRA.

FADE OUT.

CENA 43. CASA DE MÁRIO. QUARTO DE MÁRIO. INTERIOR. DIA.

FADE IN. CORTINAS SE FECHAM. PENUMBRA. CÂMERA SEGUE EM DIREÇÃO A

CAMA DELE. MÁRIO SENTA-SE AO LADO DE YASMIN QUE ESTÁ TOTALMENTE

NUA. MÁRIO LEVANTA, PEGA SUA CÂMERA E FAZ ALGUNS REGISTROS DA

GAROTA. TEMPO.

INSERIR FLASHBACK: MÁRIO CORRE ATRÁS DE UMA JOVEM. A JOVEM GRITA DE

PAVOR.

VOLTA AO TEMPO PRESENTE: MÁRIO VAI OLHANDO FIXAMENTE PARA YASMIN.

OLHAR PSICOPATA. TEMPO. MÁRIO VAI TIRANDO SUA CAMISA E A ENCARANDO.

POR FIM, TIRA A CALÇA. CÂMERA SE AFASTA: ELE VAI SE APROXIMANDO

VAGAROSAMENTE DA CAMA. NA IMINÊNCIA DE ELE SUBIR NA CAMA.

FADE OUT.

FIM DO CAPÍTULO 02

perfil fake - megapro.com.br · alessa — eu pedi pra tu esperar lá na sala. ... eu vim aqui...

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