aumento da produtividade e qualidade no serviço público ... · melhorar a capacidade produtiva...
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Aumento da produtividade e qualidade no serviço público brasileiro
CIORLIN, Maira Miranda (UNIR) maira.ciorlin@unir.br
SILVA, Taís Bringhenti Amaro (UNIR) taisbas@gmail.com
BERTONE, Elisa Oliveira Macedo (UNIR) elisaomacedo@gmail.com
Resumo: O presente estudo surge da necessidade de diminuição das contas públicas e da melhoria do serviço
público. Percebeu-se que uma das formas de melhorar a oferta desses serviços é através de aumento de
produtividade e qualidade. Este artigo trata de formas possíveis de se alcançar essa melhoria,
propondo discussões relacionadas à aumento de motivação e percepção de satisfação dos servidores
públicos, implantação de programas de gestão de qualidade, bem como o desenvolvimento de
indicadores de qualidade próprios para cada setor público, e ainda, mais profundamente uma
reformulação na cultura organizacional de organizações públicas e no pensamento de uma gestão
nova, provavelmente voltada para gestão social. Por ser um tema com poucos estudos na área, trata-se
de uma pesquisa de cunho exploratório.
Palavras-Chave: Eficiência; Eficácia; Produtividade; Qualidade; Serviço público.
Increase of productivity and quality in the Brazilian public service
Abstract:
This study starts from the need to decrease the Public Accounts and improve the Brazilian Public
Service. One way to improve these services is increasing productivity and quality. This article
shows a few ways to achieve that improvement, discussing motivation and perception of
satisfaction from public employees, implementation of quality management, the need of
develop quality indicators for each public sector and moreover, the need of a deeper
reformulation in the culture of Public Organizations with, probably, implementation of social
management.
Key-words: Efficiency; Effectiveness; Productivity; Quality; Public Service.
1 Introdução
Alcançar eficiência e eficácia são alguns dos anseios de organizações tanto públicas quanto
privadas. Obter mais lucro, produzir mais, diminuir os gastos, atender os clientes de forma
mais rápida e mais completa, etc., são questões frequentemente abordadas nas teorias
organizacionais. Planejamento, estratégia, marketing, cultura organizacional, boa parte dos
grandes temas de gestão tratam de formas para fazer com que a organização seja eficiente e
eficaz.
Tais temas estão diretamente ligados com a produtividade e com a qualidade dos serviços
prestados. Abrangem funcionários, máquinas, processos, etc. E ainda, atingir níveis
consideráveis de eficiência e eficácia, significam fazer com que a organização produza mais,
com qualidade e gastando menos.
Melhorar a capacidade produtiva das empresas, principalmente das públicas, é considerado
uma medida cada dia mais necessária, isso porque, em 2015 quase 40% da receita do Brasil
foi destinada ao pagamento de servidores públicos federais. E, ainda, de acordo com o
Ministério da Fazenda, em 2015 seis estados ultrapassaram 60% das suas receitas com
despesas de pessoal. Esses dados, além de serem ilegais (no caso dos Estados) conforme a Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF), são preocupantes.
Dia após dia é possível ouvir reclamações dos usuários insatisfeitos quanto a qualidade dos
serviços públicos, como educação, saúde, segurança, saneamento, etc. Faz-se necessário que a
balança seja invertida, pois se o gasto com servidores e com a máquina pública é tamanho, é
justo ao cidadão que o serviço atenda a todos e com qualidade.
Esse artigo pretende abordar, de forma exploratória, como a eficiência e a eficácia podem ser
atingidas, de forma a impulsionar e ampliar a discussão da necessidade de melhorar a
produtividade e qualidade nos serviços públicos em geral.
Pretende-se estudar as maneiras mais utilizadas para aumento da produtividade e da qualidade
dos serviços na iniciativa privada e dessa forma, transpor ideias de como alcançar esses
objetivos na esfera pública, seja trabalhando na satisfação e motivação de servidores, seja na
necessidade de repensar sobre produtividade, indicadores de qualidade, mudanças de gestão,
entre outros.
Essa pesquisa tem cunho exploratório e foi utilizado a abordagem qualitativa, com técnicas de
revisão bibliográfica e documental, além de observação participante.
2 Revisão Bibliográfica
No mundo empresarial todo dia é uma batalha: seja para vender/produzir o produto, seja para
verificar o que está faltando fazer, seja criando formas de fazer o que falta, seja no agir
precisamente dito. Diversas estratégias empresariais são utilizadas ao longo da vida de uma
empresa e podem ser tanto voltadas para reestruturação financeira, de produtos e portifólio,
quanto uma reestruturação da organização como um todo.
Uma das formas de começar a pensar em uma reestruturação organizacional refere-se ao
aumento da eficiência e eficácia nas organizações. De acordo com o dicionário Michaelis
Online, eficiência pode ser definida como:
1 Capacidade de produzir um efeito; efetividade, força.
2 Capacidade de realizar bem um trabalho ou desempenhar adequadamente
uma função; aptidão, capacidade, competência.
3 Qualidade do que é passível de aplicação vantajosa; proveito, serventia,
utilidade:
4 Atributo ou condição do que é produtivo; desempenho, produtividade,
rendimento.
E ainda, o dicionário Dicio Online define eficiência como:
Capacidade de realizar tarefas ou trabalhos de modo eficaz e com o mínimo
de desperdício; produtividade.
Tendência ou aptidão para ser efetivo; capacidade de realizar ou desenvolver
alguma coisa demonstrando eficácia; efetividade.
Particularidade demonstrada por pessoas que conseguem produzir um ótimo
rendimento, quando realizam alguma coisa; característica do que é eficaz.
Já eficácia, de acordo com o dicionário Dicio é “qualidade daquilo que alcança os resultados
planejados; característica do que produz os efeitos esperados” e “capacidade de desenvolver
tarefas ou objetivos de modo competente; produtividade.”
Percebe-se que ambas as definições, tanto de eficiência quanto eficácia, tratam de produzir
bem, como boa qualidade e ótimo rendimento, atingindo resultados esperados. Produzir com
ótimo rendimento significa também produzir o máximo possível gastando/desperdiçando o
mínimo, é o famoso fazer mais com menos. Além disso, nota-se que a questão da
produtividade está presente na definição de ambos os termos.
Se ao definir eficiência e eficácia, usa-se a produtividade como uma das respostas possíveis,
portanto é possível perceber que a:
consequência direta da eficiência é a produtividade. A produtividade pode
ser definida como a produção de uma unidade produtora por unidade de
tempo, isto é, o resultado da produção de alguém por um determinado
período de tempo. Quanto maior a eficiência, tanto maior a produtividade.
(CHIAVENATO, 2003, pg. 58)
Ora, se os termos analisados possuem uma relação clara de causa e consequência, parece
óbvio pensar em maneiras de aumentar a produtividade para atingir maior eficiência e
eficácia. É certo que existem outras maneiras de atingir esses objetivos, mas por questões de
foco será enfatizado a questão da produtividade.
Wainer (2002, p.4) ao explicar sobre produtividade, ensina sobre a importância dela para a
economia:
Existem duas razões porque a produtividade é uma medida de extrema
importância. A primeira é que na economia clássica, o aumento de
produtividade é um dos limites para o crescimento real da economia. A idéia
é a seguinte: a economia de uma nação está limitada apenas pela sua
capacidade de produzir, quem produz mais tem uma economia maior. Então
o aumento da economia se dá por duas razoes: 1) ou mais trabalhadores
entraram no sistema produtivo, e, portanto estes trabalhadores extras
produzem mais e, portanto a economia cresceu, ou 2) ou a produtividade dos
trabalhadores aumentou, isto é, os mesmos trabalhadores agora produzem
mais e, portanto de novo a economia. Assim, no caso clássico o aumento de
economia é a soma do aumento de produtividade com o aumento
(proporcional) da força de trabalho: se a produtividade aumentou 2% e a
força de trabalho outros 1%, a economia então pôde crescer 3%. Além do
mais, aumento de produtividade é classicamente a única forma de tornar um
bem ou serviço mais acessível: o aumento da força de trabalho aumenta a
produção de um bem, mas o custo “mínimo” deste bem não diminui com o
aumento do número de trabalhadores que o produzem. Apenas com o
aumento de produtividade na produção do bem causaria uma diminuição no
custo de produção do bem e o tornaria mais acessível.
Produzir mais gastando menos sem dúvida é importante para o empresário, pois produzir o
mesmo tanto reduzindo os gastos, ou ainda produzir mais gastando o mesmo, significa que
sobrará mais recursos tanto para obtenção de lucro dos sócios quanto para investir na
empresa. Já para o setor público, a importância de processos cada dia mais eficazes e
eficientes se dá por questões legais e morais.
Na questão legal, é possível observar o promulgado pelo Art. 37 da Constituição Federal
(BRASIL, 1988), a saber: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...)” (grifo nosso). Torna-se
claro que a Administração Pública tem o dever de ser eficiente, ou seja, tem o dever de primar
por processos que produzam mais utilizando a menor parcela de recursos possíveis.
Na questão moral, Monaco e Guimarães (2000) afirmam que “as empresas publicas têm cada
vez mais a função de suprir as expectativas da sociedade.”. Arretche (1999, p. 7) também
contribui para o raciocínio, afirmando que
a eficiência é um objetivo democrático. Na verdade, ao dispor de recursos
públicos (...) o governo está gastando um dinheiro que não é seu; ao fazê-lo,
o governo está gastando o dinheiro do contribuinte. Ora, a probidade,
competência e eficiência no uso de recursos publicamente apropriados
constituem , em regimes democráticos, uma das condições para a confiança
pública (public confidente) no Estado e nas instituições democráticas.
De acordo com o Ministério da Fazenda (2016), no ano de 2015, pouco menos de 40% das
receitas da União foram utilizadas para pagamento de salário de servidores federais, e seis dos
estados brasileiros ultrapassaram 60% de suas receitas com servidores públicos. Esses valores
demonstram apenas pagamentos de salários, sem contar gastos com infraestrutura, energia,
materiais de expediente, segurança, etc. Tais dados demonstram que a conta é alta, e ainda
assim, os serviços públicos brasileiros são considerados de baixa qualidade.
Apesar da vontade de transpor os conceitos da iniciativa privada para o setor público, faz-se
importante destacar que os critérios de eficiência não são os mesmos no âmbito público e
privado.
Evidentemente, o o conceito de eficiência no setor público é distinto daquele
do setor privado. Por exemplo, dado o objetivo de redução de desigualdades,
justifica-se uma política de subsídios, o que não está de acordo com uma
concepção de eficiência que busca apenas minimizar custos. No entanto, este
instrumento não elimina a necessidade de aplicar uma política de subsídios
com o maior grau de eficiência possível, eliminando custos desnecessários e
não condizentes com o princípio da eqüidade. (ARRETCHE; 1999; p. 7)
Por esse motivo, a não contratação ou a simples redução do quadro de servidores públicos
visando apenas a diminuição dos gastos públicos não atende o princípio da eficiência. Ora,
servidores públicos são necessários para manter a empresa pública em movimento, porém esta
deve produzir mais, utilizando menos recursos (tanto humanos quanto financeiros) para que
esse princípio seja atendido. Uma das formas propostas aqui para mudança desse quadro, é
uma alteração na forma de gerir a empresa pública.
Obviamente, a forma de gestão e administração da instituição pública é diferente da gestão
realizada nas instituições privadas devido a suas características básicas. Além do fato de que o
serviço público tem como objetivo o bem público e não do bem do empresário, isto ocorre
também porque na Administração Pública “ainda há uma forte cultura patrimonialista, embora
se tenham incorporado conceitos de governança e dos princípios políticos nos últimos anos”.
(MATIAS-PEREIRA, 2008, apud BRANDÃO, 2014).
A implantação de novos tipos de gestão, como a gestão social pode ser considerada uma
alternativa para modificar a gestão pública. A gestão social “tenta substituir a gestão
tecnoburocrática, monológica, por um gerenciamento mais participativo, dialógico, no qual o
processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais”. (HABERMAS,
1989:165 apud TENÓRIO 1998, pg. 16). Percebe-se que quando a gestão aceita maior
participação dos servidores nas tomadas de decisão, há um maior engajamento e,
consequentemente, uma melhor produção.
Modificar a forma de fazer gestão significa uma mudança profunda na organização. O gestor
pode encontrar diversas dificuldades para aplicar mudanças de uma vez só na cultura
organizacional já enraizada do serviço público brasileiro, percebendo bastante resistência já
que os servidores são estáveis e alguns trabalham da mesma forma há vários anos. Porém ao
introduzir pequenas mudanças o sucesso pode ser percebido aos poucos e motivar para as
demais. Além disso, a reestruturação profunda na gestão pública é extremamente necessária,
visando justamente a melhoria dos serviços públicos, uma população melhor assistida pelo
Estado.
Enquanto não se vislumbra essa mudança cultural, que vai de uma necessidade de reforma
desde a educação básica até as mais altas formas de governo, é possível contribuir em alterar
esse cenário justamente aumentando a produtividade dos serviços públicos. Fazer com que os
processos sejam mais rápidos, que atendam mais pessoas, com mais qualidade, utilizando
menos recursos. De acordo com Affonso e Rocha (2010; pg.1):
Entre os fatores envolvidos no processo produtivo são os seres humanos os
que assumem maior importância, pois são os indivíduos que serão capazes de
aumentar ou diminuir a produtividade, de melhorar ou piorar a qualidade de
um serviço e, ainda, gerar maior ou menor lucro para as organizações.
Chiavenato (2003, pg. 374) complementa: “A organização é um sistema humano e complexo
(...). Esse conjunto de variáveis deve ser continuamente observado, analisado e aperfeiçoado
para que se resulte em motivação e produtividade”. Ora, se os fatores humanos importam
significativamente em uma organização, questões de clima organizacional, motivação e
satisfação dos funcionários devem estar presentes o tempo todo.
Obviamente, essas medidas devem ser diferentes na esfera pública e privada, visto que
características de competitividade e o medo de perder o emprego (devido ao regime
estatutário e ao fator estabilidade) não estão presentes no setor público (VIEIRA et al., 2011
apud BRANDÃO et al. 2014).
Estas divergências, dentre outras, ensejam a necessidade de se compreender
a satisfação no trabalho dos agentes públicos, a fim de que a Administração
Pública possa propor medidas para manter seus servidores satisfeitos,
motivá-los e aumentar-lhes a produtividade (GONDIM; SILVA, 2004;
BEALE, 2007; apud BRANDÃO et al., 2014)
Difini (2002) apud Brandão et. al. (2014) destaca que a falta de servidores especializados, a
alta rotatividade, a precariedade em políticas de retenção de talentos, os cortes orçamentários
e os atrasos nos pagamentos e recebimentos de recursos, bem como a falta de critérios rígidos
para escolha de dirigentes e servidores que desempenham as mesmas funções por décadas,
são alguns dos fatores próprios da Administração Pública que podem influenciar
negativamente na motivação e satisfação dos servidores.
Buscar o envolvimento de todos os servidores, independentemente de nível,
cargo ou função, com a melhoria do serviço público, o aperfeiçoamento
contínuo e a satisfação do cliente é fundamental. Da mesma forma, é preciso
valorizar o servidor por meio da capacitação permanente, boa remuneração,
bom ambiente de trabalho e proporcionar oportunidade de desenvolvimento
de suas potencialidades. (AFFONSO e ROCHA, 2010, pg. 4)
Além disso, é importante destacar que para gerar satisfação, segundo Vroom (1997, pg. 21)
apud FIGUEIREDO (2006, pg. 19):
• Os funcionários precisam acreditar que o desempenho eficaz levará ao
recebimento de uma bonificação ou à aprovação das demais.
• Os funcionários precisam achar atraentes as recompensas oferecidas.
• Os funcionários precisam acreditar que um determinado nível de esforço
individual os fará alcançar os padrões de desempenho da empresa.
Segundo Chiavenato (2003, pg. 116) “o advento da Teoria das Relações Humanas trouxe uma
nova linguagem que passou a dominar o repertório administrativo: fala-se agora em
motivação, liderança, comunicação, organização informal (...)”. Apesar de muito relevantes,
motivação e satisfação de funcionários não são as únicas variáveis que podem ser melhoradas
para aumentar a produtividade.
Outra ferramenta possível de ser implantada é relacionada aos processos, voltada para a
qualidade. Programas de qualidade são modelos que visam:
à máxima produtividade e a redução de custos, tentando, de todas as formas,
voltar a empresa ao atendimento das reais necessidades dos seus clientes;
entretanto a preocupação das empresas em relação ao seu micro e macro
ambiente, onde o processo de melhoria contínua faz com que as pessoas
deixem de ser meros empregados para assumirem um papel de
colaboradores, demonstra que é necessário o envolvimento das pessoas para
se alcançarem as metas do programa; contudo observa-se nos discursos
funcionalistas e gerenciais que a preocupação das empresas com a introdução
de novas técnicas de gestão e desenvolvimento constante do pessoal, tem por
objetivo maior alcançar ganhos de produtividade, e somente em última
instância melhorar o bem-estar e as condições de trabalho das pessoas.
(MONACO; GUIMARÃES, 2000).
Apesar do Governo Federal ter criado em 1990 o Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade, Rees (1992) apud Vieira et. al. (2000) destaca que pode haver dificuldade no
gerenciamento da qualidade nas instituições públicas:
Embora qualidade no setor público também se refira à satisfação dos
consumidores, estes são normalmente o público em geral. Os consumidores
são, em outras palavras, um grupo muito maior do que o consumidor
imediato de um serviço ou produto.
Ainda assim, acreditar que programas de qualidade total não teriam sucesso ao serem
implantados em instituições públicas seria um erro. “Se qualidade se refere à satisfação dos
consumidores, não há razão para acreditar que o setor público não possa oferecer serviços ou
produtos de acordo com padrões de qualidade predeterminados.” (RAGO; 1994 apud VIEIRA
et. al.; 2000). Para o sucesso dessa implementação, faz-se necessária a criação e definição de
indicadores de qualidade próprios para o serviço público e, mais precisamente, próprios para
cada órgão, visando assim a medição correta da realidade deste.
3 Metodologia
Para a realização deste trabalho, foi utilizada uma abordagem qualitativa e baseada em análise
de referências bibliográficas para chegar aos resultados. Caracteriza-se, portanto, como
pesquisa bibliográfica, conforme definição de Severino (2016):
A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro
disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos,
como livros, artigos, teses, etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas
já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos
tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a
partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos
textos.
Este estudo tem característica exploratória, visto que muitos conceitos aqui tratados não são
frequentemente aplicados ao serviço público, sendo que comumente as teorias das
organizações estudam a iniciativa privada. A pesquisa exploratória, segundo Severino (2016),
“busca apenas levantar informações sobre determinado objeto, delimitando assim um campo
de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto. Na verdade, ela é uma
preparação para a pesquisa descritiva”.
Foi utilizado também a observação participante na qual foi levado em consideração a visão do
pesquisador sobre instituições públicas. Certamente, alguns desses paradigmas são
considerados estereótipos, porém esta pesquisa não tem a intenção de denegrir de qualquer
forma o serviço público, e sim, despertar interesse para fomento na realização de estudos
referentes a melhoria dos serviços públicos ofertados no Brasil.
Foi utilizado método dedutivo, no qual técnicas de aumentar produtividade e qualidade dos
serviços no setor privado foram primeiramente estudadas para então chegar a conclusão a ser
aplicada no setor público.
4 Resultados E Discussão
O Brasil é um país que espalha aos quatro ventos seus problemas econômicos, o aumento do
desemprego e de empresas falindo e fechando suas portas, por isso a questão da eficiência e
eficácia nas organizações é cada dia mais visada. Para sobreviver nesse mundo tão
competitivo é necessário que as organizações consigam atingir seus resultados da forma mais
econômica possível, produzindo mais e gastando menos tempo, menos recursos, menos
dinheiro.
No serviço público não é diferente, afinal com a alta taxa tributária aplicada no país, todo
cidadão deveria ter direito à serviços básicos de forma gratuita e com qualidade, o que
infelizmente não é facilmente observado. Aumentar a produtividade nesse caso parece ser
uma alternativa obrigatória para a sobrevivência desses serviços de forma gratuita.
Infelizmente, percebe-se que mesmo o conceito de produtividade é dificilmente definido na
área pública devido a sua diferença com o setor privado e necessidade de indicadores
diferenciados. Falta ainda superar a fase patrimonialista, sendo necessário o real
desmembramento dos interesses privados na esfera pública. Faz-se necessário que os bens
públicos sejam vistos e cuidados como coletivos, e não como coisa de ninguém onde é
possível ter benefícios e tirar vantagem da coisa pública (e isso inclui tirar vantagens pessoais
ou utilizar-se do cargo para gerar benefícios ilegais à outrem).
Talvez em uma gestão social, com maior participação dos envolvidos, com participação dos
cidadãos e servidores no processo decisório, estes tomariam para si a responsabilidade de
cuidar do dinheiro e bens públicos. Talvez o fato de reconhecer verdadeiramente que o bem
público é da coletividade, seria um fator motivacional aos servidores.
E ao falar na questão motivacional dos funcionários públicos, é importante observar que,
devido a característica da isonomia, estes servidores não sentem que serão reconhecidos ou
melhor remunerados ou que terão suas necessidades atendidas caso realizem um trabalho mais
produtivo, afinal se o trabalho é feito ou não os salários continuam sendo pagos. Com o atual
modelo de gestão praticado nas instituições públicas, a forma de gerar satisfação proposta por
Vroom (1997) não parece funcionar na esfera pública.
Claramente, faz-se necessário trabalhar com outros fatores de satisfação e motivação para os
servidores públicos, como melhoria no ambiente e cultura organizacional, participação na
tomada de decisões, treinamentos e capacitação, entre outros. Pensar também em melhorar a
percepção de satisfação que os servidores têm do seu ambiente de trabalho se faz relevante ao
procurar medidas de melhorar a qualidade de vida do servidor, como prevenção de doenças
(diminuindo o número de aposentadorias por invalidez), ou mesmo no incentivo aos
servidores em permanecer mais tempo trabalhando.
Ao tentar aplicar modelos de gestão voltados para qualidade, percebe-se que para obter
sucesso nessa tentativa, será necessário criar indicadores de qualidade voltados
especificamente para as organizações públicas, sendo que cada setor terá que criar indicadores
específicos para sua área de atuação.
Com esses indicadores de qualidade devem vir acoplados formas de mensurar a produtividade
e incentivar o aumento dela, através de estratégias distintas. Talvez, em um futuro próximo,
seja necessário repensar as questões da estabilidade e da isonomia, de modo que os servidores
se sintam mais motivados a produzir mais, pois assim seriam recompensados pela sua
produção (isonomia) ou punidos na falta dela (estabilidade).
Sem dúvida alguma, punir servidores não deve ser prioridade em nenhuma gestão. O serviço
público precisa mesmo repensar na sua gestão como um todo, mudar sua cultura
organizacional trazendo formas de medir seus resultados para gerenciar com mais precisão,
seja na mudança das relações com processos, finanças, captação de recursos financeiros e
recursos humanos.
5 Considerações Finais
Neste trabalho foi proposto o estudo das formas mais utilizadas na iniciativa privada para
crescimento nos aspectos da produtividade e da qualidade dos serviços ofertados e nesse
mister, vislumbrar ideias de como melhorar esses indicadores na esfera pública. Para tanto
fez-se, inicialmente, uma breve introdução e contextualização sobre o tema que se propôs o
estudo.
Em um segundo momento, desenvolveu-se a revisão teórica para se dar embasamento a
análise, na qual se estudou tópicos como a eficiência, eficácia, produtividade, as disposições
normativas e doutrinárias sobre esses no ordenamento brasileiro, mudança de cultura
organizacional, gestão social, entre outros.
E, enfim, foi feita a discussão dos resultados encontrados da pesquisa, da qual pode se
concluir que pensar em formas de economia para a União são extremamente importantes para
a gestão pública. Assim, continuar oferecendo serviços públicos gratuitos e, principalmente,
com qualidade é imprescindível para tentar diminuir a desigualdade social. A conta gastos
públicos x qualidade de serviços precisa ser alterada o mais rápido possível, garantindo até a
própria existência da esfera pública.
Dessa forma, ampliar a eficiência e eficácia dos serviços públicos, aumentando a qualidade e
a produtividade, conseguindo atender uma parcela cada vez maior da população, e ainda
garantindo a competitividade do país, são fatores fundamentais para o aumento da qualidade
de vida.
Portanto, gestores públicos precisam se conscientizar que aumentar a produtividade significa
economizar aos cofres públicos e, consequentemente esperar que essa economia seja revertida
em mais benefícios para toda a população, como serviços de educação, saúde, segurança, etc,
gratuitos e de qualidade exemplar.
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