artigo: o popular - pinóquio e o déficit
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26 de julho de 2010
Artigo
Pinóquio e o déficit
Henrique Duarte
O acordo de salvamento da Celg, que implica em empréstimo que beira R$ 4 bilhões, garantido pelo
Tesouro estadual, é o mais novo fator financeiro a complicar a capacidade de endividamento de
Goiás. Tema de campanha eleitoral é também demonstrativo do quanto dependemos da União,
credora de quase tudo que foi aplicado na infraestrutura que temos hoje. Leva R$ 1,3 bi da receita
tributária líquida.
Reportagem deste jornal apontou que o Estado terá, em 2011, apenas R$ 217 milhões para investir,
ou 1,5 % do orçamento de R$ 13,8 bilhões previsto para o próximo exercício. Uma situação
cadavérica. Sem recursos de empréstimos internos ou externos, não terá como bancar projetos de
recuperação, ampliação e de implantação de empreendimentos de porte.
A situação tenderá a piorar quando for adicionado o empréstimo federal, via BNDES, à estatal. A
capacidade de endividamento ficará em zero. Sem antever contratos de empréstimos com fontes
externas como Bird e BID, entre outras, não se vislumbra uma perspectiva satisfatória de
investimento público por parte do governo estadual.
A arrecadação, porém, continuará em alta. Devido não só às alíquotas elevadas, mas também e
principalmente pelo esforço conjunto do setor produtivo. A receita tributária crescerá, seguindo a
tendência atual, mas os investimentos retrairão. Essa dessintonia acarretará pelo menos uma
consequência: os produtos goianos, em especial os do agronegócio, perderão competitividade,
devido às péssimas condições de vários serviços públicos.
O Rio de Janeiro acaba de resolver sua capacidade de endividamento. O presidente Lula assinou
medida provisória que soluciona o problema, tendo em vista a Copa de 2014. Goiás não contará a seu
favor - na eventual edição de futura MP pelo próximo presidente da República - com a escolha de
Goiânia como uma das sedes. Nossa capital saiu do páreo apesar de possuir condições materiais para
sediar o evento. Mas a pobreza do Erário não pôde assumir a reconstrução do Serra Dourada, a um
custo de R$ 300 milhões.
A situação preocupa e se revigora em dúvidas. O governo atual reafirma que o déficit de caixa mensal
que encontrou era de R$ 100 milhões. Estudo técnico da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas
(Fipe) corroborado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) revela que o déficit herdado pelo governo
Alcides Rodrigues era bem menor. Em 2005, último ano da gestão Marconi Perillo, o déficit mensal foi
de somente R$ 13 milhões. Até 2009, situou-se nesse patamar, aumentando muito a partir de 2009. E
o nariz de Pinóquio, como fica?
Em qualquer situação que se veja a precariedade do Tesouro estadual fica claro que Goiás não vive
um momento auspicioso neste particular. O futuro governante terá de contornar a questão
financeira. Não há uma crise financeira internacional abalando as finanças. Somente o altíssimo custo
da máquina. Impõe-se economia de guerra.
Contabilizar como concreto o saneamento da Celg - que lhe permitiria sair da inadimplência, poder
reajustar a tarifa congelada e pagar por mês R$ 40 milhões de ICMS ao Estado, além dos R$ 400
milhões retidos - pode ser a única saída de curto prazo.
Se o Tesouro estadual arrecadar mesmo essas gorduras da distribuição de energia elétrica, terá o
próximo governo pelo menos um horizonte por onde transitar. Distante, porém, das necessidades
reais de investimento. A importância de R$ 10 bilhões que o Estado precisa só para a malha
rodoviária, mesmo dividida por dois, ainda assim reflete um número cabalístico, irrealizável.
Um bom plano de recuperação da malha asfaltada, ao lado de projetos regionais de implantação de
rodovias, e a operacionalização da Ferrovia Norte Sul inserem-se no conjunto de viabilidades
esperançosas que assegurarão o ritmo de crescimento. Não sujeito à falência, o Estado, apesar de
ficar perto do abismo, jamais cairá nele. Sempre haverá um caminho a trilhar. Competirá ao próximo
governo a engenharia que reporá o trem nos trilhos. Não com esforços errantes ou visionários, mas
com a inteligência que a todos assiste.
Henrique Duarte é jornalista
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