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7/29/2019 Arquetipos Para Uma Gestao Museologica Sustentavel. O Museu de Francisco Tavares Proenca Junior Como Estudo
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Humberto Rendeiro
Arqutipos para uma gesto museolgica sustentvel: o Museu
de Francisco Tavares Proena J nior como estudo de caso
Documento apresentado no Encontro Museus e Sustentabilidade Financeira,
organizado pelo ICOMPortugal, no Museu Nacional de Soares dos Reis, a 7 de
Novembro de 2011
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Resumo
A asfixia financeira do meio cultural, resultante da actual conjuntura de depresso
econmica internacional e de um maior descomprometimento por parte do Estado na
proteco e valorizao do patrimnio cultural do povo portugus, desembocou no
presente panorama de crise que afecta a totalidade dos museus nacionais. Estreita, por
conseguinte, que se preconizem linhas de actuao que os resgatem deste cenrio e lhes
estatuam o curso da sua misso.
Nesse sentido, as redes de parceria com a comunidade local, os encontros de
beneficncia com mecenas, uma gesto profissionalizada, os contratos de outsourcing, o
aluguer de espaos, entre outras medidas, afiguram-se determinantes na prossecuo da
almejada auto-sustentabilidade.
Com base num estudo de caso centrado no Museu de Francisco Tavares Proena Jnior,
de Castelo Branco, infere-se sobre estas temticas repercutindo-as ao panorama geral.
Palavras-chave: Museus, gesto museolgica, sustentabilidade financeira
1. Prembulo
O actual estado de carncia financeira que afecta os museus nacionais obriga a que se
reformulem os modelos de gesto vigentes. Nesse sentido, tendo em conta as medidas
de austeridade, os cortes oramentais, as reestruturaes na administrao central, entre
outros factores que perturbam o sector cultural e que colocam os museus nacionais nas
mais crticas condies de sobrevivncia, torna-se premente que se estabeleam linhasde actuao que os reintegrem no desenvolvimento da sua misso. Ou seja, inevitvel
que se afine uma gesto museolgica sustentvel que garanta a sua sobrevivncia.
No quadro dos museus e palcios nacionais assiste-se a uma suboramentao das
tutelaspese embora a totalidade das receitas obtidas em loja e bilheteira revertam em
seu favor o que levou adopo de medidas que procuram garantir alguma auto-
sustentabilidade. Poder-se- enumerar, como exemplo, a criao de redes de parceria, a
gesto de receitas prprias, a captao de patrocnios e de mecenatos, os contratos em
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outsourcing. Afigura-se, todavia, discutvel se as solues que se anunciam so
suficientes para compensar a falta de investimento na cultura por parte do Estado e,
tambm, se, de alguma forma, podero ser tomadas como transversais ao universo dos
museus e palcios portugueses.
De entre as que se proclamam acredita-se que a criao de redes de parceria com a
comunidade local, alm de garantir uma maior independncia em relao tutela e
assegurar a promoo do espao museolgico, fomenta, tambm, a integrao da
mesma, sendo uma prtica institucionalizada na grande maioria dos equipamentos
culturais. Importa, todavia, referir que o entendimento que se faz de comunidade local
engloba os seus pblicos e, tambm, os agentes econmicos e os institucionais. Ou seja,
fazem parte da comunidade local as Cmaras Municipais, as Juntas de Freguesia, asAssociaes, as Foras de Segurana, as Universidades, as Escolas, os Centros de
Geriatria, a Indstria, o Comrcio e tantos outros. Competir, assim, aos responsveis
pelos equipamentos culturais incentivar esta integrao, estreitando as relaes com os
potenciais parceiros. Alm do mais, o carcter desburocratizado em que assentam os
contratos de parceria favorece o seu estabelecimento, tornando-os, assim, transversais
totalidade dos museus e palcios nacionais. Por outro lado, quanto mais abrangente for a
rede de parceiros maior ser a autonomia em relao tutela.
No mesmo registo encontram-se o aluguer de espaos e as actividades desenvolvidas no
mbito dos Servios Educativos, por exemplo, com vista obteno de receitas. Ambos
permitem criar importantes fontes de receita passvel de ser gerida pela prpria
instituio e, em simultneo, contribuem para uma dinamizao ao nvel da
programao. Estas fontes de receita garantem, naturalmente, uma maior autonomia
financeira.
J o mecenato, pela sua caracterizao, acredita-se que esteja, sobretudo, associado s
grandes empresas, em particular s de cariz internacional, donde uma aco desta
natureza visa particularmente os projectos de maior interesse e visibilidade. Assim, cr-
se na existncia de uma geografia de aco muito prpria para as questes relacionadas
com esta forma de fundraising. No significa, no entanto, que no existam, numa
abrangncia nacional, situaes pontuais de mecenato ou, to pouco, que no se consiga
aceder a esta forma de financiamento, num qualquer museu, independentemente da sua
localizao geogrfica. Todavia, medida que nos afastamos dos grandes centros
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urbanos, acentua-se a diminuio das empresas despertas para este tipo de aco e, por
sua vez, aumentam os museus de cariz regional.
Foi precisamente partindo do pressuposto que, entre os museus e palcios nacionais,
existem assimetrias de vria ordem e que cada um manifesta as suas prpriasespecificidades, que se desenvolveu um estudo de caso, centrado no Museu de
Francisco Tavares Proena Jnior, de modo a se poder inferir sobre as questes
relacionadas com a obteno de fundraising e o seu impacto ao nvel da auto-
sustentabilidade.
2. O Museu de Francisco Tavares Proena Jnior como estudo de caso
Por se acreditar que medidas globalizantes de gesto museolgica no se coadunam com
as dissemelhanas presentes entre os principais museus nacionais e os de cariz regional,
sobretudo os que se encontram afastados dos grandes centros urbanos, encetou-se um
estudo de caso centrado no Museu de Francisco Tavares Proena Jnior, por um perodo
de seis meses, entre Agosto de 2009 e Janeiro de 2010. Refira-se, todavia, que este
estudo de caso teve por base um estgio no mbito de uma dissertao de mestrado em
Museologia apresentada Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Numa altura em que o sector cultural j se debatia profundamente com as questes da
escassez financeira, situao que entretanto se veio a agudizar, achou-se pertinente
inferir sobre o alcance das medidas que se apresentavam como garante de uma maior
sustentabilidade dos museus nacionais. Nomeadamente, sobre as controversas gesto
bicfala e a transferncia de museus tutelados pelo IMC para o domnio municipal,
assim como, sobre o impacto econmico resultante do estabelecimento de parcerias, da
gesto de receitas prprias e da captao de mecenatos. Nesse sentido, uma vez que se
vaticinavam medidas de abrangncia global, imperava que se olhasse para um museu de
pequena/mdia dimenso, com cariz regional, situado numa rea perifrica e se
tentassem implementar esses novos desafios para a gesto museolgica. A escolha
incidiu no MFTPJ, com a particularidade de 2010 ser o ano do seu centenrio e da
direco estar particularmente empenhada na celebrao dessa efemride. Ou seja,
durante o perodo de estgio que correspondeu a seis meses e com a devida superviso
da directora do Museu, Doutora Aida Rechena, encetou-se uma campanha de captao
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de patrocinadores, mecenas e parceiros no intuito de dar exequibilidade programao
prevista para a comemorao do centenrio.
Definidos os objectivos, deu-se incio ao levantamento geogrfico (local e nacional) das
empresas e ou instituies que poderiam contribuir para o financiamento do programacomemorativo do Museu. Como critrio optou-se por seleccionar as empresas/entidades
que, por norma, se encontram associadas s questes culturais e, tambm, alguma da
indstria de Castelo Branco.
Foi feita uma primeira abordagem, apenas para determinar a tutela e esclarecer
devidamente a quem deveria ser dirigido o pedido, para que este fosse o mais
personalizado possvel e incidisse na pessoa ou pessoas com poder decisrio, tentando,
assim, evitar possveis extravios ou tempos de espera nas sucessivas transies de
hierarquia. Todavia, com alguma frequncia, foi difcil ou mesmo impossvel chegar
cpula superior. Nesses casos, o ofcio/e-mail foi remetido para contacto geral, na
esperana de que fosse reencaminhado internamente para quem de direito. Importa
lembrar que as empresas so constantemente assediadas para patrocinarem eventos e
que quando lhes chega um novo pedido de apoio, ou este est bem estruturado e
fundamentado ou acaba por ser recusado e nem sequer lido.
Do texto que foi elaborado constava inicialmente uma breve apresentao do MFTPJ,
seguida de um resumo das actividades a realizar e, por ltimo, era salientada a
importncia de divulgao apelando ao sentido de oportunidade que poderia representar
para a empresa/entidade em questo associar-se a um projecto que incorporasse uma
dimenso de educao pela arte, para alm de constituir o reconhecimento social e
cultural de uma instituio local. Apelava-se, ainda que indirectamente, ressonncia
meditica que a iniciativa poderia vir a dar aos prprios apoiantes. No termo do
ofcio/e-mail colocvamo-nos, inteira disposio para o esclarecimento de qualquer
dvida, quer pela mesma via quer presencialmente, em reunio.
Deu-se incio ao trabalho pela definio das tipologias das empresas/entidades que iriam
ser contactadas, as quais obedecem ao pressuposto de proximidade geogrfica, de
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dimenso, em termos de volume de negcio, nacional/internacional e pelas ligaes
jurdico-administrativas1, da seguinte forma:
Entidades pblicas de Castelo Branco Entidades pblicas nacionais Empresas sediadas em Castelo Branco Empresas nacionais e internacionais Imprensa
Foram efectuados 167 contactos, distribudos pelas tipologias definidas de acordo com
o apresentado na Tabela 1.
Tabela 1Tipologia e quantificao dos contactos efectuados (numero absoluto e valores
percentuais)
Total de
contactos
efectuados
Entidades
pblicas de
Castelo
Branco
Entidades
pblicas
nacionais
Empresas
sediadas em
Castelo
Branco
Empresas
nacionais e
internacionais
Imprensa
167 4 7 68 77 11
100 % 2,39 % 4,19 % 40,72 % 46,11 % 6,59 %
O investimento na imprensa, ao nvel dos contactos efectuados, prendeu-se, sobretudo,
com a tentativa de se conseguir estabelecer um acordo de media partner, uma vez que
se queria dar a mxima visibilidade comemorao do centenrio do museu. Seria,
assim, mais fcil atrair parceiros, mecenas ou patrocinadores, tendo como moeda de
troca uma oportunidade de marketingpara as empresas ou entidades que se lhe
associassem. A relao que se estabelecia com o exterior, a importncia do educar pela
arte, constituam dispositivos de confiana em que convinha apostar. Impunha-se, por
isso, determinante alargar o crculo dos intervenientes na dinmica cultural do museu,
sobretudo por intermdio da criao de condies para dar visibilidade s aces
empreendidas. Todavia, como se ver de seguida na apresentao de resultados, a
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Faz-se referncia, em concreto, ao Governo Civil de Castelo Branco, Cmara Municipal de CasteloBranco e Junta de Freguesia de Castelo Branco.
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imprensa nacional no agarrou esta iniciativa, no tendo sido possvel estabelecer
qualquer tipo de acordo.
3. Apresentao e anlise crtica de resultados
Atente-se, agora, naqueles que foram os resultados alcanados. Assim, dos 167
contactos efectuados obtiveram-se 42 respostas, o que equivale a 25,15 %. Destas, 4, ou
seja 2,39 %, traduziram-se em apoios. Deste modo, por ordem cronolgica de assinatura
do protocolo de colaborao, apresentam-se as entidades que se associaram
comemorao do centenrio do MFTPJ
Em primeiro lugar, destaca-se o Governo Civil do Distrito de Castelo Branco que
patrocinou a elaborao de seis telas alusivas ao centenrio, as quais foram expostas nos
principais edifcios da cidade. Cada uma delas reproduzia a imagem de uma pea do
museu e aludia s actividades que se iriam realizar entre 17 de Abril e 31 de Dezembro
de 2010. A assinatura do protocolo entre o Governo Civil e o MFTPJ ocorreu no dia 23
de Setembro de 2009, no Salo Nobre daquela instituio.
Em segundo lugar, foi concedido um patrocnio, em numerrio, por parte da Caixa
Geral de Depsitos, assinado no dia 28 de Outubro de 2009. De mencionar, no entanto,
que a cooperao se realizou a nvel local, tendo sido estabelecido com a agncia
daquela entidade bancria na cidade de Castelo Branco. Alis, o contacto foi
formalizado com essa agncia, embora, tenha sido comunicado que o pedido de apoio
foi reencaminhado para os servios centrais mas que a deliberao no lhe foi favorvel.
Contudo, por deciso da Gerncia local em se associar a este projecto e nele reconhecer
uma oportunidade de divulgao da sua prpria imagem, optou-se por contornar a
deciso central e prestar apoio.
Em terceiro lugar, foi assinado, no dia 19 de Janeiro de 2010, um protocolo com o Hotel
Best Western Rainha D. Amlia, de Castelo Branco, que pagou um conjunto de estadias
para serem utilizadas pelo MFTPJ, durante o perodo da comemorao do centenrio
(17 de Abril a 31 de Dezembro de 2010), permitindo, assim, vencer as dificuldades com
o alojamento dos conferencistas convidados pelo museu, por exemplo.
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Em quarto lugar, foi estabelecido um acordo com a Caja Duero, uma instituio
bancria espanhola, com agncia em Castelo Branco, que, em parceria com o evento
Primavera Musical, se comprometeu a patrocinar dois espectculos musicais a terem
lugar durante o perodo da comemorao do centenrio nas instalaes do MFTPJ. Este
acordo no deu lugar formalizao de qualquer assinatura.
Aps se apresentarem os resultados alcanados, refira-se que, por estimativa, era
conhecida a quantia necessria, em termos financeiros, para se cumprir com a totalidade
do programa equacionado no mbito das comemoraes do centenrio do museu.
Assim, calculou-se, em termos percentuais, os montantes concedidos e o seu peso
relativo no oramento do MFTPJ. A leitura do Grfico 1 mostra, de forma eloquente,
que ainda ficou uma significativa parte das despesas por assegurar.
Grfico 1Relao dos valores conseguidos em apoios face aos valores considerados
necessrios.
Ou seja, o pagamento do custo das telas, pelo Governo Civil, o apoio financeiro da
Caixa Geral de Depsitos, as estadias oferecidas pelo Hotel Rainha D. Amlia e osespectculos musicais patrocinados pela Caja Duero corresponderam a 24,76 % do
valor necessrio para cumprir com a totalidade da programao gizada. Sabe-se,
todavia, que a direco do Museu, para alm de ter dado continuidade ao plano de
angariao de fundraising, contou com a cooperao de entidades que regularmente
colaboram com a instituio, aumentando, assim, o nmero de parceiros e o volume de
apoio.
Valor Conseguido Valor Necessrio
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Recorde-se que a ideia base a testar partia do pressuposto que os museus de cariz
regional, afastados dos grandes centros urbanos, acabam por sentir maior dificuldade
em implementar algumas das medidas anunciadas. Assim, de entre aquelas que foi
possvel elevar condio de experincia e com base nos resultados obtidos, poder-se-
tipific-los, colocando-os entre as parcerias e os patrocnios, o que, de certa forma, veio
confirmar que estas formas de fundraising so transversais maioria das instituies
culturais. Relativamente captao de mecenatos, ainda que no se possa tecer
consideraes generalistas, tambm se manteve a ideia preconcebida de que o mecenato
em Portugal acaba por ter uma geografia muito prpria e que a mesma no passa pelos
museus inseridos em zonas perifricas aos grandes centros urbanos, caracterizados, em
parte, por serem de cariz regional. De modo a corroborar essa ideia, atente-se nos
seguintes exemplos. O Grfico 2 mostra a distribuio das empresas com mais de 250
empregados pelas capitais de distrito. Partindo do pressuposto que o nmero de
empregados um indicativo da dimenso da empresa, percebe-se onde que as grandes
empresas (industriais ou outras) esto sediadas, destacando-se, em larga escala, Lisboa.
Grfico 2Distribuio das empresas com mais de 250 empregados no ano de 2008 em
Portugal Continental.
(Fonte: Instituto Nacional de Estatstica)
Ainda sobre esta questo, no mbito do estgio desenvolvido, elaborou-se um pequeno
inqurito que foi enviado a todos os museus e palcios tutelados pelo IMC. A
0
50
100
150
200
250
Em
Centenas
Capitais de Distrito
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interpretao das respostas tambm leva a admitir que existe uma geografia muito
prpria para as questes do mecenato. Assim, dos 28 museus e 5 palcios inquiridos
responderam 22, o que corresponde a 66,67%. A primeira questo colocada Existe
algum mecenas a apoiar as actividades/coleco do Museu/Palcio que dirige?
mereceu 9 vezes a resposta sim e 13 vezes a resposta no. Donde 40,91% dos
inquiridos alega ter recebido apoios mecenticos e 59,09% diz que no. Todavia, dos 9
museus e palcios que responderam positivamente, 7 esto localizados em Lisboa. Ou
seja, cerca de 78%.
Por ltimo, veja-se o apoio concedido pela Caixa Geral de Depsitos, que sendo em
numerrio, poderia, perfeitamente, ter sido acreditado luz da Lei do Mecenato, mas,
por opo da prpria agncia, optou-se pela escolha desburocratizada do patrocnio. Ouseja, atendendo-se caracterizao do tecido empresarial de Castelo Branco (Tabela 2),
que no difere do panorama nacional (segundo dados fornecidos pelo INE, relativos a
2008, as PME representam 99,7% do tecido empresarial), baseado em empresas
familiares com baixos volumes de negcios, compreende-se que estas Pequenas e
Mdias Empresas no estejam despertas para as questes relacionadas com a Lei do
Mecenato, desconhecendo, inclusivamente, os benefcios fiscais que lhe esto
associados. Acredita-se, portanto, que h aqui um trabalho de fundo a empreender, porparte dos responsveis pelo patrimnio, que passa por uma aco formativa junto das
Pequenas e Mdias Empresas, no intuito de lhes dar a conhecer as vantagens fiscais
inerentes Lei do Mecenato e relembrar-lhes, tambm, da sua responsabilidade social.
Tabela 2Nmero de empregados por empresas no distrito de Castelo Branco (nmeros
absolutos e valores percentuais)
Total de
Empresas
Menos de 10
empregados
Entre 10 e 49
empregados
Entre 50 e
249
empregados
Com valor igual ou superior a
250 empregados
5435 5257 159 18 1
100 % 96,73 % 2,92 % 0,33 % 0,02 %
(Fonte: Instituto Nacional de Estatstica)
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No se pretende, logicamente, criar um falso problema. Sabe-se que existe, numa
abrangncia nacional, situaes pontuais de mecenato, sendo possvel aceder a esta
forma de financiamento, num qualquer museu, independentemente da sua localizao
geogrfica. Todavia, medida que nos afastamos dos grandes centros urbanos, acentua-
se a diminuio das empresas despertas para este tipo de aco e, por sua vez,
aumentam os museus de cariz regional com srias dificuldades ao nvel dos meios
tcnicos e humanos, tornando-se problemtica a captao desta forma de fundraising.
Assim, para que o mecenato em Portugal se torne num dos caminhos para a
sustentabilidade dos museus e palcios nacionais, em particular, e para a cultura, de uma
forma geral, para alm de ser necessrio empreender uma aco de sensibilizao junto
dos responsveis pelas Pequenas e Mdias Empresas fundamental que se reformule a
base legislativa em que assentam estas questes, criando melhores benefcios fiscais
para os investidores. Paralelamente, competir ao Estado desempenhar um papel activo
na procura de novos mecenas, fomentando a sua actuao a uma abrangncia nacional.
4. Consideraes finais
O estado de carncia financeira que aguilhoa os museus nacionais efectivo e tem
vindo a agudizar-se ao longo dos anos, tornando-se urgente que se preconizem medidas
que lhes estatuam o retorno execuo plena da sua misso. Acredita-se que apenas
uma aco de poltica concertada poder resgatar a cultura do cenrio dantesco em que
esta se encontra submersa. Deste modo, considera-se inevitvel que se procurem e que
se chame cena os parceiros e os investidores para as questes culturais, no intuito de
se favorecer uma maior sustentabilidade. Assim, atravs da criao de uma rede de
parcerias com a comunidade local, os museus tornam-se mais autnomos em relao
dependncia financeira do Estado, promovem a sua integrao, e, naturalmente, quanto
maior e mais abrangente for a rede de parceiros mais auto-sustentveis estes se tornam.
No mesmo sentido encontra-se a gesto de receitas prprias, onde o aluguer de espaos
e as actividades desenvolvidas no mbito dos Servios Educativos ganham
preponderante relevo. Estas fontes de receitas, passveis de serem geradas e geridas pela
prpria instituio, so fundamentais para a sua sobrevivncia e constituem uma
alternativa aos oramentos tutelares. Afigura-se, todavia, imprescindvel que a criao
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de receitas prprias seja acompanhada por um plano de marketingeficaz e que esteja
harmonizado com a venda da cultura em Portugal.
Relativamente ao mecenato, cr-se que h todo um trabalho de fundo que necessita ser
encetado, nomeadamente a reformulao da sua base legislativa, de modo a tornar o seuprocesso menos burocratizado e mais atractivo em termos fiscais. Por outro lado, tendo
em conta o tecido empresarial portugus, que se baseia nas Pequenas e Mdias
Empresas, considera-se determinante que se estabelea uma aco de esclarecimento
junto das mesmas, para que se torne do conhecimento geral as vantagens de natureza
fiscal inerentes ao apoio cultura. A estas aces de formao dever-se- dar a forma de
encontros de beneficncia com mecenas, to populares nos EUA, por exemplo, onde a
cultura financiada, em larga escala, pelo sector privado.
Acredita-se, portanto, que no actual panorama de crise financeira, que afecta entre
outros o sector cultural portugus, ainda no existe um caminho seguro que garanta uma
maior sustentabilidade dos museus nacionais. No entanto, afigura-se preponderante que
se continuem a criar laos de cooperao com a comunidade local, integrando-a, e,
tambm, que se promova uma aco concertada de marketing, com vista divulgao e
dinamizao dos museus, fomentando, assim, a aproximao de entidades externas e o
aluguer de espaos. Todavia, em paralelo com estas formas de financiamento, que se
baseiam no fundraising, ter que permanecer um apoio directo e efectivo do Estado,
sem o qual a ideia de os museus serem auto-sustentveis no passa de uma utopia.
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