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ANÁLISE E PROPOSTA DE DIRETRIZES
PARA UM SISTEMA LOGÍSTICO DE
RECOLHA E BENEFICIAMENTO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS PARA ÁREAS DE
FAVELA EM SINTONIA COM OS
PRECEITOS DO GRSCM
Bruno Duarte Azevedo (PUC)
brunodazevedo@yahoo.com.br
Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo (PUC)
lf.scavarda@puc-rio.br
Marcelo Leopoldo Sepeda Ferreira (PUC)
marcelosepeda@hotmail.com
O aumento no nível de consumo, somado ao uso indiscriminado de
materiais descartáveis, despertou na opinião pública movimentos que
cobram uma nova postura referente à preservação dos recursos
naturais. Nesse sentido, o Green Supply Chain MManagement -
GrSCM, surge como uma nova forma de gerenciamento da cadeia de
suprimentos que leva em conta todo o ciclo de vida do produto, desde a
extração de suas matérias-primas, até a sua correta disposição final.
Uma vez que a aplicação deste conceito ainda é incipiente, o presente
artigo apresenta inicialmente uma abordagem teórica das principais
definições e conceitos descritas na literatura para os termos ligados ao
GrSCM. Em seguida, a partir de um diagnóstico prátcio que referencia
a situação dos resíduos sólidos na comunidade da Rocinha, uma favela
no Município do Rio de Janeiro, o artigo propõe diretrizes gerais para
um sistema logístico de recolha e beneficiamento destes resíduos (com
destaque aos recicláveis) para áreas de favela, buscando medidas
práticas de aplicação do conceito de GrSCM em locais de ocupação
irregular e pobreza acentuada. As diretrizes foram traçadas nesta
pesquisa sob três perspectivas: a dos empresários geradores dos
produtos; a dos moradores e organizações locais e a dos órgãos
públicos e instituições responsáveis pela coleta e limpeza da região.
Como conclusão, defende-se que para o bom funcionamento de um
sistema de gerenciamento de resíduos a partir da aplicação do GrSCM
em realidades tão complexas, governo e empresas privadas devem ser
parceiros e atuar de forma coordenada. Cabe ainda aos moradores e
organizações locais o dever de cobrar, adotar, fiscalizar e promover
ações que visem o bem estar do local onde vivem.
Palavras-chaves: Gestão da Cadeia de Suprimentos; Green Supply
Chain Management; Logística Verde; Favela; Resíduos Sólidos;
Reciclagem, Engenharia da Sustentabilidade, Sustentabilidade.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
O gerenciamento de resíduos sólidos tornou-se nas últimas décadas um tema de preocupação
em todo o mundo. Com o aumento da população e o crescente consumo de materiais não-
recicláveis, o problema de esgotamento dos aterros sanitários, de diminuição das reservas de
matérias-primas e da poluição gerada pela disposição indevida do lixo cresceu (May et al.,
2003). Como resposta, surge o conceito de GrSCM – Green Supply Chain Management,
desenhado para incorporar considerações ambientais em cada etapa do gerenciamento
logístico de um dado material, desde a fase de projeto até a fase de disposição final
(Srivastava, 2007; Qinghua et al., 2008b).
As forças motrizes para essa nova postura das organizações são pressões governamentais,
com leis cada vez mais severas no sentido de responsabilizar o fabricante do material, em
caso de algum dano ambiental causado pelo mesmo, e a busca incessante por alguma
vantagem competitiva, uma vez que pressões de grupos de consumidores e Organizações Não
Governamentais levam estas empresas a buscarem certificações que a qualifiquem como
“environmental friendly” (Srivastava, 2008; Walker et al., 2008).
Neste contexto, a logística reversa ganha força e uma presença cada vez mais recorrente no
planejamento estratégico das corporações. Segundo Wadhwa et al. (2009), hoje em dia o
retorno de produtos tem se tornado endêmico para quase todas as categorias, com taxas
superiores a 20% em alguns setores e ainda é esperado um aumento no futuro próximo. Ainda
mais recente que o conceito de logística reversa, o conceito de “green logistics”, ou logística
verde, surge como elo entre o primeiro e o “Green Supply Chain Management”. Segundo
Roger & Tibben-Lembke (1999), o termo estaria ligado a todas as ações que visam tornar as
atividades relacionadas à logística menos impactantes no que se refere à questão ambiental.
Nesse sentido, surgem ações que podem ser consideradas ao mesmo tempo como ligadas à
logística verde e à reversa. Um exemplo claro, e cada vez mais abordado em grandes centros,
é a preocupação (e muitas vezes, obrigação legal) para empresas fabricantes de produtos
potencialmente nocivos ao meio ambiente coletarem esses produtos após o final da sua vida
útil e dar um destino apropriado aos mesmos: remanufatura, reciclagem ou disposição final
adequada, por exemplos (Qinghua et al., 2008b; Srivastava, 2008; Wadhwa et al., 2009).
Entretanto, o cenário fica crítico quando o local de coleta desses materiais apresenta uma
conformação urbana caótica, desestruturada e desorganizada, mas altamente comum em
grandes centros de países pouco desenvolvidos ou em desenvolvimento: as favelas; locais
onde são precárias as vias de acesso e os meios de infra-estrutura co-relacionados com a
coleta (tais como lixeiras e containeres), onde o nível de escolaridade da população é baixo e,
muitas vezes, onde a ausência do poder público credencia a instituição de um poder paralelo
com força de lei.
Jasem (2005) relata que países do “terceiro mundo”, também passaram a dar importância para
o gerenciamento do lixo municipal recentemente, o que aumenta a importância do tema em
termos mundiais. Uma das razões para tal mudança de postura é o fato de inúmeras pessoas
que nunca tiveram acesso à renda estarem se tornando vorazes consumidoras, o que resulta
em um aumento do impacto ambiental e gera transtornos cada vez mais visíveis. Nesse
sentido, discutir a aplicação de conceitos ainda novos para a literatura especializada, tais
como Logística Verde e “Green Supply Chain Management”, dentro do contexto das favelas,
se apresenta como um campo fértil para a pesquisa e pode representar o começo de uma união
de sucesso entre a área sócio-ambiental e a Engenharia de Produção.
3
O presente artigo aborda esta temática dentro da maior favela urbana em área de morro da
América Latina: a Favela da Rocinha. Localizada na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, a
comunidade fica encravada entre dois bairros de alto poder aquisitivo da cidade. Com uma
estrutura urbana altamente complexa e uma média diária de lixo produzido comparável à de
uma cidade brasileira média, tal comunidade se apresenta como um interessante ponto de
partida para discussão de um tema ainda pouco explorado. O objetivo é analisar o atual
gerenciamento de resíduos sólidos da comunidade da Rocinha para, a partir daí, propor
diretrizes gerais para um sistema logístico de recolha e beneficiamento destes resíduos (com
destaque aos recicláveis) para áreas de favela, buscando medidas práticas de aplicação do
conceito de Green Supply Chain Management em locais de ocupação irregular e pobreza
acentuada.
Para atingir este objetivo, o trabalho se divide em cinco seções, sendo esta primeira a
introdutória. A segunda seção faz uma abordagem das principais definições descritas na
literatura para o termo de Green Supply Chain Management enquanto que a terceira descreve
o método de pesquisa. A quarta seção apresenta um diagnóstico referente à situação dos
resíduos sólidos da comunidade estudada e oferece uma síntese das propostas de melhoria no
sistema logístico de recolha destes resíduos. A última seção do artigo apresenta as principais
conclusões finais tecidas pelos autores.
2. Green Supply Chain Management (GrSCM)
A questão ambiental na cadeia de suprimentos é cada vez mais uma preocupação para muitas
empresas e um desafio para o gerenciamento logístico no Século XXI. Uma questão em
particular é como despertar uma consciência ambiental organizacional e colocar em prática
aspectos ambientais nas atividades logísticas de cadeias de suprimento (Qinghua et al.,
2008a). Nesse contexto, surge o “Green Supply Chain Management”, conceito ainda em fase
de amadurecimento, com diversos autores abordando o tema sobre óticas diferentes.
Dias (2006) extrapola os limites do conceito de logística reversa e sentencia que na fase de
definição dos materiais a serem utilizados, Pesquisa e Desenvolvimento, deve ser considerada
a possível reciclagem e reutilização dos materiais. Uma vez que a vida de um produto, do
ponto de vista logístico, não termina com sua entrega ao cliente, por trás do conceito de
logística reversa deve estar o ciclo de vida do produto. Porém, para que isso ocorra, as
empresas devem considerar a gestão logística, em conjunto com a gestão do fim da vida, não
como uma forma de disposição organizada do produto, mas como um “circuito fechado”, isto
é, como estratégia de recuperação do valor econômico e ambiental.
Por sua vez, Qinghua et al. (2008a) diz que o escopo da implementação de práticas em
GrSCM vai desde “compras verdes” até o gerenciamento integrado do ciclo de vida das
cadeias de suprimento, fluindo do fornecedor, passando pelo fabricante, consumidor, e
fechando o ciclo com a logística reversa. Este autor conceitualiza o termo a partir de cinco
dimensões diferentes: Gerenciamento Ambiental Interno; Compra Verde; Cooperação com os
clientes, incluindo questões ambientais; Eco design; e Investimento na Recuperação.
O investimento na recuperação de um produto pode ser legitimamente visto como uma prática
capaz de gerar benefícios econômicos e ambientais (Qinghua et al., 2008b).
As práticas do gerenciamento “verde” da cadeia de suprimentos são entendidas como as
atividades de gerenciamento que têm a intenção de melhorar o desempenho ambiental das
matérias primas compradas, ou dos fornecedores que as vendem. Tais práticas podem
envolver atividades de redução na fonte, tais como: (1) reciclagem, reuso, purificação do
4
material de entrada, design de embalagens menos densas; (2) coleta de dados ambientais de
vendedores, produtos ou processos; (3) esforços para eliminação de resíduos, tais como
biodegradação, incineração não-tóxica. Exemplos de práticas de gerenciamento “verde” da
cadeia de suprimentos podem incluir a redução de embalagens e resíduos, assessoramento de
vendedores com relação ao seu desempenho ambiental, desenvolvimento de produtos
ambientalmente amigáveis e redução da emissão de carbono associada ao transporte de
mercadorias (Walker et al., 2008). Para Birou et al. (1998), GrSCM está ligada a todo o
processo produtivo, desde o design do produto até a reciclagem ou destruição, ou do “berço
ao túmulo”. Esse princípio é similar ao ciclo de vida do produto, uma idéia que diz que todo
produto passa por um ciclo de vida: nascimento, maturidade e morte. O ciclo de vida do
produto fornece estrutura a vida dos materiais e consequentemente dá uma direção para os
diversos esforços funcionais necessários para produzir e oferecer bens e serviços.
Não citando o termo “desempenho ambiental” descrito em Walker et al. (2008), Srivastava
(2008) define GrSCM como sendo a ação de integrar conceitos ambientais ao gerenciamento
da cadeia de suprimentos, partindo desde a fase do design até o gerenciamento do produto
após sua vida útil. Em outro trabalho, constatando a necessidade de uma classificação sucinta
para ajudar acadêmicos e pesquisadores a entenderem GrSCM de uma perspectiva mais
ampla, Srivastava, (2007), construiu um painel, conforme apresentado na Figura 1, onde
chama de operações verdes ações como coleta, reciclagem e remanufatura de tais produtos.
Figura 1: Framework para GrSCM - Adaptado de Srivastava (2007)
2.1 Importância do GrSCM
Atualmente, é claro que as melhores práticas chamam por integração entre gerenciamento
ambiental e práticas contínuas. Nesse sentido, GrSCM representa um recente e importante
inter e intra-organizacional conjunto de práticas de gerenciamento ambiental importantes para
o gerenciamento logístico (Srivastava, 2007). GrSCM é desenhado para incorporar
5
considerações ambientais em tomadas de decisões em cada fase do gerenciamento logístico de
materiais, até o estágio de pós-consumo e disposição final, usando, da logística reversa, o
conceito de fechamento de círculo (Qinghua et al., 2008a).
A força motriz da preocupação ambiental corporativa é o crescente papel da regulamentação
governamental (Handfield et al., 1997). Segundo May et al. (2003), as corporações devem ser
responsabilizadas independente de culpa por todo e qualquer dano advindo de quaisquer de
suas atividades que causem danos ao meio ambiente, a propriedade ou pessoas, incluindo
remediação do local atingido. A responsabilidade das corporações por seus produtos deve se
estender por todo o ciclo de vida dos mesmos, desde a produção até a disposição final. Os
Estados devem responsabilizar diretores e representantes das corporações enquanto pessoa
física pelas ações ou omissões das empresas que representam, incluindo as ocorridas nas
subsidiárias (Greenpeace, apud May et al., 2003).
Quando se fala em tornar a cadeia de suprimento ambientalmente adequada, pode se pensar
em banir o uso de substâncias químicas tóxicas ou reduzir emissões ou resíduos para o meio
ambiente. Entretanto, GrSCM é muito mais que uma simples redução de materiais e poluição.
Consequentemente, os benefícios não são limitados a um menor consumo de substâncias ou a
uma menor produção de resíduos. O princípio de GrSCM pode ser aplicado para todos os
departamentos na organização e os efeitos podem ser expandidos para todas as áreas,
tangíveis e intangíveis (Khiewnavawongsa, 2009).
2.2 Green Design
O conceito de “Green Design” tem sido exaustivamente usado na literatura para denominar
produtos desenhados com algumas preocupações de caráter ambiental. Ele consiste em
considerar sistematicamente questões ligadas à segurança ambiental e à saúde por todo o ciclo
de vida do produto durante a produção nova e no processo de desenvolvimento (Fiksel, 1996).
Seu escopo envolve várias disciplinas, incluindo gerenciamento de risco ambiental, segurança
do produto, saúde e segurança ocupacional, prevenção da poluição, conservação de recursos e
gerenciamento de resíduos (Srivastava, 2007). Este autor divide “Green Design” em LCA –
“Life Cycle Analysis” – e em ECD – “Environmentally Conscious Design”.
A avaliação do ciclo de vida (LCA) é um método internacional capaz de considerar entradas e
saídas, ao longo de toda a cadeia, ligadas ao ciclo de vida de um produto ou serviço. O escopo
de uma LCA envolve o mapeamento de todos os fluxos de material e energia de um produto,
desde a retirada de suas matérias-primas até sua disposição final (Arena et al., 2003). Mais
especificamente, Vanek & Morlok (2000) dizem que o objetivo da análise de ciclo de vida de
uso de energia é estimar o consumo de energia em cada etapa do ciclo de vida de um
determinado produto ou classe de produtos, visando à redução global de energia através do
aumento da eficiência em cada estágio.
Durante o desenvolvimento de um produto, a equipe de design pode mudar as matérias-
primas ou as substâncias utilizadas durante a produção por outras menos tóxicas, ou mais
ambientalmente amigáveis. Algumas terminologias são ligadas ao verde, tais como design
ambiental, EcoDesign ou Environmentally Conscious Design. Um exemplo de produto verde
é o carro hibrido. Devido ao aumento da demanda por petróleo e à sua diminuição de oferta,
fabricantes de automóveis precisaram redesenhar um motor para não consumir ou consumir
menos gasolina (Khiewnavawongsa, 2009). Em outro exemplo, McAuley (2003) discutiu o
“Green Design” dos automóveis, que tendem a adotar uma menor quantidade de materiais
mais avançados e de menor peso.
6
2.3 Operações Verdes
As Operações Verdes estão ligadas a todos os aspectos envolvidos na
manufatura/remanufatura, uso, controle, logística e gerenciamento de resíduos uma vez que o
design foi finalizado (Srivastava, 2007). Este autor agrupa tais operações em: Manufatura
Verde e Remanufatura; Logística Reversa e Desenho de Rede e Gerenciamento de Resíduos.
A presente subseção apresenta brevemente estes grupos.
2.3.1 Manufatura Verde e Remanufatura
A Manufatura Verde tem como objetivo a redução de impactos ecológicos através do uso de
materiais e tecnologias apropriadas, enquanto a Remanufatura se refere ao processo industrial
em que produtos inutilizados são restaurados para uma condição de quase-novo (Lund apud
Srivastava, 2007). Dentro deste grupo deve-se considerar: Redução, Remanufatura,
Reciclagem e Planejamento da Produção.
Segundo Srivastava (2007), a redução é uma área muito importante dentro das Operações
Verdes. Entretanto, a grande dificuldade para a adoção de uma atitude precavida de buscar
estabilizar o nível de consumo de recursos naturais está no fato que essa estabilização
pressupõe uma mudança de atitude que contraria a lógica do processo de acumulação de
capital em vigor desde a ascensão do capitalismo (May et al., 2003).
O processo de reciclagem consiste no reuso de materiais já utilizados, através de vários
processos de separação, na produção de um novo original ou de outros produtos (Lenz, 1995).
Entende-se o termo como sendo uma transformação (artesanal ou industrial) do material para
formar o mesmo ou outro(s) produto(s) para uso posterior. Tal processo encontra maior
viabilidade econômica nas indústrias automobilísticas e de produtos eletrônicos (Srivastava,
2007).
Entre os processos que envolvem a reciclagem com segregação na fonte geradora podem ser
destacados a coleta seletiva “porta a porta”, os Pontos de Entrega Voluntária – PEVs - e a
cooperativa de catadores (Monteiro & Zveibil, 2001). A coleta seletiva porta a porta é o
modelo mais empregado atualmente e, basicamente, consiste em coletar com veículo
específico, o lixo previamente triado pela população. Os PEVs são locais públicos onde estão
dispostos containeres e recipientes específicos para que a população possa dispor
voluntariamente o lixo previamente triado em suas residências. Finalmente, as cooperativas de
catadores se formaram com o objetivo de dar um cunho social aos programas de reciclagem
dos municípios, uma vez que grande parcela dos trabalhadores envolvidos no processo de
catação dos materiais potencialmente recicláveis vive à margem da sociedade.
Jasem (2005) e Monteiro & Zveibil (2001) citam os três principais benefícios da adoção de
processos de reciclagem como sendo:
a) Prolongamento do tempo de vida útil dos aterros sanitários através da redução da
quantidade de lixo que chega aos mesmos;
b) Encorajamento da expansão e do desenvolvimento da utilização de resíduos pelas
indústrias, o que irá afetá-las positivamente;
c) Minimização do uso de matérias virgens que são normalmente importadas, o que pode
ajudar a proteger e a salvar o meio ambiente global e seus recursos, e a reduzir a dura troca de
moedas.
A remanufatura envolve a maior quantia de esforço para se renovar um produto (Roger &
7
Tibben-Lembke, 1999). Segundo Andreu (1997), o termo significa trazer produtos usados
para padrões de qualidade rigorosamente iguais aos de produtos novos através da completa
desmontagem até o nível dos componentes, extensiva inspeção e troca de peças quebradas ou
ultrapassadas.
Segundo Roger & Tibben-Lembke (1999), reformas é o segundo nível de recondicionamento
e recuperação de um produto e também pode envolver uma atualização tecnológica através da
troca de módulos ou componentes ultrapassados por outros novos e de tecnologia superior.
Reformar é trazer a qualidade de um produto usado para um nível determinado através da
desmontagem, inspeção e troca de componentes quebrados (Andreu, 1997; Srivastava, 2007).
Finalizando, o conserto consiste em trazer produtos usados para a condição de funcionamento
adequado. A qualidade destes produtos pode ser menor que a de um produto novo (Andreu,
1997; Srivastava, 2007). Roger & Tibben-Lembke (1999) dizem que conserto envolve a
menor quantia de esforço para se renovar um produto, o que está em sintonia com o escrito
em Srivastava (2008); centros de conserto e reforma requerem um menor investimento de
capital, menos qualificação e consertam/reformam mercadorias com o intuito de deixá-las
quase tão boas como se fossem novas.
No que concerne ao Planejamento da Produção, os métodos tradicionais de planejamento e
programação têm aplicação limitada em sistemas de remanufatura (Srivastava, 2007).
2.3.2 Logística Reversa e Projeto de Rede
Gonçalves & Marins (2006) definem o conceito de logística reversa como sendo todas as
atividades relacionadas ao produto/serviço após a venda, sendo que o seu objetivo principal é
otimizar ou tornar mais eficientes as atividades do pós-venda, resultando, portanto, em
economia de recursos financeiros.
Por outro lado, redes de logística reversa têm algumas características genéricas ligadas à
coordenação requerida para dois mercados, à incerteza de fornecimento, à escolha do local de
disposição para os retornos, a adiamentos e a especulações (Fleischmann et al. 2000). Como
resultado, tais características afetam consideravelmente o projeto de rede (Srivastava, 2007).
As principais etapas apresentadas por Srivastava (2007) são: coleta, inspeção / triagem / pré-
processamento e locação e distribuição.
O procedimento de coleta é a ação de recolher o lixo acondicionado pelo gerador para
encaminhá-lo, com uso de transporte adequado, a uma possível estação de transferência, a um
eventual tratamento ou para disposição final. Tal ação visa evitar problemas de saúde,
ambientais e/ou estéticos. O planejamento da coleta deve ser efetuado por profissional
habilitado e qualificado para a função (Monteiro et al., 2001; Pereira, 2007).
A inspeção/triagem pode ser realizada tanto na hora da coleta ou após - em uma central de
coleta ou na própria unidade de remanufatura (Srivastava, 2007). Cairncross (1992) sugere
que esquemas de coleta podem ser classificados quando a separação é feita pelos
consumidores (separação na fonte) ou quando é centralizada (processamento de lixo
misturado). Entretanto, independente de o lixo ter sido previamente triado pela população, é
necessário o encaminhamento destes resíduos para uma estação de triagem. Nela é feita a
escolha do material reciclável a ser separado, dependendo, sobretudo, da demanda da
indústria em um processo com as seguintes fases: recepção, alimentação e triagem (Monteiro
et al., 2001).
Pereira (2007) apresenta as Unidades de Triagem e Compostagem – UTC, instalações dotadas
8
de equipamentos eletromecânicos destinados a separar da massa de resíduos os materiais
recicláveis (inertes e orgânicos) e os rejeitos. Segundo ele, tais instalações podem aumentar a
flexibilidade operacional se receberem o lixo de uma coleta diferenciada, dividida em
resíduos secos e resíduos úmidos. Entretanto, dada as dificuldades relativas à implantação de
programas de coleta seletiva, as UTCs assumem um papel importante na separação dos
resíduos não triados pela população em geral.
O redesenho de redes de logística visando a acomodação de produtos retornados e
remanufaturados e o reuso de suas partes ou componentes pode frequentemente ser lucrativo e
está assumindo um papel de destaque nos negócios, assim como nas pesquisas em geral
(Tibben-Lembke, 2002). Nesse sentido, Srivastava & Srivastava (2005) desenvolveram um
modelo hierárquico de tomada de decisão para descobrir a viabilidade de redes de logística
reversas voltadas para ganhos de lucratividade.
Citando diversos autores que relatam problemas com a integração de atividades de logística
reversa dentro de uma organização, Srivastava (2007) comenta que hoje em dia, tecnologias
da informação e comunicação têm um papel fundamental na coordenação e na integração de
atividades ligadas ao GrSCM.
2.3.3 Gerenciamento de Resíduos
As principais etapas listadas em Srivastava (2007) para o gerenciamento de resíduos são:
Redução na Fonte / Prevenção da Poluição; e Disposição Final.
O termo prevenção da poluição foi criado em 1976 pela 3M e sua estratégia foca em prevenir
a poluição na fonte, tanto em produtos como em processos de manufatura, ao invés de ter que
removê-la após a fabricação do mesmo (Srivastava, 2007).
O processo de disposição final dos resíduos em geral recomendado são os aterros, sanitários e
industriais. Todos os demais processos ditos como de destinação final (usinas de reciclagem,
compostagem e incineração) são, na realidade, processos de tratamento ou beneficiamento do
lixo, e não prescindem de um aterro para a disposição dos seus rejeitos (Monteiro & Zveibil,
2001).
Basicamente, um aterro (sanitário ou industrial), inclui a drenagem da água pluvial, a
drenagem e o tratamento do chorume, a drenagem e o tratamento dos gases gerados pelo
processo de decomposição e um constante processo de controle e monitoramento. Entretanto,
devido ao constante crescimento populacional e dos seus núcleos urbanos, que reduz as
opções de áreas para a construção de aterros, somado ao aumento das restrições ambientais, é
necessário racionalizar o uso dos aterros no sentido de aumentar sua vida útil. Logo, dentro de
uma visão moderna, tem-se como principal objetivo diminuir a quantidade de resíduo
destinado a esse sistema. Procurando reduzir, reutilizar e reciclar a produção de lixo, deve-se
destinar aos aterros somente os resíduos tóxicos e os rejeitos sem valor econômico (Pereira,
2007).
3. Métodos e Pesquisa
O método de pesquisa adotado para a elaboração do presente trabalho se divide, basicamente,
em duas estratégias distintas: a primeira, ligada à exploração de termos ainda incipientes na
literatura, tais como Logística Verde e Green Supply Chain Management, consistiu em uma
pesquisa bibliográfica de trabalhos ligados ao tema. A segunda, ligada a pesquisa in loco da
situação da Comunidade da Rocinha teve como base o Plano de Gerenciamento de Resíduos
Sólidos da Comunidade da Rocinha, parte do Plano Diretor de Reurbanização da área, e um
9
dos projetos desenvolvidos através da parceria firmada entre técnicos, sob a liderança do
Arquiteto Toledo, e a comunidade.
A pesquisa abrangeu o material disponibilizado pelo Instituto Nacional de Geografia
Estatística (IBGE), complementarmente àqueles fornecidos pelas companhias de eletricidade
(LIGHT), águas (CEDAE) e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Os dados obtidos
com o Plano foram contrapostos aos dados oficiais pesquisados, o que acabou por demonstrar
defasagem em relação àqueles existentes na realidade. Inúmeras visitas à comunidade
evidenciaram que os dados publicados em órgãos oficiais estavam sensivelmente defasados.
Para uma melhor compreensão do diagnóstico, a seguir é apresentada a divisão proposta e
utilizada, separando a comunidade em oito áreas de interferência distintas, conforme a Figura
2.
Figura 2: Divisão das Áreas de Interferência criadas para o Plano Diretor.
Fonte: Toledo (2009)
No que concerne à questão dos resíduos sólidos, na caracterização de cada área de
interferência, foram adotados valores descritos na literatura especializada (Monteiro &
Zveibil, 2001; Pereira, 2007).
Aliado a esta pesquisa, todo restante do método desenvolvido foi baseado em intenso trabalho
de experimentação em campo e diálogo com os moradores e suas lideranças. Adicionalmente,
foram realizadas reuniões e encontros regulares com instituições de relevância ao estudo -
como a Comlurb e os Garis Comunitários, por exemplo – as quais foram amplamente
solicitadas, tanto no momento de levantamento de dados, quanto na colocação de suas
perspectivas na avaliação do contexto relacionado aos resíduos.
4. Análise da Situação do Lixo na Rocinha e Diretrizes Propostas
No que se refere a quantidade de resíduos produzidos, a comunidade da Rocinha apresenta
números comparáveis aos de uma cidade média. São coletadas em média 90 toneladas de lixo
– diga-se resíduo doméstico, comercial e entulho – por dia (Entrevista Gerente Comlurb; 27°
10
R.A. - Rocinha).
A partir do levantamento de campo realizado, assume-se que as lixeiras da comunidade atuam
de forma não satisfatória, algumas em situações emergenciais e outras com problemas de
resolução complexa. Não foi constatado nenhum tipo de sinalização ou placas informativas
por parte da Comlurb ou Prefeitura e o aspecto de todas as estruturas é precário. Também não
existem lixeiras de menor porte ao longo das vias; devido a ações passadas de vandalismo e
roubo por parte dos moradores, que usavam os pequenos containeres até mesmo como caixa
de água, a Comlurb não disponibiliza mais esse tipo de equipamento. Finalizando, foram
flagradas enormes quantidades de resíduos em todas as valas da comunidade visitadas pelo
autor e em diversos terrenos situados na interface da favela com a floresta.
Os dados colhidos na elaboração do diagnóstico serviram de base para a formulação de
algumas premissas apresentadas na Tabela 1. A análise dessas premissas foi o ponto de
partida para a elaboração das diretrizes apresentadas a seguir.
Premissa Conseqüência
1
Como grande porcentual da população é migrante e vive em
terrenos invadidos, tem-se:
Ausência de coletividade e de compromisso com o
local;
Pluralidade cultural e étnica;
Conflitos com o estilo de vida de uma
sociedade urbana altamente complexa
em sua organização
2
Uma vez que o processo de urbanização é irregular, e gera
uma desproporção entre o número de residências e a oferta
de infra-estrutura adequada, observa-se:
Ruas Estreitas
Ausência de Áreas livres
Falta de Saneamento
Impossibilidade de penetração dos
equipamentos de coleta de resíduos
3
Dada a falta de orientação e fiscalização de um poder público
com pouca legitimidade local note-se:
Ausência de fiscalização;
No estacionamento irregular ao longo das ruas;
Na disposição criminosa de resíduos;
Na expansão desordenada da comunidade;
No caótico sistema de carga e descarga do
comércio local;
Impossibilidade de definição de um
horário regular para a coleta;
4
Dada a falta de orientação e fiscalização de um poder público
com pouca legitimidade local note-se:
Institucionalização de um poder paralelo com força de
lei que afasta os moradores da sociedade em geral;
Descrença no Estado;
Baixo nível educacional da população, principalmente
para questões ambientais;
Ausência de propaganda ou incentivo visual;
Falta de estímulo para mudanças de
comportamento e atitude dos
moradores e dificuldades de penetração
de agentes de mudança externos.
Tabela 1: Premissas e Análises
Sob a perspectiva do GrSCM, a questão dos resíduos sólidos em comunidades carentes pode
ser encarada sob três perspectivas diferentes.
- À dos empresários geradores dos produtos - que ao adotarem a análise do ciclo de vida em
sua gestão passam a encarar os resíduos gerados como um passivo que necessita tratamento;
- À dos moradores e organizações locais - que enxergam nestes resíduos, além de ojeriza,
oportunidades para geração de renda, transformando-os em matéria-prima de novos produtos
ou processos;
11
- À dos órgãos públicos e instituições responsáveis pela coleta e limpeza da região.
A preocupação com a construção de uma imagem “sócioambientalmente” responsável de uma
dada corporação é uma das premissas no caminho da busca por uma vantagem competitiva.
Nesse sentido, as empresas que tiverem êxito em superar a barreira invisível que separa as
favelas do restante da cidade, e souberem se inserir de uma forma amistosa nesse ambiente
terão ao seu lado um argumento para provar à sociedade que buscam algo mais, além do lucro
máximo. Ademais, a adoção de tal comportamento pode levar ao seguinte cenário: abertura de
um novo mercado consumidor, afinal já é notório que os habitantes de favela constituem uma
importante parcela da economia; aumento do vínculo com os consumidores mais engajados,
capazes de valorizar uma marca preocupada com questões sociais e ambientais; e o
fortalecimento da imagem, capaz de trazer novos grupos de investidores e uma maior abertura
ao crédito.
No que se refere aos grupos de moradores e organizações locais e de órgãos públicos e
instituições responsáveis pela coleta, as oportunidades de melhoria fazem referência a
conceitos já usuais no mundo empresarial. No caso, a adoção de técnicas de logística capazes
de otimizar o fluxo de informações e a eficiência da coleta devem ser as principais linhas de
atuação.
A tabela 2 apresenta algumas das diretrizes propostas para os três grupos:
Diretrizes
Propostas
Empresas Geradoras Moradores e Organizações Instituições resp. pela
Coleta
Deverão disponibilizar pontos
específicos para a coleta de
resíduos passíveis de reutilização
ou que necessitem de um
tratamento particular para
disposição final.
Garis Comunitários e
Associação de Moradores
deverão prever a compra de
equipamentos que otimizem
os serviços de
gerenciamento de suas
atividades: computadores
(oferecendo cursos de
informática para os
principais usuários) e rádios
transmissores.
A despeito da existência de
um poder paralelo com força
de lei, deverá haver uma
maior ação da CET-RIO e da
Guarda Municipal na
fiscalização dos veículos
estacionados irregularmente
ao longo das vias principais,
trajeto dos caminhões de
coleta.
Deverão criar um modelo padrão
de visualização das lixeiras
ligadas aos programas de
Logística Reversa, com grande
apelo visual e bastante
informação.
Deverão incentivar e apoiar
tecnicamente a criação de
pequenas oficinas locais para
remanufatura e conserto de
produtos defeituosos.
A Associação dos
Moradores deverá cumprir o
papel exclusivo de
fiscalizadora dos serviços
prestados na comunidade,
tendo os agentes ambientais
como parceiros, e a gerência
da COMLURB local como
elo para eventuais trocas de
informações e reclamações.
Deverão ser substituídos os
atuais tratores utilizados na
coleta por veículos para
remoção de lixo em áreas de
difícil acesso tipo basculante
3m3.
Deverão fomentar a formação de
parcerias público-privadas com
intuito de fornecer melhores
equipamentos para o
gerenciamento de resíduos
sólidos da comunidade.
Deverá haver fiscalização
rigorosa dos fabricantes de
produtos cuja deposição
irregular seja responsável por
impactos sociais e ambientais
na comunidade.
Devem contribuir na compra dos
recicláveis triados pela
comunidade.
No que concerne ao Projeto
dos Garis Comunitários, a
Associação de Moradores
deverá fazer apenas o
cadastramento dos
moradores interessados em
Deverá haver maior
fiscalização dos empregados
atuantes no “Garis
Comunitários”, com o
controle detalhado da carga
horária cumprida e do uso
Deverão cobrar de seus
revendedores situados na favela
uma postura ambiental
12
exemplar, podendo, inclusive,
incentivar a atuarem na coleta de
determinados resíduos por eles
vendidos.
servir como mão-de-obra,
sendo remunerada para esse
serviço.
obrigatório dos EPIs entregue
aos mesmos.
Tabela 2: Diretrizes Propostas
Por outro lado, um eficiente programa de coleta seletiva é fundamental na construção de uma
nova realidade para o gerenciamento dos resíduos. Nesse sentido, com o objetivo de unir o
desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sócio-ambiental, apresenta-se o “Projeto
Coleta Cidadã”. O projeto prevê a construção de um centro de coleta, compra, prensagem,
enfardamento e venda de materiais recicláveis, previamente triados por catadores e moradores
locais, para a partir daí, construir, junto com a comunidade, um amplo e eficiente sistema de
coleta de resíduos, inclusive, com a regularização dos pontos comuns de disposição.
Com capacidade para atender ao lixo reciclável produzido pelos habitantes do
Morro da Rocinha, o Centro do Projeto “Coleta Cidadã” também será a base física para
eventos que auxiliem a construção de novos conceitos dos moradores na relação com seus
resíduos sólidos. Nele, poderão ser oferecidos, em conjunto com instituições e empresas
entusiastas do GrSCM, cursos, palestras e oficinas de capacitação para todos os envolvidos no
programa, desde os catadores cadastrados, até os moradores da comunidade.
5. Conclusão
A princípio, apesar da nova realidade global, a Engenharia de Produção, que lida
constantemente com o fluxo de materiais, processos e informações, explicita ainda de forma
incipiente, uma busca por medidas ambientalmente adequadas em seus modelos de processo e
áreas de trabalho. A exploração da literatura especializada indica a existência de trabalhos
abordando temas capazes de promover essa união, no entanto, a carência de experimentação
prática destes conceitos deixa uma brecha onde se insere a presente pesquisa.
A consolidação da Logística Reversa, do Green Design e da Reciclagem como pilares do
GrSCM foi refletida em muitas das ações propostas. Porém, no que se refere ao GrSCM, fica
clara uma zona de interseção entre as áreas de atuação das empresas privadas, geradoras, e das
públicas, coletoras, principalmente no quesito descrito por Srivastava (2007), como
Operações Verdes. Ressalta-se que tal sobreposição pode levar a um “jogo de empurra”,
capaz de inviabilizar um sistema eficiente de coleta.
Assim uma ação conjunta entre o poder público e fabricantes de materiais potencialmente
poluidores deve ser obrigatória. Defende-se que para o bom funcionamento de um sistema de
gerenciamento de resíduos em realidades tão complexas, governo e empresas privadas devem
ser parceiros e atuar de forma coordenada. Cabe ainda aos moradores e organizações locais, o
dever de cobrar, adotar, fiscalizar e promover ações que visem o bem estar do local onde
vivem.
No que diz respeito a pesquisa, a maior dificuldade encontrada foi entender o funcionamento
de todas as instituições públicas ligadas ao gerenciamento dos resíduos da comunidade. Por
isso, muitas das diretrizes apontadas para tal grupo tenham sido no sentido de organizar suas
funções e responsabilidades, algo que foge aos conceitos do GrSCM. A dificuldade de acesso
ao local, dada a situação de violência, e a carência de mão-de-obra para conduzir a pesquisa
foram facilmente superadas com a extrema boa vontade dos moradores e organizações locais
em apresentar a comunidade para o autor.
Como sugestão para trabalhos futuros, pode-se contrapor o volume de lixo produzido
13
estimado para cada área com os equipamentos de coleta e mão-de-obra disponíveis para
atender tal produção. Em posse destes dados, será possível analisar se a capacidade instalada
atualmente é suficiente para tal demanda, podendo, inclusive, modelar um sistema ideal.
Também ficou evidente que muitos dos assuntos abordados na pesquisa extrapolam os limites
do GrSCM, se aproximando do que Seuring & Muller (2008) chamam de “Sustainable Supply
Chain Management”, que é o gerenciamento do fluxo de material, informação e capital, assim
como a cooperação entre empresas ao longo da cadeia de suprimentos, visando melhorias nas
três dimensões de desenvolvimento sustentável: econômica, ambiental e social. Segundo eles,
essa definição é mais ampla e combina sustentabilidade com gerenciamento eficiente da
cadeia de suprimentos, sendo capaz de integrar o conceito de Green Supply Chain
Management como uma parte do seu campo.
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