anais do 3º simpósio da ciência do agronegócio
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Kelly Lissandra Bruch (coordenadora)
Jessica Moreira Maia Souto (organizadora)
Martiele Cortes Borges (organizadora)
Anais do 3 Simpsio da Cincia do
Agronegcio
19 e 20 de novembro, 2015
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
CEPAN/UFRGS
Porto Alegre
2015
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Comisso Organizadora do Evento 2015
Coordenao:
Profa. Kelly Lissandra Bruch
Organizao:
Camila Elisa Alves De Castro
Caroline Soares Da Silveira
Claudete Rejane Weiss
Felipe Dalzotto Artuzo
Glenio Piran Dal Magro
Jessica Magero
Jessica Moreira Maia Souto
Joana Colussi
Joice Zagna
Marcos Vinicius Araujo
Martiele Cortes Borges
Renata Milani
Dbora Azevedo
Prof. Jean Philippe Palma Revillion
Profa. Leticia De Oliveira
Prof. Marcelino De Souza
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I M P O R T A N T E
Todo contedo, direitos autorais, formato de publicao , eventuais erros e divergncias de
conceitos so de plena responsabilidade dos autores. A comisso organizadora deste evento
est apenas reproduzindo de forma integral os arquivos submetidos pelos autores.
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Bioeconomia
A energia o elemento central de sustentao dos sistemas econmico e ecolgico. Para a
manuteno destes, duas fontes elementares promovem energia: os estoques (renovveis e no
renovveis, ou de baixas taxas de renovao) e os fluxos (energia solar, ventos). Assim, a
energia obtida (utilizada ou estocada) a partir dos fluxos que chegam ao sistema ecolgico
insuficiente para repor os estoques, resultando em saldo negativo em termos de
disponibilidade energtica no planeta. Esse processo se intensifica com o passar do tempo,
tendendo ao esgotamento do sistema ecolgico. Dessa forma, mitigar ou minimizar os
impactos entrpicos derivados da ao antrpica formam a pauta das agendas dos
pesquisadores sobre o tema.
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Sumrio
A CONVERGNCIA ESPACIAL DA PRODUTIVIDADE DE SOJA NO BRASIL: O CASO DAS
REGIES CENTRO-OESTE E SUL ....................................................................................................... 8
A EXPANSO DA CULTURA DA SOJA E A INFLUNCIA DA DISPONIBILIDADE HDRICA NOS
PREOS DA TERRA NO RIO GRANDE DO SUL ............................................................................... 27
A NOVA BIOECONOMIA A PARTIR DAS FAZENDAS VERTICAIS: ASPECTOS DAS VANTAGENS
COMPETITIVAS DO MODELO ALIMENTAR VERTICAL CANADENSE SOBRE O MODELO
HORIZONTAL BRASILEIRO ................................................................................................................. 57
AGRONEGCIO E AGRICULTURA ORGNICA: CARACTERIZAO DA DISTRIBUIO E
COMERCIALIZAO DE ALIMENTOS ORGNICOS EM BRASLIA-DF ........................................... 78
ALIMENTAO ESCOLAR E AGRICULTURA FAMILIAR: FRAGILIDADES E OPORTUNIDADES NO
MUNICPIO DE BONITO/MS .............................................................................................................. 102
ANLISE DOS CANAIS DE DISTRIBUIO DE HORTALIAS TRADICIONAIS NO DISTRITO
FEDERAL ............................................................................................................................................ 122
CLIMATE AND BEEF SUPPLY CHAIN MANAGEMENT ................................................................... 166
COMPREENDENDO A INTENO DOS AGRICULTORES EM DIVERSIFICAR A PRODUO
AGRCOLA POR MEIO DA PSICOLOGIA SOCIAL. .......................................................................... 185
GESTO DOS RECURSOS HDRICOS NA REA RURAL: UM ESTUDO DE CASO EM ALTO
FORMOSA- VALE DO SOL, RS ......................................................................................................... 207
COOPERATIVISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL: UMA ANLISE PARA A REGIO DA
GRANDE DOURADOS NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL ................................................ 223
CUSTOS DE PRODUO E ANLISE DA RENTABILIDADE DA CULTURA DA SOJA NO RIO
GRANDE DO SUL DE 2005 A 2014 ................................................................................................... 247
DESAFIOS PRODUTIVOS E ECONMICOS DO SETOR LEITEIRO PORTUGUS: ESTUDO DE
CASO DE UMA PROPRIEDADE LEITEIRA COM O SISTEMA DE ORDENHA AUTOMTICA ....... 267
DESEMPENHO AMBIENTAL E ECONMICO DA PRODUO DE CARNE BOVINA EM REGIES
DE CLIMA SUBTROPICAL ................................................................................................................. 291
DETERMINANTES NO PREO DE VENDA DA TERRA NO BRASIL .............................................. 313
DIMENSO DA INOVAO NO CONTEXTO DE PEQUENAS AGROINDSTRIAS ....................... 340
ESTUDO DA VIABILIDADE ECONMICA DO SISTEMA DE INTEGRAO NA CADEIA DE
AGRONEGCIOS SUINCOLA DO RIO GRANDE DO SUL ............................................................. 357
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EXPANSO AGRCOLA DO MATOPIBA E IMPACTOS NO DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA
REGIO ............................................................................................................................................... 373
INFLUNCIAS DA SOJICULTURA SOBRE A SUSTENTABILIDADE DOS MUNICPIOS DO ESTADO
DE MATO GROSSO ........................................................................................................................... 386
O IMPACTO DO RISCO FINANCEIRO NO PREO DAS AES DAS EMPRESAS FRIGORFICAS
BRASILEIRAS LISTADAS NA BM&FBOVESPA ................................................................................ 411
OTIMIZAO NO USO DE FERTILIZANTES AGRCOLAS: FATORES DETERMINANTES NA
ADOO DA AGRICULTURA DE PRECISO .................................................................................. 432
POTENCIAL DE IMPACTO DO PROGRAMA MUNICIPAL DE PISCICULTURA NO
DESENVOLVIMENTO DE JLIO DE CASTILHOS-RS ..................................................................... 449
SIMULAO DE MONTE CARLO NA AVALIAO DE RISCO EM PROJETO DE PRODUO E
INDUSTRIALIZAO DE LEITE EM ASSENTAMENTO RURAL. ..................................................... 463
SISTEMAS ALIMENTARES ORGNICOS PODEM SER A MELHOR SOLUO PARA MITIGAR
IMPACTOS AMBIENTAIS NO CLIMA? .............................................................................................. 489
TESTE DE EFICINCIA PARA O MERCADO FUTURO BRASILEIRO DE MILHO, UTILIZANDO
COINTEGRAO E MECANISMO DE CORREO DE ERROS (MCE) ......................................... 508
URBAN FARMS: UMA ANLISE DE VIABILIDADE EM PORTO ALEGRE....................................... 532
TAXA DE ABATE X PEGADA HDRICA: UM NOVO OLHAR DA EFICINCIA NA PECURIA DE
CORTE BRASILEIRA .......................................................................................................................... 550
A PRODUO DE ALIMENTOS ORGNICOS NOS ASSENTAMENTOS RURAIS DE SANTANA DO
LIVRAMENTO (RS) ............................................................................................................................. 574
CORRELAO DOS CURSOS DE TECNOLOGIA EM AGRONEGCIO OFERTADOS PELOS
INSTITUTOS FEDERAIS NACIONAIS COM A BIOECONOMIA ....................................................... 582
AGROINDSTRIA E O MERCADO JAPONS: PRODUO DE CORTES CONGELADOS DE
FRANGO ............................................................................................................................................. 590
ANLISE DE VIABILIDADE DA PRODUO DE BIODIESEL A PARTIR DE LEOS RESIDUAIS
COMO ALTERNATIVA BIOECONMICA PARA PEQUENOS EMPREENDIMENTOS. ................... 604
ACORDOS INTERNACIONAIS BILATERAIS DO MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES DO
BRASIL VINCULADOS AO AGRONEGCIO .................................................................................... 614
PERCEPO DOS CONSUMIDORES REFERENTE SEGURANA ALIMENTAR DO PESCADO
NO MUNICPIO DE ITAPOR, MATO GROSSO DO SUL ................................................................ 623
SISTEMAS AGROFLORESTAIS NO AUMENTO DA PRODUO DE ALIMENTOS ALIADO A
CONSERVAO DOS SISTEMAS NATURAIS ................................................................................. 630
HORTALIAS NO CONVENCIONAIS: UMA OPO DE RENDA E SUSTENTABILIDADE ......... 638
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RELAO RETORNO X RISCO DE SISTEMAS INTEGRADOS DE PRODUO AGROPECURIA
EM TERRAS BAIXAS ......................................................................................................................... 644
ANLISE MERCADOLGICA DAS PEQUENAS FRUTAS NO BRASIL ........................................... 655
POTENCIAL DE PRODUO DE BIOGS NO RIO GRANDE DO SUL: UMA ANLISE DA CADEIA
PRODUTIVA DE SUNOS ................................................................................................................... 661
COMPARAO DE PREOS E AGREGAO DE VALOR DE CORTES DE CARNE BOVINA
EMBALADOS SOB ATMOSFERA MODIFICADA EM RELAO A CARNE BOVINA RESFRIADA 675
MERCADO MUNDIAL DE AGROTXICOS E UMA NOVA BIOECONOMIA: ENTRE O PESSIMISMO
EMPRICO E A INOVAO BIOTECNOLGICA .............................................................................. 682
DESENVOLVIMENTO DA PRODUO DE SOJA NA MICRORREGIO DE CHAPADINHA-MA ... 692
PRODUO DE ALIMENTOS E SEU IMPACTO NO AGRONEGCIO ........................................... 699
A EXPANSO DA CULTURA DA SOJA E A INFLUNCIA DA DISPONIBILIDADE HDRICA NOS
PREOS DA TERRA NO RIO GRANDE DO SUL ............................................................................. 712
PRONAF COMO POLITICA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL: LIMITES E PERSPECTIVAS 723
POTENCIALIDADES BIOECONMICAS DA REGIO DO PAMPA GACHO ................................ 735
DIAGNSTICO DAS PRINCIPAIS COMMODITIES AGROPECURIAS NEGOCIADAS EM
MERCADOS FUTUROS NA BM&F BOVESPA. ................................................................................. 746
DESENVOLVIMENTO DO REDD+ NO ESTADO DE RONDNIA (REDD + DEVELOPMENT IN THE
STATE OF RONDNIA) ..................................................................................................................... 757
A BIOECONOMIA NO CONTEXTO DO AGRONEGCIO: UM ESTUDO BIBLIOMTRICO* .......... 768
UM ESTUDO DA CADEIA PRODUTIVA DE HORTALIAS NO MUNICIPIO DE JLIO DE
CASTILHOS-RS .................................................................................................................................. 783
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TRABALHOS
COMPLETOS
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A convergncia espacial da produtividade de soja no Brasil: o caso das
regies Centro-Oeste e Sul
Lucas Siqueira de Castro1
Eduardo Simes de Almeida2
Joo Eustquio de Lima3
Resumo: A agricultura, representada pela soja neste trabalho, possui um importante papel no Brasil, proporcionando desenvolvimento via gerao de renda nas regies que praticam tal cultura. Sendo assim, este trabalho props analisar como est desenvolvendo-se o processo de expanso, via convergncia espacial da produtividade de soja da terra, para as microrregies pertencentes ao Centro-Oeste e ao Sul, regies em que a cultura predominante, entre os anos de 1994 e 2013. Os resultados mostraram evidencias da convergncia espacial da produtividade da soja, nos subperodos de 1994/1998, 1999/2003, 2004/2008 e 2009/2013, o que reflete na tendncia a homogeneizao da produo de soja nas reas analisadas. Desempenho este que pode elevar o Brasil ao primeiro lugar na produo mundial desta commodity.
Palavras-Chave: convergncia; soja; produtividade da terra; econometria espacial.
Abstract: The agriculture represented by soybean in this work, it has an important role in Brazil, providing development by generating income in regions that practicing this culture. Thus, this study aimed to analyze how is developing the expansion process, via spatial convergence of soybean productivity of the land, to the micro belonging to the Midwest and the South, regions where the culture is predominant, between the years 1994 and 2013. The results showed evidence of spatial convergence of soy production in sub-periods of 1994/1998, 1999/2003, 2004/2008 and 2009/2013, which reflects the tendency to homogenization of soybean production in the analyzed areas. This fact can raise Brazil to the first place in world production of this commodity.
Keywords: convergence; soybeans; land productivity; spatial econometrics.
JEL: R12, Q10, C31.
1 Doutorando em Economia Aplicada na Universidade Federal de Viosa (UFV). Viosa, MG, Brasil. E-mail: lucancastro@hotmail.com 2 Professor do Departamento de Economia, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, MG, Brasil. E-mail: eduardo.almeida@ufjf.edu.br 3 Professor do Departamento de Economia Rural (DER), Universidade Federal de Viosa (UFV), Viosa, MG, Brasil. E-mail: jelima@ufv.br
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1. Introduo
Ao longo da histria, a agricultura mostrou-se presente na economia dos pases, seja
na forma de proviso de empregos, produo de alimentos e energia para o desenvolvimento
da populao, na gerao de renda para o processo de industrializao, ou ainda como
fornecedora de mo-de-obra para o mesmo.
No Brasil, o setor agrcola apresentou mudanas ao longo das ltimas dcadas. A dita
modernizao4 trouxe diferentes processos de desenvolvimento as regies e entre produtos em
uma mesma regio (PAIVA, 1971).
Referente atuao do governo com relao aos seus gastos junto a este setor, o
crdito tomou destaque, permitindo o acesso de produtores aos recursos mais modernos da
agricultura. Todavia, no foi qualquer tipo de produtor que teve acesso a tais valncias, em
geral para o Brasil, apenas os grandes e mdios produtores foram beneficiados.
A mudana na base tcnica da agricultura fez com que houvesse o desenvolvimento e
aplicao de novas tecnologias que modificaram o grau de produtividade, ao ponto de
competir com pases que so referncias mundiais (GASQUES et al., 2004).
Outros fatores tambm foram marcantes para a caminhada do setor agrcola nacional.
Com a implementao do plano Real, em 1994, associado s mudanas proporcionadas pelo
mesmo, o setor agrcola iniciou uma nova fase de prosperidade em muito assistida pela nova
paridade do cmbio. A abertura comercial dos mercados impulsionou a melhora de tcnicas
de produo e gesto de suas atividades devido concorrncia com produtos internacionais.
A forte crise de 1999 atrelada queda dos preos internacionais no foi suficiente para
desestimular o setor que, a partir de 2002, encontrou novas possibilidades com o cmbio
favorvel.
Aes como a Lei de Biossegurana, que autorizou a produo e comercializao de
produtos geneticamente modificados, como a soja, alm da incluso do biodiesel na matriz
energtica brasileira, no ano de 2005, ajudaram na construo de um novo ambiente
competitivo, incidindo no sistema agroindustrial brasileiro.
Entretanto, em 2009 foi sentido o reflexo da crise do subprime norte americano, o qual
reduziu as exportaes de gros sobretudo para pases europeus. Panorama este que j
apresentou recuperao a partir de 2010, em funo da movimentao chinesa e europeia
neste mercado.
4 Processo referente a transformao na base tcnica da produo agropecuria no ps-guerra, em funo das
importaes de tratores e fertilizantes, visando elevar a produtividade (GRAZIANO DA SILVA, 1996).
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Dentre a pauta de produtos brasileiros a soja figurar como objeto de anlise deste
trabalho. Expressiva commodity no mercado mundial, contou com uma produo de 283,74
milhes de toneladas na safra de 2013/14, sendo que deste total, o Brasil foi responsvel por
produzir 86,7 milhes de toneladas, ou seja, 30,56% deste mercado. Estes nmeros
mantiveram o pas como segundo maior produtor, atrs apenas dos Estados Unidos (USDA,
2015).
Historicamente, foi a regio Sul que iniciou a produo efetiva de soja em 1914,
atravs de tcnicas importadas dos Estados Unidos, devido a semelhana de clima e solo.
Porm, foi a partir do desenvolvimento de novas maneiras de cultivo que foi possvel adaptar
o gro ao clima tropical das regies de fronteira agrcola poca, como o Centro-Oeste, para
que o Brasil alcanasse a excelncia e o montante na produo de tal oleaginosa.
Entre as cinco grandes regies do Brasil, Centro-Oeste e Sul foram as responsveis por
elevar a produo de soja nacional ao longo dos anos. Para a safra 2013/14, controlaram
46,82% e 37,05% do mercado interno, respectivamente. O que diferencia estas duas regies
das demais do Brasil o fato de que nelas todos os Estados produzem tal commodity, com
destaque espacial para o Mato Grosso e o Paran, que por esta ordem so os maiores
produtores brasileiros (IBGE, 2015).
Em geral, o desenvolvimento da soja atravs do espao mostra-se heterogneo, uma vez que
depende das variadas tcnicas de produo, alm de condies climticas e solo. Por outro
lado, o fato de regies diferentes produzirem tal cultura traz efeitos de interdependncia,
como o extravasamento de certas aes que influenciam os estados/municpios, gerando
competio espacial, quando levada em considerao a expanso da fronteira agrcola, ou
mesmo na associao de cidades para a formao de cintures agrcolas.
Sendo assim, dadas as diferenas entre tcnicas de plantio e clima, h processos de
convergncia na produtividade da soja registrados nas maiores regies produtoras do Brasil,
Centro-Oeste e Sul?
O objetivo deste trabalho o de analisar a evoluo da produtividade mdia da terra na
produo de soja, avaliando o processo de convergncia desta varivel entre as regies
Centro-Oeste e Sul do Brasil. Especificamente, buscar-se- identificar o grau da convergncia
produtiva agrcola da soja em tais regies, alm de registrar a velocidade de convergncia de
tal processo.
O escopo da anlise ser feito entre o perodo de 1994 e 2013, e tambm entre os
subperodos de 1994 a 1998, 1999 a 2003, 2004 a 2008 e 2009 a 2013. A escolha por estes
-
subperodos ocorre em funo dos acontecimentos histricos j mencionados ocorridos no
mercado agrcola brasileiro que tambm marcaram a evoluo nacional da soja.
A hiptese que guia esse trabalho a de que haja convergncia espacial na
produtividade da soja. Cr-se tambm que, quanto mais avanado for o perodo de anlise,
maior tende a ser a convergncia, exceto nos perodos de recuperao de crises econmicas.
Alm desta introduo, o trabalho apresenta mais quatro sees. A segunda refere-se a
discusso sobre convergncia de renda e convergncia da produtividade agrcola da terra. A
terceira compreende o modelo analtico, bem como a fonte e a natureza dos dados. A quarta
discute os resultados obtidos e, por fim, a quinta seo acrescenta algumas concluses acerca
do problema.
2. Convergncia de Renda x Convergncia da Produtividade Agrcola da Terra
Algumas definies tratam a convergncia como um processo no qual uma mesma varivel
apresenta diferentes valores entre pases, regies, estados ou municpios, porm tal diferena
se reduz ao longo dos anos, mostrando que a desigualdade tende a ser sanada.
Em relao aos modelos empricos desenvolvidos, a maioria diz respeito questo da
renda. O modelo de Solow (1956) foi considerado o primeiro modelo econmico que
mostrava traos da anlise de convergncia, indicando que economias mais pobres, com
menores valores de capital e produto tendiam a alcanar as economias ditas inicialmente mais
ricas.
Em 1957, Solow expande seu modelo, acrescentando a tecnologia, e prova que a
mesma fonte do crescimento do produto per capita sustentado, uma vez que a economia
segue para o seu estado estacionrio apenas se houver alterao tecnolgica. Tais implicaes
deste modelo neoclssico de desenvolvimento geraram descontentamento de alguns
pesquisadores, j que apresentara resultados diferentes do que ocorria no mundo real,
sobretudo na convergncia da renda entre pases considerados mais pobres, como os latino-
americanos e alguns asiticos.
Por esse fato, a hiptese de convergncia atraiu e vem atraindo a ateno de estudiosos
para comprovar sua efetiva existncia. Um dos primeiros a analis-la foi Baumol, em 1986,
que visava identificar este processo, entre os anos de 1870 a 1979, em 16 pases considerados
industrializados. A relao foi medida atravs da equao:
-
(1)
em que corresponde ao logaritmo da renda per capita; ao termo de erro; i aos diversos pases e t ao ano em questo.
Caso a convergncia fosse absoluta, de acordo com Baumol (186), o seria negativo,
indicando que pases com renda inicial maior apresentariam menores taxas de crescimento,
sendo que com o passar do tempo as rendas convergiriam para um denominador comum.
Reforando novas construes tericas sobre crescimento e convergncia na dcada de
1980, Romer (1986) e Lucas (1988), adeptos da Nova Teoria do Crescimento, exploraram as
implicaes dos retornos decrescentes e dos determinantes da taxa de progresso tcnico como
endgenos (capital humano), obtendo resultados diferentes dos modelos anteriores
considerados clssicos para as taxas de crescimento e convergncia. Desta forma, a Nova
Teoria do Crescimento mostrou que a convergncia de renda per capita entre pases no
ocorreria de forma automtica, pois incorpora o conceito de capital humano como
determinante de longo prazo do crescimento econmico.
Aps a publicao do trabalho de Romer (1986) novas ideias surgiram, especialmente
reforadas pela ideia de ausncia de retornos decrescentes do capital, visto que esse era o
motivo para tal investigao.
Barro e Sala-i-Martin (1990, 1991 e 1992) desenvolveram trs conceitos de
convergncia em seus trabalhos: Convergncia-, Convergncia- e Convergncia-
condicional. Para os autores, quanto menor os efeitos dos retornos decrescentes de capital
(coeficiente ), maior e mais rpida ser a convergncia ().
Alm destes, Mankiw et al. (1992), acabaram por expandir o modelo de Solow (1957)
com tecnologia incluindo o capital humano para analisar o processo de convergncia.
Diferentemente dos modelos que concentram sua anlise na renda, este estudo prope uma
maneira de avaliar a importncia da produo de soja mas regies Centro-Oeste e Sul do
Brasil, acompanhando a produtividade agrcola da terra ao longo do tempo nas mesmas, e
avaliando se o desenvolvimento mostrou algum padro de convergncia.
-
A literatura menciona ao menos trs motivos para se verificar a convergncia da
produtividade agrcola: a ocorrncia de mudanas estruturais no processo de produo
(representadas pelas inovaes tecnolgicas e/ou incentivadas por polticas pblicas); o
fenmeno da difuso tecnolgica de novas sementes, novos sistemas de plantio, novos
implementos agrcolas, dentre outros; e a eliminao de entraves ao crescimento da produo,
representado por questes ambientais, financeiras, etc. (LOPES, 2004).
Alm destes motivos, Gasques et al. (2004) mostraram que ao longo do perodo analisado,
especialmente para o Brasil, entre 1975 e 2002, a produtividade da terra mostrou-se o
principal componente associado ao acrscimo da Produtividade Total dos Fatores (PTF). A
taxa anual de crescimento da produtividade da terra foi 3,82%, superior taxa anual da PTF
de 3,30%.
Ainda sobre o porqu de escolher a produtividade agrcola para testar a convergncia, Fan et
al. (2009) analisaram que na ndia os ganhos de Produtividade Total de Fatores diminuram a
pobreza rural de maneira direta, aumentando a renda e tambm indiretamente, atravs de
melhores salrios e preos reduzidos na alimentao.
Por sua vez, Janvry e Sadoulet (2010) relataram que ganhos em produtividade agrcola so
importantes para o desenvolvimento e tambm reduo da pobreza nas regies analisadas,
como a Europa Oriental, sia Central, Amrica, dentre outras, respeitando a estrutura
regional de cada pas ou regio.
Para explorar tal anlise de convergncia, mostra-se interessante considerar aspectos
regionais, uma vez que existe influncia dos efeitos espaciais sob a dinmica de crescimento
de cada regio. Autores da Nova Geografia Econmica (NGE) como Krugman (1998),
estabelecem ao espao uma grande importncia sobre a forma como crescem as regies.
Krugman (1998) fala que o acumulo de atividades em determinado local explicado por
foras que atraem (centrpetas) e que repelem (centrfugas) tais atividades. Assim, essas
foras seriam responsveis por grande parte da influncia exercida sobre a aglomerao das
atividades econmicas em determinadas regies, o que por sua vez aumenta a probabilidade
de crescimento econmico.
O diferencial em utilizar a anlise espacial fundamenta-se na absoro do padro da interao
socioeconmica entre agentes num sistema (a autocorrelao espacial), como tambm as
caractersticas da estrutura desse sistema no espao (a heterogeneidade espacial). Tanto a
-
autocorrelao espacial como a heterocedasticidade espacial geram influncias nos processos
econmicos (Anselin, 1988).
Poucos trabalhos mensuraram a convergncia da produtividade agrcola em geral, mas
no efetivamente buscando avaliar o papel da soja. Internacionalmente existem dois estudos
que se propem a investigar a convergncia da produtividade da terra. Lusigi e Thirtle (1988)
analisam a convergncia da Produtividade Total dos Fatores (PTF) para 32 pases africanos
entre 1970 e 1991 a partir de uma equao que mede os desvios da produtividade em funo
de seus valores defasados. Como resultado, encontram convergncia da PTF entre as naes
consideradas.
Surariyanto e Thirtle (2001), por sua vez, analisam a PTF para os pases asiticos entre 1965 e
1996 atravs de uma equao em que a taxa de crescimento da PTF uma funo diferencial
da PTF ocorrida no passado entre tais pases, com o intuito de captar o efeito catch-up (efeito
que mede se pases tecnologicamente atrasados podem crescer a taxas maiores que os pases
j tecnologicamente desenvolvidos, utilizando os conhecimentos j dominados por estes
pases). O resultado indica a ausncia de convergncia da PTF nos pases estudados.
Nacionalmente, tem-se o trabalho de Almeida e Haddad. (2003) que utiliza uma nova
metodologia economtrica para gerar cenrios econmicos consistentes de longo prazo para
as culturas agropecurias. O Modelo Economtrico Espacial para projees de Culturas
Agropecurias (MEECA) relaciona a dependncia e heterogeneidade espaciais, sendo que
suas regresses incorporam efeitos spillovers e expanso espacial dos coeficientes. Aplicada
sobre as culturas do arroz, soja, milho, dentre outros produtos extrativos, alm da
bovinocultura e outros produtos pecurios, mostra resultados nos quais em todos os modelos o
PIB agropecurio apresenta-se significativo.
Perobelli et al. (2007) analisam os efeitos espaciais que exercem influncia sobre a
produtividade agrcola brasileira da terra para os anos de 1991 a 2003. Concluem, deste modo,
que a produtividade agrcola apresenta diferentes padres de localizao expressos atravs da
heterogeneidade espacial e da autocorrelao espacial. Alm disto, mostram que a
produtividade agrcola est positivamente autocorrelacionada, no espao e ao longo do tempo.
Cabe destacar ainda o estudo de Almeida et al. (2008), que mensura de maneira
pioneira no Brasil a convergncia espacial da produtividade agrcola em geral, entre 1991 e
2003. Em um primeiro momento, realiza-se uma anlise exploratria de dados espaciais, a
qual detecta a presena de autocorrelao espacial para a produtividade da terra. Aps obter
-
os resultados da estimao dos modelos error espacial e lag espacial, concluem a existncia
de convergncia absoluta da produtividade agrcola brasileira micro regionalmente.
3. Metodologia
3.1. Analise da Convergncia
Assume-se que a equao utilizada para a estimao da convergncia da produtividade
agrcola da soja, em um primeiro momento, seja uma variao da equao para a
convergncia de renda, a qual indicada a seguir:
(2)
em que o logaritmo natural da razo entre as produtividades agrcolas nos subperodos (perodos) de anlise; o logaritmo natural da produtividade agrcola no subperodo (perodo) inicial de anlise; e o termo de erro aleatrio.
Florax et al. (2003) recomendam que para refinar a especificao do modelo de
convergncia espacial so necessrios alguns procedimentos. Para esta anlise, foram
escolhidos o procedimento clssico e o robusto, quando necessrio.
Os passos do procedimento baseado na especificao clssica informam que:
i) Estima-se o modelo clssico proposto atravs da anlise de regresso linear por MQO;
ii) Testa-se a hiptese de ausncia de autocorrelao espacial devido a uma defasagem ou a
um erro por meio do valor do multiplicador de Lagrange para defasagem espacial ( e Multiplicador de Lagrange para o erro espacial ( ; iii) Obtidos os resultados, por suposio que ambos os testes no sejam significativos, utiliza-
se o modelo clssico para a estimao. Refutada a afirmativa anterior, segue-se o
procedimento posterior;
-
iv) Caso os dois testes sejam estatisticamente significativos, estima-se o modelo mais
significante entre ( e ( . Caso ( > ( , utiliza-se o modelo com defasagem espacial. Em contra partida, se ( < ( , adota-se o modelo de erro espacial. A diferena do procedimento robusto remete a anlise final ou passo iv. Nele, sendo os
dois testes estatisticamente significativos, estima-se o modelo mais significante de acordo
com as verses robustas desses testes, ( e ( . Caso ( > ( , estima-se o modelo com defasagem espacial. Caso contrrio, se ( < ( , opta-se o modelo de erro espacial.
3.2. Velocidade de Convergncia
Para o clculo da velocidade de convergncia ser usada a formula proposta por
Florax et al. (2003):
(3)
em que: k o intervalo de tempo utilizado nas observaes.
3.3. Anlise Exploratria de Dados Espaciais (AEDE)
Anterior a anlise de convergncia da produtividade agrcola de soja, ser feita uma
verificao exploratria de dados espaciais, objetivando atestar a qualidade dos dados
utilizados, sobretudo em funo da autocorrelao espacial.
De acordo com Odland (1988), a escolha de um coeficiente de autocorrelao espacial
implica que o mesmo venha a descrever um conjunto de dados que esteja ordenado numa
certa sequncia, sendo que tais coeficientes so construdos pela razo de uma medida de
autocovarincia e uma medida de variao total dos dados.
3.3.1. I de Moran Global
-
Com relao s medidas de autocovarincia existem trs: produto-cruzado; quadrado
da diferena; modulo da diferena. A estatstica I de Moran utiliza a forma produto-cruzado.
Moran (1948) props seu coeficiente algebricamente como:
(4)
em que n o nmero de regies, z so os valores da varivel de interesse padronizada
(logaritmo da produtividade soja), e Wz so os valores mdios da varivel de interesse
padronizada nos vizinhos (dada a matriz de ponderao W). Nesse caso o numerador a
autocovarincia espacial, composto pelo produto cruzado zWz.
O valor esperado de [1/(n-1)], sendo que valores que excedem o valor esperado
indicam autocorrelao espacial positiva e valores abaixo do esperado autocorrelao espacial
negativa.
Resumidamente so fornecidos trs tipos de informaes. O nvel de significncia
informa se os dados esto distribudos aleatoriamente ou no. O sinal (resultado significativo)
caso positivo indica que os dados so concentrados na regio e, caso negativo, esto
dispersos. A magnitude do resultado mostra que quanto mais perto de 1, maior a
concentrao, em contra partida quanto mais perto de -1 mais dispersos se organizam os
dados.
3.3.2. c de Geary Global
A estatstica de Geary (1954), por sua vez, utiliza a medida de autocovarincia a partir
do quadrado da diferena entre os designados valores. Algebricamente, tem-se:
(5)
-
onde e so as variveis de interesse em i e em j; corresponde mdia da varivel de interesse em todas as unidades territoriais da amostra; n o nmero de microrregies; assume valor de 1 se e forem vizinhos e 0, caso contrrio. Neste caso, os valores de testes apresentados variam entre 0 e 2, sendo que o valor
esperado o de 1. Portanto, quanto mais prximo de 0, maior a autocorrelao positiva.
Contrariamente, resultados mais prximos de 2 apresentaro maiores autocorrelaes
negativas.
Mantendo a mesma hiptese nula que Moran, aleatoriedade espacial, a estatstica de
Geary tambm fornece trs tipos de informaes. O p-valor da estatstica mostra o
comportamento dados espacialmente, seja ele apresentando um padro ou de maneira
aleatria. O sinal positivo novamente indica concentrao de dados e caso seja negativo,
disperso dos mesmos. A magnitude, por conseguinte, revela que resultados prximos a 0
apresentaro maior concentrao espacial e mais prximos de 2, carter de disperso.
3.4. Fonte de Dados
Este trabalho utiliza dados consultados por meio do Sistema IBGE de Recuperao
Automtica (SIDRA), referentes as Pesquisas Agrcolas Municipais e tambm da base de
dados do IPEA, Ipeadata. Para a elaborao dos mesmos, so compilados os dados sobre o
valor da produo agrcola e a rea plantada total entre os anos de 1994 e 2013.
Este perodo consegue descrever bem as mudanas que se processaram e afetaram esta
cultura. Por exemplo, ocorre a abertura comercial do Brasil em 1994, em 1998 e 1999 o
mercado afetado por crises internacionais, em 2005 entra em vigor a lei dos transgnicos no
pas e o biodiesel implementado na matriz energtica brasileira. Alm disto, contabiliza-se
tambm os efeitos da crise do subprime norte-americano de 2007/2008 e a recuperao do
mercado via expanso de consumo chinesa e europeia at o ano de 2013.
Optou-se por trabalhar com os dados a nvel microrregional, uma vez que no perodo
de 20 anos proposto houve o desmembramento/emancipao de vrios municpios, o que
dificultaria a anlise a nvel municipal. Poder-se-ia atentar para reas Mnimas Comparveis
(AMC), entretanto os dados para a anlise no seriam suficientes. Mesmo com a diviso
territorial de alguns municpios, as novas formaes acabariam por pertencer a mesma
microrregio, da a opo por este tipo de agregao.
-
Para cada perodo ou subperodos de anlise foram computadas ao todo 146
microrregies, sendo 52 pertencentes ao Centro-Oeste e 94 ao Sul.
4. Resultados e Discusso
Focando a anlise primria dos dados, atravs das tcnicas exploratria espaciais,
foram estabelecidas matrizes W de ponderaes espaciais. Para tanto, foi realizado o
procedimento de Baumont (2004)5 o qual busca evitar possveis vieses advindos da escolha
das matrizes de referncia para cada estatstica computada.
Sendo assim, foram realizados testes de autocorrelao espacial, I de Moran e c de Geary,
para a produtividade de soja, em funo dos anos iniciais e finais de cada subperodo/perodo.
O tipo de matriz selecionada, bem como as estatsticas alcanadas encontram-se na Tabela 1.
Tabela 1: Estatsticas de Autocorrelao Espacial Global
Matriz Ano Teste Valor Mdia Desvio Padro Z P-valor
k-2 1994 I de Moran 0,4566 -0,0070 0,0760 6,0956 0,0000***
k-1 1994 c de Geary 0,4786 1,0000 0,1118 -4,6652 0,0000***
k-3 1998 I de Moran 0,5462 -0,0070 0,0630 8,7840 0,0000***
k-2 1998 c de Geary 0,4449 1,0000 0,0808 -6,8721 0,0000***
k-2 1999 I de Moran 0,7205 -0,0070 0,0760 9,5663 0,0000***
k-2 1999 c de Geary 0,2790 1,0000 0,0808 -8,9268 0,0000***
k-2 2003 I de Moran 0,6972 -0,0070 0,0760 9,2597 0,0000***
k-2 2003 c de Geary 0,2598 1,0000 0,0808 -9,1640 0,0000***
k-1 2004 I de Moran 0,7955 -0,0070 0,1028 7,8033 0,0000***
k-2 2004 c de Geary 0,1862 1,0000 0,0808 -10,0756 0,0000***
k-2 2008 I de Moran 0,6650 -0,0070 0,0760 8,8362 0,0000***
k-2 2008 c de Geary 0,3040 1,0000 0,0808 -8,6168 0,0000***
k-2 2009 I de Moran 0,5537 -0,0070 0,0760 7,3727 0,0000***
k-1 2009 c de Geary 0,4097 1,0000 0,1118 -5,2815 0,0000***
k-2 2013 I de Moran 0,6469 -0,0070 0,0760 8,5980 0,0000***
k-2 2013 c de Geary 0,3493 1,0000 0,0808 -8,0563 0,0000***
5 O procedimento consiste na realizao de testes, como o I de Moran ou c de Geary, sobre os resduos do modelo
clssico de regresso linear (MCRL). A escolha da matriz ser feita a partir do resultado que apresentar a maior autocorrelao espacial estatisticamente significativa.
-
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%.
Por esta Tabela pode ser visto que os testes foram estatisticamente significativos e
diferentes de zero para todos os anos. Tal resultado rejeita a hiptese nula do teste, indicando
a presena de um padro espacial nos dados.
Em funo dos coeficientes serem positivos, para Moran houve indicao da presena
de autocorrelao espacial positiva para as microrregies, o que reflete no carter de
concentrao destas. Isto , microrregies que apresentaram elevada produtividade mdia de
soja so contguas a outras regies que apresentaram nvel semelhante de produtividade, bem
como microrregies as quais dataram baixas produtividades mdias de soja foram cercadas de
vizinhos com produtividade mdia tambm baixa. Resultado este que corroborado por
Geary, uma vez que os testes indicaram valores entre 0 e 1, sendo mais prximos do primeiro.
Cumprindo os passos do procedimento clssico para iniciar modelagem, em um primeiro
momento foram estimados modelos a partir de Mnimos Quadrados Ordinrios. As matrizes
de ponderao espacial utilizadas foram a de k = 3 vizinhos para o subperodo de 1994/1998,
k = 1 vizinho para os subperodos de 1999/2003, de 2004/2008 e 2009/2013, e k = 2 vizinhos
para o perodo de 1994/2013. As estimaes bem como os testes de diagnsticos esto
dispostos na Tabela 2.
Nesta, pode-se constatar que pelo teste Jarque-Bera os resduos no apresentaram
distribuies normais para os subperodos de 1994/1998, 1999/2003 e para o perodo de
1994/2013. Todos os modelos apresentaram heterocedasticidade, de acordo com os testes de
Koenker-Bassett e White. A estatstica global de Moran constatou que os resduos das
regresses por MQO apresentaram autocorrelao espacial, inviabilizando o prosseguimento
de anlise por tais modelos.
Expandindo as informaes acerca da dependncia espacial, foram realizados testes
como o multiplicador de Lagrange para a defasagem (ML) e para o erro autoregressivo
(ML ). As estatsticas revelaram resultados significativamente diferentes de zero para ambos
os testes, em todos os modelos.
-
Tabela 2: Estimao dos Modelos sem Controle Espacial por MQO
1994/1998 1999/2003 2004/2008 2009/2013 1994/2013
Constante 0,0611 0,1292 0,1684 0,1287 0,1507
p-valor 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
-0,1274 -0,1725 -0,2602 -0,1724 -0,0479
p-valor 0,0026*** 0,0004*** 0,0000*** 0,0000*** 0,3982
SC -353,2320 -281,7870 -312,6270 -313,5650 -263,6260
Jarque-Bera 9,4254 13,4138 4,5123 4,8044 37,8202
p-valor 0,0090*** 0,0012*** 0,1048 0,0905* 0,0000***
Breusch-Pagan 10,2565 55,8677 68,6768 41,8255 27,8674
p-valor 0,0014*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
White 10,5932 61,6154 65,4303 35,7788 89,2192
p-valor 0,0050*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
I de Moran 0,2177 0,6485 0,4400 0,7250 0,3312
p-valor 0,0003*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
ML 8,5106 40,6562 15,0595 49,8416 18,1945
p-valor 0,0035*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
ML 11,6512 39,3196 18,1016 49,1469 18,6340
p-valor 0,0006*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
ML* 3,6008 1,3387 0,9169 0,8186 0,7543
p-valor 0,0578* 0,2473 0,3383 0,3656 0,3851
ML * 6,7415 0,0021 3,9591 0,1240 1,1938
p-valor 0,0094*** 0,9637 0,0466** 0,7248 0,2746
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%.
Pelo procedimento clssico, aps comparao entre ML e ML , tem-se que para os
subperodos de 1999/2003 e 2009/2013 o melhor modelo foi tido como o de defasagem
espacial, SAR, uma vez que ML > ML . J para os subperodos de 1994/1998, 2004/2008 e
para o perodo de 14/2013, ML > ML, revelando que a estimao mais apropriada seria a
de modelos do tipo erro espacial (SEM), Tabela 36.
6 Em virtude dos testes robustos no apresentarem significncia estatstica na maioria dos modelos estimados,
ser adotado apenas o procedimento clssico.
-
Tabela 3: Estimao dos Modelos com Controles Espaciais
Tipo de Modelo SEM SAR SEM SAR SEM
Subperodo/Perodo 1994/1998 1999/2003 2004/2008 2009/2013 1994/2013
Constante 0,0731 0,0737 0,1705 0,0746 0,1605
p-valor 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
-0,1646 -0,0999 -0,2723 -0,1159 -0,0768
p-valor 0,0002*** 0,0093*** 0,0000*** 0,0012*** 0,1914
- 0,40644 - 0,5201 -
p-valor - 0,0000*** - 0,0000*** -
0,1110 - 0,3175 - 0,1861
p-valor 0,0003*** - 0,0000*** - 0,0000***
ML - 4,6863 - 1,1278 -
p-valor - 0,0904* - 0,2882 -
Razo de Verossimilhana 1,8221 - 1,2132 - 0,5742
p-valor 0,1771 - 0,2707 - 0,5742
Breusch-Pagan 20,8439 53,2352 57,4667 33,1584 53,6115
p-valor 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000*** 0,0000***
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%.
A estimao dos modelos baseou-se na tcnica de Mtodo dos Momentos
Generalizado (GMM), uma vez que esta no atesta a necessidade dos resduos dos erros serem
normais. Ainda pela Tabela 3 pode ser visto que os modelos estimados foram responsveis
por controlar o problema de autocorrelao espacial, de acordo com os testes de Razo de
Verossimilhana e do Multiplicador de Lagrange (ML), em que todos no rejeitaram a
hiptese nula de aleatoriedade espacial.
Todavia o teste de Breusch-Pagan novamente diagnosticou a presena de
heterocedasticidade, j averiguada nos modelos OLS, inviabilizando a interpretao do
parmetro de convergncia absoluta. Este problema foi tratado atravs das correes de
White para os modelos SAR e de Kelejian e Prucha para os modelos SEM, Tabela 4.
-
Tabela 4: Estimao do Modelo com Controles Espaciais e Heterocedasticos
Tipo de Modelo SEM SAR SEM SAR SEM
Subperodo/Perodo 1994/1998 1999/2003 2004/2008 2009/2013 1994/2013
Constante 0,0732 0,1001 0,1820 0,1405 0,1640
p-valor 0,0002*** 0,0635* 0,0000*** 0,0343** 0,0000***
-0,1647 -0,1360 -0,2996 -0,1812 -0,0792
p-valor 0,0029*** 0,0779* 0,0000*** 0,0444** 0,5167
- 0,2406 - -0,1304 -
p-valor - 0,0776* - 0,0348** -
0,3964 - 0,3726 - 0,4577
p-valor 0,0000*** - 0,0009*** - 0,0000***
Fonte: Elaborado pelo autor.
Nota: * Significativo a 10%; ** Significativo a 5%; *** Significativo a 1%.
Estimados os modelos com correo heterocedstica, mostra-se possvel determinar se
existe ou no convergncia em relao a produtividade mdia da soja nas regies Centro-
Oeste e Sul do Brasil.
A Tabela 4 mostra que , parmetro de convergncia absoluta, foi estatisticamente
significativo em todos os subperodos analisados. Todavia, para o intervalo de tempo entre
1994 e 2013 no houve significncia, o que revela a inexistncia de convergncia neste
perodo.
Uma das razes que poderiam influenciar este resultado adverso remete ao fato de que
em 1994 a quantidade de municpios que plantavam soja era menor do que em 2013, o pas
ainda no havia passado pela expanso de soja sobretudo na regio Centro-Oeste.
Comparando a nvel microrregional, em 1994 das 146 microrregies existentes 18 no
apresentavam atividade no setor, enquanto em 2013 este nmero correspondia a oito.
Entre as taxas de convergncia, a que apresentou maior valor foi a referente ao perodo
de 2004/2008, em que o pas encontrou novas possibilidades com o cmbio favorvel, foi
assistido pela Lei de Biossegurana e pela incluso do biodiesel na matriz energtica
brasileira, combustvel esse que em sua maioria produzido a base de soja.
No que diz respeito a velocidade de convergncia, para o perodo de 1994/1998 o
valor foi de 0,0412, enquanto o perodo de 1999/2003 apresentou a menor taxa, de 0,0340,
reflexo das crises internacionais que acabaram por diminuir a exportao de soja brasileira.
-
J o intervalo de 2004/2008 condiz ao perodo em que a velocidade de convergncia
foi a maior, registrando 0,0749, resultado que corrobora com a maior taxa de convergncia j
visto. Por fim, para o perodo de 2009/2013, o valor calculado foi de 0,0453 reflexo da lenta
recuperao frente a crise do subprime norte-americano e de queda nas exportaes.
5. Consideraes Finais
O presente trabalho visou diagnosticar a existncia de convergncia absoluta na
produtividade de soja nas principais regies produtoras do Brasil, Centro-Oeste e Sul. A
hiptese construda no foi rejeitada no geral, ou seja, alguns resultados evidenciaram a
existncia de tal convergncia absoluta.
Subperodos como os de 1994/1998, 1999/2003, 2004/2008 e 2009/2013 mostraram
resultados substanciais de convergncia absoluta na produtividade de soja, com destaque para
o terceiro perodo, muito em funo da Lei de Biossegurana e pela incluso do biodiesel na
matriz energtica brasileira, medidas que estimularam a entrada de novos produtores no
mercado e aumentaram a competitividade existente, o que gerou aumento na produtividade do
gro.
Consequentemente, pode-se dizer que a produtividade mdia da soja nestas regies
est convergindo para a mdia de maneira moderada. Estas taxas consideradas relativamente
mdias implicam que, no longo prazo, a disparidade regional existente na soja tende a
diminuir, ou seja, microrregies consideradas com menor produtividade tendem a crescer
mais, alcanando as ditas com maior produtividade. Ao esta que pode refletir no alcance do
primeiro lugar na produo mundial de soja pelo pas.
Como possveis extenses ao trabalho, tem-se a ideia de expandir a anlise, testando a
sensibilidade do para nvel municipal abrangendo todo o Brasil. Esta seria uma tentativa de
solucionar os problemas existentes nas informaes via desmembramento de municpios que
no so abordadas pelas AMC. A insero de diferentes variveis de controle que no apenas
a produtividade da soja tambm se mostra interessante, como fatores edafo-climticos,
oscilao da demanda internacional, dentre outras.
A ttulo de comparao, o mesmo estudo tambm poderia ser feito nas principais
regies produtoras dos Estados Unidos, visando dimensionar o processo de convergncia da
-
produtividade norte-americana e como o pas trata a expanso da cultura a partir de tal
questo.
6. Referncias
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A expanso da cultura da soja e a influncia da disponibilidade hdrica nos
preos da terra no Rio Grande do Sul
Lilian Cervo Cabrera7, Edson Talamini8, Homero Dewes9
Palavras-chave: uso da terra, preo da soja, determinantes do preo da terra, fatores climticos.
Keywords: land use, soybean prices, determinants of land prices, climatic factors.
1. Introduo
A disponibilidade hdrica um dos fatores decisivos para o desenvolvimento
econmico e social de uma regio agrcola. Ela norteia a base da economia regional e fator
fundamental na definio de uso da terra e na expanso de novas fronteiras agrcolas. No Rio
Grande do Sul, a economia baseada na agricultura, pecuria e indstrias. Na agricultura, a
produo de soja o carro chefe do agronegcio gacho e, por isso, o gro cultivado em boa
parte do Estado. Desse modo, este artigo visa responder: Qual o impacto da varivel
disponibilidade hdrica sobre o preo da terra agrcola no Rio Grande do Sul?
Diversos so os fatores que podem determinar o preo da terra. Muitos pesquisadores
tendem a associar o preo da terra sua capacidade produtiva. Alguns colocam o preo da
terra determinado pela produtividade marginal do fator, outros a colocam como a renda que
esta terra poderia gerar (REYDON, 1992). Para um terceiro grupo, seu preo pode ser
determinado por fatores inerentes ao prprio setor agrcola, como a demanda agrcola e a
lucratividade da atividade (RAHAL, 2003).
7 PPG-Agronegcios, UFRGS, Porto Alegre, RS. E-mail: liliancabrera_86@yahoo.com.br. 8 PPG-Agronegcios, UFRGS, Porto Alegre, RS. E-mail: edson.talamini@ufrgs.br. 9 PPG-Agronegcios, UFRGS, Porto Alegre, RS. E-mail: hdewes@ufrgs.br.
-
Acredita-se que atualmente, para determinar o preo da terra agrcola no Rio Grande
do Sul, variveis como o preo de soja, produtividade, rea cultivada, crdito rural,
investimento em transporte, capacidade de armazenamento e preo da terra no perodo
anterior tambm devem ser considerados. Este trabalho, no entanto, se detm apenas na
influncia da disponibilidade hdrica, acreditando que ela pode afetar no preo da terra
agrcola nas diferentes regies do Rio Grande do Sul, j que esta afeta tambm algumas das
outras variveis, como o preo da soja, a produtividade e a quantidade de investimentos.
2. As diferentes regies do Rio Grande do Sul
O Rio Grande do Sul pode ser dividido em sete mesorregies geogrficas (IBGE,
2000), conforme a Figura 1.
Figura 1 Mapa das sete mesorregies geogrficas do Rio Grande do Sul. Fonte: IBGE (2000).
A mesorregio Noroeste Rio-Grandense ou do Planalto Norte-Riograndense a que
apresenta os melhores solos do estado para o aproveitamento agrcola, visto que eles so
profundos, bem drenados e argilosos (GIASSON, 2013). Destacam-se Passo
Fundo, Erechim, Santo ngelo, Santa Rosa, Trs Passos, Cruz Alta e Palmeira das Misses.
Na mesorregio Nordeste Rio-Grandense, o clima mais frio e mido, gerando solos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Passo_Fundohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Passo_Fundohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Erechimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_%C3%82ngelohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Santa_Rosa
-
mais argilosos e cidos (REICHERT, 2007). Destacam-se Vacaria, Lagoa Vermelha e Caxias
do Sul.
As mesorregies Centro Ocidental e Centro Oriental Rio-Grandense so uma faixa de
terras relativamente baixas, planas ou levemente onduladas (MOREIRA, 2007). Cultiva-se
arroz em reas de vrzea, base econmica de muitos dos municpios da regio (Santa Maria,
Santa Cruz do Sul, Cachoeira do Sul e Venncio Aires) (REICHERT, 2007). A mesorregio
Sudoeste Rio-Grandense (regio da Campanha) se caracteriza por elevaes suaves e
alongadas, coxilhas. predominantemente a pecuria e o cultivo de arroz (Alegrete, So
Borja, So Gabriel e Uruguaiana), no entanto a soja vem sendo introduzida nas tradicionais
reas arrozeiras. O preo do gro o que tem estimulado sua expanso, apesar do solo no ser
prprio para soja e ocorrerem ciclicamente perodos de seca na regio. Na Figura 2 observa-se a
evoluo histrica do preo da soja no Brasil, de janeiro de 2000 a janeiro de 2012. Apesar
das oscilaes anuais, o preo mdio tem se elevado a cada ano.
Figura 2 Evoluo histrica do preo da soja no Brasil. Fonte: CEPEA/ESALQ
O estado apresenta regies com caractersticas edafoclimticas diferentes entre si, fato
esse que interfere na definio dos preos da terra agrcola com a finalidade de produo de
gros das regies. Assim, as mesorregies que so mais tradicionais no cultivo de gros
tendem a ter o preo da terra mais elevado, se comparado com regies menos tradicionais.
As precipitaes so bastante variveis de ano para ano, bem como ao longo de um
mesmo ano. Os meses mais chuvosos costumam ser maio, junho e setembro, e os mais secos,
novembro, dezembro e fevereiro, perodo em que a soja cultivada. Historicamente, as
regies Norte e Nordeste no apresentam deficincias hdricas, e as demais regies podem
-
apresentar deficincias maiores que 100mm, com exceo da Campanha, Depresso Central e
Litoral, que podem apresentar deficincias maiores que 200mm (REICHERT, 2007).
3. Metodologia
Para o conhecimento da disponibilidade hdrica foram utilizados dados das mdias
pluviomtricas mensais do estado. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET)
disponibiliza os dados meteorolgicos histricos de 18 estaes automticas espalhadas ao
longo do estado. Utilizaram-se os dados de seis destas estaes, cada uma representando uma
mesorregio, para janeiro de 2005 a janeiro de 2012. Esse perodo foi determinado em funo
das informaes quanto aos preos da terra agrcola, disponveis apenas para os anos de 2006,
2010 e 2011.
Para a anlise do mercado de terras agrcolas, utilizou-se dados da consultoria Informa
Economics FNP, que divide as cotaes por tipo de terra existente em cada regio do estado,
de acordo com suas caractersticas e atividade agropecuria predominante. Sendo assim, sero
analisadas as terras agrcolas classificadas como terra agrcola de gros dos municpios de
Lagoa Vermelha, Vacaria, Passo Fundo, Erechim, Santa Rosa, Trs Passos, Santo ngelo,
Cruz Alta, Palmeira das Misses, Santa Maria, Cachoeira do Sul, So Borja e So Gabriel.
Realizou-se a comparao entre a disponibilidade hdrica das mesorregies do estado e
o preo nos diferentes municpios, alm do avano desses preos ao longo dos anos. Foi
comparada tambm a disponibilidade hdrica com a necessidade de gua da cultura da soja
durante seu ciclo produtivo. Nessa ltima comparao foi calculado o acumulado de chuvas
durante o perodo de outubro a maro, meses estes que correspondem ao cultivo da soja no
Rio Grande do Sul. Relacionou-se informaes quanto a preo, poca de cultivo e necessidade
hdrica da cultura da soja com dados de disponibilidade hdrica e preo da terra, pois a soja
tem avanado significativamente em regies do estado em que seu cultivo no tradicional,
impulsionada principalmente pelo alto preo pago pelo gro. A saca de 60 kg de soja vinha se
mantendo prxima de R$50 nos anos considerados.
Por fim, realizou-se uma correlao entre a disponibilidade hdrica das mesorregies e o
preo da terra agrcola no ano de 2011, com a finalidade se observar o quanto o preo mais recente
da terra agrcola das mesorregies influenciado pela disponibilidade hdrica dos anos de 2005 a
-
2011, no Rio Grande do Sul. Para verificao da Correlao de Pearson, foi utilizado o software
Excel.
Resultados e discusses
No Quadro 1 so apresentados os valores dos preos da terra agrcola de gros,
segundo a consultoria Informa Economics FNP.
Quadro 1 Preos da terra agrcola de gros dos municpios estudados
Regies
Preos da terra agrcola de gros
(R$/ha)
2011/2010 2011/2006 2006 2010 2011
Vacaria/Lagoa Vermelha 10.805 13.000 14.167 9,0% 31,1%
Passo Fundo/Erechim 10.500 18.083 20.000 10,6% 90,5%
Santa Rosa/Trs Passos 6.431 12.083 14.000 19,9% 117,7%
Santo ngelo/Cruz Alta/Palmeira das Misses 6.563 15.083 16.250 7,7% 147,6%
Santa Maria/Cachoeira do Sul 4.244 7.100 7.667 8% 80,6%
So Borja/So Gabriel 3.194 5.833 6.767 16% 111,8%
Fonte: Informa Economics FNP (2012).
Em So Borja e So Gabriel o preo da terra agrcola o mais baixo em todos os anos
analisados. J Vacaria e Lagoa Vermelha tiveram o maior preo em 2006, sendo superados
por outros municpios nos anos de seguintes. Para todas as regies os preos da terra agrcola
aumentaram significativamente mais nos ltimos anos analisados (2010 e 2011).
A partir dos preos apresentados acima, acredita-se que a disponibilidade hdrica possa
ter forte relao com as diferenas de preos das terras agrcolas de gros entre as
mesorregies, alm de ter influncia sobre o aumento dos preos ao longo dos anos. Isso
porque para o cultivo de gro, e em especial a soja, alguns estudos evidenciaram que a
precipitao pluvial a principal varivel meteorolgica determinante de oscilaes no
rendimento de gros de soja no estado, tanto interanual quanto entre diferentes regies
(MOTA, 1983; CUNHA et al., 1999; BARNI e MATZENAUER, 2000).
-
A Figura 3 traz as mdias pluviomtricas mensais dos municpios estudados,
agrupados segundo a mesorregio.
Figura 3 Mdias pluviomtricas mensais de janeiro de 2005 a janeiro de 2012. Fonte: INMET
Passo Fundo e Erechim apresentam, no geral, as mdias pluviomtricas mensais mais
altas e com menor variao ao longo dos anos (75mm a 350mm), se comparadas com as
mdias pluviomtricas mensais dos outros municpios. Fato esse que pode explicar o porqu
desses dois municpios apresentarem o mais alto preo da terra agrcola se comparados com
os outros municpios analisados. Santa Rosa e Trs Passos, e Cruz Alta, Santo ngelo e
Palmeira das Misses apresentam a maioria das mdias no intervalo de 50mm a 400mm,
enquanto que Santa Maria e Cachoeira do Sul, e So Borja e So Gabriel apresentam suas
-
mdias pluviomtricas mensais entre 50mm a 300mm. Tanto Santa Maria e Cachoeira do Sul
quanto So Borja e So Gabriel apresentam os preos de terras mais baixos.
No estado, os meses mais chuvosos costumam ser maio, junho e setembro, e os mais
secos, novembro, dezembro e fevereiro (REICHERT, 2007). Isso pode ser confirmado nos
grficos das mdias pluviomtricas, mas importante considerar que os meses de menores
mdias coincidem com os meses de cultivo da soja. Sendo assim, os municpios que
apresentam mdias pluviomtricas baixas no vero correm o risco de no atenderem as
necessidades hdricas do ciclo da cultura da soja.
Ainda mais que, com o preo elevado da saca de soja, muitas regies ditas como no
tradicionais de cultivo de gros j esto produzindo soja, impulsionados pelo preo da saca do
gro. Atualmente, a necessidade total de gua na cultura da soja, para obteno do mximo
rendimento, varia entre 450 a 700 mm/ciclo, dependendo do clima, do manejo da cultura e da
durao do ciclo (FAO, 2013). A Figura 4 mostra uma comparao da disponibilidade hdrica
nas mesorregies e a necessidade total de gua da soja.
Figura 4 Comparao do acumulado de chuvas dos meses de outubro a maro de 2005 a 2011 e a necessidade
hdrica da cultura da soja. Fonte: INMET e FAO (2013).
Na comparao entre o acumulado de chuvas nos meses de outubro a maro de 2005 a
2011 e a necessidade hdrica da cultura da soja nesse perodo, todas as mesorregies atendem
a necessidade hdrica mnima da cultura, com exceo de So Borja e So Gabriel na ltima
safra 2010/2011, que apresentou acumulado de chuvas de 420,2 mm, ou seja, abaixo da
necessidade hdrica mnima da cultura. Passo Fundo e Erechim, no entanto, apresentam
menor variao no acumulado de chuvas nos anos analisados, enquanto que So Borja e So
Gabriel apresentam grande variabilidade no acumulado de chuvas ao longo dos anos.
-
Na safra 2005/2006 houve ocorrncia do fenmeno La Nia, que reduziu o volume de
chuvas nos meses de vero, e pode ser observado em So Borja e So Gabriel. Na safra
2007/2008 tambm houve ocorrncia de La Nia, que ocasionou um perodo de estiagem
principalmente em Vacaria e Lagoa Vermelha, Santo ngelo, Cruz Alta e Palmeira das
Misses, e Santa Maria e Cachoeira do Sul. J na safra 2009/2010 houve a ocorrncia do
fenmeno El Nio, que ocasionou o excesso de chuvas no Estado e, segundo a figura, pode
ser observado em todas as mesorregies analisadas, especialmente So Borja e So Gabriel
que tiveram um aumento significativo no acumulado de chuvas no perodo. A safra
2010/2011 foi novamente de ocorrncia de La Nia, sendo dessa vez observada diminuio
do acumulado de chuvas principalmente em Santa Maria e Cachoeira do Sul, So Borja e So
Gabriel.
Utilizou-se o Teste de Correlao de Pearson para identificar a existncia de
associao entre a varivel disponibilidade hdrica e a variao do preo da terra agrcola no
Estado. Os Quadros 2 e 3 apresentam as correlaes entre os preos da terra agrcola em 2011
e as mdias pluviomtricas, de todo o ano e somente dos meses de vero (outubro a maro),
respectivamente, dos anos de 2005 a 2011. Como a correlao utilizada foi a linear simples,
foi possvel relacionar somente o preo da terra do ltimo ano analisado (e no a evoluo do
preo) com as mdias pluviomtricas mensais.
Quadro 2 Correlao entre os preos da terra agrcola do ano de 2011 e as mdias pluviomtricas anuais dos
anos de 2005 a 2011
Regies
Preos da terra agrcola
(2011) Mdias pluviomtricas (2005 a 2011)
Vacaria/Lagoa Vermelha 14.167 147,37
Passo Fundo/Erechim 20.000 168,16
Santo ngelo/Cruz Alta/Palmeira das
Misses 14.000 160,53
Santa Rosa/Trs Passos 8.500 154,83
Santa Maria/Cachoeira do Sul 7.667 132,48
So Borja/So Gabriel 6.767 105,40
Correlao: 0,7677
Fonte: FNP (2012) e INMET.
-
Quadro 3 Correlao entre os preos da terra agrcola do ano de 2011 e as mdias pluviomtricas mensais dos
meses de outubro a maro dos anos de 2005 a 2011
Regies
Preos da terra agrcola
(2011)
Mdias pluviomtricas vero (2005 a
2011)
Vacaria/Lagoa Vermelha 14.167 154,05
Passo Fundo/Erechim 20.000 162,83
Santo ngelo/Cruz Alta/Palmeira das
Misses 14.000 196,79
Santa Rosa/Trs Passos 8.500 180,90
Santa Maria/Cachoeira do Sul 7.667 158,00
So Borja/So Gabriel 6.767 138,70
Correlao: 0,2557
Fonte: FNP (2012) e INMET.
Os resultados indicaram a existncia de uma correlao positiva (r = 0,7677) entre as
variveis disponibilidade hdrica anual e preo da terra e entre as variveis
disponibilidade hdrica nos meses de vero e preo da terra (r = 0,2557). Segundo o
Quadro 2, Passo Fundo e Erechim apresentam o preo mais elevado da terra e tambm a
maior mdia pluviomtrica, enquanto que Santa Maria e Cachoeira do Sul, So Borja e So
Gabriel apresentam os menores preos e as menores mdias pluviomtricas mensais. O
mesmo no ocorreu na correlao do Quadro 3, pois Santo ngelo, Cruz Alta e Palmeira das
Misses apresentaram a maior mdia pluviomtrica mensal nos anos analisados, mas o preo
no o maior encontrado no Estado.
Consideraes Finais
Esse estudo partiu da premissa de que a disponibilidade hdrica poderia interferir no
preo da terra agrcola, alm de ser fator fundamental na definio do uso da terra e na
expanso de novas fronteiras agrcolas. Apesar de muitas variveis serem consideradas na
determinao do preo da terra agrcola, o trabalho se deteve apenas na influncia da
disponibilidade hdrica, acreditando que ela pode afetar no preo da terra agrcola nas
-
diferentes regies do Rio Grande do Sul, j que esta afeta tambm outras variveis, como o
preo da soja, a produtividade e a quantidade de investimentos regionais.
A pesquisa apontou que Passo Fundo e Erechim, alm de apresentarem as mdias
pluviomtricas mensais mais altas e com menor variao ao longo dos anos se comparadas
com as mdias pluviomtricas mensais dos outros municpios, tambm apresentaram o mais
alto preo da terra agrcola. Santa Maria e Cachoeira do Sul, e So Borja e So Gabriel
apresentaram as mdias pluviomtricas mensais mais baixas entre os municpios analisados e
tambm os menores preos de terra. Os outros municpios tiveram comportamentos de preo e
mdias pluviomtricas com pouca variao entre as regies. Nas safras 2009/2010 e
2010/2011, Santa Rosa e Trs Passos registraram um acumulado de chuvas maior que as
outras regies e tambm apresentaram a maior variao de preo entre 2010 e 2011.
Verificou-se tambm, na comparao com as necessidades hdricas da cultura da soja,
que todas as mesorregies atenderam a necessidade hdrica mnima da cultura, com exceo
de So Borja e So Gabriel na safra 2010/2011. Passo Fundo e Erechim, no entanto, foram os
que apresentaram menor variao no acumulado de chuvas nos anos analisados, enquanto que
So Borja e So Gabriel apresentaram grande variabilidade no acumulado de chuvas ao longo
dos anos, ficando algumas safras com sobra hdrica e outras safras no limite mnimo da
necessidade hdrica da soja. Alm disso, nas safras analisadas, a Regio da Campanha
apresentou maior suscetibilidade aos fenmenos climticos El Nio e La Nia do que os
outros municpios analisados. Em anos de La Nia, houve um grande aumento no acumulado
de chuvas no perodo, e em anos de El Nio, ocorreram grandes estiagens na regio. Essa
suscetibilidade dos municpios pode ocasionar incertezas quanto s condies de produo de
culturas de vero, como a soja, e influenciar nos preos da terra agrcola da regio. Quanto a
essa influncia, o teste de correlao indicou que regies com maiores disponibilidades
hdricas mensais tm maiores preos da terra agrcola no Rio Grande do Sul. O teste indicou
que a disponibilidade hdrica anual interferiu mais no preo da terra (r = 0,7677) do que
somente a disponibilidade hdrica dos meses de vero (r = 0,2557), ou seja, aqueles de cultivo
da soja.
Referncias Bibliogrficas
BARNI, N.A.; MATZENAUER, R. Ampliao do calendrio de semeadura da soja no Rio Grande do Sul pelo uso de cultivares adaptados aos distintos ambientes. Pesquisa Agropecuria Gacha, Porto Alegre, v.6, n.2, p.189-203, 2000.
-
CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS EM ECONOMIA APLICADA (CEPEA). 2014. Disponvel em < http://cepea.esalq.usp.br/soja/?page=351&Dias=15>.
CUNHA, G. R.; HAAS, J. C.; DALMAGO, G. A. et al. Cartas de perda de rendimento potencial em soja no Rio Grande do Sul por deficincia hdrica. Passo Fundo: Embrapa Trigo, 1999.
FAO. Crop Water Information: Soybean. 2013. Disponvel em < http://www.fao.org/nr/water/cropinfo_soybean.html>.
GIASSON, E. Solos do RS. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2013.
INFORMA ECONOMICS FNP. Agrianual 2012: Anurio estatstico da agricultura
brasileira. So Paulo, 2012.
INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Banco de dados meteorolgicos para ensino e pesquisa. 2014. Disponvel em < http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=bdmep/bdmep>.
MOREIRA, I. O Espao Rio-Grandense. Editora tica, 2007.
MOTA, F.S. da. Condies climticas e produo de soja no sul do Brasil. In: VERNETTI, F. de J. (Coord.) Soja. Campinas: Fundao Cargill, 1983.
RAHAL, C. L. A evoluo dos preos da terra no estado de So Paulo: anlise de seus determinantes. (Dissertao) Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP, 2003.
REICHERT, J. M. Fundamentos da Cincia do Solo. UFSM, junho de 2007.
REYDON, B. P. Mercados de terras agrcolas e determinantes de seus preos no Brasil: um estudo de casos. (Tese) Instituto de Economia, UNICAMP, 1992.
-
A Influncia dos Fatores Social, Situacional e de Marketing na Compra de Sucos de
Laranja: um Estudo no Mercado do Distrito Federal
Lucas Augusto Esmeraldo de Oliveira Mestrando Agronegcio - lucas.esmeraldo@gmail.com
Ana Maria Resende Junqueira Doutorado - anamaria@unb.br
Sueli Menelau Doutorado suelimenelau@gmail.com
Resumo: Este artigo busca aprofundar o entendimento dos fatores que influenciam a compra
de suco de laranja no mercado do Distrito Federal. A partir da reunio de um conjunto de
variveis e com base na fundamentao terica delimitou-se trs fatores de influncia de
consumo, sendo eles; influncias de marketing, fatores de influncia social, fatores de
influncia situacional. O artigo ter como base uma pesquisa de natureza aplicada,
classificada quanto abordagem em quantitativa, exploratria, com fundamentao terica e
aplicao de um questionrio. Ao todo foram analisados 373 questionrios. A pesquisa se
restringe a regio do Distrito Federal, e contempla apenas sucos de laranja lquidos,
industrializados ou in natura. Os resultados das anlises demonstram que as variveis se
interrealacionam e formam fatores de influncia de consumo. O consumidor influenciado
pelos trs fatores, com maior influncia do fator social.
Palavras-chave: Comportamento do Consumidor. Fator Social de Compra. Fator Situacional
de Compra. Fator de Marketing. Suco de Laranja.
Abstract: This article seeks to deepen the understanding of the factors influencing the
purchase of orange juice in the market the Federal District. From the meeting a set of
variables and based on the theoretical framework delimited by three factors influence
consumption, namely; marketing influences, social influence factors, situational factors
influence. The article will be based on a nature applied research, classified as the approach in
quantitative, exploratory, with theoretical basis and application of a questionnaire. Altogether
373 questionnaires were analyzed. The research is restricted to the Federal District region, and
includes only liquid orange juices, processed or raw. The test results show that the variables
-
interrealacionam and form factors influence consumption. The consumer is influenced by
three factors, the most influential of the social factor.
Keywords: Consumer Behavior. Social Purchase factor. Situational factor Procurement.
Marketing factor. Orange juice.
1 INTRODUO
O sabor laranja uma das bebidas mais tomadas no mundo, com participao de 34% no
mercado de sucos (CITRUSBR, 2011). Dessas bebidas, entre as opes de apresentao de
suco de laranja - sendo as mais comuns o integral, adoado, reconstitudo e nctar (FRATA;
BENASSI; MINIM; PRUDENCIO, 2009) -, natural ou in natura, dono de 0,91% do
mercado global. Essa uma liderana conquistada graas a uma srie de fatores que vo
desde aspectos relacionados ao comportamento de compra - um sabor mundialmente aceito
at aspectos relacionados indstria, como a possibilidade de abastecer os diversos mercados
no mundo sem sofrer com sazonalidade (CAMPOS; LOPES; ROSSI; NEVES, 2006).
A laranja no uma planta nativa do Brasil, sua origem oriental e foi trazida pelos
portugueses na poca de colonizao, alguns registros apontam que a laranja provavelmente
originria do sul asitico, mas precisamente da China (NEVES; TROMBIM; MILAN;
LOPES; CRESSONI; KALAKI, 2010). Diante de boas condies plantio, solo e clima
favorveis, a laranja adaptou-se ao Brasil com muita facilidade, e logo passou a ser produzida
em todo o Pas. Hoje um dos produtos mais importantes para a economia brasileira,
suprindo uma demanda do mercado nacional e internacional, principalmente quando
comercializada em forma de suco ( KALAKI, 2014).
A transformao da laranja em suco remunera uma longa cadeia produtiva que gera benefcios
sociais e econmicos. Sua contribuio abrange vrias esferas, compreendendo a gerao de
emprego, renda, avano tecnolgico e arrecadao de impostos. Desde a dcada de 1980, o
Brasil o maior produtor e exportador de suco de laranja industrializado do mundo,
produzindo mais de 50% do volume mundial e exportando 98% de toda sua produo
(CITRUSBR, 2011). No Pas, o consumo de suco concentrado de laranja no mercado interno
brasileiro cresceu nos ltimos anos, passou de 23 mil toneladas em 2005 para as atuais 35 mil
toneladas. um crescimento superior a 50% na demanda domstica (VALOR ECONMICO,
2010).
-
A grande capacidade produtiva brasileira, juntamente com a preferncia pelo sabor,
demonstra a importncia do estudo do comportamento de compra do suco de laranja. A
compra envolve vrios aspectos e os consumidores podem ser influenciados por diversos
fatores alm do produto em si, suco de laranja, como por exemplo, localizao da loja,
vendedores, aparato tcnico, disponibilidade do produto, tempo disponvel para compra,
aspectos do produto, composio, tamanho e design da embalagem, marca (MOWEN;
MINOR, 2003).
O tema se faz interessante para o meio acadmico, pois se criam anlises para descobrir quais
so os fatores que influenciam uma compra e quais fatores podem faz-lo desistir, podendo
vir a auxiliar estratgias s empresas podem adotar para influenciar a deciso de compra e
criar vantagens competitivas. Alm disso, preenche uma lacuna de pesquisa no que se refere
ao estudo de comportamento do consumidor no Brasil na medida em que prope e realiza uma
pesquisa emprica quantitativa, empregando ferramenta de coleta estruturada (PINTO; LARA,
2008).
Com este escopo em vista se estabelece como objetivo geral desta pesquisa identificar os
fatores situacional, social e de marketing que influenciam o comportamento do consumidor na
compra de suco de laranja. Assim, na prxima sesso apresenta-se comportamento do
consumidor, adotando como referncia os estudos de Churchill Jr. e Peter (2012). Em seguida,
mostrada a metodologia do estudo empregada na obteno de dados empricos. Na quarta
sesso so dispostos os resultados auferidos e a discusso, enquanto na ltima parte do artigo
so apresentadas as concluses, limitaes e propostas para pesquisas futuras.
2 ATRIBUTOS DO PRODUTO E INFLUNCIAS AMBIENTAIS NO
COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR
De acordo com Pinto e Lara (2008), pode-se estudar as relaes de troca que se configuram
em atividade de marketing mediante a condio de quatro perspectivas tericas. Nesse
sentido, a perspectiva a ser desenvolvida neste tpico se refere s influncias
comportamentais, sociais e psicolgicas da disciplina, fundamentada nas vises no-interativa
e no-econmica, que envolve o comportamento das pessoas na condio de consumidoras
(URDAN; URDAN, 2010). O comportamento do consumidor considerado campo de
conhecimento estabelecido na cincia comportamental (PINTO; LARA, 2008).
-
A definio da cincia comportamental de consumo diz respeito ao estudo das trocas de
recursos, feitas entre duas partes onde uma delas necessariamente o consumidor (PINTO;
LARA, 2008; URDAN; URDAN, 2010). Todo comportamento direcionado para satisfao
de necessidades e desejos do consumidor tem em sua origem o estmulo que toca o
consumidor (URDAN; URDAN, 2010; CHURCHILL JR.; PETER, 2012). Portanto, o
entendimento do comportamento do consumidor tem por principal objetivo avaliar os fatores
externos e internos pessoa no processo de troca, ou seja, nas experincias e nas idias
relacionadas as preferncias do consumidor no momento de compra (MOWEN; MINOR,
2003).
Comprar um processo complexo, composto por vrias fases e interferncias at sua
consolidao (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000), podendo ocorrer em trs tipos de
ambientes distintos: domiciliar, organizacional ou pblico (SHETH; MITTAL; NEWMAN,
2001). Na realidade, essa troca, considerada de marketing, pode ser definida como o resultado
da interao entre o comprador, a empresa e a situao em um tempo e um lugar especficos
(MOWEN; MINOR, 2003). De todo modo, o consumidor a unidade de anlise e o
comportamento do consumidor entendido em funo do intercmbio de fatores (ou
influncias) internos e externos pessoa. Com esse mesmo sentido, para Mowen e Minor
(2003) e Churchill Jr. e Peter (2012), as influncias comportamentais do consumo podem
ocorrer tanto por interferncias individuais quanto pelo ambiente.
As influncias individuais tm origem psicolgica e contemplam fatores relacionados a
personalidade, as crenas e as atitudes que influenciam no momento de adquirir um bem ou
um servio (MOWEN; MINOR, 2003). Quanto as influncias ambientais o meio age sobre a
deciso de compra do consumidor (MOWEN; MINOR, 2003). Urdan e Urdan (2010)
classificam essas interferncias como estmulos externos sobre o comportamento da compra,
distinguindo-os em econmicos, legais, sociais e situacionais, no incluido, entretanto as
informaes referentes ao mix de marketing. Por sua vez, Churchill Jr. e Peter (2012) incluem
em sua anlise essas variveis externas, ou ambientais, ao processo de compra, e
reorganizam-nas em trs tipos de influncias: situacionais, sociais e de marketing.
As influncias do fator situacional afetam a unidade de compra, a empresa e o prprio
processo de troca (MOWEN; MINOR, 2003). Essas situaes que envolvem o consumidor
consistem nos fatores temporrios do ambiente que formam o contexto dentro do qual ocorre
a atividade de consumo. Os consumidores so influenciados, em geral, por caractersticas ou
circunstncias que os cercam no momento de compra (CHURCHILL JR.; PETER, 2012).
-
Assim, a situao do consumidor composta por fatores que envolvem o tempo e o lugar nos
quais ocorre a atividade do consumidor, explicam o motivo pelo qual a ao ocorre e
influenciam o comportamento do consumidor (MOWEN; MINOR, 2003).
So cinco principais categorias de fator situacional sobre o consumidor, demonstradas no
Quadro 1 a seguir.
Categoria
Situacional
Descrio
Entorno fsico Mais aparente numa situao de compra, envolve elementos sensoriais e mecanismos de
influncia sensorial que caracterzam o ambiente fsico de compra e podem ser utilizados como
influenciadores de consumo
Entorno social Agrega profundidade a situao na medida que busca analisar as interaes interpessoais, assim
como sua relao com o meio social (papeis aparentes assumidos)
Tarefa de
compra
Motivao por uma demanda pessoal, uma razo que justifique a ao de compra. A definio
da tarefa est intimamente ligada a situao de uso do produto ou servio que ser comprado. A
situao de uso do produto pode restringir seu uso, limitar sua atuao e potencial de mercado,
passando a ser percebido pelo consumidor como um produto para uma atividade especfica,
tornando-o inadequado a qualquer outra atividade ou uso
Estados
antecedentes
Condies temporrias, como efeitos do humor, trazidas pelo consumidor a uma situao de
compra
Perspectiva
temporal
o momento da compra, ou seja, a disponibilidade de tempo que um consumidor tem para
realizar a tarefa. Os pesquisadores descobriram que, na medida em que aumenta a presso do
tempo, os consumidores depreendem menos tempo procurando informao. De maneira
semelhante, o uso de informaes disponiveis diminui e d-se mais importncia a informaes
negativas ou desfavorveis quando as presses do tempo so fortes
Quadro 1: Fator Situacional.
Fonte: Elaborado a partir de Mowen e Minor (2003), Urdan e Urdan (2010) e Churchill Jr. e Peter (2012) .
Entretanto, o consumidor no influenciado apenas pelos fatores situacionais de uma rea de
compra. A relao com o meio social outro elemento que interfere diretamente no
comportamento de compra do consumidor. Cada consumidor influenciado por vrios
grupos, que a todo momento disparam mensagens diretas e indiretas sobre atividades de
-
compra (CHURCHILL JR.; PETER, 2012). A presena de pessoas, grupos, amigos,
familiares, pode ser um limitador ou um estimulador no momento da compra, que impactam
diretamente nas aes de compra do consumidor (MOWEN; MINOR, 2003). Portanto, o fator
social est relacionado as esferas sociais que existem na deciso de compra do consumidor
(URDAN; URDAN, 2010), incidindo nas formas de cultura, sociedade, classe
socioeconmica, grupos de referncia e status. Esses elementos esto descritos no Quadro 2.
Categoria Social Descrio
Sociedade Sistema social de grande escala, complexo e organizado, cujos membros compartilham
identidade e leis
Cultura Valores, normas, hbitos, sentimentos, significados, ideias, crenas, ritos, histrias e
prioridades compartilhadas por um mesmo grupo. Afirma por meio do comportamento o
que valorizado por um conjunto de pessoas. Profissionais de marketing tem maior
probabilidade de sucesso quando agradam aos valores culturais de seus mercados-alvo
Subcultura Grupos de pessoas de uma mesma cultura que compartilham de valores e padres de
comportamento que diferem da cultura geral. Segmento da cultura geral, que pode ser
dividido em caractersticas comuns como religio (catlicos, judeus, protestantes) e raa
(negros, pardos, orientais)
Classe
socioeconmica
So extratos da populao, ou seja, grupos de consumidores que se assemelham em
termos posio social e renda. Hierarquia de status nacional fundamentada em riqueza,
renda, habilidade e poder. As classes sociais no demonstram apenas diferenas de renda,
mas tambm diferena de valores e comportamento.
Grupos de
referncia
Grupos de referncia no dizem diretamente aos consumidores o que fazer; so os
consumidores que se deixam influenciar pela opinio do grupo, seja intuindo participao,
seja por serem afetados pelos sentimentos dos membros do grupo; A presena de pessoas
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