acaso ou planejamento -...
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ROMED Volume 2 | Número 2 | Set. 2016
ACASO OU PLANEJAMENTO CHANCE OR PLANNING
Andreia AZEVEDO DE LIMA WADA1
RESUMO: A origem da vida foi uma questão amplamente discutida desde os
primórdios do pensamento e da capacidade de análise. Desde essas era remotas, o
ser humano foi capaz de chegar a várias possibilidades e teorias de surgimento da
vida. Pois como essas teorias e pensamentos têm sido limitados. Ao longo dos anos,
a evolução dos conhecimentos chegou a um ponto em que até os que se intitulavam
como ateus, podem acreditar que o universo não seria obra do acaso, mas sim de um
idealizador perfeito, incorruptível e eficaz. Dada a importância da vida nesta terra, vale
estudarmos sua origem e consequente possibilidade de destino. O presente estudo
teve como metodologia um estudo descritivo analítico, desenvolvido por meio de
pesquisa bibliográfica, mediante explicações embasadas em trabalhos publicados em
livros, revistas, e diversas doutrinas que trata do tema, tendo como objetivo geral a
análise das teorias da origem da vida. Devido à relevância social e cientifica do tema,
descrevemos o surgimento da vida segundo a teoria da evolução das espécies e suas
diversas variedades de pensamentos que se originaram subsequentemente. Em
seguida descrevemos a teoria criacionista no âmbito da ciência. Por fim concluímos
com o posicionamento mais coerente a partir da análise das provas concretas que
embasam este estudo.
Palavras-Chave: Criacionismo. Evolucionismo. Origem das Espécies.
SUMMARY: The origin of life in our planet has been widely discussed since the
beginnings of thought and analyses capabilities. Since those remote ages, humankind
has been capable to reach many theories and possibilities for the origin of life in earth.
Nevertheless, those theories and thinking still limited. Over the years the evolution of
knowledge has reached a point that even those who called himself atheists started to
recognize that universe can’t be the work of chance but created by hands of one perfect
creator, incorruptible and effective. The life in earth is very precious, so it is good if we
take a time to research and think about its origin and possibilities of destiny. The
methodology of this article was based on an analytical descriptive study, developed
with bibliographic research in reports issued in books, magazines and many others
1 ALUNA do 5º ano de Direito da FAE Centro Universitário. Email: andreiaalw@gmail.com
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doctrines about this subject. Our main goal was analyze the theories about the origin
of life. Due to the social and scientific relevance of this subject, we describe the
emergence of life by the evolutionary thinking and the variations that came out after it.
Then we describe the creationist thinking in science. By the end, we concluded with
the most consistent positioning from the analysis of the concrete evidences that
support this article.
Keymords: Creationism. Evolutionism. Origin of Species.
INTRODUÇÃO
Desde os tempos mais remotos da civilização humana, além das ocupações
diárias inerentes à sobrevivência, as mais diversas comunidades organizadas que
existiram, ou de que se tem registro de existência, fizeram tentativas no sentido de
desvendar a origem e o propósito da vida na Terra.
As hipóteses ou teorias que foram formuladas, desde os povos hindus no
oriente, na Grécia antiga, as concepções judaico-cristãs, até o período atual no qual
interpretações da física, genética e bioquímica parecem fornecer as explicações mais
próximas da realidade, por mais convincentes ou precisas que estas teorias puderam,
ou possam parecer, nos diferentes períodos e contextos históricos em que foram
empregadas como verdades.
Porém não conseguiram responder de forma absoluta e inquestionável a três
questões primordiais: a origem do Universo, a origem da vida e sua grande pluralidade
de forma e a aquisição de inteligência por parte da espécie humana, a qual quebrou
o paradigma entre o plano objetivo e subjetivo, como observa Assis (2012).
O que temos é apenas suposições, que não podem ser provadas por
experimentos observáveis, requisito básico para qualquer processo científico.
Ao longo das eras, a humanidade contou com seu poder de observação na
tentativa de desvendar os fenômenos da natureza. A investigação era feita a partir de
informações captadas a olho nu ou por meio de experiências sensíveis a um dos
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outros quatro sentidos. Com o avanço científico e tecnológico, principalmente a partir
de observações feitas por Galileu Galilei, Isaac Newton e Albert Einstein, o mundo
mecânico e físico começou a ser desvendado de modo objetivo, com menor apelo a
suposições ou superstições.
Melhorias fundamentais na óptica e estudos sobre o universo quântico
possibilitaram novas perspectivas, traduzidas em qualidade de vida – respostas para
a sempiterna luta pela sobrevivência e bem estar; outras fortalecendo ou
enfraquecendo compreensões cosmológicas – a busca pela origem e sentido da
existência.
As mais diversas ferramentas criadas pela humanidade sejam máquinas que
ampliam o poder de ação e observação, sejam os cálculos e abstrações que traduzem
as leis naturais, ao passo que responderam questões fundamentais,
controversamente aumentaram o horizonte de demandas a serem solucionadas.
Por mais conclusivos que os estudos possam ser, como a famosa Origem das
Espécies, de Charles Darwin, por exemplo, sempre há ressalvas feitas pelos próprios
cientistas.
Não posso apresentar todas as referências e fontes que consubstanciam todas as afirmações que faço, pelo que espero que o leitor deposite confiança na exatidão das minhas palavras. Procurei ser cauteloso e basear-me apenas em fontes credíveis, mas é sempre possível ter-me escapado algum erro. (DARWIN, 2009, p. 29).
Como também pontua Behe (1997, p. 16) “a caixa preta que pouco a pouco
havia sido decodificada, teria exposto outras caixas pretas”.
Diante do conhecimento adquirido pela observação e experimentação, o ser
humano chegou a duas hipóteses, de certa forma divergentes, que tentam, a sua
maneira, explicar a origem e o sentido da vida na Terra. São elas o determinismo,
baseado nos conceitos de necessidade e complexidade irredutível, que deu força
teórico-filosófica para o criacionismo; e a idéia de probabilidade que, atrelada ao
conceito de gradualismo, fortaleceu o argumento evolucionista.
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Este trabalho tem objetivo de expor cada uma dessas duas correntes de
pensamento: a de que o universo é resultado da criação e organização partida de um
ser superior e a de que é originário do nada quântico (creatio ex nihilo), organizado
por leis físicas auto-existentes e a seleção natural. Tendo em vista que as teorias
criacionista e evolucionista dependem de filosofia, este estudo intenta contrapô-las no
âmbito filosófico, com respaldo de conclusões científicas, indissociáveis de uma
explicação racional e prática.
Utilizou-se como metodologia o estudo qualitativo sendo que o caminho
percorrido foi através de pesquisa e revisão bibliográfica junto a doutrinas, artigos,
dissertações e teses, além do contato com o a Bíblia Sagrada.
1 ORIGEM DO PENSAMENTO CRIACIONISTA
O conceito mais antigo de um criador supremo, ao contrário do que muitos
possam pensar, não surgiu nem se restringe à filosofia judaico-cristã. O bramanismo
e a filosofia Vedanta, que deu origem ao hinduísmo e outras culturas religiosas
orientais, apresenta Brahman não só como origem, mas como sendo o próprio
universo absoluto, regido por dois princípios que interagem para a criação,
transformação e manutenção da vida: o purusa (impessoal e abstrato) e o prakrti (o
material) (ASSIS, 2012, p. 58).
Os desequilíbrios provocados por purusa colocam o prakrti em movimento,
desencadeando todo o processo criativo sob a lei universal de Brahman, o Absoluto.
Em todos os seres criados, a partir de então, habitam o Atman universal (conceito
parecido com o da alma cristã), que pode, segundo a interpretação de Assis (2012, p.
58), “ser visto como a presença do Atman absoluto, Brahman, em cada ser”. O autor
pontua que essa concepção de origem do universo se parece muito com a teoria do
Big Bang.
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A origem do universo, num nível ainda mais abstrato, é Brahman, o Absoluto, o unipolar, o vácuo, o inapreensível [...] Se expressa através de atributos bipolares, que a linguagem védica apresenta na forma de deuses: Brahman e sua consorte Saraswati, os criadores do tempo e espaço (Big Bang); Shiva e Parvati, o aspecto destruidor e transformador do universo dentro do espaço-tempo; Vishu e Laksmi, os mantenedores de estabilizadores da criação. (ASSIS, 2012, p. 59).
Curiosamente, a concepção hinduísta para a origem do universo é baseada em
três forças primordiais, em uma Trindade Suprema, personificada na forma de deuses.
São elas a força criadora, a transformadora e a mantenedora.
Os gregos também tinham uma concepção, de certa forma, semelhante. De
acordo com o texto de Hesíodo (1995), o início de tudo está no Caos (Kháos), que é
a massa vazia e insondável dos gregos. Segundo a mitologia, outros deuses foram
criados a partir do Caos, os mais importantes entre eles seriam Eros, o deus do amor,
e Gaia, a Terra. Os gregos não tinham noção de um deus supremo. Zeus, por
exemplo, é um deus da terceira geração dos deuses de Hesíodo. A raça humana, por
exemplo, na versão mitológica, só foi criada por Prometeu, modelados em argila.
Atena, deusa da sabedoria teria imputado alma neste seres recém-criados.
Em outra versão, a mitologia coloca o Chronos como criador da natureza. Este
deus está associado ao tempo, tornando esta concepção muito próxima a que muitos
físicos naturais e astrofísicos possuem hoje, de que a origem de tudo está no início
da marcha do tempo. Segundo Gleiser (2010, p. 22), “o tempo inicia sua marcha
quando uma bolha cósmica sobrevive e começa a evoluir, isto é, quando existem
mudanças que podem ser quantificadas. Se nada muda, o tempo é desnecessário”.
A noção de Deus único e supremo teve início em uma religião de pastores do
deserto, que viviam como nômades, na região onde hoje conhecemos como Israel.
Chamado como El ou Elohim, desde os tempos de Abraão, mais tarde transliterado
para Javé ou Yaveh.
De acordo com a tradição hebraica e com os relatos bíblicos, Deus é incriado,
ou seja, assim como Bhraman ou Chronos, ele sempre existiu. Dele depende todo o
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universo, do qual é o elemento central. “No princípio criou Deus o Céus e a Terra”,
(GENESIS 1:1).
Conforme o relato do livro de Genesis, Deus criou o mundo em seis dias e no
sétimo, o sábado, descansou. A primeira obra da criação, segundo a Bíblia, foi à luz.
Para os cientistas, a luz é o principal elemento do universo e sua velocidade de
deslocamento a forma de medida mais precisa que o ser humano possui para
entender a dinâmica dos corpos no Cosmos.
O deslocamento da luz no vácuo é a mais importante das constantes físicas, base de toda a Teoria da Relatividade de Einstein. Além disso, é um limite físico para a velocidade de todos os corpos e de todas as energias, ou seja, nada pode se deslocar no vácuo com velocidade superior a da luz [...] Nenhuma equação explica ou justifica a velocidade da luz. É um dado da natureza. Outros enigmas igualmente indissolúveis se repetem ao longo de uma investigação objetiva sobre as origens do universo e do homem, assim como sobre a origem da capacidade racional em um mamífero específico, nisso diferente de todos os demais. (ASSIS, 2012, p. 32).
No segundo dia, de acordo com o relato, Deus criou o céu. No terceiro separou
água da terra e criou a flora. No quarto, fez a separação entre dia e noite e criou as
estações do ano. No quinto criou animais marinhos e as aves. No sexto dia, criou os
répteis e mamíferos e por fim criou o homem e a mulher, “à sua imagem”, (GENESIS
1:27). Com base nestes fundamentos, os criacionistas acreditam e buscam evidências
para fortalecer seu argumento de que o universo foi criado por, como aponta BORGES
(2011), “um ser sobrenatural, imaterial, atemporal, localizado fora do espaço, criador
da matéria e das leis naturais que regem o Universo”.
Dentro do criacionismo baseado na cultura judaico-cristã, existem duas
vertentes menos atreladas à interpretação literal do relato contido em Genesis. A dos
evolucionistas teístas, por exemplo, é aceita pela Igreja Católica e algumas seitas
judaicas. Consiste na crença de que o universo foi criado por Deus, que coordenou o
processo de evolução das espécies sem uma interferência direta. Uma concepção
bastante semelhante à de grande parte dos evolucionistas, que apenas substituem o
termo Deus por Primeira Causa.
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A causa que deu início a tudo, o primeiro elo da longa corrente causal, que leva da criação do cosmo ao presente é a tradicionalmente conhecida como Primeira Causa. Para iniciar o processo, nada pôde precedê-la: a Primeira Causa não pode ter uma causa, ela tem que ocorrer por si só. Como dar sentido a algo que parece violar o bom-senso, será que a ciência tem uma resposta? As religiões usam os deuses para resolver o problema. E resolvem bem, porque as leis da física não são aplicáveis aos deuses, (GLEISER, 2010, p. 22).
A corrente dos criacionistas progressistas acredita que os dias na Bíblia não
são literais e querem dizer eras. Deus teria projetado o universo e o desenvolvido ao
longo dos tempos e não apenas em seis “tardes e manhãs”, como o relato bíblico
descreve. Esses criacionistas aceitam alguns aspectos do evolucionismo,
principalmente relacionado a pequenas adaptações e mutações em pequena escala,
a chamada microevolução. Entretanto, segundo a compreensão desta vertente, a
complexidade da vida e do desenvolvimento de sistemas como o da célula, por
exemplo, seria necessária a intervenção de Deus e de um projetista inteligente.
Veremos mais sobre este assunto no capítulo sobre Complexidade Irredutível.
2 ORIGENS DO PENSAMENTO EVOLUCIONISTA
Alguns escritos atribuídos a Hipócrates (460-370 a.C.) são tidos como os
primeiros estudos em biologia. Ele é considerado o “pai da medicina” e seria
contemporâneo de Aristóteles. É a primeira vez de que se tem notícia na história de
descrições de sintomas de doenças comuns e atribuições de enfermidades
relacionadas à alimentação e outras causas físicas e não essencialmente à atuação
de deuses.
Os textos gregos chamados de Corpus Hippocraticum apontam que de acordo
com o local, o clima e demais condições regionais aos quais os indivíduos estivessem
expostos, sofreriam alterações e que usariam mais determinado órgão e deixariam de
usar outro para se adaptar a estas variações específicas. Supondo que estas
variações pudessem ser repassadas de geração em geração, através da
hereditariedade, Hipócrates concluiu que esta poderia ser a razão para diferentes
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tipos de seres humanos existentes. Fez algumas relações entre estas diferenças
corporais aparentes e a posição no globo em que as determinadas espécies de
humanos eram originárias, (HENRIQUE, 2005).
Entre os filósofos mais modernos a endossar e ampliar aspectos dessa visão
estão Georges Leclerc (1707-1788) e Erasmus Darwin (1731-1802), avô de Charles
Darwin (1809-1882). Porém, apesar destes pensadores admitirem transformações
nas espécies ao longo do tempo, foi o francês Jean-Baptiste de Monet (1744-1829),
cavaleiro de Lamarck, o primeiro a reunir as bases desta concepção e sintetizá-las.
Foi o primeiro a propor uma teoria que explicasse as supostas transformações das
espécies.
Mas a contribuição considerada mais importante para o evolucionismo foi a de
Charles Darwin, que em 1859 publicou o livro Origem das Espécies, fruto de
observações feitas durante sua viagem a bordo do navio da marinha inglesa HMS
Beagle. Ele faz referências aos naturalistas citados acima, por ter despertado nele a
curiosidade para empreender sua pesquisa, (DARWIN, 2009, p. 23).
A obra de Darwin é tida como o principal pilar da teoria evolucionista. Após
viajar por ilhas da América do Sul e observar o comportamento de diversos seres
vivos, Darwin retornou para Inglaterra em 1937. Depois de anos de trabalho e
comparação entre seus estudos pessoais e pesquisas feitas pela arqueologia,
elaborou sua teoria. A proposta central consiste na evolução das espécies a partir de
um ancestral comum, conduzida e organizada pela seleção natural.
É uma ideia simples, todas as espécies apresentam variações, como por
exemplo, a cor, tamanho, velocidade, etc. Assim, Darwin concluiu que as variações
que aconteciam, supostamente ao acaso, poderiam dar vantagem para determinadas
espécies, proporcionando sua sobrevivência em detrimento de outras. Se estas
alterações e variações fossem repassadas de geração em geração, através da
herança genética, a espécie sobrevivente poderia assimilar e aperfeiçoar estas
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características e, portanto, evoluir. Contando com o tempo, como fator de
transformação, mudanças grandiosas poderiam acontecer.
Desde então, diversos cientistas se dedicaram a estudar os princípios
sugeridos pela teoria de Darwin e passaram a inserir esta perspectiva nos mais
variados ramos da ciência moderna. Paleontologia, embriologia, genética, sistemática
e outras áreas começaram a elaborar seus próprios pontos de vista sobre o
evolucionismo.
Uma das principais associações interdisciplinares nesse sentido foi a chamada
de Síntese Evolutiva Moderna, que deu origem ao neodarwinismo. Consiste
basicamente na junção da teoria da seleção natural com a lei da hereditariedade e
genética das populações, formulada por Gregor Mendel (1822-1884).
Assim, a base da teoria consiste na seleção natural, que teria conduzido uma
mutação aleatória nos seres e seu caráter de mudança em longo prazo, ou seja, uma
evolução gradual faria o chamado “ancestral comum” a todas as espécies, a primeira
célula de vida, passar de um organismo simples para um mais complexo.
Essa mutação aleatória, regida pelas condições do meio, relação com outras
espécies, condições climáticas e volume de recursos pra sobrevivência, aconteceria
sucessivamente ao longo de milhares de anos até resultar em todas as formas de
vida, animal e vegetal existentes hoje. Ou seja, esta concepção afirma que todos os
seres vivos teriam vindo de um mesmo organismo basilar e formado em uma Terra
primitiva.
Os neodarwinistas, com base em estudos da arqueologia, somados a
pressupostos fundamentados no gradualismo, acreditam que o Universo existe há
cerca de 14 bilhões de anos, com a formação da Terra datada há cerca de 5 bilhões
e o surgimento da vida, que teria acontecido há mais ou menos 3,5 bilhões de anos
(ASSIS, 2012, p. 34). Acreditam também que o nosso Universo, plano e homogêneo
(GLEISSER, 2010, p. 110), “iniciou seu processo de expansão com a Primeira Causa,
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mais popularmente conhecida como Big Bang”, que seria a grande explosão cósmica
que deu início a chamada “marcha do tempo”.
3 CÉLULA, A CAIXA PRETA DE DARWIN
As lentes vêm sendo combinadas para estudos de insetos e tecidos desde os
tempos de Galileu e foram de extrema importância não apenas para avanços na
biologia e química, mas também no estudo dos astros, navegação, fotografia, dentre
outras.
No século XIX, o fisiologista Theodor Schwann (1810-1882) e o botânico
Matthias Schleiden (1804-1881), ambos alemães, analisando tecidos de plantas
utilizando microscópios rudimentares, formularam os princípios da teoria celular.
Antes deles, porém o cientista inglês Robert Hooke havia sido o primeiro a usar a
palavra célula, (1635-1703), depois de analisar células de cortiça e folhas, usando um
microscópio de três lentes.
Na metade do século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, houve um
grande avanço na microscopia eletrônica, possibilitando novas descobertas no
universo celular e subcelular. Enquanto era apenas observada pelo microscópio
óptico, a célula parecia uma unidade simples e indivisível, mas analisada por nova
perspectiva, era possível identificar uma estrutura formada por diversos elementos
como, por exemplo, orifícios no núcleo, organelas e membranas em torno das
mitocôndrias.
Estas descobertas possibilitaram aos biólogos mais chances de conseguir
desvendar a origem e o funcionamento da vida. A análise destes aspectos levou
cientistas a descobrir que para chegar a uma compreensão mais completa deste tema
de estudo tão complexo, as respostas dadas pela biologia não eram suficientes. O
“elo perdido” poderia ser elucidado através da química. Como aponta BEHE (1997, p.
19), “começava assim a descoberta de um inesperado mundo liliputiano, derrubando
idéias tradicionais sobre o que são os seres vivos”. O autor cita o historiador de ciência
Charles Singer, que no célebre livro “A Short History of Science to the Nineteenth
Century” diz:
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A complexidade infinita dos seres vivos assim revelada era filosoficamente tão perturbadora, quanto a majestade organizada do mundo astronômico, que Galileu desvelara na geração anterior, embora demorasse muito mais para que suas implicações mergulhassem na mente do homem, (SINGER, 1941 apud BEHE, 1997, p. 19).
Os estudos feitos por especialista em química inorgânica, ainda no século XIX,
foram importantes para o desenvolvimento da bioquímica. O alemão Justus Von
Liebig havia demonstrado que o calor corporal dos animais era o efeito da combustão
de alimentos. Foi criada então a noção de metabolismo, “através do qual o corpo
compõe e decompõe substâncias por meio de processos químicos”, (BEHE, 1997, p.
21).
Depois de Liebig, outra contribuição importante para o estudo da química
orgânica foi a do alemão Emil Fischer (1852-1919), prêmio Nobel em química, que
demonstrou a existência de uma grande classe de substâncias, denominadas
proteínas, que por sua vez eram formados por 23 aminoácidos, chamados
metaforicamente por Behe como “blocos de armar” (1997, p. 21).
As proteínas são grandes moléculas presentes em todos os seres vivos e
presentes em praticamente todos os processos celulares. São fundamentais para a
manutenção da vida, fornecendo material para construção e manutenção de órgão e
tecidos, assim como a produção de hormônios, enzimas e anticorpos. Depois da água,
é o composto orgânico mais presente nos seres vivos, além disso, tem uma grande
variedade molecular.
No entanto, apesar de saber como funcionavam as proteínas, estes detalhes
de suas estruturas permaneciam desconhecidos. Somente com o advento da
cristalografia em raios X foi possível obter imagens dos átomos que compunha o
elemento e assim determinar suas estruturas. Quanto mais átomos presentes, mais
difícil era a tarefa de cristalizar os elementos a serem estudados e, por consequência,
exigia muito mais empenho, principalmente no caso das proteínas, que possuem
dezenas de átomos a mais que as demais moléculas.
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O químico inglês John Cowdery Kendrew (1917-1997), vencedor do Prêmio
Nobel em 1962, conseguiu determinar a estrutura da mioglobina, uma proteína
presente nos vertebrados. No corpo humano é composta por uma cadeia estruturada
por 154 aminoácidos. É o principal transportador de oxigênio dentro das células e dos
músculos.
Antes da determinação da estrutura da mioglobina, acreditava-se que as
proteínas seriam organizadas de maneira simples e sem muitas variações, como eram
os cristais inorgânicos. Mesmo apresentando um grande avanço, cristalografia em
raios X ainda necessitava da cristalização do elemento para então estudar sua
estrutura.
Novos estudos possibilitaram o desenvolvimento da ressonância magnética
nuclear (RMN), que permitiu o estudo das moléculas sem a necessidade de tornar o
elemento químico em cristal.
Juntas, RMN e cristalografia de raios X conseguiram esclarecer as estruturas das proteínas em um número suficiente para dar aos cientistas uma compreensão detalhada de como elas realmente são [...] A última caixa preta restante era a célula, que foi aberta e revelou as moléculas – os alicerces da natureza. Mais baixo não podemos descer. Além do mais, o trabalho já realizado sobre enzimas, outras proteínas e ácidos nucléicos lançou luz sobre os princípios em funcionamento no nível básico da vida. (BEHE, 1997, p. 23).
Estes estudos possibilitaram uma nova visão para o funcionamento da vida,
ampliando a concepção limitada imposta pela evolução, que observou os seres vivos
a partir de seu funcionamento macro. Apesar das surpresas que ainda podem vir, com
novos avanços da ciência, a perspectiva havia mudado.
Ao contrário do que dos antigos cientistas – que observavam um peixe, um coração e uma célula e se perguntavam o que eram e o que os fazia funcionar –, os cientistas modernos estão convencidos de que as ações das proteínas e outras moléculas são suficientes para explicar a base da vida. Desde os dias de Aristóteles até a bioquímica moderna, uma camada após outra foi retirada até a célula. (BEHE, 1997, p. 23)
Até a primeira metade do século XX, quando foram lançadas as bases do
neodarwinismo, a bioquímica com todos seus avanços no ramo do estudo da vida,
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ainda não existiam (BEHE, 1997, p. 34). A biologia teve que praticamente ser
reinterpretada diante das novas perspectivas adquirida com os avanços na
microscopia. Como o autor ressalta, “as disciplinas científicas que faziam parte da
síntese evolutiva eram todas não-moleculares. Ainda que fosse verdadeira, a teoria
darwiniana da evolução teria que explicar a estrutura molecular da vida”.
4 O OLHO, UM ÓRGÃO COMPLEXO
Uma das maiores dificuldades de Darwin no percurso de sua pesquisa foi
desvendar, apenas analisando da perspectiva anatômica, os órgãos complexos –
formados por componentes diversos que, combinados, resultariam em uma função
específica.
Em Origem das Espécies, além de admitir obstáculos em provar como uma
nova habilidade adquirida por determinados indivíduos poderia ser repassada
hereditariamente, na seção “Dificuldades da teoria da descendência com
modificações” do capítulo VI, intitulado “Dificuldades da teoria”, o cientista aponta
outro grande entrave de sua teoria na seção “Órgãos de perfeição e complicação
extremas”.
De acordo com seu pensamento, um órgão não poderia evoluir de uma geração
para outra de maneira repentina ou mesmo em algumas poucas etapas. As inovações
presentes no olho deveriam obedecer uma ordem natural e gradativa. Os organismos
deveriam acumular mudanças benéficas ao longo de diversas gerações para então
chegar a constituição total do órgão ou indivíduo como um todo.
Como aponta Behe (1997, p. 26), ele acreditava que se em uma única geração
aparecesse um órgão tão complexo como o olho, seria equivalente a um milagre.
“Infelizmente, o desenvolvimento gradual do olho humano afigura-se impossível, uma
vez que seus muitos aspectos sofisticados pareciam ser independentes”.
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Antes de seguir, é necessário entender, ainda que de maneira resumida, como
é o funcionamento do olho. A pupila funciona praticamente da mesma forma como um
obturador de câmera fotográfica. Regulando sua abertura, conseguimos fazer o foco.
Este elemento limita a quantidade de luz que entra no globo ocular, permitindo o
indivíduo reconhecer, por exemplo, quando é dia e quando é noite e enxergar em
ambas as situações. As lentes do olho captam a luz e a focalizam na retina, onde a
imagem nítida é exposta. Os músculos dos olhos permitem que se movimentem e
reposicionem esse conjunto de elementos. Nossas lentes têm capacidade de captar
e traduzir diversos comprimentos de onda das diversas cores presentes na luz. Caso
os diferentes elementos presentes no olho não fossem extremamente calibrados e
agissem independentes, porém, coordenados, nossa visão não seria possível ou se
restringiria a vultos indefinidos, (BEHE, 1997, p. 25).
Para que todo o funcionamento seja possível, é necessária esta ação conjunta,
portanto, os cientistas, ainda no século XIX, já sabiam que para funcionar, o olho
humano deveria estar intacto, o que impossibilitaria a idéia de evolução gradual dos
elementos, que seriam combinados ao acaso, pela necessidade dos indivíduos e a
seleção natural. Cada elemento é sofisticado por si só e necessitaria evoluir por conta
própria antes de integrar um sistema. Por outro lado, a falta de qualquer um destes
elementos faria com que o sistema falisse por completo. O olho ficaria impossibilitado
de evoluir.
Para tentar explicar o modo como o olho poderia ter evoluído de uma forma
primitiva, curiosamente, Darwin utilizou exemplos de animais modernos, que possuem
modelos de olhos menos complexos do que o humano como, por exemplo, o da
estrela-do-mar e de outros organismos menores que possuem apenas um simples
grupos de células fotossensíveis que os permite discernirem apenas a diferença entre
luz e escuridão.
Em certas estrelas-do-mar existem algumas depressões pequenas na camada de pigmento que cerca o nervo e que estão cheia de matéria gelatinosa transparente, que projeta a luz através da superfície convexa, semelhante à córnea dos animais superiores. Esta superfície não serve para
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formar uma imagem, mas apenas para concentrar os raios luminosos e tornar mais fácil a sua percepção. Nesta concentração dos raios luminosos encontramos o primeiro passo, e de longe o mais importante, da constituição de um olho verdadeiro, susceptível de formar imagens, pois basta colocar a extremidade nua do nervo óptico (que em alguns animais inferiores está profundamente escondido no corpo e noutros se encontra mais perto da superfície) à distância correta daquele dispositivo de concentração de luz, para que nele se forme uma imagem. (DARWIN, 2009, p. 161)
Darwin propõe que o início da evolução do olho foi a partir do surgimento de
um uma estrutura mais simples, sensível à luz, e assim seguiu em direção ao
complexo olho do ser humano. No entanto, a questão de como a visão poderia ter
surgido como esse ponto sensível à luz se desenvolveu primordialmente não teria sido
respondida de maneira absoluta. O cientista encerra a questão com uma pergunta,
seguida da resposta: “como se tornou um nervo sensível à luz? Bom, isso não é para
nós relevante assim como não consideramos relevante para esta teoria descobrir de
onde vem o nervo, como apareceu”, (DARWIN, 2009, p. 161).
Para Behe, Darwin tinha uma boa razão para deixar de investigar a origem da
visão, porque “ela se situava muito além da capacidade da ciência do século XIX”,
(BEHE, 1997, p. 27).
A maneira como a visão funciona foi desvendada com o advento dos estudos
aplicados da física e da bioquímica. O fóton (partícula elementar de energia ou
radiação eletromagnética) causa uma pequena mudança na forma de uma molécula
orgânica, retinal (chamado de pigmento 11-cis-retinóico).
Esta ação ocasiona uma mudança da forma de uma molécula ainda maior, a
proteína Rodopsina, à qual o retinóico se liga. Assim a molécula 11-cis-retinal, com a
ação da luz, passa por um processo de isomerização para todo-trans-retinol. A opsina
ativada é instável e dissocia-se por conta própria, liberando o todo-trans-retinol. Após
estes desequilíbrios dentro de molécula, a corrente é transmitida pelo nervo óptico até
o cérebro. O resultado, após ser interpretado pelo cérebro, é a visão.
No escuro, o todo-trans-retinol é convertido em 11-cis-retinol novamente,
(OLIVEIRA, 2012). Por isso, quando fechamos e abrimos os olhos, o processo de
leitura das ondas de energia se renova. Apesar de ser uma visão bastante superficial
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do processo, é possível compreender que os passos biológicos ocorrem no nível
molecular e não apenas no nível anatômico como analisou Darwin.
Verifica-se hoje que os saltos metamórficos de Darwin foram muitas vezes saltos enormes entre máquinas cuidadosamente construídas [...] o mesmo acontece com o registro fóssil, que nada tem a dizer sobre se as interações entre 11-cis retinal com a rodopsina, transducina ou a fotodiesterase poderiam, ou não, ter se desenvolvido passo a passo [...] até recentemente, os biólogos evolucionistas podiam ignorar os detalhes moleculares da vida porque muito pouco se conhecia sobre eles, (BEHE, 1997, p. 32).
O cientista teria acreditado que eram simples os processos que, segundo
outros estudiosos, seriam, em verdade, extremamente intrincados.
5 COMPLEXIDADE IRREDUTÍVEL
O primeiro passo para descobrir se um sistema é irredutivelmente complexo é
identificar todos os componentes que o fazem funcionar. Para que não ocorram
problemas, é importante que todas as partes do sistema interajam em harmonia. Em
seguida, faz-se uma análise da real necessidade da cada componente no exercício
da função.
Para poder evoluir de maneira natural, um sistema necessitaria ter uma função
mínima, ou seja, a capacidade de realizar uma determinada tarefa no mundo físico
real. A falha de qualquer um dos elementos inutilizaria este sistema por completo. No
caso do olho, por exemplo, a falta da íris ou lente ou retina, individualmente, faria com
que todo o sistema deixasse de atender o critério de função mínima.
Como aponta Behe, (1997, p. 55) “não só o olho é extremamente complexo,
mas ‘o ponto sensível à luz’ é, em si, um órgão multicelular, cujas células, sem
exceção, tornam a complexidade de uma motocicleta ou de um receptor de televisão
insignificantes”. O bioquímico cita outros exemplos de sistemas complexos que não
poderiam existir pelo sistema evolucionista como a fotossíntese, o metabolismo, a
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coagulação do sangue e os mecanismos de autodefesa do corpo que atuam no
combate as infecções.
Com este argumento, Behe defende a necessidade de um planejamento
inteligente por trás destes sistemas complexos. Por planejamento, entenda-se uma
ordenação intencional dos elementos. Ele pontua que as partes necessárias para a
elaboração da vida estão presentes no ecossistema terrestre e não nega que
elementos inorgânicos possam se transformar em moléculas orgânicas. Apenas acha
difícil creditar a complexidade dos sistemas presentes nos seres vivos ao acaso e a
ação da probabilidade e do gradualismo. Para Behe, um sistema complexo requer um
planejador. E mesmo que a identidade desse planejador não seja possível de ser
identificada, sabemos que o sistema está lá, sabemos que todas as partes e suas
interações foram planejadas para um determinado fim.
A inferência de que houve um plano pode ser feita com bastante segurança, mesmo que o planejador seja figura muito remota. Arqueólogos que escavam sítios à procura de cidades perdidas podem encontrar pedras retangulares, enterradas dezenas de metros na terra, com imagens de camelos e gatos, grifos e dragões [...] é possível saber que alguma coisa foi planejada, mesmo sem saber quem a planejou. Aumentando o número e a qualidade dos componentes que se juntam para formar um sistema, podemos nos tornar mais confiantes na conclusão de que houve um plano. (BEHE, 1997, p. 201).
Mas apesar da teoria do desenho inteligente ter ganhado força com os
conhecimentos desenvolvidos pela bioquímica, os principais alicerces de seu
argumento surgiram muito antes, com o religioso inglês William Paley (1743-1805),
em seu livro Natural Theology, onde apresenta a analogia do relógio. Segue um trecho
introdutório do livro que resume bem este pensamento.
Suponhamos que bati o pé numa pedra, alguém me perguntou como a pedra chegou ali. Eu bem poderia responder que, por tudo que sabia, ela poderia ter estado ali desde sempre [...] mas suponhamos que eu tivesse encontrado um relógio no chão, e alguém me perguntasse como ele havia chegado ali. Eu dificilmente pensaria na resposta que dei antes, que, tanto quanto sabia, o relógio devia ter estado ali desde sempre. Essa resposta não serviria ao relógio como para a pedra [...] suas varais partes foram fabricadas e reunidas para um fim. (PALEY apud BEHE, 1997, p. 213).
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Assim, Paley afirma que os exemplos biológicos são formados por
componentes que precisam atuar em harmonia, como um relógio, e por isso precisam
de um planejador. Entretanto, o clérigo se valeu de muitos exemplos mecânicos para
fazer suas analogias. Um dos principais defensores do pensamento evolucionista, o
biólogo inglês Richard Dawkins, fez diversas críticas tanto aos argumentos e Paley,
quanto aos de Behe. Ele afirma que o papel de “relojoeiro da natureza”, ou em outras
palavras, o planejador, ficou reservado a seleção natural e, portanto, não houve
qualquer planejamento e sim uma sucessão de eventos ao acaso teria proporcionado
a vida sua evolução natural.
Para Dawkins, o comportamento de um sistema complexo deve ser explicado
com base nas interações de seus componentes, considerados como camadas
sucessivas de uma hierarquia ordenada. Ele concorda com Behe, quando diz que os
sistemas complexos não têm uma existência óbvia, mas sim improvável.
No entanto, diferente de Behe e Paley, Dawkins afirma que o surgimento de
sistemas complexos, como a vida, por exemplo, seria consequência de
transformações graduais e cumulativas, ocorridas passo a passo a partir de sistemas
primordiais tão simples que seu surgimento pode ser atribuído ao acaso. “Não
podemos afirmar que uma coisa complexa tem origem em um único passo.
Novamente teremos de recorrer a uma série de pequenos passos, ordenados
sequencialmente no tempo”, (DAWKINS, 2001, p. 22).
O autor ainda argumenta que o universo não requer explicações. Para ele, uma
vez que moléculas tivessem aprendido a competir e a criar outras moléculas iguais a
si mesmas, com o devido tempo estes seres simples se transformariam nas mais
diversas espécies complexas que existem no planeta Terra. Dawkins também supõe
que dadas às condições físicas apropriadas, a evolução é inevitável. Argumenta que
absolutamente nada (ou uma unidade de simplicidade extrema) deu início a vida, sem
a necessidade da ação de um criador.
A seleção natural é o relojoeiro cego, cego porque não prevê, não planeja consequências, não tem propósito em vista. Mas os resultados vivos da seleção natural nos deixam pasmos porque parecem ter sido estruturados por um relojoeiro magistral, dando uma ilusão de desígnio e planejamento, (DAWKINS, 2001, p. 26)
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Para Assis (2012, p. 43), qualquer hipótese que aponte para o sentido de
evolução de um organismo vivo simples para um complexo configura um grande
enigma científico. Ele argumenta que, embora o princípio da seleção natural seja o
mais aceito entre a comunidade científica, é pouco provável que pudesse
efetivamente acontecer uma cadeia evolutiva de baixo para cima, por meio da
aquisição de uma forma externa (um órgão ou a adaptação do mesmo diante das
condições do ambiente em que o ser está inserido), por adaptação do código genético
e a passagem desse código adaptado para seus descendentes.
Para o autor, é mais provável que a cadeia tenha seguido na direção oposta.
Para ele, a teoria do pescoço da girafa, em que a adaptação do pescoço mais curto
para o mais longo seria repassada pela hereditariedade carece de evidências, de
experimentos científicos reais.
A descoberta do código genético, o DNA, enfraquece ainda mais esta hipótese.
“Como a forma do pescoço novo se reverteria ao DNA”, pergunta o autor (ASSIS,
2012, p. 42). Ele argumenta que para que a evolução ocorresse na perspectiva
darwinista, seria necessário que o ser vivo primordial não fosse simples, mas
extremamente complexo. Em seu DNA deveria conter o código necessário para
formação de todos os seres vivos. A evolução se daria a medida que partes de código
fossem “acessas” ou “apagadas” de forma incidental, modificando ou criando novas
espécies, “a seleção natural cuidaria do resto”, (ASSIS, 2012, p. 44).
Neste contexto, a criação de seres superiores, como a raça humana, por
exemplo, seria progressivamente revelada e selecionada pela evolução natural. No
entanto, Assis refuta esse argumento dizendo que esta mesma matemática justificaria
a afirmação de que, juntando-se todos os elementos necessários em um determinado
espaço físico com condições adequadas, um Boing 747 poderia ser construído por
conta própria, ao acaso. Ainda segundo ele, o DNA é tão complexo que nenhum
cientista arriscaria elegê-lo como uma célula primordial que tenha surgido ao acaso.
Ele conclui que a probabilidade de isso ter ocorrido de forma natural é extremamente
pequena.
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Parece mais fácil eleger como célula primordial uma proteína, já que o RNA mensageiro também foi descartado por excesso de complexidade. Essa proteína, por algum processo aleatório teria adquirido, no curso da evolução, capacidades de autoreplicação, transformando-se num DNA por interações naturais, embora ainda desconhecidas[...] matemáticos examinaram essa hipótese e chegaram à conclusão de que a probabilidade de isso ocorrer por acaso é de 1 dividido por 1 seguido de 120 zeros. É muitíssimo menor que a constante quântica de Plank, 6,6 sobre 1 seguido de 34 zeros, a menor quantidade que pode existir no universo reconhecido pela física, (ASSIS, 2012, p. 46).
Mesmo assim, o autor reconhece que os mais céticos poderiam argumentar
que se o universo fosse eterno, esta probabilidade, ainda que muito pequena, poderia
efetivamente se concretizar. No entanto, vale lembrar que a hipótese do Big Bang
aponta que a Terra tem cerca de 5 bilhões de anos, o que equivale ao número cinco
seguido de nove zeros. “É muito pouco tempo para o aparecimento da vida ao acaso,
em termos probabilísticos rigorosos, assim como para a especialização das espécies”,
(ASSIS, 2012, p. 46).
6 CONCLUSÃO
Com tantas evidências claras e bem interpretada pelos diversos pesquisadores
do tema aqui proposto, cabe a conclusão de que fomos planejados em cada detalhe,
a cada botão que desabrocha, a cada orvalho que cai, tudo tem um sentido de ser.
O filosofo francês René Descartes, o qual marcou a visão do movimento
iluminista, ao colocar a razão humana como única forma de existência, proferiu as
seguintes palavras “Penso, logo existo”. Sua ideia estava pautada na hipótese de que
se existe algo que não poderia duvidar seria da própria dúvida, pois ao duvidar de algo
já estaria pensando e por consequência estaria existindo.
Toda essa teoria tem ligação direta com a criação do mundo, pois “para ser um
ser pensante tenho de ser antes” e isso vem de encontro ao que foi feito quando Deus
idealizou tudo o que deu forma, colocou-se a pensar e a agir, existindo por si mesmo,
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Ele deu vida, organizou, formou e construiu um mundo para que nós seres humanos,
que nos intitulamos “seres pensantes”, pudéssemos destruir a perfeita criação que Ele
nos deixou como herança.
Platão em uma de suas ideias filosóficas a respeito da evolução dos seres
vivos, deixa sua incapacidade de argumentar quanto à existência mítica legada ao
inexplicável, ao incognoscível. Segundo ele cada ser é composto de forma a
harmonizar e completar o todo, relata que a gradual transformação daquilo que não,
é ao vir a ser, e finalmente, ao ser. Diferentemente da maioria dos pré-socráticos, ele
não buscava a essência da forma física das coisas, ele buscava sim, a verdade
essencial dessas coisas, pois entendia que a essência do conhecimento não estava
nas coisas, que são corruptíveis e mutáveis. Como filósofo, ele buscava a essência
nas realidades imutáveis, nos fatos.
E a criação do mundo e da vida nada mais é do que um fato sólido e concreto,
pois se estamos aqui realizando as mais diversas atividades e buscando aquilo que é
aos nossos olhos palpável e concreto, existimos, e se existimos não foi por acaso,
mas sim por obra de um verdadeiro ARQUITETO e planejamento.
REFERÊNCIAS
ASSIS, José Carlos. A razão de Deus: ciência e fé, criacionismo e evolução, determinismo e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.
BEHE, Michael. A caixa preta de Darwin: o desafio da bioquímica à teoria da evolução. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.
BORGES, M. A história da vida: de onde viemos, para onde vamos. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2011.
DAWKINS, Richard. O relojoeiro cego: a teoria da evolução contra o desígnio divino. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
GLEISSER, Marcelo. Criação Imperfeita: cosmo, vida e o código oculto da natureza. Rio de Janeiro: Editora Record, 2010.
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HESÍODO. Teogonia, a origem dos deuses. Tradução: Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
HENRIQUE F. Cairus; Jr. RIBEIRO, Wilson. Ares, águas e lugares. Textos hipocráticos: o doente, o médico e a doença. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2005.
OLIVEIRA, H.M. Notas sobre os mecanismos da visão de seres vivos. Um seminário sobre o processo de visão para Engenheiros Biomédicos (2012). Disponível em: http://www2.ee.ufpe.br/codec/eye_seminar.pdf. Acesso em: 24 mar. 2016.
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