a paisagem da arquitetura moderna de … · a arquitetura da habitação coletiva está presente ao...
Post on 23-Nov-2018
215 Views
Preview:
TRANSCRIPT
A PAISAGEM DA ARQUITETURA MODERNA DE WEISSENHOF SIEDLUNG
GRUENDLING, FERNANDA S. (1); LIMA, RAQUEL R. (2)
1. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - PUCRS
Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)
fernanda.gruendling@acad.pucrs.br
2. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – PUCRS. Departamento de Teoria e História Av. Ipiranga, 6681 - Partenon 90619-900- Porto Alegre (RS)
raquel.lima@pucrs.br
RESUMO A arquitetura da habitação coletiva está presente ao longo da história, suscitando estudos e investigações a partir de sua complexidade, adaptações e inovações, formando visuais que interferem na paisagem urbana. A Arquitetura Moderna enfocou o tema da habitação principalmente pelo contexto histórico em que foi implantada, o período entre guerras, no século XX. Nesse sentido, além das habitações unifamiliares, que se constituíram em verdadeiros experimentos e manifestos de seus arquitetos, as habitações coletivas foram concebidas com a intenção de oportunizar o progresso social e educação democrática das comunidades. A paisagem urbana é um conjunto de elementos, edificados ou não, que são resultados das sucessivas transformações que as cidades vem sofrendo ao longo do tempo, que definem o caráter de um local dentro da mesma. Os modos de viver em bairros assumem novas práticas, muitas vezes, enfatizando a continuidade das vivências tradicionais urbanas. O bairro, por exemplo, segue assumindo o papel de uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o espaço quantificado, e mantém o domínio onde a relação espaço/tempo é mais favorável para um usuário que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. O presente artigo busca apresentar a paisagem da arquitetura moderna de Weissenhof Siedlung como um dos importantes precedentes dos modos modernos de morar. O Weissenhof Siedlung foi construído em um terreno municipal de Stuttgart - Alemanha, com o princípio de ser um bairro com diversos tipos de habitação; unifamiliar isolada e geminada, em fileira e Blocos de Apartamentos. A proposta principal era a racionalização e a normalização da habitação como consequência da industrialização da 1ª Guerra Mundial. A concepção do Weissenhof Siedlung expressa um novo modo de morar, com habitações concebidas a partir de problemas modernos, tais como sociais, espaciais, construtivos e higiênicos. Mostrou-se com essa experiência, que a boa habitação não devia ser somente para as elites e sim para todos, habitações de qualidade para todos. Concebendo-se além da moradia uma nova paisagem cultural para a Europa, a paisagem das novas moradias que compunham as ruas e os bairros das cidades que viveram um período da 1ª Guerra Mundial, a paisagem das novas casas e apartamentos, modernos, compactos, diferentes de tudo que já se viu até então. Caracaterizando uma paisagem cultural urbana, com aspectos de cada região e/ou arquiteto, tendência e estilo, uma paisagem que até hoje se mantém e compõem os espaços e lugares destas cidades.
Palavras-chave: Paisagem Urbana; Weissenhof Siedlung; Modos Modernos de Morar
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
1. INTRODUÇÃO
A arquitetura da habitação coletiva está presente ao longo da história, suscitando estudos e
investigações a partir de sua complexidade, adaptações e inovações. A Arquitetura Moderna
enfocou o tema da habitação, principalmente pelo contexto histórico em que foi implantada, o
período entre guerras, no século XX. Nesse sentido, além das habitações unifamiliares, que
se constituíram em verdadeiros experimentos e manifestos de seus arquitetos, as habitações
coletivas foram concebidas como intenção de progresso social e educação democrática da
comunidade.
Em diversos períodos da história brasileira o Governo investiu massivamente na construção
de habitações populares ou de interesse social, subsidiando e incentivando a formação de
bairros inteiros destinados a comunidades carentes. Na maioria dos casos, os resultados
obtidos não correspondem às particularidades desejadas para empreendimentos com esta
intenção social. Sendo assim, torna-se fundamental um olhar para o passado, para história da
habitação popular, a fim de analisar seus exemplares, ressaltando suas qualidades estéticas,
funcionais, técnicas e, principalmente, seus modos de morar.
O século XX inicia, de certo modo, em 1919, depois da 1ª Guerra Mundial, envolvendo
mudanças na geografia política da Europa. Houve a queda do Império Russo, Alemão e
Austro-Húngaro e o início dos Estados Unidos como grande potência mundial. Neste quadro,
tem-se grande desenvolvimento industrial, - segunda revolução industrial -, ou seja, se tinha o
petróleo e a eletricidade como principais fontes de energia. Sobretudo, é um período aonde o
automóvel e o rádio assumem um papel de relevância para a sociedade.
A Alemanha nos anos 20 estava sobre o Governo da República de Weimar, tendo como
grandes fábricas a Siemens, AEG e a Daimler-Benz. Ocorreu um forte avanço no campo
cultural, onde se teve um dos momentos mais produtivos e criativos do século XX da literatura,
do teatro, do cinema das artes plásticas e da arquitetura. Um grande exemplo que se tem, é a
criação da Bauhaus (1919-1933), dirigida até 1928 por Walter Gropius. Tem-se também forte
atuação da Deutscher Werkbund no campo da Jugendstil.
O Weissenhof Siedlung, em Stuttgart, se constituiu em uma exposição de arquitetura
moderna, realizada por encomenda da Deutscher Werkbund, sob a organização de Mies van
der Rohe. O arquiteto promoveu a realização de um bairro que continha basicamente
habitações unifamiliares, blocos de apartamentos e habitações geminadas ou em fileira numa
área da então periferia de Stuttgart - em 1927. Este bairro teve uma extraordinária importância
no estabelecimento de diretrizes modernas, sendo divulgado posteriormente na exposição de
Philip Johnson e Henry Russell Hitchcock, intitulada de Modern Architeture: International
Exhibition (MOMA, 1932) e publicada no The International Style: Architecture since 1922.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
“O objetivo da Werbund – reza o estatuto – é enobrecer o trabalho artesanal, coligando-o com a arte e a indústria. A associação deseja fazer uma escolha do melhor da arte, da indústria, do artesanato e das forças ativas manuais; deseja reunir os esforços e as tendências para o trabalho de qualidade existente no mundo do trabalho; forma o ponto de reunião de todos aqueles que são capazes e estão desejosos de produzir um trabalho de qualidade. ” (PEVSNER, 1945, p. 122-123 IN: BENEVOLO, 2009, p. 374)
Inserida neste contexto, que envolve a idealização e a construção do referido bairro, é
inegável a contribuição da arquitetura moderna alemã, baseada no Jugendstil para a
realização formal, funcional e tecnológica das propostas arquitetônicas criadas para o
Weissenhof Siedlung e que, com suas características de uso da racionalidade e de novos
materiais, Mies van der Rohe e sua equipe de arquitetos iriam influenciar diversos outros
arquitetos em diversas partes do mundo, como por exemplo, no Brasil.
A arquitetura do Wiessenhof Siedlung se apresenta como paisagem urbana ao trazer consigo
as marcas dos hábitos e da cultura de um povo ou de uma época, destacando-se em meio as
ruas da cidade tradicional. O edifício de Apartamentos de Mies, que se situa em Wiessenhof
Siedlung, possui fortes influências do movimento moderno e carrega consigo a marca e a
solução de um problema enfrentado neste período do modernismo, tornando-os especiais
para a paisagem da cidade e da arquitetura alemã, tornando-se um ponto de destaque da
cidade de Stuttgart. O Weissenhof Siedlung possui boa qualidade arquitetônica, tanto pelas
suas formas e técnicas construtivas quando pelas excelentes referências trazidas para os
seus elementos da composição e da arquitetura, mantendo grande relação com os pontos da
Arquitetura Moderna.
2. A PAISAGEM URBANA DO WEISSENHOF SIEDLUNG
Um dos importantes ideais da arquitetura moderna consiste na busca de um novo modelo de
cidade, alternativo à cidade tradicional. Alguns dos arquitetos modernos, tais como Walter
Gropius (1883-1969), Mies van der Rohe (1886-1969), Le Corbusier (1887-1965), foram
fundamentais na tentativa de introduzir tais ideias na prática da construção de edifícios e no
urbanismo. Para esses arquitetos, a cidade moderna deveria desempenhar as funções
primordiais do homem de forma setorizada (habitar, trabalhar, cultivar o corpo e espírito e
circular).
A feição do bairro é importante enquanto realidade e referência, pois a relação do prédio com
a rua vai mudar a feição do bairro. Certeau apresenta um método através do qual apresenta a
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
matéria objetiva do bairro apenas até o ponto em que ele é a terra eleita de uma “encenação
da vida cotidiana”. Trabalha esta última enquanto relacionada com o espaço público e busca
entender as relações entre objetos, estudando o vínculo que existe entre o espaço privado e o
público.
Mas o que é um bairro? Certeau conceitua o bairro considerando suas características
históricas, estéticas, topográficas, sócio-profissionais, etc. e cita Henry Lefebvre para
corroborar sua posição: O bairro é uma porta de entrada entre espaços qualificados e o
espaço quantificado. A menção do conceito de bairro de Henry Lefebvre, feita por Certeau,
sugere que o domínio da relação tempo/espaço é mais favorável para o usuário que se
desloca a pé, saindo de sua casa, ou seja, o limite entre espaço privado e público é o pedaço
da cidade que resulta de uma caminhada. Há uma noção dinâmica que demonstra a
progressiva aprendizagem sobre o bairro pelo usuário. A privatização progressiva do espaço
público mantém a continuidade entre o que é mais íntimo (residência/dentro) e o que é mais
desconhecido (o conjunto da cidade/mundo/fora).
Os modos de viver em bairros assumem, constantemente novas práticas, porém, enfatizam a
continuidade das vivências tradicionais urbanas. O bairro, por exemplo, continua assumindo o
papel de uma porta de entrada e de saída entre espaços qualificados e o espaço quantificado,
público, e mantém o domínio onde a relação espaço/tempo é mais favorável para um usuário
que deseja deslocar-se por ele a pé saindo de sua casa. É no bairro que o espaço das
relações entre seus usuários, como seres sociais adquire importância. Sair de casa, andar
pela rua, é efetuar um ato cultural, não arbitrário, pois inscreve o habitante em uma rede de
sinais sociais que lhe são preexistentes, tais como os vizinhos, a configuração dos lugares,
etc. (CERTEAU, 1996, p.41-43). Entretanto, na implantação do urbanismo moderno, o bairro
configura-se como um domínio do ambiente social, constituindo para o usuário uma parcela
reconhecida do espaço urbano. Segundo CERTEAU, o usuário apreende o bairro como uma
porção do espaço público em geral, onde o bairro se insinua, pouco a pouco, como um espaço
particularizado pelo seu uso cotidiano.
2.1. O WEISSENHOF SIEDLUNG, STUTTGART, ALEMANHA
O Weissenhof Siedlung foi um bairro construído em um terreno municipal de Stuttgart, com o
princípio de reunir diversos tipos de habitação; unifamiliar isolada e geminada, em fileira e
Blocos de Apartamentos. A proposta principal era a racionalização e a normalização da
habitação como consequência da industrialização da 1ª Guerra Mundial. Mies van der Rohe,
arquiteto responsável pelo planejamento e desenho urbano do bairro, propunha um traçado
espontâneo para o acesso, acompanhando a topografia do terreno.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
O conjunto é dominado pelo Bloco de Apartamentos projetado por Mies, tendo a norte o
edifício de Peter Behrens e a sul pelas casas de Le Corbusier. A concepção do Weissenhof
Siedlung expressa um novo modo de morar, com habitações concebidas a partir de
problemas modernos, tais como sociais, espaciais, construtivos e higiênicos. Mostrou-se com
essa exposição, também, que a habitação não devia ser somente pensada para as elites e
sim para todos e que era possível ter habitações de qualidade para todos.
Figura 1: Cartaz de Divulgação do Weissenhof Siedlung
Fonte: SCHULZE, 1985.
A construção das principais edificações do bairro foi realizada em concreto armado com
estrutura em aço, tetos de laje plana, janelas maiores em comprimento e superfícies brancas,
tendo os interiores com divisórias móveis, planta livre e o mobiliário foi projetado de acordo
com cada arquiteto sobre os novos programas e materiais da época. Foram construídas um
total de 21 unidades, sendo que inicialmente o bairro seria patrocinado pelo município, pois
obteve enorme interesse do público, porém o empreendimento acabou não obtendo um apoio
oficial do governo. Posteriormente a 1ª Guerra Mundial e, já iniciada a 2ª Guerra Mundial, o
Weissenhof Siedlung escapou de uma possível demolição no governo nazista e foi
bombardeado em meio à guerra, restaram 11 prédios dos 21 construídos. O bairro entrou em
decadência por um período, mas devido ao enorme valor arquitetônico (vanguardista) do
local, iniciou-se um projeto de restauração do bairro, onde hoje em dia todas as casas
possuem informações originais sobre cada arquiteto autor da obra, plantas baixas originais e
informações sobre o projeto, além de que a Maison Citrohan, hoje, se tornou um museu do
bairro (MEZZADRI, 2008).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 2: Weissenhof Siedlung
Fonte: SCHULZE, 1985.
Figura 3: Arquitetos e respectivas obras no Weissenhof Siedlung
Fonte: Architecture Buildings. Edição: Fernanda Gruendling
Depois de muitos estudos, o Bloco de Apartamentos de Mies van der Rohe, conhecidos como
Haus 1-4, para o Weissenhof Siedlung tem 2.500m², divididos conforme segue: 1 subsolo, 3
andares para apartamentos e por último um terraço onde se encontra a lavanderia coberta por
uma lage plana recortada. Cada piso tem em torno de 650m², dispostos em quarto blocos (A1,
A2, A3 e A4), cada um com uma circulação vertical que serve dois apartamentos. O bloco
simétrico projeto por Mies, soluciona as divisões de apartamentos com painéis de madeira,
nada além dos painéis para a divisão dos apartamentos, sem portas, sem montantes ou
cortinas divisórias (MEZZADRI, 2008).
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
“Atualmente são os motivos econômicos que exigem racionalizar e normalizar a construção de moradias de aluguel. Porém, por outro lado, a crescente diferenciação das nossas necessidades de habitabilidade exige maior liberdade na forma de uso. No futuro, será necessário fazer-se justiça a ambos os aspectos. A construção de um esqueleto é o sistema estrutural mais adequado para isso. Permite a execução racional e deixa completa liberdade para dividir o espaço interior. Se nos limitarmos apenas a configurar o banheiro e a cozinha, como espaços constantes, por causa de suas instalações, e optamos, por dividir o resto da superfície habitável com paredes móveis, creio que podemos satisfazer qualquer necessidade de habitabilidade.” (ROHE, 1927, p. 77. IN: MEZZADRI, 2008. p.29)
Figura 4: Weissenhof Siedlung em construção e Bloco de Apartamentos
Fonte: MEZZADRI, 2008
Weissenhof Siedlung busca mostrar alguns princípios arquitetônicos, ligados a qualidade de
lembrança à cidade e a à arquitetura de seu tempo. Ele também aparece como um projeto de
grande modernidade, com a utilização de máquinas, a construção de um esqueleto estrutural,
o uso de materiais industrializados, a racionalização dos elementos compositivos. É a cidade
como uma forma histórica, capaz de equilibrar as relações entre espaço aberto e espaço
construídos, gerando vínculos com a natureza.
2.2. O BLOCO DE APARTAMENTOS DE MIES NO WEISSENHOF SIEDLUNG
Ludwig Mies Van der Rohe foi, provavelmente, um dos mais influentes arquitetos da primeira
metade do século 20. É considerado, juntamente com Walter Gropius e Le Corbusier, um dos
mestres mundiais da Arquitetura Moderna. Nasceu em Aachen - Alemanha, em 27 de março
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
de 1886. Aos 19 anos, mudou-se para Berlim, onde trabalhou para o arquiteto e designer de
mobiliários Bruno Paul e depois para o arquiteto industrial Peter Behrens. Desde o início da
carreira, influenciado pelos estudos do holandês De Stijl, desenvolveu uma concepção
arquitetônica de linhas puras. Mies abriu seu próprio escritório em 1912, em Berlim. Com
Gropius, criou em 1919, a Bauhaus, em Weimar - Alemanha, com o objetivo de formar, pelo
trabalho de equipe, artesãos, escultores, pintores e arquitetos para as tarefas de desenhar e
criar novos produtos industriais. Em 1930, assume a direção da escola Bauhaus. No ano
seguinte foi diretor do Instituto de Tecnologia de Illinois (cargo em que permaneceu por duas
décadas) e acabou criando as bases da moderna cidade de Chicago, construída em aço e
vidro, quando projetou, no International Style, o prédio do Federal Building. Sua importância
não está só em ter sido um grande arquiteto de grandes influências modernistas, mas também
por saber compor suas edificações com a cidade, com o seu entorno imediato e com a
natureza ali presente. Fazendo com que a composição destes três se tornasse algo
harmônico e gerando assim um paisagem, tal qual, poderia se tornar de extrema importância
para a cidade, criando assim uma identidade, ou até mesmo futuros pontos turísticos, aonde
as pessoas se concentram para admirar tamanha harmonia entre construção, lazer, habitar e
natureza.
Em Weissenhof quatro construções utilizaram estrutura metálica. Duas casas, uma de
Gropius e a outra de Stam. Dois prédios, um foi o de Behrens e o outro o de Mies. Dentre um
dos primeiros prédios de apartamentos em estrutura metálica erigidos por Mies na Alemanha
e o primeiro de sua carreira, o bloco de apartamentos de Mies marca o início de um trabalho
entre ele e Ernest Walther, engenheiro que Mies van der Rohe conheceu no escritório de
Behrens, quando trabalhou lá, e que também vai colaborar nos seus projetos para as casas de
Krefeld, Barcelona e Tugendhat.
O sistema que foi utilizado no Weissenhof era relativamente novo e era conhecido como “perfil
de abas largas”. Este sistema (Vigas Peiner) só cemçará a ser utilizado em larga escala a
partir da metade da década de 20, após o período de reparos da Guerra e a recessde da
econômica.
“As imagens do prédio em construção foram divulgadas em Bau und Wohnung mostrando ao público um sistema moderno e eficiente. Para Mies, era uma revelação. Além da racionalidade construtiva desejada, tinha também a “completa liberdade para dividir o espaço interior”. As questões espaciais, subordinadas a uma tectônica tradicional não tinham caminho para sua expressão quando teto e piso se tornam uma superfície contínua e livre de interferências estruturais.” (MEZZADRI, 2008. p.37)
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 5: Edifício de Mies van der Rohe em Construção
Fonte: MEZZADRI, 2008
Devido ao sistema construtivo utilizado Bloco de Apartamentos do arquiteto Mies van der
Rohe, oportunizou-se a flexibilidade da composição dos ambientes dos apartamentos.
Podendo o mesmo apartamento servir para um casal sem filhos, como para um casal com 2
filhos. Conforme os diagramas na imagem abaixo, podemos notar, nas plantas baixas, em
verde as paredes fixas dos apartamentos (referênte à criculação comum a eles e as unidades
sanitárias) e de bordô (os painéis de maderia, dispostos de 2 maneiras diferentes). No modelo
3D, em laranja temos os pisos referêntes as áreas dos apartamentos, e em marrom referênte
a circulação comum entre eles.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
Figura 6: Diagramas e redesenhos a partir de plantas originais disponíveis em:
MEZZADRI, 2008
Autora: Fernanda Gruendling
Legendas de acordo com o diagrama da página anterior:
Paredes Permanentes
Painéis de Madeira
Área dos Apartamentos
Área da Circulação Vertical Comum
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se afirmar que a obra analisada, é de suma importância não só por caracterizar um
bairro/edífico de destaque em habitações populares, mas também, por se simbolizarem
importantes documentos materializados da arquitetura moderna, que configuraram uma
parcela da paisagem da cidade de uma maneira a implantar um registro patrimonial, de um
movimento arquitetônico do século XX. Entende-se, também, que a influência do arquiteto
Mies van der Rohe foi fundamental na obtenção do destaque das demais obras realizadas no
Weissenhof Siedlung, influência essa prcelda desde o trabalho ao método utilizado por todos
aqueles 15 arquitetos envolvidos no projeto. O uso de seus princípios compositivos e
construtivos, sua tipologia e forma arquitetônica. Além disso, a contribuição da arquitetura
moderna de Mies van der Rohe foi vital para o desenvolvimento dos edifícios na cidade, onde
os modos de morar estavam mudando devido aos problemas decorridos da 1ª Guerra
Mundial.
O Weissenhof Siedlung pode ser considerado um documento da paisagem urbana da cidade
de Sttutgart, e que se destaca por suas excepcionalidades e por suas bem sucedidas
aplicações do conceito de habitação popular moderna. Weissenhof Siedlung se encaixa na
definição de arquitetura como paisagem urbana pelo seu valor histórico e arquitetônico, e por
seu reconhecimento internacional, além de compor ambientes abertos, fazendo uma
excelente transição entre o habitar e a natureza.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976.
BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo: 3ª edição Editora Perspectiva, 1993.
BLASER, Werner. Ludwing Mies van der Rohe. 4ª ed, Barcelona: Editora Gustavo Gili, SL, 1996.
BRUNA, Paulo J. V. Arquitetura, industrialização e desenvolvimento. São Paulo, Perspectiva, 1976. Coleção Debates, nº 136.
CABRAL, Cláudia Piantá Costa. Do Weissenhofsiedlung ao Hansaviertel. Vitruvius 117.02, 2011.
CERTEAU, Michael de. A invenção do Cotidiano: 2. Morar, Cozinhar. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996.
COHEN, Jean-Louis. Ludwing Mies van der Rohe. 2ª ed, Boston: Editora Birkhäuser Verlag AG, 2007.
4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016
COLOMBO, Luciana Fornari. A Casa Núcleo de Mies van der Rohe, um Projeto Teórico Sobre a Habitação Essencial. Vitruvius 130.03, 2011.http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/10.117/4025
CURTIS, William J. R. Arquitetura moderna desde 1900. 3ª ed, São Paulo: Editora Artmed, 2008. Doutorado em arquitetura).
ESKINAZI, Mara Oliveira. A Interbau 1957 em Berlim. Diferentes formas de habitar na cidade moderna. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 129.09, Vitruvius, fev. 2011 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.129/3746>.
FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. 2ª ed, São Paulo: Editora Martins, 2008.
FRAMPTON, Kenneth. Historia crítica de la arquitectura moderna. Barcelona: Gustavo Gilli S.A., 1987.
FRENCH, Hilary. Os mais importantes conjuntos habitacionais do século XX. Plantas, cortes e elevações. Porto Alegre: Bookman, 2009.
HITCHCOCK, Henry-Russel. Arquitetura de los siglos XIX y XX. Madrid: Manuales Arte Catedra, 1998.
JOEDICKE, Jürgen. Weissenhof Siedlung Stuttgart. Kar Krämer Verlag Stuttgart, 1989.
MAGALHÃES, Carlos Henrique. Os Blocos de Superquadra: um tipo da modernidade. MDC ARQ, 02/06/2009. <https://mdc.arq.br/2009/06/02/os-blocos-de-superquadra-um-tipo-da-modernidade/>
MEZZADRI, Humberto. Mies no Weissenhof. ArqTexto 13, 2008.
OTXOTORENA, Juan M.. Arquitectura y proyecto moderno. La pregunta por la modernidad. Barcelona: Ediciones Internacionales Universitarias, 1991.
PETER, John. Conversas com Mies van der Rohe. Barcelona: Editora Gustavo Gili, SL, 2006.
SCHULZE, Franz. Mies van der Rohe – a critical biography, University of Chicago. Illinois, USA, 1985.
ZEVI, Bruno. A Linguagem Moderna da Arquitetura. Lisboa: Dom Quixote, 1984.
5. AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio à pesquisa em desenvolvimento que originou o presente artigo: à
FAPERGS - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul -, por meio da
bolsa PIBIC/FAPERGS e à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul que, por
meio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo apoia o Grupo de Pesquisa Arquitetura e
Cultura por meio de sua infraestrutura.
top related