a importância da arte contemporânea para o futuro professor: uma
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ISSN 2357-9854
OLIVEIRA, Mónica. A importância da arte contemporânea para o futuro professor: uma abordagem desde
a perspectiva dos estudantes.
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Revista GEARTE, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 53-66, jan./abr. 2016.
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/gearte
A importância da arte contemporânea para o futuro professor: uma abordagem desde a perspectiva dos estudantes
Mónica Oliveira (Universidade Católica Portuguesa — UCP, Porto, Portugal)
RESUMO — A importância da arte contemporânea para o futuro professor: uma abordagem desde a perspectiva dos estudantes — A formação de professores é um processo complexo que deve não só ir ao encontro das necessidades reais dos contextos educativos como também exigir que sejam ouvidos todos os participantes. No entanto, no Ensino Superior a participação de estudantes na construção do desenho curricular é pouco valorizada. Neste estudo, pretendemos analisar o que pensam os estudantes de Licenciaturas em Educação Básica, em Portugal, sobre o contributo da arte contemporânea para a sua formação e para a sua futura profissão. Essa etapa constitui-se determinante pois acreditamos que o processo de ensino-aprendizagem só ganha sentido se os estudantes puderem refletir sobre ele com vista a perspectivar o seu futuro. Trata-se, assim, de uma investigação de natureza quantitativa em que se utilizou o inquérito por questionário. Os resultados evidenciaram que os estudantes valorizaram a arte contemporânea para a sua formação e para o desenvolvimento da sua prática profissional, apontando competências específicas da área. PALAVRAS-CHAVE Formação inicial de professores. Arte contemporânea. Estudantes
ABSTRACT — The importance of contemporary art to the future teacher: an approach from the perspective of the students — Teacher training is a complex process that must meet the real needs of educational settings and requires that all stakeholders are heard. However in Higher Education, the participation of students in the construction of curriculum design is underrated. In this study we intend to analyze what students in Initial Teacher Training in Portugal think about the contribution of contemporary art to their training and their future profession.This step constitutes decisive because we believe that the teaching-learning process only makes sense if students can reflect on it in order to perspective their future. In this quantitative research we used questionnaires. The results showed that students recognised importance of contemporary art for their training process and for the development of their professional practice pointing specific skills of the area. KEYWORDS Initial teacher training. Contemporary art. Students
Introdução
Este estudo faz parte de uma investigação mais ampla cujo principal objetivo é
refletir sobre a importância da arte contemporânea na formação inicial de professores.
Assim, pretende ir ao encontro da educação artística tendo por base o mundo e a arte
atual e assenta-se na convicção de que a arte contemporânea faculta competências
aos estudantes para a sua formação e profissão, uma vez que diz respeito a processos
mediante os quais o currículo se torna significativo para os que o recebem (ELLIS,
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2004). A arte contemporânea evidencia-se, atualmente, na nossa sociedade,
apresentando um contexto social em que se (re)equacionam valores e conceitos, nos
mais diversos campos da vida humana, espelhando diferentes temas que configuram
o nosso tempo, estreitando laços entre a vida e o quotidiano das pessoas. Ela
comunica e provoca reações e, por isso, torna-se fundamental refletir sobre essas
manifestações artísticas, pois cada um de nós é receptor da sua própria cultura, ou
seja, é contemporâneo do tempo e da época em que vive e deve confrontar-se com o
novo. Como afirma D´Ambrosio, “a preparação do professor para uma nova educação
implica viver o novo na sua formação” (2003, p. 64) para que possa inserir-se e influir
na sociedade em que está imerso. Esta nova visão de mundo refletida na arte
contemporânea é a mesma visão que se exige na formação de professores. Se, como
atesta Tedesco ( 2004), a educação hoje está definitivamente ultrapassada e precisa
ser reformulada, e o papel do professor deve ser continuamente (re)desenhado
(MELLO, 2001), o repensar e operacionalizar uma mudança na formação inicial de
professores torna-se inevitável, pois destes cursos sairão os agentes que operarão a
transformação na educação básica. Como afirma Tedesco, “um cidadão do século XXI
deverá estar formado de tal maneira que seja capaz não só de adaptar-se às
mudanças extraordinárias e vertiginosas que estamos vivenciando, mas, sim, de
participar das decisões que deverá tomar a sociedade com o intuito de definir o ritmo
e as finalidades das mudanças” (2009, p.163) e, para isso, é muito importante a
opinião dos diferentes intervenientes educativos: professores, investigadores e
estudantes para operar novas práticas educativas.
Tendo em consideração que, num estudo recente, (OLIVEIRA, M., 2015),
professores e investigadores (ATKINSON, D.; BALDACHINO J.; AGRA-PARADIÑAS,
M.; TRIGO, C.; PALACIOS; HERTH, C;), entre outros, foram já auscultados e
assumiram a pertinência deste conceito na formação inicial de professores, parece-
nos igualmente importante conhecer a perspectiva dos estudantes sobre a pertinência
deste conteúdo dada a importância que os estudantes exercem ao transformar o
currículo intencionado, em currículo experienciado (ROLDÃO, 1999).
Refletir sobre a formação artística dos futuros professores é pensar nas novas
exigências e nos novos desafios; é ir ao encontro das necessidades reais dos
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contextos socioeducativos atuais e propor novos planos de ação, cujo
aperfeiçoamento exige que sejam ouvidos todos os intervenientes educativos,
nomeadamente os estudantes, que permitam construir e reconstruir opções,
expectativas e superar lacunas. Os estudantes têm de ser considerados como
agentes das atividades curriculares e, como agentes, desempenham papel
significativo na dinamização do conhecimento.
Assim, o conhecimento sobre as concepções que os estudantes têm sobre a
arte atual e a sua pertinência para a sua formação, bem como para a sua profissão,
tornam-se relevantes na formação inicial de professores. Este estudo pretende
analisar as perspectivas dos estudantes e destacar as implicações que podem
constituir um contributo para um efetivo conhecimento e alterações curriculares. Neste
sentido é que a investigação foi traçada. Das considerações acima descritas,
emergem duas questões relacionadas com a complexidade do tema:
Qual a representação que os estudantes têm da arte contemporânea na sua
formação?
Os estudantes reconhecem a importância da arte contemporânea para a sua
futura profissão?
Estas são algumas perguntas que movem a pesquisa. Ao pretendermos
estudar a importância da arte contemporânea na formação inicial e a sua pertinência
para o desempenho profissional do futuro professor, não podíamos deixar de refletir
sobre dois conceitos que, inevitavelmente, interferem e condicionam a formação e as
suas práticas profissionais – o conceito de educação artística, mais concretamente, o
de arte contemporânea e a importância dos estudantes na construção do seu
curriculum.
A Arte Contemporânea na Formação Inicial de Professores
Estamos, mais do que nunca, convictos de que sem uma preparação adequada
dos futuros professores, a partir da formação inicial, que pressuponha uma
(re)significação do que implica o ensino-aprendizagem numa sociedade atual, na área
da educação artística, correr-se-á o risco da arte/cultura não ter qualquer expressão
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e consequência educativa em termos da melhoria da qualidade da educação. Para
que isso não venha a acontecer na área artística, a formação dos professores não
poderá restringir-se à preparação dos estudantes para um uso instrumental da arte
que, aliás, tem sido essencialmente a marca da formação de professores nas últimas
décadas. A educação “deve dar conta das transformações que experimenta o contexto
cultural imediato em que se desenvolvem as tarefas formativas, ou seja, o contexto
de sentidos e significados que permite que os sistemas educacionais funcionem como
meio de transmissão e integração culturais” (TEDESCO, 2004, p. 34). É necessário
repensar as práticas educativas e perceber que tipo de profissional está sendo
formado nestes cursos assim como pensar um currículo à luz da pedagogia crítica e
das recentes manifestações artísticas que povoam o nosso quotidiano e a que nós
apelidamos de arte contemporânea. A formação artística, enquanto área do saber,
deverá incluir discussões teóricas, sobre paradigmas de educação artística, que torne
contemporânea a educação oferecida aos estudantes sustentada por bases
conceituais que assegurem uma educação artística de forma que não reste ao
professor uma técnica sem competência (LELIS, 2001). Esta formação deve ir ao
encontro de desenvolver, nomeadamente, habilidades e competências para a vida,
proporcionando formas de pensar plurais, estimulando a percepção, a coordenação
motora, a capacidade de tomar decisões de forma autônoma e crítica, estimulando a
sensibilidade estética e o pensamento inovador.
E todos estes requisitos estão presentes na arte contemporânea. Quando
falamos nela, estamos nos referindo a um conjunto de manifestações artísticas, que
se constitui numa linguagem visual que está acontecendo perante nossos olhos e não
podemos negar. Ela comunica temas que informam a sociedade atual. Não apresenta
fronteiras entre diferentes vertentes artísticas, desafiando a hegemonia das
linguagens tradicionais como a pintura, escultura ou desenho. Mais do que afirmar e
confirmar teses, ela está muito mais preocupada em desafiar, em levantar hipóteses,
em nos provocar e isso nos desassossega. A arte contemporânea é como afirma
Cauquelin, “a arte do agora, a arte que se manifesta no mesmo momento e no próprio
momento em que o público a percebe” (CAUQUELIN, s/d, p. 6). Ela explora a
percepção e a ação imaginativa do espectador, propondo múltiplas possibilidades de
leitura dos seus atos e produções, convidando-o a ser um participante ativo nesse
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diálogo. O interesse da arte contemporânea reside em construir um caminho de
conhecimentos novo, que não tenha sido explorado.
Desta forma, acreditamos que a arte contemporânea na formação inicial de
professores:
visa a recepção e produção das imagens que nos rodeiam através de diferentes
linguagens artísticas, ou seja, a utilização da arte contemporânea como elemento
ativo da vida quotidiana do estudante, como algo próximo da sua realidade,
permitindo ir ao encontro da construção da sua identidade;
orienta para a transformação, para a mudança, para a inovação e para a adaptação
ao contexto atual;
desafia e inquieta a própria forma de ver, pensar e trabalhar a própria arte;
potencializa a educação humana do sujeito social autônomo e inventivo;
fomenta a aquisição de consciência crítica, criativa, participativa e questionadora;
assegura o domínio dos conteúdos e a compreensão dos princípios básicos que
fundamentam o ensino numa visão globalizada da cultura;
articula aspectos teóricos e práticos com a finalidade de construir uma ponte
coerente e consistente entre o que os estudantes aprendem e o que se espera que,
posteriormente, desenvolvam como profissionais;
permite ao estudante ser um agente ativo, criador do seu percurso e não um
simples interlocutor passivo a quem se debita informação;
pressupõe uma intencionalidade pedagógica orientada no sentido da compreensão
do conhecimento específico e da sua relação com outros conhecimentos;
implica um conhecimento artístico que não é a adoção de um modelo pedagógico
uno e intocável, mas sim uma orientação formativa que permita aos estudantes
construírem o seu próprio corpo de conhecimentos.
A importância dos alunos no (re)desenhar planos curriculares
As questões curriculares são geralmente discutidas, nomeadamente, entre
professores, investigadores e equipes do Ministério. A importância de auscultar os
estudantes passa por considerar que estes fazem parte da comunidade acadêmica e
são os elementos, seguramente mais “visados”, quando se trata de falar de reformas
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educativas. Por essa razão, buscamos traçar um quadro das valorizações que os
estudantes fazem quanto à questão da formação e à sua contribuição para o
desempenho profissional. É importante conhecer em profundidade aquilo que o
estudante pensa sobre o ensino-aprendizagem e o que dela espera, bem como as
suas aspirações, os seus códigos e os seus valores de referência, e, posteriormente,
considerar estes dados como básicos na elaboração das reformas dos sistemas
educativos. A formação de um estudante no ensino superior é decisiva para a vida
pessoal de cada um, quer no que concerne à aquisição de competências para a sua
atividade profissional, quer para o acesso à cultura e ainda para o exercício da
cidadania. Daí que os estudantes devem ser os protagonistas ativos na procura de
novos caminhos trilhados durante o seu processo de formação.
Os estudantes não são sujeitos passivos, nem possuem apenas capacidade
para responder às exigências do ensino-aprendizagem de acordo com o que está
normalizado como comportamento adequado. Do estudante do ensino superior
espera-se comprometimento crítico, dinamismo e responsabilidade em relação à sua
aprendizagem. Os estudantes, ao longo do seu curso, refletem sobre as concepções
e as práticas em relação a questões curriculares fundamentais (o que ensinar e para
quê, que estratégias utilizar, como as operacionalizar) e consideram também a
questão relacionada com a empregabilidade, uma vez que o mercado de trabalho
exige cada vez mais pessoas capazes de inovar e pensar de forma crítica e criativa.
Um exemplo claro sobre a importância e reconhecimento da arte na educação, foi a
declaração de Arne Duncan, Secretário de Educação do Governo Americano:
Education in the arts is more important than ever. In the global economy, creativity is essential. Today’s workers need more than just skills and knowledge to be productive and innovative participants in the workforce. Just look at the inventors of the iPhone and the developers of Google: they are innovative as well as intelligent. Through their combination of knowledge and creativity, they have transformed the way we communicate, socialize, and do business. Creative experiences are part of the daily work life of engineers, business managers, and hundreds of other professionals. To succeed today and in the future, America’s children will need to be inventive, resourceful, and imaginative. The best way to foster that creativity is through arts education. (DUNCAN, 2011, p.1)
Perceber a perspectiva dos estudantes sobre a aprendizagem da arte
contemporânea na sua formação pode contribuir para compreender as suas
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expectativas em relação aos conteúdos, às competências e às práticas pedagógicas
na área da educação artística no mundo atual e para entender de que forma este
conteúdo pode influenciar o seu perfil profissional. Além disso, esta auscultação
recolheu dados que possuem uma significativa influência na relação entre professor-
aluno, aluno-conhecimento, conhecimento-profissionalização e profissionalização-
exercício profissional. Por essa razão, os estudantes devem ser vistos como co
construtores das propostas pedagógicas no ensino-aprendizagem, capazes de se
posicionarem sobre aspectos de sua formação e buscar esse olhar parece-nos
necessário. Só desta forma será possível a implementação de novas reformas
educativas com algum sucesso.
Metodologia
Considerando as perguntas que traçamos para nortear este projeto de
investigação, que pretendiam perceber quais as representações que os estudantes
tinham sobre a importância da arte contemporânea na sua formação e na sua futura
profissão, torna-se claro que pretendíamos realizar uma pesquisa educacional com o
intuito de explicar fenômenos e contribuir para desenvolver alguns fundamentos
teóricos. Para tal, optamos por realizar uma investigação de natureza quantitativa. A
técnica de coleta de dados utilizada foi o inquérito por questionário.
Estrutura do questionário
A aplicação deste questionário contribuiu para elucidar as indagações
construídas na problemática dessa investigação. O questionário utilizado foi do tipo
aberto, o qual proporciona respostas de maior profundidade, ou seja, dá ao sujeito
maior liberdade de resposta, podendo esta ser redigida pelo próprio.
Estruturou-se o questionário de maneira a identificarem-se as categorias e os
seus objetivos como contribuição para responder às problemáticas da investigação,
conforme Quadro 1.
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Quadro 1- Categorização e objetivos específicos do questionário
Categorias Objetivos específicos
Conhecimentos sobre arte/arte
contemporânea.
Inventariar os conhecimentos dos estudantes sobre
arte/arte contemporânea.
Importância da arte contemporânea na
formação de professores.
Analisar o grau de valorização da arte contemporânea
pelos estudantes para a sua formação.
Pertinência da operacionalização da
arte contemporânea na educação.
Constatar como os estudantes percebem a importância da
arte contemporânea na Educação.
Tipologia de atividades a desenvolver
com crianças tendo por base a arte
contemporânea.
Interpretar o nível de preparação dos estudantes em
relação à arte contemporânea para atuar no terreno da
educação após conclusão do curso.
Caracterização da população e amostra
A amostra é composta por 350 estudantes de Licenciaturas em Educação
Básica, de oito Escolas Superiores de Educação de Portugal nas quais a arte
contemporânea é um conteúdo abordado durante o curso. Da amostra recolhida, 80%
das instituições são de Ensino Superior Público e 20% de Ensino Superior Particular.
A maioria dos estudantes (280) era do sexo feminino e as idades oscilaram entre 23
e 25 anos. Já do sexo masculino, apenas contamos com 20 alunos cujas idades se
situavam no intervalo entre os 24 e 26 anos. Todos os estudantes estavam
matriculados no último ano do mestrado em Formação de Professores, 30% na
especialização em Educação Pré-escolar e 70% na especialização em Ensino do 1.º
Ciclo do Ensino Básico.
Aplicação do questionário
No final do curso de mestrado foi solicitado aos estudantes o preenchimento de
um questionário. A aplicação do questionário realizou-se de forma anônima,
garantindo assim a confidencialidade das suas respostas (LIMA, 2006). Dos 500
questionários entregues para preenchimento aos estudantes, apenas 350 foram
devolvidos. Após a recolha dos questionários, procedeu-se à análise de conteúdo das
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respostas dadas através de um processo de categorização emergente (BARDIN,
1995).
Análise e discussão dos dados
1 Interesse em ver arte
Do total do sujeitos, 75% dos estudantes responderam que gostam de ver arte:
20% dos quais afirmaram que a arte os fascina com a sua criatividade; 15%
responderam que a arte os interpela e lhes provoca vários sentimentos; 12%
justificaram o seu interesse pela arte na medida em que esta mostra várias formas de
ver o mundo; 10% sustentaram o seu interesse em conhecer diferentes obras e
artistas; já 8% responderam que gostam de ver arte embora não visitem muitos
espaços de arte pelo custo financeiro que implica, mas recorrem à internet; 5%
responderam que o gosto que têm em ver arte advém de uma experiência continuada
em visitarem diferentes espaços de arte desde crianças; e 5% gostam de arte porque
a entendem desafiadora na interpretação dos seus significados.
Não gostar de ver arte foi uma afirmação de 25% dos inquiridos: 12% dos
estudantes, embora não gostem de ver arte, reconhecem a sua importância na medida
em que a consideram essencial para a construção pessoal e cultural do ser humano;
8% afirmam que nunca tiveram interesse pela arte; e 5% justificam a sua falta de
interesse por não a entenderem.
2 O que aprendeu com a Educação Artística na Formação Inicial
Todos os estudantes afirmam ter adquirido conhecimentos que concorrem para
o mesmo objetivo – o seu perfil profissional - a prática profissional e a sua formação.
No que diz respeito ao primeiro aspecto — a prática profissional — 31,6% dos
estudantes afirmam que aprenderam formas diversificadas de propor atividades,
técnicas e materiais a partir da arte e dos artistas; 23,3% referem que aprenderam a
utilizar a arte contemporânea com um conteúdo pedagógico; e 11,4% dos estudantes
afirmam que aprenderam a conceder à arte mais importância pedagógica.
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Já relacionado com o segundo aspecto, surgem 15,8% que afirmam ter
conhecido novos artistas e processos de criação diversos; 9,5% assumem ter
aprendido o que se entende por arte contemporânea; 8,4% salientam que a sua
aprendizagem recaiu no desenvolvimento da criatividade.
3 A importância de conhecimentos sobre arte contemporânea
Ilação positiva a retirar é o fato de ser uma amostra em que, majoritariamente,
os inquiridos consideram importante possuir conhecimentos sobre arte
contemporânea (73,3%) e somente 26,7% dizem não considerar importante possuir
conhecimentos sobre arte contemporânea justificando a sua resposta com o fato de
não saberem o que se entende por arte contemporânea.
No que concerne às respostas afirmativas, 38,3% dos inquiridos justificam a
sua posição pelo fato de a arte contemporânea contribuir para a cultura geral de um
professor; 8,3% com o fato de ser a forma artística mais atual; e 8,3% explicam que
permite a aquisição de conhecimento sobre a realidade atual. Para além das
justificativas acima apresentadas, 6,7% dos estudantes afirmam a importância da arte
contemporânea pela sua integração no currículo e 5% entendem que devem ter
conhecimentos sobre arte contemporânea, pois devem diversificar os seus
conhecimentos no campo artístico. Há que se referir ainda, que 6,7% dos inquiridos
consideram necessário ter conhecimentos sobre a arte contemporânea mas não
justificaram a sua resposta.
4 Conhecimento sobre artistas plásticos contemporâneos e sua justificativa
Neste ponto do questionário pediu-se aos estudantes que enumerassem três
artistas plásticos contemporâneos.
O nome da artista Joana Vasconcelos foi referenciado por 44% dos estudantes
que justificaram o seu conhecimento por ser uma figura midiática (20%), pela
diversidade de material que utiliza do nosso quotidiano (23%) e por retratar a tradição
portuguesa (1%). Paula Rego foi mencionada por 4% que justificaram o seu interesse
pela representação do simbólico; João Vieira foi apontado por 4% dos inquiridos por
trabalhar com o alfabeto; e 3% salientam o nome da artista Ana Vidigal por usar
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personagens do seu imaginário infantil. As justificativas mencionadas surgem muito
associadas a temáticas a serem trabalhadas com as crianças. Ainda foram
mencionados artistas como Marc Jenkins pela mensagem visual (1%) e vários artistas
do século XX: Jackson Pollock pela sua vida (1%); Miró pela sua expressão artística
inigualável (1%); Frida Khalo por representar a mulher (1%); Gaudí pela sua forma de
expressão única (1%); Van Gogh (1%) e Picasso (1%) sem justificativa.
Ainda, 1% respondeu que, embora conhecessem alguns artistas, não se
recordavam dos seus nomes. Por fim, 29% responderam não conhecer artistas
contemporâneos.
5 Pertinência da arte contemporânea na Educação Básica
Nesta questão verificamos que 75% dos inquiridos concordam com a
necessidade dos seus futuros alunos desenvolverem trabalhos relacionados com arte
contemporânea enumerando algumas razões: 24% dos estudantes consideram que
esse tipo de arte promove a criatividade; 22% entendem que este tipo de arte
desenvolve o gosto por diferentes formas artísticas e permite a aquisição de novos
conhecimentos sobre a especificidade desta área; 8% referem que a arte
contemporânea permite o acesso a vários tipos de arte; 6% consideram que
desenvolve o espírito crítico e outros 6% acham que se aprendem novas técnicas e
materiais; 5% veem neste tipo de arte uma forma de conhecer melhor o mundo em
que vivemos; e 4% partilham da ideia de que a arte contemporânea ajuda a
desenvolver outras áreas de conteúdo.
Também 25% dos estudantes não consideram pertinente propor atividades
relacionadas com arte contemporânea aos seus futuros alunos: 20% dos inquiridos
responderam não saber se os alunos deveriam desenvolver trabalhos relacionados
com arte contemporânea justificando não ter conhecimentos sobre este assunto; e 5%
dos inquiridos entendem que os alunos não devem trabalhar a arte contemporânea
mas não apresentaram justificativa.
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6 Tipologia de atividades a serem propostas aos alunos de Educação Básica
relacionadas com arte contemporânea
Destaca-se que 25% dos estudantes não proporiam atividades relacionadas
com arte contemporânea aos seus futuros alunos, uma vez que não têm
conhecimentos sobre arte contemporânea. Todavia, dos inquiridos que o fariam,
(75%), 40% utilizariam diferentes técnicas de modo a desenvolver a criatividade nas
crianças, 20% realizariam atividades relacionadas com artistas plásticos e 15%
efetuariam visitas a museus de arte contemporânea para que as crianças pudessem
desenvolver o gosto pela arte.
Considerações finais
A título de conclusão, impõe-se, pois, realçar alguns dos aspectos que nos
parecem relevantes e que, mais do que meras conclusões, se configuram como linhas
de força que nortearam este percurso investigativo e que esperamos ajudem a
(re)estruturar e/ou modificar o nosso pensamento pedagógico, enquanto professores.
Assim e indo ao encontro da resposta às duas questões que direcionaram esta
investigação, destacam-se os seguintes aspectos:
Interesse por arte: pese que, embora a maioria dos estudantes goste de ver
arte e considere importante ter conhecimentos sobre arte contemporânea para a sua
futura profissão, apresentam uma escassez de conhecimentos sobre artistas plásticos
da atualidade e equívocos sobre o que se entende por arte contemporânea
apresentando artistas do século XX como contemporâneos. Por outro lado, é
importante também salientar que um número significativo de estudantes afirma
desconhecer a arte contemporânea.
Competências relacionadas com a sua formação: os estudantes salientaram a
aquisição de novos conhecimentos na área, quer relacionados com artistas, obras e
com o conceito que subjaz a este tipo de arte, quer relacionados com a educação
artística através da conceptualização de atividades e sua planificação. Também o
desenvolvimento da criatividade, da autonomia no processo artístico-pedagógico e do
espírito crítico foram, de forma geral, mencionados.
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Relação entre a formação e a sua prática profissional: as respostas aos
inquéritos evidenciaram uma preocupação dos estudantes com as suas
aprendizagens e o seu futuro enquanto professores, percebendo a pertinência e o
potencial pedagógico da arte contemporânea na educação como sendo um
documento que espelha a sociedade atual, próximo das vivências das crianças.
Mencionaram também a tipologia de atividades diversificada e as possibilidades
interdisciplinares desta área.
Majoritariamente os estudantes consideram que as crianças devem
desenvolver trabalhos relacionados com arte contemporânea na escola e proporiam
atividades relacionadas com diferentes técnicas, com artistas plásticos, com visitas a
museus de arte em virtude de verem neste tipo de arte possibilidades pedagógicas
que ajudam o desenvolvimento global dos alunos, valorizando, sobretudo, o
desenvolvimento da criatividade, o gosto pela arte e o desenvolvimento do espírito
crítico.
Os aspectos suprarreferidos permitem afirmar que os estudantes consideram,
na sua maioria, que a arte contemporânea concorre para o seu perfil profissional. Para
isso muito contribuíram os conhecimentos adquiridos na sua formação e uma nova
postura na forma de estar e ver a arte contemporânea. O alargar de horizontes dos
estudantes, abrindo-lhes as portas ao entendimento da arte contemporânea e da sua
aplicabilidade prática no processo educativo, é uma garantia de que as novas
gerações terão a possibilidade de serem confrontadas com a arte desde o início das
suas vidas, abrindo assim a arte contemporânea a novos públicos e, principalmente,
a públicos mais informados ou, pelo menos, com mais perspectivas.
Referências
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D’AMBROSIO, Ubiratan. Novos paradigmas de atuação e formação de docente. In: PORTO, Tania (Org,). Redes em construção; meios de comunicação e práticas educativas. Araraquara: Junqueira e Marin, 2003. p.55-77.
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DUNCAN, Arne. Reinvesting in arts education: winning America’s future through creative schools. Washington: Knight Foundation, 2011.
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Mónica Oliveira
Pós-doutora em Didática das Expressões Artísticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Doutora em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Salamanca, 2000. Professora Coordenadora na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, desde 1996. Investigadora integrada do Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano da Universidade Católica Portuguesa do Porto. Investigadora colaboradora do Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade – Núcleo de Educação Artística da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Autora de várias publicações na área da Educação Artística, Ilustração e Artes Plásticas. Foi membro das Comissões de Especialistas na área da Formação de Professores Ministério da Ciência e Ensino Superior.
Email: monica@esepf.pt
Currículo: http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=4440822994858991
Recebido em 20 de março de 2016
Aceito em 15 de abril de 2016
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